EDIçãO 01
Ubatuba Cidade de paisagens exuberantes: exibe uma riqueza cultural harmônica e singular
Nº01 - R$ 10,00 - Brasil
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História | Folclore | Meio Ambiente | Arquitetura | Gastronomia | Turismo
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LINHA DO TEMPO Fatos históricos marcantes na evolução da cidade de Ubatuba HIsTÓrICO Palco de um acordo revolucionário entre nativos e colonizadores rELIgIOsIDADE Fé, sentimento imprescindível aos que tinham o mar como desafio diário ILHA ANCHIETA Saiba tudo sobre uma fantástica história de inteligência e astúcia FOLCLOrE A tradição cultural do Brasil ainda preservada ArQuITETurA A importância da história de Ubatuba retratada nos detalhes de seus casarios
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ArTEsANATO A mistura da arte nas cores vivas do mar e da floresta MEIO AMbIENTE Um reduto de capital importância da valorização ambiental QuILOMbO O passado vivo pulsante e intrigante para os dias atuais ÍNDIOs A sabedoria da mata e o convívio coeso do povo com suas crenças LENDAs O imaginário sob a luz do luar e o barulho da mata, faz a magia EsPOrTEs As inúmeras atividades esportivas para o corpo e a alma
TATYANA ANDRADE
TATYANA ANDRADE
TATYANA ANDRADE
Índice
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VIDA DE CAIçArA Cultura tradicional ainda preservada em muitas praias NãO DEIxE DE VIsITAr Dicas essenciais para sua estada sE Eu FOssE VOCê Momentos gravados para sempre gENTE DA TErrA Um povo que sabe viver muito bem DADOs EsTATÍsTICOs Geral sobre os números da cidade
TATYANA ANDRADE TATYANA ANDRADE TATYANA ANDRADE
ElAiNE lEmE
Editorial Podemos dizer que conhecer a fundo a cidade de Ubatuba nos modificou em muitas formas de pensar. Quando entramos em contato com pessoas simples no pensar, mas que carregam uma sabedoria fantástica, como é o caso do pescador apelidado de Inglês, vimos como a vida deve ser simplificada em todos os aspectos. Apesar das dificuldades geográficas de acesso de muitas comunidades, o tempo aqui não é fator determinante de ansiedade ou estresse. Nesta cidade o que se dá importância é o desprendimento material supérfluo e a valorização do essencial. Essencial para eles é ter seu peixe, sua farinha, uma viola à beira do mar, sua rede de pesca perfeita e a proteção de São Pedro Pescador.
EDITORIA
COnsELhO ExECUTIvO: Eduardo Hentschel, Luigi Longo, Márcio Alves e Roberto Debouch
EDITORA: Renata Weber Neiva REpORTAgEm: Elaine Leme e Nathália Weber AssIsTEnTE DE pRODUçãO: Thabata Alves pRODUçãO gRáfICA: Purim Comunicação Visual (www.purimvisual.com.br)
pRODUçãO DIgITAL: OnePixel (www.onepixel.com.br) pRODUçãO AUDIOvIsUAL: VSet (www.vset.com.br) fOTOgRAfIAs: Bera Palhoto, Tatyana Andrade e Márcio Alves fOTO CApA: Francisco Petrone ImpREssãO: Gráfica Silvamarts CIDADE & CULTURA é uma publicação anual da ABCD Cultural. Todos os artigos aqui publicados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas.
PARA ANUNCIAR: (11) 3021-8810
Renata Weber Neiva
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Ubatuba 5
Linha do tempo
8000 aC Sambaquieiros, ocupação humana mais antiga na região
Por volta de
1450
Descobrimento do Brasil
1500
Abertura dos Portos por D. João VI - a cidade prospera
1554
Tupiniquins e Tupinambás, tribos indígenas que disputavam território na região
A costa brasileira foi invadida por corsários e piratas
1808
Confederação dos Tamoios – revolta contra os colonizadores portugueses
Entre os séculos
XVII e XIX
Final do século
XIX
entra em decadência o ciclo do engenho da cana-de-açúcar
A diminuição da importância da cana foi acompanhada pelo crescimento do café
Ubatuba é constituída como cidade
1855
A estrada de Ferro D. Pedro II é construída, levando Ubatuba ao isolamento
Fundação de Ubatuba
1557 Publicado o livro de Hans Stadem “Duas Viagens ao Brasil”
1563
1637
Paz de Iperoig – coordenada pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta
1888 Ocorreu a Abolição da Escravatura
1952
1957 Iniciou-se a construção da Rodovia Tamoios facilitando o acesso para o Litoral norte
Foi elevada a Vila Nova da Exaltação à Santa Cruz do Salvador de Ubatuba
Década de
1980 Fica pronta a Rodovia SP 55, consagrando de vez o acesso à cidade de Ubatuba
2013
Inaugurada a Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP 123), comunicação importante para o Turismo
1728
Hist贸rico
A origem de bravos
guerreiros
Tupinambás Antes dos portugueses, os Tupinambás eram tribos habitantes do litoral brasileiro. Índios guerreiros, ariscos e extremamente selvagens, não se submeteram ao domínio dos colonizadores. Construíam suas casas (tabas) no alto dos morros e margens de rios. De gênio alegre, eram músicos, dançarinos e construíam vários instrumentos musicais como tambores e flautas. Fabricavam canoas com a madeira cedro, guapuruvus e imbiricus. Lutaram bravamente contra a invasão de suas terras e eram extremamente temidos, pois o canibalismo fazia parte de suas tradições. Entenda-se que o canibalismo era, para eles, um ritual, no qual se sacrificava um adversário corajoso nos aniversários do cacique e do pajé. As mulheres comiam as vísceras, as crianças tomavam o sangue para crescerem fortes e os homens comiam o cérebro, para possuírem a coragem e o espírito guerreiro de seu rival. Muitos personagens foram devorados como Francisco Pereira Coutinho (antigo donatário de Salvador). REPRODUÇÃO
TATYANA ANDRADE
A região do litoral de São Paulo era povoada por várias tribos indígenas que, com seus “códigos de ética”, viviam em aparente harmonia. Com a chegada dos colonizadores portugueses e mais tarde dos franceses, a “calmaria” entre as tribos foi extinta. Os colonizadores tinham como finalidade, transformar os índios em mão-de-obra escrava, mas, pelo temperamento guerreiro de algumas tribos, tanto os portugueses, como franceses aliaram-se aos mais rebeldes. Isso gerou uma grande rivalidade. Em Ubatuba, a tribo existente era a dos Tupinambás. Esta cidade foi palco de um dos primeiros tratados dos nativos do Brasil. A conscientização dos índios veio com a chamada Confederação dos Tamoios, prova da disputa desses nobres guerreiros contra cruéis forasteiros.
Ubatuba 9
gravura do Museu Histórico de Ubatuba
Confederação dos Tamoios “A Confederação dos Tamoios foi a reunião dos chefes índios da região do Litoral Norte paulista e sul fluminense que ocorreu entre 1554 e 1567. O principal motivo da Confederação dos Tamoios , que reuniu diversos caciques, foi a revolta ante a ação violenta dos portugueses contra os índios Tupinambás, causando mortes e escravidão. Na língua dos Tupinambá “Tamuya” quer dizer “o avô, o mais velho, o mais antigo”. Por isso essa Confederação de chefes chamou-se Confederação dos Tamuya, que os portugueses transformaram em Confederação dos Tamoios. Cunhambebe foi eleito chefe e junto com Pindobuçú, Koakira, Araraí e Aimberê resolveu fazer guerras aos portugueses. O problema entre Tupinambás e Portugueses tem início com o casamento de João Ramalho, português e braço direito de Brás Cubas, governador da Capitania de São Vicente, com a filha de Tibiriçá, chefe dos índios Guaianazes. Desse casamento nasceu uma aliança entre brancos e Guaianazes contra as outras nações in-
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dígenas. Quando a nação Tupinambá foi atacada, o chefe da aldeia de Angra dos Reis, Cunhambebe, investiu contra as propriedades portuguesas. Enquanto isso, Brás Cubas continuava a escravizar índios e aprisionou um chefe Tupinambá, Kairuçu, e seu filho Aimberê. Kairuçu morreu dos maus tratos recebidos e Aimberê conseguiu organizar uma fuga em massa das propriedades de Brás Cubas. Livre do cativeiro, Aimberê encontrou-se com Pindobuçu, da aldeia Tupinambá do Rio de Janeiro, Cunhambebe, da aldeia de Angra dos Reis, Koakira, da aldeia de Ubatuba e Agaraí, chefe dos Guainases, e ainda com os índios Goitacases e Aimorés. Assim, em ataque aos portugueses, foi formada a Confederação dos Tamoios, chefiada por Cunhambebe. Nessa ocasião chegaram os franceses ao Rio de Janeiro. Villegaignon, o chefe francês, aliou-se aos Tupinambás para garantir sua permanência no Rio de Janeiro e ofereceu armas a Cunhambebe para lutar contra os portugueses. Outra nação indígena, Termiminó, aliou-se aos portugueses contra os Tu-
FOTOS REPRODUÇÃO
Histórico
pinambás e os franceses, acirrando as disputas. Um surto de doenças, contraído pelo contato com o branco, dizimou centenas de índios, entre eles Cunhambebe. Aimberê foi escolhido o novo chefe e a luta continuou. Aimberê procurou o apoio de Tibiriçá e, juntos, combinaram lutar contra os portugueses num prazo de três luas. Acirrou-se assim a luta entre os Tupinambás e seus aliados contra os portugueses.” Fonte: Funart. Portanto “tamoio” não se trata de um etnônimo. Os portugueses não encontraram facilidade para colonizar. Por muitas décadas, a única resistência organizada contra a invasão ibérica foi a Confederação dos Tamoios que com apenas 160 canoas (algumas com 13 metros e 30 tripulantes), segundo relatos dos jesuítas, muitas batalhas foram ganhas. Os jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, em 1563 conseguiram selar uma trégua, na qual os portugueses foram obrigados a libertar todos os indígenas escravizados, chamada a Paz de Iperoig (antigo nome de Ubatuba). Foi nessa época que Anchieta escreveu na praia de Iperoig muitos de seus 4.172 versos do famoso “ Poema à Virgem”. Mas os interesses portugueses eram transformar mesmo os índios em escravos. Esta era uma empreitada dificílima, o que levou os lusos, por meio do escambo, a importar escravos africanos.
A pintura O último tamoio de Rodolfo Amoêdo (1857-1941)
Relevo de Hans Staden (1525 – 1579) Homberg
Hans Staden (1525 – 1579) Mercenário alemão que, por duas vezes, participou de lutas contra o franceses – a última na Capitania de São Vicente. Depois de naufragar próximo a São Vicente, Hans foi ser artilheiro no Forte de São Felipe Bertioga. Caiu nas mãos dos inimigos, os Tupinambás, e foi levado para Ubatuba. Ali permaneceu cativo por nove angustiantes meses. Foi resgatado pelo navio francês Catherini de Vetteville. Após terrível experiência, o mercenário escreveu um livro intitulado “Warhaftige Historia und Beschreibung eyner Landtschafft der wilden, nacketen, grimmigen Menschfresser Leuthen in der Newenwelt America gelegen” comumente chamado de “Duas Viagens ao Brasil” publicado em Marburgo, Alemanha, em 1557. Leia os trechos: “Formaram um círculo ao redor de mim, ficando eu no centro com duas mulheres, amarraram-me numa perna um chocalho e na nuca penas de pássaros. Depois começaram as mulheres a cantar e, conforme um som dado, tinha eu de bater no chão o pé onde estavam atados os chocalhos. As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (...) e deixam esfriar (...) Então as moças assentam-se ao pé, e mastigam as raízes, e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte. Acreditam na imortalidade da alma(...).” Cena de Antropofagia (um ritual indígena). “Voltando da guerra, trouxeram prisioneiros. Levaram-nos para sua cabana: mas muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortarm-nos em pedaços e assaram a carne (...) Um era português (...) O outro chamava-se Hyeronimus; este foi assado de noite.” Viagem ao Brasil - Rio de Janeiro : Academia Brasileira, 1930.
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Histórico
FOTOS REPRODUÇÃO
A morte do padre Anchieta, em detalhe do quadro Glorificação de Anchieta,de Lucílio de Albuquerque
Anchieta escrevendo na areia, óleo de Benedito Calixto
José de Anchieta Nascido em Tenerife, nas Ilhas Canárias, José de Anchieta, filho de família nobre, não tendo vocação às armas, ingressou no colégio jesuíta da Universidade de Coimbra, em 1551. Aos 19 anos acompanha Duarte da Costa, na expedição ao Brasil e chega a São Vicente. Em 1554, Anchieta e o jesuíta Manuel da Nóbrega sobem a Serra do Mar e fundam um colégio destinado principalmente à catequização dos índios em Piratininga – mais tarde definida como a cidade de São Paulo. Fazia de tudo um pouco desde medicar até ensinar latim aos índios.
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Com os vários ataques dos índios Tamoios na região de Piratininga, o Jesuíta parte para Iperoig (Ubatuba), tentar uma conciliação pacífica, mesmo contrariando as ordens de Duarte da Costa. Apesar de duras penas, tornando-se cativo dos índios, ele consegue seu intento levando a paz da província. Mas precisava fazer mais e migrou para o Rio de Janeiro, onde lutou ao lado de Estácio de Sá contra os franceses, e Salvador. Em 1585 o missionário, no Espírito Santo, fundou Guarapari e faleceu, aos 63 anos, na cidade de Iriritiba, hoje chamada de Anchieta, para onde seu corpo foi levado e sepultado. Muitos fatos inexplicáveis pela ciência giraram em torno dessa personalidade incrível de Anchieta como o fato dos índios o acharem um feiticeiro por terem visto-o levitar em seu cativeiro, ou até pessoas atribuírem-lhe milagres como curas impossíveis. Anchieta foi gramático, teatrólogo, poeta e historiador. Muito contribuiu com seu aprendizado nas Américas, deixando um legado enorme para as gerações vindouras como: “De gestis Mendi de Saa” (“Os feitos de Mem de Sá”), primeiro poema épico da America. Em 1980 José de Anchieta foi beatificado por João Paulo II.
Ubatuba: sítio das canoas ou das canas Salvador Corrêa de Sá e Benevides, Governador Geral do Rio de Janeiro, agilizaram a ocupação da região, após a Paz de Iperoig, transformando-a em pólo colonizador fixo. Após tanta demonstração de bravura, Ubatuba foi fundada em 28 de outubro de 1637. Em 1728, foi elevada a vila, com o nome de Vila Nova da Exaltação à Santa Cruz do Salvador de Ubatuba, e em 13 de março de 1855, à cidade. Com a decosberta de ouro na Minas Gerais, Ubatuba transforma-se em área de produção de cana-de-açúcar, construindo vários engenhos, serrarias, olarias e um porto praticamente natural para escoamento dessa produção. Essa prosperidade é abalada quando, em 1787, o Governador de São Paulo decreta uma lei na qual todas as mercadorias deveriam ser movimentadas no porto da cidade de Santos. Mas, com a abertura dos portos ao exterior, decretada por Dom João VI em 1808, o porto cresce principalmente pelo escoamento da produção de todo o Vale do Paraíba e Minas Gerais, transformando-o no porto o mais movimentado de todo o estado. Todavia, mais um grande golpe assola a sorte da região, quando da construção da estrada de ferro D. Pedro II, que ia de São Paulo ao Rio de Janeiro, onde a tal produção
era levada ao porto do Rio. Devido à sua geografia, Ubatuba ficou isolada, tão isolada que, para ir ou vir à cidade demorava-se dias, tanto por mar como por terra. O isolamento total foi crucial a um período estagnado, caracterizado pela agricultura e pesca de sobrevivência. Finalmente, em 1953, as Rodovias que ligam Ubatuba a Taubaté e depois a Rio-Santos, transformou a região em um ponto turístico de fenomenal atração até os dias de hoje.
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FOTOS Bera PalHOTO
Histórico Primeira fábrica de vidros do Estado de São Paulo Há controvérsias em relação a esse pioneirismo em fabricação de vidros no Brasil, mas sabemos que aqui eram feitas as garrafas para aguardentes que eram exportadas. Porém, com a proibição da manufatura no Brasil, ordem essa de Portugal, a fábrica foi obrigada a ser desativada. Hoje, apenas uma pequena amostra desse tempo ainda resiste e fica a 25 km do centro de Ubatuba, na Lagoinha.
