UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL GRADUAÇÃO EM JORNALISMO
Veganismo: a apropriação para produção de alimentos em massa
São Paulo 2020
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL GRADUAÇÃO EM JORNALISMO
Veganismo: a apropriação para produção de alimentos em massa
FABIO HENRIQUE SARAIVA DA COSTA
Relatório de Fundamentação Teórica e Metodológica apresentado ao Curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul como requisito para obtenção do título de bacharel em Jornalismo. Orientadora: Profa. Dra. Mirian Meliani Nunes.
São Paulo 2020
FICHA TÉCNICA
Título: Veganismo ao alcance de todos Link de acesso: https://fahsaraiva.wixsite.com/meutccvegano Característica Técnica: Produto: Reportagem extensa para área digital Caracteres: 25.288 Duração/Páginas: 30 minutos / 9 páginas. Recursos de edição: Wix para páginas Levantamento de dados: Questionário no Google Forms
Edição, Entrevistas, Pautas, Produção, Reportagem e Site Fabio Henrique Saraiva da Costa
Orientadora Profa. Dra. Mirian Meliani Nunes
Coordenador do curso Prof. Me. Antônio Assis
Entrevistados: Ana Clara Vidal de Souza – estudante e dona do canal Veganinha George Guimarães – nutricionista e fundador da ONG VEDDAS Kauan Willian dos Santos – historiador, sindicalista e militante Marcos Leta – fundador da Fazenda Futuro Marly Winckler – socióloga, tradutora e presidente da International Vegetarian Union Ricardo Laurino – presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira Thaís Fontes Savassa – professora e microempresária da Vegan Brazuca
RESUMO
Este trabalho tem como propósito desmitificar o veganismo e mostrar como as indústrias alimentícias estão lidando com seguidores dessa prática em ascensão em todo o planeta. No Brasil, o número de pessoas que adotaram o veganismo ou vegetarianismo dobrou em seis anos. Consequentemente, o mercado está se adaptando para conquistar esses consumidores, desde o lançamento até a adaptação de produtos já conhecidos pelo público. Analisamos os hábitos alimentares dos seres humanos na atualidade e entrevistamos três perfis de fontes: ativistas, marcas e especialistas. Como resultado, produzimos uma reportagem extensa para o meio digital.
Palavras-Chave: Veganismo; Estilo de vida; Ultraprocessados; Alimentação; Libertação Animal.
ABSTRACT
This research aims to demystify veganism and show how the food industries are dealing with this increasing interest followers of this practice around the world. In Brazil, the number of people who have adopted veganism or vegetarianism has doubled in six years. Therefore, the market is adapting to win over these consumers, launching or even adapting products already known to the public. We analyzed the eating habits of human beings today and interviewed three sources: activists, brands and experts. As a result, we produced an extensive report for the digital environment. Key words: Veganism; Lifestyle; Ultra-processed; Food; Animal Liberation.
Agradecimentos Dedico este trabalho a todos que apoiam minha vida acadêmica. Em especial as pessoas que estavam comigo durante essa trajetória, vivenciaram e compartilharam cada momento nos altos e baixos deste projeto.
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 5
2
OBJETIVOS ............................................................................................................ 6
3
2.1
Objetivo geral ................................................................................................... 6
2.2
Objetivos específicos ........................................................................................ 6
PROBLEMATIZAÇÃO E HIPÓTESES .............................................................. 7 3.1
Problema de pesquisa ...................................................................................... 7
3.2
Hipóteses ........................................................................................................... 7
4
JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 8
5
PLANO ESTRATÉGICO ...................................................................................... 9
6
5.1
Descrição do produto ....................................................................................... 9
5.2
Público-alvo .................................................................................................... 10
5.3
Técnicas utilizadas ......................................................................................... 10
REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 11
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 13 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ........................................................................... 14 ORÇAMENTO ............................................................................................................. 15 APÊNDICES ................................................................................................................. 16 Apêndice A: Reprodução da reportagem extensa ..................................................... 16 Apêndice B: Pautas....................................................................................................... 26 Apêndice C: Entrevistas............................................................................................... 29 Apêndice D: Gráficos da pesquisa de campo ............................................................. 87 DIÁRIO DE CAMPO ................................................................................................... 91 ANEXOS ....................................................................................................................... 93
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1
INTRODUÇÃO De acordo com a Society Vegan, “veganismo é um estilo de vida que visa
excluir, até onde for possível e viável, todas as formas de exploração e crueldade aos animais para alimentação, vestuário ou qualquer outro propósito”. Para mostrar como as indústrias alimentícias estão se adaptando e trazendo novas opções veganas no mercado, esse trabalho teve o intuito de estudar grandes corporações alimentícias e comércios locais que vendem produtos que se rotulam veganos e analisar a apropriação das ideias do veganismo nesses produtos e empresas. Em 2018, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – IBOPE encomendada em 2018 pela Sociedade Vegetariana Brasileira – SVB mostrou que o número de vegetarianos e veganos no Brasil dobrou em seis anos em comparação ao último estudo realizado em 2012. Além disso, 55% dos entrevistados afirmaram que consumiriam mais produtos veganos se houvesse uma melhor sinalização nas embalagens. Nas regiões metropolitanas esse número chega a 65%. Com o crescimento de adeptos a esse grupo social, que se importa com o direito dos animais, o meio ambiente e a qualidade de vida, os empresários vêm investindo nesse mercado que também está crescendo nos supermercados, restaurantes – à la carte, self service, rodízios, fast foods, deliveries, entre outros. Para a concretização deste estudo, fizemos uma pesquisa qualitativa e quantitativa utilizando como ferramenta de coleta de dados o Google Forms e aplicamos nas mídias digitais. Utilizamos as redes sociais para divulgar o formulário que ficou disponível por um mês e conseguiu 240 respostas. Esse estudo fez compreender o que essas pessoas buscam nas gôndolas do mercado e também foi utilizado para encontrar fontes este projeto.
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2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral O principal objetivo foi fazer um levantamento sobre as empresas e produtos que se apropriam do termo vegano para produção de alimentos em massa. 2.2 Objetivos específicos Explorar o processo de apropriação da ideia de veganismo por grandes empresas e redigir, como produto final do trabalho de conclusão de curso, uma reportagem extensa para mídia digital, utilizando como inspiração o formato do jornal Nexo. Mostrar como a indústria se aproxima dessa causa para lucrar ainda mais com seus produtos.
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3 PROBLEMATIZAÇÃO E HIPÓTESES
3.1 Problema de pesquisa
O principal problema estudado neste trabalho foi: a apropriação do hábito vegano pela indústria e o comércio para a produção de produtos subverte as crenças e valores veganos em nome do lucro? 3.2 Hipóteses
Para responder o problema acima, trouxemos duas hipóteses: As empresas alimentícias selecionam ingredientes já conhecidos da comunidade vegana, como a soja, e acrescentam a sua lista de ingredientes. No caso dos vegetais, as indústrias não especificam quais são e os denominam apenas como plantas. Dessa forma, omitem a origem de alguns produtos como enzimas, aromatizantes, estabilizantes, corantes, conservantes e outros aditivos alimentares.
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4 JUSTIFICATIVA
A justificativa deste projeto foi fundamentada a partir do estilo de vida do autor deste projeto que é ovolactovegetariano e compactua com os ideais do veganismo. É relevante por questões políticas, econômicas e sociais, um estilo de vida e luta pela libertação animal. As políticas que envolvem o tema são voltadas ao consumo e à ética que vai além do humano e envolve a vida em todas as suas extensões. A visão econômica é interligada ao novo mercado que gera lucro aos empresários que investem em mercadorias para essa população. A libertação animal é elemento gerador de transformação social. O veganismo é uma pauta atual, pois o número de adeptos cresce em todo o mundo e novos produtos surgem para atender a demanda. O que geralmente preocupa essas pessoas é a origem real do seu alimento. Por isso, o comportamento e comprometimento dessas instituições se torna essencial. A contribuição ao debate científico é voltada para as questões éticas e culturais. A ética das empresas precisa ser analisada, pois o marketing propagado pode omitir sobre os ingredientes utilizados ou a forma de preparo de um alimento, produto de higiene ou vestuário. O trabalho trouxe um olhar diferente para tema, porque almejamos mostrar o quanto as grandes empresas alimentícias se apropriam da causa para se promoverem e assim se popularizarem entre essas pessoas que são adeptas desse estilo de vida. Um dos referenciais teóricos deste trabalho é o livro “Libertação Animal” de Peter Singer, que aborda de forma direta a real condição dos animais na atualidade. Curiosamente, uma das entrevistadas foi a responsável pela tradução da primeira edição da obra-manifesto de Singer. Além dele, o livro “A Política Sexual da Carne” de Carol J. Adams, que relaciona o consumo de carne com a dominância masculina na sociedade.
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5 PLANO ESTRATÉGICO
5.1 Descrição do produto
O produto escolhido foi uma reportagem extensa para mídia digital. Para embasar o nosso Estudo do Produto, analisamos o Nexo Jornal. Utilizamos vários elementos característicos desse veículo, como os infográficos com os resultados que obtivemos de nossa pesquisa de campo, valorizando a experiência do leitor. Devido à pandemia do novo Coronavírus e ao isolamento social, não conseguimos nos encontrar com as fontes presencialmente. Por esses motivos, utilizamos ferramentas de videoconferência para nos conectar aos entrevistados de modo a tornar nossa entrevista uma conversa mais descontraída. A reportagem extensa partiu do compromisso em sua linha editorial de ampliar o acesso a dados e estatísticas, trazendo informação de qualidade, clara, transparente e equilibrada. Para contribuir com um debate público plural, o intuito foi fortalecer a democracia brasileira, a fim de dialogar com diferentes perspectivas junto a vários grupos sociais. Em termos de Linha Editorial, seguimos uma abordagem similar ao Nexo: “Todas as possibilidades da plataforma digital são exploradas com uma abordagem única, usando uma diversidade de formatos como infográficos, materiais interativos, vídeos e podcasts, colocando a experiência do usuário no centro da produção”. Para hospedar a reportagem utilizamos a plataforma Wix, para criação de sites. Nosso planejamento visual foi com a criação de uma paleta de cores que lembrava o tema abordado, sendo elas tons de verde, laranja, cinza, preto e branco. A fonte utilizada para o texto é a Libre Baskerville que é uma fonte clássica com um toque moderno. É fácil de ler em telas de todos os formatos e tamanhos e boa para parágrafos longos. Justificamos o texto para uma melhor experiência de leitura. Já para o título e os intertítulos que estão em negrito utilizamos a Proxima Nova, que é a fonte padrão para títulos. A linha fina também utiliza a fonte, mas em itálico.
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5.2 Público-alvo
O público-alvo que queremos alcançar é compatível com o questionário aplicado no mês de setembro e compartilhado nas mídias sociais. São pessoas com idade entre 15 a 45 anos, heavy users, que são usuários ativos nas redes sociais que se aprofundam em assuntos que possuem interesse, neste caso em alimentação, veganismo e nutrição. Neste trabalho, o alcance de possíveis futuras publicações é fundamental para disseminação e democratização da informação. 5.3 Técnicas utilizadas
Iniciamos o projeto com uma pesquisa quantitativa e qualitativa online via Google Forms, que foi publicada em grupos de veganos, vegetarianos, crudívoros e frugívoros nas redes sociais, com enfoque no Facebook - onde há mais grupos. Com ajuda de seguidores no Twitter, compartilhamos o link para o formulário utilizando hashtags em altas naquele momento. A coleta de dados ficou disponível por um mês. Com o questionário aplicado sendo a maioria das perguntas fechadas e duas abertas “Você consome produtos de alguma marca que só produzem alimentos vegetarianos/veganos? Se sim, quais são essas marcas?” e “O que te faria consumir mais produtos veganos?”. Grande parte das respostas à primeira questão foi que não consumiam nenhuma marca. Quem disse que consumiu citou algumas marcas como Fazenda Futuro, Jasmine, Mr. Veggy, SuperBom, Sora, entre outras. Em relação à segunda pergunta aberta, as pessoas que moram em cidades pequenas, que são distantes da capital, não encontravam produtos veganos nos supermercados. Alguns relatam que consumiriam se houvesse um preço mais acessível, maior variedade e empresas 100% veganas. A partir das questões abertas, selecionamos algumas fontes. Entrevistamos marcas de produtos veganos, ativistas e influencers veganos que possuem alguma plataforma de comunicação, para entender o posicionamento dessa classe social com a chegada de produtos veganos ou vegetarianos ao mercado.
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6 REFERENCIAL TEÓRICO
Para a construção deste projeto, vários autores foram utilizados e estudados para compreender todas as questões que englobam o debate. Segundo Singer (2010, p.7): “Se cessarmos de criar e matar animais para consumo, poderemos disponibilizar tanta comida para os humanos que esta, distribuída de forma correta, erradicaria a fome e a subnutrição do nosso planeta”. A fome não está associada à falta de quantidade, sendo consequência da má distribuição dos alimentos. Entretanto, o espaço que esses animais ocupam e a quantidade de grãos, como a soja, que são plantados em sua maioria para sua alimentação, poderia ser diminuído ou melhor aproveitado. Adams (2018) compara e coloca no mesmo nível a dominância do ser humano perante os animais, com a sociedade em que os homens se colocam acima das mulheres. Há certa identificação, pois a superioridade de um dos lados é o que define o opressor e o oprimido. Não é difícil encontrar histórias em que a mulher foi associada à carne, seja em campanhas publicitárias e até em casos de assédio. O que a autora ressalta é como essas lutas são parecidas e devem ser combatidas juntas, pois são as vacas que são separadas de seus bezerros, exploradas com o alimento que seria dado ao filhote, tirando até a última gota. Já as galinhas são violentadas fisicamente e psicologicamente quando são expostas à luz durante a noite (não deixando-as dormir) e não tem nenhum contato com seus ovos, pois logo são separadas. De acordo com Hall (2006, p. 93): “Esses novos aspirantes ao status de nação tentam construir estados que sejam unificados tanto em termos étnicos quanto religiosos, e criar entidades políticas em torno de identidades culturais homogêneas”. Com isso, podemos dizer que a heterogeneidade cultural também é aplicável ao veganismo, porque as pessoas que estão nesse grupo social divergem de opinião por terem diversas crenças dentro da própria causa. Um exemplo, é consumir alimentos veganos de empresas que também trabalham com carnes. Alguns são contra e outros a favor, pois entendem que para as mudanças acontecerem é necessário ocupar diversos espaços. Para Debord, o capitalismo estimulou o consumo de mercadorias para que, assim, pudesse ocupar todos os lugares da vida, do lazer e do uso dos meios de comunicação,
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principalmente a divulgação de publicidades, algo ainda indispensável. (CIOCCARI; SILVA; ROVIDA, 2018)
É essa estratégia, de afirmar a sua particularidade, que as entidades e cidadãos civis utilizam para conseguir, aos poucos, uma opção vegetariana e posteriormente vegana em um fast food. O Subway, por exemplo, já em 2010 possuía uma versão vegetariana de um lanche sem proteína animal e laticínios. Após anos de clientes e organizações querendo uma opção vegana, lançaram, neste ano de 2020, em meio à pandemia, um novo sanduíche a base de soja, com molho e queijo também veganos. Por mais persistente que uma empresa seja em não querer colocar uma opção vegetariana ou um empresário do ramo não cogite a ideia de investir em um estabelecimento que venda comida vegana, é importante que esse grupo social mostre que existe demanda. Somente desta forma, a causa ganha força. Recentemente, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) divulgou um mapa do país com mais de três mil e duzentos locais onde há opção vegana. A mudança sempre é possível. “A identidade plenamente identificada, completa, segura e coerente é uma fantasia.” (HALL, 2006, p.13).
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REFERÊNCIAS ADAMS, Carol J. A política sexual da carne: Uma teoria crítica feminista-vegetariana. 2. ed. São Paulo: Editora Alaúde, 2018. 384 p. ISBN 8578815106. CIOCCARI, Deysi; SILVA, Gilberto da; ROVIDA, Mara. A Sociedade do Espetáculo: Debord, 50 Anos Depois. 1. ed. Curitiba: Appris, 2018. ISBN 8547316728. E-book (217 p.). COMO o estilo de vida vegano virou tendência de mercado. [S. l.], 11 abr. 2019. Nexo Jornal. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/04/11/Como-oestilo-de-vida-vegano-virou-tend%C3%AAncia-de-mercado. Acesso em: 15 jun. 2020. DEFINITION of veganism. [S. l.], 7 fev. 2012. Disponível em: https://www.vegansociety.com/go-vegan/definition-veganism. Acesso em: 30 maio 2020. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A. 2006. E-book (102 p.). JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Editora Aleph, 2009. 432 p. ISBN 857657084X. E-book. LÉVY, Pierre. Cibercultura. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2010. 272 p. ISBN 8573261269. E-book. PESQUISA do IBOPE aponta crescimento histórico no número de vegetarianos no Brasil. [S. l.], 20 maio 2018. Disponível em: https://www.svb.org.br/2469-pesquisa-do-ibopeaponta-crescimento-historico-no-numero-de-vegetarianos-no-brasil. Acesso em: 10 jun. 2020. SINGER, Peter. Libertação Animal. 1. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. 488 p. ISBN 8578273125. SOBRE o nexo. [S. l.], 7 jul. 2010. Disponível https://www.nexojornal.com.br/sobre/Sobre-o-Nexo. Acesso em: 10 jun. 2020.
em:
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CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Tabela I – Cronograma Geral (1° e 2° semestre de 2020) Atividades
ABR.
MAIO
JUN.
X
X
X
X
X
X
Pesquisa de fontes
X
X
Introdução e referências
X
X
Aspectos teóricos e metodológicos
X
X
Redação do projeto de pesquisa
X
X
Escolha do tema + delimitação
JAN.
FEV.
X
X
MAR.
Objetivos gerais e específicos
X
Justificativa, problemas e hipóteses
X
Levantamento de referências
X
Fichamento de referências
Leitura dos principais teóricos
X
Entrega do projeto de pesquisa
X
Atividades
JUL.
AGO.
SET.
OUT.
NOV.
Levantamento de referências
X
X
X
X
X
Fichamento de referências
X
X
X
X
Contato com possíveis fontes
X
X
Entrevistas com as fontes
X
X
X
Pesquisa de Campo
X
X
Apuração da pesquisa aplicada
X
X
Decupagem das entrevistas
X
X
X
Produção do RFTM
X
X
X
Redação da reportagem
X
X
Site
X
X
Revisão do projeto e produto
X
Entrega do produto e RFTM
X
Apresentação do TCC Fonte: elaborado pelo autor.
DEZ.
X
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ORÇAMENTO
Tabela II – Orçamento Geral Item
Quantidade
Valor Unitário
Valor Total
(média) Smartphone Xiaomi Mi8
1
R$
1.500,00
R$ 1.500,00
Notebook Lenovo Ideapad 330
1
R$
2.000,00
R$ 2.000,00
Total Fonte: elaborados pelo autor.
