Ano 1 Vol 01

Page 1


Editorial EXPEDIENTE Editora: Lisiane Palau Azevedo Editora Cientíica: Regina Medeiros Assistente Editorial: Gilberto Azevedo gilberto@moriaeditora.com.br Produção: Álvaro Lopes (Publikmais) contato@publikmais.com.br Revisão de Português: Suliani Editograia Vendas: pedidos@moriaeditora.com.br (51) 3351-2361 / 3334-4753 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é um periódico cientíico, cultural e proissional bimestralmente lido por 5.000 proissionais de enfermagem. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem não aceita matéria paga em seu espaço editorial. Circulação: em todo território nacional. Seis números anuais: janeiro/fevereiro, março/ abril, maio/junho, julho/agosto, setembro/outubro e novembro/dezembro. Data da Impressão: março/ 2011. Correspondência: Moriá Editora Ltda. Rua Aracy Fróes, 258 / 902 Jardim Itu Sabará - Porto Alegre/ RS CEP: 91.210-230 Tels.: (51) 9116.9298 / (51) 3334.4753. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Números avulsos: R$ 40,00 Periodicidade: Bimestral Distribuição: Via Correios Revista Sul-Brasileira de Enfermagem reservase todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção PanAmericana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais

Em 1998, quando começamos a trabalhar com proissionais da área da saúde, logo identiicamos sem muito esforço uma ainidade com os enfermeiros, e o quão fascinante é trabalhar com eles. Aos poucos, fomos percebendo a magnitude desta proissão. No dia a dia observamos todo o empenho que dedicavam ao cuidar e ao ensinar a cuidar. Pronto, já estávamos apaixonados por estes proissionais e, mesmo sem termos nenhuma formação na área, nos víamos envolvidos e desaiados a saber mais sobre seus cateteres, tubos, sondas, termos técnicos, patologias, curativos... Descobrimos ao longo desses anos o quanto se dedicam aos estudos, atualizações constantes e incansáveis pesquisas. E tudo isso para um cuidar melhor e para saciar sua sede de conhecimento, não apenas pelo reconhecimento proissional, mas pelo imenso amor a essa proissão e ao próximo. Esses pesquisadores são tão insaciáveis pelo conhecimento, que os periódicos existentes têm sido insuicientes para acompanhar o ritmo acelerado de tanta produção cientíica de qualidade. Por esse motivo e por sermos apaixonados por essa convivência, resolvemos aceitar o desaio de preencher esta lacuna e lançar a Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. Nessa jornada estamos dispostos a não medir esforços e a dar o máximo de nós para alcançarmos a qualidade e os padrões exigidos. Para isso contamos com vocês, enfermeiros. Somos gratos pela coniança. Gilberto Azevedo Lisiane Azevedo

Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela Moriá Editora que, em qualquer situação, agirá como detentora dos mesmos. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral. Publica trabalhos originais das diferentes áreas da Enfermagem, Saúde e áreas ains, como resultados de pesquisas, artigos de relexão, relato de experiências e discussão de temas atuais.

ISSN 2236-0417

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

1


Sumário Página 01

Editorial Artigos

Página 03

Página 8

Página 12

Página 15

Página 18

Caracterização dos atendimentos de trauma na sala de politraumatizados no Hospital Pronto Socorro/Canoas Characterization treatment of trauma in multiple trauma room in Emergency Hospital/Canoas Juliana Stein Leite, Adriana Roloff

Acolhimento da família em Unidade de Terapia Intensiva Adulto Support to families in the Critical Care Unit for Adults Luana Paola Boff, Emiliane Nogueira de Souza

Infecção por micobactéria relacionada a videocirurgia: que tipo de material existe on-line? Infection for mycobacterium related to the vídeo-surgery:that type of the material exists on-line? Marielli Trevisan Jost, Rita Catalina Aquino Caregnato

Planejamento e organização de uma clínica geriátrica: relato de experiência. Planning and organizing a geriatric clinic: experience report Marcia Gemelli, Rita Catalina Aquino Caregnato

Planejamento familiar: processo de escolha do método contraceptivo na visão das usuárias de um serviço público de atenção básica à saúde Family planning: the process of choosing a contraception method from the perspective of women users of public health service Neila Terezinha Pires, Emiliane Nogueira de Souza

Página 23

Normas para publicação

Página 24

Eventos cientiicos

Página 25

Atualização em terapia intensiva - Aula 1: Avaliação do Paciente na UTI

Conselho Científico Presidente do Conselho Cientíico Profª Drª Regina Helena de Medeiros UCS - Universidade de Caxias do Sul

Profª Drª Lisia Maria Fenstersefer Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Profª Doutoranda Sandra Maria Cezar Leal Unisinos Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Profª Doutoranda Adriana Aparecida Paz UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre

Profª Doutoranda Lisneia Fabiani Bock IPA - Rede Metodista de Educação do Sul

Enfª Estomaterapeuta Silvana Janning Prazeres SOBEST - RS

Profª Drª Erica Rosalba Mallmann Duarte UFRGS - Universidade Federal do RS Profª MS Graziella Gasparotto Baiocco Universidade Feevale Profª Doutoranda Iride Cristofoli Caberlon Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Gravataí Profª Drª Maria Bettina Camargo Bub UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina Profª Drª Maria da Graça de Oliveira Crossetti UFRGS - Universidade Federal do RS

2

Profª Drª Lorena Terezinha C Geib UPF - Universidade de Passo Fundo Profª Drª Luzia Fernandes Milão Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profª Drª Maira Buss Thofehrn UFPel -Universidade Federal de Pelotas Profª Drª Regina Gema Santini Costenaro Unifra - Centro Universitário Franciscano Profª Drª Rita Catalina Aquino Caregnato Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profª Drª Roseana Maria Medeiros

Profª Drª Solange Machado Guimarães Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profª Drª Sonara Lucia Estima Unilasalle - Centro Universitário La Salle Profª Drª Sonia Beatriz Cocaro Souza UFRGS - Universidade Federal do RS Profª MS.Terezinha Valduga Cardoso Ulbra - Universidade Luterana do Brasil IAHCS - Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde Profª MS Vera Lucia Fortunato Fortes UPF - Universidade de Passo Fundo

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


Caracterização dos atendimentos de trauma na sala de politraumatizados no Hospital Pronto Socorro/Canoas* Characterization treatment of trauma in multiple trauma room in Emergency Hospital/Canoas ** Juliana Stein Leite

*** Adriana Roloff

Resumo - Objetivou-se identificar as características dos atendimentos de trauma na sala de politraumatizados/HPSC, relacioná-los com sexo, idade, mecanismo, lesão, evolução, destino e causas de maior incidência. A população foi constituída dos registros de atendimento entre agosto e dezembro/2007, totalizando 2.046 vítimas. Verificou-se prevalência na faixa etária de 12-64 anos, sexo masculino (63,4%) e acidente como maior agravo. Na faixa etária 0-11 anos, maior índice queda (19,7%), na idade de 65 anos ou mais, queda obteve maior índice, sexo feminino mais acometido. Independente da faixa etária, são prevalentes os atendimentos do sexo masculino, tendo como referência acidentes/atropelamentos, indicando necessidade de programas preventivos para as faixas etárias específicas.

Abstract - Aimed to identify the characteristics of the victims of trauma in multiple trauma room/HPSC, relate them to sex, age, mechanism, injury, evolution, fate and causes of incidence. The study population consisted of records of care between agosto-dezembro/2007 a total of 2046 victims. The prevalence is in the age group 12-64 years male (63.4%) as higher accident and injury. In the age group 0-11 years, highest decrease (19.7%), at the age of 65 years or more, obtained the highest drop rate, women most affected. Regardless of age are prevalent the calls of males, with reference to accidents and pedestrian accidents, this indicates the need for preventive programs for specific age groups. Keywords: Emergency; trauma; multiple trauma room.

Palavras-chave: Emergência; trauma; sala de politraumatizados.

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 03 a 07

Introdução O trauma, no Brasil, é a principal causa de óbito nas primeiras quatro décadas de vida; além disso, o país ocupa o trágico primeiro lugar (do mundo) em número de mortos por arma de fogo. O trauma é um grande problema de saúde pública, acarretando forte impacto na sociedade, principalmente por sua morbidade e mortalidade, sendo imprescindível discutir, analisar e propor atendimento qualificado a esse tipo de paciente.1 Na grande maioria de casos, o trauma não é tratado como doença por parte dos profissionais de saúde, sendo reduzido seu tratamento apenas ao atendimento no ambiente pré-hospitalar e intra-hospitalar.2 O trauma não é apenas acidente; é uma doença que tem epidemiologia, fisiopatologia, morbidade e mortalidade conhecidas. Sendo assim, seu tratamento é complexo e requer assistência distinta, devendo atingir maturidade no que tange ao tema trauma e incorporar à sociedade uma cultura civilizatória de educação e prevenção ao trauma.1 A avaliação de um paciente traumatizado inicia na fase pré-hospitalar do atendimento identificando e avaliando as circunstâncias em que ocorreu o evento, como o tipo de colisão automobilística (frontal, lateral, traseira), o grau de deformidade do veículo, a altura da queda, a velocidades dos corpos, o tipo e o calibre das armas, estabelecendo relação entre esses fatos e possíveis lesões apresentadas pela vítima. A isso se de-

nomina cinemática, biomecânica ou mecanismo do trauma.4 As lesões traumáticas podem ser classificadas em contusões, lesões penetrantes e por explosão. Obtendo a história clínica da fase do impacto, algumas leis da física devem ser consideradas, como:5 • a energia nunca é criada ou destruída, ela pode mudar de forma; • um corpo em movimento ou em repouso tende a permanecer neste estado até que uma fonte de energia externa atue sobre ele; • a energia cinética é igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade, dividida por dois; • uma força é igual à massa multiplicada pela desaceleração ou aceleração. As vítimas de queda estão sujeitas a múltiplos impactos e lesões. Nestes casos, devem ser avaliados:1 • altura da queda: quanto maior a altura, maior a probabilidade de lesões, pois a velocidade em que a vítima atinge o anteparo é proporcionalmente maior e consequentemente a desaceleração;7 • compressibilidade da superfície do solo: quanto maior a compressibilidade, maior a capacidade de deformação, aumentando a distância de parada, diminuindo a desaceleração; 8 • parte do corpo que sofreu o primeiro impacto: este dado permite levantar a suspeita de algumas lesões.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

3


Artigo de Pesquisa

Caracterização dos atendimentos de trauma na sala de politraumatizados no Hospital Pronto Socorro/Canoas*

Quando ocorre o primeiro impacto nos pés, ocorre uma fratura bilateral dos calcâneos (“Síndrome de Don Juan”); após, as pernas absorvem o impacto, levanto a fraturas de joelho, ossos longos e quadril. A seguir o corpo é flexionado, causando fraturas por compressão da coluna lombar e torácica. Quando a vítima bate primeiramente as mãos, resultam fraturas bilaterais do rádio (Fratura de Colles). Nos casos em que a cabeça recebe o primeiro impacto, ocorrem lesões de crânio e de coluna cervical.9 Sendo assim, objetivou-se, com esta pesquisa, analisar os registros de atendimento do Hospital de Pronto Socorro de Canoas/RS (HPSC) – Deputado Nelson Marchezan, no período de agosto a dezembro 2007. Foram separados os boletins de atendimento dos pacientes vítimas de trauma, recebidos na sala de emergência, relacionados com sexo, idade, mecanismo, lesão, evolução, destino e causas de maior incidência.

pacientes vítimas de trauma, indiferentemente de sexo ou faixa etária, recebidos na sala de emergência do Hospital. Foi criado um formulário para coleta de informações que incluía as variáveis: mês, gênero, idade, origem, mecanismo do trauma, diagnóstico e destino. Após a coleta, foram elaboradas planilhas para análise da distribuição das variáveis.

Apresentação e análise dos resultados Figura 1: Atendimentos de trauma de agosto a dezembro de 2007.

Metodologia Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com referencial quantitativo. Foram utilizados registros de atendimento de pacientes na sala de politraumatizados. O presente estudo foi autorizado pela direção do Hospital, após submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Luterana do Brasil/ULBRA, Campus Canoas/RS, que autorizou o seu desenvolvimento. Foram separados os boletins de atendimento dos

Fonte: Coleta de dados, 2008.

Na Figura 1, verifica-se que a faixa etária mais vitimada pelos eventos de trauma são os homens na faixa etária de 12 a 64 anos (63,4%).

Em relação aos atendimentos realizados no período analisado, verificou-se que, dos 2.046 registros, 1.280 (63,6%) referem-se ao sexo masculino e 36,4%, ou seja, 766 pacientes são do sexo feminino. Tabela 1 – Distribuição dos pacientes vítimas de trauma atendidos na emergência do Hospital de Pronto-Socorro de Canoas/RS (HPSC) – Deputado Nelson Marchezan, quanto à origem da assistência pré-hospitalar e sem pré-hospitalar

4

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 03 a 07

Fonte: Coleta de dados, 2008.


Caracterização dos atendimentos de trauma na sala de politraumatizados no Hospital Pronto Socorro/Canoas*

Tabela 2 – Distribuição dos pacientes vítimas de trauma atendidos na emergência do Hospital de Pronto-Socorro de Canoas/RS (HPSC) – Deputado Nelson Marchezan, quanto à faixa etária e ao mecanismo de trauma

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 03 a 07

Fonte: Coleta de dados, 2008.

Quanto ao mecanismo, as duas principais incidências são acidente de trânsito (26,0%), com maior índice do sexo masculino e faixa etária de 12 a 64 anos, e queda, com (16,1%) com faixa etária predominante de menor ou igual a 65 anos. Quando um veículo se choca contra um obstáculo fixo, ocorrem duas colisões. A primeira entre a vítima e o veículo e a segunda entre os órgãos da vítima e a estrutura de seu corpo. As colisões automobilísticas podem ser de seis tipos: impacto frontal, impacto traseiro, impacto lateral, impacto angular, capotamento e ejeção.1 O impacto da vítima com a cabine do veículo ocorre em dois tempos: a vítima escorrega para baixo de tal forma que suas extremidades inferiores (joelho e pés) são o primeiro ponto de impacto. Nessas condições, as lesões mais comuns são: fratura-luxação do tornozelo, luxação do joelho, fratura de fêmur e luxação posterior do acetábulo. Após essa trajetória, a vítima é projetada para frente e seu tronco se choca contra o volante ou o painel. Em consequência, seu crânio se choca contra o para-brisa, provocando lesões do segmento cefálico e/ou da coluna cervical. Ao mesmo tempo, o tórax e o abdome se chocam contra o volante ou o painel.2 Impacto lateral se refere às colisões do lado do veículo capazes de imprimir ao ocupante uma aceleração que o afasta do ponto de impacto. Dele po-

dem resultar lesões semelhantes às do impacto frontal, mas, além dessas, podem ocorrer as de compressão do tronco e da pelve do lado de colisão. Por exemplo, impactos do lado do motorista podem levar a fraturas de arcos costais do lado esquerdo, lesão esplênica e lesões esqueléticas à esquerda (por ex., pelve). Na mesma situação, o passageiro terá mais lesões à direita (principalmente hepáticas).3 O impacto traseiro geralmente ocorre quando um veículo parado é atingido por trás por outro veículo. O assento carrega o tronco dos ocupantes para a frente com grande aceleração, mas a cabeça não acompanha o movimento, ocorrendo uma hiperextensão do pescoço. Este movimento leva a lesões pelo mecanismo de chicote (“Whiplash”). Este tipo de lesão é evitado com o uso correto do suporte de cabeça.8 No impacto angular ocorre um misto dos padrões acima. Nos casos de capotamento, o ocupante se choca contra qualquer parte da cabine, causando deslocamentos violentos e múltiplos, o que leva a lesões mais graves. Quando ocorre ejeção, a vítima sofre lesões decorrentes da ejeção propriamente dita e do seu choque com o solo. A probabilidade de lesões aumenta em mais de 300% e há grande probabilidade de ocorrerem lesões ocultas.1

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

5

Artigo de Pesquisa

A análise da Tabela 1 evidencia que, em todas as faixas etárias, o SAMU é a origem prevalente, com preponderância do sexo masculino, na faixa etária dos 12 aos 64 anos (22,9%).


Artigo de Pesquisa

Caracterização dos atendimentos de trauma na sala de politraumatizados no Hospital Pronto Socorro/Canoas*

Tabela 3 – Distribuição dos pacientes vítimas de trauma atendidos na emergência do Hospital de Pronto-Socorro de Canoas/RS (HPSC) – Deputado Nelson Marchezan, quanto a faixa etária e ao diagnóstico

Fonte: Coleta de dados, 2008.

