Ilhabela/SP

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EDIçãO 01

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Ilhabela Nº01 - R$ 10,00 - Brasil

Arquipélago imponente Crenças, mitos, lendas, mistérios e praias simplesmente belas

História | Folclore | Meio Ambiente | Arquitetura | Gastronomia | Turismo




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Índice

06 08 16 22 28 30

LINHA DO TEMPO Cronologia dos fatos históricos relevantes do Arquipélago HIsTÓrICO Os ciclos econômicos brasileiros refletidos na característica de um povo rELIGIOsIDADE O isolamento demonstrado pela fé de cada povoado PIrATAs Malvados infratores que deixaram um legado de muitos mistérios LENDAs A tradição oral misturada à genialidade da imaginação em fatos reais NAuFráGIOs Um mundo submerso à parte repleto de histórias e mistérios

4 Cidade&Cultura

36 38 42 46 52 54

FArOL Guardiões de uma nova era ArquITETurA simplicidade e beleza são as marcas da arquitetura ilhabelense ArTEs Arquipélago inspirador, um grande balcão de idéias ArTEsANATO talento, criatividade e originalidade FOLCLOrE A preservação da mistura de cultura concretizada na atualidade MEIO AMbIENTE A força de uma natureza preservada

72 76 84 88 90 94

GAsTrONOMIA O termo “banquetear-se” expressa o “comer bem” em Ilhabela EsPOrTEs Locais perfeitos para a prática de diversas modalidades VIDA DE CAIçArA Esse povo que vive na beira do mar NãO DEIxE DE vIsITAr Abra espaço na agenda e curta essas dicas sE Eu FOssE vOCê... Não deixaria de seguir a risca o recomendado DADOs EsTATísTICOs Curiosidades técnicas dão uma visão maior da dimensão do Arquipélago


RobeRt WeRNeR

Editorial Era uma vez um lugar onde princesas, escravos, feiticeiras, sereias, piratas e tesouros existiram e fizeram dele um local mágico... Sim, esse lugar existe e está muito próximo de nós. Não é nenhum reino encantado ou alguma história da carochinha. Este lugar é Ilhabela. Um paraíso repleto de energias, de belezas imensuráveis e de uma riqueza histórica incomparável. Conhecer a fundo esse arquipélago é ter o prazer de conviver com o passado e o presente, muito próximos um do outro. Ver com seus próprios olhos raridades como esqueletos humanos de 2000 anos, tocar em paredes de casas que pertenceram a piratas, passar ervas que escravas usavam para perfumar o corpo após o banho e banhar-se em cachoeiras com variadas formas e tamanhos, com lendas ou não. A Revista Cidade & Cultura teve esse privilégio de sentir e tentar transmitir, um pouco que seja, a sensação de se estar num lugar tão especial como esse que, com essa magia, encantou nossos olhos, nossas mentes e principalmente nossos sonhos de crianças! Renata Weber Neiva

EDITORIA

COnsELhO ExECUTIvO: Eduardo Hentschel, Luigi Longo, Márcio Alves e Roberto Debouch

EDITORA: Renata Weber Neiva REpORTAgEm: Elaine Leme e Nathália Weber AssIsTEnTE DE pRODUçãO: Evellyn Alves pRODUçãO gRáfICA: Purim Comunicação Visual (www.purimvisual.com.br)

pRODUçãO DIgITAL: OnePixel (www.onepixel.com.br) pRODUçãO AUDIOvIsUAL: VSet (www.vset.com.br) fOTOgRAfIAs: Bera Palhoto, Tatyana Andrade e Márcio Alves fOTO CApA: Tatyana Andrade ImpREssãO: Gráfica Silvamarts CIDADE & CULTURA é uma publicação anual da ABCD Cultural. Todos os artigos aqui publicados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas.

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Ilhabela 5


8000 aC Descoberto pelos arqueólogos vestígios dos povos Sambaquieiros

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Linha do tempo

A maior Ilha do Arquipélago é batizada, por Américo Vespúcio, de Ilha de São Sebastião

1500

1502

Diogo de Unhate e João de Abreu recebem a Sesmaria e começam a povoar a Ilha

Descobrimento do Brasil

Quebra da Bolsa de Nova Iorque

Abolição da Escravatura

1877 Construção da Estrada de Ferro da Vila de São Paulo ao Rio de Janeiro

1608

1888

1921 Naufrágio do navio Príncipe das Astúrias

1929


A Ilha de São Sebastião foi elevada a município e recebeu o nome de Villa Bella da Princesa

O povoado emancipou-se da Vila do Porto de Santos e passou a ser chamada de Vila da Ilha de São Sebastião

1785

1806

A Ilha passa a condição de Capela

Criação do Parque Estadual de Ilhabela

1945

1977

Foram incorporadas ao território mais dez ilhas e passou a ser chamada de Arquipélago de Ilhabela

1980

A Ilha é elevada a Município e chamada de Vilabela

1940

Construção da Estrada de Ferro da Vila de São Paulo à Vila de Santos

Década de

Por determinação do Governo Federal (Getúlio Vargas) passou a ser chamada de Formosa

1934

1867

TATYANA ANDRADE

1636

Inauguração da Rodovia SP 55 Rodovia Dr. Manoel Hypóllito do Rego


REPRODUÇÃO MAPA ILUSTRATIVO

Histórico


Entre ciclos, a resistência

de um povo A história desse arquipélago é feita de altos e baixos, tanto na questão econômica quanto na social. Muitas reviravoltas fizeram seus moradores carregarem dentro de si raízes marcantes que transparecem em suas atividades atuais.


Histórico sítio arqueológico

Os primeiros O Homem do Sambaqui “As pesquisas arqueológicas desenvolvidas nas últimas décadas no litoral paulista revelam que a ocupação humana mais antiga nesta região foi a dos pescadores-caçadores-coletores, grupos que baseavam sua subsistência principalmente na pesca, na caça de animais de pequeno porte e coleta de moluscos, crustáceos e de vegetais. Esses grupos deixaram como vestígios de sua ocupação os sambaquis, sítios arqueológicos formados a partir do acúmulo de conchas de moluscos em um mesmo local ao longo de muitos anos. Além das conchas, neles pode ser encontrada grande quantidade de ossos de fauna marinha e terrestre, vestígios de fogueiras, objetos confeccionados em osso, dentes e concha, e artefatos feitos de pedra. Sepultamentos humanos também são encontrados nos sambaquis, muitos deles adornados com colares e pingentes. Este tipo de sítio arqueológico está presente em quase todo o litoral brasileiro, assentados principalmente em ambientes estuarinos. Estas regiões ofereciam uma imensa variedade de moluscos e crustáceos ao longo de todo ano, que podiam ser obtidos com relativa facilidade Ossada descoberta por essas populações. No arquipélago de Ilhabela existe pelo menos uma dezena de samba-

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quis, mais até recentemente nenhum deles havia sido alvo de pesquisas detalhadas. Entretanto, escavações realizadas recentemente em um sambaqui na região de Furnas resultaram em um achado inédito que nos permitiu reescrever parte da história das primeiras populações que viveram nesta região. Durante as escavações realizadas neste pequeno sambaqui localizado dentro de um abrigo rochoso, foram encontrados além de conchas, ossos de animais e alguns artefatos, um sepultamento humano ainda preservado. Porém, o esqueleto do individuo sepultado estava um pouco deteriorado e fragmentado devido as condições de umidade e a grande quantidade de blocos de pedra que havia sido colocada sobre ele. Este indivíduo foi sepultado sem nenhum acompanhamento ou adorno, apenas em meio a conchas. Estava em posição fetal, com braços e pernas flexionados, e tinha um bloco de pedra intencionalmente depositado sobre o crânio. Estudos realizados posteriormente em laboratório revelaram informações importantíssimas sobre o modo de vida e as condições de saúde deste indivíduo. Trata-se de um homem de aproximadamente 45 anos


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Ossada de Sambaquieiro

de idade. Seus dentes apresentam desgaste muito acentuado que chega a atingir a raiz, resultado do consumo de alimentos abrasivos e da utilização dos dentes como ferramenta. Apresenta também artrose em alguns ossos devido à idade avançada para as condições da época e possivelmente resultante de esforços por movimentos repetitivos. Para que fosse possível saber a época em que este homem do sambaqui viveu em Ilhabela, uma amostra do esqueleto foi enviada para um laboratório em Miami, EUA. O resultado da análise revelou que este homem viveu há quase 2000 anos atrás, sendo até agora o mais antigo habitante já conhecido deste arquipélago. Seus remanescentes sobreviveram ao tempo durante praticamente 2000 anos e agora nos permitem conhecer um pouco mais acerca dessas populações que viveram há tanto tempo neste arquipélago e que desapareceram muito antes da chegada dos colonizadores a essas terras. Além disso, este achado que compreende o primeiro sepultamento humano retirado em contexto de sítios arqueológicos em Ilhabela, nos permitiu obter também a primeira datação arqueológica para o município, cuja ancestralidade de sua ocupação era anteriormente relacionada à datação de um sítio arqueológico de outro município.”

Ocupação Sambaquieira no Litoral As pesquisas arqueológicas desenvolvidas nas últimas décadas no litoral paulista revelam que a ocupação humana mais antiga nesta região foi a dos pescadorescaçadores-coletores, que deixaram como remanescentes os sítios arqueológicos denominados Sambaquis. Tais sítios, construídos ao longo de muitos anos pelos grupos de pescadores-caçadores-coletores, são constituídos principalmente de empilhamentos de moluscos, entre outros restos provenientes da fauna marinha e terrestre, além de estratos arenosos ou terrosos, totalmente diferentes dos demais tipos de sítios arqueológicos existentes no país. Os sambaquis, construídos principalmente entre 6000 e 1000 anos atrás, foram erigidos a partir de episódios sucessivos de acúmulo de material construtivo num mesmo local, resultando em montes de diversos tamanhos. Os aspectos morfológicos e as dimensões dos sambaquis podem variar bastante, principalmente em âmbito regional. Além das conchas, restos de fauna e areia, também podem estar presentes na estrutura desses sítios, vestígios de fogueira, artefatos líticos ou osteodontomalacológicos, e ainda muitos sepultamentos. É comum verificar nos sambaquis, enterramentos de indivíduos acompanhados de objetos funcionais como: ponta de projéteis, agulhas e furadores confeccionados em osso ou conchas; machados, polidores, pesos de rede, entre outros artefatos líticos, além de adornos como colares ou pingentes feitos a partir de conchas ou dentes de animais. Relacionados à ocupação sambaquieira do sul de São Paulo ao Rio Grande do Sul também são encontrados os zoólitos, artefatos líticos polidos com extremo requinte técnico e estético, representando diferentes figuras zoomórficas e inclusive antropomórficas. Os sambaquis são monumentos intencionalmente construídos relacionados ao culto aos ancestrais, e sua formação é essencialmente o resultado de processos ritualísticos e simbólicos recorrentes por longos períodos. A construção de grande quantidade desses monumentos ao longo do litoral refletiria grande estabilidade territorial, econômica e cultural da população sambaquieira e uma significativa expansão demográfica, com padrões elaborados, cada vez mais complexos de organização social e política. Ao longo de muitos anos os sambaquis sofreram constantes intervenções devidas principalmente à exploração de cal usada em construções e a crescente expansão imobiliária no litoral. Por este motivo estão hoje em dia protegidos por lei e salvaguardados pelo IPHAN. Fonte: Cintia Bendazzoli

Fonte: Cintia Bendazzoli

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Histórico

Os antigos donos da terra Ainda não se sabe ao certo o que o Arquipélago de Ilhabela representava na vida cotidiana dos índios, sabe-se que aqui era habitado, mas as relações entre os índios habitantes do continente é uma incógnita; muitos estudiosos afirmam que aqui era um lugar neutro de transações comerciais e diplomáticas entre

as tribos Tupinambás e Tupiniquins, os quais chamavam de Ciribaí – terra tranqüila - ou Maembipe – local de resgate de prisioneiros e troca de mercadorias –, porém, com as descobertas arqueológicas recentes, sabe-se que tribos indígenas do tronco Macro-jê habitaram essas terras.

Caravelas à vista Com a descoberta do Brasil, o rei de Portugal, D. Manuel, organizou uma expedição para saber das proporções e riquezas desse descobrimento. Tendo Gonçalo Coelho como comandante e Américo Vespúcio como participante, a investida trouxe inúmeros resultados à Coroa Portuguesa. Primeiramente, em 1501, as três caravelas destinadas à empreitada aportaram no Rio Grande do Norte, onde os desbravadores foram duramente rechaçados pelos índios e Gonçalo Coelho achou melhor zarpar imediatamente do local, contornando o litoral do Brasil. Com um calendário Litúrgico, os navegantes foram batizando os lugares por onde passavam com os nomes dos santos do dia correspondente. E não pode ser diferente com a chegada dos navegadores pelos mares de São Sebastião, que recebeu este nome, logicamente por ser o dia do próprio, 20 de janeiro de 1502. Ocupação O período que começa com a nomeação da Ilha de São Sebastião até o recebimento da Sesmaria de Diogo de Unhate e João de Abreu, em 1608, é um período estagnado. Todas as tentativas de ocupação da Ilha foram desanimadoras. Unhate e Abreu eram burocratas vindos da Vila do Porto de Santos, e junto com Gonçalo Pedroso e Francisco de Escobar Ortiz iniciaram a povoação na Ilha de São Sebastião. Formou-se um povoado, atual vila, ao redor da igreja Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso, outro na capela de Conceição, na Praia da Armação e mais um povoado que chegou à condição de capela na Praia Grande, que estava do lado do forte do Portinho.

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Américo Vespúcio Nascido em 09 de março de 1454, Américo Vespúcio sempre viveu em meio a um alto estilo de vida, filho de família abastada, achegado aos poderosos Médici, que construíram Veneza, política e financeiramente. Por 20 anos, Américo Vespúcio executou trabalhos burocráticos, conhecendo homens importantes e poderosos, como Luiz XII, trabalhando no Banco da família Médici. Juanoto Berardi era um dos principais financiadores da empresa marítima espanhola, comandada pelos “Reis Católicos”. Alguns afirmam ter sido ele o colaborador para a expedição de Cristóvão Colombo quando este descobriu a América em 1492.

Diogo de Unhate Espanhol e escrivão da Ouvidoria e Fazenda da Capitania de São Vicente e fundador de Paranaguá. Recebeu uma doação de terras de sesmaria, em 1608, junto a João de Abreu. As terras ficavam na ilha de São Sebastão (Ilhabela) e em terra firme defronte a ela. Em 1609 recebeu outra sesmaria para os lados de Sorocaba. Teria recebido uma sesmaria em Paranaguá, que teria tentado povoar sem sucesso.


FOTOS REPRODUÇÃO

Mapa datado de 1912

Economia A economia da Ilha inicia-se com o cultivo de cana-de-açúcar e produção de açúcar, fomentada pelas plantações de fumo, anil, arroz, feijão e mandioca. A mão-de-obra era escrava trazida por Ortiz, comerciante que buscava em Angola sua “preciosa” carga. Nesse período, o arquipélago fazia parte da Vila de São Sebastião. A Vila desenvolveu-se rapidamente, enquanto, na Ilha, o mesmo não ocorreu devido à sua topografia acidentada demais. O que poderíamos dizer de aumento significativo da população, se dá apenas na segunda metade do século XVIII, no local onde hoje é o centro turístico de Ilhabela. A proliferação de engenhos de cana-de-açúcar que aproveitavam as cachoeiras para mover suas rodas d’água, tornou-se a grande impulsora da economia local. Mais de 30 engenhos que funcionaram na ilha, como os da Fazenda da Toca, da Cocaia e do Engenho D’Água, ainda exibem suas moendas e outros maquinários que produziam cachaça e melaço.

Mapa do século XVIII

Em 1785, a Ilha foi elevada à condição de Capela de Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso. Nesse período, a cana-de-açúcar estava em baixa, mas a pesca da baleia estava no auge, o que era muito promissor. Uma das principais armações (local de limpeza das baleias abatidas) do litoral paulista encontrava-se onde hoje é o Bairro da Armação, ao norte da Ilha.

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Histórico Breve histórico da pesca da baleia no Brasil

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suas senzalas, os núcleos agrícolas e outras construções semelhantes aos engenhos da indústria açucareira. Na Armação, os escravos processavam o retalhamento do cetáceo separando as partes do animal. Após o processo de purificação, que consistia numa espécie de filtragem dos 42 resíduos no “derretimento” da gordura da baleia, era o óleo distribuído ao consumo e exportado em pipas e barris para o Rio de Janeiro e para Portugal. A pipa comum correspondia a 424 litros. Uma baleia, conforme as dimensões, produzia de 10 a 20 e até 30 pipas de óleo... A exploração econômica da baleia foi uma importante atividade na América portuguesa e no Brasil. Além de sua organização, participou na ocupação e no povoamento da costa meridional brasileira. A carne da baleia, usada como alimento, era salgada para ser conservada por mais tempo. A língua, importante iguaria, era vendida à nobreza e ao clero. As barbatanas eram utilizadas na confecção de indumentárias femininas e masculinas, como os espartilhos, saias, chapéus e em artefatos de batalha. Os ossos eram usados para a construção civil e produção de móveis. O óleo de baleia serviu, especialmente, para a iluminação dos engenhos, de casas e fortalezas, a calafetagem de barcos nos estaleiros e ao preparo de especial argamassa para construções mais sólidas. Deu origem à indústria de óleo e outros derivados do cetáceo, desenvolvendo-se no litoral da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, durante os séculos XVII e XVIII, extinguindo-se praticamente no XIX. Fonte: www.unesp.br/prograd/PDFNE2002/apescadabaleia.pdf

STOCK.XCHNG

A pesca da baleia foi introduzida no Brasil em 1602, pelos bascos de Biscaia, na Espanha. Ensinaram técnicas no uso de arpões manuais, lançados de um bote a remo, no Recôncavo baiano, acabando, assim, com a fase de coleta dos produtos dos cetáceos encalhados nas praias... A partir de 1614, estabeleceu-se o monopólio da pesca da Baleia por parte da Coroa Portuguesa, impedindo, assim, a livre pesca. A expansão geográfica desta indústria se deu por volta de 1720, com o estabelecimento do primeiro núcleo baleeiro no Rio de Janeiro. No setor meridional da colônia, que compreende, neste trabalho, as áreas, fluminense, paulista e catarinense... O primeiro impulso conferido ao monopólio e à pesca da baleia, no Brasil, decorreu da política empreendida pelo Marquês de Pombal, aliado à burguesia mercantil do Reino. Nos primeiros séculos daquela atividade, as baleeiras, nome dado aos barcos de pesca, saíam para o mar em grupos de quatro a seis, acompanhadas de lanchas de socorro, impelidas pelos remos. Estas baleeiras mediam de 10 a 12 metros de comprimento e podiam percorrer de 10 a 12 milhas por hora. Eram compostas por tripulação de seis remeiros, arpoador e timoneiro ou patrão do barco. A lancha de socorro transportava o mesmo número de homens com exceção do arpoador. Prestava-se ao auxílio a outras embarcações e à remoção da baleia apresada, para a terra. As baleias eram identificadas pelos seus borrifos e logo em seguida eram cercadas pelas baleeiras. Cabia o arpoamento à lancha que mais se aproximasse do animal. O arpoador o lanceava com um arpão, preso ao barco por uma corda. Finda a luta entre os pescadores e a baleia, alguns homens pulavam na água e amarravam a baleia morta ao barco para ser puxada até a terra. Aí se encontravam os entrepostos da pesca de cetáceos, as “armações”, com seu “engenho de frigir”, sua “casa de tanques” para armazenagem do óleo das baleias, sua “casa grande”,


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centro antigo

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cachaça Engenho D’Água

O então capitão–general da Capitania de São Vicente, Antônio José da Franca e Horta, em visita à Ilha no ano de 1803, recebeu em suas mãos um documento feito pelo movimento liderado pelo capitão Julião de Moura Negrão, o alferes José Garcia Veiga, o senhor de engenho Carlos Moreira e mais 27 ilustres moradores, para que fosse elevada à Freguesia a Capela de Nossa Senhora D´Ajuda e Bom Sucesso. O pedido foi aceito em 1806 e seu nome mais uma vez modificado para Vila Bela da Princesa, homenagem dada à filha de D. João VI e de Carlota Joaquina, Dona Maria Teresa Francisca de Assis Antonia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragança, mais conhecida como Princesa da Beira. Um novo ciclo econômico despontava para seus habitantes; era o ouro verde estourando por todos os cantos da Ilha, com uma expansão demográfica importante. O café era totalmente beneficiado nos locais de produção e a mão-de-obra era escrava. A opulência chegou rapidamente. Mas, infelizmente, com a construção da estrada de ferro de Vila de São Paulo à Vila do Porto de Santos, em 1867, e a que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, em 1877, mais a Abolição da Escravatura, em 1888 e a queda da Bolsa de 29, nos Estados Unidos, a economia da Ilha foi por água abaixo. Mais da metade da população simplesmente “evaporou”, não havia mais empregos. Os que ficaram trabalhavam na pesca e na agricultura

de subsistência, existia muita fartura, mas nenhum dinheiro e tudo era feito na base de escambo. E assim foi até a volta da produção da cachaça com 13 engenhos fortes ( Feiticeira, Engenho D´Água, Ponta das Canas, Favorita, Consolo, Marafa, Bexiga, Mossão Caiçara, Cocaia, Tangará, Engenho Novo, Amansa Sogra e Leite & Irmãos) na primeira metade do século XX. Em 1934, Villa Bella é elevada, novamente, a categoria de município e em 1939 passou a chamar-se de Vilabela. Em um delírio do Presidente Getúlio Vargas, no ano de 1940, sem nenhum motivo, modificou o nome para Formosa e, após inúmeros atos de revolta contra o nome imposto, em 1945 finalmente o Arquipélago é batizado de Ilhabela.

