RECANTOS DA TERRA
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Parque Ecológico: o passeio será pago? Prefeitura faz pesquisa e abre polêmica sobre cobrança de entrada no Parque
Esgoto de Americana é lançado in natura na Salto Grande Expedição flagra altos índices de poluição em região de chácaras e condomínios. Ao mesmo tempo, a vida está de volta no mini pantanal
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Outubro de 2015 | Americana-SP
Limpeza
Começa remoção do esgoto da Gruta Dainese. ONG pede plano diretor PAC 2 vai investir R$ 26 milhões: “Poderemos voltar a nos banhar nas águas da gruta Anderson Barbosa
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este mês de outubro foi dado o primeiro passo para a recuperação da Gruta Dainese, em Americana. A empresa Construtora Elevação, de Curitiba, iniciou as obras esgotamento sanitário no local cuja finalidade é acabar com o despejo de esgoto nas nascentes da reserva ambiental. Com investimentos da ordem de R$ 26 milhões provenientes do PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal, o esgoto será destinado à ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) da Balsa, a qual também será construída com recursos do PAC. Na esteira das obras, a ONG “Amigos da Gruta” discute a implantação do plano diretor da reserva. O convênio foi firmado entre o DAE (Departamento de Água e Esgoto) de Americana e o Ministério das Cidades.
A empresa curitibana foi a vencedora do processo licitatório e será a responsável pela execução do projeto. Com a construção da ETE, cujo prazo não foi determinado, o esgoto despejado no local por diversos bairros da cidade será remanejado à estação. “Creio que com a obra poderemos voltar a nos banhar nas águas da gruta, que hoje sofre com o despejo de esgoto”, afirma o presidente da ONG, Eduardo Coienca. Com as obras concluídas, Americana deixará de pagar a Santa Bárbara d’Oeste pelo tratamento de esgoto de alguns bairros que ficam na divisa entre as cidades, acordo firmado em 2008. O principal objetivo da “Amigos da Gruta” é colocar em prática o plano diretor do local cujo decreto data de 2006. A ideia do grupo é realizar atividades de educação ambiental, criar uma brigada anti-incêndio para a gruta e organizar ações ecológicas. “Nosso estatuto já
está pronto e ainda este mês vamos realizar um ato para a formalização oficial da ONG”, diz Coienca.
Fábio Ortolano
Sardelli pede incentivos O deputado estadual Chico Sardelli (PV) recebeu no mês passado em seu escritório político, em Americana, a visita do ministro Aldo Rebelo. Na ocasião Rebelo respondia pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. O parlamentar solicitou incentivos para a revitalização da Gruta Dainese e da Represa de Salto Grande. Em audiência pública promovida pela Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento da Assembleia Legislativa para debater o Orçamento estadual de 2016, realizada dia 2 de outubro, na Câmara de Nova Odessa, Sardelli também destacou a indicação de emendas ao orçamento para revitalização da Gruta Dainese e da Praia dos Namorados.
