Publiquei Revista - 18ª Edição

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Ruby Lace e Miranda Telles são as nossas entrevistadas

Histórias de carnaval são destaque do Painel da Literatura Nacional

Aventure-se por trás das palavras de

Eduardo Spohr


18ª EDIÇÃO Editora Chefe Carol Dias Diagramação Tati Machado Redação Carol Dias Clara Savelli Mandy Nunes Lyli Lua Marlon Souza Paula Tavares Patricia Silva Revisão Carol Dias Contato Carol Dias contato@publiqueirevista.com (21) 99575-2012 publiqueirevista.com

EDITORIAL

E

ntre um bloco de Carnaval e outro, está no ar a 18ª edição da Publiquei Revista. Nela, você vai conferir uma entrevista super especial com um dos maiores nomes da fantasia nacional hoje, Eduardo Spohr. O autor respondeu as perguntas do Marlon Souza e falou bastante sobre o seu processo criativo. Além do Spohr, também conversamos com a Miranda Telles para a Achei no Wattpad e demos “Uma palavrinha com” a Ruby Lace. No TOP do Mês, falamos sobre o próximo lançamento da Publiquei Editorial, “O Baile de Máscaras”, “Um Show de Bola” da Kel Costa e apresentamos o autor Ernesto Xavier. A Falando Nisso vai abordar um projeto muito comum no nosso meio literário, que são as antologias e os projetos colaborativos. O livro escolhido pela nossa resenhista foi “O Arroz de Palma”, do Francisco Azevedo. E já que é Carnaval, o Painel da Literatura Nacional trouxe uma seleção de livros que abordem o tema. Quem assinou a Blogs.com desta edição foi a Mandy Nunes, do blog Só Mais Este Capítulo, falando sobre o universo criado pelo Eduardo Spohr. Temos também o retorno da coluna da Lyli, em que ela fala sobre o tamanho dos livros que escrevemos e como isso influencia a publicação deles por uma editora que resolva apostar em nosso trabalho. Boa leitura!


SUMÁRIO

PAINEL DA LITERATURA NACIONAL TOP DO MÊS UMA PALAVRINHA COM FALANDO NISSO... ACHEI NO WATTPAD CAPA RESENHA BLOGS.COM CUIDADO PARA NÃO ESCREVER MUITO

Rio de Janeiro - 18ª Edição

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PAINEL DA LITERATURA NACIONAL por Paula Tavares

Enquanto estamos aqui preparando as fantasias para o bloquinho, resolvemos separar algumas histórias carnavalescas para o painel desse mês. Você vai reparar que nem só de amor se faz o Carnaval e que, se você não for muito fã de correr atrás do trio, pode muito bem aproveitar nossa listinha em casa.


TOP DO MÊS

Em fevereiro, três escolhas de sucesso que mostram a pluralidade da literatura nacional

AUTOR | LIVRO | LANÇAMENTO

Ernesto Xavier

AUTOR

por Marlon Souza

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onheci o Ernesto Xavier na primeira edição da Festa da Literatura Negra promovida pela editora Malê na Casa França-Brasil no final do ano passado. E junto de Ernesto conheci um projeto magnífico chamado Senti Na Pele e a coletânea de relatos que a editora Malê, está publicando que foi organizada por Ernesto. De cara vi o quanto esse autor é empoderado nas causas negras e vêm realizando um trabalho lindo em prol da comunidade negra do nosso país. Segundo Ernesto o Senti Na Pele não é só um local de denúncias, mas

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LIVRO

Um show de bola por Carol Dias

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ma das minhas primeiras leituras de 2018 foi “Um Show de Bola”, da Kel Costa. O livro aborda o meu segundo tema favorito: histórias de atletas. Somado a isso, temos Duda, uma protagonista divertidíssima, apaixonada por futebol e Leo Becker. O cara é o seu maior ídolo, que retorna da Europa por uma temporada para jogar no seu time do coração, os Gladiadores. Duda é uma brasileira classe média gente como a gente, que acaba tendo a sorte de estagiar no time como preparadora física, o que dá a ela a oportunidade de ficar pertinho do jogador que admira. A escrita da Kel é leve e engraçada e o livro já é um dos meus favoritos do ano.

