DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR AULA 04 TÉCNICAS DE TRABALHO EM GRUPO: DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E UTILIZAÇÃO.
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AS TÉCNICAS DE TRABALHO EM GRUPO Tanto para sobreviver como grupo, como para aumentar sua produtividade na realização de seus objetivos, o grupo espontaneamente inventa técnicas de trabalho, ou aprende e adapta técnicas já existentes. Assim nasceram as diversas técnicas conhecidas como painel, simpósio, seminário, tempestade cerebral, Phillips 66, e muitas outras. O professor deve ter claro em sua mente que as técnicas não tem outra finalidade senão a de ajudar o funcionamento mais eficiente dos processos de manutenção e produtividade, facilitando a comunicação, a participação e a tomada de decisões. As técnicas são simples artifícios para o grupo realizar seus fins. Elas não são absolutas nem intocáveis, mas meras ferramentas que o professor pode modificar, adaptar ou combinar quando bem entender.
Não seria interessante o professor estar sempre criando novas técnicas mais adequadas ao ensino de sua própria disciplina e aos tipos de alunos e condições físicas com que trabalha?
Você lembra das técnicas/estratégias de ensino utilizadas em sala de aula? Que tal estudá-las agora?
Vamos iniciar pela definição de Estratégia.
Estratégias são os meios utilizados pelo educador para facilitar a aprendizagem dos participantes de um curso, com a finalidade de fazê-los atingir os objetivos propostos. Estratégias, em sentido amplo, são todas as ações ou atividades que o professor e os alunos exercem no ambiente de aula. Essas ações ou atividades incluem: organização do ambiente de aula, metodologia, técnicas de ensino, técnicas pedagógicas, dinâmicas de grupo, material de apoio, recursos visuais e recursos audiovisuais. Para maior segurança do educador, é importante que o conhecimento e o planejamento dos objetivos do processo de ensino-aprendizagem sejam bem elaborados, o que permitirá a reflexão e definição das estratégias a serem utilizadas durante o curso.
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Uma boa maneira de redigir as estratégias é dividir o plano de aula em três partes:
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tempo, estratégias e material. O tempo deverá ser discriminado em cada fase, calculando o mais corretamente possível de acordo com o preenchimento do período de aula previsto. As estratégias constarão na relação das atividades, fase por fase, enumeradas e em sequência lógica. Possibilitarão ao educador verificar se os objetivos poderão ser atingidos e se há coerência entre eles e as estratégias. O material (flip chart, recursos audiovisuais...) será relacionado conforme sua utilização em cada fase, o que possibilitará averiguar sua disponibilidade, evitando o esquecimento de algum item. Você já parou para pensar que, além de dominar os conteúdos e as técnicas de ensino, é também necessário manter a participação ativa dos alunos? Vamos ver como isso é possível?
COMO INCENTIVAR A PARTICIPAÇÃO ATIVA DOS ALUNOS ... Ao estudar numerosas técnicas aplicadas pelos líderes de grupos, é fácil crer que esta tarefa consiste em dominar uma série de truques de ofício. Todavia, é de muita importância apreciar o fato de que os resultados positivos de cada uma das técnicas dependem não só de como elas tenham sido usadas mas também de por que o foram... Walter W. Lifton (35) Trabajando con Grupos. De acordo com Bordenave e Pereira, os principais padrões de comunicação que podem ocorrer em uma situação de ensino-aprendizagem são:
Fig. 1. Padrões de comunicação e interação
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O padrão “A” representa a educação tradicional, vertical.
O padrão “B” representa uma situação na qual a diferença entre professor e aluno é diminuída, embora não seja eliminada. Já há um diálogo entre eles. O padrão “C” apresenta um sério desafio a professores e alunos acostumados ao ensino tradicional. Se, por um lado, os alunos participam e questionam, a prática de receber os conhecimentos do professor faz com que eles considerem estas discussões e debates como perda de tempo. (BORDENAVE e PEREIRA, 2011, p. 147). Os autores apontam, ainda, questões angustiantes que o professor precisa enfrentar quando pensa em aplicar trabalhos em grupo. São elas: • Até que ponto ele pode confiar em que os alunos chegarão, por meio da discussão, aos conceitos claros e estruturados que ele, o professor, já tem? • O trabalho em grupos não tomará um tempo excessivo para estudar um tema que mediante uma boa exposição oral seria coberto na metade do tempo? • Como ele resolverá o problema da eventual indisciplina, a clássica “bagunça”, neste ambiente de tanta liberdade? • Qual será, depois de tudo, o “status” do professor numa situação em que a opinião de qualquer aluno é tão respeitável quanto a do próprio professor? • Como se pode avaliar o progresso de cada aluno se seu desempenho aparece misturado com o desempenho dos demais? • Será que o trabalho em grupo é bom apenas para certas disciplinas, como as ciências sociais, porém inconvenientes para outras, como as ciências exatas, físicas e naturais? (BORDENAVE e PEREIRA, 2011, p. 148) Podemos conceitualizar grupo como um número de pessoas que formam um todo. Porém, de acordo com esses autores, um grupo é algo mais do que simplesmente a soma dos indivíduos que o compõem. Dentre os membros de um grupo, alguns estarão mais preocupados com sua participação pessoal do que com os objetivos do grupo. A essas pessoas, preocupadas em estabelecer um grau relativamente alto de intimidade e envolvimento afetivo com os outros membros, chamaremos de SUPERPESSOAIS, enquanto as pessoas que tendem a evitar intimidade e envolvimento afetivo, preocupando-se mais com os aspectos estruturais e programáticos, chamaremos de CONTRAPESSOAIS.
