RELAÇÃO INTERPESSOAL E ÉTICA
AULA 02 RELAÇÕES INTERPESSOAIS NAS INSTITUIÇÕES
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FORMAS DE RELAÇÕES NAS INSTITUIÇÕES Antes de começarmos a discorrer sobre o assunto, vamos trabalhar rapidamente com dois conceitos já estudados, a instituição e as relações interpessoais. Como instituição, podemos dizer que é a congregação dos elementos que promovem a manutenção dos direitos de propriedade em uma sociedade, ou ainda, que seriam as regras formais, restrições informais e características do cumprimento de ambas, ou mesmo uma estrutura que permite a interação de pessoas na comunidade, nos planos econômico, político e social. Como vimos, relações interpessoais são as relações que estabelecemos com os outros. Agora sim, podemos começar nossa explanação definindo duas maneiras diferentes de abordar as relações interpessoais nas instituições:
1) A Instituição e seus colaboradores internos
2) A Instituição e suas relações externas
Mas, quais são as instituições às quais nos referimos? Trataremos aqui das escolas e em especial das empresas. AS INSTITUIÇÕES E AS RELAÇÕES INTERNAS Sabemos que relações internas se referem aos processos ocorridos dentro das instituições e neles consideramos colaboradores internos os proprietários, gestores e os trabalhadores. Consideraremos essas relações e também a ética entre os colaboradores internos e entre estes e a empresa. Para entendermos um pouco melhor a relação entre colaboradores e gestores, vamos voltar um pouco no tempo. Com o progresso industrial, o perfil de relacionamento patrão-empregado sofreu modificações. Antigamente, o funcionário era contratado pelo dono da empresa. O contato com o patrão era frequente e, quase sempre, ele passava muitos anos trabalhando para a mesma pessoa. Hoje em dia é muito comum um funcionário trabalhar por um período em uma empresa e nunca ter conhecido o Diretor ou Presidente dela. Da mesma maneira, muitos empregados de setores diferentes também não se conhecem. A dinâmica do mercado de trabalho contribui para que o trabalhador mude de emprego com mais frequência e estabeleça novas regras de relacionamento e de ética dentro das organizações.
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Uma outra situação muito frequente é a das empresas que, por um ou outro motivo, não estão financeiramente bem. Uma retração forte do mercado muitas vezes pode gerar queda acentuada de receitas e, como consequência, um corte de despesas na área de pessoal. O que fazer? Tentar solucionar a crise sem demissões podendo chegar até a uma concordata, ou diminuir o quadro de funcionários devolvendo à empresa um certo fôlego buscando o final da crise? Para que você compreenda melhor a situação, posicione-se como funcionário da Organização. Em seguida, coloque-se como o dono dessa.
Um funcionário exemplar de uma empresa recebe uma proposta de trabalho interessante de uma concorrente. Ele é o melhor vendedor da sua equipe. Conversa com seu superior sobre a proposta recebida e solicita seu conselho como amigo e conhecedor do mercado de trabalho. O chefe sabe que a empresa para a qual o seu subordinado e amigo pretende ir está em situação financeira mais confortável dentro do mercado de trabalho, que tem uma estrutura melhor, mas sabe também que, se o empregado sair, as vendas irão cair e sua situação perante o Diretor da Empresa poderá ser comprometida, pois as vendas deste funcionário farão diferença no final do mês. Ele pode cobrir o salário que a empresa concorrente fez ao seu subordinado, mas não sabe se a empresa estará em situação financeira favorável para manter por muito tempo esta oferta. Devemos lealdade a quem quando está em jogo relações pessoais e profissionais em um mesmo ambiente?
Na sua opinião, qual a atitude que este chefe deve tomar?
Segundo as definições de ética e moral, aborde uma situação dentro do ambiente de trabalho que caracterize cada uma destas definições.
Nas relações internas, além das interações entre gestores e empregados, também temos entre a empresa e os funcionários. As decisões empresariais não são isentas de efeitos, sejam eles para a comunidade ou para seus trabalhadores. Junto às atitudes empresariais, afetam de maneira direta as suas relações internas.
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As empresas podem ter posicionamentos e, também, realizar práticas empresariais questionáveis. A seguir, algumas destas ações já conhecidas:
• Sonegação Fiscal;
• Danos ao meio ambiente;
• Subornos pagos às autoridades, como fiscais, juízes e policiais;
• A lavagem de dinheiro, operações ilegais;
• Fraudes em aplicações financeiras;
• O calote em dívidas;
• As doações para campanhas eleitorais com o objetivo de obter favores após a eleição. Qual seria sua conduta se você soubesse que a empresa na qual você trabalha depende de alguma destas práticas para sobreviver e manter o seu quadro de funcionários.
