21 minute read

Avaliação in vitro do potencial biológico da espécie Passiflora suberosa L

Glaucia L. P. L. Neco1, Anne R. de Santana2, Danielle F. da Silva3, Diego M. da Costa4, Clayton Q. Alves5 e Hugo N. Brandão6

Resumo

Advertisement

O emprego de espécies vegetais para tratamento de patologias perpassa toda evolução humana. Como exemplo, pode-se citar o gênero Passiflora, comumente utilizado na medicina popular. Desse modo, a espécie Passiflora suberosa foi escolhida como alvo desse estudo. Avaliado o teor de fenólicos totais foi realizado através do método de Folin Ciocalteau, indicando a maior concentração para o extrato acetato de etila (15,58±0,029mg EAG/100g de extrato) e o teor de flavonoides totais foi realizado através do método de complexação com cloreto de alumínio (AlCl3) em que, a maior concentração foi encontrado no extrato clorofórmico, seguido do extrato hexânico e acetato de etila que não diferiram estatisticamente (8,93±0,025; 7,95±0,081; 8,046±0,017mg de EQ/100g de extrato). Os valores obtidos para o sequestro do radical livre DPPH• (2,47±0,02mg/mL), e o teste de inibição da auto-oxidação do β-caroteno (77,78±2,94%), mostraram melhor potencial antioxidante para o extrato acetato de etila, em ambos os métodos. Em suma, esse estudo demonstra o potencial biológico dessa espécie ainda pouco explorada pela comunidade científica. Palavras-Chave: Passifloraceae; fitoquímica; metabólitos secundários; fenólicos; atividade antioxidante.

Abstract

(In vitro evaluation of the biological potential of the species Passiflora suberosa L.) The use of plant species for the treatment of pathologies permeates all human evolution. As an example we have the genus Passiflora, commonly used in folk medicine. Thus, the species Passiflora suberosa was chosen as the target of this study. The total phenolic content was performed using the Folin Ciocalteau method, indicating the highest concentration for the ethyl acetate extract (15.58±0.029mg EAG/100g of extract) and the total flavonoid content was performed using the complexation with aluminum chloride (AlCl3) in which the highest concentration was found in the chloroform extract, followed by the hexane extract and ethyl acetate that did not differ statistically (8.93±0.025; 7.95±0.081; 8.046± 0.017mg of EQ/100g of extract). The values obtained for DPPH• free radical scavenging (2.47±0.02mg/mL), and the β-carotene auto-oxidation inhibition test (77.78±2.94%), showed better antioxidant potential for the ethyl acetate extract in both methods. In short, this study demonstrates the biological potential of this species still little explored by the scientific community. Keywords: Passifloraceae; photochemistry; secondary metabolites; phenolics; antioxidant activity.

Introdução

A família Passifloraceae dispõe de cerca de 16 gêneros e 650 espécies, sendo o gênero Passiflora considerado o mais representativo, com cerca de 400 espécies (RAMOS et al., 2007). A abundância genética, associada à sua ampla distribuição geográfica faz com que as espécies desta família sejam consideradas de extrema importância biológica (RICHARDO, 2018).

O gênero Passiflora apresenta sua distribuição geográfica em áreas tropicais, subtropicais e temperadas do mundo (DEGINANI, 2001; IRVINE, 2010; PORTER-UTLEY, 2014; RAMOS, 2007) e, dentre as plantas com finalidade terapêutica de destaque no Brasil, as espécies deste gênero são frequentemente reportadas por apresentarem atividades farmacológicas ampla, indo desde ação sobre o sistema nervoso central com atividade sedativa, calmante, até ativida

