PUBLIQUEI
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20 º EDIÇÃO - MARÇO DE 2019
NOVAS COLUNAS, DICAS DE ESCRITA E MAIS
A LEVEZA DOS ROMANCES DE
Samantha Holtz 1
20ª EDIÇÃO Contato publiqueirevista@gmail.com (21) 99575-2012 publiqueionline.com
Sumário
LANÇAMENTOS 3 PUBLIQUE SEU LIVRO 5 AMAMOS E-BOOKS 6 MATÉRIA DE CAPA 7
DRESA ENTREVISTA 14 RESENHA 19
EDITORIAL Nós voltamos! Publiquei, a sua revista favorita, está de volta. Agora, a cada três meses, uma nova edição vira ao ar para enaltecer e divulgar o trabalho de novos autores. Agora, a equipe de trabalho cresceu e se tornou móvel, porque as matérias que não estão aqui, estão no nosso site. Se você quiser fazer parte da família, entre em contato conosco! Vai que uma vaguinha se abriu na equipe por esses dias? Você perceberá também que as cores da revista acompanham a cor da capa. Além disso, estamos trabalhando em uma diagramação mais clean, para que você fique mais confortável durante a leitura. É autor e gostaria de ter seus livros divulgados aqui? Tem uma editora e gostaria de que falássemos dos seus pupilos? É organizador de eventos literários e quer divulgar a próxima edição do seu? Manda a sua sugestão de pauta para nós por e-mail e vamos encontrar um espaço para você assim que possível. Mas, vamos ao que interessa: a edição deste mês está recheada de novidades. Algumas colunas antigas estão de volta e outras estão passando por um processo de adaptação. Há novas também surgindo. O importante é que a cada edição da Publiquei traremos coisas diferentes e conteúdo de qualidade para quem nos lê. Muito obrigada a todos os autores que aceitaram ser entrevistados nesta edição. Mas, agradeço mesmo a cada um dos colaboradores que atuou nesta edição. Abaixo, você verá cada um dos que trabalhou nesta edição. Obrigada por retornar e acompanhar mais uma edição da Publiquei. Boa leitura! Carol Dias
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Editora-chefe Carol Dias Diagramação e Revisão Carol Dias Créditos Foto da capa: Du Arantes Ícone de diagramação: smalllikeart
Redação Carol Dias Dresa Guerra Érik Gabriel Thomazi Gabriela Silva Marlon Souza Thaís Abreu de Araújo
LANÇAMENTOS por Thaís Abreu de Araújo
O Rio de Hydra
PAULA MELLO “O rio de Hydra”, sequência de “A ilha dos elementos”, é o segundo da “Trilogia dos Cinco Elementos”. Para quem ama fantasia, este é daqueles livros que te prendem do começo ao fim. Kiera, a protagonista, vem se tornando uma grande feiticeira, enquanto uma guerra se aproxima e coloca em risco seu reino. Entre magia e sacrifícios por aqueles que ama, nesta nova jornada Kiera nos apresenta um novo reino e novos perigos. Disponível em formato físico e e-book.
Mulherão da Porra
VANESSA NUNES
Lançamento pela Rico Editora, Mulherão da Porra é uma reunião de contos onde mulheres fortes e inspiradoras prometem fazer você ver a vida de outra maneira. Afinal, quem foi que disse que temos “sexo frágil”? O livro é daqueles que, numa sociedade ainda machista como a nossa, vem dar voz às mulheres. Cada uma a seu modo, com sua peculiaridade, mas igualmente guerreiras de seu tempo.
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Flores para o Inverno
LUCAS BRASIL Outro lançamento deste mês é o livro “Flores para o Inverno”, uma coletânea da Editora Villa-Lobos. Com organização de Lucas Brasil, o livro trás dezenove contos entre o inverno francês. Confira a sinopse:
No inverno francês, tudo pode acontecer. Desde o simples até o mais sofisticado; desde o amor proibido em tempos de guerra até o futuro tecnológico de realidades paralelas; desde o amor instável e perigoso, que machuca profundamente, até o lar de coisas sobrenaturais que acontecem entre nós, reles mortais. Na galante neve que cai, as histórias ganham vida entre os mais variados personagens. Na dor, no amor, na saudade que vem em forma de lembrança, tudo pode acontecer sob o olhar da elegante França, embalada pelas tramas que são mais que atemporais. E as flores estão aí, eternas e diversas, prontas para serem colhidas no inverno.
LANÇAMENTO DA EQUIPE
Entre Livros e Lápis de Cor
MARLON SOUZA E THAÍS ABREU DE ARAÚJO
Todo edição, a Publiquei vai enaltecer o trabalho de alguém da casa. Dessa vez, é “Entre Livros e Lápis de Cor”, do Marlon Souza e da Thaís Abreu de Araújo, que redige esta coluna. O livro está em pré-venda pela editora Hope. Leia a sinopse para saber mais da parceria entre os dois autores:
Camila Valença é uma garota completamente desastrada, que vive mergulhada em seus livros e séries. Como toda boa caloura de Letras, vive na biblioteca da faculdade entre centenas de páginas e o cheiro de livro que tanto ama. Além de lidar com o recente término do seu namoro de dois anos, Camila também se vê com os pais recém-separados. Lucas Caetano, por outro lado, é aquele veterano de Arquitetura que não se vê preso a ninguém. Ele nem tem tempo para isso, já que a faculdade faz todo o trabalho de ocupar seus pensamentos. A não ser por sua avó de quase noventa anos, que é como uma mãe para ele. Ela sonha com o dia em que verá o neto encontrar o amor. Com sua festa de aniversário chegando, dona Abigail deseja vê-lo acompanhado e, sem saber o que fazer para não partir o coração da avó, Lucas convida a única garota que nunca pensou em chamar: Camila. Em meio a muitas cores e letras, será que humanas e exatas poderiam dar uma trégua e embarcar em um namoro forjado?
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PUBLIQUE SEU LIVRO por Erik Gabriel Thomazi
Por onde eu começo? Quando se fala em publicação, já se pensa em um livro com uma capa linda cheia de detalhes, várias informações e juntando com uma sinopse incrível que pode trazer muita coisa da história ou simplesmente deixar mais mistério no ar, Mas o que realmente envolve o processo de publicação é isso e muitas outras coisas. Por onde começamos então? Simples! Pela escrita, afinal de contas, sem escrita não há publicação, certo?! Mas ainda sim o que eu devo escrever? Aquilo que é vendável ou aquilo com o qual eu me identifico? Existem as duas possibilidades, mas o importante é escrever aquilo que te deixa feliz e satisfeito, independente se ele é vendável ou não. Sabe por que? Porque não se trata de vender palavras, mas de construir e concretizar um sonho. Como a proposta da coluna é dar algumas dicas para publicação, vou começar com algumas para escrita:
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Construção de parágrafos: evite fazer parágrafos muito longos. Isso cansa o leitor e ele pode não achar o texto tão interessante assim;
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Repetição de ideias: repetir muito suas ideias num mesmo parágrafo em uma sequência pode não ser um bom caminho. Tome cuidado!