QUANDO AS RELAÇÕES INTERNAS DA INSTITUIÇÃO PREJUDICAM OS CONSUMIDORES... Uma greve dos motoristas de ônibus ou dos operadores de metrô pode prejudicar um grande número de usuários, das mais diversas formas. O trânsito fica desesperador, funcionários perdem horas de trabalho e prejudicam seu descanso, dentre outros. Apesar de ser uma decisão considerada legítima ou moral pela categoria dos profissionais em questão, ela atinge outras coletividades. COMO DEFINIR O QUE É MORAL ENTRE INSTITUIÇÃO E COLABORADOR? Atualmente, os códigos de conduta das empresas acabam por tornar mais fácil a compreensão desta relação. Por exemplo, algumas instituições permitem que seus vendedores utilizem o carro da Companhia nos finais de semana. Outras, solicitam que estes funcionários deixem o carro no pátio da empresa durante este período. Há as que controlam as mensagens trocadas por seus funcionários, utilizando o provedor da empresa. Enquanto que outras simplesmente não se preocupam com o fato. Portanto, a melhor relação funcionário–empresa é quando são estabelecidas as regras do que é ou não uma conduta adequada, mas principalmente quando estas
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determinações estão dentro dos valores tanto da instituição quanto do profissional que nela trabalha.
AS INSTITUIÇÕES E SUAS RELAÇÕES EXTERNAS COM SEUS CONSUMIDORES As relações externas das empresas são as suas interações com seus clientes, prestadores de serviços, concorrentes, mídia, autoridades governamentais, credores e com a comunidade em geral. Da mesma maneira que as relações internas, as externas também são afetadas pelas decisões empresariais. O cuidado com estas atitudes tomadas é de extrema importância para a construção de uma sólida imagem frente à sociedade e todas as suas relações externas. De igual forma, a representação das marcas pertencentes a esta organização, que consumiram muito dinheiro e tempo na sua construção, também devem ser preservadas. A mídia exerce, em muitos casos, um papel fundamental nesta desconstrução de imagem. Muitas vezes, na ânsia de apresentar um furo de reportagem, de ser o primeiro a veicular a notícia, no desconhecimento sobre o assunto, os jornalistas não conhecem a fundo Medicina, astronomia, Tc, ou mesmo na superficialidade com que buscou a informação, a mídia pode apresentar o assunto de forma pouco clara, levando o consumidor a percepções dúbias que irão custar aos empresários anos de construção de uma personificação. Vamos entender melhor exemplificando uma destas relações, a da instituição com seus clientes.
“Um caso, que retrata o inconformismo dos consumidores, é o da Schering do Brasil, filial da Schering alemã. Em meados de 1998, o laboratório realizou um teste com uma nova máquina embaladora. Produziu embalagens com pílulas anticoncepcionais Microvlar, sem o princípio ativo. Os placebos das 644 mil cartelas ou dos 1200 quilos de comprimidos, continham lactose, com um revestimento de açúcar e foram mandados para serem incinerados por uma empresa especializada. Ocorre que, em maio, a Schering foi informada, por meio de uma carta anônima, que um lote de placebo estaria sendo comercializado. Uma cartela do produto estava anexa. Como a empresa já tinha sido vítima de remédios falsos, acreditou que a carta anônima era uma tentativa de chantagem. Resolveu então investigar por conta própria em mais de uma centena de farmácias. Nada esclareceu.
