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artigo inédito

Perfil do ortodontista que atua no estado de São Paulo – Parte 2 Fabio Brandalise Rampon1, Celestino Nóbrega2, José Luiz Gonçalves Bretos3, Franco Arsati4, Sérgio Jakob5, Maria Cristina Jimenez-Pellegrin6

Introdução: a escolha do tipo de braquetes, ligaduras e fios são fatores importantes no tratamento ortodôntico. O aço inoxidável predominou por muito tempo, mas novas ligas metálicas diversificaram o universo de fios disponíveis, assim como surgiram outros recursos. Objetivo: analisar o perfil do ortodontista do estado de São Paulo em relação aos materiais que utiliza. Métodos: foi enviado um questionário a 2414 especialistas em Ortodontia e Ortopedia Facial inscritos no Conselho Regional de Odontologia do estado de São Paulo. Para avaliar a associação entre as variáveis qualitativas, foi utilizado o teste qui-quadrado, ao nível de significância de 5%. Resultados: houve o retorno de 593 (24,65%) questionários preenchidos. A eficácia do material ortodôntico foi o principal motivo alegado para sua escolha. A maioria demonstrou preferência por braquetes metálicos (98%), cerâmicos (32%) e de policarbonato (7,8%). O slot mais citado foi o de 0,022” x 0,028” (73,2%). Sobre os fios ortodônticos, 88,2% empregam fio de aço redondo e o NiTi convencional redondo; 52,6% o NiTi termoativado redondo e 46,5% o TMA retangular. A ligadura elástica foi a forma mais empregada (92,9%) para fixar o arco ortodôntico ao braquete. Conclusões: os ortodontistas analisados alegaram ser a eficácia o principal motivo de escolha do material; os braquetes convencionais unidos com ligaduras elásticas ainda são os mais utilizados. Entre os fios ortodônticos, os de secção redonda apareceram em primeiro lugar, tanto os de aço como os de nitinol convencional. Recursos recentes na Ortodontia brasileira, como os braquetes autoligáveis e os mini-implantes, não apresentaram uso significativo. Palavras-chave: Ortodontia. Pesquisa em Odontologia. Materiais.

Mestre em Odontologia, SL Mandic. 2 Especialista em Ortodontia, ABO. Mestre em Radiologia Oral, Unicastelo. 3 Mestre em Ortodontia, Unicastelo. Doutor em Ciências, Unifesp. 4 Mestre e Doutor em Odontologia, Unicamp. 5 Mestre em Ortodontia, Unicastelo. Doutor em Odontologia, SL Mandic. 6 Professora do Mestrado em Ortodontia da SL Mandic. Especialista em Ortodontia, Unicastelo. Doutora em Ciências, USP. 1

Como citar este artigo: Rampon FB, Nóbrega C, Bretos JLG, Arsati F, Jakob S, Jimenez-Pellegrin MC. Profile of the orthodontist practicing in the state of São Paulo - Part 2. Dental Press J Orthod. 2013 Jan-Feb; 18(1):32.e1-6. Enviado em: 12 de agosto de 2010 - Revisado e aceito: 6 de junho de 2011 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

Endereço para correspondência: Fabio Brandalise Rampon Rua Os 18 do Forte, 1207, sala 302 CEP: 95020 472 – Caxias do Sul / RS Email: fabiorampon@terra.com.br

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Perfil do ortodontista que atua no estado de São Paulo – Parte 2

