Publiquei Revista - 22ª Edição

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22 º EDIÇÃO - SETEMBRO DE 2019

ESTA EDIÇÃO DA REVISTA É

IMPRÓPRIA PARA PESSOAS ATRASADAS, RETRÓGRADAS E PRECONCEITUOSAS

EDIÇÃO ESPECIAL SOBRE A 19A BIENAL DO LIVRO DO RJ

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22ª EDIÇÃO Contato revista@publiqueionline.com (21) 99575-2012 publiqueionline.com

Sumário

LANÇAMENTOS 3 AMAMOS E-BOOKS 5 MATÉRIA DE CAPA 7

DRESA ENTREVISTA 15

EDITORIAL Eu me lembro bem quando combinei com a equipe como seria a 22a edição da Publiquei. Tínhamos acabado de divulgar a 21a e eu questionei se seria demais fazer uma revista sobre a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, já que isso já tinha sido feito na 13a. Chegamos à conclusão de que não e montamos a pauta. Cada um teria uma missão durante a feira e entregaríamos os textos quando voltássemos de lá. Só que a Bienal aconteceu e foi muito mais do que esperávamos. Todo o movimento que aconteceu lá não poderia passar em branco e foi o que fizemos. Por isso, essa edição é sim um manifesto contra uma ideia preconceituosa de que um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo é conteúdo impróprio para as crianças do Brasil. Se formos pensar assim, o Brasil é um país impróprio, afinal, não queremos nossos filhos expostos a crimes de corrupção, falta de empatia e tantas outras coisas que são manchas na história deste país. Você verá o melhor que nossa revista pode trazer sobre toda esta situação, além da indicação de incríveis histórias sobre casais diferentes do padrão que a sociedade (e alguns dos governantes) acreditam ser a definição de “normalidade”. Mais uma vez eu pergunto: é autor e gostaria de ter seus livros divulgados aqui? Tem uma editora e gostaria de que falássemos dos seus pupilos? É organizador de eventos literários e quer divulgar a próxima edição do seu? Manda a sua sugestão de pauta para nós por e-mail e vamos encontrar um espaço para você assim que possível. Muito obrigada aos colaboradores maravilhosos que se desdobraram para que esta edição saísse a tempo. Aqui embaixo você verá todo mundo que trabalhou na revista. Boa leitura! Carol Dias

Editora-chefe Carol Dias Assistente Editorial Marlon Souza Diagramação e Revisão Carol Dias Créditos: Foto da Bienal: Divulgação 2

Redação Dresa Guerra Erik Thomazi Gabriela Silva Juliana Medeiros Marlon Souza Talita Facco Thaís Abreu de Araújo


LANÇAMENTOS por Thaís Abreu de Araújo

Esperânsia

GABRIEL ARAÚJO Livro de estreia de Gabriel Araújo pela Editora Literar, “Esperância” é uma coletânea de poemas que, através de três capítulos combinados por cores, apresentam caminhos entre este nosso tempo de ânsias e (des)esperanças. Repleto de imagens carregadas de verdades cruas e sentimentos brincantes, suas palavras continuam reverberando mesmo após o último ponto. O lançamento foi durante a Bienal do Rio e você pode conhecer mais do trabalho do autor acessando @ poemagino.

Caminho Longo VINÍCIUS FERNANDES O romance LGBT do autor Vinícius Fernandes foi lançado pela Editora Pendragon e se esgotou durante a Bienal. Bruno precisa lidar com o luto após perder seu irmão. Conheça um trechinho da sinopse: “Entre angústias e o crescimento pessoal, ele precisará definir do que é possível abrir mão em nome da felicidade, mesmo que isso represente viver de um modo que seus pais podem não aceitar. Enquanto define o que deseja de seu futuro, Bruno irá descobrir que nossas existências são feitas de momentos e que cada um deles é um aprendizado nesse caminho longo chamado de vida”. 3


Conectadas

CLARA ALVES Novo romance de Clara Alves (autora de “Como reconquistar um amor partido”), “Conectadas”, é seu primeiro livro pela Editora Seguinte e também foi lançado durante a XIX edição da Bienal do Rio. O YA conta sobre a amizade virtual de Raíssa e Ayla, jogadoras online que nunca se viram pessoalmente, já que moram em cidades diferentes. Só que com a proximidade de um evento para os fãs do game em SP, a conexão entre elas pode ter uma reviravolta, afinal: Ayla não sabe que Raíssa joga com um avatar masculino. Será que isso atingirá o amor que cresceu entre as duas?

LANÇAMENTO DA EQUIPE

CAROL DIAS

Por Favor e Dona de Mim

A prata da casa desta vez é da nossa editora-chefe, Carol Dias. O livro, que é a primeira edição vira-vira da The Gift Box, traz duas histórias sobre personagens que são da mesma girlband, as Lolas, e enfretam situações adversas na vida, como um namorado abusivo e doenças psicológicas. Leia a sinopse:

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POR FAVOR Cantar, dançar e fingir. Palavras utilizadas por Thainá há mais tempo do que ela conseguiria contar. Cantar para tentar sobreviver a tudo de ruim que a cercava. Dançar sem perder o ritmo, mesmo com todas as dores que sentia. Fingir que nada acontecia, para que o mundo não desabasse sobre ela. Agora era hora de aprender um novo verbo: lutar, contra todas as amarras que a prendiam, para que tenha forças para recomeçar, para se refazer.

DONA DE MIM Você está segura. Ester ouviu isso de mais pessoas do que conseguia se lembrar, mas ela sentia o oposto. Perdeu todo o controle da sua mente. Passava por problemas com sua banda. Foi obrigada a paralisar sua vida. Uma lutadora desde que nasceu, sabia que precisava enfrentar seus medos e voltar a ser dona de si mesma. Agora é hora de se levantar e recomeçar de onde parou.


