Ano 3 vol 14

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Conselho Científico Presidente do Conselho Cientíico

Profa Dra Regina Helena Medeiros UCS - Universidade de Caxias do Sul

EXPEDIENTE Editora: Lisiane Palau Azevedo Editora Cientíica: Regina Medeiros Assistente Editorial: Gilberto Dias de Azevedo gilbertolivros@gmail.com Produção: Álvaro Lopes (Publikmais) contato@publikmais.com.br Revisão de Português: Suliani Editograia Vendas: moriaeditora@gmail.com (51) 3351-2361 / 3334-4753 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é um periódico cientíico, cultural e proissional bimestralmente lido por 5.000 proissionais de enfermagem. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem não aceita matéria paga em seu espaço editorial. Circulação: em todo território nacional. Seis números anuais: janeiro/fevereiro, março/ abril, maio/junho, julho/agosto, setembro/outubro e novembro/dezembro. Data da Impressão: Outubro/2013. Correspondência: Moriá Editora Ltda. Rua Aracy Fróes, 258 / 902 Jardim Itu Sabará - Porto Alegre/ RS CEP: 91.210-230 Tels.: (51) 9116.9298 / (51) 3334.4753. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Números avulsos: R$ 40,00 Periodicidade: Bimestral Distribuição: Via Correios Revista Sul-Brasileira de Enfermagem reservase todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção PanAmericana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela Moriá Editora que, em qualquer situação, agirá como detentora dos mesmos.

Profa Doutoranda Adriana Aparecida Paz UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre

Profa Doutoranda Maritê Inez Argenta Faculdade Estácio de Sá/SC

Prof Dr Ana Elizabeth Figueiredo PUC/RS

Profa Dra Maria Bettina Camargo Bub UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

Prof. Dr. Ari Nunes Assunção Unisc – Universidade de Santa Cruz do Sul

Profa Dra Maria da Graça de Oliveira Crossetti UFRGS - Universidade Federal do RS

a

a

Profa Dra Beatriz Regina Lara dos Santos PUC/RS Profa Dra Dulcinéia Ghizoni Schneider Unisul /SC Profª Drª Edaiane Joana Lima Barros HU/FURG/RS

Profa Doutoranda Maria Ligia dos Reis Bellaguarda Univali/SC Profa Dra Marlene Gomes Terra UFSM - Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Dr. Edison Luiz Devos Barlem FURG/RS

Profa Dra Nara Marilene Oliveira Giradon Perlini UFSM - Universidade Federal de Santa Maria

Profa Dra Erica Rosalba Mallmann Duarte UFRGS - Universidade Federal do RS

Profa Doutoranda Nára Selaimen G. de Azeredo Grupo Hospitalar Conceição - Porto Alegre/RS

Profa Dra Giovana Calcagno Gomes FURG/RS

Profa Dra Nilva Lúcia Rech Stedile UCS - Universidade de Caxias do Sul

Profa MS Graziella Gasparotto Baiocco Grupo Hospitalar Conceição

Profa Dra Regina Gema Santini Costenaro Unifra - Centro Universitário Franciscano

Profa Dra Iride Cristofoli Caberlon Ulbra - Universidade Luterana do Brasil-Gravataí

Profa Dra Rita Catalina Aquino Caregnato Ulbra - Universidade Luterana do Brasil

Profa Dra Juliana Vieira De Araújo Sandri Univali - Universidade do Vale do Itajaí /SC

Profa Dra Roseana Maria Medeiros URI-Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-Campus Erechim/RS

Profa Dra Laura Cristina S. Lisboa de Souza UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

Profa Dra Sandra Maria Cezar Leal Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Profa Dra Lisia Maria Fenstersefer Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Enfa Estomaterapeuta Silvana Janning Prazeres SOBEST - RS

Profa Dra Lisnéia Fabiani Bock IPA - Rede Metodista de Educação do Sul Profa MS Lucila Corsino de Paiva Faculdade Maurício de Nassau - Natal/ RN Profa Dra Luzia Fernandes Milão Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profa Doutoranda Magada Tessman Schwalm Unesc/SC

Profa Dra Solange Machado Guimarães Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profa Dra Sonara Lucia Estima Unilasalle - Centro Universitário La Salle Profa Dra Sonia Beatriz Cocaro Souza UFRGS - Universidade Federal do RS Profª. Drª. Suzane Beatriz Frantz Krug UNISC /Universidade de Santa Cruz do Sul Profa MS Terezinha Valduga Cardoso

Profa Dra Maira Buss Thofehrn UFPel - Universidade Federal de Pelotas

Ulbra - Universidade Luterana do Brasil IAHCS Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde

Profa Dra Maria Ribeiro Lacerda Universidade Federal do Paraná/PR

Profa MS Vera Lucia Fortunato Fortes

UPF - Universidade de Passo Fundo A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral. Publica trabalhos originais Prof. Doutorando Marcio Neres dos Santos Prof Dr Wilian Wegner das diferentes áreas da Enfermagem, Saúde e Grupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre - RS Centro Universitário Metodista IPA/RS Universidade Federal de Ciências da Saúde áreas ains, como resultados de pesquisas, artigos de Porto Alegre (UFCSPA)/RS de relexão, relato de experiências e discussão de temas atuais.

ISSN 2236-0417


Sumário Página 03

Editorial

Artigos Página 04

Página 10

Avaliação da qualidade da assistência ao processo de parto e nascimento na percepção das usuárias Evaluation of assistance quality in labor and birth processes from users’ perception Dinara Dornfeld | Lisete Maria Ambrosi Humanização da assistência em terapia intensiva. Revisão de literatura Humanization of assistance in intensive care. Review of literature Nery José de Oliveira Jr. | Márcia Rejane Strapasson | Sheila Renata Zortéa | Deise Simão Arregino | Gabriel Becker Rosner

Página 15

Promovendo a saúde do adolescente no âmbito escolar: Projeto Adolescer Promoting teen’s health in the school environment: Project Adolescer Larissa Venturini | Lúcia Beatriz Ressel | Carolina Carbonell dos Santos | Marcella Simões Timm | Luiza Cremonese | Andrêssa Batista Possati

Página 18

Relexões sobre a realidade de registros a respeito do exame Papanicolaou e o câncer de útero Relections on the reality of records regardinh Pap smear and uterus cancer Cintia Boncoski | Dimas Aldino Dandolini | Betina Losado Rodrigues | Renato Kolcenty | Roseana Maria Medeiros

Página 22

Sistematização da assistência em enfermagem: implementação e implantação de um protocolo de enfermagem eletrônico Systematization of nursing care: implementation and deployment of a electronic protocol of nursing Samuel Spiegelberg Zuge | Crhis Netto de Brum

Página 25

Normas para publicação

Página 28

Curso Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem Aula 3: Relações Humanas Saudáveis na Equipe de Enfermagem

Página 33

Curso Terapia Intravenosa para Enfermagem Aula 3: Avaliação da rede venosa e opções para escolha do acesso

Página 38

Congressos e Eventos

Página 39

Notícias

Ficha Catalográfica R 454 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. - Vol. 1, nº 1(março/abril. 2011). Porto Alegre: Moriá Editora Ltda., 2011. -V. Bimestral ISSN 2236-0417 1. Enfermagem-Periódicos NLM WY 1

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Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


Editorial Hoje eu cuido e amanhã serei cuidado. A complexidade dos fatos observados nas últimas décadas tem levado as várias áreas do conhecimento a buscar alternativas inovadoras para responder às demandas marcadas pelas contínuas e rápidas mudanças. A realidade que se apresenta tem nos surpreendido a todo o instante ao ponto que uma ideia, mesmo antes de ser implementada, pode já estar superada. A vida humana frequentemente é considerada apenas um elemento de consumo. Os relacionamentos humanos e as interações sociais têm ficado apenas no plano superficial. A comunicação virtual, em uma fração de segundo, acaba sendo mais próxima do que a pessoa que vive ao nosso lado. A banalização dos deveres e responsabilidades sociais parece que perdeu o sentido. Nessa direção, impõe-se a necessidade do aperfeiçoamento de habilidades e competências que gerem reflexões sobre a prática a partir da ampliação das possibilidades criativas e inovadoras. Mas, acima de tudo, emerge a necessidade do fortalecimento de atitudes éticas fundamentadas por princípios e valores morais, principalmente na área da saúde, onde o foco é a vida humana. Para que uma pessoa desenvolva sua ética, seja ela moral ou profissional, é necessário que tenha consciência dos atos que pratica. Consciência indica a percepção que a pessoa tem de si, do meio em que vive e das pessoas que a rodeiam. A consciência profissional está voltada para os princípios morais e os deveres éticos que regem cada profissão e subsidiam as

deliberações pautadas no discernimento. Ela nos dá a necessária autoestima, o senso crítico, a confiança, o respeito e o reconhecimento. Nossa concepção de mundo nos direciona à crítica e ao compromisso com a vida de quem cuidamos e que necessita do olhar, do toque, da comunicação e da ação da enfermagem. Essa análise implica rever atitudes, comportamentos, valores, crenças, processos culturais, modelos conceituais e, sobretudo, ressignificar o processo de construção de conhecimento na enfermagem. Precisamos pensar na construção de uma teia de relações em que professores, enfermeiros, técnicos, auxiliares de enfermagem e alunos de todos os níveis de formação articulem uma consciência profissional dinâmica e que as virtudes morais e intelectuais sejam os fortes atributos da cultura do ser profissional, conscientes de sua profissão e descobridores de si, pela descoberta do outro, seu igual. Jamais esquecendo que hoje eu cuido e amanhã serei cuidado.

Profª. Enfª. Teresinha Valduga Cardoso. Presidente da ABEn-RS – Gestão 2010-2013. Mestre em Saúde Coletiva. Membro do Conselho Científico da Revista Sul - Brasileira de Enfermagem. Coordenadora da pós-graduação do Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS) e professora titular da ULBRA.

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Avaliação da qualidade da assistência ao processo de parto e nascimento na percepção das usuárias

Ano 2 – Número 14, maio/junho 2013 - paginas de 04 a 09

Evaluation of assistance quality in labor and birth processes from users’ perception Dinara Dornfeld*

Lisete Maria Ambrosi**

Resumo: Estudo quantitativo, exploratório-descritivo e transversal, realizado num hospital público de Porto Alegre/RS. Teve como objetivo avaliar a qualidade da assistência prestada na sua maternidade após modificações na estrutura organizacional, adotando um desenho de linha de cuidado e implementando práticas humanizadoras. Durante o período de maio a agosto de 2010, 267 mulheres responderam a um questionário, cujos resultados evidenciaram sua satisfação quanto ao seu relacionamento com a equipe de saúde. As usuárias valorizaram também a oportunidade da presença do acompanhante, do manejo não-farmacológico para alívio das dores do parto, do contato pele a pele e do aleitamento materno. Os resultados apresentados mostraram que de fato existe um empenho por parte da equipe de saúde e da gestão da maternidade para uma qualificação da assistência ao processo de parto e nascimento, valorizando-o como um momento especial e único na vida da mãe, do bebê e de seus familiares. Palavras-chave: Qualidade da assistência à saúde; Satisfação do paciente; Equipe de assistência ao paciente; Parto humanizado.

Summary: Quantitative study, exploratory-descriptive and transversal performed in a public hospital in the city of Porto Alegre/RS. Its objective is to evaluate assistance quality in the hospital’s maternity after several changes in its organizational structure, adopting a line of care configuration and implementing humanizing practices. From May to August, 2010, 267 women answered a questionnaire with resultings evidencing the increasing of satisfaction in their relationship with the health care team. The users also highlighted the importance of partners’ presence, non-pharmaceutical maneuvers to reduce labor pains, skin-to-skin contact and breastfeeding. Results point out that there is an effort from the health care team and from maternity managers to qualify the assistance in labor and birth, appreciating it as an unique and special moment in mother’s, baby’s and family’s life. keywords: Quality of Health Care; Patient Satisfaction; Patient Care Team; Humanizing Delivery.

Introdução

qualificação, na humanização da atenção e gestão, e na redução e controle de riscos aos usuários e ao meio ambiente. Nesta perspectiva, em 2004 o Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) modificou a estrutura de funcionamento e os processos de trabalho da sua maternidade no sentido de organizar o atendimento, centrando-o nas necessidades da mãe e do recém-nascido (RN), instituindo assim a Linha de Cuidado Mãe-Bebê (LCMB). O processo de construção da LCMB teve como pressuposto identificar e analisar todos os locais participantes no itinerário da assistência à mulher durante seu ciclo gravídico-puerperal. A partir daí, foram agrupados todos os profissionais envolvidos no cuidado à mãe e ao bebê, incluindo uma reestruturação da área física e redimensionamento de setores, unificando-os numa única gerência. Concomitante à implantação da LCMB, houve a regionalização do atendimento dos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Porto Alegre. Assim, as gestantes que realizam prénatal de baixo risco em alguma das 43 Unidades Básicas de Saúde (UBS) de referência ao HNSC têm assegurado o atendimento para o parto na LCMB e o agendamento da consulta puerperal, via hospital, na UBS de referência. A partir destas ações, foi possível garantir a continuidade e complementaridade

A assistência ao processo de parto e nascimento no Brasil atualmente é norteada por dois modelos de atenção à saúde: biomédico e humanista. O primeiro é tecnicista, centrado no conhecimento especializado e no uso abusivo de tecnologias. Nesta modalidade de atendimento, a mulher é tratada como uma máquina que necessita de intervenções dos profissionais da saúde para parir um bebê saudável. Os aspectos emocionais, sociais e culturais não são considerados1,2. Na contrapartida, o modelo humanista propõe que as ações em saúde sejam direcionadas para as necessidades da mulher. Sendo assim, o cuidado é interdisciplinar e as tecnologias disponíveis são utilizadas de maneira criteriosa. Além disso, a mulher é percebida como um ser integral, que trás consigo um contexto sociocultural, e por esse motivo, merece ser tratada com respeito e individualidade, assim como vivenciar a experiência do nascimento com o apoio da sua família1-3. Nesta direção, o Ministério da Saúde (MS), amparado nas preconizações da Organização Mundial da Saúde (OMS), tem implementado políticas e programas de saúde que estabelecem padrões para o funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal. Estes padrões estão fundamentados na

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Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


Avaliação da qualidade da assistência ao processo de parto e nascimento na percepção das usuárias

Esta pesquisa trata-se de um estudo exploratóriodescritivo, com desenho transversal e abordagem quantitativa, realizado na LCMB do HNSC. A LCMB está localizada no 2º andar do HNSC e constitui-se das seguintes unidades: Centro Obstétrico (CO), Alojamento Conjunto (AC), Patologias Obstétricas (PO) e Unidade Neonatal (UN). Pelo fato de a LCMB não dispor de estudo anterior que pudesse ser utilizado como base para esta pesquisa, partiu-se da hipótese de que 50% das usuárias estariam satisfeitas com a assistência prestada. Em seguida, considerando a média de 400 nascimentos/mês, estimou-se que - para um coeficiente de confiança de 95% e erro absoluto de 6% - seriam necessários 267 sujeitos de pesquisa. Participaram do estudo as mulheres que internaram no CO e pariram RNs normais, a termo ou prematuros, cujo peso de nascimento foi ≥ 2.500 gra-

RESULTADOS Mais da metade das mulheres atendidas na LCMB eram procedentes de Porto Alegre e, tendo em vista que o HNSC é hospital de referência para gestações de risco, um número considerável de mulheres era procedente do interior do estado, via central reguladora de leitos. A maioria delas estava na faixa etária entre 19 e 34 anos de idade, com escolaridade fundamental e média, morava com o companheiro e não exercia atividade econômica.

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Ano 2 – Número 14, maio/junho 2013 - paginas de 04 a 09

Dinara Dornfeld | Lisete Maria Ambrosi

MÉTODO

mas e que permaneceram juntos no AC. Não foram incluídas as mulheres que tiveram parto domiciliar; mulheres cujo RN nasceu com alguma malformação congênita, ou qualquer outra patologia que impedisse que os dois permanecessem juntos no AC; mulheres que, após período de internação no AC, o RN desenvolveu alguma patologia e necessitou de internação na UN. Para estabelecer as variáveis de estudo, esta pesquisa embasou-se no Guia Prático para Assistência ao Parto Normal da OMS1, nas preconizações do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento do MS7, na Lei do Acompanhante8 e na Resolução nº 36/2008 da ANVISA9 que regulamenta o funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal. Assim, o questionário que avaliou a satisfação das usuárias considerou como indicadores de qualidade na assistência ao processo de parturição: o relacionamento com a equipe de saúde, as informações recebidas, o incentivo à presença do acompanhante, o oferecimento de métodos não farmacológicos para alívio da dor do parto (MNFAD), a promoção do contato pele a pele (CPP) e da amamentação e a logística para o atendimento (alimentação, higienização, acomodação). O questionário composto por perguntas abertas e fechadas (Escala de Likert) foi distribuído na 1ª e na 3ª semana de cada mês, durante o período de maio a agosto de 2010, às primeiras 05 usuárias que receberam alta hospitalar junto com seu RN e aceitaram participar da pesquisa. Nessa abordagem, elas também receberam informações quanto à confidencialidade dos dados e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram processados no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 13.0 e receberam tratamento estatístico simples, com frequência absoluta e relativa. Os preceitos bioéticos foram respeitados e seguidos de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa em Seres Humanos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do HNSC/GHC (nº 10-053) e a pesquisa teve início somente após aprovação deste comitê.

