© AECID, Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, 2023
NIPO: 109-23-044-0
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Texto ©: Clara Pavón Estradé
Tradução: Teresa Noronha e António Cabrita
Coordenação: Alejandra López, Noa Vitorino Boane, Clara Pavón Estradé
Layout: Vice Versa Ideias
Esta publicação foi possível graças à Cooperação Espanhola através da Agência de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID). O seu conteúdo não reflete necessariamente a posição da AECID.
4 Conteúdo 1.Introdução..................................................................................................................................................8 2.Metodología ............................................................................................................................................10 3.Estado da questão: análise socioeconómica...........................................................................14 Perfil das entrevistadas........................................................................................................................14 Ocupação laboral no sector cultural................................................................................................15 Formação Artística..................................................................................................................................17 Viver da arte ou viver por amor à arte?..........................................................................................18 Criação de empresas e de emprego.................................................................................................21 Acesso à segurança social.....................................................................................................................22 Políticas públicas e de regulação da figura da artista...........................................................23 Direitos de autor........................................................................................................................................24 Impacto das Plataformas de Streaming na Música...............................................................24 A Edição e Venda de Livros...................................................................................................................25 Contratos Editoriais Desfavoráveis..................................................................................................25 A Luta pela Proteção dos Direitos de Autor................................................................................25 Perspectivas de Futuro e Oportunidades.....................................................................................26 Espaços Culturais......................................................................................................................................26 Internacionalização e Digitalização: Um Impulso para as Mulheres Artistas..........27 Internacionalização Através de Experiências e Conexões no Estrangeiro.................27 Acesso à Industrialização e Mercados Internacionais...........................................................27 Digitalização como Ferramenta de Marketing e Promoção..............................................28 Desafíos e Oportunidades da Digitalização e Internacionalização...............................28 (Des)igualdade de Género?.................................................................................................................29 Ser Mulher e Encontrar Tempo para a Criação.........................................................................30 Disparidades em Sectores Artísticos Específicos....................................................................30 A Expressão Artística como Plataforma para Abordar a Desigualdade de Género...........................................................................................................................................................30 Preconceitos e Assédio Sexual............................................................................................................31 A luta pela igualdade e o reconhecimento..................................................................................31 4.Mulheres Inspiradoras da Cena Cultural de Moçambique..............................................32 Artes Cénicas..............................................................................................................................................32 Ana Magaia: Atriz, Produtora e Assistente de Direção Pioneira nas Artes de Moçambique..............................................................................................................................................32 Angelina Chavango: A Atriz e Docente que Quer Promover o Teatro Infantil em Mozambique...............................................................................................................................................33 Associação de Canto e Dança de Quelimane............................................................................34 Calene (Cármen Custumes): A Mulher que Faz Rir Moçambique...................................35
Edna Jaime: A Dança Como Linguagem de Mudança..........................................................37
Juliana de Sousa: Tecendo Melodias de Diversidade em Inhambane..........................37
Khataza Malate: Transformando o Cenário Musical com os seus Ritmos Eletrónicos..................................................................................................................................................38
Lenna Bahule: Entre Vozes, Culturas e Compromisso Artístico em Moçambique..............................................................................................................................................
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Lucrécia Paco: Do Bairro aos Cenários - A Vida Transformadora de uma Actriz
Pioneira em Moçambique..................................................................................................................40
Manuela Soeiro: A Mãe do Teatro Moçambicano....................................................................42
Regina dos Santos: Uma viagem Musical em Busca da Autenticidade......................43
Rostalina Dimande: Rompendo Estereótipos Através da Dança....................................44
Silke: Melodias de empoderamento e autodescoberta.......................................................45
Xixel Langa: Uma Longa Carreira Musical que Rompe Tabus Sociais.......................47
Artes plásticas e (áudio) visuais.........................................................................................................48
Amirah Adam: Empreendendo no mundo da moda através da capulana...............50
Benoca Alfredo Malinga: A Trajectória de uma Desenhadora Empoderada em Moçambique...............................................................................................................................................51
Carmen Muianga: Artista Plástica e Pioneira da Colagrafia em Moçambique........52
Chantell Hassan: Uma Artista Plástica Pioneira na cidade da Beira.............................53
Dilayla Romeo: Artista Multifacetada e Ponte Cultural entre Espanha e Moçambique..............................................................................................................................................54
Élia Gemuce: Professora, Curadora e Galerista Comprometida com a Profissionalização da Arte em Moçambique......................................................................................................55
Emília Nhate: Cineasta e Contadora de Histórias....................................................................57
Jamaila Brites: Criando Arte e Moda com uma Mensagem..............................................58
Gigliola Zacara: Cinema e Compromisso Social em Moçambique................................59
Josefina Massango: Uma Vida Dedicada ao Teatro e à Arte em Moçambique........61
Júlia Guirrugo: Captando a Essência da Vida Através da Fotografia............................62
Lara Sousa: A Busca da Verdade e a Identidade Através do Cinema............................62
Lillian Benny: Explorando Narrativas Visuais.............................................................................64
Lizette Chirrime: Expressão e Cura Através do Tecido e da Abstração........................65
Ludmila dos Reis: Captando a Essência Feminina através da Fotografia..................66
Maria Elisa Chim: Uma Vida Dedicada à Arte e à Cultura em Moçambique............67
Mestria Sitoe: Desenho Gráfico e Arte Urbana..........................................................................68
Mimy Silbeiro: A Artesã Criativa da Capulana da Beira........................................................69
Natasha Matos: Expressão Artística, Espiritualidade e Misticismo...............................70
Nelsa Guambe: Tecendo Arte e Compromisso Social em Moçambique......................71
Thandi Pinto: Captando o Espírito de Moçambique através da Fotografia Cola-
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Artes
Claudia Chatonda: A Poetisa de Tete............................................................................................74
Eliana Nzualo: A Contadora de Histórias de Moçambique.................................................75
Énia Lipanga: Poetisa, Activista e Defensora da Inclusão em Moçambique.............76
Hirondina Joshua: Uma Viagem Literária por uma Imaginação menos usual.........77
Lica Sebastião: Renascendo Através da Poesia e das Artes Plásticas.......................78
Lilia Momplé: A Narradora que Desafia as Injustiças.................................................................79
Sandra Tamele: Transformando a tradução literária em Moçambique.......................80
Teresa Helena Vieira Cordato de Noronha: Uma Vida Dedicada à Literatura e à Educação......................................................................................................................................................81
Vânia Óscar: A Escritora que não Aceitou um “não” como Resposta............................82
Virgília Ferrão: Explorando Universos e Questões do Meio Ambien-
5.Conclusões...............................................................................................................................................85 Recomendações para o sector...........................................................................................................85
6.Referências
6 gem..................................................................................................................................................................72
literárias............................................................................................................................................73
te.......................................................................................................................................................................83
Política Pública.........................................................................................................................................85 Sociedade civil..........................................................................................................................................86 Económicas................................................................................................................................................86
bibliográficas...............................................................................................................87 Anexo I
consentimento informado......................................................................89 Agradecimentos......................................................................................................................................92 Tradução para Espanhol.......................................................................................................................94
– Modelo de
Lista de ilustrações
Ilustração 1. Nível de estudos.........................................................................................................................15
Ilustração 2. Sector de trabalho dentro das artes (percentagem sobre o total das entrevistadas)................................................................................................................................................................15
Ilustração 3. Tipo de jornada laboral em percentagem................................................................16
Ilustração 4. Tipo de emprego.....................................................................................................................17
Ilustração 5. A arte é a sua principal fonte de rendimentos?.....................................................18
Ilustração 6. Os rendimentos provenientes das artes são: ocasionais, regulares ou sem entradas (em percentagem).....................................................................................................................19
Ilustração 7. Os rendimentos provenientes das artes cobrem todas as suas necessidades básicas? (Em percentagem)...........................................................................................................20
Ilustração 8. Fonte de rendimentos representada em percentagem.................................20
Ilustração 9. Disparidade de Género no Sector Cultural: Comparação entre a Representação Feminina e Masculina em Diversos Países. Fonte: UNESCO & UIS, 2017....29
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Desde o ensaio pioneiro de Linda Nochlin em 1971, intitulado “Porque não houve grandes mulheres artistas?”, a questão adquiriu relevância nos estudos feministas de arte, ainda que originalmente os mesmos se centrassem, principalmente, no contexto ocidental. No entanto, a questão de saber se esta mesma problemática merece ser abordada num lugar como Moçambique, aparece ligada especialmente a o facto deste país ter uma história recente enquanto Estado-Nação. E a resposta não é simples.
Quando iniciei este estudo, muitas pessoas garantiam-me que não existiam apenas mulheres artistas ou que estas seriam em número significativamente menor que os homens, em Moçambique. Em princípio, esta resposta poderia ter-me reconfortado, porque implicava que a minha tarefa seria mais simples, uma vez que o estudo abordaria uma temática mais vasta. No entanto e à medida que aprofundava o tema, a minha perspetiva foi mudando. Descobri que, em todos os âmbitos artísticos, existiam mulheres artistas, ainda que talvez não lhes prestássemos a atenção devida. A presença de mulheres no teatro, na música e na dança era mencionada com frequência, mas também encontrei um florescimento nas artes plásticas e no âmbito literário ou dos audiovisuais do país. Talvez não estivéssemos a olhar para a situação suficientemente de perto, não estivermos a aprofundar o necessário. É possível que os homens atraiam mais a atenção mediática e pública. Talvez os rostros anónimos das mulheres dedicadas às artes cénicas e à escrita, que optavam por guardar as suas obras na gaveta devido a dificuldades económicas, falta de oportunidades ou reconhecimento, colocassem interrogações mais complexas a ter em conta. Neste estudo, não cheguei a respostas definitivas sobre estas questões, nem sobre o facto de haver mais mulheres do que homens em diferentes áreas do universo artístico.
A minha tarefa foi mais humilde. Este trabalho representa uma pequena contribuição, uma gota de água no oceano, para vislumbrar a diversidade de vozes e mulheres dedicadas à arte num país tão vasto como Moçambique. Reconheço que não consegui abarcar tudo o que gostaria, nem ter a representatividade que teria desejado, mas o meu objetivo final foi o de refletir as histórias de vida de diversas mulheres na esfera artística, priorizando os aspetos qualitativos sobre os quantitativos, porque existem e existiram mulheres em todos os campos artísticos de Moçambique.
8 1.Introdução
Como enfoque do estudo, centrei-me na arte mais contemporânea, sem deixar de lado nem esquecer as vozes artísticas que foram fundamentais na história de Moçambique desde os seus primórdios como Estado-nação, como as de Noémia de Sousa, Bertina Lopes, Lina Magaia, Moira Forjaz, Isabel Noronha, Zaida Chongo e Reinata Sadimba e tantas outras que deixaram uma marca significativa no panorama artístico do país.
Após a independência, em Moçambique, em pleno contexto da Guerra Fria, emergiu o conceito de “Homem Novo”, uma “figuração mitológica” herdada dos países da esfera socialista, e uma ideia de nação um pouco rígida, impulsionada pela necessidade de edificar uma unidade política, concentrada no espaço das fronteiras que haviam sido desenhadas no período colonial; mas já nos anos noventa e em clivagem com esse modelo inicial se começou a dar cada vez maior importância à diversidade cultural e à ideia de que Moçambique é, na verdade, um mosaico de nações, de línguas, e de multiplicidade cultural. Creio que nesta diversidade também estão integrados os diferentes conceitos de ser mulher. As histórias de vida presentes neste estudo são um reflexo deste mosaico.
Com o objetivo de melhorar a compreensão das contribuições, desafios e aspirações das mulheres nas artes em Moçambique, este estudo baseouse numa metodologia que incluiu entrevistas com informante chave e um mapeamento das mulheres artistas de diferentes partes do país a que tive acesso. Além disso, recolheram-se as respetivas biografias e dados sobre a sua situação socioeconómica para obter uma visão completa dos desafios que as mesmas enfrentavam na atualidade. Da estrutura do estudo constam a explicação da metodologia utilizada, seguida de uma análise sobre o estado da questão, centrada em aspetos socioeconómicos, e, por fim, é apresentada como conclusão uma breve análise de cada sector com as biografias correspondentes das mulheres envolvidas nessas áreas.
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2.Metodología
O estudo foi efetuado usando uma metodologia mista. Em primeiro lugar, realizou-se uma revisão bibliográfica, que abarcou estudos similares realizados noutros países (Dongo, 2017; Voices of Culture, 2020; European Union, 2022; Ontario Arts Council, 2018; Corbat & González, 2020). Dado o facto de não existirem estudos similares feitos em Moçambique, na atualidade, tornou-se necessário recorrer a investigações sectoriais sobre o âmbito cultural, bem como a livros de história de arte. Para além disso, realizaram-se consultas a informantes-chave, como a Alda Costa, a historiadora de arte mais reconhecida do país, e gestores de centros culturais estrangeiros. Desta forma, levaram-se a cabo entrevistas com a Diretora do Instituto de Indústrias Culturais e Criativas, o Diretor do Diretório de Indústrias Culturais e Criativas do Ministério da Cultura e a representante do programa cultural da UNESCO. Estas consultas permitiram definir as ferramentas de investigação necessárias.
Para compilar os dados dos questionários mistos, utilizou-se a ferramenta KoboTool. Estes questionários incluíram perguntas de escolha múltipla e respostas curtas, o que permitiu obter uma visão completa do sector e facilitar a comparação dos dados compilados. Além disso, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com uma duração variável de meia hora a duas horas, segundo a disponibilidade e disposição de cada participante. No total, realizaram-se 54 entrevistas, das quais 46 com mulheres que trabalharam no âmbito da arte e da cultura, entre novembro de 2022 e junho de 2023. Duas artistas foram adicionadas posteriormente em novembro de 2023. Desta forma, 40 participantes responderam ao questionário da Kobo. Para apresentar os dados preliminares do estudo, levou-se a cabo uma sessão híbrida, em Maputo e via Zoom, com as artistas participantes, no dia 29 de junho de 2023, para que estas pudessem dar o seu contributo. Da mesma forma, uma vez que o rascunho do estudo foi finalizado, este foi compartilhado com as artistas participantes para adicionar suas alterações e recomendações.
A seleção das participantes foi feita mediante uma amostra intencional (“purposive sampling”), selecionando-se aquelas que eram referências no sector ou que haviam sido recomendadas por diversos agentes culturais. Posteriormente, utilizou-se o método de amostragem de bola de neve (“snowball sampling”), em que as participantes das entrevistas recomendavam e facilitavam o contacto de outras pessoas. Também se contactaram várias participantes através das redes
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sociais como o Instagram, o Twitter e utilizou-se a base de dados da Embaixada de Espanha constituída ao longo de vários anos. Usou-se também uma lista de associações culturais de todo o país, facultada pela Direção das Indústrias Culturais e Criativas. Isto permitiu que a investigadora realizasse chamadas para diversas associações para procurar por mulheres envolvidas nas artes, como foi o caso da Associação de Dança de Quelimane.
Com esta metodologia mista, conseguiu-se obter uma ampla e diversificada perspectiva do sector cultural em Moçambique, destacando a participação e a experiência de mulheres na esfera artística e cultural.
Limitações e delimitações/limites
Qualquer processo de investigação apresenta limitações e delimitações inerentes. No caso dos estudos sobre a arte, conceito tão amplo como ambíguo, o campo é vasto e complexo. A pregunta de “como definir a um artista” acabou por ser um desafio importante para a seleção das participantes. Para abordar esta questão, a autora optou por eleger mulheres que faziam das artes a sua principal ocupação ou que aspiravam a fazê-lo a tempo inteiro, se não se interpusessem limitações socioeconómicas, e que tivessem uma experiência consolidada. Além disso, a autora fez um esforço consciente para incluir as gerações mais novas de artistas, procurando, desta forma, realizar comparações entre as distintas gerações.
No entanto, algumas áreas, como a escultura, estão sub-representadas no estudo. Além disso, ainda que a autora tivesse considerado incluir outras trabalhadoras culturais, como funcionárias públicas encarregadas da gestão de bibliotecas ou mulheres com negócios em feiras artesanais, muito presentes em ambos os sectores, teve de limitar o estudo a artistas e gestoras culturais devido às especificidades do objeto a estudar e à pouca disponibilidade de tempo.
Da mesma forma, é importante destacar que, além dos critérios de seleção aplicados neste estudo, existem muitas artistas em Moçambique que não puderam ser contatadas durante a fase de pesquisa, por diversas razões. Essa limitação não reflete de maneira completa a riqueza e diversidade do talento artístico presente no país. No entanto, é fundamental compreender que este estudo se concentra em fornecer exemplos representativos em vez de estabelecer que as artistas mencionadas são as únicas referências em Moçambique ou as melhores em suas respetivas disciplinas. O objetivo é oferecer uma visão geral e promover a diversidade de vozes e expressões artísticas em Moçambique, reconhecendo
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que muitas outras talentosas artistas contribuem significativamente para o cenário artístico do país.
É importante destacar que este estudo tem uma incidência predominante na região de Maputo. Este facto deveu-se à circunstância da autora estar sediada na capital, com a exceção de uma viagem que fez à Beira, em fevereiro de 2023, e à dificuldade de acesso à informação sobre outras províncias. Isto também se deveu à concentração da maioria das oportunidades em Maputo, o que obriga à migração de muitas mulheres para a capital, em busca de melhores condições de vida e de desenvolvimento para as suas carreiras.
Para ultrapassar esta limitação, o Ministério da Cultura proporcionou-nos uma listagem das associações, por província. Desta forma, a investigadora pôde realizar entrevistas telefónicas com mulheres de outras províncias, como a Zambézia, Inhambane e Tete. A pesar dos esforços, é importante reconhecer que a região norte está sub-representada neste estudo. Pelo que se recomenda que, em futuras investigações, se faça um mapeamento exaustivo dessa região e daquelas que com uma rica história cultural, como Nampula, a Ilha de Moçambique ou a Ilha do Ibo.
Além disso, devido à carência de registos oficiais sobre o número de pessoas dedicadas à cultura e às artes, torna-se difícil determinar a representatividade deste estudo. Muitas pessoas que trabalham neste âmbito não estão inscritas na segurança social nem registadas formalmente, o que impossibilita dispoôr-se de números oficiais sobre as pessoas empregadas no sector. Do mesmo modo, por se tratar de uma única investigadora, o número de entrevistas viu-se restringido, não permitindo realizar uma análise exaustiva e detalhada.
Por último, seria interessante realizar um estudo comparativo para ver se a situação das mulheres artistas está em desvantagem no que respeita aos homens e como a experiência de ambos se assemelha ou diferencia.
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Considerações éticas
As considerações éticas e as medidas de privacidade adotadas para este estudo são fundamentais para garantir a proteção da privacidade e a confidencialidade das participantes, assim como para assegurar a realização de uma investigação ética.
Em primeiro lugar, antes de realizar as entrevistas, a investigadora deu a conhecer a todas as participantes o propósito do estudo e obteve o seu consentimento, verbal e por escrito, para a respetiva participação na investigação (ver Anexo I). O formulário de consentimento por escrito fornecia informação sobre os objetivos do estudo, os procedimentos, os possíveis riscos e benefícios, e o direito dos participantes a retirarem-se a qualquer momento. Mesmo assim, só se incluem as biografias de artistas entrevistadas.
Em segundo lugar, implementaram-se diversas medidas para proteger a privacidade e a confidencialidade. Em primeiro lugar, as gravações foram guardadas de forma segura numa pasta privada. Em segundo lugar, para todos os dados de carácter pessoal que não correspondessem meramente ao trabalho artístico das entrevistadas manteve-se o anonimato na secção relativa à análise socioeconómica.
Por último, seguiram-se os princípios do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) para garantir a privacidade da informação. O RGPD estabelece requisitos específicos para o manejo de dados pessoais, incluído para a sua compilação, armazenamento e uso. Dando cumprimento a estas diretrizes, a investigadora assegurou que se tratou de maneira responsável a informação do entrevistado.
Além disso, de acordo com o enfoque das investigações feministas, é importante envolver as participantes no processo de investigação. Portanto, utilizaram-se entrevistas semiestruturadas com perguntas-guia que permitiam adaptações às necessidades e prioridades pessoais e possibilitavam uma maior flexibilidade para explorar os temas que se considerassem de maior relevância. É importante referir que, antes da publicação, se solicitou, a aprovação de cada uma.
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3.Estado da questão:
Perfil das entrevistadas
As participantes das entrevistas foram exclusivamente mulheres adultas, com idades compreendidas entre os 21 e os 87 anos, sendo a média das idades de 33 anos. Todas as entrevistadas estavam profissionalmente ativas, exceto uma delas por motivos de saúde. Esta circunstância deve-se a que a escolha desta profissão se desenvolve principalmente por vocação e não se rege pelas pautas oficiais de jubilação e reforma (estabelecida aos 55 anos) segundo a legislação vigente em Moçambique.
Mais de 75% das entrevistadas, residem em Maputo e as restantes na Beira, Quelimane, Tete e Inhambane. Neste estudo é patente uma tendência acentuada para tomar a direção da capital, ainda que seja manifesto que algumas destas mulheres são oriundas de outras regiões do país e que acabaram fixando-se em Maputo devido a um maior acesso a oportunidades socioeconómicas.
Quanto à composição dos agregados familiares, observou-se que, em média, eram constituídos por dois membros, excluindo a entrevistada. 25% das entrevistadas viviam em lares unipessoais, principalmente as mulheres com idades compreendidas entre os 27 e os 36 anos, bem como as que contam mais de 65 anos. Estes dados indicam que tanto as jovens que iniciam a sua carreira profissional como as pessoas de idade avançada têm mais tendência para viver sozinhas, especialmente na cidade de Maputo.
Por outro lado, 40% das entrevistadas mencionam ter filhos a seu cargo, enquanto 17,5% delas cuidavam de um ou de ambos os países e 15% de outros familiares. Ademais, realce-se que mais de 50% das artistas entrevistadas são mães solteiras. Estos dados revelam uma existência elevada de mães solteiras, já que, durante as entrevistas qualitativas, também se verificou que aquelas mães que já tinham filhos em idade laboral haviam desempenhado o papel principal de cuidadoras.
Quanto ao nível educativo das inquiridas (Ilustração 1), verificou-se que 86% delas contava com estudos universitários. Estes dados estão em conformidade com as características do sector cultural noutras regiões, como na União Europeia, onde se evidencia que os trabalhadores do sector cultural apresentam níveis de ensino mais elevados (Eurostat, 2022; UNESCO & UIS, 2017).
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análise
socioeconómica
Ilustração 1. Nível de estudos.
Ocupação laboral no sector cultural
87.5% das entrevistadas definiam-se como artistas. De entre elas, 31.4% eram também gestoras culturais ou produtoras. Isto deve-se ao facto de que muitas pessoas que são artistas desempenham também outros papéis dentro do sector. A título ilustrativo, uma cantora pode ser simultaneamente produtora musical. As restantes dedicavam-se exclusivamente à produção ou gestão cultural. 45% dos inquéritos desempenhava o seu trabalho criativo no âmbito das artes cénicas, enquanto 47.5% estava ligado às artes visuais, audiovisuais ou plásticas (Ilustração 2). Da mesma forma 22.5% dedicava-se às artes literárias. Estas percentagens devem-se ao facto de que 27.5% dos artistas inquiridos eram multidisciplinares, trabalhando em diversas áreas artísticas.
15 Nível de estudos
Ilustração 2. Sector de trabalho dentro das artes (percentagem sobre o total das entrevistadas).
Dentro das artes visuais, audiovisuais ou plásticas, entrevistaram-se artistas das áreas de pintura, fotografia, produção cinematográfica e vídeo, desenho de moda, grafitis, escultura e xilogravura. No que concerne às artes cénicas, entrevistaramse mulheres do meio do teatro, música, dança e “stand-up comedy”. A maioria das participantes entrevistadas (40%) tinha entre 11 e 20 anos de experiência no sector, 30% entre 6 e 10 anos, 17.5% mais de 20 anos e 10% entre um e cinco anos.
Mais de metade (62.5%) dedicam-se à arte a tempo parcial (Ilustração 3), estando empregadas também em outras tarefas, devido, em parte, ao alto nível de precaridade do sector que não lhes permite empenharem-se no seu labor artístico a tempo inteiro e também às tarefas de cuidadora do lar que desempenham socialmente. Em média, as entrevistadas dedicavam 23 horas por semana ao trabalho artístico. Esta estatística é muito superior às que se registam a nível global pela UNESCO (2019), que refere que 28% das trabalhadoras deste sector dedicam-se à atividade artística a tempo parcial face a 18% dos homens. Seria interessante comparar este dado com o dos homens no mesmo sector para ver se aqui há correspondência com a tendência global.
Ilustração 3. Tipo de jornada laboral em percentagem
Por último, 60% das entrevistadas trabalhavam por conta própria (Ilustração 4), dado que está em consonância com o valor registado pela UNESCO para o país (cerca de 65%) correspondendo às tendências do sector a nível global, ainda que seja muito superior à percentagem global de mulheres freelancers (38%) e inferior a outros países do continente como o Uganda e o Mali (90%) (UNESCO & UIS, 2019). As entrevistadas que estavam empregadas por terceiros trabalhavam,
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principalmente, para empresas privadas, associações de canto e dança, ONGs, centros culturais e universidades.
Ilustração 4. Tipo de jornada laboral em percentagem
Formação Artística
45% das entrevistadas referiram ter adquirido formação artística principalmente de forma autodidata. Para além disso, outras entrevistadas mencionaram que obtiveram a sua formação parcialmente de forma autodidata, mas beneficiaram também de outros tipos de formação como estudos universitários, oficinas ou cursos de curta duração, formação profissional e/ou com acompanhamento de um mentor. Estes dados refletem o facto de que 75% das entrevistadas se formaram, pelo menos parcialmente, de forma autodidata
Outro dado relevante é que, das entrevistadas com formação universitária, ou seja 85%, apenas 30% obteve o seu grau académico na sua área artística. Isto demonstra a dificuldade de cobrir completamente as necessidades socioeconómicas através do trabalho artístico, o que faz com que as artistas recorram a outras ocupações que garantam o sustento da sua paixão pelas artes.
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Viver da arte ou viver por amor à arte?
Viver da arte em Moçambique, à semelhança do que acontece a nível global, continua a ser um desafio para a maioria das mulheres que se dedicam a esta atividade. De acordo com 55% das pessoas entrevistadas, a arte não é a sua principal fonte de rendimentos (Ilustração 5). O pluriemprego parece ser mais a norma do que a exceção neste sector.
Ilustração 5. A arte é a sua principal fonte de rendimentos?
Entre as atividades complementares que estas mulheres desempenhavam para obter outros rendimentos, foram referidas as consultorias, trabalhos como ativistas, a docência, a avogacia, os serviços de tradução e interpretação, a arquitetura, o jornalismo, os cuidados de saúde, a comunicação e a engenharia informática.
Por outras palavras, a maioria destas profissões são ocupações liberais que implicam estudos superiores, como está espelhado nos dados da respetiva formação. Segundo a USAID (2022) , metade das raparigas moçambicanas não completam a quinta classe e apenas 1% frequenta a universidade. Estes dados ilustram como as pessoas de classes socioeconómicas mais baixas estão ainda mais excluídas deste sector por falta de condições, o que faz com que tenham de procurar outras formas de rendimento.
77% das entrevistadas afirmaram que os rendimentos que provinham do trabalho artístico eram ocasionais (Ilustração 6), isto é, não eram regulares, nem mensais, mas intermitentes e predominantemente provenientes de atividades pontuais. As restantes pessoas que declararam contar com entradas regulares (mensais) dedicavam-se ao teatro (duas entrevistadas), à dança (uma
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entrevistada), à fotografia (uma entrevistada), ao desenho de moda (outra entrevistada), à produção cinematográfica (outra entrevistada) e uma última entrevistada dedicava-se à produção artística multidisciplinar. Ainda assim, uma delas declarou não ter qualquer tipo de rendimentos.
Ilustração 6. Os rendimentos provenientes das artes são: ocasionais, regulares ou sem entradas (em percentagem)
Apesar das artes gerarem alguns rendimentos, 38% manifestou que estes rendimentos não cobriam nenhuma das suas necessidades básicas, entre as quais se incluem o acesso a serviços de saúde, educação, alimentação e nutrição, alojamento, saneamento, higiene e eletricidade.
40% das inquiridas indicaram que os rendimentos provenientes da arte só cobriam algumas das suas necessidades básicas. Apenas 21.6% declarou que os rendimentos provenientes das artes cobriam todas as suas necessidades básicas: duas destas estavam na área do teatro, quatro no cinema, duas no desenho de moda, uma era diretora criativa e outra produtora cultural. Todas as pessoas que conseguiam cobrir as suas necessidades básicas residiam em Maputo, à exceção de uma que vivia na Beira. Isto mostra-nos uma tendência das profissões com caráter mais comercial, como os audiovisuais ou a moda gerarem, em Moçambique, maiores rendimentos do que as artes plásticas ou a literatura que têm nichos de mercado mais restritos.
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Ilustração 7. Os rendimentos provenientes das artes cobrem todas as suas necessidades básicas? (Em percentagem)
De entre as pessoas que respondiam que os rendimentos cobriam algumas das suas necessidades, estavam maioritariamente as mulheres ligadas às artes cénicas (música, dança, performances e teatro), sendo estas mais de 75%. Entre as despesas que estes rendimentos conseguiam cobrir, a maioria dizia respeito à alimentação e à nutrição (73%), água e saneamento (40%), eletricidade (33%) e educação (26%).
De onde provém estes rendimentos? A maioria respondeu que as suas fontes de rendimento provinham de consumidores privados, que representavam 52.5% do total; seguido do autofinanciamento (isto é, investimentos próprios) com 47.5%; fundações privadas e agências estrangeiras ou internacionais (incluindo centros estrangeiros como o Franco-Moçambicano em Maputo ou as Embaixadas), ambos respetivamente com 27.5%; fundos públicos ou governamentais com 15%; e bancos com 5%. As restantes mencionavam que também recebiam rendimentos de editoras e empresas privadas (Ilustração 8).
Ilustração 8. Fonte de rendimentos representada em percentagem
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Um dos dados mais interessantes é o alto número de mulheres que autofinanciam a sua própria arte, isto é, que investem rendimentos ou poupanças para poderem levar a cabo o seu trabalho artístico. Atítulo ilustrativo, no sector literário, quatro das escritoras entrevistadas investiram recursos próprios para publicar os seus livros através de editoras ou, inclusivamente, optaram por uma edição de autor das suas obras; vários grupos de teatro disseram autofinanciar as suas peças e assumiram-se como empresárias que dependem exclusivamente de capital próprio, o qual normalmente provém dos rendimentos salariais de outros tipos de trabalho. Este fenómeno, longe de ser uma particularidade local, reflete uma tendência global no mundo da arte, segundo informações da UNESCO (2019: 6), “o maior subsídio das artes não provém dos governos, mecenas ou do sector privado, mas dos próprios artistas sob forma de trabalho não remunerado ou mal remunerado.”
Criação de empresas e de emprego
A indústria artística em Moçambique testemunhou um crescimento incipiente na criação de pequenas empresas lideradas por mulheres, o que gerou oportunidades de emprego e contribuiu para o desenvolvimento do sector cultural no país. Neste estudo, identificaram-se diversas microempresas que surgiram no âmbito das artes, contratando uma média de 2 a 7 pessoas. Estas empreendedoras criaram negócios inovadores em áreas como a dança (DansArtes), joalheria (Noki Shop), moda (Mabenna, La Mira y Seeres) e editoras (Editora Trinta ZeroNove e o blogue editorial Diário de uma Qawii), bem como galerias de arte (Arte d'Gema e Deal Galeria), escolas de arte (Xiluva Artes e Escola de Teatro Sabura) e centros culturais (Teatro Avenida e a Casa do Artista na Beira).
Apesar do crescimento incipiente das microempresas lideradas por mulheres no sector artístico de Moçambique, estas enfrentam grandes desafios para se desenvolverem e crescerem. A maioria destas empresas dependem, em grande medida, de capital próprio para o seu financiamento, já que existem grandes obstáculos ao acesso de empréstimos bancários devido a interesses vários. Nenhuma das entrevistadas tinha tido acesso a empréstimos bancários. Estes dados refletem uma tendência geral: segundo dados do Banco Mundial (2023), 75% das pequenas e médias empresas moçambicanas encontram-se financeiramente excluídas.
Ainda que algumas empresárias tenham conseguido obter financiamento, como foi o caso da empresária que ganhou o concurso Agora Emprega para desenvolver o seu negócio, em geral existe uma escassez de acesso a capitais e poucos subsídios provenientes da ajuda oficial ao desenvolvimento neste âmbito. Esta situação constitui um desafio para uma artista na Beira, por exemplo, que
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se empenha em obter capital para abrir a sua escola-oficina, mas se depara com dificuldades para obter fundos.
Não obstante, a criação destas microempresas abriu uma janela de oportunidade para a geração de emprego no mundo das artes em Moçambique. O espírito empreendedor e criativo destas mulheres deixou marca na indústria cultural, enriquecendo o panorama artístico do país e criando novas oportunidades laborais para artistas e profissionais da cultura. À medida que se procuram soluções para superar os desafios de financiamento, estas empresárias corajosas continuam a forjar o seu caminho para o êxito, demonstrando que a arte e o empreendimento podem unir-se para impulsionar o desenvolvimento e o crescimento económico em Moçambique.
Para além disso, a arte também tem um poderoso impacto na criação de emprego indireto, especialmente no mundo do espetáculo. Um exemplo claro disso é a música, que se converte numa importante fonte de oportunidades laborais para as mulheres artistas em Moçambique. As cantoras e músicas deram vida a uma rede criativa que abarca desde os cenógrafos e desenhadores de vestuário, às vocalistas e instrumentistas, contribuindo de maneira significativa para o florescimento da indústria musical. Esta sinergia entre as diversas disciplinas artísticas não apenas enriquece o panorama cultural do país, mas cria também um efeito multiplicador do emprego em diferentes áreas relacionadas com a arte.
Acesso à segurança social
O acesso à segurança social no sector artístico de Moçambique continua a constituir um desafio significativo para a maioria das mulheres artistas. Segundo este estudo, 75% das entrevistadas afirmaram não estar inscritas na segurança social por via da sua atividade artística, percentagem esta que coincide com os 76% do sector cultural segundo as últimas pesquisas do Ministério de Cultura (Farinha y Moucha, 2022), ainda que várias dentre elas tenham acesso a esta prestação através de outro emprego. Aquelas que responderam afirmativamente, na sua maioria estavam há mais de 10 anos inscritas na Segurança Social.
Esta falta de acesso à segurança social levanta importantes preocupações para as artistas, já que muitas delas não chegam à idade da reforma com direito à mesma, devido ao facto de não haverem contribuído durante o número
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suficiente de anos ou porque o fizeram de forma intermitente. Esta situação afeta especialmente aquelas que têm rendimentos irregulares ou baixos, estando excluídas destes sistemas ou que dizem não poder dar-se a este luxo por causa dos baixos rendimentos gerados na área artística.
Entre as artistas que conseguem inscrever-se na segurança social, verifica-se que trabalham principalmente em áreas como a produção de vídeo ou de cinema (75% das entrevistadas destas áreas estavam inscritas). Também se destacam algumas gestoras culturais, uma produtora cultural, uma professora de teatro vinculada a uma universidade, uma escritora e uma desenhadora de moda. Estes casos indicam que, em geral, os que têm acesso à segurança social no mundo artístico têm uma maior estabilidade laboral, a maioria das vezes relacionada com contratos fixos ou emprego em universidades, como a docência artística.
Acresce a isto o facto de que, fora de Maputo, o acesso à segurança social é ainda mais limitado, como demonstrado pelo facto de que apenas uma das entrevistadas fora da capital tenha tido acesso a este benefício. Isto reflete uma tendência para uma maior desproteção das artistas que residem fora da capital, o que por sua vez acentua a importância de abordar estas desigualdades para garantir uma proteção social adequada para todas as mulheres artistas em Moçambique.
Políticas públicas e de regulação da figura da artista
O sector artístico em Moçambique caracteriza-se pela sua predominante informalidade e pela falta de legislação que proteja os direitos e condições laborais dos artistas. Atualmente, não existem disposições sobre o salário mínimo nem medidas que promovam a regularização e melhoria das condições de emprego neste âmbito. No entanto, vislumbram-se esperançosas perspetivas com a iniciativa do Ministério da Cultura e Turismo, em colaboração com a UNESCO, que começou um trabalho de consulta sobre a criação do Estatuto do Artista. Esta legislação poderia representar um grande avanço para o sector ao estabelecer normas que protejam e promovam os direitos dos artistas, bem como atrair investimentos e garantir condições laborais mais justas.
Neste processo, seria de suma importância que o Estatuto do Artista tivesse em conta uma visão de género, considerando aspetos específicos que afetam as mulheres artistas em particular. Entre estes, o aspeto ligado ao cuidado da criança e à conciliação entre as diversas facetas de ser mulher e artista ao
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mesmo tempo, emergem como um elemento-chave. Do mesmo modo, deverse-iam contemplar políticas que abordem as questões ligadas ao acesso à saúde, prevenção e atenção relativo ao assédio das artistas, criando um ambiente seguro e propício para o desenvolvimento da criatividade e do talento artístico.
Para além do mais, é reconfortante saber que Moçambique adotou um compromisso importante ao advogar a favor da implementação da decisão da União Africana de que os Estados membros destinem 1% do orçamento nacional ao sector das artes, da cultura e do património para o ano 2030 (African Union, 2021). Esta iniciativa representa uma oportunidade valiosa para fortalecer e promover o desenvolvimento da arte e da cultura no país, bem como para garantir o reconhecimento e apoio às artistas e profissionais da cultura.
Em 2021, este era de 0,16% (OCULTU, 2021).
Ainda que subsistam diversos obstáculos no caminho de uma maior formalização e reconhecimento do sector artístico em Moçambique, a perspetiva de contar com um Estatuto do Artista e o compromisso para a promoção do sector cultural representam um horizonte promissor para as mulheres artistas e para a riqueza cultural do país no seu todo. A inclusão de políticas públicas com uma visão de género será fundamental para garantir a equidade e o empoderamento das artistas no mundo da arte e da cultura em Moçambique.
Direitos de autor
Impacto das Plataformas de Streaming na Música
Em Moçambique, assim como em muitas outras partes do mundo, os direitos de autor no que se refere às artes enfrentam desafios significativos, especialmente na era digital. A expansão de plataformas de streaming e a distribuição digital deu aos artistas a possibilidade de chegar a uma audiência global mais ampla com facilidade, mas também levou a uma concentração do mercado e a uma diminuição dos rendimentos devidos aos criadores. Neste contexto específico das artistas mulheres em Moçambique, estas problemáticas são ainda mais acentuadas. Para as artistas musicais em Moçambique, as plataformas de streaming como a Spotify proporcionaram uma nova forma de difundir o seu trabalho. No entanto, o acesso a estas plataformas nem sempre se traduz em ingressos significativos. As artistas expressaram a sua preocupação pelas baixas royalties que recebem
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através destas plataformas, já que a maioria dos seus rendimentos ainda provêm de atuações ao vivo e a venda de CDs diminuiu consideravelmente. Acresce a isto o facto de que a falta de uma estrutura adequada para realizar o seguimento e a distribuição equitativa dos rendimentos provenientes de streaming representa um desafio adicional para as artistas independentes.
A Edição e Venda de Livros
No âmbito literário, as autoras também enfrentam desafios relativamente aos direitos de autor e à distribuição das suas obras. Ainda que a maioria das autoras aspire a registrar os seus livros e a ter algumas receitas provenientes dos direitos de autor, o facto de não haver um sistema montado para a distribuição de bens culturais no país, a escassa rede de livrarias no país (cinco na capital e uma na Beira), para além de nem sempre as livrarias pagarem aos seus fornecedores e da percentagem que as autoras recebem dos editores ser baixa - normalmente 10%, se não se fez uma edição pessoal -, torna esse sonho muito problemático. Além disso, estas confrontam-se, à partida, com um mercado editorial e de leitores reduzido devido a não haver uma política de incremento do libro e da leitura, ao elevado preço do libro e ao baixo poder de compra do público em geral; fatores que impossibilitam que se possa viver destas receitas no mercado nacional. A falta de uma estrutura sólida para monitorar as vendas e assegurar uma distribuição nacional é claramente um fator de peso, somado aos muitos desafios que estas mulheres enfrentam.
Contratos Editoriais Desfavoráveis
Tanto no âmbito literário como no âmbito artístico, as artistas e autoras de Moçambique confrontam-se com contratos editoriais que não lhes são sempre favoráveis. Algumas entrevistadas mencionaram que os contratos beneficiam mais as editoras que as próprias criadoras, e a falta de transparência nas ventas e o seguimento das obras faz com que as artistas tenham menos controle sobre os seus próprios trabalhos e as regalias que recebem.
A Luta pela Proteção dos Direitos de Autor
Algumas entrevistadas expressaram a sua frustração perante situações em que os seus livros foram usados sem o seu consentimento ou conhecimento, especialmente a nível internacional, o que lhes faz sentir que os seus direitos foram violados. Esta situação subleva a necessidade de melhorar as medidas de protecção dos direitos de autor para além das fronteiras nacionais.
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Perspectivas de Futuro e Oportunidades
Apesar dos desafios mencionados, algumas artistas em Moçambique encontraram oportunidades para monitorar os seus trabalhos e alcançar audiências a nivel internacional. Por exemplo, a conexão com editoras e chancelas estrangeiras permitiram que algumas autoras recebessem royalties em moeda estrangeira. Da mesma forma, a colaboração em projetos e a criação de música para bandas sonoras também lhes proporcionou uma fonte adicional de receitas.
Em resumo, as mulheres artistas e autoras de Moçambique enfrentam desafios significativos no que diz respeito à proteção e venda das suas obras no contexto digital actual. Torna-se necessário melhorar as estruturas para registo e seguimento de direitos de autor, bem como fomentar uma maior transparência nos contratos editoriais. Além do mais, a educação sobre os direitos de autor é também um dos aspetos fundamentais para garantir que as artistas possam beneficiar justamente das suas criações no mundo da arte.
Espaços Culturais
Na capital, Moçambique conta com uma diversidade de espaços culturais, muitos deles vinculados predominantemente à cooperação internacional, como o Centro Franco-Moçambicano, o Centro Alemão-Moçambicano, o Centro Brasileiro-Moçambicano e a sala de exposições ou de eventos do Instituto Camões. Da mesma forma, existem fundações privadas que, na sua maioria, também recebem financiamento de fundos de desenvolvimento, tais como o Espaço Cultural 16neto, a Associação Kulungwana e a Fundação Fernando Leite Couto. Além destes, existem outros espaços culturais privados, como o Teatro Avenida e diversas associações culturais da sociedade civil.
Não obstante, nas cidades fora de Maputo, têm uma maior relevância os espaços públicos, como as Casas de Cultura, que se convertem em lugares fundamentais para a realização de espetáculos e ensaios, segundo os depoimentos das entrevistadas em Quelimane. Na Beira, a Casa de Cultura foi muito danificada pelo Ciclone Idai, deixando muitas das suas salas sem condições de uso. O Auditório Municipal continua a ser um lugar importante para artistas do mundo do espetáculo. Nesta cidade, criaram-se também espaços privados interessantes como a editora Fundza na Beira que representa uma oportunidade para publicar obras de escritoras jovens ou a Casa do Artista, para artistas plásticas.
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Em Tete, a sociedade civil criou uma Associação de Poetas, liderada por uma mulher, que recorre à utilização de espaços cedidos por empresas privadas. Esta cidade poderia beneficiar do impulso da sociedade civil em áreas como a literatura, para fomentar a conversão dalguns espaços em livrarias ou espaços culturais públicos destinados a expor as criações artísticas.