Quanto ao diagnóstico (Tabela 3), observa-se prevalência de TCE na faixa etária de 12 a 64 anos, com maior incidência no sexo masculino (13,9%). Porém, o TCE também é significativo no sexo feminino, com 9,3%. Os traumatismos craniencefálicos, além de serem as maiores incidências no atendimento de trauma, estão incluídos entre as mais graves lesões neurológicas e decorrem geralmente de quedas acidentais (domésti-

cas/trabalho), atropelamentos, colisão de automóveis, ferimentos por armas de fogo. A gravidade do TCE está condicionada à lesão encefálica estabelecida; a interrupção do suprimento sanguíneo em poucos minutos resulta em morte para o tecido cerebral. Em algumas situações, TCE pode estar associado com traumatismo de coluna cervical e, portanto, devem ser avaliados e tratados simultaneamente.11

Tabela 4 – Distribuição dos pacientes vítimas de trauma atendidos na emergência do Hospital de Pronto-Socorro de Canoas/RS (HPSC) – Deputado Nelson Marchezan, quanto à faixa etária e ao destino.

Quanto aos destinos liberação e observação na faixa dos 12 aos 64 anos, os percentuais mais significativos são

6

para o sexo masculino (10,7% liberados e 8,00% em observação); do sexo feminino, 6,3% foram liberadas.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 03 a 07

Fonte: Coleta de dados, 2008.


Consider ações finais

Referências

O número de atendimentos de trauma no HPSC no período de agosto a dezembro de 2007 foi de 2.046, com prevalência na faixa etária de 12 a 64 anos. A maioria desses pacientes teve origem com a assistência pré-hospitalar através do SAMU. Verificou-se, ainda, o predomínio de acidentes de trânsito como o mecanismo de maior incidência, sendo que, no total dos atendimentos, houve maior incidência do sexo masculino: 1.280 (63,6%). Quanto ao diagnóstico, observou-se que em todas as faixas etárias, independente de sexo, predominou o TCE. No que se refere ao destino após o atendimento e diagnóstico, observou-se a maior incidência de pacientes liberados. Sendo o objetivo deste estudo caracterizar os pacientes vítimas de trauma, atendimentos na sala de politraumatizados do HPSC, quanto ao sexo, idade, origem, mecanismo do trauma, diagnóstico e destino dos pacientes, verificou-se a necessidade de formulação de um protocolo de atendimento de enfermagem aos casos de maior incidência a ser implantado na instituição, objetivando otimizar o atendimento usando uma abordagem sistemática de cuidado. Os dados mostram a importância de trabalhar cada vez mais a questão preventiva e educativa em relação aos acidentes de trânsito.

1. Colégio Americano de Cirurgiões. Suporte avançado de vida no trauma (SAVT/ATLS): manual do curso para alunos. Chicago: EUA; 1997. 2. National Association of Emergency Medical Technicians. Comitê do Prehospital Trauma Life Support; Colégio Americano de Cirurgiões. Comitê de Trauma. Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado: básico e avançado. 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2004. 3. Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 9ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2002. 4. Markovchick VJ, Pons PT, Wolfe RE. Segredos em medicina de urgência. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. 5. Roger OP. Enfermagem de emergência. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992. 6. Polit DF, Hungler BP. Relatórios de pesquisa: leitura e revisão da literatura científica. In: Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3ª. ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1995. p. 41-65. 7. Oliveira LC, Ciconet RM. Atendimento pré-hospitalar. In: Estran NVB (Coord.). Sala de emergência: emergências clínicas e traumáticas. Porto Alegre: Editora da Universidade/Ufrgs; 2003. p. 25-36. 8. Swearingen PL. Manual de enfermagem no cuidado crítico: intervenções em enfermagem e problemas colaborativos. Porto Alegre: Artmed; 2005. 9. Pavelqueires S. Introdução. In: Pavelqueires S. Manobras avançadas de suporte ao trauma. São Paulo: Legis Summa; 1997. 10. Rio Grande do Sul. Departamento de Trânsito. Acidentes de trânsito com vítimas no Rio Grande do Sul: comparativo 2000 a 2005. Porto Alegre; [2006]. [citado 2008 set. 26]. Disponível em: <http://www.detran.rs.gov.br/estatisticas/anuario2005PDF/index.htm>. 11. Andrade ACA. Assistência a pacientes em estado grave. Disponível em: <http://www.pdamed.com.br/asspacgra/pdamed_0001_0010_00100.php>. Acesso em: 19 nov. 2008.

* Artigo apresentado para Conclusão de Curso de Enfermagem em 2008. Universidade Luterana do Brasil. ** Juliana Stein Leite – Acadêmica do oitavo semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil/ULBRA, Campus Canoas/ RS. E-mail: jullyana2302@hotmail.com. *** Adriana Roloff – Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil/ULBRA, Campus Canoas/RS. Orientadora. E-mail: a_roloff@hotmail.com.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

7

Artigo de Pesquisa

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 03 a 07

Caracterização dos atendimentos de trauma na sala de politraumatizados no Hospital Pronto Socorro/Canoas*


Acolhimento da família em unidade de terapia intensiva adulto: uma revisão bibliográfica Support to families in the critical care unit for adults: a literature review * Luana Paola Boff

**Emiliane Nogueira de Souza

Resumo - Revisão bibliográfica com objetivo de identificar a produção de conhecimento produzido pela enfermagem sobre acolhimento de familiares de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Realizada busca em bases de dados on-line de estudos publicados nos últimos dez anos relacionados ao tema. Após análise dos artigos foram desenvolvidas três categorias: necessidades dos familiares dos pacientes internados na UTI, a equipe de enfermagem diante da família e as estratégias utilizadas para melhorar o acolhimento dos familiares. O enfermeiro, deve reconhecer as necessidades dos familiares e implementar ações junto aos familiares e equipe, tornando o cuidado mais humanizado e de qualidade.

Abstract - Bibliographic study that identified the production of knowledge by nurses on the care of relatives of hospitalized patients in the critical care unit (CCU). After reading and analyzing the articles three categories were developed: needs of families and relatives of patients in the ICU; the nursing team in the presence of families and relatives; and strategies used to improve the support to families. Nurses must implement actions to better the quality of care and to make the ICU a friendlier physical environment. Keywords: Intensive care units; nursing care; profesional-family realtions; intensive care.

Palavras-chave: Unidade de terapia intensiva; cuidados de enfermagem; relações profissional-família; cuidados intensivos.

Introdução

8

O estabelecimento de uma boa relação entre o enfermeiro e a equipe de enfermagem com a família é fundamental. Por meio de uma relação de confiança e de troca, a enfermagem consegue auxiliar a família a enfrentar este momento de maneira mais amena, tornando-a capaz de apoiar o paciente e tomar decisões sobre o tratamento.1,5,6 Poucas ações de enfermagem são direcionadas ao familiar e, quando realizadas, muitas vezes acabam sendo ordens de limitar, fixar e determinar ações.7 No entanto, os enfermeiros e suas equipes nem sempre estão preparados para receber o familiar e auxiliá-lo de forma adequada para a visita na UTI. Esse fator acaba tornando a unidade de intensivismo um lugar menos humano, onde a família não é valorizada quanto à importância que representa para o foco do cuidado de enfermagem, que é o paciente.1,4 Com base nessas considerações, justifica-se a realização deste estudo de revisão, proposto a partir de vivências como acadêmica em estágios curriculares, diante do distanciamento existente entre os profissionais de saúde e a família dos pacientes, assim como das necessidades que esses familiares apresentam frente à internação de um ente querido na UTI. Assim, este estudo teve por objetivo identificar a produção de conhecimento realizada pela enfermagem sobre o acolhimento de familiares de pacientes internados na UTI.

Metodologia Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, realizado através de busca de trabalhos científicos dis-

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 08 a 11

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente que concentra recursos materiais e humanos com o objetivo de assistir pacientes com chances de recuperação e que necessitam de atendimento complexo e especializado.1 Apesar disso, as características da UTI fazem com que muitas pessoas pensem nesse lugar como um ambiente hostil.2 Essa impressão negativa ocorre devido a vários fatores, dentre eles destacam-se o risco de morte dos pacientes ali internados, a restrição de circulação de pessoas, o barulho dos aparelhos, a iluminação artificial e a intensa dinâmica de trabalho da equipe multiprofissional.3 Diante desse cenário, percebe-se que, na maioria das vezes, a família dos pacientes internados na UTI não está preparada para entrar nesse ambiente e ver o seu ente querido cercado de aparelhos que o mantém vivo. Nesse momento, a família está assustada, com medo da morte, estressada e, muitas vezes, passando por dificuldades financeiras, principalmente quando o paciente internado representava a principal fonte de renda da família.4,5 Essas dificuldades que a família enfrenta podem prejudicar na participação desta frente à tomada de decisão pelo tratamento do paciente e na própria interação com a equipe.5 Assim, é de extrema importância que ao entrar na UTI pela primeira vez o familiar esteja preparado para ver o paciente com uma prévia noção do que irá encontrar; isso auxilia, fazendo com que o familiar consiga levar ao seu ente querido palavras de apoio, segurança e conforto, pois o familiar preocupado e mal preparado pode deixar o paciente ainda mais aflito, inseguro e com medo da morte.5


Acolhimento da família em unidade de terapia intensiva adulto: uma revisão bibliográfica

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 08 a 11

Resultados A busca ativa teve início na base de dados Scielo, com a combinação entre os descritores, na qual foram encontrados 19 resumos, sendo que desses quatro artigos foram utilizados para a realização deste trabalho. A mesma combinação dos termos foi utilizada para a pesquisa na base de dados Lilacs, onde foram encontrados 838 resumos, sendo que nove deles foram incluídos neste trabalho, totalizando 11 de artigos, um de dissertação e um de tese.

A equipe de enfermagem diante da família O ambiente de trabalho da UTI exige da equipe de enfermagem assistência permanente ao paciente, que necessita de observação constante, além de exigir um cuidado complexo e especializado, tornando-se assim um ambiente estressante.1,8 Um estudo realizado com a equipe multiprofissional de uma UTI no Distrito Federal apontou que uma das maiores dificuldades da equipe está relacionada com a informação aos familiares.1 Outro estudo realizado com 37 profissionais de saúde que atuam em uma UTI destacou como os principais aspectos que dificultam a comunicação com a família: a dinâmica da unidade, as informações que nem sempre são compreendidas pelos familiares, a gravidade

do estado paciente, o desconhecimento pelos profissionais da evolução do paciente, dificuldades inerentes ao jeito de ser do profissional e espaço físico inadequado da unidade.9 Muitas vezes o contato da equipe de enfermagem com a família ocorre somente no horário de visitas ou por telefone, e nem sempre é encorajado pelo enfermeiro. No entanto, o despreparo dos profissionais de enfermagem acaba distanciando-os dos familiares, mesmo no horário da visita, e sendo pouco flexíveis em relação a esses horários.1,8 Um estudo realizado com a equipe de enfermagem da UTI de um hospital da região centro-oeste do país evidenciou que no horário de visitas a equipe de enfermagem realiza o intervalo, vai tomar café e marca reuniões que poderiam acontecer em outros momentos.8 A informação adequada e o preparo emocional da equipe são estratégias que auxiliam no cuidado com paciente e seus familiares.5 Estudos mostram que o contato por telefone acaba se tornando formal e pouco explicativo: somente é lido o boletim médico e são fornecidas poucas informações, que não dizem muito, sobre o estado do paciente.1,8 É importante que o enfermeiro registre em prontuário o nome dos familiares mais próximos, a fim de estabelecer um vínculo com eles, caso sejam necessárias informações e solicitações por telefone. Deve-se salientar aos familiares que, se for necessário, a família será contatada a qualquer momento.

Necessidades dos familiares de pacientes internados em Unidade de Ter apia Intensiva A família do paciente internado na UTI sofre com a doença, a hospitalização e o distanciamento, compartilhando com o paciente as mesmas angústias e medos. Diante desse cenário, a família apresenta uma série de necessidades que surgem com a internação.4,6,7,10,11 Devido à importância da família para a recuperação do paciente, suas necessidades devem ser conhecidas pelo enfermeiro.3 Um estudo realizado com 39 familiares de pacientes internados na UTI de um hospital de São Paulo, com o objetivo de identificar as principais necessidades dos familiares, evidenciou a maior necessidade de conhecimento de saber fatos concretos sobre o progresso do paciente (84,6%). Já a maior necessidade de conforto foi ter um toalete próximo à sala de espera (56,4%); a necessidade de segurança mais apontada foi a de ter certeza de que o paciente está recebendo o melhor tratamento (89,7%).2 A enfermagem tem participação ativa no atendimento às necessidades de conhecimento e segurança. Da mesma forma, outros estudos realizados em diferentes instituições hospitalares com familiares mostraram que as maiores necessidades destes são perceber que o pessoal do hospital se interessa pelo paciente;

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

9

Artigo de Revisão

poníveis nas bases eletrônicas de dados. Foram selecionados estudos com base nos seguintes critérios de inclusão: (a) artigos, dissertações ou teses com resumos disponíveis em português nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (Lilacs); (b) artigos indexados com seguintes descritores: unidade de terapia intensiva, cuidados intensivos, cuidados de enfermagem, relações profissional-família; (c) artigos que abordam o tema: familiares de pacientes internados na UTI adulto e o relacionamento com a equipe de enfermagem; (d) artigos publicados nos últimos 10 anos; (e) artigos que utilizam algum critério metodológico. Para cada estudo selecionado foi elaborada uma ficha de leitura contendo tópicos principais: título do artigo, revista e ano de publicação, objetivo do estudo, delineamento, sujeitos, métodos utilizados e principais resultados. Após a leitura minuciosa de cada estudo e da elaboração da ficha de leitura, os estudos foram divididos em três categorias: a primeira apresenta a visão que a equipe de enfermagem tem acerca da família, a segunda descreve as necessidades dos familiares de pacientes internados na UTI e, por último, são descritas estratégias utilizadas pela enfermagem para melhorar o acolhimento dos familiares de pacientes internados em unidade de intensivismo.


Artigo de Revisão

Acolhimento da família em unidade de terapia intensiva adulto: uma revisão bibliográfica

Estr atégias utilizadas par a acolhimento dos familiares A humanização está presente no cuidado de enfermagem na UTI quando ocorre o estabelecimento de uma relação de confiança e ajuda entre a equipe de enfermagem e o familiar.2 Todas as orientações relacionadas às rotinas e procedimentos devem ser fornecidas aos familiares preferencialmente na admissão do paciente.13 Quanto mais precoce for estabelecida essa relação entre a equipe e a família melhor será a interação entre ambas.2 Além de identificar as necessida-

10

des, é fundamental que o enfermeiro tente responder a essas necessidades, assegurando ao familiar que a equipe está ali também para ajudá-lo, colocando-se à disposição e demonstrando apoio.13 Uma conversa mais esclarecedora em um ambiente apropriado com a equipe, uma cadeira extra ao lado do paciente e um chá para os familiares mais abalados podem tornar a UTI um ambiente menos hostil e mais acolhedor.6 Reconhece-se que em alguns momentos a presença do familiar pode tornar-se negativa. Quando ocorre a devida orientação e valorização do familiar, este acaba tornando-se um aliado da equipe e auxilia na recuperação do paciente, pois é capaz de transmitir a sensação de amparo, carinho e preocupação.13 Nesse contexto, algumas estratégias podem ser utilizadas para que a família se sinta melhor acolhida e preparada para entrar na UTI. Cartazes e folhetos explicativos podem ser uma boa estratégia para reforçar as rotinas da unidade, bem como atividades em grupo podem ser desenvolvidas em sala de espera antes do horário de visitas. Nesse momento, podem ser esclarecidas dúvidas dos familiares e preparados para o contato com o ambiente de intensivismo e o paciente. Além disso, a troca de experiências entre os próprios familiares pode auxiliar no enfrentamento de problemas.13 Outra estratégia utilizada é o acompanhamento do familiar pela equipe de enfermagem durante o horário de visitas, disponibilizando-se para esclarecer dúvidas referentes ao paciente, às rotinas e aos equipamentos, assim como o funcionamento da unidade. Para que isso aconteça, é fundamental que a equipe de enfermagem esteja preparada. Assim, torna-se necessária a realização de atividades de educação continuada, apoio psicológico para profissionais e organização de grupos de discussões, que possam desenvolver atividades lúdicas ou de dramatização para a equipe poder trocar experiências e ideias, ao mesmo tempo em que refletem e aprimoram o cuidado ao familiar.