INTRODUÇÃO Em Ortodontia, assim como em outros setores da Odontologia, nota-se uma busca incessante de novos materiais e recursos com a finalidade de aumentar a eficiência da mecânica ortodôntica, a segurança biológica e o conforto do paciente, além de facilitar o desempenho clínico do profissional. Novas ligas, nos últimos anos, têm diversificado a composição dos fios ortodônticos, alterando suas propriedades biomecânicas, desde a formabilidade até seu comportamento, quando submetidos a mudanças de temperatura5. Os braquetes autoligáveis foram desenvolvidos com o objetivo de incorporar-lhes propriedades biomecânicas especiais, como a redução do atrito e, em alguns, até a interatividade com o fio ortodôntico, além de eliminar o uso de ligaduras, o que reduz o tempo clínico para a colocação e a remoção do arco ortodôntico, e, ainda, minimiza a retenção de biofilme10. O advento dos mini-implantes tem propiciado ao ortodontista soluções clínicas que outrora possuíam limitações, tais como a intrusão dentária e a movimentação ortodôntica na região posterior da arcada, fornecendo maior controle mecânico e segurança, além de reduzir o tempo de tratamento1,12,22,23. Por outro lado, a aceitação de uma nova tecnologia depende de numerosos fatores, desde sua validação científica até a mudança de conduta do profissional. Essa é a segunda parte de um amplo estudo, efetuado para se conhecer o perfil do ortodontista que atua no estado de São Paulo. Na primeira parte, realizou-se a análise do especialista em Ortodontia no que diz respeito ao sexo, faixa etária, tempo de inscrição no Conselho Regional de Odontologia do estado de São Paulo, análises cefalométricas empregadas com maior frequência, técnica ortodôntica de preferência e uso de recursos ortopédicos funcionais. A presente parte do estudo teve como objetivo verificar o perfil do ortodontista do estado de São Paulo no que diz respeito aos materiais que costuma utilizar: braquetes, fios ortodônticos, ligaduras e mini-implantes. MATERIAL E Métodos Para realizar a pesquisa, foi solicitado, junto ao Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, a lista de endereços de todos os especialistas em Ortodontia e Ortopedia Facial registrados no Conselho Regional de

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Odontologia do estado de São Paulo até maio de 2007, perfazendo um total de 2414 profissionais. O questionário foi elaborado com 20 questões objetivas, sendo que 8 delas davam a possibilidade de se assinalar mais de uma alternativa. Além disso, em 10 questões o profissional teve a possibilidade de acrescentar uma resposta escrita livre e descritiva. O questionário foi impresso em folha A4 com papel sulfite 120g, com seu lado externo confeccionado em forma de carta-resposta, com o lado interno dividido em duas partes iguais: a superior, contendo o termo de consentimento livre e esclarecido, onde os profissionais foram devidamente esclarecidos sobre a natureza da pesquisa; e a inferior, contendo as perguntas do questionário, sendo que as questões ímpares foram destacadas com sombreamentos para uma melhor visualização e separação das questões. O serviço de carta-resposta foi previamente contratado junto à Empresa de Correios e Telégrafos. Esse serviço possibilitou ao respondente a isenção de ônus financeiro, sendo que, ao receber a correspondência em seu endereço cadastrado, o profissional somente teve o trabalho de responder ao questionário, dobrar e colar a folha, conforme as indicações, e depositar em qualquer agência dos correios. Foi tido o cuidado de enviar as correspondências de tal forma que não chegassem ao local de destino próximo ao final de semana, mas, preferencialmente, no início da semana, quando é maior a probabilidade de retorno das cartas-respostas14. Baseando-se nas respostas dos questionários que retornaram, procurou-se detalhar e interrelacionar as informações ao máximo, a fim de se conseguir o maior número de dados possíveis, com o objetivo de alcançar conclusões compatíveis com a proposição desse estudo. Com o programa Microsoft Excel e seu assistente gráfico, presentes no sistema operacional Microsoft Windows XP, os dados foram digitados e elaboradas planilhas. As respostas dos questionários foram analisadas através de gráficos e tabelas, conforme frequências absolutas (n) e frequências relativas (%). Para avaliar a associação entre as variáveis qualitativas, foi utilizado o teste de associação qui-quadrado. Sempre que o teste qui-quadrado foi significativo, a análise de resíduos ajustados foi utilizada como complemento. A elaboração das análises estatísticas foi através do software SPSS®, versão 13.0.

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Resultados A eficácia (81,1%) apareceu de forma expressiva como o principal motivo para o profissional escolher o material ortodôntico que utiliza, geralmente associando outros fatores, como o custo (23,4%), a facilidade para aquisição (17,5%) e a comodidade de uso (15,5%). Os questionamentos feitos a respeito de braquetes denotaram a preferência pelo metálico (98%), conforme Tabela 1, e pelo slot de tamanho 0,022” x 0,028” (73,2%), como mostra Tabela 2. A respeito do braquete autoligável, a maior parte dos profissionais (56,2%) declarou que o conhece, mas não o utiliza; 25% afirmaram desconhecer e somente 4,7% o utilizam com frequência (Gráf. 1). Tabela 1 - Distribuição dos ortodontistas quanto aos tipos de braquetes empregados no dia a dia. n

%

Metálico

581

98,0

Cerâmico

190

32,0

Compósito

46

7,8

Autoligável

16

2,7

Outros

13

2,2

593

-

Total Resposta múltipla.

Tabela 2 - Distribuição dos ortodontistas quanto ao tamanho dos slots dos braquetes utilizados no dia a dia.