Ruínas do Ipiranguinha No sentido Bairro do Ipiranguinha pela Rodovia SP 125, o acesso pode ser efetuado pela Cachoeira do Ipiranguinha. Se for a pé, siga por uma trilha, ou de carro por uma estrada de terra, pelo Horto Florestal, ao lado do rio. Esse bairro servia como entrada ao Vale do Paraíba, onde encontramos as Ruínas do Ipiranguinha, construção em pedra, datada do século XVII, que formava uma fazenda com variedade de produtos grande e servia também para a estocagem e armazenamento de material de escambo que vinham do Vale, permanecendo em alta até o início do século XX.
Fotos do Museu Histórico de Ubatuba, situado na Cadeia Velha da cidade, onde abrigava “meliantes” na era do café. Sua edificação é considerada Patrimônio Histórico Municipal. Hoje abriga peças de várias épocas da região.
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As ruínas em pedra e cal da Fazenda Bom Retiro estão localizadas próximo ao km 72, da Rodovia Rio-Santos, sentido serra. Construídas, segundo estudos recentes, provavelmente no início do século XIX, antes da abertura de subscrição pública - venda de ações, por um dos primeiros proprietários da Lagoinha, o engenheiro francês Stevenné, em 1828; são remanescentes de uma Ubatuba próspera, quando em seu porto eram negociadas e exportadas a produção valeparaibana, trazida pelos tropeiros pela estrada Ubatuba-São Luís do Paraitinga, e a ubatubana (aguardente, açúcar mascavo, milho, fumo...). Nesse período, assim como Stevenné, muitos outros estrangeiros: os Vigneron Jussilendiere, Garroux, Bourget (Borgete ou Borges), Charleaux, Bruyer (Brié ou Brulher) etc., foram atraídos para a abastada vila da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba. As Ruínas do Antigo Engenho da Fazenda Bom Retiro da Lagoinha do Município de Ubatuba, foram tombadas pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo em 16 de dezembro de 1985, para sua proteção e valorização enquanto Patrimônio Histórico de suma importância para o Município. Foi classificado como engenho devido ao grande aqueduto existente e ao que restou das instalações de uma roda d’água. O terreno onde se encontram as Ruínas foi doado pelo senhor Jamil Zantut e sua esposa Benedicta Corrêa Zantut à FUNDART em 19 de outubro de 1989. O engenheiro francês João Agostinho Stevenné ou Stevenin, no início do século, proprietário, também, da Maranduba e Sapé, criou na Lagoinha um engenho de açúcar - uma grande fazenda modelo, escola para o ensino de novas técnicas para a fabricação de açúcar e introdução e propagação de carneiros merinós para a produção de carvão animal, através de abertura de processo de subscrição pública de ações (venda de ações). A fazenda modelo na Lagoinha entrou em decadência por volta de 1850 com a evolução das técnicas agrícolas. As datas de compra da propriedade por Stevenné, anterior à da abertura de ações, e de venda do Engenho da Lagoinha são desconhecidas e objetos de estudo pelo Departamento de Patrimônio, Biblioteca e Arquivo, da FUNDART. Segundo relatos orais e recentes pesquisas, outro importante proprietário foi o Capitão Romualdo, já no final do século, possuidor de vasta cultura de café e cana de açúcar, fabricante e exportador de aguardente e açúcar mascavo. Seus escravos teriam ganhado a liberdade com a abolição da escravatura, mas sem terem para onde ir e por gratidão e amizade, permaneceram até o falecimento do fazendeiro.” Fonte: FUNDART
TATYANA ANDRADE
Ruínas da Lagoinha
Ubatuba 15
TATYANA ANDRADE
Religiosidade
A influência cristã
na cultura local
Procuramos em diversas fontes o significado mais próximo sobre religião para o que vimos principalmente nas comunidades caiçaras de Ubatuba. A definição mais cabível para o panorama encontrado é essa: “A etimologia tradicional faz derivar a palavra religião do latim: religio, religare [religar, ligar bem], o que nos permite afirmar que a religião é, assim, uma ligação entre os homens. A religião pode, portanto, definir-se como um sistema de crenças [dogmas] e de práticas [ritos] relativos ao sentimento da divindade [ou realidade sagrada] e que une na mesma comunidade moral [Igreja] todos aqueles que a ela aderem.” (www.eurosophia.com). Conversamos com Frei Luiz Avelar, 45 anos, pároco da região há sete anos, que nos explicou a grandiosidade do que representa a religião nas muitas comunidades de Ubatuba. Antes, essas comunidades eram
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atendidas apenas por três ou quatro padres que se dividiam entre todos os fiéis. Tarefa difícil de ser feita devido às distâncias e acessos complicados, pois a área de abrangência ia de Maranduba até Camburí. Mas nem por isso a fé deixou de mover montanhas. Atualmente, esse território está dividido em cinco paróquias, são elas: Centro, que tem como padroeira a Santa Cruz da Exaltação; Perequê-Açú, como padroeira Nossa Senhora Imaculada Conceição; Ipiranguinha, como padroeira Nossa Senhora de Fátima; Itaguá, como padroeira Nossa Senhora das Dores; e Maranduba, como padroeira Nossa Senhora das Graças. Abaixo das paróquias, vem as comunidades: Matriz, São Francisco, São Benedicto, Santo Expedito e Santa Clara. Também não podemos esquecer as devoções particulares, como São Pedro que é o padroeiro dos pesca-
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dores. Ou seja, Ubatuba é o “resumo” do catolicismo. Logicamente toda essa devoção vem da colonização portuguesa, principalmente difundida pelos jesuítas. Essa religiosidade era fundamental, porque os primeiros colonizadores se viam em terras inóspitas, cercados de um povo totalmente diferente de sua cultura. Primordial também aos pescadores, povo que lida diretamente com o mar, que, segundo eles, a ajuda divina é a única que pode salvá-los de suas intempéries. E essa demonstração unida em Cristo se dá em várias festas, como a Festa do Divino, muito esperada todos os anos. Há 146 anos ela é feita nos mesmos traços, sempre a partir da segunda semana de julho, que começa pela novena e depois com a procissão que sai da capela de São Francisco e vai até a Matriz; seu ápice é a festa que possui várias brincadeiras e comidas, sendo o prato principal a tainha. Aqui em Ubatuba, a festa é feita fora de época, pois segundo a tradição seria realizada na Pentecostes, porém, para contar com a presença dos pescadores, a data foi transferida para julho. Uma curiosidade é a devoção a São Benedicto, que por ser um santo tão adorado, acaba participando de todas as festas religiosas. Outra festa muito representativa é a de São Pedro que, como já dissemos, é o Santo protetor dos pescadores. Essa homenagem é feita em 29 de junho.
A Matriz Não podemos falar da Matriz sem antes dar atenção ao Frei Pio Populin, que como o nome parece dizer, popular. Morto aos 96 anos em 2009, essa figura foi crucial para organizar e levar a fé aos seus pastores. Um homem de generosidade ímpar e empreendedor do templo de Deus tendo ele mesmo erguido vários em comunidades distantes. A construção da Matriz foi iniciada em 1780, substituindo a primeira capela, que ficou pequena devido ao grande crescimento do porto no século XIX, que tinha como padroeira, Nossa Senhora da Conceição. A realização do projeto para a Matriz atual teve muitos percalços pela falta de subsídios e, em 1842, foi criada uma loteria municipal em prol da Matriz. Em 1876, ainda inacabada, finalmente pode ser usada pelos fiéis e, somente em 1940, a obra foi concluída. Porém esta foi elevada sob a invocação da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba, comemorada todo dia 14 de setembro.
BErA PAlhoto
Exaltação da Santa Cruz Muitas definições foram compiladas para justificar o amor e adoração ao símbolo da Cruz, porém, entre tantas, esta acreditamos que seja a mais representativa de maneira generalizada, não só ao Cristianismo, mas para todas as outras religiões: “A Cruz está de pé, enquanto o mundo gira”, cantava-se em séculos passados, aparecendo, assim, a Cruz como a rocha firme, o baluarte que não treme diante das coisas que passam. Ela é estável e firme! Ela está firme enquanto os acontecimentos humanos se desenrolam aos seus pés, transformados pelo sangue redentor, pelo benefício de um amor eterno.” Fonte: http://www.universocatolico.com.br
Altar mor da Matriz
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Bera Palhoto
Ilha Anchieta
Rebelião na Ilha
Uma estratégia digna de aplausos A Rebelião do presídio da Ilha de Anchieta foi como aqueles filmes nos quais você não sabe se torce pelo bandido ou pelo mocinho, pois após os acontecimentos o que restou foi apenas a marca registrada de um grande estrategista e sua formidável inteligência. O que passou não se julga, deixa apenas seus vestígios. E essa magnífica história, cheia de dores e alegrias é o que queremos deixar aqui registrada. 18 Cidade&Cultura
Bera Palhoto
Ilha Anchieta
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reProDUÇÃo reProDUÇÃo
O início de tudo Uma ilha paradisíaca cuja história foi marcada por acontecimentos de relevância inconteste para a história do Brasil, primeiramente, recebeu em suas praias Cunhambebe, chefe Tupinambá que dominou todos os caciques Tamoios entre a região de Cabo Frio e Bertioga, que fazia da ilha uma espécie de colônia de férias além de todas as negociações e estratégias de luta contra seus inimigos. Foi palco também de observatório dos ingleses, que controlavam o tráfico negreiro, pois sabia que pelo porto de Ubatuba havia carregamentos ilícitos de escravos. A Ilha, em 1902 era habitada por 402 famílias caiçaras, que foram deslocadas para o continente com a construção de um presídio que inicialmente foi feito para presos de pequenos delitos – vagabundos e cassineiros (pessoas que trabalhavam com o jogo) – inaugurado em 1908. Em 1914 foi desativado e só foi reaberto em 1928. Quando Getúlio Vargas subiu ao poder, transformou a cadeia em prisão para políticos e foi denominada de Instituto Correcional da Ilha Anchieta. Na segunda Grande Guerra, muitos presos que ali viviam e também soldados e civis, avistaram um submarino, que achavam ser de nacionalidade alemã. Com medo, todos pediram para que fossem transferidos por conta da ameaça, e foram prontamente atendidos. Então, mais uma vez o presídio ficou estagnado por um período curto e depois transformado no primeiro presídio de segurança máxima do estado de São Paulo, devido a sua localização supostamente à prova de fugas.
Tivemos o privilégio de conversar com a Sra. Dionéia da Cruz, professora aposentada. Hoje, Dio, como gosta de ser chamada, é monitora histórico-cultural da ilha do Programa Filhos da Ilha, uma iniciativa que visa trazer antigos moradores do local que vivenciaram a Rebelião. O objetivo maior é preservar a história de maneira viva. Junto às ruínas, mais uma testemunha, o estudo desse momento brasileiro gera um tom realístico atual à história. Dio, na época com sete anos, morava com sua família na então denominada Ilha dos Porcos, quando seu pai era chefe de presídio. Sua família tinha um convívio tranquilo em relação aos detentos. A vida das famílias era baseada na rotina dos presos. O governo enviava alimentos e gêneros de primeira necessidade pelo mar de Santos. No local havia horta, bananal, galinhas, vacas, uma mini fazenda com muitos porcos, tudo destinado ao presídio. Os moradores compravam comida do continente. Compravam a sobra dos bois abatidos para os presidiários. O pão era comprado do presídio, o sovado e o rústico. “Era gostoso, a vida era maravilhosa. Quando saía daqui, era para casa dos meus avós, no Perequê Mirim, nas festas religiosas. O pessoal tratava a gente como se fosse da capital, pois tinha mais gente aqui que lá. Era como um bairro chique.” Eram mais ou menos 440 internos que se revezavam nas tarefas. Havia turnos para corte de madeira, para a produção de lenha, para a criação dos animais, padaria, limpeza etc. Os que não saíam para trabalhar ficavam no chamado quadrado e as celas permaneciam abertas
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Ilha Anchieta durante o dia. Tudo era feito e tratado pelos presos, inclusive a pesca, oportunidade de muitas fugas. As canoas eram trancadas a noite e vigiadas. Perguntamos à Dio como era possível essa convivência tão díspar. E com uma resposta simples ela disse que não conhecia outra realidade e que não tinha parâmetros. Conta-nos algumas curiosidades a respeito; um exemplo foi quando ela viu um carro pela primeira vez, achou que era uma fera que roncava. Essa forma de vida era simples e o convívio com o “barril de pólvora” era normal. Mas, em 1952, o “barril” explodiu de forma tão elaborada que é difícil de acreditar. Um plano arquitetado durante um ano e minuciosamente colocado em ação. Um ano antes, foi feito um abaixo assinado, tanto pelos detentos como pelos policiais, para tirarem o Capitão, que era deveras enérgico. Ele foi substituído pelo Tenente Fausto Sady Ferreira, relações públicas e sem experiência para a monta do cargo. Nas “entrelinhas” do presídio, Álvaro da Conceição Carvalho Farto, engenheiro estelionatário, com um enorme currículo de fugas, com muita astúcia, foi o mentor dessa eclosão. Portuga, seu codinome, “recrutou” Pereira Lima (ex-sargento da Força Pública condenado pela morte de outro militar num cabaré por causa de uma mulher), que entendia muito de armas e manejo de grupos. Os dois ordenaram aos outros detentos que, dali por diante, todos tinham que ser muito disciplinados, não brigarem entre si e deixar assim um clima de muita paz. Dio conta que seu pai andava preocupado com tamanha calmaria dentro do presídio, que isso era um mau presságio. Com toda essa “tranquilidade”, os presos foram tendo mais regalias e liberdade. O diretor atendia aos presos e ouvia o representante dos grupos com suas reinvidicações. Um dia, Portuga foi conversar com o diretor e disse que fazia cinco noites que não dormia porque escutou um boato que queriam matá-lo, então ele foi transferido para a cela chamada “isolada”. Ali, Portuga teria condição de planejar a fuga à vontade e durante o dia passava as ordens para os outros. Na rotina diária, o tiro de fuzil era considerado o alarme e só era disparado no caso de muita necessidade, dessa forma, os militares que moravam na parte mais acima, iam para o quartel pegar as armas. Sabedor disso, Portuga tinha que desarmar o alarme. Como o diretor era exímio atirador e ficava no píer jogando pratos treinando com arma pequena, utilizou o responsável pela
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Bera Palhoto
limpeza (Leitão) para bajular toda vez que Sady acertava o alvo, empolgando e desafiando para que utilizasse uma arma mais poderosa, como um fuzil. Como Leitão caiu nas graças do dirigente, o tiro do fuzil virou uma rotina aos ouvidos dos militares. Pronto, o primeiro passo foi dado, o alarme não existia mais. Para poderem pegar as armas, precisavam saber tudo o que acontecia no local em que eram guardadas e, para isso, o estrategista convocou Mão Francesa que era homossexual, um assassino frio e calculista e que sabia cortar cabelo. Com essa habilidade e uma disciplina exemplar, o cabeleireiro conseguiu a permissão de cortar os cabelos dos soldados na casa onde as armas eram guardadas e assim entendeu todos os procedimentos adotados pela segurança do local e passou um desenho da casa por dentro para Portuga. O estelionatário tinha agora nas mãos tudo o que precisava de básico para colocar seu plano em ação, acrescentando mais alguns pontos de genialidade que era retirar o máximo de soldados da área do presídio no dia da fuga. Para isso, na coleta de lenha, alguns prisioneiros assassinaram Dentinho, um cativo dedo-duro. Com o desaparecimento do mesmo, vários guardas foram destacados para procurá-lo nas matas. No dia seguinte, sobraram apenas três soldados para acompanhar 117 presos na área da lenha, o que não é difícil imaginar que os infelizes não deram conta do recado e ali ficaram para sempre. Os cativos vieram das matas carregando as toras normalmente e quando chegaram à casa de armas a invadiram e mataram dois soldados. Pegaram as munições e partiram para a casa do Chefe de Disciplina para matá-lo. Depois fizeram de refém o Diretor e o Tenente e os prenderam em uma cela. Agora estava tudo calmo aparentemente, para que quando a lancha Ubatubinha – que vinha regularmente à ilha abastecer o almoxarifado – chegasse, os rebelados pudessem sair da ilha com ela junto às outras canoas de pesca. Porém o mar ficou ruim e a lancha não chegava, deixando todos desesperados. Começaram a beber e a queimar os arquivos que ficavam na administração, e consequentemente o prédio pegou fogo. A lancha que já estava chegando voltou porque havia algo de errado. Mas quem chegou a dar a notícia da rebelião foi o soldado Simão Rosa da Cunha que correu e atravessou o boqueirão no Morro da Espia e, como estava acostumado com o mar, calculou onde poderia nadar até o continente. As forças estaduais foram acionadas e as tropas vieram por volta das quatro
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Ilha Anchieta
horas da manhã. Com o retorno da Ubatubinha ao continente, os presos se apavoravam e saíram com as canoas. Desesperados, pois não havia lugar para tanta gente, muitos se afogaram. Os que conseguiram fugir chegaram a Ubatumirim e seguiram os fios do telégrafo. Junto ao bando, estava o mentor disso tudo, Portuga, que era cardíaco e perto da cidade de Cunha veio a falecer. Os demais foram perseguidos e pegos, vivos ou mortos, mas todos. Às quatro horas da manhã veio o primeiro reforço e os presos que não se revoltaram ajudaram as famílias que ficaram, o que reduziu suas penas. Um cativo até se tornou guarda de presídio. “Na hora do conflito não vi nada, minhas irmãs estavam na escola que fica ao lado do local onde ocorreu todo o conflito e meu pai estava de folga nesse dia, mas
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ia levar uma pessoa ao médico. No caminho, encontrou Simão Rosa que contou ao meu pai o que estava acontecendo. Então desesperado correu até a escola para resgatar minhas irmãs, que estavam cantando e encolhidas no chão, voltou e falou para todos fugirem para o mato. Nisso vieram dois presos para ajudar os civis, uma grávida com seus cinco filhos e as mulheres viúvas. E fomos para o sul, subimos o morro e entramos numa gruta cheia de morcegos. Ali nos escondemos, passando fome. A grávida entrou em trabalho de parto no meio de 18 crianças, ou seja, nós tínhamos que sair dali. Caminhamos pelas praias com meu pai e outros homens, sempre apagando nossos rastros na areia e no meio do caminho encontramos um grupo de soldados que nos acalmou dizendo que os presos chefes já tinham fugido e
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muitos armados se enfiaram no mato. Encontramos tudo queimado e muito sangue no chão e a notícia dos maridos mortos logo chegou, uma cena brutal e doída, não consigo apagar da memória. E ficamos em celas, protegidos até tudo se normalizar”. Tinham 452 presos no dia da rebelião, 99 são chamados de desaparecidos, China Show foi encontrado dois anos depois em Salvador. Paulo Viana assumiu a direção do presídio. Mais tarde vieram o juiz, promotor e advogados que abriram uma corte provisória e alguns presos foram julgados. Em 1955 os últimos presos foram levados embora e, em 1977, a Ilha Anchieta virou Parque Estadual. O Programa Filhos da Ilha foi criado por Samuel Messias de Oliveira. É a maneira mais impressionante de conhecer nossa história. “Sinto que é uma obrigação mi-
nha, primeiro porque amo demais a ilha, o chão que pisei quando criança, é meu berço, com uma infância extremamente feliz. Faço pela minha terra, pela minha gente, por esse parque e todos os componentes. O que eu quero mais é divulgar a minha vida. Não fui a filha do Cunhambebe mas fui a Dionéia que nasci na ilha.” Alguns relatos fazem a Ilha ser chamada de ilha amaldiçoada. “Ocorreram algumas coisas estranhas, a gente ouve muitas histórias. Uma vez chegou uma senhora que passou pela monitora correndo e perguntou se alguém conhecia um tal de Juarez, e todos disseram que esse homem não trabalhava lá. Perguntaram como ele estava vestido e ela descreveu a roupa que os presos usavam na época e descreveu também a de um outro, com uma calça cáqui, e disse que eles foram até o píer e falaram para ela “bem vindos à ilha Anchieta”. Perguntamos a ela se era parente de algum preso e ela disse que não. Depois mostramos fotos e ela identificou o Mão Francesa e o tal Juarez, que era um antigo funcionário. Outro fato emocionante foi a visita da neta do preso Portuga, Luciana, que foi recebida aqui de braços abertos, pois que culpa ela tem. Demos as boas vindas, ela também é uma Filha da Ilha, e ela disse: só que do outro lado. Mas não é nada disso. Hoje somos todos de um lado só!” Monumento aos soldados mortos na rebelião, que estavam na casa de armas
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Folclore
Tradições
e usos populares
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De pais para filhos, perpetuando um ritual ou uma representação de um dado momento histórico, tornam-se parte integrante da comunidade e representam-na de modo significativo. Assim, o folclore passado de gerações a gerações pulsa a identidade de uma cidade.
