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artigo inédito

Avaliação da aplicação de laser de baixa potência na movimentação ortodôntica sob dois protocolos Mariana Marquezan1, Ana Maria Bolognese2, Mônica Tirre de Souza Araújo3

Introdução: diferentes protocolos de irradiação por laser de baixa potência (LBP) têm sido testados para potencializar o movimento ortodôntico; entretanto, há resultados divergentes. Foi sugerido que seu efeito bioestimulador ocorre nas fases de proliferação e diferenciação celular, não agindo em estágios tardios. Objetivo: avaliar o efeito de dois protocolos de irradiação do LBP na movimentação ortodôntica: um com irradiações diárias e outro em que irradiações foram realizadas apenas nos períodos iniciais. Métodos: trinta e seis ratos Wistar foram divididos em grupos controles (GC1, GC2 e GC3) e irradiados (GIr1, GIr2 e GIr3), de acordo com a presença de dispositivo ortodôntico, a presença de irradiação, o tipo de protocolo de irradiação e a data de eutanásia (3º ou 8º dia de experimento). Ao final dos períodos experimentais, foram realizadas mensurações da movimentação dentária, análise qualitativa das reações celulares e teciduais do periodonto e contagem de vasos sanguíneos no ligamento periodontal. Resultados: a quantidade de movimentação não diferiu entre os grupos num mesmo tempo experimental (p < 0,05). A análise qualitativa revelou maior atividade absortiva nos grupos irradiados ao final de 7 dias, especialmente quando as irradiações foram diárias. Nos grupos irradiados diariamente, a contagem de vasos foi aumentada em relação aos animais isentos de dispositivo ortodôntico e de aplicações de LBP (p < 0,05). Conclusão: apesar de verificada angiogênese em certos grupos irradiados, os protocolos de irradiação testados não foram capazes de acelerar a movimentação dentária, e foi possível verificarem-se absorções radiculares. Palavras-chave: Lasers. Terapia a laser de baixa intensidade. Movimentação dentária. Agentes indutores da angiogênese.

Como citar este artigo: Marquezan M, Bolognese AM, Araújo MTS. Evaluation of two low-potency laser application protocols in patients submitted to orthodontic treatment. Dental Press J Orthod. 2013 Jan-Feb;18(1):33.e1-9.

Mestre e Doutora em Ortodontia - UFRJ. Professora Associada do Departamento de Ortodontia da FO-UFRJ. Coordenadora da Disciplina de Ortodontia para Fonoaudiologia da FM-UFRJ. 2 Professora Titular do Departamento de Odontopediatria e Ortodontia da UFRJ. 3 Professora Associada do Departamento de Odontopediatria e Ortodontia da UFRJ. 1

Enviado em: 13 de julho de 2009 - Revisado e aceito: 27 de abril de 2010 » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

Endereço para correspondência: Mônica Tirre de Souza Araújo Av. Prof. Rodolpho Paulo Rocco 325 - Ilha do Fundão CEP: 21.941-617 - Rio de Janeiro / RJ E-mail: monicatirre@uol.com.br

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Avaliação da aplicação de laser de baixa potência na movimentação ortodôntica sob dois protocolos

