Recantos da Terra - novembro 2017

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POLUIÇÃO

Replan é multada em R$ 1 mi por poluir ar da região e suspeita de descartar fenol no Atibaia Cetesb aplica penalidade milionária após refinaria despejar toneladas de poluentes no ar no dia 1º deste mês; Sindipetro-SP denuncia despejo de efluentes no Rio Atibaia

Parceria quer shopping das flores em Americana

Limpeza de rios é investimento

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OPINIÃO

Quem corta árvores, colhe tempestade *Pedro Salvador

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ragédias naturais até pouco tempo não faziam parte da rotina das cidades brasileiras. Nos últimos anos, no entanto, são cada vez mais frequentes cenas de destruição causadas por tempestades, vendavais, chuvas de granizo, tornados e tufões. Esses desastres não ocorrem por acaso, como um raio em dia de céu azul, mas são consequências do processo predatório, da utilização dos recursos naturais até sua exaustão, do desmatamento, da queima de combustíveis fósseis e da emissão de-

senfreada de gases que levam ao aquecimento global, grande vilão do desequilíbrio ambiental. As reservas de mata nativa e as poucas áreas verdes urbanas, que outrora serviam como barreiras de proteção natural, foram devastadas em um processo de desenvolvimento desordenado e movido unicamente pelo lucro. O impacto dos vendavais em áreas habitadas, por sua vez, resulta cada dia mais em perda de vidas humanas. Relatório divulgado pelo governo dos Estados Unidos afirma que as tragédias naturais já custaram US$ 350 bilhões de dólares aos americanos. Assim, medidas urgentes precisam ser tomadas para minimizar

efeitos climáticos negativos. Ao poder público cabe planejar o desenvolvimento urbano e rural, propor políticas de preservação e recuperação do meio ambiente, retomar o plantio de árvores e impedir a destruição das poucas áreas verdes existentes. Americana é uma cidade que carece de recursos naturais, pois seus cursos d´águas estão poluídos, suas ruas possuem escassa arborização e as reservas de matas são raríssimas. Precisamos cumprir nosso dever e cobrar o poder público. Gestos simples, como arborizar nossas casas, a cidade e seu entorno, podem ser o primeiro passo. Mãos a obra.

*Pedro Salvador é ex-vereador

EXPEDIENTE Edição e Texto: Paulo José San Martin e Anderson Barbosa | Diagramação: Skanner Projetos Gráficos | Redação: paulo.san@jornalrecantosdaterra.com.br - anderson@jornalrecantosdaterra.com.br Gestor de Anúncios: Geraldo Martins - (19) 9.8268.9110 - ge@jornalrecantosdaterra.com.br | Rua Indaiá, 411, Jd. Ipiranga Americana-SP - Fone: (19) 3601.8996

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Paisagismo

GNU & Zanetti prepara shopping das flores em Americana Estudos de espécies de orquídeas e bonsai são desenvolvidos em estufa e alta tecnologia

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GNU & Zanetti Paisagismo mais uma vez inova e lança uma estufa de orquídeas e bonsai cujo objetivo é criar o primeiro shopping das flores de Americana, aos moldes do já existente em Holambra. Segundo os idealizadores do projeto, em um curto espaço de tempo, os consumidores do município contarão com espécies jamais produzidas na cidade, a exemplo das palmeiras imperiais gigantes. “Nossa intenção é realmente trazer algo inédito para a cidade. Criar uma espécie de shopping das flores para que os consumidores não precisem mais ir para Holambra”, afirma Fagner Zanetti, proprietário da GNU & Zanetti. De acordo com ele, os estudos são realizados em uma área de 3 mil metros quadrados, dos quais 500 metros quadrados são ocupados pela estufa, equipada com tecnolo-

gia de ponta e irrigação automática. Além das plantas, explica Zanetti, o local vai contar com um lago povoado por carpas. “Nossa intenção é disponibilizar às pessoas diversos itens que integram o paisagismo. Desde espécies das mais variadas árvores, plantas, peixes e também vasos”, explica. Outra novidade do espaço será o curso para jardineiro. REPOVOAMENTO Parceiro do projeto, o biomédico e diretor do CAO (Círculo Americanense de Orquidófilos), Marcelo Luiz da Silva, explica que a instalação da estufa serve para a preparação das espécies e, posteriormente, o grupo pensa em realizar atividades de repovoamento das espécies no meio ambiente. “Em um primeiro momento a ideia é fazer a preparação para depois pensarmos em repovoamento”, explica Silva.

