Ortodontia Arte e Ciência

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Ortodontia: Arte e CiĂŞncia Roberto M. A. Lima Filho Ana Maria Bolognese



Ortodontia: Arte e Ciência Roberto M. A. Lima Filho Ana Maria Bolognese

Maringá DENTAL PRESS EDITORA 2007


Ortodontia: Arte e Ciência ISBN 978-85-88020-40-5 Copyright© 2007 by Roberto M. A. Lima Filho, Ana Maria Bolognese Todos os direitos para a língua portuguesa reservados pela editora. Qualquer parte desta publicação poderá ser reproduzida, guardada pelo sistema “retrieval” ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, seja eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação ou outros, desde que autorizado previamente, por escrito, pela editora. Direção Geral Teresa Rodrigues D´Aurea Furquim Editor Laurindo Zanco Furquim Produção Editorial Carlos Alexandre Venancio Júnior Bianchi Capa Majoi Ainá Vogel Tratamento digital das fotos Andrés Sebastián Pereira de Jesus Ilustrações Luiz Fernando de Jesus Batalha Gildásio de Oliveira Jean Pelloi Cibele Santos Jorge Faber

Normalização Marlene Gonçalves Curty Simone Lima Lopes Rafael Tradução Roberto M. A. Lima Filho Revisão / Colaboração Elma Eneida Bassan Mendes Impressão Gráfica Donnelley Moore Dental Press Editora Av. Euclides da Cunha, 1718 - Zona 5 - CEP 87015-180 Maringá - Paraná - Fone/Fax: (0xx44) 3031-9818 dental@dentalpress.com.br www.dentalpress.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

L732o

Lima Filho, Roberto M. A.

Ortodontia : arte e ciência / Roberto M. A. Lima Filho, Ana Maria

Bolognese. – Maringá : Dental Press, 2007.

496 p. : il. ; 23 cm.

ISBN 978-85-88020-40-5

1. Ortodontia I. Lima Filho, Roberto M. A. II. Bolognese, Ana Maria.

III. Título. CDD 21 ed. 617.643


Autores

Roberto M. A. Lima Filho Pós-graduado em Ortodontia pela Universidade de Illinois, Chicago, IL, E.U.A. Doutor em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Diplomado pelo American Board of Orthodontics Presidente Fundador do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO) Membro da Edward H. Angle Society of Orthodontists

Ana Maria Bolognese Pós-Doutorada em Biologia Oral pela Universidade Northwestern, Chicago, IL, E.U.A. Doutora em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Professora Titular da Disciplina de Ortodontia da UFRJ Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ortodontia da UFRJ Diretora do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO)

Colaboradores Robert J. Isaacson, D.D.S., Ph.D. Professor do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade da Virginia Commonwealth, Richmond, VA, E.U.A. Editor Chefe da Angle Orthodontist

Mark G. Hans, D.D.S., M.S.D. Professor Associado e Chefe do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia e Medicina da Universidade Case Western Reserve, Cleveland, OH, E.U.A.

Lucia H. S. Cevidanes, D.D.S., M.S., Ph.D. Pós-Doutorada pelo Departamento de Ortodontia da Universidade North Carolina, Chapel Hill, NC, E.U.A.

Donald H. Enlow, M.S., Ph.D. Professor Emérito da Faculdade de Odontologia da Universidade Case Western Reserve, Cleveland, OH, E.U.A.

Ordean J. Oyen, Ph.D. Professor do Departamento de Biologia Oral da Faculdade de Odontologia e Medicina da Universidade Case Western Reserve, Cleveland, OH, E.U.A.

James Mah, D.D.S., M.S. Professor Assistente da Faculdade de Odontologia da Universidade Southern California, Los Angeles, CA, E.U.A.

John E. Grubb, D.D.S., M.S.D. Professor Associado da Faculdade de Odontologia da Universidade Southern California, Los Angeles, CA, E.U.A.

Michael L. Riolo, D.D.S., M.S. Professor Adjunto do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de Detroit Mercy, Detroit, MI, E.U.A.

Jack G. Dale, D.D.S Pós-Doutorado em Ortodontia pela Universidade Harvard Professor Associado da Faculdade de Odontologia da Universidade de Toronto, Canadá Ex-presidente do American Board of Orthodontics


J. Martin Palomo, D.D.S., M.S.D. Graduado em Odontologia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Professor Associado e Diretor do Centro de Imagem Craniofacial da Faculdade de Odontologia e Medicina da Universidade Case Western Reserve, Cleveland, OH, E.U.A. Diplomado pelo American Board of Orthodontics

Bailey N. Jacobson, D.D.S., M.S. Hospital Children’s Memorial Chicago, IL Professor da Universidade de Detroit Mercy, Detroit, MI, E.U.A.

