24a EDIÇÃO - JUNHO 2020
OS CAMINHOS DA LITERATURA DE
Wlange Keindé LIVROS YOUNG ADULT, ANTOLOGIAS E AFROFUTURISMO E MAIS 1
24ª edição Apesar de ser um projeto que nós amamos fazer, a Publiquei Revista dá muito trabalho de fazer. Por isso, mesmo que façamos nossos planejamentos, às vezes as coisas desandam. Sim, faz mais de três meses desde que aparecemos por aqui. E a verdade é que quando começamos a produzir esta edição o mundo em que vivíamos era outro. Acredite se quiser, não havia pandemia. Era apenas um vírus, muito perigoso, que tinha atingido a China. Muito distante de nós. Hoje, nossa vida virou de ponta cabeça, mas seguimos com a paixão pela literatura como uma das poucas coisas que nos move. Então, com muito amor e carinho, espero que aproveitem cada linha preparada para vocês. Como último ponto que gostaria de levantar aqui nessa introdução, vamos falar sobre “vidas negras importam”. Que fique bem claro que, quando levantamos nossas vozes para falar sobre esse assunto, não estamos dizendo que as vidas de pessoas não negras têm menos valor. O problema é que, hoje, no Brasil e em vários lugares do mundo, os noticiários vivem trazendo notícias trágicas sobre a morte de negros. Todas as vidas importam, mas, dessa vez, precisamos falar sobre as vidas negras. O povo negro faz um apelo simples e direto: parem de nos matar. Na 24ª edição, uma mulher negra está na capa, outra mulher negra escreveu sobre afrofuturismo e indicamos um young adult de uma mulher negra. Esperamos, de coração, que vocês gostem, porque a Publiquei espera trazer cada vez mais representatividade nas edições. Por último, gostaria de agradecer a cada um que trabalhou na edição. De forma especial, ao meu parceiro Marlon Souza, que não me deixa desistir e embarca nos projetos malucos que eu trago para esta publicação. Boa leitura! CAROL DIAS
Editora-chefe Carol Dias Editor Marlon Souza Redação Alice Maulaz Felipe Saraiça Lu Ain-Zaila Marlon Souza Thais Abreu Araújo Contato contato@publiqueionline.com 2
SUMÁRIO PUB Indica...........................3 Voz do autor........................7 Matéria de capa...............10 Publiquei Editorial...........15 Publique seu livro............18
PUB Indica
FELIPE SARAIÇA
A importância do Young Adult na literatura Destinado ao publico jovem adulto, como já diz o nome, o gênero young adult é uma categoria literária que vem se destacando cada vez mais no mercado. Tendo em sua lista grandes sucessos como Harry Potter, Jogos Vorazes, A culpa é das estrelas, O ódio que você semeia, entre outros grandes sucessos mundiais, uma das principais características dessa categoria de livros é a variedade de gêneros que a compõe. Não somente isso, outro fator interessante sobre essas histórias é que elas muitas vezes são protagonizadas por jovens, fazendo com que os leitores da mesma idade se identifiquem com os personagens, seus conflitos e as situações que enfrentam na narrativa. A seguir, deixarei três livros young adult de gêneros e assuntos diferentes que vale a pena conferir:
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O ódio que você semeia Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro contra o racismo em tempos tão cruéis e extremos Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vi-
vendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos; no fim da aula, volta para seu bairro periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Acima de tudo, Starr precisa fazer a coisa certa.Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica e divertida, mas, ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.
Amandla Stenberg como Starr Carter em uma cena da adaptação cinematográfica.
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A cinco passos de você
Stella Grant gosta de estar no controle. Ela parece ser uma adolescente típica, mas em sua rotina há listas de tarefas e inúmeros remédios que deve tomar para controlar a fibrose cística, uma doença crônica que impede que seus pulmões funcionem como deveriam. Suas prioridades são manter seus pais felizes e conseguir um transplante — e uma coisa não existe sem a outra. Mas para ganhar pulmões novos, Stella precisa seguir seu tratamento à risca e eliminar qualquer chance de infecção, o que significa que não pode ficar a menos que dois metros de distância — ou seis passos — de outros pacientes com a doença. O primeiro item é fácil para ela, mas o segundo pode se provar mais difícil do que esperava.