EXPEDIENTE Edição e Texto: Paulo San Martin e Anderson Barbosa | Diagramação: Skanner Projetos Gráficos | Redação: paulo.sanmartin@bol.com.br - anderjornal@bol.com.br Gestor de Anúncios: Geraldo Martins - (19) 9.8178.8144 / 9.8268.9110 - recantosge@yahoo.com.br | Rua Indaiá, 411, Jd. Ipiranga Americana-SP - Fone: (19) 3601.8996
Outubro de 2015 | Americana-SP
RECANTOS DA TERRA
Polêmica
Um passeio no parque. Cobrar ou não cobrar? Prefeitura inicia pesquisa para saber a opinião da população Anderson Barbosa
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ão há mais vagas no estacionamento. As ruas no entorno do Parque Ecológico Municipal de Americana “Cid Almeida Franco” estão tomadas de pessoas e ambulantes oferecem de tudo: de balões à tapioca. É segunda-feira, 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Feriado nacional. Além disso, é Dia das Crianças e também aniversário de 31 anos do parque. Faz um clima ameno pela manhã e é difícil caminhar pelas ruas estreitas do local sem esbarrar com a multidão de crianças distraídas com os macacos, cobras, aves, tigres e o novo leão, vindo recentemente de São Vicente. Mas, aos poucos, as pessoas se deparam com a triste situação do parque – alguns locais estão fechados para visitação –, fruto do abandono e da crise financeira na qual Americana se afundou nos últimos anos. Agora, a cidade convive com um dilema: cobrar ou não cobrar a entrada no Parque Ecológico? Para responder a essa questão, a Secretaria de Meio Ambiente iniciou este mês uma pesquisa para saber qual a opinião dos frequentadores. O questionário, entre outras indagações, pergunta se o visitante concorda em pagar entre R$ 1 e R$ 2 para entrar no local. A tentativa é fazer com que o parque torne-se autossuficiente e banque seus próprios custos – hoje em torno de R$ 90 mil mensais. 524 MIL VISITANTES A procedência variada dos visitantes, principalmente nos finais de semana e feriados, é notada pelas placas dos carros estacionados. Limeira, Sumaré,
Parque Ecológico de Americana recebe grande quantidade de visitantes de cidades vizinhas
Hortolândia, São Pedro, Santa Bárbara d’Oeste e Piracicaba são algumas das cidades visualizadas em uma rápida checagem. A maioria, claro, é de Americana. O fluxo de visitantes por ano no local já chegou a 524 mil pessoas em 2013. No ano passado o número caiu para 464 mil, o menor dos últimos cinco anos. “O parque ficou abandonado, alguns animais morreram e isso influiu diretamente no número de visitantes”, explica o secretário de Meio Ambiente, Adriano Camargo, enquanto distribui saquinhos de pipoca para as crianças na entrada o parque. Além da possível cobrança, tramita na Câmara um projeto de Lei de autoria do Executivo que prevê a implantação de um fundo específico para o Parque. Caso aprovado, pessoas físicas, empresas e ONGs poderão fazer doações ao parque, assim como os deputados poderão destinar verbas por meio de emendas parlamentes. “Vamos fazer
tudo dentro da Lei, com a maior transparência possível”, afirma Camargo. O texto prevê a formação de uma comissão que vai acompanhar de perto a destinação do dinheiro arrecado pelo fundo. Outra iniciativa é destinar metade do dinheiro arrecadado com a venda de óleo de cozinha recolhido pela Coleta Seletiva ao Parque Ecológico, quantia que pode chegar a R$ 30 mil por ano.
03 VISITANTES A cobrança para entrar no parque está longe de ser unanimidade. Para a estudante Regiane Marques, 23, a cobrança vai inibir os visitantes com menos poder aquisitivo. “Isso vai afastar do parque os pobres”, dispara. Para o professor Gilberto Alfredo Galeano, 46, a cobrança vai à contramão das políticas públicas modernas. “É preciso deixar os lugares públicos, públicos de verdade. Cobrar entrada seria um erro. As pessoas vão se trancar em shoppings”, explica ele. Já o comerciante Amarildo Silveira, 30, afirma que concorda com a cobrança. “Olha quantidade de gente aqui hoje (12 de outubro). Seria bom para o parque”. A dona de casa Roberta Fioreno, 52, também está de acordo com a cobrança. “O valor deve ser pequeno, simbólico, para que não faça falta para quem paga”, diz. O presidente da Câmara, Pedro Peol (PV), diz que a discussão é válida e sempre é preciso ouvir a população. “É uma boa iniciativa ouvir a população, principalmente os visitantes, antes de tomar uma decisão”, afirma o parlamentar. Para o líder do PT no Legislativo, Moacir Romero, é importante a prefeitura buscar alternativas diante da grave crise financeira do município. “Existem diversos parques no Brasil que cobram entrada. Alguns não são baratos. Acho interessante buscar alternativas. A questão é saber como cobrar”, questiona o vereador. Principal voz da oposição na Câmara, o vereador Valdecir Duzzi (SD), é uma ferrenha voz contrária à cobrança de entrada. “Em nenhum mandato os prefeitos sequer levantaram essa questão. Acho um retrocesso. O prefeito quer privatizar o local? O Parque Ecológico deve ser administrado com dinheiro público e ter a entrada gratuita”, defende.