Ronald S. Jacobson, D.D.S., M.S. Hospital Children’s Memorial Chicago, IL Professor da Universidade de Detroit Mercy, Detroit, MI, E.U.A.

Robyn S. Silberstein, D.D.S., Ph.D. Professora do Departmento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de Illinois, Chicago, IL, E.U.A.

David M. Sarver, D.D.S., M.S. Professor Adjunto do Departamento de Ortodontia da Universidade North Carolina, Chapel Hill, NC Ortodontista clínico em Birmingham, AL, E.U.A.

James L. Vaden, D.D.S., M.S. Professor e Chefe do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade do Tennessee, Memphis, TN, E.U.A.

Edward F. Harris, Ph.D. Professor do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade do Tennessee, Memphis, TN, E.U.A.

Gregory Hutchins, D.D.S., M.S Professor do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade do Tennessee, Memphis, TN, E.U.A.

Leslie Will, D.D.S., M.S.D. Professora dos Departamentos de Ortodontia das Universidades de Illinois e Harvard E.U.A. Diretora do Programa de Graduação da Universidade Tufts E.U.A. Editora de Comunicação da American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics

Anna Letícia Lima Pós-graduada em Ortodontia pela Universidade de Illinois Chicago, IL, E.U.A. Mestre em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Diplomada pelo American Board of Orthodontics

Anna Carolina Lima Mestre em Ortodontia pelo Departamento de Ortodontia da Universidade Marquette, Milwaukee, WI, E.U.A. Ortodontista clínica em São José do Rio Preto, SP

Chester S. Handelman, D.D.S., M.S. Professor do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de Illinois, IL, Chicago, E.U.A.

Patrick K. Turley, D.D.S., M.S. Professor e Chefe do Departamento de Ortodontia da Universidade Southern California, Los Angeles, E.U.A. Diplomado pelo American Board of Orthodontics

Roberto Justus, D.D.S., M.S. Mestre em Ortodontia pela Universidade de Washington, Seattle, WA, E.U.A. Professor Titular de Ortodontia na Universidade Tecnológica do México Diretor de Pesquisa do Curso de Pós-Graduação em Ortodontia da Universidade Intercontinental Diplomado pelo American Board of Orthodontics (ABO)

Andrew J. Haas, D.D.S., M.S. Professor do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de Illinois, Chicago, IL, E.U.A.

Telma Martins de Araújo Doutora em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Professora Titular da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Coordenadora do Curso de Especialização em Ortodontia da UFBA Diretora do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO)

Jorge Faber Editor da Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial Doutor em Biologia pelo Departamento de Morfologia da Universidade de Brasília Mestre em Ortodontia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ortodontista clínico em Brasília

Marissa Keesler, D.D.S., M.S. Professora Adjunta do Departamento de Ortodontia da Universidade Marquette, Milwaukee, WI, E.U.A. Diplomada pelo American Board of Orthodontics


Dedicatória

Aos meus pais, Dora e Roberto (in memorian), por terem me dado o exercício da possibilidade. À minha esposa Anna Letícia (in memorian) que também perseguia os caminhos da ciência. Aos meus filhos, Anna Carolina e Roberto, que me permitiram crer na releitura de mim mesmo.



Agradecimentos

A Deus, porque Seu amor e misericórdia se renovam a cada manhã. À Professora Dra. Ana Maria Bolognese, pelo privilégio de contar com seu entusiasmo, energia, motivação, extremo profissionalismo e apoio fundamental na concretização desta obra, a minha eterna gratidão. Aos colegas na Arte e na Ciência da Ortodontia que, ao aceitarem compor este legado, e em cada capítulo ofereceram a excelência de suas potencialidades, o meu agradecimento sincero e emocionado. Aos parceiros Jaiter Maniglia, Renato Braz de Araújo, Dorotéia Rossi Silva Souza, Aguinaldo José Gonçalves, Anna Carolina Lima, Ana Paula Marques de Lima Oliveira, Carlos Daghlian, Elma Eneida Bassan Mendes, Laurindo Furquim, Carlos Alexandre Venancio e a equipe Dental Press que, uma vez mais, adotaram o meu sonho, e a ele se dedicaram com empenho, amizade e compromisso, o meu carinho e reconhecimento, por toda a vida. Às funcionárias da Lima Ortodontia, pela dedicação e colaboração. Aos pacientes que gentilmente compareceram para coleta de dados.



