Gazeta de Alagoas
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| SÁBADO, 23 DE JANEIRO DE 2010 | Reprodução
MISTURE E
DANCE Estilo que arrebata pistas de dança no mundo inteiro, o
mashup – a arte de unir diferentes músicas numa mesma faixa – encontrou porto seguro no País. A tão propagada criatividade brasileira é terreno fértil para as mais inventivas e improváveis criações, de nomes como Sany Pitbull, André Paste e João Brasil. Nesta edição você vai conhecer alguns deles e ser convidado a ‘entrar na dança’. Vamos nessa?
João Brasil faz as pessoas dançarem com seus preconceitos
| RAMIRO RIBEIRO Repórter
Numa pista de dança tudo pode acontecer. Paixões acabam, novas histórias começam e a música adquire papel especial nessa equação. Nesse sentido, a década que passou assistiu à difusão de uma vertente da chamada “música para pista” responsável por promover momentos de verdadeira comoção por onde é executada, arrebatando adeptos fiéis: o mashup. Trata-se da arte de colar diferentes sons – unindo músicas, artistas e estilos que à primeira vista soariam díspares – que resulta em criações completamente novas e surpreendentes. Uma derivação do remix, que propõe uma releitura de uma música com uma base rítmica diferente. O mashup prega a união inesperada, a junção de estilos improváveis. É a anarquia sonora, sem preconceitos, em nome da diversão. Tudo feito para a pista.
Ligado aos primórdios do rap, o estilo que engatinhava nas décadas de 70 e 80 se popularizou no fim dos anos 90, com o surgimento do mp3 e de ferramentas caseiras de edição de som. A internet oferece todos os instrumentos para quem quiser se aventurar nesse universo: programas de edição de som como Audacity, Ableton Live, Reason e muitos outros. Para se tornar um mashupeiro, basta ter criatividade e não ter medo de errar. É a receita de João Brasil, carioca que é hoje um dos principais nomes do movimento no mundo. Ele conversou conosco direto de Londres – de lá, conta mais sobre suas intenções com o gênero. Conversamos também com André Paste, prodígio de 18 anos que coloca todo mundo para dançar com produções que unem hits do pop internacional com o funk carioca. Além disso, preparamos uma série de dicas e links para você se inteirar desse universo dançante. Mãos à obra.
ENTREVISTAS
João Brasil Cantor, compositor, produtor, multi-instrumentista, viciado em comunicação e cultura pop. Assim se define o carioca João Brasil, para muitos o “gênio do mashup brasileiro”. Formado em Publicidade, estudou produção de música eletrônica no renomado Berklee Music College, em Boston, Estados Unidos. No momento, cursa mestrado em Design para Mídias Interativas em Londres. Seu primeiro álbum, 8 Hits (2008), surgiu aos poucos na internet e continha o sucesso instantâneo Baranga, que o levou a se apresentar no Domingão do Faustão. No mesmo ano, lançou virtualmente o álbum Big Forbidden Dance, com mashups de incríveis 130 músicas em nove faixas. Este ano, deu início a seu projeto mais ambicioso: o blog 365mashups.wordpress.com, onde o objetivo é disponibilizar uma nova “mistura” a cada dia, até o fim do ano. Confira o papo com o “mito”.
DICAS E LINKS Gazeta – Numa rápida pesquisa com o seu nome na internet encontramos elogios como “mito”, “gênio da raça”, “expoente máximo do mashup brasileiro”. Afinal, quem é João Brasil? Ele quer dominar o mundo? João Brasil – Hahaha! Sou ape-
OUTROS NOMES DE DESTAQUE NA CENA NACIONAL DO MASHUP ›› Lúcio K (myspace.com/luciok , mashuplk.blogspot.com) ›› Faroff (myspace.com/fanfaroff) ›› Sany Pitbull (myspace.com/sunypitbull) ›› Killer On The Dancefloor (myspace.com/killeronthedancefloorbr) ›› Lucas Santanna (diginois.com.br) ›› Dancing Cheetah – festa carioca dedicada ao estilo (dancingcheetah.wordpress.com) ›› Agemda – blog do jornalista Fabiano Moreira sobre festas e artistas. Disponibiliza várias seleções musicais de DJs, as “mixtapes” (gemagema.tv/blogs/agemda/)
De repente, seu disco preferido de todos os tempos sofreu uma mutação genética. Confira na nossa lista
American Edit – Cria de uma dupla de mashupeiros que atende pela alcunha de Dean
Revolved – Mais Beatles. Dessa vez, em duetos com quem você possa imaginar. Disponível para download gratuito no revolved.blogspot.com.
Como aconteceu o turning point entre seu álbum de estréia, 8 Hits (que traz as pérolas Baranga, Mamãe Virei Capitalista e Cobrinha Fanfarrona) e o ingresso no incrível mundo das colagens sonoras? Planeja outro disco de canções?
O mashup musical é uma faceta de um modo de produção que pode ser visto em outras mídias e formatos. Você está cursando mestrado em interactive media em Londres. Seu trabalho tende também para a interação de áudio e vídeo?