INTRODUÇÃO Na Ortodontia, o LBP tem sido utilizado para aliviar a dor, eventualmente, associada ao movimento dentário23,26, acelerar a regeneração óssea durante a expansão rápida da maxila21, bem como potencializar a movimentação dentária induzida ortodonticamente2,4,9. Esse último é o principal alvo de estudos de laserterapia em Ortodontia. Variações de métodos nos estudos que avaliaram a relação entre irradiação por LBP e a taxa de movimentação ortodôntica geraram resultados conflitantes. Podem ser observados resultados positivos, com aumento na taxa de movimentação2,4,11; efeito nulo, em que o grupo experimental e o controle não diferiram13; e efeito inibitório, em que o grupo irradiado com LBP apresentou taxas menores de movimento dentário22. Apesar de a maioria dos protocolos de aplicação do LBP para potencialização do movimento ortodôntico ser pontual, existem variações nos comprimentos de onda utilizados, nas doses e no número de sessões de irradiação nos dias que sucedem à ativação do aparelho. Alguns autores utilizaram irradiações diárias de LBP4,11,15, enquanto outros estabeleceram diferentes intervalos de aplicação do laser2,13,22. Tendo em vista que o efeito do laser é dose-dependente6,10, maior atenção deve ser dada aos protocolos de irradiação. Foi sugerido que o efeito bioestimulador do LBP se dá nas fases de proliferação e diferenciação celular, não agindo em estágios tardios18. Além disso, estudos sobre potencialização do movimento ortodôntico com irradiações diárias de laser que tiveram êxito em demonstrar essa associação observaram aumento na taxa de movimentação dentária entre o segundo e terceiro dias de movimentação, mantendo-se constante a diferença entre grupos irradiados e não irradiados após esse período4,11. Dessa maneira, torna-se necessário testar protocolos de aplicação de LBP para potencialização do

Dispositivo

MATERIAL E MÉTODOS Para o presente estudo experimental in vivo, foram utilizados 36 ratos machos da linhagem Wistar, com aproximadamente 90 dias de idade e pesando cerca de 250g. Os animais foram mantidos em gaiolas apropriadas, forradas com maravalha, e receberam água e ração triturada ad libitum. A luminosidade foi controlada, havendo ciclos dia/noite de 12 horas cada para evitar alterações no ciclo metabólico dos animais. O projeto teve aprovação da Comissão de Ética com Uso de Animais (CEUA) em Experimentação Científica do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os animais foram divididos aleatoriamente em grupo controle (GC) e grupo irradiado (GIr) (Quadro 1) e, então, novamente divididos em seis subgrupos de acordo com a presença de dispositivo ortodôntico para movimentação dentária, irradiação por LBP e data da eutanásia. Cálculo amostral para diferença entre médias (α=5%, poder do estudo= 80%) foi realizado. O dispositivo ortodôntico utilizado foi constituído de uma mola de níquel-titânio de secção fechada com 7mm de comprimento (Dental Morelli Ltda, Sorocaba/SP), distendida dos incisivos superiores ao primeiro molar superior esquerdo para promover movimento mesial desse

Data de eutanásia

Nº de animais

Zero

1º dia

6

Zero

3º dia

6

Sim

Zero

8º dia

6

Sim

2

3º dia

6

GIr2

Sim

2

8º dia

6

GIr3

Sim

7

8º dia

6

Grupo

Subgrupo GC1

Não

GC Grupo controle

GC2

Sim

GC3 GIr1 GIr Grupo irradiado

movimento ortodôntico que contemplem irradiações apenas durante os períodos iniciais do movimento. O objetivo desse estudo foi verificar o efeito de dois protocolos de irradiação de laser de baixa potência na movimentação dentária induzida: um com irradiações diárias, e outro em que as irradiações se deram apenas nos períodos iniciais. Foram realizadas análise macroscópica quantitativa da movimentação dentária, análise microscópica qualitativa das reações celulares e teciduais do periodonto e quantificação do número de vasos sanguíneos no ligamento periodontal.

ortodôntico

Número de irradiações

Quadro 1 - Caracterização da amostra.