O único controle que Will Newman deseja é o de sua própria vida. Ele não dá a mínima para o novo tratamento experimental para o qual foi selecionado e não aguenta mais a pressão de sua mãe para que melhore. Prestes a completar dezoito anos, ele mal pode esperar para finalmente se livrar das máquinas e hospitais, usando o pouco de vida que ainda lhe resta para conhecer o mundo. Stella e Will são muito diferentes. Ao mesmo tempo, a doença que os une não é a única coisa que têm em comum. Eles têm que ficar a seis passos um do outro, mas, conforme a conexão entre os dois aumenta, a vontade de burlar a distância física parece insuportável. Um grande amor vale um passo roubado? 5
Confissões de uma ex-popular Antes de perder tudo, Renata tinha a vida que considerava perfeita. Além de ser bonita, loira e padrão como uma boneca Barbie, ela sabia usufruir disso. Apesar de ausentes, seus pais eram tão ricos que a menina morava em uma mansão que mais parecia um palácio e ainda tinha duas babás amorosas que faziam todas as suas vontades. E, para coroar a situação, era extremamente popular na escola e namorava um bad boy gato. Não tinha como melhorar! Porém, tudo isso vai por água abaixo quando ela se envolve em um escândalo que culmina em sua expulsão da escola. Por determinação dos pais, a menina foi obrigada a deixar sua antiga vida de regalias para trás e entrar em um rígido colégio interno. O namorado terminou com ela quase que imediatamente e, da noite para o dia, suas antigas amigas sumiram do mapa. Humilhada, Renata chega ao campus do Internato Nossa Senhora da Misericórdia decidida a não se relacionar com ninguém. A última coisa que a herdeira quer nesse momento é se envolver — seja com meninos, amigos ou atividades escolares. Afinal, as antigas amizades não serviram de nada quando ela mais precisou. Além disso, ninguém ali ia com a sua cara mesmo! Mas quando Renata descobre um esquema de corrupção envolvendo o alto escalão de diretores e o padre da escola, ela precisa decidir: deve se arriscar a ser expulsa novamente para fazer a coisa certa, ou ficar calada perante essa injustiça para se preservar? 6
Aos poucos, com a ajuda de Lívia, sua colega de quarto, e de Guilherme, o bolsista charmoso por quem Renata sente um misto de atração e raiva, a garota acaba repensando seus privilégios e entendendo que, às vezes, a popularidade pode ser útil para coisas mais importantes do que apenas festas e selfies. Porém, para que ela conquiste a confiança dos novos colegas de escola, precisará passar nas provas do Conselho, uma sociedade secreta dos alunos influentes do colégio. Os testes não serão nada fáceis, desde roubar a Bíblia da capela até participar de festas clandestinas durante a madrugada. Mas será que Renata está pronta para arriscar-se a outro escândalo escolar? E será que seus novos amigos ainda vão gostar dela se descobrirem o que ela fez para ser expulsa da antiga escola? Esses são apenas alguns exemplos de livros voltados ao publico jovem adulto e entre eles podemos notar as suas variações e semelhanças. Há quem diga que o young adult representa uma literatura inferior, simplória e voltada apenas para entreter, mas eu discordo plenamente. Os livros dessa categoria tem grande importância no cenário literário, tratando temas importantes e delicados para a sociedade e fazendo com que os jovens se sintam representados, e, consequentemente, desenvolvam ainda mais o gosto pela literatura.
FELIPE É ESTUDANTE DE
psicologia e mora atualmente em Niterói. Com 25 anos, assim como Renato Russo, já morou em tanta casa que nem se lembra mais. É autor, participou de duas Bienais do livro, tendo lançado a primeira obra de título “Palavras de rua”, em 2016, em São Paulo e a segunda, que se chama “ Para onde vão os suicidas?”, no Rio de Janeiro, no ano de 2017. É um escritor que aborda a realidade em seus livros e vê na literatura uma maneira de representar as realidades invisíveis presentes na sociedade e dar voz para aqueles que não são ouvidos.
LU AIN-ZAILA
Voz do autor
Afrofuturismo: a Periferia precisa especular sobre afrofuturos Prazer... escrevo a vocês como Lu Ain-Zaila, mas sou Luciene, moradora de Nova Iguaçu, de frente para o valão Moquetá e sou a primeira mulher negra na história da literatura nacional a escrever uma ficção científica com protagonismo negro. E não duvido, você deve estar se perguntando porque juntei duas informações não relacionadas no mesmo parágrafo e a minha resposta é... não são desconexas. Não, pois sou uma escritora que vislumbra afrofuturos com a cara e o chão das periferias. Minha história com a literatura de fato começou aos 38 anos. Fui na Bienal do Livro (RJ) em 2015. E... vocês lembram de como era o caminho? Pois é, mas eu insisti porque precisava ver se a literatura havia mudado e incluído gente como eu, pessoas negras, no seu hall de protagonismos. Mas tudo o que encontrei foi um vazio, depois de um dia inteiro, nadinha, nada. Saí de lá com uma certeza que nem sei de onde veio. Eu teria que mudar essa história e, como sou cria de pré-vestibular comunitário e movimentos sociais, sei que resistência é mudança, pois foi assim que me formei na UERJ em Pedagogia. Não recuei. Dali por diante não parei de escrever: no trem, na madrugada... Segui adiante até a duologia “Brasil 2408” estar finalizada. Lancei de forma autopublicada “(In)Verdades” em 2016 e depois “(R)Evolução” na Bienal 2017, porque precisava voltar e marcar esse lugar. Depois fiquei desempregada, mas não parei. 7
Eu sempre gosto de contar isso porque nos ensinaram que cultura não é feita entre as nossas ruas. Ouvi muito isso, mas fico feliz em ver hoje todo um movimento por cultura na Baixada Fluminense resistindo e dando certo, mostrando que aqui é lugar de fazer, sim, consumir, sim e valorizar, muito. Minha escrita é uma mistura de literatura periférica com ficção especulativa negra e desse caldo sai a minha narrativa afrofuturista onde, através
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desse mundo, outros mundos, entre seres, poderes, tecnologias, etc. debato as nossas questões raciais e sociais. E sem dúvida alguma emaranhados à representatividade, onde além de nossas faces incluo nossa história, saber, autoestima, ancestralidade, cultura... Tudo isso de uma forma muito legal. Mas é fato, literatura é lugar de poder, afeto, imaginação, conhecimento, diversão, consciência e o que mais valer a pena.
