Revista Laboratorial #06

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Um ciclo REPRESENTATIVO

Reitor Prof. Dr. Luiz Henrique Amaral

Pró-Reitora de Graduação e Extensão Profa. Dra. Amelia Maria Jarmendia Soares

Pró-Reitora de pós-graduação e pesquisa Profa. Dra. Tania Cristina Pithon-Curi

Pró-Reitor de Educação a distância Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr.

Revista Código

ISSN: 2317-9392 Tiragem: 200 exemplares

coordenadora do curso de jornalismo Profª Dra. Regina Tavares

Editora e jornalista responsável Profª Me. Mirian Meliani Nunes MTb 23761/SP

Professores-orientadores Antonio Assiz, Ivan Ordonha, Rita Jimenez e Luiz Lazaro

Diagramação Alunos do curso de Jornalismo

REVISÃO Líquido Editorial

foto de Capa iStock

Impressão Forma Certa

(11) 2081-6000

Núcleo de comunicação/ liberdade R. Galvão Bueno, 868 – Liberdade São Paulo - SP, 01506-000 (11) 3385-3000

Núcleo de comunicação/ SÃO MIGUEL R. Parioto, 350 – Vila Jacuí São Paulo - SP, 08060-030 (11) 2037-5706 http://www.cruzeirodosul.edu.br É permitida a reprodução do conteúdo aqui publicado, desde que citada a fonte e os autores.

Novembro de 2018

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nfim, 2018 nos deixa com a promessa de encerrar um ciclo representativo em nosso curso e inaugurar um novo tempo. Eu me refiro à conclusão da primeira turma de Jornalismo da Cruzeiro do Sul. Até parece clichê, lugar comum na certa, mas este momento nos faz olhar para o passado, especialmente para os últimos quatro anos, e nos obriga a dizer: “Valeu a pena”. Foram tantas experiências gratificantes durante a jornada de construção colegiada desse curso, que as suas marcas já se instauraram em minha alma e meu coração como tramas complexas e extensas, tecidas em tear. Ainda me recordo da alegria vivida ao ver a impressão da primeira edição do Jornal Código figurar nas mãos dos alunos como um verdadeiro troféu ou, até mesmo, me emociono ao rememorar as aulas práticas conduzidas nos estúdios recém-lançados na Liberdade em 2016. E o que dizer quando cobrimos o Prêmio Vladimir Herzog pela primeira vez ou quando recebemos a visita de Audálio Dantas em uma das semanas do curso? Trata-se de um misto de lisonjeio e contentamento. Quase que uma espécie de sorte de privilégios por fazer parte dessa história de superação e conquistas. Poderia listar aqui os prêmios e as menções honrosas que recebemos, as visitas técnicas que fizemos ou outra coisa que o valha na tentativa de enaltecer nosso curso. Entretanto, eu prefiro lançar mão das histórias de vida que vi cruzar o nosso curso e que, de alguma forma, se confundem com a minha trajetória. Vi professores engajados mobilizarem conhecimentos, habilidades e competências em prol da paixão por educar sem a mínima preocupação com status, remuneração ou holofotes. Eles foram inspiradores e, igualmente, inspirados por alunos determinados. Pessoas que, apesar de todo o tipo de adversidades, aparentemente instransponíveis, se empenhavam em uma formação acadêmica e profissional legítima e repleta de dignidade. Vi sim alunos interromperem seus sonhos pela desesperança trazida pela depressão, pelo desemprego, pela fadiga, pelo desânimo, pelo descaso social e outras dores que acometem nossa juventude. Mas, em sua maioria, vi alunos, inicialmente imaturos e negligentes, se despedirem da Universidade na condição de profissionais meticulosos e dedicados. Senti o impacto real da educação na vida de pessoas que, por vezes, eram as primeiras a levarem o diploma universitário para suas famílias. Vi fontes serem atendidas em suas denúncias e ganharem vozes amplificadas em nossos veículos de comunicação. Pessoas exibirem intolerância enquanto nossos corpos docente e discente clamavam por empatia. Alinhamento e discordância em proporções similares. Pude constatar, em inúmeras situações, a gratidão da sociedade diante de nossa atuação. E isso posto, constatei que em nosso curso havia gente de carne e osso, pessoas de finitude e fragilidade. Por fim, reiterei aquilo que imaginava como missão de vida ao decidir lecionar: estamos aqui para aprender. E é por esses e outros tantos motivos que eu peço aos alunos que construíram a presente edição da Revista Código: “Nunca deixem de aprender”; que a curiosidade do conhecimento faça parte do DNA de vocês como profissionais da imprensa e guardiões da democracia. E aos alunos que, em breve, se tornarão egressos, faço um voto: “Jornalistas, sejam felizes na melhor profissão do mundo!”.

Profª dra. regina tavares 3


Nesta edição

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6 DE VOLTA PARA O FUTURO

26 JORNALISMO NA TRINCHEIRA

Será que um robô-jornalista pode escrever 30 mil notícias por mês? Como ficam as questões fundamentais do jornalismo nessa nova realidade.

Brasil é o sétimo país do mundo em número de jornalistas assassinados. Como seguir trabalhando com segurança diante dessa realidade?

10 O JORNALISMO NOS TEMPOS DO EMPREENDEDORISMO

30 AS TRANSFORMAÇÕES NO ENSINO DO JORNALISMO

O jornalista talhado para o nosso tempo é um profissional polivalente. Ele pode ser, inclusive, um empreendedor.

Como as mudanças no mercado e na academia impactam no modo de se fazer e ensinar jornalismo.

14 O JOGO DO TELEFONE SEM FIO O compartilhamento de notícias falsas não pode ser visto como uma brincadeira inocente. Conheça os perigos que envolvem as fake news.

35 DA TV À WEB Entenda como profissionais têm saído das grandes redações e migrando para mídias não tradicionais.

38 CONVERGINDO AO DESCONHECIDO

19 JORNALISMO INCLUSIVO

Rumo a um futuro promissor: a convergência midiática vem para agregar às mídias tradicionais.

Preocupações com a acessibilidade estão cada vez mais presentes. Será que as redações estão preparadas para receber jornalistas com deficiência?

42 ELES SÃO ATAREFADOS

22 VOCÊ JÁ FOI SEDUZIDO PELA TECNOLOGIA?

Será que você sabe fazer de tudo um pouco? Jornalistas multimídia contam como isso pode ser mais do que uma habilidade.

O público não desvia o olhar da internet. Jornalistas têm entrado cada vez mais nesse universo para ir ao encontro do público.

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46 A INFORMAÇÃO QUE VOCÊ COMPARTILHAVA

67 EU DECLARO GUERRA CONTRA A IMPRENSA

Pesquisadores de comunicação comentam sobre o impacto da mudança de algoritmo do Facebook na divulgação de conteúdos jornalísticos.

O presidente Donald Trump afirma estar em guerra contra a imprensa. Veja como ataques verbais podem fragilizar a segurança dos profissionais de imprensa.

51 O DECLÍNIO DE UM IMPÉRIO

70 A QUEDA DE AUDIÊNCIA DA TV

Com apenas dezessete revistas ativas, a Editora Abril, uma das maiores do país, ameaça fechar as portas.

A reinvenção das mídias tradicionais e a luta pela recuperação da audiência televisiva no século XXI.

56 A RECRIAÇÃO DO SER PENSANTE

74 A NOVA NOTÍCIA É DESMENTIR NOTÍCIAS

Veja como os avanços da inteligência artificial podem interferir nos meios de comunicação da sociedade.

Na era das fake news, desmentir notícias falsas se tornou uma nova função do jornalista.

60 A INFORMAÇÃO SE TORNANDO EXPERIÊNCIA Tecnologias de realidade virtual e o conceito de realidade aumentada prometem modificar as formas de acesso à informação.

63 AS MUDANÇAS DO WEBJORNALISMO Do início dos anos noventa aos dias atuais, o jornalismo on-line se fortaleceu, construiu linguagens e ganhou autonomia.

Novembro de 2018

Acesse os projetos do curso de Jornalismo AQUI!

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tecnologia

De volta para

o futuro Você sabia que o Google desenvolveu um robô-jornalista que promete escrever 30 mil notícias por mês? Ou que existe um robô jornalista supostamente capaz de escrever notícias com 100% de imparcialidade?

O

Nos Estados Unidos, os jornais The New York Times e o Los Angeles Times utilizaram robôs para informar os seus leitores. O primeiro para a cobertura esportiva em jogos de beisebol, e o segundo para noticiar o surgimento de um terremoto. Será que chegará o dia em que essa inteligência substituirá a inteligência humana?

Rafaela Targino

Por André Felipe, Caio Yokota, Gabriel Tito, Matheus Luka, Paulo Sergio, Renan Rosal e Tiago Yasser

que era visto como lúdico ou fictício hoje é uma alternativa. O universo da inteligência artificial chegou com tudo e as mudanças estão acontecendo sem percebermos, e quem não está ligado ficará para trás. No jornalismo não é diferente e fica o questionamento: como um robô pode exercer uma função de cunho intelectual? Empresas como o jornal francês Le Monde e a agência internacional Associated Press já abraçaram a tecnologia e utilizam da inteligência artificial para criar um jornalismo automatizado.

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Nos EUA, a Inteligência Artificial (IA) já está sendo desenvolvida e testada. Tudo começou com a Narrative Science, por meio de algoritmos capazes de analisar dados empresariais, além de criar histórias intuitivas em escala, liberando boa parte de seus funcionários para outras tarefas. A crise no mundo afeta todas as áreas e não é diferente no jornalismo. Um dos dilemas que o jornalismo vive é a questão das grandes reportagens estarem cada vez mais raras por conta das hard news, que exigem produção em massa de notas e notícias, principalmente em portais, blogs e sites. Com a possível adesão à IA, esse trabalho massivo pode se tornar menos frequente, abrindo espaço para as grandes reportagens que exigem um tempo maior de apuração e aprofundamento. O jornalista da CBN, Pedro Dória, destaca a importância dos algoritmos no seu newsletter: “Escrevo um newsletter diário no qual a gente usa o instrumento de algoritmos de inteligência artificial, e preciso saber do que as pessoas estão falando na internet. O algoritmo nos ajuda a selecionar as notícias que estão sendo explicadas, o que já me dá algum tipo de norte para extrair determinados temas”. O auxílio da tecnologia tende a tornar os processos jornalísticos do dia a dia mais Novembro de 2018

ágeis ao fazer levantamentos de dados, informações e estatísticas. O intuito é desenhar os algoritmos para que compreendam e também treinar as redações para esse relacionamento tecnológico. Ao mesmo tempo em que existe o romantismo da profissão, a abundância informativa está presente, envolvendo uma questão mercadológica de patrocínios e de interesses que. felizmente ou infelizmente. fazem o “mundo girar”. O nascimento dos algoritmos trouxe a possibilidade grandes veículos reduzirem sua mão de obra humana para investir em IA. Assim, evitando custos e ganhando em regularidade, uma vez que máquinas

não recebem salários e benefícios, não têm férias e nem ficam doentes. “Creio que robô nenhum tenha capacidade para substituir o olho no olho de uma boa entrevista ou aproveitar um gancho da resposta, para ir além à próxima pergunta,” opina Andressa Bonni, jornalista da TV Cultura. Segundo especialistas, a IA não substituirá o jornalismo, assim como o próprio jornalismo não perderá suas raízes se abrir mão dessa tecnologia. O futuro será o trabalho em conjunto, pois os dois terão que se conversar. As análises de dados e as notícias de hard news, por exemplo, poderão ser aperfeiçoadas.

Você Sabia? CRISE? Em um momento em que as tecnologias se renovam constantemente e os nossos hábitos de consumo se transformam a cada instante, as incertezas e as mudanças se tornaram constantes no mercado, fazendo desse ambiente caótico o “novo normal”. Ser capaz de se adaptar a esse cenário e estar preparado para as mudanças que ele exigirá são características determinantes para se manter um nível de competitividade, e até sobrevivência, no mercado. É, portando, imprescindível entender o meio ambiente em que cada organização se encontra, pois isso afetará a maneira como a empresa se planeja para o futuro, toma decisões,

gere os riscos, implementa mudanças e resolve problemas. VOCÊ CONHECE O VUCA? Sigla americana de origem militar que surgiu nos anos 1990 para explicar o mundo no contexto da Guerra Fria. Atualmente o termo é usado no mundo corporativo. Em português, o termo traduzido é VICA. VUCA é um acrônimo para descrever quatro características marcantes do momento em que estamos vivendo: Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. Essa terminologia é utilizada para explicar como a crise afeta as grandes empresas e investir em tecnologia é uma forma de combater ou de sentir menos os impactos das mudanças no mercado. 7


Porém, com o advento da era digital, esse risco tende a ser real, quem garantiria que há 20 anos essa revolução da era digital tomaria conta do mundo? Não é exagero imaginar esse quadro no jornalismo.

Heliograf Jeff Bezos (CEO da Amazon) adquiriu o jornal The Washington Post, da capital dos EUA, em 2013. Ele idealiza um projeto de implantação da Inteligência Artificial na redação do jornal, projeto esse nomeado de Heliograf, coordenado por Sam-Han, o diretor de engenharia de dados desse jornal. Esse software é capaz de analisar dados, interpretar, redigir e distribuir, levando as informações aos leitores pelo site do jornal e às redes sociais, como o Twitter, por exemplo. O primeiro teste dessa IA em grandes eventos foi a cobertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. O Heliograf foi capaz de informar em tempo real as modalidades disputadas, os resultados, assim como a atualização do quadro de medalhas. Com essa experiência, a cobertura foi ampliada para outro grande evento no mesmo ano, as eleições para Câmara, de senadores e governadores de 50 estados do país norte-americando. O software personalizava a cobertura pela localização, exibindo informações e pequenas histórias da corrida eleitoral. 8

Segundo Andressa Bonni, em tempos de imediatismo, saber ou poder esperar é o maior desafio atual do jornalismo, e salienta: “O desenvolvimento de reportagens que levantam dados históricos pode ser favorecido pelos trabalhos dos robôs que fazem compilações de dados e toda a decodificação que pode surgir daí. Nesse caso, temos jornalistas e robôs trabalhando juntos, na mesma reportagem”. No total, apenas no seu primeiro ano de utilização, foram escritos cerca de 850 artigos automatizados – em comparação com o período eleitoral anterior (2012), houve um aumento de 75% na geração de conteúdo. No caso do Heliograf, a mediação humana ainda está presente, mas o avanço tecnológico cada vez mais se aproxima da profissão humanista que é o jornalismo.

A preocupação Uma questão que gera muita dúvida para os grandes veículos e aos jornalistas é a escrita. O principal instrumento para informar, influenciar e opinar sendo realizado por máquinas é algo que ainda, para os jornalistas mais tradicionais, é um incômodo. Para Andressa Bonni, a precisão de um jornalista para escrever uma reportagem maior será sempre superior à de um robô: “Grandes reportagens precisam de muitos dias,

semanas, às vezes meses, para acontecer. Acompanhar, por exemplo, a gravidez de um golfinho leva 12 meses. Se o objetivo for registrar toda a evolução desse processo, mês a mês, precisaremos de um ano para concluir o trabalho. ” Christer Clerwall, professor de mídia e comunicações da Karlstad University, na Suécia, pediu para 46 alunos cursando jornalismo lerem duas notas sobre um jogo de futebol americano, sendo que um texto foi produzido por um jornalista do LA Times e o outro por um software. Os estudantes leram os dois os artigos como parte do que seria uma pesquisa simples na internet. Em seguida, tiveram de avaliar a qualidade e credibilidade das notas, utilizando 12 expressões: objetiva, confiável, precisa, chata, interessante, agradável de ler, clara, informativa, bem escrita, útil, descritiva e coerente. O texto escrito pelo jornalista ganhou avaliações como “bem escrito” e “claro”, além de “agradável de ler”. Já a notícia gerada pelo software, por sua vez, ganhou nos quesitos “descritivo”, “informativo”, “preciso”, “confiável” e “objetivo”. Além da qualidade, a agilidade é outro ponto importante no que diz respeito à produção em massa de notícias, a The Associated Press começou a usar algoritmos para ter ganhos automatizados. Relatórios realizados em 2014 estimam que a ação angariou RevistaRevista Código Código | Cruzeiro do Sul | Unicsul


20% a mais de tempo para os jornalistas exercerem um trabalho mais qualitativo. “Uma máquina nunca irá fazer isso, uma máquina nunca irá substituir a cabeça de um jornalista, a checagem, a apuração, a escrita”, afirma Thiago Uberreich, jornalista e apresentador da rádio Jovem Pan.

Estudantes Nesse contexto, será que a aderência à matrícula em cursos de jornalismo aumentará ou diminuirá? Marcelo Trasel, professor de Jornalismo da UFRGS, alerta: “É um fato que preocupa alguns estudantes, a julgar pelas perguntas que me fazem em aula. Em todo caso, eu diria que o jornalismo tem muitos outros problemas mais graves, que poderiam levar alguém a perder o interesse na profissão”. Um levantamento informal feito pelo Google Forms com cerca de 50 estudantes de Jornalismo das universidades Cruzeiro do Sul e São Judas em São Paulo mostrou que 98% votou que não desmotiva um futuro aluno não se matricular por conta da Inteligência Aritifical; 2% votou que sim, pode haver uma desmotivação por conta disso. Para o jornalista Pedro Dória, não há sentido em não se matricular por esse motivo: “Não vejo o porque de não se matricular. Se você gosta de contar hisNovembro de Novembro de2018 2018

JORNALISMO NA ERA DA INTELIGENCIA ARTIFICIAL ONDE ACONTECE? Na Suécia... ... a tecnologia já foi testada na Karlstad University por estudantes de jornalismo

Na França... .... o jornal Le Monde e a Agence France-Presse utilizam a IA para criar jornalismo automatizado

Na Noruega... .... na NTB, agência de notícias local, a IA produz infográficos e análises econômicas

No EUA... .... o jornal The Washingto n Post já utiliza essa tecnologia em larga escala, em coberturas políticas e esportivas

tórias, se interessa pelo que acontece no mundo e tem o interesse em compreender o mundo e a realidade, só existe uma profissão que você deve seguir: Jornalismo”. Quanto mais cedo esse tema for debatido ou colocado em pauta em fóruns, palestras e, principalmente, salas de aula, melhor será a adaptação. Os jornalistas ou as empresas podem ser românticos e não querer utilizar dessa ferramenta, mas será inevitável a presença dela. Próximas gerações já estão imersas nesse mundo e introduzir a Inteligência Artifi-

cial na profissão não será uma pedra no sapato, pelo contrário, para os jovens: quanto mais, melhor. O possível cenário é de um robô auxiliando como banco de dados, para que o jornalista possa entregar com mais rapidez o trabalho. É provável que o crescimento da IA trará muitas oportunidades e desafios para os comunicólogos. Porém, esses desafios não intimidam os jornalistas de agora e os futuros profissionais a trabalharem na área. Manter esse espírito é fundamental para continuarem “vivos” nesse mercado que sempre traz grandes surpresas. 9


Negócios

O Jornalismo NOS TEMPOS do empreendedorismo O jornalista empreendedor veio com a necessidade de ser um profissional polivalente.

“É Por Camila Monteiro, Laís Vieira, Vitória Bernardino, Brenda Nataly e Talita R.

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a disposição para identificar problemas e oportunidades e investir recursos e competências na criação de um negócio, projeto ou movimento que seja capaz de alavancar mudanças e gerar um impacto positivo”. Caso você pesquise o termo empreendedorismo na internet, esse é um dos resultados que encontrará. De acordo como o dicionário Michaelis, empreendedor é um adjetivo que pode ser classificado como “[aquele] que se lança à realização de coisas difíceis ou fora do comum; ativo, arrojado, dinâmico”. Já Louis Jacque Filion, teórico da área, descreve o empreendedor como uma pessoa “que imagina, desenvolve e realiza visões”. Qual é o perfil do jornalista? Ainda hoje, a maioria das pessoas, provavelmente, se depararia com o desenho de perfil produzido por Hollywood nos filmes que conceituam esse contexto, como Boa Noite e Boa Sorte ou, mais recentemente, Spotlight e até mesmo o The Post – Guerra Secreta. Filmes que retratam o jornalista como um ser em busca da

verdade, incansável, grande consumidor de café e – quase sempre – que trabalha para alguém. Entretanto, esse caráter utópico não condiz com a realidade. Atualmente, o perfil mais comum é o do jornalista empreendedor. Esse perfil de profissional veio com a necessidade de um indivíduo multifuncional, dinâmico, proativo e criativo no mercado de trabalho. Saber criar ideias, consolidá-las e mantê-las ativas são características indispensáveis no trabalho desse profissional. Adriano Silva, que é Publisher do Projeto Draft (plataforma de conteúdo brasileira dedicada a cobrir a expansão da Nova Economia) e Curador da Academia Draft, além de autor de vários livros, incluindo Dono do Próprio Nariz – Reflexões para quem sonha com uma vida sem chefe nem crachá, fala que o perfil do jornalista empreendedor trata de “descobrir o que temos como valor a oferecer aos outros. Que tipo de problemas podemos resolver. E como vender isso. Como entregar bem isso. E como cobrar por isso de modo justo e sustentável. Revista Código | Cruzeiro do Sul


Para atender às demandas do mercado de trabalho, fica ao encargo do jornalista a realização de diversas funções. É um caminho perfeitamente possível para os profissionais de Jornalismo. O que nós fazemos tem muito valor à sociedade, basta saber transformar isso em um negócio”. No início dessa década, a realidade do jornalismo já era a de uma área em mudança propensa a uma quebra de paradigmas. De acordo com Rafael Grohmann, doutor e mestre em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo (USP) e professor do mestrado em Comunicação da Universidade Cásper Líbero, o perfil do jornalista em São Paulo é, em sua maioria, o de uma mulher jovem, solteira, que trabalha para vários lugares ao mesmo tempo e não necessariamente com carteira assinada. Sendo assim, o perfil do jornalistas tem sofrido grandes mudanças nos últimos anos. Desde 2012, eles tiveram que aprender a conviver com as demissões em massa que acontecem nas pequenas e Novembro de 2018

grandes redações. De acordo com uma pesquisa feita pelo Volt Data, de 2012 a 2017, foram registradas 7.277 demissões totais em empresas de mídia no Brasil. 49% dessas demissões aconteceram com os profissionais das redações dos jornais; 27%, em rádios e TVs; 15%, em revistas; e aproximadamente 10%, na internet. Esse enxugamento de profissionais fez com que muitos procurassem novas áreas de atuação dentro da profissão. Podemos ver um pouco dessa realidade no relatório feito pela SEMBRAMEDIA com 100 startups de jornalismo na América Latina. No Brasil, 51% delas foram criadas há menos de quatro anos, 55% já ganharam prêmios, 66% tiveram suas histórias usadas pelas mídias internacionais e 72% das suas histórias foram publicadas pelas mídias nacionais. Grohmann afirma que, se por um lado, há uma grande demissão nas grandes redações,

uma reestruturação produtiva muito forte nos grandes conglomerados de mídia, nunca se precisou de jornalistas em outras áreas como hoje. Não foram apenas as demissões em massa que abalaram a forma de se fazer jornalismo. As mudanças nas DCNs (Diretrizes Curriculares Nacionais) e a retirada da obrigatoriedade do certificado de ensino superior para a atuação como jornalista tiveram um grande impacto em quem era da área, estava ingressando ou pensando em iniciar os estudos. Nesse contexto, jornalismo empreendedor encontra-se hoje até em cursos para aqueles que querem entrar na área, mas não sabem como começar. Não ignorando a mídia tradicional, mas sim trazendo um fortalecimento para esse mercado de comunicação. Abrindo agências, empreendendo, colaborando e, consequentemente, expandindo o trabalho do jornalista no século XXI. 11


Para embasar esse argumento, 2.202.662 novas empresas foram instaladas no país no ano de 2017, segundo o Indicador Serasa Experian de nascimento de empresas. Desse número, 78,7% são MEIs (Microempreendedor Individual). Os dados, de acordo com o Indicador, são os maiores desde 2010 e são decorrentes de um fenômeno chamado “Empreendedorismo de Necessidade”, ou seja, por conta de poucas oportunidades dentro do mercado formal, as pessoas tendem a encontrar saídas alternativas para a falta de emprego. Segundo dados do Sebrae e da GEM (Global Entrepreneurship Monitor), nos anos de 2002 a 2016, o aumento de empreendedores vem sendo relevante e importante para a economia. No ano de 2016, empreendedores iniciantes alcançaram a marca de 19,6%, portanto, a cada 100 brasileiros, aproximadamente 20 estavam envolvidos em atividades empreendedoras em estágio inicial. E, entre 2014 a 2017, tivemos a criação de aproximadamente 1 milhão de novos MEI/ano, sendo que, em 2018, as expectativas são que o patamar de criação seja o mesmo. Adriano afirma: “O empreendedorismo tem um futuro mais brilhante do que o emprego, ao menos no que se refere ao Jornalismo, e ao menos no curto prazo. O mundo oferece muitas oportunidades a quem souber olhar e tiver a humildade de servir (no melhor dos sentidos) aos outros”. 12

Em contrapartida, Grohmann adverte que se deve tomar cuidado com o discurso que se usa do empreendedorismo, o qual, muitas vezes, é tido como a “nova razão do mundo”. Ainda critica esse chamado “espírito empreendedor”, que muitos têm como se fosse uma coisa inata, individual, como se dependesse só do próprio esforço da pessoa, o que não é totalmente verdade. Continua dizendo que poucos mostram os aspectos negativos do empreendedorismo, e que, por outro lado, é necessária a criação de alternativas à precarização e à falta de vagas no mercado de trabalho do jornalista. Completa que, apesar de tudo, tem visto alternativas interessantes para a necessidade do mercado, como as mídias independentes e as colaborativas.

