The Red Bulletin Julho de 2013 - BR

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Ação i  Esporte i  Viagem i  Arte i  Música

uma revista além do comum

juLho de 2013 Ba ix

e d içe a d i g it ã o de gr a l aç a Super carro

Tecnologia no rali de montanha Anarquia da bicicleta

A comunidade de bikers na Escócia

Valery Rozov  Exclusivo

Meu  salto  de cima  do everest




o Mundo de red bull

Julho 26

Voo de altitude

Valery Rozov foi o primeiro homem a voar de wingsuit a partir da face norte do Monte Everest. Nunca alguém se jogou de tão alto

O homem enrolado nessa roupa azul é Valery Rozov. Ele já fez mais de 9 mil saltos e voos de wingsuit. Seu feito mais recente, e provavelmente o mais marcante, foi saltar do Monte Everest com a roupa voadora – temos a história completa e fotos exclusivas de cair o queixo. Do topo da montanha, partimos para o ponto mais profundo que um homem pode chegar apenas com a ajuda de seus pulmões: a história de Herbert Nitsch a 240 metros de profundidade é uma lição sobre os limites do ser humano. Também passamos pela Bielorrússia, terra natal da número 3 do tênis feminino, Victoria Azarenka; visitamos uma comunidade de jovens bikers na Escócia; acompanhamos o desenvolvimento de um carro ultrapoderoso para rali de montanha e muito mais. Só coisa boa. Aproveite! 4

“ Ao pousar, eu estava

exausto e não senti nada.

As emoções vieram dois dias depois.”

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foto da capa: thomas senf. fotos: thomas senf

bem-vindo


o Mundo de red bull

Nesta edição Bullevard 14 17 18 20 22 23 24

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NOTAS  Pelo mundo NA CABEÇA DE...  Brad Pitt ANTES E DEPOIS  Vespa FÓRMULA PERFEITA  Kickflip EU E MEU CORPO  Derek Wedge kainrath  Sempre ele NÚMEROS DA SORTE  Recordes

Destaques 26 Valery Rozov

O passo a passo do insano  desafio do russo com asas

Pronto para subir

38 Rodando

A jornada de Sébastien Loeb e da Peugeot Sport para montar um carro insano e fazer bonito na subida de Pikes Peak

A dança uniu duas culturas com   mais de 100 anos de diferença

44 Garotos perdidos

Conheça a comunidade de garotos apaixonados por BMX na Escócia

54 Sobe, Loeb

A união entre o melhor piloto de rali   e uma equipe dedicada

fotos: duhamel falvien/red bull content pool, felix woelk/red bull content pool, greg funnell (2), cameron baird/red bull content pool

60 Herbert Nitsch

80 Isso sim é aventura

O Red Bull X-Alps é uma corrida de aventura bem dura: voar, correr e escalar de Salzburgo a Monte Carlo

44 Anarquia da bike

O mundo dos sonhos de Kriss Kyle e seus amigos na Escócia em uma comunidade para lá de alternativa

O ser humano que mergulhou   mais fundo com o próprio ar

70 Francesco Tristano

O mix entre eletrônico e erudito   idealizado pelo líder da Aufgang

72 Victoria Azarenka

Viajamos para a Bielorrússia para passar uns dias com a tenista

80 Red Bull X-Alps

Veja como funciona a corrida   de aventura mais difícil do mundo

ação

72 Na Bielorrússia

Fomos à casa de Victoria Azarenka, a tenista mais controversa da atualidade. Será que ela leva Wimbledon? the red bulletin

93 Treino pesado

James Spithill, iatista vencedor da America’s Cup, mostra como é preciso ter garra para vencer na água

90 MALAS PRONTAS  De MIG na Rússia 91 Minha cidade  Cape Town 92 MEU EQUIPO Christian Maurer 93 EM FORMA  James Spithill 94 balada  O bicho pega na Croácia 95 música  Sons do mundo 96 Na agenda  O que fazer neste mês 98 a última página  Túnel do Tempo 5


colaboradores nosso time em julho THE RED BULLETIN Brasil Editora e sede Editorial Red Bull Media House GmbH Gerente Geral Wolfgang Winter Diretor Editorial Franz Renkin

martin apolin

THomas SENF O fotógrafo alemão estava lá com sua câmera quando Valery Rozov pulou do Monte Everest. “Velocidade do obturador: 1/2500s. Estou pendurado por uma corda. Perto de mim, Valery está com seu wingsuit pronto para pular. Não sei quem está respirando mais rápido. A margem de erro para nós dois é zero. A opção de ter outra tentativa não existe.” Senf é alpinista e está acostumado com esse tipo de aventura. Ele se mudou para a Suíça para ficar mais perto das nuvens.

stefan wagner Minsk em vez de Mônaco, torres de concreto no estilo soviético em vez de mansões, treinos sem aquecedor no lugar de quadras debaixo de coqueiros: descobrir as origens de Victoria Azarenka significa abandonar os luxos da vida. E o homem a quem designamos essa missão estava mais do que pronto. Ele domina vários assuntos, mas como um expert no tênis, sua ida a Minsk e o convívio com Azarenka foi mais do que um trabalho: foi um grande prazer.

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Em seu trabalho como professor e físico, o austríaco consegue fazer o que muita gente considera impossível: ele deixa a física interessante. Todo mês no Red Bulletin ele revela os mistérios do esporte na seção Fórmula Mágica. Da velocidade dos barcos aos truques de skate, da gravidade aos voos, suas interpretações deixam os esportistas mais espertos só de ler. Neste mês ele explica o kickflip.

Editor Chefe Robert Sperl Coordenador Editorial Alexander Macheck Editor Brasil Fernando Gueiros Diretor de Arte Erik Turek Diretor de Fotografia Fritz Schuster Editora Assistente Marion Wildmann Gerentes de Projeto Cassio Cortes, Paula Svetlic Apoio Editorial Ulrich Corazza, Werner Jessner, Ruth Morgan, Florian Obkircher, Arek Piatek, Andreas Rottenschlager, Stefan Wagner, Paul Wilson, Daniel Kudernatsch (iPad), Christoph Rietner (iPad) Editores de Arte Miles English (Diretor) Martina de Carvalho-Hutter, Silvia Druml, Kevin Goll, Carita Najewitz, Kasimir Reimann, Esther Straganz Editores de Fotografia Susie Forman (Diretora artística de fotografia) Ellen Haas, Catherine Shaw, Rudi Übelhör Revisão Manrico Patta Neto Impressão Clemens Ragotzky (Diretor), Karsten Lehmann, Josef Mühlbacher Gerente de Produção Michael Bergmeister

christophe couvrat “Ao chegar do Rali Dakar, passou uma coisa pela minha cabeça: Ari Vatanen, aquele piloto maluco, ou Timo Salonen com seu T16, 205 ou 405. Mas não, não foi bem assim. Isso foi só um sonho. Exceto para a Peugeot! A marca do leão simplesmente decidiu atacar Pikes Peak com um T16, T16 208. Seria o Ari na pilotagem? Não via outra saída. Mas então anunciaram Sébastian Loeb, o que não é nada mau. Estou ansioso para vê-lo em ação”.

Produção Wolfgang Stecher (Diretor) Walter O. Sádaba, Christian Graf-Simpson (iPad) Financeiro Siegmar Hofstetter, Simone Mihalits Marketing & Gerência de países Barbara Kaiser (Diretora) Stefan Ebner, Stefan Hötschl, Elisabeth Salcher, Lukas Scharmbacher, Sara Varmingg Assinaturas e Distribuição Klaus Pleninger, Peter Schiffer Marketing de Criação Julia Schweikhardt, Peter Knethl Anúncios Marcio Sales, (11) 3894-0207, contato@hands.com.br. Gestão de anúncios Sabrina Schneider Coordenadoria Manuela Geßlbauer, Anna Jankovic IT Michael Thaler Escritório Central Red Bull Media House GmbH, Oberst-Lepperdinger-Straße 11–15, A-5071 Wals bei Salzburg, FN 297115i, Landesgericht Salzburg, ATU63611700 Sede da Redação Heinrich-Collin-Straße 1, A-1140 Wien Fone +43 1 90221-28800 Fax +43 1 90221-28809 Contato redaktion@at.redbulletin.com

“Não sei quem respira mais rápido, se é o Valery antes de saltar ou eu segurando a câmera.” Thomas Senf

Publicação The Red Bulletin é publicada simultaneamente na Áustria, Brasil, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Kuwait, México, Nova Zelândia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Visite nosso site www.redbulletin.com.br

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A energiA de red Bull em trĂŞs novos sABores.

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D U BAI , E m i r ad o s Ár abe s

TREINO NA ALTITUDE Quando o arquiteto britânico Tom Wright projetou o heliponto do luxuoso hotel Burj Al Arab, ele não previu que ele fosse usado por outros tipos de veículos motorizados. Danny Torres, o campeão espanhol de motocross freestyle, fez um aquecimento por lá antes da etapa de Dubai do Red Bull X-Fighters World Tour. Qualquer um consegue dar seu cavalinho de pau, mas Torres deu um show de manobras a 321 metros acima do Golfo Pérsico: pura ousadia. Informações sobre o Tour 2013: www.redbullxfighters.com  Foto: Balazs Gardi/Red Bull Content Pool

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PU R MAMARC A , ARG E NTI NA

F1 NO DESERTO

“Eu não podia acelerar com tudo. Afinal, estávamos atravessando um povoado.” Não era um dia normal para o piloto da Infiniti Red Bull Racing, Neel Jani. O suíçoindiano deu uma freada de 800 bhp no RB7 em uma corrida de apresentação no noroeste da Argentina. (Também na agenda de Jani para a América do Sul, estavam atividades como comer donuts em uma pista antes que um caça pousasse na fumaça do seu pneu.) Sua corrida pelo vilarejo terminou em total clímax. “Uma tempestade começou e as coisas ficaram bem interessantes.” Os registros de Neel podem ser vistos em: www.neel-jani.com Foto: Gustavo Cherro/Red Bull Content Pool

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AL AI N , E m i r ad o s Ár ab e s

ONDA NO DESERTO A cidade de Al Ain, localizada em um oásis na fronteira entre Omã e os Emirados Árabes, fica a uma hora de carro do litoral e está se tornando um destino para surfistas. No parque aquático de Wadi, as ondas artificiais que surgem com o toque de um botão podem chegar a 3 metros de altura. A estrela do surfe australiano Sally Fitzgibbons ficou impressionada: “É como surfar em Marte”. Confira o verdadeiro surfe artificial em: www.wadiadventure.ae  Foto: Trent Mitchell/Red Bull Content Pool

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Bullevard Sua dose mensal de esporte e cultura

Jogo duro Durante a Copa das Confederações, de 15 a 30 de junho, no Rio, você nem imagina que outras “peladas” rolam pelo mundo...

Supersérie Sepak Takraw Na Tailândia: o torneio que é um pouco futebol, um pouco vôlei e um pouco arte marcial acontece de 27 a 30 de junho

PELADA MEDIEVAL Na Itália: em junho, o Calcio Storico transforma Florença em um campo de batalha

ESCULTOR DE PÁGINAS O artista Brian Dettmer leva a experiência com os livros bem a fundo Ele usa bisturi e pinça e trabalha com mapas, enciclopédias e dicionários. “Livros não possuem mais o monopólio da transmissão de conteúdos”, diz Brian Dettmer. “Por isso me pergunto: ‘O que fazemos com eles?’ ” O artista nascido em Chicago há 38 anos encontrou uma resposta criativa. Ele transforma livros velhos e abandonados em esculturas de papel. Com habilidade e precisão cirúrgicas, Dettmer passa sua lâmina cada vez mais fundo nos volumes, página por página, criando novos contextos para velhas ilustrações e textos. O artista, que terá três exibições em 2013, não usa cola nem nada parecido e passa cinco dias trabalhando em um único livro. Uma série completa pode demorar mais de cinco meses. Mas cortar livros deixa a consciência pesada? “No começo deixava”, diz o americano. “Mas também passei a me questionar por que nós estipulamos esses valores a eles. E isso me fez vê-los como um material para trabalhar.” www.briandettmer.com

COPA DA LAMA Em Blairmore, na Escócia: barro, suor, lágrimas e mais barro (29 e 30 de junho)

Guia Completo, 2011, por Brian Dettmer

Clicks

A SUA FOTO AQUI Você já tirou uma foto com o sabor da Red Bull? RoboCopa Em Eindhoven, na Holanda: Androida Pirlo e Roboto Carlos vão a campo (26 a 30 de junho)

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Todo mês a gente faz uma seleção com nossas favoritas. phototicker@redbulletin.com

Dubai O espanhol Maikel Melero voa durante a segunda etapa do Red Bull X-Fighters 2013. Daniel Grund the red bulletin


Amor e dinheiro

O tênis volta à ativa em sua casa mais tradicional, Wimbledon, em 24 de junho

TICKET PARA FINAL O ingresso para a final masculina custa R$ 360 e costuma ser leiloado perto do jogo

Uma galeria de arte temporária na rua, no coração de Paris, com trabalhos como o da francesa YZ

fotos: Getty images (2), picturedesk.com (2), archie fergusson, brian dettmer & packer schopf gallery Jerome Coton, reuters, bulls, rex Features

Arte escondida Em seus 130 anos servindo a capital francesa, a Les Bains Douches passou por muitas fases. Depois dos primórdios como a casa de banho preferida dos parisienses, em 1978 ela começou a funcionar como balada, com Mick Jagger, Kate Moss e Johnny Depp entre os frequentadores. Três anos atrás, ela fechou depois que uma reforma deu errado. Agora os planos estão novamente em curso, e o prédio deve reabrir como um hotel de luxo em 2014. Para evitar a ociosidade no meio tempo, o dono, Jean-Pierre Marois, entregou o espaço para 50 artistas de rua de ponta. Nomes como Vhils, Sten Lex, Space Invader e Future transformaram o local em uma coleção de arte urbana sem precedentes. Esse moderníssimo museu, entretanto, não poderá ser visto pelo público devido a razões de segurança. Ainda bem que os artistas fizeram um blog para documentar os trabalhos e mostrá-los para o resto do mundo. www.lesbains-paris.com

Santos Neymar Jr. e Kelvin Silva, o vencedor do Red Bull Príncipe da Vila. Fabio Piva the red bulletin

MORANGOS Em 2012, cerca de 28 tone­ladas foram consumidas. A porção com dez, coberta de creme, custa R$ 7,50

PREMIAÇÃO Crise financeira? Que nada! A premiação dos vencedores está 40% maior que no ano passado

Doha

Electroblues James Blake, o prodígio da música eletrônica, conta como é conhecer ídolos, ter inspiração no avião e tomar chá com Brian Eno Seu álbum de estreia foi a sensação do pop de 2011: baixo estrondoso, melodias frágeis e um eletrônico de arrepiar. Em outras palavras, um blues para o século XXI. Com meio milhão de cópias vendidas, conseguiu que Stevie Wonder e Brian Eno se tornassem seus fãs. Hoje, o britânico está na turnê de divulgação do seu segundo álbum, Overgrown. red bulletin: Dizem que seu segundo álbum é o mais pesado. É verdade? james blake: Lógico, depois do primeiro álbum, eu poderia engordar com o sucesso e só andar por aí me embriagando. Mas fiquei constantemente em turnê e conheci os meus ídolos, como Joni Mitchell. As novas

músicas são sobre o que aconteceu nos últimos dois anos. Onde você acha mais fácil escrever novas músicas? No avião. É o lugar mais barulhento, mas também o mais remoto. Ninguém está preocupado se você fica só escrevendo – e você tem menos distrações. Eu gosto dessa espécie de camisa de força criativa. Como foi a parceria com Brian Eno? No meio da gravação cheguei a um ponto em que não sabia como continuar. Então pedi uns conselhos a ele e fui conhecer seu estúdio. Ele me deu chá e me estimulou a seguir minhas ideias. Overgrown já está à venda. www.jamesblakemusic.com

Teclado do sucesso: James Blake

No Red Bull Fortress Challenge do Catar: 150 ciclistas, areia, terreno traiçoeiro e muito calor. Sharbel Najem

Bangcoc

A turma do Hip Hop Flying Steps deixou a capital tailandesa de ponta-cabeça. Dean Treml

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Bullevard

Correr, correr Com recorde de participantes, a Maratona da Cidade do Rio de Janeiro acontece no dia 7 de julho e cruza as praias mais bonitas da cidade. Serão 16 mil corredores nos percursos de maratona (42 km) e meia maratona (21 km). O que muda é basicamente o local da largada. Na maratona, os corredores saem da Praça do Pontal, e na meia a largada acontece na Praia do Pepê, na Barra. Ambos os percursos passam por São Conrado, Leblon, Ipanema, Copacabana, Botafogo e terminam no Aterro do Flamengo, onde será realizado também o family run, de 6 km. Difícil é não desviar a atenção para algumas das mais belas paisagens do país. www.maratonadorio.com.br

Até então, a disputa era apenas entre homens

MULHERES AO LAGO

Casas voadoras Você já pensou em pegar uma casa e pendurá-la muito alto com uma rabiola de pipa embaixo. Piração? Não, essa é a ideia que o fotógrafo francês Laurent Chéhère transformou em realidade na sua cidade, Paris. Ele expõe 11 fotos de seu trabalho até o dia 30 de junho na Galeria Lume, em São Paulo. O artista se inspirou no filme Le Ballon Rouge, de Albert Lamorisse. Por isso, Chéhère fez suas fotos no mesmo local de filmagem da obra de Lamorisse, nos subúrbios da cidade. www.galerialume.com A obra “Caravane”

Jidá É preciso foco para ir bem no Red Bull BC One Cypher, na Arábia Saudita. Stefan Voitl 16

A gaúcha Jacqueline Valente saiu do Brasil há oito anos como aspirante a educadora física. Hoje, aos 27 anos, é a única brasileira na competição de saltos de penhascos. Ela mergulhou no mundo aos 19, quando foi trabalhar na Alemanha, fazendo shows de ginástica olímpica em um parque de diversões. Depois, passou dois anos e meio em Macau, na China, e atualmente vive em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Ainda na Alemanha, quando o parque de diversões quis mudar o show, ela aprendeu as técnicas dos saltos ornamentais. “Como eu não era saltadora, meu chefe me deu quatro meses para tentar aprender”, diz Jaki. “Fui treinar na Ucrânia e quando voltei deu certo.” A brasileira estará no dia 14 de julho na cidade de Malcesine, a 50 km de Verona, mais especificamente no Castelo Scaligero, à beira do Lago di Garda. É lá que o Red Bull Cliff Diving fará sua primeira competição entre mulheres. Mas existe muita diferença entre homens e mulheres na hora do salto? “Acho que não tem diferença técnica. Mas os homens parecem ter um pouco mais de coragem, não?”, brinca Jaki, que antes de cada salto busca memorizar os movimentos e mentalizar o salto. “Concentração e foco são as coisas mais importantes.” www.redbullcliffdiving.com

São Francisco A arte encontra as acrobacias enquanto os bikers voam no Red Bull Ride + Style. Garth Milan

Córdoba Sébastien Loeb voa para a vitória na Argentina, durante o Mundial de Rali. Marcelo Maragni

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Texto: Fernando Gueiros. Foto: Vincent Curutchet/Red Bull Content Pool

Pela primeira vez o Red Bull Cliff Diving receberá mulheres para saltar. A etapa acontece no começo de julho, na Itália – e terá uma brasileira

Boa pernada: da Barra à zona sul


Bullevard

onde está com a cabeça?

brad pitt

Ele completa 50 anos neste ano, fez grandes filmes e é uma das maiores estrelas do cinema. Ah, ele também vendeu comida mexicana vestido de galinha... Você o conhece de verdade?

