Metodologia da Pesquisa Científica - Aula 02

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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA

AULA 02 ESTUDAR, COMUNICAR-SE, DESENVOLVER A OBSERVAÇÃO E O CONHECIMENTO

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ESTUDAR Estudar bem e de forma correta pressupõe conhecer por antecipação o que e como estudar, sabendo o que se deseja aprender, o que se quer encontrar. Inicialmente, há necessidade de se organizar, com cuidado, pensamentos, ideias e reflexões, pois a visão do mundo e da realidade que se pretende corrigir na organização deve estar clara. Os livros, textos, artigos de jornal e relatórios de congressos, simpósios e outros devem ser analisados em caráter textual, temático e interpretativo. O caráter textual caracteriza a primeira abordagem da obra ou do texto, e por isso fornece uma visão panorâmica ao pesquisador – nele se forma o raciocínio global do enfoque dado pelo autor e do grau de interesse gerado por ele diante do objetivo a ser colocado na monografia. Neste primeiro passo, é importante anotar alguns dados, como termos técnicos, para um glossário do assunto, referências de conceitos, eventuais registros históricos do tema, citações de outros autores e assim por diante. Neste passo ainda procura-se assimilar informações gerais – faz-se uma leitura passiva, quer dizer, de maneira a não contestar a abordagem. Assim, será mais fácil entendê-la para decidir realmente no passo seguinte. O caráter temático, por outro lado, prevê a compreensão da mensagem, o entendimento da visão do autor pelo pesquisador, que neste momento deve assimilar sem intervir, apenas “ouvir”. O pesquisador precisa entender o tema abordado, as suas razões e significados e captar realmente o que o autor quer dizer. A percepção e a pesquisa de quem lê são fundamentais. elas.

Algumas perguntas servem de guia para esta “imersão”: Convém meditar sobre

• Qual é realmente o problema a ser resolvido?

• Como o autor o encarou? Qual a sua justificativa?

• Qual foi a sua metodologia? O que ficou demonstrado?

• Conseguiu resolvê-lo?

• O resultado obtido é bom?

• Foi testado?

Em síntese: qual foi o raciocínio básico, a argumentação que sustentou o texto? A hipótese inicial foi alcançada? O caráter interpretativo gera dificuldades, pois nele se comparam as ideias entre os argumentos do autor e o problema escolhido pelo pesquisador. Enquanto se desenrola a comparação de ideias, faz-se a crítica aos posicionamentos demonstrados no texto da obra. Desde a primeira obra analisada, o pesquisador deve tomar cuidado em exercer coerência de posição, pois ainda há outras obras a analisar e é necessário um equilíbrio de raciocínio para a respectiva avaliação. Há autores que são opostos na ótica que têm