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Cuidado com os vícios: não fique preso repetindo os mesmos termos (então, aí, pois, porque, mas, etc)
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Seja criativo e divirta-se! Não se preocupe muito com o tamanho do seu capítulo. O importante é que você se divirta escrevendo e goste do que produziu. Com o tempo, se precisar ajustar alguma coisa, você fará com calma.
Ainda falaremos mais do processo de publicação e vamos conhecer os bastidores dessas etapas. Vejo vocês na próxima e vamos escrever!
Erik Gabriel Thomazi é paulista, nascido em Ribeirão Preto. Aos vinte e poucos anos, jovem na escrita, mas já participou de várias antologias e outros projetos.
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AMAMOS E-BOOKS por Gabriela Silva
As mulheres que li no mês das mulheres compartilha em suas redes sociais o dia a dia com a depressão, ajudando outras pessoas que sofrem com a doença, desmistificando-a. O assunto fez parte de sua obra mais recente, o “Céu sem estrelas”. Cecília é uma jovem caloura que se sente desajustada, em grande parte por sua aparência. Além de conviver com a gordofobia, a jovem passa por grandes mudanças em sua vida, o que desencadeia alguns transtornos mentais. Acompanhamos a história dela, sob o ponto de vista da própria e de Bernardo, irmão de sua melhor amiga e por quem ela é apaixonada. Ao longo da história eles vão se aproximando, iniciando um relacionamento cheio de altos e baixos. Outro ponto da vida da protagonista é o relacionamento com a família, em especial a mãe, aos poucos sendo desfeitos por conta de antigas mágoas. Um dos pontos positivos é a quantidade de personagens que fogem aos padrões – LGBTs, negros e deficientes são representados, além da própria Cecília, uma pessoa gorda. O livro traz com delicadeza assuntos importantes como a gordofobia,
a ausência, o relacionamento entre pais e filhos e a expectativa de se encaixar em um padrão. O início do mês de fevereiro trouxe nota técnica do Ministério da Saúde sobre uma nova política no tratamento psiquiátrico no país. O projeto previa a internação em hospitais psiquiátricos e a compra de máquinas de eletrochoque. Sobre o assunto, creio que seja interessante indicar o trabalho da jornalista Daniela Arbex, conhecida por aprofundar sobre temas importantes para o Brasil. Mais do que documentar, traz à luz histórias não contadas. Também em forma de documentário (2016), em “Holocausto brasileiro”, Arbex traz relatos sobre o Hospital Colô-
Holocausto Brasileiro, da Daniela Arbex, publicado pela Geração Editorial
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Céu sem estrelas, da Íris Figueiredo, publicado pela Seguinte.
Não sou de me render ao hype. Por isso, leio/assisto o que quero na hora que me bater a famigerada vontade. Isso não me faz uma boa disseminadora de novidades — como os livros que indico a seguir. Minha lista de leituras veio bem a calhar com a data desta publicação. Livros escritos por mulheres brasileiras, com propostas que revisitam o passado ou olham para questões atuais. Janeiro é o mês da campanha “Janeiro Branco”, criada por psicólogos brasileiros para evidenciar a importância do da saúde mental e do cuidado e prevenção ao adoecimento emocional. Uma das pessoas que mais vejo na minha timeline é a autora Iris Figueiredo, que
nia, em Barbacena, localizado no que ficou conhecido como “o corredor da loucura”, em Minas Gerais. Lá 60 mil pessoas morreram em decorrência dos tratamentos desumanos que o Colônia, fundado no início do século XX dava a seus pacientes — um verdadeiro genocídio. O hospital psiquiátrico ficou conhecido por receber pessoas sem nenhum caso comprovado de doença mental: mulheres marcadas por abusos de maridos e patrões, outras que não aceitavam se casar ou haviam perdido a virgindade antes do casamento, homossexuais, alcóolatras, epiléticos — em sua maioria pobres e negros renegados pela sociedade. O inferno acabou nos anos 80, quando um movimento por abrigos e indenizações para os sobreviventes começou, ao mesmo tempo que acontecia a reforma psiquiátrica no Brasil. Registros anteriores foram feitos, mostrando o horror de um hospital superlotado, com falta de alimentação e roupas para seus pacientes, que adoeciam sobre o frio ou em decorrência de torturas físicas e psicológicas. Mas no livro temos o relato mais completo que mostra a necessidade de repensar o funcionamento de manicômios no Brasil. Continuando no mês de fevereiro, nos Estados Unidos se comemora o mês da consciência negra. Por aqui, os casos de racismo no Big Brother Brasil têm trouxeram à tona a importância de se discutir as questões de raça em um país que atravessou quase quatro séculos de escravidão. Por isso acho interessante apresentar “O que é lugar de fala?”, de Djamila Ribeiro. O
livro faz parte da coleção “Feminismos Plurais”, que visa, como o próprio nome já indica, trazer questões sobre diversos feminismos de forma acessível e é organizada pela autora, Mestre em Filosofia. Para Djamila, o feminismo negro é fundamental para se olhar o feminismo como múltiplo e a necessidade de abordá-lo a fim de tirá-lo da invisibilidade e negar que sua intenção de se descolar do feminismo como um todo. Em seu livro a autora nos convida logo de cara a revisitar a história. Sojourner Truth, ativista afro-americana, escritora e ativista dos direitos das mulheres. Em seu discurso na Convenção dos Direitos da Mulher, em 1851, em Ohio, EUA, Truth apresenta a perspectiva da mulher negra na sociedade estadunidense e confronta o que é ser mulher. A partir desse ponto, parte-se de obras de estudiosas negras para abordar conceitos de raça, classe e gênero para repensar a luta e a construção de saberes, defendendo a importância do feminismo negro como uma forma de discutir identidades e humanidades negadas. Pensando o lugar de fala para além de um debate formulado nas redes sociais, é importante que independente da sua posição, todos devam se articular para enfrentar as desigualdades. Branquitude, cisgeneridade, masculinidade são conceitos que devem ser estudados e cada indivíduo dentro de sua localização social possa debater criticamente os mais variados temas possíveis, repensando hierarquias, sexismo, pobreza e como isso impacta os grupos mais marginalizados.
