TOMÁS RANGEL/DIVULGAÇÃO
GUSTAVO MIRANDA/O GLOBO
Filme revê origens carnavalescas de Joãosinho Trinta. B5
Quarta-feira 09/05/2012
CINEMA. Em 2005, ao contabilizar um público de quase 300 mil pessoas, o documentário Vinicius inaugurou uma nova era para o gênero no País. Pouco menos de uma década depois, o filme que mostrava o lado musical do Poetinha ganhou pares que deram ainda mais visibilidade ao casamento entre cinema e música, como o espectador poderá perceber na 4ª edição da Sesi.doc, mostra que tem abertura amanhã em Maceió. Mas para além dessa vocação particular, a maratona documental também levará para a tela do Cine Sesi títulos que abarcam vertentes como biografias, estudos visuais ou registros etnográficos. Nesta edição, além de passar em revista a programação, a Gazeta traz um bate-papo com Walter Carvalho, autor de Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, a badalada cinebiografia do Maluco Beleza. Vale a pena conferir
É TUDO VERDADE
O diretor paraibano Walter Carvalho acompanhará a exibição do documentário sobre Raul Seixas em Maceió
RAMIRO RIBEIRO REPÓRTER
O cinema documental brasileiro tem suscitado fenômenos curiosos. Após atingir um notável nível de maturidade na última década, mais recentemente ele serviu de palco para um casamento dos mais sólidos, que pôde ser visto nas telas de todo o País: o do cinema com a música. Arnaldo Baptista, Wilson Simonal, Caetano Veloso, Cartola, Maria Bethânia, Jorge Mautner, Humberto Teixeira, Nana Caymmi, Titãs, Legião Urbana... Todos eles já foram retratados em documentários. Raul Seixas é o mais novo integrante desse clube. Em cartaz desde o dia 23 de março, Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio já ultrapassou a marca dos cem mil espectadores, tornando-se um dos títulos do gênero mais vistos nas salas brasileiras. Dirigido pelo cineasta Walter Carvalho, o longa é um dos destaques da quarta edição da Sesi.doc, mostra que será aberta amanhã (10) no Cine Sesi e cujas atividades vão até o próximo dia 14 na sala mantida pelo Serviço Social da Indústria em Maceió. Coordenador do Cine Sesi, Marcos Sampaio, o Marcão, justifica a criação do evento: “Alguns dos grandes filmes nacionais dos últimos anos pertencem ao gênero. É a oportunidade de oferecer ao público um panorama do que há de mais recente na produção de documentários, sem falar que todos são inéditos por aqui”. De amanhã até segunda-feira, o público da capital terá a chance de conferir trabalhos de diretores como Eduardo Coutinho e Sílvio Da-Rin, além do próprio Walter, que acompanhará a exibição da cinebiografia do mitológico compositor baiano morto
em 1989. A programação contará ainda com obras como o curta Di Melo – O Imorrível, sobre o cantor pernambucano e seu único disco, gravado em 1975. Inédito no circuito comercial, o filme recebeu o Prêmio Aquisição do Canal Brasil no último Cine PE, encerrado no Recife no dia 02 de maio. Ampliando seu menu, neste ano a Sesi.doc estende suas atividades para o Museu Théo Brandão, com uma mostra gratuita de filmes etnográficos. Já na tela do Cine Sesi, além dos destaques ‘brazucas’ o público verá títulos internacionais badalados como o iraniano Isto não é um Filme e As Praias de Agnès, da diretora belga Agnès Varda. Outra novidade é a faixa dedicada à produção local, com a exibição dos trabalhos mais recentes de realizadores como Werner Salles e Celso Brandão. O público que aprecia o cinema documental por essas bandas sentiu falta da mostra, que não foi realizada em 2011, e participou sugerindo títulos. “As Canções, o próprio Raul e Hotxuá são filmes que foram bastante pedidos”, observa Marcão. Confira a programação da mostra na pág. B2
Serviço O quê: 4ª edição da mostra de documentários Sesi.doc Onde e quando: no Cine Sesi – Centro Cultural Sesi (av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Pajuçara), de amanhã até o dia 14 de maio, em diversos horários Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) – Doc Internacional; R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia) – Sessão Noturna; R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia) – Passaporte Diário Informações: 3235-5191, 9371-2740 e www.centro culturalsesi.com.br
RAUL SEIXAS, MEMÓRIA E INVENÇÃO Nascido na Paraíba em 1948, Walter Carvalho tornou-se um dos profissionais mais requisitados do cinema brasileiro – na função de diretor de fotografia, sua assinatura aparece nos créditos de longas-metragens como Central do Brasil, Lavoura Arcaica, Madame Satã e Carandiru. Sua trajetória como realizador começou com o documentário Janela da Alma (2001), ao qual se seguiram Cazuza – O Tempo não Para (2004), Moacir Arte Bruta (2006) e Budapeste (2009). De família cinematográfica, Walter é irmão do também documentarista Vladimir Carvalho e pai do diretor de fotografia Lula Carvalho. Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio estreou em março e já foi visto por mais de cem mil pessoas, um dos títulos documentais mais vistos nas salas brasileiras. Em entrevista por telefone à Gazeta, ele falou um pouco sobre o projeto. Leia a seguir.