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sobre o assunto pesquisado – ainda assim, a leitura desses textos pode auxiliar o domínio de uma posição mais coerente. A coerência, como já dissemos, é necessária, pressupõe cuidado e atenção com a originalidade e contribuição ao futuro texto da monografia. O caráter analítico deve revelar o grau a que o pesquisador chegou com sua pesquisa sobre a obra. O caráter analítico de toda a bibliografia, por conseguinte, deve permitir a revelação do amadurecimento intelectual do pesquisador. Aqui vai-se perceber se, na síntese pessoal, encontrou-se o que se procurava. O pesquisador deve procurar textos que lhe permitam enxergar com clareza a evidência do que procura. Isso, aliás, serve também para a elaboração da monografia. A certeza de qualquer afirmação está ligada à evidência, pois é esta que permite entender os fatos e a razão particular de cada um. Por isso, os exemplos são tão importantes – casos reais detalhados. Além destes, dados estatísticos, testemunhos e ilustrações sempre reforçam e garantem o entendimento de quem lê a monografia. Demonstrar é dar uma tonalidade real ao que se afirma. É preciso imaginar-se no lugar do leitor para sentir-se convencido com a demonstração. Neste caso, o pesquisador deve entender que, para ter validade na Ciência de Administração – e no Curso de PósGraduação, em particular, uma obra colocada no contexto das referências bibliográficas deve apresentar uma demonstração não apenas intelectual, nem somente documentária, mas experimental ou operacional. Justificamos: a evidência necessária para resolver um problema proposto deve passar pela demonstração, aplicação e verificação. Sem isso o texto será apenas uma obra literária. Lembramos que aqui estamos lidando com metas e resultados que envolvem pessoas com sentimentos, ideais e objetivos. Quando se trabalha com pessoas, elas são o centro. Propor a demonstração é chegar até o leitor, aproximar-se dele, dialogar de forma prática. Convidá-lo a aplicar, em sua empresa ou instituição, a proposta apresentada, é fazer com que ele participe e torne-se íntimo da proposta. Finalmente, a fase de verificação permitirá que se estabeleça a diferença entre o proposto e a realidade concreta. Estudar para a elaboração da monografia pressupõe método. E, neste caso, é importante seguir passos que possibilitem tal organização. 1. Organizar o tempo, começando o estudo sempre pelo que for mais simples. Delimitar o espaço do trabalho é muito positivo – representa a prática da autodisciplina na conclusão do Curso de Pós-Graduação. 2. Determinar as prioridades para os assuntos que devem ser estudados, todos relacionados ao tema proposto. 3. Pesquisar obras indicadas pelos professores, pelo Orientador e por colegas e pessoas referenciadas, priorizando-as para a leitura. 4.

Organizar-se para que a leitura seja feita da obra mais simples para a mais complexa,

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ou seja, da obra que tenha relação direta com o tema para a obra mais abrangente. O estudo de uma obra organiza-se a partir da elaboração de um FICHÁRIO por obra ou documento lido e analisado. Cada Ficha deve conter o resumo da consulta feita pelo pesquisador: nome do autor, nome da obra, edição, cidade em que a obra foi publicada, editora, ano, assunto e as citações extraídas para inclusão no texto da monografia, com o destaque da página e respectiva apreciação resumida. Sugere-se ficha de tamanho carta – 21cm x 28cm.

FRENTE PLANO DE OBRA PARA MONOGRAFIA AUTOR: Marins e Silva, Antomar OBRA: Sonhar é para Estrategistas EDIÇÃO: 1ª. CIDADE EM QUE FOI PUBLICADA:Rio de Janeiro EDITORA: Ciência Moderna ANO: 2005 ASSUNTO: Estratégia empresarial – programando o futuro OBSERVAÇÕES: 1. Esta obra deve apoiar e fundamentar a estratégia de mudanças a serem desenvolvidas no Capítulo II da monografia e nas Conclusões apresentadas. 2. O apoio está previsto para o item de Times de Gestão, para fundamentar o sistema comportamental dos recursos humanos da organização. VERSO CITAÇÕES A UTILIZAR (Transcrever as citações – página, início e fim) 1._________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _______________ 2. _________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________

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Entende-se, então, que cada obra deve ter uma Ficha própria e esta deve conter

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todas as informações necessárias. Resumidamente, o pesquisador deve colocar à sua disposição as referências bibliográficas, as citações que serão utilizadas ao longo do texto da monografia, o esquema do resumo e a sua crítica como analista de um tema que pretende desvendar para gerar propostas de solução. Com isso, alimenta-se a hipótese inicial, formulam-se ideias capazes de compor a finalidade da pesquisa. Permite, ainda, a comparação com outras eventuais experiências já praticadas e destacam-se as condicionantes e a finalidade do tema. Finalmente, conclui-se com ênfase de maneira compreensiva e aceitável, tomandose o cuidado de valorizar a questão do tempo, sem ser necessário expandir essa observação com rigor. O ideal é que a hipótese levantada tenha um período de validade que atenda a necessidade e a sustentação de eventuais mudanças.