Palavras caras

Cocoricó

“Não é uma viagem. Toda viagem termina, mas nós seguimos. O mundo dá voltas. Planos desaparecem. Sonhos tomam conta. Minha chance, meu destino, minha sorte. Chanel Nº 5. Inevitável”, diz o anúncio que lhe rendeu US$ 170 mil por palavra.

William Bradley Pitt nasceu em Springfield, Missouri, em 18 de dezembro de 1963. Duas semanas antes de se formar em jornalismo, foi para Los Angeles dirigindo um velho Datsun. Por lá, foi figurante, trabalhou fantasiado de galinha e foi motorista de strippers.

Macaquices

Em 1987, começou com uma ponta na série de TV Dallas. Em 1991, veio o papel em Thelma & Louise. Em 1994, foi protagonista pela primeira vez em Lendas da Paixão. Em 1995, fez Seven – Os Sete Crimes Capitais e foi indicado ao Oscar por 12 Macacos.

Amor congelado

O que faz um casal com um patrimônio estimado em US$ 300 milhões para surpreender um ao outro? Comida congelada. Na Inglaterra, Angelina pagou um restaurante indiano para congelar um carregamento de pratos para levar para L.A.

Mais conteúdo

Há nove anos, Pitt era hit com Tróia e Sr. & Sra. Smith. Depois deixou de ser blockbuster para ser cult: fez Babel e A Árvore da Vida. “O que me falta é a relevância que alguns grandes atores têm, quero me dedicar a isso daqui em diante”, pondera.

Primeira regra

texto: paul wilson. ilustração: lie-ins and tigers

Para viver Tyler Durden, de Clube da Luta, cobriu seu trailer com pornografia e uma foto de Bruce Lee. “A Susan Sarandon chegou para uma visita com sua filha e com a pequena Natalie Portman”, contou. “Tenham cuidado ao fazer isso!”

O bom zumbi

Sexteto

Pitt tem seis filhos com Angelina Jolie: três adotados e três biológicos. Em 2008, após o nascimento dos gêmeos Knox e Vivienne, o casal arrecadou US$ 14 milhões para sua fundação – a maior soma já gasta em fotos de celebridades. the red bulletin

Com estreia prevista para junho, Guerra Mundial Z trará Brad enfrentando zumbis. “Só queria fazer um filme que meus meninos pudessem ver antes de fazer 18”, disse. Nenhum pai que ama seus filhos deveria colocá-los para ver Encontro Marcado. www.worldwarzmovie.com

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ANTES E DEPOIS

SCOOTER PARA SEMPRE

A irmã mais nova da família do motociclismo envelheceu com graça, continua bonita e fica mais funcional a cada década que passa

CHASSI DE CLASSE

A montadora Rumi conhecia bem o processamento de alumínio através do trabalho na elaboração de peças para a indústria aeronáutica. Sua scooter com lataria de alumínio fundido está anos à frente de outras montadoras que usam aço soldado.

IDEIA BRILHANTE

As rodas de 10 polegadas da Formichino a deixaram mais ágil. O farol foi ligado à forqueta por um cabo que permite que a moto ilumine as curvas durante o passeio: isso era bem moderno em 1954.

OS CAVALOS

Motor de dois cilindros e dois tempos com um carburador duplo de fluxo descendente: música para os ouvidos dos amantes de scooters. Com 6,5 bhp, ela chegava fácil aos 100 km/h.

1954 Rumi Formichino 125 A montadora italiana Rumi, com sede em Bérgamo, começou a fabricar scooters e motos após a Segunda Guerra Mundial e fez a Itália rodar novamente. A Formichino, que em italiano quer dizer “formiguinha”, é vista como o auge da arte de fazer scooters. A companhia fechou as portas em 1962 e seu fundador, Donnino Rumi, retornou à sua verdadeira vocação como escultor e artista.

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A simplicidade e elegância de um painel com um único medidor, no caso, o de combustível formichino.com

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FÁCIL DE MONTAR

Para-brisas ajustáveis, compartimento de bagagem sob o assento: esta é uma moto projetada para ser confortável e prática. Entre os opcionais, estão assentos e guidom aquecidos, uma mala superior e monitor da pressão nos pneus.

robusta

A BMW combina um chassi de alumínio e de aço moldados. A roda traseira de 15 polegadas é sustentada por um braço oscilante, enquanto os freios ABS funcionam como uma âncora.

ALTA POTÊNCIA

Motor de dois cilindros, quatro tempos, oito válvulas, câmbio automático, injeção eletrônica de combustível e catalisador: a silenciosa BMW tem uma potência de 60 bhp e acelera a 175 km/h.

fotos: kurt keinrath

2013 BMW C 600 Sport Maxi-scooters combinam a potência das motos com a proteção dos elementos e componentes práticos de uma scooter. Elas são populares nas cidades paradas, como São Paulo, mas têm potencial de rodar bem em estradas no campo. A BMW C 600 Sport é quase dez vezes mais potente, pesa mais que o dobro e é cerca de uma vez e meia maior que a Formichino.

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O painel tem vários medidores e leitores digitais totalmente controlados por um computador interno www.bmw.com

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No ar: “O kickflip é minha manobra favorita”, diz o pro skater Torey Pudwill


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Fórmula perfeita

Chute na prancha

texto: martin apolin. foto: Atiba Jefferson/Red Bull Content Pool. IlustraÇÃo: Mandy Fischer

Um skatista e um cientista revelam os segredos do kickflip, a clássica manobra do skate

ATIVIDADE FÍSICA “Se você quer decolar com o skate, tem que usá-lo como alavanca”, diz o físico, cientista do esporte e professor assistente da Universidade de Viena, Dr. Martin Apolin. “O skate levanta sobre seu eixo traseiro se você coloca o peso sobre o pé que está atrás (figs. 1 e 2). “Como a alavanca na frente é muito mais longa, o centro de gravidade da prancha, CoG, localizado aproximadamente no meio, levanta rapidamente. Mesmo quando a traseira, a extremidade de trás da prancha, toca o chão, não impede que o movimento aconteça. Devido à inércia, a prancha empina e decola, mais ou menos como quando você dá um tapa nos dentes de um garfo. A prancha agora gira no sentido anti-horário em volta do eixo de profundidade. Mas como você faz com que ela gire em torno do eixo longitudinal também? “O momento angular, L, em um sistema isolado como, por exemplo, o skate, é constante. Ou, para colocar de outra maneira, o skate não pode começar a rodar em torno do eixo longitudinal sozinho. Ele precisa ser colocado em movimento de rotação com o torque, M – isso é, uma força que atue independentemente do centro de gravidade do corpo. Assim, M = ∆L/∆t. Nosso skatista faz isso trazendo seu pé dianteiro sobre o canto do bico (o limite dianteiro do skate). Isso faz com que a prancha rodopie em torno de seu eixo de profundidade e também do eixo longitudinal (figs. 2 a 5). “Agora, skatista e prancha voam no ar, isolados, até que o skate dá um giro em torno do seu eixo longitudinal. Durante essa fase do voo, o skatista utiliza-se da inércia mais uma vez. A velocidade horizontal dele e da prancha é preservada durante o voo livre porque o atrito do ar é insignificante. No final da manobra (imediatamente após fig. 4), o skatista toca a prancha com seu pé de trás e faz com que ela pare – gerando assim o torque novamente – e fica em cima de novo. “Para colocar isso em números, a rotação longitudinal do skate dura cerca de 0,2 segundo (da fig. 2 a imediatamente após fig. 4), o que significa que tem que rodar em cerca de 5 rps ou 300 rpm! Enquanto isso acontece, a prancha também levanta a uns 90° em torno do seu eixo de profundidade, no sentido horário. No momento em que o skatista ‘volta para cima’ do skate, no ponto mais alto de sua trajetória, podemos calcular a mudança na altura usando h = (g/2)t² = 0.2 m. A vertical ‘velocidade do chute’ de v = √ 2gh  = 2m/s é portanto requerida. Se você dá um chute mais devagar, o skate precisará rodar com mais velocidade. O desafio é ser ligeiro nos dois movimentos parciais rápidos.” PALAVRA DO PRÓ “Um skatista precisa praticar o kickflip por cerca de um ano até dominá-lo”, diz o skatista profissional americano Torey Pudwill (na foto). “A melhor forma de treinar primeiro é na grama. Você pode errar e cair no chão sem grande perigo e ganhar confiança aos poucos.” Procure “pudwill kickflip” no YouTube para vê-lo em ação: www.youtube.com

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EU E MEU CORPO

derek wedge

Aos 30 anos, o campeão mundial de Ice Cross Downhill fala sobre músculos, cotoveladas e equipamentos de segurança feitos em casa

DREADS

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Meu cabelo é marca registrada. Deixei crescer por 15 anos e fiz os dreads há dez anos. Infelizmente, não são muito práticos para o ice downhill. Fiz um buraco no capacete para acomodá- los. O equipamento é obrigatório, então não tive escolha.

MANOBRAS ALUCINANTES

4

Quando tinha 4 anos, fui atropelado por um carro e quebrei a perna direita. Depois disso, ela cresceu mais devagar que a perna esquerda e me rendeu uma hérnia de disco anos atrás. Minhas costas doem até hoje. Tenho que malhar muito para mantê-las fortes.

1  COXAS EM RISCO

2  PEQUENA VANTAGEM Tamanho não é tudo em nosso esporte: peso 69 kg e ganhei o título mundial em cima de um monstro de 100 kg, o Kyle Croxall. Ele empurra os adversários para fora da pista enquanto eu conto com a velocidade, graças à musculatura forte nas pernas e um tronco relativamente leve.

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MAPA DA VIDA

5

Até agora tenho saído do campeonato mundial de Ice Cross Downhill com apenas alguns cortes e lesões, mas tenho outras marcas de longa data no corpo. As cicatrizes no meu cotovelo e joelho aconteceram no skate. A tatuagem que tenho no quadril são as iniciais da minha mãe.

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texto: arek piatek. foto: Thomas Stöckli

Descer uma pista de gelo a 60 km/h significa que é inevitável ter choques violentos. Mesmo se você não cair, a dor é garantida. Minutos depois, suas coxas queimam por causa da tensão pós-corrida.


ilustracรกo: dietmar kainrath

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Bullevard

NÚMEROS DA SORTE

OS IMBATÍVEIS

Alguns recordes estão aí para ser quebrados. Porém, alguns outros intrigarão para sempre a humanidade e serão admirados de longe. Tipo, bem de longe

2 857

Michael Phelps

Wilt Chamberlain

O melhor jogador de hóquei no gelo de todos os tempos é canadense: Wayne Gretzky. Ele rompeu 61 recordes da NHL de 1979 a 1999. Algumas dessas marcas foram superadas, mas os 2 857 pontos que marcou – 894 gols e 1 963 assistências – nunca serão ultrapassados. O melhor jogador em atividade, Jaromir Jagr, tem 1 653.

Uma medalha de ouro olímpica é o auge de muitas carreiras esportivas. Atletas excepcionais como Larisa Latynina (ginasta), Mark Spitz (natação) e Carl Lewis (atletismo) têm nove delas. Mas o astro da natação Michael Phelps encerrou a sua carreira nos Jogos Olímpicos de 2012 com 18 ouros. Ele tem um total de 71 medalhas em Olimpíadas, Campeonatos Mundiais e Pan Pacíficos. Jack Burke

100

“Ele parecia um Rolls-Royce em um campo cheio de Volkswagen”, disse o gerente de corridas Chick Lang, sobre a mais rápida corrida de cavalos da história. O garanhão Secretariat abriu 31 cavalos de vantagem na Belmont Stakes de 1973 com o tempo de 2m24s. Nunca um cavalo correu os 2,5 km do circuito em menos de 2m26s.

Georgia Tech aniquila Cumberland

111

Andy Bowen e Jack Burke se enfrentaram em um ringue de Nova Orleans em 1893. Depois de 7 horas e 19 minutos, ninguém tinha ganhado, sendo que na época não existia o conceito de rounds para as lutas. Quando o gongo soou para o round 111, os dois lutadores que a esse ponto lutavam sem forças, não se mexeram. Já passava das 4 da manhã quando o juiz declarou o óbvio: era empate.

24

Em 2 de março de 1962, a lenda do basquete Wilt Chamberlain marcou 100 pontos para o Philadelphia Warriors contra o New York Knicks. Apenas Kobe Bryant, do Lakers, conseguiu marcar mais de 75 pontos em uma partida da NBA: 81 contra o Toronto Raptors, em 2006. Das 22 ocasiões em que um jogador marcou 65 pontos ou mais, Chamberlain esteve em 15.

222

Secretariat

Wayne Gretzky

Em 7 de outubro de 1916, a universidade de Cumberland entrou em campo contra a Georgia Tech, na cidade de Atlanta. Eles tinham parado de treinar futebol americano, mas descumprir o calendário resultaria em uma multa de US$ 3 mil, o que na época era um valor astronômico. O time levou 32 touchdowns e perdeu: 222 a 0.

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texto: ulrich corazza. fotos: getty images (3), picturedesk.com (3)

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U M A RE V ISTA

A LÉ M D O CO

MUM

A ADRENALIN

S QUE TE FOTOGRAFIA FÔLEGO DEIXAM SEM

TALENTO

UE ESTÃO AS PESSOAS Q MUNDO MUDANDO O

E X T R E MO

QUE AVENTURAS LIMITES ROMPEM OS

S EU . O T N E MOM © Alice Peperell

A L É M D O CO

MUM

SEU MOMENTO. ALÉM DO ORDINÁRIO

DOWNLOAD GRATUITO



No mês passado, Va l e r y R o z o v realizou um feito inédito com seu wingsuit. Ele voou pelo Everest após se atirar da face norte da montanha – jamais alguém saltou de tão alto n a Te r ra

voando a lt o por: werner jessner

fotos: Thomas Senf & Denis Klero

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“ O E V E R E S T M E F A S C I N A DESDE CRIANÇA. QUANDO ERA ADOLESCENTE, DEVOREI LIVROS COM HISTÓRIAS DE H E R Ó I S N E S S A M O N TA N H A , ENTRE TRIUNFOS E TRAGÉDIAS. Por isso foi muito especial para mim acordar no campo base do Monte Everest e realmente vê-lo na minha frente. Fiquei emocionado. Não existe montanha no mundo como essa” 28



A pós um mês no Himalaia, Valery Rozov, de 48 anos, o esportista aventureiro de Níjni Novgorod, na Rússia, acaba de voltar à civilização – ou, mais precisamente, para o hotel Yak & Yeti, em Katmandu, a capital nepalesa, com seus chuveiros quentes, camas macias, acesso à internet e restaurantes. Ele deixou o lugar há exatos 30 dias para realizar um sonho: ser o primeiro homem a voar da face norte do Everest. Até o momento, o pai de três filhos realizou mais de 9 mil base jumps explorando novos territórios e expandindo os limites do possível. Mas, mesmo para ele, o Monte Everest é algo especial. “Não por ser o voo mais alto de wingsuit, mas porque a montanha tem tanta história”, ele diz. “O que me atrai é fazer uma coisa totalmente nova.” Desde a ideia até o voo passaram-se quatro anos. “Um grande amigo, o alpinista Alex Abramov, organizou excursões ao Himalaia nos últimos 12 anos”, disse Rozov. “Nós nos conhecemos em 2009 e ele me mostrou fotos do Everest: ‘O que me diz de saltar daqui?’ Eu não podia dizer não para essa ideia. Na primavera de 2011, fui para fazer um reconhecimento do lugar. Será que tudo isso que estou imaginando é possível?” Três coisas tinham que ser consideradas. Primeiramente, precisava encontrar um bom local para o salto, um ponto onde a parede fosse íngreme o bastante. 30

“ A v i a g e m d e ô n i b u s e n t r e Katmandu e a fronteira com a China durou quatro dias. A caminhada para o campo base demorou outros cinco”

Em segundo, saber se eu conseguiria planar no ar rarefeito com o wingsuit e não fazer uma queda livre. E, por último, saber onde era o lugar certo para pousar no Rongbuk, que começa na base da extremidade norte e, como muitos glaciares da região, é conhecido por suas fendas.