Por dentro: Trivela Em seguida, podemos acompanhar uma entrevista com Caio Maia, um dos fundadores da agência de comunicação F451, esclarecendo essa nova comunidade digital, a qual possui uma equipe diversificada não só de jornalistas, como de publicitárias, designers e economistas. Nós: Essa nova comunidade digital, que está surgindo e cada vez mais em desenvolvimento, é caracterizada por tudo que vivemos e em constante mudança. Acredita-se, então, que o mercado de trabalho daqui por diante será algo rotativo e não mais monótono?

Trivela: O mercado de trabalho para jornalistas tende a se tornar cada vez mais competitivo. Se por um lado o número de vagas tradicionais vem diminuindo e vai diminuir ainda mais, as mudanças no modelo de distribuição de informações e de jornalismo permitem ao jornalista buscar se estabelecer sem o auxílio de um veículo. Os desafios são enormes, já que o acesso ao público, nesse caso, não é garantido, mas o modelo permite não só ocupar espaço sozinho, como também buscar projeção para uma eventual vaga em um veículo estabelecido. Nós: Da onde surgiu a ideia de começar o site, trazendo consigo a inovação de conteúdo e mídia? Trivela: A F451 publica o Gizmodo, que é um site americano. A ideia para a fundação do site surgiu das conversas que o fundador tinha quando não estava mais na redação. Ele concluiu que elas eram muito mais interessantes do que as coisas que os jornais publicavam e criou o site para contar essas histórias. Nós: Hoje, sendo tudo digital e com o desenvolvimento da tecnologia mais avançado, nota-se que o mercado de trabalho também se “modifica”. Com tudo isso, vocês acham que atualmente o empreendedorismo é algo mutável, sendo abrangente para quem está disposto a fazê-lo? Trivela: O empreendedorismo é uma saída para o mercado de trabalho sem tantas vagas. Para empreender, porém, o profissional precisa Revista Código | Cruzeiro do Sul


se preparar além do que se prepararia para a busca de uma vaga assalariada. O empreendedor é seu próprio patrão, mas também seu próprio vendedor, seu próprio marqueteiro, seu próprio contador. O profissional que se preparar para isso, sai na frente dos concorrentes. Nós: Vimos que vocês criam projetos em coberturas jornalísticas, e tratando desse tipo de ação, vocês acham que o jornalista é aquele profissional que tem que saber fazer de tudo um pouco? Que não pode ser mais monótono, mas sim diversificado? Trivela: Cada vez mais o jornalista tem que saber de tudo um pouco; por outro lado, o mercado de comunicação caminha para uma especialização. Hoje um repórter de tecnologia que se especialize em telefonia ou um repórter que se especialize em cobertura do mercado de energia tem possibilidades de trabalho que não existiam há alguns anos, já que existem muitos mais veículos de nicho. Dessa forma, a especialização pode ser um caminho para o profissional que ingressa agora no mercado.

O outro lado Em contrapartida, a culpa não é só do mercado, muitos jornalistas se recusam a sair da sua zona de conforto, se acomodando no modo tradicional de fazer jornalismo sem quererem se aprimorar. Muitos não aceitam que o ambiente digital exige mais habilidades Novembro de 2018

e procura por novos cursos e aprendizados. Ir atrás de novos caminhos, procurar se inserir em um mercado novo são trabalhos mais árduos e exigem esforços. Os profissionais se sentem diminuídos em seus status como jornalistas e acham que estão se desapegando de suas paixões. Adriano Silva argumenta que: “Empreender embute um processo de libertação pessoal. De expressão de quem você é ou gostaria de ser. Vender seu talento diretamente ao mercado, sem intermediários, implica melhorar ao máximo a sua capacidade de gerar e entregar soluções aos demais. E também a autoestima de não depender de um agente para se conectar às oportunidades – você passa a ser seu próprio agente. Tive uma carreira muito feliz como executivo. E caí no empreendimento por necessidade, e quase por acaso, em 2008. Mas hoje penso que empreender é um estilo de vida, um

jeito de ver o mundo, o trabalho e a si mesmo.” O medo e a incerteza de ser um empreendedor, onde não há uma estabilidade financeira, não saber se sua ideia é boa o suficiente para alavancar o mercado de trabalho e a probabilidade do fracasso fazem com que os jornalistas não se arrisquem. O site Jornalista 3.0 trouxe uma pesquisa apontando quais são os principais fatores que impedem um jornalista de brilhar em sua sua carreira. Apesar da crise e do medo, os jornalistas ainda assim seguem otimistas com as novas ideias de trabalho e com cursos que estão na “moda”, se reinventar já faz parte da nossa profissão, aceitar que temos que buscar novos planos e sair do comum para que possamos nos destacar. Os novos conhecimentos com certeza serão a “pauta” mais importante da nossa profissão, que corre riscos a todo tempo e de várias maneiras. 13


Política

O jogo do

telefone sem Fio

O jogo que nos ensina a compartilhar informações, mensagens, áudios e, por fim, a mentira!

Por Ruth Pereira, Vitor França, Barbara Mendes, Aparecida Miguel e Alicia Alves.

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ombas moídas junto à cevada; o PSOL (Partido do Socialismo e Liberdade) convocou Pabllo Vittar à presidência do partido em 2018; Gilmar Mendes mandou cancelar BBB18; Kit Gay será distribuido para alunos do ensino fundamental; Projeto de lei exigirá uniforme unissex em 2018; EUA e ONU sugerem intervenção militar no Brasil; Carro bomba em comício de candidato… Essas são algumas das notícias falsas mais acessadas nos últimos

meses. Se você já ouviu falar de alguma delas, ou semelhante, você foi alvo do novo “mal do século” do jornalismo: as fake news! O termo foi escolhido como palavra do ano em 2017 pelo dicionário da editora britânica Collins e designa notícias falsas, em tradução livre, fabricadas para enganar pessoas. A trama parece até novela das nove: uma pequena história inventada que pode se tornar algo tão real. Nessa espécie de live-action, boatos Revista Código | Cruzeiro do Sul


são como rastros de pólvora, começam com uma fagulha e se tornam um grande incêndio. E não, não é como nos filmes, aqui, o perigo é real. O termo que ganha mais força no espaço virtual já teve protagonismo nas eleições americanas ajudando Donald Trump a se eleger e, com certeza, deve causar impacto semelhante no pleito brasileiro. Fake news podem parecer uma brincadeira inocente; só parece. Imagine a seguinte situação: você está navegando em uma rede social, lendo uma notícia que em seu ponto de vista parece ser verdadeira, te agrada e foge do que realmente é sem levantar nenhuma suspeita de ser falsa, você compartilha o artigo no intuito de informar, porém, de forma que ela pareça totalmente real e incontestável, o destinatário recebe a informação e faz da mesma forma; o que antes era uma notícia sem teor nenhum, agora se tornou uma grande bola de neve, sem controle e capaz de destruir qualquer coisa. Um caso que veio à tona foi de Fabiane Maria de Jesus, morta aos 33 anos em 5 de maio de 2014, espancada pelos vizinhos na cidade de Guarujá, Litoral Norte de São Paulo onde morava, acusada de praticar magia negra com crianças. O boato em uma página do Facebook e um retrato falado da dona de casa se espalhou pelas redes, com história e relatos mentirosos. Após a morte, testemunhas chegaram Novembro de 2018

a dizer que ela carregava um livro de magia negra, e não a Bíblia que costumava levar para a igreja.

De outras épocas As notícias falsas vêm sendo divulgadas há mais tempo do que imaginamos, ainda que o nome fake news soe futurístico e tecnológico. Se pensarmos nos tempos da Roma Antiga em diante, essas notícias estão sendo veiculadas desde o imperador Júlio César, que espalhava notícias falsas demonizando povos estrangeiros. No século VI, o historiador Procópio escreveu informações inverídicas difamando o imperador bizantino Justiniano. Benjamin Franklin escreveu histórias falsas sobre índios, alegando que eles trabalhavam para o rei George III com o intuito de influenciar a opinião pública na revolução americana. E até hoje, com o atual presidente estadunidense Donald Trump, que utilizou de fake news para atacar diretamente a sua concorrente, Hillary Clinton. Assim, paramos e analisamos que essa desinformação está associada diretamente ao fato de que essas notícias não partem da ignorância, e sim de nossos valores ou de no que queremos acreditar. Mas, como a expressão fake news evoluiu? Avançando um pouco mais no tempo, após Franklin, combina-se a tecnologia à informação instantânea, ainda que errô-

nea. Desinformação, boatos e mentiras ganharam mais força com o mix perfeito de algoritmos das redes sociais, sistemas de publicidade, robôs – também chamados de bots – com capacidade de reproduzir notícias de forma contrária, pessoas dispostas a inventar conteúdo a custo de dinheiro e visualizações e a eleição mais polêmica dos últimos anos na grande potência americana. Isso tudo resultou no grande fenômeno das fake news. Segundo o Professor Ivan Paganotti (doutorando, mestre em Ciências da Comunicação e formado jornalista pela ECA-USP), são os usuários que criam e replicam os conteúdos, não no caso de bots que são criados para replicar automaticamente os conteúdos. E ressalta que os robôs também são desenvolvidos pelos usuários: “Plataformas de redes sociais complicam o cenário porque seus mecanismos (como os algoritmos que classificam conteúdo considerando sua popularidade e encaixe nas preferências de cada usuário e a publicidade compartilhada entre produtores de conteúdos) podem abrir espaço que é explorado por esses sites, mas o maior responsável é o desenvolvedor desse conteúdo”.

Política por um fio O meio político é um dos que mais sofre com as notícias oficiais e com a disseminação 15


de fake news. Não só nos Estados Unidos, como aqui no Brasil. O termo é tão popular e poderoso, que Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, criou o Fake News Awards (Prêmio de Notícias Falsas, em tradução literal) para repórteres que cometeram erros e fizeram previsões erradas sobre a sua campanha. Nas eleições, tanto no Brasil quanto em todo o mundo, há suspeitas de que candidatos também espalhem fake news, ou coletem serviços que divulguem notícias em prol de si mesmo ou em ataque a outros candidatos. Em grande parte dos casos, não há provas, porém, muitos candidatos dizem ser vítimas de notícias falsas que causaram impactos em suas candidaturas. Para o engenheiro elétrico e jornalista Gregório de Almeida Fonseca: “É fundamental que os candidatos tenham uma estratégia de contenção de danos. Desde já, suas equipes de campanha devem estar atentas às informações falsas que circulam entre os eleitores e apresentem contraprovas fundamentadas em fatos e dados”. Como no Brasil, com a tecnologia cada vez mais presente, os ministros não vetaram 100% a utilização dos robôs em campanhas para a divulgação de agenda e plataformas do governo, mas determinaram que candidatos que usarem robôs para atacar oponentes ou distorcerem resultados de enquetes e pesquisas on-line 16

poderão ser punidos, punição essa que ainda não foi decidida pela justiça brasileira. A determinação chegou como uma corrida contra o tempo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), após as redes sociais do Congresso americano terem de prestar contas sobre notícias falsas pagas por estrangeiros nas eleições estadunidenses, que está a mil por hora em busca de alterar as normas eleitorais que não têm regra clara sobre anúncios patrocinados por políticos, financiamento de candidatos por criptomoedas (moedas digitais como bitcoins) e uso de bots em discussões virtuais. Além do TSE, em 2018, grandes empresas como Facebook, Twitter e Google estão com uma forte força tarefa contra as notícias falsas, na busca por reduzir os danos causados por informações distorcidas. Alguns veículos de mídia também adotaram a ação, desmentindo boatos, especialmente políticos, como no caso da vereadora Marielle, caso que vem repercutindo em todo o país. Perguntamos a Gregório Fonseca se, em ano de eleições, é possível que uma notícia falsa realmente seja um veredito na carreira de algum candidato. O jornalista acredita que dificilmente um candidato ser vítima de fake news seja um fato determinante para um eleitor votar em um candidato que ele não tenha pensado antes. E, infelizmente, o esclarecimento do fato verdadeiro dificilmente chegará tão longe

quanto a mentira, as pessoas continuarão acreditando nas mentiras: “Os candidatos (principalmente os de maior visibilidade) que tiverem uma melhor estratégia contra as fake news certamente terão ganhos nas eleições. Entretanto, é fundamental que isso seja feito com ética e dentro da lei.”, completa Gregório.

Eleições x Fake News No meio político, as fakes news causam um grande impacto negativo, principalmente em épocas decisivas de eleições. Em entrevista, o vereador e candidato ao senado Eduardo Suplicy (PT) nos contou que também já foi vítima de notícias falsas e o quanto isso é prejudicial. Um exemplo disso foi quando, em um protesto contra o atual governo, foi alvo de um boato que que o acusava de ter beijado na boca uma adolescente. Tal notícia se espalhou nas redes sociais com a chamada de que o candidato estaria praticando “pedofilia”. O boato foi esclarecido logo em seguida, e não se tratava de uma adolescente, e sim de uma mulher adulta que o havia roubado um beijo. “Hoje infelizmente há pessoas organizadamente relacionadas a algumas organizações e eventualmente até certos partidos políticos que utilizam de informações não verdadeiras para prejudicarem seus adversários ou competidores nas eleições e na vida política”, acrescenta Suplicy. Revista Código | Cruzeiro do Sul


Estima-se que, no Brasil, cerca de 12 milhões de pessoas já compartilharam notícias falsas nas redes sociais. 42% das pessoas compartilham fake news e 39% checam a veracidade da notícia.

Novembro de 2018

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Estudo da Universidade de São Paulo (USP) apontou que12 milhões de pessoas difundem notícias falsas dentro do ambiente digital Além de Suplicy, outros políticos também já foram alvos de notícias falsas, como o caso recente do candidato a presidência do Brasil Geraldo Alckmin (PSDB), que, segundo algumas fontes não confiáveis, alegaram que o PSDB não acreditava na candidatura do político, e que ele seria substituído pelo Governador do estado de São Paulo João Dória (PSDB). O deputado Jean Wyllys (PSOL) também vem sofrendo com esse mal das notícias falsas, sendo o maior alvo de fake news negativas, em um dos casos foi veiculado que ele defendia pedofilia em uma entrevista para CBN. Em outro âmbito, positivamente, as notícias falsas são geradas também para auxiliar em uma candidatura, uma prova disso é o próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que teve seu nome envolvido em diversas fake news, 18

porém, ao invés de serem prejudiciais a seu governo, essas foram para alavancar sua candidatura à presidência. Ele mesmo utilizou da rede social Twitter para lançar diversas notícias que o engrandeciam, além de seu principal alvo ser a própria mídia que, segundo ele, era fracassada e inimiga do povo norte-americano.

Notícias blindadas Há diversas maneiras de se identificar uma notícia fake, desde uma leitura atenta até uma investigação. Entretanto, quando os boatos são de cunho jornalístico, a identificação torna-se mais difícil. Para isso, atualmente, existem aplicativos de inteligência artificial com algoritmos de detecção de fake news. No entanto, é altamente comum a dúvida entre fatos e fatos construídos com base em invenções. No Brasil, 70% da população já compartilhou notícias falsas sem checar sua veracidade. Porém, como devemos agir para identificar esses casos? Para Ivan, a tática é simples: “Quanto mais informação criteriosa, melhor.” Ressalta que vale a pena investir tempo e dinheiro em conteúdo de jornalismo de qualidade, e, claro, muito mais importante é saber diferenciar sites sérios dos que são criados apenas para enganar o público. E completa: “Nesse sentido, quanto mais o público souber sobre as engrenagens da indústria de mídia, menor

será sua chance de ser enganado e mais fácil será separar os veículos de qualidade dos que não merecem nossa atenção”. Já para Gregório, a inteligência artificial é uma grande ajuda, porém, o jornalismo ainda é o grande aliado. Claro que a inteligência artificial é bem-vinda e está sempre em evolução, mas não podemos esquecer que por trás dela, há programadores. Gregório aposta muito no jornalismo investigativo para desmentir e questionar o que vemos circulando, mas sabe que é muito relativa a identificação de uma notícia falsa. E completa: “A melhor solução, na minha opinião, só virá a longo prazo: é a educação. Não só a educação básica, mas em todos os níveis e classes sociais. O público precisa reaprender a ler notícias e a ter um senso crítico para avaliar se aquilo é crível ou não. Infelizmente, creio que ainda estamos muito distantes dessa solução”. O futuro das fakes News é incerto, ainda que haja projetos de leis em discussão na câmara e no senado, debates em vários órgãos sobre o assunto e ferramentas que identificam notícias falsas, verificar uma notícia antes de compartilhar é de suma importância, seja no âmbito político ou social. Como traz o escritor e jornalista ensaísta político George Orwell (1903-1950), “a humanidade precisa se libertar do conceito de Deus e Diabo, e admitir que ela mesma faz o bem e o mal”. Revista Código | Cruzeiro do Sul


Jornalismo

inclusivo

Acervo Rede Globo

inclusão

Novembro de 2018

André Luís Padilha Flávio Pereira Meon

V

ocê sabia que quase 24% dos 207 milhões de brasileiros são pessoas com deficiência? Segundo dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é o quinto colocado no ranking de acessibilidade no mundo. Mesmo assim, menos de 1% dessas pessoas atuam no mercado de trabalho. O cenário brasileiro é limitado quando se trata de trazer conteúdo para pessoas com deficiência, tanto para o profissional da área, como para o público. Entretanto, esse cenário vem se transformando lentamente, principalmente quando se trata de profissionais atuantes que trazem grandes perspectivas para um jornalismo inclusivo. Esses exemplos de superação e determinação nos

As dificuldades de se ter a inclusão na primeira redação Apesar de, como dito, termos milhões de habitantes com algum tipo de deficiência, ainda permanecem preconceitos contra essas pessoas em relação à sua capacidade de trabalhar e se relacionar com outras pessoas. Todos já

Carla Maia

Por Adenize Portela, Bárbara Angelon e Carolina Miranda

mostram novas maneiras de fazer jornalismo. Carla Maia e Fabio Fernandes são jornalistas com limitações motoras, Carla é tetraplégica e Fabio tem paralisia cerebral. Isso nunca foi motivo de desânimo para os profissionais que sempre lutaram para conseguir trilhar os caminhos do bom jornalismo. Segundo Fabio, o jornalismo sempre foi instrumento para fazer chegar ao público e à sociedade o contexto de exclusão social no qual vivem cerca de 24 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência.

BBC Brasil

A carência de acessibilidade nos veículos de informação dificulta a entrada de jornalistas com deficiência para a produção de conteúdo.

19


passaram algum tipo de constrangimento quando iniciaram suas carreiras: “Uma emissora não sabia o que fazer comigo e me perguntou se queria ser telefonista”, foi o que aconteceu com Carla quando foi procurar seu primeiro emprego na área. Hoje, ao se lembrar dessa passagem de sua vida, faz questão de enfatizar sua resposta: “Não, sou jornalista. Quero ser repórter”, conta Carla aos risos.

“Hoje, relembrando esse trabalho tão importante, me sinto realizada, muito digna. Fui competente” Carla Maia – Jornalista.

O relato de Carla é só mais um reflexo de uma Câmara de Deputados que demorou 15 anos para aprovar uma lei de acessibilidade, proposta em 2001 e alterada 33 vezes, até que entrou em vigor dia 2 de janeiro de 2016. 20

Existe falta de divulgação do ParaPan? Sim, um exemplo claro disso é a realização dos Jogos ParaPan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007. O descaso com que alguns meios de comunicação trataram esse grande evento fez com que Fabio perguntasse para sua editora: “Quem vai cobrir o ParaPan?”, recebendo a resposta sem jeito de que seria “ninguém”. Depois de insistir muito, Fabio conseguiu a autorização para que fosse ele a cobri-lo; “Foi assim que consegui fazer meu primeiro gol no jornalismo”, comemora. A visibilidade desses eventos esportivos faz com que grande parte da população consiga enxergar pessoas com deficiência de maneira muito mais respeitosa, tanto para paratletas, quanto para jornalistas. Isso é uma das grandes funções do jornalismo: ajudar a transformar a sociedade. “Tenho certeza que esse legado social, desses dois eventos, trouxeram para nossa cidade a mudança de visão sobre pessoas especiais e é algo que vai ter resultados positivos no futuro de uma sociedade inclusiva”, afirma Fabio. O ParaPan é uma vitrine nessa inclusão, pois sempre é uma boa oportunidade para poder mostrar mais a forma de trabalho. Carla Maia sentiu-se digna na sua participação, cobrindo os jogos do ParaPan e

abastecendo todos os programas da rede. “Hoje relembrando esse trabalho tão importante, me sinto realizada, muito digna. Fui competente.” Sabemos que existe toda uma preparação para a cobertura desses eventos, e no dia a dia, como funciona? A cobertura factual é mais difícil?

A Lei Brasileira da Inclusão e as dificuldades no mercado de trabalho Uma das soluções que os governos brasileiros encontraram para fazer com que mais pessoas com deficiência ingressem no mercado de trabalho é o sistema de cotas, que obrigam as empresas a terem de 2% a 5% de suas vagas destinadas para esses profissionais. A porcentagem pode variar de acordo com o total de contratados, exemplo: se a empresa tem de 100 a 200 empregados, são 2%, chegando a um máximo de 5% caso haja mais de 1.001 funcionários. Porém, nem mesmo ter uma lei que obriga às empresas destinarem vagas para eles é o suficiente para proporcionar às pessoas com deficiência certa representatividade nos meios de comunicação brasileiros. “Grande parte das pessoas com deficiência enfrentam dificuldades em inserir-se no mercado de trabalho”, conta Fabio Fernandes, que atualmente trabalha Revista Código | Cruzeiro do Sul


na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. É lógico que todos esses profissionais possuem certas dificuldades na realização de alguns tipos de matérias, como, por exemplo, coberturas de entrevistas factuais que chamam muita a atenção para o assunto principal. Ou na política, em que se junta uma grande quantidade de jornalistas e, quando você está em uma cadeira de rodas, é mais difícil conseguir competir com todos os repórteres em busca do melhor ângulo e da melhor pergunta. Até mesmo para fazer algumas matérias frias existem dificuldades para a mobilidade, mas a ajuda dos colegas de profissão é muito importante para que essas pautas não caiam. “Você não pode ter vergonha, tem que falar, chamar para a pessoa vir”, diz Carla Maia. O que fica claro nesses relatos, tanto de Carla Maia, quanto de Fabio Fernandes, é que a única coisa que todas as pessoas com deficiência necessitam é de uma chance de mostrarem que são autossuficientes, competentes e como no caso deles, grandes jornalistas. É possível que a longo prazo, com a lei, possam surgir efeitos de inclusão às pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Grandes emissoras de TV estão buscando se readequar a essa nova realidade de inclusão, principalmente no jornalismo. Temos a emissora de TV Globo, com a repórter Novembro de 2018

Apesar das barreiras enfrentadas, Carla Maia cumpre uma jornada de trabalho exemplar. Flavia Cintra no programa da casa, o Fantástico. A Rede EBC, que sempre buscou inserir em sua grade pessoas com todos os tipos de habilidades e limitações, agora busca um equilíbrio para a conscientização de todos que acompanham a rede. “Eles entendem minhas limitações, mas eles não me limitam mais do que eu poderia ser limitada”, reflete Carla Maia, que já trabalhou como comissionada na Rede EBC de 2008 a 2010 e passou em primeiro lugar no concurso público da emissora em 2012, permanecendo lá até os dias de hoje. A dificuldade estará no caminho, junto com alguns obstáculos e preconceitos, mas

isso não pode ser motivo para desistir. A experiência deles deixa um grande legado para o futuro do jornalismo inclusivo, pois um dos princípios ético do jornalismo é sua vertente social, que andou bastante tempo ignorando uma parcela grande de sua população, mas que agora a está retomando com essa inclusão que só tem a acrescentar na vida e na formação de novos cidadãos. Tentamos contato com o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Ministério do trabalho e com as emissoras de comunicação sobre a atual porcentagem de deficientes no jornalismo, mas não obtivemos retorno até a publicação desta edição. 21


tecnologia

Você já foi seduzido pela tecnologia? Guilherme Romão

Jornalistas produzem conteúdos segmentados para conquistar um público que não desvia o olhar da internet

Por Kênia Pereira, Pamella Kawano, Guilherme Romão, Gisele Kato e Gedson Sutero.

