v17n02o06-pt

Page 1

artigo inédito

Características dentofaciais de pacientes portadores de má oclusão Classe II e Classe III de Angle Rogério Lacerda dos Santos1, Antônio Carlos de Oliveira Ruellas2

Objetivo: esse estudo avaliou algumas medidas cefalométricas do perfil tegumentar afim de observar o comportamento da convexidade facial em pacientes portadores de má oclusão Classe I e Classe, 1ª divisão, e Classe II, 2ª divisão. Métodos: foram selecionadas 130 telerradiografias de pacientes leucodermas em fase inicial de tratamento ortodôntico, com idade entre 10 e 16 anos (média de 12,6 anos), divididos em 3 grupos. As medidas cefalométricas utilizadas nesse estudo foram: HSN, Cx, NLA, LMA, Ls-S, Li-S, IMPA e 1-SN. A análise de variância e o teste de Tukey foram realizados nas medidas HSN, Cx, IMPA, 1-SN, LMA e NLA. Para as variáveis Ls-S e Li-S, foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis e Dunn. Resultados: os resultados mostraram que as medidas HSN, Cx, Ls-S e IMPA tiveram diferença estatisticamente significativa entre os grupos I e II, 1, e entre os grupos I e II, 2 (p<0.05). As medidas Li-S e LMA tiveram diferença estatisticamente significativa apenas entre os grupos I e II, 1 (p<0.05). A medida NLA não teve diferença estatisticamente significativa entre os 3 grupos (p>0.05). Conclusão: pode-se concluir que a má oclusão Classe II, 1ª divisão, e Classe II, 2ª divisão, se diferenciaram da Classe I pelas características faciais expressadas pelas medidas HSN, Cx, Ls-S. A má oclusão Classe II, 1ª divisão, apresentou características faciais que a diferenciou da Classe II, 2ª divisão e Classe I, 1ª divisão, quanto à medida LMA. Palavras-chave: Má oclusão. Cefalometria. Classificação de Angle.

1

Especialista em Ortodontia, Universidade Federal de Alfenas. Mestre e Doutor em Ortodontia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Adjunto de Ortodontia ,Universidade Federal de Campina Grande.

Como citar este artigo: Santos RL, Ruellas ACO. Dentofacial characteristics of patients with Angle Class I and Class II malocclusions. Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):46e.1-7.

2

Professor Associado do Departamento de Odontopediatria e Ortodontia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Enviado em: 29/07/2008 - Revisado e aceito: 24/11/2008 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Endereço para correspondência: Rogério Lacerda dos Santos Av. dos Universitários, s/n. Rodovia Patos/Teixeira, Km 1, Santa Cecília – Patos/PB CEP 58700-970 – E-mail: lacerdaorto@hotmail.com / lacerdaorto@bol.com.br

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics

46.e1

Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):46e.1-7


Características dentofaciais de pacientes portadores de má oclusão Classe II e Classe III de Angle

