RELAÇÃO INTERPESSOAL E ÉTICA
AULA 03 ÉTICA E CIDADANIA
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ÉTICA, CIDADÃO E CIDADANIA Anteriormente, analisamos as relações interpessoais entre as instituições e seus stakeholders, ou seja, os agentes que possuem vínculos com a empresa, os quais definimos como sendo os agentes internos, os funcionários, acionistas e outros colaboradores diretos dentro da empresa, e externos, que são clientes, concorrentes, comunidades próximas e distantes e fornecedores. Neste caso, também discutimos sobre ética. Nesse momento, estaremos entrelaçando a ética com a cidadania e verificando como ficam as relações sociais dentro de um mundo globalizado. Embora já tenhamos conceituado o termo ética em um outro momento, vale a pena relembrar: ÉTICA Como já vimos, é a discussão, o debate, sobre as regras, a análise teórica dos princípios que regem a moral. E, também, é a ciência da conduta e a teoria do comportamento moral dos homens em sociedade. Da mesma forma, antes de nos aprofundarmos em qualquer abordagem sobre o assunto, devemos nos ater à compreensão dos termos cidadão e cidadania. CIDADÃO Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Podemos avançar em definição e conceito do termo cidadão, dizer que é poder conviver democraticamente em uma sociedade em que se garanta as melhores condições para cada um e para todos, de realização pessoal e coletiva, com base nas conquistas alcançadas pela humanidade, ter acesso à educação, a saúde, ao lazer, aos bens culturais, ao convívio equilibrado com o meio ambiente, respeitar o outro, suas escolhas, seu credo, sua condição e opção sexual, política e filosófica.
E cidadania? Como podemos definir?
CIDADANIA Segundo Gilberto Dimenstein (2000, p. 2), “é a síntese das conquistas dos direitos obtidos pelos homens, orientados por um princípio básico: todos são iguais perante a lei, independente de raça, cor, sexo, religião e nacionalidade”. O autor também considera as ações que garantem igualdade de oportunidades como sendo parte deste conceito. Podemos dizer que cidadania é a condição para sermos vistos como pessoas. Além da definição dada por Dimenstein, podemos dizer que é uma conquista histórica e social da modernidade. Ela depende de uma comunidade capaz de assegurar a todos a possibilidade de se auto-realizarem, em termos de acesso aos bens
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socioeconômicos e socioculturais disponíveis, e que exige a presença ativa de pessoas capazes de se reconhecerem como cidadãos. Para que esse reconhecimento aconteça, é necessário que essas pessoas tenham tido a possibilidade de acesso aos bens da civilização moderna, como a formação intelectual, profissional, emprego, renda, dentre outros. A cidadania é uma condição política de direitos e obrigações frente ao coletivo e as pessoas com as quais se convive. É poder refletir sobre os atos que tenham consequências sociais, ter consciência dos seus resultados dentro da sociedade, como jogar lixo no rio, quebrar um telefone público ou desviar verbas públicas, etc. Dois limites históricos caracterizados por processos de lutas instauraram a idéia de cidadania no mundo: 1.
A Declaração dos Direitos Humanos (Estados Unidos da América do Norte);
2.
Revolução Francesa.
Até estes momentos históricos, os princípios eram baseados nos deveres dos súditos. A partir destes importantes acontecimentos os direitos dos cidadãos passam a ser o foco das discussões. Portanto, o conceito de cidadania está baseado na igualdade de direitos, estendendo-se, atualmente, estas discussões cada vez mais às mulheres, crianças e a todas as minorias. Dentro desta abordagem, devemos apresentar um questionamento, em uma sociedade pobre, com todos os tipos de carências sendo elas de bens ou serviços, o conceito de cidadania é real? Vejamos... É certo que a busca por um conceito verdadeiro de cidadania está intimamente ligada à distribuição de riquezas de um país, bem como a sua própria riqueza. Porém, os avanços que ela construiu e continuará construindo nas sociedades também está fundamentado nas reivindicações, nas lutas e nas ações que os indivíduos realizam pela causa. Também não pode ser vista, por exemplo, de maneira igualitária no Brasil e na Alemanha. Cada país tem suas próprias formas de percepção do tema, começando pelo fato de que as leis vigentes são diferentes e, por consequência, os indivíduos da Alemanha são considerados iguais conforme a lei daquele país. As ações que são realizadas lá pelos cidadãos alemães divergem das ações que são praticadas aqui, em função das necessidades distintas dos povos. ONDE A ÉTICA E A CIDADANIA SE ENCONTRAM?