1 Universidade Estadual de Feira de Santana, Av. Transnordestina, s/n, 44036-900, Feira de Santana, BA, Brasil. E-mail: glaucialaisneco@hotmail.com 2 Universidade Estadual de Feira de Santana, Av. Transnordestina, s/n, 44036-900, Feira de Santana, BA, Brasil. E-mail: anneramosdesantana@gmail.com 3 Universidade Estadual de Feira de Santana, Av. Transnordestina, s/n, 44036-900, Feira de Santana, BA, Brasil. E-mail:dfsilva@uefs.br 4 Universidade Estadual de Feira de Santana, Av. Transnordestina, s/n, 44036-900, Feira de Santana, BA, Brasil. E-mail: diegocost@live.com 5 Universidade Estadual de Feira de Santana, Av. Transnordestina, s/n, 44036-900, Feira de Santana, BA, Brasil. E-mail: cqalves@uefs.com 6 Universidade Estadual de Feira de Santana, Av. Transnordestina, s/n, 44036-900, Feira de Santana, BA, Brasil. E-mail: hugo@uefs.com

frente a patógenos como vírus e bactérias (QURESHI et al., 1997; LOPES, 2017; ESPINHEIRA; SILVA; SOUZA, 2019). Outras ações terapêuticas como: ansiolítica, anti-inflamatória, antioxidante, hepatoprotetora, anti-hiperglicêmica, antiespasmódica, anti-hipertensiva, hipolipidemiante e cicatrizante são também atribuídas às espécies deste gênero (GOSMANN et al., 2011; COSTA, 2013; BRASIL, 2014; PALMA, 2017).

O Brasil é um dos países com maior diversidade de espécies de Passiflora com ocorrência de aproximadamente 142 espécies, onde 83 dessas são endêmicas, tornando o país um dos principais centros de diversidade genética (BERNACCI et al., 2015).

Assim, tendo em vista que muitas espécies do gênero Passiflora são pouco exploradas do ponto de vista fitoquímico e farmacológico, bem como à riqueza de metabólitos bioativos produzidos por estas espécies, este trabalho teve por objetivo avaliar o teor de fenólicos e flavonoides totais, bem como a atividade antioxidante dos extratos de Passiflora suberosa L.

Material e Métodos

Coleta do material vegetal

A coleta das partes aéreas do acesso de P. suberosa ocorreu em julho de 2018, na EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, localizada na cidade de Cruz das Almas - Bahia, situado nas coordenadas geográficas: 12º40'39'' latitude sul e 39º06'23'' longitude oeste de Greenwich e altitude de 226 metros. A exsicata foi depositada no Herbário do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) - (campus Cruz das Almas) identificada como HURB 18340. A autorização de acesso ao patrimônio genético vegetal foi obtida junto ao Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (A4B0455).

Obtenção dos extratos e frações

O material coletado foi submetido à secagem em estufa a 45±3°C, por 5 dias, até peso constante e, após a secagem, foi moído em liquidificador industrial. A extração ocorreu através do método de maceração, utilizando metanol como solvente extrator, sendo o solvente renovado a cada 5 dias, repetindo essa operação por 5 vezes. Os filtrados obtidos em cada etapa foram reunidos e concentrados em evaporador rotativo sob pressão reduzida, com banho em temperatura de 50±3°C. Depois da obtenção do extrato metanólico seco, uma alíquota foi retirada para a realização das análises subsequentes e a massa restante foi submetida à partição líquido-líquido, utilizando solventes de diferentes polaridades (hexano, clorofórmio e acetato de etila) para obtenção dos respectivos extratos.