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O

poema Cidadezinha Qualquer, de Carlos Drummond de Andrade, chama a atenção para uma vida pacata, uma vida que antecedeu a internet: “Um homem vai devagar/ Um cachorro vai devagar/ Um burro vai devagar/ Devagar... as janelas olham/ Eta vida besta, meu Deus”.

E você? Será que se adaptaria a esse universo descrito pelo poeta nos dias atuais? É comum observarmos como as pessoas estão cada vez mais conectadas e atentas às novas tecnologias, passar um dia sem utilizar a rede acaba se tornando uma tortura para muitos usuários. Quando você pesquisa um Revista Código | Cruzeiro do Sul


produto para compra, vez ou outra, aparece em seus sites de relacionamentos, como o Facebook, sugestões de algo que foi alvo dessa pesquisa na rede. Pois é, tem muita gente interessada em saber sobre os seus gostos, seus interesses e em como criar conteúdos interessantes para lhe manter cada vez mais conectado ao universo virtual. Pensando em pessoas como você, jornalistas têm cada vez mais entrado no universo das tecnologias para criar materiais que atendam às necessidades de leitores que “zapeiam” de uma plataforma a outra em busca dos mais diversos conteúdos. Esse modo que utilizam chama-se Web 3.0, ou web semântica, como também é conhecida, é uma forma de personalizar os textos baseados nos interesses dos “internautas”. A partir desses interesses, os criadores têm o desafio de elaborar um conteúdo diversificado, atraente e que atenda aos mais diversos interesses da rede. Com isso, os jornalistas passaram a ter o desafio de, além de criarem formatos atrativos, compreenderem como a comunicação se processa nesse ambiente virtual em que as mudanças comportamentais são constantes e as ferramentas exigem que os jornalistas sejam receptivos às mudanças. A Revista Código conversou com jornalistas para saber Novembro de 2018

como foi o processo de adaptação à utilização da Web 3.0 na profissão, e como eles percebem o jornalismo em meio a esse avanço tecnológico. “A essência do jornalismo é o contato pessoal”. O autor do livro reportagem Escola Base, criador da Casa dos Focas, formado pela FIAM-FAAM Centro Universitário, instituição de ensino na qual é mestrando do programa de Mestrado Profissional em jornalismo, Emilio Coutinho, nos conta sobre esse novo modo de se relacionar com o público. Coutinho chama a atenção para algo que não pode se perder no jornalismo, que é o contato pessoal. Apropriar-se das tecnologias é importante, mas o jornalista precisa ir para as ruas, ir atrás das fontes, o contato pessoal é o que dá ao jornalismo uma visão mais apurada dos fatos. O jornalista havia criado o blog Casa dos Focas, para atender às necessidades de estudantes de Jornalismo, enquanto escrevia seu livro. Foi nesse contexto que percebeu que o avanço da tecnologia não comprometeria o seu processo de apuração da reportagem, pois não ficava apenas no digital, pelo contrário, ia atrás e insistia bastante para produzir seu livro. Nos conta que a maior dificuldade foi a busca pelos personagens, mesmo com a facilidade que a internet nos traz, ele utilizou outras ferramentas, como sair

“Internet é uma coisa fantástica e é difícil entender o mundo hoje com as visões de antigamente” Carlos Chaparro – Professor, doutor em Comunicação e Jornalista.

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a campo para realizar a procura dos protagonistas da história, “Usei a internet, mas não foi a ferramenta principal”. “O que vai comprometer a notícia é se ele for um jornalista de sofá, um jornalista de computador, não ir atrás da fonte, não insistir, não saber levar um NÃO, essas técnicas todas que cada um vai criando”, afirma Emilio. “Internet é uma coisa fantástica e é difícil entender o mundo hoje com as visões de antigamente”. Diante dessa fala, o jornalista Manuel Carlos Chaparro, doutor em Ciências da Comunicação, autor do livro Pragmática do Jornalismo e criador do blog O Xis da Questão, enxerga a internet como um avanço na profissão. “As tecnologias tornaram viável a realização do direito universal que está no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: todos têm direito de serem informados e terem acesso às opiniões e têm o direito de espalhar ao mundo as suas próprias opiniões e informações”. Exemplo disso são as redes sociais, como o Twitter, que está sendo utilizado por jornalistas e grandes mídias para divulgar e atualizar as notícias, sendo assim, possibilita maior interação e acesso à informação. “Na verdade, isso no conjunto é a liberdade de expressão e a liberdade de acesso ao conhecimento e à liberdade de acesso às informações.” 24

RÁDIO

JORNAL

TV

SITES

INTERNET

“O poder de transformação do jornalismo atualmente é muito maior do que já se foi em alguma outra época, por causa da tecnologia. O jornalismo ganhou muito mais importância e

nós, como profissionais, temos que zelar por essa imagem e saber que estamos sujeitos ao processo; nós somos narradores, nós somos de alguma forma aqueles que entendem o Revista Código | Cruzeiro do Sul


Novembro de 2018

Rafaela Targino

que está acontecendo e contam a história a alguém”. Com a facilidade no uso da web, a notícia chega mais rápido aos leitores e usuários das redes e, por isso, os jornalistas buscam se atualizar e aperfeiçoar a linguagem utilizada na rede. Mas essa rapidez, ao disponibilizar a informação, não pode ser passada ao leitor de forma irresponsável, sem ser feita uma checagem de dados para transmitir confiança e credibilidade naquilo que será publicado. “O jornalismo digital não existe de agora, a única diferença é que agora ele ganhou um nome – óbvio que após o crescimento mais intenso das novas mídias”. A fundadora da Academia do Jornalista e do Jornal Dialogado, especialista em jornalismo digital, marketing digital e mídias sociais, Fernanda Felix, conta um pouco mais sobre jornalismo digital. Para Fernanda, o jornalismo mudou para melhor, pois, com as novas formas de fazer notícia, todos ficam sincronizados e atualizados o tempo todo. Contudo, o grande problema hoje ainda são as famosas fake news, que vêm através da internet por pessoas mal-intencionadas que contaminam a rede com falsas publicações. Porém, como em toda mudança, temos saldos positivos e negativos. “Lidar com a massa é estar propenso a mudanças e seus saldos positivos e negativos” Apesar desses saldos, a

utilização da Web 3.0 facilitou a entrega das informações. Como afirma Fernanda: “A informação é o objeto do normalista e do jornalismo”. Através da web e do meio digital, conseguimos receber as notícias com muito mais agilidade e melhoras na entrega, não temos mais que esperar até o dia seguinte para receber as informações impressas durante a manhã. Mas essa agilidade e a evolução tecnológica não comprometem o processo de produção? Fernanda Felix afirma: “Com a vasta informação que a rede oferece, os mal-intencionados usufruem da cópia, má interpretação, o chamado ‘nas coxas’. Porém, da mesma forma um profissional ciente de todos os mecanismos, linhas de produção, aproveita a facilidade para somar, e não subtrair”.

Os profissionais que utilizam a Web 3.0 estão em constante adaptação e aprendizado para entregar aos leitores produtos jornalísticos de qualidade e que atendam às suas expectativas quanto ao jornalismo. A Web 3.0 trouxe grandes facilidades ao modo de transmitir as informações por meio das redes sociais, agências on-line, revistas on-line, blogs, entre outros meios, mas não eliminou a forma do jornalismo tradicional, pois esse contribuiu para o desenvolvimento da profissão, agregando valor e dando base para que as novas tecnologias não fossem usadas sem reflexão e sem a técnica da profissão, fundamentais para a produção de um produto de qualidade no universo virtual. 25


intolerância

Jornalismo

na trincheira

Joana Teixeira

Brasil é o sétimo país do mundo em número de jornalistas assassinados.

Independente de plataforma ou veiculo, profissionais da comunicação são alvos de ataques.

Por Elioneide Silva

26

N

o Brasil, o número de jornalistas mortos é muito próximo ao da Síria, país que hoje vive uma guerra civil. São 12 jornalistas mortos na Síria em 2017, para 5 no Brasil, mostra um levantamento feito pela Unesco. A profissão do jornalista se caracteriza por ser um

dos pilares da sociedade. A informação foi sempre um direito respeitado, ou deveria ser, mas não é o que tem acontecido. No mês de janeiro, o jornalista Ueliton Brizon foi assassinado com vários tiros em Cacoal, Rondônia. A motivação do crime seria um possível acerto de contas. Em abril de 2018, na RodoRevista Código | Cruzeiro do Sul


via BR-364, entre os municípios de Jaru e Outro Pedro do Oeste, em Rondônia, o jornalista Hamilton Alves sofreu um atentado. O motivo, segundo o próprio Hamilton (em entrevista ao jornal El País), são as denúncias de corrupção contra políticos feita por ele em seu programa de rádio. Até maio desse mesmo ano, além dos dois jornalistas mortos, houve um caso de violência não letal durante os protestos do ex-presidente Lula, com socos, pontapés e disparos de bala de borracha, segundo dados da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT). Mas, o que o jornalista pode fazer além de denunciar e procurar as vias legais para se proteger?

Treinamento Segundo a ONG Comitê para Proteção de Jornalistas, em 1993, após 33 profissionais serem mortos na região da Somália e Etiópia, mais conhecida como “Chifre da África”, as grandes organizações assinaram um termo de compromisso garantindo que todos os jornalistas passariam por um treinamento antes de irem para zonas de guerra. Leão Serva, doutor em comunicação e semiótica, escritor, jornalista formado pela PUC-SP, professor e colunista da Folha de S. Novembro de 2018

Paulo, realizou a cobertura da guerra na Bósnia-Herzegóvina, onde esteve por três vezes, entre 1992 e 1993, como correspondente da Folha. Ele afirma que estar em um conflito é muito perigoso quando o jornalista não tem experiência. “Após dez anos, voltei a Sarajevo para fazer um curso de preparação para zonas de conflito e foi muito importante porque, quando estive na guerra, cometi muitos erros”. O curso feito por Serva na época só podia ser realizado por funcionários das grades empresas de mídia, pago por suas organizações. A fim de evitar esses erros, o COOPAB (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil) montou o Curso para Assessores de Imprensa e Jornalistas em áreas de Conflito, que é ministrado no Rio de Janeiro. O curso destina-se à preparação de profissionais da mídia para exercerem suas funções em ambientes hostis. A Unesco também montou cursos preparatórios para jornalistas voltados para o lado psicológico, uma vez que o pós-guerra é complicado e muitos voltam traumatizados desses eventos. A questão é: somente o jornalista que vai à guerra está exposto a esses perigos? A cobertura dos protestos de rua no Brasil também merece cuidados?

É só uma pauta? Existe uma preparação para os jornalistas que vão para a zona de guerra. Contudo, para os profissionais que cobrem os conflitos de rua aqui no Brasil, não há uma preparação especifica. Para Serva, a preparação não deve ser somente para os conflitos de guerra, mas, muitas vezes, para “situações de pautas domésticas”. O jornalista que está no seu território tende a ter um excesso de confiança por isso, se descuida. Para o jornalista, outro autor culpado por esse descuido são os veículos de comunicação que acabam enviando repórteres despreparados, esquecendo completamente da responsabilidade do termo assinado, ou que os protestos de rua podem ser tão perigosos quanto uma guerra na Síria. Nos protestos de junho de 2013 contra o aumento da tarifa do transporte público, vimos a Avenida Paulista sendo ocupada por pessoas que reivindicavam seus direitos. Em um dos episódios, oito jornalistas foram feridos e alvejados com balas de borracha. A repórter da Folha de S. Paulo, Giuliana Vallone, foi atingida por um tiro de bala de borracha no olho direito, que quase a cegou. Na época, em uma postagem em sua página do Facebook, disse: “Acho que o que aconteceu comigo, outros jornalistas 27


“Impedir jornalistas de exercer seu ofício é atentar contra a democracia” ABRAJI – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

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e manifestantes, mostra que existem, sim, um lado certo e um errado nesta história.” Em seu relato completo, Giuliana diz que chegou a olhar diretamente para o policial duas vezes, e diz que acreditava que ele não pudesse atirar, uma vez que ela estava com o crachá de identificação, mais uma vez reafirmando que o jornalista tem confiança por estar em seu território. Leão Serva, que fez o curso preparatório, afirma que vários jornalistas feridos, se tivessem uma formação adequada, poderiam ter evitado os ataques. No entanto, o que se vê são agressões aos profissionais da comunicação enquanto estão no exercício do trabalho.

Jornalistas independentes estão mais sujeitos a agressões? Raissa Galvão, componente do Mídia Ninja, sigla para “Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”, que faz um jornalismo voltado para o ativismo e não tem vínculo com nenhuma mídia tradicional, sempre dão a cara para bater. Portando, “sempre que vamos em algum lugar cobrir algo, algum componente nosso é preso”, reafirmando que a violência contra o veículo independente é maior. Raissa afirma que nunca

fez o curso preparatório, mas que ela e seus parceiros de trabalho possuem uma estratégia de ação: “Chegamos ao local, sempre identificamos as rotas de fuga e mantemos contato visual com as pessoas que estão ao nosso redor”. Nenhuma redação responsável deve enviar um jornalista para uma região de conflito sem treinamento ou proteção. O grande problema é quando as redações não têm mais dinheiro para empregar um jornalista e dependem dos freelancers. Assim, cabe a esses profissionais independentes, infelizmente, buscarem orientação para se protegerem. Renata Jonhson, editora da IJNet em português, que atualmente mora em Washington, Estados Unidos, afirma: “Nenhuma matéria vale a sua vida, os jornalistas brasileiros são verdadeiros heróis”.

Caso Lula Um dos casos mais divulgados pela mídia recentemente ocorreu durante as manifestações contra a prisão do ex-presidente Lula, em que vários jornalistas foram agredidos. Pedro Durán, repórter da Rádio CBN, que estava no local, foi cercado e insultado por manifestantes e precisou ser escoltado para que não fosse agredido. Um carro do Correio Braziliense foi apeRevista Código | Cruzeiro do Sul


JORNALISTAS MORTOS, REFÉNS E PRESOS NO MUNDO 2017 MORTOS

Novembro de 2018

26 Bombardeados ou vítimas de atentado

39 Assassinados 10 MULHERES

55 HOMENS

PRESOS 326 presos com maior concentração em 5 países 75

52 43

50 25

24

23

19

SÍRIA

IRÃ

VIETNÃ

0 CHINA

TURQUIA

REFÉNS

PRINCIPAIS SEQUESTRADORES

Declarações Após esses episódios recentes, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) disse em nota repudiar qualquer tipo de agressão e hostilidade. “A violência contra profissionais da imprensa é inaceitável em qualquer contexto. Impedir jornalistas de exercer seu ofício é atentar contra a democracia”, diz a nota. Em nota conjunta feita pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), pela Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ), as entidades

Joana Teixeira

drejado na capital federal e um fotógrafo do Estado foi atingido por ovos no ABC Paulista. A repórter Gabriela Mayer, da Rádio BandNews, foi cercada e levou um tapa na barriga. Outro episódio de opressão aconteceu com a repórter da TV Band, Joana Treptow, que levou um tapa na mão durante uma transmissão ao vivo. Mais tarde, após o ocorrido, relatou em seu Twitter que foi ameaçada diversas vezes ao longo do dia e que à noite precisou deixar o local: “Fui obrigada a tal. Tentamos e conseguimos trabalhar apesar dos pesares. Ficaríamos mais, se não estivéssemos expostos ao perigo.

+4% EM RELAÇÃO A 2016

5

11 16

ESTADO ISLÂMICO

NÃO IDENTIFICADO

22 HOUTHIS

OUTROS (AL-QUAEDA, AL-NUSRA E GRUPOS ARMADOS LOCAIS

FONTE: REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS - RSF

disseram que: “toda essa violência injustificável e covarde decorre da intolerância e da incapacidade de compreender a atividade jornalística, que é a de levar informação aos cidadãos” Temos que levar como alerta para o Brasil a morte dos 25 jornalistas após um homem, disfarçado de fotógrafo, ter se explodido em Cabul, no Afeganistão. Os jornalistas mortos estavam

fazendo a cobertura de um outro ataque quando tudo aconteceu. A violência contra o jornalista é um fenômeno mundial. As pessoas precisam tomar consciência de que o jornalista existe para levar a informação e que não pode ser impedido disso. O ataque aos jornalistas é um ataque à democracia e uma tentativa de silenciar a voz daqueles que não têm voz. 29


educação

As Transformações

no Ensino do Jornalismo Como as mudanças trabalhistas e curriculares impactaram no modo de fazer e ensinar jornalismo. Por Camila Gomes, Luana Christina, Gabriela Nunes, Karoliny Sena e Brenda Nataly.

E

m 2009, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Quando questionado sobre como ficaria a situação dos cursos na época, o então relator do caso Gilmar Mendes afirmou que a não obrigatoriedade não significava o fechamento dos cursos, e que a formação era importante para o preparo técnico dos profissionais, devendo assim seguir os moldes de cursos de culinária, moda ou costura, nos quais o diploma não é requisito básico. Seria o curso de jornalismo apenas um conjunto de técnicas? O compromisso ético, a responsabilidade social e a visão crítica não são de fato aprendidos e alicerçados no ambiente acadêmico? E a quantas anda o ensino do jornalismo no Brasil depois dessa decisão? 30

Para o Professor universitário e jornalista Dirceu Roque de Sousa, que leciona há 34 anos, “O que faz a diferença no bom profissional de jornalismo é a sua formação intelectual e teórica, isso só é possível com estudo e acompanhamento de professores. A técnica, ele vai lapidar no dia a dia do exercício de suas funções, seja em qualquer área em que estiver atuando”. Para o docente, a declaração de Gilmar Mendes foi infeliz e preconceituosa. Guilherme Oliveira, 19, estudante do quarto semestre de jornalismo na Universidade Cruzeiro do Sul, também discorda do posicionamento de Gilmar Mendes e completa: “Se você não tem o princípio teórico, dificilmente será um bom jornalista, apenas irá reproduzir uma linguagem que não avalia o contexto, e hoje jornalismo sem contexto é pobre e vazio. O que temos no momento com o advento da internet é exatamente isso, onde todos podem se apropriar dessa linguagem e se dizer jornalista. Apenas aqueles que têm a teoria (profissionais

formados) são capazes de ter uma posição crítica das informações”.

Primeiros passos A profissão de jornalista é uma das mais antigas do mundo. Para se ter uma ideia, o Acta Diurna, um dos primeiros jornais de que se tem notícia, surgiu por volta de 59 a.C., devido ao desejo do imperador Júlio César de informar a população sobre os acontecimentos do império. Contudo, a profissão de jornalista começou de fato a tomar forma no séc. XVII, com a disseminação da prensa de Gutemberg, o fenômeno dos jornais periódicos e o surgimento do conceito de liberdade de imprensa. O primeiro curso de jornalismo na América do Sul teve seu início no Brasil em 1947, a ideia surgiu através do testamento do jornalista Cásper Líbero, que também foi proprietário e diretor de um dos maiores jornais da América Latina, a Gazeta. A universidade é uma das mais reconhecidas e leva o nome do jornalista em homenagem. Revista Código | Cruzeiro do Sul


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A instantaneidade da informação que temos hoje não era permitida antigamente por conta dos lentos processos para a produção de uma notícia.

Como era O Prof. Me. Antônio de Assiz, formado em 1990 em jornalismo pela UMC (Universidade Mogi das Cruzes) e mestre em Ciências da Comunicação pela USP (Universidade de São Paulo), nos contou um pouco como foi sua experiência de estudar jornalismo nos anos 1980. “A relação entre aluno e professor era um pouco diferente naquela época, não tinha um método de ensino muito claro. Os professores não sabiam muito bem como ensinar os novos jornalistas, eles chegavam à aula e falavam sobre o dia no trabalho, quase todos eram profissionais do mercado que trabalhavam de dia e lecionavam à noite”. E o Prof. Dirceu faz uma breve comparação: “Realmente, muita coisa mudou, afinal, comecei em 1984. Acredito que Novembro de 2018

o principal fator na mudança do ensino do jornalismo está na informatização das atividades do profissional. Antigamente, as tarefas eram mais manuais, com anotações precárias em papéis, pesquisas em livros e jornais antigos. Hoje, você tem recursos de gravações em celulares, fotos instantâneas e pesquisas pela Internet, que aumentam na velocidade de resposta e na amplitude de alternativas”. Ainda existem muitas semelhanças com o passado, porém, hoje, os professores, além da experiência de mercado, são mestres, doutores ou especialistas em comunicação. Com o boom tecnológico e a convergência midiática, o profissional teve, e ainda tem, que se desdobrar para assimilar os novos meios de comunicação. Não basta apenas escrever bem e saber atuar nas mídias tradicionais (rádio, TV e jornal), é preciso ter um olhar

empreendedor e explorar novas formas de comunicar.

Diploma A não obrigatoriedade do diploma de jornalismo entrou em vigor em 17 de junho de 2009 por decisão do Supremo Tribunal Federal. Foram 8 votos a 1. Além da afirmação do começo da nossa reportagem, Gilmar Mendes também declarou que as notícias inverídicas eram grave desvio de conduta e problemas éticos para isso, a solução não estaria na formação superior do profissional. Ainda em 2009, o então Ministro da Educação, Fernando Haddad, reuniu uma comissão para aprovar alterações nas diretrizes curriculares dos cursos de jornalismo no Brasil. O presidente da comissão, José Marques de Melo, defendeu a proposta da revisão das diretrizes: “Apesar de ser fundamental 31


“O que faz a diferença no bom profissional de jornalismo é a sua formação intelectual e teórica” Professor Dirceu Roque – Especialista em Avaliação Institucional.

para o exercício da democracia, o jornalismo enfrenta um dilema de ser um curso sem personalidade própria, e por isso é importante que se forme um jornalista para a sociedade, e não para as empresas e corporações”, informou em entrevista à assessoria de imprensa da Sensu. Após cinco anos de discussões, o processo foi homologado e as universidades estão em processo de adaptação.

O que mudou? No novo formato, o aluno passa a estudar para ser bacharel em Jornalismo, e não mais em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo. A carga horária de 2.700 horas de disciplinas passou a 3.000 horas. Foram inclusas 200 horas de estágio supervisionado obrigatório; além disso, o trabalho de conclusão de curso, o TCC, passou a ser individual. 32

Aqui na Universidade Cruzeiro do Sul, foram inclusas disciplinas que visam ao futuro do jornalista, por exemplo: Economia Criativa e Inovação, Cibercultura e Redes Interativas, Jornalismo Online e Gestão de Negócios Jornalísticos. A Profa. Dra. Regina Tavares, Coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, afirma: “O que mudou, em especial, é que agora o curso ficou mais equilibrado entre prática e teoria. Atualmente, pretende preparar o estudante para o mercado de trabalho e, com isso, também trazer vivência e aprendizado fora do viés teórico. A intenção é que o aluno saia da universidade mais ético, reflexivo e versátil”. Os alunos passam a ter mais aulas práticas, mas isso não é tão novo assim. A maioria das universidades já possuem jornais, revistas e programas de TV laboratoriais como trabalhos de curso, para que dessa forma o aluno se sinta ambientado com o mercado de trabalho. O Prof. Dr. Fábio Cypriano, crítico de arte da Folha de São Paulo, que, além de aulas, também coordena o curso de jornalismo da PUC-SP, informa que essa instituição, que completou 40 anos em 2018, está em processo de avaliação interna: “As novas diretrizes pedem um profissional mais humanista, crítico, que tenha uma formação ampla que não seja só no jornalismo, mas também tenha embasamento em outras áreas do conhecimento; o que nós fizemos foi fortificar as atividades práticas”.

Nesse momento de grandes transformações, compreender o que é ser jornalista e qual o papel desse profissional na sociedade é muito importante para fortalecer as práticas de ensino e aprendizagem. É fundamental saber utilizar as ferramentas das novas tecnologias, chamadas TICS (Tecnologia da Informação e da Comunicação). “A Tecnologia mudou nossos paradigmas. Trabalhamos com ela e certamente a faculdade ajuda a encontrar os melhores métodos de se fazer jornalismo na era digital. Sobre as fake news, orientamos intensamente nossos alunos a reconhecê-las e a combatê-las, para mantermos os valores da nossa profissão”, nos conta A Profa. Dra. Helena Maria Afonso Jacob, coordenadora do curso de jornalismo da universidade, pioneira no Brasil, Cásper Líbero. E completa: “O jornalismo mudou muito desde que eu me formei há 20 anos. Escolhi a profissão para trabalhar em revista, mas hoje estamos muito mais voltados para a produção de conteúdo. Há um enorme desafio de valor público do jornalismo e de cidadania, e precisamos nos adequar a esse novo papel. O Jornalismo sempre será necessário, mas é fundamental que o coloquemos nessa devida importância”.