Ocorrências

Meio Ambiente divulga balanço das ações do GPA em outubro A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, por meio da Unidade de Fiscalização, Licenciamento Ambiental e Projetos, divulgou o balanço das ações desenvolvidas pelo setor do Grupo de Proteção Ambiental (GPA) no mês de outubro, em parceria com a Gama (Guarda Municipal de Americana). No total, foram 370 ocorrências, 20 advertências por queima ao ar livre em imóveis, nove autuações por poluição sonora e aplicação de 18 Autos de Infração de Penalidade de Multas. “Essas autuações são referentes a descartes irregulares de resíduos, poda

irregular, supressão de vegetação arbórea, atividades funcionando sem licenciamento ambiental e queimada em terrenos”, explicou o subsecretário da unidade, Cícero Aparecido Moura de Jesus. O secretário municipal de Meio Ambiente, Odair Dias, ressaltou que as ações fazem parte da Política Municipal de Meio Ambiente. “Nosso principal objetivo é a sensibilização e conscientização da população, com foco na necessidade da manutenção do equilíbrio ambiental do município e proteção à saúde da população”, afirmou.

Orquídeas serão uma das atrações do shopping das flores


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IRRESPONSABILIDADE

Replan é multada em R$ 1 mi por despejar toneladas de poluentes no ar Sindipetro-SP diz que situação grave e caótica escancara a incompetência da gerência e a ineficiência do estudo de Organização e Métodos da Petrobrás

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Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) multou a Petrobrás em R$ 1 milhão por conta do acidente ocorrido no início do mês na maior refinaria da estatal, a Replan, de Paulínia, que lançou gases poluentes na atmosfera. A Cetesb determinou ainda que a refinaria tome as providências necessárias para impedir novas emissões de poluentes no ar. A fumaça negra produzida na ocasião pôde ser vista a quilômetros de distância da refinaria, inclusive em outras cidades da região. “Este fato gerou a emissão intensa de poluentes (material particulado e fumaça preta) na atmosfera, proveniente da chaminé da unidade de craqueamento catalítico”, afirma a Cetesb, em nota emitida um dia depois do acidente, ocorrido em 1º de novembro. Ainda de acordo com a Cetesb, as emissões de gases poluentes na atmosfera permaneceram até às 23h30 do mesmo dia, “quando houve a regularização do suprimento de vapor para esses equipamentos”. O Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP) apurou que a falta de ar comprimido, responsável pela operação de muitos equipamentos, ocasionou o descontrole da unidade de craqueamento (processo de quebra das cadeias de carbono do petróleo). Isso gerou uma perda de referencial no craqueamento e causou um processo chamado reversão, que faz com que a carga do reator desça, ao invés de subir. GÁS TÓXICO O Unificado explica ainda que a nuvem gigante de fumaça era formada pela mistura de gasolina, GLP (gás liquefeito de petróleo) e óleo diesel vaporizados, com alto grau explosivo e de contaminação do ar e do solo. Se-

gundo o Sindipetro, as válvulas controladoras hidráulicas não fecharam e todo o volume de gás e óleo vaporizados saiu na chaminé da caldeira e foi lançado na atmosfera em forma de uma nuvem escura. “Essa nuvem é muito perigosa e caso encontrasse uma fonte de ignição poderia haver uma grande explosão”, declarou o diretor do sindicato, Gustavo Marsaioli. A entidade afirma ainda que o alarme para a evacuação das unidades tocou 20 minutos depois que a nuvem escura foi detectada no ar. “Os operadores subiam e desciam da torre no meio da fumaça, sem equipamentos de proteção adequados, se tivesse havido um raio ou qualquer faísca teríamos um acidente de grandes proporções e agora estaríamos contando corpos”, desabafou um operador, que preferiu não se identificar. EFETIVO REDUZIDO Segundo o sindicato, houve incompetência e ingerência por parte da Replan em função da ineficiência do estudo de Organização e Métodos (O&M) organizado pela Petrobrás, que implementou a redução do efetivo na Refinaria de Paulínia e também em várias outras unidades do país. “A falta de efetivo amplia demais a dificuldade de controlar uma emergência e de ter sucesso nesse controle. O incidente de hoje é fruto da irresponsabilidade gerencial da Petrobrás”, afirmou o diretor Bob Ragusa. Parecer do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, anunciado em outubro, derrubou a liminar do Unificado que impedia a redução do efetivo mínimo operacional e a refinaria retomou o quadro que havia implementado em junho, quando eliminou nove postos de trabalho por turno, somando mais de 54 cortes. O

