The Red Bulletin August 2013 - BR

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Ação i  Esporte i  Viagem i  Arte i  Música

Uma revista além do comum

Agosto de 2013

Carrões, transgressão e velocidade

As corridas clandestinas no México

Furacão e destruição

surfistas reconstroem sua praia

caverna profunda

adriano de souza

mineirinho

o melhor surfista do Brasil

descemos 2 mil metros abaixo da Terra



o Mundo de red bull

Agosto 50 Poeira!

Tudo sobre a etapa grega do Mundial de Rali, realizada no cenário histórico de Acrópoles

foto da capa: ricardo borghi. Fotos: mcKlein, norman konrad

bem-vindo

Voar, mergulhar, explorar, desafiar... Essas são algumas palavras que definem o espírito do Red Bulletin. E o surf é um esporte que reúne esses e muitos outros elementos. Nesta edição, dedicamos boas páginas às pranchas e à água salgada. Temos a Galeria especial com fotos que mostram o espírito do surf; o perfil do melhor surfista do Brasil na atualidade, Adriano de Souza, o Mineirinho; conhecemos uma comunidade em Nova York que reconstruiu sua praia... E a viagem não acaba aí: passamos por corridas ilegais no México, cavernas com mais de 2 mil metros de profundidade, robôs, escaladas e muito mais. Aproveite! the red bulletin

Uma banda de robôs? Isso mesmo. Fomos falar com eles


o Mundo de red bull

Nesta edição Bullevard 14 NOTAS  Pelo mundo 17 NA CABEÇA DE...  Hugh Jackman 18 FÓRMULA PERFEITA  Flyboards 20 EU E MEU CORPO  Ryan Sandes 22 NÚMEROS DA SORTE  Só fera

ESPECIAL SURF 08 Galeria

Fotos espetaculares que mostram o espírito do surf

Destaques

36 Adriano de Souza

24 México ilegal

Passamos um dia com o maior competidor brasileiro

O submundo das corridas   proibidas no México

58 Furacão Sandy

36 Adriano de Souza

Como a comunidade do surf recuperou uma praia destruída

Conheça Mineirinho, nosso   orgulho no surf mundial

44 Robôs do rock

Entrevistamos uma verdadeira   banda de metal. Duvida?

50 Rali na Grécia

Tudo sobre o mundial em Acrópole

58 Surfistas do furacão

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Expedição Krubera

Balada americana

Descemos mais de 2 mil metros de profundidade em busca do fim da caverna mais funda da Terra

Conheça uma das noites mais divertidas dos EUA. Ela fica em Portland e tem até anão cover de Marilyn Manson

68 C averna abaixo A aventura que desceu   ao fundo de Krubera

78 Thomas Dold

Subir escadas o mais rápido   possível: essa é a sua profissão

80 Parkour

Girar o mundo pulando? Foi isso   que Ryan Doyle fez

ação!

20 Eu e meu corpo

Saiba como Ryan Sandes mantém a forma para conseguir correr uma distância de Paris a Pequim anualmente 4

80 Tour do parkour

Viajamos o mundo a bordo do diário e das fotos de Ryan Doyle, o mestre do parkour freerunner

90 91 92 94 95 96 97 98

MALAS PRONTAS  Escalada solo EM FORMA  Danny Torres MEU EQUIPO  Bem na praia  Festa  Portland minha cidade  Berlim música  Dom Maker Na agenda  Agosto! Túnel do tempo

the red bulletin

Fotos: getty images, Arturas Artiusenka, Kit Engwall, Justin Polkey, Mauritius images

68

Como uma comunidade renasceu   depois da tragédia



colaboradores nosso time em agosto THE RED BULLETIN Brasil, ISSN2308-5940 Editora e sede Editorial Red Bull Media House GmbH Gerente Geral Wolfgang Winter

Daumantas Liekis

Tomasz Gudzowaty Dez anos atrás, este fotógrafo polonês ganhou um prêmio World Press de foto por imagens de monges Shaolin em treinamento. Para o Bulletin deste mês, Gudzowaty registrou o submundo das corridas de carro mexicanas. A ligação entre as duas coisas? Histórias da vida marginal, tema favorito de Gudzowaty, registradas em preto e branco, seu estilo favorito. Quando você o contrata, recebe 12 fotos, apenas, mas elas dão para o gasto, sempre.

Cole Louison O furacão Sandy causou um prejuízo de US$ 100 milhões à vizinhança de Rockaway, em Nova York. “Nós fomos lá seis meses depois e as pessoas ainda estão rachando lenha para fazer fogueiras”, diz o repórter, surfista e morador do Brooklyn, Cole Louison. Ele escreveu o livro The Impossible, sobre a história do skate e das raízes da cultura surf. “Ninguém é mais forte que os surfistas de Rockaway, cada um tem sua história para contar.”

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O jornalista lituano especializado em natureza e ciência viajou à Geórgia para explorar a maior caverna do mundo. Esse tipo de aventura é só mais um dia de trabalho para ele, que já passou, entre outros lugares, por Chernobyl. Liekis concilia sua vida de jornalista com a de biólogo. Durante sua aventura na caverna Krubera, observou e registrou criaturas que vivem apenas na escuridão, num ambiente que se estende mais de 2 km abaixo da terra.

Diretor Editorial Franz Renkin Editor Chefe Robert Sperl Coordenador Editorial Alexander Macheck Editor Brasil Fernando Gueiros Diretor de Arte Erik Turek Diretor de Fotografia Fritz Schuster Editora Assistente Marion Wildmann Gerentes de Projeto Cassio Cortes, Paula Svetlic Apoio Editorial Ulrich Corazza, Werner Jessner, Ruth Morgan, Florian Obkircher, Arek Piatek, Andreas Rottenschlager, Stefan Wagner, Paul Wilson, Daniel Kudernatsch (iPad), Christoph Rietner (iPad) Editores de Arte Miles English (Diretor) Martina de Carvalho-Hutter, Silvia Druml, Kevin Goll, Carita Najewitz, Kasimir Reimann, Esther Straganz Editores de Fotografia Susie Forman (Diretora artística de fotografia) Ellen Haas, Catherine Shaw, Rudi Übelhör Revisão Marina Corrêa, Manrico Patta Neto, Judith Mutici Impressão Clemens Ragotzky (Diretor), Karsten Lehmann, Josef Mühlbacher Gerente de Produção Michael Bergmeister

Marcello maragni Ele começou sua carreira fotografando as viagens pelo Brasil. “Quando me dei conta de que poderia ganhar a vida com a fotografia, abandonei minha carreira de recém-formado arquiteto e comecei a me aprofundar nas fotos.” Isso foi em 1999. “Especializei-me em aventura e esportes, começando com fotografias de surf, mas logo ampliei o foco para corridas, mountain bike e rali.” Maragni foi a Florianópolis registrar um dia na vida do melhor surfista brasileiro em atividade hoje, Adriano de Souza, o Mineirinho.

“É bem interessante conhecer de perto a vida do líder do circuito mundial de surf” marcelo maragni

Produção Wolfgang Stecher (Diretor) Walter O. Sádaba, Christian Graf-Simpson (iPad) Financeiro Siegmar Hofstetter, Simone Mihalits Marketing & Gerência de países Barbara Kaiser (Diretora) Stefan Ebner, Stefan Hötschl, Elisabeth Salcher, Lukas Scharmbacher, Sara Varmingg Assinaturas e Distribuição Klaus Pleninger, Peter Schiffer Marketing de Criação Julia Schweikhardt, Peter Knethl Anúncios Marcio Sales, (11) 3894-0207, contato@hands.com.br. Gestão de tanúncios Sabrina Schneider Coordenadoria Manuela Geßlbauer, Anna Jankovic IT Michael Thaler Escritório Central Red Bull Media House GmbH, Oberst-Lepperdinger-Straße 11–15, A-5071 Wals bei Salzburg, FN 297115i, Landesgericht Salzburg, ATU63611700 Sede da Redação Heinrich-Collin-Straße 1, A-1140 Wien Fone +43 1 90221-28800 Fax +43 1 90221-28809 Contato redaktion@at.redbulletin.com Publicação The Red Bulletin é publicada simultaneamente na Áustria, Brasil, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Kuwait, México, Nova Zelândia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Visite nosso site www.redbulletin.com.br

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A energiA de red Bull em trĂŞs novos sABores.

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ESPECIAL SURF TH E B OX , AU STR ÁLIA

CAIXOTE

Surfistas mais entendidos descrevem essa onda, que fica na praia da cidade de Margaret River, no oeste australiano, como “uma direita monstruosa que quebra em uma bancada muito rasa”. O drop é ligeiro, os tubos são rápidos e os lips são bem grossos. Lip é como os surfistas chamam a crista da onda, que cai sobre o atleta e forma a manobra mais nobre do surf, o tubo – como mostra o australiano Kieren Perrow nesta foto. Em The Box, o tubo precisa ser surfado o mais rápido possível: cair aqui pode render cortes profundos na bancada de coral. Acompanhe Kieren em www.twitter.com/kierenperrow Foto: Russel Ord

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N E W S O UTH WALE S , AU STR ÁLIA

MAIS FUNDO

O joelhinho (ou golfinho) é o momento em que o surfista mergulha para furar a onda e evitar ser engolido por ela, como faz Belinda Baggs na foto. A australiana é conhecida por dominar a técnica do longboard, o pranchão, com seus movimentos tranquilos e estilosos. Uma das manobras favoritas de Baggs é o nose ride: ela caminha até o bico da prancha enquanto corre com a prancha na parede da onda. “Viver sem mar”, ela diz, “deve dar calafrios.” Veja o nose ride: www.vimeo.com/57337399 Foto: Ben Moon

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WAI M E A , HAVAÍ

momento CRÍTICO O surf de ondas grandes nasceu em 7 de novembro de 1957, nas bombas que quebravam em Oahu, quando Greg Noll e uma porção de outros jovens locais surfaram pela primeira vez em Waimea. Após quase 17 anos, o primeiro torneio de surf profissional foi realizado no pico. Em Waimea, as ondas podem alcançar uns 25 pés (cerca de 8 metros). Atualmente, os surfistas profissionais remam firme para chegar ao outside em busca das maiores. Como mostram algumas pranchas vazias, nem todo mundo se dá bem na empreitada. Veja mais fotos do Havaí em: www.brianbielmann.wordpress.com Foto: Brian Bielmann

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Bullevard Sua dose mensal de esporte e cultura

Curtiss AutoPlane (1917) O primeiro carro com asas con­ seguia dar uns pulos no asfalto, mas não voava de verdade.

ConvAirCar (1946) Um protótipo passou por 66 voos teste, mas um acidente acabou com os planos.

Potência total Caixas de som com o grave no máximo numa exibição dedicada à cultura e ao impacto de um estilo de festa de rua: o sound system Em sua forma mais tradicional, um sound system consiste em duas pickups, um amplificador e caixas de som do tamanho de uma casa no volume mais alto possível. Eles começaram nas ruas da Jamaica, onde a cultura dos sound systems emergiu nos anos 1950 e evoluiu para uma alternativa às caríssimas boates e um instrumento importante na contracultura. Das caixas saía um baixo pesado e todas as vertentes da música jamaicana, do ska e o dub até o dancehall. Hoje em dia, os sound systems são onipresentes nos eventos de todo o mundo, principalmente em festivais e festas de rua. A galeria parisiense La Gaîté Lyrique está com a exposição Say Watt?, que mostra bem essa cultura, com fotos e pôsteres antigos da Jamaica (direita) e exibindo Babylon, um filme sobre as origens da cena sound system em Londres. Tem também uma mesa de discussões com a especialista em reggae Seb Carayol e oficinas para aprender a fazer o seu próprio sound system. É possível ainda conferir esculturas feitas por jovens artistas e diversos shows, com frequências fortíssimas para massagear a mente. A exibição vai até 25 de agosto. Aumente o volume: www.gaite-lyrique.net

Piasecki AirGeep (1962) Desenvolvido por quatro anos, o jipe voou, mas as forças arma­ das americanas acharam inútil.

Exposição: os sound systems desde suas origens jamaicanas até as versões atuais, em bicicletas

Clicks

A SUA FOTO AQUI Você já tirou uma foto com o sabor da Red Bull? Terrafugia TF-x (2009) O primeiro voo de teste foi há quatro anos. Se tudo correr bem, estará à venda em 2015.

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Todo mês a gente faz uma seleção com nossas favoritas. phototicker@redbulletin.com

Erzberg

O lava-rápido mais movimentado da Áustria está ao lado do Red Bull Hare Scramble. Samo Vidic the red bulletin

fotos: Getty images (2), Terrafugia, lyle owerko/say watt, beth lesser/say watt, chris bateman/say watt (3), katie callan

Carros no ar A ideia de voar com automóveis é quase tão velha quanto ele próprio. Conheça as tentativas mais célebres dos voos em quatro rodas


Quero ser bilionário Tecnologias que ficaram ricas

Instagram: o mais rápido Em 2012, o proprietário vendeu seu app para o Facebook por US$ 1 bilhão – apenas 551 dias após o lançamento.

“Eu que tirei essa!”: Chris Burkard e sua foto vencedora de surf no Chile

fotos: carlo cruz/red bull content pool, andrea de maria/red bull content pool, tobias kresse

Altas imagens Chris Burkard lembra muito bem do dia que tirou sua melhor foto. “A luz, o vento, o swell: tudo estava perfeito, como se a natureza quisesse ficar em harmonia por um momento.” O fotógrafo da cidade californiana de San Luis Obispo registrou o surfista Peter Medina em uma onda verde-esmeralda na costa chilena com sua Nikon D700. A bela imagem venceu a competição Red Bull Illume, a maior do mundo em fotografias de ação e aventura. No final de agosto, um júri de 50 pessoas anunciará o sucessor de Burkard no Red Bull Illume 2013. “Qualquer criança pode fazer imagens do mundo em um iPhone ou uma GoPro. Para mim, esse é um grande avanço”, diz Burkard. “Demora alguns anos para apertar o botão no momento certo.” Sua dica para tirar uma boa? “Analise as que ficaram ruins.” O trabalho de Burkard: instagram.com/chrisburkard Red Bull Illume 2013: www.redbullillume.com

Calgary

A cidade canadense recebeu o Red Bull Rocks & Logs. John Evely the red bulletin

Baku

skype: o maior Em 2011, a Microsoft comprou a empresa de chat em vídeo no eBay por US$ 8,5 bi. O leilão público de 2005 rendeu US$ 2,5 bi.

Pinterest: o próximo? O site de dados sociais – estimado em US$ 2,5 bi – não está à venda, mas as grandes da internet parecem (p)interessadas.

EM QUEDA LIVRE A saltadora Anna Bader fala sobre a liberdade de se jogar de penhascos, como é lidar com o medo e suas experiências pelo mundo Na quarta etapa do Red Bull Cliff Diving World Series, que a Itália recebe neste mês no Lago Garda, em Malcesine, teremos a primeira competição feminina no esporte. A alemã Anna Bader, de 29 anos, é uma das favoritas. the red bulletin: O que você gosta no cliff diving? anna bader: É uma batalha de força contra a gravidade, sem a interferência de nada de fora. Quais são seus picos preferidos para mergulhar? Suíça, Tailândia e Maiorca. Tudo começou no Rick’s Café, na pequena cidade de Negril, na Jamaica. Lá os locais mergulham direto de um penhasco em frente ao bar num mar azul-turquesa.

Uma queda livre a 90 km/h: qual é a sensação? Quando você está no ar, não sente quase nada. É como se não tivesse peso. Você fica com medo? No mer­gulho, cada erro pode resultar num castigo doloroso. O medo, uma vez que você o tem sob controle, é benéfico: pode melhorar a concentração, mas, se você deixa ele te dominar, você paralisa. O que você admira nos homens do cliff diving? Orlando Duque tem o melhor mergulho, já Gary Hunt foi o pioneiro no giro. Artem Silchenko é o especialista em saltos com as mãos – e esse por acaso também é meu ponto forte. www.annabader.com

O primeiro salto de Anna Bader

No Red Bull X-Fighters, Daniel Bodin recebeu a hospitalidade azerbaijana. Denis Klero

Puerto del Carmen

Calor, vento, asfalto mole. O ironman de Lanzarote é dificílimo. Gines Diaz

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Bullevard

Rally dos Sertões Entre os dias 25 de julho e 3 de agosto acontece a 21ª edição do maior rali brasileiro: o Rally dos Sertões. Nessa edição a corrida passará por oito cidades, seis em Goiás (Goiânia, Pirenópolis, Porangatu, Minaçu, Uruaçu e Goianésias) e duas no Tocantins (Palmas e Natividade). Tudo pronto para o desafio O trajeto também cruza uma nova região no Jalapão e alguns trechos de serra. A disputa acontece em cinco categorias: carros, UTVs, caminhões, quadriciclos e motos. Como a etapa vale pelo calendário da Federação Internacional de Motociclismo, são esperados grandes nomes do rali mundial. www.sertoes.com

“Gênesis” vai passar por sete capitais brasileiras

Registros únicos

Kitesurf no Ceará: em julho no Off

Na telinha O Canal Off traz boas atrações neste mês para quem é vidrado em ação. Duas séries estreiam no dia 22 de julho. Uma, a Picos do Brasil (às 19h), mostra a cada episódio uma nova modalidade e um lugar especial do país onde é possível praticá-la. Estão no cardápio: skate downhill em Teutônia (RS), kitesurf no Cumbuco (CE) e parapente em Atibaia (SP). A outra atração que estreia no dia 22 é voltada para os apaixonados pela história do skate, a série Califorfun (às 19h30) mostra, sob a perspectiva de lendas do skate, a cena do esporte na Califórnia e a importância do lugar para a história do esporte. www.canaloff.com

Londres Um minitáxi toma as ruas de Londres rumo à Red Bull Soapbox Race. Daniel Lewis 16

A exposição “Gênesis”, do fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, atrai fãs e curiosos em um museu diferente, ao ar livre, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A exposição, que já passou por três países, ainda passará por São Paulo e mais cinco capitais. Porém, com exibição ao ar livre, em meio a palmeiras imperiais e toda a vegetação, só no Jardim Botânico do Rio. O Museu do Meio Ambiente ajuda a multiplicar as sensações da exposição que mostra, por meio de retratos, o mundo intocado e imune às radicais mudanças ambientais e sociais do planeta. Segundo o fotógrafo, a exposição é “um testemunho de que nosso planeta ainda abriga vastas e remotas regiões onde a natureza reina em silenciosa e imaculada majestade”. Nascido em Minas Gerais, no ano de 1944, Sebastião retrata o ambiente e as expressões direto de lugares extremos, seja no mar, no rio, nas montanhas, na terra ou na vida de variados tipos de personagens, de índios a operários, de pescadores a esquimós. A mostra conta com 245 imagens no estilo tradicional do fotógrafo: todas em preto e branco. Entre elas, estão registros das viagens a Antártida, Galápagos, Alasca e África. A exposição fica no Rio até o dia 26 de agosto, de terça a domingo, Sebastião Salgado das 9h às 17h. É de graça. museudomeioambiente.jbrj.gov.br

Soweto O I.D.A Crew pulou de alegria ao vencer o Red Bull Beat Battle, na África do Sul. Craig Kolesky

Osaka Josh Sheehan faz manobras incríveis na Torre do Sol, no Japão. Jason Halayko the red bulletin

Texto: Fernando Gueiros. Fotos: marcelo maragni/red bull content pool, getty images (2)

A exposição de fotos de Sebastião Salgado, ao ar livre no Rio de Janeiro, é um programa imperdível


Bullevard

Onde está sua Cabeça

hugh jackman

Com instinto animal e um grande fôlego, o australiano reina nos filmes de ação e musicais. Mas o que aconteceu no set de sua estreia em chinês? E como ele mantém a forma?

