v16n0611o03

Page 1

Artigo Online*

Estudo cefalométrico prospectivo dos efeitos da terapia de tração reversa da maxila associada à mecânica intermaxilar Juliana de Oliveira da Luz Fontes**, Guilherme Thiesen***

Resumo Objetivo: o diagnóstico e o tratamento precoce do Padrão III são temas ainda muito discutidos

na literatura ortodôntica. A tração reversa associada à expansão rápida da maxila constitui a abordagem mais popular e estudada, produzindo os melhores resultados no menor período de tempo. O foco deste estudo foi avaliar as mudanças gradativas ocorridas no complexo dentofacial em crianças com Padrão III de crescimento tratadas com tração reversa da maxila associada à mecânica intermaxilar. Métodos: a amostra foi constituída por 10 pacientes Padrão III, com média de idade de 8 anos e 2 meses ao início do tratamento, tratados consecutivamente com aparelho expansor de Haas modificado, arco lingual modificado, elásticos intermaxilares e máscara de Petit para tração reversa da maxila por 9 meses. Foram realizadas 4 telerradiografias em norma lateral de cada paciente, uma correspondente ao início do tratamento e as demais em intervalos regulares de 3 meses (T1, T2, T3 e T4). As grandezas cefalométricas foram comparadas entre os tempos através de Análise de Variância de Medidas Repetidas, complementada pelo Teste de Comparações Múltiplas de Tukey. Resultados: pôde-se observar que as alterações esqueléticas mais significativas ocorreram nos primeiros 3 meses de tratamento, sendo que, após esse período, elas se mantiveram constantes até o final do tratamento. Ocorreram poucas compensações dentárias e as alterações verticais ocorridas apresentaram significado clínico reduzido. Conclusão: a terapia empregada obteve não só uma correção do trespasse horizontal entre as arcadas, mas também uma melhora no relacionamento sagital entre as bases ósseas e na estética tegumentar. Palavras-chave: Prognatismo. Técnica de expansão palatina. Aparelhos de tração extrabucal. Má oclusão.

Resumo do editor Apesar da baixa prevalência da má oclusão de Classe III quando comparada às demais más oclusões, suas marcantes características faciais conduzem à necessidade de abordagens terapêuticas

precoces. O tratamento dessa má oclusão representa um dos principais desafios para o ortodontista na sua prática clínica, devido ao seu complexo controle e dificuldade de predição do padrão morfogenético de crescimento do paciente até a fase adulta.

Como citar este artigo: Fontes JOL, Thiesen G. Estudo cefalométrico prospectivo dos efeitos da terapia de tração reversa da maxila associada à mecânica intermaxilar. Dental Press J Orthod. 2011 Nov-Dec;16(6):38-40.

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

* Acesse www.dentalpress.com.br/revistas para ler o artigo na íntegra. ** Especialista em Ortodontia pela UNISUL. *** Mestre em Ortodontia e Ortopedia Facial PUC/RS. Professor de Ortodontia da UNISUL.

Dental Press J Orthod

38

2011 Nov-Dec;16(6):38-40


Fontes JOL, Thiesen G

Dentre as modalidades de tratamento precoce da má oclusão de Classe III, a tração reversa da maxila constitui o protocolo mais difundido e estudado na literatura ortodôntica. A proposta dos autores do presente trabalho foi avaliar o efeito da tração reversa da maxila associada ao uso de mecânica intermaxilar mediante elásticos sagitais de Classe III. Para isso, realizou-se um estudo cefalométrico com uma amostra de 10 pacientes, sendo 6 do sexo feminino e 4 do sexo masculino, tratados consecutivamente com o aparelho expansor de Haas modificado, seguido do uso da máscara facial de Petit para tração reversa da maxila por um período de 9 meses. Ao uso da máscara foram associados elásticos com orientação de Classe III ancorados no aparelho expansor e em um arco lingual de Nance modificado (Fig. 1). As alterações dentárias, esqueléticas e tegumentares foram avaliadas por meio de

telerradiografias em norma lateral obtidas em quatro tempos distintos: T1, início do tratamento, antes da instalação dos aparelhos; T2, após 3 meses de tratamento; T3, após 6 meses de tratamento; e T4, após 9 meses de tratamento, imediatamente antes da remoção dos aparelhos. Após a coleta dos dados, realizou-se a aplicação de testes estatísticos. Os resultados demonstraram que as alterações esqueléticas mais significativas ocorreram nos primeiros 3 meses de tratamento, sendo que, após esse período, elas se mantiveram constantes até o final do tratamento. Ocorreram poucas compensações dentárias e as alterações verticais ocorridas apresentaram significado clínico reduzido. Dessa forma, os autores concluem que a terapia empregada obteve não só uma correção do trespasse horizontal, mas também uma melhora no relacionamento sagital entre as bases ósseas e na estética facial.