0,022" x 0,028"

n

%

434

73,2

O uso dos braquetes autoligáveis está associado ao tempo de formação de especialista, entre 11 e 15 anos, como demonstrou o teste c2, complementado pela Análise de Resíduos Ajustados, ao nível de significância de 5% (Tab. 3). A maioria dos ortodontistas (92,9%) relatou fazer uso de ligadura elástica como método para fixar o fio ao braquete durante a mecânica, sendo que 76,1% fazem uso de amarrilhos metálicos (Tab. 4). A respeito dos tipos de fios que utilizam em sua rotina clínica, dos entrevistados, 88,2% empregam fio de aço redondo; 88,2% NiTi convencional redondo; 52,6% NiTi termoativado redondo; 46,5% TMA retangular; e 4,1% Elgilloy (Tab. 5). Foram agrupadas duas questões a respeito de mini-implantes. Na primeira parte, como mostra o Gráfico 2, as respostas dos ortodontistas foram sobre a utilização desse recurso. Na segunda parte, foi possível obter, dentre os profissionais que os utilizam, a informação a respeito da situação clínica em que os empregam (Tab. 6). Através do Teste c2, com p = 0,384, constatou-se não haver nenhuma associação entre tempo de Ortodontia e o uso do recurso dos mini-implantes (Tab. 7).

Tabela 3 - Distribuição dos ortodontistas quanto ao tempo de formação como especialista e a utilização de braquetes autoligáveis. Braquetes autoligáveis

Tempo de Ortodontia

Não

Conhece e

Conhece

não utiliza

Total

Utiliza

0,018" x 0,025"

131

22,1

Slots combinados

20

3,4

n

%

n

%

n

%

n

%

Não responderam

8

1,3

1a5

36

24,8

97

29,6

21

22,1

154

27,1

593

-

6 a 10

48

33,1

105

32,0

18

18,9

171

30,1

Total

(em anos)

Resposta múltipla.

11 a 15

17

11,7

51

15,5

27

28,4*

95

16,7

Mais de 15

44

30,3

75

22,9

29

30,5

148

26,1

Total

145

100

328

100

95

100,0

568

100

c =19,89; p = 0,003. *Análise de Resíduos Ajustados: p<0,05. 2

Conheço, mas não utilizo Não conheço 25,0%

Tabela 4 - Distribuição dos ortodontistas quanto aos métodos utilizados para fixar o fio ortodôntico ao braquete.

Conheço, mas utilizo ocasionalmente 12,1%

56,2%

Conheço e utilizo com frequência Não respondeu

4,7% 2,0% Base: 593 respondentes.

Gráfico 1 - Distribuição dos ortodontistas quanto ao conhecimento e à utilização de braquetes autoligáveis.

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32.e3

n

%

Elástico

551

92,9

Amarrilho

451

76,1

Autoligável

14

2,4

Outro

2

0,3

Total

593

-

Resposta múltipla.

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Perfil do ortodontista que atua no estado de São Paulo – Parte 2

Tabela 5 - Distribuição dos ortodontistas quanto aos métodos utilizados para fixar o fio ortodôntico ao braquete.

Ocasionalmente Nunca

36,2%

n

%

Redondo

523

88,2

Retangular

483

81,5

Quadrado

140

23,6

Trançado

188

31,7

Redondo

523

88,2

Retangular

370

62,4

Quadrado

88

14,8

Redondo

312

52,6

Retangular

251

42,3

Quadrado

47

7,9

Retangular

276

46,5

Redondo

129

Elgilloy

24

Rotineiramente Não respondeu

52,1%

Fio de aço

Fio de NiTi convencional

Fio de NiTi termoativado

11,0% 0,7% Base: 593 respondentes.

Gráfico 2 - Distribuição dos ortodontistas quanto à utilização do recurso dos mini-implantes.

Tabela 6 - Relação das situações clínicas citadas pelos ortodontistas em que utilizam mini-implantes. n Ancoragem

193

51,6

Intrusão

91

24,3

21,8

Distalização e mesialização

45

12,1

4,1

Retração

42

11,2

Verticalização de molares

24

6,4

Outro

32

8,6

Total

374

-

Fio de TMA

Outros Outros

13

Base

2,2

593

%

-

Resposta múltipla.

