Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. 1 UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE JORNALISMO GUSTAVO OLIVEIRA BEZERRA
São2021Paulo
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. OLIVEIRA BEZERRA
São2021Paulo
PAPEL DA IMPRENSA NOS CASOS DE HOMOFOBIA NO FUTEBOL BRASILEIRO
: Prof° Me Luiz Vicente
2 GUSTAVO
Relatório de Fundamentação Teórica e Metodológica apresentado ao curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, para a obtenção do título de bacharel em Jornalismo.Orientador

RESUMO
Trabalho Curso

em Jornalismo. Ano 2021. 3
de Conclusão de
O projeto tem o objetivo de enfatizar a falta de debate em torno dos casos de homofobia no futebol brasileiro e a influência da mídia esportiva neste processo. Para corroborar esta tese, foi analisado o programa Esporte Espetacular, da TV Globo, durante todo o ano de 2020, em cada de suas reportagens, nos 52 programas semanais que a emissora exibiu; com o ojetivo de entender a frequência e como este assunto é abordado.
Palavras-chave: imprensa; homofobia; futebol
CONSIDERAÇÕES FINAIS 8
Transcrição Gustavo Bandeira 34
INTRODUÇÃO 5
Estratégias para definição 10
Termo de uso de imagem Onã Rudá 14
Descrição do produto 10
ANEXOS 47
Pauta 47
RESULTADOS 8
APRESENTAÇÃO 5
ROTEIRO 40
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. 4

ORÇAMENTO 11
Termo de uso de imagem Mayra Siqueira 13
Transcrição João Abel 15
TRANSCRIÇÕES COMPLETAS 15
Transcrição Onã Rudá 30
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 6
Público a ser atingido 10
REFERÊNCIAS 9
FUNÇÃO INDIVIDUAL 10
DOCUMENTAÇÃO 12
PLANO ESTRATÉGICO 10
SUMÁRIO
APÊNDICE 10
DIÁRIO DE CAMPO 46
Termo de uso de imagem João Abel 12
CRONOGRAMA 11
Transcrição Mayra Siqueira 24
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. 5

INTRODUÇÃO
O noticiário dos programas esportivos está repleto de assuntos distintos. Desde as polêmicas dos finais de semana, até temas mais complexos, como a situação financeira de cada clube por exemplo. Porém, temas sociais, sobretudo a homofobia no futebol quase não são tratados e quando finalmente se toca no problema, é oferecido pouco tempo a ele.
É verdade que nos últimos anos, o debate esteja sendo maior, principalmente pela iniciativa dos próprios clubes e jogadores. Para se ter uma ideia, durante o Campeonato Brasileiro de 2019, o jogador Gabriel Barbosa, do Flamengo jogou uma partida com o número 24 1estampado na camisa e em junho de 2021, mês do orgulho LGBT, 19 dos 20 clubes da série A fizeram campanhas em redes sociais exaltando a comunidade e promovendo a inclusão no clube. Quem acompanha os programas talvez nem saiba destes fatos por pura omissão da imprensa, que não se deu conta com o ocorrido de seu tamanho e da sua influência na mente e na vida da sociedade que o acompanha.
Para a concretização do projeto, será estudado o Esporte Espetacular da Rede Globo, programa de maior projeção a nível nacional no período de um ano, o de 2020, a fim de entender com qual a frequência que a homofobia no futebol foi falada comparada com a quantidade de casos existentes neste período, para tentar ter a resposta do motivo pelo qual se é falado tão pouco nisto.
Considerando o fato de que o futebol é o esporte mais acompanhado no Brasil, é muito estranho que a comunidade LGBT seja tão pouco representada, seja nas arquibancadas, nas redações e obviamente nos programas de televisão, objeto de estudo do projeto2. O objetivo deste estudo é justamente mostrar a necessidade de se falar seriamente sobre o problema para que este público se sinta representado e consequentemente se sinta mais livre para lidar com o preconceito.
No Brasil, o futebol é levado a sério pelas emissoras. A cada ano que passa mais e mais canais voltados ao futebol são criados e as emissoras abertas não abrem mão de ter programas voltados ao esporte em suas grades de programação. Mesmo com o iminente crescimento de plataformas digitais ao longo dos últimos anos, o futebol ainda segue firme e com boa audiência nos canais de TV. O Ibope aponta em 2021 boa audiência dos jogos de futebol e dos programas de debate.
APRESENTAÇÃO
No Brasil, o futebol sempre foi visto como esporte de “macho”. Nas arquibancadas dos estádios, poucas mulheres são vistas e casais homossexuais simplesmente não são observados no ambiente.
Este problema vem de fora para dentro dos programas. Para se ter uma ideia, atualmente temos um único jogador assumidamente homossexual dentre os mais de 80 mil profissionais. Trata se do goleiro Messi, que fez sua carreira no futebol do Rio Grande do Norte e atualmente, aos 35, anos encontra se sem clube. Segundo dados do IBGE, aproximadamente 10% da população brasileira pertence à comunidade LGBT.
1 O número 24 é utilizado no meio do futebol de maneira pejorativa sendo associado à homossexualidade.
2 O presente artigo faz parte de um projeto experimental, no formato de Documentário, no qual é estudado a abordagem da imprensa e da torcida em temas que tratam a homofobia no futebol.
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
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Em toda discussão, temos a tendência de lutar contra aquilo que se sente na pele. Atualmente a mídia esportiva brasileira é repleta de diversidade, sobretudo com a inclusão recente por parte das emissoras de mulheres como narradoras e comentaristas, por exemplo. Porém, desde a saída da jornalista Fernanda Gentil do grupo de esportes da TV Globo, não há nenhum homossexual assumido nas grandes emissoras do país. Com tamanha falta de representatividade, é fácil de imaginar que tal assunto não seja abordado nem colocado em pauta, por falta de interesse dos próprios profissionais ou simplesmente pelo senso comum de achar que falar sobre homofobia não é importante.
O presente projeto tem como objetivo analisar e entender como a mídia e a sociedade em geral lidam com a comunidade LGBTQIA+ dentro do futebol. Com a finalidade de mostrar a falta de sensibilidade e de entendimento que o tema é tratado. “Um estereótipo é a ideia que temos.., a imagem que surge espontaneamente, logo que se trate de ( ) É a representação de um objeto (coisas, pessoas, ideias) mais ou menos desligada da sua realidade objetiva, partilhada pelos membros de um grupo social com uma certa estabilidade” (BARDIN, 1977, p. 51).
O futebol é considerado o esporte mais popular do Brasil. Além de ser o mais democrático, praticado e visto por milhões de pessoas, de todas as cores, crenças e classes sociais... Mas qual o motivo desta “regra” não se encaixar para heterossexuais ou homossexuais? Se pararmos para analisar, seja no campinho do bairro, nas categorias de base ou até mesmo nos campeonatos internacionais, praticamente não se tem relato de jogadores, manifestações de torcidas ou profissionais de imprensa envolvidos que sejam da comunidade LGBT e quando se toca no assunto da homofobia, geralmente é em um curto espaço de tempo, quando acontece algum ato de crime contra homossexuais. Diante deste cenário, a pergunta que fica é a seguinte: será que não é possível dar mais espaço e voz de verdade para este problema que é não latente no nosso país, até para que mais pessoas tenham coragem para levantar esta bandeira ou no final das contas o que importa mesmo para os programas esportivos é simplesmente a luta pela audiência sem levar em consideração o papel social que os jornalistas e todos os profissionais da imprensa deveriam ter.
Se fizermos uma comparação fria, o número de jogadores homossexuais deve ser 8 mil atletas aproximadamente. Baseando se nestes dados, a pergunta que fica é a seguinte, o futebol é um esporte atraído somente por heterossexuais ou os próprios jogadores têm medo de uma possível repercussão negativa por parte da torcida e da própria imprensa.
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

A ausência de espaços para o diálogo sobre orientação sexual deixa uma impressão de que os editores dos telejornais acreditam que a imagem de um homossexual é extremamente ofensiva para torcedores dentro de um estádio de futebol. O torcedor do Palmeiras William de Lucca relatou em reportagem para o canal VICE BRASIL, no Youtube que sofre inúmeras ameaças da própria torcida palmeirense após criticar a homofobia no futebol e revelar sua orientação sexual nas redes sociais. Os autores Marco Almeida e Alessandro Soares (2012), acreditam que o futebol carrega frutos de uma sociedade masculinizada e que todas as formas de preconceito ao homossexual são expressas em um campo de futebol. Eles reiteram
A teoria que embasa esse estudo é a hipótese de Newsmaking, que diz que as notícias têm relação com a rotina industrial de produção existente nas emissoras e este seria um dos fatores de não se tratar a homofobia no futebol com mais ênfase
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ainda que a imagem do homossexual é incongruente aos olhos dos expectadores que entendem futebol como reduto da força física, como se a liberdade sexual estivesse ligada a ter ou não ter força, ter ou não virilidade (ALMEIDA; SOARES, 2012, p. 14).
Um dos personagens mais emblemáticos de toda esta situação é o jogador Richarlyson, que sempre foi alvo de críticas das torcidas dos clubes pelo qual passou por sua suposta homossexualidade, que sempre foi negada pelo atleta. Objeto de estudo para este projeto, o programa Esporte Espetacular simplesmente omitiu um triste episódio que aconteceu em maio de 2017, quando o jogador Richarlyson foi apedrejado em sua apresentação como jogador do Guarani de Campinas. As mais de 20 reportagens do programa estiveram focadas totalmente ao que ocorreu dentro das quatro linhas. Em momento algum surgiu na pauta algo que não estivesse relacionado às partidas e aos resultados.
[...] A heteronormatividade precisa ser contestada pelo discurso jornalístico de maneira frontal porque todas as violações relacionadas à sexualidade derivam da ameaça que o desejo por pessoas do mesmo sexo representa para as normas e estruturas existentes que ancoram a heterossexualidade compulsória. O fato do discurso jornalístico sobre os direitos para a população LGBT não enfrentar a heteronormatividade também significa que ele quase nunca se engaja com o potencial subversivo da sexualidade queer. (DARDI; MORIGI, 2012, p. 14)
[...] Os meios de comunicação de massa também têm vários efeitos opostos em outras dimensões. Há várias evidências de que o potencial democrático de uma esfera pública, cuja infraestrutura é impregnada pelas crescentes pressões seletivas da comunicação de massas eletrônica, é ambivalente. (ADORNO, HORKHEIMER, 1947) p. 87.
Ponto crucial em toda esta discussão, a imprensa tem papel fundamental neste debate, uma vez que tais casos, como de William são difíceis de ser contados na mídia, levando ao público a falsa sensação de que esta questão simplesmente não faz parte da rotina de milhares de pessoas que sonham em se aproximar de seu time de coração, mas não conseguem.
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

[...] Existe um constante esforço por parte dos jornalistas esportivos e de alguns pesquisadores acadêmicos em separar o que seria violência simbólica de violência “real”. [...]Acreditamos que essa distinção seja um tanto equivocada e perigosa. Ela faz uma clara seleção de quais violências importam. Dizer que um coletivo como um “nós” atores do espetáculo futebolístico toleram essas manifestações é quase leviano. (BANDEIRA, SEFFNER, 2013, p. 19 20)
Um dos pontos chaves para esta situação indubitavelmente é a falta de representatividade por parte dos profissionais que são responsáveis pelos programas esportivos no Brasil. Atualmente em todas as principais emissoras, seja da televisão aberta ou fechada, não temos sequer um jornalista declaradamente homossexual. Considerando esta afirmativa, a probabilidade deste assunto não ser abordado nas pautas dos programas esportivos é enorme, levando em consideração que as próprias pessoas que selecionam o que é ou não relevante ser colocado no ar não tratam a homofobia no futebol como assunto prioritário. Como corrobora a teoria de Gatekeeper, criada em 1947 pelo psicólogo alemão Kurt Lewin, que diz que os assuntos a serem abordados em uma redação são definidos a partir do interesse público.
Mais grave que a falta de informação ao público, é digerir a ideia de que o próprio público não trata o assunto como importante e o ignora quando o tema chega até ele. Em um documentário produzido para a internet, pelo canal VICE Brasil, o assunto é abordado com contundência. No conteúdo, um de seus integrantes vai até líderes de torcidas em estádios e em sedes de torcidas uniformizadas com o intuito de questionar assuntos inerentes a representatividade LGBT em suas rotinas nos jogos. Um representante da torcida organizada Gaviões da Fiel afirmou nesta entrevista que existem assuntos mais importantes a ser tratado nas reuniões da torcida, como a distribuição dos ingressos ou a relação com a Polícia Militar, por exemplo. O autor Samilo Takara (2017) acredita que opressões, silenciamentos, falta de apuração ou
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de conteúdo será o método utilizado para as pesquisas, uma vez que será feita uma análise pelo período de um ano para obter respostas para o problema apresentado.
A pesquisa é qualitativa, levando em conta que serão realizadas entrevistas com personagens específicos para a construção do enredo proposto.
mesmo a ideia de que o assunto pode ou não interessar ao público leitor sugerem modos de perceber como o discurso jornalístico estabelece, mantém e modifica ditos que são engendrados por suas edições e que definem os parâmetros, que enfocam determinados modelos e que deixam à margem, excluem ou ignoram outras possibilidades de viver a sexualidade. (TAKARA, 2017, p. 102)
O processo foi iniciado pelo levantamento bibliográfico e documental, realizado através de portais virtuais a partir de artigos, teses e dissertações relacionados à homofobia no futebol e no jornalismo.
A maior dificuldade para responder a pergunta que o projeto se propôs a responder é como introduzir este problema de maneira natural aos olhos do público, de maneira que este abra os olhos para a importância de agregar o público LGBT para o esporte, que desde sua criação tem o intuito de juntar todos pelo amor ao esporte.
RESULTADOS
Após a pesquisa, concluiu se que durante todo o ano, apenas duas reportagens foram integralmente dedicadas à homofobia no futebol. A primeira em 19 de janeiro, após uma brincadeira infeliz do presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, após o jogador colombiano Victor Cantillo pedir a camisa 24 e ele ter recusado dar esta numeração para o atleta por considerar o número de cunho homossexual e ter dado a 8 a Cantillo. Depois da reportagem, o presidente voltou atrás e cedeu a 24 ao colombiano, camisa que Cantillo usa até hoje. A segunda reportagem ocorreu no dia 28 de junho, dia do orgulho LGBT, com a jogadora de futebol feminino Cristiane. A exemplo de outros veículos, como os Jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo do mesmo ano, a data é a única em que se aborda o tema sem algum caso específico envolvido, o que dá a entender que é quase uma “obrigação” da empresa com a data festiva, dando um ar de obrigação da matéria.
Após o estudo, a pesquisa e a descoberta dos resultados, chega se a conclusão de que sim, a homofobia no futebol brasileiro ainda é um assunto tabu na grande mídia e toda a cadeia contribui para este fato e esta mesma cadeia, seja ela a mídia, os próprios jogadores, as torcidas e o público pode mudar este cenário. Com alguns movimentos, como o do Vasco em 2021, que usou as cores da bandeira LGBT em sua camisa, a causa ficará fortalecida na mídia e consequentemente na sociedade. Porém é preciso maior adesão dos clubes e frequência dos mesmos para atingir uma rotina na grade dos programas do segmento.
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Partindo deste ponto, foi desenvolvida a pesquisa por teóricos da comunicação. A partir dos resultados levantados, foram definidos Laurence Bardin, Jürgen Habermas, Theodor Adorno e Max Horkheimer como teóricos escolhidos.
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

BRAZICA Bicha! A homofobia no futebol brasieiro. 2018.
ALMEIDA, Marco; SOARES, Alessandro. O futebol no banco dos réus. Caso da homofobia. Porto Alegre. 2012. 22 p.
BANDEIRA, Gustavo; SEFFNER, Fernando. Futebol, gênero, masculinidade e homofobia: Um jogo dentro do jogo Ed. Espaço Plural. 2013. 25 p.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Presses Universitaires de France. 1977. 229 p.
Luiz Fernando Rodrigues. O preconceito dentro e fora das quatro linhas: o papel dos jornalistas goianos no debate sobre a homossexualidade masculina no futebol. Goiânia. 2019. 226 https://www.youtube.com/watch?v=sRiLuDKj_vw.p.
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública. Tradução: Flávio R. Kothe. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. 398 p.
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max Dialética do esclarecimento. Frankfurt Am Main. 1947. 121 p.
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DARDI Vicente; MORIGI Valdir. Diversidade sexual no jornalismo brasileiro.Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2012. 17 p.