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Moçambique
Congada e Moçambique Congada – originária do Congo (África), a Congada é uma celebração de cortejo de reis do Brasil por meio dos escravos e aqui se adaptou aos cultos católicos. Essa dança mantém uma separação em duas partes: o cortejo real, quando se cantam as cantigas, e a embaixada, a parte dramática com personagens e enredo, uma luta simbólica entre um princípio benéfico e outro maléfico. Existe também a versão da Congada como uma celebração à Abolição da Escravatura. É uma luta entre os senhores de engenho, representados pela cor vermelha, e os escravos, representados pela cor azul. A rainha representa a Princesa Isabel.
A Dança do Boi de Ubatuba Tradição carnavalesca, trazida pelo maranhense Sr. Carlinhos, está presente desde a década de 1930. Uma adaptação do Bumba-Meu-Boi, na qual o boi e os cavalinhos são confeccionados pelos próprios participantes.
Festa do Divino Rainha de Portugal, Isabel, por volta do ano de 1300, mandou construir a Igreja do Divino Espírito Santo, em Alenquer. Para comemorar a obra, surgiu a Romaria ou Folia do Divino. Trazida para o Brasil pelos colonizadores portugueses, essa tradição perdura até os dias de hoje. Segundo o caiçara Sr. Ozório Antonio de Oliveira, nascido em 10 de fevereiro de 1899 em Pomirim, seu avô já cantarolava as canções que tinha aprendido com seu bisavô. Ou seja, fazendo os cálculos, essa tradição está viva em Ubatuba há mais de 200 anos. Todas as casas faziam comidas típicas, como peixada, biju, farinha e doces. A Festa era um momento de pagar promessas e pedir outras graças. Um fato pitoresco é a ocorrência dos “espias”, homens que ficavam em lugares altos para ver a chagada da Romaria, recepcionando-a com rojões.
De origem incerta, Moçambique é uma dança folclórica constituída por um cortejo que percorre as ruas dançando e cantando, com instrumentos de percussão, de corda e guizos presos aos tornozelos. Seu nome remete à cultura africana, porém sua execução lembra a dança dos Pauliteiros de Miranda, tradicional no nordeste de Portugal. Teria chegado ao Brasil durante a colonização também como uma maneira de catequização, já que os cantos são louvações religiosas, principalmente a São Benedito. As danças possuem nomes religiosos, como Escada de São Benedito e Estrela da Guia, e suas coreografias são realizadas com bastões de madeira, utilizando instrumentos como o tarol (caixinha de guerra), reco-recos, pandeiros, rabecas, tamborins e violas. Na década de 1940, o espanhol Benigno Castro montou uma serraria para tratar a caxeta, espécie de madeira encontrada em grande quantidade na praia de Puruba, para depois levá-la à cidade de Santos, transportada pela lancha Santense. O destino era uma fábrica de lápis. Os trabalhadores da serraria vieram de Cunha para morar em ranchos. Logo fizeram amizade com os residentes de Puruba e ensinaram a eles a famosa Congada. Curiosos, os habitantes naturais iam até Cunha para conhecer as danças e aprenderam também o Moçambique. Empolgaram-se tanto que trouxeram essas tradições para a praia do Puruba. Os pioneiros na Congada foram Ditinho Alves, Basílio Alves, Guilherme Pedro dos Santos, Marcolino Fernandes e Francisco Paulo Fernandes de Cristo. Essa tradição teve altos e baixos, com a morte de alguns integrantes e, em 1987, a Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (FUNDART) retomou a Companhia da Congada de São Benedito do Sertão do Puruba. Dessa vez de forma sólida, essa manifestação com apresentações não ficou apenas no município, expandindo-se também para outras localidades. O Moçambique, por sua vez, sempre esteve presente, composto agora pelos purubanos.
Fandango É composto por muitas danças de natureza popular, chamadas de ‘marcas’. Chegou ao Brasil pelos portugueses açorianos no litoral paranaense por volta de 1750. Integrado ao Intrudo (o ancestral do Carnaval), os componentes do Fandango eram chamados de folgadores e folgadeiras e dançavam muitos bailados, como Anu, Andorinha, Chimarrita, Tonta, Caranguejo, Vilão do Lenço, Sabiá, Marinheiro, Xarazinho, Xará Grande, entre outros. Durante a Festa do Divino em Ubatuba, o Fandango era apresentado em várias etapas: primeiramente a Xiba ou Bate-pé e depois a Ciranda de Roda, Canoa, Serrabaile, Marrafa, Ubatubana, etc. Os participantes dançavam até o amanhecer.
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Folclore
Dança da Fita Tradição ariana chegou em nossas terras pelos portugueses e espanhóis. Com um mastro no centro ornado com flores e várias fitas coloridas soltas, os dançarinos trançam essas fitas formando vários desenhos ao som de sanfona, violão e pandeiro. Em Ubatuba, o senhor João Vitório, pescador da praia da Enseada, trouxe para o município a Dança da Fita, a qual aprendeu em Santos, no século XVIII. Típica do carnaval, a dança era feita dentro das casas.
Máscaras Folclóricas Tradição carnavalesca de Ubatuba, típica dos carnavais vienenses, chegou por essas bandas no século XIX. As máscaras eram feitas com moldes de barro, polvilho, papel higiênico, jornal velho e o que mais servisse. Criatividade e beleza eram os pontos altos, tendo José Carneiro Bastos (Zé Cabé), Manoel Nunes de Souza (Manequinho Carcereiro), Antônio Felix de Pinho (Seo Pinho), José Luiz Pimenta (Zé Pimenta), e mais recentemente João Teixeira Leite como seus melhores criadores. Hoje os mascareiros se apresentam na Dança do Boi.
Folia de Reis É uma festa religiosa de origem portuguesa, que chegou ao Brasil no século XVIII. Em Portugal tinha a finalidade de divertir o povo, já no Brasil teve um caráter mais religioso. De 24 de dezembro a 6 de janeiro, dia de Reis, um grupo de cantadores e instrumentistas percorre a cidade entoando versos relativos à visita dos reis magos ao Menino Jesus em busca de oferendas com um prato de comida ou uma xícara de café. Nas praias de Perequê-Açu e Maranduba e no centro urbano, ainda existem grupos que lutam pela continuidade dessa tradição.
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MÁRCIO ALVES
Arquitetura
Na fachada dos casarões
a imponência de uma cidade rica 30 Cidade&Cultura
Casarão do Porto O armador e responsável, Manoel Balthazar da Cunha Fortes era uma personalidade, em uma época de crescente desenvolvimento econômico, social e cívico da cidade. Balthazar da Cunha, um homem pobre e de poucos estudos, construiu um patrimônio suficiente para a construção do seu Casarão, chamado de majestoso solar para o conforto de sua família. Ali vivia com sua esposa Dona Benedita Batista da Cunha Fortes e seus filhos, que depois fizeram parte da sociedade local. Baltazar veio a falecer no dia 26 de fevereiro de 1874, sendo seu nome imortalizado em uma das ruas do centro de Ubatuba. Cabe salientar que alguns historiadores sustentam que o Sobradão do Porto funcionava como Alfândega local, outros afirmam que nesse local Dom Pedro I, encontrava-se secretamente com a Marquesa de Santos. Ao certo, sabemos por fontes primárias, recolhidas por Washington de Oliveira que apenas a parte de cima do edifício era residência de Balthazar da Cunha e sua família, no térreo estava o armazém e a casa comissária – importadora e exportadora de bens comerciais (De Oliveira, 1977:74). Outros inúmeros casarões na pequena Vila de Ubatuba, hoje região central da cidade, foram erguidos pomposamente e mostravam os fartos recursos dos comerciantes locais e seu desenvolvimento econômico. Ubatuba viveu momentos de glória, sendo considerada uma das principais cidades de São Paulo, ajudou à economia do Estado, ficando à frente dos municípios com a maior renda de toda a Província. Eram viajantes errantes, que vinham negociar, tropeiros
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Arquitetura
Bera Palhoto
e aventureiros de todas as fronteiras desfilavam pelas ruas ubatubenses. Festas e bailes nos pomposos solares com muito esplendor e ostentação. Isso demonstrava a importância, para aqueles que aqui passavam, da prospera Ubatuba, cidade portuária de grande destaque no cenário nacional. Existiu até mesmo um belo teatro na cidade com apresentações de peças e óperas de diferentes companhias, nacionais e estrangeiras. O Teatro de Ubatuba ficava localizado exatamente onde hoje se encontra o Fórum de Ubatuba, na antiga Praça Nóbrega, hoje o calçadão, esquina com a Rua Celso Ernesto de Oliveira. Construído, pelo português Joaquim Ferreira Gomes, com espaço para trezentas pessoas, as de maior poder econômico tinham lugar cativo em camarotes para assistir as representações. Instalações de muito bom gosto mostravam uma construção com um acabamento e decoração de primeira, tudo feito de madeira. Mas, durante a segunda decadência do município, este edifício foi esquecido e abandonado. Em 1910, a her-
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Taipa de Pilão
Bera Palhoto
tatYaNa aNDraDe
É uma construção que consiste em levantar paredes de barro, comprimidas com golpes de pilão entre placas de madeira. É uma técnica de origem árabe, ainda muito utilizada para construções em clima seco. Este tipo de construção tem a qualidade de isolamento térmico. Existem diversas construções da antiguidade feitas com este método, principalmente na China, onde boa parte de suas famosas Muralhas foi edificada desta maneira. No ocidente, esta técnica foi apresentada pelos mouros, e Algarves é um exemplo típico disso. Atualmente, os estados Unidos, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia e Chile estão retomando a taipa de pilão em suas construções consideradas modernas.
deira do teatro, Dona Luzia Dias Círio, sem recursos decide demoli-lo e então prefeito Ernesto Gomes de Oliveira, o adquiriu como bem municipal. Nas comemorações do III Centenário de Ubatuba parte do antigo teatro foi demolido: camarotes e frisas, pois se encontravam em péssimo estado de conservação . Chegou ainda, a funcionar em suas dependências o primeiro cinema de Ubatuba, por pouco tempo. Nos anos 50, o governo municipal da época decidiu doá-lo ao Estado para a construção do atual Fórum Municipal, que mudou dali, depois de meio século. O exemplo deste teatro é ilustrativo. Ubatuba guarda pouco de sua herança em edificações que poderiam traduzir uma imagem arquitetônica do patrimônio histórico de miscigenação artística, uma mistura de estilos na construção. Em uma época importante, a cidade conquistou para sua população um estado de urbanização ímpar que revolucionou a projeção de sua imagem em termos de futuro. Alguns poucos traços históricos de suas construções arquitetônicas foram preservadas e servem como referência para seus habitantes.
Na praia de Iperoig, cores em suas construções se destacam do verde da Mata Atlântica.
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Artesanato
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Arte ou
artesanato? Bera Palhoto
Nos detalhes, as lembranças, e nas formas , a realidade. A difícil arte de trançar a palha, moldar o barro, talhar a madeira ou manusear o “canivete de roca” é uma tradição transmitida de pai para filho entre os caiçaras do litoral norte de São Paulo. Os trabalhos originalmente feitos em vime, taquara e palha, só foram se mesclar ao barro e à madeira com a chegada dos franceses que utilizavam amplamente estes artigos. No início o artesanato praticado em Ubatuba, assim como em outros lugares, era uma atividade de subsistência, apenas para uso doméstico. Hoje os artesãos já contam com uma poderosa indústria que desperta o interesse dos turistas e movimenta o comércio local, além de participações em feiras e exposições pelo Brasil. Com muita habilidade estes caiçaras conseguiram popularizar uma arte primitiva sem sofrerem influências da mecanização. Os pintores continuam a desenvolver o seu rico trabalho com cores vibrantes em peças de cerâmicas e madeiras, tais quais ensinaram os seus antepassados. Cestos, peneiras, vasos, chapéus, imagens religiosas, móveis rústicos, de tudo podemos encontrar nos ateliês destes artistas. Ubatuba 35
O talento caiçara é tanto que já conferiu fama a um dos seus artesãos. É o caso do Seu Antônio Teodoro de Souza. Seu Bigode, como é conhecido, se tornou uma figura lendária em Ubatuba graças à habilidade revelada desde pequeno em esculpir peças de madeira. Nascido em uma casa humilde no Pequerê-Açu, este escultor é a maior referência do artesanato da cidade com mais de 5.200 peças que vão desde uma minúscula imagem de São Francisco até a estátua da Igreja da Imaculada Conceição, com mais de 1,70m. Aos treze anos teve uma bronquite que o impediu de frenquentar a escola. Sem saber ler e escrever, já transformava pedaços de guairana e cedro em piões e máscaras de carnaval. Mais tarde, a sua intimidade com a arte de entalhar seria responsável pelo sustento da família e lhe renderia trabalhos internacionais. Sem esconder as influências de sua formação católica, seu Bigode pode dizer com orgulho que é um dos poucos artistas nacionais a ter uma obra exposta no Vaticano e mais de 2000 peças espalhadas pelo exterior. São de sua autoria também os quatro santos na igreja do Pilar, em Taubaté (São José, Santo Antônio, São Francisco e São Jorge). Outro ícone de cunho artístico é Seu José Vicente da Motta, artista plástico, escultor e pintor com premiações internacionais, fez da arte, seu viver. Seus trabalhos são ecléticos apesar de sua formação católica. Uma frase que resume seu espírito artístico: “Nasci católico, frequentei umbanda e cultos evangélicos, agora sou um terráqueo. Aprendi a conhecer o ser humano”. 36 Cidade&Cultura
BERA PAlhoTo
TATYANA ANDRADE
Artesanato
BERA PAlhoTo
TATYANA ANDRADE
Não podemos deixar de citar as canoas de Ubatuba. Alguns etimologistas falam que Ubatuba vem do tupi e significa abundância de canoas. Não vamos discutir, pois na realidade, sua costa é salpicada delas. E, como o visitante de Ubatuba não tem como levar de souvenir uma canoa para casa, obviamente que esta arte foi reduzida a pequeninas embarcações que cabem em qualquer mala. São réplicas perfeitas das originais e com o mesmo colorido. Conversamos com jovens que vendem essas pequenas jóias ao longo da estrada. Aprenderam o ofício com seus pais e avós. A renda obtida pelas vendas dá o sustento de suas famílias. Os trabalhos artísticos são tantos e tão variados que, no meio do verde da mata, encontramos artesanatos de toda a espécie, de móveis a aves nativas. Vale a pena conferir e também “negociar” o preço. Sem dúvida são peças feitas com capricho e perfeição.
