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Look de artista
Poucas pessoas se abrem para conversar sobre este assunto, até mesmo com o parceiro ou parceira, e a maior dificuldade na hora de compartilhar fantasias ainda é o medo do julgamento do outro. No entanto, é tempo de quebrar tabus e desconstruir padrões. Falar sobre fantasias sexuais é fundamental para melhorar a autoestima, a relação e a saúde.
Embora seja um assunto ainda repleto de preconceitos para muita gente, especialistas apontam que fantasias sexuais são perfeitamente saudáveis. Segundo eles, a maioria dessas fantasias não é colocada em prática, mas é muito difícil encontrar quem não as tenha.
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Medo E Vergonha
De acordo com o Ministério da Saúde, a prática do sexo traz inúmeros benefícios para a saúde como um coração mais saudável, sono de qualidade, menos estresse e uma melhor relação amorosa, portanto, investir na qualidade da relação sexual é bom para a saúde e preserva o relacionamento. Mas grande parte das pessoas ainda tem vergonha e evita falar sobre sexo. Por que isso acontece?
A RE conversou com Ana Carolina de Andrade Miatto, 24, que possui graduação completa em filosofia, pedagogia e pós-graduação em psicologia sexual. Educadora sexual e empreendedora, ela lembra que o sexo está em todo os lugares, em todos os lares, em todos ou na grande maioria dos relacionamentos e presente no dia a dia de quase todas as pessoas do mundo todo. “Podemos até afirmar que o sexo é uma das coisas mais comuns entre os seres humanos, assim como se alimentar e ir ao banheiro, e ainda assim é um tema que causa tamanha vergonha nas pessoas. Você, provavelmente, já deve ter percebido que em qualquer conversa em que o sexo possa aparecer os filhos correm, os pais surtam, os amigos se intimidam, os professores respondem com uma certa ressalva (isso quando respondem), muitos profissionais da saúde ignoram e com os parceiros, então, melhor nem começar a falar... Falar de sexo é evitado porque é algo desconhecido para nós”, afirma.
Cren As E Repress O
Para a educadora sexual, essa vergonha tem origem em crenças que vêm de uma cultura que deixou enfincada na nossa cabeça, por milênios, que o sexo é sujo, é errado, é nojento e pecaminoso. “As pessoas têm medo de falar sobre sexo e serem julgadas, os filhos têm medo que seus pais não os compreendam (e muito provavelmente não compreenderiam mesmo), pois a maioria deles foi criada em ambientes onde também não se falava sobre sexo, apenas reprimia e seguia em frente. É natural que as pessoas evitem falar sobre, pois passaram muito tempo reprimidas e com ideias distorcidas sobre sexo, sexualidade e prazer. Na realidade, o prazer nem sequer podia existir tempos atrás, o sexo desde a Idade Média só era permitido dentro do matrimônio e para fins de procriação, e essa conduta de relacionamento casto foi e ainda é passada de geração para geração, trazendo mais repressão e sentimentos contraditórios, reforçando o sentimento de vergonha e medo de serem julgadas erradas, ou seja, julgadas como sujas, nojentas e pecaminosas”.
Ana Carolina faz um alerta: “enquanto não falarmos e investigarmos cada vez mais sobre a nossa sexualidade, as pessoas não vão conseguir entender qual é a sua função e vão se contentar em ficar frustradas por medo de serem julgadas”.
Sexo Vida
A prática regular do sexo é bem mais importante do que se imagina e traz uma série de benefícios para a manutenção da saúde, seja física ou mental. A educadora sexual afirma que o sexo mexe com tudo em nosso corpo. “Melhora o sono, alivia dores, diminui o nível de ansiedade, nos deixa menos estressados, melhora a lubrificação, fortalece a musculatura pélvica, queima caloria, é um estimulo para o nosso coração, deixa a pele e o cabelo mais bonitos e brilhantes, melhora nossa autoestima, ou seja, trabalha todo o sistema cardiovascular, neurológico e imunológico do ser humano”.
Ela também informa que pesquisas recentes apontam até que a prática sexual tem um papel importante na criação de novos neurônios. “Sexo com um bom orgasmo é vida e quando ocorre uma parada da atividade sexual as pessoas podem até desenvolver ou agravar quadros de depressão e ansiedade, disfunções sexuais e outras doenças. Mas lembrem-se: qualidade é melhor que quantidade”, pontua.
Abra A Sua Mente
A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apontou, em uma pesquisa, que metade das brasileiras não tem orgasmo nas relações sexuais por diversos motivos, mas a falta de conhecimento sobre o próprio corpo é um dos principais. Muitos relacionamentos não são prazerosos, e some-se a isso a rotina, trabalho, filhos, responsabilidades, etc. Entretanto, tudo isso não pode ser motivo para deixar de aproveitar o sexo de maneira prazerosa, e aqui entramos no objetivo principal desta matéria: mostrar que há uma infinidade de possibilidades e produtos eróticos que podem ajudar a melhorar o relacionamento e tornar o sexo ainda mais leve e excitante.
O uso de produtos eróticos proporciona, além do prazer, o benefício de conhecermos melhor o nosso corpo. E não há motivo nenhum para se envergonhar disso! É a partir do sexo e da masturbação que passamos a descobrir as delícias e prazeres de cada pedacinho do nosso corpo, e isso é energia vital.