PINTO, Maurício Rodrigues. Pelo direito de torcer: das torcidas gays aos movimentos de torcedores contrários ao machismo e à homofobia no futebol São Paulo. 2017. 128 p.
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.
TAKARA, Samilo. Uma pedagogia bicha: homofobia, jornalismo e educação Maringá. 2017 177 LEMES,p.
REFERÊNCIAS
APÊNDICE
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. 10

A gravação foi 100% produzida pela internet, em decorrência da pandemia de COVID 19, através da ferramenta ZOOM, as imagens de acervo e trilha sonora também foram retiradas de conteúdos disponíveis na internet, todas devidamente creditadas.
Estratégias para a definição: O nome “Intolerância Futebol Clube” foi escolhido para dar impacto no momento em que o espectador leia o título. A palavra “intolerância” remete ao cenário de preconceito relatado no documentário e as palavras “Futebol Clube” remetem ao futebol, já que no Brasil, a maioria dos clubes utilizam estas palavras em seus nomes sociais.
DaLGBT.mesma forma, quem acompanha futebol e tem a oportunidade de trabalhar com o esporte, utilizando a ferramenta da comunicação deve refletir sobre a importância de se falar sobre a homofobia de maneira séria para que profissionais não sejam perdidos para outras vertentes do jornalismo, tendo assim seu talento desperdiçado também por ser LGBT.
Público a ser atingido: O documentário tem o objetivo de atingir o público que acompanha futebol, em geral, independente da idade ou orientação sexual. O intuito do produto é a reflexão para as consequências que determinadas atitudes, brincadeiras ou cantos de torcidas pode ter na vida de quem quer fazer parte da festa, mas não pode simplesmente por pertencer à comunidade
As funções desempenhadas por mim neste projeto serão de repórter, com as entrevistas com personagens relacionados ao tema proposto, de roteirista, com a missão de escrever o enredo da narrativa e de editor, atuando na pós produção, com o objetivo de cortar as entrevistas, amarrar com nossas imagens para trazer um visual padronizado no que diz respeito ao formato de documentário.
PLANO ESTRATÉGICO
Descrição do produto: O objetivo da pesquisa é produzir um documentário no formato televisivo com duração de 15 minutos, que aborda como é tratada a homofobia no futebol em todas as suas áreas, como imprensa e torcida, além da luta da mulher LGBT no cenário.
FUNÇÃO INDIVIDUAL
Ano 2021. 11 CRONOGRAMAORÇAMENTO

Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo.


Termo de uso de imagem João Abel
DOCUMENTAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

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Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

Termo de uso de imagem Mayra Siqueira

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Termo de uso de imagem Onã Rudá
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TRANSCRIÇÕES COMPLETAS
Cont Resposta: Tá.. então você tem completa razão em dizer que o meio do jornalismo esportivo ele é majoritariamente heterossexual, eee majoritariamente formado por homens ainda, por mais que isso esteja mudando ao longo dos ultimos anos, ééé.. mas eu pessoalmente por exemplo trabalhando no jornal onde essa editoria, que é uma editoria enxuta né, não é uma editoria tão grande quanto politica, economia, uma editoria mais enxuta, ééé.. mas é formada tudo por homens, o principal concorrente eu imagino, tenho quase certeza, que é cem por cento também formado por homens, acho que isso tem mudado especialmente ééé.. em meios mais audiovisuais, eu sinto isso, que essa questão de diversidade ela é mais propagada nos meios audiovisuais, em televisão e tal, mas eu pessoalmente nunca sofri nenhum tipo de preconceito dentro da minha profissão por conta da minha orientação.
Transcrição João Abel
João boa noite, fazer a primeira pergunta para você, você é um jornalista já formado, já atuou na área, agora ta com uma coluna de esporte né, você já até comentou o episódio que você participou para folha esse ano, que você é assumidamente bissexual, e como você se sente também sendo teoricamente uma excessão no meio esportivo e não sendo heterossexual, teve algum problema, já aconteceu algum tipo de problema para você, você vê de certa forma alguma, alguns olhares tortos algo do tipo ?)
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. 15

João você falou do seu livro agora na sua resposta, desde o lançamento dele algum jogador, algum clube, já te procurou para falar sobre o tema ?
R: A sexualidade ela é bem diferente de outros tipos de situação né, quando a gente fala de luta, fala de luta racial, luta de gênero, de orientação sexual ou às vezes identidade de gênero, eu pessoalmente nunca sofri. Agora você tá olhando para mim eu sou, assim, você olha para mim você não sabe que eu sou bissexual, ao não ser que eu te diga, é mais ou menos que eu tô querendo dizer, então eu nunca sofri qualquer tipo de preconceito, agora la perguntar por exemplo pra uma mulher, trabalha no meio de editoria de esporte, provavelmente ela ja passou por muitas situações desagradáveis. Eu não trabalho diretamente com ééé... jornalismo esportivo na editoria de esporte em si, hoje eu sou social mídia do Estadão né, mas eu tenho uma coluna. ééé.. de esporte no jornal, muito por conta de ter escrito um livro sobre isso, que esse livro foi escrito durante minha graduação de jornalismo, livro sobre a homofobia no futebol, então, eles me convidaram para falar sobre diversidade, cultura do esporte, história do esporte nessa coluna, ééé.. mas eu pessoalmente nunca sofri qualquer tipo de preconceito em relação a minha sexualidade. Agora, você tem completa razão em dizer que o meio esportivo ééé..., a gente tá falando de jornalismo esportivo aqui, certo ?
Certo !
R: Ótima pergunta, uma pergunta que não costumo receber, ééé… clube diretamente não, mas já, eu já fui procurado por exemplo por agências, não sei exatamente qual que é o termo que eles usam, acho que é agencias né, essas empresas que cuidam da carreira dos jogadores por exemplo, então fui procurado por exemplo uma dessas empresas para fazer uma espécie de workshop. ééé.. foi virtual né, não foi nem algo ao vivo, na verdade eu gravei o workshop e essa agência ofereceu para os jogadores. Isso eu já acho uma iniciativa excelente, ééé.. nenhum clube nunca me procurou diretamente para fazer qualquer tipo de ação mas eu por exemplo já gravei o podcast para.. um podcast oficial do Internacional de Porto Alegre, por exemplo, que é um clube ééé… centenário, tradicional e tem uma preocupação muito forte com essa questão de diversidade, então já gravei o podcast no Inter, e de cabeça é o que eu lembro, os maiores convites que eu recebo são para trabalho audiovisuais como o de vocês para entrevistas, eventualmente para alguma palestra, algo assim, mas não para os clubes. E os clubes deveriam ter mais contato com isso né, os clubes eles.. muito deles tem uma política de mostrar pra fora um discurso de diversidade, ééé.. tramando a dizer “somos clube de todos e de todas” ééé.. todos clubes decidiram (risos), decidiram que são clube de todos agora, mas poucos olham para suas próprias estruturas internas, então esse discurso de muitos ainda não saiu do papel, alguns clubes sim tá ? Posso citar o caso do Inter, posso citar o caso do Bahia que tem um núcleo de ações afirmativas, outros clubes já criaram núcleos e comissões internas para discutir diversidade eee.. outros tipos de assunto. Mas respondendo diretamente sua pergunta pra não (risos) não vagar muito, não, nenhum clube nunca me procurou para falar sobre o
ai então nos pontos que você trouxe sobre os times, e clubes, pensando em pessoas né, nos jogadores, você entende, vê algum jogador se assumindo, que seja gay e deixou de se assumir por algum motivo, mas se assumindo membro da comunidade, ou não ? Por conta de alguma pressão, alguma coisa em relação a torcida ou mídia, isso demoraria a acontecer.
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R: Olha, a gente tá em um contexto atual, que tem mudado numa velocidade que eu considero até um pouco mais rápida que eu imaginaria cinco, dez anos atrás, a gente evoluiu bastante em relação a esse assunto, eu sei que nenhum clube me procurou e enfim, mas eles podem eventualmente procurar outras pessoas também, porque ééé.. tem muita gente capaz de falar sobre esse assunto. Mas, como eu falei, os clubes já começam a se posicionar, eventualmente fazem algum tipo de ação, Vasco por exemplo esse ano fez algum tipo de ação e eu to citando isso exatamente por que ? Eu acho que hoje o contexto para que algum jogador se assumisse, aí a gente tá fazendo um exercício de imaginação aqui né, infelizmente, é um exercício hipotético né, não tem como a gente falar muito solidamente sobre isso que a gente não faz idéia, eu pessoalmente sei que eles existem, batem certeza, que esses jogadores que não são heterossexuais existem dentro do futebol brasileiro, não sei se em grandes clubes, não sei se pequenos clubes mas eles existem, porque o Brasil tem, segundo um último levantamento que a Ernst & Young fez com a CBF salvo engano tem cerca de noventa mil ééé.. quase noventa mil atletas profissionais de futebol, a gente sabe que os clubes grandes são uma elite ali, eles são o topo, a gente acha que a o futebol é uma coisa que movimenta muita grana mas cara, mas muito jogadores ali ganham um salário mínimo , um dos menores, e uma pequena porcentagem que é o futebol feminino, que a gente se atendo mais ao futebol masculino. Tudo isso pra dizer que, é um contingente muito grande de pessoas ééé.. que é bastante improvável que não exista nenhum jogador homossexual ou bissexual no futebol masculino ééé… isso, o fato de não existir publicamente, não seria nenhum problema se isso ocorresse por uma escolha pesoal, eu não quero falar, eu não sou obrigado a falar, não tem problema nenhum, agora quando isso acontece por um receio, um medo, de uma represalia como você citou, ai é um problema, é uma
Pensandoassunto.
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

R:Eu acho que o jornalismo ele é tão difuso, você pode fazer tanta coisa dentro do jornalismo que é difícil responder essa questão, por exemplo na minha empresa não tem nenhum problema em
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questão que a gente precisa falar sobre, nenhuma pessoa deve ser impedida, deve ter sua liberdade aceciada a ponto de deixar de falar sobre o que é por medo de algum tipo de represalia, certo ? Então é um problema, e a gente precisa falar sobre isso, ééé… Agora sobre a questão de, em quanto tempo a gente vai ter um jogador, eu acho que isso é um grande passo, acho que isso acontecendo, é um grande passo para que outras pessoas comecem a falar sobre isso, a gente já viu dentro de outros contextos, não precisa ser esporte, pode ser outro tipo de contexto ééé.. uma pessoa falando sobre isso de repente ela cria um grupo em volta dela e começa falar sobre isso também de repente muitas pessoas abrem essa discussão, sobre aquele assunto. Então eu acho que isso é um grande passo, agora quando vai acontecer eu não sei, no futebol isso dependeria do contexto também que acontece, muitas pessoas como você me perguntam ééé.. se esses jogadores sentiram algum receio da torcida, se teria algum problema, é difícil dizer, porque são contextos aliados né, um clube a torcida pode receber de uma forma, outra de outra forma, uma outra coisa que infelizmente a gente precisa colocar na balança, eu digo infelizmente porque não deveria ser assim, a gente precisa colocar na balança se esse jogador é importante para o clube ééé.. de verdade, se for assim um jogador importante pro clube, vai ter torcedor homofóbico relevando a questão e dizendo, “a tudo bem”, outros não, outros vão colocar inclusive a homofobia a cima de qualquer perfomance esportiva, então são tantas variaveis que é dificil dizer como seria a recepção dentro dos clubes e com relação aos torcedores. Em relação à mídia por exemplo, tenho a prospecção de que hoje, principalmente a grande mídia, eu to falando de uma mídia mais streaming ééé.. teve uma recepção muito positiva, tenho essa impressão, a gente ta em um debate mais maduro sobre isso, e quem não recebeu isso positivamente provavelmente seria um pouco polido, eu tenho essa impressão né, e provavelmente teriam alguns jornalistas que não receberiam positivamente, mas eles seriam uma minoria ééé.. uma minoria tão minoritária que.. acho que… enfim, eles acabariam sentidos essa discussão, enfim, em resumo é muito dificil saber quando isso vai acontecer, mas acho que é um grande passo, espero que esteja próximo. Nos Estados Unidos por exemplo, recentemente o AllSports que é um site, focado em diversidade dos esportes, Brasil não tem um site como esse por exemplo, os Estados Unidos tem um site focado na diversidade do esporte, se chama AllSports, eles publicaram que os Estados Unidos pela primeira vez tem um atleta homossexual em ligas profissionais éée.. nos cinco “big sports” que eles chamam né, futebol de campo que nem é o maior esporte deles, basquete, futebol americano, baseball, e hoquei, eles tem cinco jogadores, ao menos um em cada uma dessas modalidades, aqui no Brasil especialmente o futebol que é um esporte muito popular, acho que a gente ainda tem um caminho pra percoreer, mas como eu falei é um grande passo, e aquando acontecer eu acho que pode ser um ponto de virada vamos dizer assim.
Bela resposta, voltando um pouco para parte profissional do jornalista, no geral o mercado de trabalho ele ainda é um pouco receoso com pessoas assim das mentes LGBT, no mercado de trabalho, algumas profissões acabam tendo certa dificuldade de contratar esse tipo de pessoa, você enxerga que no meio da comunicação atual jornalismo, faz um caminho um pouco diferente disso ? Ou você acha que acaba muitas vezes acaba seguindo o mesmo caminho da maioria dos empregos, de contratação sobre profissionais LGBT.
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Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