Visita obrigatória é a Casa do Ar tesão de Ubatuba. É uma associação com 40 membros que expõem e vendem seus produtos feitos de matéria-prima variada, onde o consumidor se esbalda em tanta criatividade e cores. Muitos são os artesãos que se fixaram em Ubatuba e hoje vivem das vendas de seu trabalho. A Casa do Artesão fica na Av. Iperoig nº 10 – Centro.
Carnaval de 1983 “Jacob pegou na praia um tronco de madeira parecido com um boi, adaptou um tonel que encheu de vinho, colocou as rodinhas e entrou na avenida para alegria dos foliões que tinham bebida de graça. E ainda teve a marchinha para animar a festa”. Essas são as palavras que descrevem seu Jacob, artista e músico de espírito cigano que, como poucos, retrata a vida cotidiana caiçara. Suas obras são de extrema pureza e sensibilidade que só um fervoroso defensor e admirador da natureza pode transmitir.
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Meio Ambiente
A natureza
como
Bera Palhoto
cenário
Sinuosidade, esta é a forma como se pode descrever Ubatuba, entre matas, sacos, enseadas, ilhas e mares, a cada curva desperta em nós a sensação de que realmente necessitamos do belo.
Meio Ambiente
Bera Palhoto
Não é por acaso que a cidade de Ubatuba é considerada um dos pólos turísticos mais procurados do estado de São Paulo. Entre cachoeiras, praias e ilhas, além do belo colorido formado pela diversidade de espécies que contrastam com o abundante verde da Mata Atlântica, são encontradas duas importantes unidades de conservação ambiental: O Parque Estadual da Serra do mar, tombado pelo COMDEPHAAT e o Parque Estadual da Ilha Anchieta, e ainda abriga em seu território a sede do Projeto Tamar que é destinado à conservação de tartarugas marinhas no território brasileiro. Deu para perceber que quando o assunto é meio ambiente Ubatuba não deixa nem um pouco a desejar. Cortada pelo Trópico de Capricórnio, coberta pela Serra do Mar e sua exuberante Mata Atlântica, a cidade de Ubatuba localizada no litoral norte da capital do Estado de São Paulo possui muitas praias e várias ilhas, dentre as quais podemos destacar duas: a Ilha das Couves e a Ilha Anchieta. Sua geografia é interessante, espremida entre a Serra do Mar e o Oceano Atlântico, Ubatuba forma um corredor verde muito preservado.
“As areias das praias litorâneas são geralmente originárias dos rios que erodem os continentes e transportam seus fragmentos até o litoral, onde o mar encarrega-se de distribuí-los pela costa. Pode-se também encontrar praias formadas por conchas ou outros materiais, bastando que tenham um tamanho, densidade e quantidade suficientes para tanto... Os materiais que compõem uma praia podem também ser de várias cores. Nas ilhas do Havaí (EUA), por exemplo, há praias de areia branca, compostas de esqueletos de corais, e praias de areias pretas, nas quais o material é derivado de lava vulcânica. Podemos encontrar praias de coloração amarela, verde ou rosa, dependendo do material específico ou dos tipos de conchas dominantes no material depositado.” Fonte: http://cursos.unisanta.br/oceanografia/regiao_costeira.htm
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Areias
TATYANA ANDRADE
Serra do mar “Costão rochoso é o nome dado ao ambiente costeiro formado por rochas situado na transição entre os meios terrestre e aquático. É considerado muito mais uma extensão do ambiente marinho que do terrestre, uma vez que a maioria dos organismos que o habitam, estão relacionados ao mar... É um ambiente extremamente heterogêneo: pode ser formado por paredões verticais bastante uniformes, que estendem-se muitos metros acima e abaixo da superfície da água (ex. a Ilha de Trindade) ou por matacões de rocha fragmentada de pequena inclinação (ex. a costa de Ubatuba/SP). No Brasil, pode-se encontrar costões rochosos por quase toda a costa... a maior concentração deste ambiente está na região Sudeste, onde a costa é bastante recortada. A partir da observação da fisiografia da costa do Brasil, pode-se estabelecer uma relação entre a ocorrência de costões rochosos e a proximidade das serras em relação ao Oceano Atlântico. Tomando como exemplo o Estado de São Paulo, observa-se que em locais onde a Serra do Mar se elevou próxima ao oceano, ocorre um predomínio de costões rochosos na interface da terra com o mar (ex. Ubatuba), já em locais onde a Serra do Mar está muito distante da costa, ocorre o predomínio de manguezal e restinga (ex. Cananéia/SP). Os costões são, portanto, na maioria das vezes, extensões das serras rochosas que atingem o fundo do mar. O costão rochoso pode ser modelado por aspectos físicos, químicos e biológicos. Em relação aos aspectos físicos, a erosão por batimento de ondas, ventos e chuvas é o principal deles, mas a temperatura também possui papel importante na de composição das rochas, a longo prazo, através da expansão e contração dos minerais. Os fatores químicos envolvidos dependem do tipo de rocha que forma o costão, uma vez que minerais reagem quimicamente com a água do mar (ex. ferro), sendo que estas relações são reguladas principalmente pelos fatores climáticos. Além destes, temos o desgaste das rochas que pode ser causado por organismos habitantes ou visitantes do costão, como ouriços, esponjas e moluscos. O ecossistema costão rochoso pode ser muito complexo e, normalmente, quanto maior a complexidade, maior a diversidade de organismos em um determinado ambiente.” Fonte: http://www.ib.usp.br
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Mata Atlântica Espalhada ao longo da costa atlântica, a Mata Atlântica é um complexo conjunto de ecossistemas de grande importância por abrigar uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, reconhecida nacional e internacionalmente no meio científico sendo considerada a floresta mais diversificada do planeta. O elevado índice de chuvas ao longo do ano permite a existência de uma vegetação rica, densa, com árvores que chegam a 30m de altura como: jequitibá-rosa, quaresmeira, palmito, jacarandá, pau-ferro, murici, jambo, jambolão, xaxim, paineira, manacá-da-serra, figueira, angico, guapuruvu, maçaranduba, ipê-amarelo, jatobá, imbaúba, canela-amarela, são os destaques dessa floresta.
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TATYANA ANDRADE
TATYANA ANDRADE
Meio Ambiente
Com quase 100 km de extensão, o litoral de Ubatuba apresenta inúmeras praias, grandes ou pequenas, nas quais podemos desfrutar desde o selvagem até o conforto máximo. Contabilizamos 92 praias, fora as das ilhas. Não daria aqui para descrever todas, mas garantimos que se você estiver só ou acompanhado, se quiser agito ou solidão, temos certeza de que achará a praia ideal. São tantas e tão belas que qualquer um ficará satisfeito. Um exemplo de extremos é a praia da Brava da Almada e da Iperoig. A primeira é o total isolamento, com um “muro” de abricoeiro que se estende na orla inteira e na segunda encontramos comércio, restaurantes e tudo que a vida urbana proporciona.
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Praias
Praias de Ubatuba. Sentido Caraguatatuba - Paraty: Galhetas Figueira Ponta Aguda Mansa Lagoa Brava do Forte Saco das Bananas Raposa Caçandoquinha Caçandoca Pulso Maranduba Sapé Lagoinha Oeste Peres Bonete Grande do Bonete Deserto Prainha do Deserto Cedro Fortaleza Brava da Fortaleza Costa
Prainha Vermelha Vermelha do Sul Brava do Sul Prainha Dura Barra Palmira Domingas Dias Lázaro Sununga Sete Fontes Flamenguinho Flamengo Dionísia Ribeira Saco da Ribeira Codó Lamberto Brava do Perequê-Mirim Perequê-Mirim Santa Rita Gerônimo ou Boa Vista
Enseada Prainha da Enseada Fora Xandra Itapecerica Godói Toninhas Praia Grande Tenório Vermelha do Centro Cedrinho Prainha do Cais Itaguá Iperoig ou Cruzeiro Matarazzo ou do Padre Perequê Açu Barra Seca Saco da Mãe Maria Vermelha do Norte Alto Itamambuca Brava de Itamambuca Prainha do Félix
Félix Lúcio ou Conchas Prumirim Canto Itaipu Léo Prainha Meio Puruba Surutuba Justa Ubatumirim Estaleiro do Padre Almada Engenho Laço da Cavala Brava da Almada Taquara Fazenda Bicas Picinguaba Brava do Camburi Prainha do Camburi Camburi
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Meio Ambiente
Praia Brava do Frade Por meio de uma linda trilha, ao lado do Saco da Banana, a praia do Frade aparece de forma extasiante, no seu canto direito, em época de chuvas fortes, tem uma cachoeira maravilhosa de águas límpidas. Há também um fato curioso que é o magnetismo das rochas, que para pessoas mais sensíveis, é sentida uma vibração. Muitos dizem que bússolas ficam descontroladas.
Praia das Conchas ou do Lúcio Pela trilha entre as praias do Promirim e do Félix nos deparamos com outra maravilha da natureza, a praia das Conchas. O nome é literal, pois não há areia, apenas conchas mesmo em seus 10 metros de extensão. Fora este inusitado fato, a praia possui grandes rochas que formam muitas piscinas naturais com águas translúcidas. Uma rocha em particular chama a atenção, pois, posicionada de costas para o mar, ela foi esculpida pelas intempéries do tempo em forma de um monge com um capuz. 44 Cidade&Cultura
Praia do Tenório Pelos idos anos de 1700, o Sr. Manoel de Oliveira Thenório, de família tradicional, muito respeitado, foi assassinado por seu afilhado, Zé do Porfírio. Em homenagem à sua personalidade, a praia recebeu seu nome. Mais tarde, o local virou um alambique de propriedade do Sr. Vladimir Toledo Pizza que recebia seus visitantes “matando o bicho”, que no linguajar caiçara significa beber pinga. Alguns mistérios ainda existem ali, como as pontas de rochas que aparecem no inverno ao lado direito da praia. Dizem que é a bruxa Brisa que está sentindo frio e o seu tremor causa uma ventania muito forte que afasta a areia da praia. Com bruxa ou sem bruxa, o que importa é a beleza, que pode ser desfrutada por toda família, com várias atividades proporcionadas aos visitantes.
Praia do Puruba Além da fascinante paisagem do encontro da Mata Atlântica com o mar, a praia do Puruba, distante do Centro a 24 km, exibe suas areias em forma de “ilha”, pois são cercadas pelos rios Puruba e Quiririm. O acesso é feito por pequenos barcos. Com toda essa exuberância, Puruba virou cenário do longa metragem “Invenção do Brasil”. Estes são pequenos exemplos das pérolas que encontramos nesse vasto litoral composto, não apenas de areia, rochas, matas e mar, mas também lugares repletos de histórias fascinantes que causam muitas vezes calafrios, mas que dão um tempero diferente para quem as visita.
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Ubatuba tem em sua costa 16 ilhas, 7 ilhotas e 7 lajes, ou seja, é um litoral vasto em termos de visitação e de admiração da natureza. Além da beleza, encontramos a história de nosso país preservada.
Como sempre, se tratando de Ubatuba, não temos apenas um exemplar de ilha e sim vários e, sendo assim, uma lista é fundamental. Ilhas: Comprida, das Couves, da Pesca, da Selinha, da Pedra, dos Porcos, Redonda, Rapada, do Negro, Pequena, do Prumirim, das Palmas, Anchieta, do Mar Virado, da Ponta e da Maranduba. Ilhotas: da Carapuça, da Comprida, das Couves, das Cabras, do Sul, de Fora e de Dentro.
DIVULGAÇÃO
Lajes: Mofina, Pequena, Grande, Feia, das Palmas, do Forno e Grande do Perequê
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Ilha do Mar Virado Foi encontrado nessa ilha um sítio arqueológico do povo “coletor-pescador”,
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Meio Ambiente
população pré-histórica que vivia da pesca e caça de pequenos mamíferos. Construíam o que comumente chamamos de Sambaqui, uma espécie e lugar sagrado onde eram enterrados seus mortos e cobertos por ossos de animais, conchas e espinhas de peixes. Hoje, esse sítio está sob a tutela do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Ilha da Ponta A peculiaridade desta ilha, que fica entre as praias de Maranduba e Lagoinha, é que se pode ir a pé ou nadando, pois está localizada a apenas 150 metros da costa. O esforço vale a pena e, se estiver bem disposto, ainda poderá dar 360º na ilha. Ilhote do Sul Parte do complexo do Parque Estadual da Ilha Anchieta, por estar muito próximo à ela, forma um canal por vezes com fortes correntes marítimas. Os mergulhadores mais experientes recomendam o mergulho noturno.
