RECANTOS DA TERRA
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Filés de pescados da Salto Grande estão livres de metais pesados Mas pesquisadores advertem: consumo ainda exige muita cautela
Cientistas já preparam plantas para resistir às mudanças climáticas Secretarias municipais se unem para garantir ações ambientais Causas da crise hídrica vão muito além do aquecimento do clima
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Ediomar Peixoto/Jornal do Zanaga
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OPINIÃO
Como proteger os mananciais Aquecimento do clima está longe de ser a principal causa da crise hídrica em São Paulo Pensamento Verde*
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uem imaginaria que um dia, um país tão rico em recursos naturais como o Brasil sofreria uma crise hídrica para enfrentar períodos maiores de seca? A má administração dos reservatórios e a não sistematização de reuso são apenas alguns dos motivos pelo qual o ‘estoque’ de água parece ter ido por ralo abaixo. O relacionamento entre população e mananciais, definidos como todo e qualquer tipo de fonte de água (rios, lagos, lençóis freáticos etc.), se instabiliza cada dia mais, levando ao sofrimento as pessoas, mas também a natureza, que não consegue se recuperar desse abastecimento voraz. O problema com o aquecimento global e outros fenômenos que atingem o ser humano contribuem para agravar a situação. Mas, ainda assim, a responsabilidade por essa falha é da distribuição e utilização descontrolada da água, já que o gerenciamento de recursos e aproveitamento de alternativas sustentáveis não acontece como deveria. EFEITO CONTRÁRIO A lei criada a favor dos mananciais nos anos 70 foi constituída com o objetivo de protegê-los contra atividades irregularidades e altamente prejudiciais.
Já na época, os mananciais eram responsáveis por abastecer as grandes cidades, garantindo a qualidade da água para toda a população. Como esta lei impedia o desenvolvimento das áreas ocupadas por essas nascentes, logo se viu um desinteresse por parte dos proprietários, que abandonaram inúmeros terrenos, desencadeando o desenvolvimento ilegal e invasão de terra. Com isso, o resultado negativo foi acontecendo ao longo dos anos, com a poluição de incontáveis fontes de água, e hoje os mananciais brasileiros não atuam mais com a mesma disposição. A partir desta nova realidade, entendem-se os motivos pelo qual reservatórios e represas foram sobrecarregados e diminuíram bastante com seus níveis hídricos. Com os períodos de seca se tornando mais longos e a reutilização da água para tarefas do cotidiano ainda longe do ideal, a situação dos mananciais parece um tanto quanto precária. O famoso rio Tietê, que já chegou a ser palco para competições aquáticas há algumas décadas, é um exemplo fiel de como a poluição tomou conta das principais fontes de abastecimento e acabou com o rio no último século.
Lei de proteção aos mananciais foi criada na década de 1970
*Publicado originalmente no portal Pensamento Verde (www.pensamentoverde.com.br)
EXPEDIENTE Edição e Texto: Paulo San Martin e Anderson Barbosa | Diagramação: Skanner Projetos Gráficos | Redação: paulo.san@jornalrecantosdaterra.com.br - anderson@jornalrecantosdaterra.com.br Gestor de Anúncios: Geraldo Martins - (19) 9.8178.8144 / 9.8268.9110 - ge@jornalrecantosdaterra.com.br | Rua Indaiá, 411, Jd. Ipiranga Americana-SP - Fone: (19) 3601.8996
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INTEGRAÇÃO
Americana une secretarias para promover ações ambientais Palestras, coleta de lixo e o incentivo à Carona Solidária são algumas das ações programadas
Autoridades, ambientalistas e profissionais da Secretaria de Meio Ambiente na solenidade para o plantio do flamboyant gigante na Fortunato Faraone
Anderson Barbosa