Arriscando um chinês

Não pode relaxar

Hugh Michael Jackman nasceu em Sydney, Austrália, em 1968. No teatro, em A Bela e a Fera, molhou as calças diante do público: “Percebi que os músculos que você relaxa para cantar são os que você não deve soltar se estiver apertado”.

Comilança

Hugh era magrinho quando criança, o que lhe rendeu o apelido de verme. Para viver Wolverine, segue a dieta 8/16, comendo 6 mil calorias por dia durante um período de 8 horas para então jejuar pelas 16 horas seguintes. “Como no mínimo um bife de 340 gramas por dia.”

Coração das trevas

texto: Toby Wiseman. ilustraÇÃo: lie-ins and tigers

Conhecido como o maior cavalheiro de Hollywood, ele também é durão. Enquanto filmava Os Miseráveis, escutava a banda de metal Godsmack. “Naquelas cenas bucólicas tocava na minha cabeça ‘Crying Like a Bitch’.”

As críticas se dividiram sobre Jackman cantando no drama Flor da Neve... Depois de meses apren­ dendo uma música em chinês, ele disse: “Cantei para o produtor e no começo ele dizia, tipo, ‘Ótimo’, mas depois ficou meio, ‘O quê???’ ”

Hugh com W

Apesar de ser considerado por algumas vezes o “homem mais sexy do mundo”, ele tem um alter-ego nas telonas. “Me belisco todos os dias por ter tido a chance de viver Wolverine. Às vezes, penso que gostaria de ter sido ele na vida real.”

Vida longa...

Com o Wolverine – Imortal estreando este mês, Jackman interpretou o personagem sete vezes, igualando Sean Connery como James Bond. Entre 1937 e 1958, Mickey Rooney interpretou Andy Hardy em 16 filmes. Shintaro Katsu viveu Zatoichi em 26 filmes.

Audiência cativa

Pequenas telas, grandes fracassos

Adaptar programas de TV pode ser arriscado. Um remake da série Blackpool, o musical da BBC, com Hugh como estrela e produtor exe­ cutivo, foi cancelado nos EUA após dois episódios – e apenas um na Austrália, onde foi o programa que ficou menos tempo no ar na história.

the red bulletin

Em breve: Jackman em um thriller de sequestro, com Jake Gyllenhaal, dirigido pelo cana­ dense Denis Villeneuve. “Amei trabalhar com Denis. Tenho dito que ele é como [o diretor de Batman Begins] Chris Nolan: a mesma visão, clareza e dinâmica”.

Wolverine – Imortal tem estreia mundial em 24 de julho: www.thewolverinemovie.com

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Bullevard

Fórmula perfeita

Jato d’água

Foguetinho: o francês David Goncalves na etapa classificatória do Flyboard World Cup 2012, em Doha, no Catar

texto: martin apolin. foto: getty images. IlustraÇÃo: Mandy Fischer

O flyboarding é um dos novos esportes mais espetaculares do momento: homem-foguete, na teoria e na prática

NA PRANCHETA “Uma turbina de jet ski, uma mangueira de ligação, quatro jatos direcionadores e você tem um kit esportivo que, de acordo com o fabricante, permite ‘mergulhar como um golfinho e voar como um pássaro’”, diz o professor Thomas Schrefl, da universidade austríaca de Ciências Aplicadas de St. Pölten e da Universidade de Sheffield, na Inglaterra. “Para decolar em um flyboard, a força do jato d’água para baixo precisa ser maior que a da gravidade. A força da gravidade do flyboard e do piloto é determinada pelo produto da massa total e tem o vetor para baixo: FSch = –(mPi + mPl)g. Aqui, mPi e mPl são a massa do piloto e do flyboard, respectivamente, enquanto g é a aceleração gravitacional. “A força que tem vetor para cima vem dos jatos d’água. Eles são bombeados para o alto pela mangueira em uma velocidade v¹, redirecionada através de um sistema de canos e então disparada em jatos a uma velocidade v². O flyboard exerce força na água, FW, e a direciona para baixo. Isso altera o momento linear da água. A mudança do momento linear por unidade de tempo equivale à força agindo na água. De acordo com a terceira lei de Newton, para cada ação há uma reação oposta e na mesma medida. Essa força, FPl, mantém o flyboard no ar. “Agora nós podemos estimar quantos litros de água por segundo são necessários para carregar o flyboard e o piloto. Para isso, nós precisamos comparar o peso da força com a alteração do momento linear na água com o tempo. O resultado é a equação (mPi + mPl)g = W(v² – v¹). Nesse caso, g também é a aceleração gravitacional. Nós definimos a quantidade de água que flui por segundo como W, e calculamos como um produto da densidade da água, a velocidade e a área de corte transversal da mangueira, A¹. A quantidade de água fluindo para dentro da plataforma por segundo é W = r v¹ A¹ litros. “Em outras palavras, a velocidade da água na mangueira é v¹ = W/(r A¹), onde r é a densidade da água. Isso acontece porque a área de corte dos quatro jatos, A², é, na soma, menos do que na entrada. A água sai dos jatos mais rápida do que quando é bombeada para dentro, ou seja, com a velocidade de v² = –v¹(A¹/A² ). “Para concluir, se nós assumirmos uma massa total de mPi + mPl = 100 kg, uma área de mangueira de 80 cm² e uma área de corte seccional para todos os jatos de 50 cm², isso significa que 55 litros de água por segundo são necessários para manter um piloto e sua prancha no ar por 1 segundo – a água disparada em jatos de 40 km/h. É um jato forte, realmente.” NO FLYBOARD Era uma combinação entre jet ski, wakeboard e kite que o francês Franky Zapata tinha em mente quando projetou o flyboard em 2011. “Em meia hora com um instrutor dá para aprender como se usa”, diz. “A sensação é de liberdade.” Um ano depois, seu amigo Stéphane Prayas foi declarado o primeiro campeão mundial da modalidade. A disputa acontece com juízes pontuando de acordo com as manobras praticadas. www.zapata-racing.com

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Bullevard

eu e meu corpo

Ryan Sandes

O atleta sul-africano de 31 anos corre o equivalente à distância entre Paris e Pequim todo ano. A única coisa que o faz tremer na base é o frio

VOZ INTERIOR

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O descanso é crucial. Durmo de oito a nove horas por noite. Nas manhãs meu coração bate a 47 bpm; durante os desafios, o batimento sobe a mais de 200. Procuro ficar atento em como o corpo reage.

www.ryansandes.com

DIVISÃO DE APOIO

Uma vantagem de correr longas distâncias é manter o peso baixo. Mesmo assim o corpo precisa de reserva de gordura. Tenho 1,78 m de altura e peso entre 66 e 68 kg para a corrida. Depois de correr 160 km, fico 1 kg ou 2 kg mais magro.

Corro cerca de 800 horas/ano. Isso é aproximadamente 8 mil km em distância e 300 mil metros em altitude. O foco principal do meu treino é manter uma corrida limpa. Eu trabalho com um técnico e um biocinético duas vezes por semana. Para as costas, fisioterapia e quiropraxia.

FRIACA

2 ATENÇÃO!

As lesões mais comuns são nos joelhos e tornozelos, como fraturas e ligamentos rompidos. O período de recuperação pode levar de três a quatro semanas. Outro problema é que a outra perna pode compensar o peso e ficar sobrecarregada.

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Até hoje, tive cãibras só nas ultramaratonas na Antártida, o que em parte se deve às meias de compressão. Assim que você pisa lá onde faz -20°C, a temperatura do corpo cai rapidamente e os músculos começam a tremer e sofrer cãibras.

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text0: ulrich corazza. foto: justin polkey

1  PERDEDOR VENCE

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ilustração: dietmar kainrath

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Bullevard

NÚMEROS DA SORTE

Improváveis campeões Um arqueiro cego? Um lutador de sumô magro? Um jogador de futebol com pernas tortas? Um olhar sobre as carreiras esportivas mais extraordinárias do mundo

Lutadores de sumô normalmente pesam pelo menos 150 kg e são japoneses. Mas Pavel Bojar é tcheco e pesa 98 kg. Após o bronze no Mundial Júnior de Sumô, em 2000, ele foi adotado pela Organização Naruto com o nome de ringue de Takanoyama Shuntaro. Em 2011, ele ingressou na divisão top do sumô mesmo sem seu metabolismo permitir ganhar peso.

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O jogador de futebol Jan Molby foi assombrado por um problema diferente de peso. No auge de seu tamanho, o meio-campo dinamarquês carregava muitos quilos de excesso de bagagem e raramente saía do círculo central. Jan foi bom o bastante para jogar 218 partidas pelo Liverpool, de 1984 a 1995, vencendo três títulos e marcando 44 gols.

Im Dong-Hyun, 27 anos, é cego. O sul-coreano tem apenas 15% da visão em seu olho esquerdo e só 20% no direito, mas isso não o impediu de ser recordista mundial com 699 pontos, de 720 possíveis, na classificatória para o arco e flecha na Olimpíada de Londres 2012. Graças à extraordinária memória do seu músculo, ele consegue acertar no alvo toda vez.

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Dai Greene

Em 1933, Garrincha nasceu com uma coluna curvada e a perna direita torta para dentro e 6 cm mais longa que a esquerda, que era torta para fora. Após uma operação na infância, um médico sugeriu: “Jogue futebol. Isso vai deixar suas pernas mais fortes.” O atacante foi o grande destaque do Brasil nas Copas de 1958 e 1962; nessa última, foi o artilheiro com quatro gols.

Manoel dos Santos, o Garrincha

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Pavel Bojar

Im Dong-Hyun na Olimpíada

1,60

Tyrone Bogues jogou por 14 anos na NBA. Só esse fato já seria um sonho realizado. O que torna o homem conhe­ cido por Muggsy uma lenda é sua altura: com 1,60 m, ele é o mais baixo da história da NBA. “Sempre acreditei em mim”, disse à Sports Illustrated, pouco antes de sua estreia, em 1987. “Essa é a atitude que levo para quadra, saber que tenho meu lugar.”

400

Em 2011, Dai Greene, 27 anos, tornou-se campeão dos 400m com obstáculos na Coreia do Sul. O galês é epiléptico, mas evita a medicação em nome de sua carreira. “Sentia que os remédios tinham um impacto negativo na minha performance, então parei de tomá-los”, disse. “Minimizo o risco de ataques mantendo o sono regular e não bebendo álcool.” the red bulletin

fotos: corbis, getty images (4), imago

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“Big Jan” Molby

Tyrone, o pequenino da NBA


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SEU MOMENTO. ALÉM DO COMUM

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Nas corridas ilegais do México, as leis do país e o código de trânsito são esquecidos. A única coisa que importa é a velocidade Por: Rogelio Rivera  Fotos: Tomasz Gudzowaty 25


de ver a bandeira balançar e dar a largada. Na linha de chegada, só quem vence Ê aplaudido

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Os corredores ilegais Armando Cerda (esquerda) e Miguel Romero, com seu Dodge Charger 1968

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Todas as leis da rua são quebradas na busca ilícita por adrenalina Reparadores de rodas, como Erick Garcia Rojas (direita), ficam de prontidão o tempo todo


T

odos os dias, cerca de 5 milhões de carros tornam a Cidade do México um estacionamento a céu aberto. O tráfego enorme, que trava a terceira maior cidade do mundo, leva a um caos que parece não ter escapatória. Pilotos de corridas ilegais retomam sua liberdade perdida em regiões degradadas nos subúrbios, em locais isolados, estradas periféricas e garagens e armazéns velhos. Eles infringem todas as regras da rua em pegas ousados com carros velhos na busca ilegal por adrenalina. “Sou viciado em velocidade”, admite Joaquín, um dos pilotos, e ele fala por todos. “Eu já era apaixonado por essas corridas antes de ter uma carteira de motorista. Meus amigos e eu dávamos uma escapadinha nos sábados à noite para assistir.” Além de saciar o desejo por aquilo que é proibido, alimentar a fascinação pelo tuning e escapar da rotina diária, as corridas são disputadas em clima de festa. “Todos os amigos estão aqui”, diz Joaquín. “Ouvimos um som, fumamos, bebemos, falamos com as garotas, conhecemos gente nova.” A única coisa que pode estragar essas festas é a polícia. “Quando ouvimos as sirenes chegando perto não temos escolha: é hora de vazar.” A polícia mexicana não tolera as corridas ilegais e é rigorosa nas tentativas de acabar com elas. Carros são apreendidos, e os pilotos vão para a cadeia. No entanto, a imensa popularidade levou a polícia a permitir algumas corridas, que acontecem num ambiente controlado e incluem medidas de segurança tanto para motoristas quanto espectadores. Porém esses eventos, não atraem tanta gente, porque muito do apelo desse tipo de corrida está em brincar de gato e rato com a polícia. 30

Vivo minha vida em quatro rodas. Os carros são comprados, consertados, tunados, pilotados e o mais importante é que eles são exibidos



estradas remotas, estacionamentos, armazĂŠns. Quanto mais isolado, melhor


Hugo Loyo ao volante. Abaixo Ă esquerda: JosĂŠ Alberto Eleuterio, um dos mais jovens, espera sua vez na pista, enquanto Loyo conserta um Dodge Charger 1970

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“Só troco meu carro por uma cadeira de rodas ou um caixão”

Depois do fim das corridas, as histórias de Joaquín e dos amigos são contadas em volta da fogueira, sempre sobre os mesmos temas: velocidade, bebida, acidentes, morte e sobrevivência. “Uma vez um amigo ‘pegou emprestado’ o carro do pai para correr e sofreu um acidente. O carro virou uma maçaroca, e a única razão de não ter ido preso foi o suborno que o tio dele pagou à polícia.” Existe uma grande dose de perigo, mas na maioria das disputas os corredores não sofrem nada pior que algumas batidas e lesões. É bem mais fácil lidar com isso do que com um para-lama ou uma porta batida. Os pilotos investem todo seu dinheiro e tempo em deixar os carros em condição de prova. Não é fácil colocar máquinas antigas como um Ford Mustang 1969, um Chevy C10 1970 ou Plymouth Valiant Hardtop 1966 em bom estado e com desempenho para vencer uma corrida. “A velocidade custa caro”, diz Joaquín. “Meus carros têm a velocidade que o bolso permite.”

A

s corridas em si não valem dinheiro. A única coisa que vale aqui é o respeito conquistado. Isso não muda há décadas. Não importa se os pilotos têm 15 ou 45 anos, eles aceitam o desafio por um único motivo: provar que são bons. “Muitas pessoas me perguntam por que gosto dessas corridas”, diz Joaquín. “Dou a resposta que um profissional daria: eu quero levar esse carro a novos limites.” Mas, como ele bem sabe, correr assim é mais que uma batalha entre homem e máquina. “É entre mim e meus temores”, conclui. Como todos os pilotos, Joaquín arrisca tudo pela corrida. “Minha namorada sabe que, se me ama, tem que aceitar a mim e minha paixão por velocidade. Ela parou de ir aos eventos. Ela diz que outra pessoa terá que ir me reconhecer no necrotério. Sempre respondo que a única coisa pela qual eu trocaria meu carro seria uma cadeira de rodas ou um caixão. Nunca vou deixar esse tipo de corrida. Sou um viciado em velocidade e nada pode me curar.” 35


osso

dd ue rr ooe r Perigoso, intenso, raçudo, passional: por que Adriano de Souza , o Mineirinho, entrou para a história do surf mundial como um temido competidor e como foi sua trajetória entre a infância pobre e o posto de maior vencedor da história do Brasil Por: Fernando Gueiros

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Fotos: Marcelo Maragni



pesar de ainda estar se livrando de uma leve gripe, Adriano de Souza está contente em um dia cinza de outono na ilha de Florianópolis, em Santa Catarina. Com ondas na casa de 1,5 m batendo no litoral, ele caminha de wetsuit em uma viela de terra cercada por mato. Está de chinelo e com a prancha debaixo do braço. Depois de fazer fisioterapia e alguns treinos musculares, passou em sua casa, deu um beijo em sua namorada, a modelo e estudante Patrícia Eicke, e saiu rumo ao mar, a alguns metros dali. A temperatura em Florianópolis gira em torno dos 15°C e o vento forte assola o lado sul da ilha, deixando a sensação térmica na casa dos 10°C e as ondas mexidas. A água está gelada, tem o tom azul-escuro e apenas um cidadão está na praia além de Adriano, sentado, de moletom, fazendo respirações que parecem ser para uma sessão de meditação. É mais ou menos o mesmo que Adriano de Souza faz, sentado com a prancha apoiada sobre suas coxas, os braços por cima dela e os olhos fixos no horizonte.