Por exemplo, a duo “Brasil 2408” se passa no séc. XXV, após uma reviravolta climática que deixa tudo finito. No prólogo fica claro quais serão os mais afetados, o que já é real e no futuro tudo muda (?). A tecnologia é para sobreviver e a nossa protagonista Ena é o fio condutor de uma trama que se desenvolve ao redor de sua família e de ideogramas/símbolos Adinkra, em especial o Sankofa. ( ps: dez capítulos estão online.) Já em “Sankofia” (2018), tenho contos onde empregadas domésticas fazem revolução, o festejo Maracatu é um planeta, o contato com o espaço discute nossa humanidade e existencialidade, cultura, memória. Há também mitologia e tranças, mistério e história. Talvez a eternidade não seja legal. Existem crianças periféricas com poderes ancestrais que podem afetar o mundo. E como não mencionar a visita de uma família negra ao Museu do Afrofuturismo? Que, aliás, é o meu conto “Era Afrofuturista”, presente dedicado a todos que quiserem conhecer o Afrofuturismo e sem dúvida, professores e alunos terão uma narrativa multidisciplinar instigante em sala que vai do português à matemática, passando pela química, pode virar jogos etc. Um mundo que convido vocês a conhecerem, sem demora. Já em “Ìségún” (2019), a trama se passa entre duas comunidades, Tombamento e Vinda, e a realidade do racismo ambiental (falta de saneamento, empresas poluidoras, lixo, etc.) está lá, cercando a vida de nossas protagonistas. A detetive Zuhri perdeu o pai por negligência de uma empresa química e a mãe no deslizamento do morro onde moravam.
Já Ayomide, enigmática, vinda da África numa biomaca, é resgatada pela Zuh num porto bem no meio de uma investigação. Esse é o ponto onde suas vidas se tocam e, anos depois, a morte do Dr. Diop vai mostrar que há muito mais em jogo. ( ps: Tia Cita é o máximo! Cheik Anta Diop idem, investiguem!) Bom... escrevi um pouco de cada livro aqui porque queria que tivessem a noção real do quanto temos de histórias para contar. Ou vocês não conseguem imaginar? Um nevoeiro denso isolando Japeri ou o Lote XV de Caxias, de onde ressoam grunhidos e estalos que só atacam os adultos, logo após a inauguração da expansão de uma refinaria de gás. Mas, quem sabe, talvez você esteja revivendo o Dia da Consciência Negra, sexta, 20 de novembro. Já cansado de subir e descer as rampas do CIEP. É a terceira vez. Sempre indo de 14h31min até 18h19min porque precisa lembrar o que fez com as coordenadas e a frase curiosa que anotou no primeiro horário, durante a oficina dada por um
monitor do Museu de Astronomia (São Cristóvão) das 13h às 14h30min. O tema foi o calendário de pedra de 7 mil anos no deserto de Nabta Playa (Egito/África). Você leu a sequência, um clarão aconteceu e perdeu a memória da oficina. E, para piorar, o contato misterioso no WhatsApp avisa: “resgate ou perca seus 5 colegas. Use bem seus 2 ciclos :)”. Três colegas já foram esquecidos por todos, restam 2, mas 3 se dizem do seu grupo e querem ajudar. Qual deles está mentindo e arquitetou tudo isso? Quem é? E o que quer? Só restam 2 círculos em seu pulso e, de um jeito ou de outro, você precisa lembrar ou terá que conviver com o apagamento deles para sempre. ( ps: Pode ser RPG? Desafio literário? O quê?) É isso! As possibilidades são tão infinitas quanto a imaginação. A ficção é o meu jeito de espelhar quem somos, botar fé no futuro do povo e contribuir para uma mudança social onde literatura e educação, aliadas à ficção, podem fazer magia, de verdade. Ousem...
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Wlange Keindé é uma jovem escritora, poetisa e youtuber, formada em Ciências Sociais pela UFF, pós-graduanda em roteiro cinematográfico na Escola de Cinema Darcy Ribeiro e mestranda em Teoria da Literatura e Literatura Comparada na UERJ. Fundou o Ficçomos, canal no Youtube sobre escrita e storytelling em 2014, no qual acumula mais de 4 milhões de visualizações e quase 100 mil inscritos, tornando-se o maior canal brasileiro do gênero. Sua carreira como escritora soma a publicação de 3 livros impressos e participação de mais de 15 antologias e projetos colaborativos. No Wattpad, soma mais de 130 mil leituras, divididas entre romances, contos e poesias.
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Matéria de capa MARLON SOUZA
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Publiquei Revista: Wlange, o ficçomos se tornou uma verdadeira escola para aspirantes a escritores, como também para escritores já publicados, mas que buscam melhorar sua escrita e técnica a cada texto. Quando fundou o canal em 2014, esperava essa repercussão? Wlange Keindé: A intenção era compartilhar com outros escritores as coisas que eu estava aprendendo sobre escrita e sobre o mercado editorial, mas nunca imaginei que eu fosse alcançar tanta gente. É muito bom saber que meu canal, hoje em dia, é referência para muitos escritores. PR: Quando você começou a escrever? De onde vem sua inspiração? WK: Escrevo desde criança, mas foi na adolescência que comecei a encarar essa atividade como uma possível profissão. Minha inspiração vem das coisas que vivo e das coisas que leio, assisto e ouço falar. O contato com outras pessoas e obras artísticas é importante para mim.