Apesar da existência destes espaços culturais, é importante destacar que ainda existem desafios quanto à disponibilidade e acessibilidade a estes espaços por parte das mulheres artistas. É necessário continuar a promover a criação de mais espaços culturais inclusivos e acessíveis em todo o país, especialmente os que fomentem e apoiem a produção artística das mulheres. Da mesma forma, deve impulsionar-se a restauração e recuperação de espaços culturais degradados ou fora de uso de interesse público, para que possam continuar a ser centros vitais de expressão artística, numa maior democratização no acesso à arte e ao enriquecimento cultural em Moçambique.
Internacionalização e Digitalização: Um Impulso para as Mulheres Artistas
Internacionalização Através de Experiências e Conexões no Estrangeiro
No mundo das artes em Moçambique, a internacionalização e a digitalização emergiram como forças poderosas que permitiram às mulheres artistas explorar novas oportunidades, estabelecer conexões globais e promover as suas obras junto de um público mais vasto. Tanto a experiência pessoal das artistas como o acesso às redes digitais jogaram um papel fundamental neste processo. A maioria das artistas entrevistadas procuraram ativamente oportunidades fora das suas fronteiras para poderem enriquecer a sua formação e experiência artística. Participaram em oficinas de formação, residências artísticas e estadias em países estrangeiros, onde estabeleceram um contacto direto com diferentes culturas e perspetivas. Anteriormente, muitos artistas viajavam para países como Cuba ou ex-repúblicas soviéticas para formar-se, especialmente nos anos 1980 e 1990, mas, atualmente, a preferência deslocou-se para os países ocidentais, Brasil e África do Sul.
Acesso à Industrialização e Mercados Internacionais
A internacionalização apresentou oportunidades significativas para as mulheres na indústria da moda e da arte em Moçambique. Graças à conexão com o
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estrangeiro, as artistas e desenhadoras tiveram acesso a uma série de vantagens, como a produção em países asiáticos e a possibilidade de importar materiais e produtos. No entanto, também se enfrentaram desafios, especialmente no âmbito da moda e da criação artística.
No contexto da moda, a falta de industrialização em Moçambique fez com que as mulheres desenhadoras procurassem opçôes de produção no estrangeiro. Países como a Índia e a China contituíram destinos atractivos devido às suas capacidades industriais e à disponibilidade de recursos e maquinaria para a produção em massa. Ainda que esta internacionalização tenha permitido uma maior produção e distribuição das suas criações, também comporta custos adicionais associados ao transporte, taxas e à coordenação com os fornecedores estrangeiros. Apesar destes grandes desafios, muitas desenhadoras consideram que é uma conversão necessária para aceder a uma maior escala de produção.
O acesso a matérias-primas e materiais para a criação artística e da moda foram um obstáculo importante para as mulheres artistas e desenhadoras em Moçambique. A escassez ou a falta de variedade nos recursos disponíveis localmente fizeram com que muitas delas tivessem de importar materiais dos países vizinhos, como a África do Sul ou mesmo mais longe, como o continente europeu. Ainda que esta opção possa aumentar os custos de produção, também dá acesso a uma gama mais ampla de artigos e recursos necessários para dar vida às suas obras.
Digitalização como Ferramenta de Marketing e Promoção
As redes sociais e a internet revolucionaram a forma como as artistas se promovem e se conectam com o público global. As entrevistadas, especialmente das novas gerações, adotaram as plataformas digitais como ferramentas essenciais para a difusão das suas obras, a criação de mercado e estabelecimento de conexões com outros artistas internacionais.
Desafíos e Oportunidades da Digitalização e Internacionalização
A era digital trouxe às mulheres artistas em Mozambique uma série de oportunidades, permitindo-lhes alcançar audiências globais e promover as suas obras através de plataformas em linha. No entanto, a par destas oportunidades, também surgem desafios significativos que requerem atenção e soluções criativas. Uma das principais dificuldades que enfrentam é a nula ou escassa compensação económica que recebem através das plataformas digitais, onde muitas vezes são relegadas ao papel de meras ferramentas de marketing.
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Ademais, a internacionalização tem sido uma força impulsora para as artistas e desenhadoras, dando-lhes a possibilidade de aceder à produção em países asiáticos e obter materiais de mercados estrangeiros. Não obstante, este enfoque também acarreta desafios logísticos e custos adicionais que devem ser encarados para que estas oportunidades sejam sustentáveis e rentáveis.
Além de que existe uma desigualdade geracional que se tornou evidente neste contexto. Enquanto as artistas mais jovens aproveitaram habilmente as redes sociais e as plataformas digitais para ampliar o seu alcance e ligar-se a públicos internacionais, algumas artistas de gerações anteriores não conseguiram adaptarse plenamente a estas ferramentas modernas. Esta desigualdade pode excluir algumas artistas de valiosas oportunidades, destacando a importância de garantir apoio e capacitação no uso destas tecnologias para todas as gerações de artistas.
(Des)igualdade
de Género?
No contexto artístico de Moçambique, a (des)igualdade de género tem sido uma questão de preocupação e de estudo, revelando uma marcada disparidade entre homens e mulheres no sector cultural. Segundo dados da UNESCO e da sua agência de estatística (UNESCO & UIS, 2017), Moçambique apresenta uma desigualdade de género significativa, tendo o último lugar dos países analisados (Ilustração 11). Esta desigualdade de género manifesta-se em diversas áreas da arte e coloca desafios e obstáculos particulares para as mulheres artistas no país.
Ilustração 9. Disparidade de Género no Sector Cultural: Comparação entre a Representação Feminina e Masculina em Diversos Países. Fonte: UNESCO & UIS, 2017
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Ser Mulher e Encontrar Tempo para a Criação
As mulheres artistas em Moçambique enfrentam dificuldades para se dedicar a tempo inteiro à criação artística, devido a diversos fatores. Muitas delas vêemse obrigadas ao multiemprego, a fim de sustentarem a sua prática artística, o que lhes reduz consideravelmente o tempo disponível para a conceção e mesmo a expressão criativa. Além do mais, assumem uma maior carga nas responsabilidades do lar e no cuidado das pessoas dependentes, existindo uma grande representação de mães solteiras, o que pode restringir ainda mais a sua disponibilidade para dedicar-se plenamente à arte.
Disparidades em Sectores Artísticos Específicos
Ainda que se tenham verificado avanços na presença de mulheres em posições de direção e liderança nos teatros, centros culturais e galerias, persistem desigualdades em certos âmbitos artísticos. Por exemplo, há uma menor representação de mulheres em funções de coreógrafas, editoras, produtoras de música ou artistas urbanas. Estas desigualdades refletem padrões socioculturais e limitam o acesso das mulheres a certas áreas da criação artística.
A Expressão Artística como Plataforma para Abordar a Desigualdade de Género
Muitas artistas em Moçambique usam a sua criatividade para abordar questões de género nas obras que realizam. Através da sua arte, retratam situações de violência doméstica, questionam estereótipos de género e criam espaços exclusivos para mulheres, como o grupo de teatro "Só Mulheres" na Beira ou a rede de artistas "7 Ofícios - Redes de Mulheres Artistas" em Maputo. Estas expressões artísticas convertem-se em ferramentas poderosas para sensibilizar sobre a desigualdade de género e promover o empoderamento das mulheres.
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Preconceitos e Assédio Sexual
As mulheres artistas em Moçambique enfrentam preconceitos e desafios adicionais nas suas carreiras. Verificou-se, com frequência, que as definem como de difícil trato se expressam a sua opinião ou tomam decisões, o que pode afetar a sua participação e liderança em projetos artísticos. Além disso, algumas das entrevistadas foram vítimas de assédio sexual, especialmente no âmbito das artes cénicas.
A luta pela igualdade e o reconhecimento
Apesar dos desafios, as mulheres artistas em Moçambique continuam a lutar pela igualdade e pelo reconhecimento do seu trabalho criativo. Com a sua persistência, determinação e valentia, começam a romper barreiras e a redefinir o papel da mulher no mundo da arte. A crescente consciência sobre a desigualdade de género na arte e na cultura é o primeiro passo para a mudança e a incorporação das perspetivas de género em políticas culturais pode abrir novas oportunidades para as artistas em Moçambique.
Em definitivo, a desigualdade de género no mundo da arte em Moçambique é uma questão complexa e multidimensional que requer uma atenção contínua. As mulheres artistas enfrentam desafios em termos de tempo livre, acesso a determinados sectores artísticos e na luta contra determinados preconceitos e assédio sexual. No entanto, a criatividade e determinação das mesmas para enfrentar estas questões através das suas obras também são uma fonte de empoderamento e mudança na sociedade moçambicana.
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Artes Cénicas
Asecção das artes performativas em Moçambique tem sido moldada por uma rica história de mulheres influentes que deixaram uma marca indelével no mundo do teatro, da dança e da música. Desde as primeiras gerações que surgiram nos anos da independência, figuras como Ana Magaia, Manuela Soeiro, Lucrécia Paco e muitas outras desafiaram as expectativas e contribuíram significativamente para o florescimento das artes em Moçambique. Estas pioneiras não só demonstraram as suas proezas nos seus respetivos campos, como também utilizaram a sua arte para abordar questões cruciais, desde a sexualidade à igualdade de género e à violência. Têm sido incansáveis defensores da educação artística e da capacitação dos jovens, estabelecendo projetos e festivais que permitiram às novas gerações encontrar a sua voz no palco.
Nesta secção, exploramos as histórias e os feitos destas mulheres notáveis, destacando tanto as figuras lendárias das primeiras gerações como as artistas talentosas da nova geração, como Lenna Bahule, Regina dos Santos e Silke, que continuam a inspirar e a transformar o panorama artístico de Moçambique.
Ana Magaia: Atriz, Produtora e Assistente de Direção Pioneira nas Artes de Moçambique
Ana Magaia é uma destacada actriz, produtora e assistente de direção que contribuiu significativamente para o crescimento das artes em Moçambique. O seu importante trabalho valeu-lhe a "Medalha de Mérito Artes e Letras" das mãos do Presidente da República, nas comemorações do dia da Independência.
Como actriz de teatro, Ana Magaia emprestou o seu talento a uma variedade de obras, incluindo “Xiluva” (1983), onde provou a sua versatilidade interpretativa. Também se destacou em “Rosita até Morrer” (1983), um monólogo de Luís Bernardo Honwana. A sua habilidade como actriz manifestou-se também em obras como “A Revolta da Casa dos Ídolos” de Pepetela e “A Companheira”, monólogo de Adolfo Gutkin.
32 4.Mulheres Inspiradoras da Cena Cultural de Moçambique
No âmbito cinematográfico, Ana Magaia participou como protagonista em filmes como "O Tempo dos Leopardos" de Zdravko Velimorovic (1985), que marcou a sua presença no panorama do cinema moçambicano. Além disso, participou no documentário "Karingana wa Karingana", de Mário Borgneth e no filme de ficção "Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra", uma adaptação do romance do escritor moçambicano Mia Couto.
Ana Magaia não apenas deixou a sua marca como atriz, como também contribuiu noutras áreas do cinema. Foi diretora de casting em filmes como “Africa Dreaming” (1997) e “Terra Sonâmbula” (2007), e assistente de direcção em projectos como “A Voz dos Dugongos” (2001), “O Gotejar da Luz” (2002) e “Blood Diamond” (2006).
Além do seu destacado trabalho no mundo do cinema e teatro foi uma produtora comprometida. Produziu “Recursos e Vida”, uma série sobre o meio ambiente, e “Língua Viva”, dirigida por Gonçalo Mourão, ambos do ano 2000.
A sua versatilidade e dedicação não se limitam ao mundo da atuação e da produção, já que também trabalhou como apresentadora em programas de televisão e participou em teatro radiofónico.
Ana Magaia é uma figura influente e polifacetada nas artes de Moçambique, cujo legado perdurará no tempo. O seu trabalho contribuiu para o enriquecimento da cultura e da arte no país, e o seu compromisso com a promoção das artes e letras moçambicanas tornaram-na merecedora deste prestigioso reconhecimento. A sua dedicação e talento fazem dela uma verdadeira pioneira no mundo da arte em Moçambique e um modelo a seguir pelas gerações futuras.
Angelina Chavango: A Atriz e Docente que Quer Promover o Teatro Infantil em Mozambique
Angelina Chavango é uma figura de destaque no mundo do teatro em Moçambique, conhecida pela sua versatilidade nos papéis enquanto actriz, o seu trabalho como diretora de teatro e o seu compromisso como docente na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane (ECA-UEM).
A sua viagem no mundo da arte começou no seu bairro de Unidade 7, um lugar onde a arte, a dança e a música eram parte integrante da vida da comunidade. Foi nesse contexto que Angelina teve o seu primeiro encontro com o teatro, um encontro que deixou as sementes da sua paixão pelas artes cénicas. Começou a explorar o mundo dando enfoque a questões como a saúde sexual e reprodutiva
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no contexto do HIV/SIDA. Este foi um momento crucial na sua vida, já que a levou a abraçar este tipo de arte como uma ferramenta poderosa para a sensibilização e para a mudança social. Com o tempo, dedicou-se à formação teatral tornandose professora na ECA-UEM, onde pôde influenciar gerações de jovens artistas.
Um dos aspetos distintivos da carreira de Angelina é o seu enfoque na escrita dramática e na criação de peças de teatro autenticamente moçambicanas. Embora tenha adaptado obras de autores famosos como Molière, Shakespeare e Federico García Lorca, a sua paixão está em desafiar os seus estudantes a criarem obras teatrais originais que abordem temas culturais e sociais de Moçambique e África. Através de técnicas de improvisação e processos coletivos, Angelina fomenta a produção de teatro enraizada no seu contexto.
Na sua busca constante pelo empoderamento das mulheres no mundo do teatro, Angelina já abordou temas como a sexualidade, a infertilidade e a violência de género nas suas peças, como forma de inspirar as mulheres a romperem o silêncio e encontrarem a força para enfrentar e superar as adversidades.
Além do seu trabalho no teatro, Angelina foi uma defensora incansável da educação artística e do empoderamento dos jovens. Criou projectos como o Festival Nacional de Teatro Infantil em Moçambique, onde raparigas e rapazes são protagonistas das suas próprias criações teatrais. Angelina também lutou pelo reconhecimento e a sustentabilidade das artes cénicas em Moçambique, enfrentando muitas vezes dificuldades económicas e falta de apoio por parte do governo.
Ao longo da sua carreira, Angelina Chavango demonstrou uma grande força impulsionadora do mundo do teatro em Moçambique. A sua dedicação à educação, à criação artística e o empoderamento das mulheres deixou uma marca perdurável na comunidade artística e na sociedade em geral. Através do seu trabalho, mostrou o poder transformador do teatro na abordagem de questões sociais, dando voz às experiências marginais e construindo pontes de compreensão entre as pessoas.
Associação de Canto e Dança de Quelimane
A Associação de Canto e Dança de Quelimane é uma vibrante entidade artística sem fins lucrativos com sede em Quelimane, Moçambique. Esta associação, formada por diversos membros, incluindo mulheres talentosas, dedica-se à promoção e à prática da dança moçambicana contemporânea na região. Apesar
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de enfrentar desafios significativos, esta associação converteu-se num farol de criatividade e expressão artística na sua comunidade.
Desempenhou um papel vital no tecido cultural da cidade e arredores. O local de ensaios principal é a Casa de Cultura, uma instituição pública que serviu de refúgio para a prática artística e a experimentação criativa. Ao longo dos anos, os membros desta associação participaram em numerosos festivais e espetáculos, levando a arte a audiências diversas.
Porém, como tantas organizações artísticas sem fins lucrativos em todo o mundo, a Associação de Canto e Dança de Quelimane enfrenta desafios sérios. A falta de financiamento adequado e de equipamentos profissionais limita a sua capacidade para profissionalizar-se e ampliar o seu alcance. Apesar destes obstáculos, os seus membros estão decididos a seguir em frente e estão unidos por um sonho comum: ver Quelimane desenvolver-se e tornar-se uma cidade onde as artes desempenhem um papel central na vida da comunidade.
Entre os membros da associação destacam-se a Gina, a Páscoa, a Ernesta e a Mónica, apaixonadas bailarinas que se aventuram numa ampla variedade de estilos de dança, desde a tradicional à contemporânea.
A Associação de Canto e Dança de Quelimane é um exemplo inspirador de como a arte e a cultura podem florescer em meias dificuldades. Apesar dos obstáculos, estes membros, continuam a partilhar a sua paixão pela dança e trabalhando juntos para construir um futuro mais brilhante para Quelimane através da arte e da criatividade.
Calene (Cármen Custumes): A Mulher que Faz Rir Moçambique
Calene, cujo nome real é Cármen Custumes, é uma destacada atriz e comediante nascida e radicada na cidade da Beira, Moçambique. A sua carreira no teatro abarca um período de 33 anos, durante os quais deixou uma marca significativa no panorama artístico do país.
A sua trajectória começou em tenra idade, quando tinha apenas 7 anos. Foi na Escola Primária Heróis Moçambicanos, situada na Beira, onde o seu potencial foi reconhecido por um professor que lhe sugeriu juntar-se ao grupo de teatro da Casa Provincial de Cultura de Sofala.
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À medida que crescia, Calene continuou a desenvolver o seu talento em diferentes grupos de teatro, passando por nomes como “Tantan”, “Meia Preta” e “Massinguita”. Com o tempo, tornou-se membro de dois grupos: “Só Mulheres”, composto exclusivamente por mulheres e “Haya Haya”. Além de atriz, também atua como humorista, comediante.
Apesar de, no início, se ter confrontado com dificuldades económicas e de apoio familiar, ela conquistou um lugar especial no coração do público através do humor e talento na construção dos cenários. Levada pela sua paixão, produziu vídeos e conteúdos para as redes sociais para manter-se em conexão com o seu público.
Um dos momentos mais significativos da sua carreira foi a sua participação no programa televisivo “Show de Talentos”, onde formou uma dupla com o actor Pastor Jito. Mesmo não tendo ganhado o concurso, a participação deu-lhes visibilidade e permitiu-lhes promoverem-se mais ainda, no cenário nacional.
Durante a pandemia de COVID, Calene começou a criar vídeos com o objetivo divertir as pessoas que estavam confinadas nas suas casas. Um canal de televisão viu a sua série “Casal em Casa”, que esta realizava com mais dois companheiros, e patrocinou-a. Estes vídeos propagaram-se amplamente pelas redes sociais. Nesta série, explorava-se a dinâmica dos casais moçambicanos que não estavam acostumados a passar tanto tempo juntos e como é que os mesmos, devido ao confinamento, enfrentaram a convivência forçada no seio dos seus lares.
Produziu também peças de teatro onde se representam temas que afetam a sociedade, “Marcas do Idai” foi o espetáculo teatral que mais êxito financeiro teve, una tragicomédia que narra o impacto do Ciclone Idai sobre a sociedade beirense.
Ao longo da sua carreira, Calene colaborou com diversos grupos teatrais e participou em festivais de teatro em Moçambique e noutros países, como Angola e Portugal. Além do mais, lutou pelo reconhecimento e valorização económica dos artistas no seu país. Advogou pelo papel crucial do teatro na sociedade, apelando para o governo para que este preste mais atenção a esta forma de expressão artística e conceda mais oportunidades aos actores.
Calene sonha com a troca de experiências com comediantes brasileiros e aspira conseguir um reconhecimento maior e mais duradouro na cena artística de Moçambique.
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Edna Jaime: A Dança Como Linguagem de Mudança
"As artes devem servir a humanidade, devem oferecer soluções para os diferentes desafios com que nos confrontamos, sejam eles ambientais, culturais, políticos ou económicos."
Edna Jaime, nascida em Maputo, é uma destacada bailarina e coreógrafa moçambicana. A sua formação em dança tradicional e canto foi realizada na Casa da Cultura de Maputo, e o seu primeiro contacto com a dança contemporânea foi em 2001, quando participou numa oficina dirigida pela coreógrafa brasileira Lia Rodrigues, que tinha sido convidada pela CulturArte. A partir de então, Edna continuou a sua formação tendo passado por um programa de seis meses em desenvolvimento coreográfico e diversos treinamentos.
Com “O Bom Combate” obra criada em 2016, ganhou o primeiro prémio no Concurso de Dança Contemporânea da Delegação da União Europeia em Moçambique e em 2021 vence o premio ZBK Reconhecimento 2021 na Suica no Festival Zurick Theater Spektakel.
Além das suas conquistas técnicas na dança, Edna Jaime advoga pela melhoria das condições das artes e dos artistas em Moçambique. Destaca-se a importância de uma formação sólida em arte para gerar mudança e revalorizar o sector.
Ela criou Khani Khedi Soluções Artísticas, uma iniciativa que procura abordar diversas necessidades e desafios através da arte. Khani Khedi provém da língua chope e significa “são todos bem-vindos”, em honra a língua de origem do seu pai que a apoiou sempre e incondicionalmente a seguir o mundo da dança. A organização é mentora dos projetos artísticos e sociais da artista e procura apoiar artistas emergentes e promove projetos culturais que visam criar acessibilidade à dança contemporânea por parte das comunidades. Edna continua a seguir a sua paixão pela dança, demostrando uma dedicação incansável e uma procura contínua pela excelência artística.
Juliana de Sousa: Tecendo Melodias de Diversidade em Inhambane
Juliana de Sousa é uma cantora e artista moçambicana com um percurso artístico que já ronda os 10 anos. O seu foco principal é a música, embora tenha feito também incursões em outras formas de expressão artísticas como o teatro. O seu caminho na arte começou de forma autodidata, já que nunca beneficiou de
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uma educação formal. Ao longo do tempo, foi adquirindo conhecimentos que a fortaleceram como cantora e criadora. Desde o início, a sua carreira, destacou-se pelo seu enfoque na música e a sua participação em espetáculos ao vivo, o que a levou a realizar um vasto trabalho no âmbito da cultura e da arte.
Originária de Inhambane, Juliana de Sousa nasceu no seio de uma família que funde as culturas da Zambézia com a de Inhambane devido às dinâmicas geradas pela guerra. Cresceu na etnia das bitongas, uma das primeiras a entrar em contacto com os portugueses. Este substrato multicultural influência a sua música e o seu enfoque artístico.
A longo da sua carreira, Juliana explorou diversos ritmos musicais, incluindo o nhambarro, o zorre, o giphawane, a makhara e a marrabenta, entre outros. As suas canções normalmente têm um conteúdo crítico e comprometido, procurando despertar a consciência da sociedade sobre questões urgentes. Aborda questões como o meio ambiente, a situação das mulheres jovens, a importância do amor, as relações salutares e o bem-estar social.
A diversidade cultural de Moçambique é um elemento essencial na sua música. Juliana canta em várias línguas nacionais, como o Guitonga, o Chitswa, o Chopi, o Changana, o Chuabo e o português, o que lhe permite explorar e celebrar a rica diversidade linguística e cultural do país.
Em 2015, Juliana de Sousa foi finalista no concurso “Ngoma Moçambique” com o seu tema “Marido egoísta”. Além disso, a sua faceta como artista, Juliana de Sousa também trabalha como produtora e apresentadora na Televisão de Moçambique. O seu enfoque multidisciplinar e o seu compromisso social convertem-na numa figura destacada da cena artística de Moçambique.
Khataza Malate: Transformando o Cenário Musical com os seus Ritmos Eletrónicos
Khataza é uma artista talentosa cuja carreira como DJ começou como um passatempo em 2018. Desde o começo da carreira, conquistou uma variedade de audiências em diversos cenários moçambicanos.
A sua paixão pela música despertou a sua infância, cativada pelos cantores que via na televisão em geral. Teve sempre um grande interesse pelo hip hop e R&B, e desde os 10 anos começou a fazer versões e covers de canções de artistas como Beyoncé, Craig David e Rihanna. Enquanto estava a estudar Arquitetura e Desenho
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na China, em 2010, pôde desenvolver a sua capacidade de atuação em palco, apresentando-se em discotecas e bares.
Na China, mergulhou na música contemporânea, onde se ouvia muita música house e eletrónica. Esta experiência influenciou o seu gosto por estes géneros musicais. Ao regressar a Moçambique, teve a oportunidade de tocar no clube
Kwetu e descobriu que desfrutava muito desta experiência. Durante a pandemia de COVID-19, encontrou formas criativas de continuar como DJ e também se aventurou na produção musical. Realizou um curso on line para produtores de música eletrónica.
Khataza teve a honra de ser convidada para participar em vários festivais, como o Festival Na Vivo, onde tocou para uma audiência de mais de 3000 pessoas, o que marcou um dos momentos de maior destaque da sua carreira. Muitas vezes, é a única mulher nos alinhamentos, o que lhe dá uma oportunidade única para representar as mulheres na indústria musical.
O seu processo de seleção musical inclui a exploração de plataformas como Spotify, iTunes e YouTube, onde os algoritmos a ajudam a descobrir nova música. Ainda que não tenha partilhado muita da sua própria produção musical, recebeu convites de outros produtores para colaborar em canções e letras.
Khataza teve de enfrentar desafios num meio musical que é muitas vezes dominado por homens. Apesar da pressão cultural para priorizar o casamento e a família em detrimento dos sonhos artísticos, teve a coragem necessária para desafiar estas expectativas e perseguir a sua paixão. Inspirada por artistas como Eliana Nzualo e Lenna Bahule, Khataza esforçou-se por criar o seu próprio espaço na indústria musical. Com o seu talento e dedicação, Khataza impõe-se como uma voz influente na cena musical eletrónica de Moçambique e para além dele. O seu sonho é um dia poder ter o seu próprio centro cultural nas Mahotas.
Lenna Bahule: Entre Vozes, Culturas e Compromisso Artístico em Moçambique
Lenna Bahule é uma destacada cantora, educadora artística e ativista cultural nascida em Maputo. O seu enfoque artístico centra-se na exploração e no estudo constante das culturas africanas do seu país e de outras diásporas africanas. Durante a sua estadia no Brasil, onde viveu durante 7 anos, aprofundou a sua pesquisa sobre a música vocal e os diferentes caminhos para utilizar a voz e o corpo como
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instrumentos musicais e de expressão artística. O seu trabalho discográfico inclui o álbum "NÔMADE", que em 2016 se destacou na lista dos 100 melhores discos produzidos no Brasil. Em 2019, foi galardoada com o 2º Prémio Mozal de Arte e Cultura (PMAC) na categoria de música.
Como educadora artística, Lenna liderou e monitorou atividades e cursos
relacionados com o canto em grupo, a música corporal e o repertório da música popular de Moçambique. As suas iniciativas incluem projetos como KWIMBA, BatuCorpo e Memórias daqui que coincidem com o título do seu segundo álbum.
“NÔMADE” é um álbum acústico que, de certa forma, tem uma base autobiográfica, segundo a descrição da própria Lenna. Para ela, ser uma “artista nómada” significa não se encaixar numa classificação prévia, mas deixar-se influenciar pelas diversas fontes musicais de todo o mundo. A sua música é uma fusão de influências provenientes de diferentes lugares, que criam uma expressão única e pessoal.
O compromisso social e cultural de Lenna é evidente na sua abordagem artística e nos seus esforços por abordar questões importantes através da sua música. Acredita no poder das artes, e a música em particular, para partilhar mensagens positivas e unificadoras que transcendam as barreiras culturais. O seu trabalho procura fomentar um mundo mais harmonioso e pacífico, no qual as pessoas dialoguem e se cuidem mutuamente, preocupando-se também com a preservação do meio ambiente.
Na música que faz, Lenna tenta encontrar um equilíbrio entre o natural e o que é relativo à sua época, e enfrenta os desafios e as pressões da sociedade actual. Também se interessa por criar uma conexão sensorial nas suas composições, utilizando paisagens sonoras e texturas para transmitir a sua mensagem. Através da sua obra, tenta partilhar uma experiência autêntica e ligada ao seu público. No seu papel enquanto ativista cultural, a música é usada para tentar romper barreiras e atrair uma audiência mais ampla, tanto a nivel local como internacional.
Lucrécia Paco: Do Bairro aos Cenários - A Vida Transformadora de uma Actriz Pioneira em Moçambique
Lucrécia Paco é a musa do teatro moçambicano. Cresceu num bairro suburbano durante os anos prévios à independência do país. Durante essa época, começou a interessar-se pela arte, especificamente pela dança e canto. No seu bairro, havia numerosos grupos que se dedicavam a estas expressões culturais, e
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Lucrécia sentia-se fascinada ao observar as apresentações. De homens tocando tambores debaixo de uma árvore até às danças tradicionais, tudo a atraía. A dança da Makwayela, típica do sul de Moçambique e praticada principalmente por mineiros, teve um impacto profundo no seu crescimento.
A independência de Moçambique em 1975 marcou uma viragem significativa na sua vida. Com a criação dos Grupos de Canto e Dança Polivalentes nos bairros, Lucrécia Paco teve o seu primeiro contacto com a leitura, a poesia e o teatro. Foi nestes grupos onde começou a declamar poesia de combate em apoio à independência. Aos nove anos de idade, mudou-se para a cidade onde teve a oportunidade de ver um filme, o que despertou o seu amor pelo cinema e o teatro. Decidiu que queria ser atriz e, apesar da carência de uma grande produção cinematográfica em Moçambique, encontrou o seu caminho no mundo do teatro.
Embora já se tivesse iniciado antes no mundo do teatro, foi com a formação do grupo profissional Mutumbela Gogo, fundado por Manuela Soeiro em 1986, que a sua carreira no teatro realmente descolou. Esta companhia viria a ser a primeira companhia teatral profissional de Moçambique. Apesar de enfrentar desafios e resistência por parte da sua família por ter escolhido tornar-se atriz, Lucrécia Paco continuou o seu percurso no teatro.
As professoras e referências de Lucrecía foram Manuela Soeiro, Eva Bergman, Edith Koiber e Joaquina Siquice. O seu professor Henning Mankell, que juntamente com a Manuela Soeiro, não só a ensinaram a fazer teatro, mas também a olhar para o mundo, na sua dimensão mais humana.
Ao longo dos anos, Paco e a sua companhia abordaram assuntos relevantes para a sociedade através das suas obras. Desde adaptar textos literários locais e internacionais até criar peças originais sobre a paz, a equidade de género, o HIV/ SIDA e outros temas sociais, Paco utilizou o teatro como uma ferramenta poderosa para a reflexão e a sensibilização. Também participou em projetos internacionais de intercâmbio cultural e colaborou com diversas organizações, incluindo as Nações Unidas.
O seu compromisso com a arte e o seu desejo de inspirar e criar consciência têm sido uma constante. Para além do seu trabalho nos palcos, esteve ligada à educação artística e à promoção da leitura entre jovens através do seu trabalho na comunidade. À medida que o país evoluiu e a sociedade se transformou, Lucrécia
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Paco foi-se adaptando e criando, utilizando a voz e o talento para enfrentar os desafios e as preocupações do seu país. O seu compromisso com a arte como instrumento de mudança e a sua influência no panorama artístico de Moçambique converteram-na numa figura destacada no país e além deste. À medida que o país evoluiu e a sociedade se transformou, Lucrécia Paco foi-se adaptando e criando, utilizando a voz e o talento para enfrentar os desafios e as preocupações do seu país. O seu compromisso com a arte como instrumento de mudança e a sua influência no panorama artístico de Moçambique converteram-na numa figura destacada no país e além deste.
À medida que o país evoluiu e a sociedade se transformou, Lucrécia Paco foi-se adaptando e criando, utilizando a voz e o talento para enfrentar os desafios e as preocupações do seu país. O seu compromisso com a arte como instrumento de mudança e a sua influência no panorama artístico de Moçambique converteramna numa figura destacada no país e além deste.
Manuela Soeiro: A Mãe do Teatro Moçambicano
Maria Manuela de Lobão Soeiro, mais conhecida como Manuela Soeiro, nasceu na Ilha do Ibo, Moçambique. É uma dramaturga e directora moçambicana, e fundadora do primeiro grupo de teatro profissional moçambicano, Mutumbela Gogo.
Na sua infância, Manuela foi enviada para um colégio interno salesiano para meninas na Namaacha, depois da morte do pai. Foi ali que desenvolveu o seu interesse pelo teatro, inspirada por uma freira brasileira que utilizava o teatro para contar histórias; ali participou na sua primeira peça de teatro: “Quo Vadis”.
Depois se formar em Educação Física, em 1974, durante o Governo de Transição, após a assinatura dos Acordos de Lusaka, Manuela formou animadores para trabalhar nos Grupos Polivalentes estabelecidos pelo governo de Samora Machel, com o objetivo de criar cidadania e levar a saúde e educação à população. Manuela chamou atores para se unirem a estes Grupos e atuou com mulheres, utilizando a dramatização como forma de promover a reflexão. Durante este tempo, nasceulhe o desejo de profissionalizar o teatro no seu país.
Manuela também promoveu eventos culturais no cineteatro Avenida em Maputo, em 1984, com o objetivo de criar um grupo de teatro profissional. Lutou pela
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concessão do teatro e fundou o Mutumbela Gogo em 1986, o primeiro grupo de teatro profissional de Moçambique.
Sob a sua liderança, o grupo destacou-se por apresentar obras moçambicanas. O seu enfoque artístico baseou-se na poesia e nas narrativas relacionadas com a realidade dramática do seu país, levando o teatro a audiências internacionais e desenvolvendo uma identidade teatral autenticamente africana.
Manuela Soeiro também foi reconhecida pela sua contribuição no teatro e nas artes em Moçambique. Colaborou com artistas internacionais e levou o seu trabalho a vários países, incluindo Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Brasil, Argentina, Índia e China. Além disso, desempenhou um papel ativo na promoção e no desenvolvimento do teatro moçambicano através da sua participação na Associação Moçambicana de Teatro (AMOTE).
Atualmente, Manuela Soeiro continua a ser uma figura influente no mundo das artes e da cultura em Moçambique. Continua a impulsionar novos projetos de criação artística na Escola Sabura, situada em Maputo, e é um exemplo inspirador para as futuras gerações de artistas e criadores no seu país.
Regina dos Santos: Uma viagem Musical em Busca da Autenticidade
Regina dos Santos é uma cantora talentosa, conhecida pela sua destacada carreira na banda de Dub Reggae Fusion chamada GranMah. A sua viagem no mundo da música começou em 2012, quando se juntou à banda GranMah. Ainda que a sua participação na música tenha começado oficialmente nesse momento, Regina já cantava desde tenra idade, participando em grupos corais desde os 10-11 anos. O seu interesse pela música foi inicialmente fomentado por um professor que escutou a sua voz e a incentivou.
Ao longo da sua vida, Regina teve várias experiências musicais, incluindo a participação num grupo de hip-hop em 2005, onde contribuiu com coros gravados em estudio. Durante o seu tempo na universidade, formou parte de un grupo gospel e também esteve envolvida num grupo de Funk, explorando diferentes géneros musicais como hobby.
Em 2011, depois de regressar a Moçambique após concluir o mestrado no estrangeiro, começou a levar a música mais a sério. Nesse momento, a sua
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associação com um amigo chamado Guillaume desencadeou a sua incursão na área de composição de canções e letras. Regina escreve as suas próprias letras e destaca-se como compositora na sua carreira musical.
Regina encontra inspiração para a sua música através da instrumentação e da melodia. Ela e a sua banda GranMah têm a liberdade de escrever e criar música sem obedecer a pressões externas, o que lhes permite explorar diferentes géneros e estilos musicais.
Apesar dos desafios na indústria musical, Regina e a sua banda tiveram uma resposta positiva tanto em Moçambique como no estrangeiro. A sua música une diversas influências, o que a torna única e atrativa para o público. Regina também avoga pela promoção de mulheres em papéis técnicos dentro da indústria musical, reconhecendo a falta de representação de género em áreas como a produção e a gestão de eventos.
Além do seu trabalho com a banda GranMah, Regina é uma artista versátil que toca guitarra e está a trabalhar de forma solitária em projetos musicais, explorando o género R&B.
Ao longo da sua carreira, Regina dos Santos demonstrou ser uma artista apaixonada e corajosa que utiliza a música para expressar a sua autenticidade e para inspirar outros a fazerem o mesmo. O seu compromisso com a música e a sua luta pela igualdade de género na indústria musical fazem dela uma figura destacada no panorama musical de Moçambique.
Rostalina Dimande: Rompendo Estereótipos Através da Dança
Rostalina Dimande é uma destacada artista e bailarina de Moçambique, cuja trajetória no mundo da dança começou em 2006, quando ainda era uma estudante da quinta classe numa escola primária. O seu primeiro encontro com a dança teve a influência de uma tia, com quem cresceu e com quem tinha uma forte ligação. Rostalina sentia-se atraída pela dança tradicional moçambicana e passava os seus tempos livres assistindo a ensaios e espetáculos de dança na sua escola. Num momento em que a sua família enfrentava conflitos internos e os seus pais se estavam a separar, a dança tornou-se, para ela, um refúgio, oferecendo-lhe um escape para a situação que vivia em casa.
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Naquela altura, as escolas primárias de Moçambique tinham núcleos de arte onde os estudantes podiam explorar diversas formas de expressão artística, incluindo a poesia, a pintura e a dança. Rostalina participou nestes núcleos de arte numa
escola pública no bairro da Polana Canhiço. Apesar das pressões sociais que insistiam no facto de que as meninas se deviam centrar-se na educação e nas tarefas do lar, Rostalina foi persistente na sua paixão pela dança.
Depois de completar a escola primária, Rostalina juntou-se à Associação Cultural Comunichiv e continuou a sua formação em dança. Ainda que se tenha retirado temporariamente da dança para se dedicar à maternidade em 2012, regressou em 2014 e juntou-se ao Grupo de Canto e Dança Milorho, onde continuou a desenvolver as suas competências na dança tradicional.
O seu percurso na dança fez uma viragem interessante quando se confrontou com a dança contemporânea. Ao princípio, achou este estilo de dança fora do comum, mas finalmente, em 2019, aceitou o desafio e começou a aprender dança contemporânea. Participou em formações com coreógrafos locais e estrangeiros, o que ampliou a sua perspetiva sobre a dança e a sua capacidade enquanto bailarina.
Rostalina também se envolveu em projetos de dança que destacavam o papel das mulheres na dança contemporânea. Em 2022, fez parte de uma incubadora de dança dirigida pela destacada bailarina Janeth Mulapa, a partir da qual foi produzida uma coreografia chamada “Vozes” que se apresentou no Festival GalaGala.
Rostalina é um exemplo inspirador de uma mulher que desafia os estereótipos e os obstáculos para perseguir a sua paixão no mundo da dança. Além de ser uma talentosa bailarina, também se tornou numa diretora artística e professora, partilhando o seu amor pela dança com a próxima geração.
Silke Teresa Guilamba: Melodias de empoderamento e autodescoberta
A história de Silke Teresa Guilamba, conhecida inicialmente artisticamente como Tégui e depois como Silke Teresa Guilamba, é uma trajetória fascinante através do mundo da música em Moçambique.
Teresa Guilamba descobriu a sua paixão pela música desde tenra idade, influenciada pela família e pelas suas primeiras experiências musicais. Os seus
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primeiros contactos com a música ocorreram quando ouvia música em diferentes línguas e, sem se dar conta, desenvolveu um ouvido musical excecional. Porém, no princípio, nunca sonhou em tornar-se cantora.
O verdadeiro começo da sua carreira musical aconteceu quando uma amiga a ouviu a interpretar uma canção e lhe elogiou a voz e o seu talento inato. A partir de então, as pessoas começaram a dar-se conta do seu dom para o canto. Apesar do seu amor pela música, Silke Teresa Guilamba colocou a sua educação em primeiro lugar. No entanto, a música converteu-se num refúgio emocional para ela, especialmente durante os momentos mais difíceis. A música tornou-se numa fonte de cura e de autodescoberta.
Silke Teresa Guilamba passou por diversas etapas na sua carreira, desde gravar em estúdios independentes até atuar ao vivo em restaurantes e lançar as gravações em SoundCloud. à medida que a sua música ganhava seguidores e a sua confiança crescia, começou a explorar géneros e colaborações mais experimentais.
Um da momentos chave da sua carreira foi quando decidiu retomar o seu verdadeiro nome, Silke, depois de um processo de autodescoberta espiritual. Esta mudança de nome marcou também uma nova fase no seu desenvolvimento artístico, onde procurava potenciar o seu verdadeiro eu e criar música que realmente tivesse um impacto na vida das pessoas.
Ao longo dos anos, Silke Teresa Guilamba lançou vários projetos musicais, como “Namastê” e “Eleven”, que refletem as suas experiências pessoais e o seu crescimento como artista.
O seu enfoque na intuição e na conexão espiritual reflete-se no seu processo criativo, onde procura transmitir uma mensagem de empoderamento e positivismo através da sua música. Além disso, o seu interesse pela arquitetura proporcionou-lhe uma metodologia única para abordar a criação artística e o desenho de conceitos.
Silke Teresa Guilamba destaca-se como uma das vozes mais poderosas da nova geração de artistas em Moçambique. Ao longo da sua carreira, demonstrou o seu valor como cantora, compositora e artista independente, e continua a explorar novas formas de influenciar positivamente, através da sua música, um mundo em constante mudança.
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A história de Xixel Langa é testemunho de uma dedicação e paixão pela arte em Moçambique.
Xixel Langa, cujo nome completo é Xisseve Janett Hortêncio Ernesto Langa Mahuaie, é uma cantora e bailarina nascida em Maputo, Moçambique. A sua história artística começou em 1994 quando ingressou na Escola de Dança de Maputo, onde começou a desenvolver as suas habilidades a dançar. Além da sua formação em dança, também estudou canto tradicional.
Desde as suas primeiras incursões no mundo artístico, Xixel Langa colaborou com vários grupos, entre os quais Timbila Muzimba, Kapa Dech e a banda de reggae Mighty Vibration. Apesar disso, foi na sua carreira a solo onde realmente pôde brilhar. Com apenas 19 anos, começou a sua carreira a solo como cantora e bailarina.
Ao longo da sua carreira, Xixel Langa conquistou muitos sucessos e reconhecimentos. Em 2004, foi galardoada com o título de Melhor Novo Talento, e no ano seguinte, em 2005, a recebeu o prémio da Melhor Voz na indústria musical de Moçambique.
Um dos feitos mais significativos na carreira de Xixel Langa foi o lançamento do seu álbum a solo intitulado “Inside me”, em 2016. Este álbum marcou um momento crucial na sua vida artística, pois representou um salto audaz para o mundo da música afrojazz. A inspiração para este álbum veio de um momento en que estava grávida, o que a fez sentir-se especialmente interligada com a sua música e a sua arte.
Além dos seus sucessos musicais, Xixel Langa levou a sua música a públicos internacionais. Actuou em teatros e salas de concertos na Alemanha e França, e participou em festivais de música em Taiwan e outros lugares.
Ao longo da sua carreira, Xixel Langa demonstrou ser uma artista multifacetada que combina a sua paixão pela música e a dança. A sua música reflete o seu compromisso com a promoção da riqueza cultural de Moçambique e o seu profundo amor pela arte.
Apesar dos desafios e obstáculos que enfrentou no seu caminho artístico, Xixel Langa não desistiu e deixou uma marca significativa na cena musical de
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Xixel Langa: Uma Longa Carreira Musical que Rompe Tabus Sociais
Moçambique. A sua história é um testemunho do poder da dedicação e a paixão no mundo da arte.