Vida em Floripa: Mineiro e Patrícia, sua namorada, num duelo pela sobremesa

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O que passa pela cabeça do maior competidor da história do surf brasileiro? Isso costuma ser algo difícil de decifrar – quem o conhece sabe que Adriano não é um homem previsível. Essa também é uma de suas características como competidor, que se mistura com sua determinação, inteligência e paixão pelo que faz. Nessa quarta-feira fria, diante de boas ondas na praia, está mais fácil deduzir o que passa por sua cabeça, especialmente por saber como as coisas mudaram nos últimos meses. Nesse exato momento, Adriano de Souza é o dono da primeira posição do ranking mundial de surf após três etapas disputadas. Há três dias competiu a final do Billabong Pro, no Rio de Janeiro, com aéreos impressionantes; em abril, venceu o evento de Bells Beach, na Austrália, desbancando grandes nomes e acertando rasgadas e tubos poderosos; e por estar há alguns anos entre os cinco melhores surfistas do mundo, é tido como um dos competidores mais determinados e difíceis de ser batidos em todo o Circuito Mundial.

O S tat u s d e p r i m e i ro do ranking recai sobre os seus ombros pela segunda vez na vida – ele foi dono do posto em 2011, depois de vencer a etapa do Rio de Janeiro. Neste ano, nas mesmas águas cariocas, bateu na trave e ficou somente em segundo após desbancar o 11x campeão mundial Kelly Slater e o prodígio brasileiro Gabriel Medina, perdendo na final para o sul­ africano Jordy Smith diante da praia lotada. O vicecampeonato veio um mês depois da vitória no tradicional evento de Bells Beach, no dia 1º de abril. Mineiro (ou Mineirinho), como Adriano é mais conhecido, confessa, olhando no olho: “Foi o melhor momento da minha carreira”. Um ano antes dessa declaração, na festa de 50 anos do campeonato de Bells, foram convidados todos os campeões desde 1962. Na ocasião, o livro Bells, a Praia, o Campeonato, os Surfistas, da autoria de Michael Gordon, estava sendo lançado. Adriano comprou seu exemplar, tendo sido o único dos atletas ali presentes a passar, de mesa em mesa, e pedir the red bulletin


À esquerda: tirando a prancha da mala para ir para o mar. Na foto maior: a praia em que Adriano mais descansa e pega onda quando está no Brasil é o Campeche

“ vencer Bells Beach

foi o

melhor momento

Da minha car r eir a”


“ V i q u e e l e ficou muito br avo com a der rota . Para m im era o espírito de campeão” autógrafo das lendas do esporte, demostrando-lhes seu respeito e admiração. Hoje Adriano é um deles. A conquista que o colocou neste time foi também a primeira de um atleta brasileiro em Bells e sua quarta em eventos do WCT, a elite do surf mundial, onde Mineiro está desde os 18 anos. Na elite, Adriano já venceu em Portugal, Espanha, Brasil e agora Austrália, igualando-se à melhor marca brasileira na história, de Fábio Gouveia, grande estrela do surf brasileiro na época dos anos 1990 e uma das principais referências na vida de Adriano. “Nós conversamos poucas vezes”, diz Gouveia, que nasceu na Paraíba mas atualmente vive na cidade de Florianópolis, a poucos quilômetros da casa de Mineiro. “A imagem que ele me passa é de ser um cara muito determinado, que encara a profissão que escolheu com muito foco e garra, e isso levou ele a estar onde está.” O veterano de 43 anos continua: “Ele ralou, venceu, tropeçou, aprendeu e hoje dita as regras e é temido”. 40

Depois da etapa do Rio, Adriano aproveitou os dias de folga em Floripa para manter a forma the red bulletin


foto adicional: brian bielmann/red bull content pool

Na outra página: o caminho entre sua casa e a praia. No detalhe: voando na Indonésia

the red bulletin

A vontade de Adriano serve ainda para abastecer os sonhos de surfistas novos no Tour, como o rookie brasileiro de 2013 Filipe Toledo. “Ele é muito focado e é um cara que tem um objetivo muito claro na cabeça e vai atrás disso”, diz o surfista de 17 anos. “Para mim, o Mineiro é um exemplo de determinação.” A vitória na Austrália não foi só uma conquista pessoal, mas também um recado ao mercado que quase o tirou do baralho. “A minha reação [depois que a bateria acabou e ele se sagrou campeão] foi na hora: ganhei e apontei o bico da prancha.” É lá que está o adesivo de seu novo patrocinador, a Pena, marca de surfwear brasileira que não vende roupas fora do Brasil e mesmo dentro do país é bastante regionalizada. O novo patrocínio entrou no lugar da Oakley, que acompanhou Mineiro por dez anos e saiu do posto em dezembro de 2012 – fato curioso, pois Adriano era o surfista melhor ranqueado do time havia tempos. O atleta ficou até fevereiro deste ano sem patrocínio principal. “Eu bati em todas as portas e foi a Pena que quis me bancar”, diz Mineiro, que conta também com o apoio da Red Bull há oito anos. “Conheço o Adriano desde que ele era amador”, conta Raimundo Pena, 53 anos, fundador da marca cearense, disparando seu sotaque nordestino. “Quando ainda era um garotinho, eu assisti a uma bateria que ele perdeu. Vi a reação dele, ficou muito bravo com a derrota. Isso me marcou. O pessoal falava: ‘O garoto aí não gosta de perder, não’. Para mim, era o sinal de que ali estava um campeão, um cara com a faca nos dentes.” Julio Adler, ex-surfista profissional e um dos principais colunistas de surf do Brasil, vai mais fundo: “Ao contrário de alguns dos seus adversários que confiam somente no talento, Mineiro sabe como ler uma onda e como estudar seu ataque para cada uma delas. Ninguém se mantém no Top 5 sem muito esforço e instinto competitivo”, escreveu.

D e p o i s d o s u r f na m a n h ã f r i a , Mineirinho queixa-se da gripe. Apesar disso aproveita os dias de folga realizando duas etapas em altíssima

performance e com aproveitamento quase total. Temido e intenso, chamado constantemente de passional pelos narradores americanos, ele confessa que não sabe se os estrangeiros são sarcásticos ao se dirigir a ele dessa forma, mas tem certeza que coloca medo nos rivais: “O que eu ouço de muitos deles é que sou um cara difícil de ser batido”, conta. E isso é notável até para quem está de fora, como sua namorada: “Vejo que ele tem muita vontade de vencer. Acredita no que faz e faz bem-feito. Raça é uma boa definição. Ele é muito regrado também, chega até a ser chato”. Adriano toma um banho quente, embala algumas pranchas e se prepara para almoçar com sua namorada perto da Lagoa da Conceição. O algoz de surfistas como Kelly Slater – contra quem venceu os últimos seis confrontos diretos – cortou definitivamente a carne de suas refeições. No restaurante, opta por um risoto de camarão explicando que, ao parar de comer carne está contando com um efeito a longo prazo em sua saúde. Enquanto o garçom serve as águas nos copos, os olhos de Adriano ficam afiados sobre as garrafinhas. Em seguida, ele checa a composição delas. Adriano prefere as que tem pH alcalino, ou seja, acima de 7,5. “Se a água não é boa, ela só enche a sua barriga e te faz mais mal do que bem”, ensina. Ele também gosta de cerveja, mas o líquido de trigo só é bem-vindo no final do ano, depois da última etapa do Tour. Patrícia, que está sentada a seu lado, ri. “Viu só como ele é regrado?”.

Na s c i d o n o l i t o r a l d e São Pau l o, no Guarujá, numa comunidade pobre chamada Santo Antônio, Adriano tem uma história de vida digna de filme. O pai, Jonas, era dono de bar, e Luzimar, a mãe, o ajudava. Adriano ainda tem um irmão mais velho, Ângelo, que sempre foi um de seus grandes incentivadores e atualmente trabalha como policial florestal. Entre os amigos da escola, Adriano era apenas o “garoto que gostava de pegar onda”. E pegava bem. Aos 10 anos, começou a ser notado na escolinha do Pirata, na Praia das Pitangueiras, a 40 minutos de caminhada de sua casa. Por lá, conheceu Gilmar Silva, que lhe emprestou as primeiras pranchas e deu os primeiros empurrões em campeonatos. Aos 11, ele ganhava um pequeno salário de um patrocinador local e partiu, aos 14, para o Rio de Janeiro disputar uma etapa do circuito profissional brasileiro.

Mineiro é sempre atencioso com os jovens fãs

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Concentração antes de ir para a água. Na foto maior: competindo em Ballito, na África do Sul

Com o apoio de Gilmar, o pequeno surfista, que naquele tempo era ainda mais baixo que seu atual 1,67 m, foi campeão – o mais novo, até hoje, a ganhar uma etapa profissional no Brasil. Faturou R$ 8 mil e uma moto. “Quando ganhei essa bolada”, lembra Adriano, “falei: ‘Cara, agora dá para ser profissional. Tenho surf para ser profissional’.” Ao vencer o campeonato, Adriano conquistou uma vaga para o circuito nacional e abandonou a escola no segundo colegial. “Era largar os estudos ou continuar como amador”, enxerga hoje em dia. Veio então a primeira viagem internacional, para a África do Sul, e depois para Virgínia, nos EUA, para disputar o festival NSSA nas categorias Mirim, Junior, Pro Junior e Pro: foi campeão nas categorias Mirim e Junior, ficou em 3º na Pro Junior e foi vice na Pro. Saiu da Virgínia com um contrato debaixo do braço – o mesmo que duraria dez anos. Adriano tinha apenas 15 anos quando foi disputar o Mundial Pro Junior, que conta com surfistas de até 21 anos. O resultado? Ele foi campeão novamente – o mais novo até hoje na categoria – e se classificou para a segunda divisão do surf mundial, o WQS. No segundo ano de disputa, aos 17, foi campeão da temporada e carimbou o passaporte para a elite do esporte. Uma jornada meteórica. “O Adriano sabe usar muito bem a pressão a seu favor”, diz Pena. “Ele sabe competir como poucos, por isso se tornou um cara temido.” Para Fabio Gouveia, os gringos devem pensar: “Ô, brasileirinho enjoado!”. Segundo o surfista, o sucesso de Mineiro não é apenas uma questão de estilo: “Ele pode não ter a mesma classe de caras como os australianos Joel Parkinson e Mick Fanning, mas aquilo que vai levá-lo ao topo do mundo ele tem de sobra”.

para construir a imagem do Brasil no exterior e tenho orgulho de carregar essa bandeira comigo.” Depois de três anos, voltou ao seu país e fincou raízes em Santa Catarina. O motivo? Sossego. “Eu não tenho condições de viver no Guarujá”, diz, sobre sua cidade natal, um balneário com pouco mais de 300 mil habitantes. “Agora sou muito conhecido, em cada canto. Fui o primeiro surfista de lá que chegou a ser campeão no exterior. É muito intenso para mim.” Sua família segue no litoral paulista, mas não mora mais na comunidade de Santo Antônio, e sim na casa perto da praia comprada por Adriano. Os tempos são outros, Mineiro é uma estrela nacional – mesmo que o surf esteja distante do mainstream no Brasil. “Seremos sempre o país do futebol”, diz. “Para ser o segundo esporte do país é preciso muito esforço e o surf está longe disso”. Adriano sendo carregado após a vitória em Bells Beach, na Austrália

“ M i n h a s e d e s e m p r e f o i p e ga r boas ondas”, diz Mineiro. “Tudo isso aconteceu por causa dessa vontade.” Adriano, hoje com 26 anos, saiu do Guarujá aos 23 e se mudou para a Califórnia, de onde até hoje sente saudades por não ser constantemente assediado. “Eu sempre tive muita cautela 42

the red bulletin


“o Brasil ainda é

foto adicional: Craig kolesky/red bull content pool, getty images

O pa í s d o f u t e b o l . o surf ainda Está longe disso”

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Adriano recebe apoio de um dos maiores clubes de futebol do Brasil, o Corinthians, que o ajuda no preparo físico e o fez ser ainda mais conhecido do que já era. “Quando é que um surfista teria uma chance de participar dos programas de futebol na TV?”, ele pergunta, ironizando a imensa quantidade deles na televisão brasileira. “O Mineiro é o grande responsável por esse contingente de atletas que temos hoje”, analisa Pena. “É o mais experiente da atual geração de surfistas brasileiros, um time que se espelha nele e que mostra que agora a coisa vai ser bem diferente.” O jovem Filipe Toledo confirma: “Ele é o melhor brasileiro em atividade e sem dúvida o mais perigoso. É um cara extremamente experiente e ao mesmo tempo muito tranquilo fora d’água, bem na dele”.

D E P O I S D O A L M O Ç O, Adriano termina de embalar as pranchas e fechar a mala. Ele espera Patrícia, que vai com ele para São Paulo. Ela demora para se arrumar, falta só uma hora para o embarque, o tempo está apertado. Adriano confere o celular, checa mensagens, confirma o motorista que irá

buscá-los, vê as redes sociais... “Amor, vamos!”, pede para a namorada que sai guardando as últimas coisas na bolsa. “Um dia eu ainda vou escrever um livro: ‘Como é ser mulher de Adriano de Souza’ ”, brinca, em meio à pressa. Durante a manhã, quando estava sentado na areia de Floripa, antes de ir para o mar, Adriano se despediu da praia. A próxima parada é nas rádios e TVs de São Paulo para dar entrevistas e depois seguir viagem para Fiji, onde disputará a quarta etapa do Mundial. De lá, voa para Bali, Califórnia, África do Sul, Taiti... A rotina intensa de quem vive caçando ondas perfeitas – muitas vezes em lugares inóspitos – no chamado Tour dos Sonhos passando por seu país apenas duas ou três vezes ao ano. Pranchas no carro (são oito dentro da capa), passagens na mão, aeroporto, horas no avião... Ainda queremos saber o que passa pela cabeça de Adriano? Com certeza é algo que vai além dos sonhos lúcidos de pegar tubos nota dez. Em sua cabeça pulsa a glória de um menino que concretizou o verdadeiro sonho de ser um dos melhores surfistas do planeta – e que vai levar esse desafio até o fim. 43


A A Compressorhead é a ún ica band a de metal de ve rdade no mundo.

O t r i o r o b ót i c o p e s a 1 to n e l a d a e fa z u m r o c k m a i s p e s a d o d o q u e m u i to h u m a n o p o r a í . P u d e r a : o g u i ta r r i s ta t e m 7 8 d e d o s , o b a i x i s ta t e m u m c r â n i o d e f e r r o e o b at e r i s ta , b o m . . . e l e t e m q u at r o b r a ç o s por: Florian Obkircher

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Fotos: Norman Konrad


Fingers guitarra

D o E Q U I PA M E N T O DE TESTE DE TELEFONES CELULARES A UM DEUS DO ROCK COM 78 DEDOS


m depósito industrial de Berlim. Carcaças de carro depenadas, prédios abandonados, muito lixo e nenhuma alma viva por perto. O único sinal de vida é o som de uma batida abafada saindo de um dos prédios. Boom! Boom! Boom! O barulho vem de um pequeno quarto. Pôsteres de shows na parede, um sistema de som, um emaranhado de cabos. Bem como se espera de um ensaio de alguma banda, mas aqui os três músicos tocando um som do AC/DC são robôs. Um gigante de metal usa seus quatro braços para percorrer toda a bateria. Seu colega de banda, coberto de tubos e usando óculos escuros e botas de caubói, manda um solo de guitarra. O baixista sacode a cabeça de metal, as antenas balançando ao ritmo da música. Seus dedos de ferro deslizam com velocidade pelo baixo robótico. Não é o set de filme de ficção científica. Aqui é a Compressorhead, literalmente a única e verdadeira banda de metal no mundo.

no festival Big Day Out, na Austrália com cinco shows em diferentes lugares pelo país, cada um com público de 50 mil pessoas. Na mesma pegada de nomes como Red Hot Chili Peppers e Vampire Weekend, a Compressorhead levantou a galera com versões covers de músicas de bandas como Nirvana e Ramones. Seus vídeos no YouTube já são um hit que virou cult. O Red Bulletin conversou exclusivamente com os robôs sobre receptividade, ver a galera cantar junto, a entidade dos robôs cristãos e a relação deles com os sacos de carne – maneira a que Stickboy, Fingers eBones se referem aos humanos. red bulletin: Stickboy, o que você fazia antes de ser um rock star? stickboy: fui piloto de automobilismo na primeira vida. Algumas partes de mim são de uma moto; outras estavam no motor a diesel de um caminhão da Alemanha Oriental, como os pregos do meu moicano. Minhas pernas são feitas de cilindros pneumáticos e os absorvedores de choque de uma vespa italiana. Você consegue se lembrar de suas primeiras tentativas de tocar bateria? s: tive problemas de mobilidade. O que não é assim tão surpreendente quando alguém tem quatro braços. Espanquei tanto os chimbais que seus tripés caíram. Fingers, o que faz você ser diferente dos outros guitarristas? Qual é o segredo de sua técnica?

