artigo inédito
A influência de determinadas características dentárias na avaliação estética do sorriso Andréa Fonseca Jardim da Motta1, José Nelson Mucha2, Margareth Maria Gomes de Souza3
Objetivo: verificar a influência de determinadas características dentárias na avaliação estética do sorriso, feita por alunos de graduação em Odontologia. Métodos: dez fotografias digitais do sorriso de uma mulher foram modificadas com auxílio do programa de computador Adobe Photoshop. As alterações realizadas foram: eliminação de manchas; retificação de bordas incisais; nivelamento gengival; e preenchimento de espaços triangulares. Um grupo com 60 alunos de graduação em Odontologia avaliou a fotografia original e as imagens alteradas e utilizou uma escala visual analógica para quantificar a estética do sorriso. A concordância intraexaminador foi realizada em 30 avaliadores, utilizando-se o teste t de Student; e para o erro casual, o cálculo de Dahlberg. Os dados foram descritos em tabelas, com a utilização de média e desvio-padrão. Resultados: não houve diferença significativa entre a primeira e a segunda nota dos avaliadores (p>0,05) em nenhuma das comparações, e o cálculo do erro do método considerou confiáveis as medidas obtidas. O ANOVA foi usado para testar a igualdade das médias e apresentou significância ao nível de 5%. A homogeneidade das variâncias, verificada pelo teste de Levene, apresentou variâncias iguais. As comparações múltiplas com o teste de Tukey demonstraram significância estatística, ao nível de 5%, para a presença de espaços triangulares negros. Para as demais comparações, não foram verificados valores significativos. Conclusões: algumas características dentárias foram perceptíveis aos alunos de graduação, e o espaço triangular negro foi esteticamente considerado como sendo o mais desfavorável. Palavras-chave: Sorriso. Estética dentária. Percepção.
Como citar este artigo: Motta AFJ, Mucha JN, Souza MMG. Influence of certain tooth characteristics on the evaluation of smile esthetics. Dental Press J Orthod. 2012 May-June;17(3):25.e1-7.
Professora Adjunta do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Ortodontia, Faculdade de Odontologia da UFF.
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Professor Titular do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Ortodontia, Faculdade de Odontologia da UFF.
2
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Enviado em: 21 de janeiro de 2009 - Revisado e aceito: 18 de fevereiro de 2010
Professora Titular do Curso de Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Ortodontia, Faculdade de Odontologia da UFRJ.
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Endereço para correspondência: Andréa Fonseca Jardim da Motta Disciplina de Ortodontia, Faculdade de Odontologia/UFF – R. Mário Santos Braga, 30 2° andar, Sala 214 – CEP: 24.020-140 – Niterói/RJ – E-mail: andreamotta@id.uff.br
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A influência de determinadas características dentárias na avaliação estética do sorriso
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INTRODUÇÃO A beleza facial influencia no bem-estar de muitos pacientes, assim como a estética do sorriso, o que leva os profissionais da Odontologia à necessidade constante de atualização sobre o assunto. O termo estética deriva do grego “aisthetikos”, que significa percepção ou sensação. Por ser altamente subjetiva, devido às diferenças de gosto e opinião, provoca discordância tanto entre os profissionais como entre os pacientes8. A perspectiva atual da prática e da pesquisa odontológica exige que o profissional se aproxime das expectativas do seu paciente ao definir a melhora da estética facial e do sorriso como principal objetivo do tratamento. A principal aspiração do paciente é ser reconhecido como bonito ou, no mínimo, normal, por si mesmo e pela sociedade, eliminando características desagradáveis do sorriso e da face11. Algumas características dentárias são mais perceptíveis durante o sorriso do que outras e podem interferir em maior ou menor grau no resultado estético do sorriso9. Segundo alguns autores, a existência de papila interdentária anatomicamente normal e gengiva saudável em harmonia com a dentição natural, constituem um dos importantes aspectos estéticos a serem considerados durante o diagnóstico e o tratamento6,12,14. Alterações no contorno, coloração e altura gengival, assim como a presença de espaços negros entre os incisivos centrais relacionados à ausência de papila interdentária, podem depreciar a qualidade estética do sorriso6,7,9,15. A ausência de papila pode, ainda, resultar em problemas fonéticos e de impacção alimentar15. Da mesma forma, a presença de manchas nos dentes pode comprometer a estética do sorriso. Além disso, outra característica comumente considerada durante a avaliação estética do sorriso é o contorno das bordas incisais. Diversos autores3,5,13 avaliaram a percepção estética de diversas más oclusões, no entanto, com relação à percepção do efeito de peculiaridades dentárias na estética do sorriso, encontra-se pouca informação disponível na literatura10. Soma-se a isso o fato de que muitos estudos são contraditórios na relevância da percepção de certas características5,10. Esses resultados contraditórios poderiam ser consequência de avaliadores em diferentes níveis de treinamento da percepção dos defeitos ou ainda da subvalorização ou supervalorização de determinadas características por avaliadores com diferentes formações.