R$ 3.500,00
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APÊNDICES Apêndice A: Reprodução da reportagem extensa Link de Acesso: https://fahsaraiva.wixsite.com/meutccvegano
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19
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21
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Apêndice B: Pautas
PAUTA
Fabio Henrique Saraiva da Costa Título: “Veganismo ao alcance de todos”
1 PRODUTO:
TEMA/ASSUNTO:
DATA DA ENTREVISTA:
Reportagem extensa
Marcas veganas no mercado
01 e 15/09/2020
para mídia digital
HISTÓRICO Grandes indústrias têm investido no mercado de carnes vegetais. A Fazenda Futuro é a primeira foodtech brasileira a criar produtos à base de plantas com a mesma textura, suculência e gosto de carne. Já Vegan Brazuca não é a primeira marca de salgados veganos, mas em menos de um ano de existência tem se destacado por onde atua, na Zona Leste de São Paulo. ENFOQUE/ANGULAÇÃO Para a Fazenda Futuro, que é uma das mais conhecidas do momento, a ideia foi focar nas parcerias com os mercados que vendem os produtos da marca. Se esses estabelecimentos procuram pelos produtos ou se é a empresa que se apresenta para esses comércios. Como o Vegan Brazuca é uma marca pequena de bairro, a ideia foi explorar a história por trás dos ingredientes. Além disso, entender como surgiu a ideia de abrir e investir nesse tipo de nicho. POSSÍVEIS PERGUNTAS - Como surgiu a ideia de abrir a empresa? - O que motivou a investir neste mercado? - Os restaurantes procuram vocês? Ou vocês identificam os estabelecimentos e oferecem os produtos? - Como são feitos os salgados? - O futuro é vegano? FONTES - Fazenda Futuro - Vegan Brazuca EQUIPAMENTOS
REPÓRTER
Notebook e smartphone.
Fabio Henrique Saraiva da Costa
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PAUTA
Fabio Henrique Saraiva da Costa Título: “Veganismo ao alcance de todos”
2 PRODUTO:
TEMA/ASSUNTO:
DATA DA ENTREVISTA:
Reportagem extensa
Ativismo
27/08/2020, 01 e 22/09/2020.
para mídia digital
HISTÓRICO A Sociedade Vegetariana Brasileira – SVB é uma organização sem fins lucrativos que promove a substituição da proteína animal pela proteína vegetal na alimentação individual e institucional. Entre alguns de seus projetos se destacam o Segunda Sem Carne e o Certificado Selo Vegano. George Guimarães é especialista em nutrição vegetariana. Além disso, ele é um dos fundadores da ONG VEDDAS, que trabalha em defesa dos animais e dissemina a favor de uma alimentação sem exploração animal. Fundou o primeiro restaurante vegano de São Paulo, hoje fechado, VEGETHUS. Kauan Willian é educador e militante sindical. Atua no Poder Popular Antiespecista – Antar, que é um agrupamento político-social que aborda a ecologia social, o veganismo popular e o antiespecismo. ENFOQUE/ANGULAÇÃO Com o Ricardo Laurino foi possível entender como a SVB funciona, se o veganismo tem ganhado força no Brasil, como a ONG lidou com a pandemia e os principais projetos. Já com a Marly Winckler foi conhecer a trajetória dela até ser presidente da União Vegetariana Internacional, e sobre a “polícia vegana” nos dias atuais. O objetivo com o George Guimarães foi desmistificar a dieta vegetariana, entender o que faz uma pessoa desistir de seguir essa alimentação e como prevenir possíveis complicações. Com o Kauan Willian foi entender as ramificações que o movimento vegano tomou, conhecer sua história no movimento e como historiador, se houve outras pessoas no passado que eram veganas. POSSÍVEIS PERGUNTAS - Por que é tão importante ser ativista no século XXI? - O Certificado Vegano tem gerado bons resultados aos produtos das empresas? - Como é possível fazer uma boa alimentação vegetariana/vegana? - O que é especismo e veganismo popular? FONTES - Ricardo Laurino, Marly Winckler, Kauan Willian, George Guimarães. EQUIPAMENTOS
REPÓRTER
Notebook e smartphone.
Fabio Henrique Saraiva da Costa
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PAUTA
Fabio Henrique Saraiva da Costa Título: “Veganismo ao alcance de todos”
3 PRODUTO:
TEMA/ASSUNTO:
DATA DA ENTREVISTA:
Reportagem extensa
Futuro do veganismo
02/09/2020
para mídia digital
HISTÓRICO Ana Clara é uma jovem de 13 anos, que começou um canal no Youtube aos 12 anos, chamado Veganinha. Ela conta nos vídeos sua jornada no veganismo, que começou a menos de um ano. Nesse meio tempo, Veganinha já é conhecida e querida entre os grandes influenciadores desse nicho. ENFOQUE/ANGULAÇÃO A ideia foi explorar questões que englobam tanto a criação do canal, quanto a relação dela com família, seguidores e amigos. Se a Ana Clara encoraja e se ela sente que influencia pessoas da idade dela a aderirem ao veganismo. Além disso, saber o que ela pensa em relação a ultraprocessados, futuro, marcas, entre outros. POSSÍVEIS PERGUNTAS - Por que você decidiu começar o canal? - Quando você decidiu não comer mais carne sua família te apoiou? - Tem problema para você consumir produtos de empresa que também lucram com sofrimento animal? - O futuro é vegano? FONTES - Ana Clara EQUIPAMENTOS
REPÓRTER
Notebook e smartphone.
Fabio Henrique Saraiva da Costa
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Apêndice C: Entrevistas Entrevista 1: Ricardo Laurino Entrevista via Skype realizada em 27 de agosto de 2020.
Por que é tão importante aderir ao veganismo no Brasil e principalmente no século XXI?
Acho que independente da época, o veganismo é uma postura e um movimento que tem uma ideia muito simples que é desenvolver uma sociedade onde os animais sejam levados em consideração como seres que merecem nosso amplo respeito. Existem várias definições filosóficas, trabalhos relacionados ao direito que daria para se aprofundar desde o especismo até todas as outras questões. Eu acho que é algo muito mais simples que podemos levar em consideração, a gente identifica nos animais a capacidade de sofrer, a capacidade de se relacionar com seus semelhantes ou até mesmo com não semelhantes, a capacidade de lutar por sua vida, de sentir prazer em determinadas situações, sentir sensações inversas, e como já definido pela própria ciência são seres sencientes. A principal importância disso independente de todos os reflexos que isso pode trazer, podemos falar sobre a postura ética e desenvolvimento ético de uma sociedade que leva em consideração o sofrimento e a capacidade de sofrer de um ser.
Você acha que o veganismo é moda ainda em 2020? Em uma entrevista em 2018 na Naturaltech, quando te perguntaram, você disse que era um movimento em crescimento e comparou ao jeans que foi “moda” e hoje todo mundo usa. Você ainda pensa assim? Não avalio se é ou não uma “moda”, sempre comento que não vejo problema dele também ser denominado assim, porque o grande problema de uma “moda”, acho que eu já respondi isso em 2018, é quando a “moda” não tem conteúdo e torna-se passageira, quando tem conteúdo, que é o que o veganismo mais tem, assim tem a capacidade de mudar questões fundamentais e permanecer como algo agregado a própria sociedade. Ainda que existam diferentes tipos de jeans e ele já tenha sido moda hoje está integrado à nossa sociedade.
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Então não me preocupo com o fato de ser ou não moda, mas sim o conteúdo e o porquê disso poder ser transformado em uma “moda”.
Qual a sua visão em relação a grandes empresas de carne e frango começarem a produzir produtos veganos? Você acha que tem problema crescer com sofrimento animal e ao mesmo tempo lucrar com isso?
Acho que esse é um debate que cerca o movimento, porque tem duas formas de enxergar essa questão. Existem grupos que dizem, que o fato deles (as empresas) fazerem isso, vão utilizar mais o dinheiro para explorar mais animais. Eu particularmente acho difícil afirmar isso, porque na verdade, o que acontece é que eles pegam o dinheiro que fazem a exploração animal e começam a desenvolver produtos que na verdade não são totalmente voltados para os veganos. Porque essas grandes empresas ainda vêm veganos como um grupo muito pequeno que não sustentaria todo investimento. Então, eles estão voltados mais para um grupo de pessoas que têm curiosidade e que é crescente e esse grupo de pessoas não necessariamente tem pensado em ser vegano hoje, acredito que em breve vão pensar. Mas, hoje estão mais curiosos querendo saber, querendo algum tipo de mudança, percebem que há um ambiente propício para isso. Naturalmente isso sempre aconteceu, as empresas identificam essas tendências e transformam os produtos. É preciso enxergar que não existe só o lado bom e nem apenas o lado ruim. Vejo como bom no sentido de que, é um início para essas empresas. Eu tenho muita vontade de que todas as empresas “veganizem”, eu trabalho e acredito que todo mundo vai ser vegano. Não por ser algo utópico, mas por ser algo que está próximo das pessoas e que elas esperam. Ninguém acorda falando: “eu quero matar um animal, eu quero destruir o meio ambiente”, temos uma herança cultural e os hábitos fazem com que isso aconteça. A partir do momento que começarmos a estimular novos hábitos, as pessoas não vão ficar brigando “por que não, eu não quero”, isso não vai ser um debate tão ferrenho como é hoje. Então, essas empresas acabam ajudando muitas pessoas a entenderem que é possível, vejo que esse é o lado bom. Tem muitas pessoas que dizem: “aí eu adoro essa marca”, e é uma marca grande que explora animal. Aquela marca lança um produto ele: “poxa essa marca que eu sempre comprei”. Ainda que tenha um monte de coisa por trás,
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aquela pessoa confia na marca que conhece. Logo, isso pode fazer com que ela se abra a um novo mundo. O lado ruim para mim e que não é só nas grandes empresas, mas nelas identificamos de forma mais potencializada, são os valores. Muitas vezes, percebemos que são apenas incentivados pela questão do lucro, o que não é legal. Isso pode ser explorado por um determinado período, utilizar como um motor para incentivar a mudança, mas em determinado momento, a gente está cada vez mais questionando isso, não só as grandes, mas as médias e pequenas empresas que precisam começar a enxergar o lucro como uma parte daquilo que ela representa na sociedade. Eu acho que esse é o grande problema, no entanto reforço: não é só das grandes empresas, darei um exemplo muito claro aqui que considero ser bem interessante para o seu trabalho: Já faz um tempo que eu parei, mas já organizei muita feira de pequenos empreendedores e pequenos produtores. A primeira feira vegana de rua no Brasil apoiada por uma prefeitura foi aqui em Curitiba e a gente organizou, já participei de várias outras. É muito comum pequenos produtores veganos falarem: “Ah! Eu quero ir, mas só vou se apenas eu vender esse tipo de produto”. Mas veja, essa não é uma visão das grandes empresas é uma visão da sociedade. A questão é que a grande empresa ela tem um potencial maior tanto para fazer estragos quanto para fazer algo que de repente possa mudar. Sendo assim, penso que esse aspecto tem que ser avaliado. Nem muito bom de “oh! sensacional” e nem tão “olha que terrível eles são do mal”, acho que isso não vale a pena. O fato é que elas estão entrando nisso sim, porque de uma forma ou de outra o movimento e a curiosidade das pessoas estão levando com que as empresas repensem muito no que elas produzem. É o início de uma tendência dentro dessas empresas e que vai perpetuar.
Eu sempre estou vendo nos produtos o Selo da SVB informando que aquele produto é vegano, que não contém nada de origem animal. Primeiramente, com o Selo de Vegano, a marca ganha força de marketing? Ela fideliza os clientes que já tem, ou cresce no mercado?
Tem produtos que já comentaram e já foi identificado um crescimento enorme. No entanto, isso geralmente acontece em produtos de marcas pequenas que uma
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determinada ação tem um resultado enorme em comparação ao que ela já tinha. Mas, isso é muito de cada empresa, não é algo que realmente possa dizer: “todas as empresas que põem o certificado…”. O fato é que o selo faz com que tenha maior credibilidade, isso sem dúvida nenhuma.
Como vocês fiscalizam essas empresas e os produtos?
É tudo documentado e periodicamente as empresas devem mandar todas as documentações, tanto em relação à questão da formulação quanto onde está sendo comprado. Assim como, testes em animais, os produtos utilizados, como dos insumos. Então periodicamente fazemos essa análise e tudo é registrado. Assisti essa semana, o filme “Super Size Me 2: A Dieta do Palhaço” em que o diretor entra no ramo de criadores de frango para abrir seu próprio fast food de hambúrgueres de frango. Só que ele acaba percebendo que o sistema faz com que os criadores disputem entre si e a legislação é muito frágil, pois não específica, por exemplo, o tamanho do espaço “livre” destinado as galinhas do tipo cage free. Você acha que isso se aplica no nosso país? Porque já tivemos o escândalo da JBS com carnes com fragmentos de papelão e recentemente do frango contaminado com o covid-19. Como você vê isso?
Isso é um problema da própria indústria que lida com produtos de origem animal. Isso está intrínseco na própria atividade, porque sabemos que a dificuldade de se manter esses produtos é enorme. Então, acredito que existe realmente um problema já estrutural e a gente vê isso acontecer pelo mundo. A indústria de produtos de origem animal é muito frágil no sentido de fiscalização e no sentido do produto que está sendo ofertado. O Brasil por ser um grande produtor, acaba aparecendo em grandes escândalos nesses aspectos. Assistimos a esse filme, até fiz um debate sobre. Vemos os Estados Unidos em vários escândalos, vários absurdos que acontecem lá num país que é dito como um país de primeiro mundo, que tem todas as normas e tudo o que se espera. O grande problema é que tudo isso não é voltado para o animal e sim para outros aspectos, para o mercado, para o que as pessoas querem consumir.
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As pessoas querem ter a sensação de que estão comendo uma carne de um animal, que foi o mais feliz possível, entregou a vida e não foi nem abatido. Se for possível dizer que esse animal quis morrer. As pessoas iriam adorar ouvir isso e a indústria percebendo isso, entrega aos clientes aquilo que eles esperam. É uma engrenagem onde um quer ser enganado e outro enganar, conforme é pedido. Você tem um problema tanto numa ponta quanto na outra. A indústria atende o que o pessoal quer. Você viu, né? Quando entrou a Covid-19, um pouco antes estava subindo muito o preço da carne as pessoas fizeram passeata e reclamaram, tinha reclamação a todo tempo, o pessoal quer carne no prato independente do que tenha em oculto. Só que eles esperam que de alguma forma, aqueles animais sejam bem tratados e que não tenham morrido sofrendo. Reforço de um lado querem ser enganados e do outro enganam.
Ainda tem aqueles métodos como o abate humanizado. O que você acha disso? “Que não existe!” “Que abate?!” Não existe matar alguém que quer continuar vivo de forma aceitável. E quando você imagina em 70 bilhões de animais como será feito isso? Isso só terrestres! Como você vai transformar isso em um modelo onde animais: “Ah, eu estou brincando aqui!” “Estou na balança pode me matar que estou feliz!” Isso não existe. As pessoas sabem que não existe, mas querem ser enganadas.
Você acha que só a indústria da carne engana ou você acha também que há outros setores seja moda, higiene, entre outros, que colocam termos como “sustentável”, “orgânico”, entre outros rótulos, vem se apropriando do termo vegano de forma mais superficial?
A questão de orgânico eu não acompanho muito, procuro consumir mais orgânicos, recebo minha “sextona” semanal, mas o meu trabalho que eu poderia falar é sobre veganismo. Isso é um pouco mais difícil, usar o termo vegano e de repente não ser vegano. É complicado, pode realmente gerar um problema. O que acontece quando se usa um termo sustentável, “o que é sustentável?”, porque não existe algo que defina, o que é sustentável e o que é algo consciente? São termos subjetivos. Então, nesse sentido entra o trabalho de marketing, o produto rotulado
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que é saudável. Como é saudável? Em comparação ao que? Do que a gente está falando? Esses aspectos são mais fáceis de serem manipulados, mas também entra o papel do consumidor de buscar um pouco mais de informação. Acho que isso também ajuda, quanto mais a gente procura, busca e pede para que as empresas apresentem melhor o seu produto com mais transparência, querendo dizer, o que aquilo significa, mais eles vão ter que entregar algo que esteja correlacionado a esse pedido da própria população, do próprio consumidor.
Um dos casos que me chamou atenção foi quando lançaram o hambúrguer de plantas, o caso do BK, em que o hambúrguer era feito na mesma chapa que faziam os hambúrgueres de carne. Após descobrirem isso, soltaram uma nota falando que tinham uma chapa separada, mas foram desmentidos quando consumidores gravaram fazendo um pedido e o atendente falava que era na mesma chapa. Você lembra?
Isso acaba acontecendo pelo fato de estarmos num momento de transformação e crescimento. Acaba algumas empresas realmente aprendendo com o erro. Eu não digo nem só do Burger King como eu falei tanto das grandes, médias e pequenas acabam aprendendo com o erro. Eu sempre comento que isso é bom, “tomar um puxão de orelha”, entende melhor o que o consumidor está querendo e começa a atendê-lo melhor. Não sei nem se é o caso do Burger King, aliás eu acho que não. Até comentaram que eles falaram que: “a gente nunca falou que esse era um produto para vegano -isso lá nos Estados Unidos- nós falamos que é vegetal, é uma carne vegetal, o vegano determina se quer comer ou não”. Acho que foi essa a resposta que eles deram quando foram processados por um vegano americano e acho que esse americano por conta dessa explicação do Burger King, acabou perdendo a ação. Olha que interessante! O veganismo é pelos animais, mas o vegano também espera ser atendido. São duas coisas diferentes. O que significa isso? Significa que esse sanduíche que foi feito, não demandou nada de exploração animal. É igual você estar na casa da tua namorada, namorado, filho, pai, mãe... seja lá o que for, entra e ele faz um bife em uma chapa, na frigideira. Depois de um tempo, ele pega aquela frigideira e faz um hambúrguer vegetal. Teve algum tipo de exploração animal nessa preparação? Não,
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não teve. Poderia se dizer que é vegano? Poderia, mas o vegano talvez não vá se sentir bem pelo fato de o alimento estar ali no mesmo lugar que a carne foi preparada. Então são duas coisas diferentes que entra nessa subjetividade que eu comentei é que ela só existe por conta do momento que está no início, algo que está começando, é tão natural que essas questões surjam, sejam debatidas e ao longo do tempo vão se desenvolvendo de uma melhor forma.
Vi que a SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira) encomendou uma pesquisa do Ibope em 2018. A gente tem alguma com números atualizados deste ano?
Não, a última é de 2018.
Vi que tem o MapaVeg, que você se inscreve falando que é vegetariano ou vegano. Eu queria saber se vocês (da SVB) usam alguma ferramenta do Censo? Se o Censo pergunta?
Não, do Censo não. A gente fez esse do Ibope. Eu não sei como funciona o Censo, se seria possível. Isso é algo do poder público. Desconheço como seria feito.
O que a ONG tem feito nesse ano pandêmico? Vocês têm ajudado restaurantes e os demais colaboradores?
Muita coisa! Acho que nós fomos uma das primeiras ONGs ou primeira instituição, empresas, que inicialmente tomou conta do nosso time. Mandamos todo mundo para casa, logo no início, quando começou a se pensar, a gente já estava com o nosso time inteiro dentro de casa. Foi uma preocupação que tivemos, inclusive agora, está facultativo. Fizemos todo o trabalho e quem ainda não se sente à vontade para sair, está trabalhando de casa. Quem está se sentindo à vontade, está saindo para o escritório com divisão, com todo o material. Trabalhamos com muita preocupação nesse sentido. Em relação aos restaurantes, durante a pandemia, a gente lançou um site com mais de três mil locais com opções veganas, que é o ondetemopcaovegana.com.br. Divulgamos várias vezes, Foi feito liminares e muitas lives trazendo também empreendedores para darem dicas e informação. A SVB tem hoje quase 60 grupos e núcleos, vários deles
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fizeram um trabalho de entrega de marmitas para pessoas com dificuldade, foi muita coisa que eu não conseguiria nem citar tudo aqui. Além disso, lançamos em parceria com uma editora o livro “Pandemias, saúde global e escolhas pessoais” que já teve mais de 4 mil downloads, que está aberto para download gratuito. Isso foi em tempo recorde foi desenvolvido logo quando entrou a pandemia e em torno de um mês, lançamos com todas as informações sobre as pandemias, a relação que se tinha com a produção e consumo de produtos de origem animal, uma série de coisas. A SVB não parou mesmo. A gente só adaptou e fez com que o nosso trabalho continuasse tão forte quanto.