Ética e cidadania fazem parte de um mesmo contexto.
Vamos considerar cada cidadão como parte integrante de uma sociedade. A partir do momento que ele conhece e respeita os seus direitos civis e políticos, assim
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como também os direitos do outro, designados pelo Estado, temos um cidadão ético. A convivência social entre esses é que faz parte da definição de cidadania. Quando nos remetemos ao conceito citado acima, onde a igualdade de direitos do ser humano é respeitada, independente da sua condição quanto à raça, cor, credo, sexo ou nacionalidade, podemos afirmar que a cidadania é exercida por cidadãos éticos. Portanto:
Assim, conclui-se que não há cidadania em uma sociedade que não está norteada pela ética.
Líder comunitária dá exemplo de cidadania
Determinação, essa é a palavra adotada por Maria José Teixeira, artesã e presidente da Associação das mulheres do Patrimônio Selva, que fica a 12 km da cidade de Londrina. Ela, que estava debilitada até alguns anos atrás, sofrendo com problema de circulação e que consequentemente lhe rendeu depressão, por sentir-se incapaz, encontrou na fibra de bananeira o caminho para cura desse problema de saúde e para a melhoria da renda familiar. Ela faz parte de uma fatia significativa de brasileiros, que não se acomodam aguardando ajuda do governo, reclamando que as coisas estão difíceis. Maria tomou partido e enfrentou as dificuldades. Em 2000, ela participou de um curso, em Curitiba, onde aprendeu a confeccionar artesanatos feitos com a fibra da bananeira. A auto-estima, sentimento indispensável para crescimento moral do ser humano, começa a revelar o talento de Maria que desenvolveu alguns produtos através da fibra de bananeira. Um fato que com certeza ficará gravado em sua memória foi quando ela entregou pessoalmente, dentro do Aeroporto Internacional de Londrina, uma bolsa feita da fibra, para Marisa da Silva, esposa do presidente Lula. “Eu consegui apresentar meu trabalho para o nosso presidente e sua esposa, e sei que ela sempre usa a bolsa, isso me deixa muito feliz”, comemora Maria. [...] Fonte: Reportagem adaptada de Folha online 03/05/2005 http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/comunidade/gd030505.htm
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STEAKEHOLDERS: todos os agentes sejam eles internos ou externos que possuem algum vínculo com determinada instituição.
ÉTICA: análise teórica dos princípios que regem a moral.
CIDADÃO: é o sujeito que respeita e participa das decisões da sociedade para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. CIDADANIA: partindo-se do princípio de que todos são iguais perante a lei, além de ações que garantem oportunidades iguais, a cidadania é o conjunto dos direitos obtidos pelos homens seja qual for sua nacionalidade, raça, cor ou sexo. A cidadania e a ética entram no mesmo conteúdo quando percebemos que são os cidadãos éticos, através do respeito ao direito do outro, que contribuem para a formação do conceito de cidadania. Sendo que a Declaração dos Direitos Humanos e a Revolução Francesa foram marcos importantes para a instauração desse termo, que modificou uma estrutura baseada nos deveres dos súditos para os direitos dos cidadãos. Por último, ela não está baseada somente na estrutura de distribuição de renda de um país ou na sua riqueza, mas nas ações e lutas dos indivíduos para que ela seja uma realidade. Como exemplo, temos as instituições, junto aos seus agentes internos atuando para a busca da prática da cidadania.
UM POUCO DE HISTÓRIA PARA ENTENDERMOS MELHOR O QUE ESTÁ ACONTECENDO
Para falar de ética e cidadania temos que conhecer um pouco dos acontecimentos históricos que, de certa forma, contribuíram para o pensar sobre esse tema tão atual. Segundo Bernard Henri Lévy, citado por SROUR, o mundo contemporâneo está vivenciando a terceira revolução tecnológica, que a exemplo das outras, Neolítica e Industrial, também está acontecendo à sombra de uma revolução econômica e será chamada de revolução digital.