BerA PAlhoto
Ilha Anchieta Conversamos com Viviane Buchia Neri, gestora do Parque Estadual da Ilha Anchieta, que nos explicou o funcionamento desta como um todo. “Aqui é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral na categoria de Parque Estadual. O trabalho é feito por meio de programas, tais como: pesquisas para estudo sobre meio ambiente; aspectos culturais e de fiscalização realizada junto à polícia ambiental, devido aos problemas de caça, pesca e de certa forma um turismo desordenado que causa impacto ambiental à natureza. Desenvolvemos os trabalhos junto à comunidade por meio do Conselho Consultivo e um programa de visitação pública com oportunidade para a Educação Ambiental e Turismo com o contato com a natureza. Na ilha há uma represa que fornece energia para o parque com uma micro hidrelétrica, na qual abordamos a importância do armazenamento de água e sua distribuição. Em relação à fauna local, não reconhecemos nenhum animal endêmico, pois esta ilha foi muito devastada. Se compararmos uma foto área de 1954 a uma atual, na anterior quase não tinha vegetação, pois na época do presídio viviam duas mil famílias, que se abasteciam também dos recursos naturais como a madeira. Hoje a vegetação está se restabelecendo. A fauna normal de um sistema insular é avi-fauna, répteis e anfíbios, em qualquer ilha que você vá não há grandes mamíferos. Em 1983 houve a introdução da capivara pela Fundação Zoológico, que teve duas conotações: uma era a pesquisa de como seria a introdução de animais exóticos num ambiente fechado, ou seja, numa ilha, pois dessa forma o monitoramento é mais eficaz, e a outra conotação era a luta ambiental para a preservação, pois uma grande rede hoteleira estaria disposta a construir um empreendimento enorme usando o argumento de que como a ilha não tinha mais vegetação e animais, o espaço seria propício à construção civil, então na época a Fundação da
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Cultura desenvolveu esse projeto. Existe um mito muito grande que as capivaras estão causando impacto ambiental, e com isso a vegetação não está se regenerando, mas o que estamos assistindo não é nada disso. Em 1983 foram introduzidas sete capivaras, em dez anos contamos setenta. “Houve a mistura genética e hoje está havendo um declínio na população destes animais.” Viviane, que trabalha há 20 anos na área ambiental de vegetação, tem percebido que a capivara está ajudando no processo de regeneração. Para que a vegetação comece a restabelecer o crescimento das “orelhas de burro” é fundamental o papel da capivara, pois esta só come o capim, permitindo o crescimento de outras plantas. Portanto, ao contrário do que dizem, a capivara está contribuindo para a volta da flora nativa. “Além das capivaras foram introduzidos tamanduá, veado, preguiça e, com maior reprodução, sagüis, macacos pregos e quatis. Um problema grande que temos hoje é a questão dos macacos pregos e dos saguis, pois eles depredam os ovos de aves, sendo que o ambiente insular é área migratória. O Parque Estadual da Ilha de Anchieta pertence totalmente ao Governo Estadual, diferente do Parque da Serra do Mar. O que preocupa em termos de poluição ambiental e degradação é a questão da poluição no mar, devido ao tráfego de petroleiros, o gasoduto, o aumento do Porto de São Sebastião. Esses fatores apresentam risco de vazamento e, como medida preventiva, estão fazendo um plano integrado de emergência de derramamento de óleo ou produtos químicos junto às marinas que atuam ao redor do Saco da Ribeira. Já está em funcionamento trabalho com oito marinas, com a polícia ambiental, com o exército e com o corpo de bombeiros. É um plano inédito no Brasil e no mundo. Na Ilha, fomos guiados pela Trilha do Saco Grande por Carlos Jorge, mais conhecido por Fininho, que trabalha há quatro anos fazendo a limpeza das trilhas e manutenções necessárias. Nesses cinqüenta minutos de ida e volta, nosso guia falou da fauna ilhéu como cobras caninanas e algumas jararacas, o pássaro Trinca-ferro, aranhas armadeiras e caranguejeiras e escorpiões. Uma das curiosidades são os filhotes de carrapato que ficam aninhados nas folhas em uma espécie de teia de aranha que, aos mais desavisados, raspam a pele ali e ficam com o corpo inteiro infestado. Mostrou-nos também a Balieira, planta local calmante para a dor e também um excelente cicatrizante. O contato com a natureza é tão próximo que na Ilha temos uma ilustre moradora chamada Catarina, uma canina preta, amarela e esverdeada que já não se incomoda com a presença de humanos. E como qualquer ilha que se preze, as praias Grande ou das Palmas, do Presídio, do Sapateiro, do Sul, de Fora e do Leste, formam as principais estrelas desse reduto paradisíaco. 48 Cidade&Cultura
DIVUlGaÇÃo Bera Palhoto
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Bera Palhoto
“Era fim de dezembro, tarde de verão com mar parado e tempo chuvoso. Minha esposa comentou que estávamos sem peixe para o jantar. Disse-lhe que iria tentar pegar algum e ainda brinquei: - Pode escolher. O que você quer? – prontamente ela respondeu: - Robalo e lagosta! Empurrei para o mar o bote de alumínio e rumei para o pesqueiro mais próximo e provável de conseguir bom resultado. Quando joguei a poita próximo as pedras do Pontal da Cruz, na Ilha Anchieta, notei a extrema limpidez da água, coisa que permitia uma animada perspectiva de caça, mormente naquela hora de fim de tarde. Nos primeiros mergulhos, consegui três lagostas. Pouco depois, no fundo de areia, encontrei os robalões . Quatro ou cinco de 10 a 12 kg cada. Arpoei um deles e o levei para o bote. Mas eis que, a bordo e recolhendo o cabo da poita para levar o jantar de encomenda, surge rápida e assustadora o que chamei de “nave guerreira” – uma grande lancha cinzenta com bizarra tripulação. Mulheres e crianças, provavelmente familiares dos dois aguerridos policiais fardados que me apontavam metralhadoras portáteis e berravam: - É proibido mergulhar aqui! Isto é uma reserva! A despeito das armas ameaçadoramente apontadas em minha direção, dei um berro de alegria e comecei a rir. Então havia acontecido! A Ilha Anchieta era agora parque estadual submarino: o projeto Água-Viva havia sido deferido e efetivado. Os policiais entreolharam-se de forma estranha, silenciosamente concordando: haviam encontrado um lunático! Expliquei-lhes que não sabia das proibições, pois não havia avisos e que nada havia lido a respeito. Disse-lhe que era o autor do projeto e que estava contente com a transformação da ilha em reserva submarina etc. Uma das crianças começou a enjoar e as mulheres reclamavam da demora, o que fez que os policiais me libertassem, não sem antes exigirem que lhes entregassem os pescados. Dias depois, consegui um exemplar do Diário Oficial no qual figurava a portaria N-056, de 10 de Novembro de 1983, homologando uma área restrita e proibida à pesca em torno da Ilha Anchieta, que já alguns anos antes havia sido tombada como reserva florestal.” Relato de Edgard O. C. Prochaska, mergulhador nato e profundo conhecedor das águas do litoral brasileiro. Autor do valiosíssimo projeto Água-Viva, que está contribuindo deveras para o repovoamento de nossos mares. Também autor do livro “Caçadores Submarinos: histórias, técnicas e conceitos”.
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Meio Ambiente Fauna Marinha Peixes de Fundo, das Pedras, do Coral ou de Toca - estas espécies são territorialistas, passando praticamente toda sua existência em espaço circunscrito, nadando entre as tocas formadas pelas rochas ou pelos buracos de coral onde também se abrigam. Peixes coloridos como salemas, budiões, pirangicas, frades, cangulos etc. Nesses conjuntos também encontramos polvos, cavaquinhas e lagostas. Exemplares:
Peixes Oceânicos - habitantes migratórios do alto mar ou navegantes das correntes marinhas apenas excepcionalmente se aproximam da costa. São os pesos pesados, os lutadores sensacionais e os moradores das águas azuis profundas que, eventualmente, são capturados por caçadores submarinos quando encontrados próximos à superfície, geralmente em águas bastante distantes da costa. •Agulhão •Atum •Albacora da laje
•Cavala aipim •Dourado •Marlin
Peixes de Curso ou de Passagem - também denominados peixes de corrida, são espécies pelágicas, migratórias de águas abertas que, ocasionalmente, passam próximas às áreas costeiras de águas mais profundas, como pontas de penínsulas, costões de mar batido, lajes e parceis. Geralmente constituídos por peixes fortes e combativos.
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•Garoupas •Badejos •Budião azul •Caranhas •Cação lambaru ou lixa •Marimba •Mero •Paru ou enxada •Sargo •Vermelho •Chernes •Namorado •Pargos •Bagre bandeira •Cação anjo •Corvinas •Linguados •Pescada •Prejereba •Piraúna ou miraguaia •Robalos
•Barracuda •Bicuada •Bijupirá •Bonito Cações ou tubarões: •Mangona •Corta garoupa •Martelo •Cabeça chata •Mako •Canejo
•Tintureira •Limão •Cavala •Espada •Enchova •Galo de penacho •Graçainha •Guaiúba •Guaivira •Guarajuba •Olhete
•Olho-de-boi •Pampos •Remeiro •Sernambigura •Sarda •Tainha •Tarpão •Ubarana •Xaréus •Xereletes
Peixes das formações artificiais - as formações artificiais que acabam por se integrar ao mundo submerso constituem, passado algum tempo, verdadeiros oásis nas extensas planícies de areia do fundo marinho. São formadas pelos escombros de navios naufragados e pelos pilares das plataformas petrolíferas. Um verdadeiro ecossistema peculiar acaba criando em torno das colunas ou das ferragens, abrigando uma fauna variada, inclusive de peixes... “Um volumoso Mero poderá estar espreitando na porta de um antigo camarote povoado por polvos e anêmonas enquanto desliza na sua frente um portentoso tubarão mako espantando o cardume de olhos-de-boi.” Fonte: “Caçadores Submarinos – Histórias, técnicas e conceitos”. Edgard O. C. Prochaska.
Animais meiofauna Em cada punhado de areia da praia, vivem em média uns 7.000 seres de mais ou menos um milímetro de tamanho. Monstruosos na aparência, porém inofensivos ao homem. Alimentam-se de restos de animais e algas em decomposição. Formam um verdadeiro mundo sob nossos pés. “Em termos de taxionomia — a ciência que cuida da classificação das espécies —, pode-se dizer que a areia é um ambiente tão rico quanto a floresta amazônica”, segundo o zoólogo americano Robert Higgins, pesquisador emérito do Departamento de Invertebrados do Museu de História Natural da Smithsonian Institution, um dos maiores especialistas do mundo em meiofauna. O pouco que se sabe desses “animaizinhos” é que eles transformam a matéria orgânica decomposta em nutrientes, recicladores. A zoóloga Liliana Medeiros identificou 35 gêneros em uma praia da Ilha Anchieta e acrescenta que foram os primeiros animais pluricelulares da Terra. Vale a pena aprofundar no estudo da meiofauna, pois é por meio dela que os cientistas podem medir a poluição de nossas praias. Fonte:http://super.abril.com.br/mundo-animal/animais-meiofauna-donos-praia-441137.shtml
Tubarão e cação é exatamente o mesmo animal. “Cação-anjo é o mesmo que tubarão-anjo e cação-martelo é o mesmo que tubarão-martelo, por exemplo. As pessoas costumam chamar de cação os tubarões pequenos, que são comercializados para o consumo de pescados, e usam a palavra tubarão para designar os animais maiores. “Biologicamente, não existe nenhuma diferença. A diferença é muito mais psicológica: cação é o que comemos e, tubarão é o que come a gente”, afirma o biólogo Otto Bismarck Gadig, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), um especialista em tubarões. A palavra cação veio para o Brasil trazida pelos portugueses e foi citada inclusive na famosa carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha mandou ao rei de Portugal, contando as novidades das novas terras descobertas pelos portugueses no ano de 1500.” Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/home/
Mero - corpo volumoso de cor parda-acizentada com faixas escuras verticais. Penetra em rios, estuários e maguezais. Chega, raras as vezes, a 400kg. Alimenta-se de lagostas, polvos e pequenos peixes.
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Meio Ambiente
Uma das paisagens que mais agradam aos olhos humanos é o encontro das águas dos rios com o mar. E banhar-se em água salobra é uma das sensações mais gostosas quando se vai à praia. Ubatuba tem isso de sobra. Seu litoral é “regado” pelos rios que descem com águas abundantes. Sua rede hidrográfica é dividida em duas classificações: as grandes e as pequenas bacias. As grandes percorrem do interior à costa e as pequenas são bacias costeiras e insulares. Então, temos: Rio da Prata, Rio Maranduba, Rio Escuro, Rio Grande de Ubatuba, Rio Indaiá, Rio Itamambuca, Rio Puruba, Rio Iriri, Rio Fazenda, Rio das Bicas; Córregos Duas irmãs, Córrego Lagoinha, Rio Acaraú, Rio Promirim, Rio Quiririm e Rio Ubatumirim.
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Hidrografia
Preservação:
Estação Ecológica Tupinambás – ESEC Com uma área de 31,5 há, Tupinambás é uma Unidade de Proteção Integral Federal que compreende a ilha de Palmas e seu ilhote e a Laje do Forno e ilhote das Cabras, abrangendo também, na cidade de São Sebastião o Arquipélago dos Alcatrazes.
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Parque Estadual da Serra do Mar - Maior parque paulista
Os parques são criados com a finalidade de proteger atributos excepcionais da natureza, no caso deste visa à proteção do que restou da Mata Atlântica no estado de São Paulo. Foi criado no ano de 1977 e possui área total de 315.390 hectares sendo considerado o maior parque paulista, designado não apenas à preservação ambiental como também à valorização da cultura local e pesquisa científica. Extende-se de São Paulo à divisa com o Rio de Janeiro, contendo a maior área de mata contínua preservada da Mata Atlântica do Brasil. Tombado pelo COMDEPHAAT em 1985, é divido em oito núcleos, sendo eles: Núcleo Caraguatatuba (Caraguatatuba), Núcleo Curucutu (Itanhaém), Núcleo Pedro de Toledo (Pedro de Toledo), Núcleo Pinciguaba (Ubatuba), Núcleo Pilões (Cubatão), Núcleo São Sebastião (São Sebastião), Núcleo Pilões (Cubatão), Núcleo Santa Vírginia (São Luís do Paraitinga). Grande parte de sua vegetação é de mata secundária, manguezais e vegetação de planície, e não possui fauna de grande porte devido à caça intensa e ao corte de palmito. São encontrados pontos culminantes como a Pedra do Espelho (1670m) e os picos do Corcovado (1.150m) e Cuscuzeiro (1.275m) No Estado de São Paulo as unidades de conservação, como é o caso do Parque Estadual da Serra do Mar, são administradas pela Secretaria do Meio Ambiente através do Instituto Florestal.
Em Ubatuba, o parque possui uma área de 47.500 hectares totalizando 83% de seu território, localizado a 36 Km do centro. Sendo denominado Núcleo Picinguaba, por fazerem parte do Núcleo a vila Pinciguaba, uma aldeia de pescadores da praia de Cambury e um agrupamento de pequenos posseiros no sertão da Fazenda Picinguaba. Esta última é o único ponto do Parque Estadual da Serra do Mar onde também são protegidos ecossistemas costeiros, tais como praias, mangue, costões rochosos e mata de restinga. Em 1979, foi incorporado à área original do Parque o Núcleo Picinguaba, pela Secretária do Meio Ambiente, e hoje são desenvolvidos programas de educação ambiental e pesquisas. Este Núcleo, que está localizado em Ubatuba, próximo à divisa com o Estado do Rio de Janeiro, ao lado de Paraty, é o único que atinge o nível do mar, apresentando em sua área tanto ambientes costeiros, de praia, como também, ambientes com alta declividade. No total, abrange 5 praias e 3 vilas caiçaras. Sua fauna é composta por: Gambá, gato-do-mato, lontra, morcego, preguiça, macaco-prego, paca, capivara, onça-parda, onça-pintada, tatu, tamanduá, veado cateto, cotia, sabiá, tucano, tiê, gaivota, trinta-reis, atobás, saíras, ariranha, jacu. E sua flora por: juquitibá, jatobá, figueira-branca, jussara, canela, jacaterão, lhosão, manacá da serra, cedro, figueira, espinheira santa, angelim, guabiroba, guaca, guapeva, araticum, cortiça, tucum, patim, paté, estopeiro, caroba, caxeta, ipê-amarelo, imbiruçu, ingá-da-mata, pau-cigarra, embaúva, mata-pau, bacupari, beira-campo, tabuceiva, olho de cabra, canela-sassafras amarela, canela-limão, muchista, pimenteira.
DIVULGAÇÃO
Núcleo Pinciguaba - Um encontro de florestas e mar:
Principais Transformações A dificuldade de acesso conseguiu preservar a região até a década de 70 (inauguração da Rodovia BR-101) boa parte da mata e da cultura dos moradores da região. Porém a partir da década de 80 observa-se um grande desmatamento e freqüente descaracterização do modo de vida dos moradores bem como um processo de tensão social. É dentro deste contexto que o Núcleo começa a promover a preservação da mata, e estimular a integração dos diferentes segmentos de população: pescadores, índios, pesquisadores, turistas. Além da fauna e flora, são muitos os atrativos que o Núcleo oferece, tais como: cachoeiras de águas cristalinas, visita a praias selvagens, voltar um pouquinho no passado e conhecer uma histórica Casa de Farinha, além de conhecer a cultura caiçara através de um bate-papo com esses ilustres e tradicionais moradores da região. O parque é aberto em diversos trechos: Vila Picinguaba, Bairro do Cambury, Praia e Sertão da Fazenda, Praias Bravas do Cambury e da Almada. As trilhas, passeios de bote e outras programações oferecidas, especialmente para grupos organizados, devem ser agendados no Centro de Visitantes que possui sanitários, sala de exposições, biblioteca, mapoteca, videoteca e oficina de recreação, fornecendo informações gerais sobre o parque e atividades de educação ambiental. Muitas trilhas podem ser realizadas ao longo do Núcleo e todas elas regadas a muita natureza, história e cultura, orientadas pelo grupo Monitora que é duplamente educativo, não apenas por receber os visitantes, como também por ser uma opção de trabalho para os moradores da região, que são treinados em ecoturismo e cursos de capacitação profissional. Além de desfrutar das belezas naturais, é possível conhecer histórias da cultura caiçara bem como as principais transformações ambientais, sociais, culturais e econômicas da Picinguaba por meio de um bate-papo com “seo” Genésio, morador antigo do Cambury, cuja história de mais de 70 anos é um testemunho dessas modificações.
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Ornitólogos Se evoluímos muito nesses séculos, foi graças à curiosidade e à observação do meio em que vivemos. Esse dom que temos originou diversas invenções e abriu muitos horizontes, mas não ficamos apenas no campo científico. Com a arte da observação, aprendemos a admirar o belo e, com ele, seus encantamentos. Muitos foram os que escreveram sobre as aves brasileiras. Alguns deles em especial foram Hans Staden, conhecido na história de Ubatuba, os franceses André Thevet e Jean Léry e o holandês naturalista Georg Marcgrave, que relata as aves indígenas brasileiras em seu livro “História Naturalis Brasiliae”, datado de 1648. Em Ubatuba, a observação de aves é algo natural, pois tamanha é a sua diversidade – são mais 400 espécies - que torna-se impossível não termos essa curiosidade. Consequentemente, temos vários amantes dessa arte-ciência, como o casal Elis e Rick Simpson. Eles fundaram o Ubatuba Birdwatching Center (UBWC), que tem como prioridade estimular a preservação dos habitats naturais por meio da informação educativa aos visitantes e à população nativa.