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Outubro de 2015 | Americana-SP
Denúncia
O esgoto também
é nosso
Condomínios e chácaras da Represa de Salto Grande são suspeitos de despejar esgoto in natura no reservatório; 85 imóveis já foram notificados
Em alguns pontos da expedição de coleta foram encontradas grandes volumes de esgoto lançado in natura nas águas da represa
Anderson Barbosa
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xiste uma máxima – repetida por décadas como mantra por autoridades e ambientalistas – de que a poluição da Represa de Salto Grande é causada somente pelo esgoto descartado por Campinas e Paulínia no Rio Atibaia. No entanto, trabalho elaborado por pesquisadores do curso de Engenharia Ambiental do Unisal (Centro Salesiano Universitário de São Paulo) sobre a qualidade da água do reservatório e um levantamento inédito da Secretaria de Meio Ambiente de Americana sobre os poluidores do local colocam um decisivo ponto de interrogação em tal premissa.
Os dois trabalhos descobriram que o esgoto que polui a represa também é nosso. Ele vem dos dejetos americanenses expelidos por centenas de famílias residentes em chácaras e condomínios instalados ao longo das margens da represa. São 254 imóveis que tem como pano de fundo a bela paisagem do reservatório. Destes, 85 já foram notificados pela Secretaria de Meio Ambiente em grande parte por suspeita de despejo irregular de esgoto in natura na Salto Grande. Além da questão do esgoto, outra ação irregular, segundo os estudos, é a invasão de APPs (Áreas de Proteção Permanentes) localizadas no entorno da represa. “Não conseguimos terminar o re-
latório inteiro ainda, mas o número de notificações já é grande”, afirma o secretário da pasta, Adriano Camargo. Ao final do trabalho – realizado in loco com o auxílio de embarcações – a secretaria vai elaborar um relatório com todos os dados conclusivos do levantamento realizado, ainda sem prazo para ser concluído. Chácaras e condomínios que não respeitam às normas ambientais vão receber uma notificação de Licença de Operação de Estação de Tratamento e podem ser multados pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). “Caso seja constatado que a estação de tratamento não funciona ou está com defeito cabe multa, emitida pela Cetesb, ao proprietário do
imóvel. O mesmo vai acontecer com chácaras que despejam esgoto na represa”, explica Camargo. O descarte irregular de efluentes na represa – em grande parte matéria orgânica – é confirmado pelos dados que compõe o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) da estudante de Engenharia Ambiental da Unisal, Juliana Domiciano, sob orientação da professora Brigida Queiroz. A metodologia do trabalho, que está em fase final, consiste na coleta de água em três pontos da represa. O primeiro é na região do mini pantanal, em Paulínia, o segundo na região do Iate de Campinas (apesar do nome, fica em Americana) e o terceiro no Iate Clube de Americana.
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Navegação mostra uma represa viva Recantos da Terra acompanhou a última coleta de água realizada na represa, cujos dados detalhados serão divulgados ao final do TCC. Os dados científicos confirmam o que olho humano testemunha durante três horas de navegação pela Salto Grande. É segunda-feira, 21setembro, antevéspera de primavera. O calendário nos mostra que ainda é inverno, mas o sol escaldante fez a temperatura ultrapassar os 30 graus. Por volta das 14 horas nos preparamos para o embarque ao lado da sede do Barco Escola da Natureza rumo aos pontos de captação de água para análise. O piloteiro da embarcação é o presidente do Grude (Grupo de Defesa Ecológica da Bacia do Piracicaba), Evandro Rogério Santos, com longa experiência de navegação pela represa. “Piloto barco desde os 14 anos”, diz.