AMAMOS E-BOOKS por Gabriela Silva

O amor, seja qual for, sempre vence

O mês de setembro foi marcado pela XIX Bienal do Livro Rio. Estive lá em alguns dias e pude me energizar naquele ambiente de leitura, discussões sobre livros, enfim, dos amantes das literaturas. Plural, o evento reuniu um grande número de pessoas, apesar dos pesares. E eles aconteceram. Como o vídeo, no final da segunda sexta-feira de evento, em que o prefeito do Rio de Janeiro condena a venda de uma HQ por conter um beijo entre dois personagens do sexo masculino. No dia seguinte, fiscais fizeram uma inspeção no Riocentro, passando procedimentos para a venda de livros com conteúdo LGBTQIA+. E as HQs? O evento abria às nove horas e 39 minutos depois, “Vingadores, a cruzada das crianças” havia se esgotado. Meio-dia, catorze mil livros com a temática seriam distribuídos gratuitamente para o público. Lá fui eu. A fila estava grande, divididas em dois lados. Entrei na ponta direita. Perto dali uma equipe embrulhava os livros como o prefeito Marcelo Crivella disse que deveria ser o procedimento a fim de “proteger nossas crianças”. Passa Vitor Martins ao meu lado, autor de “Quinze dias” e “Um milhão de finais felizes”

— o segundo, um dos romances que comento aqui. O romance faz parte dos exemplares de temática LGBTQIA+ comprados e distribuídos pelo youtuber e influenciador digital Felipe Neto. Há anos na internet, nos últimos tempos, Neto, que se popularizou com conteúdo infantil, tem participado de campanhas e se posicionado em questões políticas e sociais. Foi o caso com a censura imposta pelo prefeito da Cidade Maravilhosa nessa Bienal.

Em “Um milhão de finais felizes”, de Vitor Martins, somos apresentados a Jonas. Por trás do nome bíblico está a carga de alguém que é de família conservadora, composta por uma mãe

religiosa e um pai ausente — por mais que sua presença física seja constante —, que cobra do jovem de dezenove anos responsabilidades que nunca foram conversadas, como de emprego e faculdade. É como se, de repente, uma chave se virasse e ele devesse corresponder a uma lista de funções. Mas o pior estava na sua orientação sexual: desde muito cedo, Jonas sabia que era gay. E ser gay em uma comunidade evangélica era devastador. Dominado pela culpa e sem poder ser ele mesmo com os pais, o protagonista encontra refúgio nos amigos. Dan e Isa o compreendem sem julgamentos e com eles pode ser uma pessoa normal. No café onde trabalha com Karina, sua outra grande amiga, ele pode sair do ambiente sufocante de casa e ser um adulto que paga contas. Porém, num dia, um cliente bonitão atrai seus olhos de uma forma que ele inclui algo novo ao seu caderninho de ideias para livros e começa a escrever sobre o uma história de amor entre dois piratas gays, cheia de aventura e possibilidades que gostaria de viver com o rapaz de barba ruiva. Um milhão de finais felizes é sobre a possibilidade de transformarmos nossas vidas e darmos um rumo melhor para nossas histórias. Reais ou ficcionais. Tomar as rédeas e protagonizarmos nossa vida, por maiores que os percalços sejam: vai ficar tudo bem, como o autor faz questão de dizer em seus agradecimentos. Amizades podem acabar ou uma boa conversa pode remendar relacionamentos que pareciam perdidos. A terapia tem o poder de sermos sem culpa e abrir nossos senti-

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mentos e se encontrar. Famílias que escolhemos podem ter mais valor do que a que nascemos – e isso não é ruim, mas libertador. Essas leituras me lembraram de uma prática que era muito comum minha e, com a vida maçante, havia perdido um pouco: conversar com o livro. E eu, quando converso, gente, coloco minha ascendência italiana pra jogo! Eu falo alto, gesticulo... imagina fazer isso com um leitor digital? Pelo menos não senti vontade de tacar o livro na parede — sim, isso já aconteceu. E uma vantagem dos livros digitais é conter esse impulso violento contra os personagens dos livros (risos). Quando Jonas dava um passo difícil e maduro, eu abraçava o livro, queria transmitir meus sentimentos para ele, dizer que mesmo na leitora ele tinha uma amiga; ou quando Raíssa, de “Conectadas”, sentia cada vez mais culpa por sua pequena mentira — que cresceu tanto que envolveu pessoas reais em uma trama complicada —, eu me compadecia e dava conselhos para as folhas. Em “Conectadas”, romance da autora Clara Alves, Raíssa é uma jovem gamer que só quer ser respeitada na comunidade da qual faz parte. Isso se torna difícil por ser mulher. E lésbica. Primeiro, mulher na comunidade dos jogos. E segundo, lésbica com a família e os amigos. O silêncio é a escolha para a segunda; a mentira, para a primeira. Como gamer, Raíssa passa a se identificar como garoto. Para isso, performa uma masculinidade inspirada no amigo, Leo. Lembrando que essa é uma prática muito comum, e não só

nos jogos. Quantos pseudônimos masculinos as grandes escritoras usaram para publicarem seus livros? Ou heroínas de guerra que se passaram por homens, como a clássica história da guerreira chinesa Hua Mulan ou a militar brasileira Maria Quitéria? Tudo dava certo para smbdouthere (seu nome de usuário) quando aylastorm juntou-se ao Feéricos, o jogo de RPG do qual fazia parte e era fascinada. Ayla se juntava ao universo mítico do game e procurava por parceiros para realizar suas tarefas no Feéricos sem julgá-la por ser mulher e ser gamer. Nesse ano, houve a polêmica envolvendo a gamer Gabi Cattuzzo por comentários feitos por ela nas suas redes socias. A empresa que a patrocinava retirou seu apoio, o que gerou comoção pelo tratamento dado às mulheres no universo dos games. A hashtag #SouMulherSouGamer, idealizada pelo portal Geek & Feminist, e impulsionada pela youtuber Mírian Castro e outras jogadoras nas redes sociais, deu voz e cara para quem sofre com a misoginia no mundo gamer. Dificuldade de usar sua voz e imagem por medo de assédio são relatos comuns. É o que acontece com Raíssa e Ayla na história. Ray teve que fazer uma escolha: “abrir o jogo” para aquela garota que só queria ajuda de alguém que não fosse machista ou assediador e correr o risco de parecer tão tóxica quantos os outros, ou manter aquela amizade que já estava se tornando a melhor coisa na sua vida nos últimos tempos e viver em uma mentira? Porque o mundo virtual não parecia tão distante; ele era