Tabela 7 - Relação entre tempo de Ortodontia e utilização do recurso dos mini-implantes. Uso de mini-implantes

Tempo de Ortodontia

Nunca

(em anos)

n

1a5

67

6 a 10

71

Ocasionalmente %

n

%

31,6

74

33,5

82

Rotineiramente n

%

24,6

17

27,0

27,2

20

31,7

Total

Não respondeu n

%

n

%

1

25,0

159

27,9

1

25,0

174

30,0

11 a 15

27

12,7

57

18,9

11

17,5

1

25,0

96

16,6

Mais de 15

47

22,2

88

29,2

15

23,8

1

25,0

151

26,0

Total

212

100

301

100

63

100

4

100

580

100

c2=9,60; p = 0,384.

Discussão É importante destacar que a literatura é escassa em dados nacionais a respeito do ortodontista brasileiro, especialmente quando se buscam informações com relação ao material utilizado rotineiramente, objeto desse estudo. De acordo com os dados obtidos, nota-se uma intensa preocupação dos ortodontistas quanto à qualidade do material que utilizam, pois, quando arguidos a esse respeito, apontaram a eficácia como principal motivo de escolha desses, tendo assinalado, em segundo plano, outros motivos, como o custo, facilidade e comodidade de uso como fatores considerados para a aquisição dos produtos.

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A preferência pela utilização de braquetes metálicos convencionais (98%) foi alta e coincidiu com os resultados dos estudos norte-americanos7,8,11. Esse dado evidenciou o uso consagrado dos braquetes metálicos, pela facilidade de emprego, aquisição e menor custo. Contudo, quando se trata de braquetes cerâmicos, que, nesse estudo, ficaram em segundo lugar (32%), os dados se encontram muito aquém da percentagem de utilização relatada por parte de profissionais norte-americanos7,8,11. Embora não tenha sido solicitada uma justificativa de resposta aos profissionais pesquisados, fatores como custo mais elevado, relatos relacionados com fraturas dos

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braquetes cerâmicos, desgaste do dente antagonista quando em contato prematuro e dificuldade de remoção17 decerto estão relacionados com o resultado obtido. Nessa questão, ainda, os braquetes autoligáveis apresentaram 2,2% de utilização entre os ortodontistas do estado de São Paulo; percentual semelhante aos dados coletados nos EUA em 1996 (1,6%)8; e bem inferiores aos de outros estudos, pois 9,8% dos ortodontistas americanos relataram utilizar esses braquetes, em estudo realizado em 200211. No Reino Unido, em estudo recente indicou 11%2. Considerando a concentração de profissionais que há nesse estado e a facilidade de acesso a fornecedores, se comparada a outras regiões do país, nota-se o uso pequeno desse recurso. Através da análise estatística, constatou-se que o emprego dos braquetes autoligáveis está associado aos profissionais com tempo de especialidade entre 11 e 15 anos. Esse resultado nos remete a questionar se isso se deve apenas ao custo mais elevado desse tipo de braquete, o que poderia restringir o seu uso a pacientes com maior potencial financeiro. Um outro aspecto é que os profissionais com 15 anos de especialidade possuem uma formação mais ampla, sob o ponto de vista científico, o que lhes fornece maior percepção na escolha do material que utilizam, além do censo crítico mais apurado, já que os braquetes autoligáveis surgiram com o propósito de promover tratamentos mais eficientes e com menor quantidade de atrito6. Por outro lado, um aparelho pré-ajustado pode ser arriscado quando utilizado por profissionais iniciantes, se comparado ao sistema convencional. Do mesmo modo, há a necessidade do ortodontista possuir capacitação para reconhecer más posições dentárias individuais e de dominar manobras biomecânicas que permitam a individualização do torque e da angulação dentária, aspectos conciliáveis por profissionais mais experientes. Cabe lembrar que o ortodontista tem à disposição braquetes autoligáveis passivos e ativos, cada um apresentando suas vantagens e desvantagens. Thorstenson28 comparou a mecânica de deslizamento em braquetes de ambos os sistemas e obteve como resultado que a resistência ao deslizamento é nula nos sistemas passivos; contudo, considerou a possibilidade de ocorrer falta de controle no posicionamento da raiz do dente. Já para os sistema ativos, a resistência ao deslizamento variou de 12 a 54g. Em braquetes convencionais, os níveis de resistência ao deslizamento são superiores, especialmente se são utilizadas as ligaduras elásticas15.

