Contabilidade Gerencial - Aula 05

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CONTABILIDADE GERENCIAL AULA 05 ANÁLISE ECONÔMICA E FINANCEIRA

AULA 05 - ANÁLISE ECONÔMICA E FINANCEIRA

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CONCEITO E OBJETIVO. RELATÓRIOS CONTÁBEIS PARA ANÁLISE. TÉCNICAS DE ANÁLISE. ANÁLISE ECONÔMICA E FINANCEIRA DE EMPRESAS É “a arte de saber extrair relações úteis, para o objetivo econômico que tivermos em mente, dos relatórios contábeis tradicionais e de suas extensões e detalhamentos, se for o caso” (IUDÍCIBUS, 1998, p. 20). São técnicas aplicadas sobre as demonstrações contábeis para o fim de, estabelecendo relações entre os elementos dessas demonstrações, produzir uma série de informações acerca da situação econômica e financeira da entidade objeto da análise. Importante destacar que o processo de análise deve contemplar perguntas e respostas do analista, pois, constatada uma dada situação (liquidez corrente inferior a 1, por exemplo), deve-se buscar uma explicação de sua causa e seus possíveis reflexos para o futuro. Objetivo O objetivo da análise econômica e financeira é extrair informações dos demonstrativos contábeis para a tomada de decisões. A Análise de Balanços transforma dados em informações. Dados: São números ou descrições de objetos ou eventos que isoladamente não provocam nenhuma reação no leitor. Informações: Representam, para quem as recebe, uma comunicação que pode produzir reação ou decisão, frequentemente acompanhadas de um efeito surpresa. Técnicas de Análise de Objetivos Técnicas Padronização e reclassificação das contas Análise Vertical/Horizontal

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Objetivos Dar às Demonstrações Financeiras forma mais adequada para análise. Possibilitar a descrição e detalhamento da situação econômico-financeira que escapa da abrangência dos índices.


Análise do Capital de Giro

Análise da Rentabilidade

Evidenciar como a administração está tomando as decisões que afetam os investimentos e o financiamento do Capital de Giro. Dar uma ampla e profunda visão sobre os fatos que interferem na rentabilidade de uma empresa.

Fonte: Matarazzo, 1998.

O que se pode obter como produtos da análise econômica e financeira •

Situação financeira e causas de suas alterações

Situação econômica e causas de suas alterações

• Desempenho •

Eficiência na utilização de recursos

Pontos fortes e fracos

Tendências e perspectivas

Quadro evolutivo

Providências que poderiam ter sido tomadas e não foram

Relatórios Contábeis Suscetíveis de Análise No processo de análise podem ser utilizados todos os relatórios contábeis à disposição do analista, embora seguidamente utilize-se o termo “análise de balanços”. Os relatórios contábeis são modelos construídos e que devem representar a situação da empresa em termos econômicos e financeiros. Balanço Patrimonial Balanço Patrimonial é um relatório contábil obrigatório segundo a Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações) que, por meio do Decreto 1.598/77, teve estendida sua aplicação às demais sociedades. Este relatório mostra a configuração do patrimônio de uma empresa, daí o termo “Balanço Patrimonial”, em termos de Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Possibilita ao empresário verificar a evolução de seu patrimônio em diversos períodos, por meio de técnicas de análise que serão estudadas oportunamente.

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Os elementos que constam no Balanço Patrimonial, representados pelas contas, classificam-se em dois grandes grupos e vários subgrupos, como veremos: ATIVO BENS E DIREITOS Ativo Circulante Ativo Realizável a Longo Prazo Ativo Permanente dividido em: Investimentos Ativo Imobilizado Ativo Diferido

PASSIVO OBRIGAÇÕES OU DÍVIDAS Passivo Circulante Passivo Exigível a Longo Prazo Resultado de Exercícios Futuros Patrimônio Líquido dividido em: Capital Social Reservas de Capital Reservas de Reavaliação Reservas de Lucro Lucros/Prejuízos Acumulados