Assim que terminei de fazer o disco e montar a banda, só me chamavam para tocar como DJ, nunca entendi bem isso. Comecei a fazer a festa Calzone, toquei muito como DJ. Aí pensei: se vou ser DJ, vou fazer minhas próprias musicas. Fiz o Big Forbidden Dance. Até pensei em fazer um disco com canções, mas acabei resolvendo fazer um mashup por dia. Sou assim. Um dia, um novo disco de canções virá. Tenho certeza disso.
Certamente. Já estou pensando em como juntar essa ideia dos 365 mashups em um ambiente multimídia. Adoro misturar vídeos com músicas: o poder de comunicação se multiplica.
Numa entrevista recente você afirmou que seguia a mistura “hype X povão X cabeça X cafona”. Qual a receita para um mashup ideal?
Espero que sim! Estou trabalhando para isso. |RR
Trabalho a favor da criatividade livre de todos para todos. Trabalho para um mundo com menos preconceitos e mais diversão.
A cena brasileira alcança boa receptividade fora do País. Além de você, gente como Faroff, Sany Pitbull e Lúcio K aparecem com destaque. No Brasil, há a revelação André Paste. O destino do mashup é as massas?
ONDE ENCONTRÁ-LO
Revelação juvenil de Vitória, Espírito Santo, e batizado de “o Mallu Magalhães do mashup” – pelos seus 18 anos recém-completados – e também de “Joãozinho Brasil” – pela influência declarada, André Paste Fez sucesso no site de vídeos YouTube com uma montagem que unia Exaltasamba com a caloura inglesa Susan Boyle, que recebeu o singelo nome de Susan Boyle Boyle. Para ele, AC/DC e tecnobrega podem conviver em harmonia numa mesma canção.
car nenhum instrumento e sempre quis fazer música, parti para o computador e escolhi o mashup para poder usar todas as minhas influências.
Você é fã declarado do João Brasil, que também admira seu trabalho. Como foi conhecê-lo? Tocaram juntos?
Gazeta – Quando e qual foi o primeiro mashup que você produziu? O que te seduziu nessa possibilidade artística? André Paste – O primei-
Na sua opinião, esse é o grande barato do mashup – ou seja, a oportunidade de unir Bonde do Tigrão e Rihanna, Exaltasamba e Susan Boyle na mesma faixa?
›› myspace.com/joaobrasil ›› fmjoaobrasil.blogspot.com ›› 365mashups.wordpress.com
André Paste
VÍTIMAS DO MASHUP
Grey, une a cartilha do rock mundial ao American Idiot, do Green Day.
Você trabalha a favor da valorização do hype nacional?
Juntar mundos que não se falam, fazer as pessoas dançarem com seus maiores preconceitos. Conectar o Brasil com o mundo.
nas um artista/produtor musical
O RITMO LÁ FORA ›› Girl Talk (myspace.com/girltalk) ›› Festa Bootie – Uma das principais festas de mashup do mundo, que ganhará uma edição carioca em 2010 (bootiemashup.com/bestofbootie2009/) ›› A Plus D – Notícias, mixtapes e faixas exclusivas (aplusd.net/) ›› Mashuptown – Faixas e links de vários DJs espalhados pelo mundo (http://www. mashuptown.com/)
The Grey Album – Criado pelo DJ Danger Mouse (do duo Gnarls Barkley), mixa os vocais do Black Album do rapper Jay Z com os arranjos do White Album dos Beatles.
que usa a colagem sonora/visual como forma de expressão. O computador é meu instrumento musical. Estou morando na Europa agora, vou tentar dominar o mundo por aqui.
London Booted – O mesmo princípio, aplicado ao clássico inconteste do Clash, que completa 30 anos este mês. The Beastles – Os Beatles, sempre eles, embarcam no rap dos Beastie Boys. Mais sobre no djbc.net/beastles.
ro mashup que produzi foi o Copy&PASTE no Tamborzão, com samples de 30 músicas em sete minutos, no finalzinho de 2008. Como eu nunca soube to-
Pode-se apontar a existência de um movimento ou cena do mashup no Brasil, com nomes, festas, características (e sonoridades) particulares?
Tem uma galera produzindo mashup no Brasil todo. Eu consigo manter contato com alguns pela internet.
Sim! O mais legal do mashup é poder misturar as músicas mais variadas, inusitadas e surpreendentes.
Quando fui tocar no Rio, no ano passado, encontrei com o João... Foi muito legal. Ele é muito gente boa! Ainda não tocamos juntos, mas esse é um sonho que eu tenho. Qual a última ‘colagem sonora’ que você fez? E a próxima?
A ultima foi Tira a Camisa and Clap Your Hands, que une funk carioca com disco music, e a próxima... espere e verás (risos). Depois do forró e do sertanejo universitário, esse ano vou criar o mashup universitário. Mais uma vez, aguarde e verás. |RR
ONDE ENCONTRÁ-LO ›› myspace.com/andrepaste