A professora Brígida, orientadora do trabalho de conclusão de curso, durante a expedição na represa
MINI PANTANAL Em menos de 15 minutos chegamos ao mini pantanal. A fauna é exuberante apesar do descaso com a represa. Garças, azulões, gansos e pequenas aves dividem espaço com garrafas pets, plástico e todo o tipo de lixo humano, nas dezenas de ilhotas que se formam ao longo do mini pantanal. “Acho que a qualidade da água teve uma melhora. Nos últimos anos foram encontradas espécies de jacarés habitando o mini pantanal”, diz Santos em tom esperançoso. Ele explica que ratos do banhado, ca-
pivaras e grandes peixes, como pequenos pintados, dourados e jaús também foram vistos ou capturados por pescadores esportivos na represa. Algumas espécies de cobras também são vistas nas margens e ilhotas. “Há dez anos, por exemplo, uma grande quantidade de lixo estaria depositada na Represa de Salto Grande em função das fortes chuvas do final de setembro. Hoje, sem sombra de dúvidas, a quantidade de lixo doméstico diminuiu 80%”, faz coro o presidente do Barco Escola da Natureza, João Carlos Pinto, que atribui a melhora aos trabalhos de educação ambiental aplicados atualmente nas instituições de ensino públicas e privadas. Brigida parece empolgada com o trabalho. Manuseia os recipientes que vão comportar a água e os repassa para Juliana. A estudante é responsável por encher os compartimentos com a água da Salto Grande. Ela veste uma luva de borracha e afunda o recipiente na água. O resultado, apesar da aparente melhora da fauna, ainda está longe do ideal. PRESENÇA DE ESGOTO “O mini pantanal está com muitos coliformes totais e Escherichia coli. Simplificando isso indica a presença de esgoto, pois a última é uma bactéria que habita o intestino de animais de sangue quente, como os humanos. Por isso essa bactéria é indicador da contaminação da água por esgoto doméstico”, afirma Brigida. u
06 u A Sanasa (Sociedade de Abasteci-
mento de Água e Saneamento S/A), responsável pelo tratamento de Esgoto em Campinas, informa que 88% do esgoto da cidade é tratado antes se ser descartado no Atibaia. A Sanasa informa ainda que a meta é tratar 100% do esgoto até 2020. Em uma cidade com as dimensões de uma metrópole, como é o caso de Campinas, os 12% de esgoto não tratado continuam a fazer um estrago considerável na Salto Grande. Paulínia inaugurou sua estação de tratamento de esgoto em 2007, a qual, segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), trata 100% do esgoto produzido pelo município. A construção da estação faz parte de um TCAC (Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta) firmado em 2001 entre a Sabesp, a prefeitura de Paulínia e o Ministério Público de Americana, responsável por um inquérito que responsabilizou Paulínia por parte do esgoto despejado no Rio Atibaia e, consequentemente, na represa. ESGOTO FERVILHANTE O ponto número dois escolhido na pesquisa foi o que mais assustou naquela tarde do dia 21 de setembro. Ao fundo do condomínio Iate de Campinas pelo menos 500 metros da represa estavam tomados por matéria orgânica. A embarcação se assemelha a uma marmita em banho-maria aquecida por fezes e urina fervilhantes. Não foi possível saber de onde vem o esgoto, mas a região abriga, nas proximidades, uma ETE
RECANTOS DA TERRA (Estações de Tratamento de Esgoto) do DAE (Departamento de Água e Esgoto) de Americana, que pode ter apresentado problemas e vazado esgoto in natura naquele ponto. A autarquia, inclusive, já foi multada pelo Meio Ambiente. A coloração da superfície da água é verde. O cheiro é insuportável. “Neste ponto a água está bastante alcalina talvez devido à presença de muitas algas indicando a interferência das cianobactérias neste parâmetro”, disse a professora Brigida. Ela explicou que o mesmo pode ser avaliado no ponto três, que fica ao fundo do Iate Clube de Americana, local com forte presença de matéria orgânica na Salto Grande. O síndico do Iate de Campinas, Julio Sandroni, explica que o condomínio -que conta com 53 residências - possui estação de tratamento há 30 anos. Segundo ele, o condomínio faz mensalmente analise laboratorial da água, com a empresa CSL Laboratório de Análises Ambientais, e a qualidade atinge mais de 90%. As análises são entregues semestralmente à Secretaria de Meio Ambiente. “Frequento esta represa há mais de 40 anos, meus filhos foram criados aqui, esquiando, andando de Jet sky e lancha. Venho há 10 anos com um grupo de amigos lutando por esta represa”, explica Sandroni. Questionado sobre o esgoto despejado na represa próximo ao clube, o Iate Clube de Americana não respondeu aos questionamentos encaminhados por email por Recantos da Terra.