Demonstração do Resultado do Exercício A Demonstração do Resultado do Exercício, elaborada simultaneamente com o Balanço Patrimonial, representa um resumo das operações realizadas pela empresa durante um determinado período de tempo e que envolvem um ganho (Receita) e um gasto ou uma perda (Despesa). Deste relatório o empresário extrai um dos valores mais importantes de seu empreendimento, o resultado líquido do exercício: lucro ou prejuízo. O lucro ou prejuízo do exercício mostra uma das variações do Patrimônio Líquido da empresa entre dois períodos. A Demonstração do Resultado do Exercício deve ser estruturada de forma dedutiva, incluindo-se todas as Receitas (Ganhos) e as Despesas e Custos (Gastos) ocorridos em um exercício e que formaram seu resultado. Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos – DOAR Este relatório objetiva apresentar, de forma resumida, as informações relativas às operações de financiamento e investimento efetuadas pela empresa durante o exercício. Desta forma, evidencia as modificações ocorridas na posição financeira da empresa. Em regra, as origens de recursos estão representadas pelos financiamentos obtidos (passivo), enquanto as aplicações de recursos estão representadas pelos investimentos (ativos). A finalidade deste relatório é apresentar as modificações no Capital Circulante Líquido (CCL), que é a diferença entre ativo circulante e passivo circulante.

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Fatos Contábeis Dados

Eventos que influenciam no patrimônio da entidade, mas que necessitam de um tratamento adequado pra subsidiarem o processo de decisão

Técnicas de análise

Processo que implica num tratamento especial conferido aos dados dos relatórios contábeis para se obter uma visão da situação econômica e financeira da entidade.

Informações para a tomada de decisões

O resultado do processo de análise deve ser contemplado em relatórios que permitam ao usuário um entedimento claro da situação da empresa analisada.

Ao longo do texto sobre análise econômica e financeira vamos nos utilizar de um caso real para os exemplos. Ao iniciarmos a análise, é sempre importante fazer uma contextualização da empresa e de seu mercado. A análise econômica e financeira não deve estar dissociada da análise do ambiente. Variáveis como taxa de câmbio, taxa de juros, inflação, mercado externo, etc., bem como uma análise das políticas referentes a cada uma delas, são elementos que devem sempre ser considerados. Portanto, é por meio da análise que saberemos se a empresa soube se posicionar frente a oportunidades e ameaças no mercado e como reagiu a determinadas crises. Se o mercado retraiu-se no período analisado e a análise demonstrar que a empresa teve um bom desempenho, pode significar que soube (e estava preparada para) aproveitar oportunidades que as concorrentes não conseguiram. Se, ao contrário, num mercado em expansão, a empresa teve um baixo rendimento, é um indício de que existem problemas internos que devem ser ressaltados na análise.

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PADRONIZAÇÃO E RECLASSIFICAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PARA ANÁLISE. ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL A padronização é a estruturação dos relatórios contábeis, para efeito de análise, e em sua transcrição para modelos definidos pelo analista. É feita pelos seguintes motivos (Matarazzo, 1998): 1. Simplificação - Quanto menos detalhadas forem as demonstrações, sem prejuízo das informações relevantes, melhor a visualização para análise. 2. Comparabilidade - Visa padronizar as demonstrações financeiras de diversas empresas e ramos de atividade. 3. Adequação aos objetivos da análise - Estruturar as demonstrações contábeis de acordo com o objetivo pretendido. 4. Precisão nas classificações das contas - O analista deve observar que as demonstrações estejam de acordo com a boa técnica contábil. 5. Descobertas de erros - É comum observar-se erros na classificação e elaboração das demonstrações contábeis, devendo corrigi-los, se possível, ou pedir explicações ao responsável. 6. Intimidade do analista com as demonstrações financeiras - A padronização obriga o analista a familiarizar-se com os números da empresa e, em consequência, poderá enxergar detalhes que de outra forma não enxergaria. Modelo de padronização Balanço Patrimonial Ativo Circulante Financeiro

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Disponibilidades (Caixa e Bancos)