parte importante da vida das duas jovens, que logo vão desenvolvendo, por meio de conversas e afinidades, uma história de amor. Em tempos que se questiona o valor e o perigo do virtual, dos jogos e das redes sociais, muitas pessoas, desde os fakes do Orkut, como no caso da autora, Clara Alves, constroem universos, fazem amizades e intercalam os dois mundos de modo saudável. O preconceito com esse tipo de relação, mesmo que não seja o foco do livro, pode aparecer para quem lê, como foi meu caso. E discussões desse tipo devem ser feitas com cuidado, pois o ambiente pode ser cruel, tanto como pode gerar pontes importantes para movimentos, relacionamentos, entre outros. Em comum, “Um milhão de finais felizes” e “Conectadas” têm o amor entre pessoas do mesmo sexo, mas o amadurecimento de suas personagens, jovens marcados pelo medo do preconceito, por meio do amor que sentem por seus amigos, namorados, familiares. O amor é muito maior do que o ódio e o preconceito. E cada passo dado em direção à aceitação de nós mesmos, é um caminho sem volta para uma vida mais feliz.


CAPA por Marlon Souza

censura A TENTATIVA DE

E A RESISTÊNCIA DA LITERATURA LGBT

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“Acho que tudo começou de uma forma meio risível — censura a uma HQ de quase dez anos que quase não tinha exemplares sendo vendidos. Um absurdo que a gente meio que riu —, mas as coisas escalaram muito rápido e tudo ficou muito estranho quando os fiscais da prefeitura começaram a passar nos estandes para “avaliar” livros que eles consideravam de cunho sexual (mas que, na verdade, eram livros LGBTQ+). A sensação de patrulhamento do nosso trabalho foi amarga, e o medo de que alguma coisa pudesse acontecer à Bienal diante do posicionamento dela de não recolher os livros só aumentava. Eu ainda ia falar em uma mesa sobre literatura LGBTQ+, então foi literalmente como estar no olho de um furacão. A ação do Felipe Neto foi incrível, e o sábado foi pautado por uma série de notícias de liminares ora proibindo a Bienal de continuar acontecendo, ora dizendo que podia continuar. No fim das contas, nossa mesa sobre literatura LGBTQ+ foi um sucesso, e culminou em uma manifestação linda em defesa da liberdade de expressão e contra a censura. Foi incrível presenciar esse momento em que os livros foram usados, e é importante que essa mensagem se espalhe. Por mais difícil e sombrio que seja, a gente tem que ter forças pra continuar lutando como a gente puder, porque nossa luta importa.” - Lucas Rocha, autor de “Você tem a vida inteira”.

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“Foi absurdo ver o desespero de diversos autores e editoras pequenas escondendo seus livros com medo de serem apreendidos como se fosse algo ilegal ou criminoso. Pela primeira vez eu senti a ditadura batendo em nossa porta. Sempre falamos que estamos vivendo uma democracia fragil, mas, quando vemos a arte ser censurada e com respaldo jurídico de um desembargador, temos a noção de que o panorama é pior do que imaginamos. Cruzamos os quatro pavilhões da Bienal gritando o mais alto possível; não palavras de ofensa ou ódio, como estamos acostumados a ouvir deles, mas sim trechos de nossa constituição, que estava sendo rasgada por eles com aquele ato deplorável. Naquele dia tivemos a certeza de que nossa luta, agora mais do que nunca, deve ser unificada, pois até mesmo nosso direito à liberdade de expressão está em xeque-mate.” Michel Uchiha, escritor e organizador das antologias Indestrutível e Inquebrável.

Todo o Brasil tomou ciência sobre o caso de tentativa de censura a partir de uma ordem sem fundamento do atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, que consistia em retirar, em um primeiro momento, uma HQ dos Vingadores que continha a imagem de um beijo entre dois super-heróis homens em seu interior. Porém, se estendeu para demais livros com temática e personagens LGBTQ+ e livros com conteúdo erótico. Na última sexta-feira da bienal, 5 de setembro, diversos fiscais circularam pelo Riocentro com a ordem de “orientar” as editoras e expositores a retirarem livros ditos como impróprios das prateleiras e vitrines. Esses livros deveriam ser envolvidos em plástico fosco/preto e etiquetados como conteúdo proibido para menores de dezoito anos ou colocados nas prateleiras mais altas, longe do alcance e visão de grande parte do público. O que causou uma comoção em todos os expositores e editoras frente a um caso explicito de censura por parte do prefeito da cidade. Primeiro, porque os livros ditos como impróprios nada tinham em seu conteúdo para serem classificados como


tal. Já que eram livros voltados para o público jovem/adolescente como uma simples histórias de amor e amor-próprio, como Quinze Dias, de Vitor Martins (Globo Alt), ou o recente lançamento da Editora Seguinte, Conectadas, da Clara Alves. Livros que trazem temas importantes para ser debatidos (e expostos!), principalmente para um público que está formando sua opinião e precisa conhecer questões como depressão, suicídio, amor próprio, amizade, sexualidade e a consequência de escolhas que sem certo conhecimento podem ser tomadas erroneamente. Por terem personagens que vão ao oposto do que uma ideologia com fundamento religioso prega ser o certo, um beijo entre dois meninos, o amor entre duas garotas ou personagens transexuais e histórias sobre a vida de alguma pessoa da comunidade LGTBTQ+, o prefeito decidiu proibir a venda e distri-

buição dessas histórias. E este ato de censura mostrou-se claramente um ato embasado em uma questão exclusivamente religiosa, já que as justificativas do prefeito para tal ato foram sem sentido, sem embasamento político e ético, já que um beijo não tem classificação etária. Se fosse assim, quase todo conteúdo televisivo, cinematográfico, literário, dentre outros, deveria ser censurados para todo o publico. O que de fato não é. Então de onde o prefeito tirou que um beijo poderia ser dito proibido para menores de dezoito anos? Surgiu então o discurso em defesa à família, à moral, aos bons costumes. Excluindo os milhões de brasileiros que se identificam como homossexuais, bissexuais, transgênicos e os todas as outras sexualidades e expressão de gênero que não incluem os heterossexuais, que são condenáveis por esses supostos seguidores de Cristo.