Consider ações finais A partir dos dados obtidos, pode-se inferir que a produção de conhecimento da enfermagem acerca da família do paciente na UTI tem se focado na percepção que a equipe tem da família e suas necessidades, bem como nas estratégias utilizadas para melhor acolhê-la no ambiente de intensivismo. Sabe-se que os familiares de pacientes internados na UTI apresentam necessidades variadas que precisam ser reconhecidas pela enfermagem, para que se possa atendê-las da melhor maneira, demonstrando a qualidade de uma assistência individual e humanizada. A presença da família dentro da UTI pode contribuir para a melhor recuperação do paciente, desde que haja o estabelecimento de uma boa relação entre a equipe e a família.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 08 a 11

estar seguro de que o melhor tratamento possível está sendo dado; sentir que há esperança de melhora; ser informado a respeito de tudo que se relaciona à evolução do paciente; saber qual tratamento médico está sendo dado e ter perguntas respondidas com franqueza, saber quais as chances de melhora do paciente.3,12 Em relação ao cuidado dispensado aos familiares de pacientes internados em UTI, sob o ponto de vista deles próprios, os pontos mais abordados foram a necessidade de acolhimento, afeto e calor humano, insatisfação relacionada ao horário de visitas e a necessidade de mais diálogo com a equipe de profissionais.7 As evidências demonstram que os familiares apresentam necessidades variadas. Mesmo sabendo-se que algumas dessas necessidades surgem a partir de fatores dependentes da estrutura física e organizacional da instituição, a maioria dessas necessidades podem ser atendidas por atitudes que partem da equipe multiprofissional, principalmente do enfermeiro e sua equipe. A equipe de enfermagem deve proporcionar um acolhi-mento mais humano e um ambiente mais confortável, tornando o familiar menos ansioso e aflito. O controle de ruídos, a flexibilidade no cumprimento de determinadas rotinas, como nos horários de visitas, são medidas que acabam tornando a UTI um ambiente mais acolhedor.10 É fundamental que a equipe tenha conhecimento dos recursos disponíveis na instituição, tanto para melhor acolher os familiares como para encaminhá-los a serviços de apoio, de modo a contribuir para a integralidade da assistência. É de extrema importância que acorra uma passagem de plantão efetiva, para que a equipe profissional se mantenha informada. As informações devem ser homogêneas dentro da equipe para que esta consiga manter a família melhor informada e, consequentemente, mais tranquila. Para tanto, torna-se importante estar disposto a esclarecer as dúvidas dos familiares com informações claras e objetivas, mantendo-os seguros. Em determinados casos, é necessário que a equipe saiba identificar dentro do grupo familiar aquele membro que está mais bem preparado para receber as notícias e transmiti-las aos demais. Afinal, o enfermeiro deve aproximá-lo acerca do real estado de saúde do paciente.


Acolhimento da família em unidade de terapia intensiva adulto: uma revisão bibliográfica

Referências

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 08 a 11

1. Leite MA, Vila VSC. Dificuldades vivenciadas pela equipe multiprofissional na unidade de terapia intensiva. Revista Latino-Am. Enfermagem (periódico na internet). 2005 (citado 2008 ago 14); 13 (2): (cerca de 5p). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n2/v13n2a03.pdf. 2. Maruiti MR, Galdeano LE. Necessidades de familiares de pacientes internados em uma unidade de cuidados intensivos. Revista Acta paul. Enferm (periódico na internet). 2007 (citado 2008 ago 1); 20 (1): (cerca de 6p). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/ape/v20n1/a07v20n1.pdf. 3. Morgon FH, Guirardello EB. Validação da escala de razão das necessidades de familiares em unidade de terapia intensiva. Revista Latino-Am. Enfermagem (periódico na internet). 2004 (citado 2008 jul 30); 12 (2): (cerca de 5p). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n2/v12n2a08.pdf. 4. Souza SROS, Chaves SRF, Silva CA. Visita na UTI: um encontro entre

desconhecidos. Rev. Bras. Enferm. (periódico na internet). 2006 (citado 2008 jul 30); 59 (5): (cerca de 4p). Disponível em: http://www.scielo. br/pdf/reben/v59n5/v59n5a03.pdf. 5. Oliveira LMAC. O acolhimento de familiares de pacientes internados em UTI: a tecnologia de grupo como estratégia para o cuidado de enfermagem. (tese). Goiânia (GO): Universidade Federal de Goiás; 2006. 6. Inaba LC, Silva MJP, Telles SCR. Paciente crítico e comunicação: visão de familiares sobre sua adequação pela equipe de enfermagem. Rev. Esc. Enferm. USP (periódico na internet). 2005 (citado 2008 ago 14); 39 (4): (cerca de 6p). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ reeusp/v39n4/07.pdf. 7. Gotardo GIB, Silva CA. O cuidado dispensado aos familiares na unidade de terapia intensiva. Rev. enferm. UERJ. (periódico na internet). 2005 (citado 2009 jan 29); 13: (cerca de 6p). Disponível em: http:// www.facenf.uerj.br/v13n2/v13n2a13.pdf. 8. Lemos RCA, Rossi LA. O significado cultural atribuído ao centro de terapia intensiva por clientes e seus familiares: um elo entre a beira do abismo e a liberdade. Revista Latino-Am. Enfermagem (periódico na internet). 2002 (citado 2008 ago 14); 10 (3): (cerca de 12p). http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S010411692002000300009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. 9. Santos KMAB, Silva MJP. Percepção dos profissionais de saúde sobre a comunicação com os familiares de pacientes em UTIs. Rev. Bras. Enferm. (periódico na internet). 2006 (citado 2009 jan 29); 59(1): (cerca de 6p). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v59n1/ a12v59n1.pdf. 10. Soares M. Cuidando da família de pacientes em situação de terminalidade internados na unidade de terapia intensiva. Rev. Bras. Ter. Intensiva (periódico na internet). 2007 (citado 2008 jul 30); 19 (4): (cerca de 3p). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v19n4/ a13v19n4.pdf. 11. Pinho LB, Santos SMA. Dialética do cuidado humanizado na UTI: contradições entre o discurso e a prática profissional do enfermeiro. Rev. Esc. Enferm. USP (periódico na internet). 2008 (citado 2008 ago 14); 24 (1): (cerca de 5p). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbti/v19n4/ a13v19n4.pdf. 12. Freitas KS. Necessidades de familiares em unidade de terapia intensiva: análise comparativa entre hospital público e privado. (dissertação). São Paulo (SP): Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem; 2005. 13. Silveira RS, Lunardi VL, Filbo WDL, Oliveira AMN. Uma tentativa de humanizar a relação da equipe de enfermagem com a família de pacientes internados na UTI. Texto Contexto – Enferm. (periódico na internet). 2005 (citado 2008 ago 14); 14 (2): (cerca de 5p). http://www. scielo.br/pdf/tce/v14nspe/a15v14nspe.pdf.

* Acadêmica do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade Fátima, Caxias do Sul, RS. ** Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde – Cardiologia (ICFUC). Docente da Faculdade Fátima, Caxias do Sul, RS. E-mail: emiliane.enf@ cardiologia.org.br.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

11

Artigo de Revisão

Assim, o papel do enfermeiro no processo de acolhimento dos familiares de pacientes internados na UTI concretiza-se na implementação de ações que visem tornar a UTI um ambiente menos hostil, capazes de contribuir para que a presença do familiar junto ao paciente favoreça sua recuperação, aliada ao cuidado prestado pela enfermagem. Estratégias como uma conversa do enfermeiro com os familiares na admissão do paciente na UTI são capazes de esclarecer dúvidas relacionadas ao funcionamento da unidade, às condições do paciente, à estrutura da equipe multiprofissional, entre outras, além de torná-los menos ansiosos. Da mesma forma, a literatura evidencia que a realização de grupos para acolhimento dos familiares tem sido satisfatória. Nesses grupos, dúvidas são esclarecidas, ocorre troca de experiências entre os familiares e, além disso, dinâmicas em grupo podem ser desenvolvidas para fortificar o vínculo entre família e equipe. No entanto, para que a equipe de enfermagem cuide do paciente e da sua família com qualidade, é importante que esta também seja cuidada. E o enfermeiro deve reconhecer o seu papel junto aos demais membros da equipe, com vistas a oportunizar condições para o aprimoramento do cuidado junto à família.


Infecção por micobactéria relacionada à videocirurgia: que tipo de material existe on-line?* Infection for mycobacterium related to the video-surgery: that type of material exists on-line? ** Marielli Trevisan Jost

*** Rita Catalina Aquino Caregnato

Resumo - Surtos de infecção hospitalar por micobactéria após vídeocirurgias têm sido amplamente divulgados na mídia brasileira. Este trabalho teve como objetivo conhecer o material publicado on-line referente a essa infecção. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, limitando a busca de material on-line por meio do site Google. A análise do material pesquisado evidenciou 171 materiais significativos: 13 legislações, 3 artigos científicos, 135 materiais de mídia e 20 depoimentos pessoais. Concluiu-se que existe um grande número de notícias e poucos artigos científicos, devido ao pouco tempo transcorrido entre a identificação dos surtos e a elaboração de trabalhos científicos.

Abstract - Outbreaks of hospital infection by mycobacteria after video-surgeries has been widely published in Brazilian media. This study aim to learn the material published online on this infection. This is a literature search, limiting for online material through the Google site. Analysing the material researched, it was found 171 significant materials: 13 laws, 3 scientific papers, 135 of media materials and 20 personal testimonies. It was concluded that there is a large number of news and few scientific articles, due to the little time elapsed between the identification of outbreaks and the development of scientific work.

Palavras-chave: Infecção; micobactéria; vídeocirurgia; pesquisa on-line.

Keywords: Infection; mycobacteria; video-surgery; online research.

Introdução

Metodologia

Resultados e discussão Infecção por micobactéria não tuberculosa Mycobacterium é um bacilo aeróbico, não esporulado e não encapsulado.6 Existem vários grupos desses micro-organismos, sendo que M. fortuitum, M. peregrinum, M. chelonae e M. abscessus são os principais causadores das infecções ocorridas nos surtos de vídeocirurgia no Brasil.7 Eles são classificados como Micobactérias de Crescimento Rápido (MCR) e podem ficar incubados até um ano, mas geralmente se manifestam no prazo de um mês após o procedimento cirúrgico.8 Existem incertezas quanto à causa deste tipo de infecção, sendo as mais prováveis: falhas nos processos de limpeza, desinfecção e esterilização dos equipamentos; contaminação da água; falhas na técnica cirúrgica.9 A hipótese é de que alguma situação provocou a seleção natural, sobrevivendo as mais resistentes.10 Apresentação dos resultados e discussão

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, desenvolvida com base em material já elaborado,5 limitando-se a busca de material on-line por meio do site Google,

12

através dos descritores: micobactéria e vídeocirurgia. Na busca, limitou-se a população aos 300 primeiros sites encontrados, definindo a amostra em 171 materiais significativos.

Ao investigar on-line o tema pesquisado, evidenciase ser uma temática polêmica que desperta o interesse da mídia e do público e explora depoimentos pessoais.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 08 a 11

A infecção hospitalar (IH) é uma importante complicação ocorrida nos pacientes; por isso, tem sido uma grande preocupação do Ministério da Saúde desde 1983, quando publicou a primeira legislação brasileira (Portaria 196).1 A cirurgia pode desencadear uma série de reações e levar a um processo infeccioso.2 A ANVISA3 identificou inúmeras infecções por micobactéria após procedimentos invasivos, especialmente videocirurgias, em vários hospitais do país, registrando 2.102 casos notificados de 2003 até abril de 2008. Este tipo de infecção causa várias complicações nos pacientes, como lesões de difícil cicatrização; por isso, a ANVISA se posicionou em relação a esta infecção.4 Os surtos ocorridos por esse tipo de infecção geraram uma grande preocupação em todos os hospitais brasileiros e interesse da população e dos profissionais da saúde sobre a necessidade de conhecer mais sobre este tema. Neste cenário, surgiu como interesse pesquisar: que tipo de material existe disponível on-line sobre infecção cirúrgica ocasionada por micobactéria e relacionada à vídeocirurgia? Este trabalho, teve como objetivo geral conhecer o material publicado on-line e como objetivos específicos identificar o tipo de material e contextualizar e discutir o problema nacional existente sobre o tema específico.


Infecção por micobactéria relacionada à videocirurgia: que tipo de material existe on-line?

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 08 a 11

Gráfico 1: Resultado da pesquisa on-line em porcentagem. Fonte: Dados da pesquisa.

Diante desse cenário, a ANVISA, a partir de 2007, formulou cinco informes técnicos,3,11-12-13-14 com o intuito de controlar a infecção. O grande número de surtos ocorridos alarmou os estados; ao menos seis deles resolveram tomar medidas para conter o problema. Na pesquisa, encontraram-se portarias e informes técnicos dos estados de Mato Grosso,15 Paraná,16 Alagoas,17 São Paulo,18 Santa Catarina19 e Rio Grande do Sul.7 Evidenciaram-se três artigos científicos abordando o tema, publicações recentes, sendo dois de revisão bibliográfica,6,22 e uma pesquisa experimental,23 desenvolvidos pela área médica e um pela enfermagem. Os materiais de mídia mais encontrados foram notícias de jornais e revistas, sendo que a maioria relata casos de micobactérias ocorridos em cidades específicas, relacionando aos surtos ocorridos no Brasil.6,8-9,10,24 O primeiro caso registrado pela ANVISA foi no estado do Pará em 2001;25-26 a partir desse, inúmeros outros foram registrados. No Rio Grande do Sul,4 o grande número de ocorrências ocorreu em 2007, principalmente nos municípios de Santo Ângelo, Tramandaí e Santa Maria. Apesar de poucos casos em 2008, a Vigilância Sanitária afirma que o surto está controlado. Durante a pesquisa encontraram-se 20 páginas de relatos e blogs, incluídos no estudo como depoimentos pessoais. A maioria deles é escrito por pacientes ou familiares relatando os sintomas e causas da doença, conforme um relato selecionado: “Quem pensa que é fácil, desista, não queira sentir na pele tudo que passei e passo por causa desta infecção já sabidamente que é por falta de higiene nos aparelhos cirúrgicos [...]”.27

Consider ações finais Este trabalho permitiu conhecer parte do material publicado on-line referente à infecção por micobactéria em vídeocirurgia e traçar o panorama desse tipo de infecção no Brasil. Ao investigar e identificar os materiais existentes, observou-se um grande número de notícias e poucos artigos científicos, isso provavelmente tenha ocorrido pelo pouco tempo transcorrido entre a identificação dos surtos e o tempo longo necessário para elaboração e publicação dos trabalhos científicos.

Diante do cenário existente, salienta-se a importância dos profissionais da Enfermagem conhecerem a legislação e desenvolverem a conscientização sobre as medidas preventivas para controle das infecções por micobactérias. Destaca-se também a necessidade de realizar pesquisas sobre o tema, ampliando o conhecimento dos profissionais da área da saúde e da população.

Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria 196, de 1983. Brasília: MS; 1983. 2. Fernandes AT, Rabhae GN, Ribeiro-Filho N. Infecção do sítio cirúrgico. In: Fernandes AT, Fernandes-Filho MOV, Ribeiro N. Infecção hospitalar e suas interfaces na área da saúde. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2000; cap. 19: 479-505. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Anvisa. GIPEA/GGTES. Nota técnica: micobactérias. Brasília: MS; 2008. 4. Saballa-Júnior L. Vigilância Sanitária afirma que micobactéria está sob controle no RS. Zero Hora 13 ago. 2008 [on-line]. Disponível em: <http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local =1&section=Geral&newsID=a2117137.xml>. 5. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas; 2007. 6. Fontana RT. As micobactérias de crescimento rápido e a infecção hospitalar: um problema de saúde pública. Revista Brasileira de Enfermagem 2008 Maio-Jun; 61(3): 371-6. 7. Rio Grande do Sul. Divisão de Vigilância Sanitária. Divisão de Vigilância Epidemiológica. Nota Técnica Conjunta nº 01/2007. Controle de infecções por micobacteria não tuberculosa relacionadas a videocirurgia e outros. Porto Alegre: DVS; 2007. 8. Carvalho-Júnior, LH, Pereira, ML, Costa LP, Gonçalves MBJ, Soares LFM, et al. Infecções por micobactéria assustam brasileiros [on-line]. Disponível em: <http://www.cebes.org.br/default.asp?site_Acao=m ostraPagina&paginaId=134&mNoti_Acao=mostraNoticia&noticia Id=843>. 9. Brasil. Ministério da Saúde. Esforço concentrado para combater infecção por micobactéria [on-line]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/DIVULGA/ NOTICIAS/2007/110907.htm>. 10. Gazeta do Povo. Micobactéria se espalha pelo Paraná [on-line]. Disponível em: <http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=760717&tit=Micobacteria-se-espalha-pelo-PR>. 11. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Anvisa. GIPEA/GGTES. Informe Técnico nº 1. Infecção por Mycobacterium abcessus. Diagnostico e tratamento. Brasília: MS; 2007. 12. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informe Técnico nº 2. Medidas para a interrupção do surto de infecção por MCR (micobactérias de crescimento rápido) e ações preventivas. Brasília: MS; 2007. 13. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Anvisa. GIPEA/GGTES. Informe Técnico nº 3. Alerta sobre infecções por micobactéria não-tuberculosa apos vídeocirurgia. Brasília: MS; 2007. 14. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Anvisa. GIPEA/GGTES. Informe Técnico nº 4. Glutaraldeído em estabelecimentos de assistência a saúde. Fundamentos para utilização. Brasília: MS; 2007. 15. Miranda C. Vigilância Sanitária monitora ocorrências por micobactérias de crescimento rápido em Mato Grosso [on-line]. Mato Grosso: Secretaria Estadual de Saúde; 2008. Disponível em: <http:// www.saude.mt.gov.br/portal/manchetes/manchete.php? pk_noticia=2383>. 16. Paraná. Nota Técnica nº 03/2007. SESA/SVS. Ocorrência de casos de infecções por MCR pós videocirurgia [on-line]. Disponivel em: <www.saude.pr.gov.br>.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

13

Artigo de Pesquisa

Analisando os resultados, identificaram-se 171 materiais significativos, conforme apresentado no Gráfico 1.


Artigo de Pesquisa

Infecção por micobactéria relacionada à videocirurgia: que tipo de material existe on-line?

17. Alagoas. Secretaria de Estado da Saúde. Diretoria de Vigilância Sanitária. Nota Técnica nº 12/2008. Infecção por micobactérias de crescimento rápido – MCR, não tuberculosa [on-line]. Disponível em: <http://portal.saude.al.gov.br/suvisa/files/nota_tecnica_mcr_visa.pdf>. 18. São Paulo. Secretaria Municipal de Saúde. Núcleo Municipal de Controle de Infecção Hospitalar. Informe Técnico XXIII, agosto 2008. Orientação técnica para prevenir e/ou controlar as infecções por micobactérias de crescimento rápido [on-line]. Disponível em: <http://www.infectologia.org.br/anexos/PMSP_Informe%20 T%C3%A9cnico%20XXIII_MCR_processamento%20de%20artigos_ ago2008.pdf>. 19. Santa Catarina. Secretaria de Estado de Saúde. Portaria nº 623/2008. Situação das infecções por micobactérias de crescimento rápido no país [on-line]. Disponível em: <http://www.dive.sc.gov.br/ conteudos/direcao/Noticias/2008/Portaria_MCR_SES_DVS_DIVE.pdf>. 20. Santa Catarina. Secretaria de Estado da Saúde. Resolução Normativa nº 003/2008. DIVE/SES, de 25 de setembro de 2008 [on-line]. Disponível em:<www.sefaz.al.gov.br/legislacao/tributaria/boletins/Boletim%20Tributário%20-%20JAN-FEV-2008.doc>. 21. Santa Catarina. Secretaria de Estado da Saúde. Nota Técnica 06/2008. DIVE/SES. Notificação de infecção por micobactéria de crescimento rápido [on-line]. Disponível em: <www.sefaz.al.gov.

br/legislacao/tributaria/boletins/Boletim%20Tributário%20-%20JANFEV-2008.doc>. 22. Hinrichsen SL. Micobactéria de crescimento rápido (MRC). Prática Hospitalar [on-line] 2007 Set-Out; 53. Disponível em: <http://www.praticahospitalar.com.br/pratica%2053/ pdf/mat%2016.pdf>. 23. Carvalho-Júnior LH, et al. Infecção por micobactéria após videoartroscopia: o glutaraldeído pode ser o culpado? Revista Brasileira de Ortopedia [on-line] 2008; 43(6): 256-60. Disponível em: < http://www. rbo.org.br/pdf/jun_2008_07.pdf>. 24. Martin G. Nova resolução tornará procedimento de videocirurgia mais seguro [on-line]. Disponível em: <http://www.saude.pr.gov.br/ modules/noticias/article.php?storyid=52>. 25. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Anvisa. Dados dos casos confirmados de micobactéria [on-line]. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/hotsite/ hotsite_micobacteria/index.htm>. 26. Paulillo J. Saúde risco de infecção reduz cirurgias [on-line]. Disponível em: <http://www.suzano-sp.com.br/modules/news/article. php?storyid=688>. 27. Palu AP. Ministério da Saúde aponta novos casos de micobactéria em Curitiba [on-line]. Disponível em: <http://jornale.com.br/index. php?option=com_content&task=view&id=6252&Itemid=52>.

* Artigo produzido como trabalho de conclusão do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem de Centro Cirúrgico, 2008, na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). ** Enfermeira do Bloco Cirúrgico do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre; pós-graduada em Enfermagem em Centro Cirúrgico – ULBRA. *** Doutora em Educação, mestre em Enfermagem, enfermeira professora do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem em Centro Cirúrgico – ULBRA.

14

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


Planejamento e organização de uma clínica geriátrica: relato de experiência Planning and organizing a geriatric clinic: experience report * Márcia Gemelli

** Rita Catalina Aquino Caregnato

Resumo - Este estudo tem como objetivo relatar experiência vivenciada no planejamento e organização de uma clínica geriátrica. Os resultados apontam o enfermeiro como melhor profissional da área da saúde para enfrentar esse desafio, por ter uma formação na área gerencial e assistencial. O estudo permitiu relatar um empreendimento na área da enfermagem pouco explorado pelos enfermeiros. Embora as dificuldades tenham sido muitas, a administração de enfermagem e a qualidade do serviço implantado possibilitaram, em menos de um ano, sua autossustentação e o reconhecimento da clínica, tanto pela sociedade quanto pelo COREn, que pretende referenciá-la como serviço modelo na área de atuação.

Abstract - This study aims to report the lived experience in planning and organizing a Geriatric Clinic. The results show nurses as better training of health prepared to face this challenge, having a background in management and care. The study allowed to report a new development in the nursing area little explored by nurses. While the difficulties have been many, administration of nursing and quality of service being deployed, enabled, in less than a year of development, self support and recognition of clinical presentation and by society as by COREn you want to refer to it as a service model in the actuation. Keywords: Nursing; elderly; geriatric clinic.

Palavras-chave: Enfermagem; idoso; clínica geriátrica.

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 15 a 17

Introdução O envelhecimento populacional há pouco tempo restrito a países desenvolvidos tornou-se realidade no Brasil. O crescimento desta população, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo de forma sem precedentes. De acordo com a última pesquisa nacional, por amostra de domícilio, a população de idosos ultrapassa 19 milhões, correspondendo a aproximadamente 13% da população brasileira.1 O crescimento populacional do grupo etário maior de 60 anos tem sido abordado frequentemente pela mídia, e a sociedade brasileira começa a se habituar com a mudança do perfil demográfico, onde viver mais e morrer com idade avançada é uma vitória a ser comemorada.2 No Brasil a estimativa de vida subiu para 71,3 anos em 2003, colocando o Brasil na 86a posição no ranking da Organização Mundial da Saúde (ONU), nas estimativas de 192 países no período de 2000 a 2005. As projeções para 2025 são de 34 milhões de idosos, passando o Brasil para a sexta posição entre os países mais envelhecidos do mundo.1 No Rio Grande do Sul, a população com faixa etária de 60 anos ou mais passou de 944.437 indivíduos no ano de 1997 para 1.147.481 no ano de 2007, representado um aumento de mais de 21% no número de idosos residentes neste estado brasileiro.1 O processo de transição demográfica no Brasil se associa à necessidade de aumento das Instituições de Longa Permanência (ILP).3 Idosos apresentam alta prevalência de fatores de risco para a institucionalização: doenças crônico-degenerativas e suas sequelas, hospitalização recente e dependência para realizar atividades da vida diária. Além desses fatores, morar só, suporte social precário e baixa renda são cada vez mais frequentes no Brasil.3

Instituição asilar é um local onde são oferecidos serviços de atendimento à pessoa idosa residente, sendo prestados cuidados de enfermagem, serviços médicos e de reabilitação. O enfermeiro é o responsável pela parte administrativa e assistencial, devendo estar diretamente envolvido na organização e qualidade do serviço prestado, proporcionando assistência integral, com dignidade e respeito.4 O artigo 18 do Estatuto do Idoso5 afirma que as instituições devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientações aos cuidadores e familiares; além disso, os artigos 37, 38 e 50, IV, determinam que as instituições que abrigam idosos são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades destes, bem como prover alimentação regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias.5 Este artigo teve como objetivo geral relatar a experiência vivenciada no planejamento e organização de uma clínica geriátrica. Justifica-se a escolha deste tema pela nova realidade social que requer uma assistência qualificada, integral e humanizada, gerando promoção de saúde aos idosos que buscam um lar geriátrico para residir com uma melhor qualidade de vida.

Método Relato de experiência vivenciado por duas enfermeiras na elaboração de uma clínica geriátrica, localizada na região do Vale do Taquari-RS, com capacidade de atendimento a 15 idosos. O período de estruturação da

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

15


Relato de Experiência

Planejamento e organização de uma clínica geriátrica: relato de experiência

clínica ocorreu de 2008 a 2009, iniciando seu planejamento em outubro de 2008 e sendo inaugurada em março de 2009.

Relato de experiência

16

Discussão As instituições que abrigam idosos são obrigadas a manter condições de moradia compatíveis com suas necessidades, promovendo alimentação regular e higiene, indispensáveis às normas sanitárias, promovendo uma assistência integral.5 Neste relato verifica-se o árduo trajeto percorrido para atender todas as exigências, tanto do Estatuto do Idoso5 quanto da Portaria 810/89.6 Na sociedade, muitas pessoas acham difícil lidar com os idosos, pois o envelhecimento é discutido com muito desconforto; contudo, é uma etapa como qualquer outra, com problemas, dificuldades, prazeres e compensações.7

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 15 a 17

Ao decidir investir na área geriátrica, iniciou-se um levantamento das clínicas geriátricas existentes no mercado regional. Em muitas instituições visitadas observaram-se irregularidades, tais como: superpopulação, falta de pessoal, sujidade, profissionais sem competência realizando procedimentos, falta de equipe multidisciplinar, não cumprimento das normas da vigilância sanitária, entre outras. Este cenário permitiu montar um projeto de trabalho diferenciado. A estruturação da clínica seguiu várias etapas, atendendo às necessidades para o planejamento e organização da mesma. A busca de um local adequado à proposta de trabalho foi o primeiro passo. Ao encontrar um local, solicitou-se avaliação da Vigilância Sanitária para ver se o mesmo se adequava à atividade pretendida; com parecer favorável, houve necessidade de adequar a residência às exigências legais para atender o Estatuto do Idoso5 e a Portaria 810,6 de 22 de setembro de 1989, que apresenta normas a serem seguidas para o funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras instituições destinadas ao atendimento de idosos. Foram necessários três meses de reformas para atender todas as exigências, tais como: corrimões nos corredores, rampas de acesso, sanitários separados por sexo com barras de apoio, luz de vigília nos dormitórios, área de serviço, dormitórios com área mínima de 25 m2, sala para serviço de nutrição e dietética, área de lazer e de recreação, área para atividades de reabilitação, paredes com revestimento lavável, pisos de fácil limpeza e mobiliários que possibilitem fácil circulação. Além de adequar a área física, elaborou-se o Estatuto e Regulamentos e providenciou-se o alvará de funcionamento. A etapa seguinte constituiu-se em equipar a clínica com mobiliários, materiais, equipamentos e insumos, seguindo os itens estabelecidos na Portaria.6 O mobiliário foi adaptado para idosos, adquiriram-se móveis para montar o posto de enfermagem, a sala administrativa e a sala de fisioterapia. Os materiais adquiridos incluíram desde equipamentos para atendimento de enfermagem como esfigmomanômetro, comadres, estetoscópios, pacotes de curativo, kits e materiais para sondagem, aspiradores, torpedos de oxigênio, inaladores e eletrodomésticos para equipar os serviços de apoio. A próxima etapa foi contratação de pessoal fixo e terceirizado. Foi necessário contratar cinco técnicos de enfermagem, uma cozinheira e uma pessoa para serviços gerais. Foram terceirizados serviços de fisioterapia, médico, nutricionista terapeuta ocupacional, psicóloga, recolhimento de resíduos contaminados e transporte. Seguindo-se, solicitou-se a vistoria da Vigilância

Sanitária e do Corpo de Bombeiros para fornecimento dos alvarás. Foi também necessária a elaboração de materiais para divulgação, como logomarca, folders e reportagem em um jornal local. Transcorreram cinco meses para o planejamento e organização da clínica geriátrica até sua inauguração em março de 2009; contudo, somente em abril de 2009 foi admitido o primeiro idoso, denominado hóspede, isto porque a clínica oferece (1) moradia permanente; e hospedagem “estilo creche” onde o idoso recebe todos os cuidados e assistência necessária, com supervisão de profissionais durante o dia, porém retorna para o convívio de seus familiares no final do dia e (2) hospedagem para convalescença quando o idoso encontra-se enfermo e precisa de cuidados especiais. Além do cuidado humanizado, que respeita cada indivíduo como sendo único, a clínica oferece diferentes serviços e atividades que buscam estimular as mentes e socializar a convivência harmoniosa entre os hóspedes, bem como com seus familiares. A clínica oferece jogos, passeios, oficinas diversas, visitas de voluntários, local para convivência em família, enxoval padrão de uso pessoal (roupa de cama, cobertas, toalhas de banho e rosto, travesseiros). Quanto às instalações, a clínica localiza-se em uma área privilegiada, oferecendo ambiente tranquilo, acolhedor e seguro, com recepção, jardim de inverno, capela ecumênica, ampla sala de estar com dois ambientes, refeitório, duas suítes, três quartos coletivos, cinco banheiros, cozinha ampla, lavanderia equipada e salão de festas. Os serviços oferecidos são: enfermagem 24 horas com a supervisão de duas enfermeiras (proprietárias da clínica), visita médica preventiva, alimentação acompanhada por nutricionista, fisioterapeuta, psicóloga, terapeuta ocupacional estética e embelezamento e estímulo à prática dos credos religiosos. Transcorrido nove meses de funcionamento, a clínica, com capacidade para 15 hóspedes, conta com nove moradores, sendo que a mesma já consegue se autossustentar.


Existem fatores que contribuem para que o envelhecimento ocorra de forma saudável: os de natureza interna abrangem as características genéticas, as condições nutricionais e os traços psicológicos; já os de natureza externa são os associados ao meio ambiente e às condições normais em que vive cada pessoa.8 Embora a qualidade de vida seja avaliada de forma diferente por cada pessoa, é importante oferecer o que está ao alcance. Existem experiências com resultados positivos em instituições de convivência, onde se oferece integração, lazer, atividades, acompanhamento de profissionais multidisciplinares, para uma melhor assistência.2 O papel do enfermeiro é planejar e implantar um plano de cuidados para estimular os idosos a manterem autonomia e dignidade, apesar de sofrerem perdas físicas, psicológicas e sociais; por isso, o enfermeiro deve ter uma visão holística e criativa para ajudá-los a manter condições de vida física e mental saudáveis.9 O enfermeiro deve prestar assistência integral ao idoso, ou seja, auxiliar na compreensão e facilitar a adaptação às mudanças decorrentes do processo de envelhecimento.9 O profissional deve ter a sensibilidade de demonstrar confiança, compreensão, de valorizar, ver, ouvir e respeitar o idoso.10 Para realizar um atendimento qualificado, deve-se entender as mudanças que o envelhecimento traz, como esquecimento, perda do entusiasmo, dificuldades visuais, auditivas, comunicacionais, além de cansaço, lentidão, solidão, insônia, depressão, desconforto, dor.10 O enfermeiro pode ajudar estas pessoas a manter a dignidade e a autonomia, tendo a oportunidade de praticar a arte de cuidar. O reconhecimento dos atributos e das características de cada um torna o profissional capaz de realizar um atendimento voltado especificamente às necessidades individuais, ou seja, não deve seguir um plano comum a todos; deve desenvolver um plano individualizado que atenda principalmente às necessidades específicas de cada pessoa;7 portanto, torna-se indispensável que o profissional identifique as necessidades e carências de cada idoso para planejar uma assistência adequada.