Outubro de 2015 | Americana-SP
A jovem engajada e a grave crise hídrica
Em vários pontos, a paisagem que cerca a represa do Salto Grande é deslumbrante
Juliana Domiciano é uma jovem engajada com as questões hídricas. Já estagiou no DAE de Americana e no Consórcio PCJ (bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí). Diz que decidiu analisar a qualidade da água da represa em função da grave crise hídrica que atinge o sudeste. Seu objetivo, depois de formada, é trabalhar na área de consultoria ambiental. “O Estado de São Paulo vem sofrendo nos últimos tempos. Preservar qualquer manancial aquático é inquestionável e primordial ao meio ambiente. Agora, isso não está apenas relacionado à sustentabilidade e sim como uma necessidade de todos”, diz a estudante. Ela explica que foram realizadas seis coletas de amostras de água - em datas diferentes - em pontos distintos da represa levando em consideração as características de acesso ao local nos três pontos já citados. As análises físico-químicas e biológicas foram realizadas no Centro de Estudo Tecnológico da Engenharia Ambiental, localizado no Unisal, campus Dom Bosco. BIODIGESTORES A falta de saneamento básico implica
sobre a saúde e a qualidade de vida da população. Doenças como infecções gastrointestinais, motivadas pela ingestão de água contaminada, são comuns nos hospitais. Além disso, a poluição motivada por esse problema, também reduz e encarece a quantidade de água potável disponível, prejudicando a agricultura, o comércio, a indústria, o turismo e outros setores da economia. Entre as opções para garantir melhor qualidade de água e tratamento de esgoto, o mercado oferece uma linha de biodigestores com exclusivo sistema de extração do lodo, o que facilita o acesso nas comunidades mais difusas porque dispensa o uso do caminhão limpa fossa. “Os biodigestores com diferentes capacidades de armazenamento (600 litros, 1300lts ou 3000lts) atendem desde a demanda de uma residência até propriedades grandes, com maior número de pessoas ou áreas rurais. Além de garantir de forma eficiente o tratamento do esgoto doméstico, o sistema não polui o meio ambiente, cuida da higiene, da saúde e é econômico”, destacou Arley Lambaz, gerente de vendas da Acqualimp, empresa especializa no ramo.
Outubro de 2015 | Americana-SP
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Reciclagem
Coleta seletiva volta e já atrai ‘piratas’ Volume do lixo que vai para aterro será reduzido em 5% Anderson Barbosa
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Prefeitura de Americana retomou a coleta seletiva de recicláveis nos bairros da cidade e, com isso, os chamados “coletores piratas” começaram a atuar no município. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, dois homens – um morador de Santa Bárbara d’Oeste e outro de Americana – já foram notificados pela pasta após serem flagrados recolhendo materiais reciclados destinados à coleta municipal. “O pessoal passa nas casas e deixa os materiais acumulados em uma esquina. Esses piratas aproveitadores passam antes do caminhão da Prefeitura e recolhem os recicláveis”, explica o secretário Adriano Camargo. A medida é passível de multa e a Administração ainda formula um valor adequado para punir os infratores. A coleta seletiva, que já funcionava na cidade, foi suspensa sem explicações durante a última gestão do prefeito cassado Diego De Nadai (PSDB). Este mês, a Secretaria de Meio Ambiente confeccionou centenas de sacolas ecológicas que podem ser utilizadas pela população para armazenar os recicláveis que seriam destinados ao lixo comum. A sacola é uma forma de identificar os pro-
dutos destinados à reciclagem. Ela é reutilizável e será devolvido após a coleta. “Esperamos economizar dinheiro com o lixo que, hoje, é depositado em uma empresa particular, com custos para o município. O município gasta muito com lixo”, argumenta o secretário. O morador deve deixar as sacolas do lado de fora das residências ou pendurá-las no portão nos dias de coleta (veja quadro). Hoje, quatro caminhões destinados à coleta seletiva estão em circulação. A estimativa da administração é reduzir em 5% o volume de lixo recolhido. A Secretaria de Meio Ambiente também retomou a coleta de óleo de cozinha nas residências. O descarte do óleo de cozinha usado é um problema mundial, uma vez que encarecesse o tratamento de esgoto dos municípios. Americana é pioneira no Estado a utilizar óleo para a fabricação de biodiesel, combustível que foi utilizado na frota municipal até 2008, quando o projeto foi cancelado – mais uma vez sem explicações – pela gestão do ex-prefeito cassado. A quantidade recolhida pela Prefeitura, estimada em um primeiro momento em cinco mil litros de óleo por mês, será vendida. E metade da renda – R$ 2,5 mil (o litro do óleo é vendido por R$ 1) – será revertida ao Parque Ecológico Municipal.