A LT U R A D O S A LT O : 7 217 METROS ACIMA DO NÍVEL DO MAR. ESSE É O MARCO D E M A I O R A LT I T U D E DA QUAL UMA PESSOA JÁ REALIZOU UM BASE JUMP OU VOO DE WINGSUIT



A expedição de Rozov envolveu 14 pessoas, incluindo quatro guias. A segurança foi prioridade absoluta

“ I N F E L I Z M E N T E N ÃO D E U PA R A CURTIR A VISTA DURANTE O VOO”

Rozov organizou uma expedição e procurou por alguns locais possíveis para o salto e o pouso. A rota logo foi encontrada. A ideia era subir pela rota clássica da face norte, depois virar à direita em direção ao ponto mais alto da extremidade norte, a 7 217 metros do nível do mar após atingir a crista do desfiladeiro, em vez de seguir à esquerda na direção do cume do Everest. Considerando diversas variáveis, eles chegaram à conclusão de que o salto seria tecnicamente difícil – a primeira parede de pedra não era muito alta – mas factível. Algumas incertezas permaneceram. Como Rozov se sentiria após a dura

escalada no ar rarefeito? Aguentaria essas condições? Além do mais, como ele e a equipe poderiam otimizar o wingsuit de modo a sair o mais rápido possível do penhasco para o ar livre? Esse projeto fez do base jumper um alpinista ainda melhor do que ele já era. Nos os últimos dois anos, Rozov passou diversos meses na altitude. “Isso ajuda muito, mesmo que nunca me torne um montanhista profissional”, afirmou. Qualquer um que escale os 6 mil metros do Monte Kilimanjaro apenas para treinar pode ser considerado modesto ao soltar uma declaração dessas. Para que o projeto tivesse sucesso, um novo tipo de wingsuit era necessário. Em parceria com a fabricante americana Tony Suits, um modelo apropriado foi criado e Rozov o testou em saltos experimentais. Em junho de 2012, ele saltou de Shivling, uma montanha de 6 543 metros na face norte do Himalaia indiano. Como o Matterhorn – de onde Rozov saltou em preparação para o ataque ao Everest –,

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UM PASSO, CINCO SEGUNDOS DE INCERTEZA e depois a queda se transforma em um voo para a frente


“ N A C H E G A D A , E S T A V A T Ã O C A N S A D O QUE MAL SENTIA QUALQUER COISA. AS EMOÇÕES VIERAM DOIS DIAS D E P O I S, N O ACA M PA M E N TO” 36

o Shivling oferece o que ele chama de “pequena rampa de salto”, de forma que ele foi capaz de ter uma ideia das condições que o aguardavam em seu salto do Everest. Após isso, o projeto tomou forma através de uma série de experimentos científicos. No túnel de vento da Universidade de Stuttgart, na Alemanha, Rozov e sua equipe tentaram conseguir mais informações. Em novembro de 2012, Rozov se reuniu com o fabricante do wingsuit mais uma vez para incorporar as descobertas no design definitivo do traje. Em 10 de abril, a equipe da expedição voou para Katmandu. Eles depositaram as suas esperanças em uma janela de tempo aceitável na primeira semana de maio. Como em todas as expedições ao Everest, o procedimento teve três dias de checagem de equipamento, uma viagem the red bulletin


de ônibus para a fronteira com a China, cinco dias até o campo base e alguns dias de aclimatação, que incluiu escaladas de até 6 mil metros. Depois de tudo isso, eles inspecionaram o local da chegada e depois partiram rumo ao desfiladeiro no dia 1° de maio. Diferente de outros visitantes do campo base, a equipe de Rozov não queria atacar o cume. “Para mim o cume não é uma grande motivação”, disse Rozov. “Com oxigênio suficiente e carregadores, não é uma coisa muito difícil de se fazer. Com a escalada de montanhas em particular, o estilo é crucial. Nesse sentido sou um purista.” A primavera é uma época bastante movimentada no Everest e nem todos se comportam como alpinistas de verdade. Um destaque inglório deste ano foi uma briga na rota do cume que foi noticiada em todo o mundo. Até que ponto vai essa loucura?

“Quando estávamos no campo base do Everest, tinha uns 200 ou 250 alpinistas esperando a chance de subir a montanha”, explicou Rozov. “O preparo físico e o nível de experiência variava muito. Era divertido de ver.” O wingsuit e o paraquedas pesavam pouco mais de 8 kg. Era uma questão de honra para Rozov carregar seu equipamento na expedição, passo a passo, de corda em corda, até o local do salto. O caminho do campo base até o topo levou quatro dias e foi exaustivo, mesmo com a ajuda de oxigênio. “Tivemos que nos apressar porque tínhamos apenas uma janela de três dias para o salto”, disse Rozov. “Às vezes o vento atingia a velocidade de 6 a 8 metros por segundo – isso é quase 30 km/h.” Quatro guias de montanha integraram a expedição – nada seria uma questão de sorte durante a escalada. Segurança era a prioridade absoluta.

Monte everest foto adicional: Corbis

Existem dois caminhos que levam ao Qomolangma, nome tibetano para o lugar mais alto do mundo Em 29 de maio de 1953, Sir Edmund H i l l a r y e o S h e r p a Te n z i n g N o rg ay e s c a l a ra m o “ t e rc e i ro p o l o” p e l a p r i meira vez. Chegaram ao cume pelo sul. A subida pelo caminho do norte, que Rozov e scolheu, foi conquistada pela primeira vez numa expedição chine sa. the red bulletin

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pós alcançar o topo, Rozov vestiu seu wingsuit e começou com as checagens de segurança e de vento. Depois, ele deu algumas respiradas no cilindro de oxigênio para clarear a cabeça e finalmente saltou às 14h30 no horário local. “Depois dos primeiros quatro, cinco segundos, me senti muito feliz quando me dei conta de que tinha deixado o paredão e tudo estava indo de acordo com o planejado. Foi ótimo”, ele afirmou. “O resto do voo, que teve uma duração de menos de um minuto, não foi muito espetacular. Eu controlei a posição do meu corpo e minha trajetória e escutei os comandos da minha equipe. Infelizmente, não tive a oportunidade de aproveitar a vista. Abri meu paraquedas relativamente cedo, aproximadamente 20 segundos antes do pouso. Minha equipe marcou o ponto de descida na base da face norte – eles também colocaram uma biruta no lugar. Tudo foi muito profissional.” Rozov é um sujeito frio, de poucas emoções e que não deixa seu pulso acelerar. “Treinei duro por dois anos para isso, então me pareceu quase lógico”, explicou. “É claro que me dá orgulho, mas o voo foi a última etapa de um longo processo. E no ar não faz muita diferença se você salta de 7 mil ou 2 mil metros acima do nível do mar. Você não nota a altura e a velocidade. Só se dá conta do que demora entre a queda e o começo do voo quando vê os vídeos, mas a diferença é menos significante do que dá para imaginar, talvez uns 25%.” E o pouso? “Eu estava tão cansado que mal senti qualquer coisa. É claro, estava feliz que tinha conseguido e tudo estava sob controle, mas eu só senti a grande e profunda emoção de ter realizado um feito inédito dois dias depois, no acampamento.” Rozov assiste ao vídeo do seu voo em um laptop de volta ao hotel em Katmandu cinco dias depois. Tudo parece que acabou de acontecer. O vento, o barulho, o ar, a parede, o Everest, o céu escuro, os glaciares, o feito pioneiro. Ali ele revive as várias fases do voo, frame por frame, com imensa alegria e satisfação. Mas também tem algo mais, que ele sabe que pode acontecer. “Quanto mais tempo passa desde meu último salto, maior é a quantidade de vezes que fico pensando: ‘Era realmente eu? Eu realmente fiz isso?’ ” Algumas coisas são tão poderosas que elas ameaçam reprogramar a memória. www.redbull.com

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R O DA D E RV I X E G I R AT Ó R I O or i g e m : K o n y a , T u r q u i a , S é c . X III

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A R O DA O Dervixe Giratório e os passos dos B-Boys, separados por sete séculos e 8 mil quilômetros, estão ligados através da alegria nos movimentos e da busca contínua pela perfeição Por: Barlas Hunalp & Paul Wilson, f o t o : J ORK W EI S MA N N

B -B OY o r i g e m : N ova Yo r k , E U A , S é c . X X


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uma festa de rua no bairro do Bronx em meados dos anos 1970, e em um frenético mercado turco nos idos de 1270, a mesma coisa aconteceu. O ritmo das ruas – de um lado o som do hip hop e de outro as marretadas dos ourives moldando metais preciosos – foi assimilado como uma frequência sonora usada para criar uma nova forma de movimento. A galera do hip hop iniciou a cultura dos B-Boys girando no chão. 700 anos antes, Rumi, um professor de Sufi – linha mística do Islã –, escutou a batida dos ourives junto com seus cânticos religiosos que usavam para manter o ritmo e começou a rodar em volta de si mesmo e do mercado com os braços abertos. A experiência de Rumi era religiosa. Houve, ali, uma conexão entre o breakdance e o sema (dança que ficou famosa pelos Dervixes Giratórios). Os seguidores de Rumi fundaram uma ordem Sufi, os Mevlevi, em sua homenagem. Seu ritual em forma de dança fez o sema (céu, em turco) render a eles o título de Dervixes Giratórios. Em 1925, a ordem secular foi declarada ilegal, mas ela sobrevive até hoje, preservando a dança como forma predominantemente cultural e viajando o mundo com shows do sema. Por outro lado, a dança dos B-Boys tornou-se parte integrante da cultura hip hop, nunca abalada pelos papos que procuram associá-la à marginalidade. the red bulletin

“A o d e s l i g a r t o d o s o s p e n s a m e n t o s , este é o momento em que você está pronto para descobrir quem realmente é. Esta é a hora em que você está pronto para escutar o ritmo. É isso que me conecta comigo mesmo – meu único rival. Ele inspira meus movimentos quando ganha vida” Mounir Biba

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“Era impossível não ficar animado pela energia d o l u g a r. Q u a n d o cheguei ao palco para começar a minha sema, senti alguma coisa que eu definiria como o encontro de duas almas. O ritmo gera equilíbrio, e isso nos agregou, nos uniu como um só” Ceyhun Varisli

Hoje, qualquer artista de rua, estrela do pop ou seus dançarinos de apoio precisam dominar a arte do breakdance. “É importante ver os pontos em comum nas diferentes culturas”, diz o B-Boy turco Murat Demirhan, conhecido como Joker. “Como os Mevlevis, os B-Boys também têm um sistema de mestres e aprendizes. São duas comunidades em que os novatos respeitam a experiência e a própria cultura. Na minha turma foi assim.” Joker recebeu um evento do Red Bull BC One no terminal ferroviário de Sirkeci, em Istambul, o evento de seleção nacional que precedeu as finais mundiais do torneio de B-Boy em Seul, na Coreia do Sul, em novembro. A ocasião, que marcou o 10° aniversário do Red Bull BC One, reuniu o B-Boy francês Mounir Biba, atual campeão mundial, e Ceyhun Varisli, da ordem Mevlevi. Após centenas de anos correndo lado a lado espiritualmente, um Dervixe Giratório e um B-Boy se apresentaram juntos pela primeira vez. www.redbullbcone.com

Confira o vídeo do B-Boy Mounir dançando ao lado do Dervish na versão para tablet do Red Bulletin

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BMX OS GAROTOS PERDIDOS DO

NA COSTA OESTE DA ESCÓCIA, UM GRUPO COM A NATA DO CICLISMO, LIDERADO POR UM DOS MELHORES DO MUNDO, REALIZOU A FAÇANHA DEFINITIVA: ELES COLONIZARAM UM SKATEPARK PARA VIVER SEUS SONHOS DIA APÓS DIA Por: Ruth Morgan  Fotos: Greg Funnell 44


Radicalismo: o profissional do BMX Kriss Kyle no skatepark Unit 23, em Dumbarton


Bons amigos: Kriss Kyle (direita) com o ciclista francês Maxime Chaveron (centro) e o companheiro de residência no Unit 23, Scott Quinn

À MEIA-NOITE DE UMA QUARTA-FEIRA, num pequeno e obscuro distrito industrial da cidade escocesa de Dumbarton, o skatepark Unit 23 está aceso como um farol. Dentro de um depósito de tijolos e chapas onduladas, a música “Let’s Spend the Night Together”, dos Rolling Stones, se mistura ao som das rodas na madeira, enquanto Kriss Kyle parece derrotar a gravidade com sua bike, subindo rampas de 6 metros de altura e percorrendo as paredes com uma fluidez que faz seu equipamento parecer parte de seu corpo. Kyle e cerca de 20 dos seus amigos que vão à Unit 23 estão numa session noturna na pista novinha do recém-restaurado Hall 1, que eles ajudaram a construir nas últimas seis semanas. O amor pelo BMX os reuniu ali – marceneiros, funcionários de aeroporto, soldadores, entre outros – de toda a Escócia e do restante do Reino Unido, da Irlanda e de outros lugares. 46

Eles gritam quando novas manobras são criadas, riem e se cumprimentam na plataforma que circunda os bowls, no topo do skatepark. Eles começaram a andar com as bikes assim que terminaram de trabalhar no parque, às 20h, e não dão sinais de cansaço, animados com o novo playground e ignorando as inevitáveis dores nas coxas. De qualquer maneira, não tem por que ir embora, não tem hora para fechar. A Unit 23 se transformou em um lar para Kyle e muitos outros – no sentido mais literal possível. É onde comem, dormem e andam de bicicleta todo dia. Para Kyle, é a realização de um sonho que ele teve aos 10 anos, quando colocou os pés pela primeira vez nos pedais de uma BMX. Naquela época, sua mãe levava a comida até seu filho perdido no skatepark de concreto, com uma quentinha numa mão e os talheres na outra, determinada a tirá-lo do selim para que ele

se alimentasse. Um dia, em uma manhã de sábado, quando tinha 15 anos, Kyle deixou sua cidade natal de Stranraer e nunca mais olhou para trás. Ele não tinha dinheiro, trabalho ou endereço fixo, só uma mochila e sua bike. Ao tomar aquele trem às 7h13min, a única certeza que tinha é que ele queria fazer BMX. Hoje, com 20 anos, é um dos melhores jovens ciclistas do mundo, com diversos patrocinadores de primeira linha, um passaporte cheio de carimbos e vídeos no YouTube com suas manobras arrojadas e criativas marcando dezenas de milhares de acessos. Mas o mais importante é que ele pode fazer o que sempre quis: andar com sua bike toda hora e todo dia. “Desde que vim para a Unit 23, tenho vivido um sonho”, diz Kyle, com um leve sotaque escocês e seus cabelos castanhos presos com uma faixa preta. “Viver o sonho” é uma frase que ele usa muito. the red bulletin


Dando um tempo: Kyle (esquerda) socializa com Jason Phelan (centro) e outro frequentador do Unit 23


Acima: Kyle mostra afinidade com os ciclistas locais. Abaixo: de bobeira no lounge. À direita: Kyle no Hall 1 reformado

Kyle tem planos de tatuá-la no pescoço em alguns meses, a última de uma coleção de gravuras que só cresce dentro da moldura de seu 1,65 metro. Ele tem o logo de um dos seus patrocinadores, a montadora de bikes BSD, na mão esquerda, e na outra um “caranguejinho” simbolizando seu apelido. Suas tatuagens mais recentes são as palavras em inglês “Live” (Viva) e “Life” (Vida), escritas em letras maiúsculas enormes logo abaixo dos joelhos, feitas na Unit com o aparelho elétrico de tatuar que geralmente passa de mão em mão na galera. Ainda assim, não são palavras fanfarronas: são afirmações de uma vida que Kyle ainda não consegue acreditar que é a sua. “Eu não acreditava que algum dia pudesse me profissionalizar”, diz. “Não achava que a minha paixão pelo bicicross podia dar nisso. Não era por aí. Eu só queria andar de bicicleta, então andei.” 48

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“Não acreditava que poderia me profissionalizar. só queria andar de bike, então andei”


LĂĄ em cima: em alta velocidade, Kyle sobe no paredĂŁo com muito estilo


O convidado Maxime Chaveron no dormitório dos rapazes

“Dava medo ter 15 anos EM Um enorme depósito à noite, sozinho, sem dinheiro, comendo o que aparecia”