Consider ações finais Ao finalizar este relato percebe-se que o enfermeiro é um dos profissionais mais preparados para gerenciar este tipo de serviço, porque, além de ter preparo gerencial, tem conhecimento da parte assistencial e do cuidado, com uma visão holística do paciente. O aumento da expectativa de vida exige locais apropriados para prestar atendimento de qualida-

de ao idoso institucionalizado. Esses locais devem ter uma equipe de trabalho qualificada, para realizar um atendimento integral, oferecendo ambiente tranqüilo e seguro, apresentando condições para identificar as prioridades, respeitando a individualidade de cada um. Ao apresentar as etapas do planejamento e organização de uma clínica geriátrica, pretendeu-se mostrar quanto trabalho é necessário para estruturar este tipo de serviço. Os obstáculos serão mais facilmente superados quando existe coragem, determinação e dedicação dos profissionais envolvidos no processo, que tenham como objetivo construir uma assistência à saúde diferenciada. Este estudo permitiu relatar um empreendimento na área enfermagem pouco explorado pelos enfermeiros, talvez pela dificuldade de disponibilizar um capital para o investimento inicial. Embora as dificuldades tenham sido muitas, a administração de enfermagem e a qualidade do serviço implantado possibilitaram, em menos de um ano do empreendimento, sua autossustentação e o reconhecimento da clínica, tanto pela sociedade quanto pelo COREn, que pretende referenciá-la como serviço modelo na área de atuação.

Referências 1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). IBGE divulga indicadores sociais dos últimos dez anos 1996-2006 [online]. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=987>. 2. Veras R. Gestão contemporânea em saúde: terceira idade. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 2002. 3. Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros as vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Cadernos de Saúde Pública 1997; 31:184-200. 4. Santos MLC, Andrade MC. Incidência de quedas relacionadas aos fatores de riscos em idosos institucionalizados. Revista Baiana de Saúde Publica 2005 Jan-Jun; 29(1): 57-68. 5. Ministério da Saúde (BR). Lei 10.741, de 01 de Outubro 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília, DF: Congresso Nacional; 2003. 6. Ministério da Saúde (BR). Portaria Nº 810, de 22 de setembro de 1989. Aprova normas e os padrões para o funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras instituições destinadas ao atendimento de idosos, a serem observados em todo o território nacional [online]. Disponível em: <www.senado.gov.br/conleg/idoso/ DOCS/Federal/Portaria810.doc>. 7. Roach S. Introdução à enfermagem gerontológica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. 8. Santos SS. Gerontologeriátrica: reflexão à ação cuidativa. 2. ed. São Paulo: Robe; 2001. 9. Brunner LS, Suddarth MS. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 10. Paine JP. Diálogo como cuidado: processo educativo de enfermagem. Erechim: EdiFAPES; 2001.

* Enfermeira, especialista em Urgência e Emergência pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). ** Doutora em Educação, mestre em Enfermagem, enfermeira e professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil/RS (ULBRA).

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

17

Relato de Experiência

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 15 a 17

Planejamento e organização de uma clínica geriátrica: relato de experiência


Planejamento familiar: processo de escolha do método contraceptivo na visão das usuárias de um serviço público de atenção básica à saúde* Family planning: the process of choosing a contraception method from the perspective of women users of public health service ** Neila Terezinha Pires

*** Emiliane Nogueira de Souza

Resumo - O objetivo deste estudo foi descrever o processo de escolha dos métodos contraceptivos na visão de usuárias de um serviço público de atenção básica à saúde, desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde. Trata-se de um estudo transversal, no qual os dados foram coletados através de um questionário por meio de entrevista semiestruturada com 50 mulheres sexualmente ativas. A indicação do método contraceptivo foi realizada, majoritariamente, pelo médico, sendo que as restrições de saúde e a influência do parceiro foram fatores importantes na escolha do método. O processo de escolha do método contraceptivo é multifatorial e perpassa pelo conhecimento das mulheres sobre este assunto.

Abstract - The aim of this study is to describe the process of choosing contraception methods from the perspective of women who make use of the Public Health Service offered in a local Health Care Centre. This is a transversal study, and data were collected from a questionnaire and semi-structured interview with 50 women sexually active. The indication of a birth control method came, mainly, from a doctor and health restrictions as well as women’s partners’ opinions were fundamental to the choice. The process of choosing the contraception method is multifaceted and permeates women’s knowledge about the issue.

Palavras-chave: Anticoncepção; planejamento familiar; saúde da mulher; enfermagem.

Keywords: Contraception; family planning; women’s health; nursing.

Introdução

18

A informação dada a(o) usuária(o) em relação ao planejamento familiar constitui-se em elemento de qualidade no serviço prestado acerca dos direitos sexuais e reprodutivos do indivíduo, proporcionando a apreciação dos métodos contraceptivos e suas principais características. Proporciona o emprego eficaz, de modo que a(o) usuária(o) venha a conhecer o método e as alterações físicas saudáveis ou não saudáveis que o mesmo possa provocar.1 O planejamento familiar foi fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, sendo de livre decisão do casal, competindo ao estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito.3 Dessa forma, a participação da enfermagem no processo de escolha do método contraceptivo tem papel determinante, pois a ela é responsável diretamente pela qualidade dos serviços voltados ao planejamento familiar, na orientação e informação das(os) usuárias(os), por meio de reuniões, palestras, grupos e consultas de enfermagem. Da mesma forma, na divulgação dos serviços e captação das pessoas.1,4 Para a continuidade da oferta dos métodos contraceptivos que as usuárias do serviço utilizam, é importante que haja previsão e provisão desses métodos pela enfermeira. No momento da escolha do método, torna-se fundamental o acolhimento às usuárias para que se crie um vínculo de confiança com o serviço e para que todas tenham suas metas de contracepção alcançadas.5,6 Neste contexto, destaca-se a importância da informação para uma prática consciente, saudável e efetiva em relação aos métodos de contracepção, como

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 18 a 22

A assistência relacionada ao planejamento familiar no Brasil está regulamentada e determina ações pautadas nos direitos reprodutivos, de forma a garantir às mulheres e aos homens cuidados preventivos e educativos, meios, métodos e técnicas disponíveis para regulação da fecundidade, com a finalidade de limitar ou aumentar a prole.1 As atividades de informação em saúde reprodutiva tiveram amplo desenvolvimento na etapa inicial de implantação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, em 1985, quando o Ministério da Saúde promoveu treinamentos para profissionais de serviços sobre este enfoque e distribuiu materiais educativos.2 O planejamento familiar foi preconizado pelo Ministério da Saúde em 1984, devendo garantir o acesso aos meios de contracepção e concepção ou o acompanhamento clínico-ginecológico e às ações educativas para que as escolhas das(os) usuárias(os) sejam conscientes e livres.1 Em se tratando de contracepção e planejamento familiar, a partir dos direitos sexuais e reprodutivos, as atividades de informação tornam-se relevantes para o alcance dos objetivos dos serviços de saúde e dos usuários. Essas atividades exigem dos profissionais de saúde, em especial do enfermeiro que atua no âmbito da saúde coletiva como educador, a atitude de empenhar-se em bem informar para que a clientela conheça as alternativas de concepção e anticoncepção disponíveis e, assim, possa participar ativamente da definição e do alcance de suas metas reprodutivas.2


Planejamento familiar: processo de escolha do método contraceptivo na visão das usuárias de um serviço público de atenção básica à saúde

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 18 a 22

Materiais e métodos Trata-se de estudo com delineamento transversal, descritivo-exploratório, com a finalidade de observar, descrever e documentar os aspectos da situação em um determinado momento.7 A pesquisa foi realizada em área urbana da cidade de Caxias do Sul, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que possuía uma população de 12.972 habitantes cadastrados no momento do estudo. São oferecidas orientações acerca de planejamento familiar e métodos contraceptivos nessa UBS, nos dias de realização do encontro do grupo de gestantes, que ocorre a cada 30 dias no turno da manhã, no grupo de puericultura, que ocorre a cada 30 dias no mesmo turno, e no grupo do Programa Social Bolsa Família, que acontece a cada 15 dias no turno da tarde. A população em estudo constituiu-se de mulheres sexualmente ativas, moradoras do bairro onde estava situada a UBS. A amostra foi definida por livre demanda e constituída por mulheres que compareceram para as coletas do exame citopatológico e também por aquelas que aguardavam para as consultas com o médico, no período de março a abril de 2008. Os critérios de inclusão foram: (a) ter idade superior a 18 anos, (b) ser usuária dos serviços de saúde daquela UBS, (c) relatar vida sexual ativa. Como critérios de exclusão, foram definidos os registros do diagnóstico de transtorno mental grave ou debilitante no prontuário médico e barreiras de comunicação. Para a coleta de dados, foi elaborado um questionário sobre os métodos contraceptivos adotados, a participação em encontros ou palestras sobre anticoncepção, conhecimento da ação do método escolhido, o responsável pela indicação e motivo da mesma, o desejo de conhecer outros métodos e a satisfação com o método atual. Em relação ao conhecimento do método escolhido, foi solicitado à entrevistada que explicasse à pesquisadora o modo de ação do contraceptivo em uso, sendo que as respostas foram categorizadas em “sabe”, “sabe parcialmente” e “não sabe”, conforme as definições mencionadas pelo Ministério da Saúde.3,8 As questões foram elaboradas a partir da vivência da acadêmica no decorrer do Estágio Curricular I, realizado na referida UBS, e também de um estudo que abordou a qualidade da assistência em planejamento familiar.1 Os dados foram coletados durante uma entrevista semiestruturada pela própria acadêmica. A abordagem para a coleta dos dados foi individual, de forma que as entrevistas ocorreram nas salas de atendimento e também nos bancos de espera da UBS, enquanto as participantes aguardavam para a realização da coleta do exame citopatológico ou consulta médica.

Os dados obtidos foram analisados de acordo com a estatística descritiva, a qual permite quantificar os dados relacionados à pessoa, ao espaço e ao tempo, dando representatividade às variáveis em estudo.9 As variáveis contínuas foram descritas com média e desvio padrão, e as variáveis categóricas, com números absolutos e relativos. O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Núcleo de Educação Permanente em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Caxias do Sul. Conforme a Resolução 196/1996,1 todos os participantes leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após o aceite do indivíduo e a assinatura do TCLE, a coleta das informações foi realizada.

Resultados Foram entrevistadas 50 mulheres de 18 a 47 anos de idade, usuárias da rede básica de atenção à saúde. O número de filhos ficou em torno de 1 a 3, com 52% das entrevistadas. Baixa escolaridade, predominância de 64% das entrevistadas com o ensino fundamental incompleto. A religião predominante foi a católica (68%), sendo que 68% estavam empregadas, 46% moravam com companheiro e 28% eram solteiras. Metade das entrevistadas declarou renda mensal de 1 salário mínimo. Esses e outros dados estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1: Características sóciodemográficas de um grupo de mulheres sexualmente ativas. Caxias do Sul, 2008*

* Dados apresentados com média e desvio padrão. SM: salário mínimo

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

19

Artigo de Pesquisa

medida de promoção da saúde.2 Assim, justifica-se a realização desse estudo que teve como objetivo descrever o processo de escolha dos métodos contraceptivos na visão de usuárias de um serviço público de atenção básica à saúde.


Artigo de Pesquisa

Planejamento familiar: processo de escolha do método contraceptivo na visão das usuárias de um serviço público de atenção básica à saúde

Setenta por cento das mulheres entrevistadas já haviam participado de algum encontro, palestra ou curso sobre anticoncepção, onde receberam orientações sobre o tema. Em relação ao uso de método contraceptivo, 66% estavam utilizando pelo menos um. O método mais utilizado foi o anticoncepcional oral (30%). Das mulheres entrevistadas, 86% referiram conhecer a ação do método de anticoncepção utilizado. Quanto à indicação do método adotado, 52% apontaram o médico como responsável. Já em relação ao motivo para indicação ou escolha, 28% das mulheres referiram não ter havido motivo específico. A respeito do conhecimento de outros métodos de contracepção além do adotado, 72% das entrevistadas afirmaram possuí-lo. Quanto ao desejo de conhecer outros métodos, 54% das mulheres manifestaram-se positivamente. Em relação à satisfação com o contraceptivo adotado, houve uma nota média de 8±2,22 (entre zero e dez), confirmando a satisfação da maioria. Os dados são apresentados na Tabela 2.

20

Discussão De todas as mulheres entrevistadas neste estudo, a grande maioria fazia uso de algum método de contracepção, destacando-se o anticoncepcional hormonal oral, a camisinha masculina e a laqueadura. Esses achados estão de acordo com a realidade nacional, evidenciada por um estudo que avaliou as barreiras relacionadas à oferta de informações sobre planejamento familiar, realizado em áreas urbanas e rurais de uma Regional do Sistema de Saúde do Ceará, o qual evidenciou a pílula e a camisinha masculina como os mais conhecidos das mulheres entrevistadas.2 Da mesma forma, outro estudo baseado em uma análise de dados secundários, procedentes de uma pesquisa mais ampla realizada na cidade de Campinas, realizou uma análise do conhecimento sobre métodos contraceptivos e sua associação com características socioeconômicas e demográficas. Os resultados desse estudo evidenciaram o anticoncepcional hormonal oral, a camisinha masculina e a laqueadura como os mais utilizados.1 Possivelmente, esses métodos sejam os mais usados pela grande disponibilidade no mercado e também por campanhas publicitárias de âmbito nacional, em sua maioria promovidas pelo Ministério da Saúde. A grande maioria das entrevistadas afirmou conhecer a ação do método em uso, mas pouco sabia sobre os mesmos ou revelou conceitos errôneos. Essa inadequação de conhecimentos é um dos aspectos que contribui para explicar as características da prevalência de métodos anticoncepcionais no Brasil, concentrada em pílula e laqueadura. Na medida em que as mulheres não têm conhecimento adequado dos métodos, acabam criando mitos.11 O médico foi mencionado como principal responsável pelas indicações dos métodos contraceptivos. Dentre os fatores que influenciaram na escolha do método adotado, destacaram-se as restrições de saúde e a influência do parceiro. Resultados como esses são sustentados por dados da literatura que afirmam serem vários os fatores que contribuem para a tomada de decisão da mulher, mas evidenciam que os homens exercem influência sobre suas parceiras quanto ao uso de anticoncepcionais.12 As entrevistadas mostraram-se satisfeitas com o método contraceptivo adotado, atribuindo nota média de 8, mas vale ressaltar que as laqueadas e as usuárias de DIU

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 18 a 22

Tabela 2: Característica da escolha do método contraceptivo por um grupo de mulheres sexualmente ativas. Caxias do Sul, 2008

O entendimento de planejamento familiar, para 62% das usuárias, é não ter mais filhos por meio de um método contraceptivo definitivo. Já para 36% das usuárias, planejamento familiar é sinônimo de conhecer e ter acesso aos contraceptivos disponíveis na saúde pública, por meio dos quais pode-se planejar o número de filhos e o espaçamento entre eles. Dois por cento da amostra afirmaram desconhecer o assunto.