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artigos brasileiros dizem que pessoas da comunidade LGBT acabam seguindo os caminhos no jornalismo como entretenimento por exemplo, ao invés do esportivo por conta do preconceito da sociedade. Você concorda com essa visão ? (
relação a isso ééé.. não sei como funciona em outras empresas né, mas eu tenho a percepção, falando em uma percepção mais geral de que sim, o jornalismo ele parece ser um pouco mais tolerante com essas questões do que eventualmente outras profissões ééé… talvez porque seja uma profissão que tá mais ligada nesse tipo de discussão, então, acaba sendo um contra senso você ser um jornalista, e defender o que é princípio básico do jornalismo que é liberdade de expressão, sendo uma pessoa homofóbica entende ? Então por ser uma coisa tão alterada ao princípio do jornalismo que é a liberdade, eu acho que talvez sim, o jornalismo ele seja um pouco mais tolerante com relação a isso. Agora se você me perguntar, mas tá sendo feito algo pra mudar a estrutura interna dos jornais pra ter mais diversidade, eu acho que sim, mas ainda muito no começo, acho que um primeiro passo que ta acontecendo, o primeiro passo sempre é diversidade de fonte, primeiro os jornais estão se preocupando em diversificar fonte, vão fazer matéria de qualquer assunto, poxa precisamos ouvir, não dá pra fazer uma matéria sei lá, sobre a inflação e de repente você vai ouvir só homens de meia idade que moram no Jardins, não!, você vai ter que ouvir né, mulheres que moram na periferia, se você conseguir ouvir pessoas LGBT se isso afeta de alguma forma a vida delas, pessoas pretas, então.. eu acho que o primeiro passo é a diversidade de fontes, e um segundo ponto eu acho que o jornalismo ta buscando um pouco mais a diversidade, ai de pessoal mesmo, repórteres, colunistas, eu tenho uma coluna pra falar sobre diversidade no esporte em um jornal que é considerado conservador né, pra muitas pessoas, ainda que tenha princípios liberais, mas essa coisa se confunde muito no Brasil, coisa do liberalismo, conservadorismo, mas muitas pessoas consideram o jornal que eu trabalho conservador ééé.. e ao mesmo tempo me deram um espaço para falar sobre diversidade no esporte, então eu considero que sim, existe uma tolerância maior que outras profissões, mas isso é uma percepção muito geral, acho que a gente tem coisas para João,melhorar.alguns
R: Sim!,eu acho que isso tem a ver com uma construção histórica ééé.. de determinados segmentos sociais, fato que por muito tempo o esporte foi, o esporte foi primeiro atrelado, ai é quase uma aula de história né, mas o esporte foi primeiramente atrelado.. vou falar no início do século passado que é quando surgiu, que eu acho que surgiu um bonde, tanto de futebol, quanto de esportes olímpicos né olimpíada, primeiro ele foi atrelado a homens, então isso já é um grande indicativo, o que poderia acontecer no futuro, então ele foi primeiro atrelado a homens, sempre os homens saudáveis então aquela coisa lá né dele ser o mais forte, o lema olímpico você deve saber o mais forte, mais rápido, mais alto, ééé.. então sempre teve essa questão ser o homem no esporte né, e a mulher outros tipos de conquista. Talvez um pouco mais artístico não sei, claro que isso mudou ao longo do tempo, e aí eu comecei falando sobre gênero, mas se a gente falar sobre sexualidade, ééé.. eu disse que o esporte ele é muito atrelado a essa questão da saúde a gente tem que lembrar que durante muito tempo, quase um século, mais de um século até, homossexualidade que era tratada como homossexualismo, sigla LGBT nem se quer existia, depois surgiu GLS, LGBT que hoje é a sigla padrão no Brasil, mas a homosexualidade que era chamada de homossexualismo era considerado uma doença. Então como que você vai entender que pessoas que são homossexuais, vão poder estar ligado ao esporte, que é uma coisa considerada de alto nível de performance, são coisas que não se encaixa entende ? Então o que eu to querendo dizer é que, moldou socialmente que o esporte não é um local adequado para essas pessoas, logo isso vai interferir no jornalismo esportivo, claro que vai interferir, hoje as mulheres estão conseguindo conquistar um espaço de jornalismo esportivo né, os
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próprios LGBTS talvez não tenham por conta.. Apareceu um aviso aqui para mim, não sei se apareceu para vocês, achei que tinha parado de gravar, mas ta gravando né?
Então João, vou usar ai um ganchinho que você acabou de falar, pensando no caso que você é assumido enfim, o que que você aconselharia para essa pessoa tá que tá entrando hoje na área de jornalismo, e que ela é LGBT por exemplo e que ela quer ir para esportista mesmo sabendo de todos esses histórico né, ela vai ter o receio, ela vai ter o medo, como que ela poderia fazer né, o que você aconselharia para essa pessoa, e para ela chegar mais ou menos do que você conseguiu conquistar hoje, pensando no respeito enfim, todo esse processo aí que você tem de histórico de carreira.
R: Primeiro bondade sua, porque histórico de carreira eu não tenho acabei de começar (risos), mas enfim, acho que assim comigo a minha experiência pessoal ééé… inclusive eu comecei a falar mais sobre esse tipo de assunto quando eu comecei a pesquisar sobre ele, eu já tinha entendimento da minha condição sexual, da minha orientação ééé.. passei a pesquisar sobre isso porque é uma questão que sempre fui envolvido com futebol, com questões sociais e era uma questão que me interessava, mas pessoalmente isso nunca foi uma questão pra mim ééé.. dentro do meu trabalho, tanto que eu cheguei a trabalhar no início da faculdade em agências de marketing esportivo, e não era assim, é o que eu disse no começo, sexualidade não é uma coisa que está estampada no seu rosto. Trate isso com naturalidade eu acho que felizmente a gente tá falando de jornalismo, e o jornalismo é uma profissão que tende a aceitar um pouco mais esse tipo de discussão, ainda bem, seria diferente em outras profissões, se a questão é dar uma dica, trate com naturalidade porque cada vez mais pessoas tá tratando com naturalidade. Então não faça isso de uma questão, ou impedimento e entenda que isso é algo a você né ? Ainda existe uma discussão muito forte sobre essa orientação e opção, opção não é claramente, mas enfim, existem correntes aí discorrendo se é uma condição e tal. O importante é que as pessoas estão muito mais abertas a falar sobre isso, então tratar com naturalidade um entendimento que muitas vezes isso pode ser um potencializador das suas capacidades e não um limitador, porque para muitas pessoas isso é um limitador, “a eu sou LGBT e pra mim vai ser mais difícil" ééé… muitas vezes você pode tirar disso uma forma de se potencializar dentro da sua profissão. Foi o que eu fiz um pouco, ninguém falava sobre isso né, de repente eu decidi… ninguém falar sobre isso eu to sendo um pouco injusto, mas assim, tinha acadêmicos que já tinham pesquisa sobre isso, o que eu to dizendo é assim, faltam referências ééé.. não é que não tinha ninguém mas tinham poucas pessoas, então de repente eu tirei disso e se tornou um potencializador pra mim, ao ponto de acharem que eu deveria começar a escrever semanalmente sobre isso. Então, eu tenho um sério problema que acho que poucas pessoas tem hoje em dia
Continua gravando, continua gravando.
Cont Resposta: Tá, mas vou retomar meu pensamento, pode deixar ééé.. então hoje as mulheres tão conseguindo conquistar um certo espaço dentro do jornalismo esportivo, pros LGBTS ainda é uma luta ainda mais atrasada, entende ? Hoje eu pessoalmente conheço, cara.. eu devo conhecer mais de.., provavelmente mais de uma dezena de pessoas que são jornalistas lgbts e gostam muito de futebol, muito de futebol, muito de esporte, e poderiam facilmente trabalhar com isso. Então acho que isso talvez tem que mudar um pouco, um pouco mais nos próximos anos, mas você tem razão, elas são geralmente levadas, por conta de um próprio conhecimento prévio que elas tem que trabalhar com entretenimento, outros tipos de assunto. É uma realidade, mas acho que está começando a mudar.
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João você já falou um pouquinho sobre isso mas, você acha a forma que a imprensa trata a homofobia hoje, ja ta muito diferente.. pegar por exemplo no começo do século ?
inclusive, que é beber de uma fonte que é mais de otimismo (risos), eu sou otimista, eu acho que apesar do atual contexto político e social eu ainda acho que a gente vive um momento interessante ééé.. para falar sobre esse tipo de assunto, que a gente não vivia a dez, vinte anos atrás talvez então.. enfim, resumindo a dica eu acho que é isso, são essas duas coisas, trate com naturalidade e faça disso um potencializador das suas capacidades.
R: Muito diferente, bastante diferente bastante diferente ééé.. se a gente falar da imprensa esportiva especificamente acho que é bem diferente, primeiro que no começo do século não era uma questão né, eu tenho certeza que existiam mesas redondas né, programas esportivos que usavam a homofobia como um elemento de humor muitas vezes né, e hoje em dia, graças também a uma pressão que existe popular, a rede social de certa forma democratizou um pouco isso né, tem seu lado ruim porque enfim.. muita gente falando sobre muita coisa, e tem muita gente cobrando determinados posicionamentos ,enfim.. Então eu acho que sim, mudou muito do começo do século pra cá , e inclusive acho que nos últimos anos, gosto assim de citar o exemplo ééé.. do Flamengo que em dois mil e dezessete publicou um post, um dos primeiros posts em rede social de um time se posicionando na luta contra a homofobia, primeiros posts foi feito pelo Flamengo em dois mil e dezessete ééé.. e aí o jornal O Globo que é o maior jornal do Rio divulgou aquele post, eles colocaram na manchete que era um post polêmico, foi essa palavra que eles usaram, isso foi em dois mil e dezessete né, não teve uma grande repercussão enfim. Eu acho hoje se o jornal O Globo usasse “post polêmico" teria muita gente cobrando O Globo sabe ? E eu to falando de quatro anos atrás só, porque existe hoje uma grande cobrança em cima desse tipo de situação, e precisa existir, eu sei que é uma situação às vezes chega a ser chata, repetição, de falar, falar, e falar, que você não desconstrói uma situação ou reconstrói toda uma estrutura social do dia pra noite, uma estrutura social de séculos de repente você precisa mudá la de alguma forma. Então pra mudar você precisa falar, falar, discutir, debater, então.. Às vezes fica até chato, mas esse tipo de manchete do O Globo por exemplo com certeza geraria uma certa repercussão né, agora, se fosse feito agora. Então cara, eu acho impressionante assim.. eu lembro que, eu costumo me basear até mesmo pelos depoimentos, pelas entrevistas que eu dou, eu lembro que em dois mil e dezenove quando eu escrevi o livro ééé.. especialmente no mês de junho tinham muitos jornais, pessoas me procuravam
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João voltando um pouco sobre o seu livro, foi uma das primeiras coisas que a gente acabou analisando, quando você tava produzindo ele.. ta dando pra ouvir ? Quando você tava produzindo ele alguma fonte ou algum entrevistado se recusou algum momento de participar por ser homossexual ou algo do tipo ? Teve algum receio de alguém falar sobre ?
R:Você sabe que pra produzir esse livro eu claramente fui atrás do Richarlyson por exemplo, e não consegui contato com ele infelizmente, não comprometeu meu livro, até porque eu tratei o tema Richarlyson por uma outra ótica, pela ótica da mídia, como a mídia cobriu o caso, não é nem o caso né, é uma figura que é o Richarlyson ééé.. então eu tentei falar com ele e não tive contato, mas eu não tive muitas recusas não, até porque meu livro ele se foca a contar a história de pessoas que querem falar um pouco sobre isso, sobre seu contexto de vida assim, então conversei bastante com torcedores, torcedores progressistas que têm esses coletivo LGBTS, conversei com jogadores de times amadores, enfim, jornalistas ééé.. eu não tive nenhuma recusa assim significativa, tive algumas pessoas que eu não consegui o contato, mas não comprometeu.
R:Eu acho essas comparações perigosas, mas eu tomei o risco de inclusive na introdução do meu livro fazer uma comparação desse tipo, que eu acho que é válida para explicar, a gente tá falando de futebol, jornalismo esportivo, então mais uma vez tomando o contexto histórico para poder falar sobre esse assunto. Na introdução do livro eu faço uma comparação da trajetória muito por cima, isso valeria só um livro pra isso mas enfim, eu passo um pouco sobre a trajetória histórica de negros e mulheres e de LGBTS dentro do futebol né, que teme muito basicamente a gente for analisar ééé.. os pretos eles não eram.. negros e pardos né na verdade, pretos e pardos na verdade que são os negros. Eles não eram exatamente ééé... eles não estavam no grupo de pessoas que fundaram o futebol no Brasil, eles começaram a jogar o futebol no Brasil, eles passaram a serem protagonistas dentro de campo a partir do momento que futebol se profissionaliza, e aí os clubes precisam por uma questão ai de de competitividade, de buscar mais jogadores, alguns jogadores passam a jogar em outras cidades e até mesmo fora do Brasil, e eles passam a incorporar negros. O Vasco por exemplo tem um papel fundamental nessa incorporação que é o primeiro clube a realmente incorporar jogadores pretos à sua equipe, eu to dizendo isso só para construir uma linha histórica que isso foi mais ou menos década de trinta, quarenta. E aí com Pelé isso aí realmente é o ápice de tudo isso, preto hoje ele é protagonista dentro de campo apesar de não ser que fora de campo, que a gente tem pouquíssimos técnicos, dirigentes pretos ainda. Mas enfim, década de trinta e quarenta negros passam a ser realmente uma força dentro do futebol, as mulheres elas tem um atraso ainda maior, a primeira Copa do Mundo feminina aconteceu em noventa e um, primeira copa do mundo masculina foi em mil novencentos e trinta, então tem um atraso de seis décadas ai né..as mulheres
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Já que você falou um pouquinho dos assuntos de racismo seria a próxima pergunta tá, que eu vou te fazer. Então pensando em profissionais tá, assumidamente gays, enfim.. ou bis qualquer coisa relacionada ao LGBT tá bom; Normalmente as pessoas elas expressam bastante em casos da homofobia mas principalmente em outras manifestações por exemplo, os discursos anti racistas né, e aí com isso a gente vai vendo aí durante os anos aparecendo mais pessoas negras ganhando espaço dentro da televisão e.. ganhando bancadas enfim, como no antiga caso da Maju que falava do Climatempo e hoje em dia já tá em outras posições voltados ao jornalismo, então pensando no tema de homofobia. Por que você entende que ele não tem a mesma força ou a mesma representatividade, então um profissional que seja LGBT não consegue alavancar tão rápido assim no processo assim tão positivo rapidamente né, e o que que isso motivaria, para o próprio profissional ou os companheiros tipo fazer com que acontecesse desse LGBT né, desse profissional LGBT também ter a mesma força do que os negros enfim.. nos discursos e nos posicionamentos profissionais.
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pra conversar sobre esse assunto, o mês de junho porque ? Porque é o mês do orgulho né, uma coisa de calendário, pessoas achavam que no mês do orgulho deviam falar sobre o assunto.. cara esse ano, de verdade assim ao longo de todo ano ééé.. sempre tive algum tipo de convite ou alguém veio falar comigo sobre isso, que achava interessante, “vamo fazer um podcast sobre esse assunto” né, enfim.. Hoje escrevo semanalmente sobre esse tipo de assunto, então.. o que eu to querendo dizer com isso, mesmo neste período de dois anos eu senti que já teve uma melhora na imprensa esportiva, sabe ? de não ser mais uma coisa de calendário, de vamos falar sempre que for possível né, assim como os casos de racismo por exemplo, que não pode ser uma coisa pontual de só falar quando acontece o caso ali específico né, que acho que isso acontece muito também, “ a teve um caso de racismo, de homofobia, vamos cobrir e vamos falar sobre”, precisa ser uma coisa mais contínua. Então acho que melhorou sim, muito, se for pegar no começo do século pra cá é um abismo, eu acho que nos últimos anos acelerou ainda mais.