Aplicações financeiras de liquidez imediata

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Operacional Clientes Estoques

Outros créditos

Realizável a Longo Prazo Clientes

Empréstimo compulsório

Depósitos Judiciais

Outros Permanente Investimentos Imobilizado Diferido Total do ativo Passivo Circulante Financeiro Financiamentos Empréstimos

Duplicatas Descontadas

Operacional Fornecedores

Impostos a Recolher

Salários a pagar

Outros

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Exigível a Longo Prazo Financiamentos Empréstimos Patrimônio Líquido

Capital Social

Reservas

Lucros ou prejuízos acumulados

Total do Passivo Demonstração do Resultado do Exercício Receita Operacional Bruta (Menos) DEDUÇÕES DA RECEITA (Devoluções, impostos, abatimentos) Receita Operacional Líquida (Menos) CUSTO DAS VENDAS E SERVIÇOS Lucro Bruto DESPESAS OPERACIONAIS

Despesas com Vendas

Despesas Administrativas

Resultado operacional antes dos efeitos financeiros

Resultado Financeiro Líquido (Despesas financeiras mais variações monetárias passivas, deduzidas das receitas financeiras mais variações monetárias ativas)

Resultado operacional após os efeitos financeiros

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Resultado não operacional Resultado antes dos impostos (Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) Provisão para IR e Contrib. Social Lucro (Prejuízo) Líquido do Exercício   Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos Origens 1.

Das operações (vide detalhamento)

2.

Dos acionistas

3.

De terceiros

Novos financiamentos

Novos empréstimos

Redução do realizável a Longo Prazo

Aplicações •

Nas operações (vide detalhamento)

Dividendos distribuídos

Redução de financiamentos a longo prazo

Aquisição de investimentos

Aquisição de imobilizado

Adições ao diferido

Aumento ou Redução do C.C.L. Variação do capital circul. Líquido •

Ativo Circulante

Passivo Circulante

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Detalhamento das operações Lucro Líquido do Exercício

Ajustado por:

Depreciação, amortização e exaustão

Variações monetárias de longo prazo

Resultado da Equivalência Patrimonial

Baixa de itens do ativo permanente

Reclassificações de Contas Certas classificações contábeis, embora corretas do ponto de vista dos princípios fundamentais da contabilidade e normas brasileiras de contabilidade, não favorecem uma análise adequada das demonstrações contábeis. Essas classificações prejudicam a compreensibilidade dos relatórios contábeis e isso leva à necessidade de alguns ajustes denominados de reclassificações, cujos critérios variam de acordo com a profundidade da análise e a relevância dos valores envolvidos: •

Duplicatas e cambiais descontadas - Redutora do ativo circulante

Determinadas empresas descontam em instituições bancárias parte de suas duplicatas a receber, obtendo no ato o valor das mesmas. Como a empresa continua como corresponsável perante o banco, deve saldar a dívida caso o cliente não o faça. Por esse motivo, são classificadas como redutoras no Ativo Circulante, mas para efeito de estruturação (padronização) dos relatórios contábeis. Para análise, o valor dessas duplicatas deve ser reclassificado para o passivo circulante, que embora não influencie significativamente nos índices de liquidez, altera a estrutura de endividamento. •

Despesas antecipadas

São aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte.

São classificadas no ativo e proporcionalmente ao período de competência, transferidas para o resultado do exercício. Neste caso, considerando-se a materialidade, pode-se transferir o valor total para resultado (PL), evitando-se uma distorção na análise dos índices de liquidez. Podem haver outras reclassificações, dependendo do objetivo da análise e da relevância dos valores envolvidos.

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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: O PROCESSO CONTÁBIL E A ANÁLISE Para Matarazzo (1998, p. 21), a análise de balanços baseia-se no raciocínio científico. A análise pode ser dividida em 3 etapas distintas e sequenciais que devem estar perfeitamente coordenadas. Porém, cada uma delas se vale de técnicas próprias. ETAPAS: Escolha de indicadores

A quantidade e a qualidade dos indicadores dependerá do objetivo da análise

Comparação com Padrões

É imprescindível a comparação com determinados padrões, pois a análise não deve ser absoluta.