Artigo Original

da atenção em saúde prestada à mulher, oficializando a linha de cuidado em rede, que aproximou o hospital da rede básica de saúde. O HNSC também é referência para gestações de médio e alto risco, logo a LCMB atende usuárias de outras localidades do estado. Além das modificações estruturais, a LCMB vem promovendo a sensibilização e capacitação de seus profissionais para um cuidado baseado em evidências científicas e no respeito aos direitos da usuária. Dessa maneira, práticas foram agregadas ao cuidado, como o incentivo ao acompanhante, o uso de métodos não farmacológicos de alívio da dor do parto e o contato pele a pele entre mãe e bebê imediatamente após o nascimento. Nessa trajetória, a equipe de saúde atuante na LCMB percebeu que estas e outras ações melhoraram a qualidade do atendimento e repercutiram na satisfação das usuárias e de seus familiares. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi avaliar a qualidade do atendimento prestado pela LCMB a mães, bebês e seus familiares, pautando-se na percepção das usuárias. Tendo em vista que a assistência em saúde é baseada na inter-relação entre o prestador de serviço e seus usuários, esta iniciativa vai ao encontro das recomendações do SUS, ao considerarem que a incorporação do usuário no modelo participativo de atenção à saúde tem início por meio da avaliação subjetiva deste quanto ao atendimento prestado4,5. Além disso, a avaliação da opinião do usuário estimula o desenvolvimento e a manutenção de boas práticas, assim como contribui para que processos de trabalho e estrutura de atendimento sejam revistos e melhor adaptados para um cuidado qualificado2,3,6.


Artigo Original

Avaliação da qualidade da assistência ao processo de parto e nascimento na percepção das usuárias

TABELA 1: Caracterização da amostra.

13 % 71 % 9%

PORCENTAGEM

Procedência: Porto Alegre Grande Porto Alegre Interior do RS

58 % 30 % 12 %

Faixa etária: 10 a 18 anos 19 a 26 anos 27 a 34 anos 35 anos ou mais

15,7 % 46,4 % 30,3 % 7,5 %

Escolaridade: Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior

Recebeu informações no trabalho de parto: Evolução do trabalho de parto Bem-estar fetal Exames realizados Medicações administradas

91 % 93 % 92 % 94 %

50 % 47 % 3%

Situação conjugal: Mora com o companheiro Não mora com o companheiro

Teve todas as dúvidas esclarecidas durante internação: Sim Não

95 % 5%

83 % 17 %

Ocupação: Do lar 53 % Prestação de serviços (doméstica, auxiliar de serviços gerais, balconista, etc) 38 % Estudante 9% Pré-Natal: Não realizou Realizou 1 consulta 2 a 3 consultas 4 a 5 consultas 6 consultas ou mais

2% 98 % 1% 7% 14 % 78%

Número de gestações: Primeira gestação Segunda gestação Terceira gestação ou mais

39 % 28% 33 %

Tipo de parto: Parto cesáreo Parto vaginal com analgesia

34,5 % 65,5 % 47%

Em relação à história reprodutiva, conforme tabela 1, 39% das mulheres eram primigestas e 33% estavam na terceira gestação ou mais. Referente a esta gestação, 78% realizaram pelo menos seis consultas de pré-natal. Quanto ao atendimento ao parto, 34,5% das parturientes realizaram parto cesáreo, 65,5% pariram por via vaginal, sendo que 47% destas receberam analgesia de parto. O atendimento prestado pela equipe de saúde da LCMB (tabela 2), foi avaliado como bom ou muito bom por 94% das mulheres. Dentre os relatos, identificou-se que a equipe foi acolhedora no sentido de demonstrar atenção, auxílio e simpatia, transmitir segurança à mulher por meio da presença constante e mostrar qualificação profissional. TABELA 2: Atendimento prestado pela equipe de saúde. VARIÁVEL

PORCENTAGEM

Satisfação com o atendimento: Muito bom Bom Regular Ruim

48 % 45 % 5% 2%

6

2% 5%

De acordo com a tabela 2, a grande maioria das usuárias foi informada quanto à evolução do trabalho de parto, o bem-estar fetal, os exames realizados e as medicações administradas. Também durante toda a internação hospitalar, as usuárias afirmaram que suas dúvidas e de seus familiares foram esclarecidas. Dentre as mulheres pesquisadas, 95% referiram que foram informadas no momento da admissão no CO quanto à possibilidade de terem um acompanhante de sua escolha (tabela 3), sendo que, desse total, 78% tiveram um acompanhante. Estas mulheres consideraram a presença do acompanhante de grande importância, pois ele lhes transmitiu segurança, confiança, garantia de cuidado adequado a elas e ao bebê, assim como representou um momento especial vivenciado pelo casal. TABELA 3: Acompanhante da mulher. VARIÁVEL

PORCENTAGEM

Recebeu informações quanto à possibilidade de acompanhante: Sim Não

95 % 5%

Teve acompanhante: Não Sim

22 % 78 %

Importância do acompanhante: Sim

Não

transmitiu segurança transmitiu confiança / apoio certificou-se do cuidado adequado representou um momento do casal

78% 40 % 45 % 8% 7%

não considerou necessário não deu tempo do familiar participar o companheiro não quis participar a equipe não permitiu não soube informar

22% 26 % 53 % 17 % 2% 2%

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Dinara Dornfeld | Lisete Maria Ambrosi

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Percepção do apoio da equipe: esclareceu dúvidas demonstrou atenção, auxilio e simpatia transmitiu segurança, presença constante demonstrou preocupação com a mãe e o bebê profissionais qualificados

VARIÁVEL


Avaliação da qualidade da assistência ao processo de parto e nascimento na percepção das usuárias

Tabela 4: Métodos não farmacológicos para alívio das dores do parto. Método

Porcentagem

Não foi convidada Massagem Banho Bola obstétrica Caminhada Respiração Outros Não quis realizar Não houve tempo para realizar

4% 13 % 16 % 12 % 25 % 22 % 0,4 % 0,6 % 7%

Percepção quanto aos métodos: aliviou a dor acelerou o trabalho de parto ajudou a relaxar ajudou na auto-confiança

24 % 8% 60 % 8%

Dinara Dornfeld | Lisete Maria Ambrosi

Tabela 5: Contato pele a pele e aleitamento materno. VARIÁVEL

PORCENTAGEM

Contato pele a pele Sim Não

94 % 6%

Sentimentos maternos experimentados felicidade sentimento indescritível alivio por RN estar bem realização medo de derrubar o RN mãe sem condições clínicas estáveis a equipe não possibilitou

70 % 13 % 7% 6% 1% 1% 2%

Apoio ao aleitamento materno Sim Não

95 % 5%

TABELA 6: Logística. VARIÁVEL

PORCENTAGEM

Alimentação Limpeza Acomodações

Bom e Muito Bom 83 % 81 % 82 %

Buscaria novo atendimento no HNSC Sim bom atendimento profissionais atenciosos e simpáticos profissionais qualificados Não demora no atendimento SUS único recurso desatenção por parte da equipe

96% 62 % 22 % 9% 3% 0,5 % 2% 1,5 %

Aquelas usuárias que demonstraram insatisfação com a assistência recebida (3%) queixaram-se da demora no atendimento na admissão do CO, desatenção por parte da equipe de saúde e que o hospital público era o único recurso que dispunham e, somente por esse motivo, buscaram a LCMB.

DISCUSSÃO A taxa de partos cesáreos, embora não seja o foco dessa pesquisa, surpreendeu pelo índice elevado. Todavia, ela não difere da média nacional no setor público (35%)10 . Um dos motivos frequentemente apontados pelos profissionais da LCMB para essa situação é que o atendimento de referência às gestações de risco estaria contribuindo para a manutenção elevada dessa taxa. Entretanto, considerando que as indicações cirúrgicas de parto também são regidas por questões complexas ligadas à formação médica e às tendências culturais da assistência10, acredita-se que esta justificativa merece ser mais bem investigada. Em relação à assistência da equipe de saúde durante o trabalho de parto e nascimento, as usuárias demonstraram satisfação com a atenção oferecida. De fato, um bom relacionamento interpessoal dos profissionais de saúde com a parturiente favorece que esta tenha liberdade para expressar seu instinto de parturição, facilitando, dessa maneira, o desenvolvimento parto2,11. Neste sentido, destaca-se ainda a satisfação com as informações oferecidas às parturientes e seus familiares. Estudos indicam que as mulheres que recebem informações claras em relação ao parto,

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A oportunidade do CPP foi relatada em 94% dos questionários (tabela 5), e as usuárias expressaram sentimentos intensos de satisfação com essa prática. A promoção do aleitamento materno - com orientações para a pega e sucção correta da mama, prevenção de fissuras, ordenha da mama, importância do colostro e tempo da mamada - foi relatada em 95% dos questionários.

Em relação à logística para o atendimento (tabela 6), mais de 80% das mulheres ficaram satisfeitas com a alimentação, a limpeza e as acomodações da LCMB. E a grande maioria da amostra (96%) ficou satisfeita no geral com a assistência oferecida na LCMB, valorizando o bom atendimento, os profissionais atenciosos, simpáticos e qualificados.

Artigo Original

Aquelas mulheres que não tiveram acompanhante (22%) informaram que: chegaram ao hospital em pleno período expulsivo e não houve tempo hábil para ele se vestir e participar, não consideraram necessário ter um acompanhante, o companheiro não quis participar, a equipe não permitiu ou não souberam informar. Durante o trabalho de parto, o MNFAD foi oferecido a 93% das parturientes (tabela 4). Entre os métodos frequentemente aplicados, destacaram-se a massagem, o banho relaxante, a caminhada, a respiração controlada e a bola obstétrica. As mulheres que realizaram um ou a combinação de métodos afirmaram que sentiram alívio da dor, que acelerou o processo de parto e que principalmente ajudou na autoconfiança e no relaxamento.


podem se mostrar mais tranquilas e seguras, repercutindo no seu protagonismo neste momento11,12. O mesmo se aplica aos familiares, que poderão ter uma melhor compreensão do processo, oferecendo à mulher o apoio necessário13,14. O respeito à Lei do Acompanhante8 foi identificado nas respostas, pois apontaram que as usuárias foram informadas quanto à possibilidade de ter um acompanhante de sua escolha. Para muitas mulheres, esta pessoa conhecida diminui o sentimento de solidão que as deixa vulneráveis, dando-lhes suporte para a liberdade de expressão e contribuindo para tornar o parto uma experiência positiva13,14. Nesse estudo as parturientes que tiveram um acompanhante se sentiram mais seguras e confiantes, corroborando com estudo semelhante13 que identificou o apoio emocional como uma das atividades mais desenvolvidas pelos acompanhantes. Além disso, as mulheres associaram à figura do acompanhante a possibilidade do parto configurar-se num evento familiar. Nas situações em que a mulher esteve desacompanhada, o fato de seus familiares não terem tido condições de se vestir a tempo para acompanhar o nascimento remete a questionamentos quanto à paramentação e ao ambiente excessivamente “assépticos” para a assistência ao parto normal, característicos do modelo biomédico. Da mesma forma, algumas parturientes optaram estar sem acompanhante, possivelmente considerandose as únicas responsáveis pelo evento e, por esse motivo, não reconhecendo a importância de compartilhá-lo14. Neste caso, apesar das evidências científicas reforçarem a importância do acompanhante, a individualidade de cada mulher deve ser respeitada, pois as opiniões dos profissionais não devem se sobrepor a sua vontade14. A justificativa de que o companheiro não quis participar pressupõem despreparo emocional, assim como o seu desconhecimento quanto ao papel do acompanhante. Esta constatação remete a possíveis falhas no desenvolvimento do pré-natal das usuárias, cujas consultas também deveriam inseri-los, preparando-os para acolher e apoiar a mulher em suas necessidades13,14. Igualmente, nos casos em que a parturiente não teve acompanhante, seja por falta de esclarecimento ou por não permissão da equipe, percebe-se que nem todos os profissionais estão suficientemente sensibilizados e orientados para essa prática. Os dados da pesquisa também confirmaram que o MNFAD foi oferecido de maneira expressiva na LCMB, superando resultados encontrados em outro estudo que identificou o desenvolvimento dessa prática em dois hospitais vinculados ao SUS (67,3%)(16). As afirmações de que o MNFAD contribuiu para o alívio da dor, aceleração do processo, assim como para a autoconfiança e relaxamento, reforçam os

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benefícios do MNFAD no suporte à mulher durante o trabalho de parto. Ele permite um controle maior sobre o processo, diferente da analgesia farmacológica, e possibilita uma experiência positiva com o parto, repercutindo inclusive no estabelecimento do vínculo mãe-bebê1,2. A oportunidade do CPP foi superior ao encontrado por uma pesquisa que avaliou as práticas de assistência ao parto em hospitais do SUS no sul do país (80,8%)2. Contudo, é sabido que nos partos cesáreo da LCMB esta prática ainda é rara e, possivelmente, o contato do RN com o rosto materno nestas situações tenha sido entendido pelas respondentes como CPP2, ocasionando um possível viés nesse ítem da pesquisa. A promoção do aleitamento materno, que foi relatada em 95% dos questionários, possivelmente esteja relacionada ao fato de o hospital ser credenciado à Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC). De acordo com pesquisas, os trabalhadores de hospitais credenciados ou em vias de se credenciar à IHAC são mais empenhados em incentivar e orientar para esta prática16 e, consequentemente, as crianças que nascem nesses hospitais tem maior probabilidade de se manter em aleitamento materno17,18. O meio no qual o cuidado é ofertado - acomodações, alimentação e higienização - foi satisfatório para a maioria das usuárias, com resultados semelhantes aos encontrados em estudo realizado num hospital-escola de São Paulo que atende usuários do SUS (72,3%)4. Em uma pesquisa5 que avaliou a satisfação do usuário com o atendimento oferecido por uma UBS, a insatisfação de 12% esteve relacionada especialmente com a infraestrutura da unidade, reforçando a importância de investigar se a logística para o atendimento está de acordo com as necessidades do usuário. As usuárias que ficaram satisfeitas de modo geral com o atendimento oferecido pela LCMB, afirmando que buscariam novo atendimento na instituição caso fosse necessário, ressaltaram o bom relacionamento interpessoal com a equipe de saúde. Este resultado é concordante com outros estudos que concluiram que a satisfação geral do usuário com o serviço prestado está diretamente relacionada à sua relação com a equipe de saúde que lhe atendeu4,5,19. Quanto à insatisfação das usuárias com a assistência recebida, a demora no atendimento na admissão do CO foi uma das principais queixas encontradas. De fato, o tempo de espera deve ser uma preocupação por parte da equipe no que diz respeito ao atendimento(19), especialmente em se tratando da assistência ao parto. A ansiedade em relação às dores do trabalho de parto e ao bem-estar do bebê intensifica na mulher e nos acompanhantes a exigência por atenção imediata.

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Avaliação da qualidade da assistência ao processo de parto e nascimento na percepção das usuárias


Avaliação da qualidade da assistência ao processo de parto e nascimento na percepção das usuárias

Esta pesquisa possibilitou à gestão e aos profissionais atuantes na LCMB uma visão abrangente de como as usuárias estavam percebendo a assistência prestada. O relacionamento interpessoal, o fornecimento de informações e o apoio oferecido pela equipe de saúde confirmaram a influência do modelo humanista na assistência ao processo de parturição, que valoriza a mulher como sujeito do seu cuidado. Igualmente, o incentivo à presença do acompanhante, a aplicação de métodos não farmacológicos para alívio das dores do parto e a promoção do contato pele a pele e do aleitamento materno mostraram que a estrutura organizacional e os processos de trabalho na LCMB estão em consonância com as preconizações da OMS e as políticas do MS. Finalmente, os resultados apresentados, embora apontem algumas inadequações, evidenciaram que existe um empenho por parte da equipe de saúde e da gestão da LCMB para uma qualificação da assistência ao processo de parto e nascimento, valorizando-o como um momento especial e único na vida da mãe, do bebê e de seus familiares.

AGR ADECIMENTOS Agradecemos a Márcia C. M. da Silva, Renata V. da Silva e Catia R. S. Neutzling, que são técnicas de Enfermagem da Unidade Neonatal/LCMB e colaboraram na coleta de dados.