O que precisa melhorar Simone Nieves, 32, Assessora de Comunicação formada em jornalismo em 2012, pela Uninove, acredita que o ponto fraco das faculdades de jornalismo é muita Revista Código | Cruzeiro do Sul


teoria e pouca prática: “É muito importante ter a base para se tornar um bom profissional, mas ter no dia a dia um pouco mais da prática pode transformar esse aluno em um excelente profissional. Já Beatriz Sanz, 24, Jornalista formada em 2017 pela Universidade São Judas Tadeu, não gosta muito da ideia de educação a distância: “Em nenhuma das instituições que estudei, tive EAD, e agora isso tem se tornado cada vez mais comum. Estão suprimindo as aulas teóricas, que são muito importantes. Muitas vezes o aluno que está ali não teve um bom ensino médio, e isso pode prejudicá-lo.” O Prof. Fábio concorda com as dificuldades que os alunos egressos na universidade podem enfrentar e aponta as soluções: “Os alunos entram com dificuldades, a geração millennials lê menos, estão mais interessados nas redes e a

gente começou a diagnosticar a necessidade de fazer um tipo de reforço extraclasse de oficinas de textos, oficinas de português, ou seja, compensar um pouco do que o 2º grau não deu para esses alunos”. Se por um lado os Professores estão entusiasmados com as mudanças que têm ocorrido para o ensino do jornalismo, por outro, os alunos sentem que ainda falta aproximação com o mercado. “Quando você tem um trabalho da faculdade para entregar, geralmente você tem que entregar em 2 ou 3 semanas, até um mês de prazo para fazer; na vida real, você tem que entregar aquela matéria no mesmo dia, no máximo naquela semana. E tem que estar lá, precisa estar lá”, nos conta a Beatriz, que trabalha no portal R7. Ao mesmo tempo, o Prof. Antônio acredita que o mercado não pode ser encarado como um

deus que vem para ensinar como as coisas devem ser e pondera os pontos positivos da atualidade: “O aluno de hoje tem contato com uma reflexão teórica e prática muito maior do que da minha época [...], os professores levam discussões dos seus mestrados e doutorados para seus alunos da graduação”. O Prof. Dirceu Sousa completa: “O que sinto falta ainda é de um maior volume de atividades práticas, que possam fazer os estudantes exercitarem o seu talento. Os modelos antigos de jornal laboratório devem ser adaptados para a linguagem digital de hoje. Devemos utilizar as mídias sociais, mas não podemos abandonar a forma mais tradicional de fazer jornalismo. Por parte das faculdades, houve uma evolução nos currículos, pois o modelo antigo era muito engessado. Porém, alguns cursos perderam o foco e deixaram de investir em tarefas básicas

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Com o avanço tecnológico, o modo de fazer jornalismo se modernizou permitindo maior praticidade no dia a dia.

Novembro de 2018

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do jornalismo, como apuração e produção textual. É preciso equilibrar as ações”.

O que pensam os futuros jornalistas “Quando entrei na Universidade, eu tinha uma visão muito clara do jornalismo impresso, ‘sabia’ que provavelmente o curso seria voltado ao impresso – como é de certa forma, por exemplo, quando a gente pensa no projeto do jornal impresso e revista –, mas eu não tinha noção de como a carreira de jornalista tinha tantas vertentes possíveis, como editoração, produção audiovisual, entre outros”, conta o Guilherme. Aline Júlio, 19, que conheceu o curso através do melhor amigo, que a levou para o ENCOM (semana de comunicação da Universidade Cruzeiro do Sul), diz que os professores superaram suas expectativas, pois não achou que fosse ter tanta afinidade como tem e com o conteúdo ministrado. “As matérias me surpreenderam justamente por serem focadas em editoração, redação etc. Hoje sou apaixonada por rádio e penso seriamente em trabalhar com fotojornalismo. O curso abriu meu horizonte sobre o que fazer depois de formada”. Jornalismo não é só uma técnica, a universidade forma jornalistas humanistas, críticos, cientes de suas responsabilidades, enquanto prestadores de serviços à sociedade, 34

O ENSINO DO JORNALISMO NO BRASIL INÍCIO O curso de jornalismo chegou ao Brasil em 1947. A primeira escola foi a faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, localizada na cidade de São Paulo

FUNDADOR Cásper Líbero - falecido em 1943 - solteiro e sem herdeiros, deixou firmado em testamento a criação de fundação para administrar seu legado.

EXPANSÃO A partir de 1958, o curso começou a ser oferecido em diversas universidades, em todas as regiões brasileiras. Dentre as paulistas: USP, UNESP, PUC e Mackenzie.

DIPLOMA Em 2009, o STF decidiu que o diploma não é necessário para o exercício da profissão. Desde então, categoria luta para reconquistar a obrigatoriedade da formação específica.

DIGITAL Com o crescimento das mídias sociais, o meio digital se consolidou como um importante canal de comunicação. Com isso, passou a ser exigido um novo perfil de profissional.

HOJE

Atualmente, o curso de jornalismo está presente em 315 universidades no Brasil. Sendo 76 no estado de São Paulo e 22 na capital. Fonte: RUF - Ranking Universitário Folha

sabendo o quão é necessário informar a sociedade, essa que tem se tornado mais ativa e participativa, cobrando do

jornalismo ética e compromisso com a verdade. Isso nos faz ter ideia de quão importante é a profissão. Revista Código | Cruzeiro do Sul


Acza Tertuliano

migração

Em um cenário cada vez mais digital, jornalistas migram para novos veículos.

Da TV à

Web

Mesmo sem estabilidade, os jornalistas apostam na internet. Os profissionais saem das grandes redações para as mídias não tradicionais. Entenda essa migração.

Por Ácza Tertuliano, Aline Barbôsa, Ariadny Brito, Dominique Tuane, Leonardo Guimarães e Pamela Genitis.

A

internet mudou o mundo. Desde a popularização dos quase ilimitados recursos da web, criou-se um abismo entre as gerações. As gerações X (pessoas hoje com idade entre 38 e 53 anos) e Pós-Millennials (nascidos de 1997 em diante) possuem características totalmente distintas, e a maioria das diferenças se relaciona com a internet. Nesse mundo transformado pelos computadores, fica fácil Novembro de 2018

perceber que o jornalismo também está passando por mudanças. As redações se preocupam com interação rápida com o público das redes sociais, que se acostumou ao imediatismo. Os dois maiores jornais do país, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, por exemplo, fazem giros de notícia nos populares stories do Instagram. E quem não se surpreendeu com William Bonner, do tradicional Jornal Nacional, ensinando os telespectadores a gravarem vídeos com o celular “deitado”? E com direito a #FicaADica. Com isso, percebemos um movimento de migração dos profissionais da comunicação. Os veículos tradicionais –

tv, rádio e os jornais impressos – estão vendo alguns de seus jornalistas abrirem canais no YouTube, investirem nos seus blogs e dedicarem tempo a podcasts. A internet tem mostrado ser não só uma fonte secundária de renda, mas sim a principal em muitos casos. Recentemente, vimos alguns exemplos marcantes desse movimento, e o principal ponto de desembarque é o YouTube. William Waack, que foi demitido da Rede Globo no ano passado, hoje apresenta o Painel WW no Facebook e no YouTube. Seth Kegel, colunista do jornal The New York Times, comanda um canal sobre turismo também na internet. As manchetes de sites que falam sobre televisão traziam, no ano passado, a notícia de que Mara Luquet pediu demissão para se tornar garota propaganda de um banco. Na época, porém, nada foi dito sobre o canal que a jornalista comandaria no YouTube. 35


“O que me encantou mais foi que eu tive a mesma sensação de 26 anos atrás” Cristina Serra – Fundadora do canal MyNews.

Os motivos Muitos fatores podem levar um jornalista a ter um desejo de mudança: os profissionais que ficam nos bastidores, mas querem assumir um papel de protagonismo; aqueles que desejam se ver livres da linha editorial dos grandes veículos; ou os que identificam uma oportunidade de lucrar e ir além do salário que ganhavam. Para Cristina Serra, contudo, não foi nenhum desses motivos. A repórter trabalhou na TV Globo durante 26 anos. Foi correspondente em Nova York e em Brasília – cargo desejado por muitos –, trabalhou no Rio de Janeiro e, em 2015, participou da cobertura da queda da barragem da Samarco, em Mariana (MG). O que levou Cristina a querer mudar foi seu espírito inquieto. Depois de tanta experiência, ela não queria trabalhar mais em televisão. Saiu da maior emissora do país movida por um desejo de mudança e de se dedicar ao seu livro, mesmo sem saber o que faria depois disso. Durante o movimento 36

de saída, Cristina foi seduzida pela internet. A fundadora do canal MyNews, Mara Luquet, convidou a ex-repórter para trabalhar com ela no YouTube. “Eu realmente fiquei encantada com a proposta dela. O que me encantou mais foi que eu tive a mesma sensação que eu tive 26 anos atrás, quando eu fui do jornal para a TV”, afirma Cristina, relembrando a empolgação do desafio de mudar. Para Victor Guedes, colunista do Jornal Agora e comentarista do programa Os Donos da Bola (TV Bandeirantes), a mudança faz parte de uma adaptação que deve ser natural para o comunicólogo: “Faço qualquer mídia porque sou jornalista. Eu não tenho o direito de escolher onde as pessoas vão me acompanhar, eu tenho que deixar as pessoas escolherem”, explica Victor, que começou recentemente a se comunicar através do YouTube.

As diferenças Durante a migração para a internet, o jornalista percebe que precisa adquirir várias habilidades que antes não eram essenciais, mas agora são. A primeira diferença é simples, mas talvez seja a mais importante: o jornalista precisa ser atuante nas redes sociais, afinal, agora ele tem um público dele – diferentemente de quando ele trabalhava em uma redação que atendia ao público de um veículo. A jornalista Verônica Machado identificou as novas

necessidades dos jornalistas e criou o projeto Jornalista 3.0. O site oferece conteúdo para os profissionais da comunicação se atualizarem no mercado digital. O carro-chefe é o curso Realize, que ensina desde como criar seu podcast a como usar o Facebook para alavancar seu projeto. Para Verônica, é importante tirar os projetos do papel, mas ela lembra que os mais velhos têm dificuldade quando vão para a internet: “Os mais novos já têm essa característica do digital, fazem isso naturalmente. Agora, os mais antigos sofrem. Ficam perdidos sobre como começar ou do tanto que precisam saber”, explica, lembrando que os profissionais com mais de 10 anos de experiência são maioria no curso – de 70% a 80%. O jornalista também deve ser um bom empreendedor. Salário fixo na internet é raridade, os horários também não são fixos e não existem benefícios que geralmente são pagos pelas empresas. Daiana Garbin, assim como Cristina Serra, trabalhou na TV Globo e deixou a emissora para ir para o YouTube. Ela abriu seu próprio canal e faz quase tudo sozinha: “Eu trabalho muito mais hoje em dia do que quando eu trabalhava em televisão”, afirma. A linha editorial das rádios, TVs e jornais pode ser um dos motivos da insatisfação de alguns jornalistas. A escolha dos assuntos, a forma de abordagem e a linguagem usada para Revista Código | Cruzeiro do Sul


Pamela Genitis

fazer as matérias devem estar alinhadas aos interesses dos veículos; mudar para o seu próprio veículo pode ser libertador. Quando a nossa reportagem perguntou à Cristina Serra se sentia mais livre no YouTube, a resposta surpreendeu: “Nossa Senhora, totalmente”. Ela explica: “Eu me sinto totalmente livre no canal porque esse é um princípio para nós. Nós temos um patrocínio, mas não temos nenhum tipo de censura interna ou assunto que não podemos falar. No programa, a gente tem liberdade porque temos responsabilidade, ninguém é doido de falar uma besteira”. Daiana Garbin destaca que, além da linguagem, a linha editorial se relaciona com os assuntos que o profissional quer abordar e quem ele quer entrevistar. Porém, Daiana lembra que a responsabilidade é maior: “Quando eu trabalhava em rádios e TV, eu tinha um editor-chefe que verificava tudo. Agora eu sou responsável por todo conteúdo que produzo. Então, eu tomo muito cuidado para que todas as informações sejam transmitidas da forma mais correta e ética possível”.

O futuro Como tudo no mundo profissional, a migração de jornalistas para veículos menos tradicionais depende do dinheiro. Nem todos conseguem abrir mão de um salário fixo para empreender, e ganhar menos, como aconteceu com Cristina. “Ao contrário de muitas notas Novembro de 2018

Jornalistas que migraram da TV para o YouTube.

que estão saindo por aí, eu não estou ganhando mais do que estava ganhando na televisão, e acho que ninguém do MyNews está. Mas é que para mim isto não é importante agora. Nós estamos plantando a semente para colhermos lá na frente”, esclarece. E como estamos falando de dinheiro, o que sairá dessa semente é um mercado publicitário que aposta nos jornalistas digitais. Hoje em dia, segundo levantamento do instituto Kantar Ibope Media, a televisão recebe 72,8% de todo o investimento da publicidade. A participação da internet, segundo os dados mais recentes, é muito menor, 4,2%. Mesmo assim, a aposta de Daiana na internet continua firme: “Não tenho a intenção de levar o ‘Eu Vejo’ para a televisão, embora já tenha recebido convites”. Ela ainda lembra que a televisão não tem a mesma profundidade de seu canal, que ajuda pessoas com transtornos alimentares e dá dicas de saúde. O dinheiro importa. Não porque os jornalistas querem

resolver suas vidas e ficarem ricos na internet, mas sim porque o processo de apuração é caro, onde quer que você esteja. “Você precisa ser um profissional minimamente bem pago, para que você tenha tempo de procurar as pessoas certas, ser bem informado, ler, saber do que você está tratando. As empresas que têm condições de bancar esses profissionais ainda são os grandes veículos de comunicação, que têm tradição. E por que eles conseguem fazer isso? Porque eles têm a maior parcela do mercado publicitário”, explica Cristina Serra. Jornalistas jovens e experientes, profissionais bem pagos e mal pagos, pessoas que buscam a fama ou apenas um desafio profissional estão sendo seduzidas pela internet. A mudança que a web está produzindo no jornalismo é natural, já que precisamos nos adaptar ao nosso público, que está se renovando. Portanto, a migração nada mais é do que uma adaptação, um movimento que não tem fim para os jornalistas, que sempre estão se adaptando para comunicar. 37


tecnologia

Convergindo ao

desconhecido Mariana Ramires e Simone Nunes

A convergência midiática vem para agregar às mídias tradicionais, levando a humanidade a um futuro cada vez mais promissor.

Por Leticia Scudeiro e Mariana Ramires e Simone Nunes e Vitória Santos e Victória Dias.

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Revista Código | Cruzeiro do Sul


O

futuro. Será que é realmente possível avançar mais? Criar novos meios ou desenvolver os que aí estão? Já dizia Lavoisier: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Se tudo se transforma, o que será do futuro? Para ser mais específico, o que será da comunicação no futuro? Ainda usaremos a internet? Leremos jornal impresso e ouviremos rádio? Para chegarmos onde estamos hoje, tivemos que passar pelas pinturas rupestres da pré-história, pelo papiro, pela prensa de Gutemberg, rádio, televisão e telefone celular, sendo que para cada uma dessas etapas era inimaginável que algo mais moderno pudesse superá-las, mas foi exatamente o que aconteceu. Cada uma dessas invenções foi surpreendida por algo ainda mais inovador. Hoje, em um único aparelho, temos internet, câmera de alta qualidade, chamada em vídeo e até mesmo impressão digital para o desbloqueio do aparelho. Certamente a pergunta que nos sonda é: o que o futuro nos guarda? Como disse Bruno Dias, editor de entretenimento da Capricho, “nós vamos nos adaptando a ele (o futuro), e isso nada mais é do que o momento em que estamos vivendo com a convergência midiática”. Hoje, com um simples “click”, você fica sabendo de tudo o que está acontecendo no resto do mundo, pode se

Novembro de 2018

comunicar com parentes que moram do outro lado do planeta, tem a possibilidade de fazer compras sem sair de casa, entre outras coisas facilitadas pela internet. Cada vez mais, os meios de comunicação tradicionais procuram interagir com essas novas plataformas (blogs, sites, aplicativos de relacionamento e entretenimento) como forma de disseminar seus conteúdos e alcançar uma maior audiência. Esse fenômeno, estudado por Henry Jenkins, pode ser conhecido como convergência midiática, que nada mais é do que as mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais que afetam a maneira como as mídias atuam em nossa cultura. Essa convergência atinge cada vez mais os grandes veículos de informação, como foi o caso da Capricho, que até o ano de 2015 era impressa, mas que, por motivos de adaptabilidade ao meio digital e questões financeiras, migrou totalmente para o meio virtual. Clarissa Passos – Editora de “Crescemos muito no on-line, entretenimento do Buzzfeed. conseguimos números maiores e a gente tinha mais ‘braço’ para trabalhar”, diz Bruno Dias.

“Na real, o futuro é agora, o que estamos vivendo é o futuro que algumas pessoas há 50, 60 anos previram”

Ao contrário do que muitos dizem, a Convergência Midiática não busca “matar” os primeiros meios de comunicação, mas sim colocá-los em outras plataformas, para que eles continuem sendo usados também nos sistemas atuais, como está acontecendo.

O jornal O Estado de São Paulo, além de sua versão

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Pré-história Inicia-se o que hoje é chamado de pintura rupestre.

Egito Por volta de 2.500 a.C., os egípcios desenvolveram o papiro.

Prensa de Gutenberg No Séc. XV (15), Johannes Gutenberg inventa a prensa.

Jornal Em Leipizig (Alemanha), o primeiro Jornal Diário data de 1650.

Rádio A primeira transmissão por meio de ondas sonoras no Brasil data de 1922.

Televisão A primeira transmissão de televisão no Brasil, com sinal aberto da TV Tupi, data de 1950.

Computador Primeira Geração (1951-1959) é o Eletronic Numerical Integrator and Computer.

Smartphone Martin Cooper inventa o primeiro celular, o Motorola DynaTAC, em 3 de Abril de 1974.

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Leticia Scudeiro e Simone Nunes

impressa, usa aplicativos como o Instagram, Facebook e Twitter para divulgação de notícias, assim como outros jornais e revistas que, além de se manterem no formato tradicional, estão também nas mídias digitais, pois muitos de seus fiéis leitores migraram para esse meio. Veículos vêm se moldando a esses novos formatos, mas não basta estar só nessas plataformas, como ressalta Márcio Cardial, Publisher da revista Negócios da Comunicação: “Temos que efetivamente trabalhar com múltiplas plataformas e saber captar a especificidade que cada uma delas nos possibilita”.

Monetização, qual é a saída? Em um movimento de crescente expansão, dados obtidos pela Pesquisa Brasileira de Mídia mostraram que, no ano de 2016, a internet já ocupava a segunda posição quando o assunto é a busca por informações. Dessa forma, notamos que não estamos distantes de ver a Galáxia da Internet absorver a “Galáxia de Gutenberg”, e acredita-se que isso somente não ocorreu em sua totalidade por conta das dificuldades de desenvolver um modelo de monetização satisfatório. Considerada por muitos como o ponto de preocupação da era digital, essa questão é vista como um “bicho de sete cabeças”. Quando falamos sobre o impresso, o rádio e a

televisão, a questão da monetização fica clara, pois a todo momento somos recebidos por informes publicitários. Logo, não é segredo algum que sua principal fonte de renda esteja na venda de espaços publicitários. Segundo Clarissa Passos, editora de entretenimento do Buzzfeed, estamos em fase de mudança, “o modelo de negócios tradicional não está entrando em colapso. Ele já colapsou, e as empresas estão tentando correr atrás de um novo modelo. Estamos em um momento de crise e de mudanças, vai se sair bem quem encontrar primeiro um modelo de negócios que seja rentável em um ambiente novo, digital. Acho que ninguém ainda tem essa fórmula, o próprio Buzzfeed tem feito coisas diferentes nesse sentido”, diz. Uma forma de se adaptar a essa monetização, segundo Bruno Dias, seria aprimorar o uso da publicidade – como a Capricho, que deixou de ser uma revista e se tornou uma marca. “Temos muitos licenciados, cadernos, chocolate, roupa, tênis e por aí vai. Isso funciona muito bem, pode-se dizer que a nossa maior renda vem deles, e é uma saída”. Segundo ele, também está sendo usado o chamado Branded Content, a produção de matérias patrocinadas. Assim, Jornalismo e Publicidade estão cada vez mais caminhando lado a lado como confirma Márcio Cardial: “A resposta está na realização de eventos que atraiam a atenção do Revista Código | Cruzeiro do Sul


leitor e, na publicidade, através do marketing de conteúdo”. Essa aproximação vem se tornando imperceptível e é inegável que a maior solução para o imediatismo e aproveitamento das novas tecnologias está na junção dessas duas áreas.

O futuro a quem pertence? Assim como até o momento passamos por diversas inovações tecnológicas, é perceptível que essas modificações estão longe de acabar. Uma pesquisa escolar, por exemplo, antes exigia que o aluno se dedicasse à leitura de livros e periódicos sobre o assunto, o que muitas vezes despendia um tempo considerável na busca por determinado tópico. Hoje, essa mesma pesquisa pode ser realizada em segundos. Basta saber exatamente o que deseja pesquisar e escolher corretamente as palavras-chave. Para os jornalistas da atualidade, é necessário aprender a usar os recursos digitais a seu favor, e então criar um contato com os leitores e consumidores do seu conteúdo pelas redes sociais, pois a praticidade de ter tudo na mão com o smartphone gera uma proximidade entre eles. Pensar em um conteúdo totalmente para a web, passar a usar as redes sociais como um Digital Influencer/YouTuber, usufruir dos blogs e dos aplicativos que estão em alta no momento são Novembro de 2018

fromas de aliar-se à convergência midiática e de fazer com que a informação chegue a um número maior de usuários. Cada vez mais conectados pela máquina e cada vez menos conectados de forma física, a interação homem-máquina altera nossas formas de ver e atuar no mundo. Logo, o “ser” no mundo já não é o mesmo, assim como o fazer jornalístico que também vem se adaptando a essa realidade. Dessa forma, será que estamos preparados para encarar o mundo do jornalismo 3.0? Somos capazes de aprender, em quatro anos, as maneiras de

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lidar com um ambiente que se altera de forma cada vez mais rápida e intensa? A série Black Mirror traz uma perspectiva apocalíptica do que o futuro em rede nos reserva. Para Clarissa Passos, “nunca jamais houve um filme com um futuro legal, uma

série sobre um futuro bacana, leve. Na real, o futuro é agora, o que estamos vivendo é o futuro que algumas pessoas há 50, 60 anos previram. Não é nem bom nem ruim, tem coisas realmente ruins e coisas boas, e eu acho que é um clichê, mas é fato que a mídia é a primeira a transparecer; então eu acho que depende muito de como você convive com isso”. As novas tecnologias surgiram e estamos aprendendo a lidar com elas, são desafios como esse que instigam cada vez mais os novos jornalistas. “Essa geração nova de jornalistas já chega com uma formação pessoal de usuário de conteúdo digital, então acho que isso já dá um pé na frente”, diz Clarissa. A busca do equilíbrio entre o on-line e o off-line pode ser a medida certa para desvendar esse mundo sem se perder em meio a suas possibilidades. Não sabemos o que será do futuro, mas já estamos em direção a ele. Sempre buscaremos formas de nos adaptar às novas tecnologias, tentar aproveitar ao máximo o que essas plataformas nos trazem e descobrir novas maneiras de utilizá-las. Esse é o grande desafio da comunicação e dos jornalistas que caminham para um futuro desconhecido. 41


multimídia

Eles são

atarefados

Por Beatriz Luanni, Jefferson Alves Cruz, Letícia Yumi, Marcela Guedes e Natália Rocha.

Jefferson Alves Cruz

Como os jornalistas encaram o Jornalismo Multimídia? Profissionais contam que “saber fazer de tudo um pouco” é muito mais do que uma habilidade.

S

ão 14h05. A redação do novo prédio espelhado da Record TV Santos, inaugurado há pouco mais de um ano e meio, encontra-se lotada de profissionais. Há jornalistas e radialistas. O Balanço Geral Vale está no ar e Fabiana Kiihl ainda redige a lauda com os principais assuntos que entrarão no telejornal SP Record. Texto finalizado. A passos largos, segue para o estúdio. Coloca o microfone e aguarda o momento exato de entrar no ar. Com o ponto no ouvido, escuta atentamente as informações da editora-chefe e balança a cabeça, concordando que sim. O apresentador Alexandre Furtado, em São José dos Campos, interage com a colega. Por dois minutos, conversam sobre as principais notícias do dia e a âncora do telejornal convida os telespectadores a assistirem o SP Record. Terminado o link, volta à redação e começa a escrever o texto da previsão do tempo.