Diagnóstico ou conclusão

É o aspecto mais importante! Uma boa análise deve habilitar o decisor à escolha da melhor alternativa.

Análise Vertical A técnica denominada “análise vertical” demonstra a relação existente, em um dado período, entre um elemento (conta ou sub-grupo) sobre uma grandeza na qual está contido. Por meio da análise vertical pode-se saber, por exemplo, qual o percentual representado pelas aplicações no ativo permanente em relação ao ativo total. Seu cálculo é efetuado dividindo-se a parte (conta ou sub-grupo) pelo todo (grupo ou qualquer elemento base), tendo dessa forma uma medida de representatividade da parte calculada. Silva (2001, p. 203) afirma que “o primeiro propósito da análise vertical é mostrar a participação de cada item de uma demonstração financeira em relação a determinado referencial. No balanço, por exemplo, é comum determinarmos quanto por cento representa cada rubrica (e grupo de rubricas) em relação ao ativo total”. Essa técnica também nos permite efetuar uma análise da tendência da representatividade de determinado elemento ao longo de uma série de períodos contábeis,

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já não se deve visualizá-la apenas num exercício. Sua utilidade está em proporcionar uma visão das estratégias da empresa na aplicação dos recursos. Podemos verificar, por exemplo, se em um dado período a empresa acentuou investimentos em estoques, imobilizado ou outra rubrica do ativo. Como contra-partida poderemos saber qual a representatividade de cada linha do passivo sobre o total das origens. A análise vertical é extremamente útil na mensuração e acompanhamento das várias configurações do resultado empresarial (Resultado bruto, resultado operacional, resultado líquido) tendo como base, neste caso, sempre a receita líquida.

Fórmula: elemento (conta, sub-grupo) / todo (Grupo) X 100

Análise Horizontal A análise horizontal mostra a evolução no tempo de cada item componente de determinado relatório contábil. Por meio desta técnica poderemos saber, por exemplo, qual o comportamento do custo dos produtos vendidos numa sequência de períodos. Silva (2001, p. 208) comenta que a finalidade da análise horizontal é permitir o exame da evolução histórica de cada uma das contas que compõem as demonstrações contábeis. Podemos calcular a análise horizontal tendo como base (100) um período específico, sobre o qual serão comparados todos os demais períodos. Por exemplo, em uma análise histórica compreendendo os anos de 1999 a 2002. Neste caso, utilizaremos o ano de 1999 como base para todos os anos seguintes. Ou poderemos (dependendo do objetivo da análise e da representatividade do ano escolhido) calcular a análise horizontal sobre o ano imediatamente anterior (no exemplo, 2002 sobre 2001, 2001 sobre 2000 e assim sucessivamente).

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Fórmula: (Período atual / Período base) – 1 X 100

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Entre as primeiras técnicas a serem utilizadas na análise de demonstrações contábeis estão a análise vertical e horizontal. Em conjunto, poderão suscitar uma série de perguntas, que o analista tentará responder utilizando-se das demais técnicas.

Análise

Vertical

Participação de um elemento (ativo circulante) sobre um todo (total do ativo)

Horizontal

Evolução de um elemento em diversos periodos (ativo circulante 2004 em relação ao ativo circulante de 2003)