1. Organização Mundial da Saúde (OMS). Maternidade Segura. Assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra: OMS; 1996. 2. Nagahama EEI, Santiago SM. Práticas de atenção ao parto e os desafios para humanização do cuidado em dois hospitais vinculados ao Sistema Único de Saúde em município da Região Sul do Brasil. Cad. Saúde Pública. 2008; 24(8): 1859-68. 3. Grando T, Cardoso SMM, Fontana R, Rodrigues FCP. Consulta pré-natal: satisfação das usuárias do SUS. Cogitare Enferm. 2012; 17(2): 336-41. 4. Ricci NAW, Silva F, Oliveira MS, Rebelatto JR. O hospital-escola de São Carlos: análise do funcionamento por meio

Recebido 26.08.2013 Aprovado 05.09.2013 * Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Especialista em Enfermagem Neonatal. Enfermeira Assistencial na Unidade Neonatal da Linha de Cuidado Mãe-Bebê/HNSC/GHC. Hospital Nossa Senhora da Conceição – Grupo Hospitalar Conceição. Av. Francisco Trein, 596. Fone: (51)33572568. E-mail:dinara@ghc.com.br. Grupos de pesquisa: GEPEETEC/UFRGS; Grupo de estudo e pesquisa e enfermagem do Grupo Hospitalar Conceição – GHC. ** Enfermeira. Especialista em Enfermagem Obstétrica. Coordenadora da Linha de Cuidado Mãe-Bebê/HNSC/GHC. Hospital Nossa Senhora da Conceição – Grupo Hospitalar Conceição. Av. Francisco Trein, 596. Fone: (51)33572568. E-mail:alisete@ghc.com.br.

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REFERÊNCIAS

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Artigo Original

CONCLUSÕES


Humanização da assistência em terapia intensiva. Revisão de literatura Humanization of assistance in intensive care. Review of literature

* Nery José de Oliveira Jr. ** Márcia Rejane Strapasson *** Sheila Renata Zortéa

**** Deise Simão Arregino ***** Gabriel Becker Rosner

Resumo – Este estudo objetivou analisar as produções científicas relacionadas à humanização do cuidado em unidade de terapia intensiva. Trata-se de um estudo descritivo, realizado por meio de uma revisão de literatura, desenvolvida nas bases de dados Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO) no período de 2008 a 2012. A revisão foi realizada em maio de 2012 com a produção científica nacional, sendo excluídos estudos internacionais, publicações inferiores a 2008 e as duplicidades. Somente sete artigos adequaram-se às exigências. Os estudos abordaram as tecnologias duras, a complexidade e ampla especialização em detrimento do cuidado humanizado. A análise possibilitou identificar a escassa produção científica referente à temática da humanização em unidade de terapia intensiva. Este estudo mostra a necessidade de maior enfoque do tema na área do cuidado intensivo nos programas de pós-graduação, com vistas a um maior enfrentamento do problema. Palavras-chave: Humanização da assistência; unidade de terapia intensiva; cuidados de enfermagem.

Abstract – This study aimed to analyze the scientific production related to humanization of care in intensive care unit. This is a descriptive study, conducted through a literature review, data bases developed in Latin American literature in Health Sciences (LILACS) and Scientific Electronic Library Online (SciELO) in the period from 2008 to 2012. The review was conducted in May of 2012 with the national scientific production, being excluded from international studies, publications below 2008 and duplicates. Only seven articles have adapted to requirements. The studies approached the hard technologies, the complexity and extensive expertise to the detriment of Humanized care. The analysis allowed identifying the scarce scientific literature on the theme of humanizing in intensive care unit. This study shows the need for greater focus of the theme in the area of intensive care in graduate programs, aiming at a greater confrontation of the problem. Keywords: Humanization of assistance; intensive care unit; nursing care.

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Introdução A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um local destinado a pacientes de alta complexidade. É um ambiente onde se exige um profissional altamente preparado para prestar assistência contínua e humanizada(1). Entretanto, considerando-se como assistência intensiva aquela que se constitui de observação rigorosa e contínua de pessoas criticamente enfermas, pode-se afirmar que esta modalidade de assistência remonta à época das antigas civilizações, como a dos faraós no Egito2. Especificamente falando, a enfermagem, como profissão, teve início na Inglaterra, no século XIX. Florence Nightingale iniciou esse trabalho, recrutando e disponibilizando treinamentos para um grupo de mulheres, com o intuito de colaborar nos cuidados e na higiene dos soldados da Guerra da Crimeia (1854-1856).2 Florence, visionariamente idealizou a classificação de doentes de acordo com o grau de dependência individual, dispondo os pacientes mais dependentes próximos ao local de trabalho dos enfermeiros, facilitando assim o atendimento, e aumentando a vigilância2.

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Com o passar do tempo, tornou-se necessário realizar maiores cuidados ao paciente no período pós-operatório, em virtude do avanço dos procedimentos cirúrgicos, o que culminou rapidamente na criação das unidades especiais de terapia. Nessas unidades adjacentes à sala cirúrgica, primeiramente, o acompanhamento pós-cirúrgico era feito pelo cirurgião e, após, pelo anestesista. A responsabilidade do cuidado e tratamento clínico dos pacientes de risco, com o tempo, passou a ser dos enfermeiros2. No Brasil, as UTIs surgiram por volta da década de 1970, representando um marco nos progressos obtidos pelas instituições hospitalares, pois antes delas os pacientes gravemente enfermos eram tratados nas enfermarias, não dispondo de todos os recursos materiais e humanos, tampouco de estrutura física para um melhor atendimento2. No contexto social, a tecnologia é entendida como um fator desumanizante para as pessoas que a manipulam, bem como para as que se utilizam dela. A luta contra a morte acaba por confundir a máquina com o paciente, e este pode ser tratado de forma mecânica17.

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de saúde, levando em conta que sujeitos sociais, quando mobilizados, são capazes de modificar realidades, transformando a si próprios neste mesmo processo7-8. As reflexões filosóficas no campo da humanização vêm adquirindo grande importância, principalmente, diante do princípio da responsabilidade científica e social e da aparente impotência da ética frente ao ser humano tecnológico, capaz de organizar, desorganizar e mudar, radicalmente, os fundamentos da vida, sendo capaz de se destruir.(9) Neste contexto, este estudo justifica-se pela sua relevância enquanto política de humanização da assistência em uma linha do cuidado bastante desenvolvida no que tange ao avanço tecnológico e científico, caracterizando-se como um espaço ainda bastante tecnicista e mecânico. Frente a isso, a questão norteadora deste estudo busca responder como a humanização do cuidado em terapia intensiva é abordada nas pesquisas científicas? Diante dessa indagação, este estudo tem como objetivo analisar as produções científicas relacionadas à humanização do cuidado em unidade de terapia intensiva.

Metodologia Trata-se de um estudo descritivo, realizado por meio de uma revisão da literatura. Esse tipo de revisão contribui no processo de sistematização e análise dos resultados, visando à compreensão de um determinado tema a partir de outros estudos independentes, sendo operacionalizado em seis etapas: delimitação da questão de pesquisa; estabelecimento de critérios para inclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura; definição das informações a serem extraídas dos estudos; avaliação dos estudos; interpretação dos resultados; e apresentação da síntese do conhecimento10-11. A presente pesquisa foi realizada junto à Biblioteca Virtual de Saúde (BVS-BIREME), elegendo as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), que são bases de dados consideradas referências na produção na área da saúde. Em ambas as bases utilizaram-se os seguintes descritores: Humanização da Assistência and Unidade de Terapia Intensiva and Cuidados de Enfermagem. Inicialmente, para seleção dos estudos desta revisão de literatura, foram incluídos somente artigos oriundos de estudos realizados no Brasil, com artigo completo, em idioma português, que continham informações referentes à temática da humanização na enfermagem em tratamento intensivo. Assim, excluíram-se os estudos internacionais, artigos com ano de publicação inferior a 2008, incompletos,

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O cuidado é uma peculiaridade do humano, uma condição de vida primária para a sua existência. Dessa forma, valores humanos como fé, esperança, confiança, sensibilidade e ajuda são aspectos importantes a serem estimulados e inseridos no processo de cuidar, e eles devem estar presentes para que o cuidado possa tornar-se holístico. O cuidador intensivista deve possuir conhecimento técnico-científico e atitude humana, através da relação interpessoal, eis que o paciente depende do profissional da saúde17. Muitas vezes não percebemos a importância que temos, enquanto profissionais de saúde, para o paciente internado em uma UTI. O medo gerado pela proximidade da morte, os conflitos internos e as relações familiares podem causar grande desconforto para ele. O cuidado de enfermagem na UTI não se restringe a uma ação tecnicista e mecânica no sentido de fazer, mas também no sentido de ser, expresso de forma atitudinal, pois é relacional3. O trabalho em UTI possibilita conviver com algumas características próprias, como: a convivência diária dos profissionais e dos sujeitos doentes com as situações de risco; a ênfase no conhecimento técnico-científico e na tecnologia para o atendimento biológico, com vistas a manter o ser humano vivo; a constante presença da morte; a ansiedade, tanto dos sujeitos hospitalizados quanto dos familiares e trabalhadores de saúde; as rotinas, muitas vezes, rígidas e inflexíveis; e a rapidez de ação no atendimento4. Nesta perspectiva, o cuidado pode ser expresso de dois modos: como uma forma de sobrevivência ou como forma de carinho, em que há o interesse por uma outra pessoa e se deseja o bem-estar de alguém. Este último não se refere apenas a um bem-estar físico (conforto ou ausência de dor), mas também ao emocional (segurança, confiança, comunicação, demonstrações de carinho)5. Frente à dinamicidade do cuidado, o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), instituído pelo Ministério da Saúde em 2001, propõe um conjunto de ações integradas que visam mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil, melhorando a qualidade e a eficácia dos serviços prestados por estas instituições. Seu objetivo é aprimorar as relações entre o profissional de saúde e o usuário, dos profissionais entre si e do hospital com a comunidade6. A humanização na saúde pode ser entendida como processo, filosofia ou modo de prestar assistência, a fim de proporcionar trocas de saberes que incluem os usuários e toda a rede social, diálogo entre os profissionais e modos diferenciados de trabalhar em equipe. Para tanto, a humanização apresenta-se como uma estratégia a ser utilizada para interferir positivamente no processo de produção

Artigo de revisão

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Humanização da assistência em terapia intensiva. Revisão de literatura


Artigo de revisão

Humanização da assistência em terapia intensiva. Revisão de literatura

sem resumo nas bases de dados e as duplicidades. A busca pelas produções foi conduzida no mês de maio de 2012. É importante ressaltar que foi selecionado o período entre 2008 e 2012 para a busca dos artigos primeiramente na intenção de gerar bases atuais para esta revisão. É crível que a humanização em UTI é um tema discutido com mais vigor, visibilidade e atenção nos últimos anos. Foram identificados 17 estudos na base de dados LILACS. Após uma análise minuciosa, 5 se adequavam aos critérios de inclusão. Na base de dados SciELO foram localizados 13 estudos, sendo que dois obede-

ciam aos critérios de seleção e 11 encontravam-se indexados na LILACS concomitantemente. Dessa forma, dois estudos foram inclusos. Portanto, a amostra constituiu-se em 7 estudos para esta revisão de literatura. Para análise e posterior síntese dos artigos selecionados, foi construído um quadro sinóptico, que contemplou os aspectos considerados pertinentes: título do artigo; nome dos autores; local de origem das produções científicas, tipo de estudo, análise, resultados e considerações/conclusões. Os dados utilizados neste estudo foram devidamente referenciados e seguido rigor ético no que se refere à propriedade intelectual dos estudos científicos pesquisados12.

Resultados e discussão

Código

Nome do artigo

Autores

Base de dados

Periódico

Ano de publicação

A01

Reflexões acerca da assistência de enfermagem e o discurso de humanização em terapia intensiva.

Silva RCL, Porto IS, Figueiredo NMA

LILACS

Esc Anna Nery Rev Enferm

2008

A02

Comunicação como instrumento de humanização do cuidado de enfermagem: experiências em unidade de terapia intensiva.

Barlem ELD, Rosenhein DPN, Lunardi VL, Lunardi Filho WDL

LILACS

Revista Eletr. Enf.

2008

A03

Princípio da integralidade numa UTI pública: espaço e relações entre profissionais de saúde e usuários.

Oliveira R, Maruyama, SAT

LILACS

Rev. Eletr. Enf.

2009

A04

Expectativas de familiares de clientes em UTI sobre o atendimento em saúde: estudo sociopoético

Silva FS, Santos I

LILACS

Esc Anna Nery Rev Enferm

2010

A05

A integralidade e suas interfaces no cuidado ao idoso em unidade de terapia intensiva

Furuya RK, Birolim MM, Biazin DT, Rossi LA

LILACS

Rev. enferm. UERJ

2011

A06

Humanização em Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI): compreensões da equipe de enfermagem

Costa SCC, Figueiredo MRB, Schaurich D

SciELO

Comunicação saúde educação

2009

A07

Assistência em Enfermagem na Perspectiva da Clínica Ampliada em Unidade de Terapia Intensiva

Campos LF, Melo MRAC

SciELO

Rev. Gaúcha de Enf

2011

Figura 1 – Descrição dos estudos incluídos na revisão integrativa, segundo autor(es),base de dados, periódicos e ano de publicação. Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores. Porto Alegre, RS, 2012.

Em termos de evolução temporal, os estudos foram realizados nos anos de 2008, 2009, 2010 e 2011. Tais achados mostram que no decorrer dos anos o atendimento em terapia intensiva tornou-se mais

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valorizado, principalmente pela melhoria dos recursos humanos e tecnológicos e a criação de um plano individualizado para o paciente, não deixando de lado a inclusão da família, a fim de melhorar

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Primeiramente, apresentamos o quadro sinóptico com os artigos encontrados e selecionados para esta revisão (Figura 1).


dade nos diferentes níveis do cuidado e apresentam o acolhimento e a escuta como ferramentas formadoras de vínculo e responsabilidade neste universo fragmentado e tecnicista do cuidado intensivo. Diante do exposto, (A01) infere que muito facilmente os profissionais de unidade de terapia intensiva transformam a sua relação com a máquina e o cuidado de enfermagem num ato mecânico, vendo o cliente como extensão do aparato tecnológico. Neste sentido, os profissionais necessitam de compromisso em seu papel de cuidador, valorizando o ser humano conforme suas potencialidades e vivências, inserindo na prática os processos dinâmicos, participativos e solidários a partir da comunicação instituída, caracterizando práticas assistenciais (A07 A02). A comunicação contribui para melhorar o entendimento da realidade e estreitar relações, modificando os fatos. A comunicação em UTI torna-se importante e contribui na vivência dos pacientes, pois na maioria das vezes é um tratamento agressivo e doloroso, inserido em um ambiente mecanicista, gerando uma percepção desagradável (A02). Contudo, a humanização da assistência não permeia apenas as relações de responsabilidade do profissional da saúde, mas primeiramente a organização hospitalar e as políticas públicas (A01). Portanto, a proposta da humanização em unidade de terapia intensiva requer que a organização proporcione estrutura física, tecnológica, humana e administrativa que valorize e respeite o usuário, garantindo-lhe acesso, atendimento resolutivo e acolhedor15. Assim, o usuário passa a ser visto como um sujeito histórico, social e político, articulado ao seu contexto familiar, ao ambiente e à sociedade na qual se insere. O atendimento realizado pela equipe multiprofissional passará a ter uma abordagem holística e integral16.