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dente com força de, aproximadamente, 40cN. Realizou-se o procedimento de instalação do dispositivo ortodôntico com os animais sedados, administrando-se injeção intraperitoneal da associação de cloridrato de quetamina (1,33ml/kg) e cloridrato de xilazina (0,67ml/kg). Para irradiação dos animais dos grupos experimentais GIr1, GIr2 e GIr3, foi utilizado um laser de arseneto de gálio e alumínio (Ga-Al-As) (Thera Lase, DMC Equipamentos, São Carlos/SP), com comprimento de onda de 830nm, potência máxima de 100mW e sistema de entrega por fibra óptica de 0,6mm de diâmetro. As irradiações foram realizadas, utilizando-se o método pontual sobre as regiões mesial, vestibular e lingual da mucosa gengival dos primeiros molares superiores esquerdos (Fig. 1). O tempo de aplicação em cada ponto foi de 3 minutos, o que corresponde à fluência de aproximadamente 6000J/cm2 por ponto4,11. A quantidade de sessões para aplicação de LBP seguiu o protocolo especificado para cada grupo (Quadro 1). Imediatamente após a montagem do dispositivo ortodôntico, mensurou-se a distância entre os incisivos centrais superiores e o primeiro molar superior esquerdo com paquímetro ortodôntico (Odin, Ortho-pli, Philadelphia, EUA). Para facilitar a mensuração, foi criada uma marcação com ponta diamantada esférica (KG 1011) na porção esquerda da resina composta que cobria os incisivos, de onde partia uma das pontas do paquímetro. A outra extremidade era posicionada na face mesial do primeiro molar superior (Fig. 2). Esse procedimento foi repetido imediatamente antes de cada eutanásia, por um único examinador cego e calibrado (ICC = 0,996). Considerou-se como quantidade de movimentação

dentária a diferença entre as medidas inicial e final. O grupo GC1 foi excluído dessa análise por não ter sido submetido à movimentação dentária induzida. Ao final dos períodos experimentais especificados para cada grupo, a eutanásia foi realizada por meio de guilhotina. Em seguida, as maxilas sofreram dissecção e osteotomia para a obtenção das secções teciduais desejadas, compreendendo os molares superiores esquerdos e osso alveolar adjacente. As peças foram fixadas em solução de formol neutro a 10% durante uma semana e descalcificadas em solução de Ana Morse (partes iguais de ácido fórmico a 50% e citrato de sódio a 20%) por cerca de 35 dias, sendo a solução trocada diariamente. Verificada a descalcificação por método de punção com agulha, os espécimes teciduais sofreram processamento histotécnico e foram emblocados em parafina. Cortes transversais de 5μm foram obtidos no terço cervical dos molares e corados por hematoxilina e eosina (HE). Análise qualitativa das reações celulares e teciduais do periodonto do primeiro molar superior esquerdo foi realizada em microscópio Nikon Eclipse E600 com magnificações de 40, 100 e 400X. Análise quantitativa do número de vasos sanguíneos no ligamento periodontal também foi realizada a fim de verificar a presença ou não de angiogênese frente à movimentação dentária e à aplicação de laser. Fotomicrografias, com magnificação de 400X, foram obtidas em quatro campos (mesial, vestibular, distal e palatino) do ligamento periodontal da raiz mesial do dente movimentado e contagens foram realizadas visualmente com auxílio do programa Image Pro Plus 4.5 (Media Cybernetics, Silver Spring, EUA). O ICC para essa avaliação foi de 0,841.

Tabela 1 - Média da movimentação dentária induzida (em milímetros) e desvio-padrão (D.P.). Grupo

Média ± D.P.

GC2

0,39 ± 0,04a

GC3

1,28 ± 0,10b

GIr1

0,40 ± 0,05a

GIr2

1,04 ± 0,06b

GIr3

1,25 ± 0,11b

Letras diferentes indicam diferença estatística de α=0,05% (ANOVA/Tukey). Figura 1 - Ilustração esquemática dos pontos de irradiação por laser de baixa potência (círculos vermelhos) no primeiro molar superior esquerdo.

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Figura 2 - Aferição da movimentação dentária: medida da distância entre a face mesial do primeiro molar superior esquerdo e o ponto de referência marcado na resina que recobre os incisivos superiores com paquímetro ortodôntico.