A maneira de estudar é sempre muito pessoal e única. Não há uma forma melhor

ou pior para se estudar. Há um processo pessoal de cada um que mostrará ou não a forma de aprender – é isso que importa e deve ser respeitado diante da tarefa de elaboração da monografia. Por isso, insistimos na necessidade de que a reflexão motive a seleção prévia do que deve ser estudado. Por conseguinte, chega-se ao momento da hipótese.

Destacamos o resumo para estudar, visando à monografia a ser elaborada:

1. Estudar bem e de forma correta implica em saber com clareza o que e como estudar, ou seja: o que se deseja aprender? O que se quer encontrar? 2. Analisar livros, textos, artigos de jornal, relatórios de congressos, simpósios e outros em caráter textual, temático e interpretativo. 3. Buscar afirmações para evidências. Somente por aqui é possível chegar a entender os fatos e a sua razão. 4. Demonstrar é dar realidade ao que se afirma. Propor a demonstração é dialogar com o leitor e convidá-lo a participar da verificação. 5. Adotar para a elaboração da monografia: organizar o tempo, começando sempre pelo que é mais simples; delimitar o espaço do trabalho; determinar as prioridades; pesquisar as obras indicadas, priorizando-as para a leitura; fazer a leitura da obra e dos textos mais simples para os mais complexos. 6. Estudar para a elaboração da monografia pressupõe método. E, neste caso, é importante seguir passos que possibilitem tal organização.

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7. Organizar um FICHÁRIO por obra ou documento lido e analisado. Cada Ficha com medidas de 21cm x 28cm deve conter o resumo da consulta feita pelo pesquisador: autor, obra, edição, cidade da publicação, editora, ano, assunto e as citações retiradas para inclusão no texto da monografia com destaque de página e respectiva apreciação resumida.

Estudar pela leitura pressupõe a prática de regras para a sua eficiência. É preciso tomar alguns cuidados para que esta leitura seja aproveitada e não venha a se perder para sustentar o tema da monografia com a argumentação de determinado autor. Desta forma, é necessário ler com intenção claramente definida, desde um simples anúncio de jornal, um artigo de revista até uma obra de autor consagrado. Por que este cuidado é necessário? Muito simples: para que a avaliação seja mais efetiva e porque os conteúdos permitem a sua absorção em tempos diferentes – cada autor tem o seu ritmo próprio. O pesquisador, afinal, necessita juntar as partes para compor um conteúdo que lhe interesse. Todas as leituras devem fornecer ao pesquisador o sentido de unidade em relação ao assunto. Não se pode tomar a iniciativa de uma citação só porque o autor é famoso, ou está em moda. Isso não vai ajudar a encontrar a solução.

IDENTIFICAR E COMPREENDER UM PROBLEMA Numa determinada empresa chegou-se à conclusão que a falta de motivação é grande – os funcionários faltam e chegam atrasados, constata-se desleixo no uso dos equipamentos, perdem-se vendas, ocorrem acidentes de trabalho com índices acima da média e verifica-se uma série de problemas que parecem sem solução. Os problemas são de natureza humana. Para que sejam resolvidos, as soluções devem buscar mudanças comportamentais. Mas como fazer isso se os problemas se multiplicam todos os dias? Realmente, não há fórmulas prontas. As realidades surgem pelo acúmulo de situações desfavoráveis e, quando são percebidas, os prejuízos já são muito grandes. Ocorreu um despertar para este cenário – imagina-se estar aqui um tema para a monografia. Não há mágicas para isso. No caso proposto chega-se, de imediato, à conclusão de que os problemas “invadiram” os processos de trabalho. Perdeu-se a direção

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e o que se observa é um conjunto de funcionários tentando se livrar dos afazeres dentro dos horários de trabalho: ninguém se responsabiliza por nada, pois ninguém sabe que caminho seguir. O pesquisador se alimenta de informações e hipóteses para que a monografia seja alimentada. De saída, sabe-se que há vários problemas em diversas áreas. Pensemos então, o que é um problema? Ora, problema é uma situação desejada como alvo, expressa em metas ou padrões de trabalho, que não se consegue alcançar por reconhecer a sua inviabilidade, por má programação ou falta de acompanhamento, chega-se à prática do abandono. E, assim, o problema desta pesquisa pode ser rever e reprogramar os processos da empresa. Neste caso, há muito trabalho pela frente. Mas vai valer a pena. Já se sabe, por exemplo, que o Ciclo de Execução de qualquer Processo tem Início, um Tempo e Fim. Neste caso, é preciso identificar os processos, analisar o sentido previsto para cada um, o tempo em que estão decorrendo e onde se verifica hoje o desvio que leva ao resultado indesejado.