“Estamos vivendo um grande retrocesso. Em vez de se preocupar com coisas que realmente ameaçam a população, o governo insiste em atacar LGBTs de forma gratuita e cheia de ódio. A tentativa de censura foi uma ofensa que associou um simples beijo entre dois rapazes a pornografia. Quando foi que alguém tentou censurar o beijo do Homem-Aranha e da Mary Jane? Do Superman e da Lois Lane? Nunca. A ação da prefeitura foi preconceituosa sim, mas nós não recuamos e não vamos recuar. Não vamos nos calar. Vamos dar a mão e resistir!” - Vinicius Fernandes, autor de Graham e Caminho Longo

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Tornando esta tentativa de censura um ataque direto de um representante da igreja evangélica, um pastor, que infelizmente foi eleito como o representante desta cidade. Visando uma possível reeleição no próximo ano, ele decidiu agir contra a literatura LGBT com o único intuito de mostrar um “bom serviço” para as pessoas mais conservadoras (leia-se: preconceituosas). Não importa que este prefeito não esteja fazendo nada. Que esteja envolvido em escândalos que favoreçam os membros da sua igreja para atendimentos priorizados no SUS e em outros órgãos públicos, que os hospitais municipais estejam todos em péssimas condições, que as obras da “Transbrasil” estejam atrasadas e prejudicando grande parte do trânsito da cidade há mais de um ano, que as escolas municipais estejam ruins, que a segurança nada mudou nos três anos de mandato. Muito pelo contrário, só vem piorando. Mas aí pensando em uma época em que o ódio importa mais do que o serviço. Tirando nosso presidente eleito, Bolsonaro, como exemplo. É a partir do ódio nutrido por pessoas LGBTQ+, negras, mulheres, pobres etc. que vemos a tentativa de atrair eleitores para uma possível e injustificável reeleição. O prefeito que está defendendo as crianças da inexistente e ilógica ideologia de gênero. Dos livros que querem transformar os jovens e adolescentes em gays. Influenciar, ensinar, mudar a natureza de algo que é imutável. Todo o discurso preconceituoso e homofóbico que muitas das vezes se escondem abaixo

de um discurso religioso, mas que aqueles que pregam se esquecem do maior ensinamento de Jesus, que Deus é amor. Que devemos amor o próximo, assim como ele nos amou, não é mesmo? Mas não é isso que vemos. O que recebemos é ódio, rancor, e esquecimento. Por outro lado, algo que não podem nos esquecer nunca é que nós existimos. Existimos nos livros, nos filmes, nas novelas, no teatro. Existimos na história. Existimos ontem, existimos hoje e existiremos amanhã. Todos os dias, querendo alguns preconceituosos ou não. Existimos na vida, assim como todos. Beijamos, abraçamos, amamos e temos famílias. Temos filhos, somos pais. Nós vivemos como qualquer outra pessoa. Mas claro que a tentativa de censura mostrou-se irrelevante quando as editoras se levantaram e pronunciaram-se contra este ato impensável. Como os autores não desistiram, não recuaram. A literatura LGBTQ+ mostrou sua força. As editoras que acreditaram nessas histórias, não fraquejaram frente as ordens do prefeito. E a nossa voz foi ouvida. Independente do que poderia acontecer. Durante todo aquele dia, um clima de incerteza pairava sobre o evento. Quem tinha algum contato dos bastidores das editoras, dos expositores, podia perceber que não se tinha certeza sobre o que poderia acontecer. Até que saiu uma nota oficial da produção da Bienal repudiando o ato do prefeito. E pouco depois Felipe Neto tomou uma atitude que foi além da militância. Ele não só falou como agiu comprando 14 mil livros

dos principais autores LGBTQ+ expostos durante o evento, acabando com grande parte do estoque deles, jogando os livros antes censurados para a lista dos mais vendidos dos estandes. E de toda a feira.

“Acho que posso descrever o que eu senti como uma montanha-russa de emoções. O medo, o terror, a impotência de ver pessoas querendo silenciar minhas histórias e dos meus amigos, unicamente por ter personagens diversos, e a esperança, o empoderamento e amor, na hora da revolta, do momento em que todos demos as mãos e não abaixamos a cabeça. Não iremos voltar para o armário. Não iremos nos calar. Não iremos permitir que a censura dite o que queremos ou não escrever. As histórias não são de conteúdo adulto. São pra jovens. São para adolescentes que, muitas das vezes, se sentem perdidos nesse mundo feroz, como se ninguém os entendessem. Os livros entendem. Os livros são amigos. E, por mais que o prefeito se irrite, eles existem e vão continuar a existir.” - Vinicius Grossos, autor de Feitos de Sol


Entenda as ilegalidades da polêmica da Bienal CARTA DE UMA ADVOGADA ESCRITORA

por Juliana Medeiros Tudo começou no pouco distante e ainda menos saudoso dia 5 de setembro de 2019. Eu estava participando da minha primeira Bienal do Livro como autora, com meus dois primeiros livros — que, ironicamente, falam sobre direito — quando acessei a notícia de que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, havia determinado que a história em quadrinhos “Vingadores: A cruzada das crianças” fosse recolhida da Bienal do Livro, alegando

que a HQ de super-heróis teria “conteúdo sexual para menores”. Isso porque dois dos personagens da saga, que são namorados, aparecem se beijando em um painel, por isso, Crivella afirmou, em um vídeo divulgado no Twitter, que a prefeitura do Rio de Janeiro estaria por essa medida protegendo os menores da nossa cidade. Essa história me pareceu estranha desde o início, a ordem para o recolhimento do material havia sido pouco fundamentada em leis, mas em meras concepções morais, o que me pareceu pouco razoável. No entanto, os artigos do 74 ao 80 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que preveem a necessidade do lacre e a devida advertência de classificação indicativa de conteúdo

em publicações com cenas impróprias a crianças e adolescentes, foram citados, então a princípio, preferi não emitir qualquer opinião até entender melhor a situação. Numa rápida pesquisa, encontrei que os quadrinhos “Vingadores: A cruzada das crianças” contém 264 páginas, onde em apenas uma delas os personagens estão se beijando, e nada mais. Isso me fez duvidar ainda mais sobre a legalidade de tal medida tomada pelo prefeito e ratificada por ou-