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GC1

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Superfície radicular

Ligamento periodontal

Osso alveolar

Fina camada de cemento acelular

Ligamento com espessura uniforme e fibras

Osteogênese na porção mesial devido ao processo

circundada por espessa camada

organizadas e inseridas perpendicularmente ao osso

eruptivo; espaços medulares de pequena extensão

de cemento celular; camada

alveolar; presença de vasos sanguíneos em toda a

preenchidos por medula hematopoiética e vasos

cementoblástica organizada

extensão do ligamento

sanguíneos

Espessura reduzida no lado de pressão e fibras GC2

Desorganização da camada cementoblástica no lado de compressão

comprimidas. No lado de tração, a espessura estava aumentada e as fibras distendidas; número de vasos aumentado; osteoclastos ativos nas áreas de pressão e tração; infiltrado inflamatório misto presente

Lacunas de Howship evidentes; espaços medulares de pequena extensão preenchidos por tecido conjuntivo, medula gordurosa, vasos sanguíneos, infiltrado inflamatório misto e osteoclastos ativos Absorção na área de pressão e fina camada de

GC3

Ligamento com espessura aumentada pela

osteoide na área de tração; espaços medulares de

Desorganização da camada

atividade reabsortiva; redução no número de vasos

maior extensão preenchidos por tecido conjuntivo,

cementoblástica no lado de compressão

sanguíneos; osteoclastos ativos escassos; infiltrado

medula gordurosa, vasos sanguíneos, infiltrado

inflamatório crônico presente

inflamatório crônico, osteoblastos ativos e poucos osteoclastos

Espessura reduzida no lado de pressão e fibras GIr1

Desorganização da camada cementoblástica no lado de compressão

comprimidas. No lado de tração, a espessura estava aumentada e as fibras distendidas; número de vasos aumentado; osteoclastos ativos nas áreas de pressão e tração; infiltrado inflamatório misto

Desorganização da camada GIr2

cementoblástica no lado de compressão; presença de reabsorções radiculares

Desorganização da camada GIr3

cementoblástica no lado de compressão; presença de reabsorções radiculares

Ligamento com espessura aumentada pela atividade reabsortiva; redução no número de vasos sanguíneos; osteoclastos ativos escassos; infiltrado inflamatório crônico presente Maior alargamento do alvéolo; número de vasos sanguíneos aumentado; grande número de osteoclastos ativos; infiltrado inflamatório crônico presente

Lacunas de Howship evidentes; espaços medulares de pequena extensão preenchidos por tecido conjuntivo, medula gordurosa, vasos sanguíneos, infiltrado inflamatório misto e osteoclastos ativos Absorção na área de pressão e fina camada de osteoide na área de tração; espaços medulares muito aumentados e preenchidos por tecido conjuntivo, medula gordurosa, vasos, infiltrado inflamatório crônico, osteoblastos ativos e poucos osteoclastos Ausência de osteoide na área de tração; grande absorção dos septos ósseos; espaços medulares significativamente maiores, preenchidos por tecido conjuntivo; medula gordurosa; infiltrado inflamatório crônico; abundância de vasos e osteoclastos ativos

Quadro 2 - Análise qualitativa das reações celulares e teciduais do periodonto.

A quantidade de movimentação dentária registrada em milímetros e o número absoluto de vasos para cada espécime foram tabulados e analisados estatisticamente por meio do programa Statistical Package for the Social Science (version 16, SPSS Inc., EUA). A verificação da normalidade e da homogeinedade foi realizada por meio do teste de Shapiro-Wilk e do teste de Levene, respectivamente, ao nível de significância de 0,05. Verificada a distribuição normal e homogênea das variáveis, utilizou-se Análise de Variância (ANOVA) e o teste de comparações múltiplas de Tukey para verificar a diferença intergrupos. RESULTADOS Quantificação da movimentação dentária

A análise macroscópica revelou não haver diferença significativa entre grupos controles e irradiados nos dias avaliados (3º e 8º dias) (p < 0,05) (Tab. 1).