mencionaram estar totalmente satisfeitas, atribuindo nota máxima para a satisfação. Esse resultado é favorável para que não ocorra gravidez indesejada, abortos provocados em mulheres que não querem mais ter filhos ou querem tê-los mais tarde, insatisfeitas com o método contraceptivo adotado. Em consequência, os nascimentos serão planejados.13 O significado de planejamento familiar para as usuárias tem sido sinônimo de não ter mais filhos, por meio de um método contraceptivo definitivo, fato este que pode explicar o número de laqueaduras realizadas. De acordo com um estudo realizado na região metropolitana de Campinas, que teve como objetivo investigar as condições em que estava sendo atendida a solicitação de esterilização cirúrgica voluntária, nos serviços públicos de saúde daquele município, evidenciou-se, em uma amostra de 398 mulheres, que 28,4% das entrevistadas haviam sido submetidas à esterilização cirúrgica, demonstrando um grande número de mulheres laqueadas como meio de contracepção.14 Quando o assunto for planejamento familiar, as atividades de informação são extremamente importantes e indispensáveis, ao alcance dos objetivos dos serviços de saúde e usuários. Isso exige dos profissionais de saúde papel de educadores, para possibilitar que as usuárias possam participar ativamente da definição e do alcance de suas metas reprodutivas.2 Os resultados deste estudo com usuárias de uma UBS demonstram que há uma boa participação das mulheres nos grupos que abordaram temas referentes à sua saúde, mas o conhecimento delas em relação aos contraceptivos ainda é insuficiente, o que abre caminho para a enfermagem intervir, possivelmente, com encontros mais incentivadores, com menos características de reunião, realizados de forma convidativa que chame a atenção. Nesse sentido, é importante divulgar o serviço com vistas a incluir no atendimento pessoas que sequer sabem da existência dos métodos de contracepção, hormonais ou não.1 Uma boa interação entre usuário e profissional da saúde não só contribui para a liberdade de escolha, como também em proporcionar informações precisas em um clima de confiança, permitindo conhecimento e entendimento. O processo de escolha informado na regulação da fecundidade baseia-se nos princípios de proporcionar bem-estar às pessoas quanto a autonomia, expectativas, necessidades e poder de decisão, enfocando especialmente os direitos sexuais e reprodutivos, na qualidade de direitos humanos individuais.4 A entrega regular dos contraceptivos, através da continuidade na oferta, faz parte da qualidade da assistência prestada em atenção primária em saúde. Planejar a família não necessariamente é não ter mais filhos, mas ter a possibilidade de planejá-los quanto ao número e ao intervalo de tempo entre eles, de forma livre e consciente.1

Consider ações finais Quanto ao processo de escolha do método contraceptivo, nem todas as mulheres entrevistadas demonstraram conhecimento adequado acerca dos diversos métodos anticoncepcionais. O médico foi o profissional que realizou a maioria das indicações, sendo que as restrições de saúde e a influência do parceiro foram fatores importantes na escolha do método. Não ter mais filhos por meio de um método contraceptivo definitivo é a concepção de planejamento familiar para a maioria das usuárias, sendo que o anticoncepcional oral foi o método mais utilizado. É importante mencionar que as mulheres precisam ter suas preferências discutidas e respeitadas em todos os serviços de atenção à saúde, preservando sua autonomia para escolha do método contraceptivo. A adaptação a determinado método, bem como ao sexo seguro, são importantes, mas nem sempre fáceis, o que requer dos profissionais de saúde orientação e apoio. São necessários serviços que sensibilizem e promovam ambiente acolhedor para essas mulheres e seus parceiros, propiciando às pessoas condições de conhecer, discutir e realizar opções conscientes no que concerne às decisões reprodutivas e sua sexualidade. Com este estudo, espera-se contribuir para a qualidade do cuidado em planejamento familiar, na medida em que oportuniza subsídios para a discussão da prática de enfermagem relacionada ao planejamento familiar em saúde pública.

Referências 1. Moura ERF, Silva RM. Qualidade da assistência em planejamento familiar na opinião de usuárias do Programa Saúde da Família. Acta Paul Enferm 2006; 19(2):150-6. 2. Moura ERF, Silva RM. Informação e planejamento familiar como medidas de promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva 2004; 9(4):1023-32. 3. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de atenção à saúde. Departamento das Ações programáticas Estratégicas. Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais / Ministério da saúde, Secretaria de atenção à saúde, Departamento das Ações programáticas Estratégicas. Caderno n.2. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 4. Osis MJD, Duarte GA, Crespo ER, Espejo X, Pádua KS. Escolha de métodos contraceptivos entre usuárias de um serviço público de saúde. Cad Saúde Pública 2004; 20(6):1586-94. 5. Moura ERF, Silva RM. Competência profissional e assistência em anticoncepção. Rev Saude Publica 2005; 39(5):795-801. 6. Moura ERF, Silva RM, Galvão MTG. Dinâmica do atendimento em planejamento familiar no Programa Saúde da Família no Brasil. Cad Saúde Pública. 2007; 23(4):961-70. 7. Polit D, Beck CT, Hungler B. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5 ed. Porto Alegre: Artmed; 2004. 8. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Assistência em Planejamento Familiar: Manual Técnico/Secretaria de Políticas da Saúde, Área Técnica de Saúde da Mulher. 4 ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2002. 9. Rouquaryol MZ, Almeida Filho N. Epidemiologia e Saúde. 6 ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003. 10. Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 196: de 10 de ou-

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

21

Artigo de Pesquisa

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 18 a 22

Planejamento familiar: processo de escolha do método contraceptivo na visão das usuárias de um serviço público de atenção básica à saúde


Artigo de Pesquisa

Planejamento familiar: processo de escolha do método contraceptivo na visão das usuárias de um serviço público de atenção básica à saúde tubro de 1996. Dispõe sobre diretrizes e as normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo esses humanos. Brasília, DF 1996. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/comissão/conep/resolução. html Acesso em: 20 set 2007. 11. Espejo X, Tsunechiro MA, Osis MJD, Duarte GA, Bahamondesed L, Sousa MH. Adequação do conhecimento sobre métodos anticoncepcionais entre mulheres de Campinas. Rev Saúde Pública 2003; 37(5):583-90.

12. Alves AS, Lopes MHBM. Locus de Controle e escolha do método anticoncepcional. Rev Bras Enferm 2007; 60(3):273-8. 13. Tavares LS, Leite IC, Telles FSP. Necessidade insatisfeita por métodos anticoncepcionais no Brasil. Rev Bras Epidemiol 2007; 10(2):139-48. 14. Carvalho LEC, Osis MJD, Cecatti JG, Bento SF, Manfrinati M. Esterilização cirúrgica voluntária na Região Metropolitana de Campinas, São Paulo, Brasil, antes e após sua regulamentação. Cad Saúde Pública. 2007; 23(12):2906-16.

22

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Ano 1 – Volume 1, março/abril de 2011 - paginas de 18 a 22

* Artigo apresentado como trabalho de conclusão do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade Fátima – Caxias do Sul, RS. ** Enfermeira. *** Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde – Cardiologia (ICFUC). Docente da Faculdade Fátima – Caxias do Sul, RS.


Normas para publicação A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral, que tem por objetivo ser um dos principais veículos de divulgação do conhecimento na área de enfermagem no Brasil, promovendo, o desenvolvimento técnico-científico dos profissionais, publicando trabalhos originais e inéditos, de revisão, atualização ou relatos de casos/experiências. Seu conselho editorial, que tem caráter consultivo, é constituído por pesquisadores em enfermagem, de origem institucional diversificada, e é o principal responsável pela qualidade do conteúdo da revista. Apresentação do manuscrito 1. Os manuscritos apresentados devem destinar-se exclusivamente à Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico, no que se refere ao texto, às figuras ou tabelas, quer na íntegra ou parcialmente, excetuando-se resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de reuniões científicas. 2. Nas pesquisas envolvendo seres humanos, os autores deverão enviar uma cópia de aprovação emitida pelo Comitê de Ética, reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS 196/96 ou órgão equivalente no país de origem da pesquisa. O número do processo/projeto deverá constar no método do trabalho. 3. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem adota as normas do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (estilo Vancouver), publicadas no New England Journal of Medicine 1997; 336:309. 4. Figuras e tabelas deverão ser apresentadas em arquivo com boa resolução e separadas do texto (imagens com mínimo de 300 dpi). 5. O(s) autor(es) dos textos são por eles inteiramente responsáveis, devendo assinar e encaminhar a declaração de responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, conforme modelo abaixo. Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais. Vimos submeter à aprovação da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem o artigo _____ _____________________________ e informamos que todos os procedimentos éticos devidos foram observados. Declaramos que o trabalho é inédito e está sendo enviado com exclusividade à Revista. Concordamos que, em caso de aceitação do mesmo, os direitos autorais a ele referentes passarão a ser propriedade exclusiva da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. Categoria do artigo: _________________________________ Assinatura dos Autores: _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ Data: _____/_____/_____. 6. O(s) autor(es) deve(m) especificar no artigo indicação de financiamentos relacionados ao trabalho a ser publicado.

ou descrição de procedimentos com estratégias de intervenção, evidência metodológica apropriada de avaliação de eficácia, de interesse para a atuação de enfermeiros em diferentes áreas. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). Processo de julgamento dos manuscritos Após o recebimento, o artigo é inicialmente analisado quanto ao cumprimento das normas estabelecidas para publicação, sendo sumariamente devolvido em caso de não atendimento. Se aprovado, é encaminhado para avaliação de dois consultores ad hoc, escolhidos entre pesquisadores de renomada competência na área do artigo, que exibirão seus pareceres aceitando, recomendando modificações ou recusando o mesmo. (Em qualquer situação os autores serão comunicados.) Havendo discordância nos pareceres, o manuscrito é encaminhado a um terceiro relator. O anonimato é garantido durante todo o processo de julgamento. Os pareceres dos relatores são analisados pelo Conselho Editorial que, se necessário, indica as alterações a serem efetuadas. Os trabalhos seguem para publicação somente após a aprovação final dos pareceristas e do Conselho Editorial. Após a aceitação do trabalho, os autores serão comunicados da decisão, com a data prevista para publicação, o volume e o fascículo da Revista na qual o artigo será publicado. Os artigos não publicados não serão devolvidos, serão destruídos seis meses após o final dos trâmites da revista. Preparo dos manuscritos • Folha de rosto com título que identifique o conteúdo em português e inglês, contendo o(s) nome(s) do(s) autor(es), a titulação e a instituição a que pertence(m). Serão aceitos até seis autores. • Resumo informativo em português e inglês (summary) com até 100 palavras. • Quatro unitermos (palavras-chave) que permitam identificar o assunto do artigo, apresentados em português e inglês (keywords). • Dados que permitam sua compreensão, como explicações sobre o sentido das abreviaturas e símbolos. • Errata: após a publicação do artigo, os autores, se identificarem a necessidade de uma errata, deverão enviá-la à Secretaria da Revista imediatamente e de preferência por e-mail. Referências bibliográficas (Exemplos) Artigos de periódicos: • Padrão: Elias MS, Cano MAT, Mestriner W Jr, Ferriani MGC. A importância da saúde bucal para adolescentes de diferentes estratos sociais do município de Ribeirão Preto. Rev Latino-Americana de Enfermagem 2001 jan.; 9 (1):88-95 • Artigo com indicação de subtítulo: Diniz NMF, Lopes RLM, Almeida MS, Gesteira SMA, Oliveira JF. Psicodrama com estratégia pedagógica: vivências no ensino de graduação na área da saúde da mulher. Rev. Latinoam. Enfermagem 2000 ago.; 8(4);88-94. Materiais em formato eletrônico:

Categorias de manuscritos aceitos pela Revista (A) Artigos originais/Pesquisas – Investigação baseada em dados empíricos, concluída, utilizando metodologia científica e que possam ser aplicadas e generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora. Sua estrutura deve conter. – Introdução: apresentação e delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho. – Objetivo: especifica de maneira clara e sucinta a finalidade da pesquisa, com detalhamento dos aspectos que serão ou não abordados. Os objetivos podem ser definidos como gerais ou específicos a critério do autor. – Revisão da literatura: levantamento selecionado da literatura sobre o assunto que serviu de base à investigação do trabalho proposto. Proporciona os antecedentes para a compreensão do conhecimento atual sobre um assunto e esclarece a importância do novo estudo. Em algumas áreas, já existe a tendência de limitar a revisão apenas aos trabalhos mais importantes, que tenham relação direta com a pesquisa desenvolvida, priorizando as publicações mais recentes. Quando não houver necessidade de um capítulo para a Revisão da Literatura em função da extensão histórica do assunto, ela poderá ser incluída na Introdução. – Método: descrição completa dos procedimentos metodológicos que permitam viabilizar o alcance dos objetivos. Devem ser apresentados: tipo de pesquisa, dados sobre o local onde foi realizada a pesquisa, população estudada, tipo de amostra, variáveis selecionadas, material, equipamentos, técnicas e métodos adotados para a coleta de dados, incluindo os de natureza estatística. – Resultados: devem ser apresentados de forma clara e objetiva, sem interpretações ou comentários pessoais, podendo, para maior facilidade de compreensão, estar acompanhados por gráficos, tabelas, figuras, fotografias etc. – Discussão: deve restringir-se aos dados obtidos e aos resultados alcançados, enfatizando os novos e importantes aspectos observados e discutidas as concordâncias e divergências com outras pesquisas já publicadas. – Conclusões: correspondem aos objetivos ou hipóteses de maneira lógica, clara e concisa, fundamentadas nos resultados e discussão, coerentes com o título, proposição e método. Incluem-se ainda as Referências Bibliográficas (12 páginas de Word, espaçamento duplo). (B) Artigos de revisão – Estudo crítico, abrangente e sistematizado da literatura sobre um assunto de interesse para o desenvolvimento da Enfermagem, devendo apresentar análise e conclusão. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). (C) Artigos de atualização ou divulgação – Trabalhos descritivos e interpretativos, com fundamentação sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo ou potencialmente investigativo. (05 páginas de Word, espaçamento duplo) (D) Experiência profissional/Relato de caso – Descrição de experiências assistenciais e de extensão, estudos avaliativos, originais contendo análise de implicações conceituais

• Artigo de periódicos: Braga EM, Silva MJP. Como acompanhar a progressão da competência no aluno de enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP (periódico na Internet). 2006 (citado 2006 set. 28);40(3): (cerca de 7 p). Disponível em: http://.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/258.pdf • Livro ou monografias: Alvarenga, RE. Cuidados paliativos domiciliares: percepções do paciente oncológico e seu cuidador. Porto Alegre: Moriá; 2005. Calil AM, Paranhos WY. O enfermeiro e as situações de emergência. São Paulo (SP): Atheneu; 2007 • Capítulo do livro ou monografia: Debert, GG. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: Cardoso RCL. A aventura antropológica. Teorias e pesquisa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1998. p.64-78. • Dissertação e tese: Amarante ST. Analise das condições ergonômicas do trabalho das enfermeiras de centro cirúrgico. (dissertação). São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1999. • Anais: Carreiro FA. A Equipe de Enfermagem e o Corpo (do) Queimado Durante a Balneoterapia. In: Anais do 11º CBCENF-Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem; 2008 ago. 31 a set. 03; Belém-PA, Brasil. Envio do manuscrito Os artigos originais encaminhados para avaliação e publicação deverão ser enviados por e-mail ou correio para o endereço da editora constante no final destas normas, aos cuidados do Conselho Científico, sendo que um dos autores deverá ser assinante da revista. Os trabalhos que forem encaminhados via correio deverão ser acompanhados de CD, uma cópia impressa com figuras e tabelas, juntamente com a Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, assinada por todos os autores, através de carta registrada ou sedex. Recomenda-se o uso do programa Word (papel formato A4; margens: superior 1,5 cm, inferior 1 cm; laterais 3 cm), bem como a fonte Times, tamanho 12, entrelinha dupla, em uma coluna. Pode conter ilustrações que sejam relacionadas com o assunto e tenham boa qualidade para impressão em cores ou em preto e branco (300 dpi). Texto justificado e com número de página no rodapé. Moriá Editora Ltda. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem Rua Aracy Fróes, 258 / 902 - Jardim Itu-Sabará - Porto Alegre/RS / CEP: 91210-230. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Tel. (51) 3351.2361.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

23


Congressos e Eventos em 2011 Evento

Local

Data

Informações

Cálculo de Dimensionamento de Pessoal com Base na Resolução do COFEn 293/2004

C-Vist Cursos Porto Alegre/

1º de abril

www.cvist.com.br

Atendimento ao Paciente Grave em UTI Adulto

C-Vist Cursos Porto Alegre/ RS

05, 07, 12 e 14 de abril

www.cvist.com.br

Atendimento ao Recém-nascido em UTI Neonatal

C-Vist Cursos Porto Alegre/ RS

06/12 de maio

www.cvist.com.br

22ª Semana de Enfermagem do HCPA

Anfiteatro Carlos Cesar de Albuquerque HCPA

10 a 12 de maio

www.hcpa.ufrgs.br

XXVIII Semana de Enfermagem da Santa Casa de Porto Alegre

Anfiteatro Hugo Gerdau Santa Casa POA/RS

13 de maio

www.santacasa.org.br

XI Jornada Internacional de Enfermagem

Unifra - Santa Maria /RS

31 de maio à 02 de junho

www.unifra.br/eventos/enfermagem2011

16º SENPE

Universidade Católica Dom Bosco - Campo Grande /MS

19 a 22 de junho

www.abeneventos.com. br/16senpe

14º CBCEnf

Centro de Convenções Curitiba/PR

09 a 12 de agosto

www.portalcofen.gov.br

3º SITEn-Seminário Internacional do Trabalho na Enfermagem

Bento Gonçalves/RS

11 a 13 de agosto

www.abeneventos.com.br

63 CBEn

Centro de Convenções Maceió/AL

03 a 06 de outubro

www.abeneventos.com. br/63cben

IX Congresso Brasileiro de Estomaterapia

Centro de Eventos Plaza São Rafael - Porto Alegre

23 a 27 de outubro

www.cbe11.com.br

24

RS

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 1 – AVALIAÇÃO DO PACIENTE NA UTI