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tras autoridades. Cresci assistindo filmes das princesas da Disney e lembro muito bem que “Cinderela”, “Branca de Neve”, dentre outras, beijavam os seus referidos príncipes encantados e eles “viviam felizes para sempre.” Em ambas as histórias, as das princesas da Disney ou dos quadrinhos citados, não há qualquer conteúdo sexual ou violador da integridade psíquica das crianças, já que em ambos existe um mero beijo entre o par de apaixonados, situação que, até que se prove ao contrário, na sociedade atual, não representa conteúdo impróprio para as crianças. Caso fosse, não só a história “Vingadores: A cruzada das crianças” deveria ser impedida de comercialização livre, mas todos os casos em que podemos ver beijos entre casais, incluindo os diversos desenhos, filmes animados, novelas e filmes de sessão da tarde de classificação livre. De todo modo, a fim de aprofundar um debate mais fundado em leis do que meras opiniões, resolvi destacar dois pontos que definem como ilegal a atitude do prefeito Marcelo Crivella:

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1 - Censura Constituição Federal – 1998 Art. 5º (...) IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o dispos-

to nesta Constituição. (...) § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. O primeiro ponto cabe ao ato ser uma nítida censura por parte da prefeitura, o que é inconstitucional. Isso porque, não é competência da prefeitura determinar que um livro deva ser recolhido, tal postura é totalmente abusiva, vez que tal medida somente poderia ser feita por decisão judicial depois de escutadas as partes envolvidas, o que chamamos de respeito à ampla defesa e ao contraditório. Ademais, isso só deveria ocorrer na hipótese de expor as crianças e os adolescentes à conteúdo impróprio ou inadequado, o que já tive a oportunidade de afirmar que não se trata do caso, uma vez que o mero beijo não se enquadraria nessa definição. Assim, ao contrário do que alegado pelo prefeito, não seria possível considerar tal publicação inadequada e muito menos pornográfica, conforme a própria definição da lei sobre pornografia. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.

2 - Igualdade de direitos entre casais LGBTs e heterossexuais Esse é o ponto de maiores discussões, pois como se pode ver pelo caso, o que fez o conteúdo ser considerado impróprio ou inadequado para crianças e adolescentes foi o fato do casal ser representado por duas pessoas do mesmo sexo. Essa foi a diferença dos demais beijos vistos em novelas, filmes e desenhos, expostos a todo tipo de público, inclusive crianças de qualquer idade. A justificativa da atitude do prefeito Marcelo Crivella, baseada nos artigos do 78 ao 80 do ECA, que falam de conteúdo impróprio, inadequado, pornográfico ou obsceno para crianças e adolescentes, é no mínimo descabida, pois presume que o beijo entre dois personagens masculinos seria algo em si pornográfico, o que não é razoável, vista a plena igualdade de direitos de casais LGBTs e heterossexuais. Portanto, não há, em qualquer medida, razão de se tratar o caso como legal, pois este vai além de uma discussão moral ou ideológica. Tal fato violou a lei e disposições constitucionais, devendo ser afastado por completo.

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Porque a literatura é para todos!

por Talita Facco

Na Bienal, vimos que, mesmo no meio literário, as pessoas podem ser extremamente preconceituosas e conservadoras. Porém, deixa eu contar um segredo para vocês: a literatura é para todos! Afinal, o que seria do azul se todos gostassem do amarelo? Então, embarque comigo nessa aventura para conhecer a Literatura LGBTQ+.

Amor e Preconceito Autor: Pedro Fontes

Adrian Dantas é um homem racional, centrado e sério que trabalha em uma empresa internacional com publicidade. Theo Beaumont é um homem oposto a Adrian. Os destinos de Theo e Adrian se cruzam e essa amizade, ao longo do tempo, se transforma em algo confuso para Adrian, afinal, o que ele sentia seria verdadeiro ou estaria fascinado pela beleza física de seu melhor amigo? Depois de ouvir atentamente os sentimentos que gritavam dentro de sua cabeça e coração, Adrian se declarou para o melhor amigo, mas talvez descubra que possa ter cometido um engano. Como se ele já não estivesse caído em total desgraça, um perigo iminente se

aproxima. Sua vida pode virar ao histórias de diferentes gêneros. contrário e ele deve se preparar Chore, sorria, vibre, angustiepara o pior. -se… Não importa o sentimenAmor & Preconceito é um to que invada você: permita-se romance que trata sobre a di- SENTIR. Escancare as portas ferença entre amar a beleza e do armário e não se esqueça de amar o ser belo, a importância se orgulhar por ser exatamente da família, mas a prevalência da quem é! felicidade maior, o perdoar dos erros do passado, se uma pessoa te decepcionar e se você a Resilientes: um manifesto ama, deve perdoá-la por isso e contra a LGBTfobia principalmente sobre descobrir e aceitar quem você realmente é por dentro.

Orgulho de Ser Organização: Thati Machado

Antologia #OrgulhoDeSer reúne 8 histórias, contadas por 8 autores diferentes que, juntos, representam a comunidade mais colorida do mundo. Nesse livro, vocês encontrarão altas doses de representatividade em

Dezessete de maio é o dia internacional do combate à homofobia e transfobia. E nós só conhecemos uma maneira de contribuir com a causa: através da escrita. “Resilientes” reúne contos sobre ser LGBT+, viver, resistir e amar livremente em um mundo ainda cheio de amarras.