Vocação natural Após sucessivas tentativas e erros, superações e modificações e com a derrocada dos engenhos de cana-de-açúcar, a partir da década de 1950, o Arquipélago encontrou sua vocação natural, que é o turismo, que despontou definitivamente quando a Rodovia SP 55 – Rodovia Dr. Manoel Hypóllito do Rego foi construída, tornando o acesso à cidade de São Sebastião mais fácil.

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Histórico

Igreja da Matriz

Religiosidade

Igreja Matriz de Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso Muitas devoções, principalmente as que homenageavam Nossa Senhora, chegaram às colônias com as expedições marítimas or-

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A presença da religião é um traço marcante da colonização brasileira, pois era uma forma dos colonizadores, que estavam tão distante de sua terra natal, não sentirem-se tão isolados em meio a culturas tão diferentes às suas como a dos indígenas. Estado e Igreja andavam juntos e o crescimento das cidades girava em torno das ermidas. Tanto é que o primeiro estágio de um povoado era o de capela, depois capela curada. Ao longo da segunda metade do século XVIII, formouse um povoado na região central da Ilha de São Sebastião – que então pertencia ao território da Vila de São Sebastião. Esse povoado foi elevado à condição de capela por volta de 1785. Isso só foi possível graças ao vigário de São Sebastião, o padre Manuel Gomes Pereira Marzagão que, naquele local, mandou erguer uma capela em louvor a Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso. Outros núcleos populacionais foram formados como o da capela de Conceição, na praia da Armação.

Oração a Nossa Senhora D´Ajuda Lembrai-nos, ó doce Mãe, Nossa Senhora D´Ajuda, que nos foi dada por Jesus para nosso ampar! Cheios de confiança na Vossa Bondade nós Vos chamamos em nosso auxílio. Mãe querida Senhora D’Ajuda, acolhei benigna todas as nossas súplicas e dignai-Vos atendê-las. Rogai por nós Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém! ganizadas pela coroa portuguesa, visando abençoar a saída de militares e marinheiros que iriam enfrentar os mistérios do mar aberto. Perpetuaram-se assim, as invocações de origem portuguesa à Nossa Senhora da Boa Esperança, do Amparo, da Boa Viagem, D’Ajuda, dos Navegantes, entre outras. No caso de Nossa Senhora D’Ajuda, o título tem a ver principalmente com o momento da morte de Cristo na cruz. Enquanto ele oferecia sua vida pelos homens, Nossa Senhora ajudava os pecadores. Como já foi dito anteriormente, por volta de 1706 foi erguida pelo vigário Manuel Gomes Pereira Marzagão a capela Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso, que, por esse motivo, tornou-se a padroeira do município. Atualmente, situa-se numa colina, com uma vista pri-


vilegiada aos pés do morro do Baepí na Vila. O seu interior é amplo, com 40 metros de comprimento por 10 metros de largura. O piso de mármore é procedente da Espanha, Minas Gerais e Santa Catarina, possui forro pintado a óleo que reproduz Nossa Senhora D’Ajuda. O ornamento com réplica exata da antiga Igreja da Sé, em São Paulo, complementa a decoração junto aos trinta e cinco degraus que conduzem à igreja com as

imagens de São Sebastião, São Benedito e São Paulo em suas laterais. Foi reformada em meados do século XX por Alfredo Oliani, misturando o barroco com o seu estilo original. No seu interior guarda-se um belo painel dedicado a Nossa Senhora D’Ajuda. Todo ano, no dia 2 de fevereiro, tem início a festa da podroeira, que se estende por todo mês com festas, quermereses e comidas típicas.

Festas Religiosas Procissão de São Pedro

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Há mais de meio século, acontece, todos os anos, a procissão de São Pedro, uma homenagem dos pescadores ao seu santo protetor. O evento é acompanhado por turistas e ilhéus. A imagem de São Pedro, padroeiro dos pescadores, deixa a Igreja Matriz de Ilhabela e participa da Missa Campal realizada em frente à Colônia dos Pescadores. Em seguida, acompanhada pelo Pároco local e pelo Coro da igreja entoando o hino a São Pedro, a imagem é colocada em barco de pescadores locais, que conduzem a procissão com destino ao Bairro de São Francisco, em São Sebastião, Praia da Armação e, finalmente rumando para o ponto de partida no centro de Ilhabela. Neste momento, ainda acompanhada pelo

Capela de São Pedro

pároco e pelo coro, a imagem é retirada do barco e conduzida de volta à Igreja Matriz. Antigamente, a procissão era acompanhada por grande queima de fogos de artifícios, que hoje é proibida durante o percurso, restringindo-se à partida e chegada da procissão. Tanto os barcos de pesca como os de turismo, são ornamentados. Existe uma promessa antiga, feita por um pescador já falecido, Sr. João S. Carvalho, de enfeitar os barcos todos os anos com bandeirinhas coloridas de papel de seda. Sua filha D. Alice Carvalho, comerciante em Ilhabela, mantém até hoje a promessa feita por seu pai e se encarrega da ornamentação dos barcos, mantendo assim uma tradição de muitos anos.


Histórico Ao observar as feições dos moradores da praia do Bonete, percebem-se vestígios da descendência Européia, ora nos olhos azuis, ora nas cabeleiras loiras. Mas esse não é único traço que os desbravadores do mar, oriundos do velho continente deixaram na região. A religião católica trazida com eles foi outra característica que sobreviveu aos séculos e ainda hoje é lembrada e comemorada como no momento em que chegavam às terras ilhabelenses as primeiras naus Européias. Segundo os mais antigos, a padroeira do Bonete é Santa Verônica, porque foi achada uma imagem da santa no mar e resolveram levantar uma igreja, que até hoje abriga a imagem. Alguns dizem que ela caiu de algum navio pirata, outros dizem que era navio cargueiro, por volta do ano de 1800 e acredita-se que a nau veio da Alemanha. Atualmente a festa é realizada no dia 09 de julho, começa dia 1º e vai até o dia 9, com a novena de Santa Verônica. O hasteamento do mastro da Santa é feito

pelo “capitão do mastro” sob o estourar dos fogos de artifício, onde é servida a “consertada”, bebida típica de Ilhabela. A missa é na pequena igreja, toda enfeitada pelas mulheres escolhidas no ano anterior, chamadas de “juizada” (festeira). Na igreja, os homens ficam de um lado e as mulheres do outro À noite, a fogueira é acesa pelo “capitão da fogueira”. Interessante é a ladainha (oração) cantada em latim e o leilão de prendas na quermesse.

Santa Verônica é de origem italiana, de família nobre, nascida em Mercatello em 1660 com o nome de Úrsula. Desde os três anos, estava voltada para a religião e já muito cedo ajudava os pobres. Entrou para a ordem das capuchinhas e tomou o hábito, em 28 de outubro de 1678, recebendo o nome de Verônica. Faleceu em 9 de julho de 1727 , com 67 anos. Em 1859 foi santificada pelo papa Gregório no século XVI.

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Festa de Santa Verônica

Capela de São João Batista

Capela de Santa Cruz

Capela de Imaculada Conceição Na praia da Armação, em frente ao mar, encontrase a igreja cuja padroeira é Imaculada Conceição. Em muitos pontos do arquipélago, passamos por muitas outras capelas, demonstrando assim o antigo isolamento da população em relação às outras praias. Com isso, vários padroeiros e padroeiras se estabeleceram, formando uma mescla grande com diversificadas comemorações ao longo do ano.

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Histórico

Capela de São Benedito

Capela de São Benedito Interior da Em Ilhabela, algumas praias posCapela de suem capelas com o nome de seus São Benedito respectivos santos padroeiros. Na praia Grande a capela é de São Benedito e foi construída há 82 anos, denominando-se assim devido a uma promessa feita por um pescador em virtude de um apuro no mar. Em homenagem a esse fato, todo dia 27 de dezembro, data em que a capela terminou de ser erguida, ocorre uma comemoração que começa com uma procissão que sai da praia Grande, posteriormente a missa e depois a festa. Atualmente acontece um bingo e antigamente eram feitos leilões. A igreja passou por uma reforma interna há 2 anos atrás e as principais transformações que sofreu foram: a mudança do piso, antes lajota rosa e agora lajota envelhecida, tas a procurarem a igreja de São Benedito para casaa pintura e a colocação do sacrário. rem-se sob as bênçãos positivas que o encontro das Ao redor do mundo, existem crenças de que casa- águas do mar com outras infindáveis belezas naturais mentos realizados em uma ilha serão uniões repletas podem proporcionar. E o mais interessante é que se de prosperidade. Crença ou não, parece que a busca tem feito o ritual à moda antiga, chegando da ponta da pela felicidade matrimonial está levando muitos turis- praia de barco ou canoa.

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Hist贸rico

Piratas


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Existe uma mística em volta do personagem do pirata. Hollywood eternizou em inúmeros filmes o lado poético dessa figura, transformando-a, muitas vezes, em heróis bandidos. O pirata também tem a simbologia da liberdade humana, não dependendo de ninguém e não seguindo nenhuma regra pré-estabelecida. Mas a realidade nua e crua não condiz com esse ufanismo. A pirataria é relatada desde os tempos da Grécia Antiga, citada primeiramente por Homero em Odisséia. São os ladrões dos sete mares que pilham e sacam todas as riquezas que possam obter, chegando até ao sequestro de pessoas influentes com o objetivo do resgate. Para tais “peripécias”, os piratas tiveram que obter grande conhecimento de navegação e são considerados os precursores dos conhecimentos da navegação marítima.


Histórico Galeão

DIVULGAÇÃO

Com a descoberta das Américas, os ladrões dos mares se concentraram nas riquezas que eram extraídas para serem levadas à Europa. O Mar do Caribe transformou-se em verdadeiro Eldorado. O litoral brasileiro não ficou imune às investidas dos piratas e Ilhabela foi palco de alguns deles desde 1553. Principalmente no lado leste da ilha que, por sua costa acidentada, os ladrões dos mares podiam esconder-se e ao mesmo tempo fazer reparos em suas embarcações e abastecê-las. O Saco do Sombrio era o ponto perfeito para isso; ficavam à espreita para atacar os navios espanhóis e portugueses que por ali passavam. Até Jose de Anchieta, em 1582, que ia de Santos ao Rio de Janeiro de canoa teve que ancorar em Ilhabela por conta do ataque de Edward Fonton (corsário inglês). Outros também

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perigosos passaram por aqui como o corsário Francis Drake, Anthony Knivet e o francês Duguay-Trouin. O mais famoso pirata que por Ilhabela passou, sem sombra de dúvida, foi Thomas Cavendish. “Em 1591 Cavendish deixou o porto de Plymouth, na Inglaterra, com cinco navios e mais de 400 homens, e rumou para Ilhabela. O objetivo inicial da esquadra era atacar a Vila de Santos, e a frota ancorou na Ilha para se reabastecer e arquitetar seus planos. O ataque foi armado para a noite de Natal desse ano, quando dois navios ingleses entraram na pequena vila e aprisionaram toda a sua população, que então assistia à Missa do Galo na igreja local. Com a cidade dominada, o resto da esquadra foi chamada em Ilhabela para realizar a pilhagem. Os piratas permaneceram ali, dominando os habitantes e a guarnição militar portuguesa até 3 de fevereiro de 1592, quando partiram


TATYANA ANDRADE

rumo ao Estreito de Magalhães para tentar a circunavegação do globo. Cavendish já havia realizado a façanha, pelo que era considerado um herói na corte da rainha Elizabeth. A esquadra quase foi dizimada pelas tormentas no extremo sul do continente. Dois navios afundaram, e os três remanescentes se perderam uns dos outros. Cavendish retornou com seu galeão Leicester para Ilhabela, em busca de abrigo seguro para reparar o navio e reabastecê-lo. Aqui encontraram outro navio de sua esquadra, o Roembuck, e aportaram. Poucas semanas depois tiveram que enfrentar uma esquadra portuguesa chefiada por Martim Correia de Sá, que veio combatê-los. Fugiram para o norte, na direção do Espírito Santo, e retornaram à Ilhabela alguns meses depois, com o projeto de queimar um dos navios, equipar o outro e seguir novamente para o Estreito de Magalhães. Com medo, parte da tripulação amotinou e se refugiou na Ilha. O capitão do navio Roembuk, Abraham Cocke, teria descido definitivamente em Ilhabela com seus homens. O fato é que nunca mais se ouviu falar deles. Cavendish tentou retornar à Inglaterra com o Leicester, mas morreu doente à bordo, no final de 1592, antes do navio alcançar seu destino.”

Código de conduta pirata • Todos os homens devem obedecer ao código civil; o capitão tem direito a uma parte e meia de todos os prêmios (chamados de butins); o subcapitão, o carpinteiro, o mestre e o homem de armas tem direito a parte e um quarto; • Se alguém tentar fugir ou guardar algum segredo do resto da tripulação, este deve ser abandonado numa ilha deserta com uma garrafa de pólvora, uma garrafa de água (o suficiente para sobreviver dois ou três dias), uma pequena arma e munições; • Se alguém roubar alguma coisa, o ladrão deve ser abandonado numa ilha deserta com uma pistola contendo uma única bala; • O homem que desrespeitar estes artigos enquanto este código estiver em vigor, deve ser punido com a lei de Moisés (40 chicotadas sem faltar nenhuma) nas costas despidas; • O homem que abocanhar as suas armas ou fumar tabaco no porão, sem uma tampa no cachimbo, ou carregar uma vela acesa sem lanterna deve ter a mesma punição que o artigo anterior; • O homem que não mantiver as suas armas limpas, que ficar noivo, ou se esquecer da sua função, deve sofrer qualquer punição que o capitão e a tripulação quiserem; • Se um homem perder o seu casamento deve ganhar 400 pesos, se um membro 800; • Se alguma vez te encontrares com uma mulher prudente, que esse homem se ofereça a intrometer-se com ela, sem o consentimento dela, deve sofrer morte certa; • O homem que fica para trás é deixado para trás.

Fonte: www.ilhabela.org/piratas.htm

Mutilações interessante esse aspecto da vida pirata, pois as mutilações eram freqüentes, já que os combates eram feitos no corpo a corpo. Não raro um combatente perdia a perna, braços ou olhos. Normalmente o cozinheiro fazia o papel de médico da tripulação, cabendo a ele o ato da amputação. Como prótese, quando o enfermo conseguia sobreviver, usava-se qualquer coisa ao alcance no navio, um exemplo clássico é o Capitão Gancho de Peter Pan. Os “desmembrados” eram agraciados com dinheiro ou mercadorias como: pelo braço direito seiscentos pesos ou oito escravos; quinhentos pelo esquerdo ou cinco escravos; por um olho cem pesos ou um escravo e idêntica quantia por um dedo; pela perna direita quinhentos pesos e pela esquerda, quatrocentos. Fonte: Alexandre Olivier Exquemelin, escritor francês , autor de um dos mais importantes livros sobre pirataria no século XVii, “De Americaensche Zee-Roovers”.

Ilhabela 25


Histórico

canhões da Vila

Corsários

Knivet

a diferença entre corsário e pirata é que corsário podia atacar e pilhar outras embarcações porque possuía a “Carta de Marca ou Corso”, ou seja, eles tinham permissão real para isso e era uma forma de enfraquecer a nação inimiga roubando-lhe suas riquezas. a Lei Internacional fazia essa diferenciação, assim, se um navio fosse apreendido e este apresentasse a tal “Carta”, esse seria julgado pelo Tribunal almirantado de forma mais branda do que se fosse um navio que não tivesse o documento.

habilidoso e inteligente pirata membro da frota de Cavendish, foi deixado na Ilha de São Sebastião com os pés gangrenados, após a morte de seu capitão. Escravo da Família Correia de Sá, sofreu muitos maus tratos e, graças ao seu jogo de cintura, sobreviveu a índios canibais, plantas venenosas e tantas outras adversidades, isso no Brasil selvagem na década de 1590. Deixou a nós um grande relato em seu livro, mais tarde publicado “as incríveis aventuras e estranhos infortúnios de anthony Knivet”.

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Defesa necessária Obviamente, o povoado da Ilha não era tranqüilo com os constantes ataques dos piratas, mesmo porque, os ataques, em sua maioria, eram ferozes. Então foram construídas fortificações dos dois lados do canal que separa o arquipélago do continente. Hoje ainda encontramos as ruínas desses fortes. Os locais eram estratégicos para poder fazer com que a artilharia alcançasse o meio das águas do canal. Os fortes da Ilha são: Forte Villa Bella da Princesa (hoje o centro turístico), Forte do Rabo Azedo (norte da Ilha), Forte da Feiticeira (sul da Ilha) e Forte Ponta das Canas (norte da Ilha). Essas construções foram decisivas na defesa do território, pois o porto de São Sebastião escoava os produtos auríferos das regiões de Mato Grosso e Goiás.