Epígrafe

“Estudos são semeaduras, quadros são colheitas.”

Vincent Van Gogh



Sumário

Prefácio Roberto M. A. Lima Filho e Ana Maria Bolognese...............................................................................................................................................................................................15

Introdução Robert Isaacson.........................................................................................................................................................................................................................................................17

Parte I - Crescimento e Desenvolvimento 1 Ortodontia: Arte e Ciência

Mark G. Hans.....................................................................................................................................................................................................................................................21

2 Conceitos de Crescimento e Desenvolvimento

Lucia H. S. Cevidanes e Donald H. Enlow.....................................................................................................................................................................................................35

3 Conceitos de Crescimento Aplicados à Ortodontia

Ordean J. Oyen...................................................................................................................................................................................................................................................47

4 Desenvolvimento de Dentição e Oclusão

James Mah, John Grubb, Robyn S. Silberstein e Michael L. Riolo.............................................................................................................................................................53

Parte II - Diagnóstico e Aplicações Específicas 5 Busca de Excelência na Documentação Ortodôntica

Jack Dale.............................................................................................................................................................................................................................................................79

6 Imagem Tridimensional

J. Martin Palomo e Mark G. Hans................................................................................................................................................................................................................117

7 Dismorfogênese Dental

Robyn S. Silberstein.......................................................................................................................................................................................................................................143

8 Diagnóstico e Tratamento de Anomalias Orofaciais Congênitas: Fendas Labial e Palatina

Bailey N. Jacobson e Ronald S. Jacobson...................................................................................................................................................................................................165


9 Considerações sobre Dentes Traumatizados no Tratamento Ortodôntico

Ana Maria Bolognese.....................................................................................................................................................................................................................................179

10 Arte e Ciência da Aparência e Estética

David M. Sarver..............................................................................................................................................................................................................................................203

11 Natureza e Tratamento Ortodôntico de Pacientes Adultos

James L. Vaden, Edward F. Harris e Gregory Hutchins............................................................................................................................................................................227

Parte III - Tratamento e Efeitos 12 Expansão Maxilar: Procedimentos e Resultados

Leslie Will.........................................................................................................................................................................................................................................................259

13 Resposta do Arco Mandibular após Expansão Rápida da Maxila

Roberto M. A. Lima Filho, Anna Letícia Lima e Anna Carolina Lima......................................................................................................................................................269

14 Expansão Não Cirúrgica em Adultos

Chester S. Handelman...................................................................................................................................................................................................................................287

15 Classe II e Dimensão Transversa

Roberto M. A. Lima Filho..............................................................................................................................................................................................................................313

16 Tratamento da Maloclusão Classe III

Patrick K. Turley..............................................................................................................................................................................................................................................343

17 Tratamento Clínico da Mordida Aberta

Roberto Justus................................................................................................................................................................................................................................................357

18 Técnica Tandem: um Tratamento para Três Dimensões

Andrew J. Haas...............................................................................................................................................................................................................................................377

19 Ancoragem Esquelética com Miniimplantes

Telma Martins de Araújo...............................................................................................................................................................................................................................393

20 Ancoragem Esquelética com Miniplacas

Jorge Faber......................................................................................................................................................................................................................................................449

21 Colagem Indireta

Marissa Keesler..............................................................................................................................................................................................................................................475


Prefácio

O livro se propõe a contribuir para a prática da Ortodontia por reunir conceitos fundamentados na experiência e articulados dentro de uma visão evolutiva e inovadora de ciência. Nessa direção, os ensaios reunidos trabalham com questões básicas e, portanto, conhecidas da Ortodontia, entretanto tratadas e refletidas com profundidade conceitual responsável pela permanência de princípios científicos comprovados. Procura também abrir caminhos que possam levar outros profissionais a ampliarem os horizontes nas suas perquirições científicas. Ao eleger os três segmentos da prática ortodôntica (Crescimento e Desenvolvimento; Diagnóstico e Aplicações Específicas e Tratamento e Efeitos) o objetivo específico era salientar ao clínico, técnicas e efeitos de tratamento fundamentados em princípios científicos, aliados a conceitos de diagnóstico e plano de tratamento. O que faz nesta obra a diferença na abordagem de tais conceitos é sua natureza de revisão epistemológica, necessária a qualquer proposta de divulgação de conhecimento.