Sugere-se pensar a respeito. Avaliar. Criar motivos para esta pesquisa.

Desenvolvemos neste Tópico um esforço de compreensão de como é importante a ligação entre percepção, avaliação, leitura e estudo. É o momento de buscar as anotações que feitas a partir do Tópico 1. Sugerimos consultar o Tópico anterior para relembrar este trabalho de pesquisa e começar a formular ideias para a monografia. As situações reais são as melhores e mais importantes para este trabalho, pois trazem consigo as competências e a percepção das pessoas. Estimulam porque possibilitam respostas.

Mãos à obra. Aqui pode estar o começo da monografia.

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A exemplificação fica por conta do pesquisador. O que se consegue perceber agora? 1. Há motivação necessária para formular hipóteses para o tema? As premissas são realmente verdadeiras para que se possa construir um caminho em busca de soluções? 2. As pessoas poderiam ser motivadas a construir uma nova realidade de trabalho, a partir da proposta que a monografia vai apresentar? Quais os incentivos motivacionais que a empresa nunca adotou e que seriam importantes para sustentar a cooperação de todos? 3. A empresa possui cultura suficiente para trabalhar sob a lógica de “processos” e visar a implantação da Qualidade Total com direcionamento para a Certificação da ISO? 4.

Quais os programas de treinamento para esta mudança de cultura empresarial?

O pesquisador deve partir para a exemplificação fazendo-se todas as perguntas importantes para o entendimento global do problema.

COMUNICAR-SE A autossuficiência pode revelar grande prejuízo à montagem dos diversos passos da monografia. Por isso não se deve imaginar o pesquisador como “dono da verdade”, por mais setorizada que esta possa ser. A verdade é motivo de busca constante, porque ela mesma é transitória e subordinada, sobretudo, às emoções humanas. No caso da pesquisa para a monografia a autossuficiência é fatal para a boa comunicação, pois não permitirá que se construa o caminho de duas mãos – dizer e ouvir. Além disso, surgem ainda as barreiras verbais, as gírias e os termos regionais, verdadeiros e complexos idiomas que muitas vezes prejudicam o entendimento geral, principalmente em áreas mais técnicas das organizações. É importante destacar alguns aspectos ligados à comunicação após o aprofundamento do estudo e da leitura, pois é preciso lembrar que numa pesquisa, ao entrevistar pessoas e analisar processos, vão surgir palavras e termos carregados de afetividade e de emoções. Não é exagero dizer que as palavras são subjetivas e, por conseguinte, dispõem de valores que nem sempre refletem a realidade. Ao pesquisador compete estabelecer os limites e avaliar o que ouve e o que lê. Principalmente, ao analisar resultados, concluir sempre parcialmente e nunca de forma