artigo inédito

INTRODUÇÃO O conceito de beleza é filosófico, uma vez que o atributo refere-se a uma dimensão supramaterial e se manifesta por meio de realidades mediatas que o tornam perceptível ao olhar e sensível à razão e à emoção. A noção de “perfil harmonioso” difere de pessoa para pessoa e de uma raça ou grupo étnico para outro. O perfil harmonioso, então, pode ser considerado uma variante, dependendo de fatores étnicos ou raciais e fatores temporais dos indivíduos7, não podendo ser analisado exclusivamente por valores médios ou números. A importância da identificação dos tipos faciais de cada indivíduo deriva da influência que ele exerce sobre o perfil e suas arcadas dentárias10. A relação dos incisivos com suas respectivas bases ósseas e o padrão de crescimento facial apresentavam, também, uma influência significativa na avaliação do perfil tegumentar, segundo Riedel25. Avaliadores tendem a preferir uma posição mais retraída dos lábios para diminuição da convexidade e melhor estética facial em ambos os sexos17. Várias estruturas formam esse complexo chamado “perfil facial”, que sofre mudanças durante toda a vida. Verificou-se em estudos que, na juventude, o maior crescimento foi na área do nariz e lábios, enquanto no mento o crescimento foi mínimo. O comprimento do lábio superior foi completado com 7 anos de idade, porém, no perfil facial adulto, notou-se para ambos os gêneros, aumento de profundidade e do comprimento do nariz. Os lábios superior e inferior dos homens diminuíram em espessura, embora nas mulheres o perfil tornou-se mais convexo porque as alterações de crescimento do nariz foram maiores que as do mento20. Já em termos de área absoluta e área total, lábios e mento foram maiores nos homens; o mento masculino e o nariz feminino foram significativamente maiores. O resultado global foi um perfil masculino mais reto e um perfil feminino mais convexo28. O conceito de beleza facial dos últimos cem anos, especialmente nessa última década, vem passando por alterações de concordância estética. O perfil atual se manifesta com lábios mais salientes, em contraste com os perfis do início do século XX que ostentava lábios delgados e menos volumosos. Uma das razões poderia ser que lábios mais cheios tendem a demonstrar mais juventude. Cada vez mais busca-se comparar, relacionar e definir padrões e medidas confiáveis para a avaliação da estética facial, com o

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics

intuito de avaliar e definir confiabilidade na avaliação desses perfis. O presente estudo se propôs a comparar algumas medidas, relacionando a convexidade facial de pacientes portadores de má oclusão Classe I e II, 1a divisão, e Classe II, 2a divisão, entre si e com as medidas padrão. MATERIAL E MÉTODOS Previamente, esse trabalho foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas, sendo aprovada a sua execução. Para o estudo, foram selecionadas 130 telerradiografias de pacientes leucodermas em fase inicial de tratamento ortodôntico, obtidas pela técnica de Broadbent6, com idade entre 10 e 16 anos, média de 12,6 anos, pertencentes à clínica do Curso de Especialização em Ortodontia da Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas. Quanto ao sexo, os integrantes da amostra foram selecionados de maneira aleatória e nenhum deles havia sido submetido a tratamento ortodôntico de qualquer espécie, e não poderiam apresentar mordida cruzada, mordida aberta e não ter indicação para tratamento ortocirúrgico. A amostra foi dividida em três grupos. O primeiro, denominado grupo “I”, composto de 50 indivíduos com má oclusão de Classe I, sendo 26 do sexo masculino e 24 do sexo feminino. O segundo, denominado grupo “II-1”, constituído de 50 indivíduos com má oclusão de Classe II, 1ª divisão, sendo 25 do sexo masculino e 25 do sexo feminino, e o terceiro, denominado grupo “II-2”, constituído de 30 indivíduos com má oclusão de Classe II, 2ª divisão, sendo 14 do sexo masculino e 16 do sexo feminino. As más oclusões foram classificadas pelo exame de modelos em gesso (relação molar, segundo Angle1, e as medidas angulares cefalométricas ANB, 1.SN, sendo que todas más oclusões Classe I de Angle eram Classe I esquelética (ANB entre 0 e 4°), e todas más oclusões Classe II (1ª e 2ª divisão) eram Classe II esquelética (ANB maior ou igual a 5°). O método escolhido foi o de comparação de medidas cefalométricas. Todas as radiografias foram obtidas segundo as normas de padronização do 1° workshop de cefalometria26. Todos os traçados foram realizados com objetivo de selecionar as estruturas anatômicas de interesse, e as medições foram executadas por um único ortodontista, conferidas duas vezes em momentos diferentes.