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Análise qualitativa das reações celulares e teciduais do periodonto

A análise das reações celulares e teciduais será descrita a seguir e está sintetizada do Quadro 2. GC1 sem aplicações de laser e sem dispositivo ortodôntico

Esses animais apresentando fisiologia normal foram considerados como padrão para comparação. Na raiz mesial, observou-se a presença de fina camada de cemento acelular circundada por uma de cemento celular, bastante espessa nas faces vestibular e mesial. Foi verificada a presença de camada cementoblástica recobrindo-o e algumas áreas de formação de cementoide. O ligamento periodontal apresentou-se com espessura relativamente uniforme, com feixes de fibras organizados e circundados de fibroblastos. Na porção distal, esses feixes se mostraram paralelos entre si e perpendiculares ao cemento e

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ao osso alveolar. Já na face mesial, esse paralelismo não se mostrou tão claro; porém, a inserção de feixes perpendicularmente ao cemento e osso alveolar era visível. Vasos sanguíneos de diferentes calibres foram observados em toda a extensão do ligamento periodontal. No tecido ósseo alveolar, na porção mesial, pôde-se observar linha de aposição, indicando osteogênese recente nessa região, provavelmente devido ao processo eruptivo normal em sentido distal desse dente. Os espaços medulares eram de pequena extensão (Fig. 3) e preenchidos por tecido hematopoiético e vasos sanguíneos.

GC2 com dispositivo ortodôntico, sem irradiação por LBP e eutanásia ao 3º dia

A movimentação dentária induzida promoveu alteração na organização dos cementoblastos, especialmente na zona de pressão. Nessas áreas, houve redução do espaço do ligamento periodontal e foram observados feixes de fibras comprimidos e difusos, enquanto nas áreas de tração os feixes de fibras estavam estirados. Vasos sanguíneos estiveram presentes em toda a extensão do ligamento. Esses vasos foram em maior número quando comparados aos do grupo sem dispositivo ortodôntico (GC1).

GC1

GIr1 ml

to

to

m

dv

int

m int

dv

1000µm

GC2

ml

dl

Dl

1000µm

GIr2

ml

ml

dl

to

dl to dv

m dv

int

int

1000µm

1000µm

GC3

dl

GIr3

ml

ml

dl

to to

dv

m

m

dv

int

1000µm

int

m

1000µm

Figura 3 - Fotomicrografia dos tecidos de suporte e dos primeiros molares superiores submetidos à movimentação ortodôntica nos diferentes grupos. M = raiz mesial; ML = raiz mesiolingual; DL = raiz distolingual; INT = raiz intermediária; DV = raiz distovestibular; TO = trabeculado ósseo (HE, 40X).

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Foram observados osteoclastos ativos tanto nas áreas de pressão como nas de tração, indicando o alargamento inicial do alvéolo. Infiltrado inflamatório misto também foi observado, havendo presença de células inflamatórias polimorfonucleares e monoclucleares. No tecido ósseo, observou-se a presença de lacunas de Howship, conferindo contorno irregular. Na área de tração, não foram observadas áreas de neoformação óssea. Puderam-se observar espaços medulares de pequena extensão preenchidos por tecido conjuntivo, medula gordurosa, vasos sanguíneos, infiltrado inflamatório misto e osteoclastos ativos (Fig. 3). GC3 com dispositivo ortodôntico, sem irradiações por LBP e eutanásia ao 8º dia

As características do cemento eram idênticas às do grupo GC2. Devido à atividade absortiva, a espessura do ligamento apresentou-se aumentada. Osteoclastos ativos estiveram escassos tanto nas áreas de pressão e de tração, quanto nos espaços medulares. A vascularização do ligamento periodontal permaneceu uniformemente distribuída, havendo pequena diminuição no número de vasos. Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário (crônico) foi observado. No osso alveolar, a parede do lado de compressão mostrou irregularidades características do processo reabsortivo, enquanto no lado de tração foram observadas estreitas áreas de osteoide. Pôde-se observar espaços medulares de extensão maior que em GC2, preenchidos por tecido conjuntivo, medula gordurosa, vasos sanguíneos, infiltrado inflamatório crônico, osteoblastos ativos e poucos osteoclastos (Fig. 3).