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Fabiana Kiihl – apresentadora do SP Record. Texto finalizado. Fabi – como é chamado pelos profissionais da casa – segue para o camarim, faz a maquiagem e o cabelo. Volta ao estúdio e começa a gravar chamadas para a programação e a previsão do tempo. “Eu vejo o jornal, o texto da editora-chefe, assisto ao máximo de reportagens, leio as cabeças e, começo a me preparar para entrar ao vivo”, afirma a novata da casa. Formada há cinco anos pela FIAM-FAAM, em São Paulo, a apresentadora do SP Record Litoral e Vale do Paraíba mostra que o jornalismo multimídia é uma realidade nas emissoras de TV. A jovem apresentadora

de olhos castanhos e cabelos louros, de aproximadamente um metro e setenta, ainda é responsável por fazer lives no Facebook, convidando os seguidores para assistirem o jornal. Existe muito envolvimento, mas a rotina diária nem sempre é assim: “Quando eu saio para a rua e apresento, vou para o jornal menos envolvida com os assuntos do dia”, comenta. Fazer de tudo um pouco é um dos desafios que compõe a rotina imprevisível da apresentadora. “É interessante, todo profissional precisa ter esse tipo de experiência, embora seja bem puxado e até arriscado”. Fabi prova que é possível Revista Código | Cruzeiro do Sul


A dinâmica multimídia da BBC Brasil Essa realidade de ser multiplataforma e desenvolver diversas funções é uma realidade na BBC Brasil. Inaugurada em setembro de 2006, a redação da filial brasileira está situada no prédio do Centro Brasileiro Britânico, no bairro de Pinheiros, e é considerada uma das maiores da BBC no exterior. O prédio recém-reformado possui estúdios de rádio e televisão. No momento, cerca de dez jornalistas, entre eles três repórteres ingleses, estão na redação. A palavra-chave da empresa é tecnologia. Os jornalistas fazem a cobertura de notícias pelo portal, transmitem lives no Facebook e compartilham stories pelo Instagram. “Os repórteres como produtores de conteúdo devem conhecer as novas tecnologias tão bem quanto um usuário. Ao fazermos um conteúdo Novembro de 2018

interessante, desenvolvemos a mudança de formato”, afirma o editor-chefe da BBC Brasil Caio Quero. O jornalismo multimídia proporciona um avanço nos conhecimentos de diversas narrativas e uma maior bagagem profissional aos funcionários da casa. Para Quero, o jornalista multimídia possui mais autonomia. O editor ressalta ainda que os profissionais que não adaptarem-se a essa realidade terão menos oportunidades no mercado de trabalho. “Na minha opinião, o repórter que só escreve texto e não faz nada além disso é um profissional limitado. É possível ser multimídia, apurar os dados e ter um bom texto. A nossa profissão exige transparência e dedicação”.

Os desafios do mercado de trabalho De onde surgiu essa nova forma de fazer jornalismo? Para a professora do mestrado profissional em Jornalismo da FIAM-FAAM e doutora em Ciências da Comunicação, Claudia Nonato, o jornalismo multimídia se tornou presente nos anos 2000 para atrair a atenção da nova geração, mas os profissionais não se sentiam atraídos pelas mudanças na tecnologia e nos meios de comunicação. “Quando os computadores chegaram às redações, houve resistência por parte dos jornalistas mais experientes, muitos não

Marcela Guedes

produzir textos, interagir com os internautas antes de apresentar o SP Record e fazer reportagens na rua, mas alerta que a realidade é bem diferente do que se aprende em sala de aula: “Não vejo como algo muito positivo exercer várias funções. Já que quem executa diferentes tarefas tende a fazer o trabalho meia-boca, ou seja, se pudéssemos nos dedicar a uma coisa de cada vez, a excelência seria garantida”, diz Fabiana.

Caio Quero – Editor-chefe da BBC Brasil. aceitaram a ideia e acabaram saindo do mercado de trabalho ou indo para as assessorias de imprensa”, afirma Nonato. Como consequência pela recusa por parte dos profissionais, e também por conta das mudanças provocadas pela informatização, houve demissões em massa, o que colaborou para o acúmulo de funções, prejudicando a qualidade de se fazer jornalismo e precarizando as redações. “Não temos muitas figuras nas redações como tínhamos antigamente, como o revisor, o copidesque, o fotógrafo. Hoje, o repórter multitarefa é obrigado a fotografar, filmar, gravar, escrever, subir matérias. Os patrões despedem três jornalistas e contratam apenas um para exercer todas essas funções. Desse modo, o jornalista não consegue fazer um trabalho bem feito. Em consequência dessa realidade, temos textos com erros, compram-se mais fotografias de agências, utilizam-se mais 43


Marcela Guedes

Cláudia Nonato – Professora do mestrado profissional em Jornalismo na FIAM-FAAM e doutora em Ciências da Comunicação. assessorias de imprensa e releases para a produção das matérias”, afirma. A autora do primeiro capítulo do livro A mudança no Mundo do Trabalho do Jornalista, escrito em parceria com os professores Roseli Figaro e Rafael Grohmann, estima que 30% dos jornalistas brasileiros estão em São Paulo. “Esta conclusão foi obtida após uma análise com profissionais da Editora Abril, grupos de freelancers e associados ao sindicato, um grupo interessante porque ele tem um perfil completamente diferente dos outros. O grupo do sindicato tem um conceito de jornalismo tradicional, diferente do conceito que os jovens trazem agora”, lembra Nonato. De acordo com a professora, esse livro mostra a importância que as novas tecnologias trouxeram para o jornalismo. “O livro desperta o olhar para o trabalho do jornalista, pois até então as pessoas estavam muito voltadas 44

para a tecnologia, pensando em como ela avançou, como isso mudaria o texto e o padrão do jornalismo. As mulheres começaram no jornalismo, aos poucos começaram a se destacar, e novas funções começaram a surgir enquanto outras eram extintas. Mudanças importantes do meu ponto de vista”, afirma. Uma profissional que precisou adaptar-se à essa realidade é a jornalista Flávia Saad, formada em Jornalismo pela Universidade Metodista, localizada na cidade de São Bernardo do Campo, na grande São Paulo. Para Flávia, o jornalismo multimídia está presente em sua vida desde 2009, quando era coordenadora do projeto Campus – encarte voltado ao público universitário do jornal A Tribuna, em Santos, litoral de São Paulo. “Nos últimos anos em que trabalhei nesta empresa, coordenei este projeto e ele possuía uma integração com o digital, e então, eu coorde-

nava a concepção, execução e planejamento, além de ser repórter. Para mim não havia problema, porque já estava acostumada, mas o difícil era a aceitação das pessoas mais experientes. Algumas decisões precisavam ser tomadas e eles não queriam comprar a ideia. Ao sair de lá, fui para o digital”, lembra. Em 2011, Saad e sua sócia, Ludmila Rossi, decidem lançar o site Juicy Santos – ambiente digital com informações sobre cultura, estilo de vida e turismo –, considerado um caso de sucesso na Baixada Santista. Atualmente, o site possui 300 mil visualizações mensais e 120 mil seguidores nas redes sociais. “O nosso diferencial é a produção de conteúdo, sendo que o site é a nossa principal plataforma. Mas, mesmo assim, produzimos vídeos para o YouTube e ilustrações para o Facebook. As ilustrações e infográficos são um tipo de conteúdo altamente compartilhável e têm a possibilidade de ser viralizável”, afirma Saad. Exercendo múltiplas funções, Saad é responsável pela parte estratégica, branding, marketing, redação, produção e edição das matérias, queixa-se que os cursos de jornalismo não oferecem aos profissionais noções sobre a área estratégica: “Essa parte estratégica é algo que nós jornalistas não aprendemos na faculdade e isso é uma necessidade. Não sou uma execuRevista Código | Cruzeiro do Sul


Jefferson Alves Cruz

tiva, não fui treinada, mas, na realidade, eu sou isso hoje”, afirma.

O jornalismo multimídia sob a visão do sindicato

Letícia Yumi

A reinvenção é a válvula mestre do Jornalismo Multimídia, mas, para o microempreendedor, saber gerenciar uma empresa e produzir conFlávia Saad – Sócia do site Juicy Santos. teúdo ao mesmo tempo, muitas vezes, torna-se uma tarefa difícil, e a ética profissional não coaduna com a realidade do mercado. O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros estabelece no Capítulo IV, das Relações Profissionais, no artigo 14, inciso I, que o jornalista não deve acumular funções. Segundo Saad, “esta visão adotada pelos microempreendedores é a realidade do mercado e, se o sindicato dos Jornalistas não aceitar, será mais complicada a relação entre o sindicato e o jornalista, porque ele vai falar uma coisa que não acontece. Hoje a gente precisa saber de André Freire – Presidente do Sindicato dos Jornalistas/SP. tudo e esse pensamento é de o Código. “Para a empresa, é possível. A gente fica tentanquem trabalha para o patrão, lucrativo; para nós, aviltante, do lutar contra a maré; e os não de quem é empreendeporque estamos estreitando o grandes, né? Eu acreditava dor. Quando a gente pensa mercado de trabalho. Ocupa-se nisso, mas precisamos saber assim, pensa no grande, não posto de trabalho que deveria de tudo”. no pequeno. A questão ética ser de um colega jornalista, e Para o presidente do Sinditem que ficar no sentido que sou independente. Tenho uma cato do Jornalistas, André Freire, também porque o exercício de várias funções prejudica a quao artigo 14 deve ser cumprido repórter contratada por CLT lidade do trabalho e da informae o sindicato atua contra as e é óbvio que, dada a oporção que chega à sociedade”, empresas que forçam os seus tunidade, quero gerar empreafirma. profissionais a desrespeitarem go, mas às vezes isso não é Novembro de 2018

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Camila Fonseca

redes Sociais

A informação que

você COMPARTILHAVA Mudança de algoritmo do Facebook abre espaço para debate sobre a relevância dos conteúdos jornalísticos na plataforma.

Por Marina Santana, Mateus Borge, Mylla Stefany, Cecilia Stein, Jeniffer Silva.

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magine uma plataforma on-line que permite que informações se espalhem de forma incontrolável, influenciando massivamente seus usuários. As notícias falsas e 46

verdadeiras colidem, e diferenciar umas das outras torna-se uma tarefa complexa. Então, a plataforma decide aproximar os usuários alterando o seu algoritmo, diminuindo a visualização de fanpages e tornando os conteúdos mais pessoais. Essa foi a decisão tomada por Mark Zuckerberg, fundador e proprietário do Facebook.

A decisão influenciou diversas empresas, incluindo grandes veículos jornalísticos, responsáveis por levar informações verídicas. Um desses veículos, a Folha de São Paulo, publicou em seu portal e também em sua página oficial no Facebook um comunicado anunciando o fim de suas atividades na plataforma. A medida Revista Código | Cruzeiro do Sul


Bilhões de conexões

Com a ascensão das redes sociais, a internet começou a se tornar uma grande difusora de notícias. O Facebook, uma das principais plataformas de redes sociais, com mais de 2 bilhões de usuários no mundo, é um dos maiores transmissores de conteúdo na atualidade. Divide esse controle apenas com o Google, plataforma de pesquisa e direcionamento para portais de notícias com mais de 100 bilhões de buscas mensais. “Ele [Facebook] está passando por um processo de Novembro de 2018

posicionamento de marketing place, quer competir com o Google, não está mais apenas na plataforma social de histórias”, diz Camila Ricciardi, ex- supervisora de mídia da agência Bold Conteúdo. Agora, a última mudança do algoritmo do Facebook trouxe grandes transformações para o jornalismo tradicional, dificultando o alcance aos portais que o utilizavam como um canal de acesso ao seu conteúdo. “Podemos dizer que os algoritmos das redes sociais são escritos para criar uma espécie de relacionamento mútuo de amizade com seus usuários. À medida que esse relacionamento amadurece, você conhece mais os gostos

das outras pessoas”, explica o tecnólogo em análise e desenvolvimento de sistemas Rodrigo Stocco. Enquanto, para uns, o Facebook passa uma imagem de aproximação de suas origens, para outros, ainda estamos no escuro. Segundo Walter Teixeira Lima Junior, pesquisador da Universidade Federal do Amapá em Ciências da Comunicação, ninguém sabe o que é o Facebook, a não ser o próprio Facebook. “Não dá para saber como eles disponibilizam a informação, como dão visibilidade a cada tipo de conteúdo e o que repetem. Isso a gente chama, na ciência, de Muralha Chinesa”, comenta.

Camila Fonseca

teve efeito a partir de fevereiro de 2018. Em 2017, a empresa de Zuckerberg começou um projeto chamado Facebook para Jornalismo, com a ideia de dialogar sobre como os veículos de mídia usam a rede social e como a plataforma poderia apoiar as suas necessidades. “Eles lançaram um produto chamado Instant Articles, que basicamente oferecia para os publicadores que subissem o conteúdo dentro dos navegadores, e não cobraríamos pelo acesso. Seria acessado de maneira mais rápida”, comenta o secretário de redação da Folha, Roberto Dias. Contudo, o programa permitia receber pagamentos por meio do Audience Network, tornando o Facebook a fonte original das notícias, e não mais apenas um canal para chegar até elas.

O Facebook é a plataforma com maior alcance de conteúdo no Brasil, impactando mais de 2 bilhões de usuários. 47


Jornalismo x Redes

Mateus Borge e Maick Fernandes

Durante muito tempo, a credibilidade em torno da difusão de notícias pertencia apenas aos grandes veículos do jornalismo. Uma escala de produção profissional guiava o trabalho idôneo da empresa e do jornalista, ao apurar e relatar o que tornava a mídia confiável. Enquanto a tecnologia avançava, novas formas de comunicação surgiram na internet. Dentre elas, as redes sociais, capazes de disseminarem notícias de forma mais ágil do que a mídia tradicional. Contudo, o jornalismo continuou estagnado, “essas empresas e jornais antigos não se transformaram em centros

de tecnologia. Elas são dependentes de outras empresas. Não adianta contratarem pessoas mais novas, porque a estrutura é velha”, opina Lima Junior. Com as notícias sendo consumidas instantaneamente, o público começou a desejar conteúdos cada vez mais imediatos, criando uma necessidade de atualização constante nas redes sociais, que distribuem as informações de maneira intensa. “Ou entramos nesse universo tecnológico de cabeça, ou ficaremos como coadjuvantes”, diz o professor. Para o jornalista Paulo Silvestre, que atua com mídias sociais e foi apontado como digital influencer pela plataforma LinkedIn, os veículos

tradicionais ainda não sabem como trabalhar na internet. Silvestre cita como exemplo de um conteúdo jornalístico que já nasceu na internet o site Omelete. Ele tem uma relação com o leitor totalmente diferente, a chamada on-line é uma espécie de conversa. Além de outros conteúdos multimidiáticos, como vídeos no YouTube e postagens no Instagram. “O que precisamos entender é que a maneira de se relacionar com o público mudou. Trazendo para a realidade do jornalista, a maneira como nos relacionamos com o público também mudou”, complementa Silvestre, também professor de mídias digitais na PUC-SP. Para Lima Junior, o jeito de ensinar jornalismo precisa

Entenda o algoritmo As publicações que são postadas recentemente têm mais chances de aparecer. Quanto mais interações alcançam, maiores chances de aparecerem nas Principais Histórias.

Com base no que o usuário pesquisa dentro e fora da rede social e o que compartilha, os algoritmos aprendem os gostos pessoais e exibem conteúdos relacionados aos anúncios e timeline.

O algoritmo aprende com o usuário. Quanto mais ele curte, comenta e compartilha as publicações das páginas, mais aquele conteúdo aparecerá na sua timeline. O comentário é mais influente do que a curtida. Para o Facebook, o tempo gasto para comentar é o que demonstra maior interesse na publicação.

Os algoritmos podem influenciar a comunicação e a informação. Os conteúdos que agradam o leitor podem distorcer a análise do factual.

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Fonte: Rodrigo Stocco, Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

Revista Código | Cruzeiro do Sul


Camila Fonseca

A Folha de São Paulo foi o primeiro jornal a retirar seu conteúdo do Facebook devido às mudanças de algoritmo da plataforma. mudar. “Os americanos já perceberam. Na universidade de Columbia, uma das mais conceituadas nos Estados Unidos, o aluno sai com dupla graduação, você cursa ciência da computação e jornalismo simultaneamente”, diz. Quando surgiu o rádio e logo depois a televisão, os jornalistas precisaram se atualizar e no começo houve muitos ataques a essas novas tecnologias. A internet está sofrendo do mesmo mal. “Se o jornalista não entender as tecnologias, o jornalismo corre o risco de se tornar irrelevante”, afirma. A mudança de algoritmo não acontece de uma hora para outra, as redes sociais, como o Facebook e Instagram, alteram seus algoritmos o tempo inteiro. O que resta ao jornalista e à empresa é saber como usar essas redes sociais, como continuar alcançando o engajamento do público de forma orgânica, fazendo seu público desejar ver seu conteúdo. “O Facebook lhe dá controle sobre o que Novembro de 2018

você quer ver e como quer ver. O que acontece, às vezes, é que os usuários não possuem conhecimento sobre essas configurações”, afirma Stocco. Dentro das páginas, existem opções de notificações, ordem de aparição do conteúdo e a opção seguir. “Uma vez que a informação é pública, qualquer pessoa pode ter acesso”, complementa.

Atitude da Folha Enquanto alguns jornais buscam se adequar às novas tendências tecnológicas, outros estão tomando o caminho contrário, como é o caso da Folha de São Paulo que, em fevereiro de 2018, retirou seu conteúdo do Facebook. “A discussão já estava acontecendo desde o final do ano passado porque não fazia mais sentido”, afirma o secretário de redação da Folha. Conforme publicado no portal da Folha, os acessos provenientes do Facebook

“Ou entramos nesse universo tecnológico de cabeça, ou ficaremos como coadjuvantes” Walter Teixeira Lima Junior – Professor especialista em Comunicação.

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“Não fazia mais sentido gastar energia e nosso tempo de produção, que chegava para as pessoas cada vez menos” Roberto Dias, secretário de redação da Folha de São Paulo.

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estavam em declínio, sendo substituídos pela ferramenta de buscas Google. “Olhávamos os números e não fazia mais sentido gastar energia e o nosso tempo de produção de conteúdo, que chegava para as pessoas cada vez menos”, comenta Dias. Conforme pesquisa do Parse.ly para a Folha, a audiência do Facebook em janeiro de 2017 era de 39% e caiu para 24% em dezembro do mesmo ano; já o Google subiu de 34% para 45% da audiência. Márcio Cardial, publisher da revista Negócios da Comunicação, explica que, na verdade, o Facebook ganha dinheiro com o conteúdo que ele não paga para terceiros. “Um conteúdo de qualidade não depende das redes sociais. Além disso, a tecnologia serve como utensílio de apoio, ou seja, uma fonte de pautas e um auxílio na identificação de temas”, complementa. A atitude da Folha acarretou uma discussão sobre como o jornalismo deve agir nas redes sociais e o quanto a internet impacta na disseminação de notícias. Para Paulo Silvestre, os veículos que não se adequam a essa nova tendência estão em desvantagem. “No caso da Folha, ela vai abrir espaço para outros veículos e outras formas de expressão que sejam mais adequadas a essa nova realidade”. Para Lima Junior, se a Folha está perdida, os outros veículos também estão. “Como

você pega seu patrimônio, que é a informação, e coloca em uma empresa com a qual nem tem contato direto?”, questiona.

O problema das fake news no Facebook Entre tantas polêmicas, como vazamento de dados e disseminação de notícias falsas, o Facebook está perdendo parte de sua credibilidade. Após a decisão de Zuckerberg de diminuir a visualização orgânica das páginas, a plataforma pode abrir espaço para inserir ainda mais seus usuários em bolhas sociais. Para conter essa disseminação de noticias falsas, o próprio Facebook realizou uma campanha de marketing no Brasil e em outros países em sua timeline com dicas para auxiliar as pessoas a identificarem notícias falsas em uma tentativa de reduzir os incentivos aos usuários de consumir e distribuir matéria com manchetes falsas, caça-cliques ou sites com conteúdo de baixa qualidade. “Se quem deveria produzir conteúdo sai do site, então acaba deixando espaço para que as fake news proliferem”, acredita Paulo Silvestre. No entanto, as opiniões divergem. Roberto Dias afirma que: “Quanto maior for a proporção de mentiras dentro do conteúdo, mais rapidamente cairá a ficha de que aquilo não é jornalismo profissional”. Revista Código | Cruzeiro do Sul


crise

O declínio de um império

Entre o advento da internet e a crise econômica, Grupo Abril entra em colapso, deixando futuro dos profissionais incerto.

Por Flávia Leão Bernardino

I

dealizada em 1950, a história de sucesso da Editora Abril inicia com a publicação da versão brasileira da revista em quadrinhos O Pato Donald. Dez anos após o início das atividades da empresa, Victor Civita, o fundador, inova mais uma vez, ao publicar obras de referência em fascículos, levando para as bancas conhecimento que antes era restrito às

Novembro de 2018

bibliotecas e livrarias. A partir da publicação de A Bíblia Mais Bela do Mundo, a editora cria um novo nicho no mercado de publicações do país. Em 1961, as publicações da Walt Disney cresciam e o lançamento da revista do Zé Carioca estimulou a produção de quadrinhos nacionais. Também em 1961 a editora lança a primeira revista feminina, Claudia, seu foco era a dona de casa brasileira. Apesar de sua criação acompanhar a data de nascimento da editora, 1950, a revista

Capricho que, inicialmente, publicava fotonovelas para atender ao público feminino, deixou de ser considerada pela editora uma revista feminina em 1981, quando foi reformulada para leitores adolescentes. Nos anos 2000, migrou para a plataforma digital deixando definitivamente o modelo impresso. Referência durante os períodos mais marcantes da sociedade brasileira, em 1966, a Abril lança a revista Realidade, a primeira revista do país a investir em grandes reportagens. 51


Dois anos depois, acontece o lançamento da revista Veja. Com distribuição semanal, a publicação atinge mais de 10 milhões de leitores entre impresso e digital, conquistando a marca de revista mais lida do país. Com o advento de novas tecnologias, o Grupo Abril passou a investir em outros nichos de mercado. Colocou no ar a TVA, e controlou em diferentes momentos tecnologias emergentes, tais como a TV digital, internet banda larga, Voip e o canal MTV. Na web, a primeira iniciativa foi o Brasil Online (BOL), que em 1996 foi incorporado pelo UOL.

Crise na editora O site Portal Imprensa vem noticiando a crise do Grupo Abril desde 2015 e especulações sobre o seu trágico fim criou um clima de tensão permanente sobre um dos grupos de comunicação mais fortes do Brasil.Será que a editora realmente estaria à beira de um colapso? Nas palavras do gerente de relações públicas, Douglas Cantu, a editora vem passando por uma grande reestruturação para reafirmar o jornalismo e revitalizar suas marcas desde 2013. Cantu negou veementemente as notícias referentes à suposta falência e acrescentou: “Não há possibilidade de um grupo como a Abril declarar falência ou solicitar recuperação judicial, o site Portal Imprensa e outros sites estão divulgando falsas informações, cedidas 52

Profissionais da revista Mundo estranho matêm o ritimo frente à crise. por ex-funcionários ressentidos com a empresa”. Uma visão diferente é expressa pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Paulo Leite de Moraes Zocchi, que denuncia demissões em massa realizadas pela empresa e dificuldades para o pagamento das rescisões contratuais dos colaboradores demitidos.Zocchi afirma ainda que, em 2013, a editora tinha cerca de mil jornalistas e, atualmente, o número não passa de 400. O Sindicato convocou, em setembro de 2017, repórteres, editores, designers, repórteres fotográficos e revisores, para uma assembleia geral extraordinária com o objetivo de discutir a possibilidade de demissões na editora ainda para o período. Nos últimos meses, a suposta crise tomou forma, deixando o mercado editorial surpreso com a realidade da empresa. Em dezembro de 2017, o grupo realizou mais de mil demissões, encerrou vários títulos e, com rumores de

calotes nas rescisões trabalhistas, a maior editora de revistas do país protocolou, em 16 de agosto de 2018, um pedido de recuperação judicial na Vara de Recuperação Judicial e Falências de São Paulo. A dívida reconhecida é de R$ 1,6 bilhão. O pedido incluiu todas as companhias operacionais do grupo, incluindo a Abril Comunicações e as empresas de distribuição de publicações agrupadas dentro da Dipar Participações, e de distribuição de encomendas, a Tex Courier. Hoje, as demissões e dispensas atingem cerca de 1.500 trabalhadores, dos quais 800 são celetistas que foram demitidos sem receber verbas rescisórias nem mesmo a multa de 40% do Fundo de Garantia. A editora ainda protelou o pagamento de outras centenas de demitidos em 2017, parcelando as verbas rescisórias desses trabalhadores em dez vezes. Os profissionais freelancers dispensados pela editora também procuraram o sindicato, muitos sem receber pelos trabalhos realizados. Revista Código | Cruzeiro do Sul


Quanto ao parcelamento das rescisões, Cantu nega que a empresa venha realizando negociações com funcionários por meio do sindicato ou mesmo que haja essa intenção. Já sobre a realização de demissões, responde com um curto “sim” e complementa: “Ninguém gosta de ser demitido, nunca é uma coisa boa, mas durante uma reestruturação é algo necessário”. A editora emprega atualmente cerca de cinco mil colaboradores, mesmo com as recentes demissões e ações trabalhistas. O Ministério Público do Trabalho (MPT) acionou a Editora Abril com um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), apresentado em 8 de março de 2018, pela procu-

radora do Trabalho Lorena Vasconcelos Porto. O processo vem apurando denúncias trabalhistas contra a empresa. De acordo com Victor Bianchin, editor da revista Mundo Estranho, título encerrado pela Abril Comunicações, a crise econômica não afetou somente as vendas das revistas impressas, mas a estrutura financeira da editora. “Nós perdemos muitos benefícios devido aos cortes de custos realizados pela empresa, a Abril é uma empresa que tem dívidas e está em uma situação delicada no mercado”. Hoje a maior parte da dívida do Grupo Abril pertence à Planner Trustee, uma corretora de valores de São Paulo e com mais de R$ 1 bilhão a receber.