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Assim sendo, objetiva-se com esse trabalho, investigar a influência de determinadas características dentárias na avaliação estética do sorriso por alunos de graduação em Odontologia, dos períodos finais do referido curso. MATERIAL E MÉTODOS A fotografia digital do sorriso de uma mulher apresentando dentes bem alinhados foi modificada com auxílio do programa de computador Adobe Photoshop Elements 2.0 (Adobe Systems Inc, San Jose, EUA) com o objetivo de alterar determinadas características. As alterações realizadas na fotografia original foram: » Eliminação de mancha amarelada na face mesiovestibular do 26. » Retificação da borda incisal do 22. » Nivelamento da altura da margem gengival do 12. » Preenchimento do espaço triangular negro entre 11 e 21. As alterações foram realizadas objetivando-se obter dois grupos de fotografias para a avaliação da percepção das características no julgamento da estética do sorriso de duas formas distintas. Para a primeira avaliação, denominada exclusão das características, a fotografia original foi mantida e, a partir dela, outras quatro fotografias foram obtidas, cada uma apresentando apenas uma característica alterada. Para a segunda avaliação, denominada inclusão das características, procedeu-se de maneira inversa. A fotografia original foi completamente retocada, eliminando-se as características em consideração e, então, a partir dela as outras quatro fotografias foram obtidas, cada uma apenas com uma característica presente. (Fig. 1, 2) As cinco imagens de cada conjunto (Fig. 1, 2) foram distribuídas de forma aleatória, numeradas e organizadas numa apresentação multimídia, utilizando-se o programa PowerPoint 2007 (Microsoft, EUA), constituindo duas apresentações: uma com a inclusão das características e outra com a exclusão das características relatadas. Para a projeção das imagens, utilizou-se projetor Sony VLP-CS7, com 1800 ANSI lumens, SVGA (800x600), e tela de projeção medindo 3x2 metros, estando os avaliadores em frente à tela, a uma distância de 3 a 6 metros, em uma sala com mínima luminosidade que pudesse comprometer a visualização das imagens, mas apenas permitir anotações nas devidas fichas. Para o julgamento da influência de determinadas características dentárias na avaliação estética do
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B
A
C
D
E
Figura 1 - A) Eliminação de mancha amarelada na face mesiovestibular do 26; B) retificação da borda incisal do 22; C) nivelamento da altura da margem gengival do 12; D) preenchimento do espaço triangular negro entre 11 e 21; e E) fotografia de referência com todas as características sem correção.
A
B
C
E
D
Figura 2 - A) Presença de mancha amarelada na face mesiovestibular do 26; B) borda incisal triangular e assimétrica do 22; C) contorno gengival assimétrico entre o 12 e o 22; D) presença do espaço triangular negro entre 11 e 21; e E) fotografia de referência com as características corrigidas.