Revolução neolítica - o homem sai do tacape para o arado.
Revolução industrial - o homem sai do arado para o trem.
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Revolução digital - o homem sai do trem para o computador.
VAMOS VER O QUE ELAS SIGNIFICAM? REVOLUÇÃO NEOLÍTICA A Revolução Neolítica aconteceu em diversas partes do mundo. O homem primitivo deixou de utilizar as armas e utensílios confeccionados a partir da separação de lascas e passou a utilizar o método de polimento das pedras e seu desgaste. Os grupos primitivos perceberam a possibilidade de domesticar animais e viver da agricultura, ao invés de depender da caça, pesca e coleta de alimentos, que em muitas épocas do ano era de difícil acesso. A utilização do vento como fonte de energia, para os barcos e moinhos, e a descoberta da roda (3500 a.C) encurtaram distâncias e possibilitaram o encontro de muitos mundos. Neste período os laços entre os grupos primitivos começaram a surgir. A cooperação, por exemplo, para a caça de grandes animais bem a partilha desses possibilitou os laços. A moral era imperativa dentro de cada grupo, suas regras eram determinadas e surgiam dos costumes deles. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial aconteceu devido ao capital investido nas manufaturas da Idade Moderna, que gerou a utilização da máquina operada pelo homem na produção de bens, substituindo a força animal utilizada até então. As invenções desta época fragmentaram o trabalho dos especialistas. Por exemplo, a combinação da invenção da máquina de fiar e do bastidor hidráulico permitiu a produção de 400 fios de boa qualidade ao mesmo tempo. Isso ocasionou uma escassez de mão de obra qualificada para este trabalho, a dos artesãos. A produção de fios era superior à capacidade de produção deles e a solução veio com a invenção do tear mecânico. Nesse período a mão de obra do processo de produção se tornou essencialmente braçal e desqualificada, não dificultando muito na substituição dos trabalhadores. REVOLUÇÃO DIGITAL Podemos dizer que duas grandes mudanças aconteceram na era Digital, as relações de trabalho entre as empresas e seus funcionários e a importância da informação. A substituição dos trabalhadores, até então considerados descartáveis e desqualificados, por profissionais qualificados e polivalentes e o trabalho considerado altamente físico para um trabalho mental. Portanto, diferente da revolução industrial, no processo de produção digital prevalece o trabalho mental e polivalente. Surgiu então o capitalismo de caráter social, onde parte do excedente econômico é partilhada através de mecanismos, como a participação nos lucros-resultados e a
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remuneração variável. MAS E O QUE CAUSOU ESTAS MUDANÇAS TÃO PROFUNDAS? A GLOBALIZAÇÃO. As transformações tecnológicas do último século provocaram mudanças significativas no comportamento dos indivíduos, bem como das sociedades. O termo globalização entrou em moda com diversas versões sobre o assunto.
O que é globalização?
Podemos concluir que, na sua etimologia, a palavra global pode se referir tanto a Terra como um planeta ou dentro da noção de totalidade. Desta maneira, podemos considerar os dois significados e entender globalização como uma homogeneidade mundial. De maneira mais simples, vamos estabelecer que é um processo não somente econômico, mas também social. Esse, estabelece uma integração entre os países do mundo, bem como entre seus indivíduos. Por meio dele são realizadas transações financeiras e comerciais, difundidos aspectos culturais e os governos trocam ideias dentre muitas outras coisas. O mundo contemporâneo se tornou multirracial, poliglota e pluricultural. A tecnologia exerce um papel fundamental, estabelecendo uma rede de conexões que encurtam as distâncias e facilitando tanto as relações comerciais como as culturais. As fronteiras perderam o valor. A noção de tempo-espaço também merece uma nova redefinição. Nunca em toda a história da humanidade as ideias, informações e os produtos circularam com tanta rapidez. Quando falamos de tecnologia, estamos abordando todos os meios que