Consider ações finais Por meio desta revisão de literatura percebeu-se que a internação em uma UTI desencadeia sentimentos de insegurança e sofrimento para o paciente e familiares. Além disso, possibilitou dar visibilidade às produções brasileiras sobre a humanização em UTI, evidenciando-se que dentro do período estabelecido para o estudo, esta temática foi pouco investigada. Isto se configura como uma prerrogativa pouco aprofundada no que tange à temporalidade do lançamento da proposta pela política de humanização – HumanizaSUS, feita pelo Ministério da Saúde ainda em 2004. Percebeu-se que a investida pela diversidade e complexidade do arsenal tecnológico nestas unidades de cuidado intensivo desafia os profissionais constantemente para o desenvolvimento de competências e habilidades na aplicabilidade do

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a qualidade da assistência prestada ao indivíduo e diminuir a ansiedade do paciente e familiar. A humanização como processo das relações em UTI é de suma importância e preocupação para os gestores e profissionais de saúde, por ser grande o desafio de melhorias nas práticas assistenciais. A necessidade do envolvimento e compreensão do significado da vida do ser humano, vindo ao encontro de trabalhar juntamente com a família no cuidado ao paciente demonstrando melhorias, expressando expectativas e reconhecimentos, agrega as melhorias do indivíduo internado. Na análise dos estudos, evidenciou-se que as UTIs são consideradas locais de cuidados altamente especializados, que requerem tecnologias duras e profissionais qualificados para desenvolver processos médico-assistenciais seguros e de qualidade, porém a utilização destas ferramentas para cuidar pode expor o paciente a condições vistas como pouco humanizadas (A01). Durante a internação, a fragilidade e a vulnerabilidade são potencializadas pela concepção e percepção de que a UTI é um espaço terminal e não local de tratamento e recuperação. Entretanto, se por um lado o usuário internado na unidade de tratamento intensivo vivencia a aproximação de pessoas especializadas, amparadas por recursos tecnológicos avançados, por outro lado, vivencia sentimentos de invasão de privacidade, perda de identidade, medo da morte, solidão pelo distanciamento de seu cotidiano e família (A03). A hospitalização em unidade de terapia intensiva interfere diretamente na rotina e na autonomia do usuário, além do distanciamento da família e do estresse pelo desconhecido e visão desta unidade como um ambiente agressivo, tenso e traumatizante relacionado à falta de condições favoráveis ao sono, luminosidade intensa, ao isolamento, presença de equipamentos estranhos, suposição da gravidade da doença (A05). Frente à premissa de que estes serviços precisam ser humanizados, gera-se a ideia de impessoalidade, insensibilidade, automatização e mecanização nas unidades de terapia intensiva13. Nesse contexto, o Ministério da Saúde cria o Programa Nacional de “Humanização” da Assistência Hospitalar (humanizaSUS)14, conferindo ao usuário direito e autonomia no processo de saúde. Colaborando com este princípio, os estudos (A01, A04 e A06) inferem que o programa de humanização busca transformar o cenário da assistência e as práticas de cuidar a partir da construção dialógica do cuidado entre usuário e profissional de saúde. Importa citar que o programa de humanização objetiva efetivar os princípios do SUS nas práticas de atenção e gestão. Nesta mesma dinâmica, os estudos (A03 e A05) relacionam a humanização do cuidado em unidade de terapia intensiva com o princípio da integrali-

Artigo de revisão

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Humanização da assistência em terapia intensiva. Revisão de literatura


Artigo de revisão

Humanização da assistência em terapia intensiva. Revisão de literatura

Ano 2 – Número 14, maio/junho 2013 - paginas de 10 a 14

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terson e Zderad. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2004; 12(2). 5. Waldow VR. Cuidado humano: o resgate necessário. 3ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto; 2001. 6. Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde; 2001. 7. Brasil. Política nacional de humanização. HumanizaSUS, 2006. Disponível em: www. portalsaude.gov.br (acesso em 25/05/12). 8. Lazzari DD, Jacobs LG, Jung W. Humanização da assistência na enfermagem a partir da formação acadêmica. Rev Enferm UFSM 2012 jan/abr; 2(1):116-24. 9. Backes DS, Koerich MS, Erdmann AL. Humanizing care through the valuation of the human being: resignification of values and principles by health professionals. Revista Latino -Americana de Enfermagem, 2007; 15(1). 10. Brusamolin L, Montezeli JH, Peres AM. Use of the managerial abilities by nurses of a ready attendance hospital. Rev Enferm UFPE Online [periódico na internet]. 2010 abr/jun; 4(2):808-14. 11. Garbin LM, Rodrigues CC, Rossi LA, Carvalho EC. Classificação de resultados de enfermagem (NOC): identificação da produção científica relacionada. Rev Gaúch Enferm. 2009; 30(5):508-15. 12. Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto Enferm. 2008 out/dez; 17(4):758-64. 13. Santoro DC. Situação do sistema de saúde no Brasil e os cuidados desenvolvidos nas unidades de terapia intensiva. Esc Anna Nery Rev Enferm 2001 ago; 5(2):259-61. 14. Ministério da Saúde (BR). Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Brasília (DF); 2000. 15. Mezzomo JC. Gestão da qualidade na saúde: princípios básicos. Barueri: Manole; 2001. 16. Machado MFAS, Monteiro EMLM, Queiroz DT, Vieira NFC, Barroso MGT. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS: uma revisão conceitual. Ciênc saúde coletiva. 2007; 12:335-42. 17. Dias,GT. et al. Humanização do cuidado na UTI: uma possibilidade real. Arq Ciênc Saúde, [s.l.]; 2008. 18. Campos LF, Melo MRAC. Assistência em Enfermagem na perspectiva da clínica ampliada em unidade de terapia intensiva. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, 2011, mar; 32(1):189-93. 19. Barlem ELD, Rosenhein DPN, Lunardi VL, Lunardi Filho, WD. Comunicação como instrumento de humanização do cuidado de enfermagem: experiências em unidade de terapia intensiva. Revista Eletrônica de Enfermagem [internet]. 2008; 10(4):1041-9.

Recebido 15.11.2012 Aprovado 05.06.2013 * Nery José de Oliveira Jr. – Especialista em Terapia Intensiva e MBA em Gestão em Saúde. Enfermeiro gestor da Área Cirúrgica do Hospital Giovanni Batistta / Sistema de Saúde Mãe de Deus. Porto Alegre. E-mail: nery.oliveirajr@gmail.com. ** Márcia Rejane Strapasson – Enfermeira. Especialista em Enfermagem Obstétrica. Enfermeira gestora da Materno Infantil do Hospital Universitário da ULBRA / Sistema de Saúde Mãe de Deus. Mestranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Integrante GEMBE/UFRGS. E-mail: marcirejane@yahoo.com. *** Sheila Renata Zortéa – Enfermeira assistencial Centro Obstétrico do Hospital Universitário da ULBRA / Sistema de Saúde Mãe de Deus. E-mail: sheila.zortea@maededeus.com.br. **** Deise Simão Arregino – Enfermeira assistencial da Sala de Recuperação do Hospital Mãe de Deus. E-mail: deise.arregino@ hotmail.com. ***** Gabriel Becker Rosner – Enfermeiro assistencial do Centro Cirúrgico do Hospital Giovanni Batistta / Sistema de Saúde Mãe de Deus. E-mail: gabriel-becker@hotmail.com.

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Nery José de Oliveira Jr | Márcia Rejane Strapasson | Sheila Renata Zortéa | Deise Simão Arregino | Gabriel Becker Rosner

cuidado humanizado, agregando valores, crenças e experiências individuais. No entanto, humanizar estes ambientes tornaria o processo do cuidado amplamente qualificado, seguro e de excelência. Aliar tecnologias leves ao cuidado especializado e amplamente tecnológico possibilitaria desenvolver instrumentos de monitoramento sistêmico junto ao usuário, visando coibir as práticas desumanizadoras. Diante deste cenário, o enfermeiro encontra-se numa posição estratégica, podendo participar como agente transformador desta cultura tecnicista, impessoal e mecânica das unidades de tratamento intensivo, frisando a qualidade da assistência e enfatizando a humanização no cuidado com uma visão holística. A qualidade do atendimento a ser prestado, bem como o apoio diligenciado pelo enfermeiro, podem ser fundamentais no suprimento das necessidades individuais de cada paciente dentro da UTI, amenizando seus medos e anseios frente à situação e ao ambiente hostil no qual se encontram. O enfermeiro, por estar constantemente próximo ao leito, junto ao paciente, é o profissional mais habilitado a dedicar e fornecer o apoio habitual de que esse indivíduo necessita, podendo priorizar a humanização no leito intensivo. Estudos exploratórios sobre a temática da humanização no cuidado intensivo poderão ser realizados nos programas de pós-graduação com vistas à sensibilização dos profissionais da saúde e da comunidade científica, no que se refere à adoção de estratégias de humanização do cuidado com vistas à universalidade, integralidade e equidade.


Promovendo a saúde do adolescente no âmbito escolar: Projeto Adolescer Promoting teen’s health in the school environment: Project Adolescer

* Larissa Venturini ** Lúcia Beatriz Ressel *** Carolina Carbonell dos Santos

**** Marcella Simões Timm ***** Luiza Cremonese ****** Andrêssa Batista Possati

Resumo – Este trabalho é um relato de experiência de acadêmicos de enfermagem. Tem-se como objetivo reconhecer o espaço escolar como estratégia para realizar atividades de educação em saúde com adolescentes. A relação entre os setores de educação e de saúde pode ser aprimorada e desenvolvida numa perspectiva de proporcionar melhor qualidade de vida aos adolescentes. Partindo dessas premissas, o Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de Enfermagem da UFSM busca refletir por meio do Projeto Adolescer acerca da promoção da saúde do adolescente. O desenvolvimento do projeto tem demonstrado a escola como um espaço possibilitador para realizar ações de educação em saúde. Percebe-se que os participantes do projeto têm desenvolvido temas da adolescência com consciência crítica e reflexiva. Atividades como estas podem servir para a diminuição de problemas no futuro desses adolescentes e contribuir para a melhora da qualidade de saúde. Palavras-chave: Educação em saúde; escolas; adolescentes; enfermagem.

Abstract – This paper is a Nursing student experience report. Its goals are to recognize the school environment as a strategy to execute health education activities with teenagers. The connection between the education and health sectors can be improved and developed in a perspective of providing better quality in life to the teens. Based on these assumptions, the Tutorial Education Program (PET, in Portuguese) of the Nursing School of the Universidade Federal de Santa Maria, searches to reflect through the Project Adolescer regarding health promotion for adolescents. The development of the project has proved the school space as an enabler for actions of health education. It’s clear that the project participants have managed the youth issues with critical and reflective awareness. Activities such as this can serve to reduce the future problems of these teenagers and contribute to improve their health quality. Keywords: Health education; schools; adolescent; nursing.

Introdução dio de amanhã4. Tal situação reforça a atuação do profissional de saúde quanto à prevenção de riscos e à promoção de saúde do adolescente. Entretanto, a implementação dessas ações pelos profissionais de saúde não é simples, uma vez que se percebe que os adolescentes não adentram cotidianamente as unidades de saúde como as demais pessoas, e as práticas assistenciais como a Estratégia de Saúde da Família têm revelado dificuldades em vincular os adolescentes às ações propostas. Desse modo, é importante que o setor saúde busque sistematizar práticas integrais e efetivas junto aos adolescentes, implementando estratégias em locais que já se encontram no seu cotidiano, incluindo a escola. A escola desempenha papel fundamental na formação e atuação dos adolescentes em todas as arenas da vida social e constitui um espaço privilegiado para a promoção de saúde, uma vez que é percebida como um território de relações interpessoais situadas em um determinado contexto socioeconômico-cultural que envolve diversos atores5. É no ambiente escolar que os estudantes passam a maior parte do seu dia e estabelecem relações e vínculos. A escola também atua de maneira signi-

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A adolescência pode ser entendida como o período entre a infância e a idade adulta que dá continuidade a um processo dinâmico, iniciado com o nascimento, no qual ocorrem transformações físicas, sociais e psicoemocionais1. Para o Ministério da Saúde, a adolescência é tida como fase de vulnerabilidades e potencialidades, importante para se enfocarem os problemas associados à gravidez não planejada, o risco de contrair HIV, do uso de drogas ilícitas e da morte frente à violência2. Percebe-se que a adolescência é um momento muito especial na vida de todo ser humano, apresentando características próprias e determinando cuidados especiais3. Faz-se necessário que, durante esse período de desenvolvimento físico-emocional, haja maior observância das demandas e necessidades existentes para a promoção de saúde em um enfoque ampliado, visando conduzi-los para a fase adulta com integridade, enquanto ser holístico, promovendo a saúde e evitando agravos, muitas vezes irreversíveis. Horta, Madeira e Armond pressupõem que o adolescente bem-assistido hoje, nos aspectos referentes a esse momento de sua vida, poderá ser o adulto sa-


Relato de Experiência

Promovendo a saúde do adolescente no âmbito escolar: Projeto Adolescer

Ano 2 – Número 14, maio/junho 2013 - paginas de 15 a 17

Objetivo Este trabalho tem como objetivo reconhecer o espaço escolar como estratégia para realizar atividades de educação em saúde com adolescentes.

Metodologia Este trabalho é baseado em vivências de acadêmicos de enfermagem da UFSM no Projeto Adolescer. Para o desenvolvimento das ações educativas deste projeto, realizam-se oficinas lúdico-pedagógicas semanais, numa proporção de cinco a oito encontros por escola, com grupos de 15 a 20 alunos, tendo duração de noventa minutos cada encontro, aproximadamente. As oficinas são balizadas na Metodologia Participativa. Nesta metodologia, as experiências de acadêmicos e adolescentes são fundamentais. Esta técnica de grupo está contida no manual “Adolescer: compreender, atuar, acolher” do Projeto Acolher, que é uma iniciativa da Associação Brasi-

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leira de Enfermagem e do Ministério da Saúde. Na metodologia participativa, é possível desenvolver a educação em saúde, ampliando sua atuação nas escolas, pois este é um espaço ideal para reflexões, compartilhamento de saberes e a realização de dinâmicas com temáticas pertinentes a essa fase6.

Resultados e discussões Por meio de ações educativas, é possível envolver os adolescentes nestas escolas em que o projeto atua, trabalhando com temáticas relacionadas a essa fase da vida e de interesse dos mesmos, por meio da livre escolha de temas previamente selecionados pelos grupos de adolescentes. Destaca-se a relevância de verificar as necessidades dos adolescentes, uma vez que o interesse pelas ações de educação em saúde ocorre no momento em que essas ações possuam significados7. Percebemos que a escola desempenha um papel fundamental na educação dos adolescentes, e as atividades de educação em saúde assumem papel estratégico no espaço escolar. Assim, as dinâmicas grupais devem ser entendidas como técnicas motivadoras que contribuem para o desenvolvimento de atividades de educação em saúde8 por meio da criatividade e fixação dos conhecimentos adquiridos, vindo ao encontro das expectativas dos participantes das ações. A educação em saúde com adolescentes é vista por Souza e colaboradores como um instrumento importante na construção de habilidades para a vida dos jovens, por lhes possibilitar resistir às pressões para condutas de risco que possam agredir sua saúde e seu desenvolvimento7. O desenvolvimento do Projeto Adolescer contribui para o crescimento desse adolescente na sociedade como cidadão inserido em seu contexto social. A partir desses encontros, é possível criar um vínculo para que os adolescentes tenham confiança no trabalho que está sendo feito e aproveitem a oportunidade para explanar suas dúvidas e angústias que permeiam o período da adolescência. Realizar atividades de educação em saúde no âmbito escolar também tem como contribuição indireta a diminuição de barreiras entre o serviço de saúde e as escolas, visto que esses adolescentes são futuros multiplicadores na sociedade. Os assuntos tratados nas oficinas referem-se à criação da identidade do adolescente, as transformações físicas, psicológicas, sociais e culturais, vivência responsável da sexualidade, gravidez precoce, métodos anticoncepcionais, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), uso de álcool e outras drogas, relacionamento familiar, situação de violência, bullying e o uso da internet.

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Larissa Venturini | Lúcia Beatriz Ressel | Carolina Carbonell dos Santos | Marcella Simões Timm | Luiza Cremonese | Andrêssa Batista Possati

ficativa na formação de opiniões e na construção do caráter, sendo um local de referência para a implementação de qualquer programa que vise à educação e à conscientização. A adolescência é marcada por inúmeras transformações de origem física, biológica e social. Nesse período surgem dúvidas, conflitos, descobertas, angústias, medos, curiosidades entre tantos outros sentimentos que permeiam o ser adolescente. Frente à demanda da adolescência em serviços de saúde e atividades interligadas a escolas, o Grupo PET (Programa de Educação Tutorial) de Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), desenvolve desde 2003 o Projeto de Ensino e Extensão “Adolescer” com alunos adolescentes da rede pública de ensino fundamental da região norte do município de Santa Maria, RS, Brasil. Realizam-se, com os grupos de adolescentes, atividades relacionadas ao processo de adolescer, promovendo educação em saúde, possibilitando a conscientização dos adolescentes e contribuindo para a formação de seres humanos empoderados, com capacidade de realizar escolhas e tomar decisões de acordo com seus valores, expectativas, necessidades, prioridades e crenças pessoais, uma vez que a escola é o local em que se concentra o maior número de adolescentes. O Projeto Adolescer procura tornar o grupo de adolescentes um espaço de reflexão, empoderamento e discussão para tentar diminuir os riscos a que esses jovens estão expostos e procurar fazer desse período da vida um momento de amadurecimento e reconhecimento de seus valores.


Nos encontros, busca-se a interação entre os participantes, fomentando a ludicidade e a liberdade nas atividades, assim, promovendo o comprometimento e a motivação para a aprendizagem. No decorrer das oficinas, é possível construir um espaço dialógico com os adolescentes, pois eles têm a oportunidade de manifestar suas opiniões e pensamentos sobre os temas abordados. Isso permite a obtenção e a troca de conhecimentos, de acordo com as necessidades oriundas da realidade em que estão inseridos9. Desta maneira, o projeto busca contribuir com a promoção da saúde dos adolescentes e com a construção coletiva de conhecimento na área da enfermagem, por meio de uma produção que remeta à promoção do desenvolvimento saudável da juventude. Percebe-se nessa vivência a importância da educação em saúde como instrumento de troca de experiências e de empoderamento dos participantes, principalmente para esta população, que somente há pouco tempo vem recebendo atenção especial. Os participantes são sensibilizados por meio do empoderamento para serem multiplicadores dos conhecimentos adquiridos nos encontros.

Consider ações finais

Referências 1. Maakaroun MF, Souza PR, Cruz AR. Tratado de adolescência: um estudo multidisciplinar. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 1991. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Área de Saúde do Adolescente e do Jovem. Marco Legal: Saúde, um direito de adolescentes. Brasília: MS; 2005. 3. Françoso LA, Gejer D, Reato LFN. Sexualidade e saúde reprodutiva na adolescência. São Paulo: Atheneu; 2001. 4. Horta NC, Madeira AMF, Armond LC. Desafios na atenção à saúde do adolescente. In: Borges ALV, Fujimori E. Enfermagem e a saúde do adolescente na atenção básica. São Paulo: Manole; 2009. p. 41-119. 5. Rocha CMR, Ferriari MGC, Souza MSS. Acompanhamento do adolescente na escola – Projeto Adolescer. In: Adolescer: compreender, atuar, acolher. Projeto Acolher. Brasília: Ministério da Saúde / ABEn; 2001. 6. Brasil. Ministério da Saúde. Associação Brasileira de Enfermagem. Adolescer: compreender, atuar, acolher. Brasília; 2001. 7. Souza MM, Brunini S, Almeida NAM, Munari DB. Programa educativo sobre sexualidade e DST: relato de experiência com grupo de adolescente. Rev Bras Enferm. 2007 jan-fev; 60(16):102-5. 8. Ferreira MA. A educação em saúde na adolescência: grupos de discussão como estratégia de pesquisa cuidado e educação. Texto & contexto enferm. 2006 abr/jun; 15(2):205-11. 9. Ressel LB. A vivência de acadêmicos de enfermagem como oficineiros em grupos de adolescente. Revista Mineira de Enfermagem. 2011 abr/jun.