46.e2

Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):46e.1-7


Santos RL, Ruellas ACO

inicial, segundo Midtgard, Björk e Linder-Aronson19. O erro foi calculado de acordo com a fórmula proposta por Dahlberg8 e defendida por Houston15, e realizado o teste t pareado (para as variáveis com distribuição normal) e Wilcoxon pareado (para as variáveis Ls-S e Li-S), comparando-se os dois momentos com o nível de significância de 5%. Os valores dos desvios foram inferiores aos limites aceitáveis para avaliação do erro de método, que são de 1,5° para as medidas angulares e 1,0mm para as medidas lineares, segundo as recomendações de Houston15.

As medidas angulares usadas foram: • Ângulo de convexidade facial (Cx), formado pela intersecção da linha que passa pelo ponto glabela (G’) ao ponto subnasal (Sn) e outra linha do ponto subnasal (Sn) ao ponto pogônio mole (Pog’). Idealmente deverá ser de -11 ± 4°, segundo Downs9 (Fig. 2). • Ângulo (H.SN), formado pela intersecção da linha SN com a linha H. Para Holdaway e Merrifield14, o valor desse ângulo deve ser de 73° (Fig. 2). • Ângulo nasolabial (NLA), formado pela intersecção da linha que passa pelo ponto columela (Cm) e subnasal (Sn), e da linha passando pelo ponto lábio superior (Ls) e subnasal (Sn)2. Segundo Sheideman27, o ângulo nasolabial deve ser de 110°, com um desvio clínico de 90 a 110° (Fig. 1). • Ângulo mentolabial (MLA), formado pela intersecção de uma linha passando pelo ponto vermelhão do lábio inferior (LV) até o ponto B’, e uma linha do ponto B’ ao ponto pogônio mole (Pog’) que, segundo Nguyen e Turley22, deve ser de 128,5° com desvio clínico de ± 11° (Fig. 1). • Ângulo (1-SN), formado pela intersecção do longo eixo do incisivo superior e linha SN. O valor considerado ideal para esse ângulo é de 103°, segundo Steiner e Riedel29 (Fig. 1). • Ângulo (IMPA), formado pela intersecção do longo eixo do incisivo inferior e plano mandibular. O valor normativo desse ângulo deve ser de 90° ± 5, segundo Tweed30 (Fig. 1). As medidas lineares utilizadas foram: • Ls-S: distância do ponto mais anterior da convexidade do lábio superior à linha S de Steiner. Segundo Steiner29, o ideal é que essa distância seja de 0mm (Fig. 2). • Li-S: distância do ponto mais anterior da convexidade do lábio inferior à linha S de Steiner. Segundo Steiner29, o ideal é que essa distância também seja de 0mm (Fig. 2).

1 -SN

NLA

LMA IMPA

Figura 1 - Representação de medidas angulares do posicionamento dentário e da postura labial.

HSN

Cx

ANÁLISE ESTATÍSTICA Erro do método A fim de se avaliar o erro do método, aumentando-se a sua confiabilidade, foram selecionadas, aleatoriamente, 30 telerradiografias provenientes dos três grupos estudados. As radiografias foram traçadas novamente por um único operador, após um período de 1 mês do traçado

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics

Ls-S

Li-S

Figura 2 - Representação de medidas angulares da convexidade facial e de medidas lineares do posicionamento labial.

46.e3

Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):46e.1-7


Características dentofaciais de pacientes portadores de má oclusão Classe II e Classe III de Angle

artigo inédito

Análise dos dados Inicialmente, foi realizada uma análise exploratória dos dados utilizando-se o Proc Lab do programa estatístico SAS (SAS Institute Inc., Cary, EUA, versão 8.2). Para os dados que atenderam as pressuposições da análise paramétrica (Cx, IMPA, 1-SN, LMA e NLA), foi realizada análise de variância e teste de Tukey. Para a variável HSN, foi utilizada a transformação logarítmica e, a seguir, a análise de variância e teste de Tukey. Para as demais variáveis (Li-S e Ls-S), como não atendiam as pressuposições da análise paramétrica, foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis e Dunn. Para algumas variáveis foi utilizada a mediana ao invés da média, devido algumas medidas terem mostrado-se discrepantes e não indicadas para a realização da média, porém, isso não lesa os objetivos desse estudo, uma vez que o teste aplicado para uma variável era o mesmo para os