SEM VERGONHA, SEM PRECONCEITO
Apesar do preconceito que ainda o cerca, o mercado erótico vem ganhando destaque na economia do país. Vibradores e outros produtos eróticos cada vez mais fazem parte da vida de pessoas solteiras ou de casais com total naturalidade. Segundo a Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico (Abeme), o comércio de objetos sexuais teve um crescimento de 12% em 2020. Só as vendas de vibradores cresceram 50% naquele ano, empurradas pela pandemia da COVID-19 que trouxe isolamento social, solidão e facilidade de compra por e-commerce.
Este mercado tem se profissionalizado bastante e as sex stores – lojas que vendem produtos voltados ao prazer sexual – já não são mais associadas a vulgaridade, mas à satisfação íntima e realização pessoal.
Perfil Dos Consumidores
O panorama vem mudando aos poucos, conforme damos mais abertura ao tema, mas ainda há um grande trabalho pela frente para reconstruir e reeducar as pessoas para que possam curtir mais a sua sexualidade livremente, consigo mesmas e com seus parceiros.
De acordo com o portal Mercado Erótico, quem compra mais produtos eróticos são as pessoas casadas, e os dados mostram que as mulheres compram mais que homens. Ana Carolina, que é proprietária da Amor Fati Boutique Sensual, concorda. “Ultimamente, com o aumento das vendas, temos percebido também o aumento de vários públicos distintos como consumidores. Mas maioria é do sexo feminino, casado, heterossexual, com idade média entre 35 e 45 anos. E o mais interessante: vem aumentando o número de clientes homens que compram para suas esposas”.
Para A Melhor Idade
As pesquisas também apontam crescimento no consumo de produtos eróticos por pessoas acima dos 60 anos. São mulheres e homens que procuram as sex stores por questões médicas e para resgatar a vida sexual. E quais os produtos mais vendidos para esta faixa etária?
Ana Carolina responde. “Com pessoas acima de 60 anos não é diferente, tenho diversos clientes casados dessa faixa etária que costumam comprar sempre lubrificantes, excitantes e até vibradores, e venho percebendo um aumento significativo de pessoas nessa faixa etária, casais ou mulheres sozinhas, que procuram vibradores dos mais variados tipos e não deixam de lado um bom lubrificante”.
Informa O E Orienta O
Escolher o que comprar muitas vezes é difícil para os consumidores, especialmente se estão fazendo isso pela primeira vez. A empresária tranquiliza: “Com tantas opções no mercado, o cliente pode ficar muito confuso, não saber identificar qual tipo de estímulo é mais adequado para si, ou entender quais são as diferenças que vão realmente impactar na sua escolha, por isso criei um sistema de consultoria própria para o bem-estar do meu cliente desde o primeiro contato. Proporciono um ambiente acolhedor e tranquilo, com abertura para falarmos sobre os produtos, tirar todas as dúvidas e também falarmos sobre a sua motivação, afinal, o mais importante é a pessoa entender o seu processo, conseguir fazer a melhor escolha e sair daqui com informações suficientes para dar continuidade no seu processo de autoconhecimento”.
Experi Ncias Pessoais
As pessoas ainda se preocupam em serem julgadas por utilizar sex toys, ou brinquedos sexuais, por isso não foi fácil encontrar quem concordasse em contar sua experiência, no entanto, após garantir o anonimato consegui alguns depoimentos. Óbvio que os nomes utilizados aqui não são os verdadeiros.
Rita contou à RE que entrar em um sex shop pela primeira vez não foi fácil “Sempre me pareceu algo clandestino, que eu tinha que fazer bem escondido e ficava morrendo de medo de encontrar algum conhecido no lugar. Também me preocupava a embalagem, se alguém ia descobrir o que era, e até o pagamento, o fato de aparecer na fatura do cartão”. Hoje ela diz que sente bem tranquila e que vale muito a pena.
Ana também é cliente assídua há quatro anos. “No começo, eu tive resistência. Minha criação foi aquela que passava que o sexo é algo sujo e cheio de pecado. Mas estudei, conversei muito e aprendi que sexo é prazer e saúde. E foi quando comecei a me descobrir”.
Consumidores há cerca de 12 anos, Regina e o marido lembram que produtos eróticos praticamente salvaram a relação. “A maioria dos casais acaba caindo na rotina e com a gente não foi diferente. Isso acaba desgastando a relação e muitas vezes o casamento chega ao fim. Claro que sexo não é tudo no relacionamento, mas é uma boa parte e conseguimos nos reinventar”.
POR ONDE COMEÇAR?
Ana Carolina dá dicas preciosas. “Um bom lubrificante com sensações excitantes é sempre uma boa pedida, tanto para usar sozinho quanto acompanhado. Para um casal, massagem é sempre a primeira opção: um óleo quente ou frio com sabor ajuda muito a aumentar o toque e as sensações entre os parceiros e um pequeno vibrador, um ovo de silicone texturizado ou até um colar de pérolas auxiliam a ampliar ainda mais essas sensações, deixando os parceiros mais próximos e conectados com seus corpos. Agora, se a intenção é autoconhecimento individual, para as mulheres um excitante suave, um pequeno e discreto vibrador vão auxiliá-la a conhecer mais o seu próprio corpo, descobrir onde e como sente mais prazer. Para os homens, o ovo de silicone com textura e um lubrificante podem auxiliá-lo até a se conectar mais consigo mesmo, conseguindo mais controle, menos ansiedade e mais prazer em suas relações”.
Investir em brinquedos sexuais é encontrar um novo estímulo, uma nova sensação que pode ser vivenciada a sós ou acompanhado. E sentir-se bem e feliz, sexualmente falando, promove melhorias na vida pessoal e profissional.