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troca de secretários nas pastas de Meio Ambiente e Obras Públicas e Serviços Urbanos, promovida este mês pelo prefeito de Americana Omar Najar (PMDB), vai resultar em uma integração entre as duas secretarias, com o objetivo de promover ações relacionadas ao meio ambiente e sustentabilidade. A informação é do atual secretário de Obras, Adriano Camargo, que até o início de fevereiro era o titular da pasta de Meio Ambiente, hoje ocupada por Eraldo Camargo, ex-secretário de Obras. A partir deste mês, diversas ações em conjunto, como a coleta de materiais descartados irregularmente em terrenos e ruas da cidade, palestras em escolas municipais e estaduais relacionadas a ações sustentáveis e o incentivo à carona solidária, na área de trânsito, são algumas medidas que serão colocadas em prática nos próximos meses, segundo a Administração. AÇÕES CONJUNTAS “Hoje estou na Secretaria de Obras, mas vamos dar todo o suporte para o Meio Ambiente e desenvolver ações em conjunto com outras secretarias. Nossa prioridade, neste momento, é recolher materiais descartados irregularmente nas ruas e, paralelamente, desenvolver educação ambiental nas escolas e bairros”, afirma Camargo. Outras pastas, como Educação e Saúde também serão integradas no decorrer das atividades. “Tudo tem relação com o meio ambiente. A Carona Solidária, projeto que desenvolveremos na Secretaria de Transportes, diminui a emissão de gases poluentes. A secretaria de Obras busca recolher materiais descartados em terrenos e nas ruas com o objetivo
de combater o aedes egypti. Está tudo relacionado”, explicou o secretário. Camargo explica que no tempo em que ficou no Meio Ambiente, pouco mais de um ano, conseguiu colocar em funcionamento alguns projetos importantes, como a volta da coleta seletiva, contudo, o maior legado foi o retorno das ações de Educação Ambiental na rede municipal de ensino. “Percebemos que é de fundamental importância promover educação para que as pessoas não descartem materiais em locais proibidos e conheçam ações importantes, como a reciclagem, por exemplo”, diz ele. FLAMBOYANT GIGANTE A última ação de Camargo como secretário de Meio Ambiente foi o plantio de um flamboyant gigante, na rotatória da Avenida Fortunato Faraone esquina com a Avenida Florindo Cibin, no Jardim Girassol. O evento comemorou o Dia do Agente da Defesa Ambiental e os participantes refletiram sobre as ações que contribuem para a construção de uma cidade e de um planeta melhor. Estiveram presentes no evento representantes do Corpo de Bombeiros, Policia Militar, Guarda Municipal, Grupo de Proteção Ambiental (GPA), Bike Patrulha da Gama (Guarda Municipal de Americana), vereadores Otto Kinsui (PMDB) e Ulisses Silveira (PV), deputado estadual Chico Sardelli (PV), o presidente da Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana), Dimas Zulian, o presidente do Sincomercio, Vitor Fernandes, Grupo de Escoteiros Nambikwara, Organização Ações Sementinhas, Barco Escola da Natureza, voluntários ambientais, funcionários das secretarias de Meio ambiente, de Obras, setor de trânsito, representantes da empresa Unimed, comerciantes da região e a população em geral, totalizando 120 participantes.
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RESULTADO POSITIVO
Filés dos peixes da Salto Grande
Apesar do resultado “satisfatório”, Vigilância Sanitária aler Anderson Barbosa
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nálise sobre a qualidade do pescado da Represa de Salto Grande – realizado pelo Instituto Adolfo Lutz por determinação do MP (Ministério Público) – aponta como “satisfatória” a qualidade dos filés de cinco espécies de peixes do reservatório. A intenção da análise, requisitada pela Vigilância Sanitária, era saber se os filés das tilápias, traíras, acarás, cascudos e tucunarés, espécies que habitam a Salto Grande, continham ou não metais pesados. Apesar do resultado negativo referente aos poluentes, o consumo das espécies não é aconselhado já que outras partes dos peixes, como as vísceras, por exemplo, que retém toxinas, podem estar contaminadas. Paralelamente, três TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) da Faculdade de Engenharia Ambiental do Unisal, cuja finalidade foi analisar a qualidade da água do reservatório, apontam para grandes concentrações de esgoto, fósforo e nitrogênio na represa, fatores que reforçam a inviabilidade de usar os peixes pescados no reservatório como alimento. “O resultado nos traz esperanças em relação à represa, mas não podemos ainda consumir os peixes da Salto Grande”, dispara Antonio Jorge da Silva Gomes, coordenador da Vigilância Ambiental em Saúde, órgão subordinado à Secretaria de Saúde do município. As espécies foram coletadas no dia 27 de outubro do ano passado e enviadas para análise no dia seguinte. O resultado foi concluído no mês passado e encaminhado à Vigilância Sanitária, que cumpre determinação do MP, órgão responsável por um inquérito civil que investiga as causas da poluição do reservatório e