Entrevista 2: Kauan Willian Entrevista via Skype realizada em 01 de setembro de 2020.
Desde quando você é vegano?
Acho que uns seis ou sete anos sendo vegano, e dez anos sendo ovolactovegetariano.
Por qual motivo você se interessou a entrar por este caminho do veganismo?
Então, na verdade, eu comecei a ver umas críticas nas músicas que eu escutava de hardcore. Já tinha nesse espaço que eu frequentava nos rolês punk e hardcore, algumas informações e coisas veganas. Mais para frente, fui me interessando, assisti documentários na internet que me ajudaram bastante.
Por que ser ativista é tão importante nos dias de hoje?
Porque não basta mudarmos individualmente, é preciso mudar a realidade e a estrutura. Então, para outras pessoas a informação precisa chegar e assim poder organizar essas pessoas para mudar isso. É uma pergunta filosófica até para mim porque desde que eu me conheço, assim já vegano, eu nunca fui uma coisa só, sempre gostei de comentar com as pessoas, divulgando informações, panfletando sobre fazer etc.
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Então, o veganismo nunca foi uma coisa só pessoal de alimentação, até porque muitas pessoas confundem o veganismo com dieta, mas dieta é o vegetarianismo estrito e o veganismo barca várias coisas da sua vida, inclusive vestuário, mas também é isso de você querer transformar essa realidade e acabar com essa exploração animal de qualquer meio ou meios possíveis para isso.
O que é o veganismo popular?
Está bastante na moda esse conceito. Quando no Brasil temos duas tendências que foram se construindo, uma delas, a gente chama de abolicionista, que tende a libertação animal, no sentido de libertação total, não só direito animais, mas o direito para que eles fiquem melhor e tenham o bem estar. Isso inclui você se desligar de tudo, até de marcas que testam em animais e possivelmente mesmo quando o produto é vegetariano estrito, tem que boicotar. Já foi construída outra tendência que é o veganismo de mercado, veganismo estratégico, falam que temos que ocupar essas grandes empresas que testam e lutar pelos direitos animais para cada vez melhorar, tem até vegano que defende cage free, que são aquelas gaiolas livres. Então, temos o veganismo estratégico e o veganismo abolicionista, só que começaram algumas críticas a partir do momento que ele foi aumentando e falam que mesmo o veganismo abolicionista é “etilicista”, que ele tem discurso que é para poucos. Então, foi se criando a partir dessa crítica dentro do movimento abolicionista, o veganismo popular nas últimas tendências com pessoas mais pobres, negras etc. Mas o que a gente escuta lá no meu coletivo é que às vezes a pessoa está propagando lá, mas continua com as mesmas performances de antes, performances isoladas assim falam que é possível. Ser possível eu sei que é, mas o certo é veganismo popular que a gente discute tem a ver com o conceito de poder popular que é um conceito de movimentos sociais da construção de um poder dessas pessoas pobres, que não tem poder político, elas são subsidiadas de poder econômico, e construir meios que estejam possível dá poder para elas. Soberania alimentar, por exemplo, a pessoa só vai poder escolher o que comer quando ela tiver o que comer. No Brasil, a maioria das pessoas não tem. Temos que lutar
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com movimentos sociais e com a política para dar essas condições para as pessoas, empoderar elas de verdade, dar poder econômico para aí sim ela ter esse poder do boicote. Nesse sentido que falamos de veganismo popular é poder popular, lutar politicamente e economicamente para uma melhor condição de vida das pessoas é para que aí, ela tenha consciência de uma libertação animal. Já fizemos essa intersecção da libertação animal e libertação humana, que é até o mote da minha camiseta: “poder popular, libertação animal”.
Eu vi no seu Twitter que você está junto em dois grupos. Você entrou e começou a fazer parte ou fundou algum deles? Como eles funcionam?
Eu milito agora nessa Antar Vegan. A Antar foi uma revolucionária curda que morreu em combate contra o estado islâmico - a gente chama de direito fundamentalista. Na revolução, quando eles fazem esse debate lá, é uma revolução que tem em vista ecologia, um tratamento melhor dos animais. Foram amigos que a gente já militava em outras frentes veganas. Só que a gente vê que nesses movimentos amplos não tinham um debate capitalista revolucionário. Então, criamos esse grupo, que na verdade vai debater o veganismo e vai mediar esse debate nos espaços que estamos inseridos, que são outros. Cada um faz parte de outras organizações, eu mesmo faço parte de outras lutas, por exemplo, no meu lugar de trabalho sindical e com essa organização, eu consigo levar alguns debates desses lugares veganos e ecologistas. Porque os veganos já fazem isso, todo mundo tá inserido em algum lugar, seja no trabalho, alguma organização ou na família mesmo já fala do veganismo pessoalmente. Então serve para fazermos alguns materiais juntos, construir debates para levar para outros lugares também construir quando tiver manifestações, fizemos parte da construção pela luta pelo clima no ano passado também em São Paulo, então, para construir essa luta em conjunto mesmo.
Qual a importância do veganismo na luta de classe?
Então, por causa desse debate do veganismo abolicionista com veganismo popular, a gente entende que não tem como lutar pela libertação animal num sistema em que ele precisa dessa exploração animal para sobreviver.
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No Brasil, a agropecuária manda em outros países, fábricas e indústrias de leite, ovos e carne. Também sem isso não dá para a maioria das pessoas que passam fome, não dá para gente falar “pare de comer frango”, quando a pessoa precisa de comida. Então, ela tem tudo a ver também com a luta de classes, só a classe trabalhadora que pode alavancar no processo comunitário e anti-sistêmico, esse fim da exploração animal que não favorece ela. A maioria da classe trabalhadora mesmo come restos, quem come as melhores partes ali são pessoas classe média, muito [alimento] é jogado fora para especulação de alimentos com a produção que não faz nem sentido e é nesse sentido que elas têm tido com a luta de classes.
O que é o veganismo antiespecismo?
Foi um termo criado pela bioética, pelo livro chamado libertação animal. Eles falam que o especismo é esse tipo de dominação e que sempre privilegiou o ser humano através de outras espécies. Ele faz questão filosófica mesmo, nem econômica no caso, e pega todos esses tipos de veganismo. Então, ele fala que o grande argumento é que os animais não têm uma inteligência suficiente, por isso a gente pode matá-los, mas a gente faria isso, por exemplo, com uma pessoa que nasce com problemas de raciocínio não tão lógico assim, com algum problema mental? Não! Não a mataríamos, então, isso é especismo. Por que a gente mata um ser que sente dor? É a mesma coisa, mas fazem essa diferenciação. A gente mataria um bebê recém-nascido, só porque não tem a mesma capacidade cognitiva como a de um adulto? Não! Então, especismo é isso. O veganismo mais materialista coloca uma base material nesta dominação que tem começo na sociedade, na ação do ser humano, depois foi-se construindo de maneira material e favorecendo as partes mais altas é nesse sentido que a gente coloca. Mas, o especismo permeia eu acho que em todos os veganismos estratégicos/liberais também fala que é contra o especismo porque é uma maneira de dominação do ser humano perante outros animais na natureza.
Com o Brasil sendo um dos principais produtores e exportadores de carne no mundo. Como o veganismo entra no combate neste mercado?
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Eu acho que no Brasil por causa de muita ONG vegana trata veganismo como uma coisa moral assim “se quiser a gente consome, não come porque ela é má” e não vê o que está por trás do sistema econômico, da pecuária etc. Então, eles demoraram para fazer essa crítica. Tem setores que não fazem uma crítica contra a pecuária aqui, mas eu acho que o veganismo mais radical sempre teve nesse embate, nessa relação e estava avançando nesse debate também, dizer que a nossa questão do veganismo no Brasil é central, quando a pecuária faz essa ligação com as lutas de terra que são as principais frentes contra o monopólio desses grandes territórios e da luta do campo também por alimento orgânico porque tem tudo a ver. Fazemos bastante a relação, mas ela ainda é tímida, o veganismo é tímido no campo, são mais as pessoas das cidades que fazem e buscam essa conexão, mas não vão lá mesmo no campo. Ele fica mais nas grandes cidades e nós ficamos dando apoio aqui, mas não vai lá, por exemplo, na Amazônia fazer alguma coisa ou uma questão, no entanto é uma crítica que está sendo feita.
Você acha que isso não é mais feito porque o veganismo e até mesmo vegetarianismo são mais comuns nas metrópoles e nas capitais não só pelo espaço que as pessoas estão, mas também por conta de publicidade, redes de fast-food ou comerciantes locais que têm produtos veganos. É por conta disso também?
Tem uma grande influência porque as coisas são vistas pela TV, ficamos nos apropriando dessa crítica. Eu acho que escancarou realmente foi na ascensão do Bolsonaro e a pecuária tomou conta e falou que eles vão mandar mesmo, vão explorar tudo e vão devastar tudo mesmo. Então, isso eu acho que deu um estalo até em quem estava com receio de fazer essa crítica mais sistemática porque viu que realmente a classe dominante aqui, quer dizer a parte bancada do boi que manda no Brasil, que realmente manda, e tem relação com as pessoas comerem carne e realmente o conservadorismo. Feita essa relação pode abrir os olhos, mas aí temos que executar isso de uma forma constante mesmo para essa luta ser alavancada.
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Ao longo da história da humanidade, há indícios de pessoas que seguiam dietas vegetarianas e/ou veganas? Quais são os fatores que culminaram nesta existência?
Tem várias pessoas, por exemplo, Aristóteles, ele já fazia esse debate sobre a questão animal, sempre compartilham conosco que ele estudava muito biologia, não era ainda o nome da parte da filosofia. Alguns aspectos já tinham conexões e já tinha uma dieta vegetariana pelo que dizem também. Tem sociedades mesmo originárias que a base era vegetariana como do Congo e até hoje algumas tribos são vegetarianas, porque inclusive o acarajé tem um camarão, que é uma adaptação daqui, é vegetariana e foi trazida pelos congoleses. Alguns filósofos e artistas, dizem que Leonardo da Vinci era vegetariano, mas não se sabe se era ovolactovegetariano ou vegetariano estrito, porque não tinha o nome vegano ainda. Mas, ele já fazia essa conexão também, falava que o ser humano tem que evoluir para tal nível para que ele não precisasse comer outros animais e viver das vísceras. Tinha outras sociedades indígenas também, não completamente a base também na América do Sul eram vegetarianas. Nos séculos XIII e XIX, várias pessoas nas cidades da Europa que já eram vegetarianas e vinham de tradições celtas, que eram formadas em bruxarias que tinham um contato maior com vegetais, e seitas nesse período que eram vegetarianas. Essas pessoas do século XIX, vindo destas tradições, mas também enxergando que o aumento da matança foi nas fábricas, porque nos sítios matava um animal por mês, foi essa industrialização do campo, essa mecanização que começou a matar animais de uma forma muito grande. As mulheres feministas do século XIX, que trouxeram o vegetarianismo e alguns militantes do movimento operário também já se declaravam vegetarianos. Élisée Reclus era um anarquista do movimento operário, que foi para a América do Sul, ele era um geógrafo, ao estudar sociedades indígenas percebeu que já se declarava vegetariano. Tem várias personalidades durante a história e também sociedade que se declararam vegetarianos, ou seja, não é a forma da gente comer também é uma construção
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social. Acredito que nenhuma sociedade antes do século XIX, por exemplo, comia carne todo dia como a gente come no Brasil. Não existe. A própria maneira como a gente se relaciona com os alimentos desumanizar ele comprando no mercado um pedaço ali… tem aluno meu que não sabe o que é uma galinha, ele só sabe o que é o frango morto, um objeto, o animal está se transformando em um objeto e nunca existiu isso na história. Sempre teve uma relação da morte, as pessoas sabiam que era uma morte que estava no prato. A própria maneira que você constrói a alimentação também é uma relação social e histórica.
Você citou alunos, você dá aula para crianças ou pré-adolescentes?
Dou aula do 6º ano, que deve ter uns 12, e neste ano, até o 9º ano. Mas já dei aula até o terceiro colegial.
Eles sabem que você é vegano? Você fala sobre isso um pouco?
Sim, a gente debate na aula, trago histórias destas sociedades vegetarianas e como isso foi sendo construído. Eles gostam bastante é um tema que há 10 anos atrás, as pessoas não se interessavam e falavam: “Nossa! Que coisa louca”. Hoje, as pessoas são muito sensíveis mesmo, agora, eu dou aula numa periferia na zona norte, mas elas são muito sensíveis e falam: “Ah, professor! Eu quero parar também, porque eu vi no YouTube um documentário”. Porque hoje as pessoas têm acesso à informação. “Vi umas fotos de uma galinha morrendo de alguma coisa, é assim mesmo? Como é?” e a gente discute. Eles recebem também essas informações e vê que não é uma coisa legal. Eu também já fiz um projeto na escola de horta, eles comem aquilo que, às vezes, eles nem sabiam. A maioria ali come bem só na escola mesmo, em casa come arroz e nuggets. Eles não sabem o processo do plantio, dá para fazer vários tipos de chá, com o que eles plantam, por exemplo, chá gelado, um bolinho de arroz com uma erva ali fica maravilhoso. Eles amam.
Em relação ao processado, você consome? Deve ter consumido um hambúrguer à base de plantas, de soja, etc. Como você vê essa situação?
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Principalmente quando é uma marca que ganha dos dois lados, tanto com o sofrimento animal quanto com uma linha de produtos vegetarianos/veganos?
Eu não compro de marcas que vendem, eu evito ao máximo comprar de marcas que vendem outras coisas e ao mesmo tempo faz, ainda mais se ela testa em animais. Então, eu não compro porque eu acho que você está dando dinheiro para pessoas que não percebem a causa animal. Querem ganhar e às vezes tem esse problema. Eu prefiro comprar de lugares que sejam veganos, a não ser que tenha que ir ao supermercado, não dá para evitar. Vai vender de tudo e a gente tem que comprar. Tem pequenos comerciantes também que estão ali e fazem opções veganas, mas ali ele não é o produtor, ele só está revendendo, no entanto se é um produtor no qual você está dando dinheiro para ele direto para financiar a morte de animais, eu não compro. Quem defende isso é os veganos estratégicos, eles acham que a gente tem que comprar dessas grandes empresas, mas não tem como, por exemplo, a Unilever quer fazer um hambúrguer plant-based, a gente não sabe se foi testado porque eles tem ratos que eles mesmos criam em laboratório, inclusive espécies que eles criaram. Até o hambúrguer plant-based deve ter passado por esse processo. Segundo que eles fazem parte de indústrias que desalojam rios inteiros, poluem o ambiente. Então, mesmo o hambúrguer sendo plant-based, você já vai estar financiando esse tipo de coisa, então, eu não compro. Eu prefiro pegar um pacote de lentilha por quatro reais, cozinhar, bater com a farinha de trigo e fazer um hambúrguer de lentilha que fica maravilhoso e é muito mais barato. Você não paga vinte/trinta reais em hambúrgueres ultraprocessados, porém alguns industrializados às vezes compro, quando estou na rua, um suco. Tudo na medida do possível e praticável.
O futuro é vegano? Sim, acho que a gente tem grandes chances de… se não acabar o planeta, vai ter que ser. Ou é um ou o outro. Ou o planeta inteiro vai ser destruído ou a civilização vai ter que se adequar nessa produção que ela faz com os animais da natureza. Então, ou acaba o planeta ou o ser humano com o vírus, essas limpezas acontecem e aí a natureza vai se erguer ou a gente vai ter que se apropriar.
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O que eu falo para os outros é que ser vegano às vezes não é uma questão de ser bonzinho “ah eu sou bonzinho e vou salvar os animais” numa visão do homem salvador. Mas, uma questão de sobrevivência da nossa espécie também, a gente vive em um planeta. Precisamos desse planeta, das outras espécies, conviver e saber isso. Então, acredito que nesse sentido o futuro tem que ser vegano sim.
Entrevista 3: Thaís Fontes - Vegan Brazuca Entrevista via Skype realizada em 01 de setembro de 2020.
Quanto tempo tem a Vegan Brazuca?
Agora está fazendo dez meses, é uma micro empresa em um micro tempo. Nesse processo, o Instagram veio primeiro para a gente fazer um mapeamento aqui da região para ver se iria ter uma aceitação legal, se iria ter um público vegano. Para minha surpresa, eu tive uma resposta muito boa. Nos primeiros dias, várias pessoas entraram em contato comigo falando “Nossa que legal!”, “Urgente vir mais opções veganas para zona leste” e foi o que deu gás para a gente colocar na plataforma do Ifood, porque até então a gente iria fazer só as opções de congelados para entrega no metrô e tudo mais.
Quantas pessoas são veganas na empresa?
Eu o meu marido, que não é vegano.
E você é? A quanto tempo?
Eu sou vegana. Na minha trajetória e vou começar falando só um pouquinho, faz 12 anos que eu parei de comer carne total seguindo o vegetarianismo e no veganismo já estou há quatro anos.
Nesse período, você era ovolactovegetariana?
Durante estes 12 anos eu fiquei como ovolactovegetariana e agora nos últimos quatro anos eu estou vegana total. Com certeza não é fácil. É um processo diferente para
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cada um é um processo delicado e interno. Acho que quando a gente tem uma família temos algo cultural muito presente nesse consumo de animais, é muito difícil a gente se desprender, não só para a nossa própria escolha. Mas, eu acho que essa sociedade influencia muito esse impacto grande que é o veganismo.
Como foi esse processo? O que fez você querer mudar?
Então, com 12 anos. Na verdade, desde pequena, eu sempre tive muito problema pra comer. Eu sempre fazia acompanhamento com nutricionista e endocrinologista desde criança e minha mãe não sabia o que era essa minha seletiva. Eu era muito seletiva na comida, mas a gente não sabia o que era. O arroz e feijão era ok, mas toda vez que tinha alguma carne alguma coisa assim era um processo muito doloroso. Eu tenho uma memória bem difícil desse meu processo de alimentação com a família para que meus pais não sabiam, eles tinham medo de anemia dessas coisas, que eu já tinha tido quando criança e toda refeição que eu tinha era com um chinelo do lado em cima da mesa literalmente e eu só poderia sair da mesa depois que eu comesse tudo isso. Se não comesse era chinelada, era um processo bem cruel. Com 12 anos, minha mãe me levou a um psicólogo para ver o que era. “Nossa, porque essa menina não come?” e aí eu fiz terapia a cada 15 dias ou um mês, eu não lembro como era essa rotina, mas eu fiz dos 12 aos 15. E somente aos 15 anos eu descobri que minha seletividade alimentar era a questão da carne. Eu lembro que a psicóloga na época se chamava Renata e era bem claro para mim: “Thaís, você conhece qual é o processo da carne chegar até o seu prato?” e eu falei “Ah, eu nunca tinha parado para pensar nisso. Sei que deve ser uma coisa bem cruel, mas eu nunca peguei pra ver”. Então, ela me passou como exercício e disse “chega em casa hoje, eu vou te passar um documentário que foi o ‘Terráqueos’, depois que você assistir, a gente volta para a próxima sessão e você me fala o que você sentiu e percebeu”. Nos primeiros 15 minutos até me emociono assim de falar porque foi tudo o que eu passei da minha infância de não querer comer e tudo mais. Eu vi no documentário o que é que era e despertou novamente a minha sensibilidade e respeito aos animais que para mim não existia e era totalmente normal. A minha família inteira come carne e nunca houve essa discussão dentro de casa, de saber que aquilo que a gente estava comendo já tinha sido um animal, ele tinha tido uma vida.
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Eu assisti o terráqueo naquele dia no mesmo dia eu já assisti um monte de outros vídeos na época no YouTube e chorando muito e chocada. Foi um processo bem doloroso, porque eu chamei meu pai e minha mãe e eu falei: “Faz três anos que eu faço terapia e hoje eu descobri o que é a carne que eu como, o que é essa alimentação que vocês trazem para mim”. Eu sou de uma família espírita e o meu pai tinha essa consciência da crueldade animal, mas nunca foi passado pra gente esse respeito. Meu pai e minha mãe viram que era isso mesmo, da carne mesmo. Com uns 15 anos, lembro que foi até próximo do meu aniversário, eu voltei para psicóloga e minha mãe foi junto comigo. A psicóloga deu a certeza que o processo mesmo era esse. E minha mãe aceitou, meus pais aceitaram com a condição de fazer um acompanhamento anual. No começo foi a cada seis meses, eu ia no nutricionista e no endócrino fazer exames, porque era algo muito novo para minha família. “Nossa, mas você vai ficar sem nutrientes, sem proteína”. Mas, eu fui aceita sim na minha escolha. Meus pais foram abertos assim para reconhecer essa minha escolha e essa indiferença que eu carregava comigo desde pequena e a gente não sabia o que era. A partir daí, foi só alegria. Eu fui descobrindo cada vez mais os direitos e a ética animal. Com 16 pra 17 anos, eu fui bem ativa no ativismo vegano aqui em São Paulo, fazia parte de uma ONG chamada ArtVeg e também na ONG Veddas, não sei se você conhece. O ArtVeg não está mais ativo hoje, mas o Veddas é um grupo bem forte. Com esse processo, eu acho que consegui atingir bastante gente na minha família. Hoje, eu consegui despertar um respeito maior com os animais levantando essa discussão para dentro de casa. Acho que é basicamente isso, o processo que eu ingressei no vegetarianismo no veganismo. Há quatro anos, quando eu decidi pelo veganismo real de escolher por marcas que não exploram os animais foi no processo quando eu saí da casa dos meus pais, quando eu comecei a morar sozinha. Eu tinha autonomia do que eu queria comprar e o que ia entrar dentro da minha casa ou não, não ia ter ninguém falando de tal produto por ser vegano não era tão bom quanto aquele não vegano. E foi mais fácil. No meu caso, para o veganismo.
Você falou que dá aula. Você é professora, do que? Você atua na alfabetização?
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Eu sou pedagoga e dou aula para educação infantil. A alfabetização mesmo é a partir da pré-escola. Na alfabetização, eu tenho um aluno com Síndrome de Down que eu faço reforço, mas é a parte, e faço letramento com ele também.
Como veio a ideia de abrir o negócio? Como surgiu o Vegan Brazuca?
Pandemia, tempos difíceis. Eu trabalhava antes da pandemia numa escolinha de educação infantil de manhã e à tarde numa casa de brincar com o apoio pedagógico e recreação. Com a pandemia, eu fiquei só na escolinha de educação infantil e a Casa de Brincar simplesmente fechou as portas, não ia ter como a gente fazer algo remoto, assim para que os pais continuassem pagando. Então, meu contrato foi simplesmente cancelado. A nossa renda caiu pela metade e as contas não param. E eu sou muito do Ifood, de final de semana eu quero comer alguma coisa diferente, já sou adepta aos aplicativos sim. Eu sentia falta muita falta de ter alguma coisa de besteirinha de comer, uma friturinha gostosa. Eu piro em coxinha e em salgadinho. É muito difícil achar algo realmente vegano e que seja saboroso, gostoso. Eu tenho uma mão boa para cozinha, sempre recebi vários elogios de empreitadas que eu tento fazer, veganizar algum prato ou alguma coisa assim. Surgiu da minha família o questionamento: “Por que você não tenta fazer alguma coisa para vender por fora alguma coisa diferente, que você sente falta?” e me veio a ideia dos salgados veganos. Meu maridão, uma pessoa super parceira comigo, ele me deu total apoio, a gente confiou e começou a fazer vários testes. Chamei o pessoal vegano para cá e a gente foi experimentando e tendo uma resposta bem bacana. Abri meu CNPJ, entrei em contato com a plataforma do Ifood, foi um processo bem simples, dentro de um mês mais ou menos, eu já estava com Ifood funcionando e estou tendo uma resposta muito boa sim graças a Deus, de feedback. Claro que é uma correria é algo bem diferente do que eu estou acostumado a fazer, mas eu acho que levar ao veganismo acessível para a Zona Leste está sendo um incentivo para mim. O momento difícil que a gente está vivendo está salvando minhas contas e vamos embora, até a hora que der certo.
Qual foi a ideia do nome Vegan Brazuca?
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Eu sou meio patriota, mas eu sou fora Bolsonaro, sou antifascista. Desde pequena, eu sempre fui da natureza, fadinha da natureza e acho que não existe lugar no mundo como no Brasil desde a cultura, e em questões de biomas, belezas naturais e a comida. Acho que a gente não consegue explicar essa mistura louca que a gente tem na comida brasileira. E veio Vegan Brazuca de colocar o tempero brasileiro no veganismo. Acho que foi mais por essa ideia que eu fui para o nome.
Como são feitos os salgados? Eu vi no cardápio que tem frango e calabresa. Você usa alguma mistura que compra em algum lugar ou faz em casa?
Todas essas opções de frango e calabresa são todas opções que são feitas a partir de proteína texturizada de soja. E hoje, eu compro todos os meus ingredientes das coxinhas, eu compro na zona cerealista. Lá eu consigo achar o frango vegetal e a calabresa vegetal, que faço a partir de proteína de soja sabor bacon é um granulado, que parece até ração de gato. Depois que a gente deixa de molho lá na água, ela fica super saborosa e bem gostosa. A minha base vegana é de carne vegana, é a proteína de soja e os brócolis e eu faço com os legumes, mesmo.
O que você acha de produtos veganos que foram ultraprocessados?
Eu acho bem ruim. O que a gente entende de comida vegana, a gente tem em mente que comida vegana é planta, não tem que ter aditivo químico, conservante, etc. Mas comidas veganas ultraprocessadas, já me salvaram várias vezes na hora da fome ou determinada viagem que a gente faz e não se organiza certinho. É complicado. Hoje, infelizmente, a gente tem mais opções ultraprocessadas veganas do que opções naturais e é muito triste. A gente come plantas, legumes e verduras, e não precisamos misturar todos esses venenos químicos que tem nessas grandes empresas.
Então, você acha um problema consumir marcas que também usam do sofrimento animal?
Sim, por exemplo, a Sadia que a gente tem o vegano e a Seara que tem agora o vegano também. O veganismo não está presente só pela causa animal. A gente tem o
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veganismo pelo planeta, a gente tem o veganismo pelos direitos animais e mais a gente tem um veganismo anticapitalista também. Ele pode separar isso. Essas empresas que exploram animais há anos e ainda vão continuar explorando animais há anos, dominar esse mercado vegano nas prateleiras dos supermercados é algo bem assustador. Você se depara com uma maionese dito vegana da Hellmann's, por exemplo, que é fruto de uma empresa da Unilever, uma das empresas que ainda fazem testes em animais, que são cruéis e desnecessários. Porque hoje a gente já tem comprovações científicas que testes in vitro são muito mais eficazes do que testes em animais, mas por ser mais barato e não ter leis tão rigorosas, eles ainda continuam acontecendo. Eu acho uma problemática bem grande, colocar na mão dessas empresas que exploram tantos milhares de animais todos os dias é colocar ainda como opção a melhor opção no mercado. Eu acho que é bem triste.
Mas você consumiria se fosse outros ultraprocessados de empresas que só trabalham linha veganas?
Hoje meu consumo eu não opto por empresas que exploram animais, essas opções de supermercados para mim não fazem parte da minha alimentação. Eu acho que a gente não pode negar a porta de entrada que é o acesso ao veganismo que essas empresas estão fazendo. Os comerciais de TV, que a gente vê. Hoje, por exemplo, o Burger King que tem a carne do futuro teve aquela “explosão” do comercial. Eu acredito que é uma porta de entrada para fazer uma divulgação do veganismo levar estas opções para mais pessoas, mas infelizmente essas empresas não são acessíveis. É muito caro você comprar um hambúrguer da Sadia, a última vez que eu vi no mercado, dois hambúrgueres eram 22 reais. É muito absurdo. .
É bom até certo ponto, é bom que você tem uma certa comodidade de você
comprar um negócio já pronto a preparar, mas tem que ver outros quesitos, é uma carne processada, com aditivos químicos que a gente não sabe de onde veio, é bem complicado. Não sei se você conhece o perfil da ‘Logo Eu Vegana Pobre’ da Caroline, eu vou te mandar o perfil dessa menina. Ela é de Guarulhos, ela é vegana daquelas que boicotam até pessoas tóxicas. Eu acho o discurso muito bacana e muita gente fala “Nossa, você é
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muito radical na sua escolha. O veganismo não tem que ser radical” e eu compactuo com a ideia de que o veganismo precisa sim ser radical. A gente está lutando por vidas, a gente tá lutando por direitos. Por exemplo, eu não sei se você conhece o Vegetarirango que tem um canal no YouTube, ele faz umas receitas, aquele de dread. Ele é super famoso. Eu já tive várias discussões com ele pelo Instagram porque ele enche a boca para falar da maionese vegana é Hellmann’s. Ele a coloca como vegana, mas não é, porque é fruto de uma empresa que explora animais. Então, ele não pode vender essa ideia de vegano, mas muitas pessoas que não tem essa visão tão radical do veganismo, começar a deixar de comer é normal com ovos começar a comer a Hellmann’s sem ovos. Quem sabe pode ser uma porta de entrada para a pessoa se tornar vegana também. Eu acredito que pode acontecer também. É um termo que existe em vários lados.
Você acredita que o futuro é vegano num cenário que o agronegócio cada vez mais vai se expandindo ainda mais com a pandemia?
Eu acredito que o futuro é vegano. Por todo esse trajeto que eu tenho desses 12 anos dentro desse universo vegetarianismo e do veganismo. Há 12 anos, eu lembro de chegar em qualquer lugar, eu comia queijo e ovo normal. Eu chegava em uma lanchonete e falava “Você pode fazer um X-salada, sem o hambúrguer pra mim, só com o ovo?”, as pessoas davam risada. “Nossa! Mas sem carne? Como assim?”. Aí chegava para mim, um lanche com mortadela e presunto, a pessoa ficava com dó. “Nossa, mas você vai comer só isso? Não vou colocar…” Eu vejo algo totalmente diferente hoje, porque é uma aceitação muito melhor. Lembro que na minha família era algo muito “Nossa! Da onde você tirou isso, Thaís? Nada a ver. É só você não pensar no bicho”. Hoje, as mesmas pessoas da minha família que me criticavam falam “Nossa, Thaís. Hoje, eu tiro o chapéu para você! Porque faz tanto tempo e às vezes conversando com você...”, ou em determinada postagem nas redes sociais passa perceber. Dentro desses meus 12 anos nessa caminhada pelos animais, no meu círculo de amigos, trabalho e família, no total até hoje foram oito pessoas e através de mim que deixaram de comer carne. Então, olha o papel que eu tive nessa sociedade e na humanidade. Oito pessoas que através de conversas comigo e por curiosidade pararam de
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comer carne, dessas oito pessoas apenas duas são vegetarianas estritas, o restante são ovolactovegetarianas. Uma dessas oito pessoas tem uma mamãe, ela já está com dois filhos e a dieta deles também é sem carne. Eu posso ampliar para dez pessoas também. Eu acredito no futuro vegano sim, acho que depois dessa pandemia, a gente começou a perceber que todas essas outras pandemias já tiveram sempre foram causadas o consumo de animais. Então eu acho que as pessoas estão parando para pensar. Eu acho que esse debate das queimadas da Amazônia, está vindo muito à tona. As pessoas estão começando a ficar mais sensíveis. Claro que eu não vejo futuro vegano sei lá daqui 20 anos, eu acho que vai demorar mais tempo, o despertar é lento, mas ele acontece. A gente tem que acreditar sim. Todos os lugares que eu ocupo e tem um momento de fala pra levar a questão do veganismo, eu sempre tento levar. É um jeito de levar um amor também, porque no começo era bem cruel e ela era aquela que no churrasco ficava falando “Nossa, você tá comendo carne?”. Hoje, eu sou mais tranquila e tento levar no amor, na conversa, no diálogo. Enfim, eu acho que o futuro é sim, mas é um futuro lento.
Entrevista 4: Ana Clara - Canal Veganinha Entrevista via Skype realizada em 02 de setembro de 2020.
Por que você começou o canal?
A primeira vez que eu ouvi falar vegano sabe o que eu conheci, fiquei sabendo o que era veganismo foi quando eu estava em casa, eu adorava assistir um programa que se chamava “Fábrica de Casamentos” no SBT e nesse dia que a gente estava assistindo toda a minha família tinha um casal que eles eram veganos e queriam uma festa totalmente vegana, então foi aí que eu ouvi um pouco sobre isso, mas depois eu falei assim: “Vegano, legal, mas eu quero continuar comendo carne”. Dois anos depois, meu pai, ele fazia faculdade de direito e foi em uma palestra fotografar, meu pai também é fotógrafo, nessa palestra tinha quatro pessoas e um dessas quatro pessoas era a Day que é vegana e ela ia falar sobre o veganismo sobre como o veganismo pode ser barato comendo frutas, legumes, essas coisas, ela também é dona da conta Caruru Verde no Instagram, eu conheci e gostei um pouco disso”. Comecei a procurar mais, a minha família também se interessou, meu pai se interessou, minha mãe e daí a gente começou a conversar muito sobre isso.
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Um dia eu virei e falei assim “Mãe vamos passar uma semana sem comer carne, só para ver se a gente consegue?” A gente anotou a data do dia 13 de dezembro e aí passou uma semana e quando passou uma semana eu falei: “Eu não quero mais comer carne não, nem leite, nem ovos, também não quero mais usar nada de origem animal” nessa uma semana eu também assisti o documentário “Terráqueos” e “Cowspiracy” e vários documentários junto com a minha mãe e desde então eu virei vegana, muitos dos produtos que eu usava já eram veganos então eu não tive que jogar produtos fora porque a maioria já eram veganos.
O que te motivou a ir por esse caminho?
Bom, a minha mãe desenvolveu gordura no fígado, então daí a gente teve que ter uma alimentação muito mais saudável, porque antes da minha mãe ter isso a gente era Coca-Cola de refrigerante todo dia de manhã, de noite, durante o almoço, só tinha arroz e feijão em casa no nosso prato. Então, a gente parou de comer gordura e passamos a comer muito menos carne e muito mais variedade de legumes, embora eu não gostasse, mas nessa época a gente comia mais por causa disso [a doença], e por isso que eu queria saber mais sobre alimentação saudável, eu procurei e vi que não comer carne pode ser extremamente saudável para esses problemas. Também vi o documentário “O que é Saúde”, que fala sobre saúde, não comer carne como melhora em tudo e foi nisso que eu procurei mais sobre saúde por causa da minha mãe, foi sobre isso.
Com essa dieta que vocês começaram a fazer comendo mais legumes, sua mãe melhorou?
Minha mãe melhorou, mas tem três estágios desta doença, o pior, o médio e o não tão, não sei como eu posso te explicar, ela estava no nível três e ela foi para o nível dois, mas agora ela ainda está fazendo essa dieta para conseguir melhorar totalmente.
Quando você decidiu não comer mais carne sua família te apoiou? Assim, todos ficaram preocupados, meu pai e minha mãe disseram assim: “Ana Clara, você tem certeza disso? Você pesquisou direito sobre, se isso é realmente
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saudável?”, eles ficaram preocupados e também porque eu amava carne, eu era muito fã de carne, mas eu falei que tinha certeza disso que eu não queria comer carne e eles super me apoiaram na decisão e me ajudam ainda. Com meus parentes, meus primos, tios e avós, foi um pouco mais complicado não posso dizer que eles tenham me proibido ou falado mal, mas eles fizeram muitas piadas, eles falavam assim: “Ana Clara, você não vai conseguir fazer isso, é só uma fase”, mas mesmo assim eles me apoiaram, mesmo eles falando e falam até hoje, mas me apoiam, super de boa, me ajudam, fazem comidas veganas para mim agora e é muito legal.
Como está sendo esse processo? Eu vi que você não fez transição nenhuma, você acha que é mais fácil?
Eu acho que no começo foi muito difícil, assim em alguns momentos, mas hoje eu posso falar que foi uma das melhores decisões da minha vida, o veganismo, virar vegana foi uma das primeiras decisões da minha vida, mas ser vegana para mim é maravilhoso é revigorante, ter o canal é uma coisa maravilhosa porque eu tenho pessoas que estão me ajudando me acompanhando o Fábio Chaves, uma pessoa que eu sou grande fã, já fez um vídeo comigo e eu estou muito feliz com meu canal, como ele está crescendo cada vez mais, as pessoas querem me ver e é maravilhoso, fico muito feliz.
Indicaria para as pessoas cortarem tudo de uma vez?
Eu digo para as pessoas conhecerem a si e como elas querem fazer isso, eu senti que eu queria tirar logo tudo porque eu não estava aguentando esse peso, mas se você ver que não vai conseguir tirar tudo de uma vez, eu acho que eu não posso dizer “tira tudo de uma vez”, “Não transita”, eu acho que tem que se conhecer e reconhecer seu tempo e ser paciente, é isso que eu digo para as pessoas que elas têm que conhecer o seu próprio tempo e não porque uma pessoa disse, isso é muito importante.
Falando um pouco sobre o seu canal, como foi a ideia do canal foi apenas para registrar sua jornada no veganismo ou você já pensava em ter um canal antes?
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Esse canal o “Veganinha” ele já existia, só que tinha um outro nome que era “Canal da Clara” nesse antigo canal eu falava sobre fotografia, eu desde pequeno estudo muito fotografia porque tanto meu pai quanto minha mãe são fotógrafos. Acho que eu tinha uns 8 anos, eu era muito pequena, só fazia isso por diversão, mas a ideia do canal “Veganinha” sobre veganismo veio do meu pai, que falou assim “Porque você não faz um canal sobre veganismo, mostrando sua jornada no veganismo?” e isso foi quando eu tinha quase um mês, não tinha feito um mês ainda. Eu pensei se eu tinha certeza de que queria fazer isso, eu pensei muito e falei: “eu quero fazer isso”. Então, a gente começou a gravar vídeo, no começo foi bem improvisado, porque eu não tinha cenários tão bons, a gravação dos meus vídeos não era tão boa, mas a gente “tá aí até agora”. Eu não sabia que eu iria ter tantos inscritos, eu nunca pensei em chegar em mil inscritos tanto no Instagram quanto no canal e “tá indo o canal”.
Você tem acompanhado a média de idade do seu público tanto no Instagram e no canal, são pessoas mais velhas que falam “parabéns” ou são pessoas da sua idade que olham para você e meio que você se torna uma inspiração para eles, você tem uma ideia mais ou menos assim?
Eu sempre vejo as estatísticas de todas as minhas redes sociais e o meu maior público é entre 17 e 28 anos, são pessoas mais adultos, mais velhos que eu, meu segundo público são pessoas de 11 a 15 anos e o terceiro são pessoas de 30 para cima, mais ou menos isso.
Pessoas da sua idade tem te procurado para falar alguma coisa, que estão no caminho que você está ajudando de alguma forma?
Sim eu percebi, eu fiquei muito feliz que meus amigos despertaram grande interesse pelo veganismo. Eu vou falar de uma pessoa em específico, duas na verdade, são duas amigas, uma tem 12 anos, que é quase da minha idade e a outra tem 17 ou 18 anos. A minha amiga de 12 anos, ela despertou o interesse pelo vegetarianismo, então eu conversei muito com ela sobre transição, porque ela disse que não conseguiria de uma vez só, igual a mim. Então eu dei umas dicas de transição para ela, daí tudo bem, porque
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o problema é a família que não aceita isso e por esse motivo ela não pode parar de comer carne porque os pais dela não aceitam de jeito nenhum. O que eu posso dizer da minha segunda amiga é que ela tem muito apreço no veganismo, inclusive está caminhando para parar de comer carne, mas ela também tem um grande problema com a família dela, são pessoas que a família tem um grande empecilho nisso, mas eu tenho dado dicas de como conquistar as pessoas e as coisas estão caminhando para poder parar de comer carne.
Você acha que é uma pessoa privilegiada pelo seus pais te apoiarem?
Eu acho que foi sorte, eu acho que isso foi muita sorte, meus pais sempre foram muito abertos a todas as decisões, opiniões e quando eu virei vegana eu vi que na maioria das vezes isso não é a realidade de todo mundo, mas eu acho que eu tenho grande sorte por ter pais maravilhosos, por ter uma família maravilhosa que me apoia, eu sinto muito pelas pessoas que não têm o mesmo apoio que eu tenho.
Você já consumiu comida vegana industrializada e ultra processada? Gostou?
Eu já provei algumas coisas, eu já provei o queijo vegano da Superbom, eu já provei almôndegas do futuro, o hambúrguer da Seara, salsicha vegetal e o frango vegetal da Superbom, eu posso falar assim que a almôndega, o queijo vegano e o hambúrguer da seara são maravilhosos, eu gosto muito, embora eu não consuma muito porque é muito caro, eu posso dizer que o frango ele é bom, porém eu não gosto de comida com muito sal e tempero e foi assim uma coisa que tinha muito no frango vegetal da “Superbom”, o que eu posso dizer da salsicha vegetal é que ela não tinha tempero então não tinha gosto, o que eu compraria de novo seria o queijo, a almôndega e o hambúrguer.
Tem problema para você consumir produtos de empresas que também lucram com sofrimento animal? Você acha que tem problema ou não consumir essas marcas? Você tem comprado/consumido produtos de marcas que só tem produto vegano?
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Assim, é, eu tento na maioria das vezes optar por uma marca vegana, porém às vezes mesmo eu sendo vegana eu tenho vontade de comer carne e onde eu moro, eu moro na zona oeste do Rio de Janeiro, então aqui produtos de marcas totalmente veganas é muito difícil encontrar porque aqui é a zona oeste, e a coisa mais perto que eu tenho de mim é esse hambúrguer da seara, porém eu tento evitar ao máximo porque eu sei que é uma empresa que lucra com o sofrimento, e eu falo para as pessoas se elas puderem pegar uma marca vegana, recomendaria uma marca vegana, porque eu acho que é melhor, mas pra mim não é uma regra e não é um problema, e você não se torna menos vegano por estar consumindo esse produto.
Como você vê o futuro do canal, porque é um canal que não tem um ano e tem mil inscritos, você é a queridinha de grandes influencers, como você vê o futuro de todo seu sucesso repentino?
Nossa, isso pra mim é muito novo, porque eu nunca pensei que eu ia chegar tão longe e que uma pessoa como o Fábio Chaves, por exemplo, iria me notar um dia ,então, mas eu não sei o que será do futuro, porém eu pretendo que mais pessoas conheçam meu canal, mais pessoas não veganas,, crianças e adolescentes da minha idade conheçam meu canal e conheçam o veganismo, conheçam esse mundo maravilhoso do veganismo do vegetarianismo e eu espero que chegue mais pessoas não veganas.
Para você o futuro é vegano? Eu acho que isso ainda vai demorar um pouco, porque o veganismo que eu vejo ele só está crescendo agora, o veganismo por mais que já exista a um tempo, porém é agora que outras empresas como Outback e Burger King estão colocando no seu cardápio comidas a base de planta, então eu quero muito que o futuro seja vegano, mas eu acho que isso vai demorar um pouco. Ana você está com treze anos agora né? Exato, 13.
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Você começou com 12 e agora está com 13, quando você fizer um ano de vegana, você vai fazer uma festa para comemorar? Porque querendo ou não é uma grande conquista para você. Com certeza vai ser uma grande conquista, e eu quero comemorar, com certeza eu quero comemorar em algum lugar vegano, eu não sei o que eu vou fazer, mas com certeza eu vou comemorar, eu vou fazer um vídeo no meu canal de agradecimento e com certeza eu vou comemorar seja festa, seja em algum lugar, seja um bolo vegano, chamar meus amigos. Você acha que você tem influenciado seu pai e sua mãe? O que você acha que falta para eles seguirem o veganismo ou ovolactovegetariano? Bom, eu tenho influenciado muito a toda minha família, meus pais, meus avós, meu irmão, tenho influenciado todo mundo, mas eu acho para minha mãe e meu pai é muito mais difícil, porque eles são mais velhos, então eles estão a muito mais tempo nessa cultura de comer carne, então para ambos é muito mais difícil, embora eu posso dizer que para o meu pai é muito mais fácil não comer carne, inclusive meu pai já conseguiu ficar quase 2 meses sem comer carne sendo ovolactovegetariano, quase dois meses, para a minha mãe ainda é difícil, mas ela tenta, o meu irmão ele tem um grande interesse por veganismo, ele estuda muito isso, embora ele ainda coma carne, leite e ovos, ele também tenta as vezes, minha família eles já fizeram várias comidas veganas e provaram, no ano novo, natal eu levei comidas veganas lá para a minha família todo mundo comeu e gostou muito, então eu acho que todo mundo tem uma certa admiração e interesse em saber mais sobre o veganismo por causa de mim , então eu acho que eu tenho uma grande influência em quem está a minha volta os meus amigos também têm um grande interesse sobre veganismo e etc. Sua família por serem mais velhos têm essa cultura de comer carne, mas você acha que além disso tem mais algum empecilho? O que você acha que falta, será que eles precisam assistir algum documentário? Bom, eu posso dizer pelos meus pais que eles já são bem conscientes, é, eles já viram documentários sobre isso, só que tem documentários que são bem fortes, as imagens são bem fortes, a minha mãe, por exemplo, não conseguiu ver, mas meu pai e
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minha mãe são bem conscientes e o que impede eles é a cultura mesmo de comer carne, eu acho que entre meus tios, primos e avós, embora eu leve comida vegana para eles comerem, ainda falta consciência e também a cultura de comer carne é muito grande, principalmente por parte de mãe, eu acho que falta muita consciência das minhas tias principalmente, mas é isso aí eu tento ao máximo falar sobre o veganismo, sobre o vegetarianismo como é bom não comer carne , mas ainda é um pouco difícil.
Entrevista 5: George Guimarães Entrevista via Skype realizada em 08 de setembro de 2020.
Vi que você tem uma trajetória muito interessante e queria saber como tudo isso começou? Como o veganismo entrou na sua vida?
Eu sou vegetariano desde os quatro anos de idade por escolha própria. Eu consegui fazer a relação daquilo que eu estava comendo, que era um animal. É comum nessa fase crianças recusarem comer carne. Na adolescência toda sendo vegetariano, mas sem saber o porquê. Foi só quando escolhi a faculdade, nessa fase da vida do ensino médio que eu me interessei mais. Na faculdade, pesquisando mais sobre isso, ainda no primeiro ano, eu descobri a possibilidade do veganismo. Isso em meados de 1994, no início dos anos 90, a gente não tinha internet, não era uma coisa comum ser vegetariano e no dia seguinte descobrir o veganismo, hoje em dia não tem como fugir disso. Estudando sobre nutrição vegetariana, eu entendi a possibilidade do veganismo e logo, isso fez sentido para mim. Foi por essa deriva da saúde no sentido de que eu estava olhando para a nutrição, mas logo, eu tive contato com outros aspectos.
Você teve influência da sua família?
Não, minha família consome carne até hoje. Não teve nenhuma influência neste sentido, eles tentaram me fazer desistir disso. Pelo contrário, é uma criança que resolve ser vegetariana nos anos 70, não teve muita aceitação, mas simplesmente eu não aceitava a carne.
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Como nutricionista, qual é o perfil dos pacientes que vêm até seu consultório? O que eles buscam? Eles já estão em transição ou são curiosos e querem tentar?
Eu atendo só vegetarianos ou pessoas em transição mesmo para vegetarianismo e ou veganismo. Esse público se divide entre os que querem ser vegetarianos, que tomaram essa decisão, mas só querem fazer a mudança depois de se sentirem mais bem informados, mas já estão convencidos dessa escolha. Tem os que já são e querem melhorar, tem gente que é vegetariano e vegano há cinco anos há dez anos, mas nunca organizou a dieta de maneira mais direcionada e querem se organizar só organizar isso, sem problemas de saúde, e uma parcela pequena que são pessoas com questões de saúde nutricionais. Pode ser um vegetariano diabético que está com uma carência, uma anemia, por exemplo. E claro isso inclui outro grupo também que seriam gestantes e crianças pequenas que estão ali realmente buscando uma orientação para aquela fase da vida.
Para quem têm algum receio de fazer uma dieta vegetariana, o que você pode falar para essas pessoas?
O meu trabalho no consultório não é convencer ninguém a ser vegetariano, até porque a pessoa não chega do nada. Meu consultório está claramente divulgado como consultório de nutrição vegetariana. Ela não chega lá falando “Eu só vim aqui para perder peso, não sabia que era vegetariana a orientação”. Mas algumas pessoas, elas veem isso com uma insegurança. “Eu quero, mas a partir dessa conversa que eu vou saber se é seguro e aí eu vou fazer a transição”. Em geral, tudo o que essas pessoas estão precisando é de informação. Elas estão buscando informações, esclarecer as dúvidas delas. Pode ser “Estou com medo de uma carência nutricional”, por exemplo. A partir daí eu não vou tentar convencê-la a ser vegetariana, mas vou tentar esclarecer as dúvidas que ela tem, que possam segundo ela estar impedindo-a de se tornar vegetariano/vegana. Já uma outra área de atuação minha, que aí já é com a ONG Veddas, que eu fundei em 2006 e dirijo até hoje, já é um trabalho mais de difusão do veganismo de divulgação dos direitos animais, de trazer as pessoas para isso. Mas é outro uniforme.
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Como foi a ideia de fundar a ONG? Qual o trabalho que vocês fazem? É só difundir o veganismo ou tem algo além disso?
Minha adesão ao veganismo lá em 94, veio junto já com um impulso, uma vontade de divulgar isso, ou seja, a sensação de não basta eu estar fazendo isso, mas eu quero que as pessoas também saibam disso, porque afinal é melhor para a saúde. Depois com a questão ética, isso se torna mais importante ainda para um vegano, porque se eu estou fazendo isso pelo bem estar dos animais, então eu não faço mais parte do problema. Mas, uma pessoa desinformada do meu lado também está causando esse mesmo sofrimento, que eu quis evitar a partir da minha prática individual. Então, a gente quer começar a informar as pessoas para que elas possam tomar a sua decisão. Então, passaram-se 12 anos praticamente, na época, tínhamos muito poucos veganos em São Paulo e no Brasil um como todo, mas a gente conseguia fazer algumas ações pequenas, desde distribuição de alimentos veganos na rua até um protesto com dez pessoas era umas coisas assim. Com isso, se formava alguns grupos que eram bastante efêmeros e acabavam sumindo depois de um ou dois anos, fenômeno que acontece até hoje, muitas vezes. Fato que nenhum deles se consolidava. Até que nos anos 2000, começaram a aparecer grupos que duravam mais. Eu passei por alguns, coordenei alguns com pessoas que estavam ali atuando também em São Paulo, tanto adquirir quanto expressar uma identidade na forma de ativismo. Só que não cabia a forma de ativismo que a gente queria fazer nos grupos que eu estava representando tanto nacionais e internacionais. Então em 2006, fundamos o Veddas, que só se tornou ONG mesmo oficialmente em 2009, mas formamos um grupo que experimentamos durante três anos. Então, a pergunta era da onde surgiu!? Surgiu junto com a descoberta do veganismo, passa por uns nove anos de experimentação até ter uma clareza de uma identidade e uma vontade que algo mais focado, organizado, e estamos há 14 anos já.
Nesta semana a cantora Miley Cyrus deu uma entrevista relatando que deixou de ser vegana, pois segundo ela se sentia desnutrida e teve que acrescentar
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peixes e ômega 3 porque seu cérebro não estava funcionando direito. Isso é comum? Se não, como evitar?
Não fiquei sabendo desse caso específico, não sei quem é a cantora/atriz que você mencionou. Mas não é a primeira vez que isso acontece, inclusive na ONG, por exemplo, a gente tem uma coisa de não usar celebridades como referência para divulgar o veganismo. Do tipo “fulano é vegano” de uma maneira que seria a intenção da pessoa se identificar com aquilo. “Meu ídolo é vegano, mais um motivo para eu ser”. Porque é muito comum eles deixarem de ser, fazem aquilo por moda, não por convicção ou tem prioridades ou outra qualquer que seja. É sempre um risco a gente atribuir celebridades ao veganismo, legal que eles sejam, mas usar isso como referência e como um impulso falando “fulano é vegano”, talvez os fãs dele também façam essa mudança. Só que quando ele deixar de ser, também talvez deixem de ser, então não é o melhor caminho e nem estratégia. Agora, o que precisa ter clareza e acho que sua pergunta já compreende isso é que o erro não é do veganismo, mas sim da pessoa que está praticando. Porque a sua pergunta foi como, o que fazer para resolver isso, ou seja, o que o indivíduo tem que mudar já que foi ele que fez algo errado. Para evitar e prevenir. Então, uma dieta 100% vegetal é possível em qualquer fase da vida, gestação, terceira idade, atleta, criança pequena, etc. Ela é viável do ponto de vista nutricional, o que pode mudar é a prática. Se a pessoa faz direito ou não. Não tem só uma maneira de fazer direito, então não há uma fórmula única. “Faz assim, se não vai dar ruim”, mas tem algumas maneiras de fazer certo e também tem algumas maneiras de errado, ou seja, de cuidar da nutrição. Você citou que ela disse, por exemplo, que não está obtendo ômega 3, a gente resolve selênio como suplemento do tipo que vem em cápsulas ou adicionando alguns alimentos ricos em ômega 3 na dieta. Para não chegar a precisar do suplemento, por exemplo, o óleo de linhaça e óleo de chia são muito ricos em ômega 3. É possível ser vegano sem usar óleo de linhaça nunca? Sim, mas é uma segurança que você coloque tendo ficado deficiente, ela comer peixe, que seria uma carne rica em ômega 3, dependente de qual peixe rico em ômega 3, não vai trazer isso mais rápido do que ela tomando comprimidos de ômega 3, vai corrigir mais rápido que comendo peixe.
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Então, uma desculpa meio ou desinformada ou esfarrapada, porque ela corrigiria isso fácil. Eu não sei o que ela atribuiu o cérebro a funcionar direito, da maneira que você colocou, mas se ela falou de um sintoma de fadiga ou de falta de atenção, talvez este seja o cérebro não funciona direito, isso pode ser um sinal de deficiência de ferro ou de vitamina B12, ambos também viáveis de serem prevenidos. O ferro está em alimentos nas sementes, como as leguminosas, família do feijão e as oleaginosas, que são as castanhas e amêndoas, essa família da semente que tem mais óleo. Também está nos vegetais verde escuros, quanto mais verde, mais escuro, mais ferro, e nas frutas são os principais alimentos também. Com tudo isso, a gente tem sempre a falta de ferro. Se a pessoa tem uma dieta de farinha refinada, açúcar, muito álcool e uma variedade ínfima de vegetais, como alface, tomate e pepino, não vai estar como uma porta de ferro. A vitamina B12 e a suplementação são sempre uma estratégia a garantir na sua suplementação. A pessoa vai gastar 100/150 reais por ano com suplementação ou talvez menos, são 12 reais por mês e resolve essa única questão nutricional que de fato precisa de uma suplementação não tem outra forma. Estou falando do Ferro e da B12 porque foram os sintomas que você mencionou. Se a gente for falar em proteína igualmente, a proteína está nas leguminosas e oleaginosas que eu citei antes, então a família do feijão e das castanhas, e ainda a gente completa essa proteína com cereais. Eu nem estou falando “tem que comer a proteína de ervilha, do tipo o pozinho da ervilha”. Não, a própria ervilha, o arroz, feijão, milho e a lentilha, pão com tahine, pão sírio de trigo, tahine seria a pasta de amêndoas com tofu, que é derivado da soja, portanto uma leguminosa, etc. A gente consegue incorporar facilmente os alimentos ricos em proteína, na verdade é muito difícil desenhar uma dieta vegetariana total que não tenha proteína, a não ser que você realmente pule um dos grupos de alimentos que é difícil pular cereais, leguminosas e castanhas.
Quais motivos você acha que fazem com que as pessoas abandonem, não a causa em si, mas sim a dieta?
Só uns então, a desinformação em dois sentidos, desinformação no sentido de ela não saber o que comer. Então fica perdida mesmo, acha que é um problema de saúde, ela
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sabe que ela está fazendo uma coisa errada, mas não sabe o que é, mas sabe que isso não está legal, então desiste, antes que dê algum problema. Ou a desinformação do tipo que chegou ao ponto de a pessoa ter algum tipo de problema de saúde porque ela não estava se alimentando direito. Tem ainda a desinformação que leva a se desconvencer, mas a pessoa por uma questão ética, resolveu aderir a uma dieta vegetariana, mas aí o ponto de vista de saúde está todo mundo martelando na cabeça dela, “Mas e a proteína? Mas você não vai poder engravidar, vai perder massa muscular, você vai ficar verde, etc.”. A pessoa por estar desinformada ou não consegue contra argumentar para parar a “encheção de saco”, talvez a própria “encheção de saco”, que ela nem ficou com medo, mas ficou de saco cheio mesmo, “não aguento mais ninguém me questionar”. Então, a informação poderia ajudar ela a rebater até que todo mundo parasse de perguntar, mas também a desinformação dela começar a acreditar nesses mitos que todo mundo vira especialista quando o outro vira vegetariano. A pessoa é desencorajada, ela estava convencida, mas resolve dar para trás. Outro principal motivo é quando a pessoa faz isso por moda, como ela poderia estar numa fase sem glúten, sem ter um problema com glúten, só porque está na moda não comer glúten. Algumas pessoas de fato tem o problema, experimentam e se sentem melhor, mas outras se sentem igual. A diferença é que ela pode postar receita sem glúten no Instagram, ou porque o ídolo dela tá fazendo isso, porque de alguma maneira está pegando bem, e quando esse benefício e interesse passa, também deixa de ser interessante A pessoa pode se tornar vegetariana por uma questão ambiental, porque aprendeu e é a verdade, que tem um impacto ambiental muito menor, quando você tem uma dieta baseada em vegetais, utilizando uma boa terra e bons recursos, gera menos aquecimento global. Nem fala da questão animal. Só que da mesma maneira que tem gente que está neurótica com reciclagem e depois desencana disso, porque está com outras prioridades na vida ou problemas na família ou com depressão, então, quer que o mundo se exploda. Não que todo mundo que tem depressão pense nisso, mas pode ser uma pessoa do bem que está sem ânimo para fazer nada além daquilo que ela consegue, aquilo que é o mínimo. Essa pessoa ainda vai se preocupar com o planeta, sendo que ela não está bem consigo mesma. Se ela fizer isso pelo planeta, quando ela estiver nessa fase, ela não vai poder se preocupar com o planeta e volta atrás e abandona isso.
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Em geral, as pessoas que têm mais adesão são as pessoas que fazem essa escolha por um motivo ético, porque aí é mais difícil você voltar atrás, porque é pelo outro. Você sente que se você fizer diferente, você entende que está causando mal ao outro. É mais difícil a pessoa fazer essa escolha de passar a causar mal para com os outros. A pessoa antes de ser vegetariana, dizia por inocência e ingenuidade, mas se sentia culpada porque ela não sabia. Mas uma vez que a pessoa sabe, aceita aquilo e começa a viver aquilo. Ela precisaria de um estímulo ou desestímulo muito maior pra voltar atrás, porque agora ela faz isso por causa da dor do outro e ela sabe que se ela voltar atrás ela vai voltar a causar essa dor. Os que fazem a escolha por ética tendem a ter mais perseverança.
Você acha que ser vegetariano ou vegano é caro?
Não necessariamente pode ser e pode não ser. Se a pessoa vive à base de sorvetes vegano a 33 reais o pote de 400 gramas e hambúrgueres congelados que tem uma tecnologia X que inventaram no ano passado no processamento daquele alimento e assim por diante; vai ficar mais caro. Um hambúrguer vegetariano é mais caro que o outro hambúrguer, a salsicha vegetariana também, etc. Para começar porque enquanto um hambúrguer vende um milhão e outro vende dez, então, por uma questão de demanda, mas não só por isso. Então esses produtos processados ultrapassados são luxos sem necessidades. Eles são mais caros sim, mas se você vai fazer uma dieta com arroz, feijão talvez de vez em quando o tofu, com uma variedade de vegetais como algumas frutas da época que são mais baratas, e eventualmente uma lentilha, não vai ser caro. Tudo tem dois perfis interessantes no Instagram, um é a Vegana Pobre e o outro é o Vegano Periférico. Antes elas publicavam quanto gastavam por semana para comer duas pessoas, na época era uns 50 reais. Mas de qualquer modo, eles vão ter receitas baratas ou compartilhar experiências sobre como é se alimentar de forma vegana com poucos recursos. Então é um mito que seja mais caro.
Como você vê a entrada de produtos ultraprocessados veganos/vegetarianos no mercado?
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Eu sou super a favor. Vejo com bons olhos o fato de ter mais produto no mercado. O que não é legal é a gente vincular o veganismo a necessidade desses produtos. Quando eu me tornei vegano em 94, ser vegano era sinônimo de ser quase macrobiótico, porque não tinha alimentos para incluir, nem chocolate sem leite não tinha. Era no sentido de que a pessoa está com alimentação mais saudável, mas menos processada, e era ruim porque muitas pessoas não aderiam porque precisavam de alguns alimentos processados, que estavam habituados, era mais prático, etc. Então, a pessoa sabendo escolher aqueles que gostam, dependem e vão saber colocar alguns dias da semana alimentos processados, legal! Ou que vão colocar todo dia porque são bons alimentos processados e ela pode pagar por aquilo, legal também! O que não pode é “Como vou ser vegano se na minha cidade não tem maionese vegana para vender?” ou “Como eu vou ser vegano se aqui não tem uma coisa vegana congelada no mercado?”. A pessoa cai na ilusão de que isso tem uma relação entre uma coisa e outra, mas não tem! São bem vindos esses alimentos, mas o veganismo não depende deles, são uma adição, uma conveniência, uma comodidade a mais.
É saudável consumir esse tipo de alimento todos os dias? Você consome?
Depende muito de qual alimento a gente está falando e quanto ele foi processado. Eu consumo, uma ou duas vezes na semana, quando está mais calor um sorvete vegano de potinho, que é feito com proteína isolada de soja, proteína de ervilha, pistache e outras coisas. Só por que ele é vegano posso trocar o sorvete por uma refeição? Não, o pote não teria tudo o que tem em uma refeição completa. Ele tem um teor de gordura alto como todos sorvetes de massa tem, a não ser que seja à base de frutas. Então é um luxo, mas assim não é exatamente gordura com açúcar tem umas coisas legais ali. Tem dois grãos processados ricos em proteína e pistache, que é uma oleaginosa. Não é a coisa mais trash possível e também não é exatamente uma refeição. Tem um alimento que não é novo, que é a proteína de soja, carne de soja vegetal, que são bolinhas que parecem ração. É um alimento que a gente tem disponível no mercado amplamente desde os anos 70 e não é alimento saudável, não é algo para comer todos os dias. Não vai ser vendido como caro, novidade e luxuoso. É barato, bem batido. Então, a pessoa não vai falar “Nossa isso aqui é super novo, super processado, talvez não seja saudável.” mas não é. Apesar de ser uma coisa que está a muito tempo no mercado,
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e vão ter outras coisas bastante processadas e embaladas, que são muito legais. Perfeitamente possíveis de serem incluídas na dieta como um alimento saudável. Isso vale também se a gente não estiver falando de produtos veganos, se a gente falar de uma dieta onívora, vai ter coisas legais nos mercados e vai ter coisas que enganam, como os sucrilhos, que tem açúcar e tudo mais. O negócio parece simples, mas se você olhar tem 15 ingredientes no rótulo. Ou você pode escolher uma granola com duas castanhas, dois cereais e uma fruta seca. É muito legal! Por mais que esteja numa embalagem ou a vácuo, ou o grão que veio lá do lado dos Andes, essa granola continua sendo uma coisa muito saudável. Mas, nessa categoria cereais matinais você vai ter muitas coisas ruins, coloridas, cheirosas e totalmente artificiais. Não dá para falar assim dos processados em geral, se pegar a maionese vegana, qual foi a matéria prima? Ela pode ser caseira, com ingredientes que você pode até conhecer, mas se você resolver bater eles e refrigerar, vai ter outra textura para aquilo, ou pode ser uma coisa ultraprocessada, super rica em gordura e sódio, que você não quer colocar o tempo todo na sua alimentação. Então, não tem uma resposta só para essa pergunta, o pessoal vai ter que ler o rótulo e saber o quanto foi processado.
Sobre alimentação crudívora e frugívora, elas são pouco radicais. A nutrição vem desses estilos de vida com bons olhos?
Isso não é para qualquer pessoa, porque exige mais disciplina para você ter uma alimentação crudívora e frugívora. Quando é bem feito, é perfeitamente viável. A questão é que é mais difícil de ser bem feita do que uma dieta vegetariana com alimentos cozidos. É viável do ponto de vista nutricional, mas é mais difícil de ser feita.
No caso de frugívoros, pelo excesso da frutose, não tem um impacto negativo?
Se a pessoa tiver alguma questão metabólica prévia, algumas pessoas não vão lidar com isso e outras perfeitamente bem. Não é algo fixo do tipo “Ah! Com o tempo qualquer pessoa terá problema”. Não, isso a gente não teria tanta restrição numa uma dieta vegetariana cozida ou totalmente vegetal, é mais viável porque você tem mais
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alimentos para escolher, a pessoa pode ser diabética, cardíaca ou atleta. Você tem mais alimentos para fazer alterações ali e adequar, ao menos que ela tem uma limitação ao açúcar ou gordura, você tem uma variedade. Nas frutas, você sempre vai ter a frutose, se a pessoa tem uma questão com a frutose, não tem como contornar. No geral, as pessoas não têm uma questão com isso.
Você foi um dos pioneiros no ramo alimentício com o restaurante vegano VEGETHUS. O que aconteceu? Por que fechou? Tem planos para reabrir outro?
Foi o primeiro restaurante vegano de São Paulo. Foi aberto em 2003 na Vila Mariana. Depois, em 2005 ou 2006, abriu uma segunda unidade em Santo André, no ABC, e em 2009 na Haddock Lobo, na região da Avenida Paulista. O último a fechar foi em 2012, então teve dez anos de história praticamente. Foi o primeiro vegano na região da Paulista, o primeiro em Santo André e o primeiro de São Paulo lá em 2003. Era um mercado que ainda não estava consolidado, senão eu não teria sido o primeiro, teriam outros explorando esse mercado, diria que cheguei cedo demais. Hoje tem muito mais mercado e o público aceita melhor isso, então, 17 anos depois do primeiro, têm mais aceitação mais público, portanto, mais clientes, mas ao mesmo tempo tem mais concorrência, tem outros restaurantes veganos por aí. Se eu abriria outro? Do ponto de vista comercial está mais fácil atualmente, mas do ponto de vista da paciência, não! Já superei isso. Há dois anos, eu comecei uma pousada vegana na Bahia em Boipeba, chamada Casinha Amarela, localizada na ilha de Boipeba. Em termos de comércio é isso, tem o consultório, mas é um serviço e não um comércio. O restante do tempo vai para as coisas do ativismo em torno do Veddas, mas fora isso eu não tenho planos para abrir um novo restaurante tão cedo.
A gente está em uma pandemia, muitos setores da economia tiveram muitos prejuízos, exceto o agronegócio, que pelo contrário só obteve lucros. Todas as pessoas que entrevistei falaram que o futuro é vegano. Eu quero saber de você, o futuro tende a ser vegano ou passageiro?
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Eu vejo um futuro vegano sim. O fato de a agropecuária não ter sido abalada durante a pandemia é porque as pessoas continuaram comendo. Não é um setor que se esperava ser abalado, assim como não se vendeu menos hortaliças e frutas. Só isso não é sinal de nada. A gente pode olhar para gráficos no consumo anual de carne aumentando ou diminuindo, a gente tem oscilações. Em relação a pandemia, não é um fator porque a alimentação contínua em casa ou no comércio. Eu vejo um futuro vegano porque a nossa sociedade vai ter que fazer essa transição por bem ou por mal. O planeta não sustenta o peso ambiental da pecuária. Ou a gente vai ter um futuro vegano ou a gente não vai ter futuro no planeta. Se a gente está falando de um não-futuro no planeta por causa do aquecimento global, a pecuária é o principal fator de emissão de gases de efeito estufa, mais que o setor de transporte. Se a gente pegar todos os aviões, ônibus, caminhões, carros, navios e somar o que eles consomem de combustível fóssil para transporte é menos do que a emissão gerada pela pecuária. Então, se todo mundo parar de usar transporte, todo mundo tem que parar de consumir produtos de origem animal. Isso vai ter um efeito maior que andar de bicicleta, o bom é fazer as duas coisas juntas, porque reduz o uso de combustível fóssil e também o consumo de produtos de origem animal. Mas só reciclando lixo e ações domésticas ambientais, não vai causar uma mudança no planeta. Precisa parar os grandes fatores de aquecimento global e a pecuária é um deles, precisa parar os grandes fatores de destacamento e a pecuária é o principal fator, que por sua vez, gera perdas de diversidade, erosão, etc. E porque é tão intensa a produção de ração parece até um mar. Tem muitos pesticidas colocados no meio ambiente, tem poluição de solo e de água. E com a mudança na nossa rotina de algo que a gente faz de 4, 5, 6 vezes ao dia que é se alimentar, a gente consegue atacar vários desses pontos a emissão de gases do efeito estufa, a perda de biodiversidade, desmatamento, no sofrimento animal etc. Não tem como falar de futuro sem falar dessas questões que envolvem a preservação, lamento. Ou o futuro vai ser vegano ou não vai ter futuro. Isso eu tenho certeza que o futuro vai ser vegano, se houver um. Isso se for por mal, mas se for por bem, ou seja, a consciência da mudança voluntária como está acontecendo com base na informação. A informação sobre o impacto que isso gera na saúde no próprio indivíduo. Por tudo isso é possível sim ter um futuro vegano.
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Entrevista 6: Marcos Leta - Fundador da Fazenda Futuro Entrevista por e-mail realizada em 15 de setembro de 2020.
Como surgiu a ideia de abrir a empresa e o que motivou a investir neste mercado?
Especificamente no mercado em que estamos (carne), temos que considerar que no Brasil, o número de gado (218 milhões) é superior ao número de pessoas (209 milhões), sendo um dos países mais afetados pela agropecuária quando se trata do meio ambiente. A agricultura animal continua se expandindo e ignorando o aquecimento global, enormes problemas de desmatamento e até mesmo a vida das pessoas. O fato é que o consumo de carne, hoje, gera um impacto ao planeta fazendo com que, cada vez mais, as pessoas tomem consciência desses fatos e optam por mudanças na alimentação. E é para essas pessoas, que querem ter uma vida mais equilibrada, mas não querem abdicar do que amam comer, que a Fazenda Futuro foi criada, por exemplo. Acho que uma empresa como a nossa, faz parte de um futuro não tão distante e que chegou para disruptar a maneira como relacionamos sabor e sustentabilidade. Todo mundo pode fazer um pouco pelo planeta, sem precisar abrir mão de comer as coisas que gosta. Eu acredito sim que chegamos para revolucionar esse mercado antiquado e sem inovação que é o de carne de origem animal. A Fazenda Futuro não está entrando no mercado vegetariano ou vegano, mas no de carnes. Queremos falar com quem procura uma alternativa mais sustentável, mas sem ter que deixar de lado o prazer em comer algo que gosta. E, depois de pouco tempo, foi possível comprovar que potencial e espaço não faltam e deixamos de ser apenas uma tendência para nos tornarmos uma realidade positivamente sem volta. Agora, estamos trabalhando para que a Fazenda Futuro esteja presente no máximo de lugares como uma alternativa alimentar mais sustentável.
A empresa tem sofrido com prejuízos com a pandemia?
Com a pandemia, aceleramos projetos que envolvem venda online, como a criação de um mercado virtual dentro do Ifood. Vimos que disponibilizar um serviço que pudesse
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chegar direto aos consumidores faria diferença nesse momento. Além disso, intensificamos nossa comunicação digital, seja via social ou mídia.
Os restaurantes procuram vocês? Ou vocês identificam os estabelecimentos e oferecem os produtos?
As parcerias acontecem dessas duas formas.
Há um controle do número de estabelecimentos que revendem? Tem aumento? Qual o número?
Estamos em mais de 10.000 pontos de vendas em todo o Brasil. Os produtos já estão disponíveis em grandes redes nacionais, e também nos comércios regionais, como: Spoleto, Koni, Graal, Nacho Loco, Patroni, Porpino, Sodexo, GRSA, Bob's, Pão de Açúcar, Carrefour, St. Marche, Quitanda, La Fruteria, Verdemar, The Fifties, Ponto Chic, Lanchonete da Cidade, Cabana Burger, Frango Assado, Pirajá, TT Burger, Slaviero Hotéis, VYA, América e muitos outros.
A concentração de consumidores está dividida em quais regiões de São Paulo?
Estamos em diversos lugares, assim como você pode ver na resposta anterior. Mas principalmente em São Paulo, capital e interior e no Rio de Janeiro.
Depois da versão 2.0 do hambúrguer do futuro, a gente pode sonhar um dia com um hambúrguer 3.0 com ainda menos sódio?
Nossos produtos estão em constante evolução, investimos em tecnologia exatamente para estudar sempre novidades e melhorias.
Entrevista 7: Marly Winckler Entrevista via Skype realizada em 22 de setembro de 2020.
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Como o vegetarianismo e o veganismo entraram na sua vida?
Eu virei ovolactovegetariana, lá na década de 80 ainda 83/82 e fui durante 10 anos ovolactovegetariana e nem sabia que existia vegano ou veganismo, seja lá o que for entendeu, estava muito feliz com meu ovolactovegetarianismo. Depois, eu escrevi um livrinho, um livreto, assim bem pretensioso que se chama “Vegetarianismo: elementos para uma conversa” porque toda vez primeiro assim porque uma amiga pediu “Me passa o material, porque você não come carne?”. Na época praticamente não existiam materiais disponíveis. Às vezes até difícil hoje em dia você imaginar o mundo como era lá na década de 80, final da década de 70, mas tinha alguns livros da Igreja Adventista, tudo setoriais, macrobióticos, tudo muito pautado por filosofias ou religiões. Não tinha um material assim, vamos se dizer neutros e dando as razões. Então, eu disse “Desculpa não tem esse material que eu gostaria de passar para ela”. Também é uma coisa concisa porque quem tá disposto a ler um livrão? São poucas pessoas, ainda mais com tendências religiosas. Eu tinha um amigo que tinha um polígrafo, que era um texto batido a máquina e ele reuniu algumas coisas ali nessa linha de razões para ser vegetariano. Eu disse a ele “Me passe esse material aqui que eu estou precisando passar para uma pessoa”. Nessa época, a gente já pensava “vamos criar uma associação gaúcha vegetariana”. Eu morava em Porto Alegre. A gente tem muitas ideias ainda mais quando somos bem jovens, queremos mudar o mundo queremos mil coisas, os ideólogos altruístas principalmente, mas não vamos generalizar, porque as coisas são muito diferentes quando se fala em público. Ele passou seu material, eu vi, não gostei de algumas coisas, comecei a trabalhar um pouco nele e muda aqui, muda ali, deixar cortar e ler outras coisas também para ver se melhorava aquilo ali. Resultou um textinho bonzinho bem enxuto. Nessa época, eu me mudei para Florianópolis, eu nem me lembro se eu passei esse material para essa pessoa. Chegando na cidade, encontrei com uma prima e o marido dela estava criando uma editora, eu tinha um outro amigo que era ilustrador e por fim, esse livrinho ficou bonitinho, porque isso é uma coisa que eu aprendi, sempre recomendo que as pessoas escrevam coisas e bote na roda e isso vai ajudar as pessoas e vai ajudar você também porque esse livrinho que me botou nessa roda, vamos se dizer assim mais profundamente.
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Ele ficou bonitinho num formato bom, como eu disse senta no trono e lê. Tudo isso pensando em fazer as pessoas lerem aquilo para acordarem para o vegetarianismo, porque eu sempre achei que era uma coisa muito legal que eu sempre quis compartilhar. Ele começou a circular e logo em seguida mudei para São Paulo também, lá eu botei em alguns restaurantes, ele começou a circular, as pessoas começaram a me escrever naquele tempo era caixa postal para você ver era tudo diferente, não existia redes sociais e nem internet. Era caríssimo ter um telefone, a gente pagava mil dólares para ter uma linha. Eu paguei 1200 dólares para ter um telefone em São Paulo, então assim, poucos tinham, então as publicações eram muitas e isso foi em 1992, quando eu publiquei o livrinho e fui para São Paulo em 1993. Algumas pessoas começaram a me escrever e pensei “eu tenho que me informar melhor”, porque eu tinha que responder perguntas. Então é aquilo, você pega daqui, pega dali e faz uma colagem. Você não sabe tudo aquilo e é assim que vai acontecendo. Você vai ter que ir se aprofundando naquele tema. Não nasceu da noite para o dia, hoje em dia, eu tenho bastante conhecimento sobre esse tema, mas foi ao longo de décadas. Caiu uma revista na minha mão chamada Vegetarian Times que até hoje existe lá nos Estados Unidos. Em um anúncio dizia que teria um congresso, tudo coisa que eu não sabia, vai ter um congresso vegetariano mundial na Holanda. Eu vou! Me animei toda para ir e fui. Era um congresso da União Vegetariana Internacional, que atualmente eu sou presidente. Olha só a trajetória, eu completamente ignorante não sabia que existia nada disso, ignorante nesse sentido de não saber dessas coisas, porque também elas não eram assim disponíveis. Hoje, você põe vegetarianismo no Google e vem tudo, então era bem difícil nessa época. Eu fui para Holanda, que aconteceu lá um grupinho de jovens, eu já não era tão jovem trinta e poucos acho que eu já era quase quarentona, deixa até eu fazer o cálculo... são 94 menos 54, é 40 anos! Então tinha uma moçada que estava quebrando pau lá, porque tinha queijo no evento. Eu bem quietinha assim bem assim “do mato”, vamos se dizer assim, nossa tudo era novidade para mim. Peter Singer estava lá e um monte de figura. Eu pensei comigo “Nossa que exagero o bicho nem morre”, mas acabou que a turma que eu mais me identifiquei, comecei a conversar, foi essa moçada mesmo. Fora, todas as autoridades lá que eu quis conversar com eles, conversei com o Peter Singer, falei que era do Brasil e me interessava traduzir o livro dele para publicar aqui no Brasil. Perguntei o que ele achava e ele “Ah, não claro ótimo, vamos ficar em
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contato” e fiquei me correspondendo com ele desde então e com outros tantos. Tinha muita gente bem conhecida lá no movimento. Eu comecei a ver algumas palestras, mas eu não vi de cara, mas não julguei, pelo contrário fiquei curiosa para conhecer os argumentos o porquê de tudo isso. Uma pessoa estava divulgando o Festival Vegano, que aliás eu não conhecia essa palavra, eu fiquei sabendo ali nesse congresso e nas palestras, que existia uma sociedade vegana, festivais veganos e o movimento vegano. Ela, a Júlia estava divulgando esse festival e me convidou, era na Califórnia em San Diego e foi no ano seguinte, em 1995. Eu fui e voltei vegana desse evento, porque aí eu vi como os gaúchos dizem “o peso da coisa” e eu achei que tinha de ser também. Nesses festivais estavam muitas pessoas, que são as autoridades todas internacionais e conheci muita coisa legal, feira, e literatura, olha foi um banho. Voltei animada, eu já mudei para o Rio. Eu não conhecia nenhum vegano e não existia nada pegando aqui no Brasil. Eu comecei a minha peregrinação, eu ia numa pizzaria e pedia “dá para fazer sem queijo?”. Era um sufoco, mas eu fui assim me mantendo e eu virei assim, sem querer, uma ativista. Eu já fazia isso, mas recolher endereço, onde quer que eu fosse, eu fiz aquilo que eu chamava de diretório vegetariano. É um guia. Então tudo que era endereço, eu ia conversava e aí comecei fazer as minhas pregações “Senhora tipo assim ó, mas o óleo você conhece o que acontece com ovo com leite não sei o que”, comecei a falar sobre isso também. Era como se chegasse um ET, baixasse aqui e começasse a falar essas coisas, porque não tinha essa consciência ainda aqui. E assim foi por um bom tempo. Até que um dia me caiu uma matéria do Estadão falando de um grupo de veganos que eram os “Straight Edge” eu vi e disse: “Nossa, que legal essa, tem uma moçada aí que já tá também fazendo o seu trabalho”, claro por uma vertente dessas que atrai um público e que repele um outro público. Não é uma coisa que tem de existir uma coisa que abarque tudo isso, porque é um movimento e você tem argumentos de todos os aspectos: se for pela religião tem argumento, se for pela filosofia tem argumento, se for pela saúde, pelo meio ambiente. Você tem argumento de todas as vertentes e você pode usar todos esses argumentos, porque são públicos distintos que você vai atrair para sua causa, mas eu acho que você tem que ter uma inserção mais neutra. “Ah, eu não estou defendendo vegetariano pelos argumentos dos Adventistas, eu estou defendendo, pela saúde a ciência
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diz que é bom”, hoje em dia, esse argumento do meio ambiente é novo. Na década de 80 não se falava nisso. O próprio Peter Singer foi um pioneiro, vamos se dizer assim, a própria ética, coisa do que acontecia com os animais ninguém sabia. Por mais que o movimento tenha iniciado lá no final da década de 60, começou o confinamento muito lentamente e na década de 70 foi implantado. Ele escreveu o livro “Libertação animal” em 1973, já relatando o que estava acontecendo com os animais. Ele pegou a onda, porque isso acontece muito no mundo. Uma coisa está acontecendo, ninguém percebe de repente alguém vai lá e pá descreve aquilo e aí todo mundo: “É mesmo, é verdade”. Isso está acontecendo agora com o meio ambiente, todo mundo agora tá começando a aderir, apesar de que a gente está sendo atacado. Mas, esse movimento da questão dos animais começou lá com Peter Singer e mais gente, mas ele foi um dos que descreveu o processo, serviu para muita gente, despertou muita gente para isso, então ele tem as importâncias. Aí fica o pessoal “O Peter Singer é melhor que nem existisse, porque a utilitarista, não sei o que, eu não concordo com isso”, mas e a descrição que ele fez historicamente do que estava acontecendo com os animais não serviu para nada e serviu muito, entende? Então, isso é um cuidado que a gente tem que ter para a gente não pegar teorias assim e classificar coisa, quando isso aí tem uma importância muito maior, certas coisas, num contexto histórico do que aquilo aconteceu. Mesmo que você não concorde com tudo aquilo que aquela pessoa falou, mas ela contribuiu “pesadamente”, às vezes, para uma coisa acontecer para esse movimento dos direitos animais e vegetarianismo e tudo acontecer. Bom, eu sou tradutora como profissão para ganhar dinheiro, então lá no Rio, eu fui na editora que eu trabalhava e disse: “Olha, tem esse livro aqui, eu conheci o autor é um livro que tá no mundo todo causando uma discussão séria não sei o quê vamos publicar?”. O editor lá, ele foi até a minha casa, e ele disse “É... ele é muito pesado para o Brasil não tá na época ainda”. Olha só também essas coisas da ironia do destino, depois esse próprio editor virou vegetariano, eu acredito que hoje é até vegano. Ele depois publicou coisas do Peter Singer na editora e o processo dele naquele momento não estava ainda pronto. Então, você também tem que ter paciência com as pessoas, não adianta você é uma coisa e está com a tecla já pronta para ser apertada e a outra não está. Paciência! Também vai saber qual é a tecla, qual que é os aspectos de tudo isso entra.
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Eu comecei a trabalhar isso, mas de cara não fluiu e eu continuei indo nesses eventos internacionais. Virei logo a coordenadora para América Latina da União Vegetariana Internacional, e cada vez eu fui me envolvendo mais com isso. Voltando da Califórnia lá, o que conheci? A internet! Estava uma “moçadinha” numa sala lá todo mundo “desbundado”. “Olha aqui papai, olha aqui vamos fazer uma fotinha” e botava gente lá no site, estava todo mundo assim era coqueluche da coisa. Eu voltei e aí comecei a trabalhar para fazer um site, tive que fazer até um curso na PUC, lá de “HTML”, porque eu não achava ninguém que pudesse me ajudar, não sei o que, sei que daí eu criei um site que é o “Sítio Vegetariano” sobre vegetarianismo e paralelamente na época começou também o Yahoo, os grupos de discussão dentro do Yahoo mudou, olha isso aí mudou a face da terra. Porque vegetarianos existiam alguns atomizados pelo Brasil afora, mas não tinha um canal que unisse essas pessoas, criasse o movimento e nos ajudassem nesse processo, porque a gente se educou nesse processo, ninguém nasceu sabendo por mais que alguns já nasceram veganos, eram veganos até antes de nascer quando você vai não tiveram processo nenhum, também faz parte. Eu criei esse site e criei a lista “VEG Brasil: discussão sobre vegetarianismo” e a “VEG Latina”, porque eu era coordenadora para América Latina, “Discussão sobre vegetarianismo em espanhol”. Olha! Foi uma coisa muito incrível! Começou aparecer gente de tudo que é lado, vegetarianos e não tinha a polícia vegana ainda, então as pessoas se abriram, falava tudo que sentiam, as dificuldades isso e aquilo. Começou a se precisar de auxílio mútuo todo mundo se ajudando, e aí eu trabalhei bastante nisso por muitos anos. Eu, como coordenadora para América Latina, comecei a ficar de olho o que eu poderia fazer para melhorar a comunicação que já estava, mas para impulsionar e a gente tentar se conhecer, porque conhecer pessoalmente é muito mais fácil, fica muito mais fácil as coisas. Porque na internet aliena, mas sem vídeo assim que eu não estou vendo o teu olho do jeito que você é, você malha abaixa o pau. Agora, se você fala uma coisa: “Ah, foi o Fábio que falou, o Fábio é um amor”, eu não vou querer te destruir, porque você falou aquilo, você falou aquilo também no contexto, você sabe que se não pensa, não é tudo isso e tudo bem vamos discutir. Então melhorou muito nesse sentido, mas também sempre teve e começou lá pelas tantas a existir esse problema dos ataques. Posteriormente veio aquilo que a gente chama brincando de polícia vegana que não permite nada que as pessoas têm seu processo, que
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elas pensam diferente que elas e que não entendem, por exemplo, uma coisa que eu acho magnífica para o nosso movimento avançar que é “Segunda sem carne” que eu introduzi no Brasil, foi a segunda cidade no mundo apoiar essa campanha que foi São Paulo. Ela começou com apoio governamental, começou lá em Gante na Bélgica Eu criei essas listas que aí depois eu fui ver foram as primeiras listas e o primeiro site sobre vegetarianismo em português no mundo e a primeira lista no mundo também na língua portuguesa e espanhol também, era tudo muito novo. Estava tudo começando, então eu tive, querendo ou não, esse pioneirismo e foi isso. Foi tomando um porte muito grande na minha vida, porque eu acabei me dedicando muito a esse movimento, porque eu realmente considero que ele é muito importante. Ele não é só uma questão de opção alimentar, ele tem consequências muito grandes. A maneira como a gente se alimenta, ela bate em muitas questões. Em 2002, eu fui para ir para um evento da União Vegetariana Internacional na Escócia e antes de ir eu passei aqui em Florianópolis em um Resort que é muito lindo na beira da praia e eu fiz um levantamento para fazer um evento latino-americano, quanto que vai custar, o que tem para comer, fiz todo o levantamento e eles me deram preços, inclusive tudo. Eu fui para a Escócia e apresentei lá para a Diretoria e eu disse: “Olha eu estou fazendo um trabalho já tá indo bem a gente já tem uma lista de discussão, já tem vários países participando de um relato tal e eu inclusive estou pensando em fazer um evento regional lá latino-americano” e todo mundo: “Ah, bacana, lovely e vá em frente”, mas também não me deram muita bola. O evento de 2004 era a cada dois anos os eventos, seria em Cingapura, inclusive a pessoa que iria apresentar estava lá e ia ser o maior evento do planeta, a Cingapura estava muito bem de finanças e ia ser uma maravilha. O que que aconteceu? Quebrou a economia, aí a gente já ficou “E agora?”. Logo em seguida, um surto de gripe asiática e teve que cancelar, não teve outro jeito. Aí, eles lembraram de mim, porque não tinha ninguém a curto prazo que pudesse organizar o evento, já estava pensando em cancelar e eles falaram: “Marly, você organizaria um evento?”. Foi uma coisa também que aconteceu e foi muito diferente de como era, porque quem organiza esses eventos e organiza até hoje são sociedades membros da União Vegetariana, porque a União Vegetariana é como se fosse um sindicato das sociedades vegetarianas do mundo todo.
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Então um dos nossos filiados que muitas vezes disputavam com outras para realizar o evento é que organizava tudo e a gente só tem aqui os critérios, o que pode, o que não pode. A partir daquele de 94, nunca mais se usou nada de ingrediente animal nos eventos da “IVU” e ela é assim totalmente vegetariana estrita. Se é vegana nesse sentido ou se não é vegana é outra discussão, porque o veganismo abrange muito mais coisa do que alimentação. Eu sou uma pessoa que defende o vegetarianismo na alimentação. Você é um vegetariano, um vegetariano vegano se quiser dizer ou estrito tal, mas é vegetariano e se isso nos convém também isso é outra discussão. Voltando ao evento, eu já tinha um público, eu já conhecia muita gente no Brasil todo e na América. Aí foi um passe, porque eu tinha que criar uma organização para hospedar esse evento. Mas era uma coisa que já estava madura para acontecer, a gente já falava sobre isso e aí foi só registrar, vamos se dizer assim, que foi a Sociedade Vegetariana Brasileira. Eu registrei a sociedade e começamos o trabalho dentro da Sociedade Vegetariana, eu acho que assim a gente teve, vamos se dizer assim, bons ventos sopraram a nosso favor, porque a gente teve a visão talvez de implantar campanhas importantes que deram muito resultado, tal como, essa “segunda sem carne” que uma cidade do porte de São Paulo logo adotou e foi lançada, como eu disse, foi a segunda cidade do mundo que dentro a primeira tem 30 mil habitantes e São Paulo tem 14 milhões, então, olha a diferença! Logo em seguida, isso foi em 2009, que a gente lançou com o apoio da prefeitura, e é claro que a indústria da carne pulou, a gente teve que responder e foi todo um processo, não foi assim, não cai do céu por descuido. Mas a gente não só lançou, a gente implantou em 2011, a gente implantou a segunda-feira na merenda vegetariana, na merenda de São Paulo que serve duas milhões de refeições por dia, é o maior restaurante do mundo. Então, o maior restaurante do mundo um dia ele passou a servir comida vegetariana estrita, isso por si só já é uma conquista espetacular ao meu entender, porque de cara 30 mil frangos deixaram de ser mortos por mês. Qual é o outro trabalho que se faz que tem um impacto desse tamanho? Nenhum! Mas isso para mim é a ponta do iceberg não é isso mais importante, o mais importante é você levar essa discussão essa consciência de um jeito legal para esses públicos. A “Segunda Sem Carne” é aquela coisa que ela convida. As melhores propagandas do mundo são aquelas que têm pouca rejeição e a “segunda sem carne” é uma delas e poucas pessoas dizem: “Ah, eu não, um dia? Nem pensar!” e todo mundo diz: “Ah, um
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dia? Tá legal!” e ela aí se abre, e o que acontece a mágica, ela passa a se sentir vegetariana um dia, passa a ler os folhetos, porque aquele dia ela estava praticando aquilo. Seja como for, não vou entrar em detalhes se come ovo ou senão, a gente oferece vegetariana estrita, mas ela eu não sei e ninguém vai me dizer onde é que ela vai parar. Ali ela se abriu, deu o primeiro passo e ao começar a ler o folheto, começa a se educar para virar uma vegana entusiasta. Depois disso, com o tempo, me tornei em 2011, presidente da União Internacional e estou aqui até hoje. Com muitos, com muitos meandros. E o movimento dessa envergadura como se diz envolve muita coisa e muito conhecimento, muitas pessoas e muitos ataques eu fui muito atacada também faz parte.
Como foram esses ataques?
Ataques de gente que queria... desde ciúmes, tudo, mas faz parte ou esses ataques aí que eu digo de “A SBV está fazendo a Segunda Sem Carne, terça sem estupro, quarta não sei o quê, churrasco no outro dia”, nesse tipo assim, pessoas que eu considero com pouca visão e que não entenderam a coisa e que querem ser mais realista que o rei. Não consideram também que a gente tá num contexto, não adianta eu gritar e bater pé, “Ah, seja vegano todo dia”, aí o outro dá risada da minha cara. Eu tenho que ter programas apronte que mexe com as pessoas e que um governo possa apoiar. Você acha que um governo vai apoiar a merenda vegana todos os dias? Ele nem pode, nem que ele quisesse, não pode. Essa “segunda sem carne” entrar na merenda, só eu sei o custo que foi, e que eu considero que a gente fez a coisa certa, o caminho certo para negociar, para convencer e mais uma vez a gente convenceu, mais uma dose de aquilo que eu digo de eventos favoráveis de conjunção planetária, sei lá o que for que facultou isso, porque não é fácil não. Existe muita resistência, existem muitos interesses, como eu dizia agora já não digo mais, quando a gente começar a crescer eles vão querer nos matar, porque tem interesses pesadíssimos em jogo. Hoje, eu não sei se isso aí pode até acontecer, mas o que que eu vejo mais que o movimento por sorte ele é ganhou uma dimensão seguinte, a grande indústria em vez de querer me matar ela resolveu abocanhar essa fatia, muito melhor, porque no começo eles combatiam a gente a maionese “Não pode chamar de maionese, não pode chamar de maionese, a maionese é nossa”.
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Agora eles, tá, perderam na justiça, também o movimento tem já um certo vigor, entendeu, então ele “Eu vou é produzir para esse público” e é isso que a gente quer. Porque o grande capital, se a gente for querer trabalhar por isso e eu como socióloga eu sempre quis, claro, um mundo melhor e até já trabalhei nesse campo da política. Eu acho importantíssimo que a gente trabalhe, porque ali as coisas podem avançar muito também. Mas a gente não pode se dar ao luxo de esperar que o mundo vire vegano pela consciência que nem vai ser pela consciência, isso eu posso te afirmar, vai ser, porque vai ficar mais barato, porque o governo está incentivando, porque já tem produto na esquina e o cara não precisa atravessar a cidade e vai ser por causa disso e não porque “A, estou com peninha do bicho”. Alguns sim, mas muita gente não tem pena dos animais, e isso aí às vezes é difícil da gente acreditar talvez, mas muita gente acredita que todo mundo basta ver aquela frase “Se os frigoríficos fossem de vidro todo mundo seria vegetariano”, não muita gente séria por isso que a gente fica até batendo nessa tecla você fazendo vídeos desse horror, que é tudo, mas não é todo mundo, tem gente que vai na mata e come. Então assim, não é bem assim, entendeu, a gente sabe disso, porque senão aquelas pessoas seriam todos vegetarianos quem trabalha em frigorífico, e são? Não! O vegetariano não suportaria e a pessoa que tá lá ela suporta e come assim aquilo ali não afeta ela como a mim, por exemplo, então tudo isso tem que ser levado em consideração. Se a gente quiser ter uma abordagem inteligente fazer a nossa causa avançar mais, porque é isso que a gente precisa fazer. Isso é o nosso trabalho, o nosso que eu digo às pessoas que se engajam nisso, então, porque é isso que a gente precisa fazer, isso é o nosso trabalho, nosso que digo os ativistas pessoas querem que se engajem nisso.
Como você se envolveu com a sociedade vegetariana brasileira, mas aí eu me dei conta que você a fundou...
(risos)
Então eu fundei, olha eu a fundei, eu a carreguei nas costas praticamente né muitos anos, tudo, é como eu digo assim, eu era a presidente que fazia o site. Eu fiz primeiro o site, alimentava o site, fazia todos os contatos, tudo, carregava caixa, organizava os eventos, dava entrevistas, fazia palestra. Isso também é uma coisa assim desde logo eu
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tinha uma ideia de fazer com que a gente parecesse uma coisa bem profissional, então o site eu fazia, mas eu paguei para um profissional fazer a parte visual dele, e assim vai. Então a gente logo, a gente começou a impactar e também muita gente começou também muita gente me ajudou, óbvio, não fiz tudo sozinha, eu claro que eu fazia muita coisa sozinha e tal, mas muita gente também cada um deu o seu quinhão. Uma pessoa que me ajudou demais também foi o doutor Erick Slivich, porque ele conhecia, ele já esteve aqui no Congresso em 2004 e eu senti que ele era uma pessoa muito preparada. Assim, ele como médico nutrólogo especializada em nutrição, eu pensei, “nossa mas apareceu a pessoa que eu pedi a Deus” um médico nutrólogo especializado em nutrição vegana, vegano, conhecia tudo, se preparou para isso, porque os pais dele os dois são médicos e eram contra ele ser vegetariano, então aos 16 anos, ele virou vegetariano, já praticamente vegano, porque virou macrobiótico, o macrobiótico se ele for seguir à risca ele é vegano. E então assim, eu tive muitas ajudas e importantíssimas para conseguir desenvolver a Sociedade.