Gazeta. Em entrevista ao programa Roda Viva, você afirmou que mais do que ter descoberto e conhecido um Raul Seixas, depois de muita pesquisa e de 94 entrevistas você o inventou. Que Raul é esse? Walter Carvalho. Sim, o Raul que inventei foi o Raul que encontrei na memória dos contemporâneos que o circundavam. Parceiros, amigos, parentes, as filhas. Foi através da memória dessas pessoas que cheguei nessa figura “inventada”. E aqui cabem as aspas porque esse termo, “invenção”, não é para elucidar o personagem. É apenas uma convenção da gramática. Volta e meia o nome de
WALTER CARVALHO CINEASTA
“O Raul que inventei foi o Raul que encontrei na memória dos contemporâneos que o circundavam. Parceiros, amigos, parentes, as filhas. Foi através da memória dessas pessoas que cheguei nessa figura ‘inventada’”
Raul reaparece em notícias sobre disputas por direitos autorais e outras questões jurídicas. O filme enfrentou problemas desse tipo durante sua produção ou no lançamento? Como se deu o contato com as filhas e ex-mulheres? Não tive nenhum tipo de problema. Tive acesso total à família. Só a primeira esposa, Edite, que hoje mora nos Estados Unidos, não quis falar. Não queria relembrar o passado. Entrevistei sua filha, Simone, a filha mais velha do Raul, e chegamos ao acordo dela enviar uma carta pela filha, que a leu para mim através da internet, e é o que está no filme. As outras, duas ex-esposas e duas ex-companheiras, e as outras duas filhas foram absolutamente acessíveis. Elas me abriram seus baús, com fotos, cartas, documentos. Não tive nenhuma restrição. Seu irmão, Vladimir, também fez uma incursão musical no documentário Rock Brasília e na vida de outro ídolo brasileiro, Renato Russo. Vocês trocaram figurinhas durante esses trabalhos? Me fizeram uma pergunta parecida com essa, sobre
se a gente tinha combinado de fazer juntos dois filmes sobre música, e eu falei que não. Na verdade, houve uma observação do próprio Vladimir de que se nós combinamos, foi há mais de 40 anos. Porque foi quando comecei a ajudá-lo no cinema. Foi quando ele me introduziu o cinema na vida. Como eu era um cara que gostava de rock, dançava rock, de certa forma estava combinado ali que isso seria feito na frente. E aconteceu 40 anos depois. Essa é que é a verdade. Foi uma combinação que fizemos sem saber, há 40 anos.
Qual a diferença entre fotografar documentários e obras de ficção? São poucas. Ou muitas. Depende do ponto de vista. Quando digo que são poucas é que a construção da luz se dá em um nível de princípio. Como lidar com o princípio da luz em relação à questão do objeto a ser iluminado. Na ficção, a preparação desse objeto requer um tempo de feitura daquela luz que no documentário se dá de forma diferente, porque muitas vezes você não tem o tempo necessário para dedicar àquela construção. E aí é a luz instantânea, a luz do momento. A luz em que não se tem tempo de elaboração. Essa é a diferença básica. Agora, o princípio da luz e de sua construção é o mesmo. Seu filho Lula acabou de receber o prêmio de melhor fotografia no Festival do Recife. Como você vê o trabalho dele? Também há uma troca de experiências? O Lula é um fotógrafo que começou frequentando o set de filmagem ainda muito garoto. Às vezes ele
ia durante as férias ficar comigo, e nessa ele foi se inteirando e descobrindo o que que era um set de filmagem. Já na adolescência ele resolveu mergulhar um pouco mais nisso e começou a ser assistente, meu e de muitos fotógrafos do cinema brasileiro, dos mais importantes. Isso deu a ele um tempo de compreensão, fez com que abraçasse esse universo da fotografia com uma certa crença, uma certa dedicação. Ao mesmo tempo, ele se oferenda de uma forma muito integrada e verdadeira com essa coisa chamada cinema. Ele passou a acreditar nisso. E todas essas coisas juntas o fazem permanecer até hoje interessado e fazendo um trabalho que o afirma cada vez mais. Ele já fez mais de dez longas-metragens, vai fazer um filme agora nos Estados Unidos. Foi um encontro que chegou a ele e ele se oferendou a esse encontro.