Determinação de fenólicos e flavonoides totais

A análise do teor de fenólicos foi realizada com base no método colorimétrico de Folin Ciocalteau (FC) com modificações (GEORGÉ et al., 2005). Resumidamente, foram preparadas soluções aquosas do reagente de FC (1:10) e de carbonato de sódio (7,5%) em água destilada. O padrão foi preparado pesando-se 30 mg do ácido gálico e dissolvendo em 300 mL de água destilada. Em seguida, a solução de ácido gálico foi diluída em concentrações menores, variando de 10200 µ g/mL. As amostras testadas foram obtidas dissolvendo-se 10 mg do extrato em 10 mL de metanol (MeOH). Posteriormente, foram adicionados 0,5 mL da amostra e das diferentes concentrações de ácido gálico em tubos de ensaios. O branco foi preparado somente com água destilada. Em cada tubo, incluindo o branco, foram adicionados 2,5 mL do reagente FC, agitando-os em seguida para proporcionar mistura do reagente com a amostra. Após 3 minutos, foram adicionados 2 mL da solução de carbonato de sódio 7,5% em cada tubo, seguido de agitação. Os tubos foram submetidos ao aquecimento em banho-maria a 50oC por 5 minutos e, após serem retirados, aguardaram por 15 minutos para que a reação fosse processada. Os tubos foram colocados em banho de gelo e após 3 minutos, foram transferidos 300 μL de cada um dos tubos para a microplaca do

espectrofotômetro da Thermo Scientific, modelo Modelo Multi-Scan GO e a leitura foi realizada e a λ=760 nm. A análise foi realizada em triplicata. O teor de fenólicos totais foram determinados por interpolação da absorbância da amostra contra a curva padrão de ácido gálico (10 a 200 µ g/mL), a partir da equação da curva padrão do ácido gálico Y = aX + b, onde Y é a absorbância da amostra e X a concentração. Os resultados foram expressos em g de ácido gálico em 100g de extrato, utilizando a fórmula (g/100 g) = (C x D) / (10.000 x (M/V)), em que C = concentração obtida através da curva padrão; D = diluição da amostra; M =massa necessária para fazer o extrato; V = volume de solução extratora. Para determinação do conteúdo de flavonoides totais foi utilizada a metodologia descrita por Pothitirat e colaboradores (2009), em que as amostras foram colocadas em contato com solução metanólica de cloreto de alumínio (AlCl3) e, após incubação, avaliadas por espectrofotometria. Inicialmente foram preparadas soluções do padrão quercetina com concentrações que variaram de 2 a 50 µ g/mL, para realização da curva de calibração. A aquisição da absorbância realizada a λ=415 nm e a partir dos resultados obtidos foi construída a curva de calibração com o padrão quercetina, cuja equação foi utilizada para o cálculo dos teores de flavonoides totais.

Para o preparo das amostras, pesou-se aproximadamente 10 mg dos extratos (bruto, hexânico, clorofórmico e acetato de etila) de P. suberosa, dissolvidos em 20 mL de metanol. Foi preparada também uma solução metanólica de cloreto de alumínio a 2%.

Para o teste, foi adicionado 1,5 mL da amostra ou padrão de quercetina a 1,5 mL da solução metanólica de cloreto de alumínio em tubos de ensaio. Após 10 minutos de reação foram transferidos 300 μL de cada um dos tubos para a microplaca do espectrofotômetro da Thermo Scientific, modelo Modelo Multi-Scan GO e as amostras foram submetidas à leitura em espectrofotômetro a λ=415 nm. Para o branco, procedeu-se da mesma forma que as demais amostras, no entanto foi adicionado no lugar da amostra o metanol. A quantificação de flavonoides foi expressa em gramas de quercetina equivalentes EQ/ 100 g do extrato.

Teste do Sequestro do Radical 1,1-difenil-2-picrilhidrazil (DPPH•)

A atividade antioxidante foi avaliada por meio do teste do sequestro do radical livre DPPH•, conforme a metodologia descrita por MALTERUD et al. (1993), com adaptações. Assim, foram preparadas soluções metanólicas dos extratos bruto, hexânico, clorofórmico e de acetato de etila da espécie de P. suberosa em que diferentes concentrações, objetivando estabelecer uma curva linear correlacionando % de sequestro versus concentração da amostra e a concentração efetiva para 50% de atividade (CE50) de cada extrato.