Artes plásticas e (áudio) visuais
O panorama artístico de Moçambique, desde a sua criação como Estado, tem sido moldado e enriquecido pela destacada presença das mulheres ao longo da sua história. Desde a independência até aos dias de hoje, as artistas moçambicanas têm deixado a sua marca nas artes plásticas, visuais e audiovisuais. Artistas como a pintora Bertina Lopes, a escultora Reinata Sadimba, a cineasta Isabel Noronha e a fotógrafa Moira Forjaz abriram caminho para uma pluralidade de vozes criativas na atualidade.
A partir da abertura do Núcleo de Arte em 1936, em Maputo, e de outros espaços semelhantes, as artistas moçambicanas e portuguesas residentes começaram a realizar as suas primeiras exposições nas décadas de 1950 e 1960. Algumas das primeiras artistas mencionadas incluem Ana Maria, Dana Michaelles, Teresa Rosa D’Oliveira, Maria da Luz e outras, embora poucos detalhes estejam disponíveis sobre as suas carreiras (Matusse, 2021).
Bertina Lopes, nascida em 1924 e falecida em 2012, é reconhecida como uma figura de destaque nas artes plásticas modernas em Moçambique. É-lhe atribuída a “maternidade” destas artes, e a sua influência em artistas como Malangatana é inegável. Depois de estudar em Portugal, Bertina regressou a Moçambique, onde ensinou arte e participou ativamente no Núcleo de Arte, antes de continuar a sua carreira artística no estrangeiro (ibid.).
Na década de 1980, surgiram em Moçambique novas artistas femininas, como Isabel Martins, Marizava, Bela Rocha e outras, que contribuíram para enriquecer o panorama artístico do país.
Nos anos 90, Reinata Sadimba, nascida em 1945, surge como uma figura de destaque no mundo da cerâmica, levando a sua arte Makonde a todo o mundo com as suas formas únicas e fantásticas. Reinata Sadimba é considerada uma das artistas femininas mais importantes de África e recebeu numerosos prémios e reconhecimento pelo seu trabalho (ibid.).
No contexto do mundo audiovisual, a situação da mulher apresenta desafios
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significativos. Na Geração da Independência, que representa os cineastas mais antigos e consagrados de Moçambique, a presença de mulheres cineastas é mínima. Embora algumas cineastas como Isabel Noronha, Moira Forjaz e Fátima de Albuquerque sejam mencionadas, o seu número é limitado em comparação com os cineastas masculinos. Esta sub-representação das mulheres em funções de realização sugere uma desigualdade de género persistente na indústria cinematográfica moçambicana (Leitão Zampaulo, 2019).
Na Geração Intermédia, observa-se uma maior participação de mulheres em funções relacionadas com o audiovisual, como a produção, a realização e a edição. No entanto, parece que poucas delas realizaram os seus próprios filmes, o que indica que, embora haja um aumento da presença de mulheres na indústria, elas podem ainda estar sub-representadas em posições de liderança criativa (ibid.).
A Geração Atual, composta por estudantes e recém-licenciados em cinema, revela um aumento do número de mulheres que entram nos cursos de cinema. Este pode ser um sinal positivo para o futuro e para uma maior representação das mulheres na indústria cinematográfica moçambicana (ibid.).
O mundo da moda tem um sector industrial incipiente, embora a produção seja maioritariamente externalizada, principalmente para países asiáticos. Sendo esta essencialmente marcada pelo uso da capulana (2) como elemento distintivo da moda moçambicana e sendo o consumidor-alvo a classe média e alta urbana. Neste sector, existe uma jovem geração de mulheres empreendedoras que têm no Mozambique Fashion Week uma importante plataforma para mostrar os seus produtos a nível nacional.
De Maputo à Beira, da moda à fotografia, estas mulheres artistas desafiaram as expectativas, exploraram novos territórios criativos e contribuíram para a riqueza cultural de Moçambique. As suas histórias de paixão, perseverança e dedicação são um testemunho inspirador de como a arte pode ser uma ferramenta poderosa de expressão e capacitação.
2A capulana, também conhecida por kanga ou chitenge, um tecido retangular de algodão, teve origem no Quénia no século XIX, graças aos comerciantes portugueses que importavam tecidos da Índia. Inicialmente, os desenhos eram inspirados no sari indiano e no sarongue indonésio, mas, com o tempo, foram adaptados às preferências da clientela africana, fundindo-se com a rica tradição têxtil do continente. (El País, 2011).
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Amirah Adam: Empreendendo no mundo da moda através da capulana
Amirah Adam é uma figura destacada no mundo da moda em Moçambique, cuja história está marcada pela paixão, a criatividade e a perseverança. Originária de Maputo, Moçambique, Amirah começou o seu caminho na arte da moda depois de estudar desenho gráfico em Portugal. Ainda que nos primeiros anos não tivesse uma plena compreensão do que a moda representava, com o tempo, deu-se conta de que esta era muito mais do que simplesmente “prendas para vestir”.
A sua caminhada pelo mundo da moda começou quando estava a estudar em Portugal. Durante este tempo, desenvolveu as suas habilidades no desenho, centrando-se em como a moda poderia ser uma forma de contar histórias e mudar a realidade. O seu projeto final centrou-se na capulana, um pano tradicional com uma rica história cultural em Moçambique. Amirah explorou técnicas de estampagem e tingimento de tecidos para criar desenhos únicos com este pano. Este foi o primeiro passo na sua viagem para o mundo da moda e da indústria têxtil.
Depois de regressar a Moçambique, Amirah decidiu dar mais um passo na sua carreira e começou a produzir prendas para vestir e acessórios com os seus próprios desenhos. Começou por fazer prendas para si mesma, mas atraiu imediatamente a atenção de outras personas que queriam os seus desenhos únicos. Este foi o começo da sua carreira como desenhadora de moda e produtora têxtil.
Ao longo dos anos, Amirah destacou-se na indústria da moda em Moçambique. Converteu-se numa assessoria de produção de moda e ampliou o seu leque de oferta para incluir uma variedade de produtos têxteis, desde roupa até artigos têxteis para a restauração e hotelaria. Um dos desafios mais significativos que enfrentou foi a falta de acesso a materiais locais de qualidade, o que a levou a procurar sócios internacionais para garantir a qualidade e a sustentabilidade do seu trabalho.
Amirah também se envolveu na comunidade da moda em Moçambique e contribuiu para fomentar o crescimento da indústria. Participou em eventos como o Mozambique Fashion Week e trabalhou em estreita colaboração com outros desenhadores e profissionais da moda no país.
Amirah Adam destacou-se como uma figura inspiradora e visionária. A sua paixão
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pela moda, o seu compromisso com a qualidade e a sua determinação para superar obstáculos, convertem-na num exemplo raro de uma mulher empoderada que deixou uma marca significativa no mundo da arte e da moda em Moçambique.
Benoca Alfredo Malinga: A Trajectória de uma Desenhadora Empoderada em Moçambique
A história de Benoca Alfredo Malinga é um testemunho inspirador de como uma paixão precoce pode conduzir a uma carreira de sucesso no mundo da moda em Moçambique. O seu amor pela moda está enraizado na infância, onde cresceu perto de uma avó costureira cujo talento a inspirou desde muito cedo no sentido de explorar o mundo da costura e do desenho.
Benoca cresceu sob a influência positiva da sua avó, uma costureira habilidosa, cujo amor pela moda e a costura lhe deixaram uma impressão duradoura. Desde tenra idade, Benoca começou a envolver-se em trabalhos de costura, aprendendo os fundamentos desta habilidade. A sua mãe, reconhecendo o seu potencial e paixão, inscreveu-a na escola de costura Bernina, em 2004. Apesar de ter escolhido mais tarde um curso de informática para os seus estudos universitários, o seu amor pela moda e a costura nunca a abandonou. Benoca continuou a trabalhar em projetos de costura como passatempo, atendendo a pedidos de amigos e familiares.
A transição do passatempo a profissão deu-se quando decidiu inscrever-se no Mozambique Fashion Week, em 2017. Com o estímulo da sua família e amigos, Benoca começou a levar a sua paixão pela moda mais a sério. Em 2017, criou a sua própria marca, Mabenna, nome inspirado na alcunha carinhosa que a sua avó costumava dar-lhe.
O seu foco na moda foi também impulsionado pela sua criatividade inata. Benoca inspira-se no seu meio quotidiano, observando o mundo de maneira única e procurando captar essa perspetiva transpondo-a para os seus desenhos. Para ela, a moda é uma forma de expressão natural, e o feedback positivo das pessoas em seu redor dão-lhe sempre mais motivação para continuar.
Em Mabenna, Benoca lidera uma equipa de profissionais da costura, trabalhando em colaboração com a mesma na criação de desenhos únicos. Ela demonstra a sua criatividade, proporcionando orientação nos cortes e nos detalhes das peças.
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Carmen Muianga: Artista Plástica e Pioneira da Colagrafia em Moçambique
Carmen Maria Muianga é uma destacada artista plástica nascida em Lourenço Marques (atual Maputo), Moçambique. A sua história no mundo da arte está marcada por uma profunda paixão pela criatividade e um compromisso duradoiro com o ensino e a promoção das artes visuais no seu país.
Desde tenra idade, Carmen mostrou interesse pela arte. A sua trajetória começou na infância, quando frequentava um jardim de infância onde se fomentava a criatividade através do desenho e da dança. Durante esses anos, começou a desenhar e a guardar as suas obras, algumas das quais eram criações do seu irmão. No entanto, o seu verdadeiro ponto de partida no mundo da arte aconteceu na escola primária, em 1986, quando teve a oportunidade de ter aulas de desenho. Nesse momento, Moçambique vivía momentos históricos significativos, como a queda do avião em que viajava Samora Machel. Carmen criou uma obra de arte inspirada num militar, un soldadinho algo peculiar no desenho que fez e que chamou a atenção do seu professor. Este professor estava a preparar um grupo de estudantes para ingressar na Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV), e Carmen, graças ao seu talento, conseguiu juntar-se a este grupo selecionado. Depois, começou a estudar arte em Cuba, onde se especializou em técnicas da gravura, incluindo a colagrafía, uma técnica que a cativou e que continua a utilizar no seu trabalho atual.
A arte de Carmen tem sido exibida em numerosas exposições individuais e coletivas em Moçambique e no estrangeiro, incluindo o Japão, a Namíbia, Italia, Finlandia, Holanda, China e Portugal. O seu enfoque na colagrafía destacou-a na cena artística, e ela tem partilhado o seu conhecimento e paixão por esta técnica através de oficinas e no ensino na ENAV.
Além da sua carreira artística, Carmen Muianga também tem estado comprometida com a promoção da arte em Moçambique. Co-fundou o Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique (MUVART), que organizou atividades culturais e exposições para fomentar a arte contemporâneo no país. Também foi uma defensora do ensino da arte e trabalhou como professora em várias instituições educativas, incluindo a ENAV.
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Carmen contribui significativamente para a cena artística de Moçambique e deixou uma marca duradoura na promoção da arte contemporânea no seu país. Através da sua dedicação à arte, ao ensino e à promoção cultural, inspirou outras gerações de artistas e contribuiu para estabelecer uma base sólida para o crescimento contínuo das artes visuais em Moçambique. A sua contribuição para a arte contemporânea e o seu papel como pioneira da colagrafía tornam-na uma figura destacada no panorama artístico de Moçambique e além-fronteiras.
Chantell Hassan: Uma Artista Plástica Pioneira na cidade da Beira
A vida e obra de Chantell, artista plástica da cidade da Beira, Moçambique, são testemunho de coragem e dedicação num mundo artístico que muitas vezes passa ao lado do talento feminino. O seu percurso pela arte foi marcado por desafíos e sucessos notáveis.
Chantell começou a sua viagem artística na África do Sul, onde fez o ensino secundário e aí teve um maior contacto com o mundo das artes. Inicialmente, optou por estudar moda porque pensava que era uma escolha mais segura do ponto de vista financeiro, mas rapidamente se deu conta de que a sua paixão era as artes plásticas. A sua vida deu uma reviravolta importante quando obteve uma bolsa para estudar arte nos Países Baixos. Esta mudança permitiu-lhe explorar a sua criatividade e expandir o seu horizonte artístico.
Desde o princípio, Chantell destacou-se como artista visionária. Durante a sua estadia nos Países Baixos, questionou-se constantemente sobre a natureza da arte que estava a ser produzida em Moçambique. Explorou com coragem temas de espiritualidade, incluindo quando estes eram um tabú na sua terra natal. Esta exploração corajosa levou-a a desafiar as convenções e a aprofundar aspetos da sua criatividade.
Porém, o caminho de Chantell não foi isento de desafios. Frequentemente sentiuse isolada enquanto artista, especialmente por ser a única mulher no núcleo de criadores da Casa do Artista. Esta situação abriu-lhe os olhos para a necessidade de fomentar e apoiar as artistas jovens na sua comunidade. Foi esta experiência que a inspirou a dar aulas de arte e criar programas neste centro artístico beirense, com a esperança de tornar mais fácil o caminho para as futuras gerações de mulheres artistas em Moçambique.
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O sonho de Chantell é abrir a sua própria galeria de arte na Beira, onde possa expor o seu trabalho e o de outros artistas locais. Reconhece a falta de apreço pela arte e a educação artística na sua comunidade e espera transformar essa realidade através do seu compromisso com as futuras gerações de artistas.
Dilayla Romeo: Artista Multifacetada e Ponte Cultural entre Espanha e Moçambique
Dilayla Romeo é uma artista multifacetada nascida no Tenerife, Espanha, que encontrou o seu lugar e sua inspiração em Moçambique. O seu percurso no mundo da arte é testemunho da sua dedicação à criatividade e do seu compromisso com a exploração cultural.
Desde tenra idade, Dilayla esteve imersa no mundo da arte e do movimento, devido à influência da sua mãe, que se dedicava à dança. Aos três anos, o seu pai inscreveu-a em aulas de ginástica rítmica e ballet. A sua infância foi marcada pela catividade desportiva e a dança.
Mas foi na adolescência que a sua vida artística começou a ganhar forma, quando começou a estudar desenho de moda aos 20 anos. Durante este tempo, experimentou a modelagem e a criação de roupa para uma loja. No entanto, depois de quatro anos, decidiu que o desenho de moda não era o seu caminho e voltou-se para a fotografia.
A arte da fotografia converteu-se na sua paixão depois de comprar uma câmara digital numa viagem que fez a Tunes, a sua primeira experiência no estrangeiro. Inscreveu-se em cursos de fotografia e, posteriormente, num curso superior de fotografia artística de três anos. Este período de formação ajudou-a a desenvolver as suas capacidades e a definir a sua voz artística.
Barcelona foi o cenário de um novo capítulo na vida de Dilayla. Porém, foi em Moçambique onde encontrou a liberdade criativa que ansiava. Começou a fotografar pessoas dentro da cena artística e musical underground, envolvendo-se na comunidade LGBTQ+ e aventurou-se a expor o seu trabalho.
Dilayla não se deteve na fotografia. A sua faceta de desenhadora despertou, e começou a colaborar com artesãos locais na criação de peças de moda utilizando materiais menos usados como a palha, a madeira de sândalo e o alumínio reciclado. Estas colaborações não só lhe permitiram explorar o seu lado criativo,
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como a ligaram profundamente à cultura moçambicana e ao seu compromisso com a sustentabilidade.
Um dos seus projetos mais notáveis, denominado “UpCycle”, centrou-se na criação de peças de alumínio reciclado a partir de frigideiras fora de uso. Dilayla adota uma perspetiva consciente sobre o meio ambiente e esforça-se por criar arte que seja sustentável e duradoura.
Ao longo da sua carreira, Dilayla enfrentou desafios comuns a muito artistas: a luta para manter a integridade criativa num mundo comercial, a necessidade de equilibrar a paixão artística com a necessidade financeira e a busca constante de oportunidades de exposição e apoio.
A sua obra fotográfica evoluiu para o abstrato, e a sua fonte de inspiração são as viagens que faz, e a sua conexão com a cultura moçambicana, na busca de uma voz artística única. Dilayla demonstrou que a arte pode ser uma forma poderosa de comunicar mensagens importantes, como as mudanças climáticas, e uma forma de ligar culturas e experiências de vida diferentes.
Através da sua arte e do seu compromisso com a comunidade artística de Moçambique, Dilayla Romeo converteu-se numa ponte cultural entre a Europa e a África. O seu enfoque na sustentabilidade, a sua paixão pela fotografia e a sua vontade de explorar novas formas de expressão artística, tornam-na numa figura destacada na cena artística contemporânea de Moçambique.
Élia Gemuce: Professora, Curadora e Galerista Comprometida com a Profissionalização da Arte em Moçambique
Élia Gemuce é uma destacada figura no mundo da arte e da educação artística em Moçambique. Nascida em Moçambique, a sua viagem pela arte começou quando era ainda estudante do ensino secundário. Durante uma visita de estudo à Escola de Artes Visuais, ficou fascinada com o que viu. A exposição de trabalhos de alunos, os diversos departamentos e as oficinas da escola marcaram-na profundamente. Decidiu seguir a sua paixão e inscreveu-se na Escola de Artes Visuais (ENAV) depois de completar a 7ª classe. Aqui, teve o privilégio de explorar todas as disciplinas artísticas que a escola oferecia. Durante o primeiro semestre do primeiro ano, teve a oportunidade de experimentar diferentes cursos como cerâmica, têxteis e artes gráficas, o que lhe permitiu descobrir a sua afinidade
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pelas artes gráficas. Durante os seus anos de estudo, participou em exposições de arte e começou a trabalhar como desenhadora gráfica, primeiro em algumas agências de publicidade e depois em regime de trabalho independente. O seu percurso artístico também ficou pela experiência que teve quando, ainda estudante, trabalhou como formadora num projecto da Handicap International, onde teve oportunidade de trabalhar em actividades artísticas com crianças especiais portadoras de vários tipos de deficiência. Esta experiência levou-a a descobrir o seu amor pelo ensino e pela formação. No mesmo ano da graduação, Élia começou a dar aulas na Escola de Artes Visuais, onde leccionou disciplinas como técnicas digitais, desenho gráfico, edição electrónica, projecto gráfico, multimédia. Também trabalhou em agências de publicidade enquanto continuava leccionava na escola. A sua paixão pelo ensino levou-a a conseguir uma bolsa em Portugal financiada pela cooperação Suiça, onde ampliou os seus conhecimentos em design e meios digitais. Ao regressar a Moçambique, abriu, em 2001, o seu próprio estúdio de design gráfico e continuou a trabalhar como desenhadora gráfica profissional e professora de artes gráficas. Élia estudou Cultura e Arte com especialização em Multimédia na africa do Sul, cursou também fotografia e edição de vídeo em Portugal, Cenografia e adereços e ainda Ciências da comunicação com especialização em Marketing e Publicidade em Moçambique. Formou-se também em tecnologias de impressão gráfica na Africa do Sul. Ao longo da sua carreira, Élia partilhou a sua experiência através do ensino. Começou a dar aulas antes de completar a sua própria formação e continuou a leccionar em diversas instituições como IPCI - Instituto profissional de Comunicação e Imagem, ISCIM – Instituto Superior de Comunicação e Imagem, ACIPOL – Academia de Ciências Policiais, Universidade Politécnica de Moçambique e Universidade Pedgógica para além da Escola de Artes Visuais. Trabalhou como consultora e como em técnica de sistemas de impressão para algumas gráficas no país em especial para a Central Impressora e Editora de Maputo. Um dos marcos significativos da sua carreira foi quando o governo de Moçambique a selecionou para desenhar medalhas honoríficas. Ainda que, inicialmente, fosse um projecto conjunto com outros professores, acabaram por lhe confiar todo o projecto. Desenhou e produziu 40 medalhas diferentes, cada uma com o seu conceito e desenho próprios. Élia também desenvolveu um interesse pela semiótica da arte e realizou investigações nesta área. Posteriormente, sugeriram-lhe realizar um doutoramento em Meios e Arte Digital, o que lhe permitiu explorar ainda mais a sua paixão pela arte contemporânea e a tecnologia.
Com o seu profundo conhecimento da arte e da educação, Élia Gemuce decidiu fundar uma galeria de arte e agência de apoio a artistas em Moçambique, Arte
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d’Gemma, junto com o seu marido. O seu objetivo era satisfazer as necessidades dos artistas locais, dando-lhes apoio na criação do seu portefólio, projetos e produção artística. A galeria converteu-se num espaço para a profissionalização de artistas, oferecendo uma plataforma para as suas carreiras e ajudando-os a estabelecer preços competitivos.
Emília Nhate: Cineasta e Contadora de Histórias
Emília Nhate é uma cineasta moçambicana que começou a sua carreira na Escola de Comunicação e Artes (ECA), onde se licenciou em Jornalismo. Durante esse período, também se envolveu no teatro e trabalhou como atriz num grupo teatral local. Além disso, trabalhou na rádio como locutora, o que a colocou no mundo dos meios de comunicação e da narração.
A paixão de Emília pela arte remonta à sua adolescência, quando se juntou a um grupo de teatro, numa associação de viúvas. Apesar do seu interesse pelas artes, Emília teve que explorar outras áreas devido a limitações financeiras para pagar os seus estudos. Ao longo dos anos, trabalhou na indústria de hotelaria e turismo para financiar os seus estudos.
No entanto, o seu amor pelas artes nunca desapareceu por completo. Emília continuou a escrever durante os seus anos de estudante, e os seus projetos, como crónicas e radionovelas, mantiveram-na ligada com a criatividade e a narração de histórias.
Foi na ECA onde Emília finalmente pôde voltar ao mundo do cinema e dos documentários. Aqui, começou a escrever e produzir as suas próprias histórias, destacando temas que refletiam a sociedade moçambicana e as experiências dos seus compatriotas. Emília inspirou-se nas histórias que lhe contavam os avós junto à fogueira durante a infância e procurou levar essas narrativas para a vida através do cinema e documentários.
Um dos seus primeiros documentários foi sobre a capulana, uma peça de roupa tradicional em Moçambique. Ainda que este documentário não tenha sido comercializado, permitiu à Emília explorar as histórias das mulheres que compravam capulanas em Moçambique e vendiam na África do Sul. Também fez um documentário sobre o “lobolo”, uma prática cultural em cujo âmbito, se levado ao extremo, as famílias podem pagar um dote por uma mulher que já faleceu, um
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tema sensível, mas importante que planeia desenvolver no futuro.
Ao longo da sua carreira, Emília trabalhou em projetos de rádio e televisão, incluindo a sua participação no concurso da escrita de contos e crônicas financiada pela Fundação Fernando Leite Couto (FFLC). Também trabalhou como cinegrafista e técnica de edição no projeto “Moçambique As Quatro Rodas” um projeto de turismo que a fez viajar por todo o país para mostrar a sua diversidade cultural.
Mais recentemente, Emília começou a trabalhar na Promarte, no projeto “Resistência e Afirmação Cultural”. Inicialmente, começou como técnica, mas neste momento trabalha na produção de filmes e documentários.
Emília está decidida a continuar a sua carreira no cinema e nas artes. Planeia escrever e produzir mais documentários e, no futuro, um filme de ficção. O seu objetivo é converter-se numa referência em Moçambique e continuar a inspirar outras pessoas através do seu trabalho criativo.
Jamaila Brites: Criando Arte e Moda com uma Mensagem
A história de vida de Jamaila é um testemunho inspirador de como a criatividade pode ser uma ferramenta poderosa de expressão e empoderamento.
Desde jovem, viveu momentos difíceis, o que a levou a procurar formas de lidar com as suas emoções. Foi então que descobriu a criatividade como uma via para expressar os seus sentimentos. Encontrou na arte, e particularmente no desenho e na pintura, uma forma de comunicar alternativa à expressão das palavras, que amiúde lhe pareciam insuficientes.
A pintura converteu-se num refúgio para Jamaila, e as suas obras tornaram-se numa forma de catarse emocional. Durante os seus anos de estudante no Porto, Portugal, onde estudou Medicina, encontrou na pintura uma companhia valiosa para quem se encontra tão longe do lar. Ainda que a maioria das obras que produziu tivessem ficado em Portugal, as que trouxe consigo tornaram-se para ela verdadeiros tesouros a ligarem-na ao pasado e às suas emoções.
A moda também se cruzou no caminho de Jamaila. Desde jovem, tinha um interesse secreto pela moda, e via os canais internacionais de moda, adaptando também a sua própria roupa, porque na altura não existiam muito desenhadores de moda em Moçambique. A sua mãe encorajou-a a explorar este interesse, e assim
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começou a sua viagem no mundo do desenho de moda. Aprendeu a desenhar e criar roupa ela mesma, experimentando a partir de desenhos e usando materiais fora do comum como retalhos de jeans para as suas criações.
A pressão aumentou quando apresentou a sua primeira colecção no Mozambique Fashion Week (MFW). Ainda que inicialmente tenha sido considerada como um projecto artístico, a moda em Moçambique tem sido um desafio solitário e competitivo. Apesar disso, Jamaila foi persistente e o seu enfoque numa moda sustentável e de alta qualidade acabou por lhe conferir distinção nesta área.
A arte e a moda de Jamaila amiúde carregam consigo um mensagem profunda. As suas criações exploram, quase sempre, as questões da identidade, individualidade e questões existenciais. Através das suas pinturas e escrita, procura desafiar as convenções sociais e provocar reflexões mais profundas sobre a sociedade onde vive.
Além da sua carreira artística, Jamaila também se dedica a empoderar outras mulheres. Fundou uma associação para ensinar costura a jovens interessadas na moda, dando-lhes uma oportunidade para aprender e prosperar na indústria.
Gigliola Zacara: Cinema e Compromisso Social em Moçambique
“Se queres ser um artista de verdade, é necessário trazer a verdade. Nem sempre serás aceite pela tua comunidade, família, amigos ou pessoas à tua volta.”
Gigliola, nascida em Maputo, é uma figura versátil que deixou a sua marca em diversos campos artísticos em Moçambique. Com uma licenciatura em Estatística e Gestão da Informação, Gigliola é actriz, directora, bailarina, coreógrafa, professora de dança, modelo publicitário e produtora artística.
Desde 2005 que estuda interpretação para teatro, cinema e televisão em Moçambique, Brasil e Angola. Destacou-se como actriz de cinema em filmes como "O jardim do outro homem", "Traídos pela Traição", "Quero ser uma estrela", "Malha", "Resgate" e "Zacarias". Também participou em diversas obras de teatro e em dobragens para séries, radionovelas, filmes institucionais e videoclips de artistas moçambicanos.
Gigliola começou a explorar a direcção teatral, centrando-se em obras tanto para o público infantil como para adultos, e mais tarde voltou-se para o teatro
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com propósito social, dedicado a campanhas de sensibilização sobre temáticas comunitarias diversas, como a igualdade de género.
Em 2009, fundou a Associação Centro de Recriação Artística, onde desempenha o papel de Coordenadora Geral e Artista. Esta associação procura promover, desenvolver e incentivar actividades artísticas, recriativas e sociais. Dentro do Centro, encontra-se a Rede de Mulheres que procura incorporar voluntárias que querem aprender a fazer cinema e participar em sessões de dramaterapia, impulsionando o voluntariado na comunidade.
Gigliola também colaborou com diversas instituições em projectos como o “Projecto Olhar Artístico”, “Projecto Afriqueer - Drama For Life Company Teatre” (África do Sul), “Projecto Mabuko Ya Wina”, “Projecto Teresinha – Uma vida em Moçambique” e “Projecto Brasil nas Escolas”, entre outros.
No cinema, começou como actriz principal e actuou juntamente com nomes já estabelecidos na indústria cinematográfica. Demonstrou também a sua habilidade na direcção, conquistando reconhecimentos, tanto a nível nacional como internacional, pelas suas produções cinematográficas. As suas primeiras produções cinematográficas foram os filmes “Nkwama”, de 2020, e “Silêncio”, de 2021, que obtiveram prémios a nível nacional e internacional, e o novo documentário “Ecos” (2023), que conta a história de oito reclusas. Em todos os seus projectos, asegurase que cerca de 50% dos envolvidos são mulheres.
Gigliola é uma artista comprometida com causas sociais e feministas. O seu objectivo é contar histórias e abordar problemáticas sociais através dos seus filmes. A sua perseverança e dedicação permitiram-lhe enfrentar desafíos e obter êxito nos seus empreendimentos artísticos. Com uma ampla experiência na dança, no cinema e no teatro, Gigliola continua a desafiar-se a si mesma e a contribuir para cenário artístico de Moçambique.
Através das suas obras, procura gerar mudanças e transmitir mensagens transformadoras. O seu compromisso com o activismo e a sua paixão pelas artes levaram-na a superar obstáculos, com a convicção de que vale a pena investir no campo artístico para criar impacto e consciência social.
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Josefina Massango: Uma Vida Dedicada ao Teatro e à Arte em Moçambique
A vida de Josefina Massango é uma história de paixão e dedicação ao teatro e à arte em Moçambique. Ao longo dos anos, desempenhou um papel fundamental na promoção das artes cénicas e na formação de novos talentos no país. O seu percurso artístico foi pleno de desafios e sucessos notáveis.
Desde os seus primeiros dias na Associação Cultural Casa Velha, Josefina dedicouse ao teatro. Começou com leituras dramatizadas e teatro mais amador, mas o seu compromisso e talento levaram-na a explorar o mundo do teatro de maneira mais profissional. Estudou história e teatro em Portugal e trabalhou como actriz profissional em Portugal durante vários anos.
Porém, o seu amor por Moçambique trouxe-a de regresso à sua terra natal, em 2010, onde continuou a sua carreira teatral. Durante o seu tempo em Moçambique, trabalhou tanto como actriz como na docência de teatro na Universidade Eduardo Mondlane e na Universidade Pedagógica, contribuindo assim para o desenvolvimento de jovens talentos no país.
Josefina também esteve envolvida na direcção e coordenação de programas de formação teatral, e trabalhou na produção e direcção de projectos teatrais, tanto a nível nacional como internacional.
Também assumiu o papel de diretora artística do Cinema Scala na cidade de Maputo. Esta decisão marca um novo capítulo na sua vida dedicada ao mundo da arte e da cultura em Moçambique.
Desde tenra idade, Josefina Massango esteve envolvida no mundo do cinema e do teatro. Durante a sua adolescência, frequentava o Cinema Scala em Maputo e fazia o possível para ver filmes, incluindo quando a idade mínima para certos filmes lhe vedava a entrada. A sua paixão pelo cinema e as artes cénicas levou-a a explorar uma carreira no teatro e no cinema em Moçambique e Portugal.
Com mais de 35 anos de experiência na indústria, Josefina Massango converteu-se numa das actrizes mais respeitadas de Moçambique. Participou em numerosas produções teatrais e cinematográficas e deixou uma marca indelével no mundo da arte no país.
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Júlia Guirrugo: Captando a Essência da Vida Através da Fotografia
Júlia Guirriugo, de nome artístico Jay Mena, é uma fotógrafa apaixonada cujo viagem pelo mundo da fotografia começou quando descobriu a câmara do seu pai. Desde então, a fotografia tornou-se na sua paixão inabalável, uma forma de expressão artística que lhe permite explorar a sua criatividade e captar a beleza do mundo que a rodeia.
Júlia inspira-se nas questões sociais e humanitárias, especialmente as que afetam mulheres e crianças. Acredita que a fotografia pode ser uma ferramenta poderosa para dar voz às pessoas e aumentar a consciência sobre estas questões importantes. Quando fotografa mulheres e crianças, procura captar a sua essência e a beleza que reside nas suas vidas, inclusivamente face aos desafios que enfrentam.
Como defensora de causas sociais, Júlia sente a responsabilidade de usar a sua voz e habilidades para contribuir para um mundo mais justo e equitativo. Acredita que a fotografia pode ser uma ferramenta para narrar histórias e criar consciência sobre questões relevantes.
Júlia participou em 2023 na exposição de fotografia “Um Mundo para Todos Dividido”, centrada em questões da desigualdade social, e na qual o seu trabalho destaca as injustiças e a marginalização social.
Nos próximos cinco anos, Júlia planeia continuar a documentar histórias que sejam impactantes e relevantes. Também pretende manter-se atualizada relativamente às tendências e mudanças na sua área e procurar oportunidades para colaborar com outros artistas e organizações sociais.
Lara Sousa: A Busca da Verdade e a Identidade Através do Cinema
“Cuba parece-se muito com Moçambique em muitos aspetos. É tudo muito precário, mas tens a sensação de que podes fazer muita coisa com nada e que não são nem a câmara nem o microfone o que mais conta, que afinal o que mais conta são as histórias em si.”
“A primeira vaga de cinema moçambicano teve por objetivo a construção de uma imagem de Moçambique como país novo onde as pessoas, de um dia para o outro e de norte a sul tinham de saber que são moçambicanas. É um cinema
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de cariz político, um instrumento da FRELIMO, para uma luta política – na altura muito necessária, note-se. Agora estamos a questionar esse modelo e também a questionar-nos que cinema existe agora. Aquele era um cinema com um H maiúsculo, h de história, mas onde não estavam as pessoas, estava um movimento, uma ideia. O coletivo sobrepunha-se. Creio que esta vaga nova contempla as pessoas, os sujeitos, as histórias.”
Lara Sousa é uma cineasta moçambicana cuja vida esteve sempre profundamente ligada ao cinema desde o nascimento. Os seus pais trabalhavam na indústria cinematográfica, o que a expôs desde tenra idade ao mundo do cinema. Ainda que inicialmente tenha tentado afastar-se desta trajetória ao estudar Antropologia em Madrid e apesar das suas tentativas de escapar do cinema, viu-se confrontada com o facto de que esta paixão não deixava de a perseguir constantemente.
Nesta procura de uma vocação mais autêntica, matriculou-se na Escola Internacional de Cinema e Televisão em Cuba. Foi ali que começou a treinar-se nas questões criativas da sua paixão cinematográfica. Através de experiências pessoais e projetos terapêuticos, explorou a narrativa cinematográfica de um ponto de vista íntimo e pessoal. O contexto cubano influenciou a sua maneira de fazer cinema, levando-a a abordar as questões da imigração e a questionar o poder através das suas primeiras curtas-metragens.
A relação da Lara com o cinema caracteriza-se pelo seu interesse na construção de imagens e pela iconografia. Através dos seus filmes, procura explorar a forma como se constroem as imagens na relação com as histórias e como se comunica a verdade ética por detrás das mesmas. Na sua busca pelo entendimento acerca da sua herança cultural e as complexidades do seu país, Lara esforça-se por encontrar uma identidade cinematográfica que seja autêntica e representativa.
Sente alguma ambivalência na sua relação com a arte e o cinema em Moçambique. Embora sinta que não tem um impacto significativo no panorama artístico local, reconhece que noutros lugares do mundo existe um grande interesse pelo seu trabalho e por Moçambique. Este paradoxo leva-a a questionar-se sobre para quem é que está a fazer os seus filmes: se estes devem ser específicos e conectarse com a sua comunidade local ou se devem procurar um terreno mais universal para encontrar audiências mais vastas.
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As limitações financeiras e as oportunidades reduzidas em Moçambique também têm influência na forma como Lara aborda o seu trabalho cinematográfico. Ela sabe que para financiar os seus projetos, muitas vezes tem de adaptar as suas ideias para poder atrair patrocinadores estrangeiros, o que pode resultar numa perda de autenticidade ou num “mosaico amputado” da sua visão original.
Continua o seu caminho no mundo do cinema, equilibrando a sua criatividade com a produção e procura formas de interligar os seus filmes com um público mais vasto. Através das suas obras, Lara Sousa procura encetar um diálogo entre o passado, o presente e o futuro de Moçambique, questionando e explorando a construção da imagem e a identidade numa sociedade em constante evolução. Entre os documentários que realizou, encontram-se “O Navio e o Mar”, “Kalunga” (2019), “Machimbrao - El hombre nuevo” (2019), “Fin” (2018) e “La Finca del Miedo” (2017).
Lillian Benny: Explorando Narrativas Visuais
Lillian Benny é uma figura emergente no mundo da arte e da fotografia em Moçambique. O seu percurso no mundo da fotografia é um testemunho da sua paixão e determinação em explorar a expressão artística através deste meio visual.
Nascida e criada em Moçambique, Lillian descobriu o seu interesse pela fotografia depois de explorar a expressão artística através do desenho. Esta paixão levou-a a mergulhar na fotografia móvel antes de dar o salto para a sua primeira câmara digital. Desde então, tem estado numa viagem de autodescoberta artística através da sua lente.
Um dos aspetos mais notáveis do trabalho de Lillian é a sua versatilidade. Embora ainda esteja a explorar e a desenvolver o seu estilo pessoal, tem uma predileção por imagens a preto e branco e procura criar trabalhos que contem histórias e narrem narrativas visuais profundas. A sua atenção tem-se afastado das imagens individuais para criar séries coesas e narrativas visuais que ressoam com o espetador.
O compromisso de Lillian com a fotografia tem-se manifestado através da sua participação em exposições coletivas em Maputo, Moçambique. Em 2021, ela fez parte de um workshop chamado “democraSee” liderado por John Fleetwood na Phototool, que lhe deu uma plataforma para mostrar o seu trabalho numa exposição colectiva. Para além disso, o seu trabalho fez parte da exposição “Um Mundo Dividido para Todos” na Fortaleza de Maputo, uma iniciativa da Embaixada
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de Espanha. O seu trabalho foi também apresentado em “Everyday a Woman” durante o mês de agosto pelo coletivo sul-africano “Through the Lens”.
Olhando para o futuro, Lillian Benny tem sonhos e ambições bem definidos. Quer continuar a desenvolver-se como fotógrafa, explorando novas narrativas e abordagens ao seu trabalho. Está a trabalhar numa exposição individual que planeia apresentar em 2024. Além disso, está a frequentar cursos para melhorar as suas competências na construção de narrativas através da fotografia, com o objetivo de criar um corpo de trabalho ainda mais impactante.
Para além disso, sonha em tornar-se uma referência e influência na comunidade artística moçambicana e partilhar o seu trabalho internacionalmente. As suas influências artísticas são diversas e em constante mudança, inspirando-se em fotógrafos proeminentes como Zanele Muholi, Aida Muluneh, Lindokuhle Sobekwa e Sabiha Çimen. A literatura também desempenha um papel importante no seu processo criativo, constituindo uma fonte constante de inspiração e foco para o seu trabalho.
Lizette Chirrime: Expressão e Cura Através do Tecido e da Abstração
Lizette Chirrime é uma artista multifacetada nascida em Angoche (Nampula), Moçambique, e criada em Maputo. Embora tenha crescido em um ambiente sem acesso à formação formal em artes, desde cedo demonstrou paixão pela criação artística através da pintura e da costura. Sua capacidade inata de se expressar através da arte a levou a participar de sua primeira exposição individual em Moçambique, em 2004.
Em 2005, Lizette Chirrime aceitou uma residência de três meses no Greatmore Studios, na Cidade do Cabo, África do Sul, o que marcou um importante ponto de viragem em sua carreira artística. Desde então, tem vivido e trabalhado na Cidade do Cabo por 15 anos, embora atualmente esteja baseada em Inhambane, Moçambique, na região de Tofo.
O trabalho artístico de Chirrime é caracterizado por suas obras de grande escala em tela, nas quais utiliza uma variedade de tecidos estampados, desde o Tshwetshwe até outros padrões africanos associados à vestimenta do continente. Suas criações, abstratas em forma, evocam a figura humana e refletem sua prática identitária. Através de sua arte, Chirrime reconstrói sua imagem pessoal e supera
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as dificuldades de uma infância problemática, expressando em suas obras a celebração e a libertação.
As exposições individuais de Lizette Chirrime incluem “Rituals for Soul Search” na Galeria Morton Fine Art em 2022, “O Livro de Ndimande” na Galleria Kulunguana em 2021, e “The Forms of Invisible Demands” na Galeria World Art da Cidade do Cabo em 2018, entre outras. Além disso, ela participou de diversas exposições coletivas, tanto em Moçambique quanto no exterior, destacando-se em eventos artísticos de renome internacional.
A obra de Chirrime não se destaca apenas por sua abstração e pelo uso de tecidos, mas também reflete sua conexão com a água e seu interesse na feminilidade. Sua arte é uma expressão única e distintamente africana que ressoa em todo o mundo.
Lizette Chirrime enfrentou desafios pessoais significativos em sua vida e encontrou na arte uma forma de cura e empoderamento. Sua trajetória artística e sua capacidade de transmitir emoções por meio de suas obras a tornaram uma figura proeminente na cena artística contemporânea, e seu legado continua a inspirar artistas e admiradores de todo o mundo.
Ludmila dos Reis: Captando a Essência Feminina através da Fotografia
Ludmila dos Reis é uma talentosa fotógrafa moçambicana que dedicou a sua vida a captar a essência da mulher e a beleza que reside nos momentos mais íntimos e profundos da vida. A sua viagem artística começou na adolescência, quando descobriu a magia da fotografia e a sua capacidade para expressar emoções e pensamentos que muitas vezes são difíceis de comunicar com palavras.
Desde tenra idade, Ludmila sentiu-se atraída pelo mundo da arte e da criatividade. Proveniente de uma família de costureiras e mecânicos, cresceu num meio onde a criatividade e a habilidade manuais eram valorizadas. Esta influência familiar levou-a a explorar diversas formas de expressão artística, incluindo a costura e o desenho gráfico.
No entanto, foi a fotografia que finalmente conquistou o seu coração. Durante os momentos de introspeção e de contemplação, Ludmila encontrou na fotografia uma maneira única de dar vida aos seus pensamentos e emoções. Com uma câmara na mão, começou a explorar o que a rodeava, captando paisagens e momentos quotidianos que, de outro modo, muitas vezes lhe passavam despercebidos. Esta
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paixão pela fotografia levou-a a formar-se em desenho gráfico, onde pôde combinar o seu amor pela criatividade com o seu interesse crescente pela fotografia.
O seu enfoque artístico reside em explorar a psicologia e as emoções humanas, especialmente as das mulheres. Através das suas fotografias, procura dar voz ao que, muitas vezes, fica por dizer, captando os pensamentos, desejos e sentimentos dos seus modelos. O seu objetivo é transformar ideias abstratas em imagens palpáveis e poderosas que permitam às pessoas olhar para si mesmas de uma maneira concreta, nova, e autêntica.
Ludmila participou em prestigiados eventos como o World Press Photo em 2019, onde explorou a questão da religião a partir de diversas perspetivas artísticas. Além do seu trabalho artístico, também trabalhou em projetos comerciais e de marcas, aplicando o seu enfoque único e emocional à publicidade e à comunicação visual.
No futuro, Ludmila aspira a utilizar a fotografia como uma ferramenta para abordar temas e sentimentos que muitas vezes constituem tabus na sociedade. Pretende dar voz a questões como a depressão e o racismo, e desafiar as perceções convencionais sobre estes problemas. O seu sonho é abrir portas e oportunidades para outras mulheres no mundo da arte e da criatividade, demonstrando que podem conseguir o que desejam e expressar as suas emoções de maneira poderosa e autêntica.
Maria Elisa Chim: Uma Vida Dedicada à Arte e à Cultura em Moçambique
Maria Elisa Chim é uma destacada figura no mundo da arte e da cultura em Moçambique, cujo compromisso e paixão pela promoção da criatividade e da expressão artística deixaram uma marca forte no seu país. A sua vida foi marcada por uma profunda implicação no âmbito cultural e artístico.
Nascida em Moçambique, Maria Elisa passou um período de dez anos em França, onde se casou e constituiu família. Porém, depois dos Acordos de Paz em Moçambique, sentiu que havia muito trabalho a fazer no seu país natal e decidiu regressar com a sua família. O seu domínio do francês abriu-lhe portas no âmbito diplomático, e começou a trabalhar na Embaixada Suíça antes de se integrar no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), que ainda estava em reconstrução nesse momento. Durante uma década, desempenhou um papel fundamental no CCFM, colaborando com figuras de destaque da cultura moçambicana
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como Manuela Soeiro, Ricardo Rangel e Malangatana, bem como com artistas internacionais.