Recebido 18.06.2013 Aprovado 07.09.2013 * Acadêmica de Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Enfermagem – MEC/SESu. ** Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Tutora do Programa de Educação Tutorial – PET Enfermagem – MEC/SESu. *** Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pelotas.

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A escola deve ser interpretada como um espaço não só de formação, mas também de conhecimento e informação. Os alunos participantes têm desenvolvido a promoção da saúde através de temas de responsabilidade social e adolescência com consciência crítica e reflexiva. Os espaços dialógicos promovidos nos encontros possibilitam um espaço de respeito às singularidades e aos pares, promovendo o exercício da cidadania. Ainda assim, a reflexão do adolescente contribui na sua formação como ser humano e na autonomia

para que suas decisões e opções sejam tomadas de forma consciente e com responsabilidade. Também se percebe a essencialidade de ações desse nível em caráter escolar, em consideração de que é na escola que eles passam a maior parte do seu tempo, criam vínculos e amizades, e essas espelham as suas atitudes. Atividades primárias como esta pode servir para redução de problemas no futuro desses adolescentes e contribuir para melhora da qualidade dos serviços de saúde e na vida desses jovens.

Relato de Experiência

Larissa Venturini | Lúcia Beatriz Ressel | Carolina Carbonell dos Santos | Marcella Simões Timm | Luiza Cremonese | Andrêssa Batista Possati

Promovendo a saúde do adolescente no âmbito escolar: Projeto Adolescer


Reflexões sobre a realidade de registros a respeito do exame Papanicolaou e o câncer de útero Reflections on the reality of records regardinh Pap smear and uterus cancer * Mariana Ferreira Arrieche Lopez

** Beatriz Sebben Ojeda

* Cintia Boncoski ** Dimas Aldino Dandolini *** Betina Losado Rodrigues

**** Renato Kolcenty ***** Roseana Maria Medeiros

Resumo – O presente artigo tem por finalidade discorrer sobre o câncer de colo uterino, identificando o que é útero, o que é câncer de útero, atipias mais relevantes e discutir os dados obtidos em pesquisa junto a Coordenadoria Regional de Saúde de um município ao norte do RS e DATASUS. Após a coleta observou-se e analisou-se a realidade de prevenção do câncer de útero. Os dados foram extraídos de coletas dos exames citopatológicos e permitiram olhar algumas incongruências na cobertura prestada à saúde da mulher. No mesmo estudo propuseram-se algumas alternativas almejando colaborar para a melhoria na Atenção Básica à Saúde da Mulher. Palavras-chave: Câncer de colo uterino; exame citopatológico; Sistema Único de Saúde; mulher; enfermeiro.

Abstract – This article aims to discuss the cervical cancer, identifying what’s uterus, which is uterine cancer, atypia and discuss the most relevant data obtained from research on the Regional Health a municipality north of the RS and DATASUS. After collecting observed and analyzed the reality of preventing cervical cancer. Data were extracted from samples of cytopathology and allowed to look at some inconsistencies in the coverage given to women’s health. In the same study it was proposed some alternatives aiming to help improve primary care to Women’s Health. Keywords: Cervical cancer; cytopathology test; national health system; woman; nurse.

Ano 2 – Número 14, maio/junho 2013 - paginas de 18 a 21

Introdução O estudo foi desenvolvido na disciplina de Saúde Coletiva II A dentro da especificidade da atual política de saúde da mulher no Brasil. O artigo apresenta a discussão teórica sobre o câncer de colo de útero, atipias e suas classificações para, em seguida, analisar dados epidemiológicos sobre exames de Papanicolaou cujos resultados foram extraídos do sistema DATASUS/SISCOLO em um município ao norte do Estado do Rio Grande do Sul. Atualmente, o segundo tipo de câncer mais incidente na população do gênero feminino é o câncer do colo de útero. Na trajetória, como acadêmicos no curso de Enfermagem e nas buscas referentes a essa patologia, observamos a importância do papel do enfermeiro na assistência à saúde em todos os níveis e atuando em todas as dimensões. É fundamental a presença do enfermeiro atendendo o ser que se encontra suscetível a danos ou que procura atenção para a prevenção de sua saúde; assim, um cuidado humanizado e digno, no que tange à assistência de qualidade no âmbito da saúde da mulher, é uma das estratégias de atenção básica prestada pelo enfermeiro. Dentro da Atenção Básica à Saúde, a interface da Saúde da Mulher está em constante evolução. Isso implica a necessidade de que os serviços de saúde estejam em permanente construção baseada no papel que cada profissional desempenha dentro de sua área de atuação, resultando em um

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cuidado interdisciplinar para a população, em especial para a do sexo feminino. Entende-se que o câncer de colo de útero é um aspecto relevante em termos de prevenção, seguimento e outras dimensões onde o enfermeiro é o profissional designado a cuidar em sua especificidade de atuação.

Útero O útero é um órgão fibromuscular, ímpar, oco, em forma de pera invertida. Localiza-se sobre a vagina, entre a bexiga urinária e o reto. Apresenta paredes espessas, formadas principalmente por fibras musculares lisas (miométrio), sendo a parte interna revestida por mucosa (endométrio) e a externa pelo peritônio (perimétrio). A principal função do útero é receber embriões que se implantam no endométrio e desenvolver vasos sanguíneos exclusivamente para esta função. O embrião evolui para o estágio fetal e evolui até o nascimento do bebê1. Os hormônios que influenciam o funcionamento do útero são estrogênio e progesterona. A progesterona está principalmente relacionada com a preparação do útero para a aceitação do embrião, aumentando a atividade das células que revestem a parede uterina, acentuando o espessamento do endométrio e fazendo com que ele seja intensamente invadido por vasos sanguíneos e inibindo as

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Reflexões sobre a realidade de registros a respeito do exame Papanicolaou e o câncer de útero

Principais atipias

– Atipias escamosas de significado indeterminado (ASCUS), ou seja, alterações celulares insuficientes para definir diagnóstico de neoplasia. – Efeito citopático compatível com HPV, ou seja, lesão escamosa intraepitelial ocasionada pela presença do vírus, evidenciada pela presença de células com coilocitose, disqueratose, e/ou discariose. – Displasia leve ou neoplasia intraepitelial cervical grau I (NIC I), atualmente denominada lesão escamosa intraepitelial de baixo grau (LIBV), ou seja, de baixo poder de malignização. – Displasia moderada ou neoplasia intraepitelial cervical grau II (NIC II), atualmente denominada lesão escamosa intraepitelial de alto grau (LIAG), ou seja, com alto poder de malignização. – Displasia acentuada ou carcinoma escamoso in situ ou neoplasia intraepitelial cervical grau III (NIC III), também caracterizada como LIAG por mostrar células escamosas com grande variação de formas e alterações que chegam a atingir toda a espessura epitelial do colo de uterino. – Carcinoma escamoso invasor de três tipos: bem diferenciado (queratinizado), moderadamente diferenciado (não queratinizante de grandes células) ou pouco diferenciado (não queratinizante de células pequenas). Lesões em epitélio glandular ou colunar – Atipia glandular de significado indeterminado (AGUS), traduzida em alterações celulares insuficientes para definir diagnóstico de adenocarcinoma. – Adenocarcinoma, ou seja, presença de células indicativas de neoplasia endocervical, isto é, das células glandulares do colo uterino3.

Definição de câncer de útero O câncer do colo do útero, também chamado de cervical, demora muitos anos para se desenvolver. As alterações das células que podem desencadear o câncer são descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido também como Papanicolaou).

Por ano, faz 4.800 vítimas fatais e apresenta 18.430 novos casos. Prova de que o país avançou na sua capacidade de realizar diagnóstico precoce é que na década de 1990, 70% dos casos diagnosticados eram da doença invasiva. Ou seja: o estágio mais agressivo da doença. Atualmente 44% dos casos são de lesão precursora do câncer, chamada in situ. Esse tipo de lesão é localizado. Mulheres diagnosticadas precocemente, se tratadas adequadamente, têm praticamente 100% de chance de cura4.

Metodologia Estudo quali-quantificativo, descritivo e exploratório-analítico. A partir das breves considerações abaixo, será apresentada a análise das informações obtidas.

Análise de gr áficos relativa aos dados epidemiológicos de colo uterino O município onde se desenvolveu o estudo é cidade referência no norte do estado do Rio Grande do Sul, dispondo de serviços de alta complexidade em oncologia. Realizou-se uma coleta de dados junto a Coordenadoria Regional de Saúde e SIA/SUS no ano de 2013 com o objetivo de verificar a oferta de serviços na prevenção do câncer de colo uterino e outras informações relativas a saúde da mulher no município. Os dados favoreceram sua organização em gráficos e por eles notou-se uma realidade parcial na prevenção do câncer de útero. As relações numéricas expressam um déficit em relação aos serviços oferecidos. O município dispõe de números que não correspondem à própria realidade registrada pelos serviços de saúde, em se tratando de quantidade de exames realizados. Há um elevado número de mulheres em idade fértil que não realizaram o exame de citopatológico no ano de 2012.

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Lesões em epitélio escamoso

Por isso, é importante a sua realização periódica. A principal alteração que pode levar a esse tipo de câncer é a infecção pelo papilomavírus humano, o HPV, com alguns subtipos de alto risco e relacionados a tumores malignos. É o segundo tumor mais frequente na população feminina, atrás apenas do câncer de mama, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil.

Artigo de Pesquisa

contrações uterinas. O estrogênio, por sua vez induz as células uterinas a se multiplicarem a ponto de fazer o útero triplicar de tamanho quando necessário. A porção do útero que faz a ligação deste com a vagina é denominada colo do útero, sendo a parte mais suscetível a certas patologias2.


Artigo de Pesquisa

PerfilReflexões epidemiológico pacientes hipertensos cadastrados no Hiperdia em uma de útero Saúde da sobre ados realidade de registros a respeito do exame Papanicolaou e Estratégia o câncer de Família (ESF) de um município do Vale do Rio Jacuí/RS

A análise de dados com relação às mulheres em idade fértil na área urbana da cidade mostra

um total de 31.908 mulheres com acesso a saúde local.

Gráfico 1 – Fonte: DATASUS, 20125

ta de serviços em saúde da mulher. O número de mulheres que realizaram o exame citopatológico foi de 7.009; em contraposição há um déficit de 24.899 com acesso aos serviços de prevenção do câncer de útero no município. Podem-se considerar alguns fatores predisponentes para a magnitude nas diferenças apresentadas: falta de informação sobre a gravidade do câncer de útero; horários não flexíveis para a coleta de material; falta do autocui-

dado; inexistência de um sistema adequado para agendamento e coleta de material; a identificação de mulheres em risco; outras opções em termos de planos de saúde que levam as mulheres a não procurarem a atenção básica. Além disso, devem ser consideradas como outras possibilidades a dificuldade da promoção da saúde com enfoque para o autocuidado atingir as mulheres ainda não informadas, entre outros aspectos.

Ano 2 – Número 14, maio/junho 2013 - paginas de 18 a 21

Gráfico 2 – Fonte: DATASUS, 20125

No Gráfico 2 observa-se uma defasagem entre números de coberturas individuais e ações efetivas em termos de ampliação na prevenção do câncer de colo uterino. Na visão macroestrutural o município apresenta dificuldades na captação das mulheres, pelas razões já apresentadas, entre outras.

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A partir dessas prévias constatações, pensa-se que o município pode consolidar a Política de Saúde da Mulher podendo resolver em curto prazo as incongruências, através de algumas possibilidades: promover campanhas municipais para conscientizar sobre a importância da prevenção, disponibilizar

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Cintia Boncoski | Dimas Aldino Dandolini | Betina Losado Rodrigues | Renato Kolcenty | Roseana Maria Medeiros

Percebe-se no Gráfico 1 que o município tem problema significativo para resolver em termos de ofer-


dias específicos para a realização de coletas, bem como oferecer a ampliação de horários em determinadas unidades de saúde. Acredita-se que, entre múltiplas possibilidades, alternativas simples podem tornar a oferta de ações na área ainda mais efetivas e a saúde da mulher torne-se o foco principal da atenção, atenção essa em que o autocuidado seja um ponto importante de motivação para a mulher, e os principais fatores que contribuem para a presença do déficit do autocuidado possam gradativamente ser superados. Os dados sugerem as debilidades no município em relação à prevenção do câncer de útero, pois, em se tratando de mulher em idade fértil que apresenta algum tipo de atipia significativa, possivelmente esse número de coletas poderia ser ampliado e os resultados talvez fossem mais adequados, situando o município como referência em saúde da mulher. O município tem quase 100.000 mil habitantes e ao observar-se esses números coloca-se uma situação para refletir: como futuros profissionais de saúde, tem-se a plena visão de que muitos serviços prestados são precários, devido a múltiplos fatores. O próprio Ministério da Saúde6 reconhece a necessidade de melhorar e ampliar a qualidade da assistência à saúde da mulher. Partindo dessa constatação, acredita-se que as disparidades em números encontradas no presente estudo sejam o reflexo de uma atenção básica que ainda não cobre integralmente a população brasileira. Ressalta-se a importância para o autocuidado e ações concretas que ampliem a prevenção do câncer de colo de útero superando de vez quadros de morbimortalidade feminina.

Consider ações finais

Referências 1. Netter FH. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed; 2003. 2. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 11ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006. 3. Fernandes RAQ, Narchi NZ (org.). Enfermagem e saúde da mulher. Barueri: Manole; 2007. 4. INCA. Dados sobre o câncer do colo uterino. Disponível em http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/ site/home+/colo _ utero/definicao. Acesso em 20 de junho de 2013. 5. DATASUS. Dados referentes ao programa SISCOLO. Disponível em http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php. Acesso em 20 de junho de 2013. 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Mulher. (revisado) Brasília: DF, 2011.

Recebido 07.08.2013 Aprovado 30.08.2013 * Acadêmica do quinto semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. ** Acadêmico do quinto semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. *** Acadêmica do quinto semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. **** Acadêmico do quinto semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. ***** Especialista em Arte e Educação, Especialista em Educação Popular; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Docente do Curso de Enfermagem Bacharelado da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. Professora/Orientadora.

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Ao término do estudo, percebeu-se que em pleno século XXI o país ainda está aquém do desejado em se tratando da saúde da mulher. Os dados mostrados nos gráficos apontam justamente para esta realidade ainda caótica na saúde coletiva no Brasil. Em paralelo ao estudo, foram realizadas cole-

tas para citopatológico durante os meses de março, abril e maio de 2013 no mesmo município. Na ocasião foram encontradas atipias importantes em mulheres jovens em idade fértil com classificações: NIC I, NIC II e presença de HPV. Como futuros enfermeiros, temos a plena noção de que há muito trabalho a realizar quando em plena atividade profissional; cabe a todos auxiliar a mudar a lógica da permanência alarmante de morbimortalidade feminina por patologias como o câncer de útero que, se detectado a tempo, apresenta altos índices de cura. A experiência em construir o artigo foi muito significativa e ao mesmo tempo de uma responsabilidade imensa. De outra maneira, avaliar um problema de saúde coletiva como o que aqui foi discutido coloca os profissionais de saúde frente a uma situação bem complexa em se tratando de Brasil. Cada um é responsável pelo que escreve e analisa, mas materializar uma experiência como esta permitiu que se avaliassem as discrepâncias na saúde em relação à oferta de serviços e o que de fato é possível fazer. Assim, agregar uma visão diferente da realidade propiciou outra vez acionar a esperança em mudar o que é preciso, pois a saúde da mulher deve ser feita com qualidade e respeito à cidadania.

Artigo de Pesquisa

Cintia Boncoski | Dimas Aldino Dandolini | Betina Losado Rodrigues | Renato Kolcenty | Roseana Maria Medeiros

Reflexões sobre a realidade de registros a respeito do exame Papanicolaou e o câncer de útero


Sistematização da assistência em enfermagem: implementação e implantação de um protocolo de enfermagem eletrônico Systematization of nursing care: implementation and deployment of a electronic protocol of nursing * Samuel Spiegelberg Zuge

** Crhis Netto de Brum

Resumo – Este artigo tem como objetivo relatar a implementação da Sistematização da Assistência em Enfermagem (SAE) e a implantação do protocolo de enfermagem por meio de uma ferramenta eletrônica. Trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de experiência, procedente da prática assistencial, ocorrido período 2010-2011. Foram realizados encontros entre os profissionais enfermeiros, a fim de conhecer e implementar a SAE. Destes encontros, foram elaborados dois instrumentos: o protocolo de anamnese e exame físico e o da SAE. Buscaram atender, principalmente, as necessidades de cuidado do serviço de saúde. Diante das discussões entre o grupo de enfermeiros, surgiu a proposta de estabelecer o protocolo da SAE, por meio da ferramenta eletrônica Microsoft Office Excel. A partir da aplicação desta ferramenta, houve melhor gerenciamento do tempo por parte do enfermeiro, tornado possível a aplicação diária da SAE, garantindo a documentação e legitimidade do processo de enfermagem. Palavras-chave: Processo de enfermagem; teoria de enfermagem; sistema de classificação; enfermagem.