Telhas produzidas nas coxas

FOTOS TATYANA ANDRADE

Muitos fatos curiosos e lendas surgiram desde a vinda dos piratas à Ilha. Muitas histórias que despertaram a curiosidade humana falam sobre os tesouros enterrados pelos saqueadores. Uma das mais extraordinárias é a do Tesouro de Trindade, cujo engenheiro, Paul Ferdinand Thiry, relaciona esse tesouro com o suposto tesouro de Monte Cristo (romance do francês Alexandre Dumas). É isso mesmo, a insistência na caça à riqueza tornou-se uma obsessão cheia de enigmas decifrados. Infelizmente são poucas as páginas em que podemos escrever essa longa saga, mas o que se pode dizer é que este tesouro estaria supostamente enterrado no Saco do Sombrio por corsários que o pilharam dos espanhóis quando esses saíram corridos do General San Martin, no Peru, em 1821. O navio espanhol simplesmente sumiu com todo o ouro das igrejas. Mas havia um mapa do tesouro! Sim, e foi atrás dessa pista que o abnegado Thiry passou durante 40 anos estudando-a e envolvendo as pessoas. O engenheiro faleceu sem nunca conseguir seu intento, mas as buscas ainda continuam com seu amigo Osmar e seu filho Roberto. Outra curiosidade a cerca da pirataria é o povoado da praia do Bonete, também no leste da Ilha. A maioria dos moradores tem olhos de um azul profundo. Muitos dos que nasceram lá contam que seus antepassados eram descendentes de piratas. Há presença desses ilustres homens também na parte oeste da Ilha, na Fazenda da Toca, onde as ruínas de uma antiga fazenda ainda existem. Essa fazenda era do chamado pirata português Borges. Conta-se que ele era produtor de cana-de-açúcar e também traficante de negros. Para se chegar até lá, percorre-se um trecho de uma hora e meia, morro acima. O mais interessante do lugar, que chega até a ser perigoso, são os buracos escavados pelos caçadores de tesouros, pois acredita-se que Borges tenha enterrado suas riquezas no local. Mais tarde, o pirata mudou para a praia do Veloso, sul da Ilha, e montou outro alambique, onde passou seus últimos momentos.

Ruínas do pirata Borges

Ilhabela 27


Lenda

Em cada canto,

uma fábula

ILUSTRAÇÕES LAILTON ALVES

Piratas, engenhos e naufrágios ilustram a história de Ilhabela. Tudo isso combinado às paisagens misteriosas e emblemáticas, propicia o cenário perfeito para lendas e causos que só fazem do arquipélago um lugar mais sedutor. Para todo canto que se olha, um “dizem que ali...” ou um “aconteceu há muito tempo atrás...”. Para quem gosta de conhecer melhor onde está pisando, literalmente, não faltam histórias dos moradores para se encantar e se arrepiar.

Pedra do Sino A população da Ilha de São Sebastião ainda dormia naquela manhã em que os sinos alertaram a todos. Uma caravela de piratas desembarcou numa praia e já estavam prontos para atacar. O povoado, que contou com o comando do guerreiro São Sebastião, preparou-se e partiu para defender a ilha. Os intrusos foram expulsos e a calmaria se restabeleceu. Porém ficou uma dúvida: de onde vieram os sons de sino que despertaram o povo? Os únicos que encontraram uma explicação foram os índios, que apontaram para as pedras da praia Guarapocaia. Constatou-se então que, quando batidas, a pedras soavam como sinos.

Lenda da Feiticeira Piratas, marinheiros de navios negreiros e mercantes reuniam-se na taverna de uma rica mulher conhecida pelos habitantes da região como feiticeira. A dona do estabelecimento era a proprietária da Fazenda São Mathias que, no fim da vida, temerosa de um saque, mandou que seus escravos enterrassem o seu tesouro no local conhecido por Tocas e os matou para que não revelassem o segredo. Dizem que depois disso a feiticeira enlouqueceu e nunca mais foi vista.

Toca do “Come Bala” Um ex-combatente havia sido ferido e perdera sua perna durante um confronto. Sem encontrar ajuda, fez de uma toca, na praia da Armação, a sua moradia. Com suas histórias de guerras e combates, conquistou a amizade dos habitantes locais. Após a sua morte, sua toca ficou conhecida como toca do “Come Bala”. 28 Cidade&Cultura

Lenda do Portinho Maria Fixi, dona de uma fazenda no bairro do Portinho, era conhecida pela crueldade com que tratava seus escravos. Estes, cansados dos maus tratos, fugiram levando toda a prataria da dona. Vendo-se sem rumo, Maria Fixi recorreu a Santo Antonio, cuja imagem havia ganhado de um vendedor de escravos. Pediu ao santo que trouxesse seus negros de volta com a promessa de não mais bater neles. Foi então que os fugitivos depararam-se, durante a fuga, com um senhor bem velhinho segurando um cordão na mão, que os fez voltar para a fazenda. Maria Fixi recuperou tudo o que perdera e cumpriu sua promessa.


Praia da Caveira

ÀGUA !

Um galeão de escravos teria naufragado próximo à praia. Um padre que passava de barco pelo local encontrou os corpos boiando e os enterrou debaixo de uma enorme figueira. Dizem os moradores da ilha que, às seis horas da tarde, vozes podem ser ouvidas próximas à árvore. A praia ficou conhecida como Praia das Caveiras e ninguém arrisca morar lá.

Cachoeira da Laje Duas mulheres louras penteavam seus longos cabelos com pentes de ouro, enquanto o caiçara Manoel Leite Santana as observava. O povo local dizia que era a Mãe-de-Ouro. À noite ele voltou ao rio onde avistara as moças e encontrou no fundo um tacho de ouro. Tentou apanha-lo com um galho, mas não obteve resultado. Na manhã seguinte, Rafael, o encarregado do trabalho, voltou da mata apavorado dizendo que não podia contar o que havia visto, pois, se o fizesse, morreria logo. Rafael viveu muitos anos e jamais contou o segredo. A Cachoeira da Laje, por onde percorre o tal rio, é dita encantada, pois no fundo, existem malacachetas com mais de vinte centímetros de comprimento, que brilham como pedras preciosas.

Lenda da Cachoeira da Água Branca A lua cheia reflete nas águas da cachoeira da Água Branca uma beleza tão intensa que muitas pessoas se dizem atraídas. Diz a lenda que, entre dois braços da queda d’água, há um buraco bem fundo, onde acreditam estar enterrada uma “tacha” de ouro, na qual morar a Mãe d’Água ou Mãe d’Ouro.

Nega do Poço Uma antiga escrava que trabalhava na casa grande de um engenho de canade-açúcar, sentia-se muito, muito triste mesmo pelas grandes humilhações que seu sinhozinho a fazia passar. Melancólica sempre ia tomar banho em um poço na estrada desse engenho. Depois de mais e mais situações constrangedoras sofridas, a nega foi banhar-se no poço e não teve dúvida, ali se jogou para nunca mais voltar ao seu inferno terreno. Hoje, o poço ainda existe e suas águas ficaram escuras a partir do momento que a nega se jogou dentro dele.

Lenda do Peixe Tapa Um dia, São Pedro caminhava pelas praias de Ilhabela quando encontrou um linguado. Perguntou então se a maré iria encher ou vazar. O peixe, com descaso, imitou os dizeres de São Pedro com a boca torta e a voz fanha. O santo deu-lhe um tapa, dizendo: “Com os olhos para trás hás de ficar”. É com essa lenda que os pescadores explicam o apelido “peixe tapa” do linguado, que ficou com “os olhos por cima das costas, dum lado só”. Outra versão é a do pescador Pedro Jacinto, que diz que o peixe ficou com a boca torta ao virar-se para ver o sol.

Água da Saúde O corpo de um senhor idoso que morava na praia do Bonete era carregado enrolado em um lençol pela trilha do Palhal, pois seria enterrado no cemitério dos Castelhanos. No meio do caminho, os antigos moradores que conduziam o morto pararam para beber água em um córrego e, ao voltar, encontraram o velho sentado, pedindo água. Apavorados, saíram todos correndo deixando o senhor por lá mesmo. Esse córrego ficou conhecido como Água da Saúde.

Toca do Estevão Estevão era escravo em um engenho e almejava aprender a ler e escrever. “Sinhá” decidiu ensiná-lo às escondidas, pois tinha muito carinho pelo negro. Enciumado pela atenção dada a Estevão, o capataz delatou as “aulas” para o “Sinhô”, que, enfurecido, aprisionou o escravo. Estevão sofreu muitos castigos e torturas até que, com a ajuda de Sinhá que tinha a mãe dele como ama, fugiu do cativeiro. Sinhô notou a ausência do escravo e correu com o capataz e a polícia atrás de Sinhá e sua ama, que rapidamente deram um jeito de escondê-lo embaixo da longa saia engomada. As duas negaram firmemente ter visto Estevão. Nunca mais ele foi visto depois de esconder-se em uma toca logo acima do Engenho D’água. Os caçadores que passam perto da toca dizem ouvir os lamentos do escravo. Ilhabela 29


Naufrágios

As histórias submersas

resgatadas Um verdadeiro cemitério submerso faz das águas de Ilhabela um perfeito festival para mergulhadores. Muitas são as explicações

Crest No dia 12 de dezembro de 1882, naufragou um dos navios a vapor mais antigos de que se tem notícia em Ilhabela. A embarcação inglesa Crest saiu de Santos com destino à Nova York, transportando sacas de café. Porém, em meio ao mau tempo que se fazia, o trajeto acabou sendo desviado, direcionando Crest para o sudoeste de Borrifos, onde afundou com a força das ondas no costão.

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para tantos desastres navais, como por exemplo, o suposto magnetismo ou a “maldição” que o arquipélago possui. Mas deixando

os “achismos” de lado, os fatos são concretos, pois mais de 10 grandes naufrágios ocorreram por essas bandas.

Dart O cargueiro Dart levava, do porto de Santos para Nova York, o café do Oeste Paulista, além de 5 passageiros, malas postais e 56 tripulantes. Foi na noite de 11 de setembro de 1884 que uma forte tempestade empurrou a embarcação contra a Laje do Sapata, nos arredores de Alcatrazes e, logo em seguida, naufragou na Ponta de Sepituba, em Ilhabela. Todos os tripulantes e passageiros sobreviveram, exceto o Oficial Chefe Wilian T. J. H., que foi dado como desaparecido.

Caiçaras e mergulhadores chamam Dart de navio das louças, pois, por muito tempo, ainda encontravam-se, dentro dele, louças de porcelana inglesa com o brasão do correio britânico, que eventualmente eram vendidas na Vila. Velásquez O transatlântico Velásquez, da linha da Lamport & Holt, atracou no porto de Santos, vindo de Buenos Aires, para embarcar passageiros e 2.133 sacas de café, que seriam levadas para Nova


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York. No dia seguinte, 16 de outubro de 1908, chovia forte e o mar estava muito agitado quando Velásquez foi envolvido por uma vasta cerração. Não se sabe ao certo o motivo, mas há grandes probabilidades de que foi por erro de navegação que o transatlântico se chocou com as rochas de Bustamante, próximo à Ponta da Sela e afundou. Quase toda a tripulação e os passageiros se salvaram com botes. Muitos mergulhadores visitam o Velásquez pelo seu fácil acesso. Ainda é possível ver muitos pedaços do navio envoltos por uma grande variedade de peixes coloridos e outros tantos tipos de vida marinha. Hathor Noite de 24 de março de 1909. A tripulação de 22 homens do Hathor, da armada Gourlay, deparouse com uma forte cerração, no trajeto entre Rio de Janeiro e Santos.

Guarany Outubro de 1913. 51 homens estavam a bordo do rebocador Guarany, que fazia exercícios militares, próximo ao Farol da Ponta do Boi. Um navio mercante do Lloyd Brasileiro, o Borborema, aproximou-se do rebocador, tentando comunicar-se sem sucesso. A neblina que se instalava sobre o mar revolto facilitou a colisão entre as duas embarcações e o consequente naufrágio do Guarany. Somente 20 tripulantes sobreviveram salvos pelo próprio Borborema. O vapor encalhou na costa de Ilhabela, nos rochedos da laje próxima à Ponta da Sepituba. Therezina (Ex Siegmund) 47 mil sacos de farinha de milho e outras cargas foram despachados

do porto de Santos com destino à França, através do vapor brasileiro Therezina. Mas o inesperado aconteceu. No dia 3 de fevereiro de 1919, a estação telegráfica do Monte Serrat de Santos foi comunicada do encalhamento do vapor sobre as pedras do chapadão sul da Ponta do Boi, em Ilhabela. Relatos das embarcações que buscavam o resgate da tripulação do Therezina descreviam o navio quebrado em dois, em estado de perda total. Felizmente, todos foram salvos. Os motivos do encalhe são desconhecidos, sendo melhor aceita a suposição de que a correnteza fez o navio sair da rota e bater na costa da ilha. O Therezina tinha o nome de Siegmund, pois teve sua origem na Alemanha. Foi confiscado pelo governo brasileiro por refugiar-se em águas nacionais sem permissão, sendo então rebatizado e transformado em navio cargueiro. Sua hélice está exposta em frente ao Museu de Naufrágios. Ilhabela 31


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Naufrágios

Aymoré O cargueiro Aymoré, de nacionalidade brasileira, construído em 1883, foi mais uma vítima da neblina de Ilhabela. A embarcação ficou encalhada na Ponta do Ribeirão, próximo às ilhotas dos Moleques, na entrada do Canal de São Sebastião, em 1920. Foram muitas as tentativas de resgate, porém sem nenhum resultado. Aymoré foi abandonado e declarou-se sua perda total.

São Janeco Em Borrifos, encontra-se o São Janeco, embarcação inglesa que naufragou em 3 de fevereiro de 1929, exatamente 10 anos depois do naufrágio do Therezina. A possível causa teria sido o mau tempo, mas pouco se sabe sobre essa embarcação. Elihu B. Washburne Em 1943, o Capitão-de-Corveta Friedrich Guggenberg, muito reconhecido pelos seus feitos pela Alemanha durante a Segunda 32 Cidade&Cultura

Guerra Mundial, ganhou o comando do submarino U.513, que se deslocaria para a costa brasileira. Afundou o mercante sueco Venezia, no Rio de Janeiro, e explodiu o S.S. Tutoya, propriedade do Lloyd Brasileiro, no litoral sul de São Paulo. Guggenberg, então, costeou até a entrada sul do Canal de São Sebastião, onde ficou à espreita, pronto para pegar mais um navio. A estratégia teve êxito. Na manhã de 3 de julho, surgiu no horizonte, a sudoeste da Ponta do Boi, o Liberty Ship Elihu B. Washburne, que levava café do porto de Santos para os Estados Unidos. O navio foi torpedeado pelo U.513 e afundou. A tripulação de 42 marinheiros, 25 guarda-armados e os 3 passageiros foram salvos por balsas. O fim do U.513 se deu em 19 de julho, atacado por um avião, na costa catarinense. Guggenberg foi feito prisioneiro dos americanos e mais tarde foi levado para os Estados Unidos.

Campos (Ex Assuncion) O paquete Assuncion, de 1895, ficou a serviço da Hamburg-Sud por quase 20 anos, na linha AlemanhaBrasil-Prata, transportando, sobretudo, imigrantes no sentido norte-sul e café e algodão no sentido oposto. Em 4 de agosto de 1914, a embarcação encontrava-se atracada no porto de Santos, quando seus rumos começaram a mudar. Eclodia na Europa a Primeira Guerra Mundial. O Assuncion passou a transportar carvão como navio-auxiliar da armada alemã. Zarpou 5 dias mais tarde, navegando bem rente à costa para fugir ao controle dos cruzadores britânicos. Alguns dias mais tarde, foi convocado, via telégrafo, cruzador da Marinha Imperial alemã. Prestou serviços à Alemanha pela costa brasileira sem obstáculos. O navio estava no Pará quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha, sendo apreendido por nossas autoridades e entregue ao Lloyd Brasileiro. Passou a se chamar Campos e serviu por 26 anos à Marinha Mercante Nacional. Em outubro de 1943, em plena Se-


gunda Guerra Mundial, Campos foi atacado pelo submarino alemão U.170, próximo à Ilha de Alcatrazes. O vapor não resistiu aos torpedos e naufragou, matando 11 homens dentre os 57 tripulantes e os 6 passageiros. Concar O tempo traiçoeiro fez mais uma vítima. Dessa vez, um cargueiro espanhol, o Concar, que encalhou na Ponta de Piraçununga. A embarcação só naufragou 22 dias depois, em 29 de outubro de 1959. As várias tentativas de resgate que ocorreram nesse período foram inúteis. A agitação do mar não permitia que rebocadores se aproximassem. Logo as cargas começaram a cair no mar, não só as oficiais, mas também as contrabandeadas, como perfumes franceses, baralhos, licores espanhóis e máquinas de costura. Os caiçaras da região aproveitaram a fartura e “pescaram” muitos desses produtos, mesmo com a fiscalização da Alfândega e da Capitania dos Portos. O curioso nessa história é que eles não sabiam que o azeite

era comestível e acabaram usando-o para as lamparinas. Também os extratos de tomate ganharam uma nova função, mesmo que não muito eficiente: colorir as paredes. A tripulação se salvou e alguns ficaram mais um tempo no Brasil para depor no inquérito. Urucânia O pesqueiro Urucânia voltava de Itajaí e seguia para o Rio de Janeiro quando foi surpreendido por uma tempestade, que o levou a bater no Costão do Juquinha, perto dos Frades, em Ilhabela. Os vinte homens que tripulavam a embarcação foram salvos pelo pescador Brás de Carvalho, que recebeu homenagens pelo seu ato heróico. FB-22 A precariedade do Ferry Boat 22, que fazia a travessia São Sebastião-Ilhabela, fez a Capitania dos Portos tirá-lo de circulação. Durante a viagem até Santos, sendo rebocado pelo Servemar, o tempo virou, próximo à Ilha Montão de Trigo e o FB-22 não agüentou.

Alina P 30 de dezembro de 1991. As festas de fim de ano já preparadas para receber os turistas. Mas uma surpresa roubou a cena e chocou todos que estavam nas redondezas. Uma explosão na proa do petroleiro Alina P. causou tanto impacto que algumas casas em Barequeçaba tiveram suas vidraças estilhaçadas. A tripulação saltava para o mar. Começou, então, uma intensa operação de emergência que durou 18 dias e terminou com sucesso, em relação às proporções do desastre. Todo óleo foi reaproveitado, o navio foi totalmente lavado e os resíduos de óleo resultantes, removidos. Apenas um tripulante morreu carbonizado no incêndio. O aço foi reciclado e o restante da estrutura foi rebocado para alto-mar e afundado próximo a Alcatrazes. O navio foi saqueado por embarcações que esperavam a equipe se afastar do navio para roubar materiais e equipamentos.