Fumaça negra produzida pela Replans pôde ser vista de cidades vizinhas

sindicato informa que entrou com recurso para tentar reverter a situação. Em nota, a Petrobrás informou que não havia risco de desabastecimento do mercado por conta da parada da unidade e que a operação na refinaria foi regularizada de forma gradativamente. O sindicato informou que demorou oito dias para tudo voltar ao normal. APOIO Parlamentares da região registraram apoio ao sindicato contra os cortes no efetivo realizados pela Replan. O vereador Pedro Tourinho (PT), de Campinas, apresentou uma moção de apoio ao Unificado pela luta contra

a redução do efetivo mínimo e o corte de verbas para a manutenção da Replan e também pela denúncia que o Sindicato fez à Cetesb Paulínia sobre a contaminação de fenol no Rio Atibaia (ler reportagem na página 5). O também vereador petista Willian Souza, de Sumaré, apresentou em sessão ordinária realizada no mês passado uma moção de apoio ao Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo, Regional Campinas, pelas lutas empreendidas em defesa da categoria e da Petrobrás. Dirigentes do Unificado acompanharam a sessão solene. As duas proposições foram aprovadas por unanimidade.


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Salmoura

Sindipetro denuncia Replan por contaminação do Atibaia Efluente da refinaria deságua no manancial onde foi detectado fenol, próximo ao ponto de captação de Sumaré

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responsabilidade pela contaminação das águas do Rio Atibaia por fenol, constatado em julho pela BRK Ambiental, empresa responsável pelos serviços de saneamento em Sumaré, pode ter sido da Replan (Refinaria de Paulínia), segundo apuração do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP). A substância, com propriedades cancerígenas, como explica especialista ouvida pelo Recantos da Terra (ler matéria abaixo), estaria sendo lançada pela refinaria em uma lagoa de estabilização de efluentes dentro da própria unidade, que deságua no Atibaia. A Cetesb foi notificada pelo sindicato e investiga a responsabilidade da contaminação do rio. “A lagoa deveria receber o efluente já tratado, antes de desaguar no Rio Atibaia. No entanto, pelo que averiguamos até o momento, o tratamento não está sendo realizado como deveria. Existe uma espécie de salmoura nas águas da represa. Por isso é necessária uma investigação aprofundada da Cetesb”, explica o diretor do Unificado Júlio Cesar Ferreira. Segundo ele, as águas contaminadas da refinaria não estão passando por tratamento algum. “As instruções atuais fazem com que a corrente de salmoura seja enviada para o sistema de águas contaminadas na ordem de TQ4116/17 = 175m³ e TQ4112/14 = 350m³ por dia”, explica. No mês de julho, em função ao aparecimento de fenol no ponto de captação de água de Sumaré, a BRK Ambiental interrompeu o abastecimento por nove horas, o que prejudicou cerca de 70% dos moradores. A Cetesb foi acionada para colher amostras da água do rio e emitir um laudo. “Essa grande concentração de sais, que forma essa salmoura na lagoa, nos foi relatada por trabalhadores. Trata-se de algo muito grave, caso seja constatado, já que poderia causar problemas sérios à saúde da população”, diz o petroleiro. A direção do Unificado solicitou à Cetesb, por meio do ofício, que sejam tomadas as providências necessárias “para que a Replan cesse o descarte de salmoura sem tratamento no Rio Atibaia e a atual gestão da empresa cumpra com os procedimentos determinados pela legislação, a fim de garantir a preservação ambiental e a segurança da população em seu entorno”. Por meio de nota, a Cesteb informou que nas análises realizadas na água em julho, logo após a constatação de fenol no Atibaia, foram quantificadas concentrações de fenóis totais e fenóis clorados e também dos chamados fitoplâncton (cianobactérias, clorofíceas, diatomáceas e fitoflagelados). Ainda de acordo com os resultados das análises realizadas, todos os parâmetros avaliados apresentaram concentrações em conformidade com os padrões de qualidade das águas de rios de classe dois, estabelecidos na Resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) 357 de 2005 e suas alterações. A Petrobrás informou que ainda não foi contatada pela Cetesb sobre os riscos apontados pelo Sindipetro. Por meio de nota garantiu que realiza o tratamento (prévio) de seus efluentes (antes da descarga no rio), conforme a legislação ambiental vigente, atendendo a todos os parâmetros estabelecidos.