Em 2006 você lançou o documentário Moacir Arte Bruta, sobre o artista plástico que vive no interior de Goiás. O que aconteceu depois do filme? Você manteve contato ou o encontrou novamente? Faz tempo que eu não visito o Moacir. Mas ele continua trabalhando, pelo que eu obtive de informações. Acho que o Itaú Cultural está preparando uma publicação com as obras dele, me ligaram para pegar um depoimento meu. A mãe dele faleceu em janeiro, mas acho que ele está muito bem. Me falaram que ele está vendo as pinturas dele no computador, fiquei até curioso para saber mais. Preciso ir lá fazer uma visita, vê-lo. Mas ele está muito bem. RR ‡
B 2 Caderno B
GAZETA DE ALAGOAS, 09 de maio de 2012, Quarta-feira EDILSON OMENA/CORTESIA
ROMEU DE LOUREIRO emsociedade@gazetaweb.com
EDILSON OMENA/CORTESIA
Duas homenagens O centenário do Quebra de Xangôs (de 1912) acaba de ganhar duas grandes homenagens: o ballet 1912: Oração e Vozes, da Companhia de Dança Maria Emília Clark, e o número especial da revista Graciliano, da nossa Imprensa Oficial. Na inventiva coreografia do ballet, cumpre destacar o impactante grand finale, quando bailarinos, usando saiotes brancos (como o dos orixás), vão tombando ao solo, numa representação visual do Quebra de 1912. Já na Graciliano, difícil escolher entre tantos e tão bons textos – entre os quais há um registrando a preservação, no Museu do Ihgal, de imagens e objetos de cultos afros resgatados dos terreiros (a Coleção Perseverança).
A socialite Letéia Lacerda Lamenha Couto, clicada na Serata Italiana deste colunista
EDILSON OMENA/CORTESIA
FEIRA DA FRATERNIDADE De hoje até sexta-feira, no Ginásio Cinecista Jorge Assumpção (ali, na Ladeira da Rodoviária Velha), a Feira da Fraternidade. Promoção da Arquidiocese Metropolitana, com o objetivo de, por meio da venda (a preços módicos) de produtos doados pela comunidade católica, arrecadar recursos para dar prosseguimento as suas ações assistenciais. Nas barracas, como voluntárias, damas católicas de nossa sociedade, como d. Rosa Medeiros.
A socialite e empresária Fátima Pontual Calheiros, clicada na Serata Italiana deste colunista
COMENDA Por indicação do vereador Sílvio Camelo, a Câmara Municipal de Maceió conferiu, sexta-feira, ao famoso oftalmologista Alan Barbosa a Comenda Mário Guimarães, em reconhecimento aos seus relevantes serviços à comunidade maceioense.
A comendadeira, professora, escritora e poetisa Isvânia Marques (presidente da Apalca), clicada na nossa Serata Italiana
Circulando de idade nova, desde o sábado ∫(quando foi lembrada e festejada), a renomada arquiteta e designer Ana Maria Maia Nobre. Festeja idade nova, hoje, a empresária Maria da Graça Monteiro (do Buffet San Martin). Bodas de trigo completam, neste dia, Thaís (nascida Rêgo) e Thomás Monte Xavier de Souza (neto do comendador Benício Monte).
∫ NO CIEE O “tzar dos shoppings”, Robson Rodas, comunicando que seu “filho primogênito”, o Maceió Shopping, receberá o Selo do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) por sua participação no projeto: abriga 13 jovens, entre 17 e 20 anos, como aprendizes. A entrega do selo acontecerá esta noite, durante a solenidade de inauguração da nova sede do Ciee (ali, na Gruta), após a qual haverá um coquetel de confraternização. AVISO Restam poucas mesas (a preços diferenciados) para o baile (aberto ao público pagante) que o Iate Clube Pajuçara realizará, na sextafeira (dia 11), em comemoração ao vizinho Dia das Mães. Com Brinquinho e sua banda na animação.