Lemmy, do Motörhead, é fã:

“ E L E P O S TO U N O S S O V Í D E O n a S U A PÁ G I N A D O FA C E B O O K E E S C R E V E U : ‘ T E M Q U E V E R PA R A C R E R ! ’ ” Seis anos atrás, Frank Barnes, o artista tecnológico que vive em Berlim, fez um baterista mecânico do tamanho de um homem, o Stickboy, a partir de velhas peças industriais de robô. Um batera de quatro braços e duas pernas mas, como diz Barnes, brincando, sem cérebro. Ele mandou o Stickboy para uma turnê com duas robôs dançarinas. Foi quando resolveu construir a Compressorhead com a ajuda do coletivo artístico de arte robótica Kernschrott e Robocross. Stickboy teve então a companhia de Fingers na guitarra e Bones no baixo. Os três são operados por comandos MIDI (a interface padrão da indústria de música eletrônica), movidos por válvulas eletropneumáticas e alimentados pelo bom e velho rock’n’roll. O batismo de fogo, uma apresentação ao vivo, teve lugar em janeiro deste ano, 46

fingers: consigo tocar bases e solos ao mesmo tempo, o que significa fazer o trabalho de dois humanos. Quanto à minha técnica, um sequenciador opera os pistões pneumáticos enquanto viajo na guitarra. Esses pistões costumavam ser usados por companhias de telefonia para as teclas do aparelho que estavam funcionando. Isso, atualmente é obsoleto, por causa da chegada do touchscreen. Por que especificamente 78 dedos? f: os dedos em minha mão esquerda operam em dois slides, o que significa que eu posso cobrir todo o braço do instrumento. Tenho cinco dedos em uma, sete na outra, e ambas têm seis cordas. Então ao todo são 72 dedos. E há ainda os seis dedos da minha mão direita, um para cada corda. Como foi para vocês dividir o palco com o Red Hot ChiliPeppers?

stickboy bateria

AQUELE QUE JUNTOU A B A N D A : Q U AT R O B R A Ç O S E UMA PRECISÃO SOBREHUMANA s: eu já tinha tocado naquele festival dois anos antes, com duas robôs dançarinas. O organizador gostou e disse: “Se algum dia montar uma banda, entre em contato. Eu te chamo na hora”. Como foi tocar ao lado dos humanos? s: muito bom. Quando tocamos “TNT”, do AC/DC, todo mundo cantou junto. Nós fazemos karaokê de massa. As letras das músicas são projetadas num telão atrás de nós, e o público vira o vocalista. Por que vocês não têm um? s: procuramos o cara certo faz algum tempo. Mas ainda não encontramos o vocalista perfeito. Prefere um vocalista humano ou robô? s: tanto faz. Ele só teria que fazer nossos circuitos dispararem. Alguém já sugeriu o Stephen Hawking! No caso dele, nós pelo menos o entenderíamos. Quem seria o vocalista dos sonhos? s: o Lemmy Kilmister, do Motörhead! Soube que ele é um fã de vocês... s: é verdade. Lemmy postou o vídeo de nossa versão cover para “Ace of Spades” em sua página do Facebook e escreveu: “Vocês precisam ver para crer!” Em dois dias nós tivemos mais de 1 milhão de acessos no YouTube. Tivemos até agora mais de 5,5 milhões de cliques. bones: depois disso, uma banda de robôs holandesa refez nosso cover de “Ace of Spades” com violões e flautas. Assim que se pensa em Alemanha e banda de robôs, a palavra Kraftwerk vem logo à cabeça. s: eles são robôs wannabes! b: que é isso! Eles levaram robôs ao palco 30 anos atrás. Temos que respeitar isso. O que você pensa de sintetizadores de baterias digitais? Eles são irmãos de luta ou rivais? s: irmãos. O único problema com essas caixinhas pequenas é que elas não fazem rock de verdade. Elas ficam com inveja quando me veem sacudir a cabeça. Uma banda de robôs realmente ensaia? s: sim, mas não com tanta frequência quanto uma banda humana. Estamos naturalmente em sintonia. Nós nos comunicamos via MIDI. É raro errar o tempo. the red bulletin



bones BAIXO

O MAIS NOVO MEMBRO DA BANDA TEM GARRAS COMO AS DE UM URSO E A SENSIBILIDADE DE UM CHARLES MINGUS


Então de onde surgem os problemas? s: as configurações às vezes precisam ser ajustadas, por exemplo, no meu caso, quando eu faço uma virada só com uma mão. Mas, depois de 5 milhões de viradas, tem a chance de eu perder a precisão. Então o software precisa me recalibrar bastante. Minhas juntas também precisam ser trocadas depois de uns anos. O que você leva na estrada? s: porcas e parafusos. Um par novo para cada dia. No mínimo dos mínimos! f: o compressor de ar! Somos quase completamente pneumáticos. Quantos compressores vocês precisam carregar? f: um compressor de 11 kW. Ele é do tamanho de um móvel, como o quarto membro da banda – e provavelmente o mais importante. Nada funciona sem ele. b: nós até demos um nome à banda em homenagem a ele. Como é o deslocamento de vocês? s: em caixas enormes. Nossa equipe faz o check-in no aeroporto. A gente não consegue entrar como bagagem de mão.

s: nós amamos o cheiro do etanol. Tenho uma predileção pessoal por lubrificante – melhora as articulações. E as groupies? s: As groupies nunca dão descanso. Desde velhas ferramentas de casa até brinquedos de última geração. Quando alguém contratar a banda Compressorhead, vai precisar de uma empilhadeira... b: somos caras muito estudados: uma verdadeira banda de metal pesado. O Metallica pesa 400 kg com tudo. A balança do Compressorhead fica na casa de 1,3 tonaleda – sem incluir o compressor! Os palcos aguentam tudo isso? s: nem sempre. Depois dos nossos primeiros shows, descobrimos que éramos pesados demais para o main stage. Então ganhamos um palco só para a gente. Vocês deixam o palco em uma empilhadeira antes de voltar para o bis? s: nós só ficamos no palco. Mas, só para deixar claro, nós não somos paradões. f: eu posso até pular. Nada muito alto, claro, mas dou meus pulos. Sou como

Uma banda de metal pesado de verdade.

“ O M e ta l l i c a p e s a 4 0 0 kg a o t o d o , j á a b a l a n ç a d a Com p r e s s o r h e a d f i c a n a c a s a d e 1 , 3 t o n e l a d a – s e m i n c l u i r o n o s s o c om p r e s s o r ! ” Então as caixas passam a ser seus colchões, certo? s: exatamente. Em nosso caso, dormir significa ser colocado no “stand by”. Sobre o que vocês sonham? s: com os números zero e um. No caso de aparecer o dois, significa que estou tendo um pesadelo terrível. Nessa vida de roqueiro, já acordaram com muita ressaca? s: Claro! Há partes que somem, ligações que falham, válvulas que pingam. Quais são os prazeres proibidos de uma banda de robôs? the red bulletin

Keith Richards lá em cima. Ele uma vez disse que tinha o menor lugar de trabalho do mundo: 1 metro quadrado, porque sempre fica no mesmo lugar do palco. b: posso rolar pelo palco com as minhas esteiras. Desde uma extremidade até os outros membros da banda. E mosh, dá pra fazer? s: isso ia machucar a galera. A gente prefere não ser processado. Algum de vocês já desmaiou no palco? b: sim. Por causa de uma descarga elétrica. A gente estaca tocando e de repente não tem mais energia. É horrível.

f: a distribuição de energia para festivais ao ar livre é um problema. As unidades de energia têm potências diferentes. Se elas estão ligadas uma à outra, acontece essa descarga. Aí o equipamento desliga sozinho. Nossos equipamentos são muito sensíveis a isso. Vocês tocam de Led Zeppelin a AC/DC. Que som vocês mais curtem? s: isso não é óbvio? (Risos.) Por que as máquinas deveriam tocar sempre só um pop careta cheio de sintetizador? A Compressorhead também poderia tocar jazz ou algo improvisado? b: já brincamos com a ideia de só improvisar, sem prompts de MIDI. Mas, no final, nós somos melhores para o rock’n’roll. Mas isso seria possível, tecnicamente? s: a gente tem trabalhado com produtores que estão escrevendo músicas para nós. Ritmos que um baterista humano não consegue tocar – porque ele tem dois braços a menos – e isso cria possibilidades completamente novas. A diversão não é basicamente o fato de vocês mandarem o rock feito pelos humanos? s: se o público conhece a música e fica animado, sim. Além disso, se eles conhecem a música, eles podem julgar a qualidade da nossa versão. Mas você não pode fazer uma carreira baseada em covers de músicas dos sacos de carne. Como é que um robô se torna músico de verdade? s: sua melhor chance é morrer e então ser trazido de volta à vida como uma máquina do rock feita pelos sacos de carne. Pra gente funcionou assim. b: um bom número de robôs industriais é jogado fora quando novas versões são lançadas. Nós inventamos a Aliança Cristã de Robôs especialmente para eles. Do que trata essa entidade? s: nossa equipe pega os robôs velhos de empresas e universidades. Eles são consertados e colocados em serviço com um novo trabalho em nossa oficina. Assim eles podem trabalhar no nosso robô bar, por exemplo, que levamos conosco para os shows. Os humanos colocam seus copos em uma esteira que leva até uma máquina que derrama vodca do alto e então um macaco robô completa com suco de laranja. Simples, não? Vocês têm um plano B no caso de a carreira de roqueiro não ir muito bem? s: uma coisa bem rock'n'roll: gostaria de fazer parte da primeira equipe de luta entre robôs na minha terceira vida. Isso ia ser demais, não? www.compressorheadband.com www.robocross.de www.kernschrottrobots.de

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o d n a t n Reinve

d o ar década de a m u e d s i o p De ien Loeb, t s a b é S e d o i n domí precisa de o t a n o e p m a c o m um esporte com E . r e d í l o v o n um quem poderia , s a t s i n o g a t o r p s o tant competição? a d o r t s a o r a n r o t e s lein r Foto s: M c K Po r: W e rn e r J e s s n e

O piloto Evgeny Novikov no mundial deste ano, em Acrópole, na Grécia


a

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Fazendo tudo certo: Sébastien Ogier (inferior esquerda) e o Volkswagen Motorsport na liderança depois de um primeiro dia abafado na Grécia

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rei do rali, o gênio que nasce uma vez a cada eternidade, o demolidor de recordes, tem apenas mais uma corrida antes que a bandeira quadriculada balance para ele pela última vez. Em Estrasburgo, no mês de outubro, correndo o rali da França-Alsácia, Sébastien Loeb encerrará em estradas de seu país de origem uma era de dominação do tipo que o rali nunca tinha visto e que vai durar por muitos e muitos anos. Quando Loeb debutou no campeonato mundial da modalidade, em 1999, as estrelas do espetáculo eram Tommi Mäkinen, Carlos Sainz, Richard Burns e Colin McRae. Para vencer uma corrida, você precisava de um Mitsubishi ou de um Subaru ou mesmo de um Peugeot, desde

que o carismático finlandês Marcus Grönholm estivesse ao volante. Então veio o exuberante Loeb para conquistar nove títulos em sequência, todos com a Citroën, montadora conhecida anteriormente apenas por uma vitória no rali de Monte Carlo em 1966, que ocorreu depois que os Mini Coopers que ficaram em primeiro, segundo e terceiro fossem desclassificados por estar com um tipo errado de farol. Ver Loeb competir – primeiro no Xsara em formação, depois no maravilhoso C4 e, finalmente, no gracioso DS3 – era testemunhar grandiosidade. Disseram que um não-escandinavo jamais poderia ganhar o Rally dos 1 000 Lagos, na Finlândia, mas, se você colocasse uma pedra no ponto mais forte da saída de the red bulletin


Uma corrida única. C ri se econôm ica? N ã o a l i ,

não naquele momento

uma combinação de curvas, cada piloto ficaria pelo menos 1 metro de distância do lugar certo – menos Loeb. O francês merece todos os chavões, mas a abdicação do título “melhor piloto do mundo” (com todos os direitos reservados a Michael Schumacher) abre significantes novos prospectos para o rali. Se existem mudanças a ser feitas, agora é a hora de colocá-las em prática.

Gladiadores

O Rali de Acrópole, na Grécia, é um dos eventos mais importantes do calendário, realizado em caminhos empoeirados e cobertos de cascalho na região de Corinto, e famoso por ser traiçoeiro em cada parte de seus 1 052 km de percurso. the red bulletin

O piloto russo Evgeny Novikov: exausto

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Mikko Hirvonen quer ser o novo campeão

O público confere de perto todas as partes do rali. Chegam aos milhares, ficam cobertos de poeira e são bombardeados com o cascalho que voa das rodas. Eles fazem churrasquinhos do lado da estrada e costumam levar bandeiras e câmeras. A cada ano que passa eles observam, alegres e admirados, enquanto os heróis passam rasgando em seus carros barulhentos e coloridos. Mas e a crise econômica, o desemprego, o clima ruim? Não. Nesse momento, não. Aqui só se vê gente com bonés da Volkswagen e camisetas da Ford fazendo festa. Lendas gregas dizem que, antes que o status de herói possa ser conferido, existe um teste no qual, pelo menos num primeiro momento, leva-se ao fracasso. Sébastien Ogier, sólido e honrado piloto 54

da equipe Volkswagen, foi testado em uma batalha contra Loeb na temporada passada, pilotando um Skoda S2000 de segunda linha. Atual líder do campeonato, hoje dirigindo um Polo, ele está estabelecido como claro favorito. Os pilotos têm um respeito maior por duas partes: a primeira, de Kineta a Pissia, porque é difícil e longa; e a segunda, de Kineta, porque a corrida é noturna. Mas nem os faróis e motores de 300hp plus e tração nas quatro rodas conseguem desvendar todos os segredos dos caminhos que os burrinhos comuns na Grécia trilham. A corrida é numa velocidade média de uns 120 km/h, esperada em uma estrada que estraçalha os nervos de motoristas normais em carros normais e a velocidades normais.

Já está bem escuro na Grécia, mas

todos estão bem acordados

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No prato do dia do rali grego: noite, poeira, pedras, buracos

Era esperado que Ogier vencesse a etapa da noite com folga, com um tempo intimidador, mas acabou não sendo assim. Depois de dez minutos em velocidade de corrida, o VW Polo R WRC e seu reservatório de combustível pararam. Estava tudo acabado para ele. Mais tarde, os mecânicos descobririam que a tampa da bomba de combustível ficou frouxa e não foi possível saber como isso aconteceu. Um defeito ridículo, mas decisivo para a corrida. O rei da noite (e da manhã seguinte) é o piloto russo Evgeny Novikov, junto com sua copiloto, a austríaca Ilka Minor. Ela aprendeu seus truques para o campeonato com o experiente Manfred Stohl, que por anos foi o melhor corsário do mundial, e depois provou ser um guia perfeito para o norueguês Henning Solberg. É a primeira vez que ela fica na liderança de um rali. “Finalmente estamos bem onde deveríamos estar”, ela conta, no escuro, dentro do carro. A alegria de Novikov é bem discreta. Ele já foi o mais jovem piloto a vencer uma etapa especial no mundial do rali, porém isso fica apagado perto da realização daquela noite. Novikov é o mais corajoso de todos os pilotos de ponta, mas na manhã seguinte ele quebrou um disco de freio em uma pedra escondida e depois perdeu seu freio, uma roda e uma estaca. E, ao final, o moscovita venceu quatro das 14 etapas especiais do Rali de Acrópole. Mikko Hirvonen, da Citroën, tinha grandes expectativas para a Grécia, mas o outrora infalível finlandês está começando a fracassar. Os números dizem que ele está indo devagar. No entanto, se um problema técnico na 55


Fãs usam os celulares para registrar o piloto norueguês Andreas Mikkelsen

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ou um buraco à espreita em cada curva que pode matar sua corrida. Mas basta desacelerar rápido e com força para você se tornar uma presa fácil para os rivais, que notam qualquer redução de ritmo na hora. Depois de vencer o rali, Latvala agradece e abraça todos em seu glorioso retorno ao setor de equipes, entre eles os mecânicos de Ogier e seu jovem colega de equipe, o norueguês Andreas Mikkelsen. O que Capito tem feito é criar um grupo dominante a partir de um time funcional e romper o longo domínio da Citroën em metade da temporada. Ele diz que o objetivo do ano é “brigar por um entre os dois títulos possíveis, de piloto ou de equipe, até o final”.

Existe muito trabalho para

manter o Mundial de Rali em pé Capito tem em Latvala um improvável defensor desse objetivo. “Ele encerrou diversas temporadas entre os três melhores pilotos, mas nunca venceu o mundial de equipes. Esse é o nosso objetivo para o ano. De resto, o que vier é lucro.”

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fotos adicionais: werner Jessner (2)

primeira etapa especial significar que suas rodas dianteiras não fazem mais o que o volante manda, um pé menos pesado no acelerador seria mais uma definição de precaução do que de covardia. De qualquer forma Hirvonen – que tem 15 vitórias no Mundial de Rali e credenciais de um dos pilotos mais bem-sucedidos entre os atuais (fora Loeb) – está em um bom caminho para representar seu papel, que é manter o campeonato mundial nas mãos da Citroën Sport. Hirvonen não é Loeb, e isso está evidente nesta temporada que, entre todas, é a que realmente vai contar. Por um longo trecho do rali, a briga pela liderança transcorre em time-lapse. Para forçar uma definição é mais importante ter reflexo do que raciocínio: no limite, o carro precisa se tornar uma parte do corpo, algo que você pode posicionar milimetricamente enquanto dirige a 200 km/h em um corredor de cascalho, correndo por instinto ou confiança cega em qualquer coisa que o copiloto fale. Sébastien Ogier vai nessa linha e, finalmente, também seu colega, o finlandês Jari-Matti Latvala, de 28 anos, que é chamado de “homem do futuro do rali” há uns dez anos. Alternando momentos de velocidade com erros, Latvala finalmente encontrou seu lugar na VW. Por um tempo ele bancou o operário na Ford, mas o frio, calmo e inteligente diretor da VW Motorsports, Jost Capito, dá espaço a ele: “Qualquer um pode ser vencedor aqui.” Com os problemas técnicos de Ogier, são de Latvala as esperanças da equipe na Grécia, e ele brilha. Na pista esburacada e cheia de cascalho há sempre uma pedra


Em 2014, os fabricantes serão autorizados a levar carros novos, melhorados, para a largada. A Volks voluntariamente abriu mão desse direito, ciente dos problemas dos adversários. A Citroën está com um olho no ramo dos carros de passeio como um novo negócio. O envolvimento da Ford é abaixo do interesse pessoal do chefe da Motorsports, Malcolm Wilson, sem a participação do braço montador. E se a Hyundai vier como nova fabricante, é plenamente justo que comecem com o jogo nivelado.