A vida vista de cima Saí-verde Esse pássaro é também conhecido como saí-tucano, no Rio de Janeiro, e tem-tem. Mede apenas 13,5 cm de comprimento e pesa 18,5 g (macho). Vive nas copas e nas bordas das árvores, solitariamente ou em pares. Um pássaro que pouco se ouve o som. Encontrado em vários pontos do Brasil, assim como em muitos países das Américas. Fonte: wikiaves.com.br/saí-verde
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Tangará-dançador Medindo 13 cm, esse pássaro é encontrado na Região Sudeste e Sul. Vive nas matas frondosas e dão um verdadeiro espetáculo pré-nupcial. Outra curiosidade é que pegam formigas para friccioná-las nas asas e na base da cauda, utilizando-as na higiene da plumagem, esfregando os insetos vivos nas asas para gozar o efeito do ácido fórmico, atividade que é tratada como “formicar-se”. Pode ser encontrado na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, até o Rio Grande do Sul. Fonte:curiosidadeanimal.com/aves_tangara.shtml
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João-botina-da-mata Esse pássaro mede cerca de 17 cm de comprimento e vive em áreas de brejo. Vive na Mata Atlântica. Devido ao fato de construir seus ninhos de graveto em forma de botina, recebe o nome popular de joão-botina. Fonte:wikiaves.com.br/phacellodomus
Ornitologia - ramo da biologia que estuda as aves como um todo: seus habitats, distribuição geográfica, hábitos e costumes e classifica-os de acordo com suas espécies, gêneros e famílias. Um fato curioso é que essa ciência tem forte contribuição dos observadores amadores.
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Quilombos
Quilombos O passado pulsa
Quilombo - Palavra de origem africana, da língua banto (kilombo), que significa acampamento, fortaleza de difícil acesso, onde negros que resistiam à escravidão conviviam com brancos pobres e indígenas. O banto encontra suas origens em países africanos como Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique. Variadas são as formas de se colocar a condição do negro fugitivo, mas, que, no final, todas definem a situação, no mínimo cruel, dessa gente que impulsionou de forma significativa o desenvolvimento econômico brasileiro. À base de chicotadas, suas mãos tiraram da terra os ricos tesouros que abasteceram uma nação. Foram eles que elevaram o Brasil de mera terra de extração para um país de produção competitiva. E é dentro desse contexto que devemos, ao entrarmos em um quilombo, admirar esses remanescentes que mostram tão pulsante, um passado muitas vezes ignorado e não valorizado. E foi essa experiência fantástica que tivemos ao visitar os quilombos que ainda resistem em Ubatuba. Divina arte de se deslocar no tempo, mas não no espaço.
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“Em 1740, reportando-se ao rei de Portugal, o Conselho Ultramarino valeu-se da seguinte definição de quilombo: “toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões nele.” Fonte: www.itesp.sp.gv.br
Localização - hoje a fazenda mede 890 hectares que vão da orla marítima até a Serra de Caçandoca, com 512 m de altura. “O território historicamente ocupado por aquela comunidade quilombola hoje é identificado pelos seus moradores através dos nomes de cada uma das localidades que o compõem: Praia do Pulso, Caçandoca, Bairro Alto, Saco da Raposa, São Lourenço, Saco do Morcego, Saco da Banana, Praia do Simão.” Fonte: www.itesp.sp.gv.br
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A cidade tem dois quilombos. O primeiro, Caçandoca, formado por descendentes do português José Antunes de Sá que adquiriu, em 1858, a fazenda de mesmo nome. Produtora de café e cana-de-açúcar, a mão-de-obra escrava foi largamente utilizada. Com o tempo a produção foi substituída pela banana e mandioca até a década de 1970. Esse quilombo já abrigou inúmeras famílias, porém com a valorização das terras e a abertura da Rodovia Rio-Santos, muitos se deslocaram para regiões próximas e atualmente a comunidade possui apenas 19. A economia local é tipicamente caiçara, voltada principalmente para o consumo próprio sendo a pesca e a coleta de marisco, além das plantações de bananas, as atividades econômicas básicas. Seguindo a onda moderna de valorização cultural e do meio ambiente, o ecoturismo também é mais uma fonte de renda. Até hoje, o quilombo não tem distribuição de rede elétrica e água encanada e suas casas ainda são feitas em sua maioria de pau-a-pique.
Camburi (Cambur y) Segundo os moradores locais, a ocupação da área foi feita pela escrava Josefa, fugitiva de Paraty, junto a outros negros. Diziam que esse bando vinha a Camburi para caçar e pernoitava em uma toca localizada morro acima (Toca da Josefa – que ainda apresenta vestígios da época), em muitos locais ainda a chamam de “tia”. Também existe a versão de que por volta de 1870 estabeleceu-se o núcleo dos Conceição – oriundo
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Quilombos
de Paraty - e ao mesmo tempo os do Basílio, liderado pelo chamado Velho Basílio, que originou vários troncos familiares até hoje encontrados em Camburi. Outra origem também se dá à escrava Cristina, que morreu aos 115 anos na década de 1950, assim como os Bento e outros como os Zacaria e os Rosário, todos fugitivos de fazendas do Rio de Janeiro. Nesse contexto é que as gerações formaram o quilombo de Camburi. Mas também há relatos sobre a existência de uma fazenda no local denominado Cambory, cujos registros vão de 1798 a 1855, sendo os proprietários Domingos dos Santos e seus filhos, Manuel de Oliveira Santos e Francisco dos Santos. Mas não há registros da exata extensão dessa propriedade, o que se sabe é que era uma fazenda como as do local e com a mesma produção. Então conclui-se que vários escravos fugitivos ocuparam essa região e que parte dessas terras pertencia a uma fazenda de mesmo nome. Esse povoado permaneceu a viver como caiçaras, ou seja, vivendo da roça e da pesca até a década de 1960, comunitariamente, onde a terra não tinha valor comercial, era apenas um local para se morar e viver. Após o surgimento do interesse por esse lugar, encravado em verdadeiros paraísos, os “compradores de terra” ganharam muito, mas muito dinheiro mesmo, iludindo esse povo simplório. Hoje, 50 famílias moram nesse reduto que sofre também com a conscientização ambiental. Esse é um grande desafio, pois com a criação de Parques Ecológicos, as atividades básicas como a agricultura de sub-
“Os grupos que hoje são considerados remanescentes de comunidades de quilombos se constituíram a partir de uma grande diversidade de processos que incluem as fugas com ocupação de terras livres e geralmente isoladas, mas também as heranças, doações, recebimento de terras como pagamento de serviços prestados ao Estado, simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior das grandes propriedades, bem como a compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após a sua extinção.” Fonte: www.itesp.sp.gv.br
Caçandoca - Apesar de a palavra ser confundida com algo relacionado a casa, devido ao sufixo local (casa em tupi-guarani), concluiuse que o termo significa “gabão de mato” numa referência ao país do centro-oeste africano Gabão. Fonte: cpisp.sp.org.br
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“É uma coisa comum a gente ouvir aqui em Ubatuba que o cidadão chegou aqui bem vestido em uma casa e falou que queria comprar uma terra, aquela terra. O caiçara respondia “do lado direito do rio, eu vendo para você 15 braças”. Só que quando o caiçara vinha para a cidade, aquelas 15 braças que ele tinha vendido tinham se transformado em 100 braças: toda a terra do caiçara. O caiçara analfabeto colocava o dedão no documento e toda a sua terra ia embora, era “vendida”. Na cidade de Ubatuba isso é uma coisa natural. Até hoje é meio complicado, porque, o poder econômico ainda fala mais alto.” (depoimento de morador obtido por Paulo Ramos, ex-prefeito pelo PFL de Ubatuba).
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Quilombos
sistência e a extração de madeira, ficaram proibidas, levando aos habitantes da região poucas possibilidades de recursos financeiros. Hoje a pesca e a venda de produtos na praia são o modo de obter recurso, além da exploração do Ecoturismo. Apesar dessas situações arbi-
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trárias, o que encontramos foram pessoas sofridas, mas amáveis e acolhedoras, que continuam a lutar pela sua “liberdade” para dar continuidade à sua cultura que por tantos anos se manteve intacta, com respeito à natureza e com a simplicidade no viver.
Índios
A riqueza indígena Todos nós sabemos dos acontecimentos históricos que envolveram a raça indígena no Brasil. Mas, muitas vezes, esses nobres legitimamente brasileiros foram caracterizados como pessoas indolentes e incivilizadas. Um erro absurdo, que atualmente pessoas envolvidas em sua causa tentam desmistificar. E é fácil detectar isso, pois com apenas uma visita e um parco convívio, pudemos observar a consciência ambiental que eles possuem e que o homem branco busca hoje incansavelmente aprender.
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(Tekoa Ñabdeva ‘eYuy Marãeyre) Os índios brasileiros foram divididos de acordo com o tronco linguístico: tupi-guarani no litoral; macro-jê ou tapuias na região do Planalto Central; aruaques e caraíbas na Amazônia. Em Prumirim, na década de 1960, chegaram os índios guaranis, que estavam se deslocando desde o Paraguai. As terras onde habitam foram devidamente oficializadas e possuem 801 hectares. Em busca da terra sagrada, os índios guaranis rumaram ao litoral. Segundo os antigos pajés, a terra teve uma segunda fase, que teria acabado em água (dilúvio). Porém, antes desse acontecimento, um índio atravessou o oceano e encontrou o paraíso que pode ser imaginário, uma energia ou algum lugar concreto onde os costumes são cultivados (ñande reko - nossos costumes) e só o bem prevalece. Por isso, pode ser uma terra que procuram ou, quem sabe, já habitam, pois acreditam que quanto mais próximos do mar, mais perto estão da terra prometida. Os guaranis originaram-se no Paraguai e Argentina, instalando-se ao sul do nosso país. Porém, foram os nativos da Aldeia Rio Branco, em Itanhaém, os primeiros habitantes da Tekoa Ñabdeva’e (Aldeia Boa Vista), há trinta anos. Localiza-se a aproximadamente 2,3 Km da rodovia BR 101, no bairro do Prumirim, sendo 1,5 Km de estrada de terra até a escola da tribo. Depois segue-se uma trilha de 800m. A aldeia segue seu cotidiano sem muitas surpresas. Porém, sempre atenta ao que seu Deus Ñanderu, o criador da terra, seus seres habitantes e do universo tem a lhes falar através de seus anjos protetores (os elementos que a terra manifesta) ou através das premonições do Pajé. A aldeia de Ubatuba é liderada pelo cacique Marcos Tupã, desde 1993. É ele quem se responsabiliza por todo e qualquer ato da tribo. Marcos diz que toda a
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Aldeia da Boa Vista da Nação Guarani
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Índios
força de uma aldeia prospera da casa de reza, ela é o tronco de tudo. É onde o pajé, Sr. Marcelino ou Ñamando (Pequeno Sol), se reúne com o cacique Tupã (trovão), junto aos conselheiros para traçar as diretrizes da aldeia. Por exemplo: todo ano eles decidem juntos o que vão plantar e a função que cada um vai exercer. Primeiro decidem as responsabilidades dos homens e depois as das mulheres. Toda esta organização é em função de uma importante festa que acontece de dezembro a fevereiro, na qual todas as aldeias guaranis participam visitando-se entre si, para o batizado das crianças nascidas no decorrer do ano. Após três noites de recolhimento na casa de reza, os pajés e os homens da aldeia fumam o cachimbo da paz e na última noite, por volta das quatro horas da manhã, saem juntos com o pajé para este dar os nomes guaranis às crianças. Na festa também é comemorada a boa colheita do ano anterior. O festejo é cultuado com bebidas e comidas sagradas. Quando tem alguém enfermo na aldeia, todos vão para a casa de reza e aguardam uma resposta do Deus-trovão (Tupã) que, quando responde, é um sinal de que coisas boas vão acontecer, seja um retorno físico ou espiritual. Também se baseiam na resposta da mata, rios, animais, vento, de toda a natureza! Boa Vista não recebeu este nome por acaso, pois a vista que oferece aos olhos é de inigualável beleza. É com este panorama que as crianças da Aldeia recebem aulas na escola indígena Tembiguai (mensageiro), mantida pela prefeitura, onde os alunos de 1ª e 2ª séries aprendem sua língua de origem, o guarani-mbya e os de 3ª e 4ª séries recebem aulas em português. Por meio de Marcos Siqueira, da Funai, junto ao projeto Tamar, os espaços comunitários da aldeia (escola, farmácia e casa de reza) contam com a energia solar. Índio, íntegro a seu planeta; na simplicidade, o primor de saber viver!!
Quem quiser vivenciar o cotidiano da aldeia Boa Vista, ver como surgem através de trançados lindos cestos, apreciar o som primitivo de nossos ancestrais, ou vivenciar uma língua para nós desconhecida, pode entrar em contato com a Fundart (12) 3832-7732 ou Cx. Postal 149 - Ubatuba/SP. CEP: 11680-000 a/c de Marcos Tupã. Há’e Vete (muito obrigada)!
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Projeto Tamar
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Tamar Projeto
Dedicação que deu certo
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O Projeto Tartarugas Marinhas - TAMAR nasceu em 1980 por conta da preocupação com a possível extinção das tartarugas cabeçudas, verde, de pente, oliva e de couro, pois com o aumento de redes de pesca, muitas delas eram capturadas, além do consumo desordenado de seus ovos que são depositados nas areias de determinadas praias. Essas espécies circulam pelo litoral brasileiro para se reproduzirem e se alimentarem. Primeiramente a prioridade era a proteção de fêmeas e filhotes. Hoje esse projeto é referência mundial em manejo e educação ambiental. Já possui 23 bases espalhas pelo litoral brasileiro numa área de 1100km².
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FOTOS TATYANA ALVES
Projeto Tamar
Ubatuba está entre os 11 Centros de Visitantes do Projeto TAMAR iniciado em 1991, sendo um dos mais completos para as principais atividades desenvolvidas que são: educação ambiental, pesquisa científica e preservação. Em uma área de 2500m², esse centro recebe em média 100 mil visitantes por ano, transformando-se num dos pontos turísticos mais visitados na cidade. Bem aparelhado, o local dá completo suporte para a educação ambiental, onde inclusive, possui o Museu do Caiçara - uma forma de preservação e de comunhão com a comunidade pesqueira, que se tornou parceira na preservação das tartarugas. E essa parceria deu certo, já foram salvas 5 mil tartarugas presas em redes de pesca. Por Ubatuba ser uma antiga região de porto do litoral paulista apresenta grande frota pesqueira fator esse que favorece a incidência de captura acidental em redes de pesca ao longo de todo ano. Na região são encontradas grandes quantidades de tartarugas juvenis bem como as tartarugas verdes com mais de 95% dos registros, a cabeçuda e a de pente são capturadas sempre. Em 2000, o TAMAR iniciou em Ubatuba o monitoramento da captura incidental de tartarugas marinhas pela frota camaroneira. Equipes do Projeto embarcam na pescaria para marcar e soltar os animais capturados, além de ensinar à tripulação as técnicas para reanimar as tartarugas que estejam afogadas. As atrações no Centro são os tanques com exemplares vivos de tartarugas e uma maquete que representa a desova e o nascimento dos filhotinhos, museu com peças naturais, loja e lanchonete. 68 Cidade&Cultura
Locais de atuação O TAMAR trabalha em 106 quilômetros de praia em Ubatuba, monitorando cercos flutuantes no continente nas praias do Bonete, do Cedro e Camburi. No Parque Estadual da Ilha Anchieta, o TAMAR trabalha em parceria com os pescadores dos três cercos existentes no local, nas praias: do Sul, do Leste e Pedra do Sul, destacando-se o da Praia do Sul, que é visitado por técnicos diariamente desde 1995, gerando dados de grande valor para ampliar os conhecimentos sobre a interferência dessa arte de pesca na vida das tartarugas marinhas. Na praia do Itaguá também há marcação periódica de tartarugas no rancho de pescadores, capturadas em redes de espera. Em outras nove praias - Almada, Enseada, Flamengo, Lázaro, Perequê-Açu, Picinguaba, Pulso, Saco da Ribeira e Tenório - os pescadores colaboradores informam quando ocorrem capturas, geralmente em redes de espera.