seus respectivos responsáveis. “Já realizamos outras coletas anteriores que também apontaram como ‘satisfatória’ a qualidade do pescado”, afirma o coordenador. Ele explica que caso fosse detectado qualquer quantidade mínima de metais pesados nas amostras o laudo resultaria em “não satisfatório”. “O Aldolfo Lutz é um centro de referência no Estado de São Paulo e, caso houvesse qualquer indício de metais, com certeza seria detectado”, diz Jorge. EDUCAÇÃO Em uma parceria entre as Secretarias de Saúde e Meio Ambiente de Americana, a Prefeitura vai editar 20 mil cartilhas (com quatro páginas em formato A4), as quais serão distribuídas nos bairro do Pós-Anhanguera, como o Antonio Zanaga, Jardim Brasil, além da Praia dos Namorados e Praia Azul. A cartilha, intitulada “Algas azuis (cianobactérias) e a saúde do peixe”, será distribuída aos moradores pelos agentes de combate à dengue. O conteúdo trata dos perigos em caso de contato com a água da Salto Grande, com grande quantidade de algas azuis, que deixam o cheiro da água desagradável e produz toxinas (substâncias tóxicas), as quais causam mal ao ser humano. Segundo a Vigilância Sanitária, o contato com a água contaminada por algas azuis pode causar irritações na pele, inchaço dos lábios, irritação nos olhos e ouvidos, dor de garganta, inflamação nos seios da face e asma. A cartilha traz ainda dicas relacionadas à saúde dos peixes. “A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) já realizou diversos laudos comprovando os poluentes existentes na represa e já esclareceu também que não tem a atribuição para decretar a interdição da Salto Grande. Temos que
investir em educação”, explica Jorge. Além da confecção e distribuição das cartilhas, 15 novas placas que informam sobre o perigo de banhar-se na Salto Grande serão distribuídas ao longo das Orlas das Praias Azul e dos Namorados. ESTUDOS Três estudos recentes, elaborados para TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) na Faculdade de Engenharia Ambiental do Unisal comprovam que, apesar do laudo “satisfatório” em relação ao filé das cinco espécies analisadas, a contaminação do corpo d’água do reservatório ainda é alarmante. No trabalho “Avaliação Físico-Química e Microbiológica das Águas Superficiais da Represa de Salto Grande na Cidade de Americana – São Paulo”, cujos dados foram coletados em 2013, a aluna Joyce Cristina Engrácia detectou a presença de uma grande quantidade de UFCs (Unidades Formadoras de Colônias) de Escherichia coli (bactéria), a qual indica lançamento de esgoto doméstico. O trabalho encontrou ainda a presença de fósforo e nitrogênio em quantidades elevadas. Outro trabalho, “Avaliação da água da represa de Salto Grande usando o Índice de Qualidade da Água (IQA)”, da aluna Juliana da Silva Domiciano, com dados coletados em 2015, indica alta concentração de fósforo, nitrogênio e matéria orgânica, culminando em um IQA ruim, caracterizando um estado avançado de degradação do manancial. Por fim, a “Avaliação Quantitativa das cianobactérias presentes na represa de Salto Grande no Município de Americana-SP”, de Raíssa Zério, também com dados coletados no ano passado, encontrou uma grande quantidade de algas e cianobactérias resultado do excesso de elementos como nitrogênio e fósforo, nutrientes que alimentam esses organismos e indicam estado de eutrofização (processo de poluição de corpos d´água) da Salto Grande. “A perspectiva de melhoria da represa não vai depender dos resultados e sim da vontade política. Seriedade com o saneamento básico, tratar os efluentes e criar leis rígidas de lançamentos. A população e indústrias também não devem descartar resíduos sólidos em locais inadequados e também não abrir lançamentos clandestinos, entre outras atitudes de preservação”, afirma a orientadora dos projetos, professora Brigida Queiroz.