Muito tem se falado ultimamente sobre o conceito de lugar de fala e muitas polêmicas acerca do tema têm surgido. Fazendo o questionamento de quem tem direito à voz numa sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade, o conceito se faz importante para desestabilizar as normas vigentes e trazer a importância de se pensar no rompimento de uma voz única com o objetivo de propiciar uma multiplicidade de vozes. Partindo de obras de feministas negras como Patricia Hill Collins, Grada Kilomba, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Sueli Carneiro, o livro aborda, pela perspectiva do feminismo negro, a urgência pela quebra dos silêncios instituídos explicando didaticamente o que é conceito ao mesmo tempo em que traz ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história. Em Aprendendo com o outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro, Patricia Hill Collins fala da importância das mulheres negras fazerem um uso criativo do lugar de marginalidade que ocupam na sociedade a fim de desenvolverem teorias e pensamentos que reflitam diferentes olhares e perspectivas. Pensar outros lugares de fala passa pela importância de se trazer outras perspectivas que rompam com a história única.
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CAPA
A LEVEZA DOS ROMANCES DE
Samantha Holtz
Ela sabia desde o dia em que veio ao mundo que os livros seriam grande parte de sua vida. Ela nasceu em 23 de abril, Dia Mundial do Livro. Apaixonada pelas letras desde pequena, era incentivada pelo avô a ler e ouvir histórias. Com cinco anos, ela aprendeu a ler sozinha e devorou os gibis do Maurício de Souza. Apaixonada, já aos sete anos ela criava seus personagens para histórias em quadrinhos e dizia que gostaria de ser redatora do Maurício de Souza quando crescesse. Aos 14 anos, ela escreveu seu primenro romance, mas foi só em 2012 que viu seu sonho se tornar realidade: ela publicou seu primeiro livro, “O Pássaro”, e ele foi premiado no “Destaques Literários 2012”. Além da editora Novo Século, Samantha publicou também pela Arqueiro e pela Rico. Nesta edição, suas histórias foram destaque da capa da Publiquei. Confira a entrevista: 8
Publiquei Revista: Como a escrita surgiu para você e qual foi a participação dela na sua vida, enquanto crescia? Samantha Holtz: Em primeiro lugar, agradeço à Pub pelo convite à entrevista. É uma alegria falar sobre meu trabalho aos leitores de vocês! A respeito da escrita, ela faz parte da minha vida desde a infância. Aos 7 anos, decidi que queria ser redatora do Mauricio de Sousa quando crescesse (risos)! Então, comecei a escrever minhas próprias histórias em quadrinhos: eu juntava algumas folhas em branco, grampeava no meio, dobrava e criava historinhas. Creio que tenham sido minhas primeiras “criações”, e minha mãe tem várias delas guardadas em uma caixa. Com o tempo, fui lotando cadernos com poesias, reflexões e pequenos contos, muitos dos quais eu dava de presente aos professores... até que, aos 14 anos, escrevi um conto que cresceu, cresceu e virou um romance — mais precisamente, a primeira versão de “Renascer de um Outono”. Daí em diante, não parei mais de escrever romances!
PR: Seu fã-clube, “Loucos por Samanta Holtz”, tem quase 800 leitores. Além disso, eles se uniram para escrever o spin-off de um dos seus livros, “Quero ser Beth Levitt”. Qual é a sensação de ter leitores se envolvendo com suas histórias de tal forma? SH: A única palavra que me vem à mente é: indescritível. Na adolescência, quando eu sonhava em ter meus livros publicados, pensava que não teria emoção maior do que ver meus livros à venda nas livrarias. Mas, claro, estava enganada! Hoje, uma das minhas maiores realizações como escritora é saber que a paixão por meus livros trouxe à tona grandes amizades, como a das “loucas”. Muitas se tornaram amigas a ponto de uma ser convidada a ser madrinha do filho da outra (é sério!). É especial demais saber que amizades tão lindas brotaram do amor em comum pelos meus livros, e eu me emociono toda vez que elas me dedicam gestos lindos como o spin-off de “Quero ser Beth Levitt”. Saber que dedicaram tanto tempo, paixão e carinho em preparar algo para mim, em me homenagear e me fazer sorrir, isso sim é a maior realização que um escritor pode ter. Mais do que alcançar grandes números ou escalar a lista dos mais vendidos... sem esse carinho, não valeria a pena! PR: Como é a sua interação com os seus leitores? SH: Tenho um relacionamento de carinho mútuo com eles! Não somente com os “Loucos”, de quem falamos na pergunta anterior, mas com todos os que me procuram nas redes sociais ou en-
viam cartas. Tem sido cada vez mais difícil por conta do tempo e do volume de mensagens, mas eu prezo para responder a cada um que entra em contato. É trabalhoso, mas vale a pena. Penso que quem dedicou parte do seu tempo para ler meus livros e me enviar uma mensagem carinhosa merece saber que me fez sorrir! Mesmo quem me escreve ou publica uma resenha para comentar algo de que não gostou, também sou muito grata a eles e respondo com muito respeito, pois me ajudam a melhorar meu trabalho! PR: Como funciona o seu processo de escrita? SH: Antigamente, eu amava as noites e madrugadas. Hoje, com a “vida adulta” (risos), precisei adaptar meus horários e escrevo durante o dia, intercalando com um emprego de meio período fora de casa. O maior desafio, para mim, é a disciplina. Uma coisa é você cumprir metas em uma empresa, com um chefe a quem responder. Outra é você ser seu próprio chefe, ditar seu ritmo e trabalhar em casa, com distra9
ções constantes. Procuro criar uma rotina, dividir minha carga horária entre a escrita e outras atividades para não me perder. Ao começar uma nova história, gosto de criar primeiro o roteiro, o desenrolar da trama e o perfil dos personagens – mesmo que grosso modo, em um “resumão”. Anoto todas as ideias e possibilidades para pensar melhor depois, em um “brainstorming” pessoal, e às vezes recorro às minhas betas (irmã, prima e tia) para testar algumas decisões. Também faço pesquisas sobre o local e época em que a história se passará, temas que abordarei e tudo o que for importante para transmitir o contexto escolhido. Depois, organizo as informações e divido as cenas marcando data para concluir cada uma, para me guiar e me dar uma noção de tempo e prazos — mesmo que, muitas vezes, eu não consiga cumpri-los (risos). Quando termino a primeira versão da história, colho as opiniões das minhas betas e faço a primeira revisão antes de enviar às editoras!