LANÇAMENTO

O Baile de Máscaras

por Carol Dias s bailes de máscaras são parte da cultura carnavalesca brasileira, trazidos por influência dos europeus que vieram morar em nossas terras. Por ocasião da data, a Publiquei trará ainda este mês uma antologia organizada pelo Marlon Souza com este tema. “O Baile de Máscaras” reunirá quatro contos escritos pelo organizador e mais três convidados: Isabelle Reis, Carine Raposo e Felipe Saraiça. Todas as histórias se passam na mesma festa, que acontece no Rio de Janeiro. Abaixo, você confere a sinopse: Escolha seu vestido, sua máscara. A roupa certa para esta ocasião tão aguardada. Uma noite que permanecerá na memória por muito tempo. Vislumbres de momentos mágicos vividos ali. Ponha o melhor sorriso, escolha a mais perfeita fragrância e se aventure pelos corredores do casarão. O espetáculo vai começar para aqueles que convidados forem. Numa noite com o céu pontilhados de estrelas, tudo pode acontecer. Acontecimentos que marcarão vidas. Surpresas aguardam os convidados do melhor baile já visto.

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R

omântica de carteirinha, Ruby Lace é uma sonhadora e tem como seu único vício a leitura. É apaixonada por escrever e ler histórias que fazem o coração disparar, que mexem como os sentimentos e tem finais felizes. Ruby mora no Rio de Janeiro e ama o que essa cidade tem de melhor: os dias de sol, as praias e as havaianas. Best-seller da Amazon, ela tem quatro livros publicados na plataforma: “Desejo. com”; “Tentador”, em parceria com a Lola Salgado; um conto no livro “A Virada do Ano”; e “A Bela e o Chefe”, história queridinha de parte da equipe da Publiquei.

Gênero para leitura: Amo tudo que contenha romance! Gênero para escrita: New Adult Personagem literário: Elliott Adams - Behind the bars / Pelos bares da vida. Autor inspiracão: Colleen Hoover Melhor história que es� creveu: Difícil escolher! “A Bela e o Chefe”, por enquanto. Acho que sempre melhoramos a cada livro publicado.

UMA PALAVRINHA COM... por Clara Savelli

Melhor livro que leu: O pequeno príncipe. Música: Lover, you should’ve come over - Jeff Buckley Cor: Vermelho Lugar no mundo: Toscana, Itália. Cidade natal: São Gonçalo. Comida: Sopa de ervilha. Adoro!

Dia inesquecível: Quando entrei para o primeiro lugar dos mais vendidos da Amazon! Impossível se esquecer do dia que realiza um sonho. Seu processo criativo em uma palavra: Caos 7


FALANDO NISSO... por Marlon Souza

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s antologias estão no mercado editorial há muito tempo. Por vezes em coletâneas de contos, poemas de um único autor, ou um apanhado com tema e organizador pré-determinado, seja ele um escritor ou editor. Acontece que as antologias se tornaram o meio mais prático de um autor publicar um texto seu hoje em dia. Todos nós sabemos como é difícil fazer isso com um livro solo. Mesmo contando a internet, os vários sites e aplicativos de autopublicação e uma consolidação e a valorização da publicação independente, o número de escritores que conseguem ter seu livro publicado de forma tradicional e por uma editora de médio/grande porte é pequeno. Mesmo quando isso acontece, ter sua obra distribuída para as grandes livrarias e nos principais eventos literários do país é uma realização para poucos. E aí entra a publicação em antologias e em projetos colaborativos. Sejam realizados por editoras de grande e médio porte ou em editoras pequenas e até mesmo de forma independente. Em formato físico ou online. O autor só precisa enviar seu conto para avaliação e torcer para ter seu conto selecionado. Falando rapidamente sobre minha experiência publicando em antologias, eu participei de seis livros. De diversos temas e editoras (Rouxinol, Villa-Lobos, Darda e Porto de Lenha), em que paguei valores diversos que variam de R$ 40 entre R$ 200. Como pagamento, recebi uma quantidade diferente de livros em cada antologia que participei. O que ganhei participando dessas antologias? Se for pensar de forma financeira, absolutamente nada. Mas, em questão de conhecer leitores, escritores e ganhar certo reconhecimento, acredito que tenha recebido algo mais importante do que dinheiro. Ainda mais para um escritor iniciante. Sempre fui a favor das antologias, mas percebi que elas eram mais importantes do que imagi8