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Agenda da coleta Segunda • Centro • Vila Jones • Vila Redher • Jardim Girassol • Parque Ideal • Chacara Rodrigues • Chacara Pântano • Vila Galo • Conserva • Vila Rasmunssen • Vila Elvira • Nova Americana • Jardim São Paulo • Jardim Planalto • Jardim Glória • Jardim Paulista • Nardini • Jacyra • Jardim São Pedro • Vila Medon • Cidade Jardim II (São Pedro) • Vila Pavan • Vila Santa Catarina • Vila Biasi • Jardim Brieds Terça • Werner Plass • Chacara Machadinho • Colina • Jardim Santana • Ns. De Fátima • Vila Gobbo • Bosque Da Saúde • São Luiz • Boa Vista • Santa Rosa • Campo Limpo • Jardim América • Belvedere • Jardim Progresso • Jardim Helena • São Manoel • São Vito (Até Rua São Vito) • Cordenonsi • Ns. do Carmo • Cariobinha • Jardim dos Ipês • São Domingos • Jardim Lizandra • Vila Santa Maria • Vale do Rio Branco • Paulistano • Jardim Progresso • Guanabara • Bela Vista Quarta • Vila Bertini I,II,III • Belvedere • Vila Mariana • Campo Verde • Santa Sofia • Vila Margarida • Vila Lourdes • São Vito (Após a Rua São Vito) • Jardim Brasil
• Santa Elisa • Asta I • Praia dos Namorados • Vale das Nogueiras • Profilurb • Jaguari • Nova Carioba • Antonio Zanaga I e II • Vila Bela • Distrito Industrial Zanaga Quinta • Frezzarin • Vila Amorim • Jardim Girassol • Vila Cechino • Vila Massucheto • Santa Inês • Vila Lourecilda • Parque das Nações • Morada do Sol • São Roque • Sítio da Gruta • Jardim Bazanelli • Vila Dainese • Ipiranga • Jardim Brasília • Vila Pantano • Terramérica • Mollon • Novo Mundo • Nilsen Ville • Parque Universitário • Jardim Primavera • Catharina Zanaga Sexta • Boer I e II • Residencial Tancredi • Iate Clube de Campinas • Chácara Letônia • Vale das Paineiras • Praia dos Namorados • Recanto do Jatobá • Mirandola • Jardim Bertôni • Jardim América II • Praia Azul • Jardim da Mata • Jardim Campo Belo • Remanso Azul • Balneário Riviera • Cidade Jardim • São José • Alvorada • Gramado • Liberdade • Jardim da Paz • São Jerônimo • Mário Covas • Orquídeas • Balsa I E Ii • Imperador • Dom Pedro • Chac. Mantovani • Asta III
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Revolução no Vaticano
O discurso anticapitalista do papa Francisco Defensor de uma ecologia integral socialmente responsável, o papa desafia as consciências Michel Dumay
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iante de uma multidão reunida na Praça do Cristo Redentor, em Santa Cruz, a capital econômica da Bolívia, um homem vestido de branco repreende “a economia que mata”, o “capital transformado em ídolo”, “a ambição sem limites do
dinheiro que comanda”. No dia 9 de julho, o chefe da Igreja Católica não se dirigia apenas à América Latina, que o viu nascer, mas ao mundo todo, que ele procura mobilizar para colocar um fim na “ditadura sutil” que exala o mau cheiro do “esterco do diabo”. “Precisamos de uma mudança”, proclama o papa Francisco três dias antes de incitar os jovens paraguaios a “desafiar a ordem”. Em 2013 no Brasil, pediu às pessoas que atuassem como “revolucionárias” e se posicionassem “contra a corrente”. Em suas viagens, o bispo de Roma profere um discurso cada vez mais virulento sobre o estado do mundo, sua degradação ambiental e social, e usa expressões fortes contra o neoliberalismo, o tecnocentrismo e um sistema econômico de efeitos nefastos: uniformização de culturas e “globalização da indiferença”. Em junho, nessa mesma linha, Francisco dirigiu à comunidade internacional um “convite urgente para um novo diálogo, o diálogo pelo qual construiremos o futuro do planeta”. Nessa encíclica sobre a ecologia, chamada Laudato si’ (“Louvado seja”), chama cada um, fiel ou não, para uma revolução de comportamentos e denuncia um “sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”. O pontífice assegura que outro mundo é possível, não no Juízo Final, mas aqui embaixo e agora. O papa celebridade, na linha midiática de João Paulo II (1978-2005), fragmenta e divide: por um lado é canonizado por figuras da ecologia e altermundialistas (Naomi Klein, Ni-