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PR: Como foi o convite para participar da antologia “Aconteceu Naquele Natal”, ao lado de Janda Montenegro e Juliana Parrini? SH: “Aconteceu naquele Natal” foi um projeto muito especial e querido! A Ju e a Janda me procuraram em 2017 com a ideia de escrever uma releitura de “Um conto de Natal”, de Charles Dickens, e queriam que eu fosse a terceira autora. Por gostar muito delas e do trabalho delas, topei o desafio e começamos a pensar em possíveis enredos. Foi quando eu tive um sonho bizarro à noite: eu era abordada por um assaltante enquanto entrava no carro e, ao entregar a chave para ele, disse: “Você pode me deixar em casa, no caminho?”. O assaltante não só aceitou como passou comigo em alguns pontos da cidade que eu precisava, antes — entre eles, uma livraria! Quando acordei, levantei correndo para anotar o sonho e foi então que tive um “clique” ao perceber que aquela poderia ser a sementinha do enredo do livro de Natal. Fiz algumas adaptações, apresentei a ideia às duas e elas toparam na hora! PR: Como funcionou o processo de escrita de vocês três nessa releitura do clássico de Charles Dickens? SH: Depois que contei a elas sobre o sonho e adaptamos juntas alguns detalhes para o enredo central, fiquei responsável pela parte que o sonho havia inspirado — a qual seria o “Presente”, o trecho do meio da história. Escrevi o texto e enviei para elas. Com base nisso, a Janda compôs a origem do personagem e o ponto de virada para o início
do livro, o trecho do “Passado”, e, por fim, a Ju encerrou com chave de ouro no final, o “Futuro”. Como podem ver, foi uma construção totalmente às avessas, indo do meio para o começo e, só então, para o fim! Com as três partes concluídas, todas relemos a história e realizamos os “ajustes finos” para conectar a história – que tem um único começo, meio e fim. Eu nunca havia trabalhado em coautoria e não fazia ideia de como seria. Por fim, tudo transcorreu de forma muito tranquila e positiva porque nós três estávamos muito abertas às ideias umas das outras. As colaborações de cada uma se encaixaram com perfeição para afinar cada detalhe e todas as decisões foram tomadas de forma muito democrática, respeitando o estilo de cada uma. É, sem dúvida, uma das histórias mais especiais de que já fiz parte! PR: Em 2014, você venceu o Prêmio Anita Garibaldi – Em Defesa dos Direitos da Mulher como Escritora Humanitária. Como foi receber este prêmio? SH: Foi maravilhoso e inesperado! Um belo dia, recebi um e-mail dos organizadores informando que meu nome havia sido contemplado para a nomeação de Escritora Humanitária e me convidando para a cerimônia de premiação, que aconteceria na Câmara Municipal de São Paulo. Fiquei encantada! A família inteira viajou a São Paulo para a cerimônia e eu ainda tive a alegria de receber a leitora (e uma das fundadoras do fã-clube) Mariane Frota, de Fortaleza (CE), que estava na capital para a Bienal do Livro e antecipou a viagem
só para assistir à premiação. Foi uma solenidade muito bonita e, conversando com uma organizadora, fiquei sabendo que as 14 homenageadas foram escolhidas por jornalistas e formadores de opinião dentre 200 nomes pré-selecionados de “mulheres que faziam a diferença em sua área de atuação”. Fiquei muito contente porque, desde os tempos em que eu sonhava com a carreira de escritora, meu objetivo jamais foi a fama ou o dinheiro. Se vierem, são bem-vindos, claro. Mas não são objetivos, são possíveis consequências. Meu verdadeiro intuito sempre foi tocar corações, provocar emoções, fazer as pessoas sentirem o que eu senti quando li os primeiros romances da minha vida. Receber um prêmio que diz “você faz
a diferença” talvez tenha significado mais para mim do que receber um prêmio de “livro mais vendido” (risos). PR: A mente do escritor não para. Em qual das fases do seu processo de escrita você está atualmente? O que você pode contar sobre essa história? SH: Em fevereiro finalmente concluí mais um romance! Foi um processo longo e cheio de percalços, em que não consegui cumprir nenhum dos prazos que havia estipulado a mim mesma (risos). Claro, vivi meio ao processo o casamento, a mudança de casa, muuuitas mudanças na rotina... então, é claro que foi preciso adaptar-me a um novo ritmo. No momento, estou tra-
balhando na revisão da história, esforçando-me para manter um mínimo de um capítulo por dia. Tenho algumas mudanças a fazer no enredo, ideias que surgiram ao longo do processo de escrita, e também o desafio de enxugar a história, pois ficou muito grande — muito mesmo! Tudo indica que, até meados de abril, terei concluído essa etapa e, então, será momento de entregar nas mãos da minha querida agente para alinhar a publicação! O que posso antecipar aos leitores é que a história busca representar todas as mulheres e suas diferenças, especialmente seus medos, culpas e incertezas. Tem romance de casal, claro! Mas o foco, dessa vez, será o amor-próprio. 11 11
PR: Qual é a parte mais difícil de escrever uma história: o início, o meio ou o fim? Por quê? SH: Acredito que seja o fim. O começo é o momento de apresentar o universo do seu personagem ao leitor e, embora haja o desafio de prender a atenção dele desde as primeiras linhas, normalmente essa parte já está bem estruturada no roteiro. O meio é a parte mais empolgante, em que tudo acontece... já o fim é quem decreta se o seu leitor vai fechar o livro suspirando de amor ou xingando o autor (risos). É quando você vai mostrar a ele que toda aquela jornada valeu a pena. Por isso, tanto na hora de idealizar os acontecimentos, no roteiro, quanto na forma de colocar isso no papel, é importante não somente um final digno aos personagens e a todas as situações que foram abertas ao longo da história como também que isso provoque no leitor as emoções desejadas. É um desafio que eu adoro!