Novas regras

À esquerda: os campeões de 2013 na Grécia, Jari-Matti Latvala e Miikka Anttila. Acima: a máquina de Evgeny Novikov

Uma coisa é clara: o Mundial de Rali, que é uma experiência poderosíssima ao vivo, uma disputa de alto nível, tem atualmente dificuldades em mostrar sua força. Na maior parte da Europa, Jari-Matti Latvala pode andar na rua sem ser reconhecido “e quando estou de férias na Califórnia eu sou mais um”. Se dependesse do finlandês, ele garantiria que o Mundial de Rali seria transmitido em todo o mundo. Mas ele está em boas mãos, porque tem muito trabalho nos bastidores para garantir uma melhor apresentação do esporte, e para elevar sua categoria. (Latvala recebeu o troféu na Grécia das mãos do presidente da FIA, Jean Todt, uma honraria que raramente têm os vitoriosos da Fórmula 1.) Cerca de 50 milhões de pessoas assistem ao Mundial de Rali. Com a Red Bull Media House assumindo o controle dos direitos, em cooperação com o Sportsman Media Group, o objetivo é dobrar esse número em um prazo de curto a médio prazo. A FIA e a chefe do rali Michèle Mouton, que terminou em segundo no Mundial de Rali de 1982, além dos organizadores do campeonato, atualmente repensam os formatos dos ralis. Que tal um dia inteiro como maratona, sem ajuda da equipe, por exemplo? Como fazer com que as etapas especiais sejam melhores? O que fazer aos domingos? Por que não um duelo na última etapa especial: o mais rápido e o segundo melhor da corrida até aquele momento competindo pelo primeiro lugar, o terceiro e o quarto mais rápidos pelo terceiro, e assim por diante, até o 10º lugar? Existem muitas opções e ideias na mesa para aprimorar a principal competição de rali no mundo. Vivemos um momento empolgante para o esporte. www.wrc.com

Assista aos destaques do Rali de Acrópole na edição para tablet do Red Bulletin. Baixe agora de graça the red bulletin

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Especial surf

SALVA NDO ROCKAWAY O furacão Sandy varreu a costa leste dos EUA, devastando a principal praia para surfar na cidade de Nova York. Um grupo de surfistas, então, decidiu trazer Rockaway Beach de volta à vida Por: Cole Louison  Fotos: Benjamin Lowy

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Fotografia adicional: Spencer Platt/Getty Images (1)


teve Stathis está sentado no deque entre a Boarders, sua surfshop destruída, e uma parede de armários pintada na Beach 92nd Street com a Rockaway Beach Boulevard, a duas quadras do Oceano Atlântico. “A gente torce por furacões”, ele diz, “porque eles trazem boas ondas. Essa é a diferença entre nós e as pessoas normais.” Dentro da loja, entre escombros, ferramentas elétricas e um gerador resmungante, o filho de Stathis, a neta e velhos companheiros de surf se reúnem em torno de uma mesa improvisada onde um deles abre um álbum amarelado com velhas fotos de surf. Cinco meses depois do furacão Sandy, a loja ainda está sem eletricidade. Stathis, de 63 anos, é o cara que você deve procurar quando quiser conversar com alguém sobre surf em Rockaway, uma península de 18 km em Queens, Nova York, reduzida a “uma pilha de entulho”, segundo o The Wall Street Journal, após o Sandy. A única praia pública para pegar onda em Nova York recebe todo ano um grupo dedicado de cerca de 300 surfistas que moram por lá. Talvez você reconheça Stathis, se por acaso leu ou assistiu às notícias do 60

furacão em outubro de 2012. A imprensa o seguiu como um brilho depois da tragédia. Seu cabelo é quase todo branco, mas ele é alto e bronzeado, com um tórax de surfista e o modo de andar poderosamente sutil dos atletas da água. Seu sotaque é categoricamente do Queens, com vogais curtas e erres mudos, sua conversa é articulada e simpática, sempre recebendo forasteiros e deixando bem claro quem é o dono do pico. O vento que sopra da água é frio, com vestígios de areia salgada, e mesmo assim Stathis está com sua camisa aberta à luz do sol da primavera, ouvindo o barulho distante das furadeiras. Ele é presidente fundador dos Graybeards, uma organização sem fins lucrativos criada depois do 11 de Setembro. Até os hoje o grupo conseguiu arrecadar e distribuir mais de US$ 1 milhão às vítimas do furacão. Ele foi uma das primeiras pessoas a surfar as ondas do lugar e é uma lenda viva em Rockaway, que tem meio século e foi encabeçada por ele e pelos homens que bebem café em sua loja: Jimmy Dowd, Dennis McClean e John Roberts, o ancião do grupo, que chama seu velho parceiro de surf de “grande, grande homem”. “Rockaway é um ovo”, diz Stathis. “Quando a gente era criança, tínhamos que tomar cuidado com o que fazíamos por aqui, já que alguém poderia ver e contar aos nossos pais.” Ele faz uma pausa e olha um avião que passa. “Então tem muito bairrismo. Se você remava para fora da linha e tentava roubar ondas, tinha consequências. Mas isso mudou. Quando comecei a surfar aqui, tinha, sem brincadeira, uns dez caras na água. Hoje? Pode esquecer.”

Steve Stathis em sua surfshop destruída

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“A gente torce por furacões porque eles trazem ondas”

O A comunidade isolada de Rockaway foi uma das áreas mais castigadas de Nova York

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surf não começou no Queens, na Flórida, na Califórnia, nem mesmo no Havaí. Ele provavelmente começou 3 mil anos atrás na Polinésia Francesa, o paísilha do povo marítimo que trouxe o heenalu, ou “tobogã nas ondas”, ao Havaí em algum período do século XVI. Os mais antigos registros remanescentes àqueles tempos são os diários dos exploradores europeus, que primeiro baniram a atividade, mas logo acabaram eles mesmos gostando dela. O surf se restringiu ao Havaí até 1907, quando um havaiano chamado George Freeth o apresentou formalmente aos EUA ao ser contratado pela Pacific Electric Railroad para surfar em um evento de relações públicas organizado para coincidir com a abertura da linha de Redondo Beach. 61


O calçadão foi completamente destruído pela tempestade

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O surf chegou à Califórnia e apareceu quase ao mesmo tempo na Flórida, alastrando-se devagar para o norte. De acordo com o ex-surfista profissional e historiador do esporte Mike Tabeling, as pessoas remavam nas pranchas, mas não surfavam, em Virginia Beach em todos os anos 1920, e há um registro de 1934 de um californiano chamado Tom Blake que fazia apresentações de surf em Nova York e Nova Jersey, ainda que os surfistas na Boarders, que surfam as ondas de Rockaway por seis décadas, digam que nada pegou até o final dos anos 1950. Foram os veteranos da Guerra da Coreia, dizem, que integraram o primeiro cenário: os nova-iorquinos que voltavam de fora com uma recém-descoberta paixão que estavam determinados a tentar em casa, apesar das ondas relativamente pequenas e da água a 5°C, que fazia the red bulletin


“Sempre dizem para evacuar, mas estamos acostumados com furacões”

Jimmy Dowd, dono da companhia de surf St. James, onde ficava o calçadão

os surfistas vestirem duas toucas de banho e suéteres de lã revestidos em óleo. A Coreia, hoje famosa pelas ondas, viu a guerra terminar em julho de 1953, cerca de cinco anos antes de Dennis McClean começar a surfar na praia do bairro, mas ele lembra dos rapazes mais velhos remando em pranchas um ou dois anos antes. Essa é mais ou menos a época em que uma tranquila aldeia de pescadores a 160 km de Rockaway estava se tornando uma cidade secreta do surf, e hoje tanto as ondas de Montauk quanto a cultura do surf selvagem dos anos 1960 são lendas. (Livros foram dedicados tanto ao surf em Montauk quanto na Coreia.) Se fosse Top Gun, McClean poderia ser Tom Skerritt, codinome Viper. Hoje, mesmo fazendo parte do time dos experimentados velhões do surf de Rockaway, ele é reverenciado pelo talento na prancha. Ele foi um dos primeiros surfistas da Costa Leste a ser patrocinado pela lendária fabricante de pranchas californiana Hobie, e ele surfava em Rockaway “uns dois anos” antes de surfar regularmente com a turma que incluiu John Roberts e Steve Stathis. “Em que ano? Hmm”, ele faz, com seu gorro puxado até abaixo das sobrancelhas.

John Roberts, um dos primeiros a surfar em Rockaway

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“Foi no ano em que fui eliminado no time de beisebol. A cena ainda era muito pequena – meu irmão Dee e alguns outros. Peguei emprestada uma prancha toda remendada e não me dei bem. Então um dos mais velhos disse para eu me mexer em cima dela. Fiz isso e peguei a onda seguinte. Foi assim.” Todos ali têm uma história de quando começaram a pegar suas ondas. Cada um em um lugar diferente, mas todos na água, lugar que amam. “O surf meio que domina sua vida, vira algo de alma”, diz Stathis. McClean não tem a mínima dúvida: “Eu nunca olhei para trás”. “Quando este bicho te pica…”, diz Roberts, exaurido, “não tem volta.” “Eu não consigo me imaginar não fazendo isso”, diz Michelle Cortez, uma artista de 20 e poucos anos nascida em Manhattan, que visitou Rockaway em 2011 vinda de Williamsburg e nunca mais saiu de lá. “O surf tomou conta.” Coletivamente, eles contam suas histórias do surf em Rockaway, os fluxos e refluxos de sua popularidade, as brigas com a prefeitura e o final feliz em 2005 – uma das razões para a agressiva cultura local etc. Hoje, de forma lenta, mas segura, surge um sentimento de união assustador: furacões trazem grandes ondas e com elas um surf melhor. “Todos os anos eles nos pedem para evacuar”, diz Stathis. “Sempre dizemos: ‘Bom, nós não fomos embora antes e não vamos agora, estamos acostumados com furacões aqui’ ”, continua. “Furacão Donna. Faith. Gloria. E ficamos animados quando soubemos do Sandy.”

O

Sandy trouxe um ótimo surf. A todo vapor, ondas duas vezes o tamanho de uma pessoa rolaram em Rockaway 48 horas antes da tempestade, fazendo aparecer surfistas e policiais. Cortez, que ficou tirando fotos do calçadão durante o furacão Irene, achou as ondas fortes demais, mas permaneceu na praia. A polícia pediu a ela e a alguns amigos para cair fora e disseram que não era para surfar. Às 16h do domingo, 28 de outubro, o prefeito Michael Bloomberg ordenou a evacuação da Zona A, o que incluía o litoral de Lower Manhattan, Williamsburg, Red Hook, Staten Island e toda Rockaway. “A evacuação é obrigatória e para sua própria segurança.”, disse o prefeito. “Quem ficou foi por seu próprio risco. Cortez e seus vizinhos decidiram ficar com amigos, acampando num quarto do segundo andar de um prédio de ferro e tijolo do outro lado da rua: a reunião 63


Limparam Rockaway em sua maior parte, mas a região ainda precisa ser reconstruída

“A comunidade do surf não é bem-vista, mas, se não fosse por nós, muita gente teria morrido”

levou o nome de “festa do furacão”. Quando os ventos bateram, Stathis viu a tempestade em um bar da Flórida, para onde tinha ido com McClean a passeio. Sua mulher, Kathy, planejava ir depois de dois dias. Horas antes da tempestade, Kathy mandara um vídeo dela com a netinha, Charlotte. “Estamos aqui no grande e mau furacão Sandy”, disse ela, segurando o bebê na tela. No segundo andar da 91st Street, a animação era grande na festinha do furacão. Ninguém trabalharia no dia seguinte, então todos se divertiam, bebendo cerveja e vendo a previsão do tempo. Estava previsto que a tempestade chegaria na costa às 21h, mas às 17h30 o bicho estava

Michelle Cortez foi para Rockaway para surfar e fincou raízes no pico

O furacão Sandy foi o segundo maior em prejuízos na história dos EUA. Fica atrás apenas do Katrina. O Centro Nacional de Furacões estima perdas em cerca de US$ 50 bilhões

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“A primeira coisa que saiu de nossas bocas foi: ‘O calçadão sumiu’ ”

pegando. “Houve um momento de silêncio na festa”, lembra Michelle, “e logo depois todos foram para casa.” Ela decidiu dar uma olhada no cão em casa e, do lado de fora, a água estava batendo nas canelas. Isso foi algumas horas antes da maré alta, e a lua estava cheia. Ela correu para o outro lado da rua, e “em uns oito minutos” arrumou uma mala, desligou tudo da tomada e pegou o cachorro. Quando saiu pela varanda, a água estava nos seus quadris. “Foi nesse momento que me dei conta do erro. Algo de grande magnitude aconteceria”, ela disse. Um grupo de cerca de 15 pessoas passou a noite em um quarto cujas janelas batiam, mesmo tendo sido construídas para aguentar rajadas de 170 km/h. Uma hora alguém viu uma SUV boiando pela rua com três jovens dentro. Jimmy Dowd, proprietário de uma marca de artigos de surf chamada St. James, foi para cima e pegou três trajes de mergulho, então nadou na direção do veículo com dois amigos e os retirou pelo teto solar. A luz tinha acabado às 2h quando um transformador explodiu ao lado do prédio. the red bulletin

Cortez ficou mandando SMS para a mãe a cada dez minutos, até que o celular ficou sem bateria. Por volta dessa hora Stathis recebeu um SMS da mulher: “Nós vamos morrer”. Cortez varou a noite e, lá pelas 5h30, junto com um amigo, decidiu se arriscar e sair. Eles desceram as escadas e encontraram o saguão coberto com mais de meio metro de areia e o pátio coberto de vidro quebrado e sofás. A SUV abandonada estava presa na porta. “Nós saímos e a primeira coisa que saiu de nossa boca foi: ‘O calçadão sumiu’. Tem tantas coisas inacreditáveis que aconteceram, mas o calçadão desaparecer, aquilo foi, uh…”

S

e o calçadão representava Rockaway, então o Sandy se apropriou, metaforicamente, do lugar. O prejuízo estimado com o Sandy foi de mais de US$ 50 bilhões. A cidade de Nova York foi a região mais afetada e Rockaway estava entre os bairros mais castigados da cidade. Só nela

foram US$ 150 milhões em estragos. A Boarders foi inundada por 2 metros de água, mas a maré parou na porta da casa de Cortez. A maior parte dos 11 km construídos com madeira desapareceu, deixando um rastro de toras na praia. “É, o calçadão”, diz Stathis. “A alma da nossa comunidade era o calçadão, agora não temos mais calçadão.” Um pedaço do tamanho de um campo de futebol boiou pela 95th Street. Pedaços do corrimão do tamanho de um avião apareceram a 200 m. Essas foram algumas das primeiras imagens que Stathis viu quando voltou dois dias depois. Cortez as descreve como a chegada do Armagedom. Stathis diz que não é possível descrever aqueles fatos com palavras. “Você tinha que ter visto”, ele diz. Nenhuma ajuda do governo chegaria a Rockaway por quatro dias, porém no meio da manhã as pessoas saíram, explorando as ruínas e se ajudando. Os vizinhos se encontraram no calçadão transformado, fazendo escambo de suprimentos. Bases foram montadas na entrada da casa de Cortez e de outras pessoas, com listas contabilizando o que era necessário. Os vizinhos procuraram os mais velhos e aqueles com mobilidade reduzida levarado suprimentos. Alguns carregaram todos os tipos de mantimentos nas costas e foram de casa em casa. Dan Sullivan passou a manhã remando de lá para cá no bairro com a prancha, resgatando cães e gatos. “A comunidade do surf é malvista aqui na região”, ele diz, “mas, se não fosse por nós, muita gente estaria morta.” Sullivan ficou na esquina da Beach 92nd com a Holland Avenue enquanto seu primo quebrava madeiras em casa atrás dele. Sullivan, que é produtor e músico e que perdeu seu estúdio no desastre, foi com seu irmão distribuir geradores para casas que foram atingidas. Rockaway foi limpa na sua maior parte, mas não reconstruída. A maioria dos carros e casas destruídos, lares e o calçadão foram levados embora, deixando apenas indícios da tormenta: marcas da água, jardins sem grama, casas sem revestimento. O bairro aparenta limpeza de uma forma irritante e ostensiva. Como diz Sullivan, as reformas internas e externas estão acontecendo em cada rua, algumas por mutirões, outras por famílias, algumas pelos próprios proprietários sozinhos. As casas são remendadas com madeira compensada nova. Como a maioria dos moradores, Sullivan diz que a tão falada ajuda do governo federal ali foi nula, ou na melhor das hipóteses demorada. Cinco dias após 65


A fachada da Boarders, que ainda estava sem luz cinco meses após o furacão

o Sandy, ninguém tinha sinal de celular ou água na torneira. A Federal Emergency Management Agency (Fema) não foi lá até 8 de novembro e, seis semanas depois, a maioria dos residentes ainda estava sem luz e tinha um novo problema em casa: o mofo. A Fema finalmente ofereceria empréstimos ou subsídios aos proprietários, inquilinos, e negócios, mas eles disseram que o processo foi lento, confuso e no final das contas inútil. “Nós não recebemos nada aqui”, afirma Sullivan. “No mês passado, recebi US$ 2 mil do seguro contra enchente que custa US$ 1 800 ao ano e eu paguei por 20 anos. Mas, sabe, isso não importa. A comunidade se uniu e fez com que as coisas acontecessem.” Como não havia ruas ou transporte público, os primeiros voluntários chegaram em bicicletas com reboques cheios de suprimentos. Stathis reconheceu muitos como sendo os “hipsters” de Williamsburg que frequentaram sua loja no verão. “Eles pedalavam 25 ou 30 km, ajudavam todo o dia na limpeza e depois iam embora”, ele diz. “Nós vamos ter que chamá-los agora de ‘helpsters’.”