REFLEXOS

DA CRISE

Ano de lançamento da editora, com a revista O Pato Donald.

Primeira revista feminina da editora é reformulada em 1981. A revista Capricho segue no formato digital como a queridinha das adolescentes.

Revista Exame, uma das publicações mais conceituadas do país, especializada em economia e negócios.

Buscando investimento na área da educação, a Abril adquiriu a Editora Ática, uma das líderes no setor de livros escolares no Brasil, e a editora Scipione.

Novembro de 2018

Aliando a tradição e o conteúdo das editoras Ática e Scipione ao conjunto de informações da SOMOS Educação (Antiga Abril Educação), nasceu, em 2007, o Sistema de Ensino SER.

Quatro Rodas, a primeira revista automobilística do mercado brasileiro.

A revista Contigo esteve com a Editora Abril por 52 anos e, em 2015, foi vendida para Editora Caras

Ano de lançamento da revista Claudia, a qual trouxe inovação para as bancas abordando temas femininos com linguagem atual e divertida.

Sucesso desde a sua primeira edição, a revista Veja foi lançada em 1968 e trata de temas variados de abrangência nacional Revista Recreio, que marca gerações com publicações direcionadas ao público infantil. E assim como a revista Contigo, foi vendida para a Editora Caras em 2014

Logo atrás da corretora, estão os bancos que financiaram a empresa – Bradesco, Santander e Itaú-Unibanco. O valor total da dívida é de R$ 1,6 bilhão. A relação de credores apresentados pela a empresa está distribuída em 148 páginas do processo de recuperação judicial. O Grupo Abril também deve 110 milhões de reais a 2.659 funcionários e ex-funcionários, débitos resultantes de indenizações trabalhistas. Bianchin complementa: “A crise nos afetou de várias formas. Títulos foram encerrados, amigos demitidos e a maior empresa de comunicação do país entrou em declínio. Não sei dizer se há alguma perspectiva de melhora no cenário, mas estamos aqui, resistindo”.

Com um viés científico, a revista Mundo Estranho (ME) abordava os assuntos mais curiosos da atualidade.

Editada pela a Abril. A revista Caras fala do cotidiano das celebridades nacionais.

Revista Placar especializada em esporte. Foi comprada pela Editora Caras em 2015 e readquirida pela Abril em outubro de 2016.

Como um suplemento especial e com foco em comportamento, lazer e estilo para o público masculino. Lança-se a revista VIP.

Chamada de "Super", a Superinteressante é uma revista de curiosidades culturais e científicas.

Fundado em 1894, o Sistema Anglo de Ensino passou a ser comandado pelo Grupo Abril em 2010

A Total Express, uma das maiores distribuidoras da América Latina, é mais uma aquisição do Grupo Abril no mercado de entregas expressas.

Fundada em 1987, a maior mostra de arquitetura, decoração e paisagismo das Américas passou a ser gerenciada pela Abril.

Abril Branded Content, estúdio próprio para a produção de conteúdo publicitário.

Núcleo de inteligência de dados responsável por coletar e gerenciar a base de dados comportamentais e de consumo do universo Abril.

Investindo em Marketplace Digital, o Grupo Abril cria o GoToshop, que possibilita aos leitores a compra de produtos de decoração exclusivos vistos nas páginas das revistas impressas e digitais.

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Mudanças na presidência Visando à restruturação, o grupo anunciou a contratação do executivo Walter Longo para a presidência, em março de 2016. Com mais de 30 anos de carreira, Longo, conhecido no mundo dos negócios como “mago da inovação”, assumiu a cadeira com o desafio de administrar a distribuição das mídias impressas e digitais. Publicitário e administrador de empresas com MBA na Universidade da Califórnia, atuava como mentor de estratégia e inovação do Grupo Newcomm – holding de comunicação do Grupo WPP que inclui as agências Young&Rubicam, Wunderman, Grey Brasil, VML, entre outras. Os dois anos sob o comando do executivo não surtiram o efeito esperado ante aos problemas financeiros da empresa. Durante sua administração, Longo foi responsável pelo enxugamento do portfólio, fechamento de vários títulos, demissões e o reposicionamento de algumas marcas para o mercado digital. Ao final, Longo acabou vítima da própria política que implantou e foi demitido em dezembro de 2017. O executivo Giancarlo Civita substituiu Walter Longo no comando da empresa. Até então, nenhuma novidade. Neto de Victor Civita, fundador do Grupo Abril, seria certo que a direção fosse passada para alguém mais próximo da história da organização. Porém, em 54

julho de 2018, Giancarlo Civita deixou a presidência do grupo. A presidência passou para Marcos Haaland, da consultoria Alvarez & Marsal, norte-americana, famosa por gerenciar negócios em dificuldades, como a Casa & Vídeo e a Brasil Pharma (negócio de farmácias do BTG). Em seu balanço de 2017, o grupo fechou o ano com prejuízo de R$ 368,3 milhões. Os pagamentos das indenizações trabalhistas custaram à empresa R$ 23 milhões, e o baixo lucro da marca Casa Cor custou R$ 45 milhões. Já a quitação das dívidas tributárias para o Programa Especial de Regularização Tributária (Pert) levou da Abril R$ 63 milhões.

Diversificação de negócios Em 2010, a Abril Educação adquiriu as editoras Ática e Scipione e criou o Sistema de Ensino SER. Esse seria só mais um investimento lucrativo para o grupo. Aproveitando o gancho, a companhia fechou negociação com o Anglo Sistema de Ensino, Anglo Vestibular e a Siga, de preparação para concursos públicos, com uma compra avaliada pelo Credit Suisse em US$ 600 milhões. Com a aquisição, a Abril Educação passou a ser o segundo maior grupo educacional do país, atrás somente da Kroton, com faturamento mensal de R$ 500 milhões. Aproveitando a oportunidade de diversificar seus

negócios, em julho de 2011, a companhia decidiu captar recursos no mercado a partir de uma oferta pública inicial de ações (IPO). Em 2014, a Abril Educação encarou o novo mercado e migrou para a B3 (Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros S.A.), segmento em que estão alocadas empresas com as mais avançadas práticas de governança corporativa. Em fevereiro de 2015, a Tarpon Investimentos assumiu o controle da companhia, adquirindo 40,6% da empresa Abrilpar Participações, até então da família Civita. Durante abril de 2018, especulações surgiram no mercado quando a Kroton Educacional, líder no setor de educação superior privada no Brasil, estaria em negociação com a empresa Somos Educação, antiga Abril Educação. As dúvidas acabaram quando a compra foi anunciada por R$ 4,6 bilhões. Para Cantu, a compra da Somos Educação foi um grande negócio: “Tenho convicção que todas as decisões tomadas pela diretoria foram necessárias para garantir a sobrevivência da empresa. Esse foi só mais um negócio lucrativo”. No entanto, o representante do grupo não esclarece os motivos que levaram ao pedido de recuperação judicial.

Prelúdio do fim A história de sucesso do Grupo Abril começou a mudar quando a empresa obteve Revista Código | Cruzeiro do Sul


Vendas e títulos encerrados desgastam a imagem da editora Abril. concessões para TV e fundou a TVA no inicio dos anos 1990. A TV por assinatura era a nova aposta do conglomerado e nenhum outro negócio encaixava-se tão bem nas características da Abril, a TV permitia a segmentação do conteúdo, algo que a empresa era especialista por causa de suas revistas. Além disso, vender assinaturas era o campo de atuação de sucesso da família Civita. Contudo, o enorme capital necessário para fazer o segmento avançar no Brasil, parece não ter sido bem calculado pelos dirigentes do grupo à época. O endividamento contraído pela TVA e depois na Directv é a origem do fracasso de hoje. No início dos anos 1990, os investimentos para TV já tinham drenado o caixa da Abril e a dívida do grupo já era de 500 milhões de dólares. Foi quando a empresa, pela primeira vez, recorreu aos empréstimos bancários para cobrir a própria folha de pagamento. Também há um problema recente, apontado pelo Grupo Abril no pedido de recuperação judicial: o crescimento das mídias digitais. Esse afetou as receitas das empresas especializadas em publicações impressas. As editoras vêm mantendo a produção de conteúdo com a mesma qualidade e com custos elevados, mas perderam parte expressiva da sua principal fonte de receita, a publicidade. É fato que a crise financeira do Grupo Abril afetou Novembro de 2018

A editora reduziu drasticamente o seu portfólio de revistas, vendendo sete títulos para a Editora Caras entre 2016 e 2017: Ana Maria, Arquitetura & Construção, Contigo, Placar, Tititi, Você RH e Você S/A). Em julho de 2014, a Abril já havia transferido outros títulos: Aventuras na História, Bons Fluidos, Manequim, Máxima, Minha Casa, Minha Novela, Recreio, Sou+Eu, Vida Simples e Viva Mais. Agora o Grupo anuncia o encerramento de títulos queridos pelos leitores: Elle, Cosmopolitan, Casa Claudia, Boa Forma e Mundo Estranho. diretamente a vida de milhares de pessoas, alguns atribuem o caos ao advento da internet, outros apontam a administração ineficiente dos Civita.

Consequência e responsabilidade Mesmo ciente da situação da empresa, o juiz Eduardo José Matiota, da 61ª Vara do Trabalho de São Paulo, determinou a reintegração imediata dos jornalistas, gráficos e colaboradores administrativos demitidos em ação promovida pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP). A decisão fixou multa diária de 100 reais por empregado, em caso de descumprimento da sentença, e condenou a empresa ao pagamento de R$ 500 mil por danos morais coletivos, a serem destinados ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Mesmo com a pressão do Mistério do Trabalho, sindicato e dos próprios trabalhadores, o juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, deferiu o pedido de recuperação judicial da Editora Abril, julgando suficientes

as informações e documentos apresentados na petição, pelos advogados Eduardo Foz Mange e Renato Mange, da Mange Advogados. O magistrado solicitou que a Abril entregue a lista completa de credores e o relatório de fluxo de caixa de todas as empresas que integram o grupo. Com a decisão, todas as ações, execuções e prazos prescricionais de processos contra a editora ficam suspensos por 180 dias; deixando em aberto a decisão de reintegração dos profissionais demitidos. Após a divulgação do processo de recuperação judicial, os representantes legais do grupo limitaram-se à divulgação de uma nota curta e sem grandes detalhes, deixando o mercado mais inseguro com a situação da empresa. Não se pode prever o futuro, portanto, é difícil afirmar que o Grupo Abril alcançará a esperada recuperação. O título de maior e mais importante editora de revistas do Brasil é passado e o futuro da empresa permanece incerto. Os esforços da pioneira da mídia impressa de massa no Brasil, pelo menos por enquanto, afasta a penumbra de uma possível falência. 55


IA

A Recriação do

Kisspng.com

SER PENSANTE

As consequências dos avanços tecnológicos baseados na Inteligência Artificial para o mercado jornalístico.

Por Cristian Barbosa e Yasmin Sapucaia

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O

ano é 2131. Carros trafegam sem motoristas, cédulas de dinheiro não existem mais, o guarda-roupa sugere qual o melhor look para o dia, robôs cirurgiões controlam os bisturis. Pode parecer um roteiro de ficção científica, mas levando em consideração os avanços da Inteligência Artificial, a descrição acima não está tão longe da nossa realidade. Nem mesmo Marty McFly, personagem de Michael J. Fox na trilogia De volta para o futuro, em suas viagens no tempo, poderia imaginar evolução como a que está por vir. A Inteligência Artificial, ou IA, como também é conhecida,

está presente, por exemplo, em diversas profissões da sociedade moderna: dos chatbots, utilizados no atendimento ao cliente de grandes empresas, aos robôs sendo enviados para o espaço pela NASA. No jornalismo, eles podem ser programados para escrever notícias. Mas será a Inteligência Artificial realmente tão eficaz? Em 18 de março de 2018, um carro do aplicativo Uber, controlado por meio de IA, atropelou uma mulher em Tempe, Arizona. Elaine Herzberg, 49, atravessava fora da faixa de pedestres com uma bicicleta, quando foi atingida bruscamente pelo veículo. Elaine foi levada ao hospital, onde Revista Código | Cruzeiro do Sul


não resistiu aos ferimentos e faleceu. Outro caso aconteceu na Califórnia. Um “jornalista-robô” noticiou via Twitter que um terremoto atingiu a cidade de Santa Barbara, causando um alerta nos seguidores do jornal Los Angeles Times, quando, na verdade, o tremor havia acontecido em 1925. A informação foi enviada equivocadamente por um funcionário enquanto atualizava um mapa antigo da agência americana que controla terremotos. Esses são apenas alguns exemplos de como o uso de determinadas tecnologias pode ser nocivo em algumas áreas, principalmente no jornalismo, onde é necessária uma certa sensibilidade para a apuração dos fatos. André Freire, secretário geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, mostra-se apreensivo ao falar sobre essa inovação na categoria: “Uma preocupação bem intensa é: como esse robô vai dar a notícia? Qual a qualidade dela? Como será o conteúdo dessa informação que é construída por um arranjo tecnológico?” André acredita que, futuramente, será importante criar uma lei para proteger a classe dos avanços da tecnologia, tendo em vista que a Inteligência Artificial pode acabar substituindo o ser humano em determinadas atividades. “Nossa ideia é ir em defesa das condições de trabalho e da questão Novembro de 2018

econômica, dos interesses financeiros do trabalhador e da categoria. A gente espera que o mundo não se desumanize. ” Em contrapartida, Pedro Burgos, fundador do Impacto. jor, plataforma que utiliza robôs para medir o impacto do jornalismo na sociedade, acredita que, em alguns casos, a substituição de humanos é uma boa opção. “Você sempre pode contratar cem estagiários e conseguir fazer um trabalho que é ruim e repetitivo, assim eles não aprendem nada e isso é pouco eficiente para a organização. Nesse nível mais básico, a IA no Jornalismo libera a gente de fazer o trabalho chato, especialmente para coletar novos dados”. Como exemplo disso, Burgos fala sobre a notícia da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Eu lembro quando teve a decisão do Moro sobre o Lula. Esperava-se que fosse sair num determinado dia e todas as redações estavam entrando no site da TRF4 e apertando F5 o tempo todo. Seria mais fácil construir um robô para fazer esse trabalho, ele entraria no site, recarregaria e, se tivesse algo novo, baixaria como PDF para os editores. Você pode criar um robô para fazer esse trabalho”, explica. Atualmente, a Inteligência Artificial tem sido usada no jornalismo para análise de dados e produção de textos repetitivos, geralmente baseados em fórmulas, como resultados de

“A gente espera que o mundo não se desumanize” André Freire – Presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

“O computador não consegue escrever uma matéria histórica” Pedro Burgos – Fundador da plataforma Impacto.jor.

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PRÓS E CONTRAS DO USO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO JORNALISMO

Inteligência Artificial tem sido usada para combater notícias falsas na internet.

O robô não é capaz de se aprofundar no tema como um ser humano.

CA

Um robô tem maior facilidade na análise de dados, podendo escrever mais matérias em menos tempo.

Paloma Trevizani e Cristian Barbosa

Melhora a pesquisa de mercado, podendo coletar informações de diversos sites.

Uma vez que o robô não possui sentimentos, teoricamente não favorece nenhum dos lados. 58

RT E DE IRA AB AL HO

TR

Com a evolução da Inteligência Artificial, robôs podem começar a substituir humanos em muitas funções.

Criadores podem usar a credibilidade de imparcialidade para criar notícias tendenciosas.

A falta de sensibilidade para resolver determinadas questões. Revista Código | Cruzeiro do Sul


partidas de futebol, previsões do tempo e informações sobre o trânsito, uma vez que o robô não tem a capacidade de ir a campo apurar os fatos e tampouco habilidade de explicar um contexto ao leitor. “Não consigo ver a IA tomando o lugar do jornalista num futuro próximo, nem a médio prazo. Há também a questão de que o jornalista vai atrás, descobre coisas. Já o computador é muito bom, mas só a partir do momento que você tem um padrão e cria uma regra para ele. O computador não sabe quando acontece um 11 de setembro, não consegue escrever uma matéria histórica”, opina Burgos. Mas será que um dia seremos realmente substituídos? Esses softwares e computadores poderão escrever matérias opinativas e até mesmo mais autorais? De acordo com Renato Cruz, jornalista especializado em tecnologia e colunista do jornal O Estado de São Paulo, o principal obstáculo da Inteligência Artificial não é opinar e raciocinar, mas sim conduzir uma entrevista. “Atualmente, a grande dificuldade é essa. Um robô até consegue fazer perguntas e interpretar respostas, mas num nível muito básico. Vai demorar algum tempo para a IA conseguir levar uma conversa mais sofisticada com um ser humano. Produzir um texto opinativo de forma automática é mais fácil do que fazer um sistema entrevistar inteligentemente alguém”. Novembro de 2018

COMBATE A FAKE NEWS Além dos propósitos citados aqui, a IA também é usada contra notícias falsas na internet. Em parceria com a Microsoft, o Aos Fatos – site que se dedica a checar a veracidade de informações – iniciou um projeto para a criação de um robô que promete combater as fake news. Em sua primeira etapa, o Robô Fatima, nome que vem de FactMa, abreviação de FactMachine, auxiliará os usuários do Facebook através do Messenger a identificar fontes confiáveis no ambiente on-line.

Nesse caso, pode-se dizer que em um futuro mais distante as redações jornalísticas poderão ser inteiramente robotizadas, trazendo à tona o medo da substituição humana, receio já mostrado por Steven Spielberg no filme AI – Inteligência Artificial, de 2001. “A inteligência artificial libera as pessoas do trabalho repetitivo e braçal nas redações, além de reduzir erros e produzir mais rapidamente. Por outro lado, pessoas que fazem esse tipo de trabalho podem perder seus empregos.” Portanto, cabe aos profissionais encararem essa evolução como uma ferramenta de auxílio não só no jornalismo, mas também no mercado de trabalho em geral. A exemplo disso, o Hospital Sírio-Libanês tem feito uso de um robô em seus procedimentos cirúrgicos. Da Vinci, nome dado à máquina, possui quatro braços que facilitam a operação, um deles com uma câmera, e é controlado de uma sala pelo médico responsável pela cirurgia. Esse novo método mostra homens e robôs trabalhando

“Vai demorar algum tempo para a Inteligência Artificial conseguir levar uma conversa mais sofisticada com um ser humano” Renato Cruz – Colunista do jornal O Estado de S. Paulo.

juntos em benefício do ser humano. Logo, é necessário saber que a forma como essas mudanças ocorrerão nas nossas vidas e profissões dependem fundamentalmente de como faremos uso de tais tecnologias. 59


mundo virtual

A informação

se tornando experiência A realidade virtual e aumentada no mundo da comunicação Por Barbara Evaristo e Larissa Souza

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V

ocê provavelmente está acostumado a consumir a notícia de uma forma simplória. Talvez leia uma determinada notícia em um simples jornal diário, assista pela televisão, ouça um amigo passar a informação adiante ou dê um clique em uma

matéria que apareceu em sua rede social e que você tenha achado interessante. Certamente, os conteúdos de todas essas plataformas de mídia citadas serão de grande aproveitamento a quem quer que esteja consumindo. Mas, e se existisse uma forma de você não só consumir a notícia, mas participar dela? Se houvesse a possibilidade de você não apenas tomar conhecimento do fato noticiado, mas vivenciá-lo com profundidade, sentir em “sua própria pele” o que estava acontecendo no momento do ocorrido, no mesmo lugar e com as mesmas fontes? Você embarcaria nessa? Teria coragem de estar no dia em que aconteceu o incidente das Torres Gêmeas? Ou estar no campo de batalha da Segunda Guerra Mundial? Isso é possível. Realidade virtual é um método ainda pouco utilizado de produzir notícias de forma a permitir que o espectador viva Revista Código | Cruzeiro do Sul


uma experiência transmitida em primeira pessoa como testemunha dos fatos. É o que se conhece como jornalismo imersivo, faz com que o telespectador conheça lugares inacessíveis, se mova como um avatar pelos cenários retratados, a fim de que seja possível fazê-lo mergulhar em qualquer acontecimento e presenciar o que ocorreu no lugar dos fatos, ou seja, transportá-lo para dentro da matéria. A realidade aumentada, por sua vez, abre a possibilidade não só para produzir gráficos sofisticados em 3D ou mapas interativos, mas é uma nova forma de poder localizar dados geográficos, cobrir eventos ao vivo, aprofundando a notícia, seja por meio de gráficos, textos, imagens, vídeos ou sons. Dessa forma, já podemos dar as boas-vindas para uma tecnologia inovadora no âmbito da comunicação, onde o virtual se mistura ao real, possibilitando uma maior interação entre o leitor e o conteúdo que ele está consumindo. A modernização da realidade virtual e da realidade aumentada no Brasil cresce em um ritmo acelerado. Cada vez mais, empresas jornalísticas estão aderindo a essa nova prática em suas criações. É a tecnologia a serviço do jornalismo. Segundo Luciano Costa, doutorando em jornalismo e autor da pesquisa Realidade Virtual, inovação técnica e narrativa no Jornalismo Imersivo, a realidade virtual tem uma proposta muito inovadora para Novembro de 2018

o campo do jornalismo. “Vivemos em uma época onde o apelo visual é muito importante no consumo de conteúdos e informações e, por isso, apostar em uma nova narrativa é apostar em uma nova forma de contar as mesmas histórias de modo mais atraente para um novo tipo de público, e ser um jornalismo mais efetivo”, afirma. O grande avanço tecnológico tem levado as mídias a convergirem para o mundo digital. Observando a diminuição do público (principalmente jovens) que lê o jornal impresso, investir no mundo tecnológico é uma grande estratégia para que seja possível engajar esse público no conteúdo jornalístico e, assim, tê-lo também como público-alvo, levando-o a um ambiente em que ele já se sinta confortável e apresentando-o a uma forma diferente, inovadora e até divertida de consumir esse conteúdo. Sendo uma tecnologia inovadora, por que ainda não podemos utilizá-la constantemente no nosso dia a dia? Mario Sergio da Silva Faria, fundador da empresa MASSFAR, comenta: “Para que tudo isso funcione de maneira correta e em ambientes públicos, precisamos de uma internet de qualidade disponível para todas as pessoas, em praças, estações de ônibus, trem, metrô, aeroportos, supermercados, centros comerciais e de lazer”. Porém, Mario acredita que não levará muito tempo até que possamos passar a

“Não vejo um futuro muito distante para que a tecnologia da Realidade Aumentada e Virtual faça parte da vida das pessoas” Mario Sergio – Fundador da MASSFAR.

utilizar esse tipo de tecnologia para realizar atividades comuns do cotidiano. “Não vejo um futuro muito distante para que a tecnologia da Realidade Aumentada e Virtual faça parte da vida das pessoas”. Grandes meios de comunicação jornalísticos, como The New York Times, BBC, The Wall Street Journal e CNN, têm obtido sucesso no uso dessa tecnologia. No Brasil, temos a revista Mundo 360, que traz a ideia de popularizar a realidade virtual no país. A revista possui uma edição impressa e um site diariamente atualizado com conteúdos de realidade virtual. Fernando Firmino, doutorando em Comunicação e Cultura Contemporânea e professor de jornalismo na UEPB, explica a respeito da tecnologia aplicada ao jornalismo: “Penso 61


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Larissa Souza

que a tecnologia ainda tem espaço para se desenvolver mais para vislumbrarmos aplicações para o jornalismo de forma mais estável e com a exploração de dimensões sensoriais que possam ir além do vídeo em 360 graus. Vejo potenciais, mas penso que ainda estamos longe da maturidade da tecnologia para o jornalismo. Acredito que vá surgir uma versão mais avançada da tecnologia e que isso pode revolucionar as narrativas com RV”. Já sabemos que a nova tecnologia de realidade virtual e a realidade aumentada são um grande passo para o modo de se fazer jornalismo. Mas, infelizmente, as dificuldades financeiras também acabam se tornando um problema que impossibilita a aplicação dessas tecnologias atualmente. Além das péssimas condições de infraestrutura, como foi citado por Mario Sergio, temos também o problema com os custos dos aparelhos necessários para criar a tecnologia. Porém, ao mesmo tempo em que o custo para a criação é um pouco alto, o custo necessário para a utilização é variado. Para desfrutar da tecnologia VR, o consumidor precisa possuir os óculos de realidade virtual, os quais atualmente não têm um custo alto, pois existem óculos VR caseiros, como o Google Cardboard. No entando, a população ainda fica presa ao pensamento de que realidade virtual é feita apenas para lazer e divertimento. O professor

O USA Today ofereceu o primeiro aplicativo de RA para um evento esportivo em 2011, possibilitando um passeio pelo estádio onde acontece o Super Bowl. O jornal japonês Tokyo Shimbun iniciou uma campanha em 2013, usando RA para “traduzir” as notícias para o entendimento das crianças.