Ilhabela 33


Naufrágios

Príncipe de Astúrias

Sua história Com o desenvolvimento do comércio na América do Sul, muitos construtores de navios viam a oportunidade de aumentar os seus ganhos, fazendo o transporte de pessoas e mercadorias nessa rota Europa-América. Por isso, a frota de Miguel Martinez de Pinillos e Sáenz de Velasco, proprietários da Pinillos, Yzquierdo y Cia., investiram bravamente nesse tipo de prestação de serviço. Construíram então dois navios de mesmo porte, o Infanta Isabel e o Príncipe de Astúrias, com capacidade para 1890 pessoas divididas em classes, sendo a menos favorecida para 1.500 passageiros alojados em cabines muito simples. O luxo também era marcante na decoração, com vários ambientes para a delícia dos embarcados na primeira classe. Para as cargas, esses gigantes do mar, tinham capacidade de carregar 16.500 toneladas.

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Vamos dar mais destaque a esse naufrágio por causa da grande repercussão que este deu ao Brasil e ao mundo. Segundo dados, foi o maior naufrágio brasileiro e o que mais histórias tocantes foram vividas. Numa noite tempestuosa de carnaval, passageiros da primeira classe que se deliciaram festejando Momo, dormiam cansados esperando pelo próximo baile. Era o dia 5 de março de 1916, às quatro hora da manhã, quando escutou-se um estrondo de bater em rochas. Correria e desespero misturados aos clarões dos raios que caiam no mar e em menos de 5 minutos todos os resquícios de música, de festa e todo o prazer foram literalmente por água abaixo. Era o paquete espanhol de nome Príncipe de Astúrias, que, com toda a sua majestade, submergia em águas brasileira, mais precisamente na Ponta da Pirabura no Arquipélago de Ilhabela. O trajeto interrompido O navio Príncipe de Astúrias saiu do porto de Barcelona, em 17 de fevereiro de 1916, com escalas em Valência, Málaga e Cádiz, passou pelo estreito de Gibraltar, aportou em Lãs Palmas com previsão de chegada ao Porto de Santos em 5 de março. Mas quis o destino que no meio do caminho ele encontrasse outro fim. Comandado por José Lotina, experiente profissional, o navio não escapou do grande festival de raios e principalmente do desvio de rota, que levou a embarcação muito próxima a uma das Pontas da ilha de São Sebastião,

onde raspou na lage submersa deixando um rasgo de 44 metros em seu casco. A partir daí, apenas poucos minutos se passaram para que a embarcação naufragasse de maneira cruel e insólita. Nesse instante, com a maioria dos passageiros dormindo, poucos puderam subir ao convés, afundando para seus fatídicos destinos. O socorro Graças à passagem do vapor francês Veja, que ia do Rio de Janeiro para Santos, é que muitos se salvaram, pois, passando pelo local, os tripulantes avistaram os sobreviven-


tes, resgatando 143 pessoas que foram levadas ao Porto de Santos. Outro meio de resgate foi o escaler (espécie de bote salvavidas de porte grande) que, com várias viagens da tripulação, conseguiu também salvar muitas vítimas, deixando-as nas pedras, em terra firme. A heroína Dificilmente, naquela época, homens admitiam que foram salvos por uma mulher. Mas felizmente foram, e essa mulher chamava-se Marina Vidal, que por ser excelente nadadora, teve o ato de coragem de nadar em águas tão revoltas e perigosas para resgatar seus semelhantes.

Os caiçaras Vários relatos dos que viram ou ouviram a história desse naufrágio contam que a região da Ponta da Pirabura é amaldiçoada, pois no local ninguém consegue passar, contabilizando mais de 10 desastres. Muito se fala do famoso Titanic, mas é certo que o naufrágio do Príncipe de Astúrias teve o mesmo

impacto que o inglês. Muitas histórias tristes de sobreviventes que, além de perderem todos os seus bens, porque muitos era refugiados da Primeira Guerra Mundial, e tinha no Novo Mundo, a esperança de começarem uma nova vida, perderam também seus maridos, esposas, filhos e filhas. Histórias comoventes como a de Ramon Hernandez, que atirou seu filho de três anos ao mar e depois foi procurá-lo, e quando resgatou a criança, percebeu que não era o seu, e sim filho de outra família já morta e o adotou. E hoje, o Príncipe ainda está lá, servindo de encanto e mistério para os que se atrevem a vê-lo.

Números • 150,8 metros de comprimento; • 19,1 m de largura; • 9,6 m de calado • Cofre: 40 milhões de libras esterlinas • Mais de 500 mortos

FOTOS REPRODUÇÃO

O tesouro que afundou Inúmeros são os tesouros afundados com o navio, desde barras de ouro, jóias de todas as espécies. foram muitas, e ainda são, as expedições de mergulhadores, que já conseguiram trazer à tona muitos deles. O Astúrias transportava, entre muitas cargas valiosas, o terceiro bloco de um total de três, que completaria o Monumento aos Espanhóis, na Argentina. Esse monumento era a representação das quatro etapas da conquista da Argentina (Andes, Rio da Prata, Rio Chaco e Pampas), e seria inaugurado em 9 de julho de 1916.

Parte do Monumento aos Espanhóis

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Faróis TATYAnA AnDRADe

Maquete do Museu natural

Mais que um

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Farol Ponta das Canas Situado ao norte da Ilha de São Sebastião, tem ao seu lado as ruínas de um dos quatro fortes do Arquipélago. Farol Ponta da Sela Localiza-se a sudoeste da Ilha de São Sebastião e é utilizado para sinalizar aos marinheiros a entrada do porto.

RobeRT WeRneR

Interessante olhar esse, que é o grande salva-vidas dos mares, de perto. Quando falamos em farol, falamos de sua estrutura e cores, mas nunca pensamos no que é a vida do grande motor desse engenho, que é o faroleiro. Esse profissional, na maioria das vezes, trabalha em locais totalmente isolados da civilização, pois os faróis são erguidos em pontos estratégicos. Os faroleiros são responsáveis pela manutenção do farol e precisam sempre procurar o que fazer, muitos são casados e só convivem com suas famílias uma vez por ano na época das férias, pois as crianças precisam estudar e, devido ao isolamento, uma escola sempre é muito distante. As atividades são: pescar, roçar, fazer trilhas e ler, ler muito. Saber conviver consigo mesmo é uma arte de amor próprio e estes profissionais são o maior exemplo disso.

aviso Farol da Ponta do Boi Situado no extremo sul da Ilha de São Sebastião, o farol foi construído em 1900 com material importado da França. Devido à sua localização e abrangência, ele está entre os dez faróis mais importantes do Brasil. Até a metade do século passado, o farol, em dias de nevoeiro, trabalhava com sinalização sonora, que de cinco em cinco minutos soava a buzina. Obviamente, hoje os bips emitem sinais que são captados pelas embarcações. O Farol recebeu este nome por estar localizado na ponta de um morro com o formato de um boi.



Arquitetura

A marca

colonizAdorA Ao observar as ruas de Ilhabela, fica bastante nítido o potencial turístico que o município-arquipélago apresenta. Restaurantes, galerias, lojas, hotéis e pousadas compõem uma infra-estrutura moderna, mas, o que muitos não sabem, é que algumas dessas edificações conservam vivos importantes momentos históricos como, por exemplo, os

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engenhos da Fazenda da Toca e o Engenho D’Água, que ainda exibem suas moendas e outros maquinários que produziram cachaça e melaço até os anos 80, remetendo-nos ao ciclo econômico da cana-de-açúcar, posteriormente substituído pelo ciclo do café. O Centro Histórico de Ilhabela, conhecido como Vila, é o local que mais abriga construções

antigas e merece especial destaque à Igreja de Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso e a antiga Casa de Câmara e Cadeia. Passear por Ilhabela é um convite que contrasta progresso com natureza exuberante, presente com passado. Sem dúvida uma harmonia perfeita aos mais diversificados gostos. O estilo arquitetônico e o tipo de


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Estilo Colonial possui grandes beirais para a proteção das paredes de pauà-pique ou taipa das águas pluviais, fachadas lisas devido à impossibilidade do Bairro receber ornamentos, no máximo saliências ou faixas, janelas simples em guilhotina.

Centro atual

material utilizado em cada construção sempre indicaram características culturais e sociais de um povo. Com a chegada dos colonizadores, as rudimentares residências de pau-a-pique, cobertas com o sapé e mais tarde com telhas, capa e canal, também conhecidas como “casas caiçaras”, foram substituídas por casas feitas em pedra e cal ou pedra e barro implantadas na região pelos segmentos sociais com maior poder aquisitivo. Nas regiões costeiras, as primeiras construções, após

a chegada dos colonizadores, utilizaram as matérias-primas disponíveis no local. Muitos sambaquis foram destruídos por serem fonte de cal originado das conchas ali depositadas, para a liga utilizavam também o óleo de baleia. Aos restos construtivos em pedra e cal verifica-se a presença de fragmentos de louça européia, oriunda de Portugal e mais tarde com a abertura dos portos, a faiança Inglesa, ao lado de inúmeros recipientes de vidro, além de talheres e outros objetos de metal.

Taipa de pilão é uma construção que consiste em levantar paredes de barro, comprimidas com golpes de pilão entre placas de madeira. é uma técnica de origem árabe, ainda muito utilizada em climas secos.

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Arquitetura

Igreja Matriz de Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso

Igreja Matriz

Estilo Eclético Caracteriza-se pela mistura de estilos arquitetônicos do passado criando uma nova linguagem que combina elementos da arquitetura clássica, medieval, renascentista, barroca e neoclássica, predominante desde meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Do ponto de vista técnico, a arquitetura eclética também se aproveitou dos novos avanços da engenharia do século XIX.

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É um monumento em estilo colonial construído entre 1697 e 1718, pelos escravos, que utilizaram como principal material a pedra, conchas e o óleo de baleia. Foi inaugurada no ano de 1806 e reformada em meados do século XX por Alfredo Oliani, misturando o barroco com o seu estilo original. No seu interior, guardase um belo painel dedicado a Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso. “Alfredo Oliani (São Paulo, 1906 + São Paulo, 1988) - freqüentou a Escola de Belas-Artes de São Paulo e a Academia de Belas-Artes de Florença. Em São Paulo, estudou com Nicola Rollo e Amadeo Zani, e na Itália com Giuseppe Grazziosi, autor de um excelente trabalho que se encontra no Cemitério da Consolação. Participou das coletivas do Salão Paulista de Belas-Artes, obtendo medalha de ouro e grande medalha de ouro. Um dos mestres do nu executou magníficos trabalhos no Cemitério São Paulo: lindas mulheres, em bronze, em sensual postura e soberbos grupos escultóricos onde o nu é exuberantemente apresentado. Assinava A. OLIANI.” Fonte:Portal.prefeitura.so.gov.br

Câmara Municipal É um edifício em estilo militar construído no princípio do século XX, ano de 1911. Fica bem em fren-


te ao canal de São Sebastião. Hoje funciona a Secretaria de Cultura, que possui salas com amostras de artesanato e rodas de farinha.

Cadeia antiga

Antiga Casa de Câmara e Cadeia Em estilo eclético, foi declarada Patrimônio Histórico no ano de 2001. Atualmente abriga o Museu de História Natural de Ilhabela.

apesar de vermos resquícios de grades e portões das celas, a cadeia do arquipélago nunca teve como “hospede” um preso de alta periculosidade. Estamos falando de 1914, época dourada em que as cadeias ficavam lotadas de presos que tomavam uma “biritinha” a mais. após o fechamento da cadeia, esse monumento histórico recebeu muitas entidades como a Câmara Municipal, Diretran, entre outros, e antes de virar museu, funcionou como a Delegacia da Mulher, até 1993.

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Cadeia

Fazenda Engenho D’água

Fazenda Engenho D’água Localiza-se a menos de 3km do centro da cidade, no bairro de Itaguanduba. Construiu-se no final do século XVIII, em 1785, e foi um dos maiores produtores de açúcar, aguardente, café e arroz de todo o município. Foi tombada pelo Condephaat como Patrimônio Histórico no ano de 1945. É impressionante suas dimensões e o local privilegiado onde foi construída.

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Artes

Fonte inesgotável de

inspiração

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Waldemar Belisário Em 1929, chega ao arquipélago, esse ilustre artista paulistano, nascido em 1895, que pintou, especialmente para levar à Europa, as maravilhas do local, porém o destino não fez com que Waldemar pudesse ir ao exterior, e este fixou-se bons anos em Ilhabela. Casou-se então com Celina Guimarães, que desenvolveu, junto à comunidade, o potencial artístico da população, surgindo assim vários nomes de expressão. Belisário era filho de pais italianos. Sua adolescência foi toda passada na Europa REPRODUÇÃO

Os encantos naturais de Ilhabela são uma fonte inesgotável de inspiração para os artistas. Aos olhos atentos dos amantes da arte, o colorido formado pelo verde das matas, aliado ao azul do mar e às águas cristalinas das inúmeras cachoeiras ganham contornos tão belos quanto aqueles que foram agraciados pela mãe-natureza. Andando pela Ilha, deparamo-nos com detalhes que nos mostram o capricho e o bom gosto que se espalham por todos os lugares. São inúmeras obras de arte pela orla de norte a sul da ilha de São Sebastião, que dão ao transeunte a sensação de estar passeando em uma enorme galeria de arte a céu aberto.

e o convívio com o meio artístico despertou-o para as artes. Entre os nomes que vieram a influenciar suas obras, temos Ficher Elponse e Pedro Alexandrino. Como sua irmã de criação, Tarsila do Amaral, Waldemar também foi premiado. Em 1916, conquistou o prêmio no Salão Nacional de Artes Plásticas do Rio de Janeiro. Junto a Henrico Manzo, liderou o grupo de artistas plásticos denominado “pintores de arrabalde”. Sua última exposição foi em 1975, a convite de Pietro Maria Bardi, no Museu de Arte de São Paulo – MASP.


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Pintores de arrabaldes São artistas que pintam os arredores das cidades. na semana de 22 de Arte Moderna, os “pintores de arrabalde” foram excluídos. Com esse fato, muitos ficaram revoltados, pois sua arte foi desconsiderada. Entre os mais conhecidos artistas desse segmento, estão Volpi, Reis Júnior, Visconti e Belisário. Por essa “injustiça” feita a nomes tão importante, é que Pietro Maria Bradi, em 1975 fez várias exposições com esses artistas e diz: ‘Êsses pintores de 80 anos, verdadeiros operários da pintura, eu os estimo como velhos artistas, mas, também, como artistas que vão ao campo e armam seus cavaletes, resumindo num painel a impressão da natureza...”

Pietro Maria Bardi nascido em 1900, na Itália, chegou ao Brasil após a Segunda Guerra Mundial e, com as obras trazidas da Itália, Bardi organizou a “Exposição de pintura italiana moderna”, em cujos salões conhece o empresário Assis Chateaubriand, que o convida para montarem juntos um museu há muito tempo idealizado. De 1947 a 1996 Bardi cria e comanda o Museu de Arte de São Paulo, MASP. Paralelamente, mantém sua atividade de ensaísta, crítico, historiador, pesquisador, galerista e marchand. Fonte: Instituto Bardi

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Artes Ateliê Sdondi No bairro do Perequê, encontra-se o Ateliê Sdondi, um aconchegante espaço que esbanja bom gosto e criatividade. Lá são encontrados vasos de flores, almofadas, xícaras com dizeres e letras de música, peças em cerâmica, chaveiros e etc. Todos esses objetos levam um toque pessoal de Sdondi, a Artista Plástica que montou o ateliê, e o sucesso é tanto, que suas peças estão espalhadas mundialmente. Natural de São Paulo mudou-se para Ilhabela faz 16 anos. Sua relação com a Arte é antiga, segundo ela, é uma paixão que existe desde que nasceu. Ao observar o espaço, é notável a percepção singular da artista que, em suas obras, registra fragmentos do dia-a-dia, como família, viagens, amores, tudo isso com muita dedicação, capricho e amor. Seu passo inicial foi aos 12 anos com a cerâmica que faz até hoje. A matéria-prima que utiliza são os tecidos como seda, algodão e microfibra que são transformados em painéis de fácil transporte ao cliente que deseja levar uma lembrança agradável da cidade. Outra característica de seu trabalho são as formas femininas presentes; vasos de flores que representam prosperidade bem como a leveza e o colorido das peças que traz uma sensação de alegria. Outra técnica utilizada é o batique e as pessoas gostam tanto que, quando chegamos ao ateliê, Sdondi não tinha nenhuma peça para nos mostrar. São encontradas também cangas pintadas com aquarela de tecido.

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Batique método manual de pintura sobre o tecido, originário da Indonésia. Técnica muito antiga que chegou à Europa pelos holandeses em suas expedições pelo continente Asiático. O processo consiste em cobrir áreas do tecido a serem trabalhadas com cera ou parafina, imergir o tecido em latões com tintas de cores variadas para o tingimento desejado de acordo com o desenho pretendido, retirar a cera ou parafina com água quente, lavar e passar.


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Talento Nato Wilson Foz possui o dom da arte desde cedo. Era daquelas crianças que, durante o tempo livre, fazia desenhos. O talento foi logo notado pelos seus professores, o que lhe rendeu uma parede inteira durante uma feira para expressar sua arte. Diferente de outros alunos, Wilson já colocava nas obras seu toque pessoal preocupando-se com movimento através de texturas e cores vibrantes. Aos 17 anos, matriculouse na Escola Panamericana de Arte e lá recebeu a recomendação de que não precisava fazer nenhum curso, pois tinha o dom e dessa maneira não pegaria vícios. A ordem foi comprar tintas e telas e mãos à obra. Ele achou um tanto quanto estranho, mas continuou sua busca até que em meados de 1989 fez um curso com Gilson Pedro no escritório de Artes de São Paulo, foi uma experiência enriquecedora à sua carreira, pois eram feitas releituras de quadros de Van Gogh usando técnicas variadas como creon, aquarela, acrílico e óleo e tudo isso de maneira inusitada, pois o processo de criação era feito ao som de violinos ou com a presença de odaliscas. Posteriormente chegou a passar no vestibular para Artes Plásticas, mas o curso foi adiado por só ter três alunos. Foi então que Foz resolveu seguir os passos de seu pai e prestar Direito, porém não concluiu, por uma boa causa; foi morar em Firenze, na Europa. Lá teve um contato maior ainda com a Arte devido ao fato dela estar em toda parte. Quando chegou, resolveu tentar um curso de escultura em mármore, mas não se animou e nesse instante percebeu que seu metié era mesmo a pintura. Depois retornou ao Brasil e ficou por quatro anos na capital paulistana, mas não estava satisfeito com a vida urbana então foi, aos poucos, distanciando-se dela. Durante anos trabalhou na fazenda de sua família, época em que parou de pintar e dedicou-se ao plantio de pupunha, uma espécie de palmito cultivado. Obteve sucesso suficiente com seu trabalho para voltar a pintar, só que dessa vez com o privilégio de poder retratar as diversas belezas naturais de Ilhabela, onde mora com sua esposa Raquel.