Quando Kyle chegou à Unit 23, com uma mochila e sem casa, já era um rosto familiar. “Nunca vou esquecer a primeira vez que vim”, conta. “Tinha 13 anos e era bem baixinho. Não podia acreditar no tamanho das rampas: na minha cidade eram bem menores.” O que começou como um árduo esquema de bate-volta de oito horas nos finais de semana, em seis trens, virou períodos de quatro dias, depois uma semana, duas semanas… “Levantava às 6h, ia para a Unit e andava o dia inteiro”, diz. “Depois voltava para a escola e ficava pensando: ‘O que eu tô fazendo aqui? Isso é uma perda de tempo’.” Quando o dono, Chick Mailey, ofereceu o pernoite sem custo, Kyle se tornou o primeiro residente permanente. Sem o luxo de um quarto, dormia no sofá no escritório. “Era assustador”, conta, “tinha 15 anos e ficava em um enorme depósito sozinho à noite. Não tinha dinheiro para comer, sobrevivia do que encontrava no café do Unit, mas precisava fazer aquilo. Nunca me preocupei em ter saído de casa ou deixado a escola. Nunca tive planos ou suspeitava que daria certo.” A história não foi bem a mesma para os pais de Kyle, Veronica e Alec,

Hora do rango: Jason Phelan (esquerda) na cozinha com seus companheiros de Unit 23

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que trabalham na escola dele. Pensavam que Kyle estava morando com os amigos, e Veronica ligava todo dia, perguntando quando ele iria voltar, implorando para aparecer novamente na escola. “Era um pesadelo”, diz. “Os professores diziam: ‘Onde está o Kriss?’ E eu tinha que dar desculpas. Para as provas, ele simplesmente não aparecia. Quando finalmente me contou que estava vivendo na Unit, é claro que nos preocupamos. O Alec dizia: ‘Se qualquer coisa acontecer com ele, será nossa culpa’. E eu dizia: ‘Mas o que podemos fazer?’ Nós não conseguíamos trazê-lo de volta para casa. Kriss é obstinado. Ele moraria numa caixa de papelão para poder treinar no skatepark. Mas eu também estava contente por ele estar fazendo o que ama e fazer isso tão bem. Estou orgulhosa, nós o amamos por isso.” HOJE, DEPOIS DE QUATRO ANOS, o exemplo de Kyle tem sido seguido pela galera que quer a experiência de andar o tempo todo e ter o estilo de vida desregrado que a Unit 23 oferece, um lugar criado por ciclistas, para ciclistas. “Aqui é maravilhoso”, diz Jason Phelan, um simpático irlandês de 26 anos, profissional do BMX, que viveu na Unit 23 por quase um ano. “Depois que a Unit fecha, às 22h, fica vazio e nós fazemos essas sessõezinhas. E além disso tem a bagunça. Geralmente eu estou metido nisso.” Os habitantes do Unit 23 dormem nos fundos do depósito. Primeiro se veem os sofás desarrumados do salão comunitário, sempre cheios de edredons. Uma intrigante variedade de detritos cobre o chão: um macaco de carro, diversas meias velhas, a perna de uma manequim de loja, um jaleco de hospital jogado – tudo deixado por lá após uma das festinhas. John Deans é um jovem de 23 anos que anda de BMX e trabalha no Aeroporto de Glasgow: “Estar aqui é mais ou menos como ser criança, e seus pais foram viajar, com a diferença de que é para sempre”. Seguindo pelo corredor, na garagem aos fundos do depósito, fica uma grande estrutura improvisada de bloco de con-creto que Mailey construiu para abrigar dois quartos. Tem uma para Kyle, seu prêmio por ter sido o primeiro, e um quarto comunitário maior que atualmente é a casa de Phelan, Scott “Quinny” Quinn, patinador inline de 25 anos, que mora na Unit há três anos, e George Ecclestone, também de 25, que anda de BMX e constrói rampas. O ciclista profissional francês Maxime Chaveron também veio para ficar com seus amigos – ele dorme no sofá. Os quartos poderiam ser de qualquer garoto dos seus 20 e poucos – roupas 52

O rei em seu castelo: Kyle na garagem ao lado do seu quarto

sujas, camas desarrumadas –, mas é só sair para chegar à garagem. Lá, tem uma van de sorvete pintada com desenhos do Scooby Doo e diversos carros abandonados, incluindo um Volkswagen MK2 rejeitado com um “Eu queria que a minha mina fosse porca assim” pichado na sujeira da porta do carona. Nesta manhã, todos os cinco ciclistas estão aglomerados em torno do celular de Quinn, rindo das fotos das brincadeiras que Phelan fez de madrugada, que terminaram com ele enfiando a roda em uma cômoda. Isso é uma noite de terça-feira comum por aqui. “Não paro de rir”, declara Kyle. “Cada dia é incrível. Todo mundo é muito unido, somos como irmãos, como família. Eu tive a melhor infância que poderia ter tido.” Chaveron acrescenta, com seu forte sotaque francês: “Não tem um lugar na França livre como esse”, ele diz. “É por isso que eu venho para cá.”

Kriss Kyle Desde que ganhou sua bicicleta de verdade no Natal, aos 10 anos, só o BMX passou a habitar sua cabeça. Seus pais o levaram para ver competições, e sua mãe, Veronica, tem até hoje um trabalho de escola que Kyle fez sobre BMX aos 11 anos, com desenhos detalhados sobre a bike ideal e sua configuração. Hoje ele vive seu sonho, morando e andando 24h por dia na Unit 23.

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“Pensei em ir embora, mas sei que me arrependeria” Os ciclistas têm que agradecer ao dono, Mailey, pela utopia do BMX. “A atitude de Chick é a razão para estarmos todos aqui”, diz Ecclestone. “Você vem para cá uma vez e não quer mais ir embora. Todo mundo é amigo. Graças a ele, aqui é a meca do BMX na Escócia.” Mailey, antigo proprietário de uma empresa de aluguel de guindaste, é viciado em BMX – o Peter Pan dos Garotos Perdidos do skatepark. Seus dois filhos, Chaz e Connor, herdaram a paixão e, quando os dois se machucaram seriamente andando na rua, ele decidiu vender tudo e criar um espaço para que pudessem praticar com segurança. “Não é uma questão de dinheiro”, diz Mailey. “Você não entra nessa por isso. Para mim a motivação é não chegar ao meu leito de morte pensando ‘eu não passei tempo suficiente com meus filhos’. Vou trabalhar com eles todos os dias.” MAILEY SE TORNOU UM PAI SUBSTITUTO para muitos outros. Ele fez 46 anos na semana passada e recebeu cartas de “parabéns ao papai” de toda a grande família da Unit. Ele sustenta muitos, empregando cerca de 15 deles em uma função ou outra para que possam praticar, e dá rédeas livres na cozinha caótica, que enchem toda manhã com brincadeiras barulhentas e cheiro de queijo quente. Ele e Dot, sua irmã, também dão um jeito de que tenha refeições nas mesas para todos duas vezes ao dia, com os garotos sentados juntos nos largos bancos do café para comer. “Todos sabem que, se você chega preparado para ajudar um pouco, dá para ficar”, ele diz. “Os quartos são o território deles, eles têm privacidade. É uma via de duas mãos: eu os ajudo e eles me ajudam. É uma comunidade com ótima atmosfera.” O benefício dessa atmosfera para Kyle é imensurável. Ter acesso ilimitado às instalações da Unit 23 melhorou a sua criatividade e técnica no BMX, trazendo vitórias em competições, reconhecimento na internet, um contrato com a Red Bull e o ingresso na equipe Nike Pro, além da mantida pela BSD e a da Unit 23. Ele é hoje um dos poucos ciclistas britânicos que competem internacionalmente. “Kyle é um dos melhores praticantes no mundo hoje em dia”, diz o proprietário da BSD, the red bulletin

Grant Smith. “Ele é especial. Essa habilidade natural que tem é muito rara. A primeira vez que ele esteve na Unit, eu lembro de ter pirado naquele carinha minúsculo que apavorava em cima da bicicleta. E ele se amarra no que faz. Alguns caras fazem disso seu trabalho, mas ele genuinamente quer andar o tempo todo. Essa sinceridade é óbvia.” MAS O CASO DE KYLE É RARO. “Kriss é um grande destaque no cenário”, afirma Ecclestone. “Quando vemos garotos pedindo seu autógrafo, a gente zoa para ele ficar com os pés no chão.” Ecclestone e a maioria dos moradores da Unit 23 tiveram que encontrar outras formas de gerar renda para financiar sua paixão. Even Phelan, ciclista em várias equipes profissionais, incluindo a Nike, conseguiu se sustentar com o BMX há apenas três anos, depois de abandonar a faculdade e fazer bicos como carteiro. Chaz, Connor Mailey e Ecclestone são marceneiros e construíram skateparks para se manter perto do BMX. “Kriss é um em 1 milhão”, diz Chick Mailey. “Era claro desde o dia em que chegou. Ele tem de fato um estilo diferente de andar e seu progresso foi muito rápido. Mas são poucos garotos que conseguem fazer disso uma profissão. Tem um bocado de garotos que dizem: ‘Eu só quero que apareça um patrocinador para sair da escola’, mas a gente sabe que isso não vai acontecer, eles precisam de instrução e você sente a responsabilidade de orientá-los.” Para Kyle, a obstinação valeu a pena. Com sua vida hoje dividida entre viagens e curtição, “viver o sonho” é um mote apropriado. “Eu não penso quanto tempo vou ficar aqui”, ele afirma. “Já pensei em alugar um apartamento no ano que vem, mas, para ser honesto, eu sei que me arrependeria. Tenho esse skatepark incrível e posso literalmente sair da cama e subir na bicicleta, sem falar nas baladas. Tenho absolutamente tudo o que sonhei.” Na madrugada de uma quarta-feira, quase ninguém mais andava no Hall 1. Uns foram para a cama, exaustos dos esforços da noite; outros se sentaram no salão com algumas cervejas. Apenas Kyle e Phelan permaneceram na pista. “É demais”, diz Phelan, “quem mais pode fazer isso?” A reforma do Hall 1 marcou o décimo aniversário da Unit 23. Faz uma década também que Kyle se apaixonou pelo BMX. Para ele, muito mudou durante esse tempo, mas muita coisa continua igual. Enquanto dá mais uma volta, ele ri. Hoje, mais do que nunca, sua vontade é apenas andar em sua bike.  www.unit23skatepark.co.uk

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montanha acima por: Christophe couvrat


PA R A T EN TA R G A NH A R A DISPU TA DEST E A NO. D E P O I S D E 15 6 C U R VA S FECHADAS QUE ARRE-BEN TA M OS PUNHOS DE QUALQUER UM NOS 19 KM DE TRAJETO, OS PILOTOS ATINGEM

O CUME A CERCA DE 4 300 METROS DE A LT U R A . L O E B E S U A EQUIPE ACR EDI TA M QUE ELE CHEGARÁ LÁ EM MENOS DE 10 MINUTOS: “É COMO UM RALI EM U M A P I S TA D E C O R R I DA”

Foto: Flavien Duhamel

A SUBIDA DE PIKES PEAK É UMA CORRIDA DE RUA PARA PILOTOS INSANOS. SÉBASTIEN LOEB, NOVE VEZES CAMPEÃO MUNDIAL DE RALI, GANHOU UM PEUGEOT NOVINHO

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checagem do menor detalhe, um trabalho de revisão mecânica muito sério. A tensão em torno desse batmóvel está no ar. A Peugeot está jogando todas as suas fichas nele. A empresa e Pikes Peak alimentam uma relação simbiótica abaste­cida pela adrenalina. A montadora ganhou diversas vezes tanto o mundial de rali de construtores quanto o de pilotos, assim como levou o Rali Dakar. Este ano marca o 100° aniversário da primeira vitória da Peugeot na Indianápolis 500 – a empresa francesa já levou para casa o troféu em 1913, 16 e 19. “Não são muitas pessoas que sabem que a Peugeot tem essa marca em Indianápolis. A maioria nem sabe que já ganhamos uma vez”, diz o diretor da Peugeot Sport, Bruno Famin. Em dado momento, a ideia de encarar Pikes Peak soou como música aos ouvidos dos diretores da empresa. A Peugeot

“ P i k e s P e a K É im por ta n t e par a nós. Ainda sonhamos com o dia em que ganhamos” the red bulletin

fotos: Flavien Duhamel (2), thomas butler

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o fundo da floresta dá para escutar um rugido, o berro gutural de um monstro selvagem. Primeiro, o animal soa como se estivesse indo de lá para cá ainda distante – depois, subitamente, surge com suas quatro rodas. O acanhado vilarejo de Ferté-Vidame, na França, com seu castelo do século 14 a cerca de 160 km de distância de Paris, mal acordou na manhã desta quinta-feira de abril. Esse é o enorme e ultrasecreto local de testes da Peugeot, por onde passam todos os mais recentes modelos da montadora francesa. O dono do ronco é o 208 T16 de 875hp, elaborado e aperfeiçoado pela Peugeot Sport especialmente para a Subida Internacional de Pikes Peak, uma corrida famosa, na qual entusiastas do automobilismo escalam uma montanha do Colorado, EUA, o mais rápido que podem. O dia será dedicado à tradicional

A posição central de Sébastien Loeb permite a melhor distribuição de peso e potência. No topo, à esq.: o 208 T16 foi concebido e desenvolvido nas oficinas da Peugeot Sport, próximas de Paris. Abaixo: o possante com seu difusor e splitter opcional


aportou com um 405 T16 de 700bhp e zarpou do Colorado com duas vitórias: uma com o implacável piloto de rali finlandês Ari Vatanen, em 1988, e outra um ano depois graças ao americano Robby Unser. O impacto foi grande. Após a decisão da empresa de des­ continuar a linha de carros de rali 908, que competiu nas 24 Horas de Le Mans, eles tiveram a necessidade de reafirmar sua moral. Será que deveriam apostar tudo em uma única jogada, fácil de organizar, mas com impacto interna­ cional? Deveriam revisitar a subida no Colorado? “Pikes Peak é uma parte importante do passado da Peugeot”, diz Famin, de 51 anos. “Em nossas fábricas colocamos em exposição o Pikes Peak 205 T16s 1 e 2 e o 405 T16s. Eles eram o que todo mundo sonhou por anos.” the red bulletin

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A categoria ilimitada significa que engenheiros podem se divertir. Abaixo: Loeb compara o 208 T16 a um carro de F1

Apesar de seus compromissos no Campeonato Mundial de Rali – no qual venceu como piloto nove vezes seguidas –, Sébastien Loeb está envolvido nos testes de resistência com sua equipe, a Sébastien Loeb Racing, que tem o objetivo de correr as 24 Horas de Le Mans em 2014. Mas, mesmo com a rotina agitada, o francês está liberado para enfrentar o desafio em Pikes Peak, no dia 30 de junho deste ano como piloto do 208 T16 The Red Bulletin: Por que você aceitou esse desafio? Sébastien Loeb: Pikes Peak é pioneira e tem muita história. É um tremendo desafio. Em alguns lugares é como rali, em outros é como uma pista de corrida. O que achou do 208 T16? Ele tem pegada e não tem misericórdia. Fiquei pasmo a cada mudança de marcha na minha primeira bateria, mas depois dá para se acostumar. A desaceleração e os freios são impressionantes. É como um avião. Você sente a diferença entre ele e qualquer coisa que tenha dirigido. É mais um carro de F1 do que de rali. Como você vai administrar as datas? Da melhor forma possível. Eu tenho muitos compromissos, mas junho é geralmente sossegado, então o desafio pintou em uma boa hora. Vou me concentrar em cada um dos meus objetivos. Não estou preocupado.

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Famin entrou na Peugeot no final de 1989, algumas semanas antes de sua última vitória em Dakar, e é basicamente o cérebro por trás dessa volta surpreendente para a maior corrida em altitude do planeta. “Algumas pessoas foram deixadas na mão quando acabaram com o programa de rali”, declara. “Dissemos para nós mesmos: ‘Como podemos nos superar?’ Tínhamos que mostrar que a Peugeot ainda era competitiva. Tivemos logo o debate sobre a forma que o carro deveria tomar. Queria que se parecesse com um carro comum, então perguntei ao pessoal de produtos e marketing. Passou um tempo e não obtive resposta. Então optei por um 208 T16.”

E

m setembro passado, Maxime Picat foi anunciado como diretor da Peugeot. Atolado num conflito social e econômico, o novo chefe imediatamente embarcou na ideia de dar à marca Peugeot Sport um novo brilho com Pikes Peak. “É uma corrida lendária que reunirá todas as equipes”, afirmou. “É também o tipo de desafio que não deixa margem para erros – do jeito que a Peugeot adora.”