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definitiva, pois os números e os padrões ocultam as relações das pessoas com as respectivas expressões pessoais apresentadas. O chamado êxtase da atenção fornece elementos para visualizar a conclusão do que se pretende dizer. Por isso, na redação da monografia, é necessário buscar uma unidade de estrutura gramatical, para que os leitores deste texto percebam o ritmo e a resolução. O que se escreve e/ou defende na pesquisa necessita ter unidade – tema escolhido, apoio bibliográfico-, uma vez que a arte de se comunicar, no texto, é obter a compreensão e a aceitação dos leitores e, finalmente, a conclusão do assunto com as soluções apresentadas. Por causa disso, a atuação do Orientador é de extrema importância durante e depois do desenvolvimento da monografia. A sua participação serve de balizamento para o tema que nasce com a Intenção de Pesquisa, cujos parâmetros serão desenvolvidos em Tópico específico mais adiante. Autores diversos, quando analisam a importância dos cuidados a serem tomados com a comunicação na elaboração de monografias, são unânimes em destacar que o texto deve apresentar a unidade com equilíbrio como fator de integração do assunto. Este equilíbrio define-se com o próprio estilo com que se escreve – a comunicação permeia os argumentos com capacidade de convencimento. São colocados também como importantes o ritmo e a resolução. Vejamos o que isso quer dizer: O ritmo possibilita uma leitura agradável, exemplos bem apresentados, com nexo e ligação ao que se está propondo; a resolução é de importância fundamental para a conclusão da monografia – revela a cumplicidade de soluções do pesquisador com o leitor. As expressões utilizadas devem ser justificadoras da escolha do tema feito e, sobretudo, com a proposta de que os resultados estejam diante dos olhos dos leitores. O estudo de caso é uma forma muito didática de aprender a narrar um fato significativo dentro de uma área, sob a ótica da Ciência da Administração. A rigor, é uma técnica de simulação baseada no processo de decisão que possibilita grande aprendizado.

A orientação básica para o trabalho fundamentado no estudo de caso é a seguinte:

1.

Ler o caso várias vezes até assimilá-lo por completo.

2. Procurar reunir fatos e itens que não estejam apresentados de forma clara, de maneira que se possa fazer uma avaliação fidedigna do mesmo. 3.

Estabelecer as premissas do problema de maneira convicta.

4.

Procurar alternativas de solução para as questões fundamentais encontradas.

5. Definir posição pela alternativa que pareça ser a melhor e propor os passos da sua aplicação.

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E, agora, fazemos uma revelação. A monografia que se pretende escrever pode ser um estudo de caso, um problema real com soluções criativas, técnicas e, sobretudo, práticas e factíveis.

Este Tópico revela, finalmente, um caminho possível a ser percorrido.

Procuram-se casos para definir a monografia neste Curso. As ocorrências estão aí. Todos os dias, as manchetes dos jornais, as capas das revistas e uma avalanche de livros de administração apresentam casos. Casos e mais casos. Como está a comunicação dos pesquisadores com o seu mundo? O que se tem percebido com o desenrolar do processo de globalização? É só escolher o caso dentro da organização, pois já se sabe que qualquer planejamento é, na verdade, uma seleção de objetivos. O que se pretende atingir? Que procedimentos proativos se quer valorizar diante da situação analisada, considerando e entendendo com clareza os ambientes interno e externo? A monografia é uma comunicação com o mundo organizacional, o qual faz a ligação com o mundo global. Mas é preciso lembrar: a leitura é a base da arte de escrever. A comunicação depende da percepção e do grau de envolvimento com os conhecimentos adquiridos neste Curso, mas para argumentar e conquistar a adesão dos leitores, além da exposição, é necessário reunir no texto a dedução, conclusão e proposta.

Um grande número de funcionários operacionais foi contratado por 18 meses, para a construção das dependências de uma nova fábrica para um cliente. São, portanto, funcionários de uma empresa de engenharia admitidos de acordo com os preceitos da legislação vigente. No entanto, usando as mesmas dependências dos funcionários do cliente como vestiários, refeitório e áreas afins, estes funcionários foram se habituando a conversar sobre a empresa do cliente, salários, benefícios em geral e outros assuntos que começaram a inquietar a empresa prestadora dos serviços de construção. Quase a concluir a construção da fábrica, estes funcionários começaram a demonstrar a sua insatisfação por estarem a concluir o contrato de trabalho por tempo determinado. Assim, começaram a faltar e chegar atrasados e, com isso, impediam o bom andamento dos trabalhos. A empresa contratante, tendo prazos a serem cumpridos e a fabricação de produtos a entrar na linha de produção, pensa em assumir o restante da obra, mesmo tendo que enfrentar a alta multa rescisória prevista no contrato. A tensão está latente em todos os lados. Logicamente, há outros dados particulares que devem ser pesquisados antes de se formular uma hipótese – valor de salários, rescisões,

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comunicação entre os executivos de ambas as empresas, pedidos em carteira para fabricação em datas próximas numa unidade fabril que não vai ficar pronta no prazo previsto. Há outros tantos detalhes importantes para se chegar a uma conclusão que satisfaça os envolvidos.