Abstract – This paper aims at describing the implementation the Systematization of Nursing Care (SAE) and the deployment of a nursing protocol through an electronic tool. This is a descriptive study, which is an experience report. It comes from care practice and occurred in the years 2010 and 2011. Meetings between nursing professionals were held, in order to know and implement the SAE. Two instruments were designed from these meetings: the protocol of anamnesis and physical examination and the protocol of the SAE, which sought to mainly meet the needs of health care services. Given the discussions among the group of nurses, it has emerged the proposal to establish the protocol of the SAE from the electronic tool Microsoft Office Excel. From the application of this tool, there was a better time management by nurses, which enabled the daily application of the SAE, thereby ensuring documentation and legitimacy of the nursing process. Keywords: Nursing process; nursing theory; classification systems; nursing.

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Introdução A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) baseia-se na concretização de uma metodologia da prática do enfermeiro, permeada pelo Processo de Enfermagem (PE), que se caracteriza como um método de tomada de decisão, de forma deliberada, que se utiliza dos mesmos passos do método científico e tem o intuito de prestar um cuidado dinâmico, interativo e humanizado1. Assim, a SAE surgiu a partir da sistematização de ações desenvolvidas pela enfermagem, com o intuito de integrar o seu conhecimento teórico à prática assistencial e, assim, construir um corpo de conhecimento autônomo na busca por consolidar a profissão enquanto ciência2. Entretanto, destaca-se que, apesar de a SAE possibilitar melhor assistência, proporcionar um cuidado sistematizado, conferir maior segurança aos pacientes e autonomia aos profissionais de enfermagem3, apontam-se dificuldades para sua implementação e implantação nos serviços de saúde. Dentre elas, vislumbra-se a alta demanda de trabalho que permeia o cotidiano do enfermeiro, inviabilizando, por vezes, o planejamento adequado que o processo para a concretização da SAE exige e a a aceitação pelos próprios enfermeiros em desenvolvê-la.

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No entanto, compreende-se que a SAE deve ser realizada a partir de um planejamento, que deve ser flexível, permitindo adequar-se às necessidades de cada contexto institucional, pois realidades distintas podem apresentar exigências também distintas4. Assim, este estudo tem como objetivo relatar a implementação da Sistematização da Assistência em Enfermagem e a implantação do protocolo de enfermagem por meio de uma ferramenta eletrônica.

Metodologia Trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de experiência, procedente da prática assistencial, ocorrido durante o segundo semestre de 2010 e primeiro semestre de 2011, realizada em conjunto pela Educação Continuada e Supervisão de Enfermagem de um hospital público de pequeno porte de Santa Maria, do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Esta unidade hospitalar comporta duas unidades de internação (clínica e cirúrgica), totalizando 21 leitos. Foram realizados encontros entre os profissionais enfermeiros, a fim de identificar facilidades e dificuldades na implementação da SAE no referido hospital. Desses encontros foram criados dois instrumen-

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Sistematização da assistência em enfermagem: implementação e implantação de um protocolo de enfermagem eletrônico

Inicialmente, foi realizada uma sensibilização entre os profissionais enfermeiros a partir de discussões sobre a SAE. Neste primeiro momento, foram realizados 11 encontros com o objetivo de trabalhar as principais necessidades para a construção do processo de enfermagem: teorias de enfermagem; processo de enfermagem; conceito da SAE; exame físico e anamnese; exames laboratoriais; histórico de enfermagem; diagnóstico de enfermagem; quais os resultados esperados. Primeiramente foi realizada uma avaliação nas teorias de enfermagem, buscando evidenciar qual melhor se adequaria à realidade e ao contexto do serviço. Assim, foi evidenciado que a teoria de Wanda Horta atenderia às especificidades deste serviço, uma vez que sua abordagem é baseada na Teoria das Necessidades Humanas Básicas (NHB) e sua base teórica foi desenvolvida a partir da teoria da motivação humana de Maslow, que tem como foco o cuidado centrado no ser humano, atendendo às suas necessidades básicas, de maneira a torná-lo independente desta assistência, pelo ensino do autocuidado, quando possível, ou por se basear na recuperação, manutenção e promoção da saúde do indivíduo em colaboração com outros profissionais5. Para a classificação dos diagnósticos de enfermagem, utilizou-se a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). A utilização do diagnóstico de enfermagem permite à prática assistencial algumas vantagens, tais como: abordagem holística do paciente, obtenção de um corpo de conhecimento próprio, busca por uma melhor qualidade da assistência e favorecimento do aprimoramento contínuo do enfermeiro6. Entretanto, destaca-se que no processo de implementação dos diagnósticos de enfermagem são importantes: a evidência da realização do levanta-

Consider ações finais A implementação da SAE permitiu que a equipe aplicasse seus conhecimentos técnico-científicos e humanos no cuidado ao paciente, o que possibilitou fortalecer sua prática profissional sustentada a partir

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Samuel Spiegelberg Zuge | Crhis Netto de Brum

Resultados e discussão

mento de necessidades e a mobilização de recursos para o atendimento dessas necessidades, tanto de ordem técnica – disponibilizando recursos estruturais e tempo para propiciar a capacitação das pessoas envolvidas – como de ordem ético-política, valorizando o seu conhecimento e potencial criativo6. Após a consolidação do embasamento teórico sobre a SAE, teve início a construção dos protocolos. Primeiramente, foi realizado o protocolo de anamnese e exame físico, o qual buscou atender principalmente as necessidades de cuidado do referido serviço de saúde, e a identificação das NHBs de cada paciente. Este protocolo foi testado por um período de dois meses durante a internação do paciente. Após este período, realizaram-se as devidas adequações, para que pudesse ser implantado no cotidiano dos enfermeiros. Diante das discussões entre o grupo de enfermeiros, surgiu a proposta de estabelecermos o protocolo da SAE a partir da ferramenta eletrônica Microsoft Office Excel. Esta ferramenta permitiu a criação de um modelo dividido em cinco etapas, o qual é preenchido pelo profissional enfermeiro. A primeira etapa contém o histórico de enfermagem do paciente e continha as seguintes informações: nome, idade, unidade, leito, registro, sexo, data, hora e diagnóstico médico ou hipótese diagnóstica. A segunda etapa, denominada evolução de enfermagem, é realizada a partir da avaliação e do exame físico do paciente. A terceira etapa tem o intuito de identificar os diagnósticos de enfermagem, pautados no Manual de Diagnóstico de Enfermagem1, que define o diagnóstico de enfermagem como o julgamento clínico das respostas do indivíduo, da família ou da comunidade aos processos vitais ou aos problemas de saúde atuais e potenciais, os quais fornecem a base para a seleção das intervenções de enfermagem, a fim de atingir resultados pelos quais o enfermeiro é responsável. A quarta etapa destinou-se às/aos condutas/ cuidados de enfermagem a serem implementadas/os. Teve como objetivo propor condutas que permitam atender os diagnósticos de enfermagem identificados. E por fim, a última e quinta etapa tem o intuito de identificar os resultados de enfermagem esperados para que se possa ter um processo de avaliação dos cuidados prestados. Encontra-se em processo a definição a sexta etapa, que é a avaliação do processo.

Artigo de Atualização

tos: o protocolo de anamnese e exame físico e o protocolo da SAE, que posteriormente foi implantado no formato eletrônico. Para a implantação da SAE em formato eletrônico, utilizou-se o programa Microsoft Office Excel. Esta ferramenta computacional permitiu criar um prontuário eletrônico do paciente, viabilizando um cuidado integral por meio das etapas do processo de enfermagem. Destaca-se que toda organização dos encontros até a construção dos protocolos foi realizada a partir de um grupo de estudos que foi organizado para este fim, o qual contou com a participação de todos os envolvidos direta ou indiretamente com os cuidados de saúde da referida instituição, especialmente os profissionais enfermeiros.


do conhecimento científico construído conjuntamente nas discussões em grupo. Quanto ao protocolo da SAE em suporte eletrônico, possibilitou a identificação e articulação dos diagnósticos de enfermagem entre os profissionais enfermeiros. A aplicação desta ferramenta possibilitou melhor gerenciamento do tempo por parte do enfermeiro, tornado possível a aplicação diária da SAE, garantindo a documentação e legitimidade do processo de enfermagem. Destaca-se, ainda, que a partir da implantação da SAE no referido hospital foi possível identificar a importância de um cuidado singular e holístico. Além disso, pôde-se compreender que a SAE é um processo que auxilia na prevenção, na promoção, recuperação e reabilitação da saúde dos sujeitos do cuidado e de seu contexto.

Referências 1. Bernet SA, Bub MBC. Manual de diagnóstico de enfermagem: uma abordagem baseada na teoria das necessidades humanas básicas e na classificação diagnóstica da NANDA. Florianópolis: Bernúncia; 2001. 2. Schaurich D, Crossetti MGO. Produção do conhecimento sobre teorias de enfermagem: análise de periódicos da área, 1998-2007. Esc. Anna Nery. 2010 jan.; 14(1):182-8. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n1/v14n1a27.pdf. 3. Tannure MC, Pinheiro AM. SAE: Sistematização da assistência de enfermagem: guia prático. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010. 4. Hermida PMV, Araujo IEM. Sistematização da assistência de enfermagem: subsísios para implantação. Rev Bras Enferm. 2006 set.; 59(5):675-9. Disponível em: http://www.scielo.br/ pdf/reben/v59n5/v59n5a15.pdf. 5. Letie MCA, Medeiros AL, Nóbrega MML, Fernandes MGM. Assistência de enfermagem a uma puérpera utilizando a teoria de Horta e a CIPE. Rev RENE. 2013; 14(1):199-208. Disponível em: http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/ revista/article/view/1239/pdf. 6. Cunha SMB, Barros ALBL. Análise da implementação da sistematização da assistência de enfermagem, segundo o Modelo Conceitual de Horta. Rev Bras Enferm. 2005 set.; 58(5):568-72. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/ v58n5/a13v58n5.pdf.

Recebido 23.06.2013 Aprovado 17.07.2013 * Enfermeiro do Hospital de Caridade Doutor Astrogildo de Azevedo. Mestre em Enfermagem. Pós-graduando em Gestão Pública em Saúde pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS/Brasil). Email: samuelzuge@gmail.com. ** Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/RS/Brasil). Email: crhisdebrum@gmail.com.

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Artigo de Atualização

Sistematização da assistência em enfermagem: implementação e implantação de um protocolo de enfermagem eletrônico


Normas para publicação Assinatura dos Autores: _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________

A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral, que tem por objetivo ser um dos principais veículos de divulgação do conhecimento na área de enfermagem no Brasil, promovendo, o desenvolvimento técnico-científico dos profissionais, publicando trabalhos originais e inéditos, de revisão, atualização ou relatos de casos/experiências. Seu conselho editorial, que tem caráter consultivo, é constituído por pesquisadores em enfermagem, de origem institucional diversificada, e é o principal responsável pela qualidade do conteúdo da revista.

6. O(s) autor(es) deve(m) especificar no artigo indicação de financiamentos relacionados ao trabalho a ser publicado.

Apresentação do manuscrito

Categorias de manuscritos aceitos pela Revista

1. Os manuscritos apresentados devem destinar-se exclusivamente à Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico, no que se refere ao texto, às figuras ou tabelas, quer na íntegra ou parcialmente, excetuando-se resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de reuniões científicas. 2. Nas pesquisas envolvendo seres humanos, os autores deverão enviar uma cópia de aprovação emitida pelo Comitê de Ética, reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS 196/96 ou órgão equivalente no país de origem da pesquisa. O número do processo/projeto deverá constar no método do trabalho. 3. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem adota as normas do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (estilo Vancouver), publicadas no New England Journal of Medicine 1997; 336:309. 4. Figuras e tabelas deverão ser apresentadas em arquivo com boa resolução e separadas do texto (imagens com mínimo de 300 dpi). 5. O(s) autor(es) dos textos são por eles inteiramente responsáveis, devendo assinar e encaminhar a declaração de responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, conforme modelo abaixo.

(A) Artigos originais/Pesquisas – Investigação baseada em dados empíricos, concluída, utilizando metodologia científica e que possam ser aplicadas e generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora. Sua estrutura deve conter.

Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais. Vimos submeter à aprovação da Revista Sul -Brasileira de Enfermagem o artigo ____________ ____________________________________________ ____________________________________________ __________________ e informamos que todos os procedimentos éticos devidos foram observados. Declaramos que o trabalho é inédito e está sendo enviado com exclusividade à Revista. Concordamos que, em caso de aceitação do mesmo, os direitos autorais a ele referentes passarão a ser propriedade exclusiva da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. Categoria do artigo: _________________________

Data: _____/_____/_____.

– Introdução: apresentação e delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho. – Objetivo: especifica de maneira clara e sucinta a finalidade da pesquisa, com detalhamento dos aspectos que serão ou não abordados. Os objetivos podem ser definidos como gerais ou específicos a critério do autor. – Revisão da literatura: levantamento selecionado da literatura sobre o assunto que serviu de base à investigação do trabalho proposto. Proporciona os antecedentes para a compreensão do conhecimento atual sobre um assunto e esclarece a importância do novo estudo. Em algumas áreas, já existe a tendência de limitar a revisão apenas aos trabalhos mais importantes, que tenham relação direta com a pesquisa desenvolvida, priorizando as publicações mais recentes. Quando não houver necessidade de um capítulo para a Revisão da Literatura em função da extensão histórica do assunto, ela poderá ser incluída na Introdução. – Método: descrição completa dos procedimentos metodológicos que permitam viabilizar o alcance dos objetivos. Devem ser apresentados: tipo de pesquisa, dados sobre o local onde foi realizada a pesquisa, população estudada, tipo de amostra, variáveis selecionadas, material, equipamentos, técnicas e métodos adotados para a coleta de dados, incluindo os de natureza estatística. – Resultados: devem ser apresentados de forma clara e objetiva, sem interpretações ou comentários pessoais, podendo, para maior facilidade de compreensão, estar acompanhados por gráficos, tabelas, figuras, fotografias etc.

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– Discussão: deve restringir-se aos dados obtidos e aos resultados alcançados, enfatizando os novos e importantes aspectos observados e discutidas as concordâncias e divergências com outras pesquisas já publicadas.

Os artigos não publicados não serão devolvidos, serão destruídos seis meses após o final dos trâmites da revista.

– Conclusões: correspondem aos objetivos ou hipóteses de maneira lógica, clara e concisa, fundamentadas nos resultados e discussão, coerentes com o título, proposição e método. Incluem-se ainda as Referências Bibliográficas (12 páginas de Word, espaçamento duplo).

• Folha de rosto com título que identifique o conteúdo em português e inglês, contendo o(s) nome(s) do(s) autor(es), a titulação e a instituição a que pertence(m). Serão aceitos até seis autores. • Resumo informativo em português e inglês (summary) com até 150 palavras. • Quatro unitermos (palavras-chave) que permitam identificar o assunto do artigo, apresentados em português e inglês (keywords). • Dados que permitam sua compreensão, como explicações sobre o sentido das abreviaturas e símbolos. • Errata: após a publicação do artigo, os autores, se identificarem a necessidade de uma errata, deverão enviá-la à Secretaria da Revista imediatamente e de preferência por e-mail.

(B) Artigos de revisão – Estudo crítico, abrangente e sistematizado da literatura sobre um assunto de interesse para o desenvolvimento da Enfermagem, devendo apresentar análise e conclusão. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). (C) Artigos de atualização ou divulgação – Trabalhos descritivos e interpretativos, com fundamentação sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo ou potencialmente investigativo. (05 páginas de Word, espaçamento duplo) (D) Experiência profissional/Relato de caso – Descrição de experiências assistenciais e de extensão, estudos avaliativos, originais contendo análise de implicações conceituais ou descrição de procedimentos com estratégias de intervenção, evidência metodológica apropriada de avaliação de eficácia, de interesse para a atuação de enfermeiros em diferentes áreas. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). Processo de julgamento dos manuscritos Após o recebimento, o artigo é inicialmente analisado quanto ao cumprimento das normas estabelecidas para publicação, sendo sumariamente devolvido em caso de não atendimento. Se aprovado, é encaminhado para avaliação de dois consultores ad hoc, escolhidos entre pesquisadores de renomada competência na área do artigo, que exibirão seus pareceres aceitando, recomendando modificações ou recusando o mesmo. (Em qualquer situação os autores serão comunicados.) Havendo discordância nos pareceres, o manuscrito é encaminhado a um terceiro relator. O anonimato é garantido durante todo o processo de julgamento. Os pareceres dos relatores são analisados pelo Conselho Editorial que, se necessário, indica as alterações a serem efetuadas. Os trabalhos seguem para publicação somente após a aprovação final dos pareceristas e do Conselho Editorial. Após a aceitação do trabalho, os autores serão comunicados da decisão, com a data prevista para publicação, o volume e o fascículo da Revista na qual o artigo será publicado.