Para realização do teste, tomou-se uma alíquota de 250µL da solução de DPPH• (45μg/mL) e 4,2µL das amostras. Para o controle positivo da reação foi utilizado propilgalato na concentração de 5mg/mL, já o controle negativo foi preparado substituindo a amostra pelo mesmo volume de metanol. A reação foi monitorada em espectrofotômetro de microplaca da Thermo Scientific, Modelo Multi-Scan GO, a λ=517nm, sendo avaliadas as absorbâncias nos tempos 0 e 15 minutos. A atividade antioxidante foi calculada pela fórmula: %������������������ = 100(��0����) (��0�� − ����) em que A0=absorbância inicial da solução de DPPH• com a amostra; Af=absorbância final da amostra após reação de 15 minutos com DPPH•; A0p=absorbância inicial do padrão e Ap=absorbância final do padrão após reação de 15 minutos com DPPH•. Após esse cálculo, foi traçado um gráfico que correlaciona porcentagem (%) de sequestro versus concentração da amostra para determinação da CE50. Todas as análises foram realizadas em triplicata.

Teste de Inibição da Auto-Oxidação do β-Caroteno

Conforme metodologia descrita por HIDALGO (1994) com adaptações, foi realizado o teste que avalia a inibição da auto-oxidação do β-caroteno. A reação foi gerada pela adição do agente oxidante radicalar e o ácido linoleico, realizada em microplaca, sendo a leitura em espectrofotometria no comprimento de onda a 470nm. Foram feitas soluções etanólicas dos extratos bruto, hexânico, clorofórmico e de acetato de etila na concentração de 10mg/mL, utilizando o propilgalato em soluções etanólicas na concentração de 1mg/mL como padrão. O meio oxidante foi composto por 10mg de β-caroteno dissolvido em 1mL de clorofórmio, posteriormente adicionado uma gota de ácido linoléico e 0,4mL do emulsificador Tween 40.

Seguidamente, para a retirada do clorofórmio foi utilizado o rotaevaporador e então adicionado 100mL de água destilada com agitação, a fim de promover a aeração. Após essa etapa foram adicionados à microplaca 10µ L das amostras na concentração de 10mg/mL, dos extratos bruto, hexânico, clorofórmico e de acetato de etila e o mesmo volume do padrão e 250µ L do meio oxidante. Sucessivas leituras foram realizadas até o tempo máximo estabelecido de 60 minutos, sendo a primeira consideranda o tempo zero e as intermediárias a cada 15 minutos. O branco da reação foi preparado com 250µ L do meio oxidante e 10µ L de etanol. A atividade antioxidante (AA) foi expressa em porcentagem, e calculada de acordo com a fórmula: AA = 100[1 − (����−����) (������−������)], sendo que: A0 = Absorbância inicial da amostra, At = Absorbância final da amostra, A0B = Absorbância inicial do branco e AtB = Absorbância final do branco.

Análise estatística

As análises passaram por tratamento estatístico descritivo, sendo as metodologias realizadas em triplicata. Os resultados foram expressos pela média ± desvio padrão. Para os testes foi utilizada a regressão linear, sendo considerados valores de R2≥0,99. As análises estatísticas foram realizadas por meio de análise de variância (ANOVA), utilizando o teste de Tukey e o teste de Scott-Knott para a comparação das médias obtidas, através do programa SISVAR® versão 5.7. Valores de p<0,05 foram considerados como indicativos de significância.

Resultados e Discussão

As partes aéreas da espécie de P. suberosa foram submetidas à secagem em estufa até atingir peso constante que, após pulverizadas, resultaram em 1.435,28g do material vegetal. O material pulverizado foi submetido ao método de maceração, e o extrato final obtido teve seu peso calculado em 143,01g, correspondendo a um rendimento de 9,97%, em relação à massa do material pulverizado. A tabela 1 indica a codificação, peso seco e rendimento dos extratos após o processo de partição.