Que tal pensarmos no assunto como exercício prático, mesmo tendo que admitir dados que não estão apresentados, mas que são comuns a situações como esta? Que providências práticas tomar considerando prazos exíguos?

Este é, sem dúvida, um sugestivo estudo de caso para análise.

Os conceitos básicos que interessam ao entendimento deste assunto resumem-se assim: • A autossuficiência pode revelar grande prejuízo durante a elaboração da monografia, pois é preciso considerar que a verdade é transitória e subordinada às emoções humanas. • Além da autossuficiência, surgem ainda as barreiras verbais, as gírias e os termos regionais, muitas vezes verdadeiros e complexos idiomas.

• As palavras são subjetivas e dispõem valores que nem sempre refletem a realidade.

• O êxtase da atenção fornece elementos para valorizar a conclusão do que se pretende dizer. • A monografia deve buscar uma unidade de estrutura gramatical para que os leitores percebam o ritmo e a resolução da mesma. • A atuação do Orientador é de extrema importância, pois representa o balizamento para o tema que nasce com a Intenção de Pesquisa.

• O texto deve apresentar a unidade tendo o equilíbrio como fator de integração

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do assunto. • Para a elaboração da monografia, o estudo de caso é uma forma muito didática de aprender a narrar um fato significativo dentro de uma área, sob a ótica da Ciência da Administração. • A monografia é uma comunicação com o mundo organizacional, que faz a ligação com o mundo global.

DESENVOLVER A OBSERVAÇÃO E O CONHECIMENTO Falamos do conhecimento no Tópico anterior. Conhecemos o seu conceito e como o mesmo deve ser encarado para a elaboração da monografia. O conhecimento também se relaciona com a metodologia para analisar e melhorar a situação a ser apontada. É importante assimilar, a esta altura, que o pretendemos é a melhoria de processos. Desta forma, melhorar ou “construir” um processo não é uma questão teórica em administração, embora a sua praticidade dependa dos conceitos que lhe sejam atribuídos. Sabe-se que a construção de um processo é o passo-a-passo de um conjunto de tarefas sequentes para uma operação de trabalho. Relacionamos, a seguir, uma escala proposta para resumir um método de análise e melhoria de processos. Alertamos que esta sequência pode mudar em função do assunto em destaque. 1. Qual o problema anotado? Atinge a organização como um todo ou possui localização setorizada? Afeta os resultados, metas ou padrões hoje vigentes na organização? 2. A questão deve receber algum tipo de prioridade em função da sua extensão? É expressiva a soma de recursos humanos, materiais e financeiros envolvidos? 3.

Como definir o enunciado do problema? Por quê?

4. Que influências a curto e a médio prazo são colocadas por este problema para a organização? Há riscos? Prevê-se necessidade de mudanças muito acentuadas? 5. Que alternativas se configuram como viáveis antes da realização das pesquisas e da leitura das referências bibliográficas e documentos afins? Por quê? 6. Que relacionamentos podem ser estabelecidos entre as hipóteses de solução e as causas que determinaram esta situação? 7. Qual a relação custo x benefício hoje existente? Qual o diagnóstico que se pode fazer deste resultado? Há possibilidade de se desenvolver as possíveis alternativas de solução com a relação custo x benefício mais conveniente?

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8. Como se pretende desenvolver o planejamento das soluções sem criar novos cargos, despesas adicionais e outros custos? 9.

Como se fará a implantação? Quem deverá participar da mesma? Por quê?