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Preparo dos manuscritos

Referências bibliográficas (Exemplos) Artigos de periódicos: • Padrão: Elias MS, Cano MAT, Mestriner W Jr, Ferriani MGC. A importância da saúde bucal para adolescentes de diferentes estratos sociais do município de Ribeirão Preto. Rev Latino-Americana de Enfermagem 2001 jan.; 9 (1):88-95 • Artigo com indicação de subtítulo: Diniz NMF, Lopes RLM, Almeida MS, Gesteira SMA, Oliveira JF. Psicodrama com estratégia pedagógica: vivências no ensino de graduação na área da saúde da mulher. Rev. Latino-am. Enfermagem 2000 ago.; 8(4);88-94. Materiais em formato eletrônico: • Artigo de periódicos: Braga EM, Silva MJP. Como acompanhar a progressão da competência no aluno de enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP (periódico na Internet). 2006 (citado 2006 set. 28);40(3): (cerca de 7 p). Disponível em: http://.ee.usp.br/reeusp/upload/ pdf/258.pdf • Livro ou monografias: Alvarenga, RE. Cuidados paliativos domiciliares: percepções do paciente oncológico e seu cuidador. Porto Alegre: Moriá; 2005. Calil AM, Paranhos WY. O enfermeiro e as situações de emergência. São Paulo (SP): Atheneu; 2007 • Capítulo do livro ou monografia: Debert, GG. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: Cardoso RCL. A

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aventura antropológica. Teorias e pesquisa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1998. p.64-78. • Dissertação e tese: Amarante ST. Analise das condições ergonômicas do trabalho das enfermeiras de centro cirúrgico. (dissertação). São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1999. • Anais: Carreiro FA. A Equipe de Enfermagem e o Corpo (do) Queimado Durante a Balneoterapia. In: Anais do 11º CBCENF-Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem; 2008 ago. 31 a set. 03; Belém-PA, Brasil.

Os trabalhos que forem encaminhados via correio deverão ser acompanhados de CD, uma cópia impressa com figuras e tabelas, juntamente com a Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, assinada por todos os autores, através de carta registrada ou sedex. Recomenda-se o uso do programa Word (papel formato A4; margens: superior 1,5 cm, inferior 1 cm; laterais 3 cm), bem como a fonte Times, tamanho 12, entrelinha dupla, em uma coluna. Pode conter ilustrações que sejam relacionadas com o assunto e tenham boa qualidade para impressão em cores ou em preto e branco (300 dpi). Texto justificado e com número de página no rodapé.

Envio do manuscrito Os artigos originais encaminhados para avaliação e publicação deverão ser enviados por e-mail ou correio para o endereço da editora constante no final destas normas, aos cuidados do Conselho Científico. Os autores deverão ser assinantes da revista.

Moriá Editora Ltda. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem Rua Aracy Fróes, 258 / 902 - Jardim Itu-Sabará - Porto Alegre/RS / CEP: 91210-230. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Tel. (51) 3351.2361.

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Curso

Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem Maira Buss Thofehrn

Aula 1: Relações Humanas no Trabalho: uma reflexão acerca da equipe na área da saúde Aula 2: Relações Humanas perpassando pelo Processo de Trabalho da Enfermagem Aula 3: Relações Humanas Saudáveis na Equipe de Enfermagem

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Aula 4: Relações Humanas no Trabalho: liderança na enfermagem Aula 5: Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem: empoderamento político Aula 6: Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem: dimensão da espiritualidade

Organizador a: Mair a Buss Thofehrn Doutora em Enfermagem, Conselheira cientifica da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, Professora do Programa de Pós-Graduação da Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem.

Colabor adores Maira Buss Thofehrn Enfermeira. Doutora em Enfermagem, Professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel. Coordenadora do Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem (NEPEn/ UFPel). E-mail: mairabusst@hotmail.com. Bianca Lessa de Garcia Enfermeira. Mestre em Enfermagem – UFPel. E-mail: biancalgarcia@yahoo.com.br. Andréia Coelho Bettin Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem na UFPel. E-mail: andreia-coelho@hotmail.com. Izamir Duarte de Farias Técnico Superior em Artes. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem na UFPel. E-mail: izamironline@hotmail.com.

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ATUALIZAÇÃO EMTRABALHO TERAPIA INTENSIVA RELAÇÕES HUMANAS NO DA ENFERMAGEM 5 – VENTILAÇÃO AULA 3: RELAÇÕESAULA HUMANAS SAUDÁVEIS MECÂNICA NA EQUIPE DE ENFERMAGEM

MAIRA BUSS THOFEHRN | BIANCA LESSA DE GARCIA | ANDRÉIA COELHO BETTIN | IZAMIR DUARTE DE FARIAS

AULA 3: Relações humanas saudáveis na equipe de enfermagem INTRODUÇÃO

A TEORIA: BREVE APROXIMAÇÃO

No trabalho da enfermagem, o cuidado àqueles em sofrimento físico, psíquico, social ou espiritual que buscam os serviços de saúde, podendo ser pessoa, família ou a sociedade como um todo, exige da equipe de enfermagem habilidades de intervenção, permeadas de subjetividade, de disponibilidade, de compreensão além da sintomatologia, de visualização de todo o seu contexto, entendendo a singularidade de cada pessoa e as relações que estabelecem com o seu meio social e cultural. Contudo, para que o cuidado prestado contemple todas essas dimensões, os membros da equipe de enfermagem necessitam compreender que sua prática cotidiana está balizada em vivências individuais e também devem se reconhecer como seres subjetivos; portanto, “estar sensível para a dimensão da subjetividade pode ajudar na tentativa de entender indivíduos, seus conflitos, seus vínculos consigo mesmos, sua família, o próprio trabalho, a produção e a inserção de cada um na equipe”1:191. Neste sentido a Teoria dos Vínculos Profissionais (TVP) propõe um modelo para o fortalecimento de vínculos profissionais saudáveis no processo de trabalho em enfermagem “que considere a dinâmica das relações interpessoais na equipe de enfermagem, na perspectiva de uma práxis crítica, reflexiva e participativa”2:32. Neste contexto, entende-se que Teoria tem como propósito que através do estabelecimento de vínculos profissionais saudáveis os trabalhadores desempenhem a sua tarefa profissional com qualidade, ou seja, “uma ação e um discurso que direcione o ser humano, família e a comunidade a uma vida saudável”3:123. Para tal, o enfermeiro, como líder imbuído da equipe de enfermagem, baseado no Modelo da TVP, tem a tarefa de identificar e conhecer as potencialidades e fragilidades de cada membro da equipe, baseado na história de vida e no ambiente sociocultural de cada integrante, bem como estimular a integração e participação de todos no planejamento, na execução e na avaliação das atividades, objetivando envolvê-los no processo de trabalho proporcionando o desenvolvimento do grupo. A presente aula objetiva aprofundar os conhecimentos acerca da formação e afirmação das relações humanas saudáveis a partir das ideias preconizadas na Teoria dos Vínculos Profissionais, assim como instigar a reflexão sobre o papel do enfermeiro neste processo.

A TVP desenvolve-se a partir de um olhar sensível para o indivíduo enquanto ser humano, respeitando suas individualidades e valorizando a subjetividade do ser no trabalho. Subjetividade significa busca pelo entendimento do indivíduo na sua forma mais ampla, procurando compreender seus conflitos, seus vínculos, sua relação com a família, com o trabalho e com os próprios colegas de atividade profissional, ou seja, respeito à busca da compreensão do ser humano trabalhador formado e transformado pelo seu contexto histórico-social3. A subjetividade no trabalho transcende o racional, o que por vezes torna-se complexo para os indivíduos e as instituições, pois ela vai além do campo puramente objetivo: envolve significações que exigem conhecer a essência do ser humano, em constante formação e transformação1. Dessa forma, a TVP defende que as pessoas devem buscar a plenitude em seu viver. Entendendo a impossibilidade de dissociar a vida da profissão, preconiza que o trabalho também deve ser desenvolvido de forma a contribuir para a realização do indivíduo enquanto ser humano2. Seguindo este raciocínio evidencia-se a relevância de a TVP embasar a liderança exercida pelo enfermeiro, pois tem-se percebido o vazio e o distanciamento entre a organização do trabalho da enfermagem, ou seja, a gestão e o cuidado propriamente dito, que têm aparecido como extremos, no distanciamento das relações, percebidos na estranheza e diferença entre a atividade planejada e aquela realizada. Entretanto, ambos são dependentes entre si para o alcance da complementaridade entre o planejar e o fazer, culminando com o cuidado terapêutico, ou seja, com uma ação com intenção terapêutica tanto no âmbito preventivo como curativo2. Para que a finalidade do processo de trabalho da enfermagem – ou seja, o ser humano transformado pelo cuidado terapêutico (de qualidade) – seja alcançada, necessita-se de vínculos profissionais saudáveis estabelecidos por meio de relações humanas baseadas no afeto e na sensibilidade2, o que deve ser reconhecido pelo líder. Os vínculos profissionais aos quais a TVP se refere tratam da orientação de um grupo de trabalho para as ações que desenvolvem, compreendendo -os enquanto trabalhadores e seres humanos que desenvolvem um trabalho coletivo com a mesma finalidade. Os vínculos serão percebidos a partir da ação e do discurso dos indivíduos. Se o grupo apresentar motivação, flexibilidade, comprometi-

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VENTILAÇÃO MECÂNICA IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM RELAÇÕES HUMANAS- NO TRABALHO DA ENFERMAGEM AULA 5 –HUMANAS VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA AULA 3: RELAÇÕES SAUDÁVEIS NA EQUIPE DE ENFERMAGEM

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assistência; entretanto, neste momento a pretensão é sensibilizar os profissionais para a importância da qualidade nas relações humanas. Quanto ao diálogo e à escuta, compreende-se que os mesmos só são possíveis para quem se sensibiliza para tal, e que esta sensibilização só estará presente naqueles que acreditam e buscam relações solidárias e éticas, o que se faz na construção diária, na troca de vivências7. Incentivar a equipe para este fim cabe também ao enfermeiro líder, que, mesmo encontrando a presença de administrações burocráticas, rígidas, que dificultam o tipo de relação mencionada, deve manter sua postura e motivar-se a conquistar os colaboradores a buscar relações prazerosas que contribuam positivamente para o ambiente de trabalho. Diante do contexto exposto, preocupa-se com a relação entre a tecnologia e a qualidade das relações humanas, salienta-se a relevância de compreender a tecnologia e vida cotidiana, a natureza e a cultura dos indivíduos como complementaridades do ser e não oposições compreendidas separadamente, pois a humanização é entendida percebendo o indivíduo como um todo, considerando as particularidades que lhe pertencem8. Ao compreender o ser humano integralmente, o qual não se pode dissociar o indivíduo de suas vivências, e considerando a influência destas no processo do trabalho da equipe de enfermagem, a TVP desenvolve-se a partir de um modelo baseado na Teoria da Atividade de Leontiev, que teve origem das ideias de Lev Vygotsky2. Leontiev deu seguimento aos estudos que envolviam o modelo triangular que Vygostsky iniciara, ao qual, até então composto por três elementos – ferramenta, sujeito e objeto –, acrescentou um novo elemento: a comunidade, que, no entendimento de Leontiev, é mediada pelas regras e a divisão do trabalho3. Neste esquema enfoca-se o ser humano que está em constante relação e sobre influência da cultura e sociedade, ou seja, do meio em que vive. A partir daí, a TVP se adapta, referindo-se não somente a um indivíduo mas também ao grupo de pessoas em questão, ou seja, os trabalhadores da equipe de enfermagem. Na TVP se compreende que o sujeito é o enfermeiro, o objeto a ser trabalhado é a equipe de enfermagem e a ferramenta mediadora para este trabalho é o modelo para o trabalho em equipe2. A fim de esclarecimento cabe mencionar que o presente texto defende os princípios da TVP, ou seja, a formação e a afirmação de vínculos profissionais saudáveis na equipe de enfermagem; com o intuito de alcançá-los, vê a liderança, baseada nestes princípios como ferramenta mediadora entre o enfermeiro, enquanto líder, e a equipe de enfermagem.

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mento, dinamismo, demonstrar a realização pessoal na atividade que exerce, pode-se afirmar que apresenta vínculos profissionais saudáveis2; caso contrário, desenvolve-se o que se denominou neste estudo como vínculos profissionais não saudáveis, pois comportamentos de egoísmo, concorrência, discórdia, entre outros de mesmo sentido, tornamse um entrave para o bom relacionamento dos trabalhadores. Com intuito de fomentar o desenvolvimento de vínculos profissionais saudáveis, a TVP apresenta um modelo com estratégias que incentivam as relações humanas no interior das relações de trabalho3. Gelbcke e Leopardi também compartilham das ideias de um modelo organizacional que objetiva o fortalecimento dos vínculos entre os profissionais e entre os trabalhadores e o próprio trabalho, um modelo que valorize o profissional enquanto sujeito multidimensional e não apenas como um executor de tarefas, o que se tem tornado comum nas instituições de trabalho. Na proposta de Gelbeck e Leopardi, preconiza-se um trabalho que satisfaça aos profissionais, visando diminuir os desgastes e influências negativas do trabalho na vida do indivíduo, o que também pode ser considerado pelo líder que espera e deseja o melhor para os colaboradores e para o processo de trabalho no qual está inserido4. Em contrapartida, o líder deve atentar para o desenvolvimento tecnológico que invade a área da saúde, preenchendo algumas lacunas existentes do ponto de vista científico, agregando condições para o cuidado em saúde, mas que distancia cada vez mais os seres humanos, tornando as relações – sejam elas entre profissional e paciente ou entre os próprios profissionais – frias e distantes. Esta realidade já era mencionada no ano de 1968 por Gelain e vem tornando-se cada vez mais presente na preocupação de quem defende a gestão participativa, voltada para a qualidade das relações humanas, visando à repercussão dessa no cuidado terapêutico5. A preocupação supracitada, enfatizando o distanciamento da relação entre profissionais de enfermagem e pacientes devido ao uso de máquinas, contribui para a falta de vínculo com o paciente, já que a utilização dos utensílios tecnológicos oportuniza um fazer mecanizado6, permitindo uma analogia com a equipe de enfermagem, que também utiliza dessa tecnologia para desenvolver sua atividade profissional, cada vez mais fragilizando o diálogo entre os indivíduos, que muitas vezes preferem a relação com a máquina, ao ler o registro, do que a conversa com o colega, que possibilita o estreitamento de vínculos. É importante mencionar que não se tem no presente estudo a intenção de ignorar a relevância da tecnologia; muito pelo contrário, acredita-se que seu avanço é primordial para o aprimoramento da


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RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO DA ENFERMAGEM AULA 3: RELAÇÕES HUMANAS SAUDÁVEIS NA EQUIPE DE ENFERMAGEM

Para tanto, o fato de a equipe de enfermagem desenvolver suas atividades num ambiente não pode ser ignorado; por isso, a TVP, baseada na Teoria da Atividade de Leontiev, representa por meio de conceitos o contexto sócio-histórico no qual a equipe de enfermagem trabalha2. Quanto à descrição de conceitos adaptados para a TVP, institui-se que comunidade refere-se aqueles em sofrimento físico, psíquico, social ou espiritual que buscam os serviços de saúde, sendo então uma pessoa, família ou ainda a sociedade como um todo. A comunidade aqui referida diz respeito àquela que tem relação com o contexto sociocultural e histórico da instituição de saúde, para a qual o enfermeiro enquanto líder deve remeter a sua atenção ao desenvolver o trabalho; assim, a comunidade até aqui mencionada também compreende o próprio serviço de saúde. As regras baseiam-se nos valores instituídos pela sociedade, com influências capitalistas e também seguindo a legislação de saúde, compreendida pela lei do exercício profissional e o código de ética dos trabalhadores em saúde. Assim, as regras norteiam a organização institucional, bem como a atividade profissional. Por último, apresenta-se a divisão do trabalho, que se dá a partir da divisão social que corresponde à divisão entre o pensar e o fazer e na divisão técnica que faz menção às várias especialidades que podem ser solicitadas de acordo com cada necessidade, representada por diferentes profissionais da área da saúde. A partir dessa constatação é possível se reportar à equipe de enfermagem, que é composta por enfermeiro, técnicos de enfermagem e auxiliares, todos com tarefas e ocupações preestabelecidas de acordo com a sua formação profissional e a Lei do Exercício Profissional3,9. Dessa forma, o modelo em questão lança sua estratégia, esclarecendo conceitos que a constituem, podendo ser considerado e utilizado no exercício da liderança. Para Leontiev, o sujeito é aquele que atua junto àquilo a ser trabalhado, ou seja, o objeto; então o sujeito na TVP é o enfermeiro que vai atuar junto ao objeto, que é a equipe de enfermagem, sendo que essa atuação, no presente estudo, entendida como a liderança propriamente dita, será baseada nas ideias do modelo para o trabalho em equipe, mencionado anteriormente. Vale enfatizar que o enfermeiro desenvolverá sua atividade de forma planejada, baseada em intenções, para a formação e afirmação de vínculos profissionais saudáveis. O sujeito, ou seja, o enfermeiro, será o coordenador do grupo e aquele, assim como é tarefa do líder, que deve ter a pretensão de identificar potencialidades, fragilidades e comportamentos dos membros do grupo, baseando-se no ambiente sociocultural dos indivíduos, respeitando a individualidade de cada participante2. Salienta-se que essa dinâmica das relações interpessoais na enfermagem, desenvolve-se no

decorrer do seu processo de trabalho representado na Figura 1. Figura 1: Dinâmica das relações interpessoais na enfermagem.