GIr1 com dispositivo ortodôntico, duas aplicações de laser e eutanásia ao 3º dia

Características idênticas ao GC2 foram observadas (Fig. 3). GIr2 com dispositivo ortodôntico, duas aplicações de laser e eutanásia ao 8º dia

Diferenças mais pronunciadas foram verificadas entre os grupos de sete dias de movimentação dentária. Em comparação ao GC3, diferenças nas características do cemento e dos espaços medulares foram evidentes. O cemento apresentou áreas de absorção (Fig. 4), enquanto os espaços medulares apresentaram grande extensão e os septos inter-radiculares estiveram substancialmente diminuídos (Fig. 3). GIr3 com dispositivo ortodôntico, 7 aplicações de laser e eutanásia ao 8º dia

Em comparação ao GIr2, maior alargamento do espaço periodontal foi observado (Fig. 3) e absorções radiculares também foram observadas (Fig. 4). O número de vasos sanguíneos foi maior que nos demais grupos com 7 dias de movimentação dentária. Foram vistas células inflamatórias mononucleares em abundância (infiltrado inflamatório crônico). Os septos inter-radiculares apresentaram significativa redução, inclusive desaparecendo em alguns animais. No espaço entre as raízes, foram observados tecido conjuntivo, medula gordurosa, abundância de vasos sanguíneos, infiltrado inflamatório crônico e osteoclastos ativos nas regiões dos septos remanescentes.

LP

D

LP

C

C

A

B

Figura 4 - Fotomicrografia das áreas de absorção na raiz mesial dos primeiros molares de ratos pertencentes ao GIr2 (A) e GIr3 (B). D = dentina; C = cemento; LP = ligamento periodontal; setas negras = osteoclastos; barra = 100μm (HE, 400X).

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Tabela 2 - Média da movimentação dentária induzida (em milímetros) e desvio-padrão (D.P.).

Em todos os grupos em que foi aplicada força ortodôntica ao primeiro molar, observaram-se reações semelhantes, porém de menor expressão, no periodonto do segundo molar. Puderam-se observar zonas de pressão e tração no ligamento periodontal e, também, alterações de dimensão e celulares nos espaços medulares.

Grupo

Média ± D.P.

GC1

22,00 ± 3,16a

GC2

37,40 ± 9,91b

GC3

30,40 ± 5,41ab

GIr1

37,00 ± 6,89b

GIr2

27,66 ± 3,78ab

GIr3

38,00 ± 5,19b

Contagem dos vasos sanguíneos

As médias de cada grupo, sua comparação e o desvio-padrão estão expressos na Tabela 2. Foi verificada diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) apenas entre o grupo GC1 e os grupos GC2, GIr1 e GIr3. Nesses últimos, foi verificado aumento no número de vasos (Fig. 5).

Letras diferentes indicam diferença estatística de α = 0,05% (ANOVA/Tukey).

D

A

D

B

C

C

LP

LP

OA

OA

Figura 5 - Fotomicrografia do ligamento periodontal da raiz mesial de animais pertencentes ao GC1 (A) e GIr1 (B). As setas negras indicam vasos sanguíneos; D = dentina; C = cemento; LP = ligamento periodontal; AO = osso alveolar; barra = 100μm (HE, 400X).

