Leitor, aquele que lê

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Gazeta de Alagoas

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| DOMINGO, 14 DE AGOSTO DE 2011 | Ailton Cruz

Galeno Amorim durante sua passagem por Maceió: otimismo apesar de casos trágicos como o de Alagoas

Leitor, aquele que lê

Desde janeiro no comando da Fundação Biblioteca Nacional, o jornalista e escritor Galeno Amorim preside a instituição que tem entre suas atribuições a distribuição de obras para seis mil unidades públicas gerenciadas por prefeituras no País e a administração da oitava maior biblioteca do mundo em acervo. De passagem por Maceió – ele abriu o 14º Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, encerrado na última quarta-feira no Centro de Convenções –, Galeno recebeu a Gazeta para uma conversa sobre homens e livros. É o que você confere neste domingo | RAMIRO RIBEIRO Repórter

Uma nação se constrói com homens e livros, teria reafirmado Monteiro Lobato. De tão repetida e pouco compreendida, não é exagero dizer que a frase perdeu algo de sua essência – em Alagoas, por exemplo, pouco mais da metade da população poderia lê-la, e um número menor ainda seria capaz de entendê-la. Consequência direta da tragédia que é a política de educação e cultura do estado e do município, nosso índice de leitura é vergonhoso.

Antes mesmo de ser criada, há 145 anos, a Biblioteca Pública Estadual (BPE) já se via às voltas com a apatia e a falta de compromisso das autoridades, em teoria, responsáveis. Nas páginas da Gazeta, a deterioração de seu acervo e equipamento foi registrada através dos anos. Em 2006, a má conservação da coleção de mais de 90 mil títulos e o despreparo de sua equipe técnica. Em 2008, anunciou-se a tão aguardada reforma que iria ‘turbinar’ a instituição. Três anos depois, o casarão da praça Dom Pedro II mais parece um prédio abando-

Consequência da tragédia que é a política de educação e cultura de estado e municípios, nosso índice de leitura é vergonhoso nado. O lento movimento de operários leva a crer que a mais recente previsão de entrega do edifício – para o fim do ano – pode ser, novamente, protelada.

Na própria página da BPE na internet, hospedada no site da Secretaria de Estado da Cultura (www.cultura.al.gov.br), além de um link para uma página com fotos que aludem à restauração, não há a informação de que a biblioteca encontra-se fechada para reforma. Ou seja: quem se aventurar numa visita não verá mais que salões vazios e alguns poucos homens trabalhando. A instituição, que na prática nunca desempenhou um papel na vida dos cidadãos, teve suas atividades suspensas no final de 2010. Mesmo diante desse cenário,

Alagoas recebeu a 14ª edição do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, encerrado na última quarta-feira (10) no Centro de Convenções, em Jaraguá. E como coube ao presidente da Fundação Biblioteca Nacional – que administra a distribuição de obras para seis mil unidades públicas gerenciadas por prefeituras no País –, Galeno Amorim, abrir o evento, a reportagem foi até lá para repercutir questões ligadas ao universo do livro e da leitura, em Alagoas, no Brasil e no mundo.

Em sua análise sobre o atual momento da leitura no País e os avanços conquistados na última década, destaque para – além do muito bem-vindo avanço tecnológico – o papel da ação humana no processo de difusão do hábito de ler. “Não basta ter um depósito de acervo. Na verdade, é preciso ter gente. Gente é que faz a diferença para mediar o acesso aos livros e à leitura”. Antes de embarcar rumo à capital federal, na última segundafeira (08), Galeno conversou com a Gazeta. A entrevista você confere a seguir.

A REALIDADE NORDESTE

REFAZENDO OS CAMINHOS

Quais as particularidades da nossa região no que diz respeito à disseminação do livro e da leitura? A Gazeta perguntou a Galeno Amorim. A seguir, a resposta

Jornalista durante mais de 20 anos, Galeno Amorim migrou para o mundo do livro e da leitura (propriamente dito) ao criar uma editora. De lá para a atuação pública em institutos e fundações e depois para estruturas governamentais, a jornada não foi assim tão longa. Secretário de Cultura de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, o atual presidente da Biblioteca Nacional foi bem avaliado em sua gestão. A seguir, ele conta como as coisas começaram