Turismo e trabalho social A Base do Projeto TAMAR é outro importante atrativo turístico da região e se destaca também no trabalho de inserção social, por meio de dois importantes programas: a Oficina de Sacolas de Papel Reciclado (que produz 7 mil sacolas/mês) e o Projeto de Educação Ambiental: Aprendendo a Preservar a Terra e o Mar e Tartarugas Marinhas - a vida pede respeito, no qual alunos de Ubatuba aprendem a cuidar de tartarugas marinhas dos tanques do Centro de Visitantes e participam do trabalho de campo. E, no meio de nossa visita, tivemos o privilégio de participar de uma ocorrência na praia de Camburí, onde pescadores locais resgataram mais de 20 tartarugas. Todas foram pesadas, medidas e aneladas pelos técnicos do TAMAR e pudemos, nós, os pescadores e seus filhos, devolvê-las ao mar. Experiência única que todos, pelo menos uma vez, deveriam ter, pois a sensação de dever cumprido e de dar liberdade a esses animais fantásticos é de uma profunda satisfação e emoção de difícil descrição.
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Aquário
O aquário Educação ao alcance dos que mais precisam
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Fundado em 1996, o Aquário de Ubatuba é uma referência em educação ambiental com uma gama enorme de espécies marinhas, acessíveis ao público visitante. São 12 tanques de água salgada, sendo o principal com 800 mil litros, um dos maiores do Brasil. Em parceria com o Instituto Argonauta para a Conservação Marinha, foi montado o Museu da Vida Marinha que possui um acervo que retrata e evolução da fauna marinha. A maioria delas é proveniente do nosso litoral e uma minoria, importada. O interessante do Aquário de Ubatuba é a interatividade com as escolas do município que, via convênio, tem a possibilidade de participar das atividades desenvolvidas por biólogos. Essa 70 Cidade&Cultura
forma prática de educação ambiental para o ensino fundamental é importantíssima para que as crianças já cresçam com a mentalidade objetiva na preservação e uso consciente dos recursos naturais, pois a maioria dessas crianças é de comunidades caiçaras que ainda estão se adaptando aos novos conceitos de conservação ambiental. Ubatuba 71
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Lendas
O imaginário
concretizado
O Brasil é um país rico em histórias, muitas vezes, alteradas pelo tempo. Essas histórias têm origem na prosa e no poder da imaginação de cada local. A isso se dá o nome de lenda, pois nunca se saberá ao certo se o fato foi verdadeiro ou não, porém nos encanta e nos faz, bem no fundo, acreditar que o místico existe e ainda sobrevive de geração para geração. Ubatuba não é diferente, em cada canto uma lenda admirável pela criatividade expressa por seu povo.
Corcovado O Morro do Corcovado é o ponto mais alto de Ubatuba, onde muitas histórias sem explicações racionais aconteceram. Uma delas é a do desaparecimento de frei Bartolomeu, ocorrido em 1697. Antes da chegada do Frei a Ubatuba, dois jovens, Pablo e Juan, filhos de um fidalgo espanhol, resolveram chegar ao topo do Corcovado. E, infelizmente, desapareceram na primeira curva do caminho ao amanhecer. O sumiço inquietou os familiares, amigos e demais moradores da vila. Para achá-los, entregaram a busca a um escravo
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que foi acompanhado por mais cinco homens. Porém, ao começar a subida, o escravo nunca mais foi visto. Passados sessenta anos, frei Bartolomeu, da Ordem de Francisco, saiu de São Vicente para Ubatuba com a finalidade de oficiar uma missa em homenagem ao padre Anchieta, e ali, em contato com os moradores do lugar, tomou conhecimento do que acontecera no passado e quis provar que não havia nenhuma coisa maligna no local. Disse que subiria ao alto do morro para provar e ainda colocaria lá em cima uma grande bandeira vermelha capaz de ser vista por quantos o acompanhassem ao pé da elevação, afastando, dessa forma, qualquer dúvida porventura existente entre os ainda recalcitrantes. E foi o que fez. Satisfeitos, todos ficaram esperando o retorno do religioso. Os mais atentos haviam percebido a figura de frei Bartolomeu descendo lentamente do alto do morro. O frei se arrastava pedra abaixo com extrema dificuldade, e quando se expôs completamente ao luar, nenhum dos homens deixou de perceber a palidez fantasmagórica estampada em sua face triste, os olhos encovados e sem brilho, a
boca murcha com lábios contraídos e esbranquiçados. Mesmo assim, eles correram para abraçá-lo, mas só avançaram alguns metros porque o frei simplesmente desapareceu da vista de todos. Para onde tinha ido? Foi o que se perguntaram. Gritaram o seu nome, uma, duas, três vezes, até que um gemido rouco, terrível, veio do alto, ecoou pela mataria e se perdeu na noite. Um frio de morte gelou os presentes, e por mais valentes que fossem, tanto que estavam ali até àquela hora, todos eles saíram em carreira desabalada, abandonando o mais depressa que podiam aquele pedaço de chão amaldiçoado. Dizem que ainda hoje, quem se atrever a ficar no sopé do morro do Corcovado poderá ver frei Bartolomeu descendo devagar pela rocha, tentando chegar à base da elevação.
A Mina de Ouro do Corcovado Alice, filha do maldoso capitão Manoel Fernandes Corrêa, desapareceu em uma caçada. Desesperado, o pai pede a seus escravos que a busquem no preocupante pico do Corcovado e em seus arredores com a promessa do salvador ter a liberdade como prêmio. O escravo Pedro, apesar da ira por Corrêa, achou Nina Alice esfarrapada por entre arbustos espinhosos. Chegando à escadaria da Casa Grande, Pedro não foi recompensado com liberdade e também sofreu castigos no tronco. A menina, revoltada pela atitude do pai, fez com que saísse em defesa do escravo e obrigasse seu pai a cumprir sua palavra. Liberto, Pedro se instalou e fez uma choça próxima à escarpa misteriosa do Corcovado. Tempos depois, Alice, que já havia morrido, apareceu em seu reduto e revelou-lhe uma mina de ouro, com o aviso de que este segredo jamais poderia ser revelado a ninguém, pois as conseqüências seriam terríveis. Sabendo disso, o ex-escravo sobreviveu durante anos pagando suas compras com pepitas de ouro. Tal fato despertou a curiosidade popular e também de seu antigo algoz, que o capturou e o torturou com o objetivo de saber de onde vinha aquele ouro. E, quando já estava totalmente sem forças para resistir e prestes a contar tudo sobre a mina, o aviso de Alice se materializou, culminando na morte de Pedro.
uma família pobre de pais idosos e mais dois irmãos. Certo dia, durante um jogo, o rapaz recebeu a notícia de que seu pai havia falecido. Ignorando completamente o acontecido, absteve-se concentrado nas cartas, o que espantou seus companheiros. Quando voltou para casa, alguns dias depois, deu uma surra em sua mãe, Maria Rosa, que ficou paralítica, pois queria o dinheiro que seu irmão mais velho havia enviado. Indignada, a mãe rogou uma praga a Didico, proferindo-lhe essas palavras: “Miserável! Vai! A minha maldição te perseguirá sempre! Não terás sossego em tua vida nem paz depois de morto! Bandido! A própria terra te rejeitará... Vai!”. Com a morte de Maria Rosa, que não tardou a vir devido a seu estado de abandono, Didico ficou na miséria total e sem amigos. O mais intrigante é que tudo o rejeitava mesmo, inclusive a sombra das árvores, que abriam suas ramas para dar passagem ao sol escaldante. Não tendo forças para continuar vivendo, Didico suicidou-se. Encontraram-no enforcado no galho de uma árvore, pendente sobre o Rio Lagoa, conhecido por Barra da Lagoa. Mas a “praga” de sua mãe sobreviveria após sua morte e tudo o rejeitaria, assim como a terra em que foi sepultado. Conforme seu corpo era enterrado, este
O Corpo Seco Todas as noites, no botequim do Moreno, a turma se reunia para jogar truco. Um dos jogadores era o famigerado Bernardino de Campos, conhecido por Didico, um rapaz de costumes e vícios abomináveis. Didico tinha
Corcovado
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Lendas Gruta que Chora (Dragão da Sununga)
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emergia no dia seguinte, o que atraiu a curiosidade do coveiro local. Os parentes do rapaz trataram de levar o corpo para a costeira do Caruçumirim (Prainha), lá para os “lados de fora”. Coitados dos pescadores da Prainha que sofriam amedrontados pelos gritos que partiam do local do sepultamento de Didico. Este rogava aos vivos que o enterrassem na Barra da Lagoa, onde cometeu o suicídio. Não se sabe como, depois de algum tempo, o corpo do malfadado não estava mais lá e muitos moradores viram-no ser transportado por vultos, trazendo a paz de volta ao lugarejo. Em uma véspera de Natal, pessoas montavam presépios com liquens. Chiquinha Bastos e Clarita Pinto foram pegar os fungos na margem do Rio Lagoa e encontraram um cepo disforme coberto de belíssimos liquens. Maravilhadas pela quantidade oferecida de matéria-prima, trataram de tirar tudo o que podiam, mas foram surpreendidas por uma voz: “Moça, aqui tem mais”. Quando se deram conta, o cepo deixou transparecer sua verdadeira forma: a de um corpo humano, ressequido e corroído pela ação do tempo. Dizem que ele ainda está lá, padecendo da praga rogada por sua mãe.
Gruta que Chora
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Existem duas versões para essa lenda. A primeira é que nessa gruta havia um monstro marinho que atacava os barcos pesqueiros e seus tripulantes. Um dia, o padre Anchieta foi ao local para ver se a fera era coisa do diabo e aspergiu água benta por toda a gruta. Feito isso, nunca mais o monstro foi visto. A segunda é a história de Marcelina, uma adolescente que, de uma hora para a outra, acometeu-se numa cama e ali permaneceu à espera de uma serpente com cara de dragão que a visitava esporadicamente. A serpente transformava-se num lindo moço que a enamorava. Segundo Marcelina, Sr. Antero, um pescador local, contou-lhe que, certa noite, quando ia para sua casa na Praia das Sete Fontes, ouviu um barulho muito forte e viu o tal monstro saindo da gruta e, com muito temor, começou a rezar, pedindo proteção para não ser devorado. O bicho então começou a encolher e sumiu no meio da mata. Depois que soube do acontecido, a pobre moça não tirou mais essa história da cabeça e, com sua imaginação, passou a ver o dragão por todos os lugares, até que, certa noite, ele apareceu em seu quarto. E não foi apenas uma noite, foram muitas e, a partir de então, Marcelina passou a ficar esperando por seu “amado”, todas as noites, com a esperança de um dia ficarem juntos para sempre. A mãe da adolescente estava desesperada, quando, um dia, bateu à sua porta um monge idoso, o qual Dona Amália deu de comer e beber. Vendo aquela amável senhora aflita, perguntou-lhe o que se passava, e o pobre monge escutou. Não era a primeira vez que ele ouvia a história do monstro e, junto com a população assustada, foi para o local tenebroso. Chegando à gruta, o homem santo fez o sinal da cruz e jogou água benta com o som das preces dos que o ajudavam. Nesse momento, trovões foram ouvidos e o dragão saiu, mergulhando sem volta no fundo do mar. As duas versões se fundem, pois não se sabe se o monge era ou não o jesuíta Anchieta. A gruta foi batizada por Gruta que Chora, pois de seu teto e paredes, vertem água benta que, no caso, é a água benta jogada para impedir que o monstro volte. Muitos acreditam que as águas que caem são as lágrimas de Marcelina, que muitas vezes voltou ali com a esperança de seu lindo amante voltar.
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Esportes
Afinal, o que
te move?
O número de praias favoráveis à prática do esporte faz da cidade uma das favoritas pelos surfistas nacionais e internacionais, tanto é que a cidade passou a ser denominada como a Capital do Surf, fator esse que tem contribuído para favorecer o nome do Brasil no exterior. Dentre as praias mais procuradas para tal modalidade, podemos citar: Itamambuca onde são realizadas as mais importantes competições, com maior variedade de ondulações; Félix, para surfistas mais experientes; Vermelha do Norte, com ondas tubulares e rápidas; Vermelha do Centro (Vermelhinha), praia de tombo com ondas cavadas; Canto das Bananas, o lugar perfeito; Toninhas, com ondas longas e bem manobráveis.
Circuito Municipal de Surf O evento, que já ocorre há três décadas em Ubatuba, é considerado o maior circuito municipal de surf do país com média de 120 atletas divididos em 15 categorias, contemplando atletas em formação, profissionais consagrados e veteranos que contribuíram para a evolução do surf no município. Além da Prefeitura o evento conta com apoio de empresas de Ubatuba e surfwears. Surf - Diz a lenda que o rei Tahito foi o primeiro surfista polinésio que chegou ao Havaí, mas o navegador James Cook, ao descobrir o arquipélago, em 1778, já havia encontrado surfistas nas ilhas. A divulgação do surf ocorreu quando o surfista Duke Paoa Kahanamoku conquistou a medalha de ouro em natação na Olimpíada de 1912, mostrando o Havaí ao mundo. No Brasil, a atividade surgiu na década de 30, tendo como marco a fabricação da primeira prancha de surf nacional pelos paulistas Júlio Putz, João Roberto e Osmar Gonçalves. Fonte: Associação Brasileira de Surf
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Capital do Surf
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Para os adoradores de esporte, a cidade de Ubatuba é uma verdadeira arena. Muito rara é a modalidade esportiva que não se encontra por essas bandas. As condições naturais são extremamente favoráveis, tanto para modalidades aquáticas, quanto para as terrestres.
Curiosidade: Nas escolas públicas da cidade, o esporte está incluso nas aulas de Educação Física.
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FOTOS ElSiE dE CarvalhO OrabOna (OmnimarE mErgulhO dE ubaTuba)
Esportes
Para Aprender Para se tornar um mergulhador profissional, o interessado tem que aprender sobre física, fisiologia, equipamentos, meio ambiente, tabelas de descompressão, segurança do mergulho, planejamento, entre outros assuntos, em cursos de mergulho profissional especializados.
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Homenagem Na praia do Leste, Ilha Anchieta, a 10 metros de profundidade, foi colocada uma estátua em homenagem a Jacques Cousteau, com 1,80m de altura e 300 kg. Essa homenagem foi feita em 1997, em um encontro de mergulhadores.
divulgaÇÃo
ElsiE dE Carvalho orabona (omnimarE mErgulho dE ubatuba)
Ubatuba é referência em todo litoral brasileiro quando se trata do assunto: é uma região privilegiada por proporcionar mais de 50 pontos de mergulho, com peculiaridades diferenciadas. Os lugares mais visitados ficam no máximo a 21 milhas do continente, como as ilhas das Couves, Rapada, Laje Grande, Anchieta e Vitória. Conversamos com Carlos Eduardo Reichmann Filho, 39, na área há 14 anos como instrutor e mergulhador especialista em mergulho de costão. Kadu, como é conhecido, já mergulhou em diversos locais, como Bonito, na Gruta do Limoso e Buraco das Abelhas e também no mar Mediterrâneo, precisamente na Ilha de Mallorca. Formado pela Naui (National Association of Underwater Instructors), explicou-nos que, em Ubatuba, a melhor época para a prática do mergulho é no verão, pois é o tempo da água limpa (quer dizer que há boa visibilidade), oferecendo ao praticante uma visão da rica fauna marinha local: badejos, garoupas, robalos, uma variedade de crustáceos, tartarugas etc. Para os iniciantes, uma dica de Kadu é procurar pela Ilha das Couves, pois existem lugares abrigados, bons para desenvolver todas as técnicas e também para a realização do check-out – batismo – que é a prova final do curso. Para os mais radicais, a ilha Vitória é muito boa por sua grande profundidade e pela correnteza. O que é mergulhar? “Mergulho, para mim (Kadu), é um trabalho que faço porque gosto, me sinto feliz. Quando mergulho, é um mundo à parte; o tempo, o ritmo em que você se move, a audição, o olfato com o ar denso do regulador, os sentidos, tudo muda. No recreativo, a ausência de gravidade dá a sensação de vôo, só sabe que se está debaixo d’ água por causa do barulho do regulador. Acredito que seja o momento em que o homem voa de verdade e, para quem é principiante, isso é deslumbrante. A adrenalina flui por estar em um mundo desconhecido. No mergulho noturno, a sensação é de estar mergulhando naquele lugar pela primeira vez; pelo conhecimento anterior, você aproveita mais as sensações. A vida noturna é diferente pela fauna e pelas cores. Tudo fica mais colorido por conta do foco da lanterna, pois não dá tempo da água decompor a luz e, sem a interferência da luz solar, tudo fica mais nítido. Aos 22 anos, fiquei dependente de nitrogênio e hoje sou um grande incentivador do mergulho, porque ele transforma a vida das pessoas pelo contato com a natureza. Além de tudo, o mar ainda não é totalmente conhecido, isso dá aquela sensação de explorador, como na época das Grandes Navegações”.
divulgaÇÃo
Mergulho
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Esportes
Vela Prática que teve início pela necessidade de um povo que tinha o mar como rota de transporte. Em Ubatuba, o Saco da Ribeira é o local onde grande parte dos eventos acontece. Existem muitas escolas extremamente qualificadas para quem quer se aventurar. Todo ano acontece o Circuito da Vela, organizado pelo Clube de Regatas Saco da Ribeira e Associação de Vela de Monotipos.