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PR: Você já enfrentou algum bloqueio criativo? Como foi? O que você costuma fazer para driblar tal situação? SH: Vários! Um dos piores que vivi foi recentemente, no final de 2018. Com todas as mudanças na rotina pós-casamento, eu estava com sérias dificuldades em encontrar tempo e ritmo para escrever e, quando conseguia me sentar ao computador, todas as outras pendências (e-mails para responder, mensagens nas redes sociais, postagens atrasadas, tarefas da casa) ficavam gritando em minha cabeça. Isso minava a inspiração! Foi preciso tempo para me organizar comigo mesma, estabelecer dias e
horários para cada atividade e eliminar um dos principais causadores dos bloqueios: a culpa. Ao escrever, culpava-me por outras atividades atrasadas ou por não concluir o capítulo que devia ter terminado, por perder os prazos que havia estipulado a mim mesma. Em outras atividades, culpava-me porque devia estar escrevendo. Eliminar o ciclo vicioso da culpa é o primeiro passo para se libertar do bloqueio, e o caminho para isso é a aceitação. Aceite que você está atrasado, que você não rendeu tanto quanto gostaria, que você não está com inspiração no momento. Só aceite, sem se julgar. Em seguida, ação: planeje-se. Organize-se para resolver o que te impede de ser produtivo, o que está barrando sua criatividade, o que precisa ser eliminado. Aos poucos, tudo vai se encaixando e fluindo novamente! PR: Além de livros contemporâneos, como “Quando o amor bate à sua porta”, você também escreve romance de época, como “O Pássaro”. Como é transitar entre os gêneros e qual deles é mais desafiador para você? SH: É muito interessante porque, para cada gênero, o escritor precisa se moldar um pouquinho. Seu traço e singularidade são mantidos e identificáveis em qualquer história, porém há certas sutilezas que diferenciam a narrativa de época da contemporânea, por exemplo, e transitar entre elas é um exercício que eu recomendo a todos os escritores — mesmo que seja para você nunca publicar, apenas explorar. E, quem sabe, descobrir uma nova paixão! A mais desafiadora
é, sem dúvida, a de época, porque envolve muita pesquisa e atenção a cada detalhe para não “dar fora” — desde o uso acidental de uma gíria ou expressão inexistente na época até narrar a buzina impaciente de um carro nos tempos em que ainda só se andava de charrete! (risos).
PR: O que você ainda deseja alcançar como autora? SH: Ainda há duas realizações que quero muito viver. A primeira é ver meus livros traduzidos no exterior. Algumas das minhas histórias funcionariam muito bem
ao público estrangeiro, e seria gratificante receber o feedback de leitores de mais partes do mundo! A segunda é ver meus livros transformados em filmes. Já tive a alegria de ver um dos meus contos (“A contadora de histórias”) transformado em peça teatral pela Cia Viva Arte, no Teatro Municipal de Espírito Santo do Pinhal, e pude experimentar a emoção de ver meus personagens ganharem vida no palco. Ter a experiência de ver minhas histórias se transformarem em filmes com certeza seria (ou, se Deus quiser, será) muito emocionante!
Sophie Kinsella é uma das autoras favoritas da Samantha e a Pub indica este livro para quem ainda não conhece o trabalho dela: Fiquei com seu número.
PR: Quando Samanta Holtz não está escrevendo, o que ela gosta de fazer? SH: Adoro ler, ouvir música instrumental e praticar ioga. Também gosto de filmes ou daqueles programas bobos de tevê para passar o tempo, na horinha do descanso. Até tento começar algumas séries, mas sempre acabo abandonando no meio — a única que segui até o fim foi “Friends”, na adolescência! Se alguém tiver uma boa para indicar, aceito o desafio de conseguir outra que me prenda até o fim (risos).
PR: O escritor deve ser, antes de tudo, um leitor. Que tipos de histórias você mais lê e quais são seus autores favoritos? SH: Leio muitos romances (meu gênero favorito não somente de escrita, mas também de leitura) e gosto de fantasia também. Meus autores favoritos são J. K. Rowling (fabulosa!), Liane Moriarty (amo a escrita dessa mulher), Dan Brown (inteligentíssimo) e Sophie Kinsella (como me divirto com ela!). No Brasil, adoro Maurício Gomyde (rei dos romances) e Carina Rissi (a Sophie brasileira). PR: Deixe aqui uma mensagem para os seus leitores. SH: Obrigada a todos que acompanharam a entrevista! Espero que tenham gostado de saber mais a respeito de mim e dos meus livros. Para quem ainda não me conhecia, espero ter a oportunidade de tocar seu coração com minhas palavras — depois, me escreve pra contar se eu consegui! E, a todos que já acompanham e prestigiam meu trabalho: eu jamais teria chegado onde estou agora, nem conseguiria seguir adiante rumo a tudo o que ainda tenho a alcançar, sem cada um de vocês. Por isso, querido leitor, deixo aqui minha mais profunda gratidão... vocês são a razão pela qual escrevo, são minha inspiração e minha motivação. Sempre que alguém me conta quanto uma história minha o tocou e mudou sua vida, isso se torna uma injeção de ânimo para eu escrever cada dia mais e melhor! E é pensando em vocês que escrevo, pensando em entregar um trabalho com a qualidade que vocês merecem, pois é minha
forma de retribuir a todo o amor que recebo todos os dias. Por esses e outros milhões de motivos que não caberiam nessa resposta, meu muito obrigada a cada um de vocês, meus amados leitores! E obrigada, Pub Revista, pela oportunidade de contar um pouquinho da minha história aos leitores da revista! :)
Muito obrigada, Samantha, por aceitar esta entrevista com a Publiquei. “Renascer de um outono” acabou de entrar na minha listinha de leitura e, na próxima edição da Publiquei, vocês verão um pouquinho do que achei da história! Não deixem de seguir a Samantha nas redes sociais: www.samantaholtz.com.br twitter.com/samantaholtz facebook.com/escritorasamantaholtz instagram.com/samanta.holtz
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DRESA ENTREVISTA
AS MUITAS CORES DE
Evy Maciel 14
Na coluna desse mês, em homenagem ao mês das mulheres, eu trago uma mulher incrível como entrevistada: a unicórnia literária mais linda, Evy Maciel! Nascida em 5 de abril de 1989, mora em Içara-SC e é escritora em tempo integral. Começou a publicar suas histórias em 2012 em site de fanfics. Em 2014, lançou seu primeiro romance, de forma independente, na plataforma de livros digitais Amazon, na qual atualmente possui mais de 10 e-books publicados e acumula mais de 17 milhões de páginas lidas pelo Kindle Unlimited. Também assina alguns livros sob o pseudônimo Tara Lynn O’Brian. Possui dois livros publicados pela Qualis Editora e um pela Editora Pandorga. Ama interagir com seus leitores nas redes sociais (estão no final da entrevista, então passem por lá para conhecer um pouquinho mais sobre a autora e seus livros).