DISCUSSÃO Dois diferentes protocolos de aplicação do LBP foram testados durante a movimentação dentária induzida nessa pesquisa: um em que as irradiações foram diárias e outro em que as irradiações ocorreram apenas nos dois primeiros dias do movimento dentário. A avaliação macroscópica da movimentação dentária revelou não haver diferença significativa entre os grupos irradiados e não irradiados nos dias avaliados (3º e 8º dias), ou seja, ambos os protocolos testados não foram capazes de aumentar a quantidade de movimentação dentária em relação ao grupo controle (p < 0,05). Esse resultado é compatível com os achados de limpanichkul et al.13, em que o grupo irradiado por LBP e grupo controle não diferiram quanto à velocidade de

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movimentação dentária. Outro estudo demonstrou o efeito inibitório do LBP, ou seja, diminuição da quantidade de movimentação dentária22. Porém, outros demonstraram a eficácia do LBP2,4,11. Acredita-se que o LBP tenha efeito dose-dependente, podendo acelerar ou retardar os processos biológicos dependendo da fluência aplicada e do regime de irradiação1,6,9,10. Além de variações nos protocolos de aplicação do LBP, os estudos supracitados utilizaram diferentes sujeitos de pesquisa: utilizaram ora animais (ratos ou coelhos), ora humanos, o que pode mudar a interpretação da fluência como alta ou baixa. Dois desses trabalhos, entretanto, utilizaram o mesmo modelo animal e mesma fluência utilizados nessa pesquisa e obtiveram resultado positivo4,11, discordando dos resultados apresentados. Contudo, a

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tomada das medidas e os pontos de referência foram distintos: ambos utilizaram as superfícies oclusais dos primeiro e segundo molares sob magnificação após moldagem e digitalização dos modelos. Já na presente pesquisa, utilizou-se um paquímetro ortodôntico, diretamente na cavidade bucal do animal, distendido da face mesial do primeiro molar até os incisivos, conforme trabalho de drevensek et al.3 Apesar de Kawasaki e Shimizu11 e Fujita et al.4 terem utilizado um método indireto associado à magnificação para medir a movimentação, o que pode tê-lo tornado mais sensível, a escolha do segundo molar como ponto de referência não parece adequada, visto que esse dente também sofre certa movimentação pela ação das fibras transeptais8,28. Outro fator na presente pesquisa que diferiu dos estudos de Kawasaki e Shimizu11 e Fujita et al.4 foi a força aplicada. Ambos utilizaram 10cN, enquanto nesse trabalho utilizaram-se 40cN7,12,14,15,24,25. Esse fator, entretanto, parece não explicar a diferença de resultado obtida, pois, no estudo de Gonzales et al.5, em que foram testadas as forças de 10, 25, 50 e 100cN para movimentação de molares de ratos, observou-se que, ao longo de 14 dias, as forças de 10, 25 e 50cN não diferiram quanto à quantidade de movimentação dentária. Além disso, a força utilizada no presente trabalho foi capaz de gerar remodelação óssea sem indícios de hialinização, o que sugere que foi adequada. Análises qualitativas de reações celulares e teciduais têm sido pouco exploradas em artigos científicos. Sabe-se da importância em se quantificarem dados e submetê-los a análises estatísticas; porém, a descrição de fenômenos facilita o entendimento do leitor e pode despertar-lhe a curiosidade em realizar outras análises e quantificar outros dados. Na presente pesquisa, fenômenos interessantes puderam ser observados. Verificou-se que, nos grupos irradiados por laser, após sete dias de movimentação dentária (GIr2 e GIr3), absorções radiculares foram evidentes, enquanto nos demais grupos não foram verificadas. Outro aspecto interessante foi o efeito sobre o tecido ósseo alveolar, especificamente sobre os espaços medulares. Os grupos de sete dias de movimentação dentária e irradiados por laser, em especial nos quais as irradiações foram diárias (GIr3), mostraram maior atividade absortiva, havendo espaços medulares extremamente amplos, inclusive no segundo molar, por consequência da ação das fibras transeptais28. Absorções radiculares foram observadas nas raízes mesiais dos primeiros molares submetidos à movimentação dentária ao final de sete dias e irradiados por LBP. Esse achado discorda do trabalho de Mendes15, segundo o qual