The New York Times publicou sua primeira matéria usando RA sobre as técnicas de quatro atletas das olimpíadas de inverno de 2018, através do aplicativo “NYT”. O jornal Folha de Londrina, do Paraná, tem diversas matérias que utilizam a realidade aumentada, através do aplicativo “realidade aumentada Brasil”.

Fernando Firmino explana: “A tecnologia de visualização está disponível de diferentes formas e condições econômicas. Mas é preciso compreender que é uma tecnologia que ainda não é perfeitamente compreensível para alguns públicos, que ainda inclinam a acreditar ser apenas um hyper para jogadores de games”. Talvez ainda demore algum tempo para a população se sentir confortável ao utilizar essa tecnologia no jornalismo. Bem sabemos que os profissionais de jornalismo sempre buscam trazer seu público para dentro de sua matéria, aproximar seu leitor para a história, usando novos formatos narrativos, alternando o fluxo de informações transmitidas a fim de que a experiência jornalista-leitor seja mais profunda. Por mais talentoso que o jornalista

seja, é pouco provável que ele faça seu público sentir a mesma sensação/emoção que as testemunhas dos fatos. O jornalismo virtual está aí para isso. Para imergir o público na cena, para auxiliar esse jornalista e fazer com que ele estabeleça um vínculo extremamente forte com seu leitor, levando ele (literalmente) para dentro de sua matéria; uma revolução na forma de produzir notícia. A tecnologia, nesse caso, não se apresenta como uma concorrente do jornalismo, disputando a atenção de seu público. Não. Ela oferece a chance de reinventar o jornalismo, apresenta uma nova forma de consumir jornalismo, além da notícia em papel e tinta; oferece uma nova forma de desempenhar grandes histórias jornalísticas. Revista Código | Cruzeiro do Sul


webjornalismo

As mudanças do

Webjornalismo Por Jessica Amancio e Vanessa Batista Mimoza

O

jornalismo on-line começou a dar sinais no início dos anos 1990. Mas, naquela época, o webjornalismo era apenas uma ferramenta auxiliar do jornalismo tradicional, sendo nada mais que uma cópia virtual dos jornais de papel. Com a ascensão da internet como uma das principais ferramentas de comunicação, a maioria das pessoas tem, cada vez mais, optado por mídias digitais. Da mesma forma, o jornal impresso cedeu um pouco do seu espaço para o jornalismo on-line. A reportagem para a internet exige certos cuidados Com a chegada das redes socias, o jornalimo sofre novas e uma linguagem diferente adaptações ao gosto do leitor. do modelo convencional impesquisadora do Grupo de profissões mais afetadas por presso. Hoje, os veículos de Pesquisa em Comunicação e essas mudanças, que implinotícias, por meio da internet Tecnologias Digitais (Comtec), cam reconfigurações da prátie das redes sociais, ganhapara a Universidade Metodisca profissional. As alterações ram novos públicos, ansiosos ta de São Paulo, diz: “Nesse das novas tecnologias de por notícias rápidas e novas contexto de transformações e formas de interagir com aquilo comunicação e informação de um mundo mais conectado que acompanham diariamente. têm modificado expressivamente as práticas sociais e de e dependente das tecnologias O jornalismo nas plaque a cibercultura nasce como trabalho. Para Sônia Padilha, taformas on-line é uma das

Novembro de 2018

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Nicolas Oliveira

A era digital afetou o mundo todo, com a comunicação não podia ter sido diferente


uma nova forma de vivência amparada pelo desenvolvimento e uso da técnica”.

Como tudo começou Segundo o site E-Commerce News, a primeira página on-line da internet foi a The Project, criada em 1991 por Tim Berners-Lee, físico do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), fundador da World Wide Web (WWW), primeiro site acessível. Há 27 anos, a internet era estática, sem imagens, vídeos ou animações. O domínio do site http://info.cern.ch/hypertext/WWW/TheProject.html foi inaugurado em 6 de agosto de 1991, explicando detalhes da World Wide Web. A partir do seguimento do primeiro site da internet, assim como as empresas e a população, o jornalismo se viu na necessidade de migrar para web, sem perder sua essência de apuração dos fatos, comparação de fontes e captação de imagens, produzindo o mais rápido possível. Houve mais uma plataforma de ferramentas utilizadas para se criar e pesquisar a notícia, isso não apenas no jornalismo on-line, mas para outras mídias, como, televisivas, radiofônicas e impressas. De acordo com o jornalista Almir Rizzatto, especialista em Marketing Digital e fundador da agência RZT Comunicação, o jornalismo on-line está inserido no cotidiano das pessoas, oferecendo uma alternativa 64

para quem busca informações rápidas e cativando novos e antigos leitores assim. “A partir da implantação do jornalismo na web, ocorreu um novo segmento expansivo do meio informativo, o denominado webjornalismo, onde a atualização das notícias pode ocorrer repetidamente”, ressalta Rizzato. Para ele, não é preciso esperar o jornal ou o horário do noticiário televisivo ou radiofônico para saber os principais acontecimentos do dia. O jornalismo on-line proporcionou novas formas de editar notícias na rede: a primeira por meio de informação on-line, em tempo real; e a segunda, através de sites de publicações. Existem algumas diferenças do webjornalismo para o jornalismo impresso. “Ambos são jornalismo, mas o jornalismo impresso tem 24 horas para elaborar e concluir suas edições, que têm limite de espaço no papel. Enquanto que o webjornalismo não tem horário de fechamento e, em torno de mais ou menos cinco minutos, pode alimentar a página com novas informações da notícia que inclui no site; tudo é em tempo real e têm limites de espaço mais estendidos; podem ser colocado quantos links internos achar necessário”, conclui o especialista Rizzatto. Em qualquer momento, é possível acessar um webjornal e ler as notícias interessantes e atualizadas. Os benefícios de ter informações mais abertas às pessoas que costumavam ser a

audiência, segundo Rizzatto, vão além das coisas meramente sentimentais, como estar mais conectado com os leitores ou fazer com que eles remetam ou distribuam o seu conteúdo (função que, aparentemente, muitos veículos e jornalistas julgam ser a da rede social). Com a abertura, vem a responsabilidade com o leitor, pois ele é aberto para produzir, inclusive, furos jornalísticos.

Fases do Webjornalismo As características das etapas são estabelecidas da seguinte forma: o webjornalismo na primeira fase é caracterizado pela simples deslocação da versão impressa para a internet. A fase se encontra sem adaptações de linguagem, ou seja, sem um conteúdo desenvolvido para a web, sem exploração de ferramentas de navegação utilizando arquivos em PDF para download e orientações de produção em tempo real. A segunda fase do webjornalismo está evoluindo para as publicações de conteúdos diferenciados do jornal impresso, mesmo com o seguimento padrão transpositivo. Inicia-se dessa forma a exploração das ferramentas disponíveis, submetendo ao site novas tecnologias à produção de notícias, construindo uma linguagem adequada ao meio digital. A etapa percorre alguns segmentos, como interatividade, Revista Código | Cruzeiro do Sul


As mudanças do WebJornalismo

Mídias Socias

São causadas pela era digital e afetam o mundo todo.

Foram se aperfeiçoando e junto com elas os avanços tecnológicos também. Relógios digitais como os da Apple fazem ligações a qualquer pessoa, inclusive mostram notícias.

Jornalismo Online Começou a dar sinais no ínicio dos anos 1990, naquela época o Webjornalismo era apenas uma ferramenta auxiliar do jornalismo tradicional, sendo nada mais que uma cópia virtual do jornalismo de papel.

Computadores e Smartphones Os veículos de notícias, por meio da internet e das redes sociais, ganharam novos públicos, ávidos por notícias rápidas e novas formas de interagir com aquilo que acompanham diariamente.

Redes Digitais Instauram uma forma comunicativa feita de fluxos e de troca de informações “de todos para todos”, e em função da quantidade ilimitada de informações que podem ser veiculadas na rede.

personalização, hipertextualidade, ferramentas de busca e conteúdo multimídia. Conforme Edson Fernando Dalmonte, escritor do livro Pensar o discurso no webjornalismo: temporalidade, paratexto e comunidades de experiência, pesquisador do CNPq, (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico): “Surgiram modalidades de produtos jornalísticos elaborados com base nas possibilidades oferecidas pela rede. Noto a facilidade para mexer nos sites, na produção do conteúdo, quando vou imprimir ou buscar novas ferramentas. E no segundo e terceiro momento, a linguagem recebe mudanças, eu simplesmente falo de um modo mais sucinto para o leitor e sem limites, diferente da primeira fase onde havia limitações”. No entanto, é importante Novembro de 2018

Interação do Público As mídias tradicionais sempre tiveram um tipo de interação, seja nas seções de cartas dos leitores ou telefones das rádios para se comunicarem.

Mundo Digital Os veículos de notícias, por meio da internet e das redes sociais, ganharam novos públicos, ávidos por notícias rápidas e novas formas de interagir com aquilo que acompanham diariamente.

ressaltar que essas segunda e terceira modalidades ainda estão aparelhadas ao modelo do jornal impresso, que lhes servem de referência, fazendo que sejam conhecidas como “fase da metáfora”, exclama. Antônio Assiz, jornalista, professor da Universidade Cruzeiro do Sul e especialista em web, conta como foi presenciar a chegada do webjornalismo. “Em 1990, eu tinha acabado de me formar e fui trabalhar no jornal Diário Popular, no departamento de arte – nós trabalhávamos com fotocomposição, um sistema antigo. Vi o desespero de muitos repórteres, pois achavam que nunca iriam largar a máquina de escrever. Fiquei dois anos trabalhando lá, até os mais velhos perceberem que seria inútil brigar contra a tecnologia, tiveram que aprender a

trabalhar no computador, depois de quarenta anos de profissão escrevendo na máquina de escrever”. Na terceira fase do webjornalismo, explica Assiz, quando chegam novas ferramentas, por exemplo o WhatsApp e as redes sociais, os jornalistas mais experientes têm certa dificuldade e acabam tentando resistir como os antigos dos anos 1990 resistiram ao computador, é um processo de aprendizado. Afirma que, desde quando começou, descobre novos apetrechos o tempo todo. Do ano de 2010 em diante, abrem-se novos caminhos para a terceira fase. Alguns anos antes, já era possível editar e criar parágrafos; tudo muito ágil. O computador também foi para gráfica fazendo a impressão ficar mais bonita e bem acabada, hoje o material volta 65


para o repórter, que já possui novos dispositivos eletrônicos, como o celular com alta resolução para fotos e gravador de voz. Ele fala com a redação no mesmo aparelho que grava entrevista, consulta internet e checa informações, finaliza o professor. Em uma pesquisa de O Globo, A evolução tecnológica, é possível perceber que o webjornalismo disponibiliza ao novo leitor meios eficazes de informações, recursos multimídias e interatividade direta. As classificações das fases marcam o crescimento e a transposição do jornal impresso para a plataforma on-line. De acordo com a evolução tecnológica, são desenvolvidos novos tipos de produtos ao jornalismo on-line, com adaptações editoriais para suprir a necessidade do usuário. Na terceira fase, o jornalismo digital busca um planejamento empresarial e editorial voltado à internet, se tornando hipermidiático, utilizando recursos de multimídia, como vídeos, animações, links, resultando na interação direta do leitor da notícia. Se deu início à exploração de banco de dados, representando uma industrialização dos processos de produção, apuração, edição e veiculação das informações. As redes digitais instauram uma forma comunicativa feita de fluxos e de troca de informações “de todos para todos”. Em função da quantidade ilimitada de notícias que podem ser 66

O Jornalismo hipermidiático: utilizando recursos de multimídia veiculadas na rede, a temporalidade também é distinta, praticamente em tempo real, resultando em todas as formas de comunicação na web.

Jornalismo em tempo real A exploração na leitura das notícias com uso de fotos, gráficos, charges ou outras figuras junto ao texto é herança do jornal impresso, mas o uso dos links para vídeos, direta ou indiretamente relacionados ao texto, bem como para outros textos, mostra-se realmente uma inovação do jornal digital. As mídias tradicionais sempre tiveram um tipo de interação, seja nas seções de cartas dos leitores ou telefones das rádios para se comunicarem, porém é no jornalismo on-line que essa interação vem ganhando força e espaço pelo fato dos comentários em tempo real. Muitos veículos impressos estão migrando para o ambiente virtual, como as revistas Vida e Saúde e Playboy, ao colocarem conteúdos exclusivos para a rede, uma vez que perceberam a necessidade de abastecer esse ambiente com notícias de “furo de redação”, e não mais

com apenas uma cópia da notícia do meio impresso. Outro fato é que a internet abre portas para o leitor de qualquer lugar do planeta, por isso a mídia impressa vem perdendo leitores a cada dia. Um estudo feito pelo site Rede Click mostra também que 50% dos brasileiros usa internet para ler notícias, enquanto apenas 21% leem jornais fixos ao menos uma vez por semana. Estamos no meio de uma revolução da informação, na qual ninguém mais quer recortar uma notícia e guardar ela em uma pasta. Agora tudo está muito mais virtual, obtemos acesso à matéria on-line e transformamos ela em uma imagem fazendo Screenshots/ Prints (captura de tela), assim conseguimos mostrá-la a todos via e-mail ou redes sociais. Contudo, o que se deve considerar é que, no contexto da sociedade atual, os dois modos de se informar são válidos, desde que utilizados com imparcialidade, clareza, objetividade e até mesmo com a eloquência a partir da retórica textual. Afinal, o objetivo principal da notícia não deve ser superado pelos recursos utilizados para promover, junto ao leitor, a compreensão. Revista Código | Cruzeiro do Sul


política

“Eu declaro guerra

contra a imprensa” Por Bianca Miranda, Carla Carvalho, Débora de Souza, Ester Amorim, Larissa Catharine e Rafaelly Alves.

Darlan Helder

O líder político dos EUA, Donald Trump, afirma estar em guerra contra a imprensa, pois, de acordo com ele, jornalistas são desonestos. Com esse tipo de ataque, a imprensa mundial encontra-se ameaçada não apenas verbalmente, mas também física e moralmente.

“J

ornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra acrescida, no caso da televisão, de imagens. Entrar no universo do jornalismo significa ver essa batalha por dentro, desvendar o mito da objetividade, saber quais são as fontes, discutir a liberdade de imprensa no Brasil.” Essa é a definição dada por Clovis Rossi em seu livro O que é Jornalismo. Hoje em dia, os jornalistas ainda utilizam a pesquisa, Novembro de 2018

a verdade e a palavra como armas de defesa, mas, infelizmente, esses profissionais estão sendo atacados com outros tipos de armas. O jornalismo, com o passar dos anos, tornou-se uma das profissões de maior relevância

e riscos, sendo considerada uma das profissões mais perigosas do mundo. Os profissionais da área são submetidos a agressões físicas, verbais e psicológicas em todo o seu campo de atuação. Isso tornou comprometida a liberdade 67


de imprensa, uma vez que os ataques, em sua maioria, assumiram caráter opressivo, com intenção de censurar. Como consequência, o cenário mundial de violências contra jornalistas cresceu consideravelmente nos últimos anos. No Brasil, por exemplo – ocupando o 102º lugar no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2018 (realizado pelo Repórteres Sem Fronteiras) –, a violência e a corrupção tornam-se características territoriais em um período político importante para a história do país. A liberdade de expressão encontra-se notoriamente ameaçada visto que políticos são publicamente ameaçados e agredidos fisicamente e seus jornalistas são obrigados a medir palavras ao noticiar um caso. Em junho de 2013, o fotógrafo Sérgio Andrade da Silva foi atingido no olho por uma bala de borracha disparada por um policial durante a cobertura de uma manifestação contra o aumento do valor das passagens nos transportes em São Paulo, deixando-o cego. Ao entrar com pedido de indenização à Justiça do estado, teve seu pedido negado pelo juiz Olavo Zampol Júnior diante do argumento de que ele seria culpado por se submeter ao ambiente de violência no qual se encontrava a manifestação. No mesmo ano, a repórter da TV Folha, Giuliana Vallone, foi atingida por um policial com uma bala de borracha. O caso semelhante ao do fotógrafo Sérgio, teve grande repercussão pela 68

declaração dada pela jornalista: “Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar”. Apesar das afirmações de Giuliana, o comandante da PM afirmou que o policial que disparou o tiro não teve a intensão de ferir a repórter e sua equipe, mirando no chão de modo que a bala ricocheteou e atingiu o olho de Giuliana. Felizmente, a repórter teve uma rápida recuperação e não perdeu a visão. Atualmente, vemos grandes líderes políticos usando palavras de ódio contra a imprensa, deixando em evidência a sua aversão aos profissionais da comunicação. Em muitos casos, repórteres são atacados com xingamentos, ameaças e até agressões físicas, ocasionando a morte de alguns desses profissionais. No ano de 2017, ocorreram quatro mortes de jornalistas na Turquia e nas Filipinas, onde frases como “Ser jornalista não protege contra assassinatos” são usadas sem censura por seu presidente. Estamos vivendo um período de grande polarização política, no qual as pessoas se posicionam a favor ou contra um determinado “lado”, de modo a considerar “inimigo” todo aquele que possuir opinião ou posição contrárias.

Renata Mariz, jornalista do O Globo em Brasília, afirma que “essa polarização política faz com que a imprensa seja atacada, desrespeitada e mal vista pela sociedade”. Ela ainda acrescenta que a carência da busca por informação, presente na atual sociedade brasileira, acarreta na crença em falsas notícias, as chamadas fake news, de modo a gerar revolta contra jornalistas. É evidente que o clima de ódio mostra-se cada vez mais acentuado, o que preocupa não só os atuais jornalistas, mas também estudantes que sonham em exercer a profissão. Por outro lado, há aqueles que possuem otimismo em relação ao futuro do Jornalismo e de seus profissionais pelo fato de que “o acesso à informação é a base de um sistema democrático”, como afirma a estudante de Jornalismo da PUC-RS, redatora e social media, Aurea Araujo. Para Aurea, os principais aspectos que geram impacto negativo no cenário da comunicação são: “O posicionamento político dos veículos, o sucateamento das redações (onde um profissional realiza diversas funções, aprendendo ‘de tudo um pouco’, mas sem a oportunidade de se aprofundar em algo de fato) e a desvalorização do profissional”. É fato que o jornalismo é um dos pilares da democracia mundial e, justamente por esse motivo, sofre repreensão em muitos países. Em Cuba, os meios de comunicação privados Revista Código | Cruzeiro do Sul


Reprodução/TV Globo

ENTREVISTA COM FÁBIO TURCI TV GLOBO-NY

Revista Código: Hoje, os EUA vivem um momento de “polêmica” devido aos comentários e posicionamentos do presidente Donald Trump. Inclusive, ele já declarou não gostar da mídia desde a época das campanhas eleitorais

em 2016. Um ano após ele assumir, como a imprensa norte-americana vem lidando com isso? Houve uma união entre elas? O presidente já ameaçou mudanças? Fábio: Durante a campanha, eu cobri 10 comícios de Trump. Em todos, ele incitou a plateia contra a imprensa. Essa postura hostil nunca mudou desde que ele assumiu – a menos que seja uma imprensa elogiosa a ele. Organizações internacionais já atestam que os EUA não são mais exportadores do modelo de imprensa livre como antes – porque a imprensa, hoje, está sob mais ataques no país. Mas vejo que, em geral, a imprensa americana continua fazendo seu papel, sem se intimidar. Revista Código: Você, que trabalhou no Brasil e hoje é correspondente nos EUA,

não autorizados pela Constituição são constantemente perseguidos, tendo jornalistas, blogueiros e comunicólogos vítimas de detenções violentas. Como mostra o caso do jornalista cubano Henry Constantín Ferreiro, que foi mantido preso por quase dois dias acusado pelo crime de propaganda inimiga e incitado a sair do país. Felizmente, o jornalista foi liberado e declarou em sua rede social: “Aqui estou eu, depois de uma hora de ameaças muito claras de prisão, sou declarado livre, de todas as acusações. Livre em Cuba, entre aspas, e entre cubanos que ainda não são livres”. A imprensa independente junto aos correspondentes internacionais é alvo das autoridades policiais em países onde a liberdade de imprensa está cada vez mais comprometida, como é o caso da Venezuela, onde agressões em manifestações, prisões arbitrárias, interrogatórios abusivos, destruição de materiais e expulsão de Novembro de 2018

consegue ver alguma diferença da mídia norte-americana para a brasileira? Fábio: Creio que ambas estejam passando por um momento parecido em relação a críticas e discussões sobre veracidade de fatos. A CNN tem um comercial interessante. Ele mostra a imagem de uma maçã. A voz do narrador diz: “Isso é uma maçã. Algumas pessoas podem tentar lhe dizer que é uma banana. Elas podem gritar ‘banana, banana, banana’. Talvez você comece a acreditar que é uma banana. Mas isso é uma maçã”. Acho que isso reflete bem parte do que vem acontecendo. Existe um certo movimento de negar o que é fato. E, também, de atacar o mensageiro: se a imprensa noticia uma investigação feita pela polícia, uma denúncia feita pelo Ministério Público, uma condenação

repórteres estrangeiros multiplicaram-se em 2017, assim como a censura nos meios de comunicação como rádios e canais televisivos. Em decorrência do alto índice de violência e impunidade, os profissionais da imprensa, destacando os repórteres investigativos, adotaram uma postura de autocensura, onde optam por usar palavras e afirmações cautelosas, por medo das ameaças gradativamente sofridas. Alguns desses profissionais até desistem de suas carreiras no jornalismo investigativo em razão dos ataques. A hostilidade política em relação aos meios de comunicação passou a ter maiores proporções espalhando-se para mais países. Nos Estados Unidos, por exemplo – país que ocupa o 45º lugar no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2018 –, o atual presidente Donald Trump declarou “guerra” à imprensa, classificando os jornalistas como “inimigos do povo”, afirmando

do Judiciário, quem discorda precisa ter a clareza de que a imprensa está apenas noticiando. Se o leitor/telespectador/ouvinte acha, por exemplo, que a investigação é injusta, ou que a condenação foi muito branda, os responsáveis são quem investigou, quem condenou; e não quem noticiou. Mas, óbvio: se a imprensa tem elementos concretos para questionar determinada investigação ou condenação, deve fazê-lo, sem exagero ou omissão. Revista Código: Qual mensagem/conselho você deixa para os futuros jornalistas brasileiros? Fábio: Sou apaixonado pelo jornalismo e vou, sempre, ser entusiasta da profissão. O jornalismo tem um papel crucial na democracia. Profissionais e futuros profissionais precisam defendê-lo.

ainda que repórteres são desonestos. As ações de nossos líderes políticos se refletem na população que os seguem, como acontece no caso dos apoiadores de Donald Trump. Em janeiro de 2017, Gabriel, filho da correspondente da TV Globo nos Estados Unidos, Sandra Coutinho, foi agredido por um cidadão americano pelo fato de ser brasileiro. Com palavras de ódio, o homem empurrou Gabriel e ameaçou chamar a polícia quando ele se defendeu do ataque. “Volta para o seu país, sua bicha”, gritava o homem. Sandra Coutinho ficou indignada com a situação e afirmou em entrevista para o portal de notícias G1: “É muito grave, como disse Maryl Streep na entrega do Globo de Ouro: se o chefe de tudo [referência ao presidente Donald Trump] diz que está tudo bem perseguir as pessoas e falar coisas horrorosas nas redes sociais, dá sinal verde para quem quer fazer as mesmas coisas”. 69


televisão

A queda de

audiência da TV Com o atual momento de crise na audiência, as formas de fazer TV mudaram e as emissoras tentam se adaptar a essa nova realidade.