Sobre antologias e projetos colaborativos nava quando editoras de grande porte começaram a apostar nessa forma de publicação. Por exemplo, o livro “O Amor em Tempos de #Likes”, que lançou quatro novos escritores no mercado nacional, apesar dos quatro já terem seus projetos no YouTube (Pam Gonçalves, Bel Rodrigues e Pedrugo). E não parou por aí. Várias editoras começaram a lançar esses projetos com autores e isso ser tornou uma moda. Coletâneas tanto de escritores nacionais como de internacionais. Sejam booktubers, blogueiros ou escritores já consolidados, acontece que esses projetos conseguem ampliar o alcance que muitas vezes um único autor não conseguiria atingir e as editoras perceberam isso. Esse ano, eu estou à frente de dois projetos. O primeiro é uma antologia LGBT que apresentei à editora Sinna no final do ano passado chamada “As Cores do Arco-íris”, que está reservando 40% do preço de capa para pagamento de direitos autorais a todos os autores participantes. O período de inscrições vai até o dia 21/2. E também pela Publiquei Editorial, estamos com um projeto diferente. Eu convidei três autores (Carine Raposo, Felipe Saraiça e Isabelle Reis) para escreverem contos que se passem num mesmo Baile de Máscaras. Os contos têm pequenas conexões e histórias únicas. Estou muito feliz com o projeto e nesse mês vocês poderão conhecer essas histórias. Na minha humilde opinião, essa forma de publicação é uma das mais viáveis para um autor iniciante. É claro que nem todo o projeto será satisfatório ou viável financeiramente. É necessário muita pesquisa por parte do autor. Perguntar autores que já publicaram em determinada editora, ver a tiragem, a proposta. Hoje há editoras que dividem o pagamento de direitos autorais, fazem eventos de lançamento. Dão todo o suporte para o autor iniciante, mas também há editoras que não fazem nada disso.


ACHEI NO WATTPAD por Clara Savelli

@MirandaTelles

Miranda é formada em arquitetura e urbanismo e trabalha na área há uns sete anos, mas desde pequena ela sempre adorou o universo dos livros. Hoje ela tenta conciliar o pseudônimo “Miranda” com a sua vida “real”. Ama ler de tudo um pouco, mas o coração bate mais forte por um romance... Afora isso, gosta de sair com os amigos, especialmente quando envolve comida. Sonha em colocar a fila da Netflix em dia, é adoradora de chocolates e tem um fraco por papelarias. 9


Publiquei Revista: Como foi que você descobriu o Wattpad e o que te fez começar a publicar nele? Miranda: Eu descobri a plataforma em um grupo no Facebook sobre livros, acompanhando uma autora que depois ganhou fama no Wattpad e fora dele, lá para 2013. Nessa época, eu já tinha Trato Feito em andamento, então eu pensei em me arriscar também. Minha amiga, que lia os capítulos, me incentivou, criou a capa e uma caricatura para o meu pseudônimo. E desde então, uso apenas essa plataforma para as minhas postagens, embora existam várias outras hoje em dia, eu criei um carinho muito especial pelo laranjinha. PR: Você deixou “Trato Feito” como degustação no Wattpad porque ele ganhou versão física. Como você se sentiu com essa conquista? Quão diferente foi para você a recepção de seus leitores e sua vida como escritora publicada? M: É uma sensação muito gratificante, ainda mais