Jorge, coordenador da Vigilância Sanitária, apost
Técnico faz coleta, para análise, de cinco espécies
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e estão livres de metais pesados
rta que espécies do reservatório não podem ser consumidas
Romero cobra CPFL Energia por poluição O vereador Moacir Romero (PT) protocolou na Promotoria de Justiça de Urbanismo e Meio Ambiente de Americana uma representação contra a CPFL Energia, concessionária que opera a usina hidrelétrica instalada na Represa Salto Grande, por conta dos problemas ambientais existentes no local. No documento, o parlamentar destaca que é de conhecimento público que a represa, que abastece o município de Americana, tem suas águas poluídas em razão de resíduos despejados sem tratamento. Laudo divulgado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) no final de 2015 atestou que a água da represa é imprópria e oferece risco à saúde em caso de contato. “A Cetesb foca na responsabilidade apenas dos poderes públicos municipais. No entanto, a represa está sob responsabilidade da companhia, que é beneficiária da concessão dos serviços atinentes à distribuição de energia elétrica e, que, para alcançar tal objetivo, faz uso da represa”, destaca Romero. GRANDE MAL “A represa, com todo o lixo que recebe, de
ta em educação
s de peixes que são encontrados em grande quantidade na Salto Grande
esgoto industrial e doméstico, traz um grande mal para a população de Americana em termos de poluição, pois parte da água que é colhida para abastecer o município vem da represa. Portanto, como proprietária, a CPFL é obrigada a deixar a represa de uma maneira que não traga prejuízo para ninguém”, defendeu o vereador em entrevista coletiva. Na representação, Romero apresenta uma série de reportagens veiculadas pela imprensa da região a respeito dos problemas ambientais da represa. O parlamentar pede que o Ministério Público instaure procedimento para a apuração das responsabilidades da CPFL, com o objetivo de obrigar a concessionária a promover o tratamento da água da represa. “O que todos nós esperamos é que haja a despoluição da represa. Esperamos que esse trabalho, em conjunto com a ação do Ministério Público, leve a CPFL a cuidar do que é dela, exigindo que aqueles que despejam o esgoto na sua propriedade promovam o tratamento adequado”, concluiu o parlamentar.
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Empresa limpa
O método sustentável na limpeza de carpetes, estofados e tapetes Empresa utiliza matéria prima da casca de laranja e investe no reuso da água
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om um método totalmente sustentável de higienização, a Carpetex – empresa especializada em limpeza de carpetes, estofados e tapetes – atua a 30 anos e atende todas as cidades da região. Desde a matéria prima até a reutilização de 90% da água usada nos serviços, por meio de um sistema simples de tratamento, a empresa aposta na sustentabilidade para prestar serviços de qualidade. “Nossa matéria prima usada para a limpeza de estofados, por exemplo, é produzida a partir da casca de laranja. Após o uso, o produto ainda serve como adubo”, explica o proprietário da empresa, Carlos Eduardo Duzzi. Segundo ele, parte da matéria prima é importada da Espanha. “Hoje, tanto as empresas, quanto os clientes físicos têm uma preocupação relacionada ao meio ambiente. Muitos deles, antes de fechar um orçamento, buscam saber como funciona o processo. Ou seja, se somos ou não uma empresa comprometida com a sustentabilidade”, diz. A Carpetex investiu R$ 32 mil na aquisição de um sistema de tratamento da água utilizada no processo. Com um consumo de aproximadamente quatro mil litros por dia, a empresa consegue reutilizar 90% da água usada nas higienizações. “Temos uma perda de cerca de 10%, mas por conta da evaporação. E o melhor é que podemos reutilizar o líquido até cinco vezes”, enfatiza. O investimento acaba influindo diretamente na conta de água da
empresa, explica o empresário, e é descartada totalmente tratada. “O investimento é alto, mas acaba compensando em médio prazo. Além do sistema de tratamento, tomamos cuidados em relação à vazão e a pressão da água utilizada no processo. É preciso economizar”, explica. Segundo ele, no caso da limpeza de carpete a redução do consumo de água é de até 98% em relação aos processos convencionais. Além disso, por meio dos processos de limpeza, a vida útil dos estofados e carpetes aumenta, diminuindo o descarte deles. “No Brasil ainda não existe um sistema de reciclagem para esses itens”, lembra Duzzi. Entre as ações sustentáveis que a empresa adota está a escolha em utilizar equipamentos de baixo ruído que consomem menos energia elétrica e também produtos químicos biodegradáveis de composição orgânica que, após serem utilizados no processo de limpeza, retornam para a natureza não como lixo, mas como adubo orgânico, reduzindo o impacto ambiental. A EMPRESA Com tecnologia de ponta, a Carpetex é uma das poucas empresas a oferecer uma limpeza restaurativa a seco de carpetes. Na linha de estofado não é diferente, a empresa conta com uma linha química e dispõe da exclusiva máquina Hot Power para o sistema a quente de limpeza de estofados. “Nossas equipes são preparadas e constantemente treinadas para garantir o mais alto padrão de qualidade”, afirma Duzzi.