COMENDA DA OAB-AL Coube ao presidente da OAB-Nacional, Ophyr Cavalcante, agradecer por todos os agraciados com a Comenda Zephyrino Lavenère Machado (instituída pela OAB-AL para homenagear personalidades que se destaquem no combate à corrupção) – entre os quais o arcebispo de Maceió, d. Antônio Muniz, a corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon, o ministro do STJ Humberto Martins, o procurador-geral do Estado, Marcelo Teixeira Cavalcante, e o ex-presidente do Conselho Federal da OAB, Marcelo Lavenère Machado.
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DIVULGAÇÃO
A querida senhora Erusa Amorim, que completou ontem seus 90 anos, festejou a data em família
CONTINUAÇÃO DA PÁG. B1. Confira os destaques da 4ª edição da Sesi.doc e monte um roteiro para curtir a mostra
Dia a dia, a programação da maratona AMANHÃ, 10/05 19h00 19h10
20h00
Abertura Trama da Memória – Urdidura do Tempo, de Pedro da Rocha As Canções, de Eduardo Coutinho
Filmado nos moldes do ótimo Jogo de Cena, de 2007, em que personagens reais e fictícios narram histórias tocantes de suas vidas, As Canções amarra a vida de pessoas por meio de canções afetivas. Por pouco mais de uma hora, anônimos se alternam na cadeira diante do diretor e iniciam um corolário de suas vidas. Amores fracassados, mortes, perdas e êxitos são contados como a um pai afetuoso.
SEXTA, 11/05 16h30 18h00
18h00 20h00
21h30
Isto não é um Filme, de Jafar Panahi Interiores ou 400 Anos de Solidão, de Werner Salles Bagetti Prova de Artista, de José Joffily Hotxuá, de Letícia Sabatella e Gringo Cardia Di Melo – O Imorrível, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro
SÁBADO, 12/05 17h00 19h00 19h30
21h00
Passione, de John Turturro Marinete, direção coletiva Avenida Brasília Teimosa, de Gabriel Mascaro Profissão Músico, de Daniel Vargas
DOMINGO, 13/05 16h00 18h00
18h40
20h40
As Praias de Agnès, de Agnès Varda Arquivo José de Chalé, de Celso Brandão Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho Debate com o diretor Walter Carvalho e o produtor Denis Feijão
SEGUNDA, 14/05 19h00 19h30 21h00
Meu Lugar, de Guilherme Fontana Paralelo 10, de Sílvio Da-Rin Debate com o diretor Sílvio Da-Rin
Proibido por uma ordem do governo de Mahmud Ahmadinejad de deixar o Irã e também de filmar ou de sair de casa, o cineasta Jafar Panahi produziu sob essas condições um dos filmes mais instigantes de 2011. O longa é tudo o que o título desmente. Filmado em coautoria com o cineasta Mojtaba Mirtahmasb, este quase documentário esmiuça o dia a dia de Pahani em sua prisão domiciliar, onde é impossibilitado de levar adiante a sua arte, que deu à cinematografia oriental obras como O Espelho, O Balão Branco e O Círculo. Com este documentário sobre a canção napolitana, o ator e diretor ítalo-americano dá uma de jardineiro e cultiva suas raízes peninsulares. Turturro é descendente de sicilianos e de bareses, mas foi encontrar na turbulenta Nápoles o epicentro para cultivar sua italianidade. Aqui, ele sai em busca daquilo que é bastante conhecido na canção de Nápoles, mas busca, também, e talvez em especial, a maneira como essa história musical sobrevive, avança, se mescla e se transmuta. Com As Praias de Agnès, a belga de 80 anos faz uma retrospectiva de sua vida: no filme, ela revisita todas as que conheceu em seus momentos mais importantes. No documentário autobiográfico, ela relembra os tempos em que foi fotógrafa, seu casamento com o cineasta Jacques Demy e sua luta no movimento feminista, além das pessoas importantes com quem viveu e os filmes que fez. O cinema tem dado a chance ao Brasil de fazer uma revisão sobre a relação dos ‘civilizados’ com os povos indígenas. O condutor de Paralelo 10 é o sertanista José Carlos Meirelles, figura carismática e com boas histórias para contar. Ele e o antropólogo Terri Aquino sobem o rio Envira, no Acre, depois de ficar um ano e meio afastados da região do Paralelo 10 Sul, linha de fronteira com o Peru. O filme os acompanha durante duas semanas, enquanto se dirigem à região onde irão ajudar os povos Madija e Ashaninka a encontrar melhores formas de se relacionar com outros mais ‘hostis’.