P

• 1a aula: Avaliação do paciente na UTI • 2a aula: Atendimento a PCR no adulto: O que mudou? • 3a aula: Interpretação de ECG e arritmias • 4a aula: Monitorização Hemodinâmica • 5a aula: Ventilação mecânica • 6a aula: Cuidados com drenos, cateteres e sondas

Lisnéia Fabiani Bock Graduada em Enfermagem pela Universidade Luterana do Brasil; Especialista em Administração dos Serviços em Enfermagem pela PUCRS; Especialista em Terapia Intensiva pela Ulbra; Mestre em Enfermagem pela UFSC; Docente do Curso de Pós-Graduação na Ênfase de Terapia Intensiva do HMV; Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, UFSC; Coordenadora do Curso de Pós-Graduação Enfermagem com Ênfase em Urgências e Emergências do IPA; Docente Curso de Enfermagem do Centro Universitário Metodista do IPA.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

25


ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 1: AVALIAÇÃO DO PACIENTE NA UTI

INTRODUÇÃO A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) tem como objetivo oferecer cuidados a pacientes em condições graves, potencialmente recuperáveis, que se beneficiem de observação criteriosa da equipe multiprofissional e interdisciplinar, em especial as equipes médica e de enfermagem no tratamento invasivo e intensivo. Cabe ao enfermeiro intensivista executar minuciosamente a avaliação clínica diária do paciente, reavaliando, sempre que necessário, ao identificar qualquer alteração do quadro clínico, objetivando a manutenção das funções vitais diante da complexidade e da gravidade do indivíduo assistido1. Para tanto, o enfermeiro necessita adquirir capacidade de observação aguçada, sensibilidade, conhecimento teórico e prático, além da experiência, aperfeiçoada com a vivência no dia a dia, a fim de identificar precocemente qualquer instabilidade hemodinâmica do paciente2. A avaliação do paciente na UTI faz parte da sistematização da assistência (SAE), em que o estado de saúde do paciente é avaliado, e as necessidades de cuidado são diagnosticadas. Os dados coletados na avaliação servirão para organizar um plano de cuidados direcionado às necessidades específicas de cada paciente, serão aplicados pela equipe de enfermagem e reavaliados pelo enfermeiro diariamente e sempre que necessário. Como parte da avaliação do paciente crítico, e para o registro do histórico de enfermagem, o enfermeiro realiza a entrevista e o exame físico. Pela gravidade e complexidade dos pacientes, nem sempre o enfermeiro consegue coletar as informações na admissão do paciente na UTI. Neste caso, deve recorrer inicialmente aos familiares para obter de informações relacionadas ao motivo da internação hospitalar e observar atentamente os aspectos fisiológicos, emocionais, sociais e espirituais do paciente. O enfermeiro intensivista terá habilidade e destreza para a realizar a avaliação. Quanto ao exame físico, precisa ter competência técnico-científica para avaliar detalhadamente os sistemas específicos, principalmente diante de falências orgânicas comumente apresentadas, conforme a gravidade dos pacientes. Essas informações e as alterações observadas subsidiarão o diagnóstico de enfermagem, a elaboração da prescrição e as intervenções de enfermagem.

ternação. Não se preocupará em apenas identificar o diagnóstico médico, para não ser influenciado pelo modelo biomédico, que faz com que ele busque informações centradas nos sinais e sintomas da patologia.2 A entrevista permite a troca de experiências entre enfermeiro e paciente. A precisão das informações é fundamental para o estabelecimento de um plano de cuidados adequado e individualizado para o paciente. Deve-se considerar o fato de que a própria condição clínica do paciente pode impedi-lo de relatar seus sintomas, dificultando a obtenção de informações (por exemplo, presença de tubo orotraqueal ou sondas). Neste caso, o enfermeiro deve recorrer aos familiares/ acompanhantes, para obter dados, além de discutir com a equipe multiprofissional e revisar os exames de laboratório e de imagem3. Cabe ressaltar que nas situações de urgência a entrevista deverá ser focada e realizada concomitantemente com o exame físico, considerando a prioridade no atendimento intensivo; após estabilização do quadro clinico do paciente, será retomada para complementação dos dados. A habilidade de comunicação e de relação interpessoal são requisitos determinantes para a qualidade das informações obtidas na entrevista, lembrando que as crenças e valores pessoais do profissional não devem interferir na avaliação. O enfermeiro deve alternar perguntas abertas e fechadas, e as informações coletadas serão resumidas e apresentadas ao paciente, sempre que possível, a fim de confirmar a exatidão dos dados. Conforme o Quadro 1, as informações coletadas abrangem dados biográficos, queixa principal, histórico clinico, familiar, psicossocial e atividades diárias.4,6 Quadro 1 – Informações admissionais para a elaboração do histórico de enfermagem Informações

Questionamentos

Dados biográficos

Dados do prontuário ou ficha social (nome, endereço, data de nascimento, idade, estado civil, religião, nacionalidade, com quem mora, telefone de contato, convênios)

Queixa principal

– Qual o motivo da internação? Como se sente? Quais as expectativas em relação à internação e ao tratamento? – Quando iniciou? O que provoca ou alivia o sintoma? Quais os fatores que desencadeiam o sintoma? O que melhora ou piora o sintoma? – Descreva o que sente. Isso afeta suas atividades diárias? – Em que local o sintoma está localizado? Aparece em outras regiões? Quais? – Qual a gravidade do sintoma? No momento está estável, maior ou menor? – Quando iniciou o sintoma? Foi súbito ou gradual? Ocorre com frequência? Quanto tempo dura?

A ENTREVISTA A entrevista abrange a coleta de informações junto ao paciente e seus familiares (comunicação verbal) e será complementada pela observação (comunicação não verbal). Objetiva identificar problemas, preocupações, necessidades e reações humanas do paciente. Antes de iniciar uma entrevista, recomenda-se que o enfermeiro leia o prontuário do paciente, verificando seu nome e o do acompanhante responsável pela in-

26

Histórico clínico

Histórico familiar

Antecedentes patológicos, cirúrgicos, anestésicos. Hospitalização prévia e o motivo? Tratamento de saúde recente? Qual? Alergias? Uso de medicamentos? Uso de próteses? Uso de álcool, fumo, drogas? Antecedentes de doenças familiares e o parentesco.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 1: AVALIAÇÃO DO PACIENTE NA UTI Histórico psicossocial

Escolaridade. Atividade profissional. Como se sente em relação a si mesmo, à sociedade e aos outros.

Atividades da vida diária

Descrever os hábitos diários de vida. Dieta e ritmo intestinal. Exercícios, sono e repouso. Trabalho e lazer.

Fonte: ANDRIS (2006); TANNURE, GONÇALVES (2008) adaptado por BOCK (2011).

A utilização de um instrumento de coleta de dados, com formulários próprios da UTI, auxilia a organizar e a direcionar os focos de atenção na abordagem do paciente. Além disso, permite o compartilhamento das informações com os demais membros da equipe de saúde, o que promove a continuidade e qualidade da assistência ao paciente. Os registros admissionais contidos em formulário ou em evolução de enfermagem na UTI não devem ser retirados do prontuário em momento algum da internação, pois os serão facilitadores do acompanhamento, evitando os questionamentos repetidos pela equipe multiprofissional.

CAR ACTERÍSTICAS GER AIS DO EX AME FÍSICO As informações obtidas na entrevista serão utilizadas pelo enfermeiro para direcionar a atenção às partes específicas do exame físico. A avaliação será individual de cada sistema orgânico, com ênfase aos sistemas suscetíveis a maior risco (ex.: avaliação cardiovascular em um paciente admitido na UTI com dor torácica).3 O exame físico deve ser objetivo, sistematizado e direcionado às necessidades de cada paciente, e a abordagem inicial será condição determinante para obtenção de dados confiáveis no exame físico. O ambiente deve ser tranquilo, iluminado e higienizado. Além disso, o enfermeiro deve propiciar meios que respeitem a privacidade (física e de informações), evitando exposição do paciente, utilizando biombos e cortinas. A utilização de lençóis para cobrir as regiões que não estão sendo examinadas demonstra preocupação com o bem-estar do paciente, além de prevenir a hipotermia decorrente das baixas temperaturas mantidas usualmente na UTI.3 Para a realização do exame físico, o enfermeiro intensivista necessita de alguns instrumentos para avaliação, considerados hoje primordiais para o trabalho deste profissional: estetoscópio, termômetro, lanterna para avaliação pupilar, fita métrica, além de escalas de avaliação muito utilizadas na UTI (Escala de Braden – avaliação de risco para desenvolvimento de úlcera de pressão; Escala de Coma de Glasgow; Escala de Ramsay – avaliação do grau de sedação; Escala de Richmond (RASS) – Avaliação agitação/sedação; além de escala para avaliar a dor do paciente; TISS – para mensuração de carga de trabalho de enfermagem na UTI).

Na UTI, a avaliação realizada pelo enfermeiro pode ser cefalocaudal, por sistemas orgânicos ou por necessidades humanas básicas, conforme o olhar do profissional, utilizando de anotações objetivas e concisas, com terminologia adequada.

TÉCNICAS PAR A O EXAME FÍSICO O enfermeiro intensivista utiliza a seguinte sequência no exame físico: inspeção, palpação, percussão e ausculta, garantindo que todos os sistemas sejam avaliados de forma integral e minuciosa.

Inspeção Na inspeção, o enfermeiro utiliza a visão para observar padrões de normalidade ou alterações significativas na superfície corporal ou cavidades em contato com o exterior. Observa a coloração da pele, tamanho e localização de lesões cutâneas, movimento e simetria dos segmentos corpóreos, padrões de fala, presença de tubos, cateteres ou outros dispositivos invasivos, além das condições emocionais e mentais do paciente. A inspeção do tórax fornece informações sobre o sistema respiratório, a estrutura músculo-esquelética e a nutrição.5,6,7 A inspeção compreende a avaliação do formato do tórax, presença ou não de abaulamentos e depressões, tipo respiratório, ritmo, a frequência da respiração, amplitude dos movimentos respiratórios, presença ou não de tiragem e a expansibilidade dos pulmões.8 Quanto ao formato do tórax e demais alterações, é importante avaliar:5,9 Configuração do tórax: existem quatro tipos de deformidades principais do tórax associadas a doenças respiratórias:8 Tórax em barril: é o resultado da hiperinsuflação dos pulmões. Há um aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax, e as costelas ficam mais separadas, sintoma característico em pacientes enfisematosos. Tórax em funil: está presente quando há uma depressão na porção inferior do esterno podendo comprimir o coração e grandes vasos e ocorrer no raquitismo. Tórax de pombo: surge como resultado do deslocamento do esterno, havendo aumento do diâmetro ântero-posterior. Cifoescoliose: surge com a elevação da escápula e com a coluna vertebral em forma de S. Esta deformidade limita o pulmão dentro do tórax podendo ocorrer na osteoporose e em outras doenças esqueléticas. Cianose: é difícil detectar cianose em pacientes anêmicos, bem como em algumas patologias que incluem cianose em seus sintomas, mesmo se a pressão de oxigênio for normal. É importante distinguir cianose periférica (em extremidades e ponta do nariz) de cianose central (observada na língua e nos lábios, indicando que o paciente apresenta hipoxemia).

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

27


ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 1: AVALIAÇÃO DO PACIENTE NA UTI

Respiração difícil: quando a fala é seguidamente interrompida por respirações, é um sinal. O número de palavras que o paciente consegue dizer entre respirações é uma boa medida para determinar o grau de dificuldade respiratória. Deformidades e cicatrizes: podem indicar cifoses, escolioses e cirurgias anteriores. Se forem percebidas, devese questionar o paciente, familiares e médico a respeito. Postura: deve-se observar a postura, pois os pacientes com doença pulmonar obstrutiva frequentemente sentam e se apoiam sobre os braços, ou inclinam-se para a frente, apoiando os cotovelos. Traqueia: pode-se observar se a traqueia está na linha média, como deveria. Na situação de pneumotórax hipertensivo, a traqueia pode estar desviada da linha média. Frequência respiratória: deve ser registrado o número de incursões por minuto. Profundidade da respiração: é tão importante quanto à frequência respiratória, para definir a diferença entre tipos de respiração ou insuficiência respiratória aguda. Existem dois tipos bastante comuns: respiração de Cheyne-Stokes (episódios alternados de apneia e respiração profunda) e respiração de Kussmaul. É preciso identificar se ocorrem inspirações muito curtas e expirações prolongadas, com esforço ou ruidosas. Batimentos de asa do nariz (BAN): indicam gravidade respiratória, bastante ocorrente em crianças e neonatos. Retrações intercostais: indicam esforço respiratório grave.

Palpação Na palpação, o tato é imprescindível e aplicado com diferentes graus de pressão para tocar as diferentes partes do corpo. Utiliza-se a palpação superficial para avaliar a superfície corporal e a profunda para avaliar os órgãos internos.5,10,7 Durante a aplicação da técnica, é importante avaliar textura, umidade, temperatura, volume, consistência e elasticidade das estruturas, além da sensibilidade do paciente ao toque. Na palpação do tórax avalia-se a presença de dor, lesões, massas e frêmito tátil. Palpa-se com os dedos, investigando lesões, massas cutâneas ou subcutâneas; com a mão espalmada percebem-se evidências de massas profundas ou desconforto nas costelas.5 Frêmito tátil ou vocal: é a capacidade de sentir o som na parede torácica. Há uma ampla variação de frêmito normal que é influenciado pela espessura da parede, bem como por tecido subcutâneo ou gordura. Devido ao tom de voz, o frêmito tátil é mais acentuado nos homens do que nas mulheres. A voz masculina é mais grave e o som que é produzido na laringe dirige-se ao longo da árvore brônquica. Também é mais palpável nas regiões anterior e posterior do tórax superior. Para provocar o frêmito tátil, solicita-se ao paciente que ele

28

diga “trinta e três” e se houver alterações o examinador sentirá na mão uma vibração na parede externa do tórax. Esta sensação é semelhante à de colocar a mão no peito de um gato quando ele está ronronando. Em pacientes normais, o frêmito tátil está presente. Pode estar reduzido ou ausente se houver algo interposto entre o pulmão e a mão do enfermeiro, ou bastante aumentado quando há consolidações. Apenas palpando o tórax do paciente durante a respiração silenciosa, pode-se perceber roncos palpáveis quando há muito muco nas vias aéreas.5

Percussão A percussão consiste em golpear os dedos contra alguma superfície corporal do paciente, em geral o tórax ou abdome, originando vibrações com características próprias (audíveis e táteis) quanto à intensidade e ao timbre. Pode ser realizada pela técnica direta ou indireta. Possibilita, além de identificar o som, localizar as margens, o tamanho, a consistência dos órgãos, determinando se um órgão é sólido ou preenchido com gases ou líquidos. Também permite detectar a presença de líquido livre na cavidade abdominal.5 Em geral, a percussão começa no tórax posterior com o paciente sentado, a cabeça fletida para frente e os braços sobre o tronco. A percussão do tórax anterior normalmente é feita com o paciente em pé, ombros arqueados para trás e braços estendidos ao longo do corpo. Ao percutir o tórax, deve-se usar um ou dois dedos colocados de forma plana contra o tórax. Estes dedos são golpeados sobre a articulação pela extremidade de um dedo da outra mão. Normalmente o tórax possui som ressonante ou oco à percussão. Nas doenças em que há aumento de ar no tórax ou nos pulmões, como no pneumotórax e no enfisema, pode haver sons hiperressonantes à percussão, embora algumas vezes seja bastante difícil detectá-los. É muito importante perceber se o som é maciço, como o de quando se percute uma parte do corpo que não contém ar. Um som maciço é ouvido se o pulmão sob a mão do examinador apresentar atelectasia, pneumonia, derrame pleural ou um tipo de lesão em massa. Um som maciço também é ouvido se for realizada percussão sobre o coração.5