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Balanço Patrimonial

2002 VALOR AV%

AH%

VALOR

2003 AV%

AH%

ATIVO Ativo Circulante

1.135.698

22%

1.506.637

36%

33%

Financeiro Disponível Aplicações Financeiras

56.893 54.348 2.545

1% 1% 0%

625.311 65.348 559.963

15% 2% 14%

999% 20% 21902%

Operacional Clientes Estoques Outros

1.078.805 759.336 5% 89.736

21% 15% 5% 2%

881.326 430.901 234.506 215.919

21% 10% 6% 5%

-18% -43% 2% 141%

Realizável a Longo Prazo

1.103.553

22%

596.579

14%

-46%

Ativo Permanente

2.847.574

56%

2.029.178

49%

-29%

Investimentos Imobilizado Diferido

841.449 1.801.820 204.305

17% 35% 4%

202.597 1.728.299 98.282

5% 42% 2%

-76% 4% -52%

Total do Ativo

5.086.825

PASSIVO

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100% 2002 VALOR AV%

4.132.394 100% 2003 VALOR AV%

-19% AH%

Passivo Circulante

2.218.736

44%

1.122.807

27%

-49%

Operacional Fornecedores Outras Obrigações

318.823 182.716 136.107

6% 4% 3%

283.746 105.408 178.338

7% 3% 4%

-11% -42% 31%

Financeiro Empréstimos Bancários

1.899.913 1.658.755

37% 33%

839.061 815.392

20% 20%

-56% -51%

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Duplicatas Descontadas

241.158

5%

23.669

1%

-90%

Exigível a Longo Prazo Empréstimos/ Financiamentos Outros (inclui Minoritários)

1.784.523

35%

1.191.886

29%

-33%

1.544.683

30%

816.779

20%

-47%

239.840

5%

375.107

9%

56%

Capitais de Terceiros

4.003.259

79%

2.314.693

56%

-42%

Patrimônio Líquido

1.083.566

21%

1.817.701

44%

68%

Capital e Reservas Lucros Acumulados Total do Passivo

1.083.566 0 5.086.825

21% 0% 100%

1.817.701 44% 0 0% 4.132.394 100%

68% -19%

O Ativo Circulante aumentou sua participação no ativo total (de 22% para 36%), representando uma evolução de 33% de 2002 para 2003. Uma das causas desse aumento foi o Ativo Circulante Financeiro, cujo acréscimo de 2002 para 2003 foi de aproximadamente 100%, compreendendo uma participação de 14% sobre o ativo. No Ativo Permanente, houve uma redução significativa no sub-grupo investimentos, representada pela venda de participação em outras sociedades. Após essa operação, a participação do permanente sobre o ativo reduz-se em 29%. Pelo que se observa, houve uma migração de recursos do permanente para o circulante, o que deverá refletir no resultado financeiro da empresa, sendo confirmado ou não ao se utilizarem outras técnicas de análise. O Passivo Circulante diminui sua participação no passivo total em 49% de 2002 para 2003. Em 2002, o passivo circulante compreendia 44% do total das dívidas, passando para 27% em 2003. A principal alteração foi observada no Passivo Circulante Financeiro, que diminuiu 56%, tendo como causa basicamente o pagamento de Empréstimos Bancários. O lucro obtido em 2003 possibilitou uma recuperação do capital próprio, que aumentou em 68% no período. Pelo exemplo observa-se que a análise vertical e horizontal devem ser utilizadas de forma conjunta.

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ÍNDICES: LIQUIDEZ, RENTABILIDADE, ENDIVIDAMENTO. DIAGNÓSTICO E RELATÓRIOS. Etapa 1: Escolha de Indicadores Podemos definir índice como a relação entre contas ou grupos de contas das demonstrações contábeis. (MATARAZZO, 1998, p. 153). Os índices representam a técnica de análise mais empregada, porém, não deve-se confundir análise de balanços como a “simples” extração de índices, pois os índices não constituem um fim em si mesmo, e sim um meio para, em conjunto com outras técnicas, permitir um diagnóstico mais preciso da situação da empresa. Para Silva (2001, p. 228), os índices financeiros são “relações entre contas ou grupos de contas das demonstrações financeiras, que têm por objetivo fornecer-nos informações que não são fáceis de serem visualizadas de forma direta nas demonstrações financeiras”. Para esse mesmo autor, como medida relativa de grandeza, o índice deve nos permitir: - Inicialmente, que compreendamos seu significado, que é o ponto de partida para podermos analisar a relação das partes das demonstrações contábeis que ele representa; - Que possamos comparar sua evolução histórica numa mesma empresa, a partir da observação de seu comportamento ano a ano; - Que em uma mesma época ou momento, possamos comparar o índice de uma empresa em particular com o mesmo índice relativo a outras empresas de mesma atividade, porte e região geográfica, para sabermos como está a empresa em relação às suas principais concorrentes ou mesmo em relação aos padrões do seu segmento de atuação. Podemos analisar as demonstrações financeiras sob dois aspectos: financeiro e econômico. Índices de Liquidez

Os índices deste grupo mostram a base da situação financeira da empresa.