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quando os primeiros contatos com editoras vieram da parte deles — fiquei realmente em choque com isso! A versão física foi um pedido dos leitores no começo das postagens, há muito tempo, e poder atender às expectativas deles foi muito legal, já que crescemos juntos na plataforma. Quando a notícia da publicação chegou, veio junto mais publicidade e reconhecimento, e eu percebi que ser autora era uma coisa real. Acho que assim que eu peguei a primeira impressão do livro físico é que caiu a ficha de que eu realmente tinha feito aquilo, foi o máximo! PR: Seu primeiro livro na plataforma, o próprio

“Trato Feito” tem sozinho mais de 3 milhões de leituras! Como foi o processo de obtenção dessa incrível quantidade de leituras e qual é a dica que você dá para quem quer aumentar o número de leitores. M: Até hoje eu não sei como cheguei nesses números, quem me acompanhou desde o começou viu o quão feliz eu ficava com cada leitura e estrelinha que me davam. Eu só comecei a ter mais visualizações quando o livro já estava completo e uma coisa foi levando a outra. Acabei entrando na sessão de destaques do Wattpad e depois veio o prêmio Wattys 2015 e, quando eu vi, tinha muitos números na minha tela. Sabe, sou de humanas, não sei lidar com eles direito... Mas, eu acho que o principal é não desistir das ideias que você tenha, afinal, é só com o próximo passo que se pode sair do lugar. PR: Qual é seu autor favorito — dentro e fora do Wattpad? M: O Wattpad tem muitos autores incríveis. Dentre eles eu admiro muito a Bruna Xavier,


autora de “Conselhos Amorosos de Miss Austen” e “Inimigo dos Noivos”, seu estilo de escrita é muito cativante para mim. Fora da plataforma, eu posso dizer que é o Markus Susak. Ele tem uma maneira leve de lidar com temas difíceis. Seu livro “Eu sou o mensageiro” é o meu preferido. PR: Miranda Telles não é verdadeiramente seu nome, mas sim seu pseudônimo. Poucas pessoas da literatura de fato sabem quem está por trás do seu perfil, não é verdade? Por que você fez essa escolha? M: Poucas pessoas conhecem o rosto e o nome por trás da Miranda, mas acredito que esse número esteja crescendo com a publicação do livro. Eu resolvi usar um pseudônimo por dois motivos. O primeiro, é que eu queria separar a minha carreira na arquitetura da paixão pelo mundo literário, e o segundo é mais simples, timidez e insegurança. E a criação desse nome teve a ajuda daquela minha amiga (que merece um lugar no céu, diga-se de passagem). O Telles

veio em homenagem a Lygia Fagundes Telles um grande nome da nossa literatura e o Miranda veio da sua sonoridade latina e o significado que tem uma ligação com Shakespeare. PR: Qual é sua maior ambição como escritora? Onde gostaria de chegar na sua carreira? M: Acho que ter leitores, porque saber que alguém dedica o seu tempo para ler aquilo que só tinha vida na sua cabeça é incrível. Não existe sensação melhor do que saber que as suas palavras causaram, um sorriso, um momento de distração dos problemas alguma na vida de alguém... é simplesmente a melhor parte. Então, acho que eu gostaria de proporcionar mais momentos como esses para as pessoas. PR: Qual foi a maior alegria que o Wattpad já trouxe para sua vida? M: Escrever um romance até o final, começo, meio e fim, porque eu tenho certeza que se não fosse a expectativa e o incentivo dos wattpaders nas minhas obras, eu não te-

ria chegado até o final de nada. PR: Agora, para descontrair: qual dos seus três livros é aquele que bate mais fundo no seu coração? M: Minha querida Lili que me perdoe, mas “Negócio do Acaso” com a Bia é o meu queridinho! Eu suspiro com cada gesto romântico do misterioso J.C. e logo gargalho com a maluquinha da Cleópatra made in Japan. 11


CAPA por Carol Dias

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Eduardo Spohr É PRECISO SER HONESTO SEMPRE, E ESCREVER A HISTÓRIA QUE ESTÁ NO SEU CORAÇÃO.