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PUBLIQUE SEU LIVRO

Conteúdos sensíveis e livros

por Erik Thomazi

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Na matéria de hoje vamos falar sobre a responsabilidade que cabe às editoras quando se trata de conteúdos sensíveis em um original. Mas o que são os conteúdos sensíveis? Conteúdos sensíveis são todos aqueles que podem, de certa forma, explanar sobre questões específicas e, caso não sejam discriminados da forma correta, ser expostos a pessoas às quais não é destinado. Pois é, eu falei e não disse nada. Exatamente! Vou dar alguns exemplos para ficar mais claro! Um livro que contém cenas quentes, por exemplo, chamado de estilo hot na literatura, deve conter uma sinalização de que aquele conteúdo é destinado às pessoas acima de 18 anos. Toda editora tem, por obri-

gação, colocar em seus livros, explicações sobre a temática. Livros com a temática de prevenção ao suicídio por exemplo, mesmo que sejam destinados a todos os públicos, cabe à editora informar a todas as pessoas que aquela obra trata de um tema sensível e que isso pode ser lido por todos, mas que atentem-se a este fato. A mesma coisa acontece com os temas relacionados à violência, relacionamentos abusivas, bullying e outras temáticas que podem ser abordadas em originais. A responsabilidade é do editor em demarcar esses conteúdos, seja na própria publicação, na divulgação da obra ou em outras vias. Temas sensíveis precisam ficar claros e, no caso de antologias, é necessário que essa in-

formação seja colocada também no edital. Deixando as coisas claras, ninguém se sentirá lesado, nem enganado. Conteúdos sensíveis existem sim e precisam ser expressos como se deve. Não se pode simplesmente considerar que aquele conteúdo é sensível por questões pessoais que se ligam às crenças e vivências de uma pessoa. Mas é sempre importante frisar: cuidado com as informações que receber referente a essas questões! Uma informação passada errada pode gerar alguns pacotinhos pretos com etiquetas descabidas! Atente-se também aos conteúdos sendo divulgados. Bom trabalho, boa produção, boa leitura e, caso você não ache as indicações necessárias nos livros, informe à editora e cobre a questão!


DRESA ENTREVISTA

A VEZ E A VOZ DE

Nathalie Almeida Esse mês nossa coluna tem o prazer de entrevistar a autora Nathalie Almeida. Advogada, gateira e escritora, Nathalie nos leva a reviver os contos de fada, desconstruindo o machismo e mostrando que todos temos direito a finais felizes. Vamos conhecer um pouco dessa princesa? Nathalie D.A, 25 anos, bacharel em Direito, gaúcha que mora em SP e autora de poesias, contos e romances. Possui dois livros solos publicados, participação em três antologias poéticas e em quatro antologias de contos.

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Dresa Guerra: Para começar, vamos falar de você: Nathalie por Nathalie? Nathalie Almeida: Amante de gatos, tímida até saber onde está pisando, uma pessoa com dificuldades em expressar seus sentimentos e pensamentos verbalmente, então faz isso através de seus personagens. Calma até pisarem no calo ou até ver uma injustiça. DG: Hoje você se vê mais como escritora ou como advogada? Pretende seguir nas duas carreiras, equilibrar ou focar em apenas uma? NA: Com certeza me vejo mais como escritora, pois é nessa que quero focar mais e em razão disso me dedico mais a ela, porém, não pretendo abandonar completamente o Direito. DG: Esse ano, durante a Bienal do Livro do RJ, você lançou seu segundo livro solo, “Um conto de fadas contemporâneo”, além de algumas antologias. Seu livro foi lançado via financiamento coletivo no Catarse, após ganhar um concurso na

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Editora Sinna. Como foi a construção do livro, desde a ideia para a história até o processo de publicação? NA: A ideia de fazer uma releitura de alguma princesa já martelava em minha cabeça fazia uns meses,. Parando para analisar cada uma, escolhi a Cinderela, por ser mais “adaptável” para os dias atuais. Como sabemos, qualquer história de princesa é bem machista e eu queria desconstruir isso, ao mesmo tempo queria criar uma personagem feminina forte, então fiz uma união de ideias: uma Cinderela forte e empoderada, de forma que ao longo da história eu mostrasse o machismo de forma sutil e outras questões mais sérias também. Quando eu tinha umas cinco páginas escritas, saiu o edital do concurso da Editora Sinna. Logo me animei, pois acreditei que as ideias que eu queria passar ao longo da história combinavam com a editora. Assim, escrevi o livro nos meses em que o edital estava aberto e faltando apenas uma semana para o fim do concurso eu enviei (ufa!). Ao longo do processo de escrita tive medo de não conseguir acabar a tempo e durante os meses de Catarse tive medo também de ninguém apoiar e nada dar certo (risos), mas no fim tudo deu muito certo e eu estou muito feliz com o resultado! Enfim, posso dizer que a criação desse livro foi desafiadora. Aproveito para deixar aqui meu muito obrigada mais uma vez à Editora Sinna, por ter acreditado na minha história e por ter sido maravilhosa comigo durante o processo de publicação. DG: Por falar em Bienal, infelizmente não podemos deixar

de falar do trágico episódio protagonizado pelo prefeito do RJ. Segundo sua lógica preconceituosa e atrasada, seu livro estaria na lista dos impróprios. Como autora, como foi para você ver seu sonho e trabalho serem ameaçados pela censura? NA: Foi bizarro e assustador! Nem em um milhão de anos eu imaginaria que um dia isso pudesse acontecer com uma obra minha e eu fiquei com um medo real de perder os exemplares do meu livro. Foi revoltante também, pois já é difícil publicar um livro e ser escritor nacional e então em um evento do porte da Bienal, grande oportunidade para todos nós, o prefeito do RJ resolve querer censurar livros LGBT? Foi como se quisessem cortar nossas asas! Em um segundo momento, quando percebi o grande apoio que nós escritores estávamos tendo e a repercussão, fiquei mais calma. DG: E enquanto pessoa LGBT, como você se sentiu no meio do circo de horrores que foram os dias finais da Bienal? NA: Me senti em uma distopia, não consigo descrever de outra forma. DG: E enquanto pessoa e autora, como foi viver um momento tão triste e conturbado? NA: Inicialmente, foi ter muito medo do que podia acontecer. Senti um medo pela minha obra, pelas obras dos meus colegas, até pela editora em que estou, pois ela tem bastante obras LGBT, mas depois foi ter a certeza de estar escrevendo as coisas certas e, por pior que o momento fosse, eu consegui sentir um orgulho imenso de mim mesma