Esse período no CCFM trouxe-lhe uma experiência enriquecedora, porque lhe permitiu assistir ao crescimento e à evolução das artes em Moçambique. Experienciou a transformação qualitativa e a procura da arte no seu país, com um enfoque cada vez maior na área cultural e na formação artística. Durante o seu tempo nesta instituição, trabalhou com cinco diretores diferentes, o que lhe deu uma visão única da evolução das artes no seu país.
Depois de duas décadas no CCFM, Maria Elisa decidiu fazer uma pausa, tendo trabalhado numa empresa privada durante cinco anos. Porém, o seu amor pela arte e cultura levou-a a fundar a sua própria empresa de serviços culturais, o que lhe permitiu continuar a dar a sua contribuição no mundo artístico em Moçambique. Um dos projetos de maior destaque de Maria Elisa é a sua participação no Xiquitsi como produtora dos eventos e concertos, um projeto de formação de orquestras de música clássica em Moçambique.
Nas suas posições de liderança, Maria Elisa demonstrou as suas qualidades para liderar e empoderar os outros no campo da cultura e das artes. O seu legado não só se reflete no seu próprio trabalho criativo, como também na sua capacidade para inspirar os outros a seguir-lhe o exemplo e contribuir para o florescimento da arte em Moçambique.
Mestria Sitoe: Desenho Gráfico e Arte Urbana
O percurso de Mestria no mundo da arte começou cedo, já que provém de uma família de artistas. Desde os seus primeiros anos, Mestria demonstrou a sua paixão pelo desenho e a criatividade, e na escola, transformou uma resposta, num momento convencional de exame, numa oportunidade para mostrar uma surpreendente obra de arte.
O seu interesse pela arte digital começou na sua juventude, mas apenas no ano passado começou a experimentar esta forma de expressão artística. O seu objetivo visa a simbiose entre as virtualidades da linguagem digital e a pintura tradicional, e projeta, no futuro, criar-se assim um conjunto diverso de experiências artísticas. A influência do seu pai, também artista plástico, inspirou-a a explorar o mundo da pintura, passando dos lápis e canetas à criação digital e, agora, à pintura tradicional.
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A inspiração para a sua arte provém de diversas fontes, incluindo a música. Determinadas canções trazem-lhe ideias e energía para criar. O seu gosto musical é variado, desde o hip-hop até ao jazz, afrojazz, blues e música clássica. Esta diversidade musical reflete-se na amplitude da sua obra artística.
Além da sua carreira artística, Mestria também é professora de Arte na Beira International School, onde partilha o seu conhecimento e paixão pela arte com as gerações mais novas.
Olhando para o futuro, Mestria vê-se a si própria ainda mais imersa no mundo da arte e já começou a envolver-se na arte urbana através do coletivo Beira Street Art. Aspira a viver da sua arte, tanto no âmbito plástico como digital, e em ter mais formação no campo artístico. Um dos seus sonhos é estudar pintura e desenho na Faculdade de Belas Artes de Lisboa.
Mimy Silbeiro: A Artesã Criativa da Capulana da Beira
Mimy, uma apaixonada artesã de capulana, nasceu na histórica Ilha de Moçambique. Desde tenra idade, com a sua mãe, dedicava-se à costura, ainda que nessa altura não imaginasse que este ofício se converteria numa parte fundamental da sua vida. Na sua infância, Mimy simplesmente brincava e experimentava criar a partir dos tecidos de capulana, sem pensar que um dia isto se converteria na sua vocação, que intentaria transformar a artesanais em arte.
A sua viagem no mundo da arte começou quando tinha 20 anos, e participou na primeira Feira de Gastronomia e Artes na Ilha de Moçambique e expôs as suas criações pela primeira vez. Nesse momento, não se levava ainda muito a sério como artesã. Porém quando se mudou para Tete, continuou a desenvolver as suas capacidades e a acumular experiência no mundo da arte e artesanato.
Foi na Beira, o seu actual local de residência, que Mimy encontrou uma oportunidade de negócio ligada à sua paixão pela capulana. Levando mais a sério o seu trabalho como artesã, começou a trabalhar a partir de casa. Participou em feiras organizadas pela Casa de Cultura local e, com o tempo, tornou mais refinada a sua técnica e estilo artístico.
O seu processo criativo é reflexo do seu espírito auto-didacta e do seu desejo de aprender. Mimy começou a aprender corte e costura com uma modista, o que lhe permitiu dar forma à sua habilidade para, posteriormente, trabalhar com tecidos de capulana.
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Mimy também participou em eventos culturais e artísticos, como um encontro com artistas no Instituto Camões, o que lhe permitiu estabelecer ligações e intercâmbios com outros artistas de diversas áreas na Beira. No seu trabalho, Mimy destacou-se como uma das poucas mulheres numa área geralmente dominada pelos homens.
Perspectivando o futuro, Mimy sonha em ter a sua próprio atelier e em ampliar o seu trabalho na sua área criativa. O seu amor pelo trabalho manual e a sua imaginação são evidentes em cada uma das suas belas criações de capulana.
Natasha Matos: Expressão Artística, Espiritualidade e Misticismo
Natasha Matos, uma talentosa artista visual e defensora da mudança social, esteve ligada ao mundo da arte desde tenra idade. O seu percurso começou aos 16 anos quando encetou um projecto centrado na representação de mulheres africanas, mulher trans e outras minorias que muitas vezes são oprimidas. Desde essa altura, tem levado, através da sua arte, uma mensagem de força e de empoderamento, destacando a importância destas vozes marginais na sociedade.
A inspiração para o seu trabalho artístico provém de diversas fontes, incluindo o seu interesse pela psicanálise e a exploração do inconsciente humano através de imagens e símbolos. Natasha tem um processo criativo interno profundo, impulsionado pela leitura de autores como Clarice Lispector e de vários psicanalistas, o que acrescenta uma dimensão mística à sua arte. Ela procura partilhar o seu fascínio por aquilo que se encontra oculto com a sua comunidade, incentivando os outros a explorarem o seu mundo interior.
Natasha também leva a sua arte às ruas de Maputo, participando em projetos de arte pública. Através destas iniciativas, tem procurado fazer com que a arte fique mais acessível à comunidade e revitalizar áreas que muitas vezes carecem de apoio governamental. A sua escolha de murais com caras deformadas tem um propósito profundo: representar as máscaras que temos de usar frequentemente para ocultar a nossa verdadeira identidade e destacar a importância de compreender e valorizar quem somos realmente.
A sua formação em artes foi em grande medida feita de forma auto-didacta, já que em Moçambique não havia muitas opções de formação nesse momento, e a sua escolha de seguir uma carreira artística não foi inicialmente bem acolhida
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no seio da sua família. Porém, Natasha não desistiu e continuou a explorar e a desenvolver o seu talento artístico.
Apesar dos desafios, como o de estudar Engenharia Mecânica, Natasha nunca abandonou a sua paixão pela arte. De facto, encontrou formas de aplicar as competências e a disciplina que adquiriu na sua carreira académica ao seu processo criativo, o que lhe permitiu encontrar um equilíbrio entre as suas duas paixões. Além disso, planeia expandir o seu repertório artístico, no futuro, explorando a dança como uma forma de expressão adicional e uma extensão do seu processo criativo.
Natasha aspira a um futuro em que a sua arte não se restrinja a um público elitista, mas que seja acessível a todos. Os seus projectos, como “Em Nome do Amor” (En el Nombre del Amor), centram-se em questões sociais e políticas importantes, como o conceito do amor e como isto afeta a diferentes grupos na sociedade. Através da sua arte, procura instigar uma mudança e estimular o debate sobre questões importantes.
No futuro, Natasha planeia levar a sua arte a uma audiência maior e explorar temas relacionados com a solidão coletiva e como a inflação e as guerras afetam a vida quotidiana e a saúde mental no seu país. A sua arte não é apenas uma expressão pessoal, mas também uma ferramenta poderosa para a mudança social e a consciência.
Nelsa Guambe: Tecendo Arte e Compromisso Social em Moçambique
Nelsa Guambe, destacada artista moçambicana, nascida em Chicuque, Inhambane, é uma figura influente na cena artística contemporânea de Moçambique. A sua viagem no mundo da arte começou com uma paixão precoce pela fotografia, que posteriormente se ligaria à pintura, no seu trabalho artístico.
Apesar do seu interesse precoce pelas artes no geral, Nelsa não sabia exatamente em que área artística se queria centrar quando completou a sua educação secundária. Inicialmente, foi atraída pela fotografia e teve a oportunidade de, numa curta permanência na Alemanha, começar a experimentar a captação de momentos e emoções através da lente da sua câmara. Mesmo antes disto, já fotografava em eventos familiares.
A sua verdadeira incursão no mundo da arte começou em 2010 quando começou
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a frequentar o Núcleo de Arte em Maputo. Ali, converteu-se em auto-didacta e desenvolveu o seu estilo artístico único. Durante esse tempo, também trabalhou na Cooperação Alemã, (GIZ) na implementação de projetos, demonstrando a sua versatilidade e habilidades de gestão.
O que diferencia Nelsa é a sua capacidade para combinar o seu amor pela fotografia e a pintura. Amiúde, pega em fotografias e transforma-as em pinturas, misturando as duas formas de expressão artística e fundindo-as numa só. Esta fusão única de meios permite-lhe explorar a memória e a conexão emocional através da sua arte.
Além da sua prática artística, Nelsa Guambe co-fundou a DEAL (Design Entertainment Art and Literature), uma plataforma que promove a colaboração multidisciplinar e a arte em Moçambique. A DEAL tornou-se num espaço vital para artistas emergentes e já estabelecidos para mostrarem o seu trabalho e colaborarem em projectos criativos.
Ao longo da sua carreira, Nelsa realizou numerosas exposições a solo a e em grupo tanto em Moçambique como no estrangeiro, destacando a sua participação em feiras de arte internacionais.
Nelsa Guambe destaca-se pela sua versatilidade e o seu compromisso com a expansão das artes em Moçambique. O seu enfoque único e a sua capacidade para misturar diferentes formas de expressão artística tornam-na numa figura influente na cena artística contemporânea de Moçambique e para além deste.
Thandi Pinto: Captando o Espírito de Moçambique através da Fotografia Colagem
Thandi Pinto tornou-se numa figura de destaque na vibrante cena artística de Moçambique. O seu percurso até ao mundo da arte começou com uma caminhada pelas ruas de Maputo, onde o seu fascínio pela fotografia foi despertado por artistas locais já estabelecidos.
Antes de se tornar uma artista profissional, Thandi organizava caminhadas pela cidade de Maputo, explorando a beleza e a vida quotidiana da cidade através da sua câmara. Em 2017, motivada pelos conselhos e orientação de outros artistas, decidiu comprar a sua própria câmara e começar a sua incursão pela fotografia. Estas caminhadas não apenas lhe deram uma visão única da cidade, mas também
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lhe permitiram relacionar-se com as pessoas e superar qualquer resistência que pudesse surgir na captação de fotografias na rua.
À medida que a sua paixão pela fotografia crescia, Thandi buscava novas formas de expressão artística. Durante a pandemia, descobriu a técnica de colagem e deu-se conta de que podia fundir o seu amor pela fotografia com esta forma de arte. As colagens de Thandi exploram temas que vão da desigualdade à resiliência das pessoas em Moçambique.
O reconhecimento do seu talento artístico aumentou quando começou a colaborar com a Galeria Arte d’Gemma, que a impulsionou para a cena artística internacional. As suas obras destacaram-se em feiras de arte internacionais, e Thandi rapidamente se tornou numa artista respeitada tanto a nível nacional como internacional.
Thandi continua a explorar novas técnicas e sonha enriquecer a sua obra artística no futuro. A sua influência e o seu compromisso com a promoção das artes em Moçambique são testemunho da sua paixão e determinação em fazer da arte parte integrante da vida cultural do seu país.
Artes literárias
Moçambique tem uma rica tradição literária em que as mulheres escritoras têm dado contributos significativos. O país tem uma forte tradição de narração oral de histórias, em que as mulheres desempenham um papel importante na transmissão de histórias e conhecimentos culturais. Esta rica tradição teve uma profunda influência nas obras escritas de muitas escritoras moçambicanas, moldando os seus estilos de narração e técnicas literárias.
A luta pela independência do domínio colonial português foi um tema central na literatura moçambicana, e as mulheres desempenharam papéis activos nos movimentos de libertação. As suas experiências durante este período encontraram frequentemente expressão nos seus escritos. Figuras proeminentes como Noémia de Sousa, poeta e jornalista, e Lina Magaia, escritora e jornalista, deram contributos significativos para esta tradição literária, captando o espírito de resistência e as aspirações de liberdade.
Após a independência, em 1975, Moçambique entrou num período de construção nacional e de transformação social. As escritoras continuaram a ser uma parte fundamental da paisagem literária do país, explorando temas como a identidade,
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o género e as questões sociais. Escritoras proeminentes como Lília Momplé e Paulina Chiziane usaram as suas obras para abordar estas questões críticas, contribuindo para uma crescente literatura moçambicana pós-independência.
Muitas escritoras moçambicanas têm estado na vanguarda das discussões sobre género e feminismo no país. Através da sua literatura, levantaram questões importantes sobre os direitos das mulheres, a igualdade de género e os papéis tradicionais de género. As suas obras têm servido de catalisadores para conversas sobre questões de género na sociedade moçambicana.
Paulina Chiziane, vencedora do Prémio Camões, destaca-se como uma das escritoras mais célebres e influentes de Moçambique. O seu romance “Niketche: Uma História de Poligamia” ganhou reconhecimento internacional pela exploração de questões complexas como as dinâmicas de género, a poligamia e as experiências das mulheres em Moçambique.
Hoje, apesar das dificuldades enfrentadas pelo sector editorial, mulheres escritoras de vários cantos do país estão a publicar livros, sendo a poesia um destaque particular, como será explorado nesta secção.
Claudia Chatonda: A Poetisa de Tete
Claudia Chatonda Elija, nascida no Songo, Tete, é uma poetisa moçambicana cuja obra traduz uma grande profundidade emocional e melancolia. O seu percurso no mundo da escrita começou aos 15 anos, inicialmente explorando o mundo do hip hop, onde as letras a levaram a descobrir a sua paixão pela escrita.
Ao longo dos anos, Claudia reuniu uma colecção de obras que evoluiu das suas primeiras incursões no hip hop até uma poesia mais profunda e reflexiva. Os seus textos abordam uma variedade de temas, desde histórias pessoais até textos mais sombrios e comoventes que tocam a alma do leitor.
Claudia Chatonda também é conhecida pela sua dedicação à cultura nativa de Moçambique. Participou em eventos e projetos que honram e celebram a cultura do seu país, incluindo uma obra teatral, realizada em novembro por ocasião do mês dedicado ao cancro da mama. Além disso, é membro ativo da Associação de Poetas de Tete, onde trabalha para fomentar a criatividade e a expressão artística entre jovens poetas locais.
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Claudia também tem realizado atividades na promoção da literatura e da cultura através de festivais de poesia e eventos culturais. Nestes eventos, colocou estantes com livros para venda, destacando a importância da literatura na vida cultural de Tete.
Uma das maiores conquistas de Claudia é a publicação do seu livro, “A almadia de remos negros”, que veio à estampa sob o selo da Chiado Editores.
Eliana Nzualo: A Contadora de Histórias de Moçambique
Eliana N'Zualo, uma talentosa storyteller moçambicana, sediada em Maputo, forjou um caminho literário que se entrelaça com as questões da mulher, da África, da História e da Política. O seu percurso no mundo da escrita começou cedo, quando desde pequena escrevia pequenos poemas e cartas. A sua família e as pessoas do seu meio apoiaram o seu amor pelas palavras e pela escrita, brindando-a com um ambiente propício para o seu desenvolvimento artístico.
Eliana N'Zualo é conhecida pelo seu blog "Escreve Eliana, Escreve", onde se dedicou a dar visibilidade à literatura de mulheres africanas e a explorar temas invisíveis na literatura. Este espaço converteu-se numa plataforma para partilhar as suas ideias e promover a literatura feminina em Moçambique e além-fronteiras.
Como parte fundamental do colectivo “Matabicho Feminista”, em 2018, Eliana esteve envolvida na discussão de temas feministas variados e relevantes. O seu ativismo e paixão por questões de género refletem-se no seu trabalho e no seu compromisso com a igualdade e a justiça social.
Eliana N’Zualo también é autora do seu primeiro livro “O Elefante Tendai e os Primos Hipopótamos”, publicado en 2019 pela editora Fundza. O enfoque literário incorpora elementos da tradição oral moçambicana, bem como a influência de clássicos como “O Principezinho”.
A escrita de Eliana abarca mais do que a escrita em papel, já que se dedica à poesia falada e à colaboração com outros artistas. Acredita no poder da poesia falada para atingir um público mais vasto e comunicar de forma mais efectiva.
Eliana N’Zualo participou em numerosas residências artísticas e festivais em Moçambique e no estrangeiro, o que lhe proporcionou oportunidades para colaborar e partilhar as suas ideias com outros artistas de todo o mundo. O seu
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trabalho on-line também contribuiu para a su visibilidade e alcance global. Apesar do seu activismo e compromisso com questões sociais, Eliana N’Zualo vê a sua escrita principalmente como uma forma de arte e expressão pessoal. Não procura evangelizar nem impor as suas opiniões, mas partilhar os seus pensamentos e emoções através da arte.
Num mundo onde a literatura e a cultura são cada vez mais importantes, Eliana N’Zualo emerge como uma voz influente que desafia as normas e abre caminhos para a literatura feminina africana. A sua capacidade para contar histórias e a sua paixão pela escrita convertem-na numa figura importante na cena literária de Moçambique.
Énia Lipanga: Poetisa, Activista e Defensora da Inclusão em Moçambique
Énia Lipanga, conhecida artisticamente como Énia Wa Ka Lipanga, é uma destacada poetisa, activista e animadora cultural nascida em Maputo. Ao longo da sua vida, Énia utilizou a sua arte e paixão pelo activismo para abordar questões cruciais relacionadas como os direitos das mulheres, a inclusão e a luta contra a violência de género.
Desde tenra idade, Énia mostrou um grande interesse pela poesia e a escrita. Iniciou a sua carreira artística e o seu activismo na escola, onde escrevia poesias que tratavam questões sobre a vida das crianças na sua comunidade. A sua professora de língua portuguesa apoiou-a e ofereceu-lhe os primeiros livros de poesia que Énia teve nas mãos. Este apoio desde cedo inspiraram-na a continuar a sua viagem no mundo das letras e o activismo.
Uma das áreas na qual Énia deixou uma marca significativa foi na luta contra a violência de género num contexto cultural profundamente machista. À medida que crescia, a sua consciência sobre as desigualdades de género na sua sociedade intensificava-se, e uniu-se ao grupo “Revolução Feminina”, grupo dedicado a combater a violência contra as mulheres. Através da sua arte e activismo, Énia tornou-se um vetor para que as mulheres denunciassem a violência, incluindo casos de assédio e abuso. Os seus textos, publicados nas redes sociais, tornaram-se um exemplo e permitiram às mulheres partilhar as suas experiências, identificaremse unas com as outras e tomarem consciência das formas como o amor não deve ser confundido nem justificar a violência.
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Énia também se destacou na promoção da inclusão na sociedade moçambicana. Fundou o projecto cultural “Palavras são palavras”, que promove a literatura através da poesia, da música e do teatro. Além disso, é mentora do projecto “IncluArte”, que visa a participação e inclusão de pessoas com incapacidades, incluindo pessoas cegas e surdas, na vida cultural.
Uma das suas contribuições mais importantes para a inclusão foi a publicação do primeiro livro de poesia em braille de Moçambique, intitulado “Sonolência e alguns rabiscos”, apresentado no Dia Mundial do Braille. Este livro aborda temas como o amor, o género e a inclusão, e representa um marco na promoção da acessibilidade e da literatura inclusiva em Mozambique.
Énia Lipanga também foi rapper e uma defensora apaixonada nos direitos das mulheres ao longo da sua carreira. O seu compromisso com a igualdade de género levou-a a enfrentar desafios e ameaças, mas continua a ser uma voz poderosa na luta por um Moçambique mais inclusivo e equitativo.
Hirondina Joshua: Uma Viagem Literária por uma Imaginação menos usual
Nascida na cidade de Maputo em 1987, esta destacada poetisa, prosadora e jurista moçambicana deixou uma marca significativa no mundo literário e artístico.
Reconhecida pelo seu trabalho como curadora da coluna literária “Exercícios da Retina” na plataforma Mbenga - Artes e Reflexões, contribuiu enormemente para a divulgação de textos e conversas com autores lusófonos.
As suas obras foram publicadas em Moçambique, Portugal, Brasil e México, demonstrando seu alcance internacional. O seu livro “Os Ângulos da Casa” não só foi aclamado no âmbito literário, mas também inspirou uma peça de dança no Brasil pelo Pepalantus Núcleo. Em 2022, o seu livro “Córtex” foi traduzido para o espanhol e editado no México através da Linha de Apoio à Tradução e Edição (LATE), um projeto que visa fortalecer a presença literária lusófona no mundo.
Entre as suas obras publicadas encontram-se, em poesia: “Os Ângulos da Casa” (2016), “A Estranheza Fora da Página” (coautoria com Ana Mafalda Leite, 2021), “Córtex” (2021) e “Câmara de Ar” (2023), e em prosa: “Como Um Levita À Sombra dos Altares” (2021).
Ela representou o seu país em inúmeros eventos internacionais, incluindo o
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Festival Literário de Macau, Correntes d’Escritas, o Festival Internacional de Poesia de Barcelona, Lisbon Revited na Casa Fernando Pessoa e o Festival Internacional do Livro de Edimburgo.
Desde os 12 anos, influenciada pelo seu pai, um ávido leitor, desenvolveu um profundo interesse pelos livros. Mergulhou na literatura russa, filosofia, história universal e mitologia grega, bem como nas obras de autores moçambicanos e outros internacionais, o que despertou a sua paixão pelo experimentalismo. Durante a sua educação secundária, teve um professor de língua portuguesa que organizava concursos literários e eventos com autores moçambicanos, fomentando o seu amor pela literatura. À medida que a sua carreira avançava, colaborou com grupos literários e participou em antologias, aumentando o seu reconhecimento em círculos literários, tanto em Moçambique como no exterior.
O seu primeiro livro foi prefaciado pelo renomado escritor Mia Couto. A escrita desta autora reflete a sua personalidade introvertida; é uma mestra da linguagem, abordando temas ontológicos e desafiando convenções para oferecer novas perspectivas. Para ela, a literatura é um caminho para o renascimento.
Lica Sebastião: Renascendo Através da Poesia e das Artes Plásticas
Lica Sebastião é uma destacada artista visual e poeta moçambicana. Embarcou na sua viagem artística depois dos 40 anos, o que a coloca no âmbito das artes contemporâneas. O seu interesse pela arte teve a sua inspiração nas obras clássicas, como as de Miguel Ângelo, o que, mais tarde, a levou a explorar o mundo da arte e da poesia em busca da sua própria expressão criativa.
Mesmo sendo professora de Português, Lica Sebastião sentia necessidade de se preencher, o que a levou a buscar outros campos para além do trabalho docente. O seu desejo de criar e cultivar a expressão artística levou-a a estudar artes plásticas e poesia. Uma vez que não teve formação formal em Belas Artes, contactou um mestre das artes que lhe ministrou noções de desenho e pintura. A escrita literária foi brotando quase em simultâneo e, com o tempo, a desenvolver o seu próprio estilo artístico.
O seu trabalho baseia-se no uso de materiais reciclados ou considerados inúteis, o que lhe permite dar nova vida aos objectos descartados e criar uma arte única e expressiva. O seu enfoque na reutilização e na criatividade fazem-na experimentar
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técnicas que mesclam diversos materiais, como peças de automóveis, tubos de escape e outros itens de uso quotidiano. Lica Sebastião participou de várias exposições, tanto colectivas, como individuais, consolidando a sua presença na
cena artística de Moçambique. Também é autora de diversas obras de poesia, nas quais recorre à palavra como uma forma de expressão profunda e pessoal.
O seu trabalho artístico e literário destacou-se tanto a nível nacional como internacional, o que lhe permitiu colaborar com outros artistas e partilhar a sua perspectiva única com um público mais vasto.
Apesar dos desafios, Lica Sebastião demonstrou o seu compromisso com a criação e expressão artística como uma forma de enriquecer a sua vida e a dos outros. A sua história é um testemunho de como a arte pode ser uma fonte de inspiração e realização.
Lica Sebastião é autora das obras “de terra, vento e fogo” (2015), “Ciclos da minha vida” (2015) e “Poemas sem véu” (2011).
Lilia Momplé: A Narradora que Desafia as Injustiças
Lilia Momplé é uma destacada escritora moçambicana, nascida na Ilha de Moçambique. Ao longo da sua vida, contribuiu significativamente para a literatura africana em língua portuguesa e foi uma defensora dos direitos humanos e da igualdade de género no seu país.
Desde tenra idade, Momplé foi influenciada pela sua avó materna, que lhe contava histórias e lendas da cultura macua, uma etnia que tinha uma tradição oral rica. Estas histórias despertaram o seu amor pela narração e a literatura. Também tevo influências literárias de autores como Eça de Queirós, Fernando Pessoa e o poeta moçambicano José Craveirinha.
Lilia Momplé começou a sua carreira como professora, mas deu-se conta, imediatamente, da sua paixão pela escrita. Os seus primeiros contos, publicados pela Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) na década de 1980, abordavam questões importantes como a segregação racial colonial, a violência e a discriminação. As palavras foram um meio para expressar as suas experiências e desafiar as injustiças que presenciou em Moçambique durante a época colonial.
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Ao longo da sua carreira, Momplé foi uma forte defensora dos direitos humanos e da igualdade de género no seu país. Ocupou cargos importantes em organizações literárias e representou Moçambique na UNESCO. A sua obra literária, que inclui livros como “Neighbors”, “Ninguém Matou Sahura” e “Os Olhos da Cobra Verde,” foi reconhecida internacionalmente e recebeu prémios literários como o Prémio José Craveirinha de Literatura e o Prémio Caine para Escritores de África.
A sua obra literária aborda temas como a educação, os papéis tradicionais das mulheres e as questões de raça, classe e género na sociedade moçambicana. Através das suas histórias, procurou dar voz às pessoas marginalizadas e desafiar as estruturas de poder injustas.
Sandra Tamele: Transformando a tradução literária em Moçambique
Sandra Tamele nasceu em Pemba, Moçambique. Na década de 1980, deslocouse com os pais para a cidade de Maputo, onde reside actualmente. Tem uma licenciatura em arquitetura pela Universidade Eduardo Mondlane de Moçambique e um diploma em tradução do Institute of Linguistics Educational Trust do Reino Unido. Fala português, inglês e italiano, e está a estudar alemão, mandarim e a língua gestual moçambicana. Começou a sua carreira como tradutora em 2002 e em 2004 estabeleceu o seu próprio serviço de tradução, SM Traduções.
Em 2007, fez história ao tornar-se a primeira moçambicana a traduzir e publicar literatura com a sua primeira tradução do romance de Niccolò Ammaniti, "Io non ho paura," para o português. A partir de 2010, envolveu-se em iniciativas filantrópicas para promover a tradução literária em Mozambique, o que a levou a criar o Concurso Anual de Tradução Literária que ela patrocina e organiza desde 2015, e a fundar a Associação Moçambicana de Tradutores e Intérpretes (MTIA), em 2016.
Em 2018, Sandra fundou a Editora Trinta Zero Nove, uma editora independente, com o propósito de publicar uma coleção de contos traduzidos pelos vencedores do concurso e celebrar o Dia Internacional da Tradução, 30 de Setembro. Esta iniciativa valeu-lhe uma Menção Especial nos Prémios de Excelência da Feira do Livro de Londres em 2020.
A Editora TrintaZeroNove tem como objectivo trazer a inclusão e a diversidade para a cena literária moçambicana mediante a tradução e a publicação principalmente de autoras, ou de escritores com incapacidades e outras minorias, em formatos
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impressos e de audiolivros. Os audiolivros eram populares entre as famílias das classes trabalhadora nos finais dos anos setenta, mas desde então foram descontinuados, e esta editora está a fazer com que todos os seus títulos estejam disponíveis tanto em CD como digitalmente a partir do seu sítio web favorável aos leitores em ecrã e com vendas eletrónicas.
A Editora tem como objectivo publicar 12 títulos novos por ano e o seu catálogo caracteriza-se por apresentar muitas traduções para o português de obras literárias. Também tem um projecto de expandir-se nos próximos 5 anos, apresentando escritores moçambicanos em inglês e nas principais línguas moçambicanas: macua, sena e changana.
Além do seu trabalho editorial, Sandra Tamele é uma intérprete e tradutora ajuramentada do inglês e italiano para o português moçambicano. A sua contribuição para a tradução literária e o seu compromisso com a promoção da diversidade na literatura tornaram-na numa figura influente na cena cultural de Moçambique e além fronteiras. A sua paixão pelos idiomas e pela literatura levaram-na a colaborar com autores de renome, incluindo prémios Nobel da Literatura como Wole Soyinka e Naguib Mahfouz. O seu trabalho foi reconhecido com numerosos prémios e distinções, incluindo o Prémio PEN Translates em 2022, e contribuiu significativamente para a difusão da literatura internacional em Moçambique.
Teresa Helena Vieira Cordato de Noronha: Uma Vida Dedicada à Literatura e à Educação
Teresa Helena Vieira Cordato de Noronha nasceu na antiga cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, em 1965. Fez todos os seus estudos em Moçambique até concluir a sua licenciatura em Agronomia, na Universidade Eduardo Mondlane, em 1986.
Trabalhou como assistente da cadeira de Gestão e Planificação Agrária nesta Universidade até 1988, altura em que foi para França fazer um mestrado em Desenvolvimento Rural. Permaneceu em França até 1991 e decidiu ir viver para Portugal onde permaneceu até 2004. Durante esse período tirou o diploma superior de Língua Francesa e o diploma de Língua e Literatura da Alliance Française e fez um curso de Tradução e Retroversão na mesma instituição de ensino.
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Entre 1991 e 1996 deu aulas de Matemática e Francês, em Lisboa e Angra do Heroísmo ao mesmo tempo que fazia tradução literária para várias editoras portuguesas.
Entre 1996 e 2004 dedicou-se à tradução literária e trabalhou na editora Fim de Século e mais tarde criou a editora Íman Edições. Nestas duas editoras produziu cerca de cinquenta livros.
De regresso a Moçambique, criou, na Escola portuguesa de Moçambique um departamento editorial onde publicou até ao momento cerca de 70 títulos, na sua maioria de literatura infantojuvenil de autores e ilustradores moçambicanos.
Muitos dos títulos publicados integraram em Portugal o Plano Nacional de Leitura e No Brasil foram distinguidos com o selo de altamente recomendáveis.
É escritora, tendo publicado o livro infantil A Viagem de Luna, Prémio Alcance 2015 e Tornado, Prémio Maria Velho da Costa, em 2020 e Prémio Pen Clube da Narrativa em 2021; tendo sido uma das dez finalistas do Prémio Oceanos de 2022.
Vânia Óscar: A Escritora que não Aceitou um “não” como Resposta
Vânia Óscar, escritora nascida na Beira, Moçambique, em 1986, é uma artista apaixonada que forjou o seu caminho no mundo da literatura e das artes cénicas a pesar dos desafios que enfrentou ao longo da vida.
Desde tenra idade, Vânia demostrou interesse pelas artes, incluindo a música, o teatro e a literatura, especialmente a poesia. O seu amor pelo teatro levou-a a imitar personagens de novelas e a envolver-se em atividades teatrais junto com os seus primos em Nampula, onde viveu durante seis anos. Durante este tempo, Vânia aprendeu a ler com a ajuda da sua tia e desenvolveu uma paixão pela leitura e a escrita.
A vida de Vânia não foi isenta de dificuldades, visto que a sua mãe faleceu de tuberculose, o que a fez regressar à Beira. Nesse momento, enfrentou dificuldades económicas e sociais na sua comunidade, onde as expectativas tradicionais de género eram restritivas para as raparigas. Era, com frequência, considerada rebelde por questionar estas normas e pelo seu anseio de continuar a estudar e seguir os seus interesses artísticos.
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Apesar das dificuldades, Vânia continuou a sua busca pelo conhecimento e educação. O seu amor pela leitura fê-la transcrever textos para o seu caderno e declamar poesia. Durante o ensino secundário, escreveu poesia e escreveu um diario, o que lhe daba uma sensação de liberdade e um meio para expressar os seus sentimentos.
Além da sua participação no teatro e na música afro-jazz, Vânia também teve uma incursão pelo jornalismo e escreveu poemas, alguns dos quais foram publicados no jornal Diário de Moçambique.
Em 2020, durante a pandemia, Vânia foi desafiada pelo seu amigo Danny Wambire da Editora Fundza a escrever literatura infantil e juvenil, algo que nunca tinha pensado. No entanto, aceitou o desafio e escreveu “A Formiga Mimi e a Sombra que Acabou,” uma obra que aborda questões do meio ambiente e da importância de cuidar do planeta.
Vânia também tem sido uma defensora apaixonada da promoção da leitura e da literatura em Moçambique. Denunciou a falta de livrarias e bibliotecas nas escolas, bem como a necessidade de mais oportunidades para que as crianças possam aceder aos livros. Sonha com um futuro em que haja mais livros nas escolas e mais apoio para os escritores locais.
Virgília Ferrão: Explorando Universos e Questões do Meio Ambiente através da Escrita
Nascida em Maputo, Virgília Ferrão é uma destacada escritora e autora moçambicana.
A sua infância foi marcada pela migração, porque teve de sair de Maputo para Tete muito cedo, o que dividiu a sua educação primária entre estas duas províncias. Posteriormente, completou a sua educação secundária em Maputo e em Melbourne, na Austrália. Obteve a sua licenciatura em Direito pelo Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), em 2008, e mais tarde fez um mestrado em Meio Ambiente na Austrália em 2011.
Virgília Ferrão é conhecida pelo seu talento literário e a sua capacidade para abordar temas complexos na sua obra. O seu primeiro livro, “Romeo é Xingondo e a Julieta Machangana” (2005), explorou as questões de identidade e aceitação no contexto das diferenças étnicas em Moçambique.
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En 2016, publicou “O Inspector de Xindzimila”, uma novela de mistério que explora temas de amor, humildade e família no contexto de una pequena vila moçambicana. Esta obra foi publicada pela editora brasileira Selo Jovem e destacou a sua capacidade para escrever em diferentes géneros literários.
Um dos aspectos mais notáveis da obra de Virgília Ferrão é o seu compromisso com as questões ambientais e sociais. O seu romance mais recente, “Sina de Aruanda” (2021), aborda questões do meio ambiente e desafíos apocalípticos, reflectindo a sua experiência e paixão no campo do direito ambiental.
Além da sua obra literária, Virgília Ferrão também é conhecida por ser a criadora do blog “Diário de Uma Qawwi”, onde promove a literatura de ficção científica e especulativa e a escrita criativa em Moçambique.
Apresença de mulheres na cena cultural de Moçambique foi emergindo com uma diversificação notável ao longo dos anos. Desde a geração que viveu a independência do país, que viu nascer marcos como a criação da primeira companhia de teatro moçambicana profissional, até à chegada de uma nova geração de artistas que exploram novas formas de expressão artística, como a fotografia, o DJing e o desenho gráfico. A presença e participação ativa das mulheres em todos os sectores da arte é um motivo de celebração, já que reflete o mosaico de uma nação diversa e vibrante.
A determinação e paixão destas artistas são verdadeiramente inspiradoras, e servem como testemunho do seu firme compromisso com a expressão artística. Apesar dos desafios socioeconómicos que, frequentemente, enfrentam, estas mulheres embarcam corajosamente na busca de conseguir nutrir e fazer florescer a sua arte. A sua dedicação e perseverança são um foco de criatividade no panorama cultural de Moçambique.
Recomendações para o sector
Política Pública
Integração de uma perspetiva de género nas políticas públicas: É essencial incorporar uma perspetiva de género nas políticas públicas relacionadas com a arte, como o Estatuto do Artista. Isto implica abordar aspectos cruciais como o equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada, bem como a atenção à saúde das mulheres artistas, a fim de promover um ambiente mais equitativo e propício ao seu desenvolvimento no domínio artístico.
Regulação e transparência do sector para estabelecer melhores contratos e pautas salariais: A regulação da figura do artista também deveria incluir medidas para promover a transparência na remuneração e condições laborais, de modo que as mulheres artistas possam ter acesso a informação sobre tarifas e salários de referência nas suas respetivas áreas. Isto ajudaria a eliminar possíveis diferenças salariais e a fomentar uma maior equidade no pagamento pelo seu trabalho artístico. Além disso, estabelecer-se pautas claras para a elaboração de contractos que protejam os direitos laborais e artísticos das mulheres ajudaria a evitar
85 5.Conclusões
situações de exploração ou desigualdade.
Atenção à segurança social e seguros de saúde: Para garantir o bem-estar e a proteção das artistas, é necessário abordar a questão da segurança social e os seguros de saúde. Devem buscar-se soluções que garantam estabilidade económica e cobertura de saúde adequada para as artistas, tendo em conta as particularidades dos seus rendimentos irregulares e baixos.
Fortalecimento da educação artística superior: É imprescindível fortalecer a educação artística superior, proporcionando recursos adequados e oportunidades de formação avançada para as mulheres artistas. Isto inclui o desenvolvimento de programas especializados em disciplinas emergentes, como fotografia ou moda, para fomentar o crescimento e a especialização das artistas em novas áreas criativas.
Sociedade civil
Fomento do networking entre mulheres artistas: É essencial promover espaços de encontro e networking entre mulheres artistas em Moçambique. Estas instâncias de colaboração e conexão facilitarão o intercâmbio de ideias, experiências e oportunidades profissionais, fortalecendo assim a comunidade artística feminina. O networking permitirá criar laços de apoio mútuo, propiciando a colaboração em projectos conjuntos e o impulso de iniciativas culturais lideradas por mulheres. Além do mais, poder-se-iam organizar eventos, oficinas e plataformas virtuais que facilitem o contacto e a interação entre artistas de distintas áreas, promovendo a criação de redes sólidas que contribuam para o crescimento e visibilidade do talento artístico feminino no país.
Estabelecer uma base de dados ou promover a difusão das biografías de artistas moçambicanas em plataformas como Wikipedia, com o fim de ampliar a sua presencia online e visibilidade.
Económicas
Aumento do investimento no sector cultural: Recomenda-se um aumento do investimento no sector cultural, adoptando uma visão a mais longo prazo que transcenda os eventos pontuais. Isto implica dotar de maior capital iniciativas e empresas culturais, seja mediante a reactivação da Lei do Mecenato no sector privado ou através da cooperação para o desenvolvimento ou no sector público.
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Aproveitamento de oportunidades de digitalização: É importante explorar formas de fortalecer as oportunidades que a digitalização oferece para a arte e a sua internacionalização. Isto inclui promover encontros on-line das artistas, gerar rendimentos através de plataformas digitais e ampliar o acesso ao marketing e a meios de difusão das suas obras.
Incentivo à industrialização em áreas culturais chave: Uma visão a longo prazo poderia considerar o incentivo à industrialização em áreas estratégicas para os sectores culturais, como a edição literária ou a produção de moda. Isto fomentaria o crescimento económico sustentável no sector e abriria novas oportunidades de emprego e empreendimento para as mulheres artistas.
6.Referências bibliográficas
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Farinha, C., y Moucha, M. (2022). Framework Contract SIEA 2018 Lot 4: Human Development and Safety Net Specific Contract: 300020858 — SIEA-2018-4699 Ela-
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UNESCO, y UIS (2017). Precarious situation for women working in the field of culture.
https://uis.unesco.org/sites/default/files/documents/fs47-precarious-situation-women-working-field-culture-2017-en.pdf
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Voices of Culture (2020). Gender Equality: Gender Balance in the Cultural and Creative Sectors.
https://voicesofculture.eu/wp-content/uploads/2020/02/VoC-Brainstorming-Report-Gender-Balance-in-the-Cultural-and-Creative-Sectors.pdf
Anexo I – Modelo de consentimento informado
Consentimento Informado de participação no estudo
“Mulher
e Arte Contemporânea em Moçambique”
Foi convidada a participar num estudo de investigação conduzido por Clara Pavón Estradé, no âmbito do projecto de investigação “Mulher e Arte Contemporânea em Moçambique” para a Agência de Cooperação Espanhola. A sua participação é voluntária.
OBJECTIVO DO ESTUDO
O objectivo do estudo é fazer um diagnóstico da situação da mulher nas artes em Moçambique, destacar o seu trabalho artístico e o seu contributo para a cultura do país. A informação recolhida será usada exclusivamente para um estudo de pesquisa para a Agência de Cooperação Espanhola.
PROCEDIMENTOS
Se quiser ser voluntária no estudo, a sessão será gravada com prévio consentimento e serão tomadas notas escritas. As gravações e notas serão utilizadas apenas para efeitos de análise das opiniões da participante e servirão apenas como material informativo para contar as histórias de vida no mencionado estudo. As fotos serão voluntárias e utilizadas exclusivamente para a capa do estudo e a secção biográfica.
☐Eu autorizo a gravação de esta entrevista.
☐Eu autorizo a captação e o uso das fotos para o estudo.
☐ Não autorizo a gravação de esta entrevista.
☐ Não autorizo a captação e o uso das fotos para o estudo.
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TRATAMENTO DE DADOS
O tratamento dos dados obtidos garante o anonimato dos participantes se assim o indicarem. Para as histórias de vida os nomes das participantes serão colocados no estudo na secção biográfica. Nenhum dado será tornado público sem o prévio consentimento dos interessados. Clara Pavón Estradé, autora da pesquisa, assegura que qualquer publicação, incluindo a publicação na Internet, nem directa, nem indirectamente, levará a uma violação da confidencialidade acordada.
CONFIDENCIALIDADE
Qualquer informação obtida no âmbito do presente estudo não será divulgada sem a sua prévia permissão. Serão tomadas medidas para proteger os dados pessoais contra destruição acidental ou ilícita ou perda acidental, alteração, divulgação ou acesso não autorizado. Os dados serão hospedados em servidores seguros e alojados em salas de servidores fisicamente seguras. Como parte de uma política de mitigação de riscos, procedimentos de backup de dados e recuperação de desastres serão implementados para proteger os dados.
RECUSA EM PARTICIPAR
É inteiramente livre de participar ou não neste estudo. Se se voluntariar para participar no estudo, é livre de se retirar a qualquer momento sem consequências de qualquer tipo. Também é livre de recusar responder a qualquer pergunta ou de participar numa actividade específica.
RISCOS POTENCIAIS
O estudo não envolve qualquer risco potencial, quer sejam sociais, legais ou financeiros.
CONTEXTO DO ESTUDO
Este estudo é financiado no âmbito das bolsas de Gestão Cultural da Agência da Cooperação Espanhola.
IDENTIFICAÇÃO DE INVESTIGADORES
Se tiver qualquer questão ou dúvida com este estudo, poderá contactar: Clara Pavón Estradé através do email colaboradores.cpe@maec.es . Compreendo os procedimentos acima descritos. As minhas questões foram respondidas de forma satisfatória e concordo em participar neste estudo. Foi-me dada uma cópia deste protocolo.