Eduardo Spohr começou seu histórico de sucesso como autor independente, vendendo mais de 4 mil exemplares de sua obra inicial, “A Batalha do Apocalipse”. Sucesso absoluto entre os leitores de fantasia, a obra foi adquirida em 2010 pela Verus Editora, responsável também pela publicação da trilogia Publiquei Revista: O universo de “A Batalha do Apocalipse”, assim como o da trilogia de “Filhos do Éden”, surgiu a partir de um jogo de RPG com inspiração do filme “Anjos Rebeldes”. Como foi o processo de pegar o que foi criado no jogo para transformar em um dos maiores sucessos da fantasia nacional? Eduardo Spohr: Durante a minha infância e adolescência, nós (eu e meu grupo) jogávamos no Mundo das Trevas, uma ambientação de RPG que incluía vampiros, lobisomens, fantasmas e magos. Depois que assistimos ao filme “Anjos Rebeldes” (1995), ficamos com vontade de jogar com anjos e demônios, mas não existia regras para tal, então nós a criamos. Inventamos muitos personagens e situações. Eu peguei esses fragmentos e

“Filhos do Éden”. A “Batalha do Apocalipse” se iniciou em jogos de RPG, mas não parou por aí. Eduardo passeia pelo tempo e culturas em suas histórias fantásticas. Escritor, jornalista, professor, blogueiro, podcaster e nerd, Eduardo vem conquistando mais leitores e reconhecimento por onde passa.

os costurei no meu primeiro livro publicado: “A Batalha do Apocalipse”. Portanto, vale lembrar, esse universo nasceu de uma criação coletiva. No Desconstruindo 15 (podcast do meu blog) falo melhor sobre isso. PR: Lendo seus livros conseguimos notar que há muito conhecimento sobre toda a história da humanidade, seja realista ou ficcional e você conseguiu unir diversas mitologias em uma única história. Como funciona a inserção de fatos históricos e das diferentes mitologias nos seus livros? ES: Em relação à mitologia, me inspiro muito em Neil Gaiman. Ele fez (e continua fazendo) isso com maestria. Na série de quadrinhos “Sandman” e especialmente no livro “Deuses Americanos” ele produz essa mistu-

ra, que muito me inspirou. Claro que é preciso ter cuidado para que essa junção não se transforme em uma galhofa sem sentido. Eu procuro usar o bom senso. Não sei se fica legal, mas eu tento (risos). Já no tocante aos fatos históricos, utilizo o cenário, mas os personagens são geralmente fictícios. O difícil é inseri-los nesse contexto, de forma verossímil. É preciso entender da psicologia humana (não que eu entenda muito, mas me empenho no assunto) e compreender como eram os hábitos, costumes e valores da época. Assim, nascem os personagens. Os humanos, sobretudo. PR: Quais são as diferenças de seu primeiro livro, “A Batalha do Apocalipse”, para a trilogia “Filhos do Éden”? ES: Em “A Batalha do Apo13


meu caso, pelo menos) nunca fica mais fácil. Vai, sim, ficando mais difícil, talvez porque o nosso grau de exigência (a autocrítica) aumente. Mas isso é bom, a meu ver. Sou motivado pelo desafio.

calipse” eu escrevi sobre personagens épicos, muito poderosos, seres antigos e inalcançáveis, que vivem bilhões de anos. Para dar essa sensação de afastamento eu, propositalmente, tive de torná-los mais duros, às vezes até mais frios. Toda a trilogia “Filhos do Éden” veio, então, com a proposta de apresentar personagens mais humanos. Para isso, criei certas desculpas associadas ao enredo. Por exemplo, a protagonista, Kaira, é um anjo do fogo que perdeu a memória e acredita ser uma moça comum. Denyel é um anjo guerreiro que foi ordenado por seus líderes a se misturar com os seres humanos, de modo a estudá-los e observá-los, o que o tornou mais bem mais humano também. PR: Qual dos quatro livros foi o mais difícil para escrever, seja a pesquisa, ambientação, ou composição de personagens? ES: Todos os livros têm seu grau de prazer e angústia. O que eu posso dizer é que (no 14

PR: Além de um universo gigante e com diversas possibilidades, você também criou personagens únicos e com características peculiares. Como foi esse processo? ES: Eu costumo, primeiramente, observar as pessoas à minha volta. Um artista é, ou deveria ser, creio eu, um observador do mundo. Além disso, também cometo a indelicadeza de roubar os personagens de RPG, interpretados pelos meus amigos, nas mesas de jogo, o que facilita muito.