Ilhabela 45


Artesanato Traineira

A paciência

esculpida Criatividade e muito talento não faltam às habilidosas mãos dos artesãos de Ilhabela, que conseguem, através de seu trabalho, mostrar aos turistas fragmentos de elementos da cultura local, talhando com matériasprimas simples cada detalhe que irá compor peças diversificadas. A produção artesanal não perdeu seu espaço 46 Cidade&Cultura

diante dos avanços da modernidade e tem se adaptado às condições atuais utilizando outros materiais, além de representar importância econômica e cultural para a região. Exclusividade Pelos dedos de Luís Carlos Gonzaga Cardoso, mais conhecido como

nos detalhes

Carioca, matérias-primas simples, como latinhas de refrigerante, fios de telefones, garrafas PET, latinha de desodorante, coquinhos, palitinhos de churrasco e de dente são transformados em variadas peças. Mas o forte mesmo de Carioca são as balsas que realiza baseadas em fotografias; uma reprodução fidedigna em minia-


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Balsa

tura. Impressionante é a percepção detalhista do artista, basta observar atentamente a peça e conseguirá ler a seguinte frase: “Capacidade para 48 veículos” e a parte em amarelo que, segundo ele, é a casa da máquina da balsa. Pela riqueza de detalhes, imagina-se que Luís passou horas observando a balsa, mero engano. “Atravessei apenas 2 ou 3 vezes, gravei um pouco na memória e depois fui aperfeiçoando”, confessa. A produção delas é sempre feita em série, geralmente são executadas 10. Inicialmente começou a fazer chaveirinhos e imãs de geladeira,

Canoa de pescadores

até perceber que ninguém fazia balsas. Foi então que resolveu fazer a primeira e o sucesso foi tanto que não parou mais. “Hoje o pessoal vem de fora para buscar as peças”, afirma. O sucesso com elas levou-o a aumentar sua produção fazendo também variedades como o farol e a canoa com o pescador, todos encontrados no Espaço do Artesão do qual é cooperado. Sua história com o artesanato começou cedinho e talvez seja uma herança de seu pai que era marceneiro. Por volta dos seus 13 anos, aprendeu a lidar com as ferramentas. Em

seu ateliê, que também é sua casa, Carioca passa 10 horas trabalhando e faz cerca de 15 peças por mês. Gonzaga é daquelas pessoas que tem um espírito de coletividade movido pelas dificuldades que já passou ao longo de sua vida e tem o sonho de montar uma escola para tirar as pessoas da rua e dividir seu conhecimento. “Afinal ninguém nasce sabendo, alguém tem que ensinar alguma coisa”. Espaço do artesão Ponto de passagem obrigatório a todos aqueles que desejam coIlhabela 47


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Artesanato

Arte nAs gArrAfAs No bairro de São Pedro, sul da Ilha, a casa de farinha divide o espaço com a arte de Dalma Garcia dos Santos de Assunção. O ambiente é agraciado com o colorido dos desenhos feitos nas garrafas em massa corrida e depois pintados com tinta látex e tinto de gesso. Dalma aprendeu a pintar sozinha há quatro anos atrás, quando passou por uma operação. Seu envolvimento com a arte é tão grande que até sua geladeira é decorada com suas próprias mãos, dando um toque muito pessoal ao local. Quando perguntamos sobre suas expectativas para o futuro, a artista nos disse que pretende abrir um ateliê e a idéia é tão pertinente que até o nome ela já tem “Ateliê Dami das Garrafas”.

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Garrafas da Dalma

nhecer um pouco da cultura local através das obras dos artesãos. Lá é possível encontrar embarcações, velas, colares, brincos, bolsas, quadrinhos náuticos, peças de madeira, guardanapos, uma diversidade de cores, formas que deixa nítido o toque pessoal de cada artista. Mesmo com toda essa versatilidade, capaz de agradar aos mais diversificados gostos, há um ponto em comum, que é a reutilização de sobras da natureza, criando objetos que remetam à cultura local. O espaço funciona em esquema de cooperativa onde ocorre um revezamento e cada cooperado faz seu plantão de 4 horas, ao todo são cerca de 30 integrantes. Fomos recebidos por

Waldemar Barbosa, um dos associados do Espaço do Artesão. Nascido e criado no município arquipélago, está em terras ilhabelenses há 57 anos. Começou com a arte por curiosidade. Quando era garoto, comprava uma máquina daqui outra dali para fazer artesanato como barquinhos, martelinhos, canhões da ilha, os quadrinhos náuticos, mas agora ele participa do Espaço e quanto mais artesanato fizer, melhor. Sua principal produção é o barco típico de pesca, todo de madeira feito em casa. A maioria das peças são feitas de madeira, só a bandeira que é de papel, ele não gosta de colocar resina porque tira um pouco o valor. “Uma peça demora uma semana para ser feita porque temos outras coisas para fazer, se viver só de barcos ficamos a ver navios”. Nem sempre ganhou o pão com a habilidade de suas mãos. Trabalhou embarcado depois se aposentou em 1997, quando começou a fazer só artesanato. “É tudo feito em casa, eu não compro nada para colocar, a única coisa que eu coloco é a corda”. Habilidade e consciência social Conhecidos por seus belos barquinhos montados com uma pinça dentro de garrafas que paralisam os olhos, principalmente das crianças, Luís Alberto Suñiga nos recebe em sua casa, onde tem o privilégio de trabalhar rodeado pelos encantos da natureza. À frente de sua residência podemos avistar o mar e, no quintal, o cair das águas cristalinas de uma



Artesanato

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Espaço do Artesão

Galeões

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cachoeira. Uma combinação mais do que agradável à inspiração de um artista. Nascido em Santiago, no Chile, Luís saiu de sua terra natal aos 20 anos de idade, foi para Bolívia onde ficou por quatro anos. Antes de viver do artesanato, ele era cozinheiro marítimo. Em uma das férias que teve veio para São Paulo, na casa de um amigo em Perdizes. foi conhecer a feira de artesanato e artes do MASP e de tão vidrado que estava com o que via, empolgou-se com a idéia de fazer algumas peças e, no dia seguinte, comprou ferramentas, motorzinho, pinça comprida. Nessa época, já tinha 30 anos, mas desde os 10 anos adorava fazer barquinhos bem rústicos de madeira. “Comecei como uma espécie de terapia ocupacional, hoje é meu ganha-pão”, explica. Aprendeu tudo sozinho e diz que hoje tem condições de fazer qualquer modelo. faz 35 anos que Luís está em Ilhabela. Atualmente, sua relação com o artesanato mudou e passou a ocupar um espaço muito maior em sua vida. Esse talentoso artesão sofre de diabete e, devido à doença, começou a ter problemas de má circulação e infelizmente perdeu as pernas. Após essa perda não tinha mais condições de trabalhar como antes. Então resolveu dedicarse plenamente à arte de talhar com as mãos. “Hoje em dia tenho muito mais condições de fazer coisas do que quando eu tinha duas pernas”, revela. Os barquinhos são produzidos em série. “Nunca faço menos de

dez em garrafa grande e nunca menos de cinco em garrafa menor”. O barco dentro da garrafa é um tipo de quebra-cabeças. Primeiro, dá-se o formato, depois as peças são descoladas, trabalhadas, envernizadas, pintadas e depois são colocadas uma a uma dentro da garrafa. É feita a limpeza com esponja de aço e arame e o último procedimento é a quebra de um pedaço de imã que é jogado dentro da garrafa e depois

choacolhado para evitar que permaneçam lascas de aço que venham a enferrujar com o tempo. Para Luís, Ilhabela é um lugar lindo, maravilhoso. “Se tem um lugar do paraíso no mundo, é aqui”, explica. Luís tem em mente a concretização de um projeto social em parceria com a prefeitura, com o objetivo de dar um curso de Artesanato e Marcenaria para um grupo de 15 a 20 crianças carentes.



Folclore

Congada:

o som e a dança dos oprimidos

Quando os primeiros navios negreiros desembarcaram no Brasil, trouxeram da África, não apenas os escravos para trabalhar como mãode-obra nas fazendas e casas de colonos, mas também elementos que faziam parte de sua cultura, como crenças e gosto pela música e dança. A congada faz parte dessas tradições trazidas com os escravos. Em Ilhabela, o ritual é mantido há mais de dois séculos, sendo fiel às músicas, às fardas, às representações, aos toques de marimba e atabaques. O cenário acontece nas ruas da Vila e trata-se de uma apresentação teatral em que o enredo representa uma desavença entre dois grupos que desejam festejar em honra de São Benedito. Os congos dividem-se em dois grupos: os congos de cima que são os fidalgos do rei vestidos de azul e considerados cristãos e os congos de baixo também denominados de congueiros do embaixador, vestidos de rosa, 52 Cidade&Cultura

considerados pagãos. Acontecem três bailes ao som de atabaques e marimbas de madeira. O primeiro chama-se “Roldão” ou “Macamba” e trata-se de uma cantiga dos congos de baixo no momento em que vão guerrear. O segundo é “Alvoroço”, “Jardim das flores” ou “Baile Grande”, onde ocorre uma guerra bastante violenta. O terceiro baile é o “São Matheus”, onde o embaixador é preso duas vezes. A guerra acontece porque os congueiros do embaixador lutam para que ele, filho bastardo do rei, conquiste o trono. Em tempos remotos, a representação tinha data certa para acontecer: 3 de abril. Posteriormente, passou a acontecer em maio, época de lua cheia, quando os pescadores não saiam para pescar, podendo então participar da festa. A apre-

sentação acontece nas ruas da Vila e a programação acontece sempre em uma sexta-feira, com o levantamento do Mastro, em frente à Igreja Matriz, seguido pela realização de uma missa em homenagem a São Benedito. No sábado e no domingo, acontecem os “bailes de congos” e, por volta do meio-dia, é realizada a Ucharia, palavra que significa “despensa da casa real” e designa o lugar onde é servido o almoço dos congueiros e seus convidados. Por trás do canto e das danças dramáticas, esconde-se um cunho social que remete às lutas dos negros contra os brancos que invadiram a África em busca de escravos. No caso ilhabelense, a Congada é considerada uma das mais antigas do Brasil, mantendo uma fidelidade que resistiu aos séculos de opressão, inclusive por parte da Igreja.


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Semana da Cultura Caiçara

História da Congada em Ilhabela A origem dessa importante manifestação folclórica está totalmente ligada à chegada dos escravos a bordo dos navios negreiros. Em Ilhabela, o responsável pela disseminação da tradição foi o escravo Roldão Antônio de Jesus que, no ano de 1785, desembarcou na praia de Castelhanos e foi vendido para a Fazenda de São Mathias, no bairro de Cocaia. Muito devoto de São Benedito, difundiu suas crenças entre os demais. Nascia aí uma das mais importantes manifestações culturais da cidade que sobreviveu aos séculos. Até hoje todos os participantes da Congada consideram-se escravos, devotos assíduos de São Benedito, fazendo promessas. A devoção é tamanha que nunca se apresentam em outra ocasião a não ser na festa de homenagem ao santo. As primeiras manifestações da congada eram de responsabilidade total da família de Benedita Esperança, também escrava da Fazenda São Mathias. Posteriormente essa família organizou a Confraria de São Benedito, mais tarde extinta pelas autoridades religiosas em meados da década de 40 que proibiram a entrada dos congos na igreja.

Congada Mirim Visando a garantia da tradicional festa através das próximas gerações, todo ano, após o levantamento do mastro de São Benedito, atividade que marca o início das comemorações da Congada, a Secretaria de Cultura promove o evento em versão mirim, encenado por pequenos caiçaras, filhos ou netos de congueiros que assumem a responsabilidade de manter viva a importância da cultura e história de seus ancestrais.

Caiapó É uma dança coletiva de origem indígena que simula combates, ritmados por chocalhos, pandeiros, reco-recos, zabumba, entre outros instrumentos.

Balaio O nome da dança advém do formato que as saias das damas adquirem depois de girarem rapidamente em torno de si. Geralmente é dançado em dois círculos: as mulheres ficam no centro e os homens, do lado de fora. Em alguns momentos dançam juntos, em outros separados. Há também sapateados e todos cantam.

Com o objetivo de preservar a tradição da Congada e outros aspectos importantes da cultura caiçara, a Prefeitura Municipal de Ilhabela, através da Secretária de Cultura, instituiu a lei Municipal nº 894/00. A programação é recheada de exposições, apresentação de vídeos, música, teatro, dança e culinária. É comum no litoral brasileiro, devido à influência do turismo e da migração, as tradições culturais perderem sua força com o passar dos anos. Com o intuito de realizar um trabalho de resgate e conscientização da cultura, através de pesquisa, para disseminação do modo de vida caiçara, o projeto possibilita à comunidade voltar às suas origens.

Fandango Em Ilhabela, o tradicional fandango ganhou os costumes caiçaras. Movimentos vivos e agitados, acompanhados de sapateado ou em roda, arrancam sorrisos dos dançarinos e dos espectadores. O ritmo é levado com viola, sanfona, cavaquinho e rabeca. É um gênero musical e coreográfico fortemente associado ao modo de vida da população caiçara, exaltando a organização de trabalhos coletivos.

Dança do Vilão A dança do Vilão é uma manifestação coreográfica folclórica que exige muita habilidade. Os bailarinos são os batedores. São assim chamados pelo fato de dançarem com longos bastões nas mãos, batendo-os uns contra os outros. A movimentação é vigorosa, sempre acompanhada das batidas rápidas e sincronizada dos bastões.

Ilhabela 53


Meio ambiente Aprendemos na escola que ilha significa um pedaço de terra cercado de água por todos os lados. Simplista ou não, essa definição ficaria melhor para Ilhabela se acrescentássemos: “cercada de águas e praias maravilhosas por todos os lados”. Não há como negar que, ao chegar ao arquipélago, temos uma sensação de isolamento, porém ao desembarcarmos, o que sentimos é o prazer de estar em um dos lugares mais esplendorosos do mundo.

Um arquipélago cercado de

bele


zas RobeRt WeRneR


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Meio Ambiente

Não é de hoje que Ilhabela encanta seus visitantes. Prova disso é a frase que Américo Vespúcio disse quando esteve de passagem por aqui: “Se realmente existisse um paraíso na Terra, certamente estaria muito próximo a esta região”. Bem, passaram-se muitos e muitos anos desde a chegada de Vespúcio, mas sua frase se encaixa perfeitamente com a cena que hoje pode ser observada. Considerado um santuário ecológico, com natureza exuberante, praias de águas cristalinas, cachoeiras, piscinas naturais e tudo isso temperado com muito verde da Mata Atlântica. Localizada no Litoral Norte do Estado de São Paulo, Ilhabela é o único município arquipélago marinho brasileiro. O arquipélago de Ilhabela possui área territorial de 348,3km² (IBGE) e suas principais ilhas são as de São Sebastião (a maior e onde está localizada a área urbana do município), dos Búzios, da Vitória e dos Pescadores, abrangendo, ainda, 12 ilhotas, entre elas os das Cabras, da Sumítica, da Serraria, dos Castelhanos, da Lagoa, da Figueira e das Enchovas. Com 337,5 km² (IBGE) de área, a Ilha de São Sebastião enconstra-se separada do continente pelo Canal de São Sebastião - cujo nome original é Canal de Toque-Toque - e possui perto de 120 quilômetros de orla costeira, onde estão localizadas 42 praias principais. O Parque Estadual de Ilhabela compreende uma área de 270,03 km², o que equivale a 77,6% do território do arquipélago, abrigando a maior porção insular da Mata Atllântica em todo o planeta, reunindo flora e fauna exuberantes, além de centenas de cachoeiras e dezenas de trilhas cortando a floresta. Ao todo, 84% do arquipélago é coberto pela Mata Atlântica, a maior abrangência dentre os municípios brasileiros. 56 Cidade&Cultura

Clima O clima da região é subtropical com presença de massas de ar quente e fria simultaneamente bem distribuídas ao ano, com temperaturas médias de 22 e 23 graus.

Hidrografia É composta pelos seguintes rios e ribeirões: Perequê, do Cego, da Toca, de Água Branca, do Zabumba, da Corrida, da Laje, Bonete, das Enchovas, dos Castelhanos, da Riscada e do Poço.


A vegetação Mata Atlântica - espalhada ao longo da costa brasileira, a Mata Atlântica é um complexo conjunto de ecossistemas de grande importância por abrigar uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, reconhecida nacional e internacionalmente no meio científico sendo considerada a floresta mais diversificada do planeta. O elevado índice de chuvas ao longo do ano permite a existência de uma vegetação rica, densa, com árvores que chegam a 30m de altura como: jequitibá-rosa, quaresmeira, palmito, jacarandá, pau-ferro, murici, jambo, jambolão, xaxim, paineira, manacá-daserra, figueira, angico, guapuruvu, maçaranduba, ipêamarelo, jatobá, imbaúba, canela-amarela, que são os destaques dessa floresta. A Floresta Atlântica é uma floresta tropical plena, associada aos ecossistemas costeiros de mangues nas enseadas, foz de grandes rios, baías e lagunas de influência de marés, matas de restinga nas baixadas arenosas do litoral, às florestas de pinheirais no planalto, do Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e ainda aos campos de altitude nos cumes das Serras da Bocaina, da Mantiqueira e do Caparaó. A maior parte das espécies da fauna e da flora brasileira, em vias de extinção, é endêmica. Fonte:http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./ natural/index.html&conteudo=./natural/biomas/mataatlantica.html

A Floresta latifoliada tropical é a mesma floresta úmida da encosta, mas se desenvolve nas vertentes das serras, à retaguarda do mar, não influenciadas diretamente pela umidade marítima. Muito densa, apresenta espécies bastante altas e de troncos grossos. No entanto, quando se desenvolve em solos areníticos, ou de calcário, o aspecto da floresta modifica-se completamente: ela se torna menos densa, com árvores mais baixas e de troncos finos. Quase inteiramente devastada, por possuir solos férteis para a agricultura, restam, de sua formação original, apenas, alguns trechos esparsos. O nome latifoliada deriva do latim (lati = “largo”) e indica a predominância de espécies vegetais de folhas largas. Fonte: Wikipedia

Manguezal é encontrado em ecossistemas litorâneos e cumprem os importantes papéis de absorverem a ação diuturna das marés de água salgada ou salobra, de estabilizarem terrenos, de constituírem ricos berçários naturais e de exportarem nutrientes para ecossistemas adjacentes. Fonte: Secretaria do meio ambiente de São Paulo


Meio Ambiente

Parque Estadual de Ilhabela Criado em 1977, tem como objetivo garantir a proteção dos remanescentes da Mata Atlântica. Ao todo o Parque compreende 27.025 hectares que englobam 85% do município de Ilhabela. Ao longo do parque, encontram-se diversas praias exuberantes, cristas, picos de montanha, córrego, riachos, muitas cachoeiras, além de ilhas e ilhotas que abrigam diversificada fauna e flora. Características essas que fazem a região apresentar enorme potencial turístico. Através do decreto-estadual 9.914, o Parque Estadual de Ilhabela é uma unidade de conservação de proteção integral que tem por objetivo garantir a preservação de importantes áreas remanescentes da Mata Atlântica, que é um dos biomas mais ameaçados do planeta. Conversamos com Carolina Bio Poletto que, desde junho de 2007, é responsável pela gestão do Parque Estadual de Ilhabela. Ela nos explicou que, de acordo com a legislação federal, as unidades de conservação podem ser divididas nas categorias de Proteção Integral ou de Uso Sustentável. Como Proteção Integral entenda-se a manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais para fins educacionais, de turismo, recreação e pesquisa científica. Assim, o parque classificado como sendo de Proteção Integral - que é o caso em Ilhabela - não permite o uso direto da terra, sendo proibida a edificação de moradias e estabelecimentos comerciais, bem como a implantação de loteamentos e condomínios. Nas unidades de conservação de Uso Sustentável a exploração do ambiente deve ocorrer de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável. Embora seja uma unidade de proteção integral, o Parque Estadual de Ilhabela abriga 10 núcleos da comunidade tradicional caiçara, estando eles localizados nas ilhas dos Pescadores, da Vitória, dos Búzios, no Saco do Sombrio 58 Cidade&Cultura

e na Praia da Figueira. Os habitantes desses núcleos inseridos no Parque sobrevivem, quase sem exceção, da pesca artesanal, vendendo a produção excedente. Alguns plantam - para consumo próprio - feijão, milho e, principalmente mandioca, sendo que outros poucos produzem artesanato. O passeio pelo Parque inclui uma série de atividades que permite ao visitante desfrutar das maravilhas naturais que rodeiam a região. Aqueles que desejam observar a rica biodiversidade da Mata Atlântica podem iniciar a visita com a trilha da Água Branca, com 2.145m de extensão. Ao longo do percurso, podem ser avistadas inúmeras espécies de pássaros, cachoeiras e piscinas naturais de águas cristalinas. Foram identificadas, no Parque, 248 espécies de mamíferos e 53 espécies de anfíbios e répteis, boa parte restrita especificamente ao ecossistema local (espécies endêmicas). Além disso, 14 espécies de aves, 8 espécies de mamíferos, 6 de répteis, 1 de anfíbio e 1 de invertebrado, estão incluídas na relação da fauna brasileira de extinção. Complementa-se a função faunística do Parque com sua utilização como ponto de descanso e alimentação de uma enorme variedade de espécies de aves migratórias de longa, média e curta distância. No primeiro caso, estão aves como as batuíras e os maçaricos, provenientes do hemisfério norte, e os albatrozes, provenientes de ilhas sub-antárticas, além dos trinta-réis de bico vermelho. Já entre os mamíferos, destaca-se a presença das três espécies de baleias e, entre os répteis, de 5 espécies de tartarugas marinhas. Entre os migrantes de média distância, encontramse aves como as guaracavas, marias-cavaleiras e tesourinhas, provenientes do planalto central brasileiro, e mamíferos como a toninha e o boto, vindos das regiões do sul do Trópico de Capricórnio. E, entre os migrantes de curta distância, há aves que realizam apenas deslocamentos de altitude, como o beija-flor-preto-e-branco e outras vindas do sul, como o caminheiro.