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Data e Lugar
Nome Completo
Assinatura
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Agradecimentos
Quero expressar o meu mais sincero agradecimento à Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo por me dar a oportunidade de realizar este estudo. Durante toda a minha vida, sonhei poder contribuir para a visibilização da mulher na arte, e este estudo deu-me a oportunidade de tornar realidade este anseio. Qualquer erro que este comporte, é da responsabilidade exclusiva da autora.
Uma das lembranças que ficou mais marcada na minha mente foi quando, numa aula de Língua e Literatura na escola secundária, perguntei ao meu professor: "Por que não lemos ou estudamos à mulheres escritoras?" Ele reconheceu que isso era uma lacuna no nosso sistema educativo e que a minha geração tinha o poder de mudar essa realidade. Por isso, mais de que a ninguém, quero endereçar o meu agradecimento a Alejandra López, Encarregada de Assuntos Consulares, Culturais e Administrativos da Embaixada de Espanha em Maputo, por sugerir o tema deste estudo sobre a mulher e a arte. Nada teria sido possível sem a sua crença em mim e o seu apoio continuado durante estes meses. Este momento foi uma chama que avivou o meu compromisso com a causa da mulher na arte e conectou-se com o meu "eu" adolescente.
Da mesma forma, quero estender a minha gratidão a toda a equipa da Embaixada de Espanha em Maputo: ao comprometido Embaixador Alberto Cerezo, fervoroso defensor do feminismo em palavras e ações; Ximena Bartolomé, que me deu a oportunidade de assistir ao Programa RAISA, onde pude presenciar o empoderamento de líderes moçambicanas de todos os cantos do país, às mulheres de referência como Vicky, Belén, Lola e Lula, bem como ao meu companheiro do dia a dia, Noa, que me ensinou tanto sobre a beleza e a riqueza cultural do seu país.
Não encontro palavras suficientes para agradecer às 48 artistas que abriram os seus corações para serem entrevistadas e participaram neste estudo, explorando aspetos íntimos das suas vidas. Obrigada a todas vós, aprendi valiosas lições sobre a arte, a vocação e o amor. Levo comigo todos os sabores, sons e texturas de Moçambique através da vossa música, poesia, moda, dança, teatro, cinema e artes plásticas.
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Também quero agradecer ao governo de Moçambique, em especial ao senhor Iván Bonde do Ministério da Cultura, pela sua abertura e disposição para partilhar informação, bem como à Matilde Moucha, Diretora do Instituto das Indústrias Culturais e Criativas, pelo seu valioso tempo e contactos. Agradeço à historiadora de arte, Alda Costa, por me abrir as portas da sua casa e arquivo, o que me permitiu ter conversas enriquecedoras e um valioso feedback. Os meus agradecimentos também são extensivos a Elodie, da 16Neto, e Carolin, do CCMA, cuja generosidade em dispor de tempo e orientação para as mulheres artistas foi de grande valor neste caminho. Quero expressar o meu reconhecimento a Ofélia da Silva, da UNESCO, pela sua lucidez ao analisar o ecossistema legislativo cultural de Moçambique e os desafios que enfrenta. A Gabriel Mondlane, obrigada por me guiar no percurso pela história do cinema moçambicano, que representa a construção mesma de um país.
Ao Mauro Brito, da Ethale Publishing, e Danny Wambire, da Editora Fundza, pela disponibilidade para falar e recomendar livros.
Gostaria de expressar meu agradecimento a Teresa Noronha e António Cabrita por suas valiosas contribuições na tradução do texto para o português e por suas generosas recomendações que enriqueceram este estudo.
Nada disto teria sido possível sem o apoio incondicional dos meus pais, Luís e Montse, minhas inspirações maiores; da minha avó Margarita, que me ensinou a valorizar a importância de uma boa educação; e do meu irmão Arturo, que foi um exemplo de disciplina e inteligência. Agradeço aos meus amigos de toda a vida: Marta, Helena, Martín, Álex, Dani y Elsa, e às pessoas que conheci no caminho: Inés, Paola, Aisha e Aitana, que contribuíram a construir-me como pessoa.
Por último, quero expressar o meu mais profundo agradecimento às pessoas que Maputo me ofereceu, Adriano e Ester, pelo apoio e por estarem presentes em cada crise existencial. A vossa amizade foi um pilar importante na minha vida, e estarvos-ei eternamente agradecida por isso.
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TRADUÇÃO PARA ESPANHOL
Desde el ensayo pionero de Linda Nochlin en 1971, titulado “¿Por qué no ha habido grandes mujeres artistas?”, esta cuestión ha adquirido relevancia en los estudios de arte feminista, aunque originalmente se centraba en el contexto occidental. Sin embargo, surge la pregunta de si esta misma problemática merece ser abordada en un lugar como Mozambique, especialmente en su historia reciente desde la creación del Estado-Nación. La respuesta no es sencilla. Al iniciar este estudio, muchas personas me aseguraron que apenas existían mujeres artistas o que eran significativamente menos numerosas que los hombres en Mozambique. En un principio, esta respuesta podría haberme alentado, ya que implicaba que mi tarea sería más sencilla porque este estudio abordaría una temática muy amplia. Sin embargo, a medida que profundicé en el tema, mi perspectiva cambió. Descubrí que en todos los ámbitos artísticos había mujeres artistas; tal vez no les estábamos prestando suficiente atención. Si bien su presencia en el teatro, la música y la danza se mencionaba a menudo, también encontré un florecimiento en las artes plásticas y el ámbito audiovisual y literario del país. Quizás no estábamos mirando lo suficientemente cerca, no estábamos profundizando lo necesario. Es posible que los hombres acapararan más la atención mediática y pública. Quizá los rostros anónimos de mujeres dedicadas a las artes escénicas y la escritura, que optaban por guardar sus obras en un cajón debido a dificultades económicas, falta de oportunidades o reconocimiento, planteaban interrogantes más complejas de medir. En este estudio, no he llegado a respuestas definitivas sobre estas cuestiones, ni sobre si hay más mujeres que hombres en diferentes áreas del universo artístico.
Mi tarea ha sido más humilde. Este trabajo representa una pequeña contribución, una gota en el océano, para vislumbrar la diversidad de voces y mujeres dedicadas al arte en un país tan extenso como Mozambique. Reconozco que no pude abarcar todo lo que me hubiese gustado, ni pudo ser tan representativo como hubiese deseado, pero mi objetivo final fue reflejar las historias de vida de diversas artistas, priorizando lo cualitativo sobre lo cuantitativo, porque existen y han existido mujeres en todos los campos artísticos de Mozambique.
96 1.Introducción
Para enfocar el estudio, me centré en el arte más contemporáneo, sin dejar de lado ni olvidar a las artistas que han sido fundamentales en la historia de Mozambique desde sus inicios como Estado-nación, como las de Noémia de Sousa, Bertina Lopes, Lina Magaia, Moira Forjaz, Isabel Noronha, Zaida Chongo y Reinata Sadimba, y tantas otras que han dejado una huella significativa en el panorama artístico del país.
Después de la independencia en Mozambique, en pleno contexto de la Guerra Fría, surgió el concepto de “Hombre Nuevo”, una “figuración mitológica” heredada de los países de la esfera socialista, y una idea de nación un tanto rígida, impulsada por la necesidad de construir una unidad política centrada en las fronteras que se habían establecido durante el período colonial. Sin embargo, ya en la década de los noventa y en contraposición a ese modelo inicial, se comenzó a dar cada vez más importancia a la diversidad cultural y a la idea de que Mozambique es, en realidad, un mosaico de naciones, de idiomas y de multiplicidad cultural. Creo que esta diversidad también debe dar cabida a los diferentes conceptos de ser mujer. Las historias de vida plasmadas en este estudio son un reflejo de este mosaico.
Con el objetivo de mejorar la comprensión de sus contribuciones, desafíos y aspiraciones, este estudio se ha basado en una metodología que incluyó entrevistas con informantes clave y un mapeo de las mujeres artistas de diferentes partes del país a las que se pudo acceder. Además, se recolectaron sus biografías y datos sobre su situación socioeconómica para obtener una visión completa de los desafíos que enfrentan en la actualidad. La estructura del estudio consta de una exploración de la metodología utilizada, seguida de un análisis del estado de la cuestión centrado en aspectos socioeconómicos, y concluye con un análisis breve de cada sector junto con las biografías correspondientes de las mujeres involucradas en esas áreas.
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2.Metodología
El estudio se llevó a cabo utilizando una metodología mixta. En primer lugar, se realizó una exhaustiva revisión bibliográfica que abarcó estudios similares realizados en otros países (Dongo, 2017; Voices of Culture, 2020; European Union, 2022; Ontario Arts Council, 2018; Corbat & González, 2020). Dado que no existen estudios similares en Mozambique en la actualidad, se hizo necesario recurrir a investigaciones sectoriales sobre el ámbito cultural en Mozambique, así como libros de historia del arte. Además, se realizaron consultas a informantes clave, como Alda Costa, la historiadora de arte más reconocida del país, y gestores culturales de centros extranjeros. Asimismo, se llevaron a cabo entrevistas con la Directora del Instituto de Industrias Culturales y Creativas, el Director del Directorio de Industrias Culturales y Creativas del Ministerio de Cultura y la representante del programa cultural de la UNESCO. Estas consultas permitieron diseñar las herramientas de investigación necesarias.
Para recopilar los datos de los cuestionarios mixtos, se utilizó la herramienta KoboTool. Estos cuestionarios incluyeron preguntas de opción múltiple y respuestas cortas, lo que permitió obtener una visión completa del sector y facilitar la comparación de los datos recopilados. Además, se llevaron a cabo entrevistas semiestructuradas con una duración variable de media hora a dos horas, según la disponibilidad y disposición de cada participante. En total, se realizaron 54 entrevistas, de las cuales 46 fueron con mujeres que trabajan en el ámbito del arte y la cultura, entre noviembre de 2022 y junio de 2023. Dos artistas fueron añadidas posteriormente en noviembre de 2023. Asimismo, 40 participantes respondieron al cuestionario de Kobo. Para presentar los datos preliminares del estudio, se llevó a cabo una sesión mixta en Maputo y por Zoom con artistas participantes el 29 de junio de 2023 para recibir sus contribuciones (Ilustración 1). De la misma manera, una vez que se finalizó el borrador del estudio, este se compartió con las artistas participantes para añadir sus cambios y recomendaciones.
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Ilustración 1. Sesión de difusión de los resultados preliminares del estudio en la oficina de la AECID en Maputo
La selección de las participantes se realizó mediante un muestreo intencional (“purposive sampling”), eligiendo aquellas que eran referentes en el sector o que fueron recomendadas por diversos agentes culturales. Posteriormente, se aplicó el método de muestreo de bola de nieve (“snowball sampling”), en el cual las entrevistadas recomendaban y facilitaban el contacto con otras personas. También se contactó a participantes a través de redes sociales como Instagram o Twitter, y se utilizó la base de datos proporcionada por la Embajada de España a lo largo de los años. Además, se obtuvo una lista de asociaciones culturales en todo el país proporcionada por la Dirección de Industrias Culturales y Creativas. Esto permitió que la investigadora realizara llamadas a estas asociaciones en busca de mujeres involucradas en las artes, como fue el caso de la Asociación de Danza de Quelimane.
Con esta metodología mixta, se logró obtener una amplia y diversa perspectiva del sector cultural en Mozambique, destacando la participación y experiencia de mujeres en el ámbito artístico y cultural.
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Limitaciones y Delimitaciones
Todo proceso de investigación presenta limitaciones y delimitaciones inherentes. En el caso de los estudios sobre arte, un concepto tan amplio como ambiguo, el campo es vasto y complejo. La pregunta de “¿cómo definir a un artista?” resultó ser un desafío al seleccionar a las participantes. Para abordar esta cuestión, la autora optó por elegir a mujeres que se dedicaran predominantemente a las artes o que aspiraran a hacerlo a tiempo completo si no hubiera limitaciones socioeconómicas, y que tuvieran experiencia consolidada. Además, se esforzó por incluir a las nuevas generaciones de artistas, con el objetivo de llevar a cabo una comparativa intergeneracional.
Sin embargo, algunas áreas, como la escultura, están subrepresentadas en el estudio. Además, aunque la autora consideró incluir a otras trabajadoras culturales, como funcionarias públicas encargadas de la gestión de bibliotecas o mujeres con negocios en ferias artesanales, muy presentes en ambos sectores, tuvo que delimitar el estudio a artistas y gestoras culturales debido a consideraciones del objeto del estudio y tiempo.
Asimismo, es importante destacar que, además de los criterios de selección aplicados en este estudio, existen numerosas artistas en Mozambique que no pudieron ser contactadas durante la fase de investigación, por diversas razones. Esta limitación no refleja de manera completa la riqueza y diversidad del talento artístico presente en el país. Sin embargo, es fundamental comprender que este estudio se centra en proporcionar ejemplos representativos en lugar de establecer que las artistas mencionadas son las únicas referentes en Mozambique o las mejores en sus respectivas disciplinas. El propósito es brindar una visión general y promover la diversidad de voces y expresiones artísticas en Mozambique, reconociendo que muchas otras talentosas artistas contribuyen significativamente al panorama artístico del país.
Es relevante señalar que este estudio tiene un enfoque predominantemente centrado en la región de Maputo. Esta elección se debe a la ubicación geográfica de la autora, con la excepción de un viaje a Beira en febrero de 2023, y a la disponibilidad de información sobre otras provincias. Además, esta concentración geográfica refleja la realidad de que la mayoría de las oportunidades se encuentran en Maputo, lo que a su vez provoca que muchas mujeres emigren a la capital en
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busca de mejores condiciones de vida y desarrollo profesional.
Para mitigar esta limitación, el Ministerio de Cultura proporcionó una lista de asociaciones por provincia, lo que permitió a la investigadora llevar a cabo entrevistas telefónicas con mujeres de otras provincias, como Zambezia, Inhambane y Tete. A pesar de estos esfuerzos, es importante reconocer que la región norte del país está subrepresentada en este estudio. Por lo tanto, en futuras investigaciones se sugiere realizar un mapeo exhaustivo de dicha región, así como de aquellas con una rica historia cultural, como Nampula, la Isla de Mozambique o la Isla de Ibo.
Debido a la carencia de un registro gubernamental en el país que recopile datos sobre el número de personas involucradas en la cultura y el arte, resulta complicado determinar la representatividad de este estudio. Muchas de las que trabajan en este ámbito no están afiliadas a la seguridad social ni cuentan con un registro formal, lo que impide disponer de cifras oficiales sobre el empleo en el sector. Además, dado que este estudio fue realizado por una única investigadora, el número de entrevistas se vio restringido, para poder realizar un análisis más exhaustivo.
En último lugar, sería interesante realizar un estudio comparativo para ver si la situación de las mujeres artistas está en desventaja en lo que respecta a los hombres y cómo su experiencia se asemeja o diferencia.
Consideraciones éticas
Las consideraciones éticas y medidas de privacidad adoptadas para este estudio son fundamentales para garantizar la protección de la privacidad y confidencialidad de las participantes, así como para asegurar la realización de una investigación ética.
En primer lugar, antes de llevar a cabo las entrevistas, la investigadora informó a todas las participantes sobre el propósito del estudio y obtuvo su consentimiento verbal y por escrito para su participación (ver Anexo I). El formulario de consentimiento por escrito proporcionaba información sobre los objetivos del estudio, los procedimientos, los posibles riesgos y beneficios, y el derecho a retirarse en cualquier momento. Asimismo, sólo se incluyeron las biografías de artistas entrevistadas.
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En segundo lugar, se implementaron diversas medidas para proteger la privacidad y confidencialidad. Las grabaciones se almacenaron de manera segura en una carpeta privada. Todos los datos de carácter personal que no corresponden meramente al trabajo artístico de las entrevistadas permanecieron anónimos en el apartado de análisis socioeconómico.
Por último, se siguieron los principios del Reglamento General de Protección de Datos (RGPD) para garantizar la privacidad de la información. El RGPD establece requisitos específicos para el manejo de datos personales, incluyendo su recopilación, almacenamiento y utilización. Al cumplir con estas directrices, la investigadora aseguró que se trató de manera ética y responsable la información los entrevistados.
Además, como parte de un enfoque feminista, es importante involucrar a las participantes en el proceso de investigación. Por lo tanto, se utilizaron entrevistas semiestructuradas con preguntas guía que permitieron adaptarlas a las necesidades y prioridades personales, brindando flexibilidad para explorar los temas que consideraban más relevantes y antes de su publicación se solicitó la aprobación de cada una.
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3.Estado de la cuestión:
Perfil de las entrevistadas
Las participantes del estudio eran exclusivamente mujeres adultas, con edades comprendidas entre los 21 y los 87 años, siendo la mediana de edad de 33 años. Todas ellas se encontraban activas laboralmente, a excepción de una de ellas debido a motivos de salud. Esta circunstancia se debe a que esta profesión se desarrolla principalmente por vocación y no se rige por las pautas oficiales de jubilación (establecidas en 55 años) según la legislación vigente en Mozambique.
Más del 75% de las artistas entrevistadas residen en Maputo y las restantes en Beira, Quelimane, Tete e Inhambane. Este hecho refleja un sesgo evidente hacia la capital en el estudio, aunque también se pone de manifiesto que algunas de estas mujeres, oriundas de otras regiones del país, residen en Maputo debido a un mejor acceso a oportunidades socioeconómicas.
En cuanto a la composición de los hogares se observó que, en promedio, constaban de dos miembros, excluyendo a la persona entrevistada. El 25% vivían en hogares unipersonales, principalmente mujeres con edades comprendidas entre los 27 y los 36 años, así como aquellas mayores de 65 años. Estos datos indican que tanto jóvenes que están iniciando su carrera profesional como personas de edad avanzada tienen una mayor tendencia a vivir de manera individual, especialmente en la ciudad de Maputo.
Por otro lado, el 40% vivía en hogares con más de dos personas, estando la mitad localizados fuera de la capital y correspondiendo a grupos de edad comprendidos entre los 21 y los 48 años. Esto sugiere una tendencia de las personas que residen fuera de la capital a habitar en domicilios más habitante.
Además, se observó que el 70% afirmaron ser la principal fuente de ingresos en sus hogares. Esta proporción se ve influenciada por el hecho de que el 67.5% se encontraban solteras en el momento del estudio, de las cuales el 74% manifestaron ser la principal fuente de ingresos. Por otro lado, entre las entrevistadas que estaban casadas, apenas una de ellas asumía el papel de proveedora primaria en su hogar, mientras que las cuatro mujeres divorciadas respondieron afirmativamente en su totalidad cuando se les consultó sobre ser la principal fuente de ingresos en sus hogares.
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análisis socioeconómico
En cuanto a las personas dependientes a su cargo, el 42.5% indicó que no tenía ninguna persona bajo su cuidado, especialmente aquellas que se encontraban entre los 21 y los 43 años, con la excepción de una persona de 77 años. Además, se observó que más del 80% de estas mujeres eran solteras. Por otro lado, el 40% mencionaron tener hijos a su cargo, mientras que el 17.5% cuidaban de uno o ambos de sus padres y el 15% de otros familiares. Además, se destacó que el 50% de las artistas con hijos eran madres solteras. Estos datos revelan una tendencia elevada de madres solteras, ya que, durante las entrevistas cualitativas, también se encontró que aquellas madres que ya tenían hijos en edad laboral habían desempeñado el papel principal de cuidadoras.
En lo que respecta al nivel educativo de las encuestadas (Ilustración 2), se observó que el 86% contaba con estudios universitarios. Estos datos concuerdan con las características del sector cultural en otras regiones, como la Unión Europea, donde se evidencia que los trabajadores de este sector suelen presentar niveles educativos más elevados (Eurostat, 2022; UNESCO & UIS, 2017).
Nivel de estudios
Ocupación laboral en el sector cultural
El 87.5% de las entrevistadas se definían como artistas. Entre ellas, además, el 31.4%, eran también gestoras culturales o productoras. Esto se debe a que muchas personas artistas además desempeñan otros roles dentro del sector. A modo ilustrativo, una cantante también desempeña laborales de productora musical. Las restantes se dedicaban exclusivamente a la producción o gestión cultural.
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Ilustración 2. Nivel de estudios.
El 45% de los encuestadas desempeñaba su trabajo creativo en el ámbito de las artes escénicas, mientras que el 47.5% lo hacía en las áreas visuales, audiovisuales o plásticas (Ilustración 2). Asimismo, el 22.5% se dedicaba a las artes literarias. Estos porcentajes se deben a que el 27.5% trabajaban en diversas áreas artísticas.
Ilustración 3. Sector de trabajo dentro de las artes (porcentaje sobre el total de las entrevistadas).
Dentro de las artes visuales audiovisuales o plásticas, se entrevistaron artistas en el área de pintura, fotografía, producción cinematográfica y vídeo, diseño de moda, grafiti, escultura y grabado. Dentro de las artes escénicas, se entrevistaron a mujeres en el mundo del teatro, música, danza y stand-up comedy.
La mayoría de las participantes (el 40%) tenía entre 11 y 20 años de experiencia en el sector, el 30% entre 6 y 10 años, el 17.5% más de 20 años y el 10% entre uno y cinco años.
Más de la mitad (el 62.5%) se dedican al arte de manera parcial (Ilustración 3), debido a estar pluriempleadas en otras ocupaciones y el alto nivel de precariedad del sector que no les permite desempeñar su labor artística a tiempo completo y las labores de cuidado que desempeñan en sus hogares. De media, las entrevistadas dedicaban 23 horas a la semana a su trabajo artístico. Esta estadística es muy superior a las registrada a nivel global por UNESCO (2019), que señala que un 28% de las trabajadoras de este sector se dedican a tiempo parcial frente al 18% de los hombres. Sería interesante contrastar este dato con hombres en el sector para ver si se corresponde con la tendencia global.
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En último lugar, el 60% de las entrevistadas trabajaba por cuenta propia (Ilustración 4), dato que está en consonancia con lo registrado por la UNESCO para el país (alrededor de un 65%) correspondiendo con las tendencias del sector a nivel global, aunque muy superior al porcentaje global de mujeres freelancers (38%) e inferior a otros países del continente como Uganda y Mali (90%) (UNESCO & UIS, 2019). Las entrevistadas que estaban empleadas por un tercero trabajaban principalmente para empresas privadas, asociaciones de canto y danza, ONGs, centros culturales y universidades.
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Ilustración 5. Tipo de empleo
Ilustración 4. Tipo de jornada laboral en porcentaje
Formación Artística
El 45% de las entrevistadas indicaron haber adquirido su formación en el ámbito artístico principalmente de forma autodidacta. Además, otras mencionaron que obtuvieron su formación parcialmente de manera autodidacta, combinada con otros tipos de formación como estudios universitarios, talleres o cursos de corta duración, formación profesional y/o con la guía de un mentor. Estos datos reflejan que el 75% de las mujeres se formaron al menos parcialmente de forma autodidacta. Otro dato relevante es que, de las que tienen formación universitaria, es decir, el 85%, solo el 30% obtuvo su grado universitario en el campo de su trabajo artístico. Esto demuestra la dificultad de cubrir completamente las necesidades socioeconómicas a través del trabajo artístico, lo que ha llevado a las artistas a recurrir a otras ocupaciones que sustenten su pasión por las artes.
¿Vivir del arte o vivir por amor al arte?
Vivir del arte en Mozambique, al igual que a nivel global, sigue siendo un desafío para la mayoría de las mujeres que se dedican a esta actividad. Según el 55% de las personas entrevistadas, el arte no era su principal fuente de ingresos (Ilustración 5). El pluriempleo parece más la norma que la excepción en este sector.
Ilustración 6. ¿Es el arte tu principal fuente de ingresos?
Entre los trabajos complementarios que estas mujeres desempeñaban para sustentar sus ingresos, se encontraban consultorías, trabajos en el área de activismo, la docencia, la abogacía, los servicios de traducción e interpretación, la arquitectura, el periodismo, la atención sanitaria, la comunicación y la ingeniería informática. En otras palabras, la mayoría de estas profesiones son ocupaciones liberales y con estudios superiores, como se refleja en los datos educativos. Según
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USAID, la mitad de las niñas mozambiqueñas no completan quinto grado y sólo un 1% va a la universidad (USAID, 2022). Estos datos reflejan cómo las personas de clases socioeconómicas más bajas se encuentran más excluidas de este sector
debido a los bajos ingresos que genera y a la necesidad de contar con otras fuentes de ingresos.
El 77% de las entrevistadas afirmaron que los ingresos que percibían por su trabajo artístico eran ocasionales (Ilustración 6), es decir, no eran regulares ni mensuales, sino intermitentes y predominantemente provenientes de eventos puntuales. Las personas restantes que declararon contar con ingresos regulares (mensuales) se dedicaban al teatro (dos entrevistadas), la danza (una entrevistada), la fotografía (una entrevistada), el diseño de moda (otra entrevistada), la producción cinematográfica (otra entrevistada) y una última entrevistada que se dedicaba a la producción artística multidisciplinaria. Asimismo, una persona declaró no recibir ningún tipo de ingresos.
Ilustración 7. Los ingresos que recibo de las artes son: ocasionales, regulares o sin ingresos (en porcentaje)
A pesar de generar ingresos a través del arte, el 38% manifestó que dichos ingresos no cubrían ninguna de sus necesidades básicas, como el acceso a servicios de salud, educación, alimentación y nutrición, vivienda, agua, saneamiento e higiene, y electricidad.
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El 40% indicó que sus ingresos derivados del arte solo cubrían algunas de ellas. Sólo el 21.6% declaraba que los ingresos derivados de las artes cubrían todas sus necesidades básicas: dos de estas provenían del mundo del teatro, cuatro del cine, dos del diseño de moda, una directora creativa y una productora cultural. Todas las personas que conseguían cubrir sus necesidades básicas residen en Maputo, con la excepción de una persona en Beira. Esto muestra una tendencia a que las profesiones audiovisuales o de carácter más comercial, como la moda, pueden generar mayores ingresos en Mozambique que otros sectores como las artes plásticas o la literatura que tienen nichos de mercado más reducidos.
Ilustración 8. ¿Los ingresos que generas de las artes consiguen cubrir tus necesidades básicas? (En porcentaje)
Entre las personas que respondían que los ingresos conseguían cubrir algunas de sus necesidades, se concentran principalmente en artes escénicas (música, danza, performances y teatro), más del 75%. Entre los gastos que conseguían cubrir, la mayoría señalaba alimentación y nutrición (el 73%), agua y saneamiento (40%), electricidad (33%) y educación el (26%).
¿De dónde provienen estos ingresos? La mayoría responde que sus fuentes de ingresos provienen de consumidores privados, representando el 52.5%; seguido de autofinanciamiento (es decir, inversión propia) con un 47.5%; fundaciones privadas y agencias extranjeras o internacionales (incluyendo centros extranjeros como el Franco-Mozambiqueño en Maputo o Embajadas), ambos respectivamente con un 27.5%; fondos públicos o gubernamentales con un 15%; y bancos con un
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5%. El restante menciona que también recibe ingresos de editoriales y empresas privadas (Ilustración 8).
Ilustración 9. Fuente de ingresos representado en porcentaje
Uno de los datos más interesantes es el alto número de mujeres que autofinancian su propio arte, es decir, que invierten otros ingresos o ahorros para llevar a cabo su labor artística. A modo ilustrativo, en el sector literario, cuatro de las escritoras entrevistadas invirtieron recursos propios para publicar sus libros a través de editoriales o incluso han optado por la autoedición de sus obras, varios grupos de teatro manifiestan autofinanciar sus obras o empresarias que dependen exclusivamente de capital propio que normalmente deriva de ingresos por salarios de otros trabajos. Este fenómeno, lejos de ser una singularidad local, refleja una tendencia global en el mundo del arte, como indica un informe de la UNESCO (2019: 6), “el mayor subsidio de las artes no viene de gobiernos, mecenas o el sector privado, sino de los propios artistas en forma de trabajo no remunerado o mal remunerado”.
Creación de empresas y empleo
La industria artística en Mozambique ha sido testigo de un crecimiento incipiente en la creación de pequeñas empresas lideradas por mujeres, lo que ha generado oportunidades de empleo y contribuido al desarrollo del sector cultural en el país. En este estudio, se identificaron diversas microempresas que han surgido en el ámbito del arte, contratando a un promedio de 2 a 7 personas. Estas emprendedoras han creado negocios innovadores en áreas como danza (DansArtes), joyería (Noki Shop), moda (Mabenna, La Mira y Seeres) y editoriales (Editora Trinta ZeroNove y el blog editorial Diário de uma Qawii), así como galerías
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de arte (Arte d’Gema y Deal Galeria), escuelas de arte (Xiluva Artes y Escuela Teatro Sabura) y centros culturales (Teatro Avenida y la Casa del Artista en Beira).
A pesar del crecimiento incipiente de las microempresas lideradas por mujeres en el sector artístico de Mozambique, enfrentan grandes retos para su desarrollo y crecimiento. La mayoría de ellas dependen en gran medida de capital propio para su financiamiento, ya que el acceso a préstamos bancarios se ve obstaculizado por los elevados tipos de interés. Ninguna de las entrevistadas había accedido a un préstamo bancario. Estos datos reflejan una tendencia general: según datos del Banco Mundial (2023), el 75% de las pequeñas y medianas empresas mozambiqueñas se encuentran financieramente excluidas.
Aunque algunas emprendedoras han logrado obtener financiación, como en el caso de una empresaria del sector de la moda que ganó la competición de Agora Emprega para desarrollar su negocio, en general, existe una escasez de acceso a capital y pocos subsidios provenientes de la ayuda oficial al desarrollo en este ámbito. Esta situación se ha convertido en un desafío para una artista en Beira, por ejemplo, que busca capital para abrir su escuela-taller, pero encuentra dificultades para obtener fondos.
Aun así, la creación de estas microempresas ha abierto una ventana de oportunidad para la generación de empleo en el mundo del arte en Mozambique. El espíritu emprendedor y creativo de estas mujeres ha dejado una huella en la industria cultural, enriqueciendo el panorama artístico del país y creando nuevas oportunidades laborales para los profesionales de este ámbito. A medida que se buscan soluciones para superar los desafíos de financiamiento, estas valientes empresarias continúan forjando su camino hacia el éxito, demostrando que el arte y el emprendimiento pueden unirse para impulsar el desarrollo y el crecimiento económico en Mozambique.
Además, el arte también tiene un poderoso impacto en la generación de empleo indirecto, especialmente en el mundo del espectáculo. Un claro ejemplo de ello es la música, que se convierte en una importante fuente de oportunidades laborales.. Las cantantes y músicas han dado vida a una red creativa que abarca desde escenógrafos y diseñadores de vestuario, hasta coristas e instrumentistas, contribuyendo de manera significativa al florecimiento de la industria musical.
Esta sinergia entre las diversas disciplinas artísticas no solo enriquece el panorama
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cultural del país, sino que también crea un efecto multiplicador de empleo en diferentes áreas relacionadas con el arte.
Acceso a la seguridad social
El acceso a la seguridad social en el sector artístico de Mozambique sigue siendo un desafío significativo para la mayoría de las mujeres artistas. Según el estudio, el 75% de las entrevistadas afirmó no estar inscrita en la seguridad social relacionado a su labor artística, un porcentaje que coincide con el 76% del sector cultural según las últimas encuestas del Ministerio de Cultura (Farinha y Moucha, 2022), aunque varias de ellas tengan acceso a esta prestación a través de otro empleo. Aquellas que respondieron afirmativamente, en su mayoría llevaban más de 10 años inscritas en la Seguridad Social.
Esta falta de acceso a la seguridad social plantea importantes preocupaciones para las artistas, ya que muchas de ellas no llegan a la edad de jubilación debido a no haber cotizado el número suficiente de años o haberlo hecho de manera intermitente. Esta situación afecta especialmente a quienes reciben ingresos irregulares y bajos, quedando excluidas de estos sistemas o decidiendo no darse de alta en ellos debido a los bajos ingresos generados en el mundo artístico.
Entre las artistas que logran inscribirse en la seguridad social, se observa que trabajan principalmente en áreas como producción de video o cine (el 75% de las entrevistadas de esta área estaban inscritas). También se destacan algunas gestoras culturales, una productora cultural, una profesora de teatro vinculada a una universidad, una escritora y una diseñadora de moda. Estos casos indican que, en general, aquellos que tienen acceso a la seguridad social en el mundo artístico tienen una mayor estabilidad laboral, a menudo relacionada con contratos fijos o empleo en universidades para la docencia artística.
Asimismo, fuera de Maputo, el acceso a la seguridad social es aún más limitado, como lo demuestra el hecho de que solo una de las entrevistadas fuera de la capital tenía acceso a este beneficio. Esto refleja una tendencia de mayor desprotección para las artistas que residen fuera de la capital, lo que a su vez acentúa la importancia de abordar estas desigualdades para garantizar una protección social adecuada para todas las mujeres artistas en Mozambique.
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Políticas públicas y regulación de la figura de la artista
El sector artístico en Mozambique se caracteriza por su alta informalidad y la falta de legislación que proteja los derechos y condiciones laborales de los artistas. Actualmente, no existen disposiciones sobre salario mínimo ni medidas que promuevan la regularización y mejora de las condiciones de empleo en este ámbito. Sin embargo, se vislumbran esperanzadoras perspectivas con la iniciativa del Ministerio de Cultura y Turismo, en colaboración con UNESCO, que ha iniciado consultas sobre la creación del Estatuto del Artista. Esta legislación podría representar un gran avance para el sector al establecer normas que protejan y promuevan los derechos de los artistas, así como atraer inversiones y garantizar condiciones laborales más justas.
En este proceso, sería de suma importancia que el Estatuto del Artista tuviera en cuenta una visión de género, considerando aspectos específicos que afectan a las mujeres artistas en particular. Entre ellos, el tema del cuidado de la niñez y conciliación emergen como un elemento clave. Del mismo modo, se deberían contemplar políticas que aborden temas de acceso a la salud, prevención y atención al acoso para las artistas, brindando un ambiente seguro y propicio para el desarrollo de la creatividad y el talento artístico.
Además, es alentador saber que Mozambique ha adoptado un compromiso importante al abogar por la implementación de la decisión de la Unión Africana de que los Estados miembros destinen el 1% del presupuesto nacional al sector de las artes, la cultura y el patrimonio para el año 2030 (African Union, 2021). Esta iniciativa representa una oportunidad valiosa para fortalecer y promover el desarrollo del arte y la cultura en el país, así como para garantizar el reconocimiento y apoyo a las artistas y profesionales culturales.
Aunque todavía se enfrentan diversos desafíos en el camino hacia una mayor formalización y reconocimiento del sector artístico en Mozambique, la perspectiva de contar con un Estatuto del Artista y el compromiso para la promoción del sector cultural representan un horizonte prometedor para las mujeres artistas y para la riqueza cultural del país en su conjunto. La inclusión de políticas públicas con una visión de género será fundamental para garantizar la equidad y el empoderamiento de las artistas en el mundo del arte y la cultura en Mozambique.
1En 2021, este era del 0,16% (OCULTU, 2021).
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Derechos de autor
En Mozambique, al igual que en muchas partes del mundo, los derechos de autor en el ámbito de las artes enfrentan desafíos significativos, especialmente en la era digital. La expansión de plataformas de streaming y la distribución digital ha brindado a los artistas la posibilidad de llegar a una audiencia global más amplia con facilidad, pero también ha resultado en una concentración del mercado y una disminución de los ingresos percibidos por los creadores. En el contexto específico de las artistas mujeres en Mozambique, estas problemáticas se vuelven aún más pronunciadas.
Impacto de las Plataformas de Streaming en la Música
Para las artistas musicales en Mozambique, las plataformas de streaming como Spotify han proporcionado una nueva forma de difundir su trabajo. Sin embargo, el acceso a estas plataformas no siempre se traduce en ingresos significativos. Las artistas han expresado su preocupación por los bajos royalties que reciben a través de estas plataformas, ya que la mayoría de sus ingresos aún provienen de actuaciones en vivo y la venta de CDs ha disminuido considerablemente. Además, la falta de una estructura adecuada para realizar el seguimiento y la distribución equitativa de los ingresos de streaming representa un desafío adicional para las artistas independientes.
La Edición y Venta de Libros
Aunque la mayoría de las autoras aspiran a registrar sus libros y obtener ingresos por derechos de autor, el hecho de que no haya un sistema establecido para la distribución de bienes culturales en el país, la escasa red de librerías en el país (cinco en la capital y una en Beira), además de que no siempre las librerías pagan a sus proveedores y el porcentaje que las autoras reciben de los editores suele ser bajo, generalmente alrededor del 10% y, en caso de edición personal, hasta el 20%, hace que este sueño sea muy problemático. Además, se enfrentan, desde el principio, a un mercado editorial y de lectores reducido debido a la falta de una política de fomento del libro y la lectura, el alto precio de los libros y el bajo poder adquisitivo del público en general, factores que dificultan que puedan vivir de estos ingresos en el mercado nacional. La falta de una estructura sólida para monitorear las ventas y asegurar una distribución nacional justa también es claramente otro factor importante, sumado a los muchos desafíos que estas mujeres enfrentan contratos editoriales desfavorables.
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Tanto en el ámbito literario como en el artístico, las artistas y autoras de Mozambique se enfrentan a contratos editoriales que no siempre son favorables para ellas. Algunas entrevistadas han mencionado que los contratos suelen beneficiar más a las editoriales que a las propias creadoras, y la falta de transparencia en las ventas y el seguimiento de las obras hace que las artistas tengan menos control sobre sus propios trabajos y las regalías que reciben.
La Lucha por la Protección de los Derechos de Autor
Algunas entrevistadas han expresado su frustración ante casos en los que sus libros han sido utilizados sin su consentimiento o conocimiento especialmente a nivel internacional, lo que les hace sentir que sus derechos han sido vulnerados. Esta situación subraya la necesidad de mejorar las medidas de protección de los derechos de autor más allá de las fronteras nacionales.
Perspectivas de Futuro y Oportunidades
A pesar de los desafíos mencionados, algunas artistas en Mozambique han encontrado oportunidades para monetizar sus trabajos y alcanzar audiencias internacionales. Por ejemplo, la conexión con editoras y sellos extranjeros ha permitido que algunas autoras reciban royalties en moneda extranjera. Asimismo, la colaboración en proyectos y la creación de música para bandas sonoras también les ha proporcionado una fuente adicional de ingresos.
En resumen, las mujeres artistas y autoras de Mozambique se enfrentan a desafíos significativos en cuanto a la protección y monetización de sus obras en el contexto digital actual. Es necesario mejorar las estructuras para el registro y seguimiento de derechos de autor, así como fomentar una mayor transparencia en los contratos editoriales. Además, la educación sobre derechos de autor son aspectos fundamentales para garantizar que las artistas puedan beneficiarse justamente de sus creaciones en el mundo del arte.
Espacios Culturales
En la capital, Mozambique cuenta con una diversidad de espacios culturales, muchos de los cuales están vinculados predominantemente a la cooperación internacional, como el Centro Franco-Mozambiqueño, el Centro AlemánMozambiqueño, el Centro Brasileño-Mozambiqueño y la sala de exposiciones del Instituto Camões. Asimismo, existen fundaciones privadas que, en su mayoría, también reciben financiamiento de fondos de desarrollo, tales como el Espacio
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Cultural 16neto, la Asociación Kulungwana y la Fundación Fernando Leite Couto. Además, se encuentran espacios culturales privados, como el Teatro Avenida, y diferentes asociaciones culturales de la sociedad civil.
No obstante, en ciudades fuera de Maputo, cobran mayor relevancia los espacios públicos, como las Casas de Cultura, que se convierten en lugares fundamentales para la realización de espectáculos y ensayos, según lo manifestado por las entrevistadas en Quelimane. En Beira, la Casa de Cultura ha sufrido daños tras el Ciclón Idai, dejando muchas de sus salas en desuso. El Auditorio Municipal sigue siendo un lugar importante para artistas del mundo del espectáculo. En esta urbe, se han generado también nuevos espacios privados interesantes como la editorial Fundza que ha significado una oportunidad para publicar obras de escritoras jóvenes o la Casa del Artista para artistas plásticas.
En Tete, la sociedad civil ha creado una Asociación de Poetas, liderada por una mujer, que suele hacer uso de espacios proporcionados por empresas privadas. Esta ciudad podría beneficiarse del impulso de la sociedad civil en áreas como la literatura, para fomentar la inversión en librerías o espacios culturales públicos destinados a exhibir las creaciones artísticas.
A pesar de la existencia de estos espacios culturales, es importante destacar que aún hay desafíos en cuanto a la disponibilidad y accesibilidad de dichos espacios para las mujeres artistas. Es necesario seguir promoviendo la creación de más espacios culturales inclusivos y accesibles en todo el país, especialmente aquellos que fomenten y apoyen la producción artística de las mujeres. Asimismo, se debe impulsar la restauración y recuperación de los dañados o en desuso de interés público, para que puedan seguir siendo centros vitales para la expresión artística, una mayor democratización en el acceso al arte y el enriquecimiento cultural en Mozambique.
Internacionalización y Digitalización: Un impulso para las mujeres artistas
En el mundo de las artes en Mozambique, la internacionalización y la digitalización han emergido como fuerzas poderosas que han permitido a las mujeres artistas explorar nuevas oportunidades, establecer conexiones globales y promover sus obras a una audiencia más amplia. Tanto la experiencia personal de las artistas como el acceso a las redes digitales han jugado un papel fundamental en este proceso.
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Internacionalización a través de Experiencias y Conexiones en el Extranjero
La mayoría de las artistas entrevistadas han buscado activamente oportunidades fuera de sus fronteras para enriquecer su formación y experiencia artística. Han participado en talleres de formación, residencias artísticas y giras en países extranjeros, estableciendo un contacto directo con diferentes culturas y perspectivas. Anteriormente, muchos artistas viajaban a países como Cuba o exrepúblicas soviéticas para formarse, especialmente en los años 1980 y 1990, pero en la actualidad, la preferencia se ha desplazado hacia Occidente, Brasil y Sudáfrica.
Acceso a Industrialización y Mercados internacionales
La internacionalización ha presentado oportunidades significativas para las mujeres en la industria de la moda y el arte en Mozambique. Gracias a la conexión con el extranjero, las artistas y diseñadoras han tenido acceso a una serie de ventajas, como la producción en países asiáticos y la posibilidad de importar materiales y productos. Sin embargo, también se han enfrentado a desafíos, especialmente en el ámbito de la moda y la creación artística.
En el contexto de la moda, la falta de industrialización en Mozambique ha llevado a las mujeres diseñadoras a buscar opciones de producción en el extranjero. Países como India y China han sido destinos atractivos debido a sus capacidades industriales y a la disponibilidad de recursos y maquinaria para la producción en masa. Aunque esta internacionalización ha permitido una mayor producción y distribución de sus creaciones, también conlleva costos adicionales asociados al transporte, aranceles y la coordinación con los proveedores extranjeros. A pesar de estos desafíos, muchas diseñadoras consideran que es una inversión necesaria para acceder a una mayor escala de producción.
El acceso a materias primas y materiales para la creación artística y la moda ha sido un obstáculo importante para las mujeres artistas y diseñadoras en Mozambique. La escasez o la falta de variedad en los recursos disponibles localmente han llevado a muchas de ellas a importar materiales desde países vecinos, como Sudáfrica o incluso más lejanos, como el continente europeo. Aunque este enfoque puede aumentar los costos de producción, también brinda acceso a una gama más amplia de artículos y recursos necesarios para dar vida a sus obras.
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Digitalización como Herramienta de Marketing y Promoción
Las redes sociales e Internet han revolucionado la forma en que las artistas se promocionan y se conectan con el público global. Las entrevistadas, especialmente de nuevas generaciones, han adoptado plataformas digitales como herramientas esenciales para la difusión de sus obras, la creación de audiencias y el establecimiento de conexiones con otros artistas internacionales.