Chalet: nascia o caminhão-restaurante de Rockaway. Ainda estava com o logotipo do Swiss Chalet e, apropriadamente, a palavra FRESCO. Eles apoiaram então uma tábua no para-choque da frente e picharam: “ALÔ, ROCKAWAYS”, dizia, “CHEGUEM E COMAM”. A base de apoio de Cortez estava tão cheia que ela desapropriou um depósito e fez um centro de assistência completo com sopa, tenda de aquecimento e um esquadrão de voluntários. Cinco meses depois, a casa não é mais apenas o número 183 da Beach 96th Street, mas a Smallwater, uma organização sem fins lucrativos (com financiamento), liderada por Cortez. A ajuda às vítimas do furacão segue como foco principal, junto com a demanda pela remoção do mofo e demolições, mas os voluntários também oferecem oficinas e terapia gratuita para tratar o trauma. Há algumas quadras dali, o caminhãorestaurante de Rockaway ainda abre

Morador de Rockaway e surfista Paul Kadish

U

m desses helpsters era o integrante do Beastie Boys Mike D. Criado no Upper West Side, ele hoje vive no Brooklyn com a mulher e dois filhos e é conhecido por pegar umas ondas em Rockaway. No fim de semana após o Sandy, ele trabalhou como voluntário junto com o parceiro de surf Robert McKinley, criador do Surf Lodge de Montauk. Voluntários e suprimentos não paravam de chegar, mas refeições quentes eram raras. Com a ajuda de seu amigo surfista Sam Talbot, eles montaram uma base para assar frangos. As filas aumentaram, eles precisavam crescer. Dias depois, McKinley achou um caminhão da rede canadense Swiss 66

Steve Stathis com a surfista local Mary Leonard

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“O magnetismo dessa comunidade vem do oceano, e nós somos como peças de metal grudadas nele” cinco dias por semana e recentemente serviu a refeição número 20 mil. O menu único especial não mudou. Algumas quadras adiante, sentado em sua sacada, Dowd observa um mutirão de trabalho num trecho do semiacabado calçadão. “O magnetismo dessa comunidade é do oceano”, ele diz. “É uma força e nós somos como pedaços de metal grudados nele. Isso nos prende aqui.” Ali em frente, as furadeiras rangem. O vento sopra sobre um mar plano. “Não tem onda hoje”, diz Dowd, “mas parece que amanhã vai ser melhor.” www.nycgovparks.org/parks/rockawaybeach

Acompanhe os surfistas de Rockaway Beach lutando contra a devastação do Sandy na edição gratuita do Red Bulletin para tablet. the red bulletin

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BOMBA PROFUNDA C H E G A R A O F U N D O D A C AV E R N A MAIS PROFUNDA DO MUNDO É DEMORADO E PERIGOSO. U M H O M E M Q U E R u l t ra P A S S A R I S S O

foto adicional: STEPHEN ALVAREZ/ National Geographic Stock

POR: Daumantas Liekis  FOTOS: Artūras Artiušenka

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E

m uma manhã de tempo bom e bem iluminada logo cedo, uma mensagem de rádio ecoa pelo acampamento. “Chamando todas as estações, cheguem, por favor!” Cerca de 60 espeleologistas de uma dúzia de países estão instalados no local, na entrada da caverna Krubera nas montanhas do Cáucaso, no território de Abkhazia, na Geórgia. Num dia normal, especialistas em cavernas e cientistas famintos sentariam à mesa do café, conversando sobre os sonhos que tiveram à noite e o dia que teriam pela frente em inglês, russo, espanhol e árabe. Mas hoje não existe outro som que não o da chamada de emergência, repetido 70

Rastejando para baixo A caverna Krubera revela suas profundezas ocultas a contragosto. A descida, cheia de passagens estreitas, é muito difícil.


DESCENDO POR CORDAS OU A PÉ, ES CA L A N D O E E N G AT I N H A N D O, RASTEJANDO E MERGULHANDO, O S E S P E L E O L O G I S TA S AVA N Ç A M N A S PROFUNDEZAS, APROXIMANDO-SE DO CENTRO DA TERRA


por Vytautas Gudaitis, o coordenador de comunicação do acampamento, com um alarme cada vez mais forte. A grande cabana onde o café da manhã é servido está em farrapos no chão. As menores, onde são guardados os mantimentos, foram reduzidas a pedaços. Muitos homens tentam cobrir a cozinha de campanha com uma lona; outros penduram os sacos de dormir para secar. Muitos outros mais estão em volta de Gudaitis, com as mãos no rosto. O acampamento, a cerca de 2 200 m acima do nível do mar e a 60 km em linha reta do sudeste da cidade russa de Sochi, está em frangalhos. Uma tempestade de vento e chuva arrebentara na noite anterior, cortando toda a comunicação com os outros acampamentos da expedição, localizados no subterrâneo da caverna – a mais profunda do planeta. A chuva grossa faz com que os lagos subterrâneos subam e que as cascatas aumentem dentro da caverna. Naquele momento, ninguém no acampamento-base sabe se os colegas que desceram estão bem. Os acampamentos subterrâneos de provisões, único refúgio para o pessoal que desceu, provavelmente inundaram. Não é uma expedição comum: os acampamentos e o pessoal estão a mais de 2 mil m abaixo da superfície, como parte de uma tentativa de ir além de 2 191 m e estabelecer o recorde de maior excursão subterrânea de todos os tempos, rompendo limites até então desconhecidos. Descendo em cordas ou a pé, escalando ou engatinhando, arrastando-se e mergulhando, os espeleologistas, como os cientistas das cavernas são chamados, avançam para o fundo vagarosamente, chegando mais próximos do centro da Terra. Lá de baixo, Gudaitis recebe a mensagem tranquilizadora: “Tudo OK, a chuva só cortou temporariamente as comunicações.”

A

jornada até a entrada da caverna Krubera é árdua. Várias horas em caminhões passando por estradas precárias e cada vez mais estreitas até as colinas íngremes das montanhas do Cáucaso. No final do trajeto estão esperando os jumentos de Vano, um morador da região que trabalha como pastor no verão. Ele e seus animais transportam as toneladas de suprimentos e equipamentos para o acampamento-base. Nesse local, a abertura para a mais profunda caverna do mundo se revela discretamente entre arbustos e rochas, um buraco de 4 m por 1 m, a boca dissimulada de um monstro. A Krubera foi batizada em homenagem a Alexander Alexandrovich Kruber, um 72

Nas profundezas A entrada para a caverna Krubera é bem discreta, camuflada no meio das plantas e pedras

espeleologista russo que morreu 22 anos antes da descoberta da caverna por especialistas da Geórgia, em 1963. Olhando do alto, a sua área é de cerca de meio km², mas seu complexo sistema de túneis de pedra calcária, terraços, poços e condutos vulcânicos ziguezagueia por muitos quilômetros. Algumas passagens são tão estreitas e úmidas que a única forma de se atravessar é engatinhando. De vez em quando, um aventureiro andando de quatro encontra uma câmara do tamanho de uma catedral. Há cavernas e paisagens subterrâneas com pequenos lagos e cachoeiras; estas são bloqueadas por ‘reservatórios’, como alguns trechos de caverna cheios de água gelada são chamados. É a prova do fato de que a caverna tem profundidade de 2 191 m. O térreo fica pouco acima do nível do

Preparação Em termos de equi­ pamento e logística, explorar cavernas é quase o mesmo que montanhismo, só que na outra direção


Caverna com vista para o mar A Krubera é a mais profunda do mundo, indo desde um platô na Geórgia até um pouco acima do Mar Negro

KRUBERA 2 256 m

0 m 2 200 m –100 m 2 100 m –200 m 2 000 m

A Krubera, descoberta   nos anos 1960, já foi explorada até a profundidade   de 2 196 m – até agora.

Moldávia

–300 m 1 900 m

–340 m

–400 m 1 800 m –500 m

Ucrânia

1 700 m –600m

Russia

1 600 m

Romênia Bulgária

–700 m

–740 m

mar negro

1 500 m

Georgia

–800 m 1 400 m

Turquia

–900 m 1 300 m –1 000 m 1 200 m –1 100 m 1 100 m Mar negr0

–1 200 m

–1 200 m

1 000 m –1 300 m 900 m –1 400 m

Esse ponto está cerca   de 50 m acima do Mar   Negro, que fica a 13 km   dali. A marca foi alcançada em 10 de agosto de 2012.   Especialistas creem que pode haver ligação direta entre a caverna e o mar.

800 m –1 500 m 700 m –1 600 m 600 m –1 700 m 500 m

–1 710 m

400 m

ilustração: Sascha Bierl

A Torre Eiffel tem 324 m de altura

300 m –2 080 m

200 m 100 m

–2 196 m 0m

73


Mar Negro, vizinho da caverna, porém submerso. O propósito dessa expedição, comandada pelos ucranianos, é alcançar o fundo da caverna, atualmente mapeado num reservatório conhecido como Dva Kapitana (Dois Capitães). Os acampamentos são montados em intervalos da descida, com suas barracas, fogões e banheiros. Seus suprimentos são: comida e água, combustível e gás para cozinhar, cilindros de oxigênio para os mergulhadores, pilhas de lanternas e faróis, além de remédios. 74

A expedição anterior a essa teve sete acampamentos, sendo o último a uma profundidade de 1 960 m abaixo da entrada, numa jornada de dois dias. Nessa, tudo é fundamentado na exata organização que Yuri Kasyanov exerce sem piedade na superfície. Sem sua permissão como líder, descer sozinho para a caverna é proibido. Os grupos que ali trabalham – como biólogos que investigam a Krubera por novas formas de vida – precisam conversar com Kasyanov por um determinado período, explicando o

trabalho que fizeram e quaisquer problemas que possam ter tido. Apenas assim um dia é considerado encerrado. Sem uma exceção autorizada previamente por Kasyanov em pessoa, qualquer membro da expedição deve reportar seu retorno no mais tardar às 23h, não importando sua posição dentro ou fora da caverna, caso contrário a pessoa é considerada desaparecida, e uma equipe de resgate é acionada imediatamente. Kasyanov também organiza meticulosamente cada um dos grupos que desce. the red bulletin


GENNADIY SAMOKHIN QUEBROU O AT UA L R EC O R D E D E P R O F U N D I DA D E EM 2007 E QUASE PAGOU COM A VIDA: ELE TEVE UMA DESCOMPRESSÃO

Rumo ao fundo Descer os equipamentos para montar os campings nas profundezas é uma tarefa lenta e dolorosa

As Bashkir Honeys (Queridas de Bashkir) são delicadas mulheres da província russa de Bashkortostan, cerca de 1 000 km dali. As garotas conhecem as cavernas desde a infância e ficam mais confortáveis em cordas do que em terra firme. O Iron Fist (Punho de Ferro) é composto de experientes espeleologistas de vários países, que preparam a passagem para o solo submerso da caverna e carregam os equipamentos pesados para os outros mergulhadores. Um terceiro grupo, Os Lituanos, são experientes mergulhadores com um importante e específico papel: assistir Gennadiy Samokhin em sua tentativa de bater um novo recorde de profundidade.

S

amokhin está envolvido com a espeleologia há mais de 20 anos. O ucraniano, barbado e magro, vive na Crimeia e calcula passar cinco meses de cada ano debaixo da terra. Durante uma expedição de 2007 na Krubera, Gennadiy Samokhin quebrou

um recorde de profundidade. Ele se deslocou nos últimos metros submerso, no reservatório Dva Kapitana, e quase pagou por isso com a vida. Para sair do reservatório, ele teve que se apertar por entre três passagens estreitas. Na última, seu traje de mergulho rasgou e uma água congelante entrou em contato direto com seu corpo. Para evitar a hipotermia, ele teve que sair da água bem rápido – o suficiente para dispersar o nitrogênio que acumulara no corpo durante o mergulho. Ressurgiu na superfície do reservatório mais de meia hora antes do previsto, sofrendo de problemas sérios na visão por causa da descompressão, com pequenas bolhas de nitrogênio entupindo as capilares do cérebro e dos olhos. Samokhin acha que cavernas são inspiradoras. Usa cada minuto que tem na superfície para procurar novas e fazer questionamentos sobre topografias. Ele só fala sobre isso. No entanto, quebrar o recorde de profundidade vem por último entre suas prioridades. Ele prefere 75


considerar a complexidade da tarefa porque sabe que, para a descida, precisa de uma equipe experiente e confiável. Sabe também que precisa ter calma. Ele entra na Krubera apenas quando a passagem está preparada até quase o fim. Nada na aventura o preocupa. “O medo é apenas uma premonição da morte”, diz Samokhin à mesa de jantar, na véspera de sua tentativa de quebrar o recorde. Para aqueles que não vivem grande parte da vida debaixo da terra, a entrada da caverna pode ser intimidadora. Quanto mais próximo você chega, mais sente a umidade e o frio que vazam daquele buraco para o inferno. Tem um vácuo. A escuridão às vezes engole a claridade de uma lanterna. A Krubera começa como um brusco abismo. Seus dutos vulcânicos, poços e cavernas de rochas afiadas são hostis. Pessoas não são bem-vindas. Metro por metro, corda por corda, tudo fica mais frio e congelante. A luz do sol acena brevemente na bruma sobre a cabeça e depois vem a escuridão. Depois de uma pausa para se aclimatar na profundidade de cerca de 250 m, o primeiro gargalo estreito então acaba em uma câmara ampla com teto alto. Emil Vash, um dos espeleologistas, conta como se diverte ao entrar nesse mundo oculto. “Todas as vezes em que eu vou caverna adentro me sinto como se estivesse chegando em casa”, diz. “O sofrimento desaparece, os problemas desaparecem, posso relaxar.” Pensar positivo pode ser uma precaução: a caverna se vinga dos que falam mal dela, dizem os espeleologistas, e falam sério. Eles honestamente acreditam que a caverna pode puni-los se deixam o lixo para trás, ou quebram um pedaço grande de rocha. “Sentir respeito e até um pouco de medo não é tão ruim”, diz o chefe do grupo Os Lituanos Aida Gudaitis. “A menos que o medo se transforme em pânico, é uma distância saudável entre a boa razão e decisões idiotas.”

Aos 700 m de profundidade, Alexei adoece. Provavelmente indisposição estomacal. Ele diz que se sente mal, faz as necessidades constantemente. Seria água contaminada? Má notícia de Yuri Kasyanov: o malestar de Alexei atrapalha o fluxo de transporte de suprimentos na caverna. 1 400 m: Else está doente. Pode ser tristeza. Deitada em seu saco de dormir, ela chora sem parar. Else é membro das Bashkir Honeys e veio à expedição acompanhando o

namorado. Antes de descer à caverna, ela secretamente leu os SMS do seu celular e acabou descobrindo que ele a traiu. Else agora está deprimida e se recusa a sair do acampamento. 1 600 m: Aida Gudaitis sofre de infecções no ouvido e na bexiga. Kasyanov ordena que ele volte, mas ele se nega. Ele deveria levar o grupo para o reservatório Dva Kapitana. Com uma infecção no ouvido, mergulhar está fora de questão, mas o ambicioso Gudaitis ignora todos os avisos e prossegue na descida.

Longa estrada As várias mochilas impermeáveis impedem uma descida mais rápida dos aventureiros

Q

uanto maior o avanço para o interior da caverna, mais monótona se torna a rotina. Material, cordas de salvamento, conferir e consertar equipamentos; comer, beber, dormir. Dia e noite, o raiar e o pôr do sol, chuva e tempo bom – tudo isso só existe nas mensagens de Yuri Kasyanov. Quanto mais uma equipe está dentro da terra, aglomerada em volta de fogões a gás e aquecedores, mais querem receber suas mensagens da superfície. Em contraste, as mensagens de rádio para fora são curtas e cortadas, como mensagens corporativas direto dos intestinos da Terra. 76

the red bulletin


Alegria no buraco No momento em que Gennadiy Samokhin estabelece o novo recorde mundial, ele está submerso numa área inundada na escuridão a 2196 m de profundidade

N A TA R D E D O D I A S EG U I N T E À T E M P ESTA D E , O U T R A M E N SAG E M CHEGA PELO RÁDIO: “QUEBRAMOS O R E C O R D E M U N D I A L ! A C AV E R N A TEM 5 M A MAIS DE PROFUNDIDADE”

1 960 m: Acampamento Rebus, o mais profundo do mundo. Semana três da expedição e Gennadiy Samokhin está pronto para tentar quebrar o recorde. A equipe está muito animada, ainda que ninguém saiba se o tempo vai melhorar. À noite, debaixo da terra, eles podem escutar como a água que sobe “ronca” no reservatório. Mesmo os mais corajosos estão angustiados. Mais tarde no dia após a tempestade, outra mensagem de rádio chega à superfície: “Quebramos o recorde! A caverna é 5 m mais funda”. Alguns the red bulletin

membros do grupo, tanto acima quanto abaixo da terra, esperavam que Samokhin estendesse ainda mais o recorde, mas ele já arriscou a vida pelos 5 m. Para evitar uma repetição dos problemas que se mostraram quase fatais em 2007, ele usou uma solução gasosa diferente. Dessa vez, o mergulho através da passagem no reservatório foi um malabarismo. Samokhin deixou tanques vazios para trás. Curvas e pedras o atrasaram. A pressão no seu cilindro marcou 1% de oxigênio restante. Quando reemergiu, o computador de mergulho confirmou a profundidade de 2 196 m. Samokhin acredita piamente que pode ir além, que ainda não atingiu o fundo da Krubera.