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Faces de Ilhabela a Prefeitura de Ilhabela em parceria com o Parque Estadual apresenta a mostra “Faces de Ilhabela”, montada no antigo Fórum na Vila. ao todo são cinco salas com exposições que retratam história, meio ambiente e cultura do arquipélago. a primeira sala, denominada “Fragmentos do Tempo”, apresenta uma parte do acervo do Instituto Histórico, Geográfico e arqueológico de Ilhabela, inclusive os restos mortais do “Homem do Sambaqui”, que viveu no arquipélago há dois mil anos. Na sala “Caminhos da Mata” é possível conhecer parte dos atrativos naturais do Parque Estadual de Ilhabela. asala “Povo e Tradição” mostra a comunidade tradicional caiçara e seus costumes. Na sala “Bichos do arquipélago” está uma amostra da rica fauna do município. a sala “Mata” fala sobre a Mata atlântica que cobre o arquipélago. Vale a pena conferir!

Conscientização Este é o tema que hoje norteia a maioria das atividades realizadas dentro do Parque das Cachoeiras, que abriga também a sede da Secretaria Municipal do Meio ambiente, localizada dentro da antiga Usina Térmica que abastecia o município até o final da década de 60. Vem sendo visitado por muitas escolas de dentro e de fora do município e convidam o visitante a fazer uma viagem pela biodiversidade da Mata atlântica, incluindo passeios pelas trilhas e visitas às cachoeiras.

Parque Municipal das Cachoeiras É a primeira Unidade Municipal de Preservação de Ilhabela e faz parte de um projeto que prevê uma série de ações promovidas pelo poder público municipal em parceria com o Governo do Estado, que tem como objetivo minimizar os efeitos do preocupante crescimento e desenvolvimento da região. Tendo como principais vilões a ocupação desordenada e a especulação imobiliária, a preservação de Ilhabela deixou de ser uma preocupação apenas política para se tornar tema de discussão entre a sociedade, que viu sua população saltar de 13 mil para mais de 26 mil habitantes em apenas 15 anos e que sabe, sobretudo, que a cidade não tem condições estruturais para continuar crescendo neste ritmo.

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REPRODUÇÃO

Meio Ambiente

Fauna Tangará

Pica-pau É uma ave da ordem Piciformes, de tamanho pequeno a médio com penas coloridas e, na maioria dos machos, com uma crista vermelha. Vivem em bosques, onde fazem seus ninhos abrindo uma cavidade nos troncos das árvores. Alimentam-se principalmente de larvas de insetos que estão dentro dos troncos de árvores, alargando a cavidade onde se encontram as larvas com seu poderoso bico e introduzindo sua língua longa e umedecida pelas glândulas salivares.

É um animal endêmico de Ilhabela. É um roedor silvestre que vive na Mata Atlântica. Com risco de extinção, poucas vezes são encontrados.

Caxinguelê

É conhecida em todo o Brasil pelo seu grito alto e estridente. Fora de São Paulo, em outras regiões do país, ela é conhecida por Guiraponga, Ferreiro ou Ferrador, sendo que esses dois últimos nomes vêm do seu grito, que imita com perfeição o trabalho de um ferreiro, primeiramente como uma lima e a seguir com a batida estridente de um martelo sobre a bigorna. O nome tem origem na corruptela da locução tupi: guirápomba, que significa o pássaro martelante. Fonte: http://www.petbrazil.com.br/bicho/aves/araponga.htm

Ele impressiona pela quantidade e sua picada pode provocar reação alérgica. É uma pequena mosca e, no Brasil, ocorrem pelo menos 40 espécies. De hábitos diurnos, somente a fêmea é hematófaga, com os machos alimentando-se exclusivamente de pólen. A fêmea necessita de sangue para amadurecer os ovários, depositando seus ovos em galhos, pedras e folhas localizadas nas águas limpas e correntes das cachoeiras.

É uma das cobras mais perigosas e venenosas da Mata Atlântica. Mede, em média, cerca de 1,20m, porém há relatos de cobras com 2 metros de comprimento. Com esse tamanho, ela passa a ser denominada de jararacuçu A Jararaca possui desenhos que lhe proporcionam uma excelente camuflagem, sendo difícil a visualização do animal, mesmo para olhos experientes. Sempre que for pegar algo no chão, ou caminhar na mata, use um calçado, de preferência uma bota, e olhe bem por onde pisa. Quando filhote, a Jararaca, como a maioria dos membros do gênero Bothrops, possui a extremidade da cauda ligeiramente clara ou amarelada. Isto porque, ela utiliza a cauda para engodar (atrair) pequenas rãs e sapos, bem como pequenos lagartos, do qual se alimenta. Quando adulta alimenta-se principalmente de pequenos roedores. Seu nome tem origem na locução tupi ya-ra-raca, que significa “aquele que agarra envenenando. Fonte: www.saudeanimal.com.br

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Jararaca

Borrachudo

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Fonte:http://www.saudeanimal.com.br/tangara.htm

Araponga

Cururuá

Também conhecido como serelepe, cutia-de-pau e caxinxe, é facilmente encontrado em Ilhabela, inclusive na área urbana. É um roedor de hábitos diurnos e de habitat preferencialmente arborícola, alimentando-se de frutas, milho, e, principalmente, dos coquinhos das palmeiras jerivá, indaiá e patí.

É conhecido no Brasil desde o século XVII, quando um naturalista de nome Macgrave visitou nosso país e descreveu inúmeros representantes da nossa fauna e flora. Esta ave dá um toque latino-americano à América do Norte durante a primavera e o verão. A maior parte das 200 espécies de tangarás vive na América Central e do Sul. O tangará raramente pousa no chão, passando a maior parte do tempo em árvores ou arbustos. Alimenta-se de frutas, grãos, sementes e insetos. Algumas espécies vivem em bandos; outras são solitárias. O nome tangará e significa o pulador, o dançarino


Flora Samambaias são muito encontradas nas áreas cobertas por Mata Atlântica. samambaia, na língua tupi, significa: corda trançada, emaranhada. Na Ilha é comum encontrar espécies junto aos barrancos e pedras, principalmente próximos a cachoeiras.

Capim navallha com folhas afiadíssimas, corta com a eficiência de uma navalha, por isso o nome. O contato da folha com a pele, conforme seja o vigor e a rapidez da fricção, pode deixar talhos profundos na epiderme. Por isso é bastante respeitado e evitado. Não serve para alimentação animal. Também é chamado de “tiririca” e adere às roupas, com a mesma firmeza e som do velcro ao ser aberto.

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Figueira Também é conhecida como fícus, gameleira (ou gomeleira) e caxinguba, palavra de origem tupiguarani. Há mais de 1000 espécies de figueiras no mundo, especialmente em regiões de clima tropical e subtropical e onde há presença de água. O gênero Ficus é um dos maiores do reino vegetal. Por fornecerem alimentos a aves, símios, morcegos e outros animais dispersores de sementes, elas têm importância na preservação das vegetações nativas tropicais e subtropicais. Os figos caídos no solo e na água servem também de alimentos a vários outros animais, incluindo peixes e insetos.

Jaqueira A jaca é o fruto da jaqueira, árvore tropical trazida da Índia para o Brasil no século XVIII. É uma árvore que chega a 20 m de altura e seu tronco tem mais de 1 m de diâmetro. É cultivada em toda região Amazônica e toda a costa tropical brasileira, do Pará ao Rio de Janeiro. A fruta nasce no tronco e nos galhos inferiores da jaqueira e são formados por gomos, sendo que cada um contém uma grande semente recoberta por uma polpa cremosa. Apresenta cor amarelada e superfície áspera, quando madura. As variedades mais cultivadas da jaqueira são: jaca-dura, jaca-mole e jaca-manteiga. O fruto chega a pesar até 15 Kg. É rico em carboidratos, minerais, como cálcio, fósforo, iodo, cobre e ferro. contém vitaminas A, c e do complexo B. Pode ser consumida in natura, cozida, na preparação de doces e geléias caseiras. As sementes, sem pele e cozidas também podem ser consumidas como tira-gosto. O bagaço da fruta é utilizado na preparação de sucos, geléia e doces. Fonte: Equipe Brasil Escola

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Meio Ambiente Praias do Centro

Praias As praias mais urbanizadas ficam do lado continental da ilha (oeste). No lado oceânico (leste), ficam belas praias desertas e vários navios naufragados. Tudo no Arquipélago, apesar de falarmos de ilhas, é grande e, muitas vezes curioso. Se observarmos o mapa e relacionarmos os nomes aos locais, veremos que muitas

bacias são denominadas de “saco”, como o Saco do Sombrio e Capela e as extremidades são chamadas de “pontas” como Ponta do Boi e das Canas. E a grandiosidade é notada em horas de caminhadas para se chegar a nascente de um rio. No caso do rio da Toca, são necessárias sete horas de subida.

Praia de Itaguassu FOTOS RObeRT WeRneR

Praia tranquila, ideal para a prática de exercícios físicos ou desfrute das inúmeras opções de bares, restaurantes e quiosques ali encontrados. Itaguaçu na língua indígena significa “Lugar de Pedras Grandes” ou “Viveiro de Pedras Grandes”.

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Praia do Perequê É uma das maiores da ilha e dona de exuberante beleza; uma combinação de mar azul, areias claras e altos coqueiros atrai um número alto de frequentadores, principalmente na temporada, quando acontecem muitos eventos. Em Tupi, perequê significa “praia”.

Praia de Itaquanduba Com apenas 100m de extensão, sua denominação possui origem tupinambá e significa “pedra que rola”. Atualmente abriga a Marina Porto de Ilhabela.

Praia Pontal do Pequeá Localizada no Saco Grande é bastante frequentada. O visitante desfrutará de muitas opções de lazer.

Praia de Santa Tereza Conhecida como praia dos pescadores, lá o visitante pode comprar peixe fresco todos os dias. Está situada no Saco do Indaiá.

Praia do Engenho D’ Água É assim nomeada porque nela existe um antigo engenho de cana-de-açúcar, patrimônio histórico da cidade. Rodeada por coqueiros e chapéus de sol, é bem tranquila, o que favorece a prática de esportes náuticos.

Praia da Vila Situa-se no centro histórico de Ilhabela, sendo mais frequentada nos dias de maré baixa, quando aparecem pedras junto aos coqueiros, criando um visual de arrancar suspiros de entusiasmo dos visitantes.

Praia do Saco da Capela Abrigada das correntezas e ventos, inúmeros veleiros e lanchas estão atracados nas águas tranquilas em frente ao Iate Clube. Interessante é ouvir o som das embarcações ancoradas. Ilhabela 63


Meio Ambiente Praias do Norte

Praia do Jabaquara

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Antiga sede de fazenda, fica a 16Km do centro. Essa praia é bem preservada, rodeada de árvores e cortada por dois riachos, um em cada extremidade. Para quem quer sossego, é uma ótima dica.

Praia do Pinto Localiza-se a 6Km ao norte da Vila. Antigamente, era uma colônia de pesca que foi substituída por um condomínio de casas de veraneio.

Praia da Armação Localiza-se ao lado do farol da Ponta das Canas. Cortada por dois riachos, é uma das mais freqüentadas pelos amantes de esportes náuticos. Possui esse nome por ter sido ponto de corte de baleias.

Praia da Pacoíba Possui 200m de extensão. O acesso ao local é feito por uma pequena trilha. No local, funcionavam dois engenhos em que podem ser vistos.

Guarapocaia Palco de lendas em especial uma, que deu origem a seu nome. A faixa de areia é coberta por altas palmeiras e coqueiros distribuídos pela praia. 64 Cidade&Cultura

Praia do Barreiro Possui aproximadamente 600m de extensão, sendo uma das maiores praias.


Praia da Siriúba Tranqüila e pouco frequentada esconde, no canto da praia, uma igrejinha entre as pedras. O pôr do sol vale a visita.

Praia do Rabo Azedo Praia da Fome

Localiza-se a apenas 5Km do centro de Ilhabela, localizada ao norte da ilha, com 150m de extensão.

Possui 150m de extensão, seu acesso é dado através de trilha ou mar. É cortada por dois riachos. Foi o principal ponto de tráfico de escravos e assim se chama porque ali os escravos eram alimentados depois da longa viagem da África, para depois serem comercializados conforme seu peso.

Praia Mercedes Localiza-se a 2,5Km ao lado norte da Vila, e a 8,5Km da balsa. Não é muito conhecida por localizar-se atrás dos muros de um grande hotel. É ideal para banhos de mar.

Praia do Poço

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Localiza-se após a praia de Jabaquara e seu acesso é feito através de trilha. Nela, encontra-se um poço natural que deu origem ao nome da praia. Com 50m de extensão, é desabitada e primitiva, abrigando ainda um sítio arqueológico.

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Meio Ambiente Praias do Leste

Praia do Guanxuma É a menor praia da ilha, com apenas 15m de extensão. O acesso é feito pelo mar ou por trilhas que saem da Praia do Eustáquio e Caveira. Abriga uma comunidade com algumas famílias e também uma escola de ensino fundamental.

Praia da Caveira Praia deserta com cerca de 50m de extensão. Localiza-se ao lado leste da ilha e seu acesso é dado por mar ou trilha a partir da Praia da Serraria. Possui esse nome devido ao fato de terem sido encontrados na região muitos corpos dos inúmeros naufrágios que ali aconteceram.

Praia do Gato Praia de Castelhanos No passado, o local era usado como refúgio de piratas. Ao todo, possui 1,5Km de extensão coberto com enorme faixa de areia branca, dois riachos transparentes e uma enorme cachoeira. Seu acesso se dá por mar ou pela estrada que corta a Ilha, com cerca de 20Km de comprimento.

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Praia de tombo com mar bem agitado o que a torna imprópria ao banho devido à quantidade de pedras encontradas. Chega-se a ela por trilha saindo de Castelhanos.

Praia do Saco de Eustáquio Águas transparentes. Possui sua orla cortada por um riacho e uma vila de pescadores.


Praia do Saco do Sombrio A praia guarda lendas de tesouros enterrados por piratas franceses, ingleses e holandeses que ali se refugiavam.

Praia Mansa Possui 250m de extensão e, como seu próprio nome diz, a água é mansa. Abriga uma escola e uma câmara fria, onde os peixes são estocados. tem a segunda maior frota de canoas do Arquipélago.

Praia Vermelha

Praia da Figueira

O acesso a essa praia é feito através de uma trilha de 5Km a partir da praia de Castelhanos. Lá vive uma comunidade que conserva antigos costumes, sobrevivendo através da pesca.

Localizada dentro do Parque Estadual de Ilhabela, em uma pequena bacia dos Castelhanos. Sua extensão é pequena e o acesso a ela se dá por meio de trilhas a partir da praia de Indaiatuba.

Praia da Serraria

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Possui 100m de extensão e pode ser acessada por mar ou trilha de alto grau de dificuldade partindo da praia de Jabaquara. É muito visitada por mergulhadores. De frente à praia, encontrase a Ilha da Serraria.

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Meio Ambiente TATYANA ANDRADE

Praias do Sul Praia da Feiticeira Localiza-se a 5Km da balsa, ficando entre a praia do Portinho e a praia do Julião, possui 250m de areias grossas em formato de tombo, duas cachoeiras que desaguam entre a praia e a costeira sul. Antigamente, abrigava um engenho, sendo hoje a Fazenda São Mathias. Seu casarão tem estilo colonial e ocupa toda a ponta esquerda da praia.

Praia do Curral É uma das praias mais frequentadas e procuradas da ilha. Um dos atrativos mais belos é o pôr-do-sol.

Praia de Indaiaúba Escondida no meio da Mata Atlântica, possui vários pontos indicados para a pesca de linha.

Praia da Pedra Miúda (Ilha de Cabras) É nessa praia que se localiza o Santuário Ecológico Submarino protegido por lei da pesca e caça submarina. Possui esse nome em virtude das pedras que são encontradas no fundo do mar. 68 Cidade&Cultura

Possui 30m de extensão e uma enorme pedra toma conta da praia.

Praia do Portinho Seu acesso pelo mar é perigoso devido à quantidade de pedras que se escondem debaixo das águas limpas e claras desta praia. Nela encontram-se capela de Santo Antônio, casinhas de pescadores e muitas canoas de madeira. TATYANA ANDRADE

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Praia Oscar


Praia das Enchovas

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Fica entre Bonete e Indaiaúba. Possui cerca de 600m de areia monazítica grossa e amarelada, além de muitas pedras roliças. é uma das praias mais extensas da ilha.

Praia do Veloso é conhecida internacionalmente como uma das praias mais belas. O acesso a ela é feito por mar ou trilha com duração de 4 horas. Rio, cachoeira e muito verde fazem dessa praia um lugar ideal para descanso.