Demonstram, a partir do confronto dos ativos circulantes com as dívidas que vencem a curto prazo (até 365 dias), quão sólida é a base financeira da empresa. Entretanto, não se pode confundir índices de liquidez com índices de capacidade de pagamento, pois a capacidade de pagamento é medida pelo fluxo de entradas e saídas de caixa.

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Um aumento nos índices de liquidez pode se dar por meio de um acúmulo indevido

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de estoques e recebíveis em dado período. Por essa razão, devem sempre ser analisados em conjunto com outras técnicas, como os índices de prazos médios e a formação do capital de giro.

Os índices que expressam a liquidez são:

Liquidez Geral - LG Fórmula = Ativo Circulante + Real. Longo Prazo Passivo Circulante + Exig. Longo Prazo Demonstra: Quanto a empresa possui de Ativo Circulante mais Realizável a Longo Prazo para cada um de dívida total. Liquidez Corrente - LC Fórmula =

Ativo Circulante (AC) Passivo Circulante(PC)

Demonstra: Quanto a empresa possui de Ativo Circulante para cada um de Passivo Circulante. Liquidez Seca - LS Fórmula Ativo = Circulante - Estoques Passivo Circulante Demonstra: Quanto a empresa possui de Ativo Circulante líquido (sem a dependência da venda de estoques, para manter-se solvente) para cada um de Passivo Circulante. Índices de Endividamento (Estrutura de Capitais): Os índices deste grupo mostram as grandes linhas de decisões financeiras, em termos de obtenção de recursos (DOAR). Pelo cálculo destes índices pode-se ver a proporção entre Capitais de Terceiros e Capital Próprio utilizado pela empresa.

Sob o aspecto financeiro, quanto maior a relação Capitais de Terceiros/Capital

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Próprio, menor a liberdade de decisões financeiras da empresa, ou maior a dependência a esses terceiros. Porém, sempre que se aborda o índice de participação de Capitais de Terceiros, fazse a análise exclusivamente do ponto de vista financeiro, ou seja, do risco de insolvência, e não em relação ao lucro ou prejuízo.

Os índices que expressam a estrutura de capitais são:

Participação de Capitais de Terceiros Fórmula: Capitais de Terceiros (CT) X 100 Patrimônio Líquido (PL) Demonstra: Quanto a empresa tomou de Capitais de Terceiros para cada 100 de capital próprio. Composição do Endividamento Fórmula

Passivo Circulante (PC) x 100 Capitais de terceiros (CT)

Demonstra: Qual o percentual de obrigações de curto prazo em relação às obrigações totais. Imobilização do Patrimônio Líquido Fórmula = Ativo Permanente (AP) x 100 Patrimônio Líquido (PL) Demonstra: Quanto, em Reais, a empresa aplicou no Ativo Permanente para cada R$ 100 de Patrimônio Líquido.

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Imobilização de Recursos não Correntes Fórmula: Ativo Permanente (AP) + Realizável a Longo Prazo x 100 Patrimônio Líquido (PL) + Exígivel a Longo Prazo Demonstra: O percentual de recursos não correntes que a empresa aplicou no Ativo Permanente. É perfeitamente possível utilizar recursos de longo prazo para financiamento de Ativo Permanente, desde que o prazo seja compatível com o de duração do Imobilizado ou então que o prazo seja suficiente para a empresa gerar recursos capazes de resgatar suas dívidas. Rentabilidade Os índices desse grupo demonstram qual a rentabilidade dos capitais investidos, isto é, quanto renderam os investimentos e, portanto, qual o grau de êxito econômico da empresa. Giro do Ativo Fórmula : Vendas Líquidas (VL ) Ativo Médio (A)

Demonstra: Quanto a empresa vendeu para cada R$ 1,00 de Investimento Total.