podem integrar os povos. A televisão também é um meio de transmitir a cultura de um povo, foi a partir da década de 70, quando a TV e o rádio eram os meios de comunicação mais utilizados, que a cultura americana se difundiu pelo mundo. OS DOIS LADOS DA MOEDA Na Revolução Industrial houve uma evasão do homem do campo, em função da mecanização das lavouras. Essa mão-de-obra foi parar nas linhas de montagem das fábricas que surgiram nos grandes centros. Ao automatizar os processos produtivos, também sobram trabalhadores, que em parte são absorvidos pelo setor de serviços. Não sendo suficiente essa assimilação, o desemprego se torna um desafio à sociedade moderna. Um outro perigo que ronda a globalização é a possibilidade de marginalização dos países denominados do Terceiro Mundo. O fantasma da exclusão, caso não consigam
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ingressar nesta Revolução Digital. A globalização causou outras mudanças na cultura econômica da sociedade atual. Com a abertura de mercados, acentuou-se o capitalismo na maioria dos países e surge uma nova versão para o ser cidadão, como sendo aquele que tem o poder de compra. Por um lado, essa vertente democrática permite o acesso de um maior número de indivíduos a bens e serviços modernos, contudo por outro, amplia a violência e a exclusão social, aumentando a concentração de riqueza, em especial, nas áreas urbanas. Outro prejuízo é a individualização. Cada vez mais as pessoas passam horas na frente dos computadores, muitas vezes deixando de lado a sua vida social. Os adolescentes estão prezando por seus amigos virtuais e esquecendo o contato real com o outro. Percebemos uma mudança de comportamento acentuada na “geração tecnológica”, durante os intervalos das aulas eles apenas se cumprimentam. Chegam em casa e passam horas conversando pela net com esses mesmos colegas. O convívio real com o ser humano necessita ser preservado e até resgatado. Precisamos sempre ponderar os dois lados. Se a Internet, principal ferramenta que permitiu esta abertura fantástica dos mundos, tem seu lado positivo também conta com o lado negativo. Vamos nos ater um pouco sobre esse assunto, a Internet. Quantas mudanças ela provocou na vida e no cotidiano dos cidadãos? Pense bem. Nos últimos doze meses, quantas cartas você recebeu pelo correio? Não estamos dizendo aqui, das cartas comerciais que ainda continuam circulando, mas naquelas cartas enviadas por amigos, parentes e conhecidos. Após um grande esforço de memória, sua resposta provavelmente será nenhuma. Eis um exemplo simples das transformações provocadas pela Internet. No cotidiano das pessoas o e-mail substituiu as cartas tradicionais com rapidez, praticidade e comodidade. Por outro lado, as coisas acontecem com uma velocidade cada vez maior e assim a roda da vida passou a girar mais rápido. Os computadores ficam ultrapassados em um piscar de olhos. A indústria, pelo menos, no que se refere aos setores de informática e de eletroeletrônica se torna defasada em questão de meses, equipamentos que deveriam ter vida útil de anos. Mais que avanços tecnológicos, os fabricantes vendem o conceito de que a tecnologia de ponta é momentânea e sinal de status. A Internet representa apenas mais uma poderosa ferramenta criada pelo avanço tecnológico. Como qualquer instrumento ela tem aspectos positivos e negativos. Com a mesma eficácia, a web coloca, à disposição de todos, informações importantes sobre tratamentos para doenças raras, mas também facilita a ação de pedófilos. A grande rede não ocupa o papel de herói ou vilão no que diz respeito aos seus usos. A responsabilidade final é de quem produz e/ou consome os conteúdos nela apresentados.
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Utilizando o mesmo caso da nossa reflexão, a pornografia na rede. Vamos imaginar que a pedofilia sempre existiu. Da mesma maneira que ela está sendo divulgada ela está sendo combatida por meio da rede. Você acredita que o advento das aberturas de mercado trouxe aspectos mais positivos ou mais negativos? Opine abordando os seguintes aspectos: em relação ao mundo, ao Brasil e a você.