PR: Além de escritora, você, por meio do seu canal, se tornou um referêncial dentro do mercado editorial e acumula muito conhecimento de como funciona nosso mercado atualmente. Como você vê nossa situação atual? Principalmente para novos escritores? WK: É um mercado relativamente pequeno, o que já dificulta a inserção de novos escritores nacionais. Além disso, como sabemos, muitas vezes a publicação de best-sellers estrangeiros ou clássicos da literatura é uma aposta mais fácil para as editoras. Mas acho que a principal dificuldade do autor iniciante é a falta de conhecimento sobre o funcionamento do mercado. Por exemplo, há prestadoras de serviço que enganam os novos autores com a ideia de que é obrigatório pagar (e caro) para publicar um livro, de que é impossível publicar de graça. Muitos escritores não sabem como é o trabalho de uma editora, não sabem da existência dos agentes literários, ou evitam mostrar seus livros para o mundo porque têm muitas paranoias sobre plágio e não sabem como se proteger. Acho que esses conhecimentos precisam chegar aos autores para que eles se profissionalizem e tenham mais chances de publicarem seus livros. PR: Em seu canal, conseguimos perceber uma pesquisa muito grande e um conteúdo bem rico de material. Como funciona seu processo de pesquisa para os vídeos? O processo de gravação? WK: De forma geral, ler muito já traz respostas para muitas dúvidas sobre escrita, então em muitos vídeos eu só mostro várias possibilidades a partir
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de vários livros. Por exemplo: como alternar a narração em um livro? Eu já li vários que alteram a narração, então mostro e analiso essas obras. Dependendo do assunto, preciso fazer pesquisas mais profundas, então busco artigos acadêmicos também. E tem coisas que falo a partir da minha experiência como escritora, ou a partir de livros teóricos que já li. Antes de gravar, costumo fazer um roteiro, para saber exatamente o que vou falar. Isso também ajuda na hora de editar o vídeo. PR: E seu processo de escrita? WK: Sempre planejo as histórias antes de escrever. Preciso saber tudo que vai acontecer, mesmo que, inevitavelmente, eu adicione ou modifique algumas coisas durante a escrita. Não consigo escrever absolutamente todos os dias, mas procuro manter uma boa frequência quando estou trabalhando em uma obra, para que ela sempre fique fresca na minha cabeça. Gosto de associar músicas às minhas histórias, pois isso me ajuda a entender o sentimento que quero passar para o leitor. PR: Seu trabalho de conclusão da graduação em Ciências Sociais fala sobre “A criação do escritor” e se tornou um livro. Poderia nos falar um pouco mais sobre ele? WK: É um trabalho na área de sociologia da literatura que procura responder às seguintes perguntas: o que dá a alguém o direito de ser considerado escritor? Quem tem a legitimidade de atribuir ou não essa identidade? Dentro das ciência sociais, eu acabei de inclinando mais para a sociologia, mas queria pesquisar a área da li-
teratura por ser minha paixão desde a época de escola. Daí surgiu esse tema, e quis desenvolver isso da melhor forma possível na minha monografia. Fiz questionários, entrevistas, uma pesquisa bibliográfica que me possibilitou falar bem sobre a parte teórica, e fiquei muito feliz com o reconhecimento. O TCC tirou nota 10 e recebi muitos elogios pelo livro, além de convites para entrevistas. PR; Você começou a publicar seus textos pelo Wattpad. A plataforma se tornou uma das principais expoentes de novos autores atualmente, tento livros comprados por grandes editoras e até mesmo sendo adaptados para a TV e cinema. O que você acha da plataforma? Acredita que ainda é possível ter êxito publicando lá? WK: O Wattpad é uma ótima plataforma, mas você precisa saber usar. Se não criar sua própria bolha para divulgar seu livro, dificilmente as pessoas vão chegar nele de forma espontânea. Geralmente o que faz mais sucesso lá são livros adolescentes com romance, e também é preciso ficar atento nisso. Uma boa forma de destaque na plataforma é por meio dos concursos literários, principalmente o maior deles, o Wattys. É legal participar e interagir com a comunidade. Mas, claro, você não vai publicar um livro no Wattpad e apostar todas as fichas na esperança de que ele seja sua porta de entrada definitiva para a carreira profissional de escritor. Continue produzindo outras coisas e buscando outros meios.
PR: Ouvimos diversas vezes que o ofício do escritor é um dom, algo que nasce com a gente, mas você ensina muita técnica, assim como vários outros escritores, em cursos, em livros etc. Para você existe de fato um dom, ou apenas técnica? Ou pode haver os dois em certas medidas? WK: A ideia de dom é antiquada. Inclusive, também trato sobre isso no meu livro “A Criação do Escritor”. Acho que você pode gostar ou não gostar de escrever, e, se você gosta, deve ir atrás das técnicas para se aperfeiçoar. Isso não significa,
necessariamente, fazer cursos ou ler livros teóricos. Há quem simplesmente leia muitos livros de ficção e consiga captar a estrutura, os artifícios do texto, os motivos pelos quais o personagem funciona etc. Mas, claro, os cursos, oficinas de escrita e livros teóricos existem para facilitar o acesso a essas informações.