Carpetex aposta na sustentabilidade e qualidade nos serviços
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PREPARANDO O FUTURO
Cientistas chilenos criam superárvores resistentes às mudanças climáticas Superárvores estariam preparadas para enfrentar eventos como secas, diminuição das chuvas e geadas Cristóbal Chávez Bravo - Agência Efe
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istante duas horas de Santiago por estrada, em plena região de O’Higgins, um grupo de cientistas procura criar uma geração de “superárvores” resistentes aos efeitos das mudanças climáticas. Se este experimento de alcance mundial tiver êxito, as primeiras espécies resistentes poderiam ser comercializadas em 2019. As “superárvores” estariam preparadas para enfrentar eventos como secas, diminuição do regime pluviométrico e concentração em curtos períodos de tempo de ventos, geadas e tempestades, tudo isso como consequência do aquecimento global. Os estragos da mudança climática na produtividade frutícola se associam fundamentalmente com manifestações do chamado “estresse abiótico”, como as inundações, as geadas e os “solos ácidos”. Além disso, os especialistas preveem que, para 2050, terá ocorrido uma drástica diminuição dos recursos hídricos, com o conseguinte prejuízo para a agricultura.
Com a mente voltada em reverter esta situação, os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Fruticultura (CEAF) do Chile trabalham desde 2009 no desenvolvimento de espécies de árvores frutíferas que sejam resistentes às inclemências. PORTA-ENXERTOS “Estamos centrados em trabalhar as raízes, o programa está focado em obter novos materiais vegetais para os porta-enxertos”, explica à Agência Efe Felipe Gaínza, diretor da linha de Melhoramento Genético do CEAF. O enxerto é um método de propagação vegetativa artificial dos vegetais no qual uma porção de tecido, procedente de uma planta, se une sobre outra já assentada, de tal modo que o conjunto de ambos cresça como um só organismo. Os cientistas trabalham no desenvolvimento de novos porta-enxertos “que sejam uma alternativa aos que são utilizados comumente, que geneticamente estão obsoletos”, detalha Gaínza. Só na região chilena de O’Higgins, onde opera o Centro de Estudos Avançados em Fruticultura, existem 25.684 hectares dedicados ao cultivo de pêssegos, nectarinas e cerejas, o que re-
presenta a metade da superfície dedicada no Chile a estes cultivos. PUBLICIDADE Estas árvores de frutas com caroço em seu interior são as espécies com as quais os cientistas chilenos estão trabalhando para fazê-las mais resistentes ou tolerantes a condições meteorológicas adversas. Para isso, os pesquisadores efetuam análise em nível molecular com o objetivo de observar como se expressam alguns genes perante estes problemas, afirma à Efe o diretor interino do CEAF, Mauricio Ortiz. Estes estudos são realizados em nível fisiológico para determinar “que mudanças são geradas dentro da planta”; em nível anatômico, “para ver as adaptações que gera a planta frente às mudanças, e em nível de campo, “para observar como se comporta em seu ambiente natural”, apontou o especialista. Em 2011, os cientistas iniciaram o cruzamento de nove seleções de porta-enxertos de caroços de fruta a fim de fazê-los mais tolerantes às condições extremas. “Por exemplo, no híbrido entre uma pessegueira e uma amendoeira, esta última apresenta a resistência à seca e to-
lerância aos nematoides, um parasita do solo que afeta as raízes”, explica Ortiz. Outra espécie com as quais foi cruzada a pessegueira é a ameixa, que outorga maior resistência às inundações e cria um fruto que tolera as condições ambientais adversas. BIOTECNOLOGIA Os pesquisadores utilizam técnicas de biotecnologia para clonar os genes das plantas mais resistentes e tolerantes através de seu DNA e assim desenvolver ferramentas moleculares que ajudam a selecionar cedo os porta-enxertos desenvolvidos pelo CEAF. Quando começou a fruticultura no Chile, lembra o presidente da Associação de Produtores e Exportadores da região de O’Higgins, Francisco Duboy, “foram trazidas as plantas desde a Califórnia, porque esse estado possui um clima similar ao da zona central do Chile”. “Mas não se pensou na pós-colheita”, acrescenta Duboy, e por isso agora se trabalha na criação de árvores clones que se adaptem às mudanças climáticas bruscos e que também resistam os longos mudanças durante a exportação”.