Tabela 1. Codificação, peso seco e rendimento dos extratos de P. suberosa BGP 152

Passiflora suberosa EB EH EC EA

Peso seco (g) Rendimento (%)

143,01 Corresponde a 100% 23,84 16,67

Fonte: Autores (2022) 3,20 2,24 1,66 1,16

Em consideração a abundância de compostos presentes no extrato bruto, a finalidade do método de partição líquidolíquido envolveu a distribuição dos compostos entre as duas fases líquidas imiscíveis, para que se consiga extrair substâncias com polaridades semelhantes, concentrado em um extrato. A partição de extrato metanólico bruto com hexano favorece a extração de esteróides, flavonoides metoxilados, terpenos e acetofenonas; com clorofórmio, a de lignanas, flavonoides, sesquiterpenos, lactonas, triterpenos e cumarinas; enquanto o acetato de etila possibilita a extração de flavonoides, taninos, xantonas, ácidos triterpênicos, saponinas e

compostos fenólicos em geral (CECHINEL FILHO; YUNES, 1998). Os resultados na tabela 1 atestam que as substâncias presentes no extrato bruto de P. suberosa possuem compostos de maior afinidade pelo solvente orgânico hexânico e em contrapartida compostos de menor afinidade pelo solvente acetato de etila, apresentando um baixo rendimento. Os extratos de P. suberosa foram submetidos ao teste de identificação e quantificação de fenólicos e flavonoides totais. O teste de fenólicos permite identificar a presença dessas substâncias e quantificar as mesmas através da equação da reta obtida pela curva de regressão linear. o valor do coeficiente de correlação (R2) de 0,9981. Através da equação da reta y = 0,0066x + 0,0966, foram calculados o teor de substâncias fenólicas presentes nos extratos, expressos os resultados correlacionando com a equivalência de ácido gálico (mg EAG/100g de extrato), os quais estão apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Teor de fenólicos totais obtidos nas amostras

Extratos de P. suberosa EB EH EC EA

Fenólicos totais (mg EAG/g de extrato) 3,94±0,013c 3,14±0,001b 2,52±0,005a 15,58±0,029d Variáveis identificadas com uma letra minúscula comum não diferem em nível de significância de 5% Estatística realizada: ANOVA e Teste Scott-Knott (p<0,05). Fonte: Autores (2022).

Majoritariamente, a concentração de compostos fenólicos estão presentes no extrato acetato, mediante a quantificação de fenólicos totais pelo método de Folin Ciocalteau. Compostos fenólicos apresentam maior afinidade por solventes de maior polaridade, portanto, justifica-se o fato de o EA ter a maior presença desses compostos. Para o teste de flavonoides totais, a presença dessas substâncias foi quantificada em relação ao padrão quercetina através da equação da reta y = 0,03x + 0,2155, obtida pela curva de regressão linear e coeficiente de correlação R2 de 0,9998. O conteúdo de flavonoides totais obtidos pelo método de complexação com cloreto de alumínio (AlCl3), foi expresso em mg de EQ/100g de extrato.

Tabela 3. Teor de flavonoides totais obtidos nas amostras

Extratos de P. suberosa EB EH EC EA

Flavonoides totais (mg QE/g de extrato) 4,49±0,009a 7,95±0,081b 8,93±0,025c 8,046±0,017b

Variáveis identificadas com uma letra minúscula comum não diferem em nível de significância de 5% Estatística realizada: ANOVA e Teste Scott-Knott (p<0,05). Fonte: Autores (2022).

Segundo demonstrado na tabela 3, a maior concentração de flavonoides foi encontrada no extrato clorofórmico, seguido do extrato acetato de etila e do extrato hexânico, que não se diferenciam estatisticamente. Os flavonoides são comumente compostos polares, tais como os flavonoides glicosilados, o que justifica a sua presença no extrato acetato de etila. Porém, a polaridade dos flavonoides pode variar, até substâncias apolares, como os flavonoides esterificados, metilados ou não substituídos, o que evidencia a presença desses compostos no extrato clorofórmico e hexânico, devido à natureza do extrato (GOMES, 2013).