Para que se cumprissem tais propósitos utilizou-se o seguinte procedimento: em três seções o assunto foi desenvolvido em progressão reunindo ensaios de pesquisadores renomados e ativos em suas linhas de atuação. Dessa forma, pode-se dizer de grupos multidisciplinares que se articulam e que conferem ao livro certa harmonia conceitual. O movimento que se dá é da prática à teoria, que por sua vez, remete o leitor a novas possibilidades de clínica ortodôntica. Nessa busca de harmonia conceitual e de atitude científica foram escolhidos e convidados os colaboradores. O critério se firmou, não nas similaridades de matéria e conceito, mas nas aproximações de propósitos frente à ciência. Nisso tentou-se encontrar uma invariante que norteasse os caminhos do trabalho.

Ortodontia: Arte e Ciência - Roberto M. A. Lima Filho, Ana Maria Bolognese

Roberto M. A. Lima Filho e Ana Maria Bolognese

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Introdução

Robert J. Isaacson

O aspecto mais fascinante da prática ortodôntica, uma das maravilhas da Ortodontia, talvez seja a combinação de arte e ciência. Ao contrário da maioria das disciplinas, a Ortodontia propicia oportunidades para o artista e desafios para o cientista. Quando a necessidade ortodôntica se apresenta como problema estético, a resposta natural é procurar uma solução artística. A oportunidade de proporcionar beleza é muito gratificante. Entretanto, quando fica evidente que as soluções artísticas isoladamente não resolvem totalmente os problemas, devemos retornar à ciência e ao método científico. A ciência moderna tem o compromisso de apresentar dados que possam ser reproduzidos na expectativa de obter resultados mais previsíveis. A ciência é fundamentada na objetividade e atualmente a tendência é a Ortodontia baseada em evidências. Essa tendência tem gerado grande impacto na área da saúde e, particularmente, na Ortodontia. O livro dos professores Roberto M. A. Lima Filho e Ana Maria Bolognese Ortodontia: Arte e Ciência é uma contribuição fun-

damental nessa direção. O trabalho é especialmente importante no país em que os autores vivem, uma vez que o Brasil é um dos países mais populosos do mundo e apresenta insuficiência no atendimento ortodôntico. O país se encontra no início de um crescimento explosivo, necessitando, portanto, de informação segura aplicável às necessidades particulares da população. Exemplo de uma boa prática é aquele baseado em evidências. Evidência é a palavra chave e a questão principal pode ser exatamente o que entendemos por ela. A prática baseada em evidência significa que o clínico insiste na comprovação científica para fundamentar as decisões tomadas e fazer uma opção de tratamento. Cabe aqui uma pergunta: será que sempre usamos a melhor informação disponível para decidir o plano de tratamento? Sim, mas decisões baseadas em evidências significam atualmente uma compreensão muito mais sofisticada da verdade relativa da evidência. Nos estágios iniciais de sua formação, o futuro ortodontista aprende com um profissional

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Introdução

experiente na área, participa de cursos e assiste a conferências. Nem todas as informações recebidas são baseadas em evidência, pois parte delas representa apenas a experiência do profissional. Mas como o principiante identifica a diferença? Como o neófito discrimina fatos que devem ser mantidos ou implementados e opiniões sem comprovação que devem ser ignoradas? Algumas vezes, o estilo e o encanto do conferencista podem cativar mais a audiência do que o conteúdo da apresentação. O estilo interfere intensamente nos procedimentos de compra e venda, mas não interfere nos fundamentos na ciência. Informações de gurus normalmente estão no mesmo nível que qualquer outra opinião fundamentada em fonte de dados. Como uma coluna de jornal, um guru pode ser encantador e esperto, mas geralmente apenas apresenta dados selecionados para fundamentar sua conclusão pré-estabelecida. A má informação tende a preencher o vazio; assim, a era do guru dura enquanto houver falta de boa informação. Na medida em que determinada área se desenvolve e a boa informação se torna disponível, o encanto dos gurus desvanece. Estamos testemunhando essa mudança na Ortodontia atual. O que é verdade relativa ou valor da evidência? Como pode um fato ser melhor que outro? Anteriormente, quando víamos um caso bem tratado, era natural apenas aplicar o mesmo procedimento em caso similar. Algumas vezes o sucesso era obtido, mas outras vezes não. Isso se deve ao fato de um caso bem tratado não representar evidência muito confiável. Relatos de casos são afirmações sobre o que pode acontecer, mas não oferecem evidência muito segura do que acontecerá se esse tratamento for aplicado em um determinado paciente. Pacientes apresentam tantas variáveis que impossibilitam uma avaliação completa no sentido de que o tra18