Margem Líquida Fórmula =

Lucro Líquido (LL ) Vendas Líquidas (VL)

Demonstra: Quanto a empresa obtém de lucro para cada R$ 100 vendidos.

Analisando esse índice, a empresa pode perfeitamente gerenciar sua política de vendas em termos de margem, giro ou até mesmo volume, de acordo com as circunstâncias.

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Rentabilidade do Ativo Fórmula = Lucro Líquido X 100 Ativo Demonstra: Quanto a empresa obtém de lucro para cada R$ 100 de investimento total médio. Esse índice mostra quanto os ativos da empresa geraram de lucro no período. Mede o potencial de geração de lucro da parte da empresa, da sua capacidade de gerar lucros líquidos e assim poder capitalizar-se. Rentabilidade do Patrimônio Líquido Fórmula = Lucro Líquido (LL) X 100 Patrimônio Líquido Médio (PL) Demonstra: Quanto a empresa obteve de lucro para cada R$ 100 de capital próprio investido. Mede os retornos obtidos sobre os investimentos dos proprietários, tanto acionistas preferenciais quanto comuns. Há que se calcular sobre o Patrimônio Líquido Médio, para não haver distorção do índice. Tendo havido grandes variações durante o ano por aumento de capital, incorporação de reservas e o próprio lucro gerado durante o período, não poderemos afirmar que esse lucro tenha sido produzido por esse investimento.

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Índices

Liquidez

Endividamento

Rentabilidade

Situação financeira

Demonstram a possibilidade de a empresa manter-se solvente, no curto prazo (corrente), longo prazo (geral) e sem dependência dos estoques (seca)

Situação econômica

Demonstram a estrutura de capitais utilizada pela empresa. Qual o montante de dívidas (terceiros e capital próprio) e perfil respectivo (curto e longo prazo).

Demonstram a capacidade geração de resultados positivos pela empresa e a relação desse resultado com elementos causadores (Venda, ativo, etc).

Cálculo de indicadores 2002

2003

0,51 0,41 0,56

1,34 1,13 0,91

Liquidez Corrente Seca Geral Endividamento

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Geral Composição do Endividamento Garantia dos Capitais de Terceiros

78,70% 55,42% 369,45%

56,01% 48,51% 127,34%

Margem Bruta de Vendas Margem Líquida de Vendas

43,6% -8,3%

44,5% 36,0%

Rentabilidade do Capital Próprio

-19%

55%

Giro do Ativo Rentabilidade do Ativo

0,50 -4,09%

0,67 24,22%

58 109

55 56

Rentabilidade

Prazos Médios Estocagem Recebimento Vendas Pagamento de Compras

Em 2002, a empresa possuía R$ 0,51 de ativo circulante para cada R$ 1,00 de dívida a curto prazo R$ 0,51. No longo prazo também a liquidez mostrava-se preocupante, pois havia R$ 0,56 de ativos realizáveis totais para cada R$ 1,00 de exigível total. Em 2003, houve uma melhora nos índices de liquidez, passando a ser positiva, com destaque para a liquidez seca, com o valor R$ 1,13, significando que a empresa passou a ter menor dependência dos estoques para manter-se solvente. No que diz respeito ao endividamento, percebe-se uma significativa melhora na garantia do capital de terceiros, passando de 369% a 127% em 2003. A adequada gestão do passivo proporcionou uma redução no uso de recursos de terceiros onerosos (em 2002 seu ativo estava comprometido em 78% com recursos de terceiros, passando esse comprometimento para 56% em 2003). A melhora nos índices de liquidez e de endividamento favoreceu o resultado da empresa em 2003 (menor impacto das despesas financeiras), proporcionando uma capitalização relativa a 55% do patrimônio líquido.