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PR: Na última bienal de Contagem, você lançou um livro colaborativo pela editora Meus Ritmos intitulado: “ELAS, Na Outra Face da Fantasia”, que teve como proposta a releitura de contos clássicos. Como foi este processo de escrever uma nova versão de uma história já conhecida? WK: Foi interessante. Eu peguei um conto dos irmãos Grimm e usei apenas os pontos-chave da história; de resto, pude inventar muito em cima daquilo. Adicionei personagens, transformei mais de um personagem em um só, modifiquei motivações, detalhes e até o tom da história, inventei um contexto diferente para a ação, etc. Até porque esses contos de fadas, nas versões que temos hoje, são bem curtinhos mesmo, e a história que escrevi para ELAS deveria ter no mínimo 25 mil palavras, então a proposta era realmente criar bastante, além de falar sobre temas atuais, que, claro, não poderiam ter sido abordados nos contos originais. Gostei muito de ter escrito essa história. Falei sobre religião e relações de gênero num enredo de mistério e fantasia. Foi realmente algo que eu nunca tinha feito. PR: Com as plataformas de publicação, redes sociais e o mercado para autores independentes, nunca foi tão fácil para publicar. O que aumenta as chances de material de pouca qualidade, ou sem um bom trabalho editorial, chegar em nossas mãos. Quais são os principais erros que você observa feito por novos autores? WK: Bom, a gente acaba entrando em contato com erros muito básicos, como uso inaquedado de vírgulas, erros de 14
concordância verbal e nominal etc. Mas, além da gramática, a gente vê que muitos problemas desses livros surgem por uma falta de leitura. Muitos escritores iniciantes não são leitores. Muitos nem gostam de ler. E isso fica perceptível no texto, porque, se você não lê, não conhece as possibilidades da literatura. Tem gente que escreve como se estivesse narrando um filme, por exemplo, e inventando recursos para traduzir, no papel, aquilo que vê na tela. Isso é falta de referências literárias. PR: Este ano você publicou “Você por aqui?”, coescrito com a autora Ana Rosa e publicado no clube de assinatura literária PS - Dois Pontos. Como foi este processo? Tanto de escrita, como de publicar em um clube com assinantes? WK: Foi algo diferente de tudo que eu já tinha feito. A escrita a quatro mãos foi muito interessante, tanto na fase de planejamento quanto na fase de escrita, em que escrevíamos capítulos alternados e uma lia a produção da outra, dando sugestões. Foi uma parceria incrível, ainda mais porque a
Ana e eu tínhamos a mesma ideia geral sobre o que queríamos comunicar por meio do livro. Nós duas somos mulheres negras e mostramos, através das personagens, parte da vivência de mulheres negras. O mais lindo foi ver o livro chegando nas assinantes e receber os feedbacks. Por ser um clube de assinaturas, já tínhamos um público esperando por nós, esperando para interagir com o livro. Está sendo uma recepção maravilhosa. PR: Gostaria de agradecer seu tempo e carinho em aceitar nosso convite. Para finalizar, gostaríamos de saber seus próximos projetos para 2020? WK: Eu que agradeço por esse espaço. Fico muito feliz! Bom, estou perseguindo a meta de postar um vídeo por semana no canal, sem faltas, e pretendo escrever mais e mais. Também esse ano vou terminar o curso de roteiro e começar o mestrado em Teoria da Literatura e Literatura Comparada na UERJ. Sobre publicações, por enquanto não tenho coisas certas, com contratos assinados, mas logo, logo surgirão novidades.
CONHEÇA O CANAL DA WLANGE:
Ficçomos: https://www.youtube.com/channel/UCKIcIvwOIbihmjT52LoXp_g
Publiquei Editorial
Falando de Antologias... Nesse espaço, vamos conhecer um pouco sobre as antologias mais recentes desenvolvidas pela Publiquei Editorial, por isso, convidados o Erik Thomazi e a Talita Facco para falarem um pouco sobre a Antologia Por nós Dois – Amor nas quatro estações. Falar de amor é sempre uma coisa boa. Mas, juntar tudo isso com as quatro estações do ano foi divertido, desafiador. Talita já tinha se arriscado em abordar o tema em seu primeiro livro, “Crônicas Românticas e outras histórias”, já sendo bem suspeita; e o Erik tinha se aventurado a escrever sobre o inverno na antologia ”Flores para o Inverno” da editora Villa-Lobos, com o conto Lembranças... Por esse motivo, após o convite da Publiquei, Erik achou que seria divertido trabalhar com Talita na antologia “Por Nós Dois” e fez o convite. Ela se lembra de ter feito duas exigências para poder participar do projeto: que a opinião dela fosse respeitada e que ele tivesse paciência com ela. Ajustados esses pontos e o edital, a melhor parte foi receber os contos. Cada um foi feito de uma forma especial e também com muito carinho por todos os inscritos. Ao final do período, recebemos 30 contos e os autores precisamos escolher 17, sendo que outros dois seriam deles. Depois de uma conversa, Erik decidiu que ficaria com o tema
de inverno, por ter mais facilidade com o tema; Talita ficou com a primavera, por se identificar mais com a estação. Publiquei Revista: Por que você se identifica mais com a estação que escreveu? Erik Thomazi: O inverno me remete à elegância e ao carinho, é uma estação onde precisamos estar mais próximos uns dos outros para nos esquentar (isso quando somos um casal; quando estamos solteiros, o cobertor, que não é de orelha, dá conta) e, além disso, sempre fui muito caseiro e gosto muito de frio; Juntando as duas coisas, fica o clima perfeito para namorar embaixo das cobertas ou assistir filme com pipoca, agarradinhos, enfim... Para mim, o inverno fala muito de amor, apesar de meu conto não ser muito feliz ( risos). Talita Facco: Porque eu acho que a primavera lembra o amor. Tem flores e abelhas por todos os lados ( risos). Pode-se ver casais felizes andando pelos parques. Além, é claro, de eu ser apaixonada pela estação, ao contrário do Erik ( risos). 15
PR: Qual a maior dificuldade encontrada pelos dois durante a elaboração da antologia? ET: Minha maior dificuldade foi não me emocionar com as histórias. Esse livro teve um processo muito especial para mim e cada conto tem uma marca bem legal. Tinha dias que terminava a leitura de um conto chorando e não conseguia mais ler nada sobre isso. Foi um processo maravilhoso.