PR: Na primeira publicação de “A Batalha”, você teve o suporte do site Jovem Nerd. E hoje em dia na internet, com a Amazon e outras plataformas de autopublicação, ficou muito mais fácil de autores publicarem e divulgarem seus livros, mas gostaria de saber como você ver o mercado editorial atualmente? ES: Melhor do que nunca. O curioso é que a internet, em vez de afastar as pessoas dos livros, acabou por aproximá-las do hábito da leitura. Blogs literários, redes sociais especializadas (como o Skoob) e mesmo as comunidades sobre livros nas redes sociais comuns, estão reunindo pessoas e divulgando obras. E eu espero que o interesse pela literatura cresça cada vez mais. Melhor do que nunca.


PR: Ainda sobre o mercado editorial, quais dicas você daria para escritores que estão tentando alcançar uma grande editora e ter seus livros distribuídos para o grande publico? ES: No meu blog, o Filosofia Nerd, fiz um post onde reúno uma série de opiniões de escritores, nacionais e internacionais, inclusive os meus próprios conselhos sobre o assunto (se é que eu posso dar algum). Mas, de qualquer maneira, acho que a primeira dica (que todos podem concordar) é escrever sempre, nem que seja um pouquinho a cada dia. Separe uma horinha para se dedicar aos seus textos. Só treinando a gente aprimora o nosso trabalho. Com o livro pronto e escrito, é preciso fazer com que ele seja conhecido e lido. Além da tradicional busca por editoras, hoje temos muitos caminhos para a publicação, desde a produção independente até as ferramentas eletrônicas. PR: E o que um escritor, na sua opinião, não deveria de jeito algum fazer. Quais são os principais erros que você observa de novos escritores repetirem? ES: Talvez o único erro seja não escrever o que se deseja escrever. É preciso ser honesto sempre, e escrever a história que está no seu coração. PR: Desde livros como “Harry Potter”, “Game of Thrones” e suas adaptações para TV e/ou cinema, assim como

outros livros de fantasia mundial, o gênero tem crescido a cada dia e sendo mais reconhecido. No Brasil, com seus livros também como de outros autores, o gênero tem recebido grande prestigio e reconhecimento. Você acha que isso é uma crescente? Acha que ainda teremos, por exemplo, livros de fantasia sendo adaptados para outras mídias, etc? ES: Eu acredito que bons livros e boas histórias serão sempre reconhecidas e propagadas. Não creio que é algo específico do gênero.

meu blog (www.filosofianerd. com.br) ou entrar em contato pelas minhas redes sociais, que eu terei o maior prazer em trocar uma ideia. As principais redes que eu uso são Twitter (www.twitter.com/eduardospohr), Facebook (www.facebook.com/eduardospohr) e Instagram (www.instagram. com/duduspohr).

PR: Acho que essa é uma pergunta muito comum, mas para encerrar nossa entrevista gostaria de saber quais são seus próximos projetos? Teremos um livro novo ainda em 2018? ES: Estamos trabalhando agora nas aventuras de RPG de “Filhos do Éden”/“A Batalha do Apocalipse”, que serão disponibilizadas online, em PDF. Mesmo para quem não joga, será interessante ler, porque terá muita informação sobre o cenário. E todo o material será gratuito! PR: Para terminar nossa matéria, antes de tudo, muito obrigado por ceder espaço em sua agenda e gostaria de pedir para você deixar uma mensagem aos nossos leitores. ES: Claro. Obrigado pelo espaço e pela oportunidade. Quem quiser conhecer mais sobre o meu trabalho basta visitar o 15