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Esportes
Pesca de Vara Esportiva tAtYANA ANDrADe
Ao longo das praias ubatubenses, existe uma grande variedade de peixes que fazem a alegria dos pescadores amadores, como o bagre, o linguado, o pampo e vários outros que vivem em fundos arenosos e também a garoupa, o mero, o badejo que vivem em fundos rochosos. Esta modalidade de pesca só pode ser feita com a devida licença concedida pelo IBAMA.
Haka Race Competição que envolve várias modalidades, como rafting, caminhada de longa duração, ciclo turismo e outras. Uma prova de resistência e estratégia. Ubatuba já recebeu em suas terras essa competição e foi avaliada em alto grau de qualidade.
Cavalgada
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No haras em Itamambuca, podemos percorrer a bela e exuberante Mata Atlântica sobre um cavalo. Além disso, o local oferece aulas de equitação, arquearia (tiro com arco e flecha) a cavalo e conta com uma tropa composta por 10 animais de qualidade, da raça Mangalarga Marchador. O trabalho é desenvolvido pelo projeto de Normalização e Certificação em Turismo de Aventura no Brasil (ABNT), do Ministério do Turismo, sempre garantindo a segurança.
Canoagem
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Há um roteiro turístico compreendendo uma viagem curta de dois dias que atrai os que praticam canoagem. O trajeto inicia-se na praia do Lázaro e Sununga até a praia do Cedro onde é armado um acampamento para seguir viagem no dia seguinte. No segundo dia, desarmado o acampamento, a península é contornada e a canoagem é seguida através das praias do Bonete, Prainha e Lagoinha, retornando à praia de Fortaleza.
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Esportes Bicicleta da montanha é uma modalidade de ciclismo que consiste em transpor percursos com diversas irregularidades e obstáculos. Exige do praticante auto-suficiência e muita resistência. Em Ubatuba, esse esporte é levado ao extremo, com Bike Run, prova feita entre o Sertão e Praia do Ubatumirim, situada a 30 km do centro de Ubatuba sentido Paraty. Os atletas têm de percorrer 22 km de mountain bike e 8 km de corrida, passando pela diversidade da natureza local de Mata Atlântica, mas sempre em terreno misto, entre trilhas e asfalto.
Rafting Ideal para aqueles que estão em busca de aventura, esse esporte radical pode ser realizado em diferentes níveis, desde o iniciante até o avançado. É uma boa forma de conhecer a Serra do Mar, aliando duas sensações emocionantes: contemplar as belezas naturais e a adrenalina que o esporte proporciona.
fazendas e cachoeiras. Na Associação dos Monitores de Ecoturismo de Ubatuba, na praia do Tenório, há informações detalhadas de todas as trilhas. Várias outras modalidades esportivas podem ser praticadas em Ubatuba, fazendo dessa cidade um atrativo para os admiradores de diversas categorias, principalmente na época de férias. Para isto, existe um grande trabalho desempenhado pela Secretaria de Esportes e Lazer do município, sempre atenta à preservação do seu ecossistema. DIVULGAÇÃO
Montain Bike
Trecking
StOck.XcHNG
Trilhas dos mais variados níveis levam a praias selvagens de Ubatuba e de municípios vizinhos, como Parati e Trindade, no Estado do Rio de Janeiro. As mais percorridas são as do Corcovado, considerada de nível difícil, com subida de 1150 metros e média de duração de sete horas; Bonete, de nível médio, com duas horas de caminhada, saindo da praia da Lagoinha, passando pelas praias Bonete e Grande Bonete; Sete Fontes, de nível fácil, saindo do Saco da Ribeira e Monte Valério, também de nível fácil, localizada dentro do Parque Municipal. Em alguns roteiros, há passagens por aldeias indígenas, ruínas de
Ecosurf - ONG A ação da Associação Ubatuba de Surf
Há mais de 20 anos, a Ecosurf é uma entidade sem fins lucrativos ou políticos, tendo como principal objetivo a disseminação do surf não apenas como esporte mas também como estilo de vida. Voltada para a melhoria dos esportistas da região bem como para a formação de novos atletas que ocorre nas escolas municipais de Surf, reunindo cerca de 350 alunos matriculados. Atua também na preservação de praias e rios, além de promover campanhas ecológicas, culturais e sociais.
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MÁRCIO ALVES
Vida de Caiçara
Caiçara De lua a lua, esse povo leva vida simples e singela, mas de riqueza sem igual. Um povo que, há gerações, vive harmoniosamente com a natureza. O caiçara é dono de sabedoria secular, é um verdadeiro elo entre homem e natureza. Oriundos da miscigenação entre indígenas, colonizadores europeus e negros, os caiçaras incorporaram tradições e costumes ligados a esses povos, adaptando-os num modo de vida singular baseado na pesca, agricultura de subsistência, artesanato e extrativismo vegetal, desenvolvendo um conhecimento aprofundado sobre os ambientes em que vivem, além de tradições folclóricas e um vocabulário único.
Farinheiras Aprender a arte da fabricação da farinha de mandioca, era uma das tarefas da mulher caiçara, que começava cedo, às vezes começavam bem crianças. A lida não era fácil, preparar a terra, plantar e colher fazia parte da rotina. Plantava-se também a mandioca venenosa, mas que não faz mal à saúde porque é lavada, raspada, espremida, coada, seca no forno, na coxa, vai outra vez no forno, outra vez na coxa até virar farinha pura. Os horários são rígidos, pois os trabalhos começam as 3 horas da manhã e só acabam ao meio-dia. O caiçara chama esse fabrico de “farinhando” e era vendida a litros.
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A pesca O caiçara aprendeu muitas técnicas de pesca ao longo do tempo, “para a pesca usa espinhel (corda extensa onde prende anzóis) e redes: tarrafa, picaré, jereré, puçá e faz nos rios as cercas ou chiqueiros de peixes. A pesca com rede requer o uso de canoa - a ubá. A rede mede cerca de 140 braças de comprimento por 6 de largura. Para facilitar a flutuação na parte superior da rede, colocam bóias de cortiça. E na parte inferior colocam as chumbadas ou peso de barro cozi-
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do. Nas extremidades da rede, colocam cordas para puxar o arrastão. Colocam a rede no mar, levada pela ubá, e depois vêm arrastando até a praia - é o famoso “arrastão”. Hoje, os barcos a motor, fazem parte da pesca, ou seja, cada vez mais aprimorando e evoluindo dentro de seu meio. “Com estes, o homem caiçara pesca no “mar de dentro” para sua subsistência. O arrasto da tainha merece atenção especial, pois se trata de um momento de congregação da comunidade, no qual todos trabalham para todos”.
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Origem do nome palavra caa-içara é de origem tupi-guarani; caa significa galhos, paus, “mato”, enquanto que içara significa armadilha. Os caiçaras formam um povo que evoluiu e aprendeu a aproveitar os recursos naturais. Convivendo com o mar e a mata, sabe como poucos utilizar os benefícios da natureza.
A agricultura O complemento alimentar dos pescadores e seu principal produto é a farinha de mandioca - consumida em quase todas as refeições - que desde os tempos imemoriais se trata de um substituto do pão europeu e, por isso mesmo, chamada de “pão dos trópicos”. Existe, ainda, uma infinidade de produtos secundários e ervas medicinais. Seus principais produtos são: mandioca, milho, cana, feijão, guandu, inhame, entre outros.
BerA PAlhOtO
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A fabricação de canoas e a memória caiçara A construção de canoas foi uma importante atividade desenvolvida pelos caiçaras durante muitos anos. Esta embarcação artesanal comprida, movida a remos, ou por vela de pendão ou motor de popa era muito utilizada por pescadores em suas longas jornadas ao mar. Hoje, devido às legislações de proteção ambiental, a sua fabricação é desenvolvida por pouquíssimas pessoas e está praticamente esquecida entre os habitantes do Litoral Norte. No entanto, o Instituto Costa Brasilis e seus parceiros lançaram o projeto “Com quantas memórias se faz uma canoa” justamente com o intuito de preservar e relembrar esta importante prática da cultura indígena, além de prestarem uma justa
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Vida de Caiçara homenagem ao mais ilustre folclorista da região Ney Martins, idealizador do projeto e falecido em 2007. Resultado de um ano e meio de pesquisa, junto a construtores e proprietários de canoas, realizada em 36 praias e uma ilha de Ubatuba, o empreendimento resultou em um livro de mesmo nome, uma página na internet e um vídeo documentário “Canoa Caiçara”. Todos estes produtos procuraram abordar, dentre outros temas, a importância da canoa para os pescadores, a problemática que a envolve na atualidade, a complexidade da sua produção e, claro, como não poderia faltar, as histórias de pescador, os incríveis “causos” oriundos de muitas viagens a bordo da antiga embarcação, também estão lá.
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Canoas de Voga Feita de um único tronco como o Cedro Guapuruvu e o Jequitibá, com mais ou menos 8 metros de comprimento, essas canoas talhadas à mão, quando da retirada do tronco até a oficina, havia entre a comunidade grandes festas. Era um rito quase religioso, pois a canoa era o meio de transporte das mercadorias caiçaras que eram levadas ao porto de Santos. Possuía velas e remos e era pilotada por 6 marujos em média. Esse tipo de construção de canoa era típica dos caiçaras ubatubenses. Ser caiçara é ter orgulho de suas origens, é ter coragem para enfrentar o mar, é ter capacidade de viver no isolamento, saber dividir o produto de sua pesca e ter consciência que Deus lhe deu as duas maiores forças da natureza: a floresta e o mar.
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Vocabulário Voz mansa, cheia de peculiaridades. O sotaque caiçara acentua as palavras de um modo diferente, troca o “v” pelo “b” e, claro, o “você” é substituído pelo “tu”. Muitas expressões do nosso dia-a-dia tiveram suas origens nessa cultura. A troco de banana: preço baixo Acabosse o que era doce: terminou Amolante: vagaroso Antonte: dois dias antes Aperreando: não deixar fazer direito Arria: coloca no chão Babau: acabou Bocaina: horizonte Burburinho: confusão Cala boca: admiração, espanto Caniço: vara de pescar Chio de peito: asma Coça: surra Codó: pedaço de praia pequeno Coisinha: substitui o nome esquecido naquele momento Consertar o peixe: limpar o peixe Curriola: um bando de pessoas De marca maió: muito grande De veiz: quase maduro Deixestá: você vai ver como é que fica Desacorçoado: não ter motivação Dor nas cadeira: dor nos quadris Escambo: troca Escárnio: pouco caso Esculhambar: xingar, chamar a atenção, advertir Escorar: amparar árvore caída Estais tão gabosa: estás muito bonita Estrada de rodagem: ruas dos dias atuais Foi pro beleléu: já foi embora, morreu Fuzilando: relampejando Guardanapo: pano de prato Lambedô: xarope Marmandado: desobediente Me aprecatei: preveni Naco: pedaço Ordenado: salário Picape: vitrola Prenha: grávida Quebrante: mal olhado Rachei o bico: ri muito Reparar: olhar para criticar Sapeca: assanhada Subaco: sovaco Tarrafa: espécie de rede de pesca Temperar o café: adoçar o café To em pandareco: estou mal Três antonte: três dias antes Um bocado: grande porção Verdolenga: quase madura Viração: vento do sul fraco Zanzando: andando de um lado para o outro
não deixe de visitar Estátua Pe. José de Anchieta
O ponto do Trópico de Capricórnio
Em comemoração ao 4º Centenário do município, essa estátua está localizada na Av. Iperoig, justamente no ponto onde o próprio escreveu seu famoso “Poema à Virgem”, enquanto cativo dos índios Tupinambás.
Instituto Oceanográfico da USP Pesquisas realizadas principalmente em relação às tábuas das marés, é um perfeito local para termos uma ideia do desenvolvimento científico brasileiro. Está localizado na Enseada do Flamengo. É necessário agendamento prévio.
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DIVUlGaÇÃo
Bera Palhoto
Bera Palhoto
“Linha imaginária que marca 23º26’21” - Sul, que é o valor médio da inclinação do eixo de rotação da Terra com relação ao plano de órbita dela em torno do Sol. E aqui em Ubatuba, nos dias 22 de junho e 22 de dezembro, o Sol fica totalmente a pino. São chamados de Solstícios de Inverno e Verão, respectivamente. Em nenhuma outra cidade do Litoral há esta ocorrência.
Praia do Lúcio ou das Conchas Se você é adepto à pesca, vale à pena seguir a trilha a partir da praia do Félix para curtir um visual e ainda ter o que fazer para o jantar. A trilha é de grau médio.
Bera Palhoto
Vila
tatYaNa aNDraDe
Aproveite as baladas que agitam as noites da vila
Feira de Artesanato
DIVUlGaÇÃo
Bera Palhoto
Na praia do Cruzeiro você terá uma gama variada de artigos artesanais com bom preço e qualidade. Muito bem organizada reúne artesãos de todo o litoral paulista. Aproveite para saborear os petiscos à venda sentindo a brisa do mar.
Cantão de Itamambuca
No encontro do rio com o mar, há uma formação de água salobra e tranquila para uma boa relaxada no corpo. A paisagem é um descanso aos olhos.
Obelisco
Uma obra de 1937 feita pelo escultor Vicente Larocca, no Largo da Matriz, esculpido em granito picolado, em comemoração ao 3º Centenário da cidade de Ubatuba.
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DIVULGAÇÃO
Se eu fosse você...
TATYANA ANDRADE
TATYANA ANDRADE
... caminharia pela praia com os amigos até os últimos raios de sol
...tomaria VÁRIOS banhos de cachoeira
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...levaria para casa uma artesanato indígena
bera palhoto
tatYaNa aNDraDe
tatYaNa aNDraDe
...prestigiaria o projeto Tamar
DIVUlGaÇÃo
bera palhoto
...apreciaria o artesanato local
...pedalaria pelas praias da cidade
bera palhoto
elsIe De CarValho oraboNa (omNImare merGUlho De UbatUba)
...relaxaria a beira do rio
...observava cada detalhe da exuberante flora
...mergulharia entre os peixes
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FOTOS TATYANA ANDRADE
Gente da Terra
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FOTOS TATYANA ANDRADE
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Dados estatísticos
Data de fundação: 28 de outubro de 1637
Localização Geográfica: Localização Geográfica Latitude: -23°.26’.02’’S Longitude: -45°.04’.15’’O Altitude: Máx 1.670m Mín: 0m
Área Total:
Clima: Tropical úmido Temperatura média 25,5º C no verão e 18,4º no inverno
Distâncias: São Paulo – 250km São José dos Campos – 137km Rio de Janeiro – 310km
712 km²
Densidade demográfica:
Pessoas Residentes:
105,3 hab/km²
79.718 (censo 2011)
Gentílico: Ubatense
Rio de Janeiro
Limites:
Taubaté Rodovias dos Estados de São Paulo/Rio de Janeiro
Norte: Cunha Nordeste: Parati Sudoeste: Caraguatatuba Noroeste: Natividade da Serra e São Luís do Paraitinga
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Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - 0,795
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IDHM:
São José dos Campos
São Paulo
SP
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Ubatuba Caraguatatuba
São Sebastião
Bertioga Guarujá Santos
ILHABELA BR 101 Trecho Rod. Rio Santos BR 116 Trecho Rod. Presidente Dutra SP 070 Ayrton Senna e Carvalho Pinto SP 099 Rodovia dos Tamoios
TATYANA ANDRADE
Ubatenses
“Obra de Deus” Muitos lugares são lindos e suas paisagens mais ainda, mas Ubatuba tem uma alma diferente que nos faz sentir livres. Aqui podemos abrir os braços sentindo a brisa do mar que causa uma sensação de liberdade e comunhão com a divina obra de Deus. Seus recantos são como paraísos com espetaculares imagens que ficam gravadas em nossas retinas e que aos poucos vão se absorvendo em nossos sonhos. E como falar de um povo que vive em um lugar 98 Cidade&Cultura
com esses espetáculos diários? É um povo que está além das preocupações cotidianas das grandes cidades. Um povo que mostra sua interação com a natureza e suas forças. Portanto, um povo que nasceu de bravos guerreiros corajosos e de uma sabedoria adquirida com as intempéries do mar e da proteção da mata. Renata Weber Neiva
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