Se por um lado o País avançou de uma maneira geral no comportamento do leitor, de outro é possível perceber alguns vazios existentes. Por exemplo, com relação às classes sociais. Nós temos aí um maior índice de leitura nas classes A e B, proporcional ao da classe C. Já nas classes D e E eles são muito baixos. Por que? Está muito ligado à escolaridade. Sendo assim, temos índices de leitura maiores em quem tem maior escolaridade: quem tem formação universitária, ensino médio, etc. Quem ostenta uma formação escolar baixíssima também ostenta índices de leitura realmente baixos. E evidentemente em quem não apresenta formação escolar nenhuma esse índice é zero. Dáse um fenômeno parecido também na questão da geopolítica nacional. Nesse sentido, temos algumas regiões que têm um índice de leitura maior, e temos o Norte e o Nordeste, onde esses índices são os mais baixos, onde carecem de maiores investimentos em políticas públicas. No entanto, há um dado positivo no

Norte e no Nordeste que nos chama muito a atenção e vale a pena ser comemorado. Os grandes responsáveis por formar leitores no Brasil são as mulheres. As mulheres são as que mais leem, as que mais gostam de ler no seu tempo livre, e as mães são as maiores responsáveis por desenvolver o gosto pela leitura nas pessoas que hoje gostam de ler. Foram as mães, na época em que eram crianças, que ensinaram o gosto pela leitura. E as mães no Nordeste aparecem com um índice altíssimo. Elas são muito mais presentes e responsáveis pela leitura na vida de seus filhos que as mães das outras regiões do Brasil. Como as mulheres são as grandes leitoras, tenho a impressão de que a tendência nos próximos anos é termos um crescimento da leitura no Nordeste muito maior do que nas outras regiões do Brasil. Agora para isso é preciso fazer a lição de casa. Lição de casa significa garantir a existência de bibliotecas em todas as cidades, apoiar projetos de leitura, apoiar as escolas para

que elas possam também fazer suas ações. E que prefeitos e governadores da região destinem orçamentos para essas políticas de leitura, percebendo que o acesso aos livros é muito mais que entretenimento ou lazer de qualidade. Não deixa de ser, porém é muito mais. Porque é uma possibilidade de desenvolvimento do indivíduo, fazer com que ele cresça. E isso pode levar a uma evolução em todos os aspectos da sua vida. Que ele consiga desempenhar melhor o seu trabalho; que ele depois arrume um emprego onde ganhe mais; que ele seja um sujeito mais criativo para desenvolver soluções; que ele exerça, enfim, a sua cidadania. E isso faz com que as regiões todas do Brasil possam evoluir. O Nordeste foi e tem sido uma das regiões do Brasil que têm mais se desenvolvido na última década, sobretudo nesse período do mandato do presidente Lula. Isso somado à maior escolaridade da população vai levar sem dúvida a um maior desenvolvimento da leitura na região.

O mundo dos livros é, de uma maneira, muito parecido com o jornalismo. Todos trabalham com as palavras, com as ideias, com conteúdo. Eu já estava há mais de 20 anos no jornalismo, num determinado momento achei que devia iniciar uma outra etapa profissional da vida junto com os livros. Então criei uma pequena editora; já escrevia livros infantis. Nas épocas em que estou no governo paro de publicar um pouco, dou uma diminuída. Mas comecei escrevendo, depois tive uma pequena editora, criei algumas fundações e institutos na área do livro e da leitura. Houve um tempo em que essa minha atividade de editor, de autor, acabou rendendo alguns prêmios nacionais, fora do Brasil, e fui convidado para ser secretá-

rio de Cultura da minha cidade, Ribeirão Preto, onde acabei fazendo algumas ações nessa área que acabaram chamando muita atenção no cenário nacional. Criamos a primeira Lei do Livro de um município brasileiro, abrimos 80 bibliotecas num período de três anos na cidade, e o índice de leitura lá cresceu de 2 livros habitante/ano para 9,7. Então, por conta disso, fui, no primeiro mandato do presidente Lula, convidado pelo ministro Gilberto Gil para assumir essa área no ministério. Coordenei a criação do Programa Nacional do Livro e Leitura em 2006. Demos início ao programa para zerar o numero de cidades brasileiras sem bibliotecas; na época eram cerca de 1.300, hoje a Biblioteca Nacional está com os últimos 36 kits para entregar.