RESENHA por Patrícia Silva

Receita de família

Não existe tempero certo nem receita certa para história de família

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oda família tem o seu tempero. É a lição que Antonio, narrador e protagonista de “Arroz de palma”, quer nos ensinar. Contada entre idas e vindas de sua memória, que resgatam, inclusive, acontecimentos passados, porém não presenciados por ele, e com uma pitada de realismo mágico encarnado no arroz que não se estraga, a história é recheada de picuinhas, invejas e alegrias que apenas uma família pode proporcionar. Em forma de diário escrito em voz alta, como diz o próprio Antonio enquanto prepara um almoço para todos os seus parentes, a narrativa mistura a nostalgia do senhor de 88 anos com a poesia e dramaticidade herdados de sua tia Palma, de quem ouvia atentamente as histórias quando criança, transformando o livro em álbum

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de família. As fotos que compõem esse álbum, no entanto, foram tiradas a partir do olhar do narrador-personagem que se surpreende pelas histórias dos irmãos que não conhecia. Ou mesmo das que raramente coincidem com as de Isabel, sua esposa. Porém essa visão única não restringe à narrativa, pois é possível apreender personagens, fatos e sensibilidades que fogem a Antonio e que trazem um sabor a mais para o leitor. Outro gostinho especial que este livro nos dá é o de acompanhar as reflexões de Antonio sobre o passado, presente e futuro, que são escritos com a liberdade de um ensaio em meio a um romance que muitas vezes parece ser construído de pequenos contos por sua descontinuidade temporal e narrativa. Assim, a emoção e po-

esia únicas da família de Antonio são transmitidas ao leitor, que tem a sensação de estar sentado a uma mesa de almoço de domingo, reunido a seus pais, avós, tios, sobrinhos, filhos, netos e primos, apreciando aquele sabor especial que toda família tem. Seja ele doce ou amargo.

Autor: Francisco Azevedo Editora Record


BLOGS.COM por Mandy Nunes

Universo Spohr e Meu Deísmo. Lembro-me com facilidade de quando conheci “A Batalha do Apocalipse”. Foi no final de 2011, enquanto folheava um folheto da Avon. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o título do livro. Apocalipse. Os meus olhos focalizavam somente aquela palavra. Sempre tive uma curiosidade nata por assuntos relacionados à religião, então quando me deparei com o título, mil coisas se passaram na minha cabeça sobre o que seria aquele livro de capa azulada. Instigada por conhecer mais, jamais esperando o que estava por vir, comprei-o. Um livro pela capa. Quando comecei a ler, primeiro fiquei frustrada. Eu não esperava por um livro de literatura fantástica. A verdade é que eu esperava por um escritor que defendesse com todas as garras sua visão do fim do mundo. Mas me deparei com a história de um anjo renegado, convidado a integrar as tropas de Lúcifer para o Dia dos Ajustes de Contas. O sentimento de frustração logo passou e ao notar, eu devorava o livro, ansiosa para chegar ao desfecho, me emocionando com as batalhas épicas, a narrativa, os fundos históricos. Ao finalizar a leitura, estava extasiada. Pesquisei sobre o escritor e fiquei surpresa por saber que tamanha produção fora feito por um brasileiro. Não que eu duvidasse da nossa literatura, mas, à época, somente escritores estrangeiros tinham me dado ressaca literária. Não demorei a virar fã do autor e passei a acompanhar seus outros trabalhos — a trilogia “Filhos do Éden”. Desde que conheci esses livros, já li três vezes a tetralogia angélica.