Acho que a última que a gente tem para finalizar mesmo seria, a gente já falou um pouco sobre isso durante toda a entrevista, mas é sua perspectiva no no futuro, algo bem mais distante, algo que ainda pode estar próximo em todos os âmbitos, desde aceitação da torcida, imprensa, dos próprios profissionais, qual a sua perspectiva no geral da comunidade LGBT relacionada ao esporte ?
R:Bom, o que já está acontecendo, eu acho que a gente ja ééé.. uma coisa que é muito importante que eu acho que ja aconteceu felizmente, essas ultimas olimpiadas mostrataram isso, é que se implantou essas ideia que homossexualidade não pode estar ligada a auta performance, que é uma coisa completamente absurda, não faz nenhum sentido, mas a quarenta anos atras fazia sentido, as pessoas achava que quem era homossexual era doente, a própria pandemia da HIV e AIDS contribuiram pra isso. Então isso estava implantado, eles tiveram lá, eles ganharam medalhas, isso é uma teoria de qualquer pessoa que defenda hoje em dia ela tá completamente fora do bonde da história. Então ok, isso é uma coisa que a gente tem hoje.. imprensa, acho que já tem boa parte, em
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elas foram proibidas proibidas de jogar futebol durante quarenta anos no Brasil, então tem um atraso significativo, e hoje em dia finalmente a gente teve uma.. uma final do Brasileirão feminino que eu acho que foi a altura que mereceu, assim né que foi esse último Palmeiras e Corinthians que a gente assistiu. Então as mulheres ainda um pouco mais atrasadas, podendo dizer que, década de noventa, dois mil, começaram a plantar algumas sementes, hoje em dia a gente tem o Brasileirão feminino minimamente organizado. Os LGBTS pra além de ter uma diferenciação que é uma diferenciação que eu citei na primeira pergunta que vocês fizeram que é a diferenciação de, ééé.. de não ser uma luta exatamente explícita porque você não olha pra uma pessoa e diz, “ a essa pessoa é homossexual ou ela é bissexual, ou ela é transexual”, enfim.. pra além disso os LGBTS eles tem um atraso ainda maior, porque hoje simplesmente não existem ainda dentro do futebol masculino, então na verdadem, assim, não da ainda nem pra conceber. Esse ponto de virada que disse dos pretos foi década de trinta e quarenta, pras mulheres foi noventa, anos dois mil, para os LGBTS a gente nem consegue dizer se realmente agora que tá acontecendo, porque você não tem nem nenhum jogador no futebol masculino claro, a gente tem que sempre fazer a diferenciação, a gente tá falando de futebol masculino, mas não tem nenhum jogador. Então será que o ponto de virada tá acontecendo agora? Será daqui dez, vinte anos. Tudo isso pra dizer que você tem razão sua informação de dizer “ a os LGBTS está realmente mais atrasado”, quando a gente fala de futebol e de jornalismo esportivo voltado para o futebol especificamente, não to falando de um contexto geral. Até porque se voce pegar o poder aquisitivo da comunidade LGBT, da comunidade preta, obviamente uma coisa não tem nada a ver com a outra, enfim.. teria que fazer isso. Mas especificamente no contexto futebol você tem razão, os LGBTS eles tão em uma.. acho que uma linha histórica um pouco mais atrasada, aí como mudar isso, difícil.. como eu falei, não é da noite pro dia né. Mas acho que a gente tem evoluído nesse sentido né, e acho que o primeiro passo é sempre buscar mudar a estrutura, quando um LGBT está presente e torna presente essa pauta dentro do jornalismo, você já cria uma espécie de semente como falei, e as coisas começam a mudar, então.. eu acho que talvez estamos plantando um pouco disso agora pra quem sabe no futuro sejam tratados como muito mais naturalidade, para não dizer que a gente tá atrasado e teriam que ter mais LGBTS, enfim… acho que no futuro isso seja uma questão mais resolvida, mas hoje em dia realmente existe um atraso.
Mais alguma pergunta Gustavo ? Mais alguma coisa ?
Não, pode fechar. acho bom fazer a última por causa do tempo também.
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boa parte da Imprensa uma.. ao menos uma noção de que isso é importante a se discutir, se tem fundamento pra isso, se os jornalistas estão preparados pra falar sobre isso é outra coisa, eu acho que a gente poderia avançar mais nesse sentido né, qualificar essas pessoas para falar sobre esse assunto. Agora já existe uma noção de que é importante, isso ja é alguma coisa, então isso também já está acontecendo.. clubes se posicionando também já está acontecendo de alguma maneira, ainda que como eu disse aqui, para alguns seja ainda no discurso.. tá acontecendo. Vimos aí que especialmente os clubes do Rio esse ano ééé… me deixaram bastante satisfeito, em relação de tirar seu posicionamento da rede social e colocar pra dentro de campo, especialmente o Vasco, especialmente o Flamengo. E eu sempre digo que sou muito curioso para ver se eles vão manter esse posicionamento a partir do momento em que a gente tiver torcida nos estádios, na verdade já estamos tendo né, Graças a Deus (risos) graças a ciência também, então esses clubes vão manter esse tipo de posicionamento ? Vasco estampou lá gigantesco na arquibancada respeito, botou Bandeira LGBT aqui, acolá, o Cano protagonizou uma das imagens mais simbólicas do esporte eu acho nos últimos tempos, ele levantou a bandeira LGBT...Mas e aí ? E quando tiver a torcida no estádio, os clubes vão manter esse tipo de posicionamento ? Então isso é algo para ficar de olho, e já me leva ao próximo tópico que é a torcida né, torcida já entendem que isso é uma causa importante ? Talvez não ! talvez a gente esteja falando de um futuro próximo ai né, eu falei das coisas aqui que já estão acontecendo, futuro próximo, talvez comece existir um pensamento um pouco mais liberal com relação a este tipo de assunto, que são as torcidas. Isso muda.. isso não muda só dentro das torcidas como se fosse uma coisa a parte, isso muda no país né.. o Datafolha último Datafolha mostrou.. não Datafolha questões de política, Datafolha mais sociais que eles fazem, a gente tem uma populção que ainda é muito conservadora né..contra o aborto, contra uma série de coisas… enfim, acho que o aborto é uma questão mais complicada ééé.. a própria aceitação de uma união homoafetiva por exemplo atingiu o maior indice.. salvo engano, salvo engano quarenta.. eu não lembro ao certo mas está na faixa de quarenta a quarenta e nove por cento né.. parece pouco mas é o pico que já atingiu, hoje a maioriam poruqe quem é contra é na faixa dos trinta, quarenta por cento, e aí tem uns dez por cento ali que não tem opinião formada sobre. Então já existe uma maioria pela primeira vez na história que aceita união homoafetiva, eu acho que deveria ter mais gente, mas já é um tipo de avanço, então isso reflete na torcida não tem como não refletir, são essas pessoas que formam a torcida, torcidas comuns entre aspas, vamos dizer assim né, a gente tem que fazer separação de organizada e comum, as organizadas tem todo o ritmo próprio, cada uma tem uma espécie de linguagem, mesmo de filosofia. Enfim, mas acho que para um futuro próximo um pouco de aceitação maior dentro das torcidas, acho que isso pode acontecer. Eu acho que.. o que a gente ainda tá mais distante talvez seja uma discussão aprofundada dentro dos clubes e entre os jogadores de futebol masculino, isso talvez seja um passo um pouquinho mais distante, mas também não vejo um futuro muito distante não, acho que outros países já começaram a falar sobre isso, enfim..eu acho que a gente já conquistou bastante coisa, mas ainda tem muito mais conquistar e sempre lembrar de que a gente precisa colocar ééé.. o que tá no papel para funcionar né, homofobia já foi velada a crime de racismo, o STJD na mesma linha decidiu de que os clubes devem ser punidos por atos homofóbicos, então sempre tirar do papel essas leis, elas existem, então elas estão aí para serem cumpridas, mas isso também é uma coisa que tá existindo, agora a gente precisa que se cumpra, eu acho que em um aspecto geral é mais ou menos isso.

TRANSCRIÇÃO
MAYRA SIQUEIRA
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. 24

Vou fazer a primeira pergunta tá, pensando aí no meio esportivo enfim…É, você já chegou a sofrer algum tipo de preconceito só por, é.. só por ser mulher né ambiente que é majoritariamente de homens? Cê já chegou a sofrer algum tipo de preconceito por conta disso?
R: Sem dúvida nenhuma, mas acho que o grande ponto do, do, do machismo né, do preconceito dentro do, do… do jornalismo esportivo é… era uma coisa muito mais velada né, uma coisa é… muito mais difícil alguém virar e dizer… Você falou besteira porque você é mulher por exemplo ou… Sei lá (trecho não captado) todas as mulheres que trabalham no esporte, mas é… existe muito muito muito assim: Realmente corriqueiramente aquele, aquele preconceito velado, aquele preconceito que o… Principalmente o machismo né, que as pessoas não… não percebem o que, que tá acontecendo. Então vai virar e falar “Ah, é… A gente vê poucas mulheres falando de esporte porque tiveram é… não tiveram oportunidade crescendo quando criança não jogavam bola como os meninos e coisas do gênero né”. Fazendo esse tipo de associação é… que é uma associação preconceituosa porque cada um teve a infância que teve, a gente sabe que a sociedade é estruturada de uma forma que realmente as meninas não… Jogam menos futebol do que homens, se interessam talvez menos. Mas é… querendo ou não, é um, um… um preceito né, um pressuposto preconceituoso é… Até o, o simples fato de uma mulher estar comentando, incomodar muito né… Os homens, isso a gente percebia diversas… Eu participei bastante de mesas de debate principalmente na televisão e você via que tinha homens que ficavam incomodados é, e o meio (trecho não captado) que é uma das coisas que mais aconteciam o tempo todo né, você fala alguma coisa e alguém repete exatamente o que você disse com outras palavras e todo mundo fala nossa, realmente, você tem razão é… e o que você falou passou batido ou todo mundo faz cara de paisagem, tipo “Ai, lá vai a mulher falar” Então isso acontecia muito no dia a dia é… Entre, entre os comentários mais explícitos até os comentários mais velados comportamento velados e… Comparações com mulheres. Isso acontece muito e hoje eu acho que felizmente a geração atual é… Consegue perceber que acontece mais, então quando eu comecei, hã, mais de dez anos atrás, é… era muito comum as mulheres no esporte serem julgadas e assim “Ah, aquela lá… é, a gente sabe que ela tem relação muito próxima com jogadores, com os treinadores assim, era muita coisa subentendida, é… que a mulher precisava ter feito alguma coisa, ter, ter tido algum tipo de, de, de ato libidinoso com o personagem para que ela tenha conseguido aquela informação, aquela entrevista. É… Que hoje ainda está… Ainda existe, mas tá caindo um pouco mais por terra e existia muito uma competição entre as mulheres que eram obviamente comentada pelos colegas, então é… exatamente na comparação. Muitas vezes eu ouvia “Você é a melhor repórter mulher de rádio”. É… Isso implica que é, estão sendo comparada com outras repórteres mulheres e entre as mulheres, aquela pessoa tá me dizendo que eu sou melhor do que as outras. Mas por que que eu tenho que ser melhor do que as . É… eu sempre me questionava: Mas porque que eu não sou melhor entre os repórteres, ponto. Né… porque que eu tenho que ser a melhor repórter mulher, eu não quero ser a melhor repórter mulher. Dane se ser a melhor repórter mulher, eu quero ser a melhor repórter. Porque que cê tá só me comparando só a uma outra mulher. Então esse tipo de coisa acho que a gente pode hoje fazer uma análise muito mais, hã, objetiva do que se fazia na época, não é tanto tempo assim, mas dez, quinze anos atrás e obviamente antes disso, também acontecia bastante e hoje as mulheres se unem muito mais, se comparam muito menos, porque, eu dentro dessa realidade me comparava é… Eu dentro dessa realidade julgava outras mulheres e, e parei para parar… Eu comecei a conversar mais com elas e eu falei “Nossa, a gente é tão parecida, e… porque as pessoas falam isso delas ou porque que eu estou me comparando com elas e por que que a gente tá competindo entre a gente.
R: Bom, é… acho que até essa é relativamente mais fácil de, de responder é… Primeiro que estruturalmente a figura da mulher lésbica ou da mulher com mulher ou casal homoafetivo feminino, existe uma mística em volta né, é uma coisa que muitas vezes acaba sendo utilizado é… até pra… para erótica de ,hã, interesse masculino. Então já, já, já é uma coisa que é mais fácil de, de aparecer né. É, e também porque o peso em cima das mulheres homossexuais é muito mais leve na nossa sociedade, não quer dizer que não exista e obviamente existe muito preconceito e muita homofobia também. Mas entre as mulheres um peso muito mais leve e um peso muito, hã, mais “fácil”, também entre aspas [...] do que o peso entre os homens, porque a nossa sociedade, machista estruturalmente, mostra e,e,e… determina, que o homem tem que ser homem, como a figura que a gente conhece de, de homem né, do homem machão. Tem que ser forte, tem que, hã… Uma série de comportamentos que fazem com que não seja permitido que ele seja, hã, homossexual. É, é muito mais difícil para um homem sai do armário, hã, principalmente no meio extremamente machista do que é… As mulheres. É… sem, sem contar que o futebol por si só é um meio já muito machista, então, pegando um exemplo do vôlei, por mais que seja mais difícil, não é a coisa mais fácil do mundo um homem homossexual se assumir. É mais fácil um homem homossexual se assumir porque vôlei já é tido como um esporte um pouco menos másculo. Já o futebol não permite isso, além de ser uma paixão mundial, além de ser um dos esportes mais populares do mundo, o que faz com que as atenções sejam é, muito maiores para esse tipo de modalidade. Então tem uma série de fatores que faz com que para os homens seja muito mais difícil se assumir em um meio em que a represália vai ser muito grande. Se você parar para pensar é, na represália que o jogador, de novo, de vôlei ou de uma modalidade um pouco menor vai ter da, da torcida é, ao se assumir homossexual é um peso muito melhor do que se você falar de um jogador do Flamengo, de um jogador do Corinthians ou de qualquer grande clube do Brasil né, principalmente os grandes clubes, que tem uma torcida enorme e existe uma proporção de pessoas, hã, muito maior, que pode fazer qualquer tipo de agressão, linchamento virtual e etc… Então é muito mais difícil para o homem homossexual, hã, de uma maneira geral, entre as mulheres existe uma aceitação um pouco maior da sociedade ou até mesmo também não é só uma questão de aceitação, mas é uma questão de visibilidade, o futebol feminino está em um momento de grande crescimento, mas a gente sabe que historicamente foi um esporte de baixíssima visibilidade. É… falei do futebol feminino por que é um dos que tem, é… é um dos que até você citou né, que pode ser tido como caso de exemplo. Mas qualquer modalidade, as modalidades femininas em um geral, acaba sendo modalidades que.. é tem menos visibilidade do que as, as modalidades masculinas. Então, essa é uma outra briga (risos) que tem a ver também com a primeira pergunta de vocês. O… as mulheres no esporte como um todo… Tem menos visibilidade, é de menos atenção ou, ou recebe um pouco menos de, é, de, de… De atenção mesmo, mas enfim, acho que esses são fatores que contribuem pra, pra isso.
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

É, boa noite Mayra! Muito obrigado pela presença e pela primeira resposta. É… Uma das outras vertentes que a gente tá falando nesse tema, que envolve também… sentido na parte LGBT, é… sobre o futebol em sua essência. É muito comum é… Ter no futebol feminino por exemplo mulheres, é, da comunidade LGBT. É bem mais comum do que no futebol masculino por exemplo, que nas grandes ligas no mundo e no Brasil principalmente, não temos nenhum caso né, um atleta assumido ou algo do tipo. Como você enxerga isso e o que você é, acredita levar a isso não acontecer. Provavelmente pode existir né, um atleta homem hétero… homem hétero não. Homem que seja homossexual, porém, ele não é assumido. O que você acarreta esse fato?
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Então, hoje existe mais sororidade, mas realmente isso é, é algo que faz parte e ainda precisa ser muito desconstruída no, no meio é… esportivo.
R: Acompanhei muito pouco, sempre algo do meu interesse próprio, se não ter um quadro ou um programa específico, matérias específicas, então em alguns casos a gente chegou a ver algumas matérias é.. sendo feitas e geralmente focando na, na… em relações homoafetivas, o atleta é… assumidamente homossexuais mulheres, até por ser muito mais fácil de acontecer, mas é algo também que acaba sendo um assunto ainda tabu, um assunto que é, é difícil que apareça… Não vou dizer de cabeça assim “Nossa, nunca se falou sobre isso na Globo”. Talvez tenha e eu não, não, não lembre de cabeça. Mas eu lembro de alguns… Eu sei que alguns veículos tentaram. Eu mesmo quando trabalhei é, em rádio é… Na rádio, na CBN, na Rádio Globo tentamos emplacar algumas questões dessa ou é… o que a gente podia fazer, trabalho de formiguinha, que é tratar do assunto com a maior naturalidade possível. E isso eu percebo que não existe um quadro, não existe um programa específico pra tratar o assunto, mas é, existem convidados que são… de programas que assumidamente são homossexuais e falam sobre o assunto e existem matérias que cada vez mais estão saindo aí sobre esse respeito e que vai saindo sobre, sobre o assunto. Então, é hoje você vê com muito mais facilidade, na cobertura dessa última Olimpíada por exemplo, Ana Marcela Cunha campeã Olímpica da Maratona Aquática, dedicando a medalha pra namorada, citando a namorada ao vivo, entre outras atletas. No vôlei isso acontece também com, com mais frequência. É… senão atletas fazendo isso ao vivo, em entrevistas, ah, nas redes sociais, falando sobre o assunto né, falando sobre seus relacionamentos e isso virando a notícia como acontece é… Com muitos atletas. Atletas que tem a sua vida aí é, o tempo todo vigiadas é… quando tem uma declaração, quando tem uma foto, quando alguma delas é mãe ou coisas do gênero, acaba saindo bastante. Sempre é, no feminino. Muito mais difícil a gente ver casos é, entre os homens.
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É… Mayra, a gente, estudando, a gente percebeu que principalmente na grande mídia, existem muito poucos, muito poucas reportagens falam sobre o tema LGBT e tal. E durante a experiência de jornalismo esportivo você viu algum movimento nos Bastidores para que existe algum programa pelo menos um quadro ou reportagem envolvendo esse tema?
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