tamento possa ser totalmente previsível. O ortodontista contemporâneo bem formado confia e toma decisões baseadas em recursos metodológicos da ciência moderna. Isso significa que o método científico é o padrão “ouro”. O método científico requer dados objetivos obtidos cuidadosamente por meios controlados. O que isso significa? Quais são as regras? Quando se utilizam recursos metodológicos da ciência, a ausência de dados completos não permite conclusões absolutas em relação aos resultados experimentais. Para resolver esse problema, utiliza-se a probabilidade para determinar o indício da verdade nos resultados experimentais. Estatística é apenas forma de expressar a probabilidade de que os resultados sejam na realidade verdadeiros e reprodutíveis. As ciências físicas são as mais eficientes e têm progredido em índices de evidência bem estabelecidos e reprodutíveis. Elas são provavelmente o que temos de mais próximo das verdades fundamentais, mas ainda não são perfeitas e apenas aplicam certas porções de informação em Ortodontia. Nessa perspectiva, ciências sociais são menos precisas e requerem grande interpretação dos dados que produzem e, entre as duas, encontram-se as ciências biológicas, não tão exatas como as ciências físicas e mais fundamentadas em dados reprodutíveis que as ciências sociais. Nesse sentido, como uma ciência biológica, a Ortodontia emprega muitas formas de evidência. A evidência menos confiável é a delineada para vender um produto ou apoiar interesses emocionais ou financeiros. Esse nível de evidência é comumente caracterizado por testemunhos. O fato de uma pessoa bem conhecida ser favorável a uma idéia não implica que a mesma seja verdadeira. Um nível relativo de evidência inclui dados

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Robert J. Isaacson

provenientes da experiência como nos relatos de caso, embora reconheçamos a forma imperfeita e empírica dessa evidência, a mesma ainda pode ser convincente. Enquanto relatos de casos não revelam o que esperar de um determinado paciente, indicam o que é possível sob um conjunto de condições parcialmente conhecidas. Informam o que pode ser possível, mas nenhum relato de caso isolado pode ser determinante em situações clínicas semelhantes. Um relato de caso limita-se a informações que nos ajudam a pensar, mas não é uma diretriz para uma conduta sistematizada. Experiências clínicas devem influenciar tratamento clínico específico, apenas quando os fatos fundamentais são conhecidos. Atualmente, a melhor fonte de informação provém de pesquisa ou de relatos investigativos, mas isso não significa que devemos confiar em toda evidência oriunda de pesquisas. Um estudo isolado apenas adiciona um tijolo na parede do conhecimento. A natureza da hipótese nula é aquela que apenas pode ser capaz de confirmá-la quando não existe relação entre X e Y. A única alternativa é rejeitar a hipótese nula que também é inconclusiva. Ainda que esses tipos de dados representem um elevado nível, não oferecem perspectiva de maior confiabilidade. Atualmente, o “padrão ouro” para os clínicos é o ensaio clínico aleatório. Aqui uma população experimental aleatória é dividida em dois grupos: um que recebe tratamento e outro grupo que recebe um placebo, sendo ambos os grupos cegos. Próximo a isso, estaria casos de gêmeos idênticos tratados diferentemente ou de animais equivalentes de grupos experimentais geneticamente similares. A maioria dos ortodontistas procura evidência para aplicação imediata, mas ainda tem grande respeito e admiração pela pesquisa básica. Entretanto, devido à sua natureza, a pes-