Esses mesmos extratos foram submetidos a avaliação da sua capacidade antioxidante, sendo realizado pelo método do sequestro do radical livre DPPH• e pela avaliação da capacidade de proteção do β-Caroteno da auto-oxidação.

Os extratos de P. suberosa foram submetidos ao teste do sequestro do radical livre DPPH•, e tiveram a atividade da capacidade sequestrante calculada a partir dos valores das absorbâncias para cada extrato (tabela 4), sendo possível correlacionar as concentrações das amostras versus os valores da % de DPPH• sequestrado. Tabela 4. Valores do CE50 do Sequestro do Radical DPPH• dos extratos de P. suberosa

EXTRATO EB (%) EH (%) EC (%) EA (%) Propilgalato*

CE50 (Em mg/L) 8,33±0,21c 11,74± 0,21d 8,40±0,30c 2,47±0,02b 0,21±0,01a Propilgalato* controle positivo Estatística realizada: ANOVA e Teste Scott-Knott (p<0,05). Fonte: Autores (2022).

O EA foi o mais ativo entre os demais extratos com CE50 2,47mg/mL, e de acordo com o teste de Scott-Knott o EB e o EC, não apresentaram diferença estatística nos valores de CE50, seguido do EH que apresentou o maior valor de CE50. Foi concomitantemente determinado a CE50 do propilgalato, utilizado como controle positivo do ensaio, sendo esse um composto antioxidante de estrutura química conhecida. O EB se apresenta como uma mistura complexa de compostos químicos, e essas substâncias podem agir de forma sinérgica ou antagônica frente a uma determinada atividade biológica. O EA se mostrou mais ativo, evidenciando que o processo de partição líquido-líquido possibilitou a obtenção de extratos semipurificados, justificando o aumento da atividade biológica com a concentração dos compostos responsáveis pela atividade no EA.

Foi ainda avaliada a capacidade dos extratos de P. suberosa de proteger o β-Caroteno, substrato lipídico, da autooxidação. Os resultados encontram-se na tabela 5. Analisando os resultados obtidos é possível observar que, na concentração de 10mg/mL, os extratos EB e EH tiveram a capacidade de proteger o β-Caroteno da auto-oxidação inferior a 50%, já EA e o EC, não se diferiram estatisticamente, exibindo capacidade superior a 70%. Uma vez que os antioxidantes naturais provenientes de plantas podem atuar através de vários mecanismos, tornase necessário avaliar esse potencial por mais de uma metodologia, levando em consideração a variabilidade estrutural dos compostos naturais e a capacidade deste em expressar a atividade biológica por vários mecanismos.

Tabela 5. Atividade de Inibição da Auto-Oxidação do β-Caroteno dos extratos de P. suberosa.

EXTRATOS (10mg/mL) % de inibição

PROPILGALATO* 88,74±1,67c EB 45,72±9,81b EH 19,08±0,17a EC 71,85±2,84c EA 77,78±2,94c * PROPILGALATO (controle positivo) na concentração de 1mg/mL. Variáveis identificadas com uma letra minúscula comum não diferem em nível de significância de 5%. Estatística realizada: ANOVA e Teste Scott-Knott (p<0,05). Fonte: Autores (2022).

A relação entre concentração de compostos fenólicos e a capacidade antioxidante de extratos é expressiva, visto que extratos com maior conteúdo de fenóis são justamente os extratos com maior atividade antioxidante. Compostos dessa classe têm recebido atenção por serem os principais responsáveis pela atividade antioxidante presentes em vegetais (LIMA et al., 2006; VIEIRA et al., 2015).