Publiquei Revista: Para começar, vamos falar de você: Evy por Evy, como você se define? Evy Maciel: Sou uma mulher que busca evoluir sempre, seja como pessoa e como profissional. Gosto de desafios e de aprender coisas novas. Sou teimosa, tagarela e sonhadora... Acho que essas três características me impulsionam a nunca desistir daquilo que quero ou desistir se for necessário. PR: Quando você percebeu que a escrita era mais do que um hobby, mas sua profissão? A transição para fechar o estúdio de fotografia e se dedicar completamente a escrita foi muito difícil? EM: Quando vi que passava mais tempo preocupada com as histórias que queria escrever, ao invés de focar em conquistar clientes para trabalhos fotográficos. A transição aconteceu naturalmente, eu estava trabalhando e escrevendo, mas quando comecei a publicar meus e-books e percebi que financeiramente eu poderia me sair melhor do que com as fotos. O difícil foi lidar com o fato de que eu tinha recentemente investido dinheiro no estúdio e abri mão dele pelo que pareceu ser rápido demais. Porém, eu não estava feliz, então bastou assumir que aquele ciclo da minha vida tinha encerrado porque um novo estava começando, e as coisas começaram a se encaixar. Eu sabia que era um risco, mas foquei em fazer dar certo! PR: No ano passado, assistimos a uma grande crise no mercado literário — principalmente em relação às livrarias. Até que
ponto isso pode afetar os autores? Há algo de positivo que possa ser retirado dessa crise? EM: Eu acredito que afeta mais os empresários do que os autores em si. Veja: um autor publicado por editora precisa ser muito famoso e best-seller para conseguir viver apenas dessa renda. O que, com crise ou sem crise, é muito difícil. O direito autoral pago a um autor é em torno de 10 a 15% do preço de capa, feito trimestral ou semestralmente. Havia um tempo em que o autor recebia antecipado os direitos autorais, hoje poucos conseguem um contrato assim. Então, financeiramente, vale a pena o autor se autopublicar em plataformas digitais, nossa referência é a Amazon. Através dela, é possível obter uma renda significativa para “viver” disso. Ao meu ver, a crise não afeta muito os autores, pois ainda há as lojas virtuais dos produtos físicos, e a cultura do livro digital aos poucos vai se disseminando. O que acontece é que as editoras precisam se reinventar para o mercado literário, e as próprias livrarias também, se quiserem permanecer. Videolocadoras se tornaram raridades hoje, mas isso não significa que as pessoas estão consumindo menos filmes. A gente gosta do fácil acesso. Se eu posso comprar pela internet e receber meu produto em casa, dificilmente vou escolher sair daqui para ir até uma livraria, para talvez nem encontrar o que esteja procurando. O autor que se autopublica não vai sentir o peso dessa crise. Mas também pode significar uma “brecada” em relação à contratação pelas editoras. Editoras brasileiras ainda preferem
autores já aclamados, e esses na maioria são autores estrangeiros com números significativos. Pareço dura ao dizer isso, mas é uma realidade nua e crua. Acho que podemos usar isso a nosso favor, utilizando as plataformas digitais para divulgar e vender nosso trabalho. Hoje é mais fácil ser autor independente, poder imprimir o livro em uma gráfica, vender o e-book pela Amazon. Estar numa livraria é gratificante, sim, mas por uma questão cultural e de realização pessoal. Só que, em pleno 2019, estar em livraria não é mais tão glamour como costumava ser. Ser autor é estar ciente de que não se pode deslumbrar por isso. PR: Não só suas histórias escritas inspiram, mas sua história de vida também. Houve algum momento em que você pensou seriamente em desistir? Em caso positivo, como conseguiu superar? EM: Sinceramente? Nunca pensei em desistir, ainda não penso. Eu amo criar, acho que nunca estive tão ativa como agora, embora eu não esteja divulgando nenhum trabalho novo. Estou passando por um processo de transição. Se você é escritor, está desanimado e pensando em desistir, pare um pouco, tire uns dias e faça uma análise do porquê. O que está te impulsionando a querer parar? É tão difícil superar isso? Quais as alternativas? Eu acho que cheguei a um ponto onde atingi um patamar, mas pra mim ainda não é suficiente. Quero desafios novos, então estou mais retraída, tentando encontrar esse caminho. Descobri que as histórias que estão nas-
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cendo na minha cabeça agora são de um estilo diferente que eu costumava escrever antes. Pensem que que esse desejo de desistir é só uma forma de alerta para a descoberta de um novo desafio! Nunca é fácil, mas não é impossível.
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PR: O mundo literário, infelizmente, é marcado por “tretas”. Você raramente se envolve, entretanto, sempre se posiciona por meio de textos em suas redes sociais, de forma extremamente tranquila e coerente, sem ofender ninguém, mas sem deixar de emitir sua opinião. Como você consegue manter o equilíbrio e escolher como e quando se posicionar? Acredita que certas postagens e/ou posicionamentos podem influenciar negativamente o autor? EM: Costumo dizer que o Facebook, principalmente, é meu escritório. É a rede social que escolhi para me apresentar como escritora e divulgar meu trabalho, mas “social” remete a se relacionar, então, além do trabalho, é uma forma de eu me conectar e interagir com os leitores, que não são só clientes para mim, mas pessoas reais, com seus medos, problemas e defeitos também. Quando trabalhava como fotógrafa e minhas redes tinham esse pessoal, havia todo dia uma treta nova. Treta tem em todo ramo! Acho que essa coisa de dizer que o meio literário é treteiro (risos) passa a ideia de que só nós, escritores brasileiros, nos envolvemos em confusão, e não é assim que a banda toca. Escritores gringos são extremamente brigões também, não fogem de uma boa treta. PDF, por exem-
plo, é um assunto sempre polêmico entre os autores nacionais, porém, as gringas têm uma política de intolerância à pirataria muito mais agressiva. Elas ofendem mesmo e não estão nem aí. O que pega, realmente, é que estamos conectados nessa teia nacional, então algo que é pequeno se torna grande demais e o povo acaba generalizando e associando autor nacional a amante de confusão (principalmente o independente). É claro que me chateio, fico com raiva e vontade de torcer o pescoço de um ou outro (risos)! Mas respiro fundo e, se estou cogitando entrar na onda da confusão, eu saio do computador e do celular. Pulo fora e vou ler um livro, assistir televisão, tomar um café. Se você fica perto disso, cede à tentação. Só que qualquer palavra mal interpretada pode causar danos irreparáveis, e hoje não dá pra gente simplesmente sair desabafando sobre tudo. Eu acredito que influencia, sim, e se um autor fala que não se importa, que prefere ser ele mesmo a não se posicionar por medo de perder leitor ou não vender livro, eu vejo como um ato imprudente e até desrespeitoso. Como é que você não se importa em afetar um leitor, um cliente, um fã seu? Se você tem um emprego, seu chefe não quer que você trate mal um cliente. O cliente sempre tem razão, não é mesmo? Então você guarda sua opinião para si. O autor tem que ter consciência de que, além de tudo, escrever é um trabalho; seus livros, os produtos; seus leitores, os clientes. Quando você agride (mesmo com palavras), você afasta. Se posicionar sobre qualquer as-