três tipos de más oclusões, e elas comparadas entre si, buscando a semelhança entre si. Em todas as análises foi considerado o nível de significância de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO A medida 1-SN apresentou diferença estatisticamente significativa entre os 3 grupos (p<0,05) (Gráf. 1), corroborando com os achados de Riedel25, e mostrou ser uma medida capaz de diferenciar essas más oclusões, porém, ao se ponderar o d.p., observa-se que ele apresentou valores expressivos para todas más oclusões (6,02 Classe I; 6,39 Classe II-1; 5,18 Classe II-2), o que sugere variações na inclinação da base craniana e inclinação axial do incisivo superior, que pode sofrer variações resultantes de fatores inerentes ao crescimento esquelético anteroposterior13,21, musculatura peribucal, língua e posicionamento dos dentes24 antagonistas.

Tabela 1 - Medidas Angulares dentofaciais. Medidas angulares Grupos

1-SN

IMPA

I

105,34(6,02)

II-1 II-2

LMA

NLA

Cx

HSN

90,22(5,39)

120,3(13,26)

108,55(9,92)

110,19(6,39)a

98,15(7,35)a

110,56(16,80)b

105,18(12,21a

161,19(4,83)b

59,65(4,51)b

96,62(5,18)

97,82(8,45)

115,18(15,44)

109,73(9,46)

158,95(4,08)

57,58(4,39)b

b

c

b

a

a

166,58(4,47)

a

ab

67,58(5,73)a

a

a

b

N=50 (Grupos I e II-1) e N=30 (Grupo II-2), média (desvio-padrão). Letras iguais: sem diferença estatisticamente significativa (p>0,05), observada para a mesma medida.

Tabela 2 - Medidas Lineares do posicionamento labial. Medidas Lineares

Ls-S

Li-S

Grupos

I

II- 1

II-2

I

II-1

II-2

Valor mínimo

-4,5

-3,5

-3,5

-3,5

-3,0

-2,5

Mediana*

1,0b

3,75a

2,25a

2,0b

3,0a

2,5ab

Valor máximo

9,5

12,0

9,0

10,0

11,0

9,0

N=50 (Grupos I e II-1) e N=30 (Grupo II-2). *Letras iguais: sem diferença estatisticamente significativa (p>0,05) observada para a mesma medida.

1 - SN

IMPA 140 120

100

C Graus

100 Graus

120

A

B

80 60

A

A

II-1

II-2

80 60 40

40

20

20 0

B

I

II-1

0

II-2

Gráfico 1 - Gráfico de médias da grandeza angular 1-SN.

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics

I Grupos

Grupos

Gráfico 2 - Gráfico de médias da grandeza angular IMPA.

46.e4

Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):46e.1-7


Santos RL, Ruellas ACO

Classe II-1 e Classe II-2, que apresentaram a mesma projeção de incisivos inferiores, independente da má oclusão para a compensação da Classe II16,18. O ângulo LMA apresentou diferença estatisticamente significativa apenas entre os grupos Classe I e Classe II, 1ª divisão (p<0,05) (Gráf. 3), semelhantes aos achados de Nguyen e Turley22 para o grupo Classe I e inferiores para as más oclusões Classe II, bem como d.p. expressivo para todos os grupos (13,26 Classe I; 16,80 Classe II-1; 15,44 Classe II-2) e reflexo de variações para o posicionamento labial. Pôde-se constatar uma maior expressividade no grau de eversão do lábio inferior para o grupo Classe II-1 devido uma maior protrusão e projeção (1-SN) do incisivo superior para esse grupo e que, mesmo apesar do posicionamento