Ausculta A ausculta consiste na aplicação do sentido da audição para ouvir sons ou ruídos produzidos por diversos órgãos, como coração, pulmões e intestino. Com auxílio do estetoscópio, são observadas as seguintes características: frequência ou movimentos gerados, sonoridade ou amplitude de uma onda sonora, timbre e vibração do som. O enfermeiro intensivista sabe relacionar os achados clínicos no exame físico com dados de recursos tecnológicos disponíveis na UTI. Por exemplo, ao identificar a presença de roncos na ausculta pulmonar, confronta com o RX de tórax do paciente, buscando evidências para tal achado. Utiliza raciocínio clínico e acompanha

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 1: AVALIAÇÃO DO PACIENTE NA UTI

diariamente tal comprometimento em busca de soluções de cuidado. A ausculta pulmonar é útil para avaliar o fluxo de ar na árvore brônquica e examinar a presença de líquido ou obstrução nas estruturas pulmonares. O examinador ausculta sons respiratórios normais, sons adventícios e a ressonância da voz para determinar as condições do pulmão. O exame completo inclui ausculta do tórax anterior, posterior e lateral. Para realização da ausculta pulmonar, geralmente utiliza-se o estetoscópio comprimindoo firmemente sobre a parede torácica na medida em que o paciente respira lenta e profundamente. Auscultam-se áreas do tórax, desde o ápice até as bases e ao longo das linhas axilares médias. A sequência da ausculta e a posição do paciente são semelhantes às usadas na percussão. A intensidade dos sons respiratórios pode estar reduzida em virtude da diminuição do fluxo de ar através dos pulmões, como ocorre nas doenças obstrutivas crônicas (DPOC ou nas atelectasias); assim como na respiração superficial, há diminuição do movimento de ar através das vias aéreas e a sonoridade é menos intensa. Em situações como derrame pleural, pneumotórax e obesidade, em que há substância anormal (tecido fibroso, líquido, ar ou gordura) entre o estetoscópio e o pulmão auscultado, também os sons são menos claros. Na verdade, esta substância isola os sons respiratórios do estetoscópio, fazendo-os parecer mais baixos.8 Há três tipos de sons ouvidos no tórax. Os sons brônquicos (ouvidos sobre a traqueia) são agudos, altos, e a expiração é mais longa que a inspiração. Os murmúrios vesiculares, normalmente ouvidos sobre todo o campo pulmonar, são graves, suaves, possuem uma qualidade sussurrada e com fase inspiratória longa e expiratória curta. Os murmúrios bronquiovesiculares, ouvidos sobre a região do brônquio principal, têm tonalidade média, inspiração e expiração iguais. Outros sons ouvidos na ausculta do pulmão incluem estertores, sibilos e atritos. Os estertores são ruídos contínuos, leves e criados quando as vias aéreas pequenas são reabertas ou reinsufladas durante a inspiração final. Frequentemente, estertores altos, por serem gerados nas grandes vias aéreas, são ouvidos sem estetoscópio. Outros ruídos, como sibilos, que são ruídos musicais contínuos, resultam da passagem de ar através de vias aéreas estreitadas ou parcialmente obstruídas devido à retenção de secreções. Um atrito é causado pela inflamação da superfície pleural que induz um som atritante. O som ouvido como estetoscópio quando o paciente fala é chamado ressonância vocal.5 A ausculta cardíaca tem por objetivo compreender eventos fisiopatológicos, enriquecer o exame físico e melhorar os registros de enfermagem. Ao auscultar o coração, deve-se ouvir o ápice, a base e áreas aórtica e pulmonar, respectivamente à direita e à esquerda do esterno. Recomenda-se ainda relacionar os achados auscultatório ao ciclo cardíaco, palpando simultaneamente a artéria carótida enquanto se ausculta o coração. Deve-se avaliar e registrar os seguintes achados:

frequência cardíaca, ritmo (regular ou irregular), as bulhas cardíacas (2 tempos: B1 + B2; 3 tempos: B1 + B2 + B3; e 4 tempos: B1 + B2 + B3 + B4), fonese (hipofonese, normofonese, hiperfonese) e as alterações como os sopros (sistólico ou diastólico), estalidos, cliques. Sons produzidos durante o ciclo cardíaco: Primeira bulha (B1) – Fechamento das válvulas atrioventriculares (mitral e tricúspide); Segunda bulha (B2) – Fechamento das válvulas semilunares (aórtica e pulmonar); Terceira bulha (B3) – Ritmo de galope (fim da fase rápida do enchimento ventricular); Quarta bulha (B4) – Dilatação do átrio esquerdo (miocardiopatia hipertrófica). As causas mais comuns de uma B1 anormalmente silenciosa são o débito cardíaco reduzido, uma parede torácica espessa ou enfisema. Uma B2 hiperfonética e vibratória pode ser característica da hipertensão sistêmica ou, ocasionalmente, da hipertensão pulmonar.8 A B3 é um som de baixa frequência que ocorre na diástole e coincide com o fim da fase rápida do enchimento ventricular. Pode ocorrer de forma fisiológica em adultos jovens sob circunstâncias de débito cardíaco aumentado (ex.: atletas; em presença de febre; durante a gravidez), ou patológica em situações de miocardiopatia dilatada, após um infarto agudo do miocárdio (IAM), ou na embolia pulmonar aguda maciça.8 A B4 é uma bulha extra que coincide com a contração atrial. É percebida em pacientes cujo átrio esquerdo está hipertrofiado, em casos de hipertensão sistêmica ou miocardiopatia hipertrófica.8 Durante a avaliação dos sistemas orgânicos ou segmentos corpóreos, o enfermeiro deve manter sempre bom contato visual e interação com o paciente, utilizando linguagem simples e explicando os passos do exame físico, mesmo que o paciente não consiga se comunicar verbalmente.

EX AME FÍSICO GER AL O exame físico geral do paciente na UTI inclui descrição das condições gerais, estado mental, tipo morfológico, dados antropométricos, estado nutricional, postura, hidratação, pele, mucosas e sinais vitais, sendo importantes as primeiras impressões do enfermeiro e o seu raciocínio clínico.5,6,7 Quanto ao estado geral, verifica-se peso, massa muscular e estado mental. A avaliação geral do estado mental tem por finalidade identificar a orientação do paciente, sua memória e sua linguagem. Em relação aos dados antropométricos, o peso e a altura são dados que subsidiarão o tratamento do paciente quanto aos aspectos nutricionais, cálculos de medicamentos/drogas, ajuste de parâmetros ventilatórios nos respiradores, cálculos hemodinâmicos e avaliação de perdas e ganhos de líquidos.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

29


ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 1: AVALIAÇÃO DO PACIENTE NA UTI

Para avaliação do estado nutricional e da hidratação, o enfermeiro pode utilizar dados como índice de massa corporal, circunferência abdominal e a relação cintura-quadril, peso, condições da musculatura, desenvolvimento físico, estado geral, pele, pelos e olhos.3 Quanto à avaliação da pele e das mucosas, devese avaliar coloração, umidade, temperatura, turgor, edema e presença de lesões. A avaliação da postura também permite buscar as causas do posicionamento adotado pelo paciente. A preferência de uma postura pode ser involuntária, como consequência de alguma patologia ou comprometimento específico, como meningite e tétano ou em estados de inconsciência, ou voluntária, como nos casos de comprometimentos respiratórios, insuficiência respiratória, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).3 Quanto aos sinais vitais, incluem-se verificação do pulso (P), frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), pressão arterial (PA), temperatura corporal, e avaliação da dor. Na UTI, o paciente permanecerá com monitorização contínua, e outros parâmetros poderão ser acompanhados conforme necessidade do paciente: oximetria de pulso, capnografia, pressões invasivas de pressão arterial média (PAM), pressão venosa central (PVC), pressão intracraniana (PIC), pressão de artéria pulmonar (PAP). Também serão avaliados pelo enfermeiro: débito urinário, gasometria arterial, sinais de hipoperfusão. A frequência de aferição dos sinais vitais a fim de registro em prontuário dependerá do estado clínico do paciente e da rotina estabelecida na UTI. A avaliação da dor requer atenção especial pela equipe de enfermagem. Esta pode ser influenciada por fatores socioculturais, fisiológicos, psicológicos e ambientais. O enfermeiro deve utilizar alguma escala para avaliação da dor, investigando a localização da dor, duração, periodicidade, intensidade e os fatores que a agravam ou aliviam.3 Também serão avaliados pelo enfermeiro os dispositivos em uso do paciente, como cateteres, drenos e sondas, sinais de infecção, sangramentos, fixação, permeabilidade, deslocamento, aspecto e volume de líquidos drenados. A segurança do paciente na UTI é outro aspecto importante muito discutido na atualidade e que requer atenção especial do enfermeiro em sua avaliação. Algumas medidas podem ser adotadas, como: grades elevadas, camas travadas, restrição física através de contenção mecânica (desde que não piore o estado do paciente, e com consentimento do familiar responsável), uso de bombas de infusão para administração de medicamentos controlados, drogas vasoativas, identificação dos medicamentos que são infundidos nas bombas de infusão, uso de colchão piramidal ou pneumático, proteção de proeminências ósseas. Quanto à avaliação específica dos sistemas orgânicos e segmentos corpóreos, observa-se a necessidade de avaliação dos itens descritos no Quadro 2.

30

Quadro 2 – Itens de avaliação dos diferentes sistemas orgânicos e segmentos corpóreos.4,12 Sistemas orgânicos/ segmentos corpóreos

Itens de avaliação

Sistema neurológico

Nível de consciência, avaliação pupilar (tamanho e fotorreação), função motora, função sensitiva, avaliação dos nervos cranianos, função cerebelar. Sinais de hipoxemia, hipercapnia ou hipocapnia.

Cabeça e pescoço

Cabeça: avaliação do crânio, face, olhos, ouvido, nariz, boca, língua, gengiva, garganta e dentes. Pescoço: glândula tireoide, veias jugulares (turgência), artérias carótidas (ausculta) e linfonodos.

Sistema cardiocirculatório

Pulso, frequência cardíaca, ritmo cardíaco, pressão arterial, área cardíaca, bulhas cardíacas, edema de membros, perfusão periférica (pele fria, cianose de extremidades, pobre enchimento capilar.

Sistema respiratório

Sistema respiratório Frequência, ritmo, amplitude respiratória, tosse, escarro, sons respiratórios (ruídos adventícios, murmúrios vesiculares, ressonância vocal).

Sistema digestório

Forma e contorno abdominal, ruídos intestinais, tamanho, forma e posição de órgãos abdominais, presença de líquido na cavidade.

Sistema geniturinário

Avaliação dos rins e bexiga, exame de mamas e genitália externa (feminina e masculina).

Sistema locomotor

Força muscular, grau de mobilidade, marcha, avaliação das articulações.

Fonte: ANDRIS (2006); TANNURE, GONÇALVES (2008) adaptado por BOCK (2011).

REFERÊNCIAS 1. KIMURA, M.; MIYADAHIRA, A.M.K.; CRUZ, D.A.L.M.; TAKAHASHI, E.I.U.; PADILHA, K.G.; SOUSA, R.M.C. O exame físico e o enfermeiro de UTI. Rev Esc Enf USP, 1994; 28 (2): 156-70. 2. MARIA, V.L.R.; MARTINS, I.; PEIXOTO, M.S.P. Exame clínico de Enfermagem do Adulto: Focos de atenção psicobiológicos como base para diagnósticos de enfermagem. São Paulo: Editora Iátria, 3ª. Edição, 2008. 3. DUCCI, A.J.; BENTO, S.C.T.; KROKOSCZ, D.V.C.; NOGUEIRA, L.S.; PADILHA, K.G. Avaliação do paciente crítico. In: PADILHA, K.G.; VATTINO, M.F.F.; SILVA, S.C.; KIMURA M.. Enfermagem em UTI: cuidando do paciente crítico. São Paulo: Editora Manole. 1ª. Edição, 2010. 4. ANDRIS, D.A. Semiologia: bases para a prática assistencial. Rio de Janeiro: Guanabara– Koogan, 2006. 5. POTTER, P.A.; PERRY, A.G. Fundamentos de enfermagem. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. 6. PORTO, C.C. (ed.). Exame clínico: bases para a prática médica. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2008. 7. BICKLEY, L.S. Bates– Propedêutica Médica. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan; 2005. 8. EPSTEIN, O.; PERKIN, G.D.; BONO, D.P.; COOKSON, J. Exame Clínico. Porto Alegre: Artmed, 2a. edição, 1998. 9. BARROS, A.L.B.L.; MICHEL, J.L.M.; LOPES, R.S. Avaliação clínica e técnicas instrumentais para o exame físico. In: BARROS, A.L.B.L. Anamnese e exame físico: avaliação diagnóstica de enfermagem no adulto. Porto Alegre: Artmed, 2003. 10. MOHALLEN, A.G.C.; FUGITA, R.M.I. Introdução ao exame físico. In: Posso MBS. Semiologia e semiotécnica de enfermagem. São Paulo: Atheneu, 2002. 11. KRÖGER, M.M.A.; BIANCHINI, S.M.; OLIVEIRA, A.M.L.; SANTOS, L.S.C. Enfermagem em Terapia Intensiva: do ambiente da unidade à assistência ao paciente. São Paulo: Editora Martinari, 1ª. Edição, 2010. 12. TANNURE, M.C.; GONÇALVES, A.M.P. SAE – Sistematização da assistência de enfermagem: Guia prático. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2008.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


Notícias RESOLUÇÃO COFEN No 375/2011 Número: 375 Ano: 2011 RESENHA: Dispõe sobre a presença do Enfermeiro no Atendimento Pré-Hospitalar e Inter-Hospitalar, em situações de risco conhecido ou desconhecido. O Conselho Federal de Enfermagem – COFEN, no uso das atribuições que lhe são conferidas pela Lei no 5.905, de 12 de julho de 1973, e pelo Regimento Interno da Autarquia, aprovado pela Resolução Cofen no 242, de 31 de agosto de 2000, e: CONSIDERANDO o Art. 11, Inciso I, alíneas “a, b, c, j, l e m” da Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986; CONSIDERANDO o Artigo 11, Inciso II, alíneas “a, b, c, f, g, h e l” da Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986; CONSIDERANDO o Artigo 12, alíneas “a, b, c e d” da Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986; CONSIDERANDO o Artigo 13, alíneas “a, b, c e d” da Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986; CONSIDERANDO os Artigos 15 e 20 da Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986; CONSIDERANDO os Artigos 2o e 3o do Decreto no 94.406, de 08 de junho de 1987; CONSIDERANDO o Artigo 8o, Inciso I, alíneas “a, b, c, e, f, g e h” do Decreto no 94.406, de 08 de junho de 1987;

CONSIDERANDO a Resolução COFEN no 358/2009, que dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem; CONSIDERANDO tudo o mais que consta nos autos do PAD/COFEN no 480/2009 e o Parecer no 04/2010/COFEN/CTLN/lp; e, CONSIDERANDO a deliberação do Plenário em sua 399a Reunião Ordinária, RESOLVE: Art. 1o A assistência de Enfermagem em qualquer tipo de unidade móvel (terrestre, aérea ou marítima) destinada ao Atendimento Pré-Hospitalar e Inter-Hospitalar, em situações de risco conhecido ou desconhecido, somente deve ser desenvolvida na presença do Enfermeiro. § 1o A assistência de enfermagem em qualquer serviço Pré-Hospitalar, prestado por Técnicos e Auxiliares de Enfermagem,somente poderá ser realizada sob a supervisão direta do Enfermeiro. Art. 2o No Atendimento Pré-Hospitalar e Inter-Hospitalar, os profissionais de Enfermagem deverão atender o disposto na Resolução COFEN no 358/2009. Art. 3o Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário, em especial a Resolução Cofen no 300/2005.

CONSIDERANDO o Artigo 8o, Inciso II, alíneas “a, b, c, f, h, j e l” do Decreto no 94.406, de 08 de junho de 1987; Brasília, DF, 22 de março de 2011. CONSIDERANDO os Artigos 13 e 15 do Decreto no 94.406, de 08 de junho de 1987; CONSIDERANDO a Resolução COFEN no 311/2007, que aprova a reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem;

MANOEL CARLOS NERI DA SILVA Presidente do Cofen GELSON LUIZ DE ALBUQUERQUE Primeiro-Secretário

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

31


32

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.