sunto, seja para defender uma causa justa e nobre, demanda também certa sensibilidade para quem não concorda com seu posicionamento, de modo que essa pessoa não se sinta ofendida ou agredida, para que, mesmo pensando de forma oposta, respeite a sua opinião. É difícil, há uma linha tênue ali, e nem sempre todos vão entender. Por isso, tem que ponderar também se vale a pena o desgaste. Pra mim, não vale mais a pena o desgaste, então só me manifesto quando acredito ser possível me fazer entender sem magoar outras pessoas, pensem elas o mesmo ou diferente de mim. PR: Alguns livros seus foram escritos pelo pseudônimo Tara Lynn O’Brian. Qual motivo te levou a escrever com pseudônimo e o que te levou, posteriormente, a revelar que estava por trás dele? EM: Foi um teste. Sempre brinco que procuro descobrir a “fórmula do sucesso”. O que faz um livro bombar no gosto das leitoras (vou usar o feminino porque é meu público-alvo). Então decidi criar um pseudônimo, com um nome gringo, manter o anonimato (porque há algumas autoras que o fazem e têm um bom número de leitoras e vendas) e tentar um título mais sugestivo também. Eu não queria ser Evy Maciel, autora de romance erótico, então criei a Tara Lynn para me arriscar nisso. Não acho que consegui, porque nem há tanto erotismo nos livros que escrevi com o pseudônimo. Publiquei dois livros com ele e foi um sucesso. Mas não me senti satisfeita, porque aquela não era eu. Quando comecei a escrever Her-
deiros Indecentes, travei, pois sentia que estava enganando as leitoras. Depois de muito pensar, e ver que essa coisa de “vida dupla” não era pra mim, pois eu já tinha meu nome e meu público como Evy, achei melhor revelar e tirar o peso das costas. Se eu tivesse começado assim, anônima e com pseudônimo gringo, poderia só me apresentar como pessoa, mas vender livros com dois nomes me desgastou. Preferi unir tudo e acabar com meu “experimento”. O bacana é que meu estilo de escrita como Tara Lynn é diferente do meu estilo como Evy. Hoje estou escrevendo um livro com um tema que nunca pensei que escreveria, unindo os dois estilos também. É a minha transição como escritora, eu acho. PR: Você é uma escritora versátil. Como é o processo de escolha sobre temática e gênero? Você segue alguma ordem ou lógica, ou só deixa fluir? EM: Eu escrevo romances, no sentido de histórias de amor. Seja no romance sobrenatural (“Vlad” ou “Sob As Asas Do Anjo”) ou nos romances com uma pegada mais policial (“Vegas” e “Rude”) ou as comédias românticas e algumas até dramáticas, o tema central é sempre uma história de amor e superação. Não sei explicar como funciona, é muito de inspiração. A ideia vem e eu começo a maquinar meu cérebro e vou desenvolvendo tudo até se tornar um livro. Cada história tem seu momento certo para ser contada, às vezes fico com ela meses até desabrochar de vez. Minha mente é como uma incubadora de ideias.
PR: Existe um livro seu em particular que gosto muito (na realidade é uma novela): “Poderosa CEO”. Como foi a ideia para a criação dele? Acredita que conseguiu passar a mensagem que queria com ele? EM: Eu estava olhando os romances mais vendidos na Amazon e pensei: “poxa, quando tem CEO a coisa acontece”. Mas para mim, os CEOs perderam seu encanto há algum tempo, e olha que preciso terminar uma série onde meu mocinho é um CEO (que foi meu primeiro livro). Enfim, eu tenho como ponto alto nos meus livros retratar protagonistas femininas fortes, mulheres que não se anulam por amor. Eu queria inverter um clichê, então pensei: por que não uma CEO fodona e um mocinho diferente dos tão amados machões? Logo me lembrei do Rodrigo Hilbert e de como ele ficou conhecido pela alcunha de “homão da porra”, justamente por ser um cara fora dos padrões a qual estamos habituadas a ver na mídia e em tudo que é lugar. Com isso, me lembrei de Fernanda Lima e de como ela é uma mulher empoderada e se posiciona à causa de maneira brilhante (aos meus olhos). Eles foram meu casal inspiração. A mensagem, creio eu, foi bem recebida. Mas recebi algumas críticas em relação ao mocinho (e o fato de ser prendado demais), como se eu o tivesse “afeminado” por ele saber coisas como tricô. Sendo que, em momento algum, seus dotes o fazem menos homem. Mas nossa sociedade ainda está aprendendo a se desconstruir do preconceito, e espero, da minha parte, estar contribuindo para isso.
PR: Enquanto você cria a história, você pensa no lado comercial (se será boa para vender, se o tema é passível de ser aceito em uma editora com mais facilidade) ou apenas segue a inspiração sem pensar em nada? EM: Eu não penso em agradar editora, mas tenho a visão comercial no sentido de vender algo atraente para meu público, sim. Quando tenho a ideia para um livro, eu deixo a inspiração rolar. O conteúdo do meu livro é todo inspirado e flui de acordo com o que eu quero. Mas o título, a sinopse e a capa, tento encaixar dentro de uma visão mais comercial. Estou sempre acompanhando as tendências e vendo o que as leitoras que consomem o estilo de livro que escrevo estão amando. Eu sempre vou priorizar escrever uma história na qual acredito e gostaria de ler, mas é possível unir as duas questões. PR: Você já passou pelo Wattpad, Amazon, publicação independente e por editoras. Se você pudesse dar um conselho de publicação para um autor iniciante que está perdido sobre onde publicar, o que você diria? EM: Primeiro, escreva. Sem pressão, sem medo de críticas. Comece o seu livro, termine-o. Depois experimente o Wattpad, lá haverá comentários sobre o que as pessoas estão achando da história, até mesmo dicas e críticas que vão te fazer aprimorar a história. E também é um bom preparo para o psicológico, porque vai rolar crítica negativa, vai rolar leitor mal educado que não sabe se expressar sem ofender, então o Wattpad é uma escola de como funciona o meio
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literário. Aguenta o tranco, não desista só porque alguém achou algo ruim na sua história. Nem sempre se agrada a todos. Aceite esse fato. Publicação independente é uma boa, eu prefiro. A maioria dos meus livros, não cedo para editora por escolha própria. Minha renda vem dali. É bom pra começar e criar um público, se acostumar com o meio literário. Editora é algo que depende muito do que você busca como escritor. Quer ser reconhecido? Quer ter sessões de autógrafo? Ok. Mas não precisa estar em uma editora para isso, você também consegue independente. Eu sou grande defensora da autopublicação, ok? Então não vou romantizar a publicação por editora. Aconselho o autor iniciante a não se deslumbrar com essa alternativa. Nem tudo se torna fácil quando seu livro está em editora, a pressão é maior, as cobranças também, e o resultado que exigem é desgastante também. Pense se vale a pena, aí decida. PR: “Rude” é completamente diferente de tudo que você escreveu. Acredito que tenha te tirado bastante da sua zona de conforto. Em algum momento, bateu um medo ou uma insegurança de como ele seria recebido pelas leitoras? Quanto tempo durou a pesquisa e o processo de escrita? EM: Eu escrevi “Rude” com muita confiança no que estava fazendo. Os medos que tive foram pessoais, não com receio do que