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No início de junho, uma senhora grávida de um mês entrou em contato com o laboratório e apresentou as pílulas falsas. A Schering levou mais 15 dias, após a denúncia, para notificar a Vigilância Sanitária. Curiosamente, o fez no dia em que o noticiário Jornal Nacional, da TV Globo, levava ao ar a primeira reportagem a respeito. ”...Sua omissão custou-lhe caro. Até o final de agosto, 189 mulheres disseram ter engravidado, vítimas dos placebos que chegaram às farmácias...”. ”...A Procuradoria Geral do Estado de São Paulo e o Procon entraram com uma ação civil pública contra o laboratório, pedindo indenização por danos morais e materiais. A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça multou a empresa em quase três milhões de reais. A Vigilância Sanitária interditou o laboratório por duas vezes. A suspensão do anticoncepcional durou um mês e meio e forçou a Schering a relançar o produto, que já foi líder do segmento (tinha 22% do mercado), com nova cor de embalagem”. O inquérito policial instaurado sobre o caso foi encerrado sem indicar culpados, o que dificultou tremendamente a recuperação da credibilidade do laboratório. A Schering teve então que promover uma milionária campanha de comunicação, com gastos avaliados em mais de R$ 15 milhões, numa tentativa de reconstruir sua imagem que ficou muito desgastada e sob suspeita. No ano seguinte, a matriz alemã determinou às suas 50 subsidiárias que suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo, a fim de evitar que casos como o do Microvlar se repetisse pelo mundo. A empresa perdeu R$ 18 milhões com o episódio, somando os meses em que o produto esteve fora do mercado, queda nas vendas quando ele voltou às prateleiras e dois acordos feitos com consumidoras. Analisando o caso anterior e de acordo com o conteúdo do texto apresentado sobre “as instituições e suas relações externas”, quais foram os dois principais erros cometidos pelo laboratório Schering? Vamos comparar com a postura de uma outra empresa! “Na primeira página de um grande jornal do interior de São Paulo, a foto de uma mulher careca, afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda, uma de suas principais marcas e líder do segmento), desencadeou uma reação imediata da empresa. Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratório, mandaram recolher produtos para análise, despacharam um médico independente e um advogado para a cidade interiorana. Em algumas horas, respiraram aliviados: a mulher raspara a cabeça! Mesmo assim, a Gessy Lever teve de responder a um inquérito policial e definir uma estratégia de comunicação para dirimir quaisquer dúvidas.” Fonte: SROUR, Robert Henry. Ética Empresarial: Posturas responsáveis nos negócios, na política e nas relações pessoais. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
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1) Compare os dois exemplos. Qual a diferença nas atitudes das duas empresas? 2) Pesquise um exemplo recente semelhante, que envolveu as multinacionais americanas Merck Sharp e Pfizer em relação aos medicamentos VIOXX e CELEBRA. Atualmente, nos deparamos com muitas situações questionáveis dentro do nosso país. Por exemplo, depois da lei dos genéricos, os produtos similares tomaram força. Os similares são produtos que possuem a mesma substância ativa dos que tem marca reconhecida ou dos Genéricos, porém não passaram pelos testes de bioequivalência. Com isso, não possuem o aval do Ministério da Saúde, junto ao órgão da vigilância Sanitária, atestando que contém a mesma quantidade de substância ativa. Porém, quando chegamos a farmácia, estes produtos são oferecidos com a informação de que são “iguais” aos de marca, mas com um preço menor. Isso acontece porque eles são vendidos às drogarias com amplos descontos, que possibilitam uma margem de lucro muito grande. Em muitos casos, as boticas “bonificam” seus balconistas para que apresentem estas mercadorias aos consumidores. Os clientes, por sua vez, acreditam que estão levando vantagem ao adquirirem estes produtos. Vamos fazer uma simulação. Você adquire um antibiótico similar ao que o seu médico indicou. A quantidade de substância ativa que não foi testada pela Vigilância Sanitária não está adequada, ou seja, ao invés de ter 500mg de substância ativa o produto tem apenas 300mg. Você não melhora. A ética por meio da responsabilidade é derrubada através de duas vertentes. Neste caso, a da empresa que produz o medicamento sem a quantidade de substância ativa e a da farmácia que induz a venda deste produto, principalmente, sabendo que um antibiótico é vendido para doenças que, se não curadas a contento, podem levar o paciente à morte. Uma empresa descobre que uma grande quantidade de protetor solar fator 45 foi erroneamente colocada em embalagens de fator de proteção 50. A empresa sabe que não existe diferença para o cliente, pois os fatores de proteção em questão possuem praticamente a mesma ação de proteção solar. Para trocar o produto da embalagem a empresa teria um prejuízo muito grande. Se não mudar o produto de embalagem estará, mesmo sem causar prejuízos à saúde dos consumidores, enganando o consumidor. Os nossos posicionamentos, em geral, dependem dos nossos valores e de qual lado estamos da discussão. Se estivermos do lado da empresa, procuramos justificar nossas posturas. Por exemplo, no caso do filtro solar. Se a quantidade embalada erroneamente é muito grande e a perda significativa, a empresa pode até precisar demitir funcionários. Se formos os consumidores, mesmo sabendo que não teremos maiores consequências, nos sentimos lesados.