Desafíos y Oportunidades de la Digitalización e Internacionalización
La era digital ha presentado a las mujeres artistas en Mozambique una serie de oportunidades, permitiéndoles alcanzar audiencias globales y promover sus obras a través de plataformas en línea. Sin embargo, junto con estas oportunidades, también surgen desafíos significativos que requieren atención y soluciones creativas. Una de las principales dificultades que enfrentan es la nula o escasa compensación económica que reciben a través de las plataformas digitales, donde a menudo se ven relegadas a meras herramientas de marketing.
Además, la internacionalización ha sido una fuerza impulsora para las artistas y diseñadoras, brindándoles la posibilidad de acceder a la producción en países asiáticos y obtener materiales de mercados extranjeros. No obstante, este enfoque también conlleva desafíos logísticos y costos adicionales que deben ser abordados para que estas oportunidades sean sostenibles y rentables.
Asimismo, existe una brecha generacional que se ha hecho evidente en este contexto. Mientras que las artistas más jóvenes han aprovechado hábilmente las redes sociales y las plataformas digitales para ampliar su alcance y conectarse con audiencias internacionales, algunas artistas de generaciones anteriores no han podido adaptarse plenamente a estas herramientas modernas. Esta brecha puede excluir a algunas artistas de valiosas oportunidades, destacando la importancia de brindar apoyo y capacitación en el uso de estas tecnologías para todas las generaciones de artistas.
¿(Des)igualdad de Género?
En el contexto artístico de Mozambique, la (des)igualdad de género ha sido un tema de preocupación y estudio, revelando una marcada disparidad entre hombres y mujeres en el sector cultural. Según datos de UNESCO y su agencia de estadística (UNESCO & UIS, 2017), Mozambique presenta una brecha de género significativa,
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siendo el último país de los analizados (Ilustración 11). Esta desigualdad de género se manifiesta en diversas áreas del arte y plantea desafíos y obstáculos particulares para las mujeres artistas en el país.
Ilustración 10. Brecha de Género en el Sector Cultural: Comparativa de Representación Femenina y Masculina en Diversos Países. Fuente: UNESCO & UIS, 2017
Ser mujer y encontrar tiempo de creación
Las mujeres artistas en Mozambique enfrentan dificultades para dedicar tiempo completo a su creación artística debido a diversos factores. Muchas de ellas se ven obligadas estar pluriempleadas para sostener su práctica artística, lo que reduce considerablemente el tiempo disponible para su expresión creativa. Además, asumen una mayor carga en las responsabilidades del hogar y el cuidado de personas dependientes, existiendo además una sobrerrepresentación de madres solteras, lo que puede restringir aún más su disponibilidad para dedicarse plenamente a su arte.
Brechas en sectores artísticos específicos
Aunque se han registrado avances en la presencia de mujeres en posiciones de dirección y liderazgo en teatros, centros culturales y galerías, persisten desigualdades en ciertos ámbitos artísticos. Por ejemplo, hay una menor representación de mujeres en roles como coreógrafas, editoras, productoras de música o artistas urbanas. Estas desigualdades reflejan patrones socioculturales y limitan el acceso de las mujeres a ciertas áreas de la creación artística.
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La Expresión Artística como Plataforma para Abordar la Desigualdad de Género
Muchas artistas en Mozambique utilizan su creatividad para abordar cuestiones de género en sus obras. A través de su arte, retratan situaciones de violencia doméstica, cuestionan estereotipos de género y crean espacios exclusivos para mujeres, como el grupo de teatro “Só Mulheres” en Beira o la red de artistas “7 Ofícios Redes de Mulheres Artistas” en Maputo. Estas expresiones artísticas se convierten en herramientas poderosas para sensibilizar sobre la desigualdad de género y promover el empoderamiento de las mujeres.
Prejuicios y acoso sexual
Las mujeres artistas en Mozambique enfrentan prejuicios y desafíos adicionales en su carrera. Se ha observado que a menudo se las percibe como difíciles de tratar si expresan su opinión o toman decisiones, lo que puede afectar su participación y liderazgo en proyectos artísticos. Además, algunas de las entrevistadas han sido víctimas de acoso sexual, especialmente en el ámbito de las artes escénicas.
La lucha por la igualdad y el reconocimiento
A pesar de los desafíos, las mujeres artistas en Mozambique continúan luchando por la igualdad y el reconocimiento de su trabajo creativo. Mediante su persistencia y determinación, están rompiendo barreras y redefiniendo el papel de la mujer en el mundo del arte. La conciencia creciente sobre la desigualdad de género en el arte y la cultura es un primer paso hacia el cambio, y la incorporación de perspectivas de género en políticas culturales puede abrir nuevas oportunidades para las artistas en Mozambique.
En definitiva, la desigualdad de género en el mundo del arte en Mozambique es un tema complejo y multidimensional. Las mujeres artistas enfrentan desafíos en términos de tiempo libre, acceso a determinados sectores artísticos y la lucha contra prejuicios y acoso sexual. Sin embargo, su creatividad y determinación para abordar estas cuestiones a través de sus obras también son una fuente de empoderamiento y cambio en la sociedad mozambiqueña.
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Artes escénicas
La sección de artes escénicas en Mozambique ha sido moldeada por una rica historia de mujeres influyentes que han dejado una huella indeleble en el mundo del teatro, la danza y la música. Desde las primeras generaciones que emergieron en los años de la independencia, figuras como Ana Magaia, Manuela Soeiro, Lucrecia Paco y muchas otras han desafiado las expectativas y contribuido significativamente al florecimiento de las artes en Mozambique.
Estas pioneras no solo han demostrado su destreza en sus respectivos campos, sino que también han utilizado su arte para abordar temas cruciales, desde la sexualidad hasta la igualdad de género y la violencia. Han sido defensoras incansables de la educación artística y el empoderamiento de los jóvenes, estableciendo proyectos y festivales que han permitido a las nuevas generaciones encontrar su voz en el escenario.
En esta sección, exploraremos las historias y los logros de estas notables mujeres, destacando tanto a las figuras legendarias de las primeras generaciones como a las talentosas artistas de la nueva generación, como Lenna Bahule, Regina dos Santos y Silke, quienes continúan inspirando y transformando la escena artística de Mozambique.
Ana Magaia: Actriz, Productora y Asistente de Dirección Pionera en las Artes de Mozambique
Ana Magaia es una destacada actriz, productora y asistente de dirección que ha contribuido significativamente al crecimiento de las artes en Mozambique. Su destacada labor la llevó a recibir la “Medalla de Mérito Artes y Letras” de manos del Presidente de la República, en conmemoración del Día de la Independencia.
Como actriz de teatro, Ana Magaia ha prestado su talento a una variedad de obras, incluyendo “Xiluva” (1983), donde demostró su versatilidad interpretativa. También destacó en “Rosita até Morrer” (1983), un monólogo de Luís Bernardo Honwana. Su habilidad actoral se puso de manifiesto en obras como “A Revolta da Casa dos Ídolos” de Pepetela y “A Companheira”, un monólogo de Adolfo Gutkin.
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4.Mujeres Inspiradoras de la Escena Cultural de Mozambique
En el ámbito cinematográfico, Ana Magaia ha deslumbrado en películas como “O Tempo dos Leopardos” de Zdravko Velimorovic (1985), donde marcó su presencia en el panorama del cine mozambiqueño. Además, participó en “Karingana wa Karingana”, un documental de Mário Borgneth, y en “Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra”, una adaptación de la novela del escritor mozambiqueño Mia Couto.
No solo ha dejado su huella como actriz, sino que también ha contribuido en otras áreas del cine. Ha sido directora de casting en películas como “Africa Dreaming” (1997) y “Terra Sonâmbula” (2007), y asistente de dirección en proyectos como “A Voz dos Dugongos” (2001), “O Gotejar da Luz” (2002) y “Blood Diamond” (2006).
Además de su destacada labor en el mundo del cine y el teatro, Ana Magaia ha sido una productora comprometida. Produjo proyectos como “Recursos e Vida”, una serie sobre el medio ambiente, y “Língua Viva”, dirigida por Gonçalo Mourão, ambos en el año 2000.
Su versatilidad y dedicación no se limitan al mundo de la actuación y la producción, ya que también ha trabajado como presentadora en programas de televisión y ha participado en teatro radiofónico.
Ana Magaia es una figura influyente y polifacética en las artes de Mozambique, cuyo legado perdurará en el tiempo. Su trabajo ha contribuido al enriquecimiento de la cultura y el arte en el país, y su compromiso con la promoción de las artes y letras mozambiqueñas la hace merecedora de este prestigioso reconocimiento. Su dedicación y talento la han convertido en una verdadera pionera en el mundo del arte en Mozambique y un modelo a seguir para las generaciones futuras. Angelina Chavango: la actriz y docente que quiere promover el teatro infantil en Mozambique
Angelina Chavango es una figura destacada en el mundo del teatro en Mozambique, conocida por su versatilidad en roles como actriz, su labor como directora teatral y su compromiso como docente en la Escuela de Comunicación y Artes de la Universidad Eduardo Mondlane (ECA-UEM). Su viaje en el mundo del arte comenzó en su barrio de Unidad 7, un lugar donde el arte, la danza y la música eran parte integral de la comunidad. Fue en ese contexto que Angelina tuvo su primer encuentro con el teatro, un encuentro que sembró las semillas de su pasión por las artes escénicas. Comenzó a explorar el mundo con temas de salud sexual y reproductiva en el contexto del VIH/SIDA. Este fue un momento crucial
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en su vida, ya que la condujo a abrazar este tipo de arte como una herramienta poderosa para la sensibilización y el cambio social. Con el tiempo, se dedicó a la educación teatral y se convirtió en profesora en la ECA-UEM, donde ha influido en generaciones de jóvenes artistas.
Uno de los aspectos distintivos de la carrera de Angelina es su enfoque en la escritura dramática y la creación de obras teatrales auténticamente mozambiqueñas. Aunque ha adaptado obras de autores famosos como Molière, Shakespeare y Federico García Lorca, su pasión radica en provocar a sus estudiantes para que creen obras teatrales originales que aborden temas culturales y sociales de Mozambique y África. A través de técnicas de improvisación y procesos colectivos, Angelina fomenta la producción de teatro arraigado en su contexto.
En su búsqueda constante por empoderar a las mujeres en el mundo del teatro, Angelina ha abordado temas como la sexualidad, la infertilidad y la violencia de género en sus obras para inspirar a las mujeres a romper el silencio y encontrar la fuerza para enfrentar y superar las adversidades.
Además de sus esfuerzos en el teatro, Angelina ha sido una defensora incansable de la educación artística y el empoderamiento de los jóvenes. Ha creado proyectos como el Festival Nacional de Teatro Infantil en Mozambique, donde las niñas y niños son protagonistas de sus propias creaciones teatrales. Angelina también ha luchado por el reconocimiento y la sostenibilidad de las artes escénicas en Mozambique, a menudo enfrentándose a desafíos financieros y falta de apoyo gubernamental.
A lo largo de su carrera, Angelina Chavango ha demostrado ser una fuerza impulsora en el mundo del teatro en Mozambique. Su dedicación a la educación, la creación artística y el empoderamiento de las mujeres ha dejado una huella perdurable en la comunidad artística y en la sociedad en general. A través de su trabajo, ha demostrado el poder transformador del teatro para abordar cuestiones sociales, dar voz a las experiencias marginadas y construir puentes de comprensión entre las personas.
Asociación Canto y Danza de Quelimane
La Asociación de Canto y Danza de Quelimane es una vibrante entidad artística sin fines de lucro con sede en Quelimane, Mozambique. Esta asociación, conformada por diversos miembros, incluyendo mujeres talentosas, se dedica a la promoción
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y la práctica de la danza mozambiqueña y contemporánea en la región. A pesar de enfrentar desafíos significativos, esta asociación se ha convertido en un faro de creatividad y expresión artística en su comunidad.
Ha desempeñado un papel vital en el tejido cultural de la ciudad y sus alrededores. Su sitio de ensayo principal es la Casa de Cultura, una institución pública que ha servido como refugio para la práctica artística y la experimentación creativa. A lo largo de los años, los miembros de esta asociación han participado en numerosos festivales y espectáculos, llevando su arte a audiencias diversas.
Sin embargo, como muchas organizaciones artísticas sin fines de lucro en todo el mundo, la Asociación de Canto y Danza de Quelimane enfrenta desafíos críticos. La falta de financiamiento adecuado y equipos profesionales limita su capacidad para profesionalizarse y ampliar su alcance. A pesar de estos obstáculos, sus miembros están decididos a seguir adelante y están unidos por un sueño común: ver un Quelimane desarrollado, donde las artes desempeñen un papel central en la vida de la comunidad.
Entre los miembros destacados de la asociación se encuentran Gina, Páscoa, Ernesta y Mónica, apasionadas bailarinas que se aventuran en una amplia variedad de estilos de danza, desde la tradicional hasta la contemporánea.
La Asociación de Canto y Danza de Quelimane es un ejemplo inspirador de cómo el arte y la cultura pueden florecer en entornos desafiantes. A pesar de los obstáculos, estos miembros, continúan compartiendo su pasión por la danza y trabajando juntos para construir un futuro más brillante para Quelimane a través del arte y la creatividad.
Calene (Cármen Custumes): la mujer que hace reír a Mozambique
Calene, cuyo nombre real es Cármen Custumes, es una destacada actriz y comediante nacida y radicada en la ciudad de Beira, Mozambique. Su carrera teatral abarca un periodo de 33 años, durante los cuales ha dejado una huella significativa en la escena artística del país.
Su trayectoria comenzó a una edad temprana, cuando tenía apenas 7 años. Fue en la Escuela Primaria Heróis Moçambicanos, ubicada en Beira, donde su potencial fue reconocido por un profesor que la recomendó para unirse al grupo de teatro de la Casa Provincial de Cultura de Sofala.
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A medida que crecía, Calene continuó desarrollando su talento en diferentes grupos teatrales, pasando por nombres como “Tantan”, “Meia Preta” y “Massinguita”. Con el tiempo, se convirtió en miembro de dos grupos: “Só Mulheres”, compuesto exclusivamente por mujeres, y “Haya Haya”. Además de ser actriz, también se desempeña como humorista, comediante.
Pese a las dificultades al comenzar en el apoyo de su familia y económicas, ella ha encontrado un lugar especial en el corazón del público a través de su humor y talento en el escenario. Inspirada por su pasión, ha producido videos y contenido para las redes sociales para mantenerse conectada con su audiencia.
Uno de los momentos más significativos de su carrera fue su participación en el programa televisivo “Show de Talentos”, donde formó una dupla con el actor Pastor Jito. Aunque no ganaron el concurso, su participación les brindó visibilidad y les permitió promocionarse aún más en el escenario nacional.
Durante la pandemia de COVID, Calene comenzó a crear videos con el objetivo de hacer reír a las personas que estaban confinadas en sus hogares. Un canal de televisión vio su serie “Casal em Casa”, que realizaba junto a dos compañeros, y la patrocinó. Estos videos se propagaron ampliamente a través de las redes sociales. En esta serie, se exploraba la dinámica de las parejas mozambiqueñas que no estaban acostumbradas a pasar tanto tiempo juntas debido al confinamiento y en cómo las parejas afrontaban la convivencia en el hogar.
También haciendo representaciones tratando temas que afectan a la sociedad, “Marcas do Idai” fue el espectáculo teatral que más éxito financiero tuvo, una tragicomedia que cuenta el impacto que tuvo el Ciclón Idai sobre la sociedad beirense. A lo largo de su carrera, Calene ha colaborado con diversos grupos teatrales y ha participado en festivales de teatro en Mozambique y en otros países, como Angola y Portugal. Además, ha luchado por el reconocimiento y la valoración económica de los artistas en su país. Ha abogado por el papel crucial del teatro en la sociedad, instando al gobierno a prestar más atención a esta forma de expresión artística y a brindar más oportunidades para los actores.
Calene sueña con intercambiar experiencias con humoristas brasileños y aspira a tener un reconocimiento más grande y duradero en la escena artística de Mozambique.
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Edna Jaime: La danza como lenguaje de cambio
“Las artes deben servir a la humanidad, deben ofrecer soluciones para diversos desafíos a los que nos enfrentamos, ya sean ambientales, culturales, políticos o económicos.”
Edna Jaime, nacida en Maputo, es una destacada bailarina y coreógrafa mozambiqueña. Su formación en danza tradicional y canto se realizó en la Casa de la Cultura de Maputo, y su primer contacto con la danza contemporánea fue en 2001, cuando participó en un taller dirigido por la coreógrafa brasileña Lia Rodrigues, quien había sido invitada por CulturArte. Desde entonces, Edna continuó su formación, pasando por un programa de seis meses en desarrollo coreográfico y diversos entrenamientos.
Con “O Bom Combate”, obra creada en 2016, ganó el primer premio en el Concurso de Danza Contemporánea de la Delegación de la Unión Europea en Mozambique y en 2021 ganó el premio ZBK Reconhecimento 2021 en Suiza en el Festival Zürich Theater Spektakel.
Además de sus logros técnicos en danza, Edna Jaime aboga por la mejora de las condiciones de las artes y los artistas en Mozambique. Destaca la importancia de una formación sólida en arte para generar cambio y revalorizar el sector.
Khani Khedi Soluções Artísticas es una iniciativa que busca abordar diversas necesidades y desafíos a través del arte. Khani Khedi proviene de la lengua chope y significa “todos son bienvenidos”, en honor a la lengua de origen de su padre, quien siempre la apoyó incondicionalmente en su camino en el mundo de la danza. La organización es mentora de los proyectos artísticos y sociales de la artista, busca apoyar a artistas emergentes y promueve proyectos culturales que buscan crear accesibilidad a la danza contemporánea por parte de las comunidades. Edna continúa siguiendo su pasión por la danza, demostrando una dedicación incansable y una búsqueda continua de la excelencia artística.
Juliana de Sousa: Tejiendo melodías de diversidad en Inhambane
Juliana de Sousa es una cantante y artista mozambiqueña con un recorrido artístico de alrededor de 10 años. Su enfoque principal es la música, aunque también ha incursionado en otras expresiones artísticas como el teatro. Su camino en el arte comenzó de manera autodidacta, ya que nunca tuvo un espacio formal de formación. A lo largo del tiempo, ha ido adquiriendo conocimientos que la
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fortalecen como cantante y creadora. Desde sus inicios, se ha destacado por su enfoque en la música y su participación en actuaciones en vivo, lo que la ha llevado a realizar una amplia labor en el ámbito de la cultura y el arte.
Originaria de Inhambane, Juliana de Sousa nació en una familia que fusiona las culturas de Zambézia y de Inhambane debido a las dinámicas generadas por la guerra. Creció en la etnia de los bitongas, una de las primeras en entrar en contacto con los portugueses. Este trasfondo multicultural influye en su música y en su enfoque artístico.
A lo largo de su carrera, Juliana ha explorado diversos ritmos musicales, incluyendo nhambarro, zorre, giphawane, makhara y marrabenta, entre otros. Sus canciones suelen tener un contenido crítico y comprometido, buscando despertar la conciencia de la sociedad sobre temas urgentes. Aborda cuestiones como el medio ambiente, la situación de las mujeres jóvenes, la importancia del amor, las relaciones saludables y el bienestar social.
La diversidad cultural de Mozambique es un elemento esencial en su música. Juliana canta en varias lenguas nacionales, como Guitonga, Chitswa, Chopi, Changana, Chuabo y Portugués, lo que le permite explorar y celebrar la rica diversidad lingüística y cultural del país.
En 2015, Juliana de Sousa fue finalista en el concurso “Ngoma Moçambique” con su tema “Marido egoísta”. Además de su faceta como artista, Juliana de Sousa también trabaja como productora y presentadora en la Televisión de Mozambique. Su enfoque multidisciplinario y su compromiso social la convierten en una figura destacada en la escena artística de Mozambique.
Khataza Malate: Transformando el Escenario Musical con Sus Ritmos Electrónicos
Khataza es una talentosa artista cuya carrera como DJ comenzó como un pasatiempo en 2018. Desde sus inicios, ha conquistado una variedad de audiencias en diversos escenarios mozambiqueños.
Su pasión por la música se despertó desde su infancia, quedando impresionada por los cantantes que veía en la televisión en general. Siempre tuvo un fuerte interés en el hip hop y R&B, y desde los 10 años comenzó a hacer versiones y covers de canciones de artistas como Beyoncé, Craig David y Rihanna. Mientras estudiaba
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Arquitectura y Diseño en China en 2010, tuvo la oportunidad de desarrollar su capacidad de actuación en escenarios, presentándose en discotecas y bares.
En China, se sumergió en la escena musical contemporánea, donde se escuchaba mucha música house y electrónica. Esta experiencia influyó en su aprecio por estos géneros musicales. Al regresar a Mozambique, tuvo la oportunidad de tocar
en el club Kwetu y descubrió que disfrutaba mucho de esta experiencia. Durante la pandemia de COVID-19, encontró formas creativas de seguir como DJ y también se aventuró en la producción musical. Realizó un curso en línea para productores de música electrónica.
Khataza ha tenido el honor de ser invitada a participar en varios festivales, como el Festival Na Vivo, donde tocó frente a una audiencia de más de 1500 personas, lo que marcó uno de los momentos más destacados de su carrera. A menudo, es la única mujer en los line-ups, lo que le brinda una oportunidad única para representar a las mujeres en la industria musical.
Su proceso de selección musical incluye la exploración de plataformas como Spotify, iTunes y YouTube, donde los algoritmos le ayudan a descubrir nueva música. Aunque aún no ha compartido mucho de su propia producción musical, ha recibido invitaciones de otros productores para colaborar en canciones y letras.
Khataza ha tenido que enfrentar desafíos en un entorno musical que a menudo es dominado por hombres. A pesar de la presión cultural para priorizar el matrimonio y la familia sobre los sueños artísticos, ha sido valiente al desafiar estas expectativas y perseguir su pasión. Inspirada por artistas como Eliana Nzualo y Lenna Bahule, Khataza se ha esforzado por crear su propio espacio en la industria musical. Con su talento y dedicación, Khataza se perfila como una voz influyente en la escena musical electrónica de Mozambique y más allá. Su sueño es un día poder tener su propio centro cultural en las Mahotas, un barrio periférico de Maputo.
Lenna Bahule: Entre Voces, Culturas y Compromiso Artístico en Mozambique
Lenna Bahule es una destacada cantante, educadora artística y activista cultural nacida en Maputo. Su enfoque artístico se centra en la exploración y el estudio constante de las culturas africanas de su país y de otras diásporas africanas. Durante su residencia en Brasil, donde vivió durante 7 años, profundizó en su investigación sobre la música vocal y los diferentes caminos para utilizar la voz y el cuerpo como
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instrumentos musicales y de expresión artística. Su trabajo discográfico incluye el álbum “NÔMADE”, que en 2016 se ubicó en la lista de los 100 mejores discos producidos en Brasil. En 2019, fue galardonada con el 2º Premio Mozal de Arte y Cultura (PMAC) en la categoría de música.
Como educadora artística, Lenna ha estado liderando y guiando actividades y cursos relacionados con el canto grupal, la música corporal y el repertorio de la música popular de Mozambique. Sus iniciativas incluyen proyectos como KWIMBA, BatuCorpo y Memórias daqui, que coinciden con el título de su segundo álbum.
“NÔMADE” es un álbum acústico que, en cierta medida, tiene una base autobiográfica, según describe Lenna. Para ella, ser una “artista nómada” significa no encasillarse y dejarse influenciar por diversas fuentes musicales de todo el mundo. Su música es una fusión de influencias que provienen de diferentes lugares, creando una expresión única y personal.
El compromiso social y cultural de Lenna es evidente en su enfoque artístico y en sus esfuerzos por abordar cuestiones importantes a través de su música. Cree en el poder de las artes, y la música en particular, para compartir mensajes positivos y unificadores que trasciendan las barreras culturales. Su trabajo busca fomentar un mundo más armonioso y pacífico, en el que las personas dialoguen y se cuiden mutuamente, mientras también se preocupan por la preservación del medio ambiente.
En su música, Lenna busca encontrar el equilibrio entre lo natural y la era del siglo XXI, y enfrenta los desafíos y las presiones de la sociedad actual. También se interesa por crear una conexión sensorial en sus composiciones, utilizando paisajes sonoros y texturas para transmitir su mensaje. A través de su obra, busca compartir una experiencia auténtica y conectada con su audiencia. En su rol como activista cultural, su música busca romper barreras y atraer a una audiencia más amplia, tanto local como internacional.
Lucrecia Paco: Del Barrio a los Escenarios - La Vida Transformadora de una Actriz pionera en Mozambique
Lucrecia Paco es la musa del teatro mozambiqueño. Creció en un barrio suburbano durante los años previos a la independencia del país. Durante esa época, comenzó a interesarse por el arte, específicamente por la danza y el canto. En su barrio, había numerosos grupos que se dedicaban a estas expresiones culturales, y Paco se
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sentía fascinada al observar sus presentaciones. Desde hombres tocando tambores bajo un árbol hasta danzas tradicionales; todo le atraía. La danza de Makwayela, típica del sur de Mozambique y practicada principalmente por mineros, la impactó profundamente.
La independencia de Mozambique en 1975 marcó un cambio significativo en su vida. Con la creación de los Grupos de Canto y Danza Polivalentes en los barrios, Lucrecia Paco tuvo su primer contacto con la lectura, la poesía y el teatro. Fue en estos grupos donde comenzó a declamar poesía de combate en apoyo a la independencia. A la edad de 9 años, se mudó a la ciudad y tuvo la oportunidad de ver una película, lo que despertó su amor por el cine y el teatro. Decidió que quería ser actriz y, a pesar de la falta de una gran producción cinematográfica en Mozambique, encontró su camino en el mundo del teatro.
Aunque ya se había iniciado en el mundo del teatro anteriormente, fue con la formación del grupo profesional Mutumbela Gogo, fundado por Manuela Soeiro en 1986, que su carrera en el teatro realmente despegó. Esta compañía se convirtió en la primera compañía teatral profesional de Mozambique. A pesar de enfrentar desafíos y resistencia de su familia por su elección de convertirse en actriz, Lucrecia Paco continuó su camino en el teatro.
Las profesoras y referencias de Lucrecía fueron Manuela Soeiro, Eva Bergman, Edith Koiber y Joaquina Siquice. Su profesor Henning Mankell, quien junto con Manuela Soeiro, no solo le enseñó a hacer teatro, sino también a mirar al mundo en su dimensión más humana.
A lo largo de los años, Paco y su compañía abordaron temas relevantes para la sociedad a través de sus obras. Desde adaptar textos literarios locales e internacionales hasta crear piezas originales sobre la paz, la equidad de género, el VIH/SIDA y otros temas sociales, Paco utilizó el teatro como una herramienta poderosa para la reflexión y la sensibilización. También participó en proyectos internacionales de intercambio cultural y colaboró con diversas organizaciones, incluidas las Naciones Unidas.
Su compromiso con el arte y su deseo de inspirar y crear conciencia han sido constantes. Además de su trabajo en el escenario, ha estado involucrada en la educación artística y en la promoción de la lectura entre los jóvenes a través de su trabajo en la comunidad.
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A medida que el país ha evolucionado y la sociedad ha cambiado, Lucrecia Paco ha seguido adaptándose y creando, utilizando su voz y sus talentos para abordar los desafíos y las preocupaciones de su país. Su compromiso con el arte como instrumento de cambio y su influencia en la escena artística de Mozambique la han convertido en una figura destacada en el país y más allá.
Manuela Soeiro: la madre del teatro mozambiqueño
Maria Manuela de Lobão Soeiro, más conocida como Manuela Soeiro, nació en la Isla de Ibo, Mozambique. Es una dramaturga y directora mozambiqueña, y fundadora del primer grupo de teatro profesional mozambiqueño, el Mutumbela Gogo.
Cuando era niña, Manuela fue enviada a un internado salesiano para niñas en Namaacha después de la muerte de su padre. Fue allí donde desarrolló su interés por el teatro, inspirada por una monja brasileña que utilizaba el teatro para contar historias. Participó en su primera obra de teatro, “Quo Vadis”.
Después de graduarse en Educación Física, en 1974, durante el Gobierno de Transición después de la firma de los Acuerdos de Lusaka, Manuela formó animadores para trabajar en los Grupos Polivalentes establecidos por el gobierno de Samora Machel, con el objetivo de llevar ciudadanía, salud y educación a la población. Manuela llamó a actores para unirse a estos Grupos y actuó con mujeres, utilizando la dramatización para promover la reflexión. Durante este tiempo, nació su deseo de profesionalizar el teatro en su país.
Manuela también promovió eventos culturales en el cine-teatro Avenida en Maputo, en 1984, con el objetivo de crear un grupo de teatro profesional. Luchó por la concesión del teatro y fundó el Mutumbela Gogo en 1986, el primer grupo de teatro profesional de Mozambique.
Bajo su liderazgo, el grupo se destacó por presentar obras mozambiqueñas. Su enfoque artístico se basó en la poesía y en las narrativas relacionadas con la realidad dramática de su país, llevando el teatro a audiencias internacionales y desarrollando una identidad teatral auténticamente africana.
Manuela Soeiro también ha sido reconocida por su contribución al teatro y las artes en Mozambique. Ha colaborado con artistas internacionales y ha llevado
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su trabajo a varios países, incluyendo Portugal, España, Italia, Francia, Alemania, Brasil, Argentina, India y China. Además, ha desempeñado un papel activo en la promoción y el desarrollo del teatro mozambiqueño a través de su participación en la Asociación Moçambicana de Teatro (AMOTE).
En la actualidad, Manuela Soeiro sigue siendo una figura influyente en el mundo de las artes y la cultura en Mozambique. Continúa impulsando nuevos proyectos de creación artística en la Escuela Sabura, ubicada en Maputo, y es un ejemplo inspirador para las generaciones futuras de artistas y creadores en su país.
Regina dos Santos: Un viaje musical en busca de la autenticidad
Regina dos Santos es una talentosa cantante, conocida por su destacada carrera en la banda de Dub Reggae Fusion llamada GranMah. Su viaje en el mundo de la música comenzó en 2012, cuando se unió a la banda GranMah. Aunque su participación en la música comenzó oficialmente en ese momento, Regina había estado cantando desde una edad temprana, participando en grupos corales desde los 10-11 años. Su interés por la música fue inicialmente fomentado por un profesor que escuchó su voz y la alentó.
A lo largo de su vida, Regina tuvo varias experiencias musicales, incluyendo la participación en un grupo de hip-hop en 2005, donde contribuyó con coros en el estudio. Durante su tiempo en la universidad, formó parte de un grupo gospel y también estuvo involucrada en un grupo de Funk, explorando diferentes géneros musicales como hobby.
Fue en 2011, después de regresar a Mozambique tras completar su maestría en el extranjero, cuando comenzó a tomar la música de manera más seria. En ese momento, su asociación con un amigo llamado Guillaume desencadenó su interés en la composición de canciones y letras. Regina escribe sus propias letras y se destaca como compositora en su carrera musical.
Regina encuentra inspiración para su música a través de la instrumentación y la melodía. Ella y su banda GranMah tienen la libertad de escribir y crear música sin sentir presiones externas, lo que les permite explorar diferentes géneros y estilos musicales.
A pesar de los desafíos en la industria musical, Regina y su banda han tenido una respuesta positiva tanto en Mozambique como en el extranjero. Su música fusiona diversas influencias, lo que la hace única y atractiva para el público.
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Regina también aboga por la promoción de mujeres en roles técnicos dentro de la industria musical, reconociendo la falta de representación de género en áreas como la producción y la gestión de eventos.
Además de su trabajo con GranMah, Regina es una artista versátil que toca la guitarra y está trabajando en proyectos musicales en solitario, explorando el género R&B.
A lo largo de su carrera, Regina dos Santos ha demostrado ser una artista apasionada y valiente que utiliza su música para expresar su autenticidad y para inspirar a otros a hacer lo mismo. Su compromiso con la música y su lucha por la igualdad de género en la industria musical la convierten en una figura destacada en la escena musical de Mozambique.
Rostalina Dimande: Rompiendo estereotipos a través de la danza
Rostalina Dimande es una destacada artista y bailarina de Mozambique, cuyo viaje en el mundo de la danza comenzó en 2006, cuando aún era una estudiante de quinto grado en una escuela primaria. Su primer encuentro con la danza fue influenciado por su tía, con quien había crecido y tenía una fuerte conexión.
Rostalina se sentía atraída por la danza tradicional mozambiqueña y pasaba su tiempo libre observando ensayos y ejecuciones de danza en su escuela. En un momento en que su familia enfrentaba conflictos internos y sus padres se separaban, la danza se convirtió en un refugio para ella, ofreciéndole un escape de la situación en casa.
En aquel entonces, las escuelas primarias de Mozambique tenían núcleos de arte donde los estudiantes podían explorar diversas formas de expresión artística, incluyendo poesía, pintura y danza. Rostalina participó en estos núcleos de arte en una escuela pública en el barrio de Polana Canhiço. A pesar de las presiones sociales que insistían en que las niñas debían centrarse en la educación y en las tareas del hogar, Rostalina persistió en su pasión por la danza.
Después de completar la escuela primaria, Rostalina se unió a la Asociación Cultural Comunichiv y continuó su formación en danza. Aunque se retiró temporalmente de la danza para dedicarse a la maternidad en 2012, regresó en 2014 y se unió al grupo de Canto y Danza Milorho, donde siguió desarrollando sus
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habilidades en danza tradicional.
Su viaje en la danza dio un giro interesante cuando se encontró con la danza contemporánea. Al principio, encontró este estilo de danza inusual, pero finalmente, en 2019, aceptó el desafío y comenzó a aprender danza contemporánea. Participó en talleres con coreógrafos locales y extranjeros, lo que amplió su perspectiva sobre la danza y su capacidad como bailarina.
Rostalina también se involucró en proyectos de danza que destacaban el papel de las mujeres en la danza contemporánea. En 2022, formó parte de una incubadora de danza dirigida por la destacada bailarina Janeth Mulapa, que resultó en una coreografía llamada “Vozes” que se presentó en el Festival Gala-Gala.
Rostalina es un ejemplo inspirador de una mujer que desafía los estereotipos y los obstáculos para seguir su pasión en el mundo de la danza. Además de ser una talentosa bailarina, también se ha convertido en directora artística y profesora, compartiendo su amor por la danza con la próxima generación.
Silke Teresa Guilamba: Melodías de empoderamiento y autodescubrimiento
La historia de Silke Teresa Guilamba, conocida inicialmente artísticamente como Tégui y luego como Silke Teresa Guilamba , es un viaje fascinante a través del mundo de la música en Mozambique.
Silke Teresa Guilamba descubrió su pasión por la música desde una edad temprana, influenciada por su familia y sus primeras experiencias con la música. Sus primeros contactos musicales se dieron al escuchar música en diferentes idiomas y, sin darse cuenta, desarrolló un oído musical excepcional. Sin embargo, en un principio, nunca soñó con convertirse en cantante.
El verdadero comienzo de su carrera musical se produjo cuando una amiga escuchó su voz al cantar una canción y le elogió su talento vocal. A partir de entonces, las personas comenzaron a notar su don para el canto.
A pesar de su amor por la música, Silke Teresa Guilamba puso su educación en primer lugar. Sin embargo, la música se convirtió en un refugio emocional para ella, especialmente durante momentos difíciles. La música se convirtió en una fuente de sanación y autodescubrimiento.
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Silke Teresa Guilamba pasó por diversas etapas en su carrera, desde grabar en estudios independientes hasta actuar en vivo en restaurantes y lanzar sus grabaciones en SoundCloud. A medida que su música ganaba seguidores y su confianza crecía, comenzó a explorar géneros y colaboraciones más experimentales.
Uno de los momentos clave en su carrera fue cuando decidió retomar su nombre real, Silke Teresa Guilamba, después de un proceso de autodescubrimiento espiritual. Este cambio de nombre marcó una nueva fase en su desarrollo artístico, donde buscaba ser su verdadero yo y crear música que realmente tuviera un impacto en la vida de las personas.
A lo largo de los años, Silke Teresa Guilamba ha lanzado varios proyectos musicales, como “Namastê” y “Eleven”, que reflejan sus experiencias personales y su crecimiento como artista.
Su enfoque en la intuición y la conexión espiritual se refleja en su proceso creativo, donde busca transmitir un mensaje de empoderamiento y positividad a través de su música. Además, su interés en la arquitectura le ha proporcionado una metodología única para abordar la creación artística y el diseño de conceptos.
Silke se destaca como una de las voces más poderosas de la nueva generación de artistas en Mozambique. A lo largo de su carrera, ha demostrado su valía como cantante, compositora y artista independiente, y continúa explorando nuevas formas de impactar a través de su música en un mundo en constante cambio.
Xixel Langa: Una Larga Carrera Musical que Rompe Tabúes Sociales
La historia de Xixel Langa es un testimonio de dedicación y pasión por el arte en Mozambique.
Xixel Langa, cuyo nombre completo es Xisseve Janett Hortêncio Ernesto Langa Mahuaie, es una cantante y bailarina nacida en Maputo, Mozambique. Su historia artística comenzó en 1994 cuando ingresó en la Escuela de Danza de Maputo, donde comenzó a desarrollar sus habilidades de baile. Además de su formación en danza, también estudió canto tradicional.
Desde sus primeras incursiones en el mundo artístico, Xixel Langa colaboró con varios grupos, entre ellos Timbila Muzimba, Kapa Dech y la banda de reggae
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Mighty Vibration. Sin embargo, fue en su carrera en solitario donde realmente brilló. A la temprana edad de 19 años, comenzó su carrera en solitario como cantante y bailarina.
A lo largo de su carrera, Xixel Langa ha acumulado numerosos logros y reconocimientos. En 2004, fue galardonada como Mejor Nuevo Talento, y al año siguiente, en 2005, recibió el premio a la Mejor Voz en la industria musical de Mozambique.
Uno de los hitos más significativos en la carrera de Xixel Langa fue el lanzamiento de su álbum en solitario titulado “Inside me” en 2016. Este álbum marcó un momento crucial en su vida artística, ya que representó un salto audaz hacia el mundo de la música afrojazz. La inspiración para este álbum llegó en un momento en que estaba embarazada, lo que la hizo sentirse especialmente conectada con su música y su arte.
Además de sus logros musicales, Xixel Langa ha llevado su música a audiencias internacionales. Ha realizado actuaciones en teatros y salas de conciertos en Alemania y Francia, y ha participado en festivales de música en Taiwán y otros lugares.
A lo largo de su carrera, Xixel Langa ha demostrado ser una artista multifacética que combina su pasión por la música y el baile. Su música refleja su compromiso con la promoción de la riqueza cultural de Mozambique y su profundo amor por el arte.
A pesar de los desafíos y obstáculos que ha enfrentado en su camino artístico, Xixel Langa ha perseverado y ha dejado una huella significativa en la escena musical de Mozambique. Su historia es un testimonio del poder de la dedicación y la pasión en el mundo del arte.
Artes plásticas y (audio) visuales
La escena artística de Mozambique desde su creación como Estado ha sido moldeada y enriquecida por la destacada presencia de mujeres a lo largo de su historia. Desde la época de la independencia hasta la actualidad, las artistas mozambiqueñas han dejado su marca en las artes plásticas, visuales y audiovisuales.
Artistas como la pintora Bertina Lopes, la escultora Reinata Sadimba, la cineasta Isabel Noronha y la fotógrafa Moira Forjaz allanaron el camino para una pluralidad
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de voces creativas en la actualidad.
A partir de la apertura del Núcleo de Arte en 1936 en Maputo y otros espacios similares, artistas mozambiqueñas y residentes portugueses comenzaron a realizar sus primeras exposiciones en las décadas de 1950 y 1960. Algunas de las primeras mujeres artistas mencionadas incluyen a Ana Maria, Dana Michaelles, Teresa Rosa D’Oliveira, Maria da Luz y otras, aunque se dispone de pocos detalles sobre sus carreras (Matusse, 2021).
Bertina Lopes, nacida en 1924 y fallecida en 2012, es reconocida como una figura destacada en las artes plásticas modernas de Mozambique. Se le atribuye la “maternidad” de estas artes, y su influencia en artistas como Malangatana es innegable. Después de estudiar en Portugal, Bertina regresó a Mozambique, donde enseñó arte y participó activamente en el Núcleo de Arte antes de continuar su carrera artística en el extranjero (ibid.).
En la década de 1980, surgieron nuevas artistas femeninas en Mozambique, como Isabel Martins, Marizava, Bela Rocha y otras, que contribuyeron a enriquecer el panorama artístico del país.
En la década de 1990, Reinata Sadimba, nacida en 1945, emergió como una figura prominente en el mundo de la cerámica, llevando su arte Makonde a nivel mundial con sus formas únicas y fantásticas. Reinata Sadimba es considerada una de las artistas mujeres más importantes de África y ha recibido numerosos premios y reconocimientos por su trabajo (ibid.).
En el contexto del mundo audiovisual, la situación de las mujeres presenta desafíos significativos. En la Generación de la Independencia, que representa a los cineastas más antiguos y establecidos en Mozambique, la presencia de mujeres cineastas es mínima. Aunque se mencionan a algunas cineastas como Isabel Noronha, Moira Forjaz y Fátima de Albuquerque, su número es limitado en comparación con los hombres cineastas. Esta subrepresentación de las mujeres en roles de dirección sugiere una desigualdad de género persistente en la industria cinematográfica mozambiqueña (Leitão Zampaulo, 2019).
En la Generación Intermediaria, se observa una mayor participación de mujeres en roles relacionados con el audiovisual, como la producción, la dirección y la edición. Sin embargo, parece que pocas de ellas han dirigido sus propias películas, lo que
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indica que, aunque haya un aumento en la presencia de mujeres en la industria, todavía pueden estar subrepresentadas en puestos de liderazgo creativo (ibid.). La Generación Actual, que comprende a estudiantes y jóvenes recién graduados en cine, muestra un aumento en el número de mujeres que ingresan en cursos de cine. Esto podría ser un indicio positivo para el futuro y una mayor representación de mujeres en la industria cinematográfica mozambiqueña (ibid.).
El universo de la moda cuenta con un incipiente sector industrial, aunque la producción está externalizada principalmente a países asiáticos. Además, está marcado por la capulana como elemento distintivo de la moda mozambiqueña y el consumidor objetivo es la clase media y alta urbana. En este sector, se encuentra una generación joven de mujeres empresarias que tienen como plataforma importante la Mozambique Fashion Week para exponer sus productos a nivel nacional.
Desde Maputo hasta Beira, y desde la moda hasta la fotografía, estas mujeres artistas han desafiado las expectativas, han explorado nuevos territorios creativos y han contribuido a la riqueza cultural de Mozambique. Sus historias de pasión, perseverancia y dedicación son un testimonio inspirador de cómo el arte puede ser una poderosa herramienta de expresión y empoderamiento.
2La capulana, también conocida como como kanga o chitenge, tela rectangular de algodón, se originó en Kenia en el siglo XIX, gracias a comerciantes portugueses que importaron telas de la India. Inicialmente, los diseños estaban inspirados en el sari indio y el sarong indonesio, pero con el tiempo, se adaptaron a las preferencias de la clientela africana, fusionándose con la rica tradición textil del continente. (El País, 2011)
Amirah Adam: Emprendiendo en el mundo dela moda a través de la capulana
Amirah Adam es una figura destacada en el mundo de la moda en Mozambique, cuya historia está marcada por la pasión, la creatividad y la perseverancia. Originaria de Maputo, Mozambique, Amirah comenzó su camino en el arte de la moda después de estudiar diseño gráfico en Portugal. Aunque en sus primeros días no tenía una comprensión completa de lo que la moda representaba, con el tiempo, se dio cuenta de que era mucho más que simplemente prendas de vestir. Su viaje en el mundo de la moda comenzó mientras estudiaba en Portugal. Durante este tiempo, desarrolló sus habilidades de diseño, centrándose en cómo la moda podía ser una forma de contar historias y cambiar la realidad.