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e dos outros escritores de histó- preconceitos e vendo isso como o que é, ou seja, normal. A reprerias LGBT. sentatividade na literatura é imDG: Qual a importância da re- portante para quebrarmos prepresentatividade na Literatura? conceitos e colaborarmos para Como você pretende lidar com um mundo melhor e com mais isso em seus próximos trabalhos? respeito. Em meus próximos traNA: A importância da represen- balhos, pretendo continuar da tatividade na Literatura é fazer mesma forma que fiz até agora, com que leitores consigam se ou seja, histórias com personaidentificar nas histórias e mos- gens LGBT cada vez mais. trar para outros leitores que aquele grupo de pessoas existe DG: Você acredita que rola e merece respeito como qual- “pink money” também no meio quer ser humano. A arte é linda literário? Acredita ser possível e importante por ser a respon- que héteros escrevam temátisável por quebrar paradigmas ca LGBT de forma responsável e mostrar para o mundo onde e consciente, mesmo sem ser o estão os problemas das socie- seu local de fala? dades. Precisa existir na litera- NA: Acredito que rola “Pink Motura beijos homossexuais para ney” sim, até no meio literário, as pessoas perceberem que é assim como também acredito um beijo igual ao beijo hétero que um hétero pode sim escree entenderem que não há nada ver a temática LGBT de forma de errado em uma criança ler séria, responsável, e consciente. ou ver uma imagem que ilustre Tem autores que eu vejo o cuiisso, pois acredito que dessa dado que têm ao escrever sobre forma uma criança cresce sem isso, mesmo não sendo seu local

de fala e vejo a preocupação verdadeira em ter representatividade em suas obras por acharem importante de coração. Também acredito que alguns colocam representatividade apenas pelo dinheiro (Pink Money). DG: Qual a maior lição que você tirou dessa Bienal? NA: Que livros com certeza são capazes de mudar vidas e toda uma sociedade. DG: Deixe uma mensagem final para os leitores e suas redes sociais para que possamos te encontrar. NA: Muitíssimo obrigada a todos os leitores que ficaram do nosso lado e nos ajudaram de alguma forma! Vocês são muito importantes e essenciais! Redes sociais: https://www.facebook.com/alemdofake/ https: //www.instagram.com/ nathalie.d.a

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Em nosso especial Bienal, vamos bater um papo sobre classificação e censura, com a CEO do Grupo Editorial Hope, Jéssica Milato. Mil e uma funções, Jéssica explica um pouco sobre classificação etária em livros, conta um pouco sobre sua participação na Bienal Internacional do Rio de Janeiro e sobre classificação indicativa e censura. Vem conferir!

Jéssica Milato FALA SOBRE CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA

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Dresa Guerra: Para começar, vamos falar de você: Jéssica por Jéssica? E claro, vou pedir que apresente a Hope também. Jéssica Milato: Bem, eu sou o que sou. Filosófico, né? Mas é isso. Sou mãe, esposa, empresária e amante dos livros desde que me recordo. Sou autora e editora. A Hope nasceu da vontade de ser diferente e fazer diferente, dando voz e espaço a autores independentes, que procuram autonomia, mesmo estando numa casa editorial. A Hope foi fundada em 1/10/2015 e desde então já publicou mais de 150 obras, participando de feiras e de todas as principais Bienais. É meu xodó e minha principal realização profissional.

que passamos a utilizar os selos na capa e tem dado certo.

DG: Antes das perguntas, gostaria que você explicasse, resumidamente, como funciona a classificação indicativa dos livros. JM: Assim como nos filmes e programas de televisão, os livros têm gêneros a ser abordados em diferentes faixas etárias. Um livro que aborda temas como violência, mas que não é descrito de uma forma depreciativa e explícita, pode ter uma classificação +10. Tem uma tabela a ser seguida, que durante a leitura do original é fácil de classifica-lo.

DG: Como você faz a classificação dos livros da Hope? Alguém te auxilia? Existe algum curso ou orientação para isso? JM: Eu faço a classificação de acordo com a tabela disponibilizada pela Coordenação de Classificação Indicativa/Departamento de Promoção de Políticas de Justiça (Cocind/DPJUS). A classificação é feita durante a leitura do material, seguindo as diretrizes do Classind. Os assistentes editoriais fazem a classificação prévia do material a ser publicado e durante a edição eu só confirmo. Lembrando que a classificação indicativa nos livros NÃO é obrigatória.

DG: Qual o motivo de você ter adotado a classificação nos livros da Hope? JM: No fim de 2017 eu observei que os livros não levavam a classificação na capa. Sempre em busca de inovar, passei a adotar nos livros da Hope. Embora tenhamos Selos Literários dentro da editora, os quais classificam por gênero, eu sentia falta dessa classificação por idade. Foi ai

DG: Qual o limite entre classificação indicativa e censura? JM: Na classificação indicativa, você está apenas deixando um alerta: olha, esse livro é para maior de 12, 14 anos... Se você ler, será por sua conta e risco. Ela apenas serve para mostrar que aquele tema não deve ser lido por menores de tal idade. Não há uma proibição, apenas um aviso sobre o tipo de conteúdo que poderá ser encontrado. Na censura você não tem escolha. Lembrando que fiscalizar o tipo de leitura adotado pelas crianças compete aos responsáveis pela mesma.

DG: Óbvio que vamos falar de Bienal do Livro e do episódio trágico e bizarro estrelado pelo prefeito do Rio de Janeiro. Pode narrar um pouco da sua experiência, primeiramente como editora, nos dias de tentativa de censura? Qual foi o seu sen-