A medida IMPA apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos Classe I e Classe II, 1ª divisão, e entre Classe I e Classe II, 2ª divisão (p<0,05) (Gráf. 2). O d.p. expressivo (5,39 Classe I; 7,35 Classe II, 1ª divisão; 8,45 Classe II, 2ª divisão), principalmente nas más oclusões Classe II, demonstra que o comportamento axial dos incisivos inferiores em sua base óssea (IMPA) é bastante variável, semelhante aos achados de Tweed30 para o grupo Classe I, superior ao encontrado por Tweed para as más oclusões Classe II, e depende, também, de outros fatores como a musculatura peribucal, língua, sobremordida, sobressaliência, presença de hábitos, do crescimento e das características próprias de cada indivíduo24. Vale ressaltar a similaridade encontrada para as medidas dos grupos

LMA

NLA

160 140

A

140

AB

B

Graus

Graus

80

80 60

60 40

40

20

20 0

I

II-1

0

II-2

Grupos

Gráfico 3 - Gráfico de médias da grandeza angular LMA.

180

A

B

H.SN

Graus

Graus

80 60 20

B

B

II-1

II-2

40 30

10 I

Grupos

II-1

0

II-2

Gráfico 5 - Gráfico de médias da grandeza angular Cx.

4,0

A

2,5

A

2,0

2,5 2,0

Grupos

3,0

Li-S

3,0

I

Gráfico 6 - Gráfico de médias da grandeza angular H.SN.

3,5

AB B

1,5

A

1,5

mm

mm

A

20

40

0

II-2

50

100

1,0

II-1

Grupos

60

120

0,5

80 70

140

Ls-S

I

Gráfico 4 - Gráfico de médias da grandeza angular NLA.

B

160

0

A

A

100

100

CX

A

120

120

B

1,0 0,5

I

II-1

0

II-2

Gráfico 7 - Gráfico de medianas da grandeza linear Ls-S.

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics

I

II-1

II-2

Grupos

Grupos

Gráfico 8 - Gráfico de medianas da grandeza linear Li-S.

46.e5

Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):46e.1-7


Características dentofaciais de pacientes portadores de má oclusão Classe II e Classe III de Angle

artigo inédito

mais anterior do incisivo superior para o grupo Classe II-2, esse grupo não apresentou eversão significativa, apresentando valores similares ao grupo Classe I, resultados da compensação entre a retroinclinação existente nos incisivos superiores (1-SN) e da projeção dos incisivos inferiores (IMPA)5. A medida NLA não apresentou diferença estatisticamente significativa para os 3 grupos (p>0,05) (Gráf. 4), corroborando com os achados de Scheideman27; Epker, Stella e Fish11. O valor acentuado do d.p. (9,92, Classe I; 12,21, Classe II-1; 9,46, Classe II-2) demonstra que esse ângulo pode sofrer variações significativas16 e, mesmo assim, permanecer dentro de valores estéticos. Vale ressaltar que parece existir uma compensação do ponto Cm (Columela) e/ou da posição do lábio superior nessas más oclusões27. Cabe ao profissional avaliar a harmonia existente entre lábio e nariz, e se posicionar diante de cada caso, uma vez que esse ângulo não apresentou ser uma medida capaz de diferenciar os 3 tipos de más oclusões, o que corrobora com os achados de Reche23, e contraria os achados de Fitzgerald, Nanda e Currier12, que relataram que esse ângulo é confiável. A medida Cx mostrou diferença estatisticamente significativa entre os grupos Classe I e Classe II-1, e entre Classe I e Classe II-2 (p<0,05), semelhante ao encontrado por Arnett e Bergman2, e divergente ao encontrado por Downs9, com d.p. pouco significativo. Os valores apresentados pelos grupos Classe II-1 e Classe II-2, sugerem maior protrusão labial, sendo que os indivíduos Classe II-1 apresentaram maior ângulo de convexidade4, e o inverso para o grupo Classe II-2, porém, sem apresentar diferença estatisticamente significativa. A medida HSN mostrou diferença estatisticamente significativa entre os grupos Classe I e Classe II-1, e entre os grupos Classe I e Classe II-2 (p<0,05), concordante a Holdaway13, porém, com valores menores e d.p. pouco significativo. Os resultados corroboram os achados da medida Cx. Os maiores valores apresentados pelo grupo Classe II-1, comparados ao grupo Classe II-2, mesmo sem apresentar diferença estatisticamente significativa entre esses 2 grupos, sugere uma menor inclinação da base craniana, uma vez que parece existir uma tendência de correlação