sorriso, foram utilizadas as pontuações atribuídas por sessenta alunos da Disciplina de Ortodontia do Curso de Graduação em Odontologia da UFF, sendo 22 do sexo masculino e 38 do sexo feminino, com média de idade de 22 anos e 4 meses. Antes da projeção das imagens para a avaliação (Fig. 1, 2), foi realizado um nivelamento dos alunos apresentando-se, de forma audiovisual, diversas características que podem comprometer a estética do sorriso. Cada fotografia (Fig. 1, 2) foi então projetada durante 20 segundos, não sendo permitido voltar para ver novamente uma determinada imagem. Cada avaliador recebeu uma ficha com dez escalas visuais analógicas (EVA), uma escala para cada fotografia, com numeração de
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zero a cem, sendo o menor valor atribuído ao sorriso menos estético e o maior valor ao mais estético. Após o julgamento pelos alunos, sinalizando nas respectivas escalas os valores atribuídos à estética do sorriso, a organização dos dados foi realizada por um único operador com auxílio de um paquímetro digital devidamente calibrado às escalas visuais analógicas (Starret Indústria e Comércio Ltda., Itu, São Paulo, número de série 001296), posicionado no ponto equivalente ao zero e estendido até a marcação feita pelo avaliador, procedendo à organização de tabelas para a obtenção de medidas de tendência central. Com o objetivo de verificar a concordância intraexaminador na avaliação subjetiva da estética do sorriso nas
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A influência de determinadas características dentárias na avaliação estética do sorriso
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RESULTADOS Os resultados das avaliações do erro sistemático, avaliado pelo teste t pareado e do erro casual, medido pela fórmula de Dahlberg, estão dispostos nas Tabelas 1 e 2. Não houve diferença entre a primeira e a segunda nota dos avaliadores, em nível de significância de 5% (p>0,05) em nenhuma das comparações realizadas. O cálculo do erro do método considerou as medidas obtidas confiáveis devido ao seu grande potencial de reprodutibilidade. As médias e desvios-padrões para cada característica pesquisada, nas duas avaliações, encontram-se dispostos na Tabela 3. O Gráfico 1 ilustra as médias das características pesquisadas nas duas avaliações, com a exclusão e com a inclusão das características. A Análise de Variância para testar a igualdade das médias dos grupos de medidas, apresentou significância ao
projeções das fotografias, 30 alunos foram selecionados aleatoriamente e solicitados que repetissem a avaliação uma semana depois. Para a análise do erro sistemático intraexaminador, foi utilizado o teste t de Student para amostras pareadas. Na determinação do erro casual, utilizou-se o cálculo de erro proposto por Dahlberg2. Os dados foram descritos em tabelas, com a utilização dos parâmetros de média e desvio padrão. Esse procedimento foi efetuado para as duas formas de avaliação estabelecidas, exclusão e inclusão das características. Para testar a igualdade das médias dos grupos de medidas, tanto na primeira, quanto na segunda avaliação, utilizou-se o teste de Análise de Variância (ANOVA). Comparações múltiplas foram procedidas pelo teste de Tukey, com a homogeneidade das variâncias submetida ao teste de Levene. As decisões estatísticas foram tomadas ao nível de significância de 5% em todos os testes.
Tabela 1 - Média, desvio-padrão (d.p.) das duas avaliações, teste t pareado e erro de Dahlberg para avaliar o erro sistemático e o erro casual para as medidas referentes à primeira avaliação. Características (exclusão)
T2
T1 Média
d.p.
Média
t
p
Erro de Dahlberg
d.p.
Mancha amarela
57,08
12,42
58,49
11,73
-1,141
0,263 ns
4,8
Borda incisal
59,51
12,02
59,57
12,00
-0,043
0,965 ns
5,2
Contorno gengival
63,52
12,95
61,87
11,38
0,834
0,410 ns
7,6
Espaço negro
73,28
15,08
72,68
13,54
0,271
0,788 ns
8,3
Fotografia referência
60,94
13,48
60,02
11,17
0,467
0,643 ns
7,5
Tabela 2 - Média, desvio-padrão (d.p.) das duas avaliações, teste t pareado e erro de Dahlberg para avaliar o erro sistemático e o erro casual para as medidas referentes à segunda avaliação. Características (inclusão) Mancha amarela
T2
T1
t
p
Erro de Dahlberg
0,627 ns
8,2
Média
d.p.
