Moremi derrota os inimigos lenda do povo iorubá
Um príncipe de Ilê Ifé se casou com uma bela mulher chamada Moremi, que lhe deu um filho muito formoso. Naquela época, o país estava em guerra com uma tribo de guerreiros terríveis chamados igbos, de aparência tão feroz que os habitantes de Ifé acreditavam que não se tratavam de humanos, e sim de espíritos enviados contra eles pelos deuses como castigo por alguma falta cometida. De nada adiantavam as oferendas que os sacerdotes faziam aos deuses: nada continha ou diminuía os ataques, e a população vivia apavorada. Como último recurso, o nobre príncipe resolveu deixar-se capturar pelo inimigo, de forma a ser levado como escravo para a terra dos igbos, com a intenção de descobrir o segredo de sua força descomunal. Moremi, sabendo dos planos do marido, dirigiu-se ao rio que passava perto da cidade e lá, na companhia de seu filho, prometeu que daria ao espírito do rio aquilo que tivesse de mais precioso, caso seu marido retornasse vivo da perigosa missão. Mas ocorreu que, no primeiro ataque dos inimigos, em vez de o príncipe ser capturado, foi Moremi quem foi feita escrava. Por sua beleza, Moremi foi entregue ao rei dos igbos. Inteligente e bondosa, a princesa conquistou o coração do rei inimigo e o respeito de toda a sua corte. Assim, pôde observar que os igbos eram homens comuns que se preparavam para os combates envolvendo o corpo e a cabeça com varas de bambu e muitas fibras vegetais, o que lhes dava a aparência terrível que possuíam.
e muitas fibras vegetais, o que lhes dava a aparência terrível que possuíam. Descobriu também que, por estarem envolvidos em folhas secas, os inimigos temiam o fogo que podia incendiar-lhes as vestes. Na primeira oportunidade, Moremi fugiu do palácio do rei igbo, voltando ao seu país com as informações preciosas que conseguira. De volta, mandou que os guerreiros de Ifé preparassem flechas incendiárias que, ao primeiro ataque, foram atiradas contras os inimigos, levando o fogo às suas vestes de folhas secas e derrotando-os definitivamente. Tudo aconteceu da forma prevista. Vencidos, os igbos se renderam e foi feito um tratado de paz entre as duas tribos. Moremi foi então ao rio e lhe ofereceu carneiros, cabras, pombos e frangos, mas o Espírito do Rio não aceitou nada, devolvendo inteiras todas as coisas oferecidas. Consultado o adivinho da cidade, ficaram sabendo que a coisa mais preciosa que Moremi possuía era seu filho, e o Espírito exigiu que a bela criança fosse lançada às suas águas. Sem escolha, Moremi e o príncipe foram obrigados a lançar seu bebê às águas. Mas ficaram surpresos ao verem sair do rio uma corda trançada com folhas, que levantou a criança, conduzindo-a ao céu, de onde, todos tinham certeza, voltaria um dia para reinar em Ilê Ifé. Assim, o sacrifício da nobre Moremi foi recompensado duplamente.
MARTINS, Adilson. Erinlé, o caçador: e outros contos africanos. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.
A árvore de iroco lenda do povo iorubá
Nas florestas africanas existe uma árvore gigantesca conhecida pelo nome de iroco. Os nativos evitam de todas as formas chegar perto dessa árvore porque, segundo acreditam, nela mora o espírito de um homem muito velho que anda ao seu redor durante a noite, carregando nas mãos uma tocha acessa para assustar os viajantes. A lenda conta que qualquer pessoa que olhar o rosto de Loko, o espírito do velho, enlouquece e morre rapidamente. Por ser uma árvore imensa, de galhos enormes, o iroco atrai os lenhadores, que se sentem tentados a derrubá-lo para que obtenham boa madeira. Isso é considerado garantia de má sorte, pois o lenhador que ousar cortar o iroco será perseguido, assim como toda a sua família, pelo espírito que habita a árvore. Dizem os mais velhos que, em qualquer casa onde existem móveis ou objetos feitos com a madeira do iroco, ouvem-se, durante a noite, gemidos e ruídos estranhos, feitos pelo espírito que, preso à madeira, reclama por não poder vagar pela floresta carregando a sua tocha. MARTINS, Adilson. Erinlé, o caçador: e outros contos africanos. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.