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A escolha entre um ou outro braquete deve levar em consideração vários aspectos, desde a facilidade de obtenção do produto, até seu preço, qualidade de fabricação e vantagens clínicas de cada um, adaptadas ao caso clínico selecionado para o tratamento16. Ainda no que tange à dimensão dos slots, os resultados desse estudo demonstraram a preferência pelo 0,022” x 0,028” (73,2%) em relação ao 0,018” x 0,025” (22,1%), concordando com os resultados de estudos semelhantes realizados em outros países2,11. A maioria dos entrevistados respondentes declarou utilizar rotineiramente ligadura elástica em sua prática clínica (93%), mesmo com as restrições de degradação de força decorrente da ação térmica dos alimentos e da temperatura bucal, além da reação físico-química da saliva6. A facilidade para sua utilização, a possibilidade de aumentar a fricção quando necessária e o baixo custo, foram os principais motivos que justificaram a sua utilização10. Os fios ortodônticos de aço inoxidável, por muito tempo, predominaram na Ortodontia, mas, com o advento de novas ligas metálicas, tornou-se diversificado o universo de fios disponíveis9. A preferência pelos fios ortodônticos de aço e pelo nitinol (M-NiTi), ambos de secção redonda, proporcionou dados semelhantes. Resultados similares foram relatados2,11, pois o Nitinol normalmente é muito recomendado para o início do tratamento, etapa que exige elevada elasticidade e alta resiliência do fio; e o aço inoxidável para a finalização do tratamento, propiciando a individualização9. Os fios superelásticos, NiTi termoativados, A-NiTi, níquel-titânio ativo, foram denominados os fios dos anos 90 por oferecerem a característica da superelasticidade associada ao efeito memória5. Esses fios possuem uma aceitação considerável entre os ortodontistas pesquisados (52,6% de secção redonda e 42,3% de secção retangular) na comparação com os estudos de Gottlieb et al.8 (24,9%) e Keim et al.11 (26,8%). Contudo, de acordo com Sheridan19, 85% dos profissionais utilizam-nos rotineiramente na fase inicial do tratamento. O fio de TMA (liga de titânio-molibdênio) possui como característica principal a resiliência associada a uma moderada formabilidade9. Nos EUA, Gottlieb et al.8 relataram que 22,5% dos profissionais utilizavam rotineiramente fios de TMA. Keim et al.11 relataram que 13,5% dos pesquisados o utilizavam no início do tratamento e 16,6% na etapa final do tratamento. Constatou-se, no presente estudo, o emprego de 46,5% do fio

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de TMA de secção retangular e 21,8% de secção redonda, resultados mais expressivos que os estudos realizados nos EUA; entretanto, ainda insuficientes para suplantarem o uso dos fios de aço inoxidável e Nitinol. A liga de cromo-cobalto para fios ortodônticos, desenvolvida na década de 60 e introduzida no mercado com o nome de Elgiloy (Rocky Mountain Orthodontics), possui, atualmente, vários similares no mercado. O custo mais elevado, sua rigidez muito semelhante e um pouco mais de atrito do que a liga de aço são limitações que explicam sua pouca utilização dentre os profissionais pesquisados (4,1%)9, assim como no estudo de Keim et al.11, com 8,3% de uso rotineiro no início do tratamento e 3% no final do tratamento. Em pesquisas anteriores de Gottlieb et al.7,8, os fios Elgiloy nem sequer foram citados. O preparo da ancoragem, em Ortodontia, é uma fase muito importante para determinar o sucesso do tratamento22 e útil para pacientes não colaboradores20. Por esse motivo, os profissionais pesquisados foram indagados a respeito dos mini-implantes. Foi constatado

que 11% dos ortodontistas da amostra os utilizam como rotina, dado semelhante ao encontrado por Sheridan21, com 8%; e superior a Banks et al.2, que relataram a sua utilização por apenas 02% dos respondentes do Reino Unido. Ainda, 51,6% dos ortodontistas relataram utilizar os mini-implantes como ancoragem1,12,23 e 24,3% os associaram à biomecânica de intrusão com o objetivo de otimizar os resultados, dada a dificuldade que existe nesse movimento ortodôntico22. Conclusão Os ortodontistas analisados alegaram ser a eficácia o principal motivo de escolha do material ortodôntico, sendo que os braquetes convencionais unidos com ligaduras elásticas ainda são os mais utilizados pelos entrevistados. Os fios de secção redonda ficaram em primeiro lugar na pesquisa, tanto os de aço como os de Nitinol convencional. Recursos recentes na Ortodontia brasileira, como os braquetes autoligáveis e os mini-implantes, não apresentaram uso significativo.

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© 2013 Dental Press Journal of Orthodontics

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