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Podemos pensar da seguinte maneira, como o produto não oferece maiores consequências para a saúde das pessoas, ou seja, não põe em risco vidas e, também, preserva a saúde financeira de uma empresa da qual dependem muitos funcionários, deixamos assim. Porém, e se a informação “vazar” para a imprensa? Conforme já discutimos, a mídia tem um papel importante nesta discussão. Ela pode tanto auxiliar a empresa a fortalecer sua imagem ética, como a destruir em apenas uma reportagem.
A INSTITUIÇÃO E SUAS RELAÇÕES EXTERNAS COM SEUS FORNECEDORES As relações das instituições não se resumem apenas com os seus consumidores. Agora estaremos abordando as relações das organizações com os seus fornecedores e as nuances da ética nessas interações. As empresas necessitam de matéria-prima para produzir seus produtos, bem como da prestação de serviços de outras companhias. Vamos utilizar 3 exemplos para que possamos compreender melhor o que permeia as relações entre instituições e fornecedores.
Um publicitário, a serviço de uma empresa, é um fornecedor de serviços. Para uma campanha de lançamento de um produto, a Organização solicita que ele “omita” alguns pequenos defeitos do produto ou os converta em benefícios. Até onde este contratado pode ir sem extrapolar os limites da ética? Questões éticas envolvem as revistas e suas matérias pagas. Os veículos de comunicação têm o dever de ser imparcial em suas reportagens. Porém, é crescente o número de reportagens que são veiculadas nas diversas revistas, encontradas todos os dias nas bancas. Até que ponto as publicações podem permitir essa influência tendenciosa para sobreviverem ou aumentar seus lucros? Uma outra questão, que envolve o tema, é quando um restaurante fecha um contrato de exclusividade com uma empresa de cerveja ou refrigerante. Os clientes apreciam a boa comida do restaurante, porém preferem a outra marca de bebidas que não pode ser disponibilizada em função do contrato de exclusividade.
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A INSTITUIÇÃO E SUAS RELAÇÕES EXTERNAS COM SEUS CONCORRENTES Existe ética ou moral nas relações entre concorrentes? Quem define o que é ético nestes casos? Como fica a imagem de uma Instituição quando ela desrespeita seus opositores? Nos Estados Unidos, temos um exemplo claro de concorrentes que estão sempre com processos na justiça por veicularem propagandas desrespeitosas ao opositor, a Pepsi e a Coca-Cola. Uma propaganda interessante é a de um menino que coloca as moedas na máquina da Coca-Cola, pega duas latinhas e então se dirige para ao botão da Pepsi. Ele coloca as latas de Coca-Cola no chão, sobe nelas para poder alcançar o local de colocar a moeda e pegar a lata da Pepsi e, então, sair tomando. No Brasil, tivemos recentemente um caso que envolveu duas marcas de cerveja e que dividiram a opinião pública. O cantor Zeca Pagodinho começou uma campanha para a Nova Schincariol. No decorrer da veiculação do comercial, onde ele aparece provando a cerveja, a Brahma lançou outro comercial onde ele aparece cantando e, na melodia, deixa claro que provou outra cerveja, mas voltou a beber Brahma. Neste caso, o problema não é só entre as concorrentes, mas também com o artista que não fez cerimônias ao trocar de anúncio. Existe, no entanto, uma forma de relação entre os concorrentes que, ao invés de gerar conflitos, gera união, apesar de ser uma relação duvidosa sobre os seus fins. Por exemplo, quando observamos que todos os postos de gasolina estão praticando o mesmo preço chamamos de oligopólios. Neste caso, as empresas formam os conhecidos cartéis para ter o controle dos preços. Recentemente, ecoou na mídia um caso, de empresas multinacionais do ramo farmacêutico, que se uniram para tentar coibir a entrada dos genéricos no mercado. Este pull de empresas foi punido com uma multa significativamente alta. Não podemos deixar de citar as relações realmente positivas que acontecem entre concorrentes quando duas empresas unem esforços, mesmo que por um período curto de tempo para desenvolver pesquisas científicas em prol da humanidade. Em muitos casos, isso acontece porque se gera uma relação de dependência de informações ou tecnologias, que juntas podem somar esforços para a obtenção de resultados mais rápidos e positivos. Em alguns casos as decisões tomadas por empresas frente a seus concorrentes acontecem antes mesmo de lançarem os seus produtos no mercado. Vejamos o exemplo da Salty Potato Chip: “A Salty Potato Chip gastou um bom dinheiro em pesquisa, a procura de uma batata chip light, que tivesse baixas calorias. Quando a empresa chegou perto de obter um produto de gosto adequado para o consumidor, que só teria uma caloria por chip, deu-se conta de que a tecnologia poderia ser facilmente copiada se não fosse patenteada. Isso, sem dúvida, exigia um tempo, que iria postergar o lançamento e obrigá-la a manter
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o sigilo sobre a matéria. Acontece que, no dia em que o presidente da Salty estava dando uma entrevista coletiva sobre a reorganização da empresa, uma repórter quis saber sua opinião sobre o rumor que corria quanto a pesquisas bem adiantadas que a empresa teria levado a efeito para produzir uma batata chip com baixas calorias. Controlando a surpresa, o presidente respondeu que o rumor era inteiramente falso e que a empresa não estava pesquisando de modo algum uma batata chip de baixa caloria. Afirmou, ainda, que a Salty duvidava que pudesse existir tal coisa.” Fonte: SROUR, Robert Henry. Ética Empresarial: Posturas responsáveis nos negócios, na política e nas relações pessoais. Rio de Janeiro: Campus, 2000. Podemos observar que nesse exemplo, o problema entre concorrentes não afetou o consumidor. Ficamos apenas imaginando quando o produto foi lançado no mercado, os questionamentos feitos ao Sr. Presidente da Salty, etc.