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics

positiva entre o grupo Classe II-1 e a presença de uma mudança espacial na MD no sentido horário. A medida linear Ls-S mostrou diferença estatisticamente significativa entre os grupos Classe I e Classe II-1, e entre Classe I e Classe II-2 (p<0,05). Os valores encontrados foram maiores nos 3 grupos que o preconizado por Steiner29, porém, corroboram com Auger e Turley3. Os valores demonstram que os grupos da má oclusão Classe II não tiveram diferença estatisticamente significativa entre si, porém, seus valores sugerem uma relação direta com o tamanho do nariz13,14, o que demonstra um menor crescimento anteroposterior do nariz, menor no grupo Classe II-1 quando comparado ao grupo Classe II-2. A medida linear Li-S mostrou diferença estatisticamente significativa apenas entre os grupos Classe I e Classe II-1 (p<0,05). Os valores foram maiores ao preconizado por Steiner29 nos 3 grupos, porém corroboram com Auger e Turley3. Esses resultados demonstram que o valor encontrado para o grupo Classe II-1 é reflexo da maior eversão do lábio inferior5 encontrado nesse grupo, devido à posição do incisivo superior, uma vez que os valores da medida Li-NPog são bastante similares entre o grupos Classe II-1 e Classe II-2, contrários aos valores angulares MLA e IMPA, apesar de não mostrarem diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Conclusões » As más oclusões Classe II-1, Classe II-2 e Classe I apresentaram características faciais diferentes para a medida 1-SN. » A má oclusão Classe II-1 apresentou características faciais que a diferenciam da Classe II-2 e Classe I quanto à medida LMA. » As más oclusões Classe II-1, Classe II-2 e Classe I não apresentaram características faciais diferentes para a medida NLA, e mostraram relação direta com a eversão do lábio inferior para a medida Li-S. » A más oclusões Classe II-1 e Classe II-2 se diferenciaram da Classe I pelas características faciais expressadas pelas medidas HSN, Cx, Ls-S e IMPA.

46.e6

Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):46e.1-7


Santos RL, Ruellas ACO

Referências

1.

Angle EH. Classification of malocclusion. Dent Cosmos. 1899;41:255-64.

2.

Arnett GW, Bergman RT. Facial keys to orthodontic diagnosis and treatment

17.

posterior lip positions of the most favored Japanese facial profiles. Angle Orthod.

planning - Part I. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1993;103(4):299-312. 3.

2005;75(3):326-32.

Auger TA, Turley PK. The female soft tissue prolife as presented in fashion

18. Merrifield LL. Differential diagnosis. Semin Orthod. 1996;2(4):241-53.

magazines during the 1900s: a photographic analysis. Int J Adult Orthod

19. Midtgard J, Bjork G, Linder-Aronson S. Reproducibility of cephalometric landmarks

Orthognath Surg. 1999;14(11):7-18. 4.

and errors of measurements of cephalometric cranial distances. Angle Orthod.

Bishara SE, Cummins DM, Zaher AR. Treatment and post treatment charges in

1974;44(1):56-61.

patients with class II, division 1 maloclusion after extraction and nonextraction

20. Czarnecki ST, Nanda RS, Currier GF. Perceptions of a balanced facial profile. Am J

treatment. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1997;111(1):18-27. 5.