Figura 1 - Dispositivos ortodônticos utilizados no presente trabalho.

Questões aos autores aumenta-se o deslocamento anterior da maxila. Assim, buscamos, em pacientes em crescimento, tentar potencializar esse efeito ortopédico sem a necessidade de recursos de ancoragem esquelética ou anquilose de caninos decíduos. Usamos para isso um arco lingual reforçado com ganchos por vestibular, além de ganchos na distal do disjuntor de Haas, para utilização de elásticos com orientação de Classe III, que aplicavam de 200 a 350 gramas, 24 horas por dia. Entretanto, pela comparação dos nossos achados com os resultados descritos na

1) Quais foram os ganhos reais ao adicionar os elásticos com orientação de Classe III à terapêutica com máscara facial? Nossa ideia era avaliar os efeitos de forças intermaxilares incorporadas à terapia de protração maxilar por meio da ERM e máscara facial de Petit, visto que alguns autores relataram na literatura o uso de dispositivos intermaxilares visando potencializar os efeitos esqueléticos da tração reversa da maxila1-4. Tais autores alegam que, ao aumentar a força aplicada na protração maxilar,

Dental Press J Orthod

39

2011 Nov-Dec;16(6):38-40


Estudo cefalométrico prospectivo dos efeitos da terapia de tração reversa da maxila associada à mecânica intermaxilar

literatura, observa-se que essa terapia empregada não conseguiu aumentar drasticamente o efeito ortopédico almejado no tratamento interceptativo do Padrão III. Entretanto, em alguns pacientes bastante colaboradores, essa potencialização dos efeitos esqueléticos foi obtida5. Isso comprova que a colaboração do paciente é essencial para a obtenção de bons resultados com a protração maxilar6 e que o uso de maiores níveis de força para esses pacientes pode ser bastante benéfico.

no presente trabalho, não maximiza a participação dentoalveolar no tratamento; porém, também não foi possível potencializar significativamente os efeitos esqueléticos da terapia. Entretanto, nosso maior achado foi constatar que, dentre os efeitos gradativos ocorridos durante o tratamento, praticamente todas as alterações esqueléticas significativas ocorreram nos primeiros 3 meses de tratamento — sendo que, após esse período, elas se mantiveram praticamente constantes até o seu término.

2) A utilização dos elásticos intermaxilares não poderia potencializar o efeito ortodôntico dessa terapia? Essa era uma de nossas indagações iniciais quando planejamos essa pesquisa, além, é claro, de avaliar os efeitos dentários e esqueléticos induzidos pela terapia de protração maxilar ao longo desse tratamento (com avaliações cefalométricas de 3 em 3 meses). Assim, os resultados apresentados deixam claro que o emprego concomitante da máscara facial e terapia intermaxilar, conforme proposto

3) Vocês pretendem continuar com essa linha de pesquisa? Quais os trabalhos futuros? Sim, nossa intenção é continuar estudando formas de tratamento para o Padrão III em crescimento. Infelizmente, como não possuímos grupo controle longitudinal de pacientes Padrão III, temos a intenção de aumentar a amostra apresentada, além de compará-la com outros diferentes métodos de protração maxilar, como o uso de máscara facial isolada, mentoneira com ganchos (Skyhook), dentre outros.

Referências 1.

Ferro A, Nucci LP, Ferro F, Gallo C. Long-term stability of skeletal Class III patients treated with splints, Class III elastics, and chincup. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2003 Apr;123(4):423-34. 2. Haas AJ. Palatal expansion: just the beginning of dentofacial orthopedics. Am J Orthod. 1970;57(3):219-55. 3. Haas AJ. JCO interviews. J Clin Orthod. 1973;7(4):227-45. 4. Liou EJ, Tsai WC. A new protocol for maxillary protraction in cleft patients: repetitive weekly protocol of alternate rapid maxillary expansions and constrictions. Cleft Palate Craniofac J. 2005;42(2):121-7.

5.

6.

Thiesen G, Fontes JOL, Zastrow MD, Lima MH, Nuernberg N. Tração reversa da maxila associada à mecânica intermaxilar no tratamento precoce do Padrão III: relato de caso. Rev Clín Ortod Dental Press. 2009;8(4):84-92. Vieira GL, Menezes LM, Lima EM, Rizzatto S. Dentoskeletal effects of maxillary protraction in cleft patients with repetitive weekly protocol of alternate rapid maxillary expansions and constrictions. Cleft Palate Craniofac J. 2009;46(4):391-8.

Enviado em: 18 de outubro de 2008 Revisado e aceito: 14 de maio de 2009

Endereço para correspondência Juliana de Oliveira da Luz Fontes Rua Hermínio Millis, 66 – Bom Abrigo CEP: 88.085-320 – Florianópolis/SC E-mail: juliana.fontes@gmail.com

Dental Press J Orthod

40

2011 Nov-Dec;16(6):38-40


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.