10. Como será a avaliação e as eventuais correções? Quem deverá fazer a coordenação deste processo? Por quê?

Para o desenvolvimento da pesquisa pressupõe-se que o pesquisador deve definirse por um assunto da sua área de atuação, que lhe seja comum e sobre o qual já tenha concepções e ideias formadas. De outra maneira o assunto pode ser encarado de forma superficial, e não se obterá o resultado pretendido. Deseja-se que a opção seja com uma comunicação eficaz e, para isso, o pesquisador deve revelar experiência e talento, sentindo-se à vontade dentro do tema e projetando-se para o futuro. Um exemplo deve sair daqui para que se faça esta pergunta durante as aulas deste Curso. O que se tem conseguido mudar na organização? Qual a participação nas mudanças efetivas que alteraram resultados e padrões para melhor? A elaboração da monografia não deve ser encarada apenas como uma importante exigência do regulamento deste Curso, mas como uma oportunidade de vida e participação nas organizações em que os alunos atuam. Muitas rotinas e processos aguardam mudanças. Por isso, perguntamos: a observação e o conhecimento fornecem instrumentos ao pesquisador para a proposição das mudanças necessárias?

A monografia é um sinal vivo de proposta de mudanças.

Mãos à obra.

1.

Verificar se o conhecimento consegue relacionar-se com a metodologia.

2.

Identificar o problema e analisar a sua extensão na organização.

3.

Analisar a prioridade e eventuais recursos necessários.

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4. Definir o enunciado do problema, influências que recebe e pode vir a receber, riscos e mudanças que se preveem. 5. Enumerar se os relacionamentos podem ser estabelecidos entre as hipóteses de solução e as causas e relações entre custo e benefício de hoje e da alternativa a propor. 6.

Planejar as soluções e a implantação sem criar novos encargos.

7.

Propor coordenação do processo, avaliação e eventuais correções.

CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E EMPRESARIAL Um método bastante utilizado para estabelecer a comunicação eficaz entre o conhecimento científico e o contexto empresarial é o que apresenta o contraste entre a problemática e o problema. Explicamos: é a preocupação do pesquisador em separar, de forma adequada, a problemática com o objeto de estudo, e o problema com o estado do objeto. A problemática pode ser, por exemplo, a queda acentuada das vendas num determinado momento – a problemática é genérica, atinge o universo da questão. O objeto é o detalhe – afinal, quais os motivos específicos – sazonalidade, tipo de produto apresentado, treinamento dos vendedores, preços de venda e outros. A comunicação na monografia deve unir estes dois parâmetros, integrando-os, para evitar a incerteza até que se comprove a eficácia da proposta apresentada.

Retomamos aqui os procedimentos da pesquisa, com rigorosa sequência, a saber:

1. Identificar o problema com clareza, para que não venha a apresentar dubiedade de interpretação; 2. Determinar as fontes de informação com todo o cuidado – definir o que se quer perguntar e o que se precisa saber e quais as pessoas, obras, documentos, relatórios e outros; 3.

Preparar a coleta com direcionamento e total controle;

4. Projetar a amostra, concluindo pela sua utilidade e pela relação que venha a ter com a pesquisa; 5. Continuar a coletar as informações, tomando o cuidado de não perder a direção e, muito menos, se deixar empolgar por determinado dado obtido, pois outros dados tão ou mais importantes podem surgir no decurso do levantamento; 6. Editar, codificar e analisar os dados obtidos com minúcia e perspicácia, sobretudo se envolverem estatísticas, períodos questionados para os negócios, e assim por diante;