Sim! E já falando em profissional tá? É, atualmente a gente tem visto que nomes femininos vem surgindo aí, ganhando mais força né, no meio, no mercado de trabalho, enfim. E a gente trouxe aqui dois exemplos que é a Natália Lara e a Renata Silveira tá? E aí na sua percepção, é… cê acredita que finalmente essas mulheres estão ganhando força no espaço, na mídia esportiva ou não, são só alguns casos que vem aparecendo e para quantidade de leque né de mulheres que tem, que falam sobre o assunto de mídia, na mídia sobre esporte, elas não tem tanto espaço assim?
R: Eu acho que é um movimento para um equilíbrio de balança que a gente está vivendo. Não vai ser do dia para noite, não vai ser fácil, é… mas existe um movimento das emissoras, existe um movimento dos veículos que começou com mulheres escrevendo sobre futebol, aos poucos foi passando para mulheres sendo repórteres, é… depois a gente teve um passo para mulheres comentaristas, hã, e depois a gente… agora para as mulheres narradoras e ainda é um espaço ainda mais difícil do que de comentarista que também já é um espaço dificílimo, porque sempre foi ocupado por homens. No começo era, “Tá bom? Deixa a mulher falar de futebol como reportagem porque até aí tudo bem”. E também por muito tempo eram as mulheres bonitinhas, as que tinham… que tavam aparecendo, enquanto cê podia ver homem de todo tipo né? Mas bonitinha eu quero dizer dentro do padrão de beleza da, dessa sociedade. Então, é um movimento que tá acontecendo e infelizmente foi um movimento, hã… vou colocar aqui, não sei se é o termo mais adequado, mas o
movimento por cotas,ou seja, a gente precisa colocar mulheres então vamos começar a colocar mulheres. Mas é um movimento que aconteceu e que conseguiram é, encontrar mulheres muito boas aí dentro desse mercado e conseguiram encontrar espaço e cada vez mais elas aparecem e comentam e a gente tem aí na TV Globo… Não só mulher narrando, raríssimo mas acontece com a Renata como você mencionou, como a gente vê comentaristas eventualmente em jogos do masculino e jogos de Futebol Feminino, mulheres comentaristas aparecendo e isso dentro da Globo foi uma mudança gigante de… falar de Globo porque a gente tá falando do maior canal de televisão é, do Brasil com uma audiência assim é… avassaladora. Então é um movimento sim para que isso esteja acontecendo, é… e, mas é um movimento que ainda vai demorar é… um pouquinho para a gente ver resultados, por quê? Porquê quando eu cresci, eu via é… Cléber Machado, Galvão Bueno, é…né, Milton Leite, hã, Luciano do Valle, entre outros grandes narradores, falando só dos de televisão ainda, é… por aí, e eu achava incrível, achava legal, sempre gostei de esporte, não tava envolvida mas tudo bem. Tô na rádio, hã, na época o Deva Pascovicci é… que trabalhava na CBN falava para mim muito, cê tem que narrar, cê tem voz pra narrar e eu sempre pensei “Não, o que que ele tá falando? Nada a ver eu narrar, nada a ver eu narrar”. E eu, porque eu cresci sem um modelo feminino narrando. É, e não segui essa carreira, por mais que alguns narradores tenham brincado né de me colocar pra narrar e falado que teria dado certo. E hoje a gente tem mulheres narrando na TV, na TV aberta e eu tenho certeza que é uma geração de meninas que estão crescendo, estão olhando e estão falando e podem crescer e falar: Eu posso ser a Renata. Assim como muitos meninos e convivi com muitos colegas que queriam ser narradores né, quando a gente trabalhou, quando eu trabalhei em rádio, que falavam: Eu queria ser o Galvão Bueno. E eu conheci o Galvão Bueno e era nossa, um, um sonho pra mim. E eu não tinha esse sonho porque eu não queria ser o Galvão né? Então talvez a gente tenha muitas meninas que cresçam falando “Eu quero ser a Renata, hã, como a Natália, eu quero ser como diversas outras garotas”, como, como a Ana Thaís, é, que tá comentando na TV. Então isso é um movimento por, hã, exemplo né, por representatividade, é muito importante, mas a gente tá falando de toda uma geração. Então aos pouquinhos isso vai acontecendo. Eu me inspirei na Natalie Gedra pra trabalhar em rádio, porque uma mulher na, na rádio é legal e eu pensei, talvez eu possa fazer isso. E espero que eu tenha sido exemplo pra outras meninas também, inspiração pra outras meninas, é… assim como uma nova geração vai vir crescendo diferente. Mas não vai ser do dia para noite né, Porque é… assim como no futebol feminino, a gente ralou muito para encontrar algumas mulheres que tinham muito talento e pouquíssimo desenvolvimento técnico, profissional, hã, ou mesmo de, de… preparo físico, porque não era uma coisa que é normal, você não cresce com… desenvolvendo futebol, esporte para as mulheres. Então não se cresceu é… desenvolvendo uma geração de mulheres para serem jornalistas narradoras, comentaristas. Isso está começando a acontecer agora, então é um movimento que a gente vai ver nos próximos anos.
R: Ah, sem dúvida nenhuma, hoje… Isso não é só no esporte né, acho que em qualquer movimento, em qualquer assunto que a gente assiste na mídia, hã, filmes ou em qualquer tipo de representação que você tenha de, de, da, da, de, é… de pessoas homossexuais e pessoas LGBT, isso mudou completamente, porque a cabeça das pessoas tá mudando e a gente tá falando de uma geração em que isso é cada vez mais natural, na verdade, hã, o homossexualismo é… homossexualidade é, são (risos) é algo que é até pequeno dentro da comunidade LGBT hoje né, a gente já tem pautas extremamente mais complexas que tá falando de gênero, a gente tá falando de transgênero, a gente tá falando de é, pessoas (trecho não captado), a gente tá falando de pessoas
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É, Mayra, você acredita que a forma como a imprensa trata a pauta homofobia no futebol já teve muita mudança, se a gente pegar por exemplo, o começo da década passada para hoje?
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trans, então, é… a gente tá falando de, de, de identidade de é… de gênero como um todo assim. É um leque tão grande que, é fica até difícil da gente só falar de homossexuais. Então eu acho que sim, é… mudou completamente ,hoje, dentro do esporte, a gente tem a pauta de transgêneros no esporte que é muito complexa e essa ainda é muito maltratada, é, ainda existe um preconceito muito grande, ainda existe muita ignorância principalmente, então como a gente não sabe exatamente como tratar o assunto, é… acaba sendo, acaba… a gente acaba ouvindo muita besteira, a gente acaba, hã, ouvindo muita incerteza né? Então quer dizer que um atleta que era homem, um atleta trans que era homem e fez a, a, a… todo o processo para se tornar uma mulher, hã, ele pode competir entre as mulheres ou não pode. Nossa, essa é uma pauta que, é… você cutucar um vespeiro hoje em dia né, muito complicado. Então eu acho que sim, a gente evoluiu muito, mas a gente ainda tem anos luz pra gente é… cruzar, para a gente atravessar, para a gente chegar, hã, pra que o debate esportivo acompanhe os debates que a gente de fora do mundo do esporte. Não sei se ficou claro, se eu me enrolei aí, mas basicamente é isso.
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É… Mayra, falando um pouco sobre a parte dos profissionais propriamente dito, é… envolvendo um pouco sobre discurso, como eles é, tratam hoje em dia que tá cada vez mais comum é, os profissionais levantarem algumas bandeiras é… falando sobre racismo, é, eles mesmos já opinarem sobre isso é… mais naturalmente em diversos programas, algo que não era tão comum e, por exemplo, teve um caso da Gabriela Moreira, ex ESPN que está atualmente na Globo, que ela tava numa reportagem numa, num pré jogo e um torcedor falou “Ah, hoje vamos enfiar dois nos Bambis”. E ela já retrucou automaticamente o torcedor, falando que esse tipo de pensamento é algo muito antigo, que não deveria ser feito dessa forma, que ele estava totalmente errado. E retrucou novamente falando que não era para ele pensar assim ou algo do tipo e ele saiu andando como… resumidamente ela falou é… falou de certa forma mais explícita né, sobre é… o LGBT, um algo que não é tão falado, retrucando um, um… entrevistado. E se você enxerga por, por exemplo esse tipo de… é… um crescimento. Os profissionais cada vez mais falando sobre é, determinado assunto é… falando propriamente dito ó “ É, esse tipo de brincadeira é errada. Não é uma brincadeira, é uma ofensa”. Como você enxerga isso, se é algo positivo, se é algo que está realmente acontecendo.
R: Eu acho que tá acontecendo, mas muito timidamente. a Gabi que você deu o exemplo, é uma excelente profissional, uma cabeça incrível e que faz diferença né? Não é uma pessoa que é… estática ou apática, então… acho que ela é… até um ponto fora da curva mas extremamente positivo e que também impulsionou para que outros profissionais é… se comportassem dessa mesma forma hã, e,e, e… repreender esses comportamentos que… que não são mais aceitos, que foram brincadeira um dia e que hoje a gente entende que não é brincadeira, que não é legal, até como por exemplo, não me lembro qual foi a repórter é, do SporTV é, que, que teve um caso de um, de um, torcedor que tentou beijá la ao vivo e esse tipo de coisa enfim, tem várias repórteres que passaram por isso. Mas, que hoje assim, é, é muito mais fácil a gente comprar essa briga e, e repreender essa atitude do que tratar como uma risadinha pra repórter ficar sem graça e segue o baile né? A gente não segue mais o baile, a gente para e fala. “Não é legal, você não vai fazer isso”. Então é, acho que é… isso são mudanças que a gente vem vendo é, é… são extremamente positivas. Eu acho que a gente vai continuar vendo cada vez mais, porque tudo isso trabalha junto com a conscientização da sociedade, então hoje, muita coisa socialmente é discutida, muita coisa socialmente não é mais aceita, muita coisa já não é mais vista como brincadeira, que era vista antes, é.. então hoje você não vai ver um comentarista numa bancada, um comentarista homem com uma mulher, fazer uma piadinha machista e passar batido. E antigamente isso seria né, todo mundo daria
Então pensando aí, no último ponto que cê tava trazendo pra gente, pensando na empresa tá? Não só na questão da experiência. É… você já sofreu ou já viu alguma situação é, em relação a sede ou agressão contra mulheres? Então se trouxe ali no caso dos homens que iam lá e então tentavam beijar as jornalistas, enfim… Mas voltado a mulheres LGBT, então pelo fato dela ser LGBT ou não né, ela sofrer algum tipo de agressão ou assédio em eventos esportivos e como que a empresa reagiu essa situação? Então se caso você já vivenciou, da empresa deu algum suporte para essa profissional? Ou não? Finjiu demência e, e seguiu o baile também?
R: Eu confesso que tem um… é muito mais difícil encontrar profissionais LGBT. Assim, hoje em dia acho que até tem um pouco mais, mas dentro do jornalismo esportivo não, então eu não tenho nenhum caso de cabeça assim que eu, que eu possa falar, que eu me lembre. Assim, no máximo é… algum tipo de comentário negativo, de… enfim né? Sei lá? Chamar uma mulher de, de sapatão, alguma coisa assim. Mas é assim, não consigo nem lembrar nenhum caso de cabeça, então realmente não sei dizer. Com relação a assédio. Assédio mesmo de… por exemplo, uma jornalista ter sido muito ofendida, ameaçada ou de tentativa de, de, de… de beijar enfim, alguma coisa assim… É, eu lembro muito vivamente um caso com a Joana de Assis que… é… no estádio da Portuguesa, no Canindé ela.. é… tinha uns torcedores muito próximos ali na entrada do túnel por onde os jornalistas vão pra sala de imprensa né, para as entrevistas. E quando ela tava entrando lá, é… eles realmente assim, falaram ofensas muito pesadas para ela, assim… ameaçadoras né?! E assim, foi extremamente desconfortável, inclusive se não me engano, acho que o câmera até… dela conseguiu registrar, e… E aí ela processou, enfim, entrou na justiça, a… não necessariamente acho que a,a… a emissora chegou a, a fazer alguma coisa, mas teve um… rolou um apoio assim, acho que não… não fez nada publicamente, mas… ela foi apoiada ali na decisão dela de ir atrás inclusive usando as imagens que ela tinha pra, pra… pro caso. Mas assim, fora isso eu não consigo lembrar de nada mais específico. isso… é… principalmente dentro do cenário LGBT.
Eu acho que já é né como eu falei, já acontece isso é, aos poucos. A gente já vê uma mudança de tom nas matérias é… inclusive isso vira um assunto que é corriqueiro e que é
risada e a mulher ia ficar sem graça e ia seguir o baile. Então acho que hoje a gente não segue mas o baile né? Hoje a gente tem, hã, um comportamento muito mais diferente, ainda vai acontecer, ainda vai ter gente que não se conseguiu se encaixar nessa nova forma de pensar que a gente como sociedade está tentando construir mas é um caminho sem volta, acho que é, as próximas gerações vem com principalmente esses debates que vocês estão trazendo neste trabalho né, como LGBT, como machismo, como racismo são coisas que cada vez menos são aceitas é, e esses debates são cada vez mais frequentes e de maior concentração.
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GRAVAÇÃO SEGUNDO ÁUDIO
É Mayra, só para fechar agora a última pergunta. é você acha que no futuro tem alguma perspectiva para que a comunidade LGBT seja aceita e que o assunto seja considerado normal ou mais normal
R:possível?Semdúvida!
Então Onã, a gente gostaria de saber o que levou você a criar a torcida LGBTricolor ?
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Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