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Su proyecto final se centró en la capulana, una tela tradicional con una rica historia cultural en Mozambique. Amirah exploró técnicas de estampado y tintura para crear diseños únicos con esta tela. Este fue el primer paso en su viaje hacia la moda y la industria textil.
Después de regresar a Mozambique, Amirah decidió dar un paso más en su carrera y comenzó a producir prendas de vestir y accesorios con sus propios diseños. Comenzó creando prendas para sí misma, pero pronto atrajo la atención de otras personas que querían sus diseños únicos. Este fue el comienzo de su carrera como diseñadora de moda y productora textil.
A lo largo de los años, Amirah se ha destacado en la industria de la moda en Mozambique. Se ha convertido en una asesora de producción de moda y ha ampliado su enfoque para incluir una variedad de productos textiles, desde ropa hasta artículos textiles para la restauración y hotelería. Uno de los desafíos más significativos que ha enfrentado es la falta de acceso a materiales locales de calidad, lo que la llevó a buscar socios internacionales para garantizar la calidad y la sostenibilidad de su trabajo.
Amirah también se ha involucrado en la comunidad de la moda en Mozambique y ha contribuido a fomentar el crecimiento de la industria. Ha participado en eventos como el Mozambique Fashion Week y ha trabajado en estrecha colaboración con otros diseñadores y profesionales de la moda en el país.
Amirah Adam se ha destacado como una figura inspiradora y visionaria. Su pasión por la moda, su compromiso con la calidad y su determinación para superar obstáculos la convierten en un ejemplo destacado de una mujer empoderada que ha dejado una huella significativa en el mundo del arte y la moda en Mozambique.
Benoca Alfredo Malinga: La Trayectoria de una Diseñadora Empoderada en Mozambique
La historia de Benoca Alfredo Malinga es un testimonio inspirador de cómo una pasión temprana puede llevar a una carrera exitosa en el mundo de la moda en Mozambique. Su amor por la moda se arraiga en su infancia, donde creció rodeada de la habilidad de su abuela costurera, lo que la inspiró desde una edad temprana a explorar el mundo de la costura y el diseño.
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Benoca creció bajo la influencia positiva de su abuela, una hábil costurera, cuyo amor por la moda y la costura la dejaron una impresión duradera. Desde una edad temprana, Benoca comenzó a involucrarse con la costura, aprendiendo los fundamentos de esta habilidad. Su madre, reconociendo su potencial y pasión, la inscribió en la escuela de costura Bernina en 2004. A pesar de haber elegido más tarde una carrera en informática durante sus estudios universitarios, su amor por la moda y la costura nunca la abandonó. Benoca continuó trabajando en proyectos de costura como pasatiempo, atendiendo a pedidos de amigos y familiares.
La transición de pasatiempo a profesión se produjo cuando decidió inscribirse en el Mozambique Fashion Week en 2017. Con el estímulo de su familia y amigos, Benoca comenzó a tomar su pasión por la moda más en serio. En 2017, fundó su propia marca, Mabenna, un nombre inspirado en la alcurnia cariñosa que su abuela solía darle.
Su enfoque en la moda es impulsado por su creatividad innata. Benoca encuentra inspiración en su entorno cotidiano, observando el mundo de manera única y buscando capturar su perspectiva en sus diseños. Para ella, la moda es una forma de expresión natural, y el feedback positivo de las personas a su alrededor la motiva aún más.
En Mabenna, Benoca lidera un equipo de profesionales de la costura, trabajando en colaboración para crear diseños únicos. Ella despliega su creatividad en la parte creativa, proporcionando orientación en cortes y detalles.
Carmen Muianga: Artista Plástica y Pionera de la Colagrafía en Mozambique
Carmen Maria Muianga es una destacada artista plástica nacida en Lourenço Marques (actual Maputo), Mozambique. Su historia en el mundo del arte está marcada por una profunda pasión por la creatividad y un compromiso duradero con la enseñanza y la promoción de las artes visuales en su país.
Desde una edad temprana, Carmen mostró interés por el arte. Su viaje comenzó en la infancia, cuando asistía a una guardería donde se fomentaba la creatividad a través del dibujo y la danza. Durante esos años, comenzó a dibujar y a guardar sus obras, algunas de las cuales eran creaciones de su hermano. Sin embargo, su
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verdadero punto de partida en el mundo del arte se produjo en la escuela primaria, cuando tuvo la oportunidad de tomar clases de dibujo en 1986. En ese momento, Mozambique experimentaba eventos históricos significativos, como la caída del
avión en el que viajaba Samora Machel. Carmen creó una obra de arte inspirada en un militar, un soldadito algo peculiar en su diseño, lo que llamó la atención de su profesor. Este profesor estaba preparando a un grupo de estudiantes para ingresar a la Escuela Nacional de Artes Visuales (ENAV), y Carmen, gracias a su talento, pudo unirse a ese grupo selecto. Después, comenzó a estudiar arte en Cuba, donde se especializó en técnicas de grabado, incluyendo la colagrafía, una técnica que la cautivó y que continúa utilizando en su trabajo actual.
El arte de Carmen ha sido exhibido en numerosas exposiciones individuales y colectivas en Mozambique y en el extranjero, incluyendo Japón, Namibia, Italia, Finlandia, Holanda, China y Portugal. Su enfoque en la colagrafía la ha destacado en la escena artística, y ha compartido su conocimiento y pasión por esta técnica a través de talleres y enseñanza en la ENAV.
Además de su carrera artística, Carmen Muianga también ha estado comprometida con la promoción del arte en Mozambique. Co-fundó el Movimento de Arte Contemporânea de Mozambique (MUVART), que organizó actividades culturales y exposiciones para fomentar el arte contemporáneo en el país. También ha sido una defensora de la enseñanza del arte y ha trabajado como profesora en varias instituciones educativas, incluyendo la ENAV.
Carmen ha contribuido significativamente a la escena artística de Mozambique y ha dejado una marca duradera en la promoción del arte contemporáneo en su país. A través de su dedicación al arte, la enseñanza y la promoción cultural, ha inspirado a otras generaciones de artistas y ha ayudado a establecer una base sólida para el crecimiento continuo de las artes visuales en Mozambique. Su contribución al arte contemporáneo y su papel como pionera de la colagrafía la convierten en una figura destacada en el panorama artístico de Mozambique y más allá.
Chantell Hassan: Una Artista Plástica Pionera en la ciudad de Beira
La vida y obra de Chantell, artista plástica de la ciudad de Beira, Mozambique, son un testimonio de valentía y dedicación en un mundo artístico que a menudo pasa por alto el talento femenino. Su viaje en el arte ha estado marcado por desafíos y logros notables.
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Chantell comenzó su viaje artístico en Sudáfrica, donde estudió secundaria y tuvo un mayor contacto con el mundo del arte. Inicialmente, optó por estudiar moda porque pensaba que era una elección más segura desde el punto de vista financiero, pero pronto se dio cuenta de que su pasión estaba en las artes plásticas. Su vida dio un giro importante cuando obtuvo una beca para estudiar arte en los Países Bajos. Este cambio le permitió explorar su creatividad y expandir su horizonte artístico.
Desde el principio, Chantell se destacó como una artista visionaria. Durante su estancia en los Países Bajos, se cuestionó constantemente sobre la naturaleza del arte que se estaba produciendo en Mozambique. Exploró con valentía temas de espiritualidad, incluso cuando estos eran un tabú en su tierra natal. Esta valiente exploración la llevó a desafiar las convenciones y a profundizar en aspectos de su creatividad.
Sin embargo, el camino de Chantell no ha estado exento de desafíos. A menudo se ha sentido aislada como artista, especialmente siendo la única mujer en el núcleo de artistas de la Casa do Artista. Esta situación le abrió los ojos a la necesidad de fomentar y apoyar a las artistas jóvenes en su comunidad. Fue esta experiencia la que la inspiró a impartir clases de arte y crear programas en este centro artístico beirense, con la esperanza de allanar el camino para las futuras generaciones de mujeres artistas en Mozambique.
El sueño de Chantell es abrir su propia galería de arte en Beira, donde pueda exponer su trabajo y el de otros artistas locales. Reconoce la falta de aprecio por el arte y la educación artística en su comunidad y espera cambiar esa realidad a través de su compromiso con las futuras generaciones de artistas.
Dilayla Romeo: Artista Multifacética y Puente Cultural entre España y Mozambique
Dilayla Romeo es una artista multifacética nacida en Tenerife, España, que ha encontrado su hogar y su inspiración en Mozambique. Su viaje en el mundo del arte es un testimonio de su dedicación a la creatividad y su compromiso con la exploración cultural.
Desde una edad temprana, Dilayla estuvo inmersa en el mundo del arte y el movimiento debido a la influencia de su madre, quien se dedicaba al baile. A los
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tres años, su padre la inscribió en clases de gimnasia rítmica y ballet. Su infancia estuvo marcada por la actividad deportiva y la danza.
Sin embargo, su vida artística comenzó a tomar forma en la adolescencia, cuando comenzó a estudiar diseño de moda a los 20 años. Durante este tiempo, experimentó con el modelaje y la creación de ropa para una tienda. Sin embargo, después de cuatro años, decidió que el diseño de moda no era su camino y se volcó hacia la fotografía.
El arte de la fotografía se convirtió en su pasión después de comprar una cámara digital durante un viaje a Túnez, su primera experiencia en el extranjero. Se inscribió en cursos de fotografía y, posteriormente, en un grado superior de fotografía artística de tres años. Este período de formación la ayudó a desarrollar sus habilidades y a definir su voz artística.
Barcelona fue el escenario de un nuevo capítulo en la vida de Dilayla. Sin embargo, fue en Mozambique donde encontró la libertad creativa que anhelaba. Comenzó a fotografiar a personas dentro de la escena artística y musical underground, se involucró en la comunidad LGBTQ+ y se aventuró en la exposición de su trabajo.
Dilayla no se detuvo en la fotografía. Su faceta de diseño se despertó, y comenzó a colaborar con artesanos locales en la creación de piezas de moda utilizando materiales sostenibles como la paja, la madera de sándalo y el aluminio reciclado. Estas colaboraciones no solo le permitieron explorar su lado creativo, sino que también la conectaron profundamente con la cultura mozambiqueña y su compromiso con la sostenibilidad.
Uno de sus proyectos más notables, llamado “UpCycle”, se centró en la creación de piezas de aluminio reciclado a partir de sartenes en desuso. Dilayla adopta una perspectiva consciente sobre el medio ambiente y se esfuerza por crear arte que sea sostenible y duradero.
A lo largo de su carrera, Dilayla ha enfrentado desafíos comunes a muchos artistas: la lucha por mantener la integridad creativa en un mundo comercial, la necesidad de equilibrar la pasión artística con la necesidad financiera y la búsqueda constante de oportunidades de exposición y apoyo.
Su obra fotográfica ha evolucionado hacia la abstracción, y encuentra inspiración en sus viajes, su conexión con la cultura mozambiqueña y su búsqueda de una voz
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artística única. Dilayla ha demostrado que el arte puede ser una forma poderosa de comunicar mensajes importantes, como el cambio climático, y una forma de conectar culturas y experiencias de vida diferentes.
A través de su arte y su compromiso con la comunidad artística de Mozambique, Dilayla Romeo se ha convertido en un puente cultural entre Europa y África. Su enfoque en la sostenibilidad, su pasión por la fotografía y su voluntad de explorar nuevas formas de expresión artística la convierten en una figura destacada en la escena artística contemporánea de Mozambique.
Élia Gemuce: Profesora, Curadora y Galerista Comprometida con la Profesionalización del Arte en Mozambique
Élia Gemuce es una destacada figura en el mundo del arte y la educación artística en Mozambique. Su viaje en el arte comenzó cuando todavía era estudiante de secundaria. Durante una visita de estudio a la Escuela de Artes Visuales, quedó fascinada con lo que vio. La exposición de trabajos de estudiantes, los diversos departamentos y los talleres de la escuela la marcaron profundamente. Decidió seguir su pasión e inscribirse en la Escuela de Artes Visuales (ENAV) después de completar el 7º grado. Aquí, tuvo el privilegio de explorar todas las disciplinas artísticas que la escuela ofrecía. Durante el primer semestre del primer año, tuvo la oportunidad de experimentar diferentes cursos como cerámica, textiles y artes gráficas, lo que le permitió descubrir su afinidad por las artes gráficas. Durante sus años de estudio, participó en exposiciones de arte y comenzó a trabajar como diseñadora gráfica, primero en algunas agencias de publicidad y luego de forma independiente.Su trayectoria artística también fue marcada por la experiencia que tuvo cuando, aún siendo estudiante, trabajó como formadora en un proyecto de Handicap International, donde tuvo la oportunidad de trabajar en actividades artísticas con niños especiales con varios tipos de discapacidad. Esta experiencia la llevó a descubrir su amor por la enseñanza y la formación. El mismo año de su graduación, Élia comenzó a dar clases en la Escuela de Artes Visuales, donde enseñó disciplinas como técnicas digitales, diseño gráfico, edición electrónica, proyecto gráfico y multimedia. También trabajó en agencias de publicidad mientras seguía enseñando en la escuela. Su pasión por la enseñanza la llevó a obtener una beca en Portugal financiada por la cooperación Suiza, donde amplió sus conocimientos en diseño y medios digitales. Al regresar a Mozambique, abrió, en 2001, su propio estudio de diseño gráfico y continuó trabajando como diseñadora gráfica profesional y profesora de artes gráficas. Élia estudió Cultura y Arte con especialización en Multimedia en Sudáfrica, también cursó fotografía
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y edición de video en Portugal, Escenografía y utilería, y además Ciencias de la comunicación con especialización en Marketing y Publicidad en Mozambique. También se formó en tecnologías de impresión gráfica en Sudáfrica. A lo largo de su carrera, Élia compartió su experiencia a través de la enseñanza. Comenzó a dar clases antes de completar su propia formación y continuó enseñando en diversas instituciones como IPCI - Instituto Profesional de Comunicación e Imagen, ISCIM – Instituto Superior de Comunicación e Imagen, ACIPOL – Academia de Ciencias Policiales, Universidad Politécnica de Mozambique y Universidad Pedagógica además de la Escuela de Artes Visuales. Trabajó como consultora y técnica de sistemas de impresión para algunas imprentas en el país, especialmente para la Central Impresora y Editora de Maputo. Uno de los hitos significativos de su carrera fue cuando el gobierno de Mozambique la seleccionó para diseñar las medallas de los honores y condecoraciones. Aunque inicialmente fue un proyecto conjunto con otros profesores, finalmente le confiaron todo el proyecto. Diseñó y produjo 36 medallas diferentes, cada una con su propio concepto y diseño. Élia también desarrolló un interés por la semiótica del arte y realizó investigaciones en esta área. Posteriormente, al postularse al Máster por su experiencia profesional y currículum, la universidad la calificó para hacer el doctorado directo y así se postuló para hacer el Doctorado en Medios de Arte Digital, lo que le permitió explorar aún más su pasión por el arte y la tecnología. Otro momento destacado de su carrera fue cuando tuvo la oportunidad de diseñar el concepto creativo para las vestimentas de graduación del Instituto Superior de Artes y Cultura para los estudiantes de todos los cursos, directores y el Rector y Vicerrector, y hacer el diseño y costura en colaboración con Irís Santos Con su profundo conocimiento del arte y de la educación, Élia Gemuce, en sociedad con el artista Gemuce, su marido y socio, fundaron una galería de arte y agencia, Arte d’Gema. Su objetivo y sueño es ayudar a los artistas de Mozambique en su carrera profesional, brindándoles apoyo en la creación de su portafolio, proyectos y producción artística. La galería también aspira a ser un espacio para la profesionalización e internacionalización de los artistas..
Emília Nhate: Cineasta y Narradora de Historias
Emília Nhate es una cineasta mozambiqueña que comenzó su carrera en la Escuela de Comunicación y Artes (ECA), donde se licenció en Periodismo. Durante ese período, también se involucró en el teatro y trabajó como actriz en un grupo teatral local. Además, trabajó en la radio como locutora, lo que la expuso al mundo de los medios de comunicación y la narrativa.
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La pasión de Emília por el arte se remonta a su adolescencia, cuando se unió a un grupo de teatro en una asociación de viudas. A pesar de su interés por las artes, Emília tuvo que explorar otros campos debido a las limitaciones financieras para pagar sus estudios. A lo largo de los años, trabajó en la industria de la hotelería y el turismo para financiar sus estudios.
Sin embargo, su amor por las artes nunca desapareció por completo. Emília continuó escribiendo durante sus años de estudio, y sus proyectos, como crónicas y radionovelas, la mantuvieron conectada con la creatividad y la narración de historias.
Fue en la ECA donde Emília finalmente regresó al mundo del cine y los documentales. Aquí, comenzó a escribir y producir sus propias historias, enfocándose en temas que reflejaban la sociedad mozambiqueña y las experiencias de sus compatriotas. Emília se inspiró en las historias que le contaban sus abuelos junto a la fogata durante su infancia y buscó llevar esas narrativas a la vida a través del cine y los documentales.
Uno de sus primeros documentales fue sobre la capulana, una prenda tradicional en Mozambique. Aunque este documental no se publicó, permitió que Emília explorara las historias de las mujeres que compraban capulanas en Mozambique y las vendían en Sudáfrica. También creó un documental sobre el “lobolo”, una práctica cultural en la que las familias pagan una dote por una mujer que ha fallecido, un tema sensible pero importante que planea publicar en el futuro. A lo largo de su carrera, Emília trabajó en proyectos de radio y televisión, incluyendo su participación en un concurso de escritura de cuentos y crónicas financiado por la Fundación Fernando Leite Couto (FFLC). También trabajó como camarógrafa y técnica de edición en el proyecto “Moçambique As Quatro Rodas”, un proyecto de turismo que la llevó a viajar por todo el país para mostrar su diversidad cultural Más recientemente, Emília comenzó a trabajar en Promarte, en el proyecto “Resistencia y Afirmación Cultural”. Inicialmente, comenzó como técnica, pero ahora está trabajando en la producción de películas y documentales.
Emília está decidida a continuar su carrera en el cine y el arte. Planea escribir y producir más documentales y, en el futuro, una película de ficción. Su objetivo es convertirse en una referencia en Mozambique y seguir inspirando a otros a través de su trabajo creativo.
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Jamaila Brites: Creando Arte y Moda con un Mensaje
La historia de vida de Jamaila es un testimonio inspirador de cómo la creatividad puede ser una poderosa herramienta de expresión y empoderamiento.
Desde joven, experimentó circunstancias difíciles, lo que la llevó a buscar formas de lidiar con sus emociones. Fue entonces cuando descubrió la creatividad como una vía para expresar sus sentimientos. Encontró en el arte, en particular el dibujo y la pintura, una forma de comunicarse cuando las palabras parecían insuficientes.
La pintura se convirtió en un refugio para Jamaila, y sus obras se convirtieron en una forma de catarsis emocional. Durante sus años de estudio en Porto, Portugal, donde estudió Medicina, encontró en la pintura una compañía valiosa mientras vivía lejos de su hogar. Aunque la mayoría de sus obras dejó en Portugal, las que trajo consigo se convirtieron en tesoros que la conectaban con su pasado y sus emociones.
La moda también se cruzó en el camino de Jamaila. Desde joven, tenía un interés secreto en la moda, viendo canales internacionales de moda y adaptando su propia ropa a medida que no había muchas opciones de diseñadores en Mozambique. Su madre la alentó a explorar este interés, y así comenzó su viaje en el mundo del diseño de moda. Aprendió a diseñar y crear ropa por sí misma, experimentando con diseños y utilizando materiales inusuales, como retazos de jeans para sus creaciones.
La presión aumentó cuando presentó su primera colección en el Mozambique Fashion Week (MFW). Aunque inicialmente era un proyecto artístico, la moda en Mozambique resulta ser un desafío solitario y competitivo. Sin embargo, Jamaila siguió adelante, y su enfoque en la moda sostenible y de alta calidad la distinguió en el campo.
El arte y la moda de Jamaila a menudo llevan consigo un mensaje profundo. Sus creaciones a menudo exploran temas de identidad, individualidad y cuestiones existenciales. A través de sus pinturas y escritos, busca desafiar las convenciones sociales y provocar reflexiones más profundas sobre la sociedad en la que vive.
Además de su carrera artística, Jamaila también se dedica a empoderar a otras mujeres. Fundó una asociación para enseñar habilidades de costura a jóvenes
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interesadas en la moda, brindándoles una oportunidad para aprender y prosperar en la industria.
Gigliola Zacara: Cine y Compromiso Social en Mozambique
“Si quieres ser un artista de verdad, es necesario traer la verdad. No siempre serás aceptado por tu comunidad, familia, amigos o entorno.”
Gigliola, nacida en Maputo, es una figura versátil que ha dejado su marca en diversos campos artísticos en Mozambique. Con una licenciatura en Estadística y Gestión de la Información, Gigliola es actriz, directora, bailarina, coreógrafa, profesora de danza, modelo publicitario y productora artística.
Desde 2005, ha estudiado interpretación para teatro, cine y televisión en Mozambique, Brasil y Angola. Ha sobresalido como actriz de cine en películas como “O jardim do outro homem”, “Traídos pela Traição”, “Quero ser uma estrela”, “Malha”, “Resgate” y la “Zacarias”. También ha participado en diversas obras de teatro y ha contribuido en doblajes de voz para series, radionovelas, películas institucionales y videoclips de artistas mozambiqueños.
Gigliola comenzó a explorar la dirección teatral, centrándose en obras tanto para el público infantil como para adultos, y más tarde se inclinó hacia el teatro con propósito social, dedicado a campañas de sensibilización en diversas temáticas comunitarias, como la igualdad de género.
En 2009, fundó la Asociación Centro de Recriação Artística, donde desempeña el papel de Coordinadora General y Artista. Esta asociación busca promover, desarrollar e incentivar actividades artísticas, recreativas y sociales. Dentro del Centro, se encuentra la Red de Mujeres que busca incorporar a voluntarias para que aprendan a hacer cine y participen en sesiones de dramaterapia, impulsando el voluntariado en la comunidad.
Gigliola también ha establecido colaboraciones con diversas instituciones en proyectos como el “Projecto Olhar Artístico”, “Projecto Afriqueer - Drama For Life Company Teatre” (Sudáfrica), “Projecto Mabuko Wa Wina”, “Projecto Teresinha –Uma vida em Moçambique” y “Projecto Brasil nas Escolas”, entre otros.
En el cine, debutó como actriz principal y actuó junto a nombres ya establecidos
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en la industria. Además, ha demostrado su destreza en la dirección, ganando reconocimientos tanto a nivel nacional como internacional por sus producciones cinematográficas. Sus primeras producciones cinematográficas fueron las películas “Nkwama”, de 2020, y “Silêncio”, de 2021, que atrajeron premios a nivel nacional e internacional, y el nuevo documental “Ecos” (2023), que cuenta la historia de ocho reclusas. En todos sus proyectos, se asegura que en torno al 50% sean mujeres.
Gigliola es una artista comprometida con causas sociales y feministas. Su objetivo es contar historias y abordar problemáticas sociales a través de sus películas. Su perseverancia y dedicación le han permitido enfrentar desafíos y lograr éxito en sus emprendimientos artísticos. Con una amplia experiencia en la danza, el cine y el teatro, Gigliola sigue desafiándose a sí misma y contribuyendo al panorama artístico de Mozambique.
A través de sus obras, busca generar cambios y transmitir mensajes transformadores. Su compromiso con el activismo y su pasión por las artes la han llevado a superar obstáculos, con la convicción de que vale la pena emprender en el campo artístico para crear impacto y conciencia en la sociedad.
Josefina Massango: Una Vida Dedicada al Teatro y al Arte en Mozambique
La vida de Josefina Massango es una historia de pasión y dedicación al teatro y al arte en Mozambique. A lo largo de los años, ha desempeñado un papel fundamental en la promoción de las artes escénicas y la formación de nuevos talentos en el país. Su viaje artístico ha estado lleno de desafíos y logros notables.
Desde sus primeros días en la Asociación Cultural Casa Velha, Josefina se ha dedicado al teatro. Comenzó con lecturas dramatizadas y teatro más amateur, pero su compromiso y talento la llevaron a explorar el mundo del teatro de manera más profesional. Estudió historia y teatro en Portugal y trabajó como actriz profesional en Portugal durante varios años.
Sin embargo, su amor por Mozambique la llevó de regreso a su tierra natal en 2010, donde continuó su carrera teatral. Durante su tiempo en Mozambique, ha trabajado tanto como actriz como profesora de teatro en la Universidad Eduardo Mondlane y la Universidad Pedagógica, contribuyendo al desarrollo de jóvenes talentos en el país.
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Josefina también ha estado involucrada en la dirección y coordinación de programas de formación teatral, y ha trabajado en la producción y dirección de proyectos teatrales tanto a nivel nacional como internacional.
También asumió el papel de directora artística del Cine Scala en la ciudad de Maputo. Esta decisión marca un nuevo capítulo en su vida dedicada al mundo del arte y la cultura en Mozambique.
Desde temprana edad, Josefina Massango ha estado involucrada en el mundo del cine y el teatro. Durante su adolescencia, frecuentaba el Cine Scala en Maputo y hacía todo lo posible para ver películas, incluso cuando la edad mínima para ciertas películas le prohibía la entrada. Su pasión por el cine y las artes escénicas la llevó a explorar una carrera en el teatro y el cine en Mozambique y Portugal.
Con más 35 años de experiencia en la industria, Josefina Massango se ha convertido en una de las actrices más respetadas de Mozambique. Ha participado en numerosas producciones teatrales y cinematográficas y ha dejado una marca indeleble en el mundo del arte en el país.
Júlia Guirrugo: Capturando la Esencia de la Vida a Través de la Fotografía
Julia Guirrugo, con el nombre artístico Jay Mena, es una fotógrafa apasionada cuyo viaje en el mundo de la fotografía comenzó cuando descubrió la cámara de su padre. Desde entonces, la fotografía se ha convertido en su pasión inquebrantable, una forma de expresión artística que le permite explorar su creatividad y capturar la belleza del mundo que la rodea.
Julia encuentra inspiración en cuestiones sociales y humanitarias, especialmente aquellas que afectan a mujeres y niños. Cree que la fotografía puede ser una herramienta poderosa para dar voz a las personas y aumentar la conciencia sobre estos temas importantes. Cuando fotografía a mujeres y niños, busca capturar su esencia y la belleza que reside en sus vidas, incluso frente a los desafíos que enfrentan.
Como defensora de causas sociales, Julia siente la responsabilidad de usar su voz y sus habilidades para contribuir a un mundo más justo y equitativo. Cree que la fotografía puede ser una herramienta para narrar historias y crear conciencia sobre cuestiones relevantes.
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Julia participó en 2023 en la exposición de fotografía “Un Mundo para Todos Dividido””, centrada en temas de desigualdad social, donde su trabajo ha destacado las injusticias y la marginación social.
En los próximos cinco años, Julia planea seguir documentando historias que sean impactantes y relevantes. También se mantendrá actualizada con las tendencias y cambios en su campo y buscará oportunidades para colaborar con otros artistas y organizaciones sociales.
Lara Sousa: La Búsqueda de la Verdad y la Identidad a Través del Cine
“Cuba se parece mucho a Mozambique en muchas cosas. Todo muy precario, pero te da una sensación de que puedes hacerlo con nada, que no es una cámara, ni el micrófono, que son las historias.”
“La primera de ola de cine mozambiqueña que es de construcción de una imagen de Mozambique de un país nuevo donde esas personas de un día a otra tienen que saber que son mozambiqueños. Es un cine político, FRELIMO, lucha política. Ahora pasa por cuestionar ese modelo y cuestionar qué cine hay ahora. Es un cine con H mayúscula de historia, pero no están las personas – está un movimiento, idea. Creo que esta ola es de las personas, de los sujetos, las historias.”
Lara Sousa es una cineasta mozambiqueña cuya vida ha estado profundamente ligada al cine desde su nacimiento. Sus padres trabajaban en la industria cinematográfica, lo que la expuso desde temprana edad al mundo del cine. Aunque inicialmente intentó alejarse de esta trayectoria al estudiar Antropología en Madrid y a pesar de sus intentos por escapar del cine, encontró que esta pasión la perseguía constantemente.
En busca de una vocación más auténtica, se matriculó en la Escuela Internacional de Cine y Televisión en Cuba. Fue allí donde comenzó a entrenarse en el aspecto creativo de su pasión cinematográfica. A través de experimentos personales y proyectos terapéuticos, exploró la narrativa cinematográfica desde un enfoque íntimo y personal. El contexto cubano influyó en su manera de hacer cine, llevándola a abordar temas de inmigración y cuestionar el poder a través de sus primeros cortometrajes.
La relación de Lara con el cine se caracteriza por su interés en la construcción de imágenes y la iconografía. A través de su cine, busca explorar cómo se construyen las
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imágenes en relación con las historias y cómo se comunica la verdad ética detrás de ellas. En su búsqueda por entender mejor su herencia cultural y las complejidades de su país, Lara se esfuerza por encontrar una identidad cinematográfica que sea auténtica y representativa.
Experimenta una cierta ambivalencia en su relación con el arte y el cine en Mozambique. Aunque siente que no tiene un impacto significativo dentro del panorama artístico local, reconoce que en otros lugares del mundo existe un gran interés por su trabajo y Mozambique. Esta paradoja la lleva a cuestionarse para quién está haciendo sus películas: si deben ser específicas y conectarse con su comunidad local o si deben buscar un terreno más universal para encontrar audiencias más amplias.
Las limitaciones financieras y las oportunidades reducidas en Mozambique también han influido en la forma en que Lara aborda su trabajo cinematográfico. Ella sabe que para financiar sus proyectos, a menudo debe adaptar sus ideas para atraer a patrocinadores extranjeros, lo que puede resultar en una pérdida de autenticidad o en un “mosaico amputado” de su visión original.
Continúa su camino en el mundo del cine, equilibrando su creatividad con la producción y buscando formas de conectar sus películas con un público más amplio. A través de sus obras, Lara Sousa busca abrir un diálogo entre el pasado, el presente y el futuro de Mozambique, cuestionando y explorando la construcción de la imagen y la identidad en una sociedad en constante evolución.
Entre los documentales que ha dirigido, se encuentran “O Naveo e o Mar”, “Kalunga” (2019), “Machimbrao - El hombre nuevo” (2019), “Fin” (2018) y “La Finca del Miedo” (2017).
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Lillian Benny: Explorando Narrativas Visuales
Lillian Benny es una figura emergente en el mundo del arte y la fotografía en Mozambique. Su viaje en el mundo de la fotografía es un testimonio de su pasión y su determinación para explorar la expresión artística a través de este medio visual.
Nacida y criada en Mozambique, Lillian descubrió su interés por la fotografía después de haber explorado la expresión artística a través del dibujo. Esta pasión la llevó a adentrarse en la fotografía móvil antes de dar el salto a su primera cámara digital. Desde entonces, ha estado inmersa en un viaje de autodescubrimiento artístico a través de su lente.
Una de las cosas más notables sobre el trabajo de Lillian es su versatilidad. Aunque aún está explorando y desarrollando su estilo personal, tiene una inclinación hacia las imágenes en blanco y negro y busca crear obras que cuenten historias y narren narrativas visuales profundas. Su enfoque se ha alejado de las imágenes individuales hacia la creación de series cohesivas y narrativas visuales que resuenan con el espectador.
El compromiso de Lillian con la fotografía se ha manifestado a través de su participación en exposiciones colectivas en Maputo, Mozambique. En 2021, fue parte de un taller llamado “democraSee” dirigido por John Fleetwood en Phototool, lo que le brindó una plataforma para mostrar su trabajo en una exposición colectiva. Además, su obra formó parte de la exposición “Um mundo dividido para todos” en la Fortaleza de Maputo, una iniciativa de la Embajada de España. Su trabajo fue destacado también en “Everyday a Woman” durante el mes de agosto por el colectivo “Through the Lens” con sede en Sudáfrica.
Mirando hacia el futuro, Lillian Benny tiene sueños y ambiciones claras. Quiere continuar desarrollándose como fotógrafa, explorando nuevas narrativas y enfoques en su trabajo. Está trabajando en una exposición en solitario que planea presentar en 2024. Además, está tomando cursos para mejorar sus habilidades en la construcción narrativa a través de la fotografía, con el objetivo de crear un cuerpo de trabajo aún más impactante.
Además, sueña con convertirse en una referencia y una influencia en la comunidad artística de Mozambique y compartir su trabajo a nivel internacional. Sus influencias artísticas son diversas y cambiantes, y se inspira en fotógrafos destacados como
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Zanele Muholi, Aida Muluneh, Lindokuhle Sobekwa y Sabiha Çimen. La literatura también juega un papel importante en su proceso creativo, proporcionando una fuente constante de inspiración y enfoque para su trabajo.
Lizette Chirrime: Expresión y Sanación a Través del Textil y la Abstracción
Lizette Chirrime es una artista multifacética nacida en Angoche (Nampula), Mozambique, y criada en Maputo. Aunque creció en un entorno que no ofrecía formación formal en artes, desde temprana edad mostró una pasión por la creación artística a través de la pintura y la costura. Su capacidad innata para expresarse a través del arte la llevó a participar en su primera exposición individual en Mozambique en 2004.
En 2005, Lizette Chirrime aceptó una residencia de tres meses en Greatmore Studios en Ciudad del Cabo, Sudáfrica, lo que marcó un importante punto de inflexión en su carrera artística. Desde entonces, ha estado viviendo y trabajando en Ciudad del Cabo durante 15 años, aunque actualmente se encuentra basada en Inhambane, Mozambique, en la zona de Tofo.
El trabajo artístico de Chirrime se caracteriza por sus obras de gran escala en lienzo, donde emplea una variedad de telas impresas que van desde el Tshwetshwe hasta otros estampados africanos asociados a la vestimenta del continente. Sus creaciones, abstractas en su forma, evocan la figura humana y reflejan su práctica identitaria. A través de su arte, Chirrime reconstruye su imagen personal y supera las dificultades de una infancia problemática, plasmando en sus obras la celebración y la liberación.
Las exposiciones individuales de Lizette Chirrime incluyen “Rituals for Soul Search” en la Galería Morton Fine Art en 2022, “O Livro de Ndimande” en la Asociaicón Kulungwana en 2021, y “The Forms of Invisible Demands” en la Galería World Art de Ciudad del Cabo en 2018, entre otras. Además, ha participado en numerosas exposiciones colectivas tanto en Mozambique como en el extranjero, destacando su presencia en eventos artísticos de renombre internacional.
La obra de Chirrime no solo se destaca por su abstracción y el uso de textiles, sino que también refleja su conexión con el agua y su interés en la feminidad. Su arte es una expresión única y distintivamente africana que ha resonado en todo el mundo.
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Lizette Chirrime ha enfrentado desafíos personales significativos en su vida y ha encontrado en el arte una forma de sanación y empoderamiento. Su trayectoria artística y su capacidad para transmitir emociones a través de sus obras la han convertido en una figura destacada en la escena artística contemporánea, y su legado continúa inspirando a artistas y admiradores de todo el mundo.
Ludmila dos Reis: Capturando la Esencia Femenina a Través de la Fotografía
Ludmila dos Reis es una talentosa fotógrafa mozambiqueña que ha dedicado su vida a capturar la esencia de la mujer y la belleza que reside en los momentos más íntimos y profundos de la vida. Su viaje artístico comenzó en la adolescencia, cuando descubrió la magia de la fotografía y su capacidad para expresar emociones y pensamientos que a menudo son difíciles de comunicar con palabras.
Desde temprana edad, Ludmila se sintió atraída por el mundo del arte y la creatividad. Proveniente de una familia de costureras y mecánicos, creció en un entorno donde la creatividad y la habilidad manual eran valoradas. Esta influencia familiar la llevó a explorar diversas formas de expresión artística, incluyendo la costura y el diseño gráfico.
Sin embargo, fue la fotografía la que finalmente capturó su corazón. Durante momentos de introspección y contemplación, Ludmila encontró en la fotografía una manera única de dar vida a sus pensamientos y emociones. Con una cámara en mano, comenzó a explorar su entorno, capturando paisajes y momentos cotidianos que a menudo pasaban desapercibidos. Esta pasión por la fotografía la llevó a formarse en diseño gráfico, donde pudo combinar su amor por la creatividad con su creciente interés en la fotografía.
Su enfoque artístico se centra en explorar la psicología y las emociones humanas, especialmente las de las mujeres. A través de sus fotografías, busca dar voz a lo que a menudo se queda sin ser dicho, capturando los pensamientos, deseos y sentimientos de sus modelos. Su objetivo es transformar ideas abstractas en imágenes palpables y poderosas que permitan a las personas verse a sí mismas de una manera nueva y auténtica.
Ludmila ha participado en prestigiosos eventos como el World Press Photo en 2019, donde exploró el tema de la religión desde diversas perspectivas artísticas.
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Además de su trabajo artístico, también ha trabajado en proyectos comerciales y de marcas, aplicando
su enfoque único y emocional a la publicidad y la comunicación visual. En el futuro, Ludmila aspira a utilizar la fotografía como una herramienta para abordar temas y sentimientos que a menudo son tabú en la sociedad. Quiere dar voz a temas como la depresión y el racismo, y desafiar las percepciones convencionales sobre estos problemas. Su sueño es abrir puertas y oportunidades para otras mujeres en el mundo del arte y la creatividad, demostrando que pueden lograr lo que deseen y expresar sus emociones de manera poderosa y auténtica.
Maria Elisa Chim: Una Vida Dedicada al Arte y la Cultura en Mozambique
Maria Elisa Chim es una destacada figura en el mundo del arte y la cultura en Mozambique, cuyo compromiso y pasión por la promoción de la creatividad y la expresión artística han dejado una huella en su país. Su vida ha estado marcada por una profunda implicación en el ámbito cultural y artístico.
Nacida en Mozambique, Maria Elisa pasó un período de diez años en Francia, donde se casó y formó una familia. Sin embargo, después de los Acuerdos de Paz en Mozambique, sintió que había una gran cantidad de trabajo por hacer en su país natal y decidió regresar con su familia. Su dominio del francés le abrió puertas en el ámbito diplomático, y comenzó a trabajar en la Embajada Suiza antes de unirse al Centro Cultural Franco-Mozambicano (CCFM), que aún estaba en construcción en ese momento. Durante una década, desempeñó un papel fundamental en el CCFM, colaborando en proyectos con figuras destacadas de la cultura mozambiqueña como como Manuela Soeiro, Ricardo Rangel e Malangatana,, así como con artistas internacionales.
Su tiempo en el CCFM fue una experiencia enriquecedora, donde pudo ver el crecimiento y la evolución de las artes en Mozambique. Experimentó la transformación de la calidad y la demanda de arte en el país, con un enfoque cada vez mayor en la cultura y la formación artística. Durante su tiempo en esta institución, trabajó con cinco directores diferentes, lo que le brindó una visión única de la evolución de las artes en su país.
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Después de dos décadas en el CCFM, Maria Elisa decidió tomar un receso y trabajó en una empresa privada durante cinco años. Sin embargo, su amor por el arte y la cultura la llevó a fundar su propia empresa de servicios culturales, lo que le permitió continuar su contribución al mundo artístico en Mozambique.
Uno de los proyectos más destacados de Maria Elisa es su participación en Xiquitsi como productora de eventos y conciertos, un proyecto de formación de orquestas de música clásica en Mozambique.
En sus posiciones de liderazgo, Maria Elisa ha demostrado su habilidad para liderar y empoderar a otros en el campo de la cultura y las artes. Su legado no solo se refleja en su propio trabajo creativo, sino también en su capacidad para inspirar a otros a seguir sus pasos y contribuir al florecimiento del arte en Mozambique.
Mestria Sitoe: Diseño Gráfico y Arte Urbano
El viaje de Mestria en el mundo del arte comenzó desde una edad temprana, ya que proviene de una familia de artistas. Desde sus primeros años, Mestria demostró su pasión por el dibujo y la creatividad, aunque su primer intento en la escuela resultó en una sorprendente obra de arte en lugar de una respuesta convencional en un examen.
Su interés por el arte digital comenzó en su juventud, pero no fue hasta el año pasado que comenzó a experimentar con esta forma de expresión. Su objetivo es fusionar sus habilidades digitales con la pintura tradicional en el futuro, creando así un conjunto diverso de experiencias artísticas. La influencia de su padre, también artista plástico, la inspiró a explorar el mundo de la pintura, pasando de lápices y bolígrafos a la creación digital y, ahora, a la pintura tradicional.
La inspiración para su arte proviene de diversas fuentes, incluyendo la música. Determinadas canciones le brindan ideas y energía para crear. Su gusto musical es variado, desde hip-hop hasta jazz, afrojazz, blues y música clásica. Esta diversidad musical se refleja en la amplitud de su obra artística.
Además de su carrera artística, Mestria también es profesora de Arte en la Beira International School, donde comparte su conocimiento y pasión por el arte con las generaciones más jóvenes.
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Mirando hacia el futuro, Mestria se ve a sí misma más inmersa en el mundo del arte y ha comenzado a involucrarse en el arte urbano a través del colectivo Beira Street Art. Sueña con vivir de su arte, tanto en el ámbito plástico como digital, y aspira a obtener más formación en el campo artístico. Uno de sus sueños es estudiar pintura y diseño en la Facultad de Bellas Artes de Lisboa.
Mimy Silbeiro: A Artesã Criativa da Capulana da Beira
Mimy, una apasionada artesana de kapulana, nació en la histórica Isla de Mozambique. Desde temprana edad, su madre se dedicaba a la costura, aunque en ese entonces, ella no imaginaba que este arte se convertiría en una parte fundamental de su vida. En su infancia, Mimy simplemente jugaba y experimentaba con los tejidos de kapulana, sin pensar que algún día esta afición se convertiría en su vocación.
Su viaje en el mundo del arte comenzó cuando tenía 20 años, cuando participó en la primera Feria de Gastronomía y Artes en la Isla de Mozambique y expuso sus creaciones por primera vez. En ese momento, aún no se tomaba demasiado en serio como artesana. Sin embargo, cuando se mudó a Tete, continuó desarrollando sus habilidades y acumulando experiencia en el mundo del arte y la artesanía.
Fue en Beira, su lugar de residencia actual, donde Mimy vio una oportunidad de negocio en su pasión por el kapulana. Comenzó a tomar su trabajo de artesanía más en serio y empezó a trabajar desde casa. Participó en ferias organizadas por la Casa de Cultura local y, con el tiempo, ha refinado su técnica y estilo artístico.
Su proceso creativo es un reflejo de su espíritu autodidacta y su deseo de aprender. Mimy comenzó a aprender corte y costura de una modista, lo que le permitió dar forma a su habilidad para trabajar con tejidos de kapulana.
Mimy también ha participado en eventos culturales y artísticos, como un encuentro con artistas en el Instituto Camões, lo que le ha permitido establecer conexiones y redes con otros artistas de diversas disciplinas en Beira. En esta área, Mimy se ha destacado como una de las pocas mujeres en un campo que generalmente es dominado por hombres.
Mirando hacia el futuro, Mimy sueña con tener su propio taller y ampliar su trabajo
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en el mundo del arte y la artesanía. Su amor por trabajar con las manos y su pasión por la creación son evidentes en cada una de sus hermosas creaciones de kapulana.