Média
d.p.
64,32
14,82
65,37
12,22
-0,490
Borda incisal
63,13
11,11
65,86
11,53
-1,977
0.057 ns
5,6
Contorno gengival
59,80
13,13
62,53
12,10
-1,710
0,097 ns
6,4
Espaço negro
52,37
11,04
54,74
9,97
-1,826
0,078 ns
5,2
Fotografia referência
64,04
12,88
66,83
10,78
-1,885
0,069 ns
6,0
Tabela 3 - Média e desvio-padrão (d.p.) para cada característica pesquisada nas duas avaliações. Características
N
1ª avaliação (exclusão)
2ª avaliação (inclusão)
Média
d.p.
Média
d.p.
Mancha amarela
60
57,78
12,00
64,84
13,48
Borda incisal
60
59,54
11,91
64,50
11,31
Contorno gengival
60
62,70
12,12
61,16
12,59
Espaço negro
60
72,98
14,21
53,56
10,50
Fotografia referência
60
60,48
12,28
65,44
11,86
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Motta AFJ, Mucha JN, Souza MMG
DISCUSSÃO No presente trabalho, procurou-se verificar a influência de determinadas características dentárias na estética do sorriso, sendo perceptível ou não por alunos de graduação, em duas formas de avaliações realizadas: com a inclusão e com a exclusão de detalhes. Os testes intra-avaliadores demonstram que houve coerência na atenção dos avaliadores, pois, as notas atribuídas são muito semelhantes, apesar de apresentarem valores próximos (Tab. 1, 2).
nível de 5%, tanto na primeira, quanto na segunda avaliação. A verificação da homogeneidade das variâncias pelo teste de Levene apresentou como conclusão variâncias iguais. Após as comparações múltiplas efetuadas, utilizando-se o teste de Tukey, verificou-se significância estatística ao nível de 5%, para a presença do espaço triangular negro quando comparado com as medidas relativas às outras características, tanto na primeira, quanto na segunda avaliação. Para as demais comparações, não foi verificado valor estatisticamente significativo (Tab. 4, 5).
80
Mancha Amarela Borda incisal Contorno gengival Espaço negro Fotografia referência
70 60 50 40 30 20 10 0
Exclusão
Inclusão
Gráfico 1 - Médias das características pesquisadas nas duas avaliações com a exclusão e com a inclusão das características.
Tabela 4 - Significância (valor p) para as diferenças médias das comparações entre as características pesquisadas quando foram excluídas. 1a avaliação (exclusão) – Significância Mancha amarela
Borda incisal
Contorno gengival
Espaço negro
Fotografia referência
Mancha amarela
-
0,939
0,200
0,000*
0,763
Borda incisal
0,939
-
0,642
0,000*
0,994
Contorno gengival
0,200
0,642
-
0,000*
0,869
Espaço negro
0,000*
0,000*
0,000*
-
0,000*
Fotografia referência
0,763
0,994
0,869
0,000*
-
* = significativo ao nível de 5%.
Tabela 5 - Significância (valor p) para as diferenças médias das comparações entre as características pesquisadas quando foram Incluídas. 2a avaliação (inclusão) – Significância Mancha amarela
Borda incisal
Contorno gengival
Espaço negro
Fotografia referência
-
1,000
0,447
0,000*
0,999
Mancha amarela Borda incisal
1,000
-
0,548
0,000*
0,993
Contorno gengival
0,447
0,548
-
0,005*
0,290
Espaço negro
0,000*
0,000*
0,000*
-
0,000*
Fotografia referência
0,999
0,993
0,290
0,000*
-
* = significativo ao nível de 5%.