Nas plantas, os compostos fenólicos as protegem contra danos teciduais, contra a ação de subprodutos provenientes da fotossíntese e contra animais herbívoros (OLIVEIRA, 2014). Como agentes antioxidantes, os compostos dessa classe são considerados multifuncionais, agindo combatendo os radicais livres através da doação de um átomo de hidrogênio de um grupo hidroxila (OH); apresentando capacidade de suportar um elétron desemparelhado; quelando metais de transição;

interrompendo a reação de propagação dos radicais livres na oxidação lipídica; modificando o potencial redox do meio e reparando lesões decorrente de ataque dos radicais livres em moléculas (PAZINATO, 2017). Os flavonoides representam um dos grupos dos compostos fenólicos, sendo responsável também por inúmeras funções nas plantas. Dentre elas, pode-se mencionar a proteção contra raios ultravioleta, contra insetos, fungos, vírus e bactérias, e a capacidade de proporcionar a atração de animais polinizadores. Do ponto de vista farmacológico estudos demonstraram propriedades antiviral, atividade antitumoral, anti-inflamatória, antioxidante, atividade hormonal entre outras para esses compostos (DOS SANTOS; RODRIGUES, 2017).

Conclusão

Os compostos fenólicos, em especial os flavonoides compõem a principal categoria presente nas espécies de Passiflora, sendo considerado com marcadores quimiotaxonômicos da espécie, além de apresentarem comprovadas atividade farmacológicas. O presente trabalho permitiu apontar o potencial biológico da espécie Passiflora suberosa, sendo essa uma espécie ainda pouco explorada do ponto de vista farmacológico e químico.

Agradecimentos

Às agências CNPq, FAPESB e CAPES pelo apoio financeiro.

Referências

BERNACCI, L. C. et al. Passifloraceae. In Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB12564. Acesso em: 17 jan. 2020. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa nº 2, de 13 de maio de 2014. Publica a “Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado” e a “Lista de produtos tradicionais fitoterápicos de registro simplificado”. CECHINEL FILHO, V.; YUNE, R. A. Estratégias para a obtenção de compostos relativamente inexplorada em comparação com outras espécies gicamente ativos a partir de plantas medicinais: conceitos sobre modificação estrutural para a otimização da atividade. Química Nova, v.21, n.1, p. 99-105, 1998. COSTA, G. M. Estudo químico de espécies brasileiras e colombianas do gênero Passiflora. 2013. 291 f. Tese (Doutorado em Farmácia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. DEGINANI, N. B. Las especies argentinas del género Passiflora (Passifloraceae). Darwiniana, v. 39, n. 1-2, p. 43-129, 2001. DOS SANTOS, D. S.; RODRIGUES, M. M. R. Atividades farmacológicas dos flavonoides: um estudo de revisão. Estação Científica (UNIFAP), [S.l.], v. 7, n. 3, p. 29-35, 2017. Disponível em: https://periodicos.unifap.br/index.php/estacao/article/view/3639. Acesso em: 22 fev. 2020. ESPINHEIRA, M. J. C. L.; SILVA, R. S.; SOUZA, F. M. Avaliação da atividade antibacteriana do óleo essencial das sementes de Passiflora edulis Sims frente às bactérias Gram Positivas e Gram Negativas. Revista Multidisciplinar e de Psicologia, v.13, n. 43, p. 1003-1017, 2019. GEORGÉ, S. et al. Rapid determination of polhyphenois and vitamin C in plant-derived products. Journal of Agricultural and Food Chemistry. v.53, n. 5, p. 1370-1373, 2005. GOMES, S. V. F. Aplicação do planejamento Box-Behnken na otimização de método de extração de flavonoides

usando extração acelerada com solventes (ASE) e quantificação de marcadores químicos por CLAE-DAD-UV em

espécies do gênero Passiflora. 2013. 161 f. Tese (Doutorado em química orgânica) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Química, Salvador, 2013. GOSMANN, G. et al. Composição química e aspectos farmacológicos de espécies de Passiflora L. (Passifloraceae). Brazilian Journal of Biosciences, Porto Alegre, v. 9, n.1, p. 88-99, 2011. HIDALGO, M. E. et al. Antioxidant activity of depsides and depisidones. Phytochemistry. v.37, p. 1585-87, 1994.