Possui 15m de extensão, com areias pretas. Nela encontram-se os navios “Tritão” e “Dorth”, naufragados em 1984. é rodeada por vegetação de mata arbustiva e árvores frutíferas. TATYANA ANDRADE

Praia do Bonete

Praia do Julião ou Prainha Escondida entre as praias Grande e Feiticeira, apresenta águas transparentes e calmas, ideais para banho e mergulho. Acesso por trilha desde a avenida principal ou pela costa, a partir da Praia Grande ou da Feiticeira.

Praia Grande

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Distante apenas 6Km do lado sul da balsa, conta com camping, quadra de futebol e basquete. é ideal para a prática de esportes, divertimentos nos diversos bares e restaurantes e deliciosos banhos de mar.

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Meio Ambiente

Águas que

vertem

Cachoeira dos Três Tombos Como o nome já diz, essa cachoeira possui três patamares e está localizada na praia da Feiticeira. É muito procurada por banhistas, pois é ótima para se refrescar em meio à mata.

Cachoeiras

Com mais de trezentas cachoeiras espalhadas pelos quatro cantos da ilha, é impossível não se encantar com a obra que a natureza deu de presente ao local.

Cachoeira do Veloso

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Fica na praia do mesmo nome. Com 60 metros de altura de queda, são 25 minutos de caminhadas no meio da Mata Atlântica com trilha, na maioria dos trechos, estreita. Cuidado especial com a vegetação, pois encontramos urtigas. Própria para banho com piscina natural, não oferece perigo aos banhistas. Sua estrutura causa impacto pelo deslumbre da visão majestosa da queda. No caminho, encontramos animais como a cobra preta, não peçonhenta, a cobra caninana, preta da cabeça amarela com mais de 2 metros, mansa que dá até para pegá-la e também o cachorro lobinho, vira lata, que acompanha os visitantes pela trilha.

Cachoeira do Gato O acesso é feito através de trilha de meia hora a partir da praia de Castelhanos. É considerada a maior cachoeira de Ilhabela com aproximadamente 80m de altura. 70 Cidade&Cultura

Urtiga Planta que queima em contato com a pele, causando irritações. Suas propriedades medicinais são bastante conhecidas. Ela é adstringente, anti-radicais livres, anti-seborréia, anti-séptica, antiescorbútica, antioxidante, bactericida, depurativa, estimulante, hemostática, hipoglicêmica, revitalizante, revulsiva, tônica, vasoconstritora, tonificante capilar.


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Cachoeira da Laje Localiza-se na trilha que une a Ponta do Sepituba à Praia do Bonete, com pelo menos 30Km de caminhada. O visitante pode encontrar 30m de escorregador natural e vários poços. Seguindo o “caminho das águas”, é possível chegar ao ponto onde o rio deságua no mar.

Cachoeira da Água Branca

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Suas águas antigamente moviam a turbina da usina que fornecia energia para Ilhabela. Situa-se próxima à balsa e possui mais de 60m de queda.

Ilhas Um arquipélago é formado por várias ilhas e, estas, mais uma vez, são o retrato de maravilhas naturais que esse trecho do Litoral Note de São Paulo possui.

Ilha das Cabras O Santuário Ecológico da Ilha de Cabras localiza-se a menos de 2Km da balsa. Sua criação foi em 1992, com o objetivo de proteger a fauna e a flora marinha da costa sul de Ilhabela, que estava sendo ameaçada predatoriamente por alguns mergulhadores. Lá podem ser encontrados diversos peixes coloridos, algas e corais.

Ilha dos Búzios Essa ilha tem 25Km de distância da Vila e faz parte, na sua totalidade, do Parque Estadual. Muito fácil encontrarmos por perto baleias e tartarugas. São cerca de 200 habitantes que vivem da pesca e da agricultura de subsistência.

Cachoeira da Toca Localiza-se a 5Km da balsa a caminho de Castelhanos, no interior de uma fazenda também denominada Toca. Abriga uma gruta ao lado da queda d’água, de onde sai um rio. Possui três metros de altura e um escorregador natural de 50 metros de extensão.

Ilha da Vitória A 35Km da Vila, habitada apenas por 30 pessoas e possui águas cristalinas para deleite dos mergulhadores.

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Gastronomia

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Azul Marinho

Cardรกpio para todos os

paladares


Ainda bem que algumas tradições resistem ao tempo, como a culinária caiçara. Por trás do peixe, da farinha de mandioca e da banana, que formam uma combinação fantástica sobrevivente aos séculos, muitos aspectos históricos vem à tona. Bem, quando o assunto é gastronomia, Ilhabela possui variedades para todos os gostos que vão desde saborosos peixes e frutos do mar, típicos das cidades do litoral, até as delícias da culinária internacional. Azul Marinho – o prato caiçara mais tradicional “Antes de tudo é preciso compreender que a comida caiçara é bastante simples, praticamente sem gordura e só leva temperos naturais. Essa receita é para três pessoas. Três são os principais ingredientes do Azul-marinho: o peixe, a farinha-da-terra e a banana, que tem de ser colhida verde. Os melhores peixes para o Azul-marinho são a garoupa, o badejo, o olho-deboi, a cavala e o melhor de todos: o bijupirá. As melhores bananas são a nanica e, preferencialmente, a São Tomé. Quanto à farinha-daterra, existem vários tipos delas que são fabricadas no arquipélago de Ilhabela e no Litoral Norte. As melhores são aquelas fabricadas artesanalmente, em pequenos tráficos localizados em diversas comunidades tradicionais caiçaras das quatro cidades da região. A melhor farinha-da-terra é aquela em que o “tirador de farinha” aproveita a goma proveniente da decantação do caldo resultante da prensagem da mandioca ralada. Para preparar o Azul-marinho não há medidas certas, pois elas variam de acordo com o tipo de ingredientes, a prá-

tica e o gosto de cada um. O procedimento, entretanto, é primordial para apurar o sabor final do prato. Para começar, o peixe deve ser cortado em postas que não devem ser muito finas. As bananas verdes serão cozidas com as cascas e, por isso, devem ser pré-lavadas. São as cascas que darão a coloração que dá nome ao prato. Começa-se fervendo a água em uma panela, de preferência de ferro. Assim que a água começar a ferver, colocamos o sal a gosto, e, logo em seguida, as bananas, os tomates em pedacinhos, cebolas cortadas em rodelas, o coentro, e a alfavaca, tudo cru; deixando cozinhar em fogo alto por cerca de cinco minutos. Enquanto as bananas e os temperos cozinham, cabe uma explicação importante; existem várias espécies de coentro. O mais utilizado em Ilhabela é um coentro de folhas largas, rasteiro, e que o caiçara conhece por coentro-cachorro. Na falta da alfavaca – uma planta hortense cultivada nos jardins devido seu aroma e beleza das folhas -, pode ser utilizado o manjericão. Passado os cinco minutos de cozimento, coloca-se as postas de peixe na panela. O ponto do peixe é sentido com o toque do garfo. Estando a carne devidamente cozida, o garfo penetrará com facilidade. Uma vez estando pronto, retira-se um pouco do caldo e a banana, que será descascada. A banana será utilizada para fazer o pirão que acompanha o peixe. Para fazer o pirão – que é uma papa grossa cujo ingrediente principal é a farinha-da-terra -, coloca-se a banana já descascada em uma outra panela. Após espremer a banana com um garfo, adicionase a farinha-da-terra e o caldo que foi separado do cozimento do pei-

O Núcleo Gastronômico Todo ano, no mês de Agosto, ocorre uma iniciativa da Associação Comercial sob orientação do Sebrae, que congrega alguns dos mais importantes restaurantes de Ilhabela, identificados por um selo de qualidade, com o objetivo de aprimorar o profissionalismo na culinária, aperfeiçoar o atendimento ao cliente, desenvolver a enologia e promover a gastronomia, oferecendo cada vez mais elementos de satisfação ao freqüentador do município.

camarões grelhados

xe. Esse tipo de pirão deve ser bem ralo, ou seja, preparado com bastante caldo; caso contrário ele endurecerá muito rapidamente após servido no prato. Para quem aprecia pimenta, recomenda-se a malagueta, espora-de-galo, pimenta-botão ou alguma outra pimentade-cheiro. Acompanha uma cachacinha e arroz branco.” Fonte: Livro Uma viagem pela história do arquipélago de Ilhabela – Nivaldo Simões

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Gastronomia

Barca de sushi e sashimi

Sushi Ronan Kammer explica para nós como deve ser o preparo do peixe para este prato: “o tempo ideal para preparar o sushi são 2 dias após o descongelamento; caso o peixe seja apenas limpo e depois congelado, ele não é bom para virar sushi, torna-se ideal para ser frito. Isso porque fica quebradiço, não permanece uma fatia uniforme. O lombo e as pontas são duas partes do salmão que não servem para fazer prato. O atum também, depois de ser limpo, tem uma vida de 2 dias porque perde a cor e quando servido cru ele não pode perder a tonalidade. A tainha, por exemplo, é tirada do mar, aberta e depois disso pode ser comida crua sem problema algum”. No arquipélago, é possível encontrar restaurantes que conseguem aliar sabor e diversidade de ingredientes em ambientes favorecidos pelas belezas naturais. A arte da gastronomia faz parte da lista dos inúmeros atrativos encontrados em Ilhabela. Pelas mãos criativas dos cozinheiros locais, ingredientes simples, transformam-se em pratos finos e suculentos. A maioria à base de peixes, como a enchova, tainha, salmão, badejo e atum. Em muitos casos, eles são utilizados nos deliciosos sushis oriundos da terra do sol nascente que por

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sinal faz muito sucesso na região. Alguns peixes são comprados no arquipélago como a enchova, mas a maioria é importada como o atum e o salmão que vêm do Chile. Desperdício e falta de criatividade são duas coisas que passam longe das mentes dos gourmets da região. Quando os peixes ultrapassam o tempo ideal para virar sushi aliados a outros ingredientes tornam-se pratos de dar água na boca. O salmão, por exemplo, junto com o purê de mandioquinha, coberto com molho de maracujá e azeite, tem agradado aos mais diversificados paladares. Alternativa bastante criativa e deliciosa que pode ser encontrada em Ilhabela é uma adaptação à culinária local, levando os peixes à grelha como se faz a tradicional picanha. Os peixes são ingredientes que dão base a muitos dos pratos na região, mas receita para a diversidade e qualidade inclui algumas pitadas de criatividade e outras de singularidade de quem prepara o menu.

Tradição de família As empadas feitas por Adriana dos Reis Oliveira são de encher, não apenas os olhos, mas principalmente o estômago. Desde a década de 80 que o salgado vem fazendo sucesso entre turistas e ilhéus da região em um pitoresco bar: O Bar do Genésio, inaugurado em 1967 e que até hoje mantém uma clientela fiel com direito até a comunidade em site de relacionamento. A receita passada por gerações tem agradado a muitos paladares, prova disso é o resultado positivo nas vendas das empadas. Em um fim-de-semana movimentado de feriado, são vendidas cerca de 150, 170 unidades de empadas por dia e no réveillon, quase 300. O forte da casa são as de camarão, por serem mais difíceis de se encontrar.


Aqui vai uma deliciosa receita que o Restaurante Pasta Del Capitano oferece a você:

CONCHIGLIE AL SALMONE UBRIACO Receita individual (multiplicar pelo número de pessoas)

Modo de preparar Coloque no fogo, em uma panela funda, cinco vezes mais água do que a quantidade de macarrão a ser cozida. Quando estiver fervendo salgue com sal grosso marinho, coloque a massa e controle continuamente até que esteja cozida “al dente”. Cerca de 5 minutos antes da massa ficar pronta, comece a preparação do molho: derreta a manteiga com a laranja e as amêndoas. Quando estiver bem quente, coloque o Cointreau e deixe evaporar um pouco. Coloque o caldo, o creme e o Amaretto. Misture bem e tempere com sal e pimenta. Numa frigideira anti-aderente, doure o salmão temperado com sal e pimenta. Não passe muito, pois fica seco. Sirva a massa junto com os filés e por cima de tudo coloque o molho e decore com a cebolinha picada e a pimenta rosa. Buon appetito!

1/2 colher de sopa de Cointreau 1/2 colher de sopa de Amaretto 1 colher de sopa de caldo de legumes 1 colher de sopa de creme de leite fresco Sal e pimenta-do-reino Cebolinha picada Pimenta rosa

DIVULGAÇÃO

80g de massa de grano duro tipo conchinha 2 filés de salmão fresco com cerca de 50g cada 1 colher de sopa de manteiga sem sal 1 colher de sopa de amêndoas peladas e picadas 1/2 laranja pelada e cortada em cubinhos

Fusão Brasil-Itália A gastronomia é uma cultura muito antiga que sempre esteve ligada a aspectos políticos e sociais. Quando os imigrantes italianos chegaram ao Brasil trouxeram na bagagem muitos de seus costumes, principalmente alimentares. Em Ilhabela, quando a pedida é manjar uma bela massa, opções não faltam. E o que é melhor, aqueles que desejam se entregar ao pecado da gula mas não querem aumentar os números da balança podem se deliciar com as opções de massa integral ou sem glúten que alguns restaurantes oferecem e vinhos diversificados para acompanhar os pratos também não faltam.

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Luis DanieL

Esportes


e suor

Vento, sal

Podemos dizer que Ilhabela é um capricho da natureza. Parece até que seu território foi planejado para abrigar a maioria dos esportes radicais conhecidos. Em meio a rios, cachoeiras, matas e montanhas, o arquipélago torna-se cenário ideal, tanto na terra, quanto na água para as mais variadas práticas esportivas.

Vela Navegar é preciso sempre, principalmente se for por esporte. E as condições geográficas do Arquipélago e do Canal de São Sebastião são favoráveis à prática da vela. Isso ocorre porque a ilha forma um obstáculo natural para as grandes ondas do mar. E também pelo efeito de canalização dos ventos, voltados para o sul formando um corredor entre a Serra do Mar e a Ilha, com picos de mais de 1.300m. Assim torna-se possível a prática desse esporte em todas as suas modalidades, fazendo da região um local de referência mundial aos praticantes. Todo ano, durante o mês de julho, ocorre, há mais de 37 anos, a Semana Internacional da Vela de Ilhabela, maior evento da modalidade na América do Sul, concentrando cerca de 200 barcos de vela oceânica que chegam às praias do arquipélago para competir.


Esportes

ilha das Cabras

TaTYana anDRaDe

Luis DanieL

Fundo do mar

Mergulho Ilhabela é um dos lugares mais procurados por mergulhadores do mundo todo devido a quantidade de embarcações naufragadas em suas águas. O mergulho é a exploração sub-aquática com garrafas de ar comprimido e equipamento adequado. A Ilha das Cabras, a mais próxima do centro do município, é protegida como um santuário ecológico e possui o fundo do mar favorável ao mergulho. Sua visitação pode ser feita a partir da praia de Pedras Miúdas, numa travessia a nado de mais de 50 m. Outras praias indicadas para mergulhar são: Praia do Jabaquara, Pacuíba, Portinho, Feiticeira, Julião, Indaiatuba, Enchovas, Bonete, Serraria, Fome e Poço.

um espetáculo à parte é poder mergulhar e visualizar a estátua de Netuno que está a 7 metros de profundidade, na Ilha das Cabras. Hoje é ponto de encontro dos mergulhadores.

78 Cidade&Cultura

TaTYana anDRaDe

Estátua de Netuno


A história resumida do Yacht Club de Ilhabela

TATYANA ANDRADE

Praticante do aqualouco

Aqualoucos Em meio ao cenário paradisíaco da Cachoeira da Toca, deparamo-nos com Jusineldo, Lucas e Jonathan, três garotos que compartilham o gosto por emoções fortes e muita adrenalina. Conhecidos como “Aqualoucos”, eles literalmente surfam nas águas da cachoeira e o que é incrível, deslizam de maneira rápida e dificilmente se intimidam diante das rochas escorregadias que podem encontrar no caminho. O limo das rochas faz com que se transformem em “ondas” e seus pés em pranchas. Eles trocam as praias pela emoção que a modalidade proporciona. O esporte tem tido uma boa adesão, tanto é que existe até campeonato brasileiro, com cerca de uns vinte participantes que passam por quatro fases: descida inicial, descida do tobogã inteiro, breve corrida e depois cair e, para finalizar, estilo livre. Só vendo para entender, é realmente uma verdadeira loucura. O mais impressionante é a ousadia dos praticantes, o medo passa longe, as piruetas desafiam a lei da gravidade e o mais insano disso tudo é a naturalidade que falam dos tombos. Lucas, que já venceu campeonato, nos dá a dica do sucesso: “o esquema é manter a perna firme e na hora de cair, sentar”. Haja coragem!

Projeto Navegar Implantado em Ilhabela há mais de quatro anos, o Projeto Navegar é um exemplo de inclusão social através do incentivo ao esporte. Idealizado pelo velejador Lars Grael e viabilizado através de uma parceria entre o Governo Federal e a Prefeitura, o projeto atende a crianças e adolescentes com idade entre oito e catorze anos matriculados na rede pública de ensino. Após o término do curso, que dura cerca de cinco meses, os alunos que se destacam podem continuar se dedicando ao esporte através da Escola Municipal de Iatismo. Foi o que aconteceu com o jovem caiçara Ronyon Silva, aluno do Projeto, que se consagrou Campeão Brasileiro da Classe Optimist.