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CONTABILIDADE GERENCIAL


Faça uma análise consolidada da situação da empresa, relatando os aspectos mais importantes verificados até esta etapa do trabalho. Observe que foram feitos relatórios separados para a análise vertical e horizontal e índices. Seu trabalho agora é fazer um relatório observando a integração das técnicas estudadas.

É possível prever Falências?

Prof. Stephen Charles Kanitz

Prever falências, acreditar em balanços e nos concorrentes, analisar os fluxos de fundos e projetar demonstrativos são os temas que investimos. A primeira proposição é a principal, mas convém percorrer a seguinte sequência: a) É possível prever a falência de uma empresa? Quais são os melhores indicadores de previsão? b) Os balanços das empresas brasileiras são fidedignos? Especialmente o da empresa prestes a falir? c)

A posição relativa da empresa é um indicador importante de insolvência?

d) É possível elaborar alguns indicadores com base no demonstrativo de fluxo de fundos? e)

Os balanços projetados valem como indicadores de insolvência?

Vejamos: a)

É possível prever a falência de uma empresa?

Para os teóricos da análise financeira, é claro que sim. Do contrário, iria por terra a própria existência da análise de balanço. E o mínimo que se pode exigir dessa análise é que aponte os gravíssimos problemas financeiros que precedem uma falência. Mas, para desespero dos analistas de crédito, a resposta não é assim cristalina. O elevado grau

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de conservadorismo ou segurança adotados na concessão de crédito não impediu que muitas empresas insolventes tivessem merecido crédito. É mais grave, porém, o fato de que inúmeras empresas sem crédito, devido a um parecer negativo do departamento de análise, nunca chegaram sequer perto de um título protestado. O diretor de um grande banco afirmou-nos que o grande problema da análise de crédito é a sua inconclusividade. Era raro, segundo ele, ver um parecer francamente favorável à concessão. A “arte” de prever falências é, portanto, muito falha. E, infelizmente, a tendência é rejeitar um número elevado de empresas ao mais leve sintoma apontado pela análise financeira, apesar do elevado custo social dessa tendência. b)

Os balanços das empresas são fidedignos?

Em teoria, todos concordam que seria viável prever a falência de uma empresa. Mas a principal crítica que sistematicamente recebemos é de que, na prática, isso seria impossível, devido à probreza de nossos balanços financeiros. c)

Os balanços projetados podem indicar insolvência?

Essa proposição deve ser considerada tão simples quanto interessante. Para cada empresa analisada, elaboramos balanços de lucros e perdas projetados para um e dois anos. A partir desses balanços, os índices foram elaborados para cada ano e testados como os demais. Baseia-se esse trabalho na suposição de que seria mais fácil identificar sinais de insolvência em balanços projetados que refletissem a deterioração da empresa do que nos indicadores referentes aos demonstrativos da empresa. (Texto parte do livro Como prever falências, do prof. Stephen C. Kanitz).

CONCLUSÃO Vimos que a análise financeira não é um exercício de divagações e proposições infundadas. Ao contrário, baseia-se num raciocínio técnico/analítico e obedece a uma sequência lógica de construção. A metodologia da análise deve observar a identificação e escolha dos indicadores que serão utilizados; a comparação desses indicadores com um padrão estabelecido (para efeito de uma medida de comparação) e a conclusão ou diagnóstico. As técnicas a serem utilizadas ou a quantidade e qualidade dos indicadores

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a serem calculados dependem do objetivo da análise. Por exemplo, para a concessão de um empréstimo de curto prazo, provavelmente o credor preocupe-se com a situação de liquidez e endividamento de curto prazo do possível tomador dos recursos. É importante também destacar que o analista deve ter uma visão sistêmica da empresa, pois um problema de endividamento desencadeará uma rentabilidade menor (pelo custo da dívida) e poderá comprometer uma futura geração de caixa. Essa integração entre todas as técnicas, bem como a estruturação de um relatório que exprima adequadamente a situação da empresa, vamos estudar na próxima aula. Até lá!

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