A INSTITUIÇÃO E SUAS RELAÇÕES EXTERNAS COM OS AGENTES GOVERNAMENTAIS Como estamos aprendendo, as relações externas das Instituições são amplas. Este assunto tratará das conexões das instituições com os agentes governamentais. A carga tributária do nosso país está entre as mais altas do mundo. As empresas nacionais fazem malabarismos para obterem lucros dentro de um cenário tão ruim, bem como as multinacionais ameaçam a todo instante deixar o território se medidas não forem tomadas. Por outro lado, os órgãos fiscalizadores do Brasil, sejam de que área for, são incompetentes na sua função maior que é fiscalizar. Está estabelecida uma relação onde os valores morais e a ética se apresentam difusos. Em uma pesquisa realizada na década de 90, conclui-se que 65% dos entrevistados acreditam que o povo brasileiro é desonesto. Pouco mudou nos últimos anos. Quando ligamos a TV e nos deparamos com o cenário de corrupção que assola o país no âmbito político, não conseguimos enxergar muito além desta constatação.
Segundo Max Weber (2000, p. 117): Não há ética alguma no mundo que possa desconsiderar isso: para atingir fins “bons”, somos obrigados na maior parte do tempo a contar, de um lado com meios moralmente desonestos ou pelo menos perigosos, e de outro lado com a possibilidade ou ainda a eventualidade de conseqüências desagradáveis. Nenhuma ética no mundo pode dizer-nos tampouco quando e em qual medida um fim moralmente bom justifica os meios e as conseqüências moralmente perigosas.
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É sob esta ótica de atingir fins bons por meios duvidosos que algumas das relações entre empresas e agentes governamentais está sustentada. Em nossa prática social, no nosso país temos a moral da integridade, que corresponde ao imaginário oficial do país e que delimita um comportamento formal considerado virtuoso. É o que aprendemos dentro dos valores de honestidade, cumprimento das obrigações, da palavra empenhada e caracteriza a pessoa confiável. Por outro lado temos a moral do oportunismo, que corresponde ao imaginário oficioso brasileiro, e que é regido pela malícia, da hipocrisia, da conveniência e caracteriza a individualidade, ou seja, ainda que em detrimento dos interesses coletivos, para que o indivíduo se saia bem. De maneira nenhuma devemos generalizar que somente a moral do oportunismo impera. O que acontece é que pessoas competentes muitas vezes não produzem manchetes de jornais. Em contrapartida, quando o oportunismo é descoberto...
Você considera correto:
• Subornar um fiscal para evitar uma multa que pode comprometer o 13º salário dos funcionários da empresa? • Utilizar-se da praxe da propina para ganhar uma concorrência importante que pode salvar sua empresa da falência?
Não esqueça que suborno e propina fazem parte da moral do oportunismo.