“Pouca estrutura possuía a ilha nos anos 50 para guarda adequada das primeiras embarcações adquiridas pelos pioneiros freqüentadores. A viagem demorada e a travessia complicada do Canal de São Sebastião não incomodavam os poucos turistas, que desfrutavam da beleza de uma Ilhabela de natureza praticamente intocada e habitada por poucas famílias de caiçaras. Por terem interesses comuns, estes freqüentadores decidiram ter um ponto do apoio. Foi assim, com a simplicidade e espontaneidade da qual nascem as boas idéias que, em 25 de Janeiro de 1956, nascia o Yacht Club de Ilhabela, cujo primeiro comodoro foi Manoel Francisco de Almeida Brandão, escolhido para o cargo na primeira reunião da diretoria do clube, realizada em 02 de março de 1956. Brandão permaneceria na comodoria do novo clube até solicitar o seu afastamento, aceito pela diretoria em 22 de fevereiro de 1957, sendo eleito, em seu lugar, Francisco Souza Dantas Neto. Apesar do entusiasmo do grupo inicial de fundadores, não foram simples os primeiros anos de existência do YCI. Todas as despesas eram rateadas entre os fundadores, pois haviam poucos sócios, além disso, em sua maioria, eram de São Paulo e não tinham muito tempo disponível para gerir as obras de uma sede. Estas e outras tantas dificuldades (abordadas no livro YCI - 50 anos) acabaram fazendo cm que a primeira sede do clube fosse inaugurada apenas em 1º de fevereiro de 1969. Desde então, a custa de muita dedicação de seus gestores e muita confiança de seus sócios, o Yacht Club de Ilhabela vem solidificando a sua pujança na organização de antológicos torneios esportivos, como a Copa Ilhabela de Caça Submarina, o maior evento deste esporte no Brasil da década de 60, ou a Semana de Vela de Ilhabela, hoje considerado o mais importante evento da vela oceânica da América do Sul. Mantendo uma frequente e diversificada programação social, o YCI contempla os sócios, seus filhos, familiares e amigos com um ambiente propício ao lazer, com segurança, requinte e excelência em serviços. Aos navegantes, o clube dispõe de uma moderna estrutura náutica, com capacidade para guarda de embarcações em poita e em seco com total apoio de segurança, traslado e serviços. E, em fase de franca expansão, dá continuidade às obras de sua marina, empreendimento que, em definitivo, marca uma nova fase de crescimento do Yacht Club de lhabela.” Fonte: www.yci.com.br

Ilhabela 79


Trilha Cachoeira dos TrĂŞs Tombos

80 Cidade&Cultura

TATYANA ANDRADE

Esportes


Trekking Considerado um esporte radical, pois há trilhas de duração de dias, exige do praticante uma boa dose de fôlego. A Ilha é recostada de norte a sul e de leste a oeste, muitas são as opções e com vários graus de dificuldades. Os percursos não são fáceis, porém a compensação é grandiosa. Podemos cair em uma bela praia deserta ou numa cachoeira de cair o queixo. Muitos obstáculos pelo caminho, principalmente quando se trata de Mata Atlântica, mas vale muito a pena, pois esse contato tão intenso e “selvagem” nos induz ao autoconhecimento e à superação. Os percursos misturam rios, cachoeiras, matas e montanhas e são realizados dentro do Parque Estadual da Serra do Mar. Por isso a importância do acompanhamento de guias especializados. São pequenos detalhes não percebidos, que podem transformar uma simples caminhada em grandes transtornos, como por exemplo, o horário de saída e de chegada, pois caminhar no meio da mata de noite pode ser, no mínimo, arriscado. Abaixo segue algumas trilhas interessantíssimas: Trilha da Água Branca – com 2.000m de extensão, possui grau médio de dificuldade e não precisa de guia, pois é totalmente sinalizada. Nela encontram-se vários locais para mergulho, como o Poço da Pedra, da Escada, a Ducha, o Tobogã e o Poço do Jabuti.

Trilha do Pico do Baepi – baepi significa em tupi “o calvo, o careca”. Como é um pico, a subida transforma essa trilha em grau de dificuldade alto com 1.058m de altitude. Necessário guia profissional e um preparo físico melhor. A água é importante, pois ao longo do caminho não é encontrada. Trilha da Cachoeira da Laje Preta – com duas horas de caminhada, também é necessário guia, seu caminho tem muitas bifurcações, além de bela cachoeira e macaco prego. Trilha das Cachoeiras do Couro do Boi e Friagem – a partir da praia do Viana, essa trilha apresenta grau de dificuldade médio e alto com cerca de três horas de duração. São locais perigosos que precisam de guia. Trilha do Poço – começa pela praia do Jabaquara, com trecho inicial bem íngreme com uma hora de caminhada até a praia da Fome, depois, caminha-se mais três horas até a praia do Poço, mas cuidado com a maré, pois dependendo das circunstâncias, a praia pode sumir. Trilha do Pirata Borges – tem seu início na Fazenda da Toca, com uma hora e meia de subida sem parar, esse trecho requer preparo físico e guia. O maior cuidado que se tem de tomar é perto das ruínas da casa do pirata, pois, por motivos óbvios, há muitos buracos escavados por caçadores de tesouros.

Arvorismo A modalidade surgiu através de biólogos e pesquisadores que constantemente precisavam deslocar-se entre as copas das árvores para intensificar suas pesquisas de campo. Com o passar do tempo, tornou-se uma atividade eco-turística que promove uma enorme integração entre homem e natureza. Podem ser feitas diferentes formas de travessias entre plataformas instaladas nas copas das árvores. Exige do participante muita disposição, capacidade individual para exercitar o corpo e a mente e, é claro, muita coragem para superar os diversos desafios que podem aparecer no meio do caminho. A Ilha proporciona essa prática por ter 85% do seu território com mata preservada de árvores de porte médio a alto e, como sempre, ter como pano de fundo o mar.

Escalada

Rafting

Oferece desde pequenos paredões rochosos ideais para o treinamento de iniciantes até as encostas do Pico Baepi, que compreende maior nível de dificuldade.

Atividade repleta de aventuras que desafiam os limites pessoais e coletivos além de unir as belezas de um rio preservado com o verde das matas. Ilhabela 81


Off Road Fora de estrada é o que não falta por aqui. Aliás, se você quiser conhecer as praias mais distantes e estiver, no mínimo, chuviscando, vai precisar de um 4x4. A ilha tem várias opções de graus de dificuldades para essa modalidade de esporte. A estrada mais requisitada para isso é a que corta a ilha de são sebastião de oeste para leste, a estrada para Castelhanos. são 20 km de extensão próprios para fortes emoções. Mas vá preparado, pois não há nenhum posto ou outra coisa qualquer no meio do caminho. 82 Cidade&Cultura

RobeRt WeRneR

RobeRt WeRneR

Esportes


Rapel O passeio começa com uma subida por cordas e inclui mirante, gruta do rapel e passagem por praias paradisíacas. O relevo altamente acidentado oferece diversos locais para a prática desse esporte desde grandes pedras espalhadas até os gigantes paredões rochosos, como as encostas do Pico de Baepi. Para os iniciantes nesse tipo de esporte, é indicado o rapel realizado na cachoeira dos Três Tombos, próxima à praia da Feiticeira, imersa na Mata Atlântica. O acesso ao local é feito após caminhada de 20 minutos e a altura é de 30m. A modalidade não é permitida sem a presença de monitor credenciado.

Montain Bike STOCK.XCHNG

Ilhabela é conhecida por ser um paraíso para praticantes de bike, amadores e profissionais. As subidas e descidas que mais atraem bikers são as da praia de Castelhanos e Bonete.

Kitesurf

Surf

Novidade em muitas partes do mundo, o kitesurf mistura as pranchas de Windsurf com a vela de parapente. Alguns dos melhores esportistas brasileiros nessa categoria são nativos de Ilhabela. Esse esporte é extremamente perigoso, pois a força do vento faz do praticante um palito de dente. Os cabos, que prendem o esportista ao parapente, ficam demasiadamente tensos, mas as manobras feitas por esses “estriquinados” é um show à parte que deve ser visto.

Mesmo a prática do esporte não sendo tão associada a Ilhabela, são encontrados, no município, um dos melhores pontos do litoral paulista com enormes ondas, a praia do Bonete.

Windsurf É praticado com uma prancha idêntica à prancha de surf e com uma vela de 2 a 5 metros de altura. Consiste em planar sobre a água utilizando a força do vento. Como na vela, a prática desse esporte se dá no Canal de São Sebastião, devido às correntes de ar.

STOCK.XCHNG

Pesca A melhor estrutura de pesca do Brasil encontra-se aqui. O município é também conhecido como o maior pólo de pesca da enchova no país e por isso é recomendado o embarque de no máximo 20 delas por dia. A pesca esportiva é realizada próximo às costeiras do sul da ilha. As lanchas saem do píer do Perequê ou da praia do Saco da Capela. Ilhabela 83


Vida de caiçara

uma vida integrada à

natureza

De lua a lua, esse povo leva vida simples e singela, mas de riqueza sem igual. Um povo que, há gerações, vive harmoniosamente com a natureza. O caiçara é dono de sabedoria secular, é um verdadeiro elo entre homem e natureza. Oriundos da miscigenação entre indígenas, colonizadores europeus e negros, os caiçaras incorporaram 84 Cidade&Cultura

tradições e costumes ligados a esses povos, adaptando-os num modo de vida singular baseado na pesca, agricultura de subsistência, artesanato e extrativismo vegetal, desenvolvendo um conhecimento aprofundado sobre os ambientes em que vivem, além de tradições folclóricas e um vocabulário único.


Palavra caa-içara é de origem tupi-guarani; caa significa galhos, paus, “mato”, enquanto que içara significa armadilha.

FOTOS TATYANA ANDRADE

Origem do nome

Vocabulário Voz mansa, cheia de peculiaridades. O sotaque caiçara acentua as palavras de um modo diferente, troca o “v” pelo “b” e, claro, o “você” é substituído pelo “tu”. Muitas expressões do nosso dia-a-dia tiveram suas origens nessa cultura (veja o box ao lado).

A troco de banana: preço baixo Acabosse o que era doce: terminou Amolante: vagaroso Antonte: dois dias antes Aperrear: não deixar fazer direito Arria: coloca no chão Babau: acabou Bocaina: horizonte Burburinho: confusão Cala boca: admiração, espanto Caniço: vara de pescar Chio de peito: asma Coça: surra Codó: pedaço de praia pequeno Coisinha: substitui o nome esquecido naquele momento Consertar o peixe: limpar o peixe Curriola: um bando de pessoas De marca maió: muito grande Deixestá: você vai ver como é que fica Desacorçoado: não ter motivação Dor nas cadeira: dor nos quadris Escambo: troca Escárnio: pouco caso Esculhambar: xingar, chamar a atenção, advertir Escorar: amparar árvore caída Estais tão gabosa: estás muito bonita Estrada de rodagem: ruas dos dias atuais (onde trafegam carros) Foi pro beleléu: já foi embora, morreu Fuzilando: relampejando Guardanapo: pano de prato Lambedô: xarope Marmandado: desobediente Me aprecatei: preveni Naco: pedaço Ordenado: salário Picape: vitrola Prenha: grávida Quebrante: mal olhado Rachei o bico: ri muito Reparar: olhar para criticar Sapeca: assanhada Subaco: sovaco Tarrafa: espécie de rede de pesca Temperar o café: adoçar o café To em pandareco: estou mal Três antonte: três dias antes Um bocado: grande porção Verdolenga: quase madura Viração: vento do sul fraco Zanzando: andando de um lado para o outro

Ilhabela 85


Vida de caiçara

Lição de humildade e sabedoria Conversamos com dona Maria Leandro do Vale Salinas, moradora da Praia do Curral, que nos recebeu em sua casa datada de 1600. Aos 96 anos, ela é hoje a história viva desse povo, que tenta de todas as formas, manter sua cultura. O Padrasto O senhor José Cristina do Vale, padrasto de dona Maria, era senhor de engenho de cachaça. Esse engenho teve vários nomes, mas fixou-se mesmo o de Cristina. Todos na família trabalhavam e não se media funções. A cana era plantada nas encostas e barrancos dos morros e trazida às rodas de moagem com carro de boi. A maior parte da produção era transportada por canoas de voga a Santos. Essas canoas eram grandes, chegavam a carregar muitos produtos. A aguardente era desembarcada e trocada (escambo) por gêneros de primeira necessidade que não tinham no Arquipélago como: tecidos, sabonetes, bolachas, querosene etc. Muitas vezes o mar não estava propício à navegação, isso poderia ser tanto na ida como na volta e eram obrigados a se abrigarem em outras praias ao longo do caminho, como Bertioga. Normalmente esse percurso durava uma semana. Era uma

86 Cidade&Cultura

vida difícil, especialmente para quem ficava a espera de seus filhos e maridos. Seu pai morreu porque não tirava a cinta da cintura, onde carregava o facão. Infeccionou e generalizou. Morreu aos 40 anos. “O sol cozinhou o sangue dele” - o médico disse.

Canoa de Voga Voga significa remo, essa canoa era construída, geralmente das árvores do Jequitibá ou do Jatobá (quebra facão) que possuem tronco grande. São marcadas 21 linhas retas no tronco com um barbante impregnado de carvão. Para fabricá-la, eram necessárias duas ferramentas: o machado e o enxó (cabo curto com uma lâmina curva). As canoas eram movidas a remo e vento. Na década de 30, passaram a ter motores.


O marido Seu marido era pescador, tinha uma venda e uma roça. Na lateral da casa, havia um rancho onde guardava as canoas de pesca e as redes de tainha. O mar era repleto de peixes, era tanto, que às vezes as redes nem agüentavam. Jogava-se a rede, que tinha 25 braças (precisavam de 12 homens de cada lado da rede para puxá-la), ao mar e um pescador ficava de “butuca”, observando a hora da chegada do cardume e com um berrante anunciava a todos os outros, que normalmente estavam trabalhando na roça. Era uma “festa”, vinham homens, mulheres e crianças, todos participavam. Tinha charelete, tainha, pescada, cação e porquinho – antigamente, jogava-se fora, estes dois últimos na hora da contagem dos quinhões (divisão do resultado da pesca per capita). Todo mundo consertava (limpava) e secava os peixes. Infelizmente seu marido morreu novo, aos 51 anos, de problemas cardíacos. A casa Em frente ao mar da praia do curral, literalmente nas areias, está localizada a casa pra lá de histórica de dona Maria. Segundo a família, aquela casa está ali, desde o século XVII, e que muitas coisas (muitas mesmo!) aconteceram ali. Primeiramente era uma casa de piratas, que ali se abrigavam mantendo algumas roças, depois veio o padre que transformou aquilo numa capela, onde Nossa Senhora do Amparo virou a padroeira. Após isso, a casa se transformou em casa de escravos. Muitos anos depois, serviu de convento e, onde hoje é o quarto de dona Maria, havia um altar onde se fazia a reza de missa.

Curiosidade O nome Curral, segundo o avô de dona Maria, foi dado à praia porque morava lá um padre, então ficou praia “do cura”, pois cura significa padre.

evento. A exemplo disso, uma das filhas de dona Maria morreu sem ter tempo de chegar ao médico. À noite, os mais velhos se reuniam para contar histórias e causos e as crianças ficavam escutando. Muitas dessas histórias eram de assombrações, como o Sr. Tomé, que se fantasiava de fantasma para assustar o povo debaixo da aroeira da cruz. Muitos sabiam da armação, mas outros não e ficavam apavorados só de pensar. Dona Maria só entrava no mar vestida da cabeça aos pés e tinha de ser à noite, afinal, não ficava bem usar outros trajes que aguçassem a imaginação dos homens. E jamais mergulhou com a cabeça no mar, pois tem medo de ver a jamanta (raia gigante). NUNCA usou calça comprida e nem curta, nada, a não ser vestido, pois assim é que uma mulher deve se vestir. Casou aos 15 anos com o primeiro namorado que paquerava pelo buraco da fechadura. Sua irmã, dona Leonizia, aos 6 anos, quando a viu vestida de noiva, tomou um susto, parecia que estava fantasiada, jamais tinha visto uma noiva, isso pelo isolamento, não tinham referências externas. O café da manhã era: angu de feijão, mandioca e batata cozida (dizem que era um café precário). Dona Maria teve 10 filhos de parto normal, sendo que, em um, a bolsa estourou na cachoeira, enquanto lavava roupa, e ainda teve a coragem de voltar correndo para pedir ajuda. Sempre se virou bem. Uma vez ficou sem água e coletou a mesma da chuva. Sobre os perigos do mar e de ter muitos parentes a mercê dessa força natural ela diz: “Bons navegadores, logo, poucos acidentes.” Hoje, essa guerreira, que mesmo no isolamento tem um conhecimento de vida como poucos, tem 10 filhos, 16 netos, 17 bisnetos e um tataraneto. E fecha nossa entrevista demonstrando tudo isso: “Nunca achei nada difícil na vida, era uma vida sacrificada, mas feliz”. Maria.

Atividades cotidianas Cuidar da roça do feijão, da banana e, principalmente, da mandioca - sustento básico -, eram atividades rotineiras trabalhosas, outra era limpar os peixes, secá-los ou salgá-los. Não havia eletricidade e tudo era muito difícil. Para ir à Vila (lado oeste da ilha, no Canal de São Sebastião), o meio de transporte era a canoa (demorava 2 horas em dia de mar calmo) ou a pé – “A gente ia no caminho que a gente chamava de caminho de rato, onde desse para passar você passava”. Caminhar até lá demorava horas e os caminhos eram picadas, ou seja, um Ilhabela 87


não deixe de visitar

Capelas

FOTOS TATYANA ANDRADE

...aprenda história e cultura, não importando a sua religião

Fazenda da Toca ...ideal para jogar conversa fora tomando uma boa cachaça

88 Cidade&Cultura

Captains ...delicie-se num dos mais bonitos quiosques à luz da lua e ao som do mar


Arquipélago ...permita-se vislumbrar paisagens únicas alugando uma lancha

Vila ...aproveite as baladas que agitam as noites da vila

Secretaria de Cultura ...mais artesanatos para encher os olhos

Museu Natural ...conheça mais sobre o arquipélago

Casa de farinha ...uma oportunidade única de voltar ao passado em segundos

Ilhabela 89


Se eu fosse vocĂŞ...

Fotos tAtYANA ANDrADe

shutterstock

...andaria de bicicleta na orla da praia

...sentaria numa praia e ouviria o som do mar

90 Cidade&Cultura

...bateria um papo com um pescador nativo


bera palhoto

...meditaria ao som do tilintar dos barcos ancorados

...tomaria um banho em uma das cachoeiras

... ensinaria seus filhos a nadar

...pensaria na preservarção do meio ambiente

...pescaria nas rochas

...teria sempre um repelente ao alcance

Ilhabela 91


Gente da Terra

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Ilhabela 93

FOTOS TATYANA ANDRADE


TATYANA ANDRADE

Dados estatísticos

Localização Geográfica: Latitude – 23º46´28” sul Longitude – 45º21´20” oeste Altitude – 4 metros

Área Total: Arquipélago de Ilhabela com 348,3 km2, formado pelas: • Ilha de São Sebastião com 337,5 km2 • Ilha dos Búzios • Ilha da Vitória • Ilha dos Pescadores • Ilha da Sumítica • Ilha da Serraria • Ilha das Cabras • Ilha da Figueira • Ilha dos Castelhanos • Ilha da Lagoa • Ilha das Enchovas A distância entre o extremo sul e o extremo norte da ilha é de mais de 22 km.

Clima:

Tropical úmido

Distâncias: São Paulo – 210km São José dos Campos – 116km Rio de Janeiro – 435km

Temperatura média: 23°C

Ponto mais alto: Pico de São Sebastião com 1.378 m.

Rio de Janeiro Taubaté Rodovias dos Estados de São Paulo/Rio de Janeiro

Pessoas Residentes:

São José dos Campos

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São Paulo

Gentílico:

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Oeste – Canal de São Sebastião Leste, norte e sul – Oceano Atlântico

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Ilhabelense

Limites:

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24.000 habitantes (IBGE 2007)

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Ubatuba Caraguatatuba

São Sebastião

Bertioga Guarujá Santos

ILHABELA BR 101 Trecho Rod. Rio Santos BR 116 Trecho Rod. Presidente Dutra SP 070 Ayrton Senna e Carvalho Pinto SP 099 Rodovia dos Tamoios



Mapa TurĂ­stico



TATYANA ANDRADE

ilhabelenses

“Ninguém é uma ilha” Essa frase reflete claramente que, mesmo com a distância, o isolamento e apenas o mar como horizonte, o homem não está só. Coloca sua fé acima de tudo e tem suas crenças como refúgio de seus medos. A sabedoria da sobrevivência e o conhecimento da natureza são seus companheiros. Pessoas simples e de poucas pala-

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vras são esses caiçaras, a quem Deus deu de presente, não a multidão das grandes cidades, mas sim, deu o que de mais bonito fez, a mãe natureza, pois sabia que essa gente cuidaria dela como deveria ser. Renata Weber Neiva


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