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(BORDENAVE e PEREIRA, 2011, p. 151) No que diz respeito às dimensões das relações de poder ou relações pessoais, é natural que os diversos membros do grupo ocupem pontos variáveis. Vejamos: Atitude diante das relações de poder: Contradependentes
Superdependentes
Atitudes diante das relações pessoais: Contrapessoais
Superpessoais
Já no tocante à definição dos objetivos e seleção de uma estratégia de trabalho, ainda seguindo o que dizem Bordenave e Pereira, o grupo estará exposto à ação de forças externas e internas, conforme a ilustração a seguir.
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Entre as forças externas, os autores mencionam: • Relações de conflito, cooperação ou competição com outros grupos ou pessoas; • Pressões e exigências das autoridades superiores; • Limitações ou estímulos vindos da estrutura social, da situação econômica, política ou institucional; • Lealdade dos membros a outros grupos. (BORDENAVE e PEREIRA, 2011, p. 152) E entre as forças internas mencionam as seguintes, entre outras: • As necessidades, motivações e expectativas diferentes dos membros; • Suas diferenças de status, de experiência e de conhecimentos; • As funções diferentes que os membros desempenham no grupo. (BORDENAVE e PEREIRA, 2011, p. 152) Com base nessas informações, podemos deduzir que um grupo formado apenas por alunos não agirá da mesma maneira que um grupo do qual os professores também são participantes. Por outro lado, no decorrer das atividades do grupo, pode-se perceber que haverá uma divisão do trabalho entre os membros, a qual poderá dar-se de maneira natural ou planejada. Dessa forma, cada um assume uma função diferente, complementar às demais. Entre essas funções, destacamos: • Iniciadores: sugerem novas ideias, metas ou procedimentos. • Estimuladores: entusiasmam o grupo para uma maior atividade ou produção, de qualidade mais alta. • Coletores de Informação: procuram dados de fontes internas ou externas, necessários para as decisões do grupo. • Avaliadores críticos: analisam o desempenho do grupo e criticam suas falhas, ajudando assim a manter normas de excelência. • Coordenadores: relacionam ideias e esforços, coordenando atividades para alcançar o objetivo comum.
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• Anotadores-relatores: registram os debates e conclusões. (BORDENAVE e PEREIRA, 2011, pp. 152-153) Além destes papéis “funcionais”, que contribuem para o rendimento do grupo, existem também os papéis individuais “disfuncionais”, desempenhados pelos indivíduos conflitivos do grupo, ou seja, aqueles que apresentam comportamentos que afetam de maneira negativa o rendimento.
Para refletir: Em sua opinião, que papéis ou comportamentos individuais podem aparecer no grupo? Esse comportamento pode influenciar a produção do grupo? É importante que o professor conheça esses perfis? Reflita, responda mentalmente e compare sua opinião com o exposto a seguir. Entre os papéis “disfuncionais”, destacamos: • Agressor: ataca o grupo ou o problema que o grupo está tratando de resolver; expressa violenta desaprovação dos valores, sentimentos e atos dos outros; faz piadas irritantes; demonstra inveja pela contribuição dos outros, que trata de desmerecer. • Obstrucionista: discorda com ou sem razão de tudo o que é proposto; tenta manter ou reviver um problema que já foi julgado; adota uma atitude negativa de resistência obstinada. • Desejoso de aplausos: tudo que faz visa a chamar atenção sobre si mesmo e impedir ser colocado em posição inferior; vangloria-se constantemente de suas realizações. • Dominador: trata de afirmar sua autoridade e superioridade e manipular o gupo ou alguns de seus membros; interrompe as intervenções dos outros, monopoliza a palavra, tenta fazer valer seu status superior; às vezes usa seu charme para conquistar adesões. • Cínico indiferente: ostenta sua falta de interesse pelos trabalhos do grupo de diversas maneiras: adotando ar distraído e displicente, contando piadas, tecendo comentários cínicos. •
Autoconfessor: aproveita neuroticamente a platéia que lhe
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oferece o ambiente do grupo, para expressar seus sentimentos, seus temores e sua ideologia, tudo isto de caráter pessoal e com pouca relação com os objetivos do grupo. (BORDENAVE e PEREIRA, 2011, p. 153) Esses comportamentos podem ser explicados pela dinâmica interna da personalidade. Caso o professor deseje entender melhor esses comportamentos disfuncionais para que possa lidar com eles de forma construtiva em sua aula, poderá pesquisar pelos chamados “mecanismos de defesa”, na área de Psicologia. Esses mecanismos procuram explicar os diferentes tipos de reações que as pessoas podem ter ao passar por momentos de frustração. Ao término desta aula, é necessário destacar o caráter bilateral com a qual as atividades de direção do professor e de aprendizagem do aluno atuam reciprocamente, o professor estimulando e dirigindo o processo em função da aprendizagem ativa do aluno. Os métodos movimentam esse processo.
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