Livre para todos os públicos Violência fantasiosa; presença de armas sem violência; mortes sem violência; ossadas e esqueletos sem violência. Nudez não erótica; ou mesmo com a presença de nudez; sem a presença de conteúdo sexual. Consumo moderado ou insinuado de drogas lícitas sem relevância para a obra. Não recomendado para menores de 10 anos Presença de armas com intuito de violência; medo/tensão; angústia; ossadas e esqueletos com resquícios de ato de violência; atos criminosos sem violência; linguagem depreciativa. Conteúdos educativos sobre sexo. Descrições verbais do consumo de drogas lícitas; discussão sobre o tema “tráfico de drogas”; uso medicinal de drogas ilícitas. Não recomendado para menores de 12 anos Ato violento; lesão corporal; descrição de violência; presença de sangue; sofrimento da vítima; morte natural ou acidental com violência; ato violento contra animais; exposição ao perigo; exposição de pessoas em situações constrangedoras ou degradantes; agressão verbal; obscenidade; bullying; exposição de cadáver; assédio sexual; supervalorização da beleza física; supervalorização do consumo; morte derivada de ato heróico; violência psicológica. Nudez velada; insinuação sexual; carícias sexuais; masturbação não explícita; palavrões; linguagem de conteúdo sexual; simulações de sexo; apelo sexual. Consumo de drogas lícitas; indução ao uso de drogas lícitas; consumo irregular de medicamentos; menção a drogas ilícitas; discussão sobre “Legalização de Drogas Ilícitas. Não recomendado para menores de 14 anos Morte intencional; Preconceito; Exploração Sexual; Aborto; Eutanásia; Pena de morte. Nudez moderada; erotização; vulgaridade; relação sexual; prostituição. Insinuação do consumo de drogas ilícitas; descrições verbais do consumo e tráfico de drogas ilícitas. Não recomendado para menores de 16 anos Estupro; Crime de ódio; suicídio; tortura; mutilação; violência gratuita/banalização da violência; Ato de pedofilia. Nudez total; relação sexual intensa/ de longa duração. Produção ou Tráfico de qualquer droga ilícita; consumo de drogas ilícitas; indução ao consumo de drogas ilícitas. Não recomendado para menores de 18 anos Elogio ou apologia da violência; crueldade. Sexo explícito; situações sexuais complexas/de forte impacto (incesto, sexo grupal, fetiches violentos e Pornografia). Elogio ou apologia ao uso de drogas ilícitas.

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timento e como ficou o clima na Bienal? JM: Olha, num primeiro momento o sentimento foi de incredulidade. Na sexta-feira os funcionários da organização passaram no estande pedindo para “subir” livros com temática LGBT e tirar da vitrine livros com temática erótica. Os autores independentes que estavam no estande chegaram a recolher os livros e “esconder” no estoque, com medo do recolhimento. Foi triste. No sábado, durante o protesto, pude viver um momento histórico. Pude mostrar à minha filha de oito anos, que os direitos dela não podem ser retirados pela falta de conhecimento e preconceito de alguns. Foi um fim de Bienal triste, mas que não foi silenciado. DG: E enquanto pessoa e autora, como foi viver um momento tão triste e conturbado? JM: Me senti numa verdadeira caça às bruxas. Era recolher livros, colocar de volta na prateleira... A cada liminar derrubada, o sentimento de: “Cara, isso é censura! Como estão deixando isso acontecer na maior feira literária do Brasil?” ia aumentando. A gente lê tanto sobre o assunto, mas nunca imaginaria em pleno 2019, viver um ato desse.

na Bienal, eu acabei postando uma foto, com a classificação de nossos livros, sem legenda. Pegaram essa foto e rodaram ela como se eu estivesse a favor da censura sofrida, só porque os nossos livros estariam “imunes” ao recolhimento, por estarem lacrados e “de acordo” com o solicitado pelo prefeito. É louco né? Faltou interpretação. Mas como diz os sábios: a gente é responsável pelo que falamos e não pelo que entendem.

DG: Você acha que é importanDG: Houve alguma situação te que todo autor, mesmo indemuito inusitada ou engraça- pendente, utilize a classificação da protagonizada por conta da em seus livros? classificação indicativa do livro? JM: Embora não seja obrigatório, JM: Enquanto a gente estava eu acho legal. É algo tão simples

que acaba fazendo uma diferença tamanha. Acredito que todos deveriam utilizar, inclusive as grandes editoras. DG: Deixe uma mensagem final para os leitores e suas redes sociais para que possamos te encontrar. JM: Nunca deixem que te digam que não vale a pena acreditar nos sonhos que se tem... Agradeço pela entrevista, pelo espaço cedido e digo: nunca deixe que te calem! Meu IG: @jessicamilato Face: Jéssica Milato Sites: www.editorahope.com e www.venhafazerhistoria.com

Dresa Guerra é autora independente, produtora de eventos culturais nas periferias e colunista da Publiquei. Ela também é professora e atua em projetos sociais.

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CONHEÇA E AÍ, VOEI

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SINOPSE: “E aí... o amor de quem achamos que ia ser para sempre, foi embora. É, foi embora. Seguiu. Evaporou com o tempo. Primeiro a gente chora, depois nós nos desesperamos. Sentimos a pessoa amada no jeito de arrumar a casa, na nossa comida preferida e até nas piadas de papagaio que contamos para os amigos. Sentimos e sentimos muito, mas, depois da fase onde o emocional se abala, passamos a sentir menos a presença da outra parte que foi para dar lugar a quem mais sentiremos ao logo de nossas vidas por inteiro: a nossa própria presença.” Sobre a Antologia: A antologia “E aí, voei!” é uma antologia sobre autoconhecimento e superação dos desafios que enfrentamos ao longo da vida. Todos os contos falarão deste processo que vivemos tanto com nós mesmos quanto com as nossas relações com as pessoas e o mundo, sendo assim, uma forma de disseminarmos a positividade e a importância do amor-próprio.

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Data: 13/10 Local: Biblioteca Municipal Governador Leonel de Moura Brizola Horário: a partir das 12h A Nona Edição contará com a presença de diversas escritoras, poetizas e profissionais do livro. Com bate-papos, palestras, intervenções artísticas, exposições e venda de livros. Confirme sua presença!

Data: 3 a 6 de Outubro Local: Museu da República Horário: 10h às 20h

Data: 26 de outubro Local: Paróquia Nossa Senhora do Desterro Horário: das 9h30 às 19h Lima Barreto será o escritor homenageado da festa.

Data: 8, 9 e 10 de novembro Local: em formato de circuito literário, acontecerá em cinco espaços no centro da cidade.

Data: 20 a 24 de novembro de 2019 Local: Biblioteca Parque Estadual

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Data: 18 a 20 de outubro Local: Expo Center Norte - São Paulo Presenças confirmadas: Naomi Grossman, a Pepper de American Horror Story; Derek Riggs, responsável por capas de álbuns do Iron Maiden e criador de Eddie, mascote da banda Mick Garris: cineasta e escritor, parceiro de Steven Spielberg, Stephen King e Michael Jackson, que dirigiu e/ou escreveu clássicos do Horror para cinema e TV; Deathstars, uma das principais bandas do gothic/industrial europeu; Therion, banda sueca; Orquestra, que se apresentará com versões de temas de filmes e séries de Horror.

P R Ó X I M O S E V E N T O S


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