IRVINE, M. Breeding hardy Passiflora. The Plantsman. 2010. Disponível em: https://www.riversidepassiflora.com/wp-content/uploads/2017/08/The-Plantsman-September: 2010. Acesso em: 17 jan. 2020. LIMA, A. R. et al. Avaliação in vitro da atividade antioxidante do extrato hidroalcoólico de folhas de bardana. Revista brasileira farmacognosia, João Pessoa, v. 16, n. 4, p. 531-536, 2006. LOPES, M. W.; TIYO, R.; ARANTES, V. P. Utilização de Passiflora incarnata no tratamento da ansiedade. Revista UNINGÁ Review, Paraná, v. 29, n. 2, p. 81-86, 2017. MALTERUD, K. E.; FARBROT, T. L.; HUSE, A. E.; SUND, R. B. Antioxidant and radical scavenging effects of anthraquinones and anthrones. Pharmacology, v. 47, n. 1, p. 77-85. 1993. OLIVEIRA, B. L. Avaliação da atividade cicatrizante, antioxidante e antibacteriana do ácido salazínico extraído do líquen Ramalina complanata. 2014. 59 f. Dissertação (Mestre em Saúde Humana e Meio Ambiente) - Universidade Federal de Pernambuco, Antão, 2014. PALMA, N. et al. Estudo morfoanatômico de Passiflora malacophylla. XI Simpósio Brasileiro de Farmacognosia - XVI Simpósio Latinoaméricano de Farmacobotânica. Curitiba, 2017. Disponível em: http://www.sbfgnosia.org.br/xisimposio/uploads/325_142%20Resumo%20Nicolás%20De%2 0Palma%20ACEITO.pdf. Acesso em: 10 jan. 2020. PAZINATO, D. M. E. Capacidade antioxidante de Eugenia uniflora L. (pitangueira) em resposta ao ambiente de mineração de calcário. 2017. 63 f. Dissertação (Mestre em Tecnologia Mineral) - Universidade Federal do Pampa, Caçapava do Sul, 2017. PORTER-UTLEY, K. A revision of Passiflora L. subgenus Decaloba (DC.) Rchb. supersection Cieca (Medik.) J. M. MacDougal & Feuillet (Passifloraceae). PhytoKeys, v. 43, p.1- 224, 2014. POTHITIRAT, W. et al. Comparison of bioactive compounds content, free radical scavenging and anti-acne inducing bacteria activities of extracts from the mangosteen fruit rind at two stages of maturity. Fitoterapia, v. 80, n.7, p. 442–447, 2009. QURESHI, S.; RAI, M. K.; AGRAWAL, S. C. In vitro evaluation of inhibitory nature of extracts of 18 plant species of Chhindwara against 3 keratinophilic fungi. Hindustan Antibiotics Bulletin, v. 39, p. 56-60, 1997. RAMOS, A. T. et al. Uso de Passiflora edulis f. flavicarpa na redução do colesterol. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 17, n. 4, p. 592-597, 2007. RAMOS, J. P. S. Prospecção fitoquímica de extratos hidroalcoólicos de pimentas murupis e avaliação de suas propriedades antioxidantes e tóxicas. 2017. 54 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2017. RICHARDO, J. Morfologia e estrutura da esporoderme dos grãos de pólen de espécies sul-americanas de Passiflora L. (Passifloraceae). 2018. 62 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) - Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, 2018. VIEIRA, L. M. et al. Fenóis totais, atividade antioxidante e inibição da enzima tirosinase de extratos de Myracrodruon urundeuva Fr. All. (Anacardiaceae). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v. 17, n. 4, p. 521-52, 2015.

This article is from: