STEFANY KETELY DA SILVA - ESCRITO

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Retratos de Família Stefany Ketely da Silva Universidade Cruzeiro do Sul, Campus Liberdade 1°sem. Relações Públicas São Paulo, 13 de maio 2022

1 Retrato de família Stefany Ketely da Silva


Informações sobre o entrevistado: Decidi entrevistar a minha mãe para esse resgate de memória da família, pois era a única referência familiar presente neste momento. Nome: Josenice da Silva; nascida em 06/06/1978 em Maceió- AL; Filha única; três filhos e viúva.

Modelo de entrevista: Aproveitei o momento em que ela estava lavando a louça para começar a conversar sobre o seu passado, deixei o meu celular gravando o que nós conversávamos e fui anotando algumas informações importantes.

Descobertas: Com esse projeto pude conhecer um pouco mais a minha história e de onde vim, meus bisavós Niran Roseno e Maria de Fátima, eram indígenas da tribo Karirixocó em Maceió- AL e a minha mãe também acabou nascendo na aldeia, porém não cresceu lá. Aprendi que nem tudo que sabemos é na verdade tudo mesmo, que apenas em uma conversa podemos mudar totalmente nossa consciência e se questionar: Realmente é isso mesmo ou tem algo a mais? Principalmente quando se trata de família, sempre vamos ter algo novo para conhecermos.

Tudo começou em 1978... Em 6 de junho de 1978, minha mãe Josenice da Silva nascia numa coivara, (quantidade de ramagens a que se põe fogo nas roçadas para desembaraçar o terreno e adubá-lo com as cinzas, facilitando a fogueira) dentro da aldeia indígena Kariri-xocó em Maceió- AL. Na cultura indígena naquela época não era permitido casamento com alguém de fora da tribo, então minha avó por ter se envolvido com alguém que não era da tribo acabou sendo expulsa da aldeia e foi viver no interior com o meu avô depois do nascimento da minha mãe. Depois da minha avó ir embora minha mãe ficou com meus bisavós na aldeia, onde acabou sendo picada por um besouro e teve que ser levada ao hospital e ficou internada, deu entrada com 15 dias de nascida e saiu de lá com quase 6 meses, onde foi devidamente registrada. Minha mãe passou a maior parte da sua infância com os avós dela, eles também saíram da aldeia e foram para o interior de Maceió em São Luiz do Quitunde, criar a minha mãe pois a minha avó a rejeitou. Foi uma infância muito difícil pra minha mãe, meu avô não a assumiu nos registros e ela relata só ter o conhecido uma vez depois de adolescente. Depois de uns anos meu bisavô faleceu, minha mãe ainda era jovem tinha 15 anos, ela era muito apegada a ele e diz até hoje que ele que era o pai dela e ainda chora de saudades depois de tanto tempo. Nesse mesmo ano ela saiu escondida de Maceió veio para São Paulo através de ônibus clandestinos dentro do banheiro, pois ela tinha uma amiga aqui na capital e ficou alguns meses na casa dessa amiga. Um certo momento o namorado da amiga dela queria que minha mãe ficasse com ele, porém minha ela não quis, e com medo de perder a amizade da amiga ela saiu em procura de emprego, onde ela conseguiu trabalhar como doméstica na casa de uma moça em troca de um lugar para morar.

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Aos 17 anos em uma saída com as amigas, ela conheceu o meu pai no “Risca faca” através do irmão dele, e acabaram fazendo amizade e sempre se encontravam para dançar. Até que um certo momento, conversa vai e cachaça vem o romance surgiu e eles começaram a namorar. Com isso minha mãe saiu da casa onde morava de favores para morar com meu pai no Lajeado Velho em Ferraz de Vasconcelos.

Chegada dos filhos Aos 20 anos, em 1 de outubro de 2000 ela teve meu irmão mais velho Vitor, no resguardo da gestação ela me fez, e aos 21 anos em 18 de outubro de 2001 ela me trouxe ao mundo. Depois de eu completar três anos eles se separaram após ela descobrir traições por parte dele, ela conta que foi bem conturbada essa etapa da vida dela pois se viu sozinha com dois filhos para criar. Procurando ajuda ela conheceu uma senhora dona de uma associação que a ajudou a invadir um terreno na Cidade Tiradentes, onde ela veio e construiu uma casa de tijolos e telhas onde moramos juntos. Como ela não tinha condições financeiras para sustentar duas crianças, meu pai se aproveitou da situação irregular da nossa moradia, acabou tomando a gente para ele através da Justiça quando fiz 4 anos e colocou nós dois sobre medidas de proteção, ela não poderia ficar perto da gente. Ela se viu sem chão sem seus dois filhos, ficou anos e anos tentando se comunicar connosco escondido através de outros familiares do meu pai. Tentando recomeçar a vida, ela conta que acabou conhecendo outra pessoa na rua de cima da mesma invasão, trabalhando como diarista na casa dele, o mesmo começou a se apaixonar por ela e como ele ofereceu melhores condições de vida a ela, então resolveu ir morar junto a ele.

Em 2008 ela teve a minha irmã mais nova com ele, onde ela teve eclampsia e ficou cega após o parto, ela relata que nos primeiros 5 meses ela não enxergava nada e foi difícil cuidar da minha irmã, o meu padrasto na época pagava uma senhora para ajudar minha mãe a cuidar da pequena. A visão da minha mãe foi voltando aos poucos, ela não sabe o tempo ao certo ou dia exato, mas diz que quando conseguiu reconhecer a face da minha irmã ela chorou muito pois lembrou-se de mim e do meu irmão mais velho e deu esperança de conseguir a guarda que estava com o meu pai.

Desfecho Em 2012, depois de uma luta intensa no tribunal ela finalmente conseguiu ficar connosco permanentemente, ela diz que foi a maior realização da vida dela, foi o momento de alívio, onde seu coração poderia ficar tranquilo pois seus pesadelos acabaram e aquela nova realidade era exatamente como ela sonhou, e disse que em nem por um instante havia desistido de nós. E estamos juntos até hoje! E isso não teria acontecido se não fosse o meu padrasto Gentil, que sempre apoiou a minha mãe em toda essa jornada pela nossa guarda, ele sempre será referência de paternidade para mim, e nesse trabalho deixo registrado minha gratidão. Infelizmente ele não se encontra connosco pois em 13 de maio de 2021 o mesmo acabou falecendo.

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