Mas a grande admiração que tenho por esses livros não se resume apenas à escrita excelente do autor, ou as batalhas épicas, enredos bem-trabalhados, personagens marcantes (amo até os antagonistas) ou os plot-twists que te pegam de surpresa. Meu amor por essa saga também está ligada à visão que Eduardo passou sobre Deus, e que conversa com o meu deísmo, filosofia de vida que tenho desde 2009 — antes mesmo de conhecer suas histórias fantásticas. Não sei exatamente qual a crença do autor — e nem me aprofundarei muito em por que ABdA conversa com meu deísmo para não soltar spoiler —, mas fiquei ainda mais apaixonada quando cheguei a uma altura do livro e me deparei com o conceito que Spohr criou (ou ele próprio tem e aplicou na narrativa) sobre Deus — que, segundo no livro, está descansando depois da criação, enquanto perdura o sétimo dia. O deísmo é a filosofia que apoia a existência de Deus através do uso da razão, renegando a autoridade das religiões. Cada deísta tem sua própria visão do Criador, e eu, obviamente, tenho a minha. Pra mim, Deus não é uma entidade barbuda, autoritária, que ama, odeia, condena e recompensa. Há uma frase que resume bem minha crença: O religioso olha para o céu e vê a Criação. O deísta olha para o céu e vê o Criador. E um dos desfechos da trama trata exatamente disso. ABdA pra mim é mais do que um livro. É a personificação do que eu acredito. 17


COLUNA DA LYLI por Lyli Lua

Cuidado para não escrever muito

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as rodas de conversa entre escritores, aqueles tão lotados e animados grupos de Facebook e de WhatsApp, uma certa dúvida específica é muito comum. Quase todos os dias se pode ver alguém perguntando “vocês leriam um livro de x páginas?” ou “quantas páginas um livro precisa ter para ser bom?”. Visto os comparativos entre os tamanhos dos livros de Guerra dos Tronos e os da Meg Cabot (sim, eu fiz essa comparação, pois ambos são autores de livros de alta qualidade), acho que não existe uma fórmula certa para acertar na relação entre número de páginas e o dote literário. Mas existe sim uma fórmula para vendas. E ela não é divertida. Já acabei me vendo em mais de uma discussão quando eu, tentando ajudar uma pessoa, comentei que se o objetivo final do projeto era a publicação então a pessoa deveria se cuidar para não escrever muito. Com “muito” eu estou falando de 60 capítulos, quatrocentas páginas no manuscrito no Word e coisas assim. Amigos, é terrível, mas é verdade: se seu primeiro livro for muito grande, ele provavelmente vai encalhar. Já recebi como resposta: “eu amo livros grandes, são meus favoritos”. Ora, colega, me desculpe, mas você ama livros grandes do Tolkien, não de um desconhecido que pede cinquenta reais pela sua obra, porque senão ele fica no prejuízo, já que a gráfica cobrou um valor caríssimo na modesta tiragem de 100 exemplares dele. Livros grandes custam muito caro. Não é sobre gostar ou não gostar. Quando uma história é realmente boa, não importa o número de páginas. Dependendo do envolvi-

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mento, terminamos até querendo mais, não é? Mas, infelizmente, se seu livro ficar muito caro, as pessoas sequer terão acesso à sua ótima história, já que não vão comprar. Por que comprar o livro de um desconhecido por um valor muito alto quando com esse mesmo dinheiro podemos trazer três best-sellers para casa? É uma terrível e real matemática. Além do óbvio problema de venda, existe também a possibilidade de editores torcerem o nariz para manuscritos muito grandes, pois estes saem muito caro para revisar e imprimir. Se o livro também fica muito pesado pela grossura, você sofre com valores de frete de entrega. “Ah, Lyli, você está falando besteira, o último livro do Harry Potter tem setecentas páginas!” Sim, ele tem sim. E ele também vende milhões por dia no mundo inteiro. O seu vende? Eu sei o peso das palavras que estou te dizendo. Acredite, eu sei mesmo. Em meu primeiro livro eu entreguei o manuscrito com mais de trezentas páginas, o que o fez sair muito caro e eu tive dificuldade de vendê-lo depois. Aprendi na pele como é delicioso o mercado editorial e acredito que é minha responsabilidade conversar sobre meu aprendizado com novos autores que visam publicação. O Wattpad, o Luvbook e o Widbook estão ansiosos para receber seus 60 capítulos, mas, infelizmente, o mercado não. O mercado está ansioso para receber algo que ele possa vender. Fica aqui meu conselho, aos amigos de profissão: muito cuidado para não escrever muito (o recado é para mim, inclusive, que nesta matéria, ultrapassei o número estipulado de palavras!).


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