Fenol foi detectado no Rio Atibaia próximo à capitação de Sumaré

Saúde em risco

Fenol é substância cancerígena, afirma especialista A especialista em saneamento com mestrado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luciana Vechi de Carvalho, afirma que o fenol é altamente tóxico ao meio ambiente e possui elevado potencial cancerígeno. O poluente, segundo a especialista, está presente em efluentes lançados por indústrias, sobretudo, das áreas de química, petroquímica e de destilarias de álcool. “Há nos efluentes da RMC (Região Metropolitana de Campinas) uma quantidade importante de fenol. Sumaré, que capta a água do Rio Atibaia, sofre bastante com isso. E quanto maior a quantidade de fenol lançada nos rios, maior será a concentração acumulada nos sedimentos. Essa acumulação pode fazer com que o fenol seja transmitido na cadeia alimentar”, alerta Luciana. Segundo ela, políticas públicas direcionadas à construção de redes para a coleta e o tratamento de esgoto vêm avançando no país, em especial na RMC, e isso foi importante para a diminuição da quantidade de fenol nos mananciais. No entanto, de acordo com a especialista, problemas pontuais ainda são registrados na região, como no caso de Sumaré. “Um bom indicador é a cidade de Campinas, que é o maior município desta região metropolitana. Há 10 anos Campinas não tratava 10% do esgoto coletado. E hoje a cidade já trata aproximadamente 100%. A Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento) tem um corpo técnico muito bom. Mas, por outro lado, estamos sempre correndo atrás do prejuízo, principalmente quanto à utilização de adequados indicadores de qualidade ambiental”, explica.


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Opinião

Despoluir rios é investimento e não despesa! *Procópio Gomes de Oliveira Netto

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o final de novembro será publicado Baía de Guanabara: Futuros, da editora Andrea Jakobsson. O livro traça um histórico deste cartão postal carioca e uma visão sobre qual será o futuro da Baía frente à poluição desenfreada que a assola — situação semelhante à dos rios paulistanos Tietê e o Pinheiros. Pensar neste assunto é refletir sobre como é possível atingirmos a despoluição necessária de nossos rios e quais barreiras devem ser superadas. A resposta não é simples, mas certamente não envolve somente o saneamento básico, aquele que infelizmente só ouvimos falar quando uma enchente traz o esgoto para a porta de casa ou a falta d’água chega à torneira. As referências de evolução do saneamento, quando divulgadas, vêm em porcentagens, o que nos dá a errada impressão de que, ao atingir o numeral cabalístico 100 chegaremos lá — os rios ficarão limpos, certo? Errado! A poluição que vemos nos rios, com toda sorte de sujeira grosseira, garrafas PET, sacos plásticos, pneus, sofás e até animais mortos; o característico odor fétido, a cor escura e opaca, além das doenças de transmissão hídrica, imperceptíveis a olho nu e não menos nocivas à população, não têm a mesma origem e, portanto, a mesma solução e abordagem. Infelizmente, só na bacia do rio Pinheiros, em São Paulo, ainda existem cerca de 850 favelas, ou aglomerados subnormais segundo a nomenclatura do IBGE. Com as dificuldades de acesso à coleta de esgoto e resíduos sólidos, ação da gravidade faz com que, o que deveria ser descartado, chegue aos rios, que são a cota mais baixa da bacia. Estes componentes literalmente matam nossos rios, pois a ação das bactérias na decomposição da matéria orgânica consome o oxigênio

da água. E impede o ciclo da macrovida aquática (peixes, anfíbios, moluscos, répteis e até mamíferos), restando apenas a microvida com superpopulação de fungos e baterias. Estes atingem quantidades milhões de vezes maiores que o aceitável, em total desequilíbrio ecológico. Geram como contrapartida a poluição da atmosfera com gases do efeito estufa, uma vez que a poluição biodegradável, na forma de carbono, segue potencializando os efeitos do aquecimento global. Este ciclo vicioso não acaba bem. Poluímos nossos rios, perdemos a convivência com a natureza e as crianças que crescem nas cidades não conhecem um rio limpo que esteja a menos de centenas de quilômetros de casa. A natureza faz sua parte e digere essa poluição, enviando-a para a atmosfera, que aquece e nos devolve chuvas isoladas e muito intensas, combinadas a períodos longos de muita estiagem. A solução seria procurar água mais longe? Não. Temos que fazer a lição de casa: sujou, tem que limpar; se quiser água limpa, não suje a que você já tem. Não nos falta água, pois não vivemos em um deserto como Israel. Não precisamos dessalinizar água do mar, o que falta é despoluir as águas que já temos. Podemos dividir a poluição dos rios em duas origens: o esgoto e a poluição difusa. A primeira está nas porcentagens de que ouvimos falar. Já a poluição difusa é aquela que não entra nas redes de esgoto e segue para as tubulações de drenagens, bueiros, galerias, córregos e rios. Em muitos casos, representa mais de um terço daquela poluição com a qual ainda somos obrigados a conviver, quase como na idade média. Os carros tendem a se tornar totalmente elétricos em alguns anos e outras grandes mudanças têm ocorrido durante apenas uma geração. Ainda assim, a poluição não sai de nossas vidas. Os métodos convencionais de coleta, afasta-