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Então, quando me vi já estava metido nessas políticas públicas. Atuei em todas as áreas, em todos os lados desse balcão, porque é um balcão de muitos lados. Como escritor, dou muita palestra em escolas, para crianças e jovens e adultos que estão sendo alfabetizados; para professores; para editores, livreiros, bibliotecários; faço muita pesquisa sobre comportamento do leitor, sobre consumo de livros no Brasil. Coordenei, por exemplo, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que mede o comportamento do leitor brasileiro; presidi organismos internacionais como o Cerlalc – Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e Caribe, ligado à Unesco; tenho atuado nas várias áreas dessa política pública.


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Conhecimento para a vida Galeno Amorim fala sobre as ‘funções’ de uma biblioteca, comenta a atuação de estados e municípios no setor, explica como funciona o Plano Estadual do Livro e Leitura – que, ele espera, seja adotado em Alagoas – e detalha o funcionamento do Instituto Brasileiro de Livro e Leitura, responsável pela gestão das políticas públicas na área Ailton Cruz

| RAMIRO RIBEIRO Repórter

Gazeta – Uma biblioteca pode servir para a documentação de acervos, como é o caso da Biblioteca Nacional, depositária de tudo quanto se produz no Brasil, e também para o acesso ao conhecimento, por meio da consulta a seu acervo. Há casos em que não se tem uma coisa nem outra, como em Alagoas. Qual a pior consequência desse problema para um povo? Galeno Amorim – Existem

dois tipos de biblioteca. A Biblioteca Nacional faz a guarda e é responsável pela preservação e também pela difusão da cultura letrada no Brasil. E tem a chamada biblioteca pública, que precisa cada vez mais banalizar, no melhor sentido dessa expressão, o acesso ao livro. Ela tem que fazer com que os livros cheguem às pessoas, e que as pessoas cheguem até os livros. Não existe país entre os desenvolvidos, no mundo, que tenha chegado a essa condição sem ter resolvido antes duas grandes questões: primeiro a educação de qualidade a qual as pessoas tem acesso, a outra é o sistema de bibliotecas públicas que façam com que as pessoas tenham acesso gratuitamente aos livros. Isso é fundamental para um projeto de nação. Só se faz uma nação desenvolvida, progressista do ponto de vista não só econômico mas também social, se as pessoas tiverem essa oportunidade do desenvolvimento contínuo. A educação de um lado garante isso durante a fase da vida na qual as pessoas estão matriculadas em algum tipo de curso. Na educação continuada você vai subindo os degraus e vai tendo acesso a outras informações e construindo seu conhecimento. Já os livros – e para que as pessoas tenham acesso dessa maneira é fundamental a presença de boas bibliotecas – garantem a apreen-

são e apropriação desse conhecimento até o fim da vida. Então, para uma sociedade melhor, mais organizada, mais desenvolvida, é fundamental a existência desse equipamento público de qualidade.

“Nos estudos que temos sobre o comportamento do leitor esse dado (sobre a leitura) não existe por estado, e sim por macrorregião. Futuramente, nos próximos estudos que começam a ser feitos, certamente nós teremos essa divisão por estado”

A quem o cidadão deve recorrer quando não há essa ‘banalização’? Como é possível estimular um cidadão a ler?

Bom, chegar a essa banalização implica em responsabilidades de vários atores sociais. Claro que o estado é o ator que tem mais responsabilidade no tema, seja ele no campo federal, na esfera estadual e também nas prefeituras. Mas também em outros setores da sociedade, aqueles que atuam diretamente com o tema: o pessoal da área do livro e da leitura, das bibliotecas, das universidades. Mas também outras instituições da sociedade: institutos, fundações, empresas, as famílias, todos. Cada um tem uma parte de responsabilidade nisso. O estado, indicando orçamentos, fazendo políticas públicas que consigam oferecer o direito inalienável à leitura e aos livros como um direito elementar da cidadania. E o cidadão? É importante também que ele se manifeste, que leve adiante suas reivindicações nessa área, porque é fundamental que as autoridades, que o estado brasileiro, nessas três esferas, esteja sensível para a função social dos livros. E o atendam na forma de projetos, de programas e ações para fomentar a leitura. Na presidência de uma fundação federal, como o senhor avalia o trabalho dos estados nessa engrenagem?