“Ele gostou da ideia de cara e deu carta branca em novembro”, disse Famin sobre Picat. A contagem regressiva começou. Faltavam na época sete meses para Pikes Peak, que acontecerá em 30 de junho – e esse é um período de tempo ridiculamente curto no automobilismo para se construir um carro. A equipe teria que ser rápida – muito rápida – para conseguir um motor, um carro, um piloto e motivação. Em outras palavras, uma batalha infernal. “Se não tivesse sido por Pikes Peak, algumas pessoas teriam ido embora”, cochichou Famin. As especificações técnicas são impressionantes. O motor é o V6 das 24 Horas de Le Mans, com o argumento de que se ele pode durar um dia, a subida de 10 minutos em uma montanha não deve ser problema. “Nós tínhamos pensado sobre o V8 HDI, mas teria sido complicado para instalá-lo em um 208”, afirma Jean-Christophe Pallier, de 54 anos, gerente de projetos e braço direito de Famin. “Um motor mais antigo nos deu mais potência. E é mais compacto.” Tiveram algumas mudanças no per­ curso. Já não é uma estrada empoeirada de faroeste. A subida de Pikes Peak foi completamente recapeada desde a corrida do ano passado, e sua sufocante terra the red bulletin

fotos: Flavien Duhamel (3), getty images

Sufoco para Loeb


Acima: o 208 T16 vai de 0 a 100 km/h em 1,8 segundo

“ E l e s ó v a i vomi ta r na linha d e c h e g a da” the red bulletin

vermelha sumiu. É uma nova locação para uma prova de velocidade de verdade, com pouquíssimas zebras por causa das condições naturais. O piloto francês Romain Dumas ficou em segundo no ano passado, depois de uma estilosa demonstração de força em um Porsche, ainda mais impressionante porque o trecho final foi sobre a terra batida. “Romain Dumas foi um nome

potencial [para ser piloto Peugeot]. Nós o teríamos escolhido se Pikes Peak ainda fosse disputada em estrada de terra”, admite Pallier. No final, a tarefa foi dada ao renomado piloto de rali Sébastien Loeb. (Veja o box na página ao lado.) Desde o final de 2012, todos nas oficinas da Peugeot Sport em Vélizy, especialmente o ex-piloto de rali Attila Bocsi, estão focados no 208. Bocsi é o designer chefe do 208 T16, e com Loeb ao volante, tem como objetivo esmagar o recorde da categoria ilimitada para Pikes Peak que é de 9 minutos e 46,164 segundos. “Todo mundo sabe da minha paixão pelo design. Estou na Peugeot desde 2001 e desenhei uma boa quantidade de carros. Estou muito orgulhoso que tenham me escolhido. Gosto de fazer aerofólios bonitos”, diz. Pesando um pouco menos de 1 tonelada, o carro gera 875bhp e tem tração nas quatro rodas, câmbio manual de seis marchas e motor 3.2 a gasolina. Famin pensou em tudo para Sébastien Loeb, o melhor piloto de rali da história: “Com certeza, a gente tem oxigênio para ele”, diz. “Assim ele vai poder voar por alguns minutos e não vai ficar mal. Só vai vomitar depois de cruzar a linha de chegada.” Procure “Loeb 208” em redbull.com

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ALÉM DO

POSSÍVEL HERBERT NITSCH É O MELHOR ATLETA DE MERGULHO LIVRE QUE O MUNDO JAMAIS VIU. UM HOMEM QUE FOI CAPAZ DE SEGURAR A RESPIRAÇÃO POR 10 MINUTOS E MERGULHAR A MAIS DE 200 METROS OCEANO ABAIXO. DESAFIANDO A MEDICINA, ELE TENTOU QUEBRAR SEU PRÓPRIO RECORDE MUNDIAL E O RESULTADO NÃO TEM PRECEDENTES Por: Ron Mueller e Arek Piątek

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foto: phil simha

Santorini, 6 de junho de 2012, 14h34: Herbert Nitsch com mergulhadores auxiliares durante a tentativa de quebra de recorde


Nitsch passa por exames de segurança antes de tentar o recorde mundial

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the red bulletin: Qual é a última coisa que você se lembra do mergulho, antes do acidente? herbert nitsch: Não sei dizer... Nós assistimos ao material em vídeo dezenas de vezes desde aquele dia e as minhas memórias ficam confusas com o que eu vejo ali. Mas o que realmente importa é que podemos dizer com alguma certeza como o acidente aconteceu. E que nada como aquilo jamais havia acontecido antes.

fotos: phil simha, maria ziegelböck

erbert Nitsch, 43 anos, ex-piloto austríaco, quebrou 31 recordes em uma ampla gama de variedades do mergulho livre. Ele atualmente detém o recorde da mais dura e mais perigosa categoria de todas, a Sem Limites, na qual o mergulhador vai o mais fundo possível no oceano com um fôlego só e a ajuda de um suporte tanto na descida quando na subida. Em 2006, Nitsch estabeleceu a marca de 183 metros de profundidade na categoria. Um ano depois, ele melhorou seu recorde para 214 metros. Em 6 de junho do ano passado, planejou aumentar seu recorde para 244 metros, mergulhando a partir da costa da ilha grega de Santorini. Médicos advertiram que seria impossível mergulhar tão fundo. A seguir, em sua primeira grande entrevista desde esta tentativa, Herbert Nitsch relembra de um dia de glória e tragédia.

“O que acontece com as garrafas de espumante quando você tira a rolha é o que acontece com seu sangue nesse momento”

Tragédia grega: o mergulho fracassado em Santorini para tentar quebrar o recorde deixou Herbert Nitsch com danos físicos e neurológicos



LINHA DO TEMPO DO DESASTRE Dia 6 de junho de 2012, Santorini, Grécia: quando tudo deu errado

14h

14h30

14h33

14h34

Nitsch espera alcançar uma profundidade de 244 metros com um único fôlego, ligado a um suporte, e retornar à superfície incólume. Isso quebraria o recorde de profundidade de mergulho livre que era de 214 metros, estabelecido em 2007. O mergulho duraria 4min30s.

Ele desce a 5 km/h. Após 1 minuto e meio, a 244 metros de profundidade, ele abre os cilindros que o empurram à superfície. Aos 80 metros de profundidade, ele deveria deixar o suporte, prosseguir na subida e fazer uma parada de descompressão de 1 a 10 minutos.

O suporte emerge sem ele. Mergulhadores vão ao resgate de Nitsch.

Nitsch é trazido à superfície, voltando das profundezas apagado. Isto foi 30 segundos antes do planejado. Seu nariz sangra, ele parece tonto e tenta arrancar os óculos de natação de seu rosto assustado.

14h35 Nitsch volta ao fundo com um cilindro de oxigênio e os mergulhadores auxiliares.

14h55

14h56

Nitsch reemerge. Seu rosto está contorcido de dor. Ele claramente não reage.

O resgate iça Nitsch em convulsão para uma lancha que o leva à terra firme. Ele então é levado a um hospital militar em Atenas. A câmara de descompressão de lá é ajustada para o número que se lê no barômetro do pulso de Nitsch: 249,5 metros.

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the red bulletin


RETORNO À SUPERFÍCIE Como o desmaio levou ao acidente

O que deveria acontecer

O que realmente aconteceu

0m 4:30

5

Mergulhadores auxiliares trazem Nitsch à superfície

Nitsch ressurge, está lúcido e dá um sinal de OK

4

Pausa de descompressão por cerca de 90 segundos

80m 2:22 Nitsch deixa o suporte de mergulho e ruma para a superfície sozinho

10m 2:44 Mergulhadores começam a operação de resgate

3

2

100m 2:15 Nitsch desmaia de repente

1

249,5m 1:25 Nitsch quebra o recorde

the red bulletin

fotos: phil simha (4), Peter de Hueber (2), zwefo

10m 3:00

0m 4:00

O que exatamente aconteceu durante os quatro minutos em que você esteve em águas profundas? Cheguei até os 244 metros de profundidade, como planejado. Desmaiei em uma profundidade de cerca de 100 metros, quando estava voltando à tona. O que eu tinha planejado fazer na verdade era sair do suporte, ir para a superfície sozinho, devagar, e então esperar em uma profundidade de 10 metros por 1 minuto mais. Nesse caso, nada teria acontecido. Mas eu apaguei por causa de narcose por nitrogênio (nitrogênio em excesso do sangue e pele, devido à variação da pressão), embora médicos pensem que tenha sido descompressão (aumento do nitrogênio saindo da solução no sangue, formando bolhas) que causou o meu desmaio. De qualquer forma, o suporte e um Herbert Nitsch inconsciente subiram a 10 metros rápido demais. O suporte parou automaticamente e, por causa do meu desmaio, os mergulhadores de resgate me retiraram e assim eu não me afoguei. A partir do vídeo, nós podemos ver que você deu a volta assim que chegou à superfície, voltando a mergulhar novamente em seguida. Por quê? Eu respirei um pouco e voltei para a profundidade de 10 metros para neutralizar a descompressão. A necessidade de voltar quando algo acontece é algo tão normal para os mergulhadores que fazemos isso inconscientemente. Eu não consigo me lembrar de nada desses minutos. Do ponto de vista médico, você provavelmente teve um derrame, não? Derrames múltiplos. Para encurtar uma longa história, o ar é composto de 20% oxigênio e 80% nitrogênio. Durante o mergulho, o oxigênio no sangue é usado e o nitrogênio é comprimido. Se você reemerge rápido demais, o nitrogênio se descomprime, quase explosivamente, e o que acontece com as garrafas de espumante quando você tira a rolha é o que acontece com seu sangue nesse momento, o que não é nada bom. As pequenas bolhas de nitrogênio que se formaram no meu sangue quando reemergi causaram vários derrames. Onde essas bolhas de nitrogênio causaram o maior dano? Diversas partes do meu cérebro foram afetadas, felizmente na parte mais baixa, mais traseira da cabeça, e não na testa, que é onde os traços da personalidade estão localizados. Então, mesmo que agora, depois do acidente, eu esteja longe de ser a pessoa que uma vez fui, quando se trata de minha personalidade e caráter, ainda sou o mesmo. Eu só aparento estar diferente pelo lado de fora.

“Nos bons momentos, o humor ajuda. Nos ruins, é o bastante para te deixar maluco” Desordens neurológicas, dificuldade de encontrar palavras e perda da memória são todos sintomas típicos de derrame. Esses sintomas, ou quaisquer outros, estão acontecendo? Conheço esses problemas e sofro de todos eles. Mas eu me tornei muito bom agora em encontrar outras formas de dizer coisas quando percebo que uma palavra não vem a mim. Se você me faz uma pergunta em duas partes, eu provavelmente vou responder a primeira parte e esquecer a segunda. Eu só fui me lembrar da senha do meu computador recentemente, por acaso. E nomes: eu esqueci os nomes de quase todo mundo. Estaria numa fria se não fosse pelo fato de que eu escrevi a empresa para a qual as pessoas trabalham ao lado dos seus nomes no telefone. E como estão seus movimentos? Voltei a caminhar com minhas próprias pernas. Não uso cadeira de roda, muletas ou armação. Tudo isso é um grande progresso, mas eu ainda estou esquisito, como se fosse feito de madeira. E, se eu não me concentro, minha perna direita oscila como se eu estivesse balançando o quadril. Se eu tento correr, é ainda mais estranho, é tipo um ganso tentando dançar lambada. Sua fala muito ocasionalmente entrega uma instabilidade. Se tento falar rápido ou há palavras mais complicadas, fica rápido demais para minha fala, ou ainda, rápido demais para a condução neural entre meu cérebro e a língua. No final acaba meio ininteligível, como se eu estivesse bêbado. O incrível é que o inglês me vem com muito mais facilidade que o meu alemão nativo. Eu não tenho ideia por quê. Ah, e em geral a parte direita do meu corpo ainda tem muitas restrições do que pode fazer. 65


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“AINDA estou LONGE DE SER A PESSOA QUE UM DIA FUI, QUANDO SE TRATA DE PERSONALIDADE, AINDA SOU O MESMO” você pode imaginar. No início, foi muito ruim, depois que eu fiquei em uma clínica na Grécia e depois em uma reabilitação na Alemanha. Havia tubos saindo do meu corpo em lugares onde não deveria haver buracos. Você ouve os médicos e as enfermeiras cochichando sobre você. Você não quer ouvir isso, mas não pode ficar surdo também. As coisas que dá para entender são tão horríveis que você acha que nada vai adiantar no fim das contas. Eu estava com um medo incrível de que precisaria fazer tudo com ajuda de alguém. Eu pensei que se era para ser assim era melhor terminar tudo de uma vez. Você pode ser específico quanto ao que estava pensando? Eu sentei em minha cadeira de rodas na varanda do centro de reabilitação, olhei para baixo e pensei: é uma queda de dois andares. Pode machucar. Era terra embaixo, não cascalho, o que mostrava que as chances de sobrevivência eram desfavoravelmente grandes. Eu tenho uma amiga que é cirurgiã traumatologista. Ela me contou uma vez sobre pessoas que tentaram e não conseguiram e como elas ficaram. Então eu quis fazer a coisa com mais segurança, daí decidi adiar isso até que estivesse de volta a Viena. Afinal de contas, lá eu moro no 26° andar. Como você parou de pensar nisso? Muitas coisas melhoraram. E eu fiz uma promessa para o meu pai. Então o desejo de viver é uma questão de disciplina e compaixão? Sim, era. Minha vida hoje é um campo de treinamento. Se eu não estou no telefone, ando para cima e para baixo para praticar caminhada. Eu vou ao shopping para ver pessoas. Eu voltei a sair à noite também: enquanto antes isso era uma diversão, hoje é uma etapa do meu programa de treinamento. Eu tinha que provar a mim mesmo que poderia fazer isso.

foto: Maria ziegelböck

Você é destro? Sim, eu sou. Seria um desastre completo se eu tentasse colocar chá em uma xícara com minha mão direita, por exemplo. Eu tive que aprender a escrever com a mão direita, mesmo que apenas para ter novamente uma assinatura. Se uso minha mão direita, minha letra fica rabiscada, como uma criança do primário tentando impressionar um adulto, escrevendo cada letra de forma diferente. Sempre começo a escovar meus dentes com a mão direita para praticar. Só mudo para a esquerda quando meu ombro fica cansado demais. Então você tem consciência plena dos seus impedimentos físicos? Sim – e sem esquecer da perda de memória! Posso ver, escutar e sentir tudo isso claramente. Noto quando não posso lembrar o nome de alguém que conheço há anos. Isso é constrangedor. Uma vez eu perguntei a uma garota com a qual cheguei a namorar se nós nos conhecíamos. Nos bons momentos, o humor e a autodepreciação ajudam. Nos maus momentos, é o suficiente para te deixar maluco. Como é para alguém que só teve sucesso na vida lidar com isso? Às vezes, eu fico triste de ter tanta noção de tudo. Às vezes, eu sou grato. Triste porque às vezes é muito deprimente, grato porque só assim eu posso me comprometer em me esforçar para melhorar. Já passaram nove meses desde o acidente. A sua situação melhorou muito nesse período? Melhora o tempo todo, mas ainda falta muito para eu ficar bem. Como está indo a reabilitação? Faço muitas coisas sozinho, como exercícios de equilíbrio ou ler um livro em voz alta em casa para melhorar a pronúncia. Por um tempo me submeti à reabilitação no Hospital de Meidling, em Viena, mas eles não estão preparados para casos como o meu. Como poderiam? Basicamente, a reabilitação ambulatorial para um paciente clínico era a mesma para mim e para alguém que teve um derrame aos 75 anos, tinha 100 kg e nunca praticou qualquer esporte durante a vida. Você constrói torrezinhas com cubos de madeira, ou não consegue porque não é habilidoso o suficiente e os cubos caem da mesa. Coisas que são tão fáceis de fazer, tornando tudo pior quando você não consegue fazê-las. É humilhante. Às vezes, você pensa que os pacientes cujos cérebros estão danificados estão melhores. Eles não compreendem a situação em que estão. Você sentiu desespero, medo, raiva? Nenhuma raiva. Algum medo. Muito mais desespero. O máximo de desespero que

Apesar de quase tê-lo matado, o oceano está nos planos futuros de Nitsch: ele quer viver nele



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“Se eu soubesse que isso ia acabar como acabou, nunca teria feito. Jamais” Abaixo: exercícios de respiração meditacional são parte da rotina de Nitsch. Ele conseguiu segurar a respiração por 10 minutos em repouso. Mais abaixo: o suporte de mergulho

Você levou o mergulho livre a lugares considerados impossíveis, experimentando coisas que ninguém havia feito antes de você. Valeu a pena? Você quer dizer, se os altos justificaram os baixos? Meus altos foram os baixos, no final das contas. Mas sua carreira e sucesso justificaram as consequências do acidente? Não. Se eu soubesse que isso acabaria como acabou, não teria feito. Jamais. Será que você foi a um ponto em que os homens não deveriam passar? Sim e não. Não, porque eu sempre fui muito mais cuidadoso e sempre mais consciente dos perigos que qualquer outro. Não era um aventureiro. Estava longe de ser um cara que se arrisca. Dei muito ao esporte, especialmente quando se trata de segurança. Sempre fiz isso muito bem, tinha como um diferencial. Você não fica nem um pouco melhor no mergulho livre se tem um comportamento mais estúpido. Você fica melhor na medida em que fica mais esperto. Então como você acabou passando os limites e indo longe demais? Eu não deveria ter feito isso. Havia uma cadeia de circunstâncias infelizes lá, era pura lei de Murphy. O tempo estava ruim e o barco se soltou porque não estava ancorado devidamente. Um barco de pesca pegou nossa âncora e nos arrastou, nós não tínhamos uma câmara de pressão in loco. Algumas questões foram feitas no atropelo, problemas inesperados com autoridades, desentendimentos com os patrocinadores. Às 2h da manhã na noite anterior ao incidente, por exemplo, eu estava acordado assinando um contrato. Acho que eu posso dizer que, se apenas uma dessas coisas não tivesse acontecido, tudo teria saído bem. Um azar normal não teria sido problema. Por que você precisa organizar toda a papelada sozinho? A parte organizacional das coisas em Santorini era para ter sido encaminhada pelo principal patrocinador, mas, após as negociações preliminares, o acordo degringolou e eu tive que fazer tudo sozinho. Algumas pessoas ajudaram, como o meu pai, que organizou todo o processo de resgate. Com todo o respeito, perder seu tempo com assuntos de administração em vez da preparação do mergulho não é inteiramente amador? Raramente durmo mais que quatro horas nas semanas que antecedem uma tentativa, tem muita coisa para organizar. Eu teria planejado tudo diferente para Santorini, mas aí, no último minuto, o patrocinador me deixou na mão porque, the red bulletin

fotos: Maria ziegelböck, phil simha (2)