Fonte: Thofehrn, Leopardi, 2009, p. 122.

De forma sucinta, relembra-se o processo de trabalho, já apresentado na segunda aula: é a atividade profissional que os trabalhadores de enfermagem exercem com a finalidade de suprir as necessidades de quem busca os serviços de saúde. É compreendido pela subjetividade que permeia as relações entre os profissionais; profissionais e pacientes e de ambos com a instituição de trabalho. Compõe-se por meio de diferentes elementos que se relacionam, como o sujeito trabalhador, o objeto de trabalho – que é o corpo do ser humano, da família ou da comunidade – no qual se aplica o cuidado terapêutico por meio dos instrumentos de trabalho que se referem a tudo que for utilizado para mediar a tarefa profissional entre o trabalhador e o seu objeto de trabalho. Destaca-se a liderança baseada na TVP, a fim de facilitar o cuidado terapêutico. Já o processo de trabalho da enfermagem tem o propósito de transformar o indivíduo, a família ou a comunidade por meio do cuidado terapêutico, tanto na mente quanto no corpo, na busca do bem-estar e do suprimento das necessidades de saúde3. Portanto, é nesse contexto que se desenvolvem as relações humanas na enfermagem, na qual destaca-se a dinâmica de um grupo de trabalho, particular a cada grupo, formado pelas suas próprias características, que vai além das contribuições individuais de cada integrante. Ela acontece a partir das “trocas internas, da pessoa consigo mesma, e trocas externas com o grupo e o contexto social”3:125. As trocas são constantes; portanto, a cada adequação, interna ou externa, o grupo sofrerá um desequilíbrio do clima grupal, o que pode gerar a necessidade de reorganização. Para tanto, é de suma importância que os membros do grupo se utilizem do discurso, enquanto meio de manifestação, sendo este o mediador das relações humanas3.

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RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO DA ENFERMAGEM AULA 3: RELAÇÕES HUMANAS SAUDÁVEIS NA EQUIPE DE ENFERMAGEM

CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das reflexões desta aula, compreende-se que a TVP propõe um novo olhar para a equipe de enfermagem, com foco nas relações humanas no trabalho. Ainda apresenta como atribuição para o enfermeiro, enquanto coordenador e líder da equipe de enfermagem, a tarefa de proporcionar aos membros do grupo momentos nos quais possam

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expressar e manifestar seus sentimentos em relação ao contexto da instituição e também à sua vida pessoal. Para tanto, torna-se imprescindível oportunizar espaços balizados em subsídios teóricos nos quais a equipe de enfermagem possa elaborar a sua subjetividade. A partir do seu reconhecimento como pessoas que são trabalhadores de saúde e estão reunidas para um trabalho coletivo com o mesmo propósito, sintam-se capazes de ser agentes ativos dentro dos processos de trabalho, proporcionando os sentimentos de responsabilidade e comprometimento para com a instituição e com a comunidade, resultando num cuidado terapêutico de qualidade, especialmente ao usuário. REFERÊNCIAS 1. Thofehrn MB, Amestoy SC, Porto AR, Arrieira ICO, Dal Pai D. A dimensão da subjetividade no processo de trabalho da enfermagem. Rev. enferm. saúde, Pelotas/RS, 2011, jan-mar; 1(1):190-8. 2. Thofehrn MB. Vínculos profissionais: uma proposta para o trabalho em equipe na enfermagem [tese]. Florianópolis (SC): Programa de Pós-Graduação em Enfermagem/UFSC; 2005. 3. Thofehrn MB, Leopardi MT. Teoria dos vínculos profissionais: formação de um grupo de trabalho. Pelotas: Editora Universitária/UFPEL; 2009. 4. Gelbcke FL, Leopardi MT. Perspectivas para um novo modelo de organização do trabalho da enfermagem. Rev. bras. enferm. 2004, mar-abr; 57 (2):193-7. 5. Gelain IJ. Humanização do hospital. Rev. paul. hosp. 1968, jan; 16(1):3-7. 6. Hayashi AAM, Gisi ML. O cuidado de enfermagem no CTI: da ação reflexão à conscientização. Texto & Contexto Enferm. 2000, maio-ago; 9(2):824-37. 7. Casate JC, Corrêa AK. Humanização do atendimento em saúde: conhecimento veiculado na literatura brasileira de enfermagem. Rev. Latinoam. enferm. 2005; 13(1):105-11. 8. Meyer DE. Como conciliar humanização e tecnologia na formação de enfermeira/os? Rev. bras. enferm. 2002, mar -abr; 55(2):189-95. 9. BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Lei nº 7498, de 25 de junho de 1986. Regulamentação do Exercício da Enfermagem. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 26 jun 1986. Seção 1. p. 37. Seção I. fls 9273-5.

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Essa interação entre os membros do grupo propicia o desenvolvimento grupal, que se refere ao envolvimento de todos os membros do grupo. Esse desenvolvimento acontece a partir de três zonas das necessidades interpessoais presentes em qualquer grupo, são as fases de inclusão, de controle e de abertura. A primeira acontece quando o grupo se constitui, a fase de controle se dá quando as pessoas já inseridas no grupo entendem a dinâmica das atividades grupais, tornam-se participativas por meio de sugestões e tomadas de decisão. A fase de abertura acontece quando surgem as manifestações de apoio e afeto, quanto às inter -relações grupais; é a última fase a surgir e é nela que ocorrem as oscilações entre manifestações de apoio, ou não, satisfação e insatisfação; é uma fase caracterizada pela constante alternância entre as três fases mencionadas3. A tarefa do grupo de trabalho corresponde àquilo que o organiza, constituindo-se da capacidade de produzir tudo que favoreça o desenvolvimento da tarefa profissional. É permeada pela ruptura de ideias preconcebidas a fim de se adaptar para facilitar o aprendizado e o desempenho das atividades estabelecidas. Destaca-se que a tarefa do grupo adéqua-se às situações, a fim de suprir as necessidades vigentes, enquanto a tarefa profissional no processo de trabalho da enfermagem dará sempre ênfase para o cuidado terapêutico. Para tal compreensão, é de suma importância que todo o processo de trabalho seja permeado pela coerência entre o discurso e a ação, no qual a comunicação seja clara e objetiva3.


Curso

TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM Graziella Gasparotto Baiocco

Aula 1 : Princípios da Terapia Intravenosa para o Enfermeiro e Segurança do paciente

P P

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Aula 2 : Revisão da Anatomia, Fisiologia e Histologia do Sistema Vascular Aula 3: Avaliação da rede venosa e opções para escolha do acesso Aula 4: Curativo e estabilização dos acessos Aula 5: Complicações da Terapia Intravenosa e intervenções Aula 6: Principais Diagnósticos de Enfermagem na Terapia Intravenosa Aula 7: Especificidades da Terapia Intravenosa

Organizador a: Enfermeir a Gr aziella Gasparotto Baiocco Mestre em Medicina e Ciências da Saúde pela PUC – RS, Especialista em Nefrologia pela SOBEN, Especialista em Terapia Intensiva pela UNISINOS – RS. Enfermeira do setor de Gerenciamento de Risco do Grupo Hospitalar Conceição. Membro do Conselho Científico da Revista Sul- Brasileira de Enfermagem. Professora Convidada do Instituto de Ensino e Pesquisa da Associação Hospitalar Moinhos de Vento, Instrutora do Centro de Treinamento C-Vist para o Curso de habilitação de enfermeiros para inserção e manutenção do CCIP guiados por ultrassom. Email: grazigasparotto@terra.com.br

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TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM AULA 3: AVALIAÇÃO DA REDE VENOSA E OPÇÕES PARA ESCOLHA DO ACESSO

Aula 3: Avaliação da rede venosa e opções par a escolha do acesso

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Assim sendo, a seleção de dispositivos de acesso venoso deve incluir uma análise do tipo e da duração da terapêutica prescrita, o histórico do paciente e a análise de risco e benefício das opções de acesso. Um pH abaixo de cinco ou superior a nove faz a medicação muito ácida ou alcalina para a administração periférica. Com isso, muitos pacientes que recebem medicamentos poderiam beneficiar-se de um cateter central de inserção periférica (CCIP), o qual permite a medicamentos irritantes ao vaso uma hemodiluição maior na veia cava superior, evitando, assim, possíveis complicações, como flebite, infiltração ou extravasamento2. A avaliação do vaso deve ser feita pela inspeção e palpação, procurando um vaso reto, profundo e calibroso, devendo-se puncionar, preferencialmente, vasos que ainda não foram utilizados, pois pode haver redução na incidência de complicações, atentando sempre para que a veia escolhida seja compatível com o diâmetro do cateter escolhido, preferencialmente de maior calibre de veia para menor calibre de cateter. Atualmente, é possível completar o exame físico com o aparelho de ultrassonografia, a fim de analisar, de forma objetiva, a profundidade e o calibre do vaso, a tortuosidade e o número de válvulas, bem como visualizar a possível presença de trombos. Com o ultrassom, avalia-se se o vaso é compressível em todo o seu trajeto, o que descarta a possibilidade de trombose5. Desde maio de 2013, o Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul – COREN/RS normatiza a utilização do ultrassom pelos enfermeiros nas punções venosas, sendo este mais um recurso para garantir a segurança do paciente e o sucesso na terapia intravenosa. Pontos a serem considerados no planejamento da Terapia Intravenosa (TIV) e recomendações para a prática3: 1. Identificar o paciente; 2. Checar a prescrição da terapia proposta; 3. Conhecer a terapia quanto a velocidade de infusão, natureza da solução, duração, propósito e finalidade da terapia; 4. Considerar a idade do paciente; 5. Considerar a mobilidade do paciente em função da fixação e estabilização; 6. Verificar histórico de alergias; 7. Considerar a preferência do paciente sempre que possível; 8. Preparar o sítio de inserção; 9. Ao inserir o dispositivo, atentar para controle de infecção, prática segura – Bundles de prevenção de infecção em acessos venosos, não remover

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A avaliação do paciente para inserção de um acesso venoso deve seguir a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), implementada nas instituições de saúde por meio do Processo de Enfermagem (PE), constituído por etapas que envolvem a identificação de problemas de saúde do paciente, o delineamento do Diagnóstico de Enfermagem (DE), a implementação de um plano de cuidados e de ações de enfermagem, com avaliação permanente. O enfermeiro, no momento da avaliação do candidato à inserção de um acesso venoso, deve utilizar os julgamentos clínico, diagnóstico e ético, a fim de garantir a segurança e a individualidade do cuidado1,6. Cada paciente é admitido no hospital com um conjunto de cuidados que diferem conforme o diagnóstico, as condições físicas, a rede venosa, os medicamentos e o tratamento. Para determinar o melhor tipo de dispositivo, considera-se o paciente como um indivíduo com necessidades específicas; estima-se a duração da terapêutica, conforme as características dos medicamentos; fazem-se recomendações à equipe médica quando um dispositivo de longa duração é necessário2. O planejamento e a execução da terapia intravenosa são atividades complexas, uma vez que necessitam da associação de conhecimentos relacionados à tecnologia, anatomia, fisiologia, farmacologia, comunicação, entre outros. Deve-se considerar que são necessárias habilidades específicas, tanto para realização dos procedimentos, como para prevenir e tratar complicações3. É de fundamental importância que se conheça o diagnóstico médico, o motivo da internação, as características dos medicamentos (osmolaridade, pH e a natureza dos componentes químicos, irritante e/ou vesicante das infusões), as interações e incompatibilidades medicamentosas, além do tempo de duração da terapia intravenosa. A história de acessos vasculares deve ser considerada; é preciso conhecer os tipos de cateteres que o paciente já teve inseridos, o tempo de permanência, as possíveis complicações e os motivos da retirada. A avaliação laboratorial é importante, com ênfase no hemograma, hematócrito, plaquetas e tempos de coagulação. Da mesma forma, identificam-se o uso das medicações, as doenças ou cirurgias prévias. O exame físico é orientado para avaliar as condições de hidratação, mobilidade, condições da pele próxima ao possível sítio de inserção e avaliação do vaso em si. Pesquisas revelaram que os pacientes com planejamento consistente do acesso vascular tiveram menos dificuldades de inserção e menos estresse4.


TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM 3ª AULA: AVALIAÇÃO DA REDE VENOSA E OPÇÕES PARA ESCOLHA DO ACESSO

pelos da pele (se isso for necessário, que seja utilizado tricotomizador elétrico); 10. Documentação adequada; 11. Realizar a prescrição de enfermagem; 12. Estabilização e fixação segura e estéril; e 13. Avaliação diária – quando não for mais necessário, o acesso deve ser retirado. Na Figura 1, características dos principais vasos dos MsSs e os respectivos fluxos sanguíneos.

3. A primeira instalação deve sempre iniciar pela região mais distal, considerando particularidades da terapia prescrita; 4. Evitar áreas de flexão; 5. Não usar torniquetes para monitorização de pressão arterial no membro onde estiver instalado o dispositivo vascular; 6. Canulação de fístulas e enxertos vasculares devem ser puncionados somente mediante prescrição médica e/ou protocolos institucionais; 7. Cateteres periféricos não devem ser utilizados rotineiramente para coletas de amostras de sangue para análises clínicas; 8. Terapias não indicadas para infusão periférica incluem: quimioterápicos vesicantes, formulações de nutrição parenteral com mais de 10% de dextrose ou osmolaridade maior que 500 mOsm/l, medicamentos com extremo de pH, seja menor ou igual a 5 e maior ou igual a 9; e 9. Um médico deverá ser consultado antes de puncionar uma veia em um membro de um paciente submetido a esvaziamento ganglionar/ axilar. Com relação aos princípios para seleção do sítio de inserção de um cateter venoso central (CVC), a Infusion Nurses Society, em 2013, recomenda que:

Fluxo dos vasos sanguíneos Veia cefálica: 40 ml/min. Veia basílica: 95 ml/min. Veia axilar: 333 ml/min. Veia subclávia: 800 ml/min. Veia braquiocefálica: 800 ml/min. Veia cava superior: 2-2,5 l/min.

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Figura 1 – Diâmetro dos vasos. Fonte: Masters class for PICC inserts, 2009.

Com relação aos princípios para seleção do sítio de inserção de um cateter periférico, a Infusion Nurses Society, em 2013, recomenda que7: 1. As veias consideradas para canulação periféricas são: região dorsal das mãos, metacarpo, cefálica e basílica; 2. As veias dos membros inferiores não devem ser utilizadas rotineiramente em adultos devido ao risco de embolias e tromboflebites;

1. As veias mais apropriadas para instalação de um CVC são: a jugular interna, a subclávia, sendo a veia femoral utilizada com cautela; 2. O CVC deve estar com sua extremidade distal em veia cava; e 3. A instalação de um CVC é um procedimento médico. REFERÊNCIAS 1. Garcia T, Nóbrega MML. Sistematização da assistência de enfermagem: reflexões sobre o processo. In: 52º Congresso Brasileiro de Enfermagem; 2000; Recife/Olinda-PE, Brasil. 2. Mazzola JR, Schott-Baer D et al. Clinical factors associated with the development of phlebitis after insertion of a peripherally inserted central catheter. Journal of Intravenous Nursing. 1999; 22(1):36-42. 3. Harada MJCS, Pedreira MLG. Terapia intravenosa e infusões. São Caetano do Sul; 2011. 4. Cáceres R et al. II curso de certificação para inserção do PICC por ultrassom. Porto Alegre; 2007. 5. Blaivas M, Lyon M. Ultrasound in emergency medicine: the effect of ultrasound guidance on the perceived difficulty of emergency nurse-obtained peripheral iv access. Journal of Emergency Medicine. Georgia, USA. 2006; 31(4):407-10. 6. Baiocco GG et al. Cateter central de inserção periférica – CCIP na prática de enfermagem. Porto Alegre: Moriá; 2013. 7. Brasil, Infusion Nurses Society – INS Brasil. Diretrizes práticas para terapia infusional. São Paulo; 2013.

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TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM 3ª AULA: AVALIAÇÃO DA REDE VENOSA E OPÇÕES PARA ESCOLHA DO ACESSO

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PÓS-GRADUAÇÃO/ESPECIALIZAÇÃO GESTÃO DE RISCO E SEGURANÇA HOSPITALAR

A UNISINOS, em parceria com o Hospital Mãe de Deus, apresenta a 2ª edição do curso de Pósgraduação e Especialização em Gestão de Risco e Segurança Hospitalar. Este curso é pioneiro no Brasil e se propõe a desenvolver conteúdos inovadores, atendendo