Voltando um pouco quando você disse que você com seu trabalho como tradutor quando você levou o livro do Peter Singer “libertação animal”, você ajudou a traduzir? Como foi esse processo? Olha é mais uma coisa daquelas vozes que o destino da que você fica: “nossa que coisa incrível não é”, quando eu estava organizando essa conversa aqui em 2004, que foi em novembro de 2004, alguém escreveu para mim: “você pode traduzir o livro do Peter Singer, libertação animal?”. Eu estava atolada de trabalho, mas eu pensei assim, não, esse aí não me escapa. Eu fiz uma coisa assim de concentrada e traduzir, eu que traduzi o livro do Peter Singer, “Animal Liberation” nossa primeira edição aqui brasileira é minha!
Em relação ao seu livro, ele ganhou outras edições depois?
Aquele livrinho ganhou, mas depois ele ficou assim, ele não é, eu não repúdio ele sabe, acho que ele foi um livrinho que serviu muito e tem algumas coisinhas ali que poderiam ser arrumadas, pouquíssimas, como qualquer trabalho. Acabou que eu não trabalhei nele.
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Aconteceu o seguinte, durante o congresso também um pouquinho antes durante a organização desse congresso aqui, porque esse evento que eu falei é um evento da União Vegetariana Internacional que veio pela primeira vez para América Latina nunca tinha vindo, isso aí também foi uma coisa assim que deu uma vida nova para o movimento vegetariano internacional, até aqui vieram os líderes das mais importantes associações vegetarianos do mundo vieram para esse meu evento aqui e ele foi considerado o melhor de todos os tempos e mais de 100 anos, porque IVU tem 9, tem 111 anos, foi o melhor evento em termos de comida, ninguém superou, e em termos de local, ninguém superou.
Desde então tem rolado outros eventos aqui também?
Da união internacional nunca mais veio para essa região, mas é porque são muitos países, ele roda e quando foi aqui a vez da América Latina, o pessoal da Argentina quis e como lá também tem um movimento importante a gente deu a vez para eles. Depois quando foi outra oportunidade que eu queria ter organizado aqui mesmo no Costão foi quando fez 15 anos do evento, mas a atual gestão não, já tinha se comprometido com outras coisas e não fluiu. Então não veio mais, mas agora, por exemplo, esse ano seria em Beijing/Pequim na China, mas daí ficou para o ano que vem e o próximo vai ser em Sri Lanka na ilha ao sul da Índia, então a gente roda bastante e a gente tem um foco bem forte atualmente na Ásia. Até porque se você juntar Índia e China é metade da população do mundo, então você fortalecer o trabalho nessa região ele tem muito transitado, não esquecendo o resto, claro, a gente roda, a gente roda por aí.
Você acha que com o crescimento do movimento vegetariano/vegano no mundo as marcas que tem uma resistência em criar produtos para essa comunidade têm, digamos assim, romantizado cada vez mais a carne seja um hambúrguer agora não é só um hambúrguer são tipo três hambúrgueres em um só lanche e em algumas mais, porque antes não tinha muito isso não é?
Eu acho que tem as duas coisas por um lado eles perderam e tentam de tudo para se manter, porque eles ganham dinheiro assim tudo se resume em ganhar dinheiro, não se iluda é o que mais dá lucro! Então por isso que quando eles enxergaram que vão ganhar
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dinheiro, e às vezes é o que a gente mostra para tentar mostrar também é que eles vão continuar ganhando dinheiro, que também não precisa com aquele produto ele não tá atingindo só o vegano ou vegetariano, aquele produto todo mundo pode comer não é só vegetariano. Por exemplo, teve uma sorveteria aqui em Florianópolis que aconteceu uma coisa assim: a gente foi na sorveteria comer um sorvete aí porque uma pessoa ali tinha achado que um sorvete lá era vegano. A gente chegou e aí claro que eu fui aprofundar para ver se era vegano mesmo, comecei a perguntar tal e ele disse, “é, mas tem...”, como era o nome da coisa, um ingrediente lá que era derivado de uma proteína animal. Então, aquela pessoa que já era cliente lá pegou e devolveu sorvete, eu não comi e a gente já disse, “a que pena, porque olha aqui, mas porque que você não tira esse ingrediente substitui, porque a gente quer consumir, mas sendo assim...”. Ele pegou e fez um “buchicho” assim, “Ah, mas vocês são poucos”, tipo não vale a pena. O que aconteceu na semana seguinte a gente teve uma reunião e tinha umas 20 pessoas no restaurante bem na frente, aí terminou o almoço eu disse, “vamos fazer um ativismo naquela sorveteria”. Ah não, mas quando ele falou aquilo eu disse o seguinte para ele, “olha aqui meu senhor existe um público bem grande, o senhor se engana existe um público e uma demanda reprimida, existe um público bem grande para esse sorvete e mais o seguinte ó, ninguém vai entrar aqui e perguntar se esse sorvete tem aquele tal ingrediente ninguém vai perguntar ele vai comer se o sorvete é bom, agora o vegano sim ele vai perguntar, então o senhor não vai perder porque você vai agregar público se o senhor fizer um sorvete que é vegano”, e ele falou “sabe que eu nunca pensei nisso”, Então tá ficou com ele lá. Na semana seguinte a gente foi lá chegamos, aí eu falei assim, “eu vou entrar e a gente todo mundo atrás eu vou perguntar tem sorvete sem..”, uma hora eu vou lembrar aquele ingrediente, “não sei lá de potássio” aí ele ia dizer não, aí todo mundo ia dizer “a” e a gente ia virar as costas ir embora para ele ver que ele ia perder 20 clientes entendeu, aí quando eu perguntei, “tem sorvete sem aquele negócio, não sei o que lá” ele disse, “então a gente agora tá fazendo”, aí todo mundo entrou e comeu. A indústria tem os dois movimentos, eles tentam se manter a qualquer custo, até porque o grosso da produção deles continua sendo com carne, ovo, leite, etc. Eles recorrem qualquer coisa, então a propaganda enganosa, a plantar, não estou falando que
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todas, falando de um modo assim, juntando todas algumas podem ser mais éticas que outras, mas a gente sabe que volte meia planta matéria paga falando bem da carne, do ovo e falando mal do vegetariano que morre disso, é matéria paga! Então tudo isso faz parte da briga, vamos se dizer assim, e tudo vai acontecer, mas para minha surpresa, grata surpresa, a coisa tá sendo menos assim tá indo para um caminho que eu acho mais legal que é a indústria se abrir para esse nicho. Esse é o ideal, porque eles não são pela questão ética, por causa dos animais como a maioria dos ativistas pelo menos vegetarianos, outros são pela saúde, seja o que faz com vários motivos. Mas a indústria não, a indústria é pelo que dá dinheiro, mais dinheiro, então eles vão pelo que vai continuar vendendo então aquele capital que sai da carne e vai para um produto vegano ele tá ele tá “limpando”.
Qual a importância que você vê em relação ao selo da SVB em um produto?
A importância é porque os produtos são caixas-pretas. Ontem mesmo eu estava aqui em um mercadinho de bairro aqui e eu vi lá no pacote pelo que eu li lá era vegano, mas eu tenho certeza que não era, porque a receita tradicional daquele produto vai ovo na massa. Seja por uma fé ou não, muitas vezes não tá correto. Hoje em dia é obrigado a colocar os ingredientes, mas as pessoas não se atentam, “Ah vai ovo... esqueci do ovo”. Entra aí a importância da certificação para você ter certeza que aquele produto é realmente sem ingredientes de origem animal e não é testado em animais. Aliás, essa certificação também eu que implantei no Brasil e foram duas vezes, no começo a gente implantou até em sociedade com “Ecocert” que é uma certificadora grande mundial até e não vingou, não foi para frente, não estava preparado ainda. Eu lembro que eu ia numa feira bem grande que tem a “Naturaltech” aí em São Paulo e eu corria lá todo mundo me conhece lá, ou me conhecia tempo atrás, eu falando da certificação que é importante. Você via o pessoal dar uma risadinha amarela para mim, “ai coitadinha, lá vem ela de novo” e eu pensava você que vem atrás de mim daqui um tempo, porque isso é um processo sem volta. A gente tem que saber por que a indústria de alimentação ela virou uma caixa preta ninguém sabia aquilo lá é um não alimento muitas vezes, é plástico, não sei o quê e para os veganos a coisa principal é não ter um ingrediente de origem animal e não ser testado. É uma coisa que só tende a crescer e é importante e não só como a “Segunda Sem
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Carne” também ela tem um processo educativo você vai, porque você vai falar com uma empresa que ela não é vegana. Ela vai ter uma parte da sua produção vegana, mas aí vai começar a perceber esse outro mundo, e conhecer e talvez até mudar alguns produtos. Por exemplo, usar uma gelatina sintética que não seja animal no outro produto que nem é vegetariano, ela vai melhorar toda sua cadeia de produção, porque o produto de origem animal não tem certas doenças. Por exemplo, a indústria de ovos nos Estados Unidos está falida, porque toda hora está dando surtos de doenças e ele não consegue debelar, então e daí daqui a pouco começa a surgir um substituto as pessoas vão aprendendo. A outra que tá falida quase é do leite, não vale a pena mais produzir um leite de vaca, quando um leite vegetal, aqui no Brasil não tem ainda leites bons, mas lá nos Estados Unidos, na Europa e tem leites vegetais maravilhosos. O público vai lá é só o tempo dele conhecer e ele se tornar competitivo também temos de valor, porque não dá para pagar mais de 25 reais em uma caixa de leite uma coisa ainda muito distante do que deveria ser, e que vai ser no futuro, é que nem o orgânico no começo era uma coisa proibitiva agora já tá quase o mesmo preço e assim vai o mercado. A gente não tem tanta força assim para mexer no mercado, mas isso aí é uma questão de tempo. Eu acho que é muito benéfico, educativo, serve a esse público que não quer por vários motivos, não é só o vegetariano que não pode tomar leite, e que não quer tomar leite, tem muita gente que não pode tomar leite que é alérgico. Então é bom em todos os sentidos, e vai assim aquele bicho papão, “a tá, mas é vegetariano só come alface” vai vendo que come de tudo entendeu, tem leite, tem tudo pode ser ter uma réplica vegana.
Aqui em casa a gente tem consequências do seu trabalho se assim eu posso dizer, porque meu pai sempre compra de um molho que ele sempre lembra de mim e ele fala “tem o selinho” que eu já ensinei onde achar, em casa que a gente só compra deste porque são os únicos que têm o selinho da SVB. Aqui em casa tem um produto que eu passo no meu cabelo, aliás, que fala que é vegano, mas não tem a certificação. Será que é mesmo vegano?
E fica desconfiado, você não pode ter certeza. Volta e meia, a gente descobre que um produto que estava escrito era vegano e não era. Então para ter certeza aquele que
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exige para si mesmo que seja tem que ter certificação. Outra coisa também, as pessoas não têm essa educação e nem eu. O público comum não sabe disso e nem tem obrigação de saber e para facilitar a vida de todo mundo tem que certificar!
Por conta da polícia vegana, o movimento vegano agora está mais junto ou separado?
Eu acho que assim tá normal como sempre e eu acho bom que tenha todas as vertentes organizadas e cada um é livre para pensar como quiser. Eu só não acho bom é baixaria e intrigas, mentiras, isso aí não é bom, mas também faz parte. Porque eu não vou achar que a humanidade é boazinha todo mundo é querido e porque é vegano é assim, não! As pessoas são do jeito que são e apesar disso a gente tem que tocar o barco. Eu acho que tá um pouco mais organizado as tribos e isso é bom, acho que, “ah não gosta do trabalho da SVB”, vai procurar sua tribo meu caro pare de encher o saco da gente, quer trabalhar, a gente acredita nisso, não tá aqui por dinheiro. Então é procura sua tribo e eu sempre fui uma defensora da diversidade de opiniões, eu acho que isso é benéfico, até porque, assim, alguém pode me apontar um aspecto que eu também não estava atenta e eu posso mudar, mas só não gosto mesmo é da baixaria, mas isso aí faz parte.
Você acredita que o futuro é vegano de uma maneira sólida completa. Como você vê essa questão?
Eu acho que ele vai ser cada vez mais, vai ser majoritariamente, melhor dizendo, mas é aquela coisa que hoje em dia não tem canibal, ainda tem canibal, é uma coisa execrada, é sim uma coisa que ninguém aceita mais. No entanto, ainda tem. Então não vai demorar muito se é que vai acontecer algum dia que não tenha ninguém que não coma uma carne de um bicho. A humanidade é muito mais complexa do que simplesmente “a não” e depois aquela coisa que eu te falei, as pessoas são muito diferentes umas das outras. Aquilo que me agride ativamente o outro faz na maior sem nenhum problema. Eu acho que é porque principalmente até por questões do impacto ambiental que isso é uma coisa nova na história da humanidade.
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Até a década de 60 se comia carne e o planeta não era ameaçado por causa disso. Depois do confinamento dessa quantidade exorbitante de animais, que são criados e abatidos poluindo as águas usando, contaminando e derrubando as florestas. Tudo isso tá tendo um impacto que vai ficar. Olha, não vai dar para fazer mais, por isso também que eu incentivo muito todo mundo a entrar na política. Vamos fazer bancada vegetariana lá no congresso. Assim como tem a ruralista puxando para o lado, vamos fazer a nossa entra em tudo que é partido que tiver, tem espaço para gente. Eu conheci o primeiro parlamentar vegano do parlamento europeu da União Europeia. Ele me falou, é um sueco ele disse, “antes de eu ser eleito estar lá o pessoal discutia, a vamos subsidiar a carne, porque lá todos os argumentos que eles usam né muito ansiosa mas não tinha ninguém para combater, quando eu entrei lá toda vida eu levantar o dedo e contrapunha argumentos, no começo eu virei o chato, ‘ah lá o velho chato’ mas com o tempo isso aí entrou na discussão e aí é uma questão de tá na arena”. Botar mais gente tem que fazer isso também eu acho tem que amadurecer esse debate ele tem que ficar mais consistente, porque hoje em dia eles pintam e bordam e a gente nem faz parte, não somos levados em consideração ainda.
Muito, a gente consegue ver isso tão nítido né com a degradação dos biomas Pantanal Amazônia... Você pode mostrar o cara vai lá e diz “não tem nada, não tá acontecendo isso, é normal, todo ano tem queimada, não tem como evitar” ficar falando o que é falado. A gente não tem força, o movimento é isso aí também é difícil você uniformizar ele todo mundo se abraçar e juntar a pouca força que a gente já tem, porque as pessoas são do jeito que são, então cada um quer ser o protagonista, “ah não, mas aquele detalhezinho ali eu não concordo” é complicado, mas tem que ir do jeito que dá, não pode desanimar.
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Apêndice D: Gráficos da pesquisa de campo
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DIÁRIO DE CAMPO
Desde o início da graduação, eu fiquei temeroso em relação ao trabalho de conclusão e ao mesmo tempo criava expectativas de qual tema gostaria de abordar para esse projeto e o que pretendia alcançar com ele. De lá para cá, fiz uma lista em uma caderneta pessoal com temas que me chamavam a atenção. Na volta às aulas deste ano de 2020, fui riscando do papel quais temas já não me identificava mais e seguindo orientação das docentes sobre trabalhar um tema que tinha alguma conexão. Então, fiquei entre dois, e por saber que um deles poderia me causar problemas futuros, escolhi falar sobre veganismo. O veganismo não era novidade para mim, porque já tinha na família duas primas que eram ovolactovegetarianas. Além disso, gosto de cozinhar, já tinha começado minha caminhada para o veganismo desde o episódio que se tornou notícia em todo o mundo de carne estragada da JBS, em 2017. Fui eliminando aos poucos da minha vida e no momento, sou ovolactovegetariano. Pronto, escolhi o tema. E agora? Eu sabia sobre o que queria falar, mas ao mesmo tempo, não sabia de que forma discorrer sobre o tema. Com minha pesquisa de campo e ajuda da professora Mirian que viria a ser minha orientadora, entrei nesta jornada com o pé direito. Mas caí na maldição de pensar no projeto como um monstro de sete cabeças, quando no fim venci meus medos e consegui entregar tudo. A procura de fontes foi outro desafio, porque quem eu achei que conseguiria conversar, não aconteceu por diversos motivos, a maioria das respostas era falta de tempo na agenda e outros compromissos já agendados. Isso não me desanimou, mas parei de ir atrás de grandes influencers e foquei em quem faz e não mostra, o perfil procurado foi de pessoas ativistas antes da internet. No segundo semestre, com receio de acontecer o mesmo, me planejei o máximo possível, um cronograma que foi pedido ajudou ainda mais. Fiquei inseguro algumas vezes, mas depois de entrevistar a primeira fonte, que foi o presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira – SVB, Ricardo Laurino, o projeto decolou e consegui falar com outras pessoas mais seguro de mim, da minha pauta e do projeto como um todo, pois eu tinha um roteiro, um planejamento a seguir e cumprir. Em meio a um bloqueio criativo, apresentei o estudo de produto que fiz do Jornal Nexo, que é uma das minhas inspirações do jornalismo digital, e entrevistei a presidente
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da International Vegetarian Union – IVU, Marly Winckler, que me conecta de novo com este projeto. O mês de outubro começou bem, mas logo tudo foi atrasado, porque demorei mais tempo do que previ para decupar minhas entrevistas, duas fontes demoraram em assinar o termo para uso de imagem. Com o formulário aplicado no mês de setembro até o começo de outubro, percebi que 12 pessoas tinham respondido à pergunta “Qual destes tipos de dieta você segue?” com “Não sigo nenhuma das dietas citadas”. Por curiosidade e também pensando que poderia agregar à reportagem, mandei um e-mail para cada uma dessas pessoas perguntando “Você já tentou reduzir seu consumo de carne?”, “Já tentou virar vegetariano ou vegano? Se sim, por que parou?” e “tem vontade de parar o consumo de carne? Se sim, o que te motivaria?”. Duas pessoas me responderam, uma mulher entre 36 a 45 anos e uma pessoa não-binária entre 15 a 25 anos. A mulher relata que reduz o consumo de carne porque o seu intestino não estava funcionando bem e a partir desta medida, passou a melhorar. Já a pessoa não binária me conta que parou com carnes vermelhas, mas mantém as brancas porque a família é totalmente contra a essa mudança de prática e acredita que quando morar sozinha poderá tentar novamente ser vegetariana. Com a chegada do mês de novembro, uma fonte específica dificultou ainda mais o processo de escrita, decupagem, coleta de imagem de arquivo pessoal, bem... tudo em relação ao projeto. Tive que tirar um dia somente para atender as demandas que a fonte apontou a mim. Em contrapartida, este relatório e a reportagem fluíram bem. A criação do site foi um problema iniciado, sendo o primeiro projeto excluído antes mesmo de chegar na orientação. Comecei um novo site da estaca inicial, sem nenhum design pré estabelecido. Duas amigas minhas me ajudaram nesse processo. A Leonora Cruz, que cursou comigo no Ensino Médio, me ajudou com o Abstract. A Polly Oliveira Carvalho, que também estudou comigo durante grande parte do Ensino Fundamental, auxiliou-me nas decupagens. Para a revisão deste projeto, eu solicitei a ajuda da professora Marilucia Melo, que me deu aula na 1ª série / 2º ano do Ensino Fundamental I. Foi uma forma imensurável de finalizar esse ciclo da graduação com um grande aprendizado e início da minha jornada.
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