Os estados, eu percebo, têm cada vez mais se interessado pelo tema. Eu diria que há dez anos deixava muito a desejar a atenção que os governos davam para esse tema. Vejo que é algo crescente. Cada vez mais nós temos a

Galeno Amorim visita o prédio da Biblioteca Pública: reforma sai até o fim do ano, ele afirma

preocupação dos dirigentes públicos. Ainda falta muito, mas é infinitamente maior do que visto nos últimos anos, nas últimas décadas do século passado. Vejo que há uma maior percepção positiva, por parte dos governos estaduais, mas também por parte das prefeituras e por parte das empresas. Por exemplo, nas empresas, há dez anos, quando alguém chegava para pedir apoio para um projeto de leitura, ela tinha dificuldade de entender que aquilo era algo importante para a sociedade. Às vezes ela percebia aquilo como algo que beneficiaria um número muito pequeno de pessoas, algo mais voltado para o entretenimento, para o lazer e ainda não conseguia ter a compreensão de que era uma ação forte para a mudança da própria comunidade, da cidadania. Isso hoje já é diferente – tem muito mais gente que se volta para essas políticas. Não existia, por exemplo, em 500 anos de história, um Plano Nacional do Livro e Leitura, isso só veio ocorrer em 2006. Agora, os estados estão começando a criar seus Planos Estaduais do Livro e Leitura. Esta semana vai ser lançado o primeiro, no Distrito Federal. Mês que vem vai ser lançado o segundo, no Mato grosso do Sul, e daí por diante. O senhor já obteve sinais de que Alagoas também prepara seu plano nessa área?

Tenho informação de que Alagoas já está discutindo a criação desse plano. Pelas informações que eu tenho, no período de quatro anos todos os estados brasileiros, incluindo Alagoas, vão ter o seu plano. Talvez alguns consigam se antecipar, mas a meta é de quatro anos. E vários municípios também estão fazendo isso – o que era algo inconcebível alguns anos atrás. Essa tendência começa a ser revertida. Eu tendo a dizer que a última década talvez vá entrar para a história como a década mais importante em torno desse tema no Brasil. Não a melhor, até porque se for a melhor nós estamos perdidos. Talvez a mais importante porque ela representou o início de uma grande virada. E isso tem se traduzido como? Em crescimento dos orçamentos públicos, mais ministérios, mais governos de estado, mais prefeituras estão investindo em bibliotecas e nessas políticas setoriais. Isso faz com que os índices estejam aumentando. O Brasil aumentou, de 2001 para 2010, o seu índice de leitura de 1,8 para 4,7 livros lidos por habitante/ano. Isso em função de algumas coisas: a melhoria da escolaridade da população; o aumento da renda, com 30 milhões que ascenderam à condição de classe média. Algumas regiões ainda precisam acelerar suas políticas públicas na área; o Nordeste é uma delas, porque os índices são

mais baixos com relação a outras regiões do Brasil. Isso se reflete como? Em maiores investimentos do governo federal, dos estados e das prefeituras. Passa pela conscientização da sociedade, com os meios de comunicação entrando, chamando a atenção para esse problema. Aqui no estado, por exemplo, nós estamos investindo agora R$ 2,5 milhões na restauração e revitalização para criação de uma grande biblioteca-parque que seja uma grande referência para todo o estado. Pelas informações que recebi do governo estadual, até o final do ano a reforma termina e aí até a metade do ano que vem essa biblioteca vai ser aberta nesse formato para o público. Ao assumir a presidência da Biblioteca Nacional o senhor falou que estava trabalhando na criação do Instituto Brasileiro de Livro e Leitura, que seria responsável pela gestão das políticas públicas da área: a quantas anda esse projeto?

Esse processo está em um momento bem acelerado. Na gestão da Fundação Biblioteca Nacional eu já criei uma diretoria para cuidar especificamente das políticas públicas dessa área, que vai ser o embrião desse novo instituto. Essa diretoria é formada por quatro áreas. Tem uma coordenação que trata da economia do livro, tem outra de lei-

tura, uma outra de literatura e uma última que é responsável pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas. Então o Instituto herdará as atribuições que hoje são da Biblioteca Nacional?

Todas as funções que são exercidas por essa diretoria dessas quatro áreas serão assumidas pelo instituto. Ou seja, eu já criei um embrião. Dei um primeiro passo para o surgimento do instituto. Criar uma nova instituição demanda algumas etapas. A primeira conseguimos dar conta dentro do prazo estipulado. A segunda vai tratar da institucionalidade propriamente dita. É de se supor que no trabalho de criação desse instituto o senhor tenha tido tido acesso a dados sobre leitura no País todo. Quando teve contato com os números de Alagoas, se é que teve, o que pensou?