Houve coisas que os médicos disseram que você nunca poderia fazer de novo? Médicos? Esqueça eles. Se os seus prognósticos iniciais fossem coisa na qual confiar, seria um milagre eu estar aqui hoje. Decidi, por enquanto, que alguém que não saiba nada sobre o acidente não pode reconhecer suas consequências. Você vai mergulhar de novo? Já mergulhei, no final de setembro em Neufelder See, um lago próximo a Viena. A uma profundidade de apenas 3 metros, mas foi bom. Nada pode acontecer com você na água lá: você não cai, não se machuca. Mas realmente gostei de nadar. Foi muito melhor do que eu pensava que seria, de um ponto de vista técnico. Não sabia se terminaria esparramando água por tudo como um cachorro. Meu braço e minha perna direitos podem não ter se coordenado, mas eu ainda consegui nadar mais rápido que alguns que estavam lá.


de repente, tinha ideias muito diferentes das quais eu tinha concordado. Passados os anos, as coisas evoluíram de tal maneira que cuido dos meus próprios negócios. Para mim, mergulhar nunca foi uma questão de lucro; é meu hobby. A papelada nunca foi problema. Os patrocinadores é que vieram a mim; e não eu a eles. É verdade que o representante da Aida, a entidade mundial para mergulho livre, estava com você em Santorini mas foi embora antes da tentativa? Olha, isso não teve importância. Eu nunca nem soube que alguém tinha vindo. A Aida estava sendo patrocinada por um concorrente dos meus patrocinadores e queria vender o meu recorde como uma realização sua. Chegamos a um acordo, mas aí eles recuaram no último minuto. Não foi a Aida que me rejeitou. Eu é que os dispensei. Mas o recorde mundial seria oficialmente reconhecido? Eu estava indiferente a isso. Primeiro, há outras organizações. Segundo, eu tinha quase uma dúzia de computadores para medir a profundidade comigo. O reconhecimento de uma associação ou outra não fazia a menor diferença. Com uma preparação para Santorini longe da ideal, você poderia ter dito apenas: “Foi mal, gente, vamos esperar mais um pouco”. Por que não fez isso? Havia dezenas de jornalistas de todo o mundo, bem como patrocinadores e, é claro, eles queriam que conseguíssemos chegar à imprensa antes que começasse a temporada. Era muita pressão por esse lado e pelo lado financeiro, porque eu investi 100 mil euros [cerca de R$ 260 mil] do meu próprio bolso no evento. Atrasar tudo ia ser uma grande perda de dinheiro e interesse da mídia. O que finalmente fez você decidir levar as coisas adiante? Meu objetivo maior não eram os 800 pés a que eu desceria em Santorini. Eram 1 000 pés [244 metros são 800,5 pés; 1 000 pés são 304,8 metros], que eu sabia que era possível – 800 pés era apenas um ponto intermediário, um bom treinamento. Não estávamos próximos ao limite. É o mesmo que pedir que Usain Bolt corra os 100 metros em menos de 10 segundos. Você não precisa das condições perfeitas para isso. Eu pensei que meus tímpanos explodiriam, e que teria algumas semanas de dor, no máximo. Não pareceu importante se eu tinha algumas horas mais ou menos de sono à noite. Este provavelmente foi o meu erro. Quais são seus planos para o futuro? Primeiro, preciso seguir trabalhando física e mentalmente. Mas o que a maioria the red bulletin

“Eu investi 100 mil euros do meu próprio bolso e a imprensa estava de olho. Foi bastante pressão em cima de mim” das pessoas não sabe é que, mesmo antes de Santorini, o mergulho livre competitivo foi talvez 5% do que eu fazia. Tenho muitas aulas que posso dar. Minha experiência profissional como piloto e mergulhador cobre muitas coisas: otimização organizacional, administração de risco, administração de crise. Esse é um caminho. E, porque um fabricante de suporte

me deixou em uma dificuldade, um amigo e eu construímos meu suporte juntos. Realizamos coisas que eram consideradas impossíveis e eu aprendi como trabalhar com fibras de carbono e de vidro. Gostaria de usar essa habilidade para construir um barco no qual eu pudesse viver, viajar pelos oceanos e dar aulas. Um barco de 16,5 metros – esportivo, econômico, ambientalmente sustentável – que possa sobreviver por meses apenas de painéis solares. E tenho planos para um novo tipo de submarino. A qual profundidade você realmente chegou em Santorini? Os computadores mostram que desci até 250 metros, e algumas outras medições dizem 249,5. Mas não quero me vangloriar disso. Do meu ponto de vista, falhei. Para você, qual é o recorde agora? Intuitivamente, estou mais inclinado a dizer 214 metros. Mas, para ser franco, eu não me importo mais.   www.herbertnitsch.com

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Francesco Tristano

Quebrando barreiras Ele leva a batida para os concertos e o barroco para discotecas. Esse músico de Luxemburgo é celebrado como um prodígio que constrói pontes entre mundos Por: Florian Obkircher

no último século. Antes disso a música clássica era o rock ou o tecno de sua época. Essas distinções não fazem sentido para a gente. Tudo flui organicamente. Como músico erudito, o que desvia você para a música eletrônica? É a batida. Existe algo de primal, de ritualístico nela. Ela faz o seu corpo se mexer automaticamente. Ao meu ver tem uma forte associação com a Era Barroca e sua cultura da dança.

ter o mesmo nível de dificuldade. Mas não se trata só disso. Em um concerto de música clássica você escuta o som do passado interpretado pelo pianista. Um DJ faz exatamente a mesma coisa: ele toca faixas de outros artistas e as trama numa estrutura que junto fica maior. Em seu álbum Not for Piano você toca um cover do clássico do tecno de Jeff Mills, “The Bells”, no piano. Como surgiu essa ideia? Eu só queria fazer uma tentativa. A coisa mais importante é transferir a energia das batidas para o piano. E funciona porque o piano é, afinal de contas, um protossintetizador. Você tem uma variedade dinâmica incrivelmente grande, desde suaves a extremamente altas. E assim você consegue muitos efeitos de sintetizador de uma forma natural. Está na hora de o tecno ir para the red bulletin: Você gosta de salas de concerto? viver entre dois mundos? Nos anos 1930, Benny Goodman francesco tristano: Sou um tocou seu primeiro concerto de jazz camaleão [risos]. Mas não vejo um no Carnegie Hall – esse foi um grande concerto e a discoteca como mundos passo na disseminação do gênero. Aufgang: Francesco Tristano, Rami Khalifé e Aymeric Westrich opostos. Quando eu estou no palco, É por isso que é tão legal que o tecno Existem similaridades estruturais entre é tudo uma questão de ritmo, melodia, seja tocado na Filarmônica de Berlim hoje a música barroca e o tecno? harmonia e timbre. Se estou tocando em dia, porque é assim que as pessoas Sim. Porque a batida do grave forma a o piano ou o sintetizador, é irrelevante. que normalmente não vão a danceterias estrutura da maioria das faixas do tecno. Como você une o clássico e o tecno? tomam conhecimento do tecno. Por outro Você encontra um elemento similar na Eu e meus dois parceiros na Aufgang lado, é importante que a música clássica música do compositor Johann Sebastian estudamos no conservatório, então chegue às casas noturnas. Bach. Ele escreveu diversas partituras que para nós os clássicos são basicamente Você tem esse tipo de curiosidade também têm essa batida constante. Tudo inatos. Nós não sentamos e dizemos: quando toca? está ligado: sem Bach não haveria tecno, “Vamos agora fundir barroco com tecno”. É claro. No ano passado eu toquei uma e vice-versa. Há muita música de hoje que Com dois pianistas na banda, elementos série de concertos com o músico Dieterich você só consegue entender de fato através harmônicos e contrapontísticos ocorrem Buxtehude, professor de Bach. Na parte da perspectiva do passado. naturalmente. final do show eu misturei batidas eletrôExistem paralelos entre um concerto Então a Aufgang é o oposto de um nicas com coisas clássicas. O público para piano e um set de DJ? projeto amarrado? de música erudita gostou muito. O piano requer anos de prática. Encaixar Exatamente. Essa distinção entre música O disco Istiklaliya, do Aufgang, já está disponível em: www.francescotristano.com o tempo de dois discos não parece mesmo popular e música erudita surgiu apenas 70

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fotos: Fabien Breuil, corbis

Francesco Tristano fala sete línguas. Aos 13 anos, ele apresentou seu primeiro concerto de piano completo com composições próprias. E mesmo que o garoto, cheio de modéstia e de cabelos encaracolados, nascido no pequenino Luxemburgo, não goste do termo, o mundo da música o vê como um menino prodígio. Mas ele se enxerga mais como um construtor de pontes. Aos 31 anos, batem dois corações em seu peito: um para a música erudita, outro para o tecno. Foi enquanto estudava na escola nova-iorquina Juilliard que se apaixonou pelo ritmo eletrônico. Naqueles dias ele podia ser encontrado tocando em um concerto em Leipzig em um fim de semana e agitando discotecas com sua banda de tecno barroco, a Aufgang, no outro. Sua missão é derrubar barreiras.


“ Se não fosse caras como Bach, não existiria o tecno” Nome Francesco Tristano Schlimé Nascimento 16 de setembro de 1981 Profissão Compositor, pianista, DJ de música eletrônica Ídolos Lendas do tecno como Carl Craig e Moritz von Oswald, com quem já fez colaborações Objetivo Tristano quer fazer uma interpretação contemporânea de toda a obra de Bach Lema “Um bom recital de piano é como um bom set de DJ”


De volta para casa: foi aos 7 anos, no Centro Nacional de TĂŞnis da BielorrĂşssia, em Minsk, que Azarenka bateu bola pela primeira vez


Amada, odiada, temida: Victoria Azarenka é a mais controversa tenista do mundo. Visitamos a casa da campeã que veio do frio Por: Stefan Wagner  Fotos: Greg Funnell

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Acima: Victoria Azarenka sustentou Ekaterina e Ulyana Grib por quatro anos. Direita: a família Azarenka viveu em um apartamento no sexto andar deste bloco. Abaixo: Centro de Tênis de Minsk

momento mais revelador sobre Victoria Azarenka – vencedora de mais de US$ 20 milhões em prêmios, grito mais alto do esporte profissional e namorada do artista bizarro Redfoo – é este: final da manhã de domingo, duas horas balançando num carro saindo da capital Minsk rumo a uma casa de campo que parece um disco voador danificado em pouso forçado na floresta bielorrussa, Victoria Azarenka arrasta os pés pelo lobby, levando uma mulher mais velha pela mão. Essa é sua avó. Por mais de 50 anos ela trabalhou como professora de jardim de infância, entrando às 5h da manhã. Agora ela vem a esse lugar duas vezes ao ano para descansar três semanas. Ela descobriu apenas na véspera que sua neta vinha visitá-la, então se apressou em conseguir uvas e chocolate branco. A velhinha caminha curvada. “Devagar, Babushka, devagar”, sua neta diz. “Temos todo o tempo do mundo.” A raquete de Victoria Azarenka é indistinguível daquelas usadas nos circuitos masculinos: tamanho de cabo quatro, com uma fita de absorção de suor, ela tem a pegada de uma vara verde. A Wilson entrega suas raquetes com uma taça 74

do Grand Slam gravado na borda interna. A raquete foi enfeitada com dois troféus desde janeiro, quando Azarenka defendeu o título do Australian Open e reconquistou o topo do tênis feminino, superando Serena Williams e Maria Sharapova. Elas duas e Azarenka são as atuais competidoras pelo primeiro posto do ranking. Williams transformou o tênis feminino em um esporte de explosão, conquistou 15 títulos do Grand Slam e recentemente completou 31 anos – é a grande dama do mundo do tênis. Sharapova, por sua vez, transformou o circuito feminino em uma passarela e é o maior salário entre esportistas femininas há oito anos. E Victoria Azarenka? Azarenka vence. Ela venceu 19 das 21 partidas desde o começo do ano - as duas que perdeu foram justificadas devido a sua lesão. Victoria como “vitória”, um nome que seus pais escolheram conscientemente em 1989, quando a Bielorrússia ainda integrava a União Soviética. “Morávamos num apartamentinho, meu irmão e eu, pais e avós. Meu pai tinha dois empregos, minha avó ia trabalhar às 5 da manhã, minha mãe trabalhava até tarde da noite – tudo para me permitir jogar tênis.” Victoria Azarenka tinha 9 anos quando seu primeiro treinador deu à turma de tênis infantil o desafio de rebater a bola na parede mil vezes com perfeição. O número era totalmente fora da realidade. O treinador apenas queria saber como suas meninas lidariam com tarefas impossíveis. Victoria rebateu a bola 1.460 vezes.


“Meu pai tinha dois empregos, minha avó ia trabalhar às 5 horas da manhã, minha mãe trabalhava até tarde da noite – tudo para me permitir jogar tênis”

Aos 13 anos ela ganhou seu primeiro torneio no Usbequistão, no circuito internacional sub-18; na Bielorrússia não havia mais quem pudesse rivalizar com ela. Um ano depois, quando já estava no campo de treinamento em Marbella, na Espanha, ela ingressou no circuito feminino. Kristin Haider-Maurer, uma ex-profissional que jogou contra a adolescente de 14 anos na Croácia, lembra de “um animal competitivo que não desistia de nenhuma bola, extremamente ambiciosa, tenaz”. A mais experiente Haider-Maurer estava vencendo por 3 a 0; Azarenka chorou quando trocaram os lados. Então ela deu um grito de pura raiva e cedeu apenas mais um game para sua adversária, quatro anos mais velha que ela: 6-4, 6-0. Sam Sumyk treina Victoria Azarenka há três anos. Quando questionado sobre o que faz dela a número 1 no mundo

– seu backhand talvez? –, o francês, que é dono de uma serenidade imperturbável, balança a cabeça. “É seu profissionalismo que faz a diferença. É fascinante o quão determinada ela é para sacrificar tudo pelo sucesso.” No Australian Open eles mediram o volume dos gritos que soltava todas as vezes em que rebatia uma bola. Era de pouco mais de 100 decibéis. O limite da dor para o ouvido humano é de 110 decibéis. Alguns jornalistas têm defendido uma mudança no regulamento para impedir que tenistas femininas gritem; Azarenka e Sharapova são alvo de críticas particularmente duras. “É injusto”, diz uma das maiores rivais de Azarenka, a polonesa Agnieszka Radwanska. “Arruina o jogo”, diz a lenda do tênis Martina Navratilova. Mas, para Azarenka, “é parte do jogo”. 75


É início de abril e o inverno ainda castiga Minsk. Victoria Azarenka não deveria estar lá naquele momento, mas nos EUA, em Miami, onde acontece o quinto maior torneio mundial de tênis. Ou no Arizona, para onde se mudou aos 15 anos para viver com a família do jogador russo da NHL Nikolai Khabibulin, que pagou pelos seus treinamentos nos Estados Unidos. Ou pelo menos em Monte Carlo, onde tem um apartamento. Mas depois de sofrer uma lesão em Indian Wells decidiu se recuperar em casa, “e casa será sempre significado de Minsk”. Combina a recuperação com uma visita à família e ao campo de treinamento: mesmo quando você poupa o tornozelo, ainda sobram várias partes do corpo para torturar. Enquanto Azarenka relaxa com um pouco de ioga numa academia do Centro Nacional de Tênis da Bielorrússia, Sam Sumyk, seu técnico, a agente Meilen Tu, o fisioterapeuta Per Bastholt e o treinador Mike Guevara bebem café do lado de fora. A comitiva de primeira classe da estrela multimilionária – dois americanos, uma dinamarquesa e um francês – contrasta com uma luz de néon esverdeada, o piso desgastado, painéis de teto surrados e fotos desbotadas em preto e branco dos pioneiros do tênis soviético nas paredes. Algumas partes do Centro Nacional de Tênis de Minsk foram reformadas nos últimos 15 anos. Quadras modernas foram abertas e janelas receberam revestimento térmico de forma que não se precisa mais raspar o gelo do lado de dentro. Mas os vestiários, os corredores e as academias ainda parecem ser os mesmos que “Vika”, a menina de 7 anos, encontrou. Sua mãe, Alla, recém começara em um novo emprego, trabalhando como recepcionista das 8 da manhã às 10 da noite.

Acima: Sasha Skrypko cresceu com Azarenka. “Ser a número 1 era o destino de Vika. Eu nunca vi ninguém com tanta força de vontade para isso.” Abaixo: Sam Sumyk, treinador de Azarenka

Será que Victoria Azarenka ainda guarda sua

1ª raquete?