Globalização: processo econômico-social que estabelece uma relação entre os indivíduos, bem como entre países. Nesse são estabelecidas relações financeiras, culturais e comerciais. As mudanças de comportamento dos seres humanos, como a individualização, também foram abordadas. Nesse assunto, um dos focos foi estabelecer uma percepção histórica das três grandes revoluções tecnológicas, a Revolução Neolítica, a Revolução Industrial e Revolução Digital, considerando os impactos causados por elas dentro das relações sociais. Na Revolução Neolítica percebemos que o homem desenvolveu algumas ferramentas simples, como a roda, para facilitar seu trabalho e que se criaram laços entre grupos vizinhos, onde os interesses comuns se sobrepunham aos de cada coletividade. Na Revolução Industrial a máquina formatou o tipo de trabalho desenvolvido pelo homem, como sendo braçal, repetitivo e desqualificado. E, finalmente, na era digital um novo modelo de mão-de-obra surge, onde a qualificação se torna um elemento fundamental. Percebemos que a grande alavanca da globalização foi com certeza a Internet. Pudemos notar por meio da reflexão e do exercício que esse fenômeno, como a maioria das coisas na nossa vida, possui os dois lados da moeda. Dentre vários assuntos, tomamos como tema a pornografia infantil e destacamos que a Internet pode tanto auxiliar no que diz respeito ao combate dessa prática doentia, como pode ser um elemento disseminador dela.
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CIDADANIA E GLOBALIZAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES
Segundo Oded Grajew, a prática da Responsabilidade Social Empresarial é um elemento importante para a solução dos desvios das relações entre a humanidade e as suas ligações de produção e consumo. Muitas riquezas no mundo foram geradas por causa da exploração social e ambiental e acabaram por alterar as associações entre as nações do mundo. Tendo esse panorama mundial, faz-se necessário um novo modelo de produção e consumo que tenha como meta a sustentabilidade social e ambiental. O autor sugere que esse equilíbrio entre o crescimento econômico sustentado e o desenvolvimento sócio-ambiental está promovendo uma nova cultura gerencial, pautada pela ética. As Instituições estão revendo os seus relacionamentos internos e externos dentro dessa nova conduta. No Brasil, devemos considerar outros fatores para essa mudança na cultura empresarial, que passam por mudanças na sociedade e reestruturam as relações entre sociedade e Instituições. A primeira delas está no fortalecimento de uma sociedade civil ativa. Entendemos por essa, segundo SROUR (1998) “movimentos sociais e organizações não-governamentais, associações, sindicatos, entidades beneficentes...”. A “cidadania organizada” rejeita o padrão de pobreza e busca modificar essa estrutura social. A mídia, como fator determinante na divulgação da imagem das empresas frente aos seus consumidores, também ajuda nessa mudança de atitudes das empresas. SOCIEDADE, INSTITUIÇÕES E MEIO AMBIENTE Uma das principais bandeiras dessa “cidadania organizada” é sem dúvida a questão ambiental. Até pouco tempo atrás, as empresas não se preocupavam com a preservação do meio ambiente. A mídia acentuou essa consciência na sociedade, que passou a cobrar das instituições uma postura mais adequada. A ONG Roy F. Weston sugere que o conceito de desenvolvimento sustentável na área privada seja “uma nova forma de produzir sem trazer prejuízos ao meio ambiente e, indiretamente, à sociedade em geral”. E, para a ONU, significa “que a utilização do planeta pela geração atual deve ser de tal forma que não impeça igual uso pelas gerações futuras” Para José Afonso da Silva, o meio ambiente engloba os ambientes natural, artificial e cultural. Como ambiente natural temos o solo, água, ar, flora e fauna. O artificial é composto pelo espaço urbano, onde temos as ruas, praças, áreas verdes, etc. Enfim, o cultural que são os patrimônios histórico, artísticos, turísticos, paisagísticos e arqueológicos.