as leitoras pensariam, porque algo dentro de mim dizia que ele seria um grande livro, que traria muitas coisas boas para minha carreira. E foi o que aconteceu. Era arriscado mudar para algo diferente do que elas estavam acostumadas, mas como ainda se tratava de uma história de amor, achei que elas iam abraçar a ideia! Eu trabalhei nesse livro por um ano, entre pesquisas e escrita, pois o escrevi em partes. O livro tem cinco partes: Rude, arrogante, ríspido, soberbo e insípido. Houve intervalo entre elas, para que eu continuasse lendo e assistindo aos materiais de estudo. Mas a história estava muito fresca na minha cabeça, todo o estudo só aprimorava o roteiro ainda mais. PR: Você só pode indicar um livro seu para leitura. Escolha um trecho e explique o motivo de indicar esse livro. EM: “A vida é cheia de amores e um deles será o certo, aquele que vai se encaixar perfeitamente no seu coração.” É assim que começa meu livro, “Com amor, Greg”. Um romance que toda mulher deveria ler. Acho que vai ser fácil se identificar com a personagem e entender que, na vida, nem sempre o amor que consideramos que vai ser pra sempre é realmente aquele que vai nos fazer feliz de verdade. Esse livro não é um triângulo amoroso, mas você conhece duas histórias de amor, com a mesma protagonista, em ocasiões diferentes. Em determinado momento, a angústia de consi-
derar que ela precisa fazer uma escolha que pode mudar tudo, é o que considero o ponto alto do livro. A decisão dela será motivo de muita reflexão. Eu sou grata por ter conseguido passar uma mensagem linda com esse livro, principalmente porque a maioria das leitoras entenderam o que eu quis propor. Algumas, mesmo não concordando, sabiam que ela fez a coisa certa. É um livro para ler de coração aberto. Tem final feliz, a propósito! PR: Deixe uma mensagem final para os leitores e suas redes sociais para que possamos te encontrar. EM: Acho que já falei demais, né? Mas deixo meu muito obrigada a todos que acompanham e apoiam meu trabalho. E aos que ainda não me conhecem, que tal uma chance? Gostaria de deixar meu site para que possam dar uma checada! Lá tem um pouquinho sobre mim e meus livros! www.evymaciel.com.br facebook.com/EOpiniosa instagram.com/autora.evymaciel/ wattpad.com/user/TaraLynnObrian
Dresa Guerra é autora independente, produtora de eventos culturais nas periferias e colunista da Publiquei. Ela também é professora e atua em projetos sociais.
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RESENHA por Marlon Souza
ELES:
Um livro sensível e impactante Vagner Amaro é bibliotecário, jornalista e editor-chefe da editora Malê, que, desde 2015, vêm publicando diversos autores negros, trazendo um trabalho impecável e impactante para o mercado editorial e dando voz àqueles que muitas vezes tem sua fala silenciada dentro do mercado editorial. Agora, na função de autor, lança seu primeiro livro: ELES. Uma coletânea de contos que terá como foco principal a masculinidade e seus dilemas. Dentro de uma sociedade machista nasce um livro raro, que se permite trazer uma narrativa simples e concisa, mas impactante desde as primeiras páginas. Vagner Amaro nos permite questionar nossa visão de mundo a partir da ótica de dez personagens singulares, histórias que mexem com a gente a cada nova leitura. No primeiro conto, presenciamos um caso muito comum de homofobia e como a violência pode impactar não somente os alvos daquela agressão, mas como aqueles que nos são que-
ridos, seja por laços sanguíneos ou por simples afeto. Traz diversos questionamentos sobre como o homem deve se portar, nas atitudes que a sociedade espera de nós. Seja na visão inocente de uma criança, como também na mente de um policial adulto que acabara de matar pela primeira vez, seja em defesa própria ou não. Como um homem negro, não poderia deixar de falar como o racismo está inserido em nossa sociedade e como ninguém está isento disso, por mais que se tente lutar contra um sistema criado para que pessoas negras sempre fiquem um passo atrás. ELES, é um livro que fala na alma, que transmite sua mensagem de maneira direta e clara,fazendo com que nossa mente traga novos questionamentos, transformando nossa visão, fazendo com que vejamos o mundo, nossa sociedade, nossa própria masculinidade por uma nova ótica. É um livro claro, sensível e acima de tudo verdadeiro.
Autor: Vagner Amaro Editora Malê
Marlon Souza é autor, produtor de eventos culturais, colunista da revista e editor da Publiquei Editorial.
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SINOPSE: Camila Valença é uma garota completamente desastrada, que vive mergulhada em seus livros e séries. Como toda boa caloura de Letras, vive na biblioteca da faculdade entre centenas de páginas e o cheiro de livro que tanto ama. Além de lidar com o recente término do seu namoro de dois anos, Camila também se vê com os pais recém-separados. Lucas Caetano, por outro lado, é aquele veterano de Arquitetura que não se vê preso a ninguém. Ele nem tem tempo para isso, já que a faculdade faz todo o trabalho de ocupar seus pensamentos. A não ser por sua avó de quase noventa anos, que é como uma mãe para ele. Ela sonha com o dia em que verá o neto encontrar o amor. Com sua festa de aniversário chegando, dona Abigail deseja vê-lo acompanhado e, sem saber o que fazer para não partir o coração da avó, Lucas convida a única garota que nunca pensou em chamar: Camila. Em meio a muitas cores e letras, será que humanas e exatas poderiam dar uma trégua e embarcar em um namoro forjado?
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SINOPSE: Há mais de quinhentos anos, desbravadores do além-mar pousaram seus olhos sobre estas terras. Com eles, novas crenças e costumes fizeram face aos já existentes acrescentando a eles novos sussurros, compondo a voz dos humanos, seres inimagináveis e deuses, espíritos e tantas criaturas que reinavam. Ecoam suas vozes pelas matas, trazendo aos nossos olhos todo seu encanto e seus propósitos. Durante a construção de nossa cultura, aos poucos, todo esse mistério se perdeu. Suas cores foram sendo desconstruídas e o encanto se perdeu. Como forma de reviver nossa história e ver o que o Brasil tem de melhor também em sua literatura, apresentamos “Vozes da Terra”. Uma antologia folclórica com a proposta de encantar quem olha e apetecer o gosto pela literatura. Sejam bem-vindos ao nosso mundo!
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