escrever sobre ele na Primavera seria muito fofo e, com certeza, teria um desenrolar muito legal da história de um casal. TF: Putz, talvez eu não falasse de amor romântico e sim de amor fraternal ( risos). Eu teria que mudar a premissa do meu conto, mas seria desafiador, envolveria muito chocolate quente e neve.
PR: O que foi mais divertido no processo da antologia? TF: Ler e selecionar os contos ET: Além de trabalhar com a ( risos). Como o Erik disse, mui- Talita? Bom... Acho que o entos eram emocionantes, fazen- redo das histórias. Cada uma do com o que eu me identifi- tem um propósito muito bonito e muito legal. Foi muito bom ler casse com as suas histórias. tudo isso. PR: E se tivessem que escrever sobre a estação que o ou- TF: Trabalhar com o Erik, além de alguns dias bem específicos tro escreveu? ET: Olha... Acho que o amor ,como no dia que ele pediu para está em todas as estações e os eu priorizar a leitura de um conto momentos, por mais que eu te- e quando eu finalizei mandei um nha facilidade em falar dele no áudio muito indignada para ele. inverno, acho que se eu fosse
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PR: Como foi trabalhar em conjunto em uma organização? ET: Para mim foi uma surpresa boa em vários momentos. O primeiro deles foi quando veio o convite para organizar junto com a Talita, fiquei feliz porque ela é um presente que a literatura me deu e depois foi ver que nossas ideias eram bem semelhantes. Rimos bastante durante o processo e acho que não tivemos nenhuma discórdia. TF: Além do convite de trabalhar com um autor super talentoso? Foi o fato de a antologia ter nos aproximado e fortalecido a nossa amizade. O Erik é um cara super profissional e atencioso, me ajudou bastante na tomada de decisão de qual conto iria entrar ou não na antologia. Principalmente quando eu ficava indignada com algum texto. Houve bastante troca entre a gente, e realmente foi sem brigas.
Sobre “E aí, voei!” e como podemos criar asas através da literatura.
Quando me perguntaram sobre o porquê de eu gostar de trabalhar com antologias, eu geralmente respondo que acredito na possibilidade de unir diversos autores com diversos tipos de background em uma mesma proposta que é capaz de construir uma grande mensagem. Depois de organizar uma antologia sobre amor-próprio, percebi a necessidade de contarmos sobre um processo interno até então pouco explorado neste gênero literário: o autoconhecimento. Mais que somente se conhecer como ser humano, vejo que o autoconhecimento desenvolve consequências positivas dentro e fora da literatura e uma dessas consequências mais expressivas é a disseminação da positividade tanto no senso individual quanto no coletivo. Além disso, o amor-próprio e o autoconhecimento caminham de mãos dadas e, assim, se complementam. Esta antologia deixou sua percepção diante da relação humana com o universo desde perspectivas da fantasia, passando pela própria realidade até uma abordagem mais poética, sendo assim, todos os textos e autores responsável pela construção de um dos projetos mais lindos que tive o
presente de organizar. Começando pelo prólogo da autora Luana Soares e sua carta sobre como lidamos com nosso interior e damos asas para tornarmos nossa saúde mental nosso maior pilar. Confesso ter me emocionado ao ler aquele texto e, junto com a equipe da Publiquei, decidimos colocar a carta tão especial como abertura do livro. Não poderia ter escolhido texto mais marcante. Alguns textos me chamaram atenção por serem extremamente marcantes diante da superação de relacionamentos, como o conto “Laços”, de Kennedy Mangerot, e “Doze é o número ideal”, de Louise Branquinho, que contam com detalhes do quanto é importante lidarmos com pós-término de relacionamentos e o renascimento da confiança em si mesmo e no outro, diante de inúmeras rupturas. Outra abordagem especial é a do texto “A casa no meio da floresta”, de Lucas Barbosa, que desenvolve o diálogo com traços de fábula entre o homem e a coruja, realmente muito interessante, além de tantos outros textos tão únicos. Como organizadora, não poderia deixar de agradecer cada autor e toda a equipe da Publiquei editorial por fazer este projeto possível. Em especial,
ALICE MAULAZ
Carol Dias e Marlon Souza pela orientação e parceria durante todo o processo que fizeram sempre toda a diferença, não só como uma editora, mas em cada parte do projeto. É meu segundo como organizadora e tive uma experiência realmente maravilhosa e inspiradora. Concluindo, “E aí, voei” conta como podemos criar nossas próprias asas através da literatura e como, mesmo diante de tantas dificuldades em um momento de tantas incertezas no Brasil e no mundo, ainda é possível propagar a positividade e, principalmente, sermos parte desta corrente de positividade e amor-próprio.