Por Karinne Mariano e Leandro Luz

E

m um mundo tão modernizado e cheio de acontecimentos espetaculares, precisamos pensar quais são nossos princípios quando se trata de informação. Já parou para pensar em como as pessoas faziam para se atualizar sobre os acontecimentos há um século ou como (e se) irão acontecer progressos daqui para a frente? Voltando um pouco na história, vamos pensar no rádio, que é uma invenção italiana. A sua primeira transmissão no Brasil aconteceu nos anos 1920. O rádio nada mais 70

John Silva – Produtor de conteúdo do SBT. é que a junção de ondas de transmissão e pode se afirmar que ele esteve presente em quase todas as residências da população. As pessoas acompanhavam tudo o que acontecia por ali, inclusive as radionovelas e os jogos. Uma característica particular do rádio, e que o diferencia, é a intensidade da voz de quem informa, pois a emoção transmitida para o ouvinte é incomparável, ela auxilia no processo de construção do imaginário. Um exemplo claro disso é a transmissão em 1938 do conto Guerra dos Mundos por Orson Wel-

les, em que o locutor narrava uma suposta invasão alienígena no nosso planeta. Ele não anunciou que se tratava de uma obra de ficção e isso acabou gerando pânico, uma das maiores confusões que os Estados Unidos já viveram. Já a televisão foi desenvolvida anos depois, pelo norte-americano Philo Farnsworth, com riqueza em tecnologia quando comparada ao rádio. A reprodução de imagem e áudio de maneira imediata ganhou destaque e atenção do público em massa. O novo aparelho trouxe conforto às famílias, dando a comodidade de se Revista Código | Cruzeiro do Sul


sentarem para assistir as suas programações favoritas e gerando uma conexão ainda maior com os assuntos, sendo eles fictícios ou não. Mas por distintos fatores externos, o reinado invicto da TV não durou assim tanto tempo. Outros meios de transmissão de conteúdo jornalístico e relacionados ao lazer, como os jogos on-line e as redes sociais, foram desenvolvidos, ganhando assim espaço e representatividade. Por meio dos dispositivos digitais, como o celular, notebook e tablet, que se popularizaram com o passar do tempo, houve o acesso cada vez maior à internet. A princípio, com o nome de Arpanet, criada e desenvolvida nos Estados Unidos na década de 1960, a nova rede tornou-se responsável por conectar a todos, independente de onde estivessem, ligando todo um universo de informações, novidades e opiniões com apenas um clique.

Novembro de 2018

Mudanças cada vez mais frequentes Quando voltamos a falar especificamente de TV, vemos que, com a constante queda na audiência ao longo dos anos, a necessidade de reformulação da grade de programação tornou-se uma pauta cada vez mais presente nos grandes veículos de comunicação. Segundo dados do site de pesquisas Mídia Dados Brasil (MDB), a Rede Globo, por exemplo, líder em audiência televisiva por anos consecutivos, expandiu seu leque na grade de programação, abrindo no último ano maior espaço para o entretenimento. Em contrapartida, o jornalismo em âmbito geral perdeu sua representatividade, fechando com uma negativa de 4%, se comparado ao ano anterior. Após estudos, foi comprovado também que o telespectador passa cerca de seis horas diárias na frente da televisão e, com isso, as emissoras investem cada vez mais em programações ao vivo, a fim de prenderem a atenção desse público, o que comumente

ocorre nos finais de semana, em que as famílias costumam se reunir e acabam dando audiência para programas repletos de entretenimento e que contemplam o que eles não viram durante a semana. Para quem assiste, as mudanças são notáveis e por muitas vezes bruscas, mudando principalmente a cara de uma determinada emissora. Para o negócio, esse é um mal necessário, a fim de manter a TV como um meio de comunicação principal e garantir que todos tenham acesso a uma grade de programação com conteúdo diverso e que chegue a todos de maneira igualitária.

Entrevista Quando falamos da expansão da internet no mercado mundial, podemos pensar nela também como uma aliada dos demais meios de comunicação. Recentemente, diversos aplicativos foram adicionados às televisões de fabricação moderna. Um exemplo essencial é a Netflix, uma empresa de entretenimento cultural na área audiovisual originada nos Estados Unidos, com intenção de distribuir conteúdo para os fãs de filmes, séries, documentários, entre outros 71


“O apelo por audiência é o grande problema do jornalismo” John Silva – Produtor de conteúdo do SBT.

produtos. De qualquer forma, vale ressaltar que, apesar das crises e de novas mídias, a televisão ainda é de fato um meio de comunicação forte e poderoso, capaz de moldar imagens e depois destruí-las . Levantamentos mostram que o jornalismo segmentado contribui consideravelmente para o aumento no número de telespectadores. Segundo John Silva, produtor do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), a audiência é capaz de influenciar no conteúdo de uma emissora e com isso são longos anos com o mesmo conceito de jornalismo, manipulados pelos índices de pesquisa. “O formato que mais dá audiência no jornalismo é o policial, iniciado com o finado Aqui Agora, que mostrava as cenas dos crimes praticamente antes da polícia. Foi um dos poucos programas que conseguiram bater a Globo nos anos 1990. Acabou saindo do ar por 72

conta das imagens fortes. A ideia continuou, mas com uma releitura: Datena e Marcelo Rezende, que dominaram o jornalismo policial dos anos 2000. Vivemos então, basicamente há 20 anos, da mesma ideia de telejornalismo”, disse. Com todas as suas características, as crises no jornalismo televisivo tendem a ser impactantes. A mais recente aconteceu na emissora SBT, com funcionários demitidos e cortes no orçamento. John afirmou que esse é um dilema das emissoras, exceto para as de grande sucesso, que jornalismo de qualidade custa caro. Encarando todo esse cenário, muitas emissoras acabam por ignorar sua filosofia e até mesmo o Código de Ética do jornalismo investindo em conteúdos aleatórios que batem recordes de audiência, mas que não necessariamente suprem a carência informacional da sociedade. Quando chegamos nos temas inovação e flexibilidade,

vemos que algumas emissoras procuram manter o padrão das grades de programação, com pequenas atualizações, enquanto outras, principalmente por questões de audiência, criam conteúdos novos a cada semestre. John declarou que a grade dificilmente é alterada e que, nos últimos anos, o SBT teve uma série de programas jornalísticos que não deram certo, mas sabia-se da necessidade de ter outro jornal além do SBT Brasil, o principal da casa. Surgiu então, o Primeiro Impacto, há pouco mais de dois anos na versão com o Dudu Camargo, e um ano com a dupla apresentação ao lado do Marcão do Povo. Nesse último ano, aumentaram a audiência do jornal e mantiveram a segunda posição com uma média de 4,1 no último mês, a melhor que o programa já registrou. Já durante a madrugada, eles exibem o SBT Notícias, que vai das 2h às 6h da manhã e é um verdadeiro sucesso. As outras emissoras costumam vender esse horário

PENETRAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO 77%

76%

66%

61%

2016 2017

TV ABERTA

INTERNET

Fonte: MÍDIA DADOS, Kantar Ibope * Dados dos anos de 2016 e 2017 Revista Código | Cruzeiro do Sul


Dora Câmara: experiência de 30 anos como diretora executiva comercial na Kantar Ibope Media

para a igrejam, e a Globo passa filmes. Analisando o contexto geral, é possível afirmar que existe uma disputa bastante perceptível entre o “bom jornalismo” e o “apelo pela audiência”, o conhecido sensacionalismo, embora muita das vezes a população mal consiga identificar a diferença. De acordo com John, o apelo por audiência é o grande problema do jornalismo, e para todo problema existe uma solução. Quando se fala nas redações, essa solução se chama dinheiro. Embora o produtor reforce que esse não é o fator mais importante, afirma que tem dinheiro produz conteúdos diversificados e expande a cobertura jornalística pelo país. Para Dora Câmara, que ocupou a função de diretora executiva comercial do instituto de pesquisas Kantar Ibope por mais de 30 anos, os meios de comunicação não morrem, mas precisam, de tempos em tempos, se transformarem e Novembro de 2018

acompanhar o que é inovação no mercado. A ex-diretora ainda afirma que, para garantir que os conteúdos continuem sendo assistidos, os meios de comunicação necessitam encontrar novas formas de entregar os seus conteúdos e, por consequência, migrar para outras plataformas: “É preciso estar onde eles estão e na plataforma que eles querem. O consumidor final como telespectador é quem define isso”. Quando questionada sobre a posição das redes sociais em relação à TV, Dora afirma que elas podem servir como mídias complementares, e isso depende da forma como essa questão é trabalhada, pois é preciso questionar como as emissoras e seus produtores estão aproveitando os meios de comunicação para alcançarem cada vez mais pessoas. A ex-diretora ainda reforça: “Da mesma forma como os anunciantes usam os meios de comunicação para vender os seus produtos, as emissoras precisam aprender a vender os conteúdos usando os mesmos meios”. Com todo esse cenário de busca constante pela audiência, torna-se cada vez mais evidente uma pressão sofrida pelo jornalismo. Embora Dora demonstre desconhecimento sobre o que seria essa possível pressão, a ex-diretora diz que o ponto-chave é saber equilibrar, conhecer e entender profundamente o público a quem o conteúdo está sendo entregue. É necessário usar uma lingua-

gem adequada e conteúdos carregado de valores e transparência. Mesmo com uma visão otimista em relação ao futuro da TV brasileira, Dora confessa que falar com tantos brasileiros todos os dias é um dos maiores desafios. Por outro lado, a TV aberta leva consigo a vantagem de ser um serviço gratuito, sendo esse um dos principais motivos pelos quais ainda terá um papel importante na vida dos brasileiros por muitos anos, desde que fique atenta e não caia na mesmice. Dora ainda ressalta: “Quem está dizendo que tem que ocorrer essas mudanças não são os veículos, e sim os telespectadores; comunicar muito bem o conteúdo que está sendo produzido é fundamental.” Estamos cada vez mais conectados e com isso podemos notar que as barreiras da informação estão sendo quebradas. Em tempos como este, no qual temas como a inovação da tecnologia, a inclusão social, cultural e econômica, o fim do preconceito e os direitos humanos se encontram em pauta na sociedade, se torna de fato necessário avaliar qual o objetivo da produção do conteúdo e principalmente para quem ele está sendo direcionado. Afinal de contas, a mídia influencia os telespectadores a formarem suas opiniões junto com suas ações sobre o que está acontecendo no mundo e na nossa vida cotidiana. 73


Beatriz Tavares

fake news

O espaço que antes era para reportagens novas, hoje é usado para desmentir notícias falsas

Por Beatriz Tavares, Caique Amorim, Jéssica Franciele, Juliana Souza, Luiz Lucas, Maria de Melo e Wesley Santana.

E

ra uma tarde de domingo, mais precisamente 7 de setembro de 2003, quando foi ao ar, no SBT, o programa Domingo Legal, apresentado por Gugu Liberato. A edição trazia uma reportagem exclusiva com 74

dois supostos integrantes da maior facção criminosa de São Paulo, o PCC (Primeiro Comando da Capital), disparando diversas ameaças à personalidades da TV brasileira na época. Por se tratar de uma farsa, como logo foi revelado, o caso gerou revolta entre os envolvidos, o que fez com que Gugu viesse a público pedir desculpas e prestar esclarecimentos. Como justificativa, o apresentador disse que a matéria havia sido disponibilizada pelo chefe

de reportagem no mesmo dia em que foi ao ar, e que, portanto, não houve tempo para averiguar o conteúdo. Quinze anos se passaram. Na região central do Rio de Janeiro, a vereadora Marielle Franco (PSOL) é morta a tiros, em março de 2018. Após o fato, uma série de mentiras a seu respeito foram espalhados. Entre elas, que ela havia sido casada com o traficante Marcinho VP; que era defensora de bandidos; e que Revista Código | Cruzeiro do Sul


O Jornalismo na era digital poderia ser definido como a arte de saber diferenciar opinião de informação, notícia falsa de verdadeira e como os usuários se comportam na terra considerada sem lei chamada internet. havia sido eleita pelo Comando Vermelho (CV). Muitos desses boatos tiveram início nas redes sociais e alcançaram milhões de pessoas, tornando necessário, então, que a mídia tradicional os desmentisse. Ao analisar o fato de setembro de 2003 e os acontecimentos de 2018, ficam evidentes as semelhanças e diferenças no fazer jornalístico de cada notícia. Os dois foram utilizados em meio a polêmicas envolvendo criminalidade e, automaticamente, a questões políticas para chamar a atenção em busca de audiência. Porém, no primeiro caso, a internet ainda engatinhava e não era vista com bons olhos pelos jornalistas como meio de publicação de notícias, logo o fato não repercutiu além das mídias tradicionais. Já no caso de Marielle, em uma década que, segundo apuração do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas da USP, cerca de 12 milhões de pessoas propagam notícias falsas sobre política no Brasil, é de se esperar que fake news e polêmicas atinjam um enorme número de pessoas.

Quem dirige a informação? Quando se fala em imediatismo, a palavra internet vira quase um sinônimo. Em uma Novembro de 2018

breve pesquisa pela rede, é possível observar que nem só leigos compartilham notícias falsas. Ligando a falta de mão de obra jornalística, resultado da crise econômica, ao fervor dos leitores por informações rápidas, a consequência é uma não adequada apuração. Todo esse impasse dá origem a informações erradas vindas das próprias notícias, surgindo, então, os veículos que as desmentem. Um exemplo disso é o caso envolvendo o Grupo Globo que, por meio de sua assessoria de imprensa, desmentiu o Jornal Extra, veículo do mesmo grupo, que noticiou um suposto assédio do ator Cauã Reymond. Resumindo: Globo desmente Globo sobre ator da Globo. Nesse caso, quando o problema se torna tão grande que os veículos oficiais precisam desmenti-lo, significa que alguma coisa escapou do que previa a pauta? Fausto Salvadori é jornalista da Ponte Jornalismo, veículo direcionado a Direitos Humanos e Segurança Pública. Para ele, poder desmentir uma notícia, na verdade, significa um avanço ao fazer jornalístico. “Embora hoje exista uma massa de informações falsas circulando, nunca foi tão fácil desmenti-las. Hoje em dia, quem quiser, ao receber esse tipo de informação,

checa na internet se ela é falsa ou não”. Claro, existem casos em que o veículo passa uma informação errônea, mas sem pretensão de gerar algo falso, sendo apenas falta de apuração. Erros acontecem e é importante diferenciá-los. “O termo fake news é muito impreciso, pode significar muita coisa: desde uma notícia totalmente fabricada para atingir um adversário político, até um simples engano de informação que qualquer jornalista corre o risco de cometer”, destaca. Para Salvadori, existe um contraponto entre o jornalismo tradicional e os veículos independentes. “Até um tempo atrás, os poucos veículos de destaque na mídia eram as únicas referências que as pessoas acreditavam: no Estadão, Folha e, principalmente, na Globo, todo conteúdo publicado era considerado como verdade e o restante visto com certa desconfiança. Hoje, as pessoas se engajam com veículos independentes e existe uma série de informações circulando pelas redes sociais em que o público tende a acreditar, não existem mais só as fontes tradicionais. O problema é que chega um ponto em que não sabemos mais o que é verdade ou mentira”, finaliza. Com base nessa problemática entre falso e verdadeiro, uma nova modalidade do jornalismo surgiu: agências de fact-checking, que fazem o trabalho de checagem de fatos, geralmente de assuntos que estão em evidência. 75


Processo de apuração

Termômetro da checagem

Selecionar uma declaração pública a partir de sua relevância, consultando a fonte original para checar sua veracidade

VERDADEIRO

Condiz com os fatos e dados levantados sobre a declaração ou publicação

Procurar fontes de origem confiável como ponto de partida

A declaração é classificada entre seis categorias

IMPRECISO

Em alguns cenários, é possível que a declaração não se aplique. Necessita de contexto para ser verdadeira

EXAGERADO Afirmações que testam sua veracidade por falta de dados. Podem não ser totalmente falsas

CONTRADITÓRIO

Consultar fontes oficias para confirmar ou refutar a informação

Contextualizar.

Em uma recente pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), cientistas revelaram que as chances de uma notícia falsa ser compartilhada nas redes sociais é 70% maior do que uma notícia verdadeira. Eles analisaram 126 mil notícias postadas no Twitter de 2006 a 2017. Em paralelo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) revelou que 95% das pessoas usaram o celular para acessar a internet em 2016 e que, entre elas, 94% usavam a internet para trocar mensagens. A facilidade para comentar, questionar e compartilhar na internet torna mais fácil a propagação de notícias sem checagem. Por isso, a fiscalização se faz necessária para que o máximo de informações que circulam nas redes sejam apuradas. Em meio a esse período de pesquisa, em 2010, surgiu a 76

INSUSTENTÁVEL

Se aplica àquelas declarações que não podem ser efetuadas nem confirmadas. Sem sustento na afirmação

Examinar fontes alternativas que possam subsidiar ou contrariar dados oficiais.

Checando o Jornalismo

É oposto de afirmações ou ações anteriores atribuidas à mesma pessoa ou instituição que ela representa

FALSO Uma afirmação falsa, quando dados disponíveis contradizem de forma objetiva

primeira agência de checagem do mundo, o fact.checking.org, com o propósito de apurar criteriosamente todas as informações que um emissor, seja ele jornalista, político ou qualquer outra figura pública, transmita. Depois do resultado favorável da agência e do aumento estrondoso de notícias falsas pelo mundo, outras nesse ramo foram surgindo. No Brasil, por exemplo, há, no mínimo, seis veículos conhecidos e especializados nesse segmento.

Mídia e democracia Além de uma grave crise de credibilidade, as notícias falsas têm tomado um grande espaço de tempo no que se refere à produção de notícias. Muitos veículos, além dos específicos em checagem, estão travando uma guerra com as fake news e usando seu espaço, que antes era ocupado por reportagens, para desmentir conteúdos que, por

outros meios, já alcançaram o público. Ivan Paganotti, doutor em Ciência da Comunicação e professor universitário, explica que apesar de um momento crítico para a informação, há uma visão otimista com essa nova função dos veículos de comunicação, segundo ele, ou seja, quando um jornal publica uma reportagem desmentindo um boato que tem circulado pelas redes: “Esse foi o fenômeno que a gente viu nos Estados Unidos. Depois da loucura de 2016 com as notícias falsas [em virtude das eleições para presidente], muitos jornais tradicionais tiveram uma explosão de assinaturas porque parte do público percebeu que, talvez, aquela notícia de graça, que circula na internet, não tenha a mesma qualidade que uma notícia apurada por um jornalista, um profissional que segue critérios”, explica. Outro caso curioso são as notícias falsas usadas para Revista Código | Cruzeiro do Sul


combater as notícias falsas. Exemplo disso foi o caso de uma pesquisa feita pela USP que ranqueou as páginas no Facebook que mais compartilhavam esse tipo de notícia. Porém, de forma falsa, o conteúdo foi usado por grupos políticos para atacar movimentos ideológicos contrários. O trabalho em si foi realizado com a intenção de apenas advertir, mas, com o compartilhamento irrestrito pelo Facebook, tomou uma proporção gigantesca, chegando até à mídia tradicional que, sem apuração, divulgou esses dados não oficiais.

Redes sociais: janela para notícias falsas Uma das diferenças mais notáveis entre as mídias tradicionais e as plataformas digitais é um novo grau de proximidade e interação com o leitor, oferecendo um canal de comunicação direta. Entretanto, as redes sociais, principalmente o Facebook, com a média expressiva de 2,3 bilhões de usuários, se tornaram o meio mais abrangente para a disseminação de notícias falsas. Nelas, são criadas inúmeras páginas fakes, que tornaram o processo de checagem cada vez mais complexo. Um exemplo disso aconteceu no primeiro semestre de 2018, quando a vereadora carioca Marielle Franco foi assassinada. O crime teve grande repercussão na mídia e, com isso, surgiram as mentiNovembro de 2018

ras. A desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio Janeiro, usou o Facebook para falar sobre a vereadora. No post, ela disse que Marielle era engajada com bandidos. Quem também utilizou as redes sociais para circular notícias falsas sobre a militante dos direitos humanos foi o deputado do DEM-DF Alberto Fraga, ao afirmar que Marielle “era um mito da esquerda, usuária de maconha e ex-esposa de traficante”. Fraga desativou suas contas oficiais nas redes sociais dois dias após ter feito a publicação. Em entrevista à emissora Rede Globo, o deputado disse estar arrependido pelo fato de ter publicado algo que não havia sido conferido: “Eu não chequei as fontes. Isso eu posso dizer que foi verdade”, declarou. Afirmações não foram as únicas formas utilizadas pelos usuários das redes sociais para compartilhar fake news relacionadas à Marielle. O uso de, ao menos, 38 vídeos fraudulentos foi o bastante para que a família da vereadora entrasse com uma ação judicial pedindo ao YouTube que os retirasse da plataforma. As advogadas que representam a família utilizaram as leis do Marco Civil da internet e o Código Penal para que os responsáveis pelos vídeos sejam processados individualmente. Até agora, nenhuma resposta do Google foi divulgada.

A internet continua sendo uma terra sem lei? Pela primeira vez na história, aconteceu um caso de prisão por fake news no mundo. Em maio, um homem foi condenado na Malásia, após o tribunal aprovar uma lei “Anti-Notícias Falsas”, que propõe prisão e multa para cidadãos que divulgam esse tipo de conteúdo e também para estrangeiros que compartilham notícias fakes sobre o país. Salah Sulaiman, de 46 anos, é dinamarquês, mas mora no país. Ele foi acusado de divulgar um vídeo nas redes sociais com críticas sem fundamentos sobre a polícia do país. Apesar de não serem habitualmente discutidas, as leis que defendem o cidadão contra crimes cibernéticos existem. No Brasil, somos amparados pelo Marco Civil da Internet, oficialmente chamado de Lei n.° 12.965/14, que tem o propósito de formular direitos e deveres dos usuários e entrever práticas criminosas em âmbito on-line, além de prezar pela neutralidade e liberdade de expressão. O advogado Jonatas Lucena é especialista em Direito Digital. Segundo ele, o Marco Civil não ajudou a resolver os problemas cibernéticos. Lucena indica o aspecto central para que não haja uma boa aplicação da lei: os prazos. “Existem dois prazos de preservação de dados: o primeiro, 77


Romar Sattler

de seis meses – é para que os provedores de conteúdo armazenem os dados; o prazo de doze meses é dado à empresas de telefonia. Entretanto, os processos duram anos, ou seja, se o primeiro processo ultrapassar o tempo estipulado, os provedores e as telefonias não são obrigados a fornecer à justiça esses dados, tornando a aplicação do Marco Civil mais dificultosa às vítimas, uma vez que o tempo estabelecido é curto em relação ao lento retorno de um processo”. Muitos questionam se o Marco Civil da Internet ou qualquer outro código proposto à rede poderia afetar a liberdade de expressão. Para o advogado, essa é uma questão remota, visto que a liberdade de expressão é uma cláusula pétrea e não há lei que possa a alterar ou diminuir. “O único meio disso acontecer seria em uma alteração na Constituição, algo improvável”, afirma. Em contraponto a isso, os cibercrimes vêm ganhando consideravelmente maior efeito no período atual. Os casos mais frequentes são envolvendo aplicativos maliciosos ou lojas virtuais falsas. Porém, quando falamos de injúria e difamação 78

envolvendo notícias enganosas nos grandes veículos e redes sociais, o que mais observamos é a proliferação dos crimes repercutidos pelos próprios usuários na rede. Do outro lado, temos o público que, movido por um determinado pensamento, aproveita a notícia criada para reafirmar sua opinião, emoções e crenças, levando ao que é chamado de pós-verdade; e isso, para o criminoso, é benéfico.

Pós-verdade e opinião pública Em 2016, pós-verdade foi considerada a palavra do ano e, desde então, vem ganhando forma, por sua disseminação na sociedade. À medida que as notícias falsas são veiculadas, grupos reafirmam as suas convicções, pensamentos e opiniões através do compartilhamento daquilo que acham correto. Porém, esse comportamento não está ligado totalmente a mentiras, mas à falta de interesse pela verdade, e essa é a justificativa para seu posicionamento. Quando falamos em opinião e informação, as posições ideológicas são expostas, mas nem sempre sabemos diferenciá-las.

Os usuários da internet são livres para escrever, postar e compartilhar o que quiserem. Quando acham um conteúdo que fortalece, mesmo que erroneamente, a sua opinião, muitos fazem questão de compartilhá-lo, e mal sabem os prejuízos que essa atitude pode trazer. Além disso, ainda é preciso discutir gêneros jornalísticos com a população, visto que muitos ainda não sabem diferenciar uma notícia de um artigo opinativo – e isso pode ser perigoso, pois o leitor assume aquilo como sua verdade. E quando esse jogo vai mudar? É difícil de se ter um dimensionamento, pois toda a questão da interatividade e do rápido compartilhamento trouxe aspectos positivos e negativos à profissão. Resta aos jornalistas o compromisso de não esquecerem da ética profissional e dos pilares da profissão, ensinados na universidade e levados para a vida. Informar a sociedade é uma importante missão. Com o direito à informação, a garantia de sustentação da democracia e a liberdade de expressão, sempre haverá um espaço de respeito na sociedade. Revista Código | Cruzeiro do Sul


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