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EXEMPLO DE EMPRESA CIDADÃ Há tempos a sociedade deixou de esperar que a prática da cidadania fosse incentivada apenas pelos órgãos governamentais e resolveu arregaçar as mangas. Conforme descrevemos, os autores que discorrem sobre o assunto já consideram as ações que garantem igualdade de oportunidades inseridas nessa concepção. Essas ações podem partir do Governo, de grupos ou de empresas. O que vem a ser empresa cidadã? Antes de pensarmos em exemplos, vamos ver o que isso significa. Os conceitos de empresa cidadã e empresa socialmente responsáveis se entrelaçam e se aplicam às empresas que alcançam sucesso nos negócios, atingindo ou excedendo valores éticos e respeitando as pessoas, a comunidade e o meio ambiente. Assim como a empresa socialmente responsável é aquela que conduz o seu negócio de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social, isso faz com que seja uma empresa cidadã, ou seja, aquela que define estratégias e políticas em relação a cada um de seus públicos. Uma empresa com essas características inclui lucros, mas, em vez de maximização dos lucros a curto prazo, os negócios dela devem buscar rendimentos a longo prazo, obedecer às leis e regulamentações, considerar o impacto não mercadológico de suas decisões e procurar maneiras de melhorar a sociedade. A ética é a base de sustentação da Responsabilidade Social e se expressa por meio dos princípios e valores adotados pela corporação. Assim, as empresas cidadãs, que desejarem praticar a Responsabilidade Social terão que exercitar critérios e condutas norteados por fundamentos éticos. Para isso, fundamental é o compromisso de toda a instituição e o engajamento da alta administração como líder do processo. Nem todas as empresas agem de forma socialmente responsável. Conforme já vimos no caso da Ética, essa postura inadequada também pode comprometer a imagem da instituição. Ou seja, da mesma maneira que uma organização pode ser citada como um exemplo positivo dentro das suas atitudes de responsabilidade social, ela pode ser penalizada por não atuar de acordo com esse critério. Veja este caso: “Um funcionário desiludido da Nike levou a um consultor ambiental do Centro de Recursos e Ação junto a Transnacionais, um relatório interno sobre as condições de trabalho nas fábricas do Vietnã. O relatório revelava que o carcinógeno tolueno estava presente no ar das fábricas 177 vezes acima do nível permitido, e que mais de 75% dos trabalhadores tinham doenças respiratórias. Esses trabalhadores não sabiam que os produtos químicos que usavam na montagem dos tênis eram tóxicos”. A história foi parar na primeira página do New York Times, obrigando a Nike e outros fabricantes de tênis a modificar suas práticas.”
Quando citamos exemplos de empresas cidadãs, não podemos deixar de observar
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o desenvolvimento sustentável que elas propagam. E o que vem a ser isso? Já tivemos contato sobre esse conceito, propagado pela ONU. Mas podemos nos aprofundar um pouco no assunto. Podemos definir Desenvolvimento Sustentável como sendo o equilíbrio entre tecnologia e ambiente, relevando-se os diversos grupos sociais de uma nação e também dos diferentes países na busca da equidade e justiça social.
Como se chegar a ele? Cumprindo algumas metas que são :
• A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer, etc.); • A solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver); • A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal); •
A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, etc.);
• A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas, como por exemplo, os índios); •
A efetivação dos programas educativos.
Claro que não são as corporações sozinhas que cumprirão as metas acima estabelecidas. Essa é uma tarefa conjunta de empresas, governo e sociedade civil organizada que darão conta de pensar o futuro. Aliado do desenvolvimento sustentável surge um outro conceito que depende do público alvo das empresas cidadãs, os consumidores. Essa noção pode ser denominada como consumo sustentável. Vejamos o que isso significa: Consumo Sustentável quer dizer saber usar os recursos naturais para satisfazer as nossas necessidades, sem comprometer das gerações futuras e as suas aspirações. O consumidor consciente é aquele que percebe o enorme poder transformador que tem nas mãos. O simples ato de ir às compras é capaz de levar as pessoas a mudar o mundo. E isso não é excesso de otimismo. Como isso é possível? Quando as pessoas escolhem comprar produtos ou serviços de empresas socialmente responsáveis, as que não têm como objetivo apenas tirar proveito da sociedade, mas que a respeitam e dão algo em troca. As que levam em consideração a sociedade e o meio ambiente. Indústrias, por exemplo, que não poluem o ar ou a água, produtores agrícolas que não exploram o trabalho infantil, lojas de móveis que não vendem peças fabricadas com madeira arrancada ilegalmente das florestas nativas, ou ainda, as empresas que investem
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em suas comunidades, seus funcionários e suas famílias. Privilegiando essas instituições, o consumidor deixa clara sua escolha por quem ajuda a construir uma sociedade mais justa. A ideia, portanto, não é que as pessoas deixem de comprar o que julgam necessário para suas vidas, nem que façam enormes sacrifícios. Quando todos fazem a sua pequena parte diariamente, o resultado é um mundo melhor. São pequenos gestos que produzem grandes transformações. É um por todos e todos por todos.