colas Hulot, Edgar Morin) por “sacralizar o desafio ecológico” em um “deserto do pensamento”; por outro, demonizado pelos ultraliberais e pelos céticos em relação à questão climática, capazes de descrevê-lo como “a pessoa mais perigosa do mundo” – como o caricaturou um polemista do canal ultraconservador norte-americano Fox News. NOVA DIREÇÃO As direitas cristãs se inquietam ao ver um papa de discurso esquerdista e reticente sobre o aborto. E os editorialistas da esquerda laica se perguntam sobre a profundidade revolucionária desse homem do Sul, primeiro papa não europeu desde o sírio Gregório III (731-741), que se escandaliza diante do tráfico de imigrantes, pede apoio aos gregos e rejeita o plano de austeridade, nomeia um genocídio (dos armênios) de “genocídio”, assina um quase acordo com o Estado palestino, apoia sua testa em oração no Muro das Lamentações contra a separação que os israelenses impõem aos palestinos e se aproxima de Vladimir Putin sobre a questão síria quando a tendência, entre os ocidentais, é sancionar a Rússia pelo conflito ucraniano. “Ele colocou a Igreja novamente no cenário internacional”, analisa Pierre de Charentenay, especialista em Relações Internacionais na revista jesuíta romana Civiltà Cattolica. “E mudou a aparência da instituição. Ele é o campeão do altermundialismo e questiona o conjunto do sistema.” Precisamente, o que diz o primeiro papa jesuíta e sul-americano é o seguinte: a humanidade carrega a responsabilidade pela degradação planetária e deixa o sistema capitalista neoliberal destruir o planeta, “nossa casa comum”, semeando desigualdade. A humanidade precisa romper com uma economia – como diz o economista, e também jesuíta, Gaël Giraud – “que desde Adam Smith e David Ricardo exclui a questão ética, impondo a ficção da mão invisível” que deveria regular o mercado. Essa mão precisa, atualmente, de uma “autoridade mundial”, de normas restritivas e, sobretudo, da inteligência dos povos a serviço de quem é urgente redirecionar a economia. Porque a solução,
Papa Francisco durante visita ao Brasil
política, está em suas mãos, e não nas mãos das elites, acometidas pela “miopia das lógicas de poder”. ESTREMECEU A CASA Para o papa, a crise ambiental é, antes, moral, fruto de uma economia desligada do ser humano, na qual as dívidas se acumulam: entre ricos e pobres, Norte e Sul, jovens e velhos. E na qual “tudo está conectado”: pobreza-exclusão e cultura do desperdício, ditadura do curto prazo e alienação consumista, aquecimento global e congelamento de corações. Dessa forma, “uma abordagem ecológica verdadeira sempre se transformará em abordagem social”. Antes de ganhar o mundo, contudo, Francisco estremeceu a própria casa. Adepto de uma sobriedade que compartilha com Francisco de Assis, de quem emprestou o nome, instaurou um papado preocupado com o exemplo. Renunciou a atributos de vestimentas e hábitos honoríficos e foi viver em um quarto e sala de 70 m², em vez dos luxuosos apartamentos pontificais. O papa deseja atingir o campo simbólico e, para isso, não se restringe à palavra: empreende gestos concretos – o que tem seu peso em uma sociedade pautada pela imagem. *Texto publicado originalmente no jornal Le Monde Diplomatique/Brasil