TRANSCRIÇÃO ONÃ RUDÁ
R:Eu enxergo como um movimento que na realidade tem a ver com desdobramento social com o debate sobre a LGBTfobia entendeu, como uma medida socialmente a gente vai dando passos essa comunidade vai procurando ocupar os mais variados ambientes e espaços, se a gente parar para observar hoje em dia existe grupo LGBT, movimento, pessoas ééé.. reafirmando essa identidade dentro de todos os lugares né. Até no agronegócio, o pessoal do agronegócio, era LGBTagro
Onã muito obrigado, boa tarde eu sou o Vinícius a gente quer agradecer claro pela sua disponibilidade de conceder essa entrevista pra gente. Falando sobre as torcidas organizadas, como você enxerga esse crescimento das torcidas e organizações LGBT no futebol brasileiro ?
R: Na realidade eu sempre digo isso né, todo mundo me pergunta é a pergunta que eu mais escuto, porque criou, porque teve essa ideia. Eu acho que foi assim, um monte de ideias assim mesmo, porque o clube estava tendo em um momento que tava promovendo ações afirmativas e ali eu tive um inside, de tipo ééé.. existia mais do que marketing naquela ação entendeu? E quando eu propus a iniciativa de criar a torcida, eu realmente percebi que existia mais ação do que marketing. Então o que me leva a criar a torcida é o fato de que o clube se posiciona em relação a essa temática do futebol e a gente sabe que não é comum de acontecer.
complicado hã… sem que exista muita explicação, então tá tudo de uma forma mais naturalizada e quanto mais natural trata se o assunto, mais natural ele parece para o público. Então vai deixando de ser um tabu, então, por exemplo, como eu falei: A Ana Marcela fazendo a dedicação da medalha dela e citar o apoio da namorada dela e isso não virar um assunto é… por si só, e sim estar inserido no contexto de… da medalha da Ana Marcela, é… já é uma vitória, porque ninguém ficou falando “Ana Marcela tem namorada, ela tem uma namorada”. Não, assim, ela dedicou para a namorada, assim como qualquer atleta de qualquer modalidade pode ter dedicado. Uma… um jogador de futebol dedicou um gol para esposa que tá grávida por exemplo. Então entrou dentro de um contexto de naturalidade, e isso é um movimento que a gente tá vendo cada vez mais, e eu acho que vai ver sim cada vez mais. Quando eu fui estagiária num… num dos meus primeiros estágios dentro do esporte, que foi é… no globoesporte.com, na época, a página dos clubes era sempre sempre todos os dias tinha a foto da musa do Paulistão, da musa do time. Então o São Paulo tinha musa, o Corinthians tinha musa. Sempre tinha uma mulher dentro de um corpo super padrão de beleza né, é… toda boazuda, gostosona e etc… e toda curvilínea, e toda página tinha uma dessa e tinha que ter a página… nas páginas do clube, porque era assim que a coisa era tratada e isso dava muitos clicks, e o jornalismo de internet né, o jornalismo online, ele, é… vive de clicks e de quantos acessos as matérias tem para que exista, é… para que a roda gire. Então isso era fundamental e hoje graças a Deus felizmente a gente não tem mais isso, não é mais necessário você colocar uma mulher com pouca roupa é, para que você tenha clicks, acessos e que isso seja uma coisa obrigatória digamos assim. Então esse tipo de pauta já não é mais uma coisa… não vou dizer que não existe mais. Existe ,mais uma coisa mais frequente, não é uma coisa que precisa ter, não é uma coisa que os grandes veículos apelam mais. Então, acho que as coisas vão mudando sim aos poucos e… e assim é… a comunidade LGBT vai ser cada vez mais representada de uma forma mais natural possível.
A gente viu que a relação da torcida da LGBTricolor com Bahia é muito próxima né, tipo a camisa que foi feita, o próprio uso do número vinte e quatro pelo clube, como que iniciou essa relação saudável entre a torcida e o Bahia em si ?
alguma coisa assim, um negócio bem interessante. Então no futebol não é diferente, acho que o posicionamento dos clubes ajuda toda essa movimentação de identificação da galera que quer criar um coletivo, um núcleo de pessoas ali pra se organizar pra torcer, pra tratar dessas questões ali no ambiente desse clube entendeu, mas acho que tem a ver mesmo com essa vontade da comunidade querer fazer parte do que ela acha que compete a ela, de ser torcedor é também um direito que elas têm mé, assim como cidadão, cidadã, como parte de pessoas que também pagam impostos. Então eu vejo essa compacidade mesmo, de parte social que culmina na construção de mais torcidas.
R:Eu acho que o que o Bahia tem com a gente, o mesmo trato que ele tem com as outras torcidas, porque com as outras eles tem outros tratos mais aprofundados né, mas acho que a parte do clube eu não ouvi de procurar colaborar, de tipo assim fazer na prática o que se escuta no discurso entendeu. Isso faz com que a gente tenha posições que acabam sendo posições que reafirmam um lugar, uma ideia, um valor, um conteúdo de tudo que a gente traz pro clube tá entendendo. Eu acho que isso tem a ver com o fato de que o Bahia tem o espaço onde pessoas que compõem o movimento sociais mais diversos, fazem parte das suas ações afirmativas, entendeu ? Tem a ver com séries de coisas construídas pelo clube para abri um ambiente onde as pessoas que seguem essa temática social podem la e pressionar alguém do próprio clube sabe, alguém que tenha um poder de decisão, de fazer alguma coisa acontecer imediatamente na medida que a gente tá ali questionando e pautando aqueles assuntos, aquelas temáticas. Isso surgiu quando dei a ideia da torcida para o clube fui integrado em uma das ações afirmativas, aí a gente começa a falar com pessoas do clube, não tem um trato direto com a diretoria executiva, a diretoria executiva é voltada mais para o futebol, e ao mesmo tempo acompanham esses assuntos que acontecem e reafirmam esse lugar da torcida no clube, pra garantir também que haja na parte do clube, e já reafirmaram isso em live sobre a camisa, usa quem quer, mas é importante que o clube se posicione a isso entendeu. Então você não é obrigado a usar, eu me lembro muito bem desse vídeo, ele dizendo que não é obrigado a usar porque existe, agora é importante que ela exista, sabe ? Então a gente não tem aquela relação, vamos dizer assim, trivial entre uma torcida e o clube, o problema que os outros clubes por exemplo, teve um episódio muito interessante no Palmeiras. A Fiel LGBT procurou o Palmeiras pra conversar, Palmeiras disse que ia conversar, se comprometeu a colocar uma faixa da torcida, e aí começou criar uma série de burocracias que é óbvio um coletivo desse formato, com essa temática, com esse conteúdo não vai ter entendeu. Mostra uma tentativa de inviabilizar sabe, porque você sabe que um coletivo surgindo, sabe que tem pessoas ai se organizando, pessoas que tem medo serem atacadas na rua, como você vai cobrar de uma torcida que está a trinta, quarenta anos indo ao estádio com discursos que desagradam a gente, que às vezes ofendem a gente tá entendendo. então assim, eu acho que o Bahia democratizou, fez e fez tranquilo, procura ajuda, procura sempre ajudar sabe, acho importante por exemplo a gente tem a faixa no estádio, e procura garantir isso, sem tipo de rusga com alguma outra torcida. Enfim, eu acho que tem um cuidado, e esse cuidado da segurança pra gente existir como um coletivo, como uma torcida, e em outros lugares isso não acontece, infelizmente ainda, entendeu.
E Onã falando mais ou menos dessa parte agora da torcida, que você comentou bastante e outros exemplos. Teve alguma dificuldade da torcida do geral do Bahia e com vocês ? Com a LGBTricolor ou não ?
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.
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R:A gente tá falando de uma coisa que ééé.. angaria um ódio social muito singular né, muito singular, e assim as pessoas.. a coragem que ela não tem de dizer que são racistas ela tem de dizer que são homofóbicas sabe ? Agora com um pouco mais de ressalva porque tem a discrimização imposta feita pelo STF.. mas ainda assim as pessoas acham que por exemplo.. depender dessa forma tradicional significa obrigatoriamente uma perseguição a nós como sujeito ou como participantes também de famílias eventualmente e aí nossa família não merece ser reconhecida como família entendeu, outra coisa menos família ééé.. enfim. Então a gente tem dificuldade, dificuldade mais no começo, mas ai que a gente testa também até onde que vai o que é marketing e o que é concreto tão entendendo, porque ai que a gente pode perceber qual era a posição real do Bahia sabe ? É diante de um desafio que se concretiza mesmo ali, pra além do discurso, além da pirua do vídeo do Eike, sabe quando surge alguém ali na prática. Então acho que é reafirmação de uma posição que o clube ajudou muito pra gente conseguir continuar nossa caminhada. Começo foi bem difícil, sabe ? Mas hoje eu vejo, olhando pra trás pensando que seria muito mais difícil se não tivesse outras no momento que a gente surgiu, ela fosse construída a partir de um movimento, tá entendendo, seria muito mais difícil. Então tivemos aí uma coisa ou outra desagradável, até momentos que envolviam torcidas de outros clubes não somente a do Bahia, mas ja foi ta no passado.
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é um movimento que a gente tem perto constantemente né, porque vocês imaginam ai a existência da torcida faz que periodicamente as pessoas LGBTS entendam futebol como um ambiente pra elas, ou que as próprias pessoas que estão ali automaticamente entendam que aqueles corpos ééé.. enfim, pertencem aquele ambiente ta entendendo. Então esse é um processo de conversão que a gente busca sempre tipo assim, fazer com o impacto que a gente consegue ter a presença física no estádio. E tem alguns complicadores né, esse complicador só que é o primeiro e é o maior deles, é um desafio cultural, as pessoas LGBT entenderem que o esporte, o futebol é um ambiente pra mim e posso ir tranquilo e.. no Bahia a gente já tem uma coisa assim da tranquilidade de ir no estádio, de ir pra arena sabe.. Tem muito mais do que a gente vê em outros clubes, muito mais mesmo, sabe. Mas ainda há essa construção sendo feita no imaginário coletivo das pessoas né, porque também tem muita gente que é LGBT que é Bahia, tá no grupo da torcida, vai lá no instagram, comenta, compartilha, curte, mas ainda não vai no estádio entendeu, porque tem receio, então vocês percebem a percepção cultural disso. Outra coisa que dificulta é a divisão da Arena, o desenho da Arena, esse modelo de arena que a gente tem visto no futebol no último período, a parte que representa além do estádios, do formato, até mesmo o desenho do campo se a gente for parar pra pensar né. E aí uma elitização do sujeito jogador, mas assim, ééé como que diz ?... Uma elitização da compreensão daquele sujeito entendeu, da negociação, de tudo. Deixando os clubes que tem menos dinheiro em mais desvantagem, a gente tem uma divisão que é assim, tem o setor norte sul, leste, oeste, inferior, superior, aí complica porque quem tem uma condição financeira mais favorável vai procurar um lugar que seja menos apertado vamos dizer assim, quem tem menos condição financeira vai pra um lugar onde é mais popular, mais acessível, então tem essas divisões na arena, então se tem alguem que ta em um lugar no estádio, tem gente que tá no outro, isso é muito comum acontecer com a gente por exemplo. Mas esse movimento tem sido cada vez mais constante, a gente percebe que cada vez mais a pessoa LGBT se aproxima do clube, frequentam a loja, compram, consomem, se associam entendeu. Então muito bacana.
E como foi essa transição da torcida rede social, página LGBTricolor para para dentro do estádio em
R:Estesi.
Trabalho
eu acredito muito na humanidade, acredito no ser humano sabe, assim, apesar de muitos pesares eu acredito muito. Agora não acho que isso é automático tá entendendo, o que acontece, nenhum grupo social hoje em dia percebendo os picos históricos que a gente teve,
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Falando disso, agora algo ruim, que ainda tem muito na nossa sociedade, qual a sua visão sobre a normalização dos cânticos homofóbicos dentro do estádio ?
R: Não é que se há uma normalização né, se a gente poder parar pra olhar um ponto de vista legal, ai to falando da justiça comum ou seja, não tem como naturalizar isso, é crime certo, uma espécie de preconceito, racismo imprescritível inclusive neste momento compreendido como.. vamos dizer assim imprescritível eu ja disse né (risos), porque um episódio com a nossa torcida, aconteceu isso né, ficou prescritível porque ficou entendido como racismo ou injúria racial, é um jeitinho a ser mudado, justiça comum entende isso, a desportiva tem também o STJD que já trata sobre isso, agora não é cumprido né. Mesmo com aquela recomendação indicada pelo STJD, que é uma recomendação assim de verdade vergonhosa, que fala de opção sexual e nós mudamos duas vezes por gestões de alteração e o STJD ignorou completamente tá entendendo ééé.. enfim. Nós temos ali também uma orientação pra que isso seja enquadrado né, para que os clubes promovam ações e tal, a gente não tem uma coleta de informações sobre o retorno dessas organizações, não tem o prazo de cumprimento, não tem nada. Então alguns gritos acabam sendo culturais mesmo dentro dos estádios, se você para pra observar não só os gritos, mas também apelidos entendeu, por exemplo o São Paulo tem o apelido de bambi, o Cruzeiro tem o apelido de Maria de Minas ou Marias, Marias de Minas é a torcida LGBT e tal. Então assim, há uma naturalização que não deveria acontecer, porque os mecanismos legais já enquadram isso, se os árbitros cumprirem a regra, e cumprirem a lei, cumprirem o código esportivo, o que falta é os clubes orientados vamos dizer assim por boas práticas conduzirem ações como um workshop sabe. Tem uma responsabilidade social com a torcida, com os membros do clube, com funcionários, com os sócios, com o conselho deliberativo, enfim.. com todo mundo que faz parte daquele universo tá entendendo. Porque tem o combate dessas palavras, desses gritos, dessas situações. Recentemente a gente mandou uma denúncia para o STJD vocês devem ter visto aí na imprensa, com relação a gritos homofóbicos que estavam sendo feitos pela torcida do Flamengo contra ééé… acho que a do Grêmio, e a palavra de ordem era “arê re, gaucho da o cu e fala tchê” ta entendendo. E até hoje a gente não teve um retorno do STJD, o tribunal de justiça desportivo do Rio de Janeiro disse que não competia a eles, que não tava dentro da área deles de investigação e de avaliação e o STJD não responde, como que você combate a cultura quando quem deveria ser justo é o mais injusto no protesto sabe. O STJD demorou mais de setenta dias que é o prazo de prescritibilidade na justiça desportiva, e por isso nosso caso foi descrito como prescrito no julgamento aqui no tribunal desportivo da Bahia por ter passado o prazo de setenta dias. Então tipo assim, como que você combate a cultura, se que deveria combater acaba propagando por um tipo de inação, e quando você opta por não agir, você tá tomando uma posição né, não ter uma posição é ter uma posição, não tomou uma atitude é uma posição, então, enfim. Ta naturalizado por algumas pessoas, mas a gente ta aqui vigilante, denunciando, combatendo, fazendo o que a gente consegue pra poder fazer do futebol um ambiente mais saudável mesmo.
E para finalizar aqui, você tem alguma perspectiva no futuro para que essa barreira do preconceito, do LGBT frequentar o estádio sem represália sem receios, você vê um futuro com essa barreira ser R:quebrada.Euvejo,
TRANSCRIÇÃO GUSTAVO BANDEIRA:
Você acha que a mídia trata como relevante a homofobia no futebol?
R: Eu acho que a mídia ignora a homofobia no futebol. Ela não entende a homofobia como um problema no futebol. Ela… Via de regra a gente tem um problema na nossa narrativa sobre violência no futebol que a gente só olha para a violência que inclui confronto físico e preferencialmente os que incluem os torcedores organizados. Das múltiplas violências que existem no futebol, essa é a violência eleita pelos meios de comunicação como a violência que importa, como a violência que precisaria ser combatida, né?! Tanto que se você olhar as notas de todos os jornais, claro, obviamente estamos falando do período ainda com pré pandemia com torcidas, de torcidas adversárias nos estádios né?! Você vai ter episódios de homofobia e de racismo também né todos os jogos, sempre tem um jogo que o jogador ou é chamado de viado é chamado de macaco ou ambos né?! E no caso isso não aparece em nenhuma nota, não aparece nenhuma em observação de rádio em nenhum comentário de nada… Se tiver briga da torcida aí sim, aí é uma violência que tem
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