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A influência de determinadas características dentárias na avaliação estética do sorriso
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Na primeira avaliação, se poderia esperar que a fotografia de referência, que apresentava todas as características, recebesse a menor nota (Tab. 3), o que não aconteceu. Uma possível causa para essa observação pode estar relacionada com a ordem de projeção das fotografias, a qual foi estabelecida aleatoriamente. Outra razão que pode ter contribuído para esse resultado relaciona-se ao fato da mancha amarela no 26 e da anatomia triangular e assimétrica da borda incisal do 22 quando comparada com a do 12, serem características discretas e possivelmente não perceptíveis por alunos de graduação. Tampouco esses detalhes poderiam ser levados em consideração como fatores que comprometessem a avaliação dos sorrisos, por parte desse grupo específico de avaliadores. Já na segunda avaliação, a fotografia de referência, que apresentava-se completamente corrigida, ou seja, sem as características em questão, recebeu a maior nota por parte dos alunos, sendo considerada a fotografia com o sorriso mais estético (Tab. 3). Dentre as características estabelecidas para a realização das avaliações da estética do sorriso, a presença do espaço triangular negro entre os incisivos centrais superiores foi a mais percebida como influenciando negativamente a estética do sorriso. As comparações efetuadas envolvendo as medidas dessa característica apresentaram significância estatística ao nível de 5%. Todas as outras comparações realizadas não apresentaram significância estatística (Tab. 4, 5). Essa observação foi verificada tanto na primeira avaliação, na qual as características foram excluídas das fotografias, quanto na segunda avaliação, onde as características foram incluídas nas fotografias (Gráf. 1). Os resultados desse estudo coincidem com os de outros estudos que verificaram que a ausência da papila interdental pode diminuir a qualidade estética do sorriso6,7,9,15. A presença da papila interdental no espaço interproximal é confirmada quando a distância entre o ponto de contato e o nível da crista óssea não excede 5mm, no entanto, quando essa distância excede 7mm a papila estará ausente15. Existem outros fatores que podem contribuir para a ausência da papila interdental e consequente presença do espaço triangular negro, tais como a divergência radicular dos incisivos centrais superiores, a forma alterada da coroa dentária4 e a distância entre os dois dentes adjacentes. Além disso, a ocorrência de recessão da papila gengival entre os incisivos centrais apresenta relação significativa com a idade, podendo representar uma característica de envelhecimento1. Portanto, dentre
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as justificativas para esse resultado, pode-se citar uma possível associação com o envelhecimento, o fato do espaço triangular apresentar coloração negra e ainda localizar-se na região anterior, entre os incisivos centrais, sendo a porção mais visível do sorriso. O mesmo raciocínio referente à localização também pode ser aplicado para a pouca percepção da mancha amarela no primeiro molar superior esquerdo. Caso a presença da mancha estivesse localizada na região dos incisivos, talvez fosse notada. Além disso, pode-se acrescentar a intensidade da cor da mancha que, no estudo em questão, apresentava-se relativamente clara e pode ter ficado ainda mais discreta durante a projeção das fotografias, o que possivelmente dificultou a percepção dos alunos. Com relação à anatomia triangular e assimétrica da borda incisal do 22 quando comparada com a do 12, também acredita-se que o fato de se apresentar de forma discreta pode ter contribuído para a pouca influência na percepção da estética do sorriso em questão. Apesar da diferença de altura do contorno gengival do 12 em relação ao 22 ter sido aparentemente percebida pelos alunos, as análises estatísticas envolvendo essas medidas não apresentaram valores estatisticamente significativos quando comparados aos valores atribuídos às fotografias de referência. Cabe salientar que os alunos de graduação podem não ter desenvolvido o treinamento necessário para perceber a influência de determinadas características dentárias na estética do sorriso, o que justifica a realização de novas pesquisas envolvendo grupos de avaliadores com mais tempo de experiência na Odontologia. O treinamento dos profissionais e os anos de experiência para a percepção, quantificação e necessidade de correção dos possíveis alterações que comprometem a avaliação estética dos sorrisos são, portanto, fatores que merecem maiores considerações por parte dos trabalhos que tratam desses assuntos. CONCLUSÕES Os resultados obtidos nos limites da metodologia empregada permitem concluir que, embora determinadas características dentárias possam influenciar na avaliação estética do sorriso, nem todas foram prontamente perceptíveis por alunos de graduação. Dentre as características ora pesquisadas, o espaço interdental triangular negro foi considerado o mais esteticamente desfavorável.
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