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Vírus Zika
FAO alerta para riscos associados ao uso de inseticidas contra mosquitos Chefe da agência ressaltou a necessidade de promover a segurança humana e proteger a cadeia dos alimentos ONU Brasil
S
ob a liderança da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Sistema das Nações Unidas está mobilizando uma resposta coordenada contra o zika, com o objetivo de minimizar a ameaça nos países afetados e reduzir o risco de propagação a nível internacional. “A FAO, com os seus recursos e capacidade técnica, está preparada para fazer o que lhe compete para dar resposta a esta emergência que continua a se alastrar”, disse o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, em um comunicado divulgado esta semana. “O vírus zika é transmitido principalmente para os humanos pelos mosquitos Aedes, e uma medida fundamental para combater o alastramento da doença é intensificar o controle dos mosquitos nas áreas afetadas e em risco.” Na condição de agência das Nações Unidas líder na saúde animal e controle de pragas, a FAO pode dar assistência aos países afetados com intervenções concretas, assegurando, ao mesmo tempo, que as pessoas e o ambiente não estejam expostos a riscos de saúde e outros, resultantes do uso inapropriado de produtos químicos potencialmente perigosos. É provável que, pelo menos a curto prazo, haja um aumento significativo da utilização de inseticidas para pulverizar os mosquitos ou tratar a água. Um conjunto mais imediato e relativa-
mente simples de ações que podem ser tomadas para combater a propagação do vírus zika é garantir a remoção da água estagnada, usada por mosquitos para se reproduzirem. As comunidades afetadas devem ser alertadas e apoiadas para garantir que os recipientes de água potável para animais sejam esvaziados e limpos semanalmente. Lagoas e outros reservatórios de água estagnada também devem ser drenados e esvaziados. Uso de inseticidas preocupa A FAO recomenda ainda que, se o uso intensivo de inseticidas for realmente necessário, é essencial que seja feito com muito cuidado para garantir a segurança humana e para proteger a cadeia dos alimentos da contaminação. “Estamos, por isso, bem posicionados para prestar apoio aos países e regiões afetadas a combater a propagação do vírus zika”, disse o diretor-geral. Por meio de um programa em conjunto com a OMS, a FAO desenvolveu uma série de recomendações sobre a boa gestão do uso de inseticidas. Por exemplo, é importante o uso de pesticidas de alta qualidade, misturados de acordo com as instruções do fabricante, para promover igualmente a eficácia e a segurança. O trabalho da FAO em ameaças de origem animal sobre a agricultura e a saúde devido às alterações climáticas, ecossistemas agrícolas e políticas de uso da terra, os avisos precoces de possíveis ocorrências de doença, tal como tem sido feito com os parceiros relativamente à febre do Vale de Rift –
uma doença também transmitida por mosquitos na África – pode ser útil para prever e assegurar que os países das Américas tenham planos de combate prontos. Por meio do trabalho de acompanhamento dos padrões climáticos, é possível para a FAO analisar os movimentos e mudanças de habitats dos mosquitos vetores Aedes, o que pode ser importante na mitigação ou prevenção da doença. A experiência comprovada da FAO no controle de doenças em animais – como aconteceu com a peste bovina, a gripe aviária ou a tripanossomíase transmitida pela tsé-tsé – pode ser benéfica para os países da América Latina e do Caribe na solução conjunta do problema. Mas, além do uso de inseticidas, existem outras maneiras de combater a propagação do vírus zika. Uma solução a longo prazo é a técnica do inseto estéril que tem sido desenvolvida no Programa Conjunto FAO-AIEA sobre Técnicas Nucleares em Alimentação e Agricultura. Esta é uma forma de controle de pragas que utiliza radiação ionizante para esterilizar os insetos machos e que são produzidos em massa em instalações especializadas. Ela tem sido usada com sucesso em todo o mundo há mais de 50 anos para várias pragas de insetos agrícolas, como a mosca da fruta, mosca tsé-tsé, larvas e bicho-da-seda. A sua aplicação contra os mosquitos transmissores de doenças, tais como o portador dos vírus zika, dengue e chikungunya, está
Larvas do aedes em tubos de ensaio
em curso, com algumas experiências piloto já concluídas com êxito e outras mostrando resultados promissores. A FAO pode contribuir para essas e outras medidas. Por exemplo, a vasta rede de trabalhadores no terreno, que durante décadas têm trabalhado com as comunidades e as famílias e construíram relações de confiança, pode levar as mensagens certas de saúde e segurança para às pessoas que mais precisam. “O custo humano desta emergência é potencialmente devastador e devemos trabalhar em conjunto para garantir que tudo será mantido sob controle”, concluiu Graziano.