distinção de povos, de morte, de guerra, de situações que fazem com que a humanidade do outro ou até inferioridade fosse multiplicada com vamos dizer assim, ameaçador ou indesejável. Depois de ver tudo isso a gente não tolera mais, eu acho que é um grande marco do entendimento humano sobre isso, que é sem dúvida é a carta que é assinada após fim da segunda guerra mundial aonde acaba com o assassinato de pessoas ta entendendo. E de lá pra cá a declaração geral dos direitos humanos vem com a gente uma compreensão, e cada vez mais essa compreensão é difundida, e isso tem um papel muito importante para a tomada de consciência desses sujeitos tá entendendo, tomada de consciência, organização política, organização social, busca de direitos, busca por avanços discriminatórios, isso acontecendo de uma forma mais contundente. Então assim, quando a gente fala por exemplo no Brasil especificamente, a gente tem aqui no Brasil assim como a gente tem agressivos de violência contra LGBTS, a gente tem desenhos muito impressionantes de existência a partir de movimentos tá entendendo. O que to querendo dizer a vocês, em Salvador tem mais parada LGBT de bairro do que na Europa tá entendendo. Salvador a gente tem dentro da capital de Salvador mais organização de bailes LGBTQIAP+ uma forma de combater a violência e resistindo de alguma forma, do que mesmo no país, na américa latina ou na Europa, no mundo. Fruto que evidentemente da violência que essas pessoas sofrem e uma tomada de consciência que tem esse grupo. Futebol na verdade sofre preconceitos sociais e ele pode influenciar na sociedade. Então quando a gente consegue dar um passo em uma medida de ação afirmativa, inclusão como a gente vê com a LGBTricolor eu tentei em toda minha vizinhança que torce para o Bahia, eu vi uma aceitação assim, meus vizinhos sabem que eu tenho envolvimento com o futebol, com a inclusão, inclusive passaram a pesquisar sobre essa temática LGBT a partir disso tá entendendo. Então estamos tendo um avanço, tivemos consciência, a gente não tolera a desvalorização, não vamos tolerar ser extintos de coisa que podem fazer com a gente. Por isso vejo que la na frente a gente pode ter na medida que a gente avance nesse ritmo que a gente tem avançado, nessa luta, talvez a gente possa passar por um processo circunstancial, politico social perigosíssimo que ai envolve alguns grupos religiosos, inclusive a gente tem continuar vigilante, mas acredito que a progressão coletiva é mais sistemática e de avanço, tem que dar atenção nas leis, na literatura pra que a gente não tenha retrocesso. de assunto agora a gente precisa comprar mais nem a literatura é um direito porque a gente consiga não tem retrocesso estou entendendo e educativas melhor ações.
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sou o Diego. Estou participando aqui com os meninos tudo bem? Qual foi sua maior motivação para levantar a bandeira contra essa homofobia que tá, que ainda existe hoje em dia no futebol?
Gustavo, além desse caso que você citou do goleiro Aranha em 2013. Você já presenciou algum caso de homofobia de dentro do estádio?
R: Cara, assim. 2014 só o caso Aranha só pra registro tá? É… sim, é que assim, o que que a gente entende né?! É… o… são muitas as, as formas de olhar esse fenômeno tá? Um critério muito utilizado tem sido, é quando um jogador específico é chamado de bicha, de puto e o melhor
que ser combatida e que ela aparece criminalizada. Um exemplo de um caso para mim bastante emblemático que eu acompanhei bastante perto, foi o caso do ex goleiro Aranha do Santos que sofreu foi vítima de racismo aqui na arena do Grêmio, estádio do time que eu torço né e depois, teve o episódio na Copa do Brasil, foi muito midiátizado, vocês provavelmene conhecem né, senão aí tem que fazer a pesquisa (risos) né e três semanas depois ele voltou a Arena pelo campeonato brasileiro e a torcida do Grêmio chamou ele de viado o jogo inteiro, todo o jogo… não há nota, não há comentário, não há… ao contrário, os comantários são dizendo: A torcida respeitou o Aranha, a torcida não repetiu a violência com o Aranha… Então não, me parece que a mídia, especialmente a esportiva ignora por completa a existência da homofobia nos esportes em geral e no futebol em Boaespecífico.tardeGustavo,
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R: Assim… é, eu sou torcedor de futebol desde muito cedo né?! Eu vou ao estádio de futebol vocês provavelmente não eram nem nascidos ainda né?! No final da década de 80… E por uma série de circunstâncias da vida eu virei… Acabei fazendo pesquisa na área de gênero né?! E eu ia estudar… Até não era meu objetivo, eu queria estudar cinema. Mas dada essa minha é… Esse meu lugar de torcedor de futebol muito relevante… Foi… Me foi sugerido por uma professora e eu topei! E bom, e se eu vou estudar gênero nos estádios de futebol, não tem como você não enxergar o machismo e a homofobia explícitas né?! É… Você tem um, uma forma… A formação do torcedor que inclusive é a formação que eu passei né?! Ela faz um esforço muito grande de separar os torcedores das mulheres e dos homossexuais e faz essa separação através da violência. Então foi à partir dessa… Desse olhar para o estádio para uma ótica diferente, eu já para o estádio de futebol a mais de… Aproximadamente 20 anos eu já ia a estádio, eu já tenho mais 14 de pesquisa né então é… Eu, eu realmente é… Foi uma lente que eu coloquei, foi um quadro teórico que me permitiu olhar para as práticas que eu já frequentava muito tempo e que não dava bola, eu, eu dividia com a imprensa esportiva a ignorância pela… Em relação a esse tipo de violência. Foi justamente quando eu mudei os óculos, foi quando eu fui olhar pra esse fenômeno de um outro lugar, é que eu consegui visualizar essas práticas por que o que que acontece: Espaços como no estádio de futebol, eles pegam uma prática que ela é arbitrária como qualquer outra né?! E acaba naturalizando as, como se fosse assim o tempo todo, sempre fosse assim. E… e daí bom? Acontece que nesta última década a gente viu uma série de movimentos pleiteando essa existência. A Minha tese, a minha dissertação de mestrado, ela é de 2009. E naquela época eu falava que tinha homofobia no futebol sozinho. Eu não tinha os grupos queers, depois dos grupos anti fascistas, é, a gente não tinha matérias de, de jornais, de revistas e coisa e tal… Agora não, agora tem um monte de gente que fala sobre isso, não tem nada a ver com meu trabalho (risos), um pouquinho só, mas tem a ver com esse fenômeno da cultura que não aceita mais essa violência que, que já existia, mas era tomado como naturalizado.
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

exemplo talvez seja o legado da Copa de 2014 que é o tiro de meta, que é aquele lá, ah bicha, puto, sei lá o que. Aí as pessoas enxergam a homofobia. Só que assim, quem tem estrada de estádio de futebol sabe que o jogador adversário, especialmente o jogador adversário é, é… De destaque, o jogador adversário mais famoso. Eu assisti logo quando eu tava fazendo a pesquisa, inclusive essas, essas coisas que eu sempre fiz… Cê muda a lente, muda o foco aí cê vira outra pessoa em alguma medida né?! É, eu lembro do primeiro Gre nal que eu assisti quando eu tava fazendo trabalho de campo e a torcida do Grêmio que óbvio pegou no pé a época do Fernandão, atacante do Inter que, que infelizmente faleceu tragicamente… E a torcida toda, ele reclama de uma falta: Fernandão viado, Fernandão viado. Isso simples, fácil, né?! O Renato, o Renato hoje técnico do Flamengo é, que, que é ídolo também do, do clube que eu torço, né? Ele por ser uma figura polêmica e de destaque, gostar da provocação e das brigas, todo estádio que ele vai é Renato viado, Renato viado, Renato viado. É… ou então as brigas de torcida, é… nós aqui do Rio Grande do Sul, a gente recebe o pessoal do Rio, de São Paulo gritando “paulista viado, carioca viado”, é… Com os gaúchos tem até a musiquinha do arerê né? “ Arerê, gaúcho dá o cu e fala tchê” coisas assim né?! Então o que acontece é que via de regra essas manifestações não são lidas como homofóbicas. Situação homofóbica é lida quando você xinga um jogador. Ah o Rogério Ceni ia bater o tiro de meta: Bicha. Ah então tem homofobia e aí o que que acontece, porque que se nega a homofobia e não se nega por exemplo o racismo? Porqu se parte do pressuposto de que o jogador não é homossexual, esse, esse é um pressuposto importante, no caso do racismo você não tem como dizer se o jogador, que o jogador não é negro, né? Então, um pouco, essa pode ser uma das diferenças na hora de, de olhar pra, pra esse mesmo fenômeno, né?! Então é… o que que, o que que eu me permito entender: Que quando você frequenta estádio, você aprende sobre a homofobia. Mesmo que não tenha exatamente um sujeito homossexual ofendido, você ensina todo aquele grupo: Jogadores, os dirigentes, os colegas jornalistas de vocês, os torcedores… De que xingar homossexuais é uma coisa bacana, é uma coisa que deve ser feita, é uma coisa que não gera polêmica, que não é um problema né?! Então se ensina desde muito cedo que essa identidade homossexual é uma identidade pior, é uma identidade que se possível você deve evitar, deve fugir e não assumir pra… para você.
A gente queria que você falasse um pouco sobre a relação com a Coligay né? Que é a torcida LGBT do Grêmio. Qual sua relação com a Coligay?
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R: Nenhuma! A Coligay existiu dos anos 70 até o início dos anos 80 e apesar de eu ir desde muito tempo eu não era nascido ainda em 81 quando a torcida terminou. Né, tenho um trabalho muito legal sobre isso com a Luiza. A Luiza Anjos… Luiza Aguiar dos Anjos, trabalho maravilhoso, espetacular né sobre a Coligay. O que eu tenho são os relatos, são as memórias né e são os esforços da torcida do Grêmio, isso eu tenho! Eu tenho os relatos dos torcedores sobre essa memória. Por exemplo: em 2009, como eu havia dito pra vocês, eu fiz a minha dissertação sobre gênero nas torcidas do Grêmio e do Inter. Se vocês buscarem a minha dissertação na internet que tá disponível, não tem uma vez o termo Coligay citado, ele não aparece em nenhum momento, porque foi uma torcida que existiu, né, que teve uma durabilidade de uns quatro anos um pouco mais atuante até o final dos anos 70 depois um pouquinho menos né?! Mas que foi feito um esforço muito grande por parte do clube de apagar essa torcida da memória, tanto que se você conversar com torcedores do Grêmio mais ou menos da minha idade, tô com 38 anos, é… Alguns deles vão dizer “Ah, teve uma matéria’’, “Ah, teve um livro”, “Ah, teve uma reportagem na TV, no rádio coisa e tal”, mas as pessoas não conhecem, porque foi feito um esforço muito forte de apagamento. Hoje não, hoje um pouco dentro dessa lógica que a gente tem de entender a homofobia como um problema, de tentar
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Gustavo, com o surgimento dos Canarinhos Arco Íris, que é o observatório que reúne as principais torcidas LGBT do Brasil, é notório o crescimento de torcidas organizadas do gênero, principalmente nas redes sociais a gente percebe isso. Como você enxerga esse movimento?
R: Cara, eu enxergo como algo extremamente positivo, eu acho que a gente tem aí desde o… 2013 ali quando estouram as torcidas Queer primeiro, depois todos os seus… Eu acho que eles, que tem o movimento muito, muito forte que são de pessoas que tem interesse em torcer e que não se sentem contemplados pelos modelos de torcidas que existem. E isso é muito positivo né, isso é um debate democrático, isso melhora o espaço público, isso melhora o estádio de futebol também. Problema que eu verifico né? É muita torcida de rede social, que é ótimo né, que é uma forma muito importante de relacionamento contemporâneo, mas são torcidas que tem pouca memória, pouca vivência de arquibancada. E a culpa não é delas, tá? A culpa, absolutamente a culpa não é delas. Muitas dessa falta de vivência acontece, porque é um ambiente, era ainda mais e ainda continua… Não, não é um ambiente agradável ainda, mas era um ambiente absurdamente inóspito né pra essas pessoas, era um ambiente em que você no máximo… Isso uma diferença muito importante que existe especialmente na América do Sul entre performance e… e sexualidade, você pode… e os torcedores dizem isso: Você pode ter relacionamentos homossexuais coisa e tal e na hora de torcer cê tem que se “comportar”, né? Milhares de aspas aqui, mas é que o sujeito precisa performar, ele tem que fazer de conta que ele não é homossexual né? Então é muito, muito positivo esse tipo de, de reclamação, porque é um espaço, todo espaço social, é… Tudo que a gente vê no espaço social, ele é resultado de um consenso muito breve de disputa por significado, é… Se a gente pegar nós os quatro aqui, vamos combinar alguma coisa, é, não é porque isso é uma regra que tá definida, que foi assim, sempre foi assim, mas é porque a gente minimamente consensoou, mas daqui um pouco, um de nós não vai ter ficado satisfeito e aí vai tentar articular com os outros pra criar outras possibilidades e isso eventualmente vai poder ampliar o debate, vai poder deixar mais plural, vai poder deixar mais democrático e é sempre muito positivo.
colocar o esporte , o estádio de futebol um pouquinho bem pouquinho mais inclusivo pra, pra… Para as pessoas LGBTQIA+, você já tem no museu do Grêmio por exemplO, cê tem um cartaz lá da Coligay né?! Reforçando essa, essa participação, mas antes você não tinha, e não, não só no meu trabalho, como outros trabalhos de, de pessoas bastante conceituadas, né, não… não aparecia a Coligay, então a relação que eu tenho com a Coligay na verdade eu não fui testemunha ocular dessa história (risos), tem um esforço muito forte de apagamento dessa memória, que ela não existiu , de que ela foi pequena, de que é mentira, de que não sei o que e coisa que o valha né? Então essa é a relação que eu tenho. Depois obviamente, estudioso do tema, conversei algumas poucas vezes com alguns ex integrantes, mas, mas é isso, não tenho, não tenho memória de estádio, não tenho, não tenho vivência. Não sei como, como eles viviam o estádio. Essa memória eu não tenho.
Você acha possível um apoio da CBF sobre é… apoio de torcida organizada LGBT, alguma campanha para… Campanha ou tipo, uma motivação para os times apoiarem… Tipo alguma organizada por exemplo de uma torcida LGBT?
R: Ahh… Possível é porque… É possível e que… Vamos pensar que a CBF é uma instituição podre né? É… Então a gente… a gente não pode perder de vista, ela é uma instituição capitalista e tenta dar lucro, ok até aí tudo bem, eu vou gostar mais, eu vou gostar menos mais isso não é… Em si isso não é um problema né?! Mas ela sim, ela vem desse modelo FIFA, que é um modelo, é… de
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Você acha que se a gente tivesse se tivesse leis mais rígidas, seja regra da CBF ou lei mesmo, é… pra quando tivesse cantos homofóbicos e tudo mais…isso implicaria diretamente na presença da torcida LGBT nos estádios ou é um processo um pouco mais longo?
R: Assim, é… a gente já tem é… um movimento.. é curioso e é preocupante um pouco também tá? Com a elitização dos estádios, e aí obviamente nós estamos falando dos estádios da,da dos principais clubes da primeira divisão, a gente já tem uma possibilidade de, de que os agrupamentos consigam se segregar um pouco melhor através do consumo né do, do valor do ingresso, coisa que o valha, então a gente já consegue ver uma ou outra menção de uma bandeira do arco íris, a gente já consegue ver uma ou outra faixa é… falando positivamente das experiências homossexuais. Lá, lá na Arena do Grêmio já se abriu faixa homenageando a Coligay né. Então é possível sim um ,um movimento nesse sentido, mas eu apostaria na… no relacionamento com os clubes, tá? Eu sou… de formação eu sou professor, e eu não gosto de pensar a punição como o elemento pedagógico, mas a punição também ensina e sim, punições importantes e no caso especialmente mexer em ponto, tirar ponto da tabela… pode permitir que o estádio seja mais plural sim, porque isso vai acabar fazendo com que os torcedores uns controle os outros. Se daqui um pouco gritar bicha no tiro de meta vai fazer o meu time perder ponto. Aí quando eu for gritar o torcedor do meu lado vai me, vai me cobrar que eu não grite porque afinal de contas precisa defender os pontos do, do time dele né?! Então é sim um é… Infelizmente, a, a poluição também é um mecanismo é… de educação. Sozinho não funciona né, mas… mas me parece nesse momento importante para gente conseguir colocar isso no centro do debate, não num debate marginal que… só quando temos um caso muito midiatizado isso parece ser um problema, quando todo mundo que frequenta estádio sabe que homofobia tem em todos os jogos.
monopólio né, não existe clube profissional fora da CBF por exemplo. E a gente tem hoje um exemplo mais explícito impossível, onde finalmente depois de muitas décadas, né, de colocando… Colocando homens incompetentes pra gerir o… o futebol de mulheres, a CBF faz um movimento de colocar mulheres, mulheres reconhecidas né? Não são mulheres quaisquer, a Duda e a Aline por exemplo têm uma trajetória é… louvável no futebol de mulheres como atletas e como dirigentes né?! Ao mesmo tempo o presidente que em alguma medida proporcionou isso, está suspenso , veja que ele, que ele, ele não foi, ele não foi mandado embora, ele está suspenso, por assédio sexual, entende. É… a CBF tem campanha anti racismo, mas né?! É é complicado porque… e os dirigentes da CBF é… negros onde estão? Os treinadores da seleção brasileira negros onde estão? Né, é… campanhas de fato com os, com os árbitros, punições de verdade contra os clubes né, o… tô falando como um torcedor do Grêmio, que foi punido supostamente no caso Aranha com uma pena extremamente branda, ‘Ah foi eliminado da competição” sim, tinha perdido de 2x0 o primeiro jogo, por isso foi eliminado da competição, tá, cê pode apostar que se não tivesse perdido de 2x0 não teria sido eliminado. Então poder pode, mas vir da CBF eu não acredito. No máximo a CBF vai responder a uma demanda que é de fora dela né?! Que é a mesmíssima coisa que aconteceu com o futebol de mulheres, é a mesmíssima coisa que aconteceu com o caso do racismo. “Ah, isso é ruim”, então ok, se é o que temos, vamos com isso, antes isso (risos) antes uma campanha hipócrita da CBF do que nada né?! Mas eu não confio na, na… Nem na confederação brasileira, nem nas federações, é… regionais. Eu não confio nas… não é, não… eu não apostaria nessas instituições. STJD também, coisas que o valha, pra gente conseguir diminuir homofobia, machismo, racismo e todas as outras violências relacionadas nos estádios de futebol.
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