6.

Orthod Dentofacial Orthop. 1993;104(2):180-7.

Brandão AMB, Vigorito JW, Capelozza Filho L. Avaliação das características do

21. Nanda RS, Ghosh J. Harmonia entre os tecidos moles da face e crescimento no

perfil tegumentar em pacientes com maloclusão classe II, divisão 1 por meio da

tratamento ortodôntico. In: Sadowsky PL, Zachrisson BU, Nanda R, Vlachos CC,

análise facial numérica. Ortodontia. 2001;34(2):59-85.

Vaden JL, editores. Atualidades em Ortodontia. Porto Alegre: Premier; 1997. p. 65-

Broadbent BH. A new x-ray technique and its application to orthodontia. Angle

78.

Orthod. 1931;1(2):45-66. 7.

Burstone CJ. The integumental profile. Am J Orthod. 1958;44(1):1-25.

8.

Dahlberg G. Statistical methods for medical and biological students. New York:

22. Nguyen DDE, Turley PK. Changes in the caucasian male facial profile as depicted in fashion magazines during the twentieth century. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1998;114(2):208-17.

Interscience; 1940. 9.

23. Reche R. Análise do perfil facial em fotografias padronizadas. Rev Dental Press

Downs WB. Análises do perfil dentofacial. Angle Orthod. 1956;26(12):191-212.

Ortod Ortop Facial. 2002;7(8):37-45.

10. Enlow DH. Crescimento Facial. Rio de Janeiro: Artes Médicas; 1984. 11.

Loi H, Nakata S, Nakasima A, Counts A. Effect of facial convexity on antero-

24. Ricketts RM. Esthetics, environment and the law of lip relation. Am J Orthod.

Epker BN, Stella JP, Fish LC. Dentofacial deforrmities: integrated Orthodontic and

1968;54(4):272-89.

surgical correction. 2a ed. St. Louis: Mosby; 1995.

25

12. Fitzgerald JP, Nanda R, Currier GF. Na evaluation of the nasolabial angle and the

normal occlusion. Angle Orthod. 1952;22(3):142-5.

relative inclinations of the nose and upper lip. Am J Orthod Dentofacial Orthop.

26. Salzmann JA. First roentgenographic cephalometric workshop. Am J Orthod.

1992;102(9):328-34.

1958;44(12):899-900.

13. Holdaway RA, Merrifield LL. A soft-tissue cephalometric analysis and its use in

27. Scheideman GB. Cephalometric analysis of dentofacial normals. Am J Orthod.

orthodontic treatment planning. Part I. Am J Orthod. 1983;84(1):1-28.

1980;78(9):404-20.

14. Holdaway RA, Merrifield LL. The profile line as an aid in critically evaluating facial

28. Skinazi GLS, Lindauer SJ, Isaacson RJ. Chin, nose and lips. Normal ratios in young

esthetic. Am J Orthod. 1966;52(11):804-22.

men and women. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1994;106(5):518-23.

15. Houston WJB. The analysis of errors in orthodontic measurements. Am J Orthod

29. Steiner CC. Cephalometric as a clinical tool. In: Kraus BS, Riedel RA, editors. Vistas

Dentofacial Orthop. 1983;83(5):382-90.

in Orthodontics. Philadelphia: Lea & Febiger; 1962. p. 131-61.

16. Lindquist JT. The lower incisor: its influence on treatment and esthetics. Am J

30. Tweed CH. Indications for the extraction of teeth in orthodontic procedure. Am J

Orthod. 1958;44(2):112-40.

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics

Riedel RA. The relation of maxillary structures to craniun in malocclusion and in

Orthod. 1944;30(8):405-28.

46.e7

Dental Press J Orthod. 2012 Mar-Apr;17(2):46e.1-7


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.