Natasha Matos: Expresión Artística, Espiritualidad y Misticismo
Natasha Matos, una talentosa artista visual y defensora del cambio social, ha estado en el mundo del arte desde una edad temprana. Su viaje comenzó a los 16 años cuando emprendió un proyecto centrado en la representación de mujeres africanas, mujeres trans y otras minorías que a menudo se ven oprimidas. Desde entonces, ha llevado un mensaje de fortaleza y empoderamiento a través de su arte, destacando la importancia de estas voces marginadas en la sociedad.
Su inspiración para su trabajo artístico proviene de diversas fuentes, incluyendo su interés en el psicoanálisis y la exploración del inconsciente humano a través de imágenes y símbolos. Natasha tiene un proceso creativo interno profundo, impulsado por la lectura de autores como Clarice Lispector y psicoanalistas, lo que le aporta una dimensión mística a su arte. Ella busca compartir su fascinación por lo oculto con su comunidad, alentando a otros a explorar su propio mundo interior.
Natasha también ha llevado su arte a las calles de Maputo, participando en proyectos de arte público. A través de estas iniciativas, ha buscado hacer que el arte sea más accesible para la comunidad y revitalizar áreas que a menudo carecen de apoyo gubernamental. Su elección de murales con caras deformadas tiene un propósito profundo: representa las máscaras que a menudo usamos para ocultar nuestra verdadera identidad y resaltar la importancia de comprender y valorar quiénes somos realmente.
Su formación en artes fue en gran medida autodidacta, ya que en Mozambique no había muchas opciones de formación en ese momento, y su elección de seguir una carrera artística no fue inicialmente bien recibida por su familia. Sin embargo, Natasha perseveró y continuó explorando y desarrollando su talento artístico.
A pesar de desafíos como estudiar Ingeniería Mecánica, Natasha nunca abandonó su pasión por el arte. De hecho, encontró formas de aplicar las habilidades y la disciplina que adquirió en su carrera académica a su proceso creativo, lo que le permitió encontrar un equilibrio entre sus dos pasiones. Además, planea expandir su repertorio artístico en el futuro, explorando la danza como una forma
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de expresión adicional y una extensión de su proceso creativo. Natasha busca un futuro en el que su arte no esté limitado a un público elitista, sino que sea accesible para todos. Sus proyectos, como “No Nome do Amor” (En el Nombre del Amor), se centran en cuestiones sociales y políticas importantes, como el concepto del amor y cómo este afecta a diferentes grupos en la sociedad. A través de su arte, busca instigar un cambio y estimular el debate sobre temas importantes.
En el futuro, Natasha planea llevar su arte a una audiencia más amplia y explorar temas relacionados con la soledad colectiva y cómo la inflación y las guerras afectan la vida cotidiana y la salud mental en su país. Su arte no solo es una expresión personal, sino también una herramienta poderosa para el cambio social y la conciencia.
Nelsa Guambe: Tejiendo Arte y Compromiso Social en Mozambique
Nelsa Guambe, una destacada artista mozambiqueña nacida en Chicuque, Inhambane, es una figura influyente en la escena artística contemporánea de Mozambique. Su viaje en el mundo del arte comenzó con una pasión temprana por la fotografía, que posteriormente fusionaría con la pintura en su trabajo artístico.
A pesar de su interés en las artes desde una edad temprana, Nelsa no sabía exactamente en qué área artística quería centrarse cuando completó su educación secundaria. Inicialmente, se sintió atraída por la fotografía y tuvo la oportunidad de hacer un pequeño pasantía en Alemania, donde comenzó a experimentar con la captura de momentos y emociones a través de la lente de su cámara. Incluso antes de esto, ya estaba tomando fotos en eventos familiares.
Su verdadera incursión en el mundo del arte comenzó en 2010 cuando comenzó a asistir al Núcleo de Arte en Maputo. Allí, se convirtió en autodidacta y desarrolló su estilo artístico único. Durante ese tiempo, también trabajó en la Cooperación Alemana (GIZ) en la implementación de proyectos, demostrando su versatilidad y habilidades de gestión.
Lo que diferencia a Nelsa es su capacidad para combinar su amor por la fotografía y la pintura. A menudo, toma fotografías y luego las transforma en pinturas, fusionando dos formas de expresión artística en una. Esta fusión única de medios le permite explorar la memoria y la conexión emocional a través de su arte.
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Además de su práctica artística, Nelsa Guambe co-fundó DEAL (Design Entertainment Art and Literature), una plataforma que promueve la colaboración multidisciplinaria y el arte en Mozambique. DEAL se ha convertido en un espacio vital para artistas emergentes y establecidos para mostrar su trabajo y colaborar en proyectos creativos.
A lo largo de su carrera, Nelsa ha realizado numerosas exposiciones en solitario y en grupo tanto en Mozambique como en el extranjero, destacando su participación en ferias de arte internacionales.
Nelsa Guambe se destaca por su versatilidad y su compromiso con la expansión de las artes en Mozambique. Su enfoque único y su capacidad para mezclar diferentes formas de expresión artística la convierten en una figura influyente en la escena artística contemporánea de Mozambique y más allá.
Thandi Pinto: Capturando el Espíritu de Mozambique a Través de la Fotografía.Collage
Thandi Pinto ha emergido como una figura destacada en la vibrante escena artística de Mozambique. Su viaje hacia el mundo del arte comenzó con una caminata por las calles de Maputo, donde su fascinación por la fotografía fue despertada por artistas locales establecidos.
Antes de convertirse en artista profesional, Thandi organizaba caminatas por la ciudad de Maputo, explorando la belleza y la vida cotidiana de la ciudad a través de su cámara. En 2017, inspirada por los consejos y la orientación de otros artistas, decidió comprar su propia cámara y comenzar su viaje en la fotografía. Estas caminatas no solo le brindaron una visión única de la ciudad, sino que también le permitieron conectarse con la gente y superar cualquier resistencia que pudiera surgir al tomar fotografías en la calle.
A medida que su pasión por la fotografía creció, Thandi buscó nuevas formas de expresión artística. Durante la pandemia, descubrió la técnica collage y se dio cuenta de que podía fusionar su amor por la fotografía con esta forma de arte. Los collage de Thandi exploran temas que van desde la desigualdad hasta la resiliencia de las personas en Mozambique.
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El reconocimiento de su talento artístico se intensificó cuando comenzó a colaborar con la Galeria Arte d’Gemma, que la impulsó hacia la escena artística internacional. Sus obras se destacaron en ferias de arte internacionales, y Thandi rápidamente se convirtió en una artista respetada tanto a nivel nacional como internacional.
Thandi continúa explorando nuevas técnicas y sueña con enriquecer su obra artística en el futuro. Su influencia y su compromiso con la promoción de las artes en Mozambique son un testimonio de su pasión y determinación para hacer del arte una parte integral de la vida cultural de su país.
Artes Literarias
Mozambique tiene una rica tradición literaria en la que las escritoras han realizado contribuciones significativas. El país tiene una sólida tradición de narración oral, en la que las mujeres desempeñan un papel importante al transmitir historias y conocimientos culturales. Esta rica tradición ha tenido una profunda influencia en las obras escritas de muchas escritoras mozambiqueñas, dando forma a sus estilos de narración y sus técnicas literarias.
La lucha por la independencia del dominio colonial portugués fue un tema central en la literatura mozambiqueña, y las mujeres jugaron roles activos en los movimientos de liberación. Sus experiencias durante este período a menudo encontraron expresión en sus escritos. Figuras destacadas como Noémia de Sousa, poetisa y periodista, o Lina Magaia, escritora y periodista, realizaron contribuciones significativas a esta tradición literaria, capturando el espíritu de resistencia y las aspiraciones de libertad.
Después de obtener la independencia en 1975, Mozambique ingresó en un período de construcción nacional y transformación social. Las escritoras continuaron siendo una parte fundamental del panorama literario del país, explorando temas como la identidad, el género y cuestiones sociales. Escritoras destacadas como Lília Momplé y Paulina Chiziane utilizaron sus obras para abordar estos temas críticos, contribuyendo así a una creciente literatura mozambiqueña posterior a la independencia.
Muchas escritoras mozambiqueñas han estado a la vanguardia de las discusiones sobre género y feminismo en el país. A través de su literatura, han planteado preguntas importantes sobre los derechos de las mujeres, la igualdad de género
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y los roles tradicionales de género. Sus obras han servido como catalizadores para conversaciones sobre cuestiones de género dentro de la sociedad mozambiqueña.
Paulina Chiziane, galardonada con el Premio Camões, se destaca como una de las escritoras mozambiqueñas más celebradas e influyentes. Sus novelas, como “Niketche: Una Historia de Poligamia”, han obtenido reconocimiento internacional por su exploración de temas complejos como las dinámicas de género, la poligamia y las experiencias de las mujeres en Mozambique.
En la actualidad, pese a las dificultades que enfrenta el sector editorial, escritoras de diversos rincones del país publican libros, destacándose en la poesía como será explorado en esta sección.
Claudia Chatonda: La Poetisa de Tete
Claudia Chatonda Elija, nacida en Songo, Tete, es una poetisa mozambiqueña cuya obra resuena con profundidad emocional y melancolía. Su viaje en el mundo de la escritura comenzó a los 15 años, inicialmente explorando el mundo del hip hop, donde las letras la llevaron a descubrir su pasión por la escritura.
A lo largo de los años, Claudia ha reunido una colección de obras que ha evolucionado desde sus primeros intentos en el hip hop hacia poesía más profunda y reflexiva. Sus textos abordan una variedad de temas, desde historias personales hasta textos oscuros y conmovedores que tocan el alma del lector.
Claudia Chatonda también es conocida por su dedicación a la cultura nativa de Mozambique. Ha participado en eventos y proyectos que honran y celebran la cultura de su país, incluyendo una obra teatral realizada en noviembre en homenaje al mes del cáncer de mama. Además, es miembro activo de la Asociación de Poetas de Tete, donde trabaja para fomentar la creatividad y la expresión artística entre jóvenes poetas locales.
Claudia también ha estado activa en la promoción de la literatura y la cultura a través de festivales de poesía y eventos culturales. En estos eventos, ha establecido prateleiras (estantes) de libros para la venta, destacando la importancia de la literatura en la vida cultural de Tete.
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Uno de los logros más destacados de Claudia es la publicación de su propio libro, “A almadia de remos negros”, que vio la luz bajo el sello de Chiado Editores. En 2023, publicó su último libro, “La Luna de Fikhani Phomwé”, que narra una historia de romance y misterio, revelando algunas tradiciones que existen que incentivan la violencia doméstica y violación de los derechos de la infancia como los matrimonios prematuros.
Eliana Nzualo: La Contadora de Historias de Mozambique
Eliana N’Zualo, una talentosa storyteller moçambicana con sede en Maputo, ha forjado un camino literario que se entrelaza con temas de mujer, África, historia y política. Su viaje hacia el mundo de la escritura comenzó temprano, cuando desde niña escribía pequeños poemas y cartas. La influencia de su familia y su entorno apoyaron su amor por las palabras y la escritura, brindándole un ambiente propicio para su desarrollo artístico.
Eliana N’Zualo es conocida por su blog “Escreve Eliana, Escreve”, donde se dedicó a dar visibilidad a la literatura de mujeres africanas y a explorar temas invisibilizados en la literatura. Este espacio se ha convertido en una plataforma para compartir sus ideas y promover la literatura femenina en Mozambique y más allá.
Como parte fundamental del colectivo “Matabicho Feminista” en 2018, Eliana ha estado involucrada en discutir temas feministas variados y relevantes. Su activismo y pasión por cuestiones de género se reflejan en su trabajo y en su compromiso con la igualdad y la justicia social.
Eliana N’Zualo también es autora de su primer libro “O Elefante Tendai e os Primos Hipopótamos”, publicado en 2019 por la editorial Fundza. Su enfoque literario incorpora elementos de la tradición oral mozambiqueña, así como la influencia de clásicos como “El Principito”.
La escritura de Eliana abarca más allá de la página, ya que también se dedica a la poesía hablada y la colaboración con otros artistas. Cree en el poder de la poesía hablada para llegar a un público más amplio y comunicar de manera efectiva.
Eliana N’Zualo ha participado en numerosas residencias artísticas y festivales en Mozambique y en el extranjero, lo que le ha proporcionado oportunidades para colaborar y compartir sus ideas con otros artistas de todo el mundo. Su trabajo en línea también ha contribuido a su visibilidad y alcance global.
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A pesar de su activismo y compromiso con temas sociales, Eliana N’Zualo ve su escritura principalmente como una forma de arte y expresión personal. No busca evangelizar ni imponer sus opiniones, sino compartir sus pensamientos y emociones a través de su arte.
En un mundo donde la literatura y la cultura son cada vez más importantes, Eliana N’Zualo emerge como una voz influyente que desafía las normas y abre caminos para la literatura femenina africana. Su capacidad para contar historias y su pasión por la escritura la convierten en una figura destacada en la escena literaria de Mozambique.
Énia Lipanga: Poetisa, Activista y Defensora de la Inclusión en Mozambique
Énia Lipanga, conocida artísticamente como Énia Wa Ka Lipanga, es una destacada poetisa, activista y agitadora cultural nacida en Maputo. A lo largo de su vida, Énia ha utilizado su arte y su pasión por el activismo para abordar cuestiones cruciales relacionadas con los derechos de las mujeres, la inclusión y la lucha contra la violencia de género.
Desde temprana edad, Énia mostró un interés por la poesía y la escritura. Inició su carrera artística y su activismo en la escuela, donde escribía poesías que trataban sobre la vida de los niños en su comunidad. Su profesora de lengua portuguesa la apoyó y le ofreció los primeros libros de poesía que Énia tuvo en sus manos. Este apoyo temprano la inspiró a continuar su viaje en el mundo de las letras y el activismo.
Una de las áreas en las que Énia ha dejado una huella significativa es la lucha contra la violencia de género en un contexto cultural profundamente machista. A medida que crecía, su conciencia sobre las desigualdades de género en su sociedad se intensificaba, y se unió al grupo de “Revolución Feminina”, un grupo dedicado a combatir la violencia contra las mujeres. A través de su arte y activismo, Énia se convirtió en un canal para que las mujeres denunciaran la violencia, incluyendo casos de acoso y abuso. Sus escritos, publicados en las redes sociales, permitieron a las mujeres compartir sus experiencias, identificarse entre sí y tomar conciencia de las formas en que el amor no debe justificar la violencia.
Énia también se ha destacado en la promoción de la inclusión en la sociedad mozambiqueña. Fundó el proyecto cultural “Palavras são palavras”, que promueve
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la literatura a través de la poesía, la música y el teatro. Además, es mentora del proyecto “IncluArte”, que busca la participación e inclusión de personas con discapacidad, incluyendo personas ciegas y sordas, en la vida cultural.
Una de sus contribuciones más notables a la inclusión fue la publicación del primer libro de poesía en braille de Mozambique, titulado “Sonolência e alguns rabiscos” (Somnolencia y algunos garabatos), presentado en el Día Mundial del Braille. Este libro aborda temas de amor, género e inclusión, y representa un hito en la promoción de la accesibilidad y la literatura inclusiva en Mozambique.
Énia Lipanga también fue rapera y ha sido una defensora apasionada de los derechos de las mujeres a lo largo de su carrera. Su compromiso con la igualdad de género la ha llevado a enfrentar desafíos y amenazas, pero sigue siendo una voz poderosa en la lucha por un Mozambique más inclusivo y equitativo.
Hirondina Joshua: Un Viaje Literario por la Imaginación y lo Inusual
Nacida en la ciudad de Maputo en 1987, esta destacada poeta, prosista y jurista mozambiqueña ha marcado una huella significativa en el ámbito literario y artístico. Conocida por su labor como curadora de la columna literaria “Exercícios da Retina” en la plataforma Mbenga - Artes e Reflexões, ha contribuido enormemente a la divulgación de textos y conversaciones con autores lusófonos.
Sus obras han sido publicadas en Mozambique, Portugal, Brasil y México, demostrando su alcance internacional. Su libro “Os Ângulos da Casa” no solo ha sido aclamado en el ámbito literario, sino que también inspiró una pieza de danza en Brasil por Pepalantus Núcleo. En 2022, su libro “Córtex” fue traducido al español y editado en México a través de la Línea de Apoyo a la Traducción y Edición (LATE), un proyecto que busca fortalecer la presencia literaria lusófona en el mundo.
Entre sus obras publicadas se encuentran, las obras de poesía “Os Ângulos da Casa” (2016), “A Estranheza Fora da Página” (coautoría con Ana Mafalda Leite, 2021), “Córtex” (2021), y “Câmara de Ar” (2023) y de prosa: “Como Um Levita À Sombra dos Altres” (2021).
Ella ha representado a su país en numerosos eventos internacionales, incluyendo el Festival Literario de Macau, Correntes d’Escritas, el Festival Internacional de Poesia de Barcelona, Lisbon Revited en Casa Fernando Pessoa, y el Festival Internacional del Libro de Edimburgo.
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Desde los 12 años, influenciada por su padre, un ávido lector, desarrolló un profundo interés por los libros. Se sumergió en la literatura rusa, la filosofía, la historia universal y la mitología griega, así como en las obras de autores mozambiqueños y otros internacionales, lo que despertó su pasión por el experimentalismo.
Durante su educación secundaria, tuvo un profesor de lengua portuguesa que organizaba concursos literarios y eventos con autores mozambiqueños, fomentando su amor por la literatura. A medida que su carrera avanzaba, colaboró con grupos literarios y participó en antologías, lo que incrementó su reconocimiento en círculos literarios, tanto en Mozambique como en el extranjero.
Su primer libro fue prologado por el renombrado escritor Mia Couto. La escritura de esta autora refleja su personalidad introvertida; es una maestra del lenguaje, abordando temas ontológicos y desafiando convenciones para ofrecer nuevas perspectivas. Para ella, la literatura es un camino hacia el renacimiento.
Lica Sebastião: Renaciendo a través de la poesía y las artes plásticas
Lica Sebastião es una destacada artista visual y poeta mozambiqueña. Comenzó su viaje artístico después de los 40 años, lo que la sitúa en el ámbito de las artes contemporáneas. Su interés por el arte se inspiró en las obras clásicas, como las de Miguel Ángel, lo que más tarde la llevó a explorar el mundo del arte y la poesía en busca de su propia expresión creativa.
Aunque era profesora de portugués, Lica Sebastião sentía la necesidad de completarse, lo que la llevó a buscar otros campos más allá de la enseñanza. Su deseo de crear y cultivar la expresión artística la llevó a estudiar artes plásticas y poesía. Como no tuvo formación formal en Bellas Artes, contactó con un maestro de artes que le impartió nociones de dibujo y pintura. La escritura literaria surgió casi al mismo tiempo y, con el tiempo, desarrolló su propio estilo artístico.
Su trabajo se basa en el uso de materiales reciclados o considerados inútiles, lo que le permite dar nueva vida a objetos desechados y crear un arte único y expresivo. Su enfoque en la reutilización y la creatividad la lleva a experimentar con técnicas que mezclan diversos materiales, como piezas de automóviles, tubos de escape y otros artículos de uso diario. Lica Sebastião ha participado en varias
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exposiciones, tanto colectivas como individuales, consolidando su presencia en la escena artística de Mozambique. También es autora de diversas obras de poesía, en las que utiliza la palabra como una forma de expresión profunda y personal.
Su trabajo artístico y literario se ha destacado tanto a nivel nacional como internacional, lo que le ha permitido colaborar con otros artistas y compartir su perspectiva única con un público más amplio.
A pesar de los desafíos, Lica Sebastião ha demostrado su compromiso con la creación y la expresión artística como una forma de enriquecer su vida y la de los demás. Su historia es un testimonio de cómo el arte puede ser una fuente de inspiración y realización.
Lica Sebastião es autora de las obras “de terra, vento e fogo” (2015), “Ciclos da minha vida” (2015) y “Poemas sem véu” (2011).
Lilia Momplé: La Narradora que Desafía las Injusticias
Lilia Momplé es una destacada escritora mozambiqueña nacida en la Isla de Mozambique. A lo largo de su vida, ha hecho contribuciones significativas a la literatura africana en lengua portuguesa y ha sido una defensora de los derechos humanos y la igualdad de género en su país.
Desde temprana edad, Momplé se vio influenciada por su abuela materna, quien le contaba historias y leyendas de la cultura macúa, una etnia que tenía una tradición oral rica. Estas historias despertaron su amor por la narración y la literatura. También tuvo influencias literarias de autores como Eça de Queirós, Fernando Pessoa y el poeta moçambicano José Craveirinha.
Lilia Momplé comenzó su carrera como profesora, pero pronto se dio cuenta de su pasión por la escritura. Sus primeros cuentos, publicados en la Asociación de Escritores Mozambiqueños (AEMO), de la que más tarde se volvería la primera y única secretaria general, en la década de 1980, abordaron temas importantes como la segregación racial colonial, la violencia y la discriminación. Sus palabras fueron un medio para expresar sus experiencias y desafiar las injusticias que presenció en Mozambique durante la era colonial.
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A lo largo de su carrera, Momplé ha sido una firme defensora de los derechos humanos y la igualdad de género en su país. Ha ocupado cargos importantes en organizaciones literarias y representó a Mozambique en la UNESCO. Su obra literaria, que incluye libros como “Neighbors”, “Ninguém Matou Sahura” y “Os Olhos da Cobra Verde,” ha sido reconocida internacionalmente y ha recibido premios literarios como el Premio José Craveirinha de Literatura y el Premio Caine para Escritores de África.
Su obra literaria aborda temas como la educación, los roles tradicionales de las mujeres y las cuestiones de raza, clase y género en la sociedad mozambiqueña. A través de sus historias, ha buscado dar voz a las personas marginadas y desafiar las estructuras de poder injustas.
Sandra Tamele: Transformando la traducción literaria en Mozambique
Sandra Tamele nació en Pemba, Mozambique. En la década de 1980, se trasladó con sus padres a Maputo, donde actualmente reside. Tiene una licenciatura en arquitectura de la Universidad Eduardo Mondlane de Mozambique y un diploma en traducción del Institute of Linguists Educational Trust del Reino Unido. Habla portugués, inglés e italiano, y está aprendiendo alemán, mandarín y la lengua de signos mozambiqueña. Comenzó su carrera como traductora en 2002 y en 2004 estableció su propio servicio de traducción, SM Traduções.
En 2007, hizo historia al convertirse en la primera mozambiqueña en traducir y publicar literatura con su primera traducción de la novela de Niccolò Ammaniti, “Io non ho paura,” al portugués. A partir de 2010, se involucró en iniciativas filantrópicas para promover la traducción literaria en Mozambique, lo que llevó a la creación del Concurso Anual de Traducción Literaria que ella patrocina y organiza desde 2015, y a la fundación de la Asociación Mozambiqueña de Traductores e Intérpretes (MTIA) en 2016.
En 2018, Sandra fundó Editora Trinta Zero Nove, una editorial independiente, con el propósito de publicar una colección de cuentos traducidos por los ganadores del concurso y celebrar el Día Internacional de la Traducción el 30 de septiembre. Esta iniciativa recibió una Mención Especial en los Premios de Excelencia de la Feria del Libro de Londres en 2020.
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La Editora TrintaZeroNove tiene como objetivo llevar la inclusión y la diversidad a la escena literaria mozambiqueña mediante la traducción y publicación principalmente de autoras, escritores con discapacidades y otras minorías, en formatos impresos y de audiolibros. Los audiolibros eran populares entre las familias de clase trabajadora a finales de los setenta, pero desde entonces han sido descontinuados, y la editorial está liderando el camino al hacer que todos sus títulos estén disponibles tanto en CD como digitalmente desde su sitio web amigable para lectores de pantalla y con billetera electrónica.
La Editora tiene como objetivo publicar 12 títulos nuevos al año y su catálogo se caracteriza por presentar muchas traducciones al portugués de obras literarias. También hay un proyecto para expandirse en los próximos 5 años y presentar escritores mozambiqueños en inglés y en las principales lenguas mozambiqueñas: macua, sena y changana.
Además de su trabajo editorial, Sandra Tamele es una intérprete y traductora juramentada para el inglés e italiano al portugués mozambiqueño. Su contribución a la traducción literaria y su compromiso con la promoción de la diversidad en la literatura la han convertido en una figura influyente en la escena cultural de Mozambique y más allá. Su pasión por los idiomas y la literatura la ha llevado a colaborar con autores de renombre, incluidos premios Nobel de Literatura como Wole Soyinka y Naguib Mahfouz. Su trabajo ha sido reconocido con numerosos premios y distinciones, incluido el Premio PEN Translates en 2022, y ha contribuido significativamente a la difusión de la literatura internacional en Mozambique.
Teresa Helena Vieira Cordato de Noronha: Una Vida Dedicada a la Literatura y la Educación
Teresa Helena Vieira Cordato de Noronha nació en la antigua ciudad de Lourenço Marques, hoy Maputo, en 1965. Realizó todos sus estudios en Mozambique y completó su licenciatura en Agronomía en la Universidad Eduardo Mondlane en 1986.
Trabajó como asistente en la cátedra de Gestión y Planificación Agrícola en esta universidad hasta 1988, momento en el que se trasladó a Francia para realizar una maestría en Desarrollo Rural. Permaneció en Francia hasta 1991 y luego decidió mudarse a Portugal, donde residió hasta 2004.
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Durante este período, obtuvo un diploma avanzado en Lengua Francesa y otro en Lengua y Literatura de la Alliance Française, además de realizar un curso de Traducción y Retroversión en la misma institución.
Entre 1991 y 1996, impartió clases de Matemáticas y Francés en Lisboa y Angra do Heroísmo, al mismo tiempo que realizaba traducciones literarias para varias editoras portuguesas.
De 1996 a 2004, se dedicó por completo a la traducción literaria y trabajó en la editorial Fim de Século, para luego fundar su propia editorial, Íman Edições. En estas dos editoriales, produjo alrededor de cincuenta libros.
Al regresar a Mozambique, estableció un departamento editorial en la Escuela Portuguesa de Mozambique, donde hasta el momento ha publicado cerca de 70 títulos, en su mayoría literatura infantil y juvenil de autores e ilustradores mozambiqueños.
Muchos de los títulos publicados se incluyeron en el Plan Nacional de Lectura en Portugal y recibieron el sello de altamente recomendables en Brasil.
Teresa Helena Vieira Cordato de Noronha también es escritora y ha publicado el libro infantil “A Viagem de Luna”, que recibió el Premio Alcance en 2015, así como “Tornado”, galardonado con el Premio Maria Velho da Costa en 2020 y el Premio Pen Club de Narrativa en 2021. Además, fue una de las diez finalistas del Premio Oceanos en 2022.
Vania Oscar:
La escritora
que no aceptó un “no” como respuesta
Vania Óscar, escritora nacida en Beira, Mozambique, en 1986, es una artista apasionada que ha forjado su camino en el mundo de la literatura y las artes escénicas a pesar de los desafíos que enfrentó en su vida.
Desde temprana edad, Vania demostró interés por las artes, incluyendo la música, el teatro y la literatura, especialmente la poesía. Su amor por el teatro la llevó a imitar a personajes de novelas y a involucrarse en actividades teatrales con sus primos en Nampula, donde vivió durante seis años. Durante este tiempo, Vania aprendió a leer con la ayuda de su tía y desarrolló una pasión por la lectura y la escritura.
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La vida de Vania no estuvo exenta de dificultades, ya que su madre falleció a causa de la tuberculosis, lo que la llevó a regresar a Beira. En este momento, enfrentó desafíos económicos y sociales en su comunidad, donde las expectativas tradicionales de género eran restrictivas para las niñas. A menudo se la consideraba rebelde por cuestionar estas normas y por su deseo de perseguir la educación y sus intereses artísticos.
A pesar de las dificultades, Vania continuó su búsqueda de conocimiento y educación. Su amor por la lectura la llevó a transcribir textos en su cuaderno y a declamar poesía. Durante la secundaria, escribió poesía y llevó un diario que le brindaba una sensación de libertad y una forma de expresar sus sentimientos. Además de su participación en el teatro y la música afro-jazz, Vania incursionó en el periodismo y también escribió poesía, algunas de las cuales fueron publicadas en el periódico Diário de Moçambique.
En 2020, durante la pandemia, Vania fue desafiada por su amigo Danny Wambire de la Editora Fundza a escribir literatura infantil y juvenil, algo que nunca había considerado. Sin embargo, aceptó el desafío y escribió “A Formiga Mimi e a Sombra que Acabou,” una obra que aborda temas medioambientales y la importancia de cuidar el planeta.
Vania también ha sido una defensora apasionada de la promoción de la lectura y la literatura en Mozambique. Ha denunciado la falta de librerías y bibliotecas en las escuelas, así como la necesidad de más oportunidades para que los niños puedan acceder a libros. Sueña con un futuro en el que haya más libros en las escuelas y más apoyo para los escritores locales.
Virgilia Ferrão: Explorando Universos y Cuestiones Medioambientales a través de la Escritura
Nacida en Maputo, Virgília Ferrão es una destacada escritora y autora mozambiqueña.
Su infancia estuvo marcada por la migración, ya que se trasladó de Maputo a Tete a una edad temprana, lo que dividió su educación primaria entre estas dos provincias. Posteriormente, completó su educación secundaria en Maputo y en Melbourne, Australia. Obtuvo su licenciatura en Derecho en el Instituto Superior de Ciencias y Tecnología de Mozambique (ISCTEM) en 2008 y más tarde realizó una maestría en Medio Ambiente en Australia en 2011.
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Virgília Ferrão es conocida por su talento literario y su capacidad para abordar temas complejos en su obra. Su primer libro, “Romeo é Xingondo e a Julieta Machangana” (2005), exploró cuestiones de identidad y aceptación en el contexto de las diferencias étnicas en Mozambique.
En 2016, publicó “O Inspector de Xindzimila”, una novela de misterio que exploró temas de amor, humildad y familia en el contexto de una pequeña vila mozambiqueña. Esta obra fue publicada por la editorial brasileña Selo Jovem y destacó su capacidad para escribir en diferentes géneros literarios.
Uno de los aspectos más notables de la obra de Virgília Ferrão es su compromiso con temas ambientales y sociales. Su novela más reciente, “Sina de Aruanda” (2021), abordó cuestiones medioambientales y desafíos apocalípticos, reflejando su experiencia y pasión en el campo del derecho ambiental. Además de su obra literaria, Virgília Ferrão también es conocida por ser la creadora el blog “Diário de Uma Qawwi”, donde promueve la literatura de ciencia ficción y especulativa y la escritura creativa en Mozambique.
La presencia de mujeres en la escena cultural de Mozambique ha experimentado una diversificación notable a lo largo de los años. Desde la generación que vivió la independencia del país, que vio surgir hitos como la creación de la primera compañía de teatro mozambiqueña profesional, hasta la llegada de una nueva generación de artistas que exploran nuevas formas de expresión artística, como la fotografía, el DJing y el diseño gráfico. La presencia y participación activa de las mujeres en todos los sectores del arte es un motivo de celebración, ya que refleja el mosaico de una nación diversa y vibrante.
La determinación y pasión de estas artistas son verdaderamente inspiradoras, y sirven como testimonio de su firme compromiso con la expresión artística. A pesar de los desafíos socioeconómicos que a menudo enfrentan, estas mujeres se embarcan valientemente en la búsqueda de nutrir y hacer florecer su arte. Su dedicación y perseverancia son un faro de creatividad en el panorama cultural de Mozambique.
Recomendaciones para el Sector
Políticas públicas
Integración de una perspectiva de género en las políticas públicas: Es fundamental incorporar una visión de género en las políticas públicas relacionadas con el arte, como el Estatuto del Artista. Esto implica abordar aspectos cruciales como la conciliación entre vida personal y laboral, así como la atención a la salud de las artistas, para promover un entorno más equitativo y propicio para su desarrollo en el ámbito artístico.
Fortalecimiento de la educación artística superior: Es imprescindible fortalecer la educación artística superior, proporcionando recursos adecuados y oportunidades de formación avanzada para las mujeres artistas. Esto incluye el desarrollo de programas especializados en disciplinas emergentes, como fotografía o moda, para fomentar el crecimiento y la especialización de las artistas en nuevas áreas creativas.
Regulación y transparencia del sector para establecer mejores contratos y pautas salariales: La regulación de la figura del artista también debería incluir medidas
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para promover la transparencia en la remuneración y condiciones laborales, de modo que las mujeres artistas puedan tener acceso a información sobre tarifas y salarios estándar en sus respectivas disciplinas. Esto ayudaría a eliminar posibles brechas salariales y a fomentar una mayor equidad en el pago por su trabajo artístico. Además, se establecer pautas claras para la elaboración de contratos que protejan los derechos laborales y artísticos de las mujeres ayudaría a que se eviten situaciones de explotación o desigualdad.
Atención a la seguridad social y cobertura sanitaria: Para garantizar el bienestar y la protección de las artistas, es necesario abordar el tema de la seguridad social y cobertura sanitaria. Se deben buscar soluciones que brinden estabilidad económica y prestaciones médicas adecuadas para las artistas, teniendo en cuenta las particularidades de sus ingresos irregulares y bajos.
Fortalecimiento de la educación artística superior: Es imprescindible fortalecer la educación artística superior, proporcionando recursos adecuados y oportunidades de formación avanzada para las mujeres artistas. Esto incluye el desarrollo de programas especializados en disciplinas emergentes, como fotografía o moda, para fomentar el crecimiento y la especialización de las artistas en nuevas áreas creativas.
Sociedad civil
Fomento del networking entre mujeres artistas: Es esencial promover espacios de encuentro entre mujeres artistas en Mozambique. Estas instancias de colaboración y conexión facilitarán el intercambio de ideas, experiencias y oportunidades profesionales, fortaleciendo así la comunidad artística femenina. El networking permitirá crear lazos de apoyo mutuo, propiciando la colaboración en proyectos conjuntos y el impulso de iniciativas culturales lideradas por mujeres. Además, se podrían organizar eventos, talleres y plataformas virtuales que faciliten el contacto y la interacción entre artistas de distintas disciplinas, promoviendo la creación de redes sólidas que contribuyan al crecimiento y visibilidad del talento artístico femenino en el país. Asimismo, es fundamental establecer un vínculo entre estas artistas y aquellos que puedan respaldar tanto la comercialización de sus productos (GoToMarket) como la financiación de sus proyectos. A pesar de que existen subvenciones y programas disponibles, si las artistas no tienen conocimiento de ellos ni saben cómo acceder, estos recursos resultan poco provechosos. Sería beneficioso contar con un organismo que, por un lado, coordinase actividades
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de networking a nivel nacional, reuniendo a artistas con el sector comercial y productivo, y a nivel internacional, promoviendo la presencia de las artistas en ferias internacionales, entre otras iniciativas. Además, este organismo podría divulgar de manera transparente todas las oportunidades disponibles, como subvenciones a nivel nacional, programas internacionales, ferias, congresos y más, para que las artistas puedan aprovechar al máximo estos recursos y oportunidades.
Establecer una base de datos o promover la difusión de las biografías de artistas mozambiqueñas en plataformas como Wikipedia, con el fin de ampliar su presencia online y visibilidad.
Económicas
Aumento de la inversión en el sector cultural: Sería preciso incrementar la inversión en el sector cultural, adoptando una visión de más largo plazo que trascienda los eventos puntuales. Esto implica dotar de un mayor capital a iniciativas y empresas culturales, ya sea mediante la reactivación de la Ley de Mecenazgo en el sector privado o a través de la cooperación al desarrollo o el sector público.
Aprovechamiento de oportunidades de digitalización: Es importante explorar cómo fortalecer las oportunidades que la digitalización ofrece para el arte y su internacionalización. Esto incluye promover la presencia en línea de las artistas, especialmente de la generación de la independencia, generar ingresos a través de plataformas digitales y ampliar el acceso al marketing y difusión de sus obras.
Incentivación de la industrialización en áreas culturales clave: Una visión a largo plazo podría considerar la incentivación de la industrialización en áreas estratégicas para los sectores culturales, como la edición literaria o la producción de moda. Esto fomentaría el crecimiento económico sostenible en el sector y abriría nuevas oportunidades de empleo y emprendimiento para las mujeres artistas.
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6.Referencias Bibliográficas
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Consentimento Informado de participação no estudo
“Mulher e Arte Contemporânea em Moçambique”
Foi convidada a participar num estudo de investigação conduzido por Clara Pavón Estradé, no âmbito do projecto de investigação “Mulher e Arte Contemporânea em Moçambique” para a Agência de Cooperação Espanhola. A sua participação é voluntária.
OBJECTIVO DO ESTUDO
O objectivo do estudo é fazer um diagnóstico da situação da mulher nas artes em Moçambique, destacar o seu trabalho artístico e o seu contributo para a cultura do país. A informação recolhida será usada exclusivamente para um estudo de pesquisa para a Agência de Cooperação Espanhola.
PROCEDIMENTOS
Se quiser ser voluntária no estudo, a sessão será gravada com prévio consentimento e serão tomadas notas escritas. As gravações e notas serão utilizadas apenas para efeitos de análise das opiniões da participante e servirão apenas como material informativo para contar as histórias de vida no mencionado estudo. As fotos serão voluntárias e utilizadas exclusivamente para a capa do estudo e a secção biográfica.
☐Eu autorizo a gravação de esta entrevista.
☐Eu autorizo a captação e o uso das fotos para o estudo.
☐ Não autorizo a gravação de esta entrevista.
☐ Não autorizo a captação e o uso das fotos para o estudo.
TRATAMENTO DE DADOS
O tratamento dos dados obtidos garante o anonimato dos participantes se assim o indicarem. Para as histórias de vida os nomes das participantes serão colocados no estudo na secção biográfica. Nenhum dado será tornado público sem o prévio consentimento dos interessados. Clara Pavón Estradé, autora da pesquisa, assegura que qualquer publicação, incluindo a publicação na Internet, nem directa, nem indirectamente, levará a uma violação da confidencialidade acordada.
179 Anexo I – Modelo de Consentimento Informado
CONFIDENCIALIDADE
Qualquer informação obtida no âmbito do presente estudo não será divulgada sem a sua prévia permissão. Serão tomadas medidas para proteger os dados pessoais contra destruição acidental ou ilícita ou perda acidental, alteração, divulgação ou acesso não autorizado. Os dados serão hospedados em servidores seguros e alojados em salas de servidores fisicamente seguras. Como parte de uma política de mitigação de riscos, procedimentos de backup de dados e recuperação de desastres serão implementados para proteger os dados.
RECUSA EM PARTICIPAR
É inteiramente livre de participar ou não neste estudo. Se se voluntariar para participar no estudo, é livre de se retirar a qualquer momento sem consequências de qualquer tipo. Também é livre de recusar responder a qualquer pergunta ou de participar numa actividade específica.
RISCOS POTENCIAIS
O estudo não envolve qualquer risco potencial, quer sejam sociais, legais ou financeiros.
CONTEXTO DO ESTUDO
Este estudo é financiado no âmbito das bolsas de Gestão Cultural da Agência da Cooperação Espanhola.
IDENTIFICAÇÃO DE INVESTIGADORES
Se tiver qualquer questão ou dúvida com este estudo, poderá contactar: Clara Pavón Estradé através do email colaboradores.cpe@maec.es . Compreendo os procedimentos acima descritos. As minhas questões foram respondidas de forma satisfatória e concordo em participar neste estudo. Foi-me dada uma cópia deste protocolo.
Data e Lugar
Nome Completo
Assinatura
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Agradecimientos
Quiero expresar mi más sincero agradecimiento a la Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo por darme la oportunidad de realizar este estudio. Durante toda mi vida, he soñado con contribuir a la visibilización de la mujer en el arte, y este estudio me ha brindado la oportunidad de hacer realidad ese anhelo. Cualquier error es responsabilidad exclusiva de la autora.
Uno de los recuerdos que se me quedó marcado en mi mente fue cuando, en una clase de Lengua y Literatura en la escuela secundaria, le pregunté a mi profesor: “¿Por qué no leemos o estudiamos a mujeres escritoras?” Su pausa reflexiva y su respuesta sincera resonaron profundamente en mí. Reconoció que esta era una carencia de nuestro sistema educativo y que mi generación tenía el poder de cambiar esa realidad. Por eso, más que a nadie, quiero dar mi agradecimiento a Alejandra López, Encargada de Asuntos Consulares, Culturales y Administrativos de la Embajada de España en Maputo, por sugerir el tema de este estudio sobre mujer y arte. Nada hubiese sido posible sin su creencia en mí y su apoyo continuado durante estos meses. Ese momento fue una llama que avivó mi compromiso con la causa de la mujer en el arte y conectó con mi “yo” adolescente.
Asimismo, quiero extender mi gratitud a todo el equipo de la Embajada de España en Maputo: al comprometido Embajador Alberto Cerezo, un ferviente defensor del feminismo en palabra y acción; Ximena Bartolomé, quien me brindó la oportunidad de asistir al Programa RAISA, donde pude presenciar el empoderamiento de líderes mozambiqueñas de todos los rincones del país, a las mujeres referentes como Vicky, Belén, Lola y Lula, así como o mi compañero del día a día, Noa, quien me ha enseñado tanto sobre la belleza y riqueza cultural de su país.
No encuentro palabras suficientes para agradecer a las 48 artistas que abrieron sus corazones para ser entrevistadas y participaron en este estudio, explorando aspectos íntimos de sus vidas. Gracias a todas vosotras, he aprendido valiosas lecciones sobre el arte, la vocación y el amor. Me llevo conmigo todos los sabores, sonidos y texturas de Mozambique a través de vuestra música, poesía, moda, danza, teatro, cine y artes plásticas.
También quiero agradecer al gobierno de Mozambique, en especial al señor Iván Bonde del Ministerio de Cultura, por su apertura y disposición para compartir
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información, así como a Matilde Moucha, Directora del Instituto de Industrias Culturales y Creativas, por su valioso tiempo y contactos. Agradezco a la historiadora del arte, Alda Costa, por abrirme las puertas de su casa y archivo, permitiéndome tener enriquecedoras conversaciones y valioso feedback. Mi agradecimiento también se extiende a Elodie de la 16Neto y Carolin del CCMA, cuya generosidad en tiempo y orientación hacia las mujeres artistas ha sido de gran valor en este camino. Quiero expresar mi reconocimiento a Ofélia da Silva de la UNESCO por su lucidez al analizar el ecosistema legislativo cultural de Mozambique y los desafíos que enfrenta. A Gabriel Mondlane, gracias por guiarme en un recorrido por la historia del cine mozambiqueño, que representa la construcción misma de un país.
A Mauro Brito de Ethale Publishing y Danny Wambire, de la Editora Fundza, por su disposición a hablar y recomendar libros.
De la misma forma, expresar mi agradecimiento a Teresa Noronha y António Cabrita por sus valiosa contribuciones en la traducción del texto al portugués y sus generosas recomendaciones que han enriquecido este estudio.
Nada de esto habría sido posible sin el apoyo incondicional de mis padres, Luis y Montse, mis mayores inspiraciones; de mi abuela Margarita, quien me enseñó a valorar la importancia de una buena educación; y de mi hermano Arturo, quien ha sido un ejemplo de disciplina e inteligencia. Agradezco a mis amigos de toda la vida: Marta, Helena, Martín, Álex, Dani y Elsa, y a las personas que he conocido en el camino: Inés, Paola, Aisha y Aitana, quienes han contribuido a construirme como persona.
Por último, quiero expresar mi más profundo agradecimiento a las personas que Maputo me ha brindado, Adriano y Ester, por su apoyo y por estar presentes en cada crisis existencial. Vuestra amistad ha sido un pilar importante en mi vida y siempre os estaré agradecida por ello.
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