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absorções radiculares foram consideradas semelhantes entre grupos irradiados e não irradiados. A literatura não provê informações sobre a relação entre LBP e modificações nos espaços medulares. Nessa pesquisa, objetivou-se quantificar os vasos sanguíneos do ligamento periodontal, uma vez observado o efeito angiogênico do LBP no reparo de feridas20,29. A angiogênese é, igualmente, benéfica à movimentação dentária, não só por permitir maior circulação de oxigênio, nutrientes e mediadores químicos inflamatórios, como também por facilitar a infiltração de células de reparo30. Favorece, ainda, a chegada dos osteoclastos, células que advêm dos monócitos provenientes da medula óssea e transportados pela corrente sanguínea16. Os grupos GC2 e GIr1, grupos em que foi realizado movimento ortodôntico por dois dias, diferiram do GC1, confirmando que nos períodos iniciais da movimentação dentária há incremento na vascularização17,20,28. Esses dois grupos, entretanto, não diferiram entre si, mostrando que o LBP, quando associado à movimentação dentária induzida, não foi capaz de aumentar ainda mais a angiogênese aos dois dias de movimento dentário. No oitavo dia de movimentação dentária, a vascularização tendeu a retornar à normalidade, não se observando diferença estatística entre GC3, GIr2 e os demais grupos. Exceção foi verificada no GIr3, único grupo de sete dias de movimentação dentária que diferiu do controle GC1, mostrando que, nesse tempo experimental, aplicações diárias de laser foram capazes de manter o número de vasos aumentados. Esse resultado vai ao encontro do trabalho de Mendes15, em que foi verificado um incremento na vascularização no periodonto de ratos irradiados diariamente por LBP em relação ao controle durante o 8º dia de movimento dentário. Dos grupos irradiados, apenas o GIr2 não diferiu do GC1. Esse dado ratifica a conclusão de Saito e Shimizu21 ao estudarem o reparo ósseo da sutura palatina mediana após disjunção em ratos. Esses autores sugeriram que apesar de aplicações de LBP durante os períodos iniciais de regeneração óssea desencadearem efeito estimulador, as aplicações nos períodos tardios parecem ter a função de manter tal efeito. A descontinuidade das aplicações parece diminuir o estímulo, como observado nesse estudo.

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CONCLUSÕES A análise quantitativa demonstrou que a movimentação dentária não diferiu entre os grupos irradiados e não irradiados em tempos experimentais equivalentes, de-

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artigo inédito

Marquezan M, Bolognese AM, Araújo MTS

monstrando que os dois protocolos de aplicação do LBP testados não foram capazes de aumentar a movimentação dentária induzida. A análise qualitativa do periodonto revelou maior atividade absortiva, tanto em cemento como em tecido ósseo, nos grupos de sete dias de movimentação dentária associados a aplicações de LBP, especialmente quando foram realizadas irradiações diárias. A quantidade de vasos sanguíneos no ligamento periodontal de animais submetidos à movimentação ortodôntica

e irradiados por LBP foi aumentada em relação ao grupo controle GC1 (animais isentos de dispositivo ortodôntico e de aplicações de LBP) apenas nos grupos em que as aplicações de LBP foram diárias (GIr1 e GIr3), mostrando que aplicações em períodos tardios são necessárias para manutenção do efeito estimulador. Apesar de verificado incremento vascular em certos grupos, os protocolos de irradiação por LBP testados não foram capazes de acelerar a movimentação dentária e trouxeram, como efeito adverso, absorções radiculares.

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© 2013 Dental Press Journal of Orthodontics

33.e9

Dental Press J Orthod. 2013 Jan-Feb;18(1):33.e1-9


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