A INSTITUIÇÃO E SUAS RELAÇÕES EXTERNAS COM AS COMUNIDADES VIZINHAS E DISTANTES Uma máxima das organizações americanas está tomando corpo no Brasil, a ideia do socialmente responsável. Entende-se que esta prática é um dos pilares que sustentam os negócios. É uma das maneiras de mostrar à sociedade uma face mais humana e menos capitalista da empresa. Por outro lado, esta postura ajuda a gerar lucros, atrair investimentos e clientes. Mas, a instituição precisa ser socialmente responsável para quem? Para a comunidade, obviamente. E qual o conceito que temos dela? Além de ser o que é comum, é um agrupamento ou uma associação para um fim mútuo, ou seja, geralmente um ser se associa a seus comuns, seres da mesma espécie,
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para suprir as diversas necessidades de sobrevivência, como a proteção partilhada, o próprio conviver natural, a diversão, procriação e cuidado da prole. Levem-se ainda em conta diversos aspectos que podem ser aqui acolhidos e, preliminarmente, constituírem-se no que se chama de comunidades. Podemos ainda dizer que são relacionamentos, que se fixam por meio de interesses ou acordos que possuam focos compartilhados. A comunidade é baseada na vizinhança, parentesco e na amizade, fundamentada no trabalho e na crença comuns. Isso, reflete um sentimento de pertencimento e as pessoas permanecem unidas. É estabelecida junto a essas relações laços afetivos entre os membros, como os de uma família. Assim, apresenta uma organicidade vinculada por meio das sucessivas interações entre seus membros. Dessas interações, despontam valores sociais que orientam a ação social para a coletividade, na qual os estatutos são guiados por crenças, hábitos e costumes. Delineiase, desse modo, a comunidade como forma básica da união dos homens, desde o nascimento e contínuo ao longo da existência, ao se compartilhar ações íntimas e vividas coletivamente e em constante interação como um ato de sua própria vontade. Interesse comum é o que, basicamente, podemos dizer de uma comunidade. Nesse sentido, quando uma instituição estabelece relações com a sociedade em que se insere, sendo a inter-relação mais próxima, estabelecida com a comunidade vizinha, ou mais distante, quando estabelecida com outras mais afastadas. De qualquer forma, seja próxima ou distante, as relações da instituição com a comunidade devem sempre se preocupar com o bem comum, considerando o conceito de empresa socialmente responsável, como vimos anteriormente.
Como exemplo de relações entre instituição e a comunidade, podemos indicar o Programa do Estado de São Paulo, que incentiva as empresas a adotarem uma Escola. O nome do projeto é, exatamente, “Adote uma Escola”. Consiste em uma empresa amparar, na forma de repasse de recursos, sendo materiais ou financeiros, um colégio próximo ou não de seu endereço.
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No exemplo, dado para este assunto, pode-se observar um programa de governo do Estado de São Paulo que incentiva as relações de instituições com as comunidades locais, vizinhas ou distantes. O Programa Adote uma Escola. Com base no que estudamos e, ainda, no exemplo dado, cite outro exemplo que trate da associação entre empresasociedade.
CONCLUSÃO No decorrer deste tópico, conseguimos identificar todas as relações que cercam as Instituições. Começamos com as internas, que dizem respeito aos seus colaboradores, sejam eles acionistas ou empregados. As relacionadas a, colaborador-colaborador, e a instituição-colaborador, visando compreender os aspectos que norteiam as ligações entre subordinados e patrões. As conexões externas, que abordamos em uma primeira instância, dizem respeito ao consumidor e em como a empresa necessita manter, em geral por meio da mídia, uma imagem sem desgastes para preservar seu portfólio de produtos. Relatamos as dependências que a empresa mantém com seus fornecedores e concorrentes e como isso pode interferir em determinados momentos na relação da instituição e seus clientes. Percebemos que a ética, que hoje rege os vínculos da empresa com os órgãos governamentais, deve ser vista sob dois aspectos, pela moral da integridade e a do oportunismo. Não nos cabe julgar nem tampouco generalizar, apenas discutir o que está mais acentuado em nosso país e, por meio de nossas atitudes, contribuir para uma mudança, mesmo que pequena, para o cenário atual.
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SROUR, Robert Henry. Ética Empresarial: Posturas responsáveis nos negócios, na política e nas relações pessoais. Rio de Janeiro: Campus, 2000. KIRSCHNER, Ana Maria; GOMES, Eduardo Ramos; CAPELLIN, Paola (organizadores). Empresa, Empresários e Globalização. Rio de Janeiro. FAPERJ, 2002. FIGUEIREDO, José Carlos. O Ativo Humano na Era da Globalização. São Paulo. Negócio Editora, 1999. LEISINGER, Klauss M.; SCHMITT Karin. Ética Empresarial: Responsabilidade Global e Gerenciamento Moderno. Petrópolis. Editora Vozes 2002.
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