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Publique seu livro
THAÍS ABREU ARAÚJO
Você conhece a P.S.:? A editora (_psdoispontos) vem conquistando leitores com projetos diferenciados, principalmente levantando a voz feminina, que se destaca na internet através da publicação independente. Nós conversamos com Cínthia Zagatto, uma das editoras, sobre mercado editorial e os projetos para este ano. Publiquei Revista: A P.S.: traz um modelo diferente de publicação, valorizando a literatura nacional independente. “Da tela para o papel”, pode nos dizer como foi começar com essa nova proposta? Cínthia Zagatto: O P.S.: (como clube de assinatura, que foi a primeira frente que tivemos) nasceu de uma mistura de pesquisas e experiências pessoais. É até um pouco difícil resumir, porque foi uma daquelas situações em que tudo te empurra na direção certa. Eu tinha acabado de lançar meu segundo livro como autora independente, sendo que tinha ignorado completamente a existência do primeiro por questões com a editora pelo qual ele tinha saído; eu estava fazendo um curso em que tinha estudado a viabilidade de uma editora para autores de fanfic, que é de onde eu vim e um segmento que me interessa muito, e, em dado momento, tive a ideia de um clube de assi18
natura de fanfics, que seria inviável por uma grande variável de fatores, a começar pelo fato de que elas não podem ser comercializadas. O início do P.S.: foi atrelado a uma questão muito pessoal, do tipo que revira sua vida e faz você querer mergulhar de cabeça em algo que te motive para esquecer outras coisas que estão acontecendo, então a verdade é que, depois de todos esses meses estudando, pesquisando, experimentando e também procrastinando, o P.S.: nasceu em algo que deve ter sido 48 horas em que eu e minha sócia sentamos na sala de casa fazendo contas, artes, contratando autoras, rearrumando um site que eu já tinha e aprendendo a usar ferramentas de pagamento de assinatura. De um sonho distante, a gente conseguiu fechar uma proposta bastante viável, e encontrar as primeiras autoras não foi difícil.
Eu sempre soube que seriam autoras de fanfic, principalmente as que quisessem seguir com uma carreira, que estivessem tentando engajar algum público, que tivessem o mesmo sonho de ter um livro físico que eu tinha. Mulheres e, de preferência, com histórias nacionais, porque a gente já consome literatura demais do ponto de vista masculino e internacional. Nós também sabíamos que nosso trabalho seria feito pensando nelas e nos leitores; queríamos que tivessem uma experiência oposta à que eu tive quando fui publicada. E, a partir de então, surgiu a P.S.: como assessoria literária, porque nosso modelo de negócio no clube não permite que tenhamos muitas autoras, mas algumas gostam do nosso trabalho e querem que o livro passe por nós; e ultimamente a P.S.: Edições, que é nossa pequena editora com alguns livros em catálogo.
PR: Lidar com o mercado editorial nacional não é nada fácil. Por experiência própria, quais os desafios que a P.S.: destacaria? CZ: O primeiro deles é de cara o fato de não estarmos em livrarias, porque é inviável ser uma editora de tiragem pequena e pagar 50% de consignação, mas acho que isso talvez seja chover no molhado. Falando principalmente sobre o nosso modelo de negócios, o maior desafio é fazer o leitor entender que a proposta principal é incentivar a literatura nacional e novas autoras. É claro que ninguém precisa assinar 3 ou 5 livros porque tem uma autora preferida na nossa série, mas, se der para assinar uma vez, isso é muito importante para as outras meninas do projeto. E nós temos o pacote unitário, que custa mais caro justamente para incentivar os leitores a assinarem toda a série, a conhecerem novas autoras e lerem às vezes histórias que não leriam em outras situações. Existe até a dificuldade de fazer as autoras se unirem e abraçarem essa ideia de que incentivar os leitores a assinarem o pacote todo antes dos livros individuais começarem a ser vendidos é melhor para todo mundo. Demora um pouco até o projeto fazer sentido para a maioria das pessoas. Na internet, existe uma competição maluca por público; a verdade é que fora dela também. O mercado literário definitivamente reflete isso de várias maneiras. A gente tenta nadar contra a maré, e é incrível ver assinantes vindo de um ano para outro já sem saber quem serão as autoras; ou conhecer pequenas editoras que também estão procurando se
fortalecer e se dispõem a nos dar a mão em diversos eventos por aí. Eu poderia até entrar na questão da sororidade, que falta um pouco no mercado, mas que definitivamente tem guiado nosso trabalho. PR: Outra característica da P.S.: é a divulgação de autoras que estão no universo da autopublicação online/digital. De que forma definiriam o contato dos leitores com esse tipo de produção? CZ: É definitivamente inseparável, não tem nem como começar a falar sobre autoras da internet sem trazer os leitores junto. No primeiro ano do clube, em nosso primeiro dia de divulgação, nós tivemos 500 pessoas no nosso grupo do Facebook esperando as novidades. O projeto foi divulgado pelas quatro autoras e, de repente, as leitoras delas estavam em peso no aguardo. Não fosse por essas meninas, e alguns poucos meninos assinantes (como sempre temos), o projeto nunca teria saído do papel. Nossas assinantes muitas vezes se tornam amigas. Por ser um projeto pequeno, normalmente as conhecemos pelo nome. Nosso respeito por elas é imenso, e o trabalho do lado de cá para tentar não decepcionar também. PR: Além de deixar mais acessível o processo de publicação, com assessoria literária completa ou personalizada, a P.S.: tem um clube de assinatura. Conta pra gente como funciona? Como tem sido a experiência com os assinantes? CZ: O clube funciona como uma série de livros. A cada ano temos um tema diferente, e as autoras contratadas escrevem livros inéditos e exclusivos 19