“Não. Eu era uma garota maluca. Certamente quebrei de raiva”

Em seu primeiro dia de trabalho, Alla deu para Vika uma raquete. (Azarenka relembra da pré-histórica raquete Prince de alumínio, um modelo que até mesmo os adultos têm dificuldade de usar. Será que ela ainda tem sua primeira raquete? “Não. Eu era uma guria maluca. Certamente eu quebrei de raiva.”) A menina descobriu um tipo de ginásio no porão, com listras horizontais nas paredes e linhas coloridas no chão. E por dois anos, dia após dia, ela rebatia bolas de tênis contra a parede até que sua mãe chegava para apanhá-la pouco depois das 10. Assim que a estrela internacional Victoria Azarenka terminou a sessão de ioga, Mike Guevara a esperava para uma sessão de resistência na bicicleta ergométrica. Para assegurar que eles ficassem em privacidade, Guevara arrastou a bicicleta ergométrica para algo como um recinto lúgubre no final de um corredor escuro. Victoria Azarenka ri ao entrar no cômodo. Ela aponta para a parede: “Aquela era minha rede”. E, indicando algumas linhas coloridas no chão, diz: “Este era o centro da minha quadra”. Os encantos da terra natal de Victoria Azarenka demoram a se revelar para um turista. A República da Bielorrússia é localizada entre a Polônia e a Rússia, entre os Bálcãs e a Ucrânia, e tem pouco menos de 9,5 milhões de habitantes. As complexas estruturas de poder político são um pouco entrincheiradas demais para disfarçar a descrição de “ditatoriais”: o ano de 2014 vai marcar o 20° ano do governo do presidente Lukashenko. Os seus principais parceiros? Rússia, Irã e Venezuela. Todos os soldados que se veem por Minsk vestem quepes comicamente superdimensionados, e você quase sente que é o esforço de manter esses trambolhos em suas cabeças que dá a esses militares o seu balanço discreto na marcha. É uma

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Acima: ioga como relaxamento. Abaixo: Victoria Azarenka é a heroína nacional da Bielorrússia. “Quero dar autoconfiança ao meu país”, ela diz

imagem animada em conflito com o tipo de relação entre essas autoridades e o cidadão comum da região, e que raramente é caracterizada pelo bom humor. Você pode saber que um motorista bielorrusso é experiente, por exemplo, pela webcam posicionada atrás do para-brisa apontada na direção do caminho. Essas câmeras estão ali para registrar abusos de poder e eventualmente impedi-los. Nos cruzamentos, outdoors retratam um homem deitado na cama, fumando um cigarro, a imagem é cortada por uma grossa linha vermelha: fumar bêbado na cama é uma causa recorrente de mortes em Minsk. O outdoor é feito com pictogramas rudimentares usados para denotar esportes olímpicos, como se acender um cigarro embriagado na cama fosse uma categoria olímpica bielorussa. the red bulletin

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ficaram envergonhadas e hesitaram. Depois disseram: ‘Por favor não fique brava, mas queremos ser melhores que você’. Foi quando tive certeza que queria ajudá-las.”

Os bielorrussos normalmente evitam assuntos como política e problemas sociais – isso também é conhecido como fatalismo pós-soviético. Mas eles adoram falar sobre sua terra, seu povo, suas tradições, culturas. O patriotismo bielorrusso é orgulhoso, violento e onipresente. Victoria Azarenka, por exemplo, ama conversar sobre tenistas bielorrussos. Natalia Zvereva, por exemplo, que foi às finais do Aberto da França de 1988 representando a União Soviética; Max Mirnyi, um destaque mundial em dupla; bem como a bicampeã do mundo Darya Domracheva (“ela é incrível”). A tenista também fica contente discutindo sua posição de heroína nacional, papel esse que ela interpreta de uma maneira bastante verdadeira. Quando dirige por Minsk em seu Porsche Cayenne cor de vinho, por exemplo, não é uma declaração de “eu sou melhor que você”. O que parece mais é que ela quer dizer algo como: “Eu sou uma de vocês. Vejam o que eu conquistei – e você também pode conseguir”. Victoria explica: “Eu gostaria de ajudar a aumentar a autoconfiança do povo aqui da minha terra”. E Azarenka fica bem animada ao falar sobre Ulyana Grib, uma jovem tenista de 13 anos, e Ekaterina Grib, que está com 12. Elas treinam no mesmo centro no qual a estrela cresceu. “Elas podem ser muito, muito boas”, diz a tenista. Quando ela recebeu um bônus por ganhar medalhas olímpicas em Londres – bronze no individual e ouro em duplas junto com Mirnyi – ela mandou o dinheiro para as garotas para ajudar a pagar os custos de viagem. Ela também treina com elas, avalia seus progressos por mensagem de texto, dá incentivo, conselhos e dicas. Quão bom é ser muito, muito boa? “Elas têm algo que é extremamente raro”, responde Azarenka. “Quando perguntei a elas qual eram seus sonhos, as duas 78

“Você não conhece um bielorrusso se não entender

suas regras.

A mais importante é o respeito pelos mais velhos”

Acima: Victoria Azarenka ama karaokê e é muito boa nisso (também!). Abaixo: Valentina Rzhanih foi a primeira treinadora de Azarenka, dos 7 aos 11 anos. “Quando disse a ela que teria de trocar para outro treinador porque eu não podia ensiná-la mais, ela chorou.” Victoria Azarenka ainda mantém contato com Rzhanih

“Na cultura bielorrussa”, diz Victoria Azarenka, “há três regras básicas. Você não pode nos entender sem entender antes nossas normas. Número um: sua família é sagrada. Número dois: faça tudo pelas crianças. E a mais importante de todas: respeite os mais velhos”. Na primavera de 2011, após Victoria Azarenka ter batalhado por um lugar no topo da elite mundial, ela perdeu a paixão pelo tênis. “Treinar, me torturar para lutar por uma bolinha como se estivesse lutando pela vida... eu não queria mais aquilo. Queria fazer algo diferente. Pedi o conselho da minha avó. Ela me escutou, sorriu, assentiu e disse: ‘Você tem que descobrir o que lhe faz feliz. E então tem que seguir fazendo mesmo que não esteja a fim’. Foi isso que ela disse. Eu fui para casa, pensei um pouco e, no dia seguinte, já voltei a treinar.” Nove meses depois, Victoria Azarenka venceria o Australian Open e alcançaria o número um no ranking. Domingo à tarde, de volta ao disco voador no meio da floresta bielorrussa. Dentro da pequena residência, Azarenka está sentada ao lado da avó no sofá; na mesa tem um cacho de uva, chocolate branco e o livro Guerra e Paz, de Tolstói – a leitura da avó durante o feriado. Entre guerra e paz, qual lado representa melhor Victoria Azarenka? “Eu sou apenas uma, porém com dois lados”, diz. “Se você quer vencer, tem que lutar. Não pode mostrar fraqueza, não pode amolecer, não pode ficar sensível. Do contrário, sua rival pode usar isso para conseguir uma vantagem. Durante a partida sou uma guerreira.”

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Victoria Azarenka com sua avó, Nina. Quando a tenista pensou em encerrar a carreira em 2011, ela seguiu o conselho da avó – e chegou ao primeiro lugar

Como alguém consegue alternar os momentos de guerra e de paz? “É natural, como uma leoa que vai lá e luta. Ela vai matar se for preciso, mas para suas crias ela será a mãe mais amorosa e carinhosa que se imagina. Assim é a vida.” É domingo à tarde e Victoria Azarenka come uvas e acaricia a mão de sua avó. Assim que seu tornozelo melhorar, ela voltará para a batalha, quando gritará até o limite da dor em cada rebatida e correrá pela quadra de tênis como se fosse uma questão de vida ou morte.

Acompanhe Victoria Azarenka em sua viagem por Minsk na versão para tablet do Red Bulletin the red bulletin

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No Red Bull X-Alps 2011, planando sobre Tre Cime, nas Dolomitas, em Sesto, Itรกlia


CON DIÇÕES

DE PICO fotos: felix woelk/red bull content pool

UMA DAS CORRIDAS DE DUAS MODALIDADES MAIS DIFÍCEIS DO MUNDO COMEÇA EM SALZBURGO, NA ÁUSTRIA, E TERMINA EM MONTE CARLO, PASSANDO POR ALEMANHA, ITÁLIA, SUÍÇA E FRANÇA. ELA ACONTECE NO CHÃO E EM VOOS DE PARAGLIDER SOBRE OS ALPES: UMA AVENTURA DOLOROSA QUE ULTRAPASSA OS LIMITES DO CONVENCIONAL. Esse é o Red Bull X-Alps por: Arek Piatek

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“MINHA ESTRATÉGIA? VOAR MUITO, CORRER O MÁXIMO E CURTIR A TORTURA” MAx mittmann  EQUIPE Ger 3


fotos: oliver laugero/red bull content pool (2), chris hoerner/red bull content pool, vitek ludvik/red bull content pool

No Red Bull X-Alps, os atletas escolhem correr ou voar de paraglider por cinco países. Em sentido horário, a partir da esquerda superior: Thomas de Dorlodot, da Bélgica, decola em Tre Cime; Chamonix, ao pé do Mont Blanc, durante a rota da corrida em 2013; o bicampeão Chrigel Maurer no percurso para seu próximo voo; o português Nuno Virgilio na montanha de Dachstein the red bulletin

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ENDURANCE NOS ALPES VOCÊ PRECISA DO QUE PARA ENFRENTAR O RED BULL X-ALPS? Para entender o grau do desafio, basta ver as habilidades dos competidores inscritos. Entre os currículos dos 32 atletas que participam do Red Bull X-Alps, é possível notar o alto nível de performance. Por exemplo, Antoine Girard. Ele é um dos principais pilotos de paraglider da França, bem como um dos melhores corredores de resistência e um veterano de diversas expedições de montanhismo pelo Himalaia. Aí tem o piloto de testes Mike Küng. Em 2004, ele foi a primeira pessoa a usar um paraglider a uma altitude de 10 mil metros. O recorde do austríaco segue inabalado. Mike Küng participa de corridas e escaladas em montanhas, com médias de 6 mil metros de subida por semana.

ger

largada

Salzburgo   Gaisberg   Zugspitze   424 m

Fr

1 287 m

2 962 m

Aut

Dachstein   Interlaken   568 m

Mont Blanc   4 810 m

ch

Matterhorn   4 478 m

Wildkogel

2 995 m

2 224 m

Ortler   1 906 m

St Hilaire   995 m

chegada   Monaco

Peille   600 m

It

0 m

Em 7 de julho de 2013, 32 atletas de 21 países vão enfrentar a rota Salzburgo –Mônaco passando por dez pontos decisivos. A distância: 1 031 km quase em linha reta. Aqueles que conseguem chegar ao final geralmente percorrem cerca do dobro dessa distância. Diz o campeão do Red Bull X-Alps, Chrigel Maurer: “A rota não contorna os vales, ela atravessa. É como se a pessoa deliberadamente escolhesse o método mais difícil de passar pelos Alpes”.

Christian Maurer, conhecido como Chrigel, é bicampeão do Red Bull X-Alps, venceu as últimas edições, em 2009 e 2011, e é um excepcional piloto de paraglider. O suíço é dono de dois recordes mundiais, bem como do recorde europeu, de 323 km, como mais longo voo de paraglider. Esses homens vão precisar dar o sangue para completar a corrida que consiste em ir de Salzburgo a Mônaco no menor tempo possível. A distância em uma linha reta é de 1 031 km, atravessando em sua maior parte os Alpes [veja no mapa]. Seja caminhando, correndo ou voando – cada um tem sua estratégia –, os atletas percorrerão uma distância real de 1 800 km. A corrida dura no máximo 14 dias, sem folga. Não é permitida a ajuda de ninguém, exceto de um ou dois homens de apoio para fornecer comida, palavras de conforto e um lugar para passar a noite. Os atletas podem competir entre 5h e 22h30 – e pela primeira vez, na corrida de 2013, eles terão um “vale pernoite” para usar. O Red Bull X-Alps é uma expedição aos limites da resistência física e mental. A prova é realizada a cada dois anos para dar aos atletas a chance de se preparar. Em 2011, apenas dois dos 30 competidores cruzaram a linha de chegada. Um dia normal pode incluir uma marcha de 100 km, uma jornada por uma geleira e voos de paraglider em altitudes de 4 mil metros. As condições adversas de temperatura e pressão, o clima imprevisível e o desgaste físico provocam dores, cansaço e acidentes. Em 2011, Mike Küng abandonou a corrida por causa de uma pneumonia, já o francês Vincent Sprüngli cochilou de cansaço no ar e enroscou seu paraglider num cabo de teleférico. Enquanto isso, cinco outros atletas sucumbiram por serem muito lentos, já que as regras determinam que a cada 48 horas o competidor que estiver em último seja desclassificado. Acompanhe a corrida em tempo real: www.redbullxalps.com

fotos: oliver laugero/red bull content pool, vitek ludvik/red bull content pool, felix woelk/red bull content pool

O NOVO grand tour


“O PARAGLIDER É SEMPRE UM RISCO. NÃO DÁ SIMPLESMENTE PARA PARAR QUANDO TEM UM PROBLEMA” Chrigel Maurer  EQUIPE Sui1


O final da aventura Ê em Mônaco, na costa mediterrânea. A corrida termina 48 horas depois que o primeiro atleta cruza a linha de chegada


CHRISTIAN MAURER O bicampeão do Red Bull X-Alps fala sobre as ciladas psicológicas, rotas difíceis e os perigos do cansaço

Christian “Chrigel” Maurer é um gênio no ar e domina o Red Bull X-Alps, fato que tem ocorrido a cada dois anos desde 2003. Quando o suiço venceu em 2009 e 2011, voou 70% do trajeto – um percentual maior que qualquer outro competidor.

× VOO RADICAL

“A princípio, a corrida é simples: você sobe o morro a pé e desce de paraglider atravessando a rota mais difícil. O voo é incrivelmente complicado, com pontos de decolagem traiçoeiros, tempo quase sempre ruim e terrenos desconhecidos.”

A visão que os atletas têm de Zermatt, na Suíça. Abaixo: Chrigel Maurer comemora o título – ele fez a corrida em 11 dias, 4 horas e 52 minutos

× A CIÊNCIA DO TREINO

fotos: felix woelk/red bull content pool (2), oliver laugero/red bull content pool (2)

“Na corrida de 2011, corri quase 500 km. Treinando para 2013, calculei o comprimento da passada, frequência cardíaca e consumo de calorias ideal para ter o melhor desempenho.”

× ZONA DE PERIGO

“O maior fator de risco é o cansaço. Se uma asa do paraglider desaba e você vai caindo, tem que reagir muito rápido senão a coisa fica feia.”

× QUEIMANDO CALORIAS

“Nessa corrida, você corre ou voa por cerca de 16 horas por dia. Minha necessidade calórica diária é de 10 mil calorias, consumidas em massa, barras de energia e carboidrato em pó.” 87


Seus artistas favoritos compartilham playlists pessoais em rbmaradio.com

A melhor seleção musical da web.


Aonde ir e o que fazer

Por que o boxe é um sucesso na dieta de James Spithill. EM FORMA, página 93

aç ão ! V I AG EM / EQ U I PA M ENTO / TR EI N O / M Ú S I CA / FESTAS / C I DA D ES / BA L A DAS

MIGs sobre Moscou

Esqueça os passeios de helicóptero pelo centro da cidade: um passeio em um Mig-29 é o melhor sobrevoo turístico da Terra – e quase do espaço

Fotos: Incredible Adventures, shutterstock

MALAS PRONTAS, na página seguinte

Embarque em um MIG: o voo da sua vida

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ação !

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E TEM MAIS...

Antaspeliae molorib eaquias reped que vita dolo volum et facitatiis mo intiiss imendi Aproveite Moscou cum occusaesti ao máximo ipicidi tiumquiat

Quase em órbita: o supersônico russo MIG-29 é o caça de 26 forças aéreas no mundo

BAIXE A ADRENALINA Cure as dores do voo na Sandunovsky Banya, uma opulenta casa de banho. Faça sauna, vaporização e depois se jogue na água gelada.

Passeio a jato VOE NO MIG-29 O PREÇO É ALTÍSSIMO, MAS ESSE PASSEIO VAI TE LEVAR AO PONTO MAIS PRÓXIMO POSSÍVEL DO ESPAÇO SEM USAR UM FOGUETE

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Para provar os verdadeiros sabores da URSS, prove pratos clássicos do período soviético em vizinhanças que remetem à Rússia stalinista em um famoso restaurante retrô-kitsch. club-petrovich.ru

AVISO AOS TRIPULANTES A hora da verdade

“É importante ter peito forte”, diz Cusma. “Seu abdômen vai tensionar muito por cerca de uma hora sob extrema pressão, então um trabalho de diafragma como da ioga ou um pouco de exercício peitoral ajudam.”