quisa básica exerce grande impacto na ciência e em nossas vidas. Em outras palavras, a pesquisa básica, ao contrário da aplicada, caracteriza-se pela ausência de aplicação específica. No caso da pesquisa clínica em que pacientes são envolvidos, pode ser básica ou aplicada. Ortodontia baseada em evidência utiliza tanto pesquisa básica como aplicada, podendo ser ou não clínica. Utiliza conhecimento e comportamento racional para avaliar o desconhecido encontrado em todo trabalho de pesquisa. Trata-se da correção ortodôntica que se utiliza da melhor informação disponível. Entretanto, isso deve compreender que o objetivo de tornar a prática clínica uma ciência perfeita não garante perfeição. Ortodontia baseada em evidências significa estar em contato com as melhores informações e dados disponíveis, ciente de suas limitações e aplicá-las com critério no tratamento de pacientes. É fundamental saber o que realmente se conhece e do mesmo modo reconhecer as limitações dessa informação. Devemos isso aos nossos pacientes. Atualmente, as conferências mais concorridas são as que enfocam novos aparelhos. Todos querem levar a recompensa de uma nova informação após terem despendido tempo e recursos financeiros assistindo a conferências. Essa é uma expectativa normal. Portanto, se você quiser se livrar do círculo vicioso do “aparelho da moda”, será mais benéfico olhar o problema de forma diferente como fizeram os professores Lima e Bolognese nesta obra. Dizer que a Ortodontia é ciência e arte é dizer que existem princípios científicos seguros e bem estabelecidos que fundamentam muitos de nossos procedimentos. Existem também vários aspectos da prática ortodôntica que são fundamentados em evidências não tão confiáveis. Não podemos confundir o que realmente sabemos com o que pensamos saber.

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Introdução

O objetivo da Ortodontia é promover condutas que são fundamentadas na boa ciência e, portanto, fornecer evidência em que podemos confiar. Esses são os princípios; e princípios de aprendizagem são a essência da educação. São mais difíceis uma vez que não apresentam aplicações óbvias. É bem diferente adotar as últimas recomendações de um conferencista e começar a seguir orientações precisas porque alguém disse que “em minhas mãos funciona”. Essa abordagem é basicamente de tentativa e erro e o ciclo se repete no próximo ano, e no seguinte, com crescente frustração. Conceitos que adotam base sólida de ciência são difíceis de serem alterados de maneira expressiva. Se os conceitos podem ser explicados com ciências físicas, podemos esperar que sejam confiáveis. Se eles podem ser explicados por bons estudos repetidos que apresentam conclusões semelhantes, eles representam boa probabilidade de bom resultado. Por outro lado, se são explicados por um exemplo sem fundamento de como supostamente funcionam ou pela afirmação de um conferencista carismático, eles apresentam elevada probabilidade de não dar bons resultados e não se comportar, de maneira correta, na aplicação da prática clínica. Isso não é uma disputa entre teoria e prática. Para que qualquer informação seja confiável, é necessário estar fundamentada em princípios bem estabelecidos. Novos dispositivos e inovações mágicas aparecem hoje e desaparecem amanhã. Por outro lado, educação possibilita entendimento de princípios e também compreensão do processo de desenvolvimento da verdade. Novos segredos, soluções clínicas e instruções de como fazer são treinamentos que utilizados ape-

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nas até a próxima novidade. Antigamente, o segredo da Ortodontia era saber como o aparelho funcionava. Nos dias de hoje, o conhecimento da ciência é o princípio básico que explica como um tratamento funciona. Um bom programa de educação continuada ou um bom texto treinarão ou fornecerão princípios para utilização do teste científico que seja eficiente e que conduza ao melhor resultado. Quando procuramos um profissional especializado, esperamos dele uma combinação de ciência e experiência. A conduta pode não ser perfeita, mas temos o direito de esperar que o profissional tenha formação na maioria dos aspectos da ciência que fundamentam esse serviço e que seja treinado para aplicálo corretamente. Novas idéias surgirão e não devem ser recebidas como perigos ou ameaças. Representam esperança para o progresso e crescimento. Novas idéias somente são perigosas quando adotadas e implementadas sem evidência adequada da verdade relativa. Uma demonstração do sucesso clínico em um caso não é boa evidência de um princípio. A melhor Ortodontia e os melhores ortodontistas são aqueles que não apenas realizam procedimentos e tratamentos com base na melhor informação disponível, mas também conhecem as limitações dessa informação. Isso deixa amplo espaço para a nossa capacidade cerebral de contribuir para a fusão da arte e ciência na Ortodontia. Os professores Lima e Bolognese merecem elogio por ter reunido renomado grupo de colaboradores nessa maravilhosa coleção de princípios mesclados com suas aplicações. Esse livro representa uma grande contribuição para a especialidade. Todos que o lerem serão enriquecidos.

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