Ele disse à imprensa da Ucrânia que o reservatório Dva Kapitana poderia ter 16 km e que acabava no Mar Negro. Mas como o reservatório é de apenas 100 cm por 60 cm, com pouca inclinação, avançar 40 m significa apenas 5 m em profundidade. Da próxima vez, Samokhin quer usar um rebreather, que captura o ar expirado e coloca oxigênio novo nele. Usando este método, os mergulhos podem ser estendidos de 30 minutos para muitas horas. Ele pode inclusive procurar outro lugar para quebrar seu recorde. Se Samokhin encontrar outra entrada para a Krubera, ele poderá também achar um ponto melhor para ir mais fundo. Ele nunca irá parar de tentar. 77


Thomas Dold

Pisando firme O mais bem-sucedido corredor de escadas pensa como um monge, jura pelas bananas e explica por que você não deveria mais usar o elevador Por : Andreas Rottenschlager

Cresci em Steinach, uma aldeia de 3 mil pessoas na região da Floresta Negra, na Alemanha. Integrei o time nacional de corrida em montanha quando tinha 17 anos. Aos 19, estreei na corrida de escadas na Donauturm [Torre do Danúbio] em Viena. A maioria dos corredores de montanhas não lida bem com escadas, mas comigo sempre foi diferente: quanto mais degraus, melhor. Mais de 1 milhão de pessoas podem te apoiar quando você corre a maratona, mas correndo nas montanhas você aproveita a natureza. O fascinante nas escadas é o minimalismo. Não tem vento contrário. Não tem chuva. Nem calor. Você pode esquecer todas as desculpas. O batimento cardíaco é alto. O sangue corre para as pernas. Quando chega o fim, você está vazio e esqueceu de tudo. É como se alguém tivesse feito um reset no seu cérebro. Eu admiro os monges Shaolin. Não vestem roupinhas nem dirigem carros. Apenas o essencial conta. Se você diz para um Shaolin: “Este exercício não funciona”, ele vai retrucar dizendo: “Por princípio, tudo funciona”. As pessoas já pensaram que era impossível amassar barras de ferro na cabeça como fazem os Shaolin. As pessoas também dizem que subir escada é muito esforço. Conheço banqueiros do Goldman Sachs em Frankfurt que trabalham entre o 50º e o 60º andares e descem a pé até o térreo para pegar suas pizzas. São uns 200 m de altitude. Qualquer um que não beba uma garrafa de vodca ou fume dois maços de cigarro por dia pode subir escadas. Faça disso um jogo. Aposte quem será o primeiro a subir mais de 50 lances de escada durante a semana. Faça uma lista no escritório e desafie seus colegas. 78

Fotos : Alexander Schneider

Em 2004, terminei a corrida da Donauturm apenas 0,695 segundo atrás do vencedor, Markus Zahlbruckner. Ele ganhou uma viagem para Nova York. Eu levei um caminhão de brinquedos e chocolates. Em ocasiões como essas é que você vê como o diabo está nos detalhes. Sou muito econômico. Custos, tempo e recursos é só o que conta para mim. Em casa, eu me exercito do jeito mais fácil:

“Pular dois degraus por vez é como fazer um avião decolar” da poltrona à geladeira. Quando viajo, minhas malas estão sempre um passo à minha frente na escada para que eu possa chegar mais rápido até o topo. Na Taipei 101 Run-Up de Taiwan, você pode ganhar mais de US$ 6 mil como prêmio. Sem as taxas e mesmo se o câmbio for ruim, ainda sobram uns US$ 3 mil. Então, basicamente, os custos da viagem

consomem todos os rendimentos e eu não ganho praticamente nada. O que significa que, mesmo quando você é o melhor, precisa ter um outro emprego por fora. [Dold trabalha como gestor de atletas.] Eu venci a Run-Up do Empire State Building sete vezes seguidas. Se Usain Bolt corresse contra mim, a corrida seria provavelmente dele até o 20º andar. [O prédio tem 86 lances de escada.] Ou ele perderia o fôlego ou se atrapalharia com as escadas. Bolt tem uma frequência de passos incrível. O problema com a corrida nas escadas é que você não pode colocar o pé em qualquer lugar. A largura da sua passada tem que ser sempre igual, mesmo quando você está completamente exausto. Antes da corrida, como musli com água e bananas. Após a corrida, eu bebo suco de laranja e mel para evitar as tosses que você pode pegar no ar seco. Minha fórmula para escadas é de “dois em dois”. Se você sobe um por um, corre em ritmo picotado. Se pula cada três, o movimento é muito pesado. Mas, se você sobe dois de cada, é como fazer um avião decolar. Quando eu treino, escuto house music com cerca de 130 batidas por minuto. Vamos dizer que eu não sou muito fã de rockzinhos. Durante a competição, eu não exponho meus ouvidos ao barulho. Se eu tivesse um MP3 player no braço, isso seria mais 20 g de peso. Alcancei tudo o que queria realizar. Em 2013, estou mais seletivo com as competições que escolho. Em fevereiro, venci a corrida no mais alto edifício do Catar: 1 304 degraus em 6 minutos e 32 segundos. O que definitivamente não faço é viajar para seja onde for para chegar em segundo lugar. Meu lema é: “Vencer todos”. www.thomasdold.com the red bulletin


Em paralelo à vida de corredor, Thomas Dold é consultor de marketing

Nascimento: 10 de setembro de 1984, em Wolfach, Alemanha Altura/peso: 1,78 m / 71 kg Subidas: Quatro vezes campeão da Copa do Mundo de Tower Running; sete vezes campeão da Empire State Building Run-Up; sete vezes vencedor da Sky Run Berlin


Ryan Doyle, campeão de freerunner, rompeu horizontes em seu esporte ao fazer um circuito pelas maravilhas do mundo. Em vez de turismo, subiu onde pôde e fez o que sabe melhor: saltar. Das favelas cariocas ao Coliseu, confira em primeira mão como foi essa aventura Fotos: Sebastian Marko

entrevista: Ruth Morgan

TOUR DO


1/ china Monges Shaolin, aranhas como petisco e saltos no melhor estilo Jackie Chan Como capital mundial das artes marciais, a China influenciou muito a mim e ao parkour. A censura na internet dificulta dizer quantos freerunners estão em atividade por aqui; quando ouvi dizer que eram vários, resolvi con­ferir. Logo da primeira vez que fomos, perdemos o nosso equipamento, choveu, e para completar tive uma infecção na perna que me fez parar no hospital. A segunda vez foi ótima. Após um voo de 14 horas até Beijing, partimos para mais quatro horas de carro até a Muralha. Sempre sonhei em dar saltos mortais de costas naquele lugar, então foi o que fiz primeiro. Depois, em um jardim chinês tradicional, tive a honra de treinar com um monge Shaolin, mestre do kung fu. Ele me ensinou diversas posições e movimentos e depois me apresentou a um par de nunchakus. Tentei fazer alguma coisa com eles, mas foi horrível. Estar na China me fez pensar em grandes mestres das artes marciais. Então, com quatro atletas do parkour da cidade, organizamos uma sequência de ação tipo Jackie Chan para a câmera. O nível de parkour da galera era muito bom e foi bem divertido. A variedade de comida no mercado noturno de Beijing era uma beleza: orelha de porco cozida, bebês cobras grelhados, centopeias assadas, tarântulas fritas. Eu comi uma tarântula e... adivinha? O gosto é igualzinho ao de galinha.

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O DIÁRIO DE DOYLE Desenhos e pensamentos do dia a dia de um freerunner Eu tenho a sorte de o parkour me dar a chance de fazer viagens incríveis. Quando viajo, sempre faço um diário. Uso para registrar ideias da hora H, coisas que quero dizer ou pesquisar e aprender sobre os lugares por que passo. Escrevo elementos de um conceito cultural que eu não entendo plena­mente, então posso voltar a eles com mais tempo. Tem muita coisa pessoal: desenhos para eu me lembrar de movimentos ou cenas até pensamentos e observações que podem não fazer sentido para mais ninguém. Poderia colocar isso no telefone ou no laptop, mas eu gosto de ter todos esses pensamentos e lembranças em uma coisa palpável como o papel.

2/ JORDÂNIA Lá onde o Indiana Jones fez sua Última Cruzada, o parkour é de primeira O deserto proporciona uma queda bastante macia. No concreto você não pode ir muito alto, já na areia eu pude ficar bem mais tempo no ar para fazer alguns giros além de grandes saltos. Petra tem trechos protegidos do vento e outros completamente erodidos. A cidade tem mais de 2 mil anos e até a década de 1980 as pessoas viviam em cavernas. Nosso guia nasceu em uma delas.


3/ índia Espalhando a palavra do parkour em uma terra de choques culturais Aqui, fiquei impressionado o quanto o parkour pode me fazer sentir com­ pletamente confortável em um lugar estranho. Assim que subi nos telhados, comecei a saltar. Me senti totalmente em casa porque, em outros aspectos, a Índia é um lugar louco, um país muito novo para mim. Em Délhi, tudo é muito frenético e acelerado, aí você viaja por algumas horas para o sul em direção a Agra. Por lá, comi um curry no café da manhã e adorei. Talvez eu vá começar a fazer isso em casa também. E eu não poderia deixar a Índia sem tentar uma coreografia tipo Bollywood. Fiz uma aula com quatro dançarinas de apoio e meu instrutor de dança: agora ele quer visitar Liverpool para eu ensiná-lo a fazer parkour. the red bulletin

Tem alguns vídeos online de freerunners indianos bem treinados, mas, con­ siderada a população, não é um grande movimento. Acho que isso pode estar ligado ao número de pessoas que têm acesso regular à internet, porque essa é a principal forma de divulgação do esporte, um fenômeno mundial. A visita ao Taj Mahal é algo que nunca esquecerei. É de cair o queixo. O que impressiona é ele estar situado em uma região tão pobre, demonstrando a enorme diferença entre ricos e pobres na Índia. É impressionante ver crianças muito pobres brincando perto de algo tão grandioso. Eu fui constantemente surpreendido na Índia, o que se deu muitas vezes por causa da minha ignorância. Fui embora de lá com uma nova interpretação de muitas coisas.

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4/ ITÁLIA fotos adicionais: predrag vuckovic/red bull content pool (2)

O que os romanos fizeram pelo parkour: construíram o primeiro e melhor lugar pra ele Eu tento desenhar em minhas viagens, sendo que gostei de fazer isso especialmente em Roma com o Coliseu, que poderia ter sido projetado tendo o parkour em mente. Infelizmente, é tão antigo que não é permitido realizar saltos nele. Então, fiz isso na cidade. Quando pratico freerunning em lugares diferentes, meu estilo evolui e muda de acordo com o que tenho em volta. Levo para casa coisas diferentes de cada lugar que vou. Existem muitas oportunidades na arquitetura italiana, novas formas de subir em prédios e pular de um para outro. Enquanto estive lá, tenho certeza que desenvolvi um estilo de parkour italiano; amei brincar naquela cidade. Conheci um atleta italiano do esporte. Ele trabalha como bioquímico à noite e pratica o parkour como hobby para manter a forma e para escapar da realidade no centro de Roma. Ele me relembrou de que o parkour não é apenas uma questão de ir do ponto A ao B, mas também sobre estabelecer objetivos e cumpri-los. Melhorar o seu raciocínio dessa maneira pode ajudar em outras áreas da vida. Enquanto atravessa uma cidade, ou tenta uma vaga de emprego, o que você precisa é descobrir a mais eficiente maneira de fazê-lo.

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5/ brasil Da praia ao centro da cidade até a favela: saltando em todo lugar Fazer parkour na praia de Copacabana, no Rio, foi incrível. Para todo lugar que você olha há cenas marcantes: até a própria praia e a vista das montanhas saindo de dentro da água... Com o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor vendo tudo... Mas a primeira coisa da qual me lembro no Rio de Janeiro foi a incrível massagem que recebi por lá: realmente, estava precisando de uma daquelas. Tem um time forte de freerunners no centro do Rio. Eles nos levam aos melhores lugares da cidade, sendo o mais memorável para mim assistir uma roda de capoeira em uma favela. A capoeira, a arte marcial brasileira, teve grande influência em mim e meu estilo de parkour: foi quando tudo começou. Nunca pensei que um dia eu iria treinar capoeira com os mestres bem no coração da favela. Estava nervoso de ir para lá porque todo mundo falou que era perigoso, mas os caras do parkour nos levaram debaixo de suas asas e fizemos uma festa. O pai de um dos integrantes fez um churrasco numa noite com uns dez tipos diferentes de carne. Fizemos um verdadeiro baile – muita bebida, DJ... Não é uma coisa que turistas fazem facilmente, então foi muito bom.

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6/ MÉXICO O fim do mundo? Nem tanto. Mas um ferimento quase acabou com a viagem O México possui uma próspera cena de parkour, então tenho vários amigos lá de viagens anteriores, mas nunca tinha estado em Chichén Itzá, antiga cidade maia: é uma obra-prima. A única parte ruim do passeio foram os ferimentos que tive no primeiro dia. Um dos primeiros movimentos que tentei fazer foi no mercado. Eu vi uma barra de metal com a qual queria realizar uma manobra, subi nela mas ela estava pegando sol o dia inteiro. Minha mão quase foi marcada a ferro quando me pendurei e balancei, arrancando um bom pedaço de pele da minha palma. Tive que usar uma munhequeira como curativo. Mais tarde, no mesmo dia, torci meu tornozelo treinando com alguns locais. No decorrer dos outros dias, entretanto, consegui algumas boas sessões de freerunning. Estava especialmente feliz de voltar ao México em 2012. Sempre me interessei pelo Calendário Maia e as previsões sobre o fim do mundo. Vi toda a mercantilização da “profecia 2012” e não pude deixar de pensar que, se ainda estivéssemos aqui em 2013, teria sido tudo por nada. A primeira vez que ouvi sobre a profecia eu tinha 14 anos e me lembro de ter pensado que eu deveria tentar e experimentar tudo antes do fim de 2012, caso o mundo terminasse. Acho que está tudo bem até agora, não?

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7/ peru Antigas maravilhas são perfeitas para um esporte moderno Foram dois aviões e três horas de trem além de dois ônibus para chegar ao nosso hotel: dois dias intei­ ros. Mas valeu a pena. Machu Picchu, a cida­ de perdida dos Incas, estava deserta quando foi descoberta e ainda ninguém sabe por quê. A cidade é misteriosa e maravilhosa. Ela fica a 2 430 metros acima do nível do mar e, ainda que não tenha passado mal com a altitude, é muito difícil praticar parkour com tão pouco oxigênio – isso sim é legal! Você sente mesmo. A natu­ reza irregular das pe­ dras antigas significa que eu não corria no plano, como normal­ mente, então é um elemento diferente. Tinha que olhar onde estava pisando. Muito do solo é sagra­ do e eu não queria causar nenhum dano. Mas encontrei o lugar perfeito para fazer o movimento que chamei de kong gainer, um dos mais perigosos no parkour. Você pre­ cisa mudar de direção três vezes e, se não escolher sabiamente a posição, tem grande chance de se machu­ car. O melhor lugar do mundo para fazer esse movimento é numa pedra inca bem grande no Peru.

Veja o freerunning de Ryan Doyle pelo mundo na versão para tablet da Red Bulletin. Baixe agora de graça. the red bulletin

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Seus artistas favoritos compartilham playlists pessoais em rbmaradio.com

A melhor seleção musical da web.


Aonde ir e o que fazer

Raquetadas: como Dany Torres, campeão do Red Bull X-Fighters, treina seus reflexos EM FORMA, página 91

aç ão ! V I AG EM / EQ U I PA M ENTO / TR EI N O / M Ú S I CA / FESTAS / C I DA D ES / BA L A DAS

Punhos de ferro

A injeção de adrenalina que é conquistar um paredão de pedra de 20 metros só com a ajuda da própria força Fotos: mauritius images, shutterstock

MALAS PRONTAS, na página seguinte

Não se usam cordas na escalada solo sobre águas profundas

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ação !

malas prontas Hora de mergulhar: depois de escalar sobre o mar sem corda, só tem um jeito de descer

não fique de bobeira Dê um giro em Split

Experimente os pescados Depois de nadar com os peixes, vá jantá-los. O sofisticado Nostromo fica ao lado do mercado pesqueiro de Split. Ou opte pelo mais rústico e popular Konoba Matejuska.

Altos e baixos ESCALADAS SOBRE A ÁGUA Uma aventura na Croácia sem apoio nem proteção, apenas com as próprias mãos na pedra molhada – e, no fim, um pulo no Mar Adriático Tem um motivo os espanhóis chamarem a escalada solo em águas profundas de “psicobloc” ou “boulder psicótico”: é o tipo de escalada que conta com boas alturas e uma abordagem minimalista para equipamentos. Esqueça os clips, cordas e capacetes: a única ajuda é uma mão cheia de gesso. É homem versus pedra e um pulo obrigatório no mar. Com mil ilhas de formações íngremes, a Croácia é uma plataforma ideal tanto para alpinistas novatos quanto experientes, mas cautela é palavra de ordem. “Qualquer escalada acima de 10 metros é potencialmente fatal”, diz o instrutor Daniel Piccini. “A segurança é uma grande preocupação. Essa é uma experiência totalmente diferente, mesmo para um profissional. Para encarar é preciso se adaptar.” O inglês Gary Duke, de 31 anos, escalou com Piccini em Split, a segunda maior cidade croata. “É diferente de qualquer coisa que eu já fiz, é adrenalina pura”, diz. “Escalo há três anos. Mas aqui não tem a distração de colocar os clips e as cordas, então você se concentra só na escalada. É pura liberdade.” “Subi até 17 metros sabendo que pular era a única forma de descer. Foi assustador, mas é a cereja do bolo. Foi a melhor escalada que já fiz.” Escale com a Avantura Adventures: www.avantura.biz

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Festa na praia Conheça as modas de Split nas areias brancas da praia de Kasuni. Relaxe de dia e caia na balada praiana Jungla, uma das tops do lugar.

Fique atento Vá com um profissa!

“Sempre leve um guia”, diz Duke. “Eles conhecem a área e as marés e podem garantir que você não vá se meter em uma roubada. Tem sempre um barco de apoio para ajudar. E não olhe para baixo!”

Hora de descer “A primeira coisa é praticar o pulo”

“Pode ser difícil”, diz Piccini, “ e a queda é perigosa. Os alpinistas precisam estar acostumados com isso. Escalar até uma ponta da pedra o mais próximo d’água é a maneira mais segura. Quando se acostumar com isso, pode se concentrar na escalada e ir mais alto.”

www.resident advisor.net

Sobe mais Se suas pernas aguentarem, escale os 200 degraus da torre do sino (foto ao lado) de Split, que tem 63 metros e fica na Catedral de Saint Domnius. De lá você pode ver a pedra que acabou de escalar. www.inyour pocket.com

the red bulletin

texto: ruth morgan. fotos: ricardo alves/red bull content pool, mauritius images, getty images, shutterstock, istock photo

www.konoba matejuska.hr


ação!

Em Forma

O céu é o limite

Texto: Ruth Morgan. fotos: naim chidiac/red bull content pool, dan busta/red bull content pool, shutterstock. ilustraÇÃo: heri irawan

Red Bull X-Fighters Dany Torres decola com sua moto, faz o Paris Hilton flip e não consegue ser sério

Dany Torres voa para o primeiro lugar na etapa de Dubai do Red Bull X-Fighters World Tour de 2013

O piloto de motocross Dany Torres foi campeão do Red Bull X-Fighters World Tour em 2011. Ele voa com sua moto desde 2002.