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7. Preparar o relatório de forma que seja bem aproveitado na elaboração da monografia. É preciso evitar textos, pesquisas ou estatísticas, por exemplo, que visem apenas “rechear” a monografia. Deve-se entender que tudo que venha a compor o texto deve ter a sua razão de ser diante do contexto da comunicação. Não se trata de um simples trabalho escolar para cumprir uma obrigação sem maiores consequências. Agora, o problema é real e, por isso, comunicação eficaz é importante. O pesquisador acumula medos e incertezas desde que a sua comunicação se inicia, com o projeto da monografia. Todos que têm essa responsabilidade passam por isso, porque se comunicar não é fácil: tem-se a impressão de que o assunto escolhido não é interessante, faltam palavras para justificá-lo e, sobretudo, acumulam-se as incertezas. Há que se preparar para a elaboração da Intenção de Pesquisa, a ser analisada pelo Coordenador do Curso. Embora se determinem prazos, porque assim deve ser, o tempo será suficiente e o atendimento aos alunos será constante. O bom senso utiliza-se de um caminho que pode ser adotado como modelo para diminuir a incerteza ou até eliminá-la. De forma didática, expressamos um roteiro com quatro categorias de ações, inclusive, muito usado. Trata-se do seguinte:

Primeira Categoria

Tenacidade – Defender o tema escolhido com argumentos fortes e com bases sólidas. Procurar defender até o fim do trabalho com a certeza de que a proposta a apresentar será factível, criativa e original.

Segunda Categoria

Autoridade – Entrevistar pessoas que sejam importantes e até consideradas “autoridades” sobre o assunto escolhido e cuja opinião seja realmente fundamental.

Terceira Categoria

Intuição – “Mergulhar” no assunto com a melhor disposição, de forma que, à medida em que os temas forem sendo desenvolvidos, a própria intuição se revele.

Quarta Categoria

Ciência – Remover a incerteza nos passos finais do trabalho, de maneira que a aplicação do método científico permita a comunicação eficaz. É preciso lembrar-se de que a monografia deve seguir um roteiro metodológico científico e, por isso, a intuição é importante, mas não pode sobrepor-se.

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Neste Tópico, elaboramos a ligação entre os mecanismos de estudar, comunicar-se adequadamente e desenvolver o conhecimento, promovendo o contexto da comunicação científica e empresarial. Na sequência destes passos, ficou claro que cada pesquisador tem a sua forma de ver o mundo, de senti-lo e, assim, também há uma forma própria para estudar e concluir. Mas isso não é estático: a todos os momentos percebem-se mudanças e soluções viáveis para problemas que preocupam. Assim, entre a percepção e o conhecimento acumulado, sem a autossuficiência que destrói esforços, é possível encontrarem-se soluções. No próximo Tópico, aprofundaremos a metodologia científica. Começaremos a trabalhar, produzindo inicialmente um artigo científico, e a desenvolver o processo metodológico da comunicação para a familiarização com as normas que, depois, serão aproveitadas na redação da monografia. Ao mesmo tempo, abordando a comunicação como importante meio de transmissão da proposta para o bom encaminhamento da pesquisa, é importante transportar-se para as perguntas que devem ser respondidas ao final. São elas que devem conter a verdade da proposta, como se pode concluir. Estas perguntas entram em cena agora e serão novamente chamadas no último Tópico:

- O problema e a proposta foram bem enfocados?

- Os argumentos apresentados são aceitáveis? Por quê?

- Os dados e as informações coletadas são confiáveis?

- A abordagem foi convincente?

- A proposta apresentada é factível?

- O método apresentado foi favorável à redação?

- As recomendações feitas estão apropriadas?

- Há objetividade e clareza nas conclusões?

O pesquisador que tem as suas metas bem definidas consegue antecipar-se às respostas – assim se definirá a qualidade do trabalho apresentado.

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COSTA, Marco Antonio F. da et al. Metodologia da pesquisa – conceitos e técnicas. Rio de Janeiro: Editora Interciência. 2001 GALVÃO, Célio et al. Fazendo acontecer na qualidade total. Rio de Janeiro: Qualitymark editora. 2000 MARINS E SILVA, Antomar. Sonhar é para estrategistas. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna. 2005 RAMOS, Paulo et al. Os caminhos metodológicos da pesquisa. Blumenau: Odorizzi editora. 2005

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