relacionados a ele. Estes chegam na casa dos leitores com brindes, variando de um a três meses entre o lançamento de cada título, dependendo da quantidade de livros da série. Também dependendo do pacote, os assinantes recebem brindes, cartas online e têm alguns benefícios como participação em sorteios ou inscrição gratuita nas nossas antologias. Como eu comentei antes, nosso relacionamento com os assinantes é muito próximo. Nem sempre é perfeito, mas a gente se esforça para não haver nenhum problema grave e resolver qualquer mal-entendido. E tem dado resultado, o que nos deixa bastante satisfeitas, já que nossa equipe é pequena. Nossa cara está lá. Todo mundo que mexer um pouquinho nas nossas redes sociais sabem quem nós duas somos (eu e a Suellen Roman). Foi algo que nos dispusemos a fazer desde o começo. Não queremos ser uma instituição cuja cara é um logo, queremos que nossos assinantes saibam quem somos quando vierem falar com a gente. Achamos que isso inspira confiança em qualquer projeto que nos dispusermos a fazer, tanto o clube quanto a assessoria. PR: A Série Melhores Amigas vem com seis autoras, três livros. O primeiro foi “Você por aqui?”, das autoras Ana Rosa e Wlange Kendé. O segundo está em pré-venda, “E agora?”, de Chris Salles e Thati Machado. O que podemos esperar do terceiro e último volume, coautoria de Lan e Andie P? CZ: A gente ainda não pode falar muito sobre isso, porque ainda está na fase em que os assinantes recebem as informações antecipadas, mas com 20
certeza os leitores da Lan e da Andie podem esperar um livro genuinamente escrito por elas. Esta foi a primeira série em que o clube definiu o tema ( normalmente quem define são as autoras em conjunto), mas fora isso todo o processo criativo está nas mãos das meninas. PR: A P.S.: está com edital aberto para a antologia “Então vem, dia dos namorados”. E o que logo nos chama a atenção é que a taxa de inscrição é a compra de um volume como apoio sem garantia do conto enviado ser selecionado. É a primeira vez que criam esse modelo de publicação? Como tem sido o feedback? CZ: Essa é nossa segunda antologia e a segunda que fazemos nesse modelo, porque a primeira deu certo. O feedback é bem positivo, porque, apesar de ter uma taxa de inscrição, as autoras sabem que o dinheiro
delas não vai ser embolsado sem critério nenhum; elas vão gastar esse dinheiro como se estivessem comprando um livro, independente do resultado. Essa taxa nos ajuda a ser fiéis em toda a nossa proposta, que é sempre pagar direitos autorais às nossas autoras (então não concordamos com a ideia de fazer com que as vencedoras paguem valores abusivos para fazer parte do livro) e incentivar a publicação de autoras independentes e nacionais. Assim como no clube, a gente acredita que a antologia é um incentivo. Se as autoras confiam no nosso trabalho a ponto de inscreverem um conto em um concurso nosso, nós queremos que elas tenham em casa a contrapartida dessa aposta que fizeram; seja com o conto delas no livro ou das autoras que achamos que elas devam conhecer. E quem sabe numa próxima não sejam elas ali?
PR: Desde a criação, em 2016, já pensaram em desistir da P.S.:? Alcançaram os objetivos esperados no começo ou o que ainda pretendem alcançar? CZ: Pelo contrário. Nós estamos expandindo aos poucos, mas não mais do que podemos. Acho que a maioria das editoras não fecha por vontade própria; a maioria quebra. Até agora, o P.S.: como um todo é um segundo trabalho para nós. Ele não nos sustenta, mas também nunca nos deu prejuízo. O dia em que isso acontecer, talvez a gente tenha que pensar em fechar, mas nós temos muito cuidado em todas as nossas ações para que isso não aconteça. O resultado dos anos anteriores foi positivo e gratificante; o feedback é muito bom e também o engajamento e a conversão de assinantes nos fazem seguir em frente. No último
difícil; conciliar vida pessoal e um trabalho que realmente pague as contas com a escrita de um livro para ser publicado (às vezes ao mesmo tempo em que outro está em andamento no Wattpad) é muito penoso, mas também é um sonho. É importante lembrar que o dia em que não for viável fazer tudo isso, e se a literatura for só um hobby, ela vai ser a primeira coisa da qual essa autora vai abrir mão. Às vezes você não pode comprar todos os livros, mas compre um quando puder, ou um PR: Obrigada pela entrevista, e-book mais barato; peça de desejamos sucesso e parabe- presente quando puder, divulnizamos pela dedicação com a gue sempre que puder, e se nossa literatura brasileira! Va- engaje nas ações quando essa mos terminar com uma men- autora pedir ajuda. No mercado independente, cada livro vendisagem aos leitores? CZ: Incentivem as suas autoras do, resenha postada na Amapreferidas! É tudo o que a gente zon ou no Skoob ou indicação sempre pede e pode pedir. Ser para amigos conta muito. autora independente é muito semestre do ano passado, lançamos dois livros pela editora. Este ano estamos aumentando o número de lançamentos; já temos todos os contratos assinados e estamos esperando a hora certa para anunciar. A antologia é só o primeiro deles. Também é o primeiro ano em que o clube tem duas séries. Estamos vendo o resultado disso para definir o funcionamento dele no ano que vem. Estamos animadas para continuar com o trabalho.
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