Desenvolvimento sustentável: “que a utilização do planeta pela geração atual deve ser de tal forma que não impeça igual uso pelas gerações futuras”. (Segundo a ONU)
O meio ambiente engloba os ambientes natural, artificial e cultural.
Todos os dias, nos jornais, revistas e outros meios de comunicação, deparamo-nos com exemplos que enaltecem a iniciativa privada. Atualmente, percebemos que essas organizações de êxito estão antenadas com a globalização e aprenderam a colocar a mão na massa e fazer sua parte, atuando para um mundo melhor, mesmo sendo instituições com fins lucrativos. Por outro lado, também temos muitos exemplos negativos de empresas que não se preocupam com a forma socialmente responsável. Nestes casos, as pressões políticas são fundamentais para que haja uma mudança de comportamento dessas empresas. Dentre muitos exemplos do que a globalização pode fazer pelas instituições citamos o exemplo da Reebook, que não produz nenhuma mercadoria em seu país de origem. Consumo Sustentável: quer dizer saber usar os recursos naturais para satisfazer as nossas necessidades, sem comprometer as das gerações futuras e suas aspirações. Consumidor consciente é aquele que percebe o enorme poder transformador que tem nas mãos. O simples ato de ir às compras é capaz de levar as pessoas a mudar o mundo. E isso não é excesso de otimismo.
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Nesse tópico começamos com duas definições básicas, a de cidadão e de cidadania. Enquanto ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar suas vidas e de outras pessoas. A cidadania, segundo Gilberto Dimenstein (2000, p. 2), “é a síntese das conquistas dos direitos obtidos pelos homens, orientados por um princípio básico: todos são iguais perante a lei, independente de raça, cor, sexo, religião e nacionalidade”. Dois processos de lutas instauraram essa ideia no mundo, a Declaração dos Direitos Humanos e a Revolução Francesa. Mostramos que o processo de globalização não é uma mudança apenas de caráter econômico mas, também, social e integra os países e indivíduos do mundo, difundindo aspectos culturais e permitindo a troca de ideias entre governos. Afirmamos que a Internet exerce um papel fundamental nesse procedimento, tendo em vista que é uma ferramenta que permite nos comunicarmos em segundos mundialmente. Alertamos, porém, que esse mecanismo pode ser utilizado tanto de forma produtiva como de maneira errada, como vimos pelo exemplo da pedofilia. Exemplificamos empresas cidadãs, como foi o caso da 3M, e de cidadãos dentro das organizações, como foi o exemplo da Nike, mas ainda há muito por fazer. Oded Grajew sugere que o equilíbrio entre o crescimento econômico sustentado e o desenvolvimento socioambiental promova uma nova cultura gerencial, pautada pela ética. As Instituições estão revendo os seus relacionamentos internos e externos dentro dessa nova conduta. Faz parte desse processo uma nova forma da humanidade perceber as suas relações de produção e consumo, contribuindo para um desenvolvimento sustentável e, em consequência, um consumo sustentável. Estudos como esses contribuem para que a sociedade caminhe na direção de um modelo sustentável e o homem possa consumir sem arruinar o mundo em que vive.
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DIMENSTEIN, Gilberto. Cidadania hoje e amanhã. São Paulo, 2001. Editora Ática. ELIZETE, Passos. Ética nas organizações. São Paulo. Editora Atlas, 2004. GALLO, Silvio. (coordenador). Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. São Paulo. Editora Papirus, 1999. JAIME, Pinski (organizador). Práticas de Cidadania. São Paulo. Editora Contexto, 2004. MOREIRA, Joaquim Manhães. A Ética Empresarial no Brasil. São Paulo. Pioneira, 1999. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo. Malheiros editores. 1995. SROUR, Robert Henry. Ética Empresarial: Posturas responsáveis nos negócios, na política e nas relações pessoais. Rio de Janeiro: Campus, 2000. SROUR, Robert Henry. Poder, Cultura e Ética nas Organizações. Rio de janeiro: Campus, 1998. 6ª edição. http://www.novasociedade.com.br/conjuntura/conjuntura2003/parte05.htm
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