Nos estudos que temos sobre o comportamento do leitor esse dado não existe por cada estado, e sim por macrorregião do Brasil. Futuramente, nos próximos estudos que começam a ser feitos, certamente nós teremos essa divisão por estado, e isso é fundamental para inclusive permitir que cada estado possa criar políticas que avancem um pouco mais. Os dados que existem se referem apenas às macrorregiões do Brasil. ABr/Divulgação

BIBLIOTECA NACIONAL REGISTRA RECORDE DE VISITAÇÃO O número de pessoas que visitaram a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro aumentou em 60% este ano comparado ao mesmo período de 2010. Desde janeiro, mais de 42 mil visitantes já passaram pelas suntuosas dependências da maior biblioteca da América Latina, no centro da capital fluminense. No início do ano, a instituição decidiu ampliar a grade de horários das sessões guiadas e, em julho, o espaço passou a receber visitas no fim de semana. No entanto, de acordo com a coordenadora de Promoção e Divulgação Cultural da biblioteca, Suely Dias, a maior contribuição para esse aumento foi a distribuição da agenda das atividades da instituição nos centros culturais da cidade. “Desde julho, com a potencialização dessa divulgação por meio da agenda e da criação de um novo canal de comuni-

Visão panorâmica do interior da BN, no Rio

cação, percebemos um público diferente, além dos visitantes fiéis que já frequentam a Biblioteca Nacional. E a ideia é produzir mais produtos culturais e atrair cada vez mais cidadãos para poder compartilhar esse espaço privilegiado de saber e de produtos brasileiros”, afirma ela. As visitas –

que antes eram limitadas a três horários fixos – agora funcionam de acordo com os pedidos, com exceção das visitas especializadas, explicou Suely. Além de conhecer os espaços, os visitantes podem participar de debates, rodas de leitura e exposições. Todas as atividades têm entrada franca.


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Otimismo em relação a Alagoas Presidente da FBN teve impressão positiva dos profissionais da área no estado; reforma da Biblioteca Pública Estadual recebeu R$ 2,5 milhões do MinC | RAMIRO RIBEIRO Repórter

Gazeta – Garantir que cada município brasileiro tenha uma biblioteca é a meta do governo federal quando o assunto é leitura. Mas isso significa de fato que crianças e adolescentes estão em boas mãos nesses ambientes? Há e haverá bibliotecários formados e treinados para acompanhar os chamados leitores em formação? Galeno Amorim – A ideia é

que todas as bibliotecas brasileiras possam, dentro de um período de tempo, funcionar como verdadeiros centros culturais. Onde os livros sejam uma espécie de fio condutor para a oferta e desenvolvimento do fazer cultural. As bibliotecas de hoje em dia têm o conceito do que se chama de biblioteca-parque. Elas têm bons acervos, livros em papel, mas também audiobooks, livros em braile, livro digital. E ali ela pode oferecer exposições, acesso à internet, pequenos teatros, cinema, encontros com autores, contação de histórias. Isso faz com que ela seja um lugar atraente para que as pessoas possam ir até lá, visitar, e passar horas e horas do seu dia, como passam em uma livraria megastore dentro de um grande shopping. As bibliotecas caminham nesse sentido. Ainda há poucas bibliotecas no País que funcionam assim. Alagoas em pouco tempo vai ter sua primeira nesse formato. E a ideia é que um CURTA

Pesquisa trará dados sobre o comércio de livros no Brasil

O Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL) realizam na próxima terça-feira (16), às 15h, a divulgação da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, cujos dados são relativos ao ano de 2010. Os números serão apresentados pela coordenadora da pesquisa, professora Leda Paulani, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe-USP). Também participarão do evento a presidente do SNEL, Sônia Machado Jardim, e a presidente da CBL, Karine Pansa. O evento será realizado na sede do SNEL, no centro do Rio de Janeiro.