Fique de olho

PARA ESQUENTAR Nenhuma visita a Moscou estaria completa sem provar a vodca local. Um bom lugar para ir após o voo é o lindo Bar Stariki, que era um observatório. www.starikibar.ru

Existem centenas de revendedores online oferecendo voos em MIGs russos, então tome cuidado. Enquanto muitos vendem em nome de outras empresas e acima do preço, a empresa americana Incredible Adventures e a suíça MIGFlug são duas companhias que tratam diretamente com a Base Aérea de Sokol, na Rússia. www.incredible-adventures.com www.migflug.com

the red bulletin

texto: ruth morgan. fotos: Giel Sweertvaegher, Incredible Adventures, shutterstock (2)

Poucas coisas são mais intensas do que um passeio em um caça MIG-29. É uma beleza em estado bruto que voa a 20 mil metros por minuto, rompendo a barreira do som e proporcionando uma força de nove vezes a gravidade da Terra durante as manobras para depois sair da atmosfera e revelar a curva da Terra. Na Rússia, civis podem assumir o manche do jato com duplo comando em um pedaço do passeio que dura uma hora e é realizado com alguns dos melhores pilotos de teste do país. Em 1993, uma empresa americana chegou a um acordo com a base aérea para comercializar esses voos. Desde então, o negócio tem ido de vento em popa, com pilotos QUANTO CUSTA frustrados fazendo fila para satisUS$ 21 mil para fazer suas fantasias de andar em um voo subsônico um caça. “Não tem nada igual”, com acrobacias e diz o executivo de Wall Street Paul US$ 26 mil por voo Cusma, que voou com a agência supersônico até Incredible Adventures. “Me senti com acrobacias. como em um filme. É como a senQUANDO IR sação de um salto de paraquedas, É preciso agendar mas durante uma hora inteira. com cerca de Ele rompe a barreira do som e não seis meses de antecedência. dá para ouvir nada, o jato é muito rápido. Quando pousei, estava ONDE É cansado e empapado de suor, Na Base Aérea mas a primeira coisa que pensei de Sokol, Níjni Novgorod, Rússia foi: ‘Quero mais!’ ”

ATAQUE SOVIÉTICO


Ação!

minha cidade

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Capetown, South Africa

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O bom filho...: Haezer adora voltar à Cidade do Cabo

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TExto: Steve smith. FOTOs: haezer

Cidade do Cabo ENTRE A PERNA AUSTRALIANA E A EUROPEIA DE SUA TURNÊ, O DJ E PRODUTOR SUL-AFRICANO RECOMENDA ALGUNS DOS MELHORES LUGARES DA CIDADE DO CABO Sentado na varanda de seu apartamento e estúdio, nove andares acima do centro da Cidade do Cabo, Haezer parece cansado. Isso é o que as 30 horas de viagem da Austrália à África do Sul podem fazer, especialmente quando uma boa parte dela foi numa poltrona apertada de um voo interminável, espremido entre dois grandalhões. De volta ao refúgio em sua cidade antes de embarcar para uma fatigante turnê de dois meses pela Europa, o cara conhecido como Ebenhaezer Smal fala com orgulho de seus programas favoritos na cidade. “Não tem lugar melhor para chegar. Aqui é uma bonita e tranquila metrópole africana para se conhecer. Se vier, deve definitivamente passar por estes lugares.” the red bulletin

1 Aces & Spades 62 Hout Street “Um ótimo bar do outro lado da rua da minha casa. Meus dois artistas favoritos são Nick Cave e Tom Waits, e o proprietário do Aces & Spades (acima) é um grande fã de Tom Waits. Eles até se parecem.”

passar no Lion’s Head (abaixo). A subida não é tão pesada e sempre tem gente, o que é sinal de segurança. A vista é fantástica.”

DOWNHILL URBANO

4 Fiction 227 Long Street “Se você gosta da noite, a melhor coisa é conferir os blogs da cidade para saber dos shows. De toda maneira, sempre tem festa no Fiction (abaixo), um ponto de encontro lendário. É intimista e tem uma varandona.”

2 Bombay Bicycle Club

156 Kloof Street “Este é um fantástico restaurantezinho (acima) na Kloof Street. Tem uma atmosfera muito boa e tudo no cardápio é muito bom.”

3 Lion’s Head

na Table Mountain “Se pegar uma noite de lua cheia durante a viagem, não deixe de

Ele pode não ter o tempo que costumava ter, mas Haezer gosta de andar de skate. E na Cidade do Cabo as manobras na rua são a única opção. O grande estacionamento da Salesians, na Somerset Road, em Green Point, é uma boa pedida. Lá tem rampas, transições e plataformas para kick-flips, ollies e grinds. E a diversão é de graça.

5 The Roundhouse

Roundhouse Road, The Glen, Camps Bay “O restaurante para se fazer uma refeição de cinco pratos acompanhados dos melhores vinhos sul-africanos, com uma linda vista de Camps Bay.”

Esse é o caminho usado para o desafio anual de downhill, o Urban Assault. Mas, se você gosta de mountain bike, dá para fazer por lá a qualquer hora. A pista começa com uma estrada de asfalto em Signal Hill, desce para uma trilha para jipe, algumas trilhas para caminhada, passa por degraus e estradas até chegar ao fim, na Buitengracht Road.

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M AT E R I A L FORTE ITENS PARA ENCARAR OS ALPES Martelo Precisa pregar as estacas na rocha? O outro lado da picareta funciona como martelo.

Serra A ponta afiada serve para bater nas pas­ sagens de gelo mais estreitas. Os dentes melhoram a pegada para que ela aguente o peso do alpinista e de suas coisas. Christian Maurer, o “Chrigel”: atual campeão do Red Bull X-Alps

Para enganchar A curva do cabo de alumínio torna a escalada em terreno íngreme mais fácil.

Picareta multiúso Christian Maurer Para vencer a mais dura corrida de aventura, o suíço usa ferramentas importantes

Na base Para inclinações mais suaves, ela funciona como um cajado na escalada. A ponta de metal no fundo é útil na neve dura.

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Fotos: Hugo Silva/Red Bull Content Pool, kurt keinrath (2), GLOBALFINDER, GLORYFY, X-BIONIC ENERGY

Em um dia qualquer durante as duas semanas do Red Bull X-Alps (veja a reportagem na página 80) são 17 horas de caminhada rápida, escaladas em glaciares e voos de paraglider pelas montanhas com neve, vento, sol e chuva. É um teste cruel de resistência não apenas para os competidores, mas também para seu equipamento. “Eu carrego cerca de 10 kg comigo”, diz o campeão de 2009 e 2011 do evento, Christian Maurer. “O que levo tem que ser resistente, altamente confiável e, sobretudo, leve.” O suíço mostra seu conjunto de ferramentas alpinas.

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Em Forma

A rotina de treino de Spithill não são mil maravilhas: ele precisa de vigor e de força

Texto: Ruth Morgan. FOTOS: Olaf Pignataro/Red Bull Content Pool, cameron Baird/red Bull Content Pool, shutterstock. ILUSTRAÇÃ0: heri irawan

“ É como pilotar um carro de corrida”

Na água: velejar quatro vezes por semana é fundamental

vela O IATISTA DE 33 ANOS SABE QUE PRECISAM SER DERRAMADOS SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS PARA VENCER A America’s Cup é como a Fórmula 1 na água, o maior teste em alta velocidade de design, estratégia e força física. O australiano James Spithill, que se tornou o mais jovem vencedor da competição com a Oracle Racing Team USA, em 2010, treina constantemente para se manter em forma. “O jeito que empurramos esses barcos é como pilotar um carro de corrida”, diz. “É um esporte diferente hoje. O lado atlético é um dos fundamentos. Treinamos na água por algumas horas pelo menos quatro dias por semana, sempre repondo o que é queimado com barras de energia e drinques. Passamos um bom tempo na academia para treinar com pesos, fazendo exercícios de resistência e CrossFit – um circuito de um dia inteiro em alta intensidade acompanhado por um treinador. Ele chama isso de ‘O Finalizador’ e não está brincando.”

Hora do boxe

P A R A FA Z E R E M C A S A “Na navegação, a velocidade manual, coordenação e pegada são os princípios básicos de todos os dias, então eu sempre faço barras. Elas melhoram tudo isso e são ótimas para a condição física em geral”

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5 Tenha uma barra horizontal e respire fundo algumas vezes antes de começar.

Antes de se pendurar na barra, aqueça o corpo fazendo flexões e alongamentos suaves.

Fique atento para que seu peitoral esteja firme e ligado na flexão para manter a forma.

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Use a força de suas coxas para dar um impulso, assim você terá o pique de que precisa.

Pendure-se com a coluna reta e as mãos distantes uma da outra em relação ao ombro.

Faça com que seu queixo passe da barra todas as vezes – repita até não aguentar mais.

P o r r a d a é i m p o r tante

Ir para o ringue faz de Spithill um cara bom de briga “Eu sou boxeador desde criança”, diz Spithill. “Amo a competição envolvida nesse esporte, mas é também um dos melhores treinos que tem. É um grande trabalho cardiovascular para o corpo todo e melhora a coordenação. Também estimula o reflexo, que é vital para velejar barcos como os nossos.”

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ação!

Festa

Ar livre: a pista da boate Aquarius

UM BRINDE! DUAS MANEIRAS DE BEBER O RAKIA, DRINQUE TÍPICO DA CROÁCIA

SALVADOR Travarica Um drinque de infusão de ervas tipo grappa é conhecido como “O Doutor” por causa de suas supostas propriedades curadoras. Leva alecrim, o que pode ajudar nas funções hepáticas. Ainda por cima dizem que esse tipo de cachaça frutada é afrodisíaco.

Balada nos Bálcãs!

Em julho e agosto, os maiores DJs de house e trance do mundo tocam em boates a céu aberto em uma ilha do Mar Adriático. A gloriosa Praia de Zrce é um belo cartão-postal da Croácia – um país que transborda belas paisagens – e é também parada obrigatória para os baladeiros que procuram sol. Sem ser tão sobrecarregada quanto Ibiza ou outras mecas da vida noturna praiana da Europa, a cidade de Pag bomba até o sol nascer sem ficar abarrotada.

À BEIRA DO MAR As melhores baladas

Papaya A maior e mais antiga discoteca da Praia de Zrce. www.papaya.com.hr

Aquarius Um restaurante, duas piscinas e duas pistas de dança ao ar livre. www.aquarius.hr

Noa A beach party que não fica na areia: foi construída em um píer sobre o mar. www.noa-beach.com

DESTRUIDOR MEDICA Leve e doce na língua, esse aqui tem um efeito bombástico: é por isso que chamam esse licor de mel de “lobo em pele de cordeiro”. Preste atenção no aviso dos locais: quando você sente o Medica começar a fazer efeito, é tarde demais...

festival

NO CÉU Se você ver nuvens como estas nas montanhas de Pag, uma tempestade pode cair: a famosa “Bora”.

Hideout Mais de 100 DJs misturando house e tecno por três dias. Faça o que puder para comprar entradas para as disputadas festas no barco – ficar amigo dos funcionários da boate é uma sábia estratégia. www.hideoutfestival.com

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texto: Florian obkircher. Fotos: Goran Telak, goran persin (2), mario pavlovic

pag, CROÁCIA SÃO SÓ QUATRO PASSOS ENTRE O MAR E A PISTA? CONHEÇA AS MELHORES BEACH PARTIES DO VERÃO EUROPEU


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Música

1 Branko, DJ e Maquinador do Buraka Som Sistema

Volta ao mundo em 80 batidas playlist House angolano, vocais afrolondrinos e tecnovenezuelano: um músico que tem uma bela variedade de influências João Barbosa, de 31 anos, conhecido como Branko, é o Vasco da Gama do eletro. Ele viaja o mundo com sua caixa de discos, farejando culturas musicais que ele importa para as discotecas e para seu próprio som. Ele foi o responsável pela explosão do hit “Kuduro” no mundo todo, graças ao sucesso de sua banda de eletro Buraka Som Sistema, com a qual conquistou um prêmio da MTV europeia em 2008. A seguir, o português relata os frutos de sua aventura pelo planeta.

pu r a vi b r ação Texto: Florian Obkricher. Foto: Nian Canard

UM NOVO JEITO DE SENTIR a música

SUBPAC

Sinta os graves sem provocar a ira dos vizinhos (e do seu otorrino). Essa almofada de cadeira vibra ao som de suas músicas e videogames. www.thesubpac.com

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Q U E RO E N T RAR Tuki Love

Pocz & Pacheko

Fui recentemente à Venezuela para desco­brir mais sobre um movimento musical chamado tuki, que bomba por lá. Parece um tecnohardcore tropical – eletrônico e frenético. O movimento venezuelano começou anos atrás quando dois DJs locais tentaram copiar o clássico “Pump Up the Jam” e acabaram inventando uma parada nova.

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Afro House DJ Havaiana

Hoje a África do Sul está dominada pelo deep house de artistas como Black Coffee, mas ao subir um pouco, chegando em Angola, jovens produtores imitam o estilo com versões que soam bem mais pesadas e intrincadas. Este é o meu som favorito porque tem a melhor base de sintetizador do mundo e leva o nome do gênero: afrohouse.

3 Waves

Branko feat. Roses Gabor

Esse som está na minha nova mixtape, Drums Slums & Hums, que dá para baixar no meu site [www.enchufada.com/branko]. A maioria das pessoas escuta minha música em discotecas, mas, nas minhas mixtapes, quero fazer sons que fiquem legais nos fones. Essa também apresenta uma das mais talentosas vocalistas de Londres, a Roses Gabor.

4 Zouk Flute

Buraka Som Sistema

Zouk é um estilo de música das Antilhas que apareceu na Europa nos anos 1980 e hoje toca bastante na cena underground. Os padrões rítmicos são muito interessantes, a batida te deixa hipnotizado. Com o Buraka Som Sistema, estamos dando uma nova pegada ao zouk e colocando peso abusando dos graves pesados.

5 The Blow Yadi

Yadi é uma das melhores vocalistas de hoje em dia – ela ainda vai bombar. Por um lado, é uma jovem londrina com estilo bem pop, mas, por outro, reúne todos esses instrumentos bizarros e influências da Argélia, de onde veio seu pai. Estamos atualmente trabalhando em uma música com ela que está ficando bacana.

SE OS INGRESSOS PARA O SHOW QUE VOCÊ QUER TANTO IR ESTÃO ESGOTADOS, AQUI VÃO ALGUMAS ALTERNATIVAS

A BOA E VELHA INVASÃO

A grade dos festivais não é uma forta­ leza impenetrável. Pegue uma esca­ dinha (ou uma pá) e faça a ação em plena noite. TÁTICA DO DESESPERO

Encontre um acampamento com pessoas que vão, cate alguns restos de suas pulseiras, costure e faça sua própria “entrada VIP”. VAI QUE COLA?

Apresente-se para ser voluntário do festival. Aí, quando sua banda favo­ rita for entrar, finja que vai ao banheiro e desapareça. Nenhum organizador poderá dizer que uma fila de banheiro de festival não dura umas duas horas.

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Na agenda

C u rtas e boas O que o mês de julho tem de bom

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quarta

Naldo na área A gravação do DVD do cantor que é um fenômeno pop será no Credicard Hall. Com os sucessos “Exagerado” e “Amor de Chocolate” no repertório, o carioca promete lotar a casa 3/7, em São Paulo

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domingo

Festa dos Livros O Barra Music vai ferver com o Red Bull Funk-se Tour

20/6, no Rio de Janeiro

Balada quente

O Red Bull Funk-se Tour vai bombar no Barra Music com os DJs Sany Pitbull, Phabyo DJ e os MCs Catra, Buchecha e Marcinho. É funk carioca em estado puro numa das baladas mais agitadas da noite do Rio. A dupla de DJs abre a noite com um duelo de MPCs seguido pela apresentação dos três MCs. A quarta edição do Funk-se Tour ainda deve passar por São Luís e Maceió neste ano.

De 3 a 7/7, em Paraty www.flip.org.br

13/7, em São Paulo

Só os campeões

Até 29/6

Arte e política Portinari, Oiticica e Niemeyer estão na exposição “Arte e Política”, mostrando o ponto de encontro entre as duas coisas. Mem. Getúlio Vargas (RJ)

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O principal teste dos estádios e da infraestrutura brasileira para a Copa do Mundo acontece na segunda quinzena de junho. A Copa das Confederações traz ao país os times da Itália, Espanha, Japão, México, entre outros. Na parada também está o Brasil, que briga pelo tetracampeonato do torneio. www.fifa.com

Planet Hemp Prestes a fazer uma apresen­ tação no Lollapalooza de Chicago, no começo de agosto, e depois de incendiar a versão brasileira do mesmo festival, o Planet Hemp toca no Credicard Hall para mostrar, mais uma vez, que são o melhor que o rock brasileiro oferece hoje em dia. D2, BNegão e companhia irão gravar a apresentação em São Paulo para o novo DVD da banda, que deve ser lançado até o final do ano. www.ticketsforfun.com.br

14 domingo

Corrida do Cristo Com 16 km de percurso, a prova é uma experiência que passa por alguns dos pontos mais bonitos do Rio e sobe até o principal ponto turístico da cidade. 14/7, no Rio corridadocristo.com. br

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FOTOS: Lost Art/Red Bull Content Pool, getty images (3)

www.redbull.com.br

Até 30/6

A edição de 2013 da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, terá show de Gilberto Gil e trará escritores como Daniel Galera e Michel Houellebecq. O homenageado será Graciliano Ramos.


/redbulletin

© Jörg Mitter

Li k e What you Li k e

Seu MoMento. Além do ComUm


Sobre o cabo

Com seu nome verdadeiro, Samuel J. Dixon, então com 37 anos, trabalhava como fotógrafo em Toronto. No tempo livre, ele se exibia para as câmeras como Daring Dixon, aqui cruzando o Rio Niagara, em 6 de setembro de 1890. Ele levou 12 minutos na travessia sobre um cabo de cerca de 280 metros de comprimento por 2 cm de largura, diante de um público de 5 mil pessoas. Seu feito foi noticiado até na Austrália.

A próxima edição do Red Bulletin sai em 10 de julho 98

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foto: time & Life Pictures/Getty Images

Túnel do tempo



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