R: Não, a, a imprensa do Rio Grande do Sul hegemônica, né obviamente, tem a imprensa alternativa que… Ela é o que nós temos de pior tá, em todos os aspectos, né, a… eu, a… É como eu tava dizendo a coisa da luta do, do esporte de… de direitos não direitos, cê falou… eu gostaria mas não posso porque não tem como de achar por exemplo que eu… na imprensa o racismo terminou ou diminuiu muito, mas o Willian do Corinthians foi questionado a sua qualidade de futebol a partir do seu penteado de cabelo. Isso é racismo né, o… os homens brancos que estão ali poderão até passar pano um pro outro mas hã… isso só tem um nome né?! Aqui no Rio Grande do Sul é comum, aqui no Rio Grande do Sul a gente tinha um comentarista, por exemplo, e falando dos ingressos caros, que ele dizia bom, com esse preço do ingresso a mulher já vem junto né, colocando, entendendo que isso é preço de, de, de… de zona, como a gente chama aqui os prostíbulos né?! É… a gente tem o, a gente tem o jogador do, do Grêmio que era bastante qualificado, mas que aparentemente dizem, era homossexual e o principal narrador aqui do Rio Grande do Sul num, num evento privado fazendo

É… Gustavo… uma, a gente tem uma vivência, uma experiência acompanhando a imprensa paulista basicamente quando fala sobre esse tipo de tema, é, é muito comum ainda hoje acontecer algumas brincadeirinhas de alguns comentaristas ou algo do tipo e passar de certa forma ainda como uma piada, porém como você mesmo disse, quando fala sobre racismo, um outro exemplo, não é tratado dessa mesma forma… nem ocorre hoje em dia mais, porque já considera como uma ofensa. Como é a imprensa do Sul, quando é esse tipo de tema é, também acontece disso, de ter é… piadinhas é… coisas de segundas intenções é… ou é diferente como é aqui.
É, Gustavo, futuramente você vê uma perspectiva de, de uma quebra de barreira para ser tipo comum torcedores da comunidade LGBT frequentar estádio normalmente sem ter nenhuma represália, tipo algum receio de frequentar pela própria organizada mesmo? Alguma coisa do tipo assim.
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R: Sim. Algumas coisas. É, primeiro, é… há 10 anos atrás… pouco menos , talvez uns 8… 7, 8 anos atrás, eu te responderia que não. Que não é, não é um espaço que a gente conseguiria visualizar torcidas homossexuais é, presentes. Hoje eu te digo que sim. Me parece que, é… será possível ainda, ainda não mas está caminhando para isso, os clubes estão adotando é… eu entrevistei os torcedores pra, pra minha tese de doutorado em 2015/2016 e eles diziam não, o clube não tem como apoiar uma causa LGBT, e hoje, os clubes da série A. 18 dos 20 se manifestam com alguma recorrência em relação a pautas LGBT né?! De novo, pode ser muito parecido com o que eu tava falando antes da CBF, pode ser só marketing mas ok, marketing vente né?! É, pode vender mostrando uma bunda ou ele pode vender mostrando uma causa, defendendo uma causa social. Melhor que defenda uma causa social tá? Então… Talvez os clubes agora seja sim mais possível. A gente só tem que ter uma, uma coisa muito, muito explícita. Homossexuais sempre estiveram nos estádios de futebol, assim como as mulheres também. O que que acontecia e aí eu acho que pode ser um pulo de diferença. Eles tinham, como eu tinha te, é… eles tinham que se… Eles podiam estar dentro do estádio e dentro do armário né (risos). Tinham que performar heterossexualidade né, me parece que a gente a passos lentos, que não são passos contínuos. A gente vê hoje que é… alguns direitos que foram conquistados, a gente imaginava que os direitos iam se… as pessoas sempre teriam mais direitos, e quando a gente vê não é bem assim, às vezes a gente perde né, então é uma luta constante… me parece que sim, que um torcedor poderá ir com a camiseta é, do Grêmio, do Palmeiras, do Flamengo, do Fluminense uma bandeira do arco íris. Me parece que sim, me parece que será possível. Quando não sei. É, vai ser tranquilo? Não, não vai, vai ser um ambiente de disputa né, vai ter que ser daqui um pouco vai ter que ter uma proteção, alguma coisa assim
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.
piadinha dizendo que a gente ruim ele era gay é… Então isso é muito, muito recorrente, muito, muito comum e aqui no Rio Grande do Sul, vocês sabem,até as piadas que, que existem muito é em cima disso. Existe uma representação do Gaúcho como um grande macho, uma coisa assim, a masculinidade aqui no Rio Grande do Sul é uma coisa muito forte, muito importante, provavelmente que é muito frágil né (risos) e… então esses são elementos que se, se, é que se catalisam, que ganham força. Além do que aqui, nós somos muito binários, a… a gente tem até um termo aqui na nossa imprensa e na nossa cultura, que é a grenalização, que tudo aqui é azul ou é vermelho de forma muito separada né?! Então como no esporte a gente briga por masculinidade, a gente precisa dizer que a gente não é gay, como é que a gente diz que não é gay em estádio? Dizendo que eles são né, então a gente tem esse tipo de enfrentamento muito forte né, a nossa imprensa é terrível, terrível e sim é tudo brincadeira e aí se você argumentar alguma coisa: Ah, é porque você não é do meio de futebol. Não, não sou. Eu tenho 38 anos de idade e 33 de estádio de futebol. Não entendo nada né, não sou do futebol, não, não, num entendo né, tenho uma dissertação, uma tese sobre futebol, mas não, quem é do futebol é esse pessoal… é o narrador, é esse que fica falando bobagem né, isso é muito comum, muito comum essa opção de dizer, “Ah, o pessoal que reclama não é do, não é do futebol”. Primeiro que tá errado, mas mesmo que não fosse, tá? O futebol não tá fora do, do mundo e eu usaria é… arriscar que algumas pessoas que, que talvez não estejam, não sejam no futebol, seja justamente em função desse excesso de violência que essas pessoas recebem conta, não sei é… eu não, não, não, não sou, eu sou branco né, então, eu não sou mulher, eu por acaso sou heterossexual, poderia não ser né, então pra mim o estádio de futebol é um ambiente muito confortável, muito confortável. Mas eu não sei, se eu fosse, ao estádio de futebol, fosse um homem preto e me chamassem o tempo todo de macaco todo mundo dizendo… eu não sei se eu ia querer ir. Não sei se sendo mulher, todo mundo “Ah, mulherzinha vagabunda não sei o que”. Não sei se eu ia querer ir né?! Se eu fosse homossexual, o tempo todo, todo mundo “Ah, esse bicha, sai daí viado e não sei o que”. Não sei se, se é um ambiente que me interessa né?! Então é… Não, não é, não é factual quando, quando a pessoa diz “Ah, isso aí é pra quem não é do futebol”. Não é factual. O jornalista tem uma parte do futebol, eu sou torcedor de estádio. Eu conheço muito mais de estádio do que… de comportamento de torcida do que qualquer um deles, tá? Assim como quem frequenta vestiário conhece de vestiário coisa que eu não conheço né, então não é, não é verdadeiro mas mesmo que fosse, mesmo que fosse. Não seria justamente em função dessas violência que essas pessoas tão reclamando que elas não participam desse espaço?
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

Apresentação:Adriana Herrera, Diego Dias, Gustavo Oliveira e Vinícius Mota.
Status: em produção Título: Intolerância Futebol Clube
ROTEIRO
TIME VÍDEO CENA ÁUDIO
10’’ Ficha técnica
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Dados do produto e função de cada integrante.
Revisado por: Luiz Vicente Tempo estimado: 15 minutos
Produção:Documentário
35” Imagem de acervo OFF “Como diz o ditado brasileiro, existem três coisas que não se discutem: Religião, política e futebol”.
21” Imagem de acervo Gabriela Moreira
“A coragem que elas não têm pra dizer que são racistas, elas têm pra dizer que são homofóbicas”.
Imagens de Acervo SonoraAbelJoão
10’’ Imagem de acervo Jorge Kajuru
Som Ambiente “Vou atrás da Melissa... Ele pode até não ser, mas que ele tem uma vontade enorme de ser ele tem”.
Oh, Bicha!
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“A sexualidade , ela é bem diferente de outros tipos de situação né?”
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

4” Capa do documentário FutebolIntolerânciaClube
Som Ambiente “ Qual o seu nome?”
12’’ Imagens de Acervo
Sonora Onã Rudá / BandeiraGustavo/JoãoAbel/MayraSiqueira
OFF “No documentário Intolerância Futebol Clube, reunimos autoridades no assunto para podermos responder o questionamento”.
14”
57’’ Câmera detalhe Onã Rudá / Gustavo Bandeira / João Abel / Mayra Siqueira
10” Imagem de acervo / Câmera detalhe Mayra Siqueira OFF “ Assim como nos estádios de futebol, dentro das redações, a opressão também domina o ambiente.”
Câmera detalhe João Abel SonoraAbelJoão
OFF “Com o passar dos anos, o tema LGBT vem sido tratado de diversas formas. Desde a mais caricata, até a mais consciente.”
“O meio do jornalismo esportivo, ele é majoritariamente heterossexual”
Trabalho de Conclusão Curso em Jornalismo. Ano 2021.

8” Imagem de acervo Jorge Kajuru
10’’
OFF “Entretanto, não tínhamos nenhum representantes nas grandes ligas neste século”.
2’24” Câmera detalhe Mayra Siqueira / Imagem de acervo SonoraSiqueiraMayra
Imagens de Acervo
22” Imagens de Acervo OFF “LGBT é uma sigla que significa: Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros”.
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de
“A gente via, eu participei bastante de mesas de debate, principalmente da televisão.”
40’’
8” Imagem de acervo OFF “Torcedor e especialista no comportamento da sociedade no futebol, relata sua vivência sobre a masculinidade tóxica nas arquibancadas.”
“Eu acho que sim, mudou completamente, hoje, dentro do esporte a gente tem a pauta de transgêneros no esporte que é muito complexa.”
Som Ambiente “Cântico homofóbico da torcida do Corinthians.”
8” Imagem de acervo
8” Câmera detalhe João Abel OFF “Mesmo que o cenário sobre o tratamento do tema LGBT esteja evoluindo pela imprensa esportiva, ainda existe um tabu que o cerca.”
“Realmente, é que o esporte não é um local adequado pra essas pessoas. Logo isso vai interferir no jornalismo esportivo. Claro que vai interferir.”
Som Ambiente “O cara é meu amigo de infância perfeito? Então eu vou logo dizendo se o Raí é viado eu também sou.”
58” Câmera detalhe Mayra Siqueira SonoraSiqueiraMayra
“Se a gente falar da imprensa esportiva, especificamente, acho que é bem diferente assim.”
SonoraAbelJoão
12” Imagem de acervo Jorge Kajuru
59” Câmera detalhe João Abel SonoraAbelJoão
37” Câmera detalhe João Abel / Imagem de acervo
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. 43
6” Câmera detalhe Mayra Siqueira OFF “A evolução existe sim na imprensa, porém o caminho não é tão curto quanto parece.”

“Na realidade eu sempre digo isso. Todo mundo me pergunta. Eu acho que essa é a pergunta que eu mais escuto, como criou, como foi a ideia.”
OFF
Sonora BandeiraGustavo
48” Câmera detalhe Onã Rudá SonoraRudáOnã
40” Câmera GustavodetalheBandeira
32” Imagem de acervo
OFF
“Mesmo diante de todo esse cenário de tabus e dificuldades, os acontecimentos recentes dão a esperança de um futuro com menos preconceito.”
OFF “Em 1977, a Coligay surgiu como a primeira torcida LGBT do Brasil, atualmente, segundo o levantamento da página o Contra Ataque e do observatório Canarinho Arco Íris, existem mais de 20 torcidas organizadas LGBT no Brasil.”
“Fundador da torcida organizada LGBTricolor traz as dificuldades e vivência de torcedor LGBT nos estádios de futebol.”
“Foi o caso do ex goleiro Aranha do Santos. Ele foi vítima de racismo aqui na Arena do Grêmio, estádio do time que eu torço né, e depois... teve o episódio na Copa do Brasil, foi muito midiatizado.”
21” Imagem de acervo
7” Imagem de acervo
11” Imagem de acervo
SonoraRudáOnã
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021. 44
“Esse é um movimento que a gente tem que aumentar constantemente né.”

“O que a gente está mais distante talvez, seja uma discussão aprofundada dento dos clubes de futebol e entre os jogadores de futebol masculino.”
16” Agradecimentos Som Ambiente Agradecimento aos entrevistados e crédito aos participantes e ao orientador.
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Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo. Ano 2021.

2’00” Câmera detalhe João Abel / Mayra Siqueira / Gustavo Bandeira / Onã Rudá
Sonora João Abel / BandeiraSiqueiraMayra/Gustavo/OnãRudá
DIÁRIO DE CAMPO
Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo.

Ano 2021. 46

PAUTAPauta
de Conclusão de Curso em Jornalismo.

Trabalho Ano
FONTESGustavo
esporte de maior importância no Brasil e praticado ou consumido por praticamente toda a população. Apesar deste cenário, o esporte é fruto de preconceito no nosso país, a homofobia é um exemplo claro disto. Nas redações, nos estádios e no campo de futebol, praticamente não há casos de pessoas que se assumam pertencentes a comunidade LGBT.
Mayra Siqueira: Jornalista esportiva
Onã Rudá: Criador da torcida organizada LGBTricolor, do Esporte Clube Bahia
Documentário “Intolerância Futebol Clube” PUBLICAÇÃODez/2021

OHISTÓRICOfuteboléo
Mostrar o cenário da homofobia no futebol em todas as suas áreas, seu contexto histórico, o cenário atual e a perspectiva para o futuro.
Bandeira: Pesquisador e historiador no comportamento social no futebol
João Abel: Jornalista esportivo
pela internet pela ferramenta ZOOM, em decorrência da pandemia de Funções:PautaReportagem
2021. 47 ANEXOS
ALINHAMENTO EDITORIAL ENFOQUE/ANGULAÇÃO
OBSERVAÇÃOEntrevistasgravadas