“Sempre recomendamos às prefeituras que estão abrindo bibliotecas que procurem contratar um bibliotecário, ainda que em muitos lugares seja difícil achar um”, diz ele número expressivo de bibliotecas possam adquirir essa forma e prestar todo esse serviço público e essencial para a sociedade. Agora, há uma primeira etapa a se cumprir, que é fazer com que cada município brasileiro tenha pelo menos uma biblioteca. Isso é fundamental. Se de um lado vemos que várias cidades ainda carecem de ter bibliotecas que operem dessa maneira, temos uma situação ainda mais difícil naquelas cidades que ainda não têm uma única biblioteca – que funcione do jeito que for. Mesmo sem o bibliotecário?

Não existe nem isso. Não existe nem livro. Há um esforço inicial para dotar esses municípios de bibliotecas boas. Com dois mil livros, computador, software, mobiliário, local adequado. Aí entra a parte da prefeitura, para contratar pessoas habilitadas, for-

madas, preferencialmente os bibliotecários, para que eles possam atuar nesses locais e dar a sua contribuição. O bibliotecário é um mediador de leitura importante e ele precisa ser levado em conta em todas essas políticas públicas. Então sempre recomendamos às prefeituras que estão abrindo bibliotecas que procurem contratar um bibliotecário. Ainda que em muitos lugares seja difícil achar um bibliotecário porque muitas vezes não existe nenhum morando naquela cidade. Mas há entidades e empresas que estão sempre à disposição para indicar pessoas que se dispõem a se mudar para esses locais sempre que as prefeituras se mostram dispostas a contratar esses profissionais. Isso é importante, não basta ter ou ser um depósito de acervo. Na verdade é preciso ter gente. Gente é que faz a diferença para mediar o acesso aos livros e à leitura. A reforma da Biblioteca Pública Estadual (BPE) é fruto de um convênio firmado com a Fundação Biblioteca Nacional?

Esse convênio foi firmado com o Ministério da Cultura, e no ministério é a Fundação Biblioteca Nacional que tem a responsabilidade sobre essa área. O governo do estado de Alagoas entrou com uma parte também. O MinC, através da fundação, entrou com R$ 2,5 milhões. Qual a importância de um congresso como o que o senhor

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Foi o valor que o MinC, por meio da Fundação Biblioteca Nacional, destinou à reforma da Biblioteca Pública Estadual

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É o volume a ser investido em 2011 nos programas de incentivo à leitura

abriu em Maceió, encerrado na última quarta-feira?

Esse congresso tem um significado especial porque é o momento em que os bibliotecários de todo o Brasil se reúnem e têm acesso àquilo de mais novo, de mais moderno, aquilo que vem sendo experimentado, criado, para que eles possam desenvolver melhor o seu trabalho. Mas fora isso, há discussões paralelas importantíssimas. O Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas trouxe aqui para Alagoas a realização do Fórum Nacional de Bibliotecas, onde se discute como funcionar melhor, como estruturar as bibliotecas, como gerar informações, como ajudar a zerar o número de cidades sem bibliotecas, como trabalhar melhor na formação dos bibliotecários e dos mediadores de leitura. O que foi discutido em Maceió certamente refletirá nas su-

as atividades no dia a dia, nos 12 meses seguintes, como também na geração e gestação de novas políticas públicas. E isso é essencial para ajudar a enfrentar essa grande demanda que o País tem. A participação de profissionais de Alagoas foi grande?

Eu converso muito com os bibliotecários de Alagoas. Como eu milito há muitos anos na área e uso muito as mídias sociais, tanto no blog, quanto no Twitter e no Facebook, durante as últimas semanas vários bibliotecários de Alagoas entraram em contato comigo, entusiasmados, dizendo que iriam participar, que me encontrariam aqui. Deu para perceber, já nas semanas que antecederam a minha vinda, o entusiasmo dos bibliotecários de Alagoas em participar ativamente de momentos como esse. E isso é algo de muito positivo.

De quanto a Fundação Biblioteca Nacional dispõe para investir nos programas de incentivo à leitura?

Temos uma combinação de investimentos que, esse ano, deve chegar a algo em torno de R$ 60 milhões. É o volume a ser investido em 2011. Em que veremos a Biblioteca Nacional concentrar esforços num futuro próximo?

Em 2013 o Brasil será o país homenageado na Feira de Frankfurt, a maior feira do livro do mundo. Para tanto, lançaremos a partir de 2012 bolsas de tradução para diversas línguas, com o objetivo de levar a literatura brasileira para o maior público possível. Temos a ideia de que a melhor forma de marcar a presença de um país no exterior é através da sua cultura. Os Estados Unidos, com seu cinema, são um grande exemplo disso.


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