Dany Torres tem uma tatuagem que diz “onde alguns sentem medo eu me divirto”. No transcorrer da sua carreira no FMX, ele sofreu lesões sérias nas mãos e pernas, mas a verdade sobre o assunto está marcada à tinta na pele. “Meu lema é ‘curta o que você faz’”, diz. Ele aplica essa filosofia ao regime de treinos. “Quero passar o máximo possível da minha vida em duas rodas, de BMX, motocross e mountain bike.” Duas vezes por semana, três horas por dia, Torres pratica manobras como o Paris Hilton flip – um backflip com suas pernas em posição oblíqua ao guidão da moto. Esse é um cara que você não vê numa academia comum: “Eu nem uso os pesos que eu tenho”, admite Torres, que prefere manter a flexibilidade com exercícios de alongamento e reforço para as costas e pernas. www.redbullxfighters.com

P A R A FA Z E R E M C A S A “Corpo contorcido na moto e impactos na queda: tudo isso tem um efeito nas costas”, diz Torres. “Estes quatro exercícios – faça 10 séries de cada – ajudam a melhorar a resistência da região lombar.”

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Deite com as coxas em uma bola de plástico, apoie as mãos no chão, fique com as costas retas e levante cada uma das pernas alternadamente.

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Suba ambas as pernas simultaneamente e as abaixe de novo. Elas não devem tocar o chão nem subir muito alto.

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R A Q U ETA D AS Alguém quer bater uma bolinha?

Acredite: ele joga padel

“O padel tênis”, diz Torres, “é uma mistura entre o tênis e o squash, muito popular na Espanha e em alguns países da América do Sul. É dinâmico e aprimora o reflexo e a flexibilidade. O padel me mantém em forma.”

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Com os dedos dos pés no chão, coloque as mãos atrás das costas e, depois, levante o tórax devagar e sem perder a postura.

Deitado na bola, levante o braço direito e depois a perna esquerda, depois o braço esquerdo e a perna direita – mantenha o alongamento por 3s.

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ação!

equipamento

Bem na praia Na hora de encarar o sol e o mar, algumas coisas não podem ficar de fora da mala

WALDEN MINI MEGA Em vez de usar um longboard, experimente uma Mini Mega. Pequena, larga e bolachuda, ela é a tendência no surf atual. Essa prancha 7’6” é a cara de ondas divertidas e seu desenho ajuda nas manobras, quase como uma pranchinha, enquanto sua largura e grossura dão muita estabilidade e flutuação. Os surfistas menos experientes vão gostar dela, afinal toda sua configuração ajuda a ficar em pé com facilidade. US$ 915 1

www.waldensurfboards.com

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CLÁSSICO DA VANS Os primeiros Vans Authentics foram lançados em 1966 e não mudaram muito desde então. São simples e bem estilosos, além de confortáveis. Merece atenção, pois seu design foi um trabalho artístico dos anos 1980 da lenda do skate – e artista – Neil Blender. US$ 45 2

www.vans.com

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ESCOLHA DO EDITOR Nixon LODOWN

O LoDown vem préprogramado com dados sobre as condições de surf em 200 picos ao redor do mundo. A pulseira de poliuretano fixa muito bem e evita surpresas. US$ 125  www.nixonnow.com

HANDPLANES Essas nadadeiras, chamadas de handplanes, ajudam você a pegar jacarés na praia com altíssimo nível. A marca Enjoy fabrica handplanes a mão, com material reaproveitado de pranchas quebradas. Já as faixas que fixam a mão são recicladas a partir de trajes de mergulho usados. US$ 155 4

TEXTO: MArk Anders. fotos: dimitri newman

www.enjoyhandplanes.com

CHINELÃO Quer aquele chinelo bacanudo? Todo mundo tem um monte, mas por que não ter aquele campeão? A Mush faz uns bem resistentes e confortáveis. Rapidamente a sola se molda ao formato do pé e deixa tudo mais cômodo. As tiras costuradas impedem que ele escape do dedo e – com apenas 200 gramas o par – são muito leves. US$ 25 6

www.teva.com

3 BERMUDA HURLEY De malha de poliéster elástico superleve, a Phantom Fuse 2.0 tem costuras vedadas que reduzem o atrito. Além disso, o tecido cortado a laser em torno da cintura dá a solidez que mantém a vida útil da bermuda mesmo com um surf violento. US$ 125 www.hurley.com

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5 ÓCULOS RAY-BAN O Wayfarer é um ícone. Desde 1956, quando o primeiro par de óculos escuros foi às ruas, nenhum outro conseguiu ser sinônimo de estilo de praia como ele. Além das lentes polarizadas que cortam a claridade da água, esse par é feito com plástico leve e resistente. US$ 186 www.ray-ban.com

PÉ DE PATO Seja para bodyboard, jacaré ou só para uma nadada, um pé de pato sempre é divertido. Enquanto muitos equipamentos torturam os pés devido à borracha dura, os DaFin são os mais confortáveis que já testamos, com revestimento de borracha suave e flexível e as pás feitas de borracha mais dura e firme, o que dá potência nas pernadas. US$ 62 7

www.dafin.com

Com este relógio, dá para ficar de olho nas ondulações e na maré enquanto você surfa. 93


ação!

festa

Belas performers: as dançarinas do Dante’s são um show à parte

H OR A D O SHOW A s mel h ores bandas de P or t land

Shins Depois de dar o fora do Deserto de Albuquerque, no estado do Novo México, os queri­ dinhos do rock alternativo encon­ tram seu lar doce lar em Portland, lançando álbuns como Wincing the Night Away. www.theshins.com

PORTLAND, EUA A Dante’s pega fogo nas noites de domingo, conhecidas como Sinferno Cospe-fogo? Confere. Go-go dancers? Confere. Karaokê com banda ao vivo? Confere. Os eclé­ ticos oferecimentos do clube Dante’s, em Portland, têm tudo isso e mais um pouco: como um line-up de música ao vivo diver­ sificado que inclui rock, bandas de metais de Nova Orleans, reggae e bandas cover de Pink Floyd. “Nas noites de domingo fazemos a Sinferno, uma festa bur­lesca ou de cabaré, e eu acredito que a casa por aqui faz igual”, diz Stephen Santoro, coproprietário e gerente-geral. Se nada disso for suficiente, um dos performers habituais do lugar é Nik Sin, um pequenino artista conhecido como Mini Marilyn Manson. Dante’s 350 West Burnside Street Portland, Oregon, 97209, EUA www.danteslive.com

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A vida é um cabaré: as apresentações vão de cuspidores de fogo a ventríloquos

Jeans e bigodes Dono do Dante’s, Stephen Santoro fala de sua balada

O PÚBLICO “Portland se tornou uma cidade hipster, então não importa qual é o show, sempre vemos muitos magrinhos cabeludos, com bigodes exóticos e jeans apertados.” OS DRINQUES “Tento manter o preço baixo, já que odeio ir ao hotel vizinho e pagar US$ 10 por uma vodca.” A COMIDA “Sempre tivemos nosso próprio forno para pizzas tipo Nova York. Abrimos às 11h todos os dias, então tem muita gente que vem, senta e come um pedaço da redonda no almoço.”

Sleater-Kinney Sim, sim, elas são originalmente de Olympia, em Washington, mas a estética de banda de Carrie Brownstein define bem o espírito de Portland. www.ifc.com/shows/ portlandia

Decemberists A banda indie de folk rock brilhou em seus shows teatrais em pubs de Portland, e lançou seu pri­ meiro álbum pela gravadora local, a Hush Records. www.decemberists. com

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texto: ann donahue. fotos: KRISTOPHER ENGWALL (5), Annie Beedy, Autumn Dewilde, Subpop.com

Quer ferver?


Ação!

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“Molho de alho e ervas, temperado, sem cebola” Berlim Bares para os bravos, lojas para quem odeia compras, kebabs para uma boquinha: Gernot Bronsert, do duo eletrônico Modeselektor, dá suas dicas da cidade Berlim é a capital mundial da música eletrônica, e um dos grupos que reina por lá é o duo Modeselektor. Gernot Bronsert e Sebastian Szary vivem a vida noturna desde o final dos anos 1990, dando forma à cena underground da cidade em que nasceram com shows e sets repletos de graves impiedosos e com fãs como Björk e Thom Yorke, do Radiohead. Um novo documentário, We Are Modeselektor, conta a história deles. “A cidade tem papel fundamental no filme”, diz Bronsert, que, quando não está girando o mundo com sua música, gosta de passar cada segundo que tem em Berlim. Confira suas dicas ao lado:

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Nascido e criado em Berlim: Gernot Bronsert, de 34 anos, é músico, DJ e dono de uma gravadora

www.modeselektor.com

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SOBRE BERLIM COMO VER A CIDADE DE CIMA

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Top cinco Minhas dicas berlinenses

Schlesischer Busch

Do pequeno Aeroporto de Strausberg, no leste da cidade, partem voos de uma hora sobre Berlim e Brandemburgo em um avião Cessna 172, que levam até três pessoas. Peça para ficar sentado na janelinha. www.aeroworx.de

um paraíso do tecno ao dub. Trabalhei por anos nesse balcão. Posso afirmar que essa loja realmente influenciou meu gosto.

ESCALADA

1 Civilist

Brunnenstraße 13 Compro quase todas as roupas aqui. É perfeito para caras que não querem perder tempo. Uma loja pequena tocada por jovens skatistas que amam arte.

4 Il Casolare

Grimmstraße 30 Um restaurante italiano no bairro de Kreuzberg, administrado por punks comunistas. Os garçons são extraordinariamente antipáticos e usam piercings nas orelhas assim como dreads. Mas, além das ótimas pizzas, servem o melhor ragu de javali de Berlim.

2 All in One

Rosenthaler Straße 43 Em alguma hora da noite você passará por esse lugar, o que é muito bom, porque servem o melhor kebab da cidade. Meu conselho: “Molho de alho e ervas, temperado, sem cebola”.

3 Hard Wax

Paul-Lincke-Ufer 44 Uma das melhores lojas de discos da Europa: para mim

5 Kumpelnest 3000

Lützowstraße 23 Um bar para os bravos. Ele antes era um bordel e ainda parece um. A cena hardcore de Berlim se reúne aqui por volta das 5h, daí segue fazendo festa ao longo do dia.

Suba as paredes de um antigo bunker de superfície do tempo da II Guerra Mundial no Parque Humboldthain. É difícil, mas a recompensa é uma fantástica vista dos distri­tos de Mitte e Wedding. www.visitberlin.de

ELEVADOR A Berliner Fernsehturm (Torre da TV de Berlim) é o ponto mais alto da Alemanha. Gernot recomenda muito o passeio: “É uma declaração de amor bem direta quando você leva uma garota até lá em cima”. www.tv-turm.de

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Ação!

Música

J usti n & J ay-Z

1 King Krule

Rock Bottom

“Ele tocou essa música para mim no trem” playlist A surpreendente jornada de influências do novo álbum do Mount Kimbie Quando o Mount Kimbie lançou seu álbum de estreia, Crooks & Lovers, em 2010, o mundo da música ficou boquiaberto e ao mesmo tempo sem entender muito. As faixas da dupla tinham um baixo tão forte quanto frágil, o que fez os críticos inventarem um novo gênero para aquele som: o pós dubstep. Kai Campos e Dom Maker refinaram esse barulho no segundo álbum. Maker revela, ao lado, o que tocava no estúdio durante a gravação de Cold Spring Fault Less Youth. www.mountkimbie.com

Em s i nto n ia Seu som em várias caixas

Vamp

Um pequeno amplificador que traz velhas caixas de som ao séc. XXI. Ligue-o a qualquer alto-falante e conecte sem cabo, via Bluetooth, a um telefone ou tocador de música. Sua bateria recarregável tem autonomia de cerca de 10 horas. www.paulcock sedgeshop.com

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Tem só um convidado em nosso disco, o King Krule. Quando as pessoas ouvem sua voz, imaginam um negro de meia-idade, mas na verdade ele é ruivo, tem 19 anos e é tanto cantor quanto compositor. “Rock Bottom” é uma música fantástica, com um vídeo ótimo, e King é sem dúvida uma das pessoas mais empolgantes que conheço.

Curiosidades para impressionar quem estiver perto de você na fila do show

2 John Maus Hey Moon

Essa música nem é tão nova, mas eu ouvi faz pouco tempo. Realmente gosto do casamento entre vozes masculinas e femininas, sem falar que a produção é excelente. Kai e eu ouvimos muito a música de Maus e Ariel Pink quando estávamos trabalhando no disco, e muito do som que tem nela realmente impactou nossa obra.

jay-Z Ele contrata um enrolador de charutos quando está em turnê para oferecer a seus convidados o tabaco mais puro no backstage.

3 James Blake Overgrown

Ele tocava com a gente ao vivo antes da carreira solo. Atualmente só nos vemos na estrada, como no ano passado, quando nos encontrarmos em um trem em Londres. James tocou para mim essa música porque ele estava um pouco inseguro com ela. Achei que foi a melhor coisa que ele já fez. Terminou como a faixa-título de seu disco.

4 Actress Hubble

Kai e eu somos grandes fãs de tudo que a Actress já fez. Quase me deixa angustiado escutar essas faixas hipnóticas de vez em quando, mas adoro a intensidade delas e, se você estiver numa boa vibração, pode viajar com elas. Ninguém é mais idolatrado nos circuitos eletrônicos hoje em dia. “Hubble”, do álbum Splazsh, é incrível.

5 Tame Impala Lonerism

Normalmente leva algum tempo para que eu me acostume com um álbum, mas nesse eu viciei instantaneamente. Não sei o que tem com essa banda australiana, mas o pop psicodélico desse disco nos inspirou a voltar a compor. A produção é doentia, a mixagem é insana e eles são incríveis ao vivo. Sou muito influenciado pelo Tame Impala.

justin timberlake A ideia do tour surgiu quando ele viu Elton John e Billy Joel juntos no palco, interpretando as músicas um do outro.

kanye west O amigo do peito de Jay-Z está bravo que seu parceiro o está traindo com Timberlake. Ele falou mal do hit da dupla, “Suit & Tie”, num show em Londres. Calendário e ingressos: www.justin timberlake.com

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fotos: getty images (2), picturedesk.com

Dom Maker, um dos dois DJs britânicos do Mount Kimbie

A dupla dinâmica se juntou para um tour


ação!

Na agenda

C u rtas e boas O que agosto tem de bom

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sexta

Meninas de ouro A 21ª edição do Grand Prix de Vôlei Feminino, organizado pela FIVB, começa com disputas em solo nacional. Campinas receberá, de 2 a 4 de agosto, jogos entre Brasil, EUA, Polônia e Rússia. www.fivb.org

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SÁBADO

Pura força Morrissey no Brasil com os clássicos dos Smiths

A quinta rodada do Campeonato Brasileiro de Rugby terá jogos em cinco cidades: São Paulo, Florianópolis, São José dos Campos, Bento Gonçalves e Curitiba. No mesmo mês, a sexta e sétima rodadas serão realizadas nos dias 17 e 31, respectivamente.

De 30/7 a 4/8, SP, Brasília e RJ

FOTOS: getty images, bruno terena/Red bull content pool, picturedesk.com

New wave

O cantor inglês Morrissey, ex-líder dos Smiths, vem ao Brasil para shows que com certeza estão na agenda dos fanáticos pela new wave do final dos anos 1980. O cantor passou por aqui em 2012 voltando agora para três apresentações: São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Hits da banda inglesa, como “How Soon Is Now” e “Please, Please, Please, Let Me Get What I Want”, e novidades da carreira solo estão no cardápio.

brasilrugby.com.br

www.ticketsforfun.com.br 22 e 24/8, em SP e RJ De 2/8 a 11/8, no RJ

Filmes de animação 11/8, em Ribeirão Preto

Velocidade O circo da Stock Car chega a Ribeirão Preto para a sua sétima etapa. Defendendo a liderança do campeonato está Ricardo Maurício. stockcar.globo.com

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A 21ª edição do Anima Mundi tem informação, educação e muita criatividade. Mostras competitivas e informativas exibem curtas e longas do mundo inteiro. O festival conta também com oficinas gratuitas e sessões de debates e palestras. www.animamundi.com.br

Herbie Hancock O pianista americano, que já tocou com lendas internacionais do jazz, irá fazer duas apresentações no Brasil em agosto. Rio e São Paulo são as cidades contempladas. O músico integrou um dos grandes quintetos da história, junto de Miles Davis, ficando conhecido pelo público com músicas como “Cantaloupe Island” (do disco Empyrean Isles, de 1964) e “Watermelon Man” (Head Hunters, 1973). www.ticketsforfun.com.br

18 domingo

Meia maratona O Rio receberá a 17ª edição da Meia Maratona Internacional, considerada uma das mais importantes do país. A disputa de 21 km sai de São Conrado e termina no Aterro do Flamengo. www.yescom.com.br/ meiadorio/2013/ portugues

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TÚNEL DO TEMPO

de variedades incluindo giros e acrobacias. Nessas apresentações, eles faziam o que foi considerada a melhor forma de equilibrar uma cartola nos EUA e – o que na época era considerado ousado – abrir um guarda-chuva em um ambiente fechado. A única foto da dupla que existe (Billy não foi fotografado) foi tirada em julho de 1913.

A próxima edição dA Red Bulletin sai em 13 de agosto DE 2013. 98

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foto: roger viollet/getty images

100 anos de breakdance Historiadores do século 20 diriam que o breakdance nasceu da cena hip hop do Brooklyn, em Nova York, nos anos 1970. Na verdade, uma forma de dança bem parecida foi registrada seis décadas antes, a 320 km de NY. Em Baltimore, os irmãos Baker, Billy e Bobby, que se apresentavam com o nome “The B Boys”, tinham um show



RED BULL

L A T R O P GAMES

RRIDA PORTES E DE CO ES E D S O G JO OS MELHORES

NTE E M A IT U T A R G A R O G A JOGUE


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