mento e tratamento de esgoto são insuficientes. Isso se torna evidente especialmente em cidades como São Paulo, que não possuem rios muito caudalosos como o Tâmisa, em Londres, e o Sena em Paris, com enormes capacidades de diluir poluentes. O poder público, em todas as esferas, deve enxergar a despoluição dos rios como investimento, e não como despesa. Imagine a Baía de Guanabara ou os rios Tietê e Pinheiros minimamente despoluídos, permitindo lazer, navegação, redução da emissão dos gases de efeito estufa, valorização imobiliária e turismo. Quanto potencializariam a economia local? Faríamos um bem a nós mesmos e ao planeta. As soluções técnicas de engenharia já existem há muitos anos, com casos de sucesso no Parque Ibirapuera, na represa Guarapiranga, na praia do Flamengo (Baía de Guanabara), nas Lagoas de Jacarepaguá ou na Lagoa da Pampulha, contribuindo para a recuperação destes mananciais. É possível tratar os córregos poluídos que fluem para nossos rios, através das chamadas Unidades de Tratamento de Rios (UTR’s). Elas são capazes de remover o lixo urbano e os sedimentos

que são carreados pelo fundo do rio, limpando as águas que passam a fluir com oxigênio, permitindo o retorno da vida aos rios. Reverter esse quadro começa pela necessária mobilização da sociedade civil. Cada indivíduo deve exigir que sua casa tenha rede de esgoto, cuidar para que seu lixo não seja jogado na rua, cobrar o poder público para que priorize a solução deste problema. A dignidade, o bem-estar, a saúde e a preservação do meio ambiente dependem disso.

* Procópio Gomes de Oliveira Netto é engenheiro civil pela Poli-USP, inventor e especialista em tratamento de água, esgoto e despoluição de corpos hídricos


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União de forças

Força-Tarefa quer barrar aterro municipal no Pós-Represa Elite polícia de Americana foi mobilizada pelo Fórum da Cidadania que é contrário ao aterro

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ma verdadeira força-tarefa está mobilizada contra o aterro municipal em instalação na região do Pós-Represa, em Americana. Além de parte dos vereadores locais, as Câmaras de Paulínia, Cosmópolis e o Parlamento Metropolitano já se mobilizam contra o empreendimento. O FDCA (Fórum de Desenvolvimento e Cidadania de Americana) – entidade que engloba 11 entidades da sociedade civil do município – elaborou um dossiê detalhado com supostas falhas na emissão de licenças para a construção do aterro, cuja responsabilidade é da empresa Engep de Limeira, o qual foi entregue a diversas autoridades da região. O dossiê, que conta com detalhados estudos técnicos apontando irregularidades, também foi entregue ao MP (Ministério Público) de Americana, Gaema (Grupo de Atuação Espe-

cial de Defesa do Meio Ambiente) de Piracicaba e Campinas. Outro fator importante é que e elite política de Americana também foi mobilizada. O presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), Cauê Macris (PSDB) encaminhou o dossiê à Cestesb de São Paulo para análise. “Toda a elite política da cidade se mostra contrária à instalação do aterro. Falamos também o deputado Chico Sardelli (PV), que se posicionou pessoalmente contra, mas disse que o assunto deve ser amplamente discutido”, afirma o porta voz do FDCA, Danilo Luchiari. Segundo o promotor do Gaema de Piracicaba, Ivan Carneiro Castanheiro, os documentos estão em fase de análise e já foi solicitado um parecer do Caex (Centro de Apoio Operacional de Execução), órgão que será responsável em apontar regularidades ou não do empreendimento ao Gaema. A mani-

festação deve ser concluída ainda este ano. “Existem apontamentos graves no dossiê que precisam ser analisados. Um deles é o impacto regional que o empreendimento poderá causar e não teria sido analisado no EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental)”, afirma o promotor. CÔMODO O ex-deputado estadual Antonio Mentor, um dos primeiros políticos a se mobilizar contra a instalação

do aterro com a organização de um abaixo assinado, além de uma mobilização no Parlamento Metropolitano, diz ser importante a atuação do Gaema e da sociedade civil, mas afirma que existe certa morosidade dos deputados para se posicionarem em relação ao que ele classifica como “lixão”. “É cômodo não se posicionar. Os deputados deveriam estar ao lado da população que se mostrou contrária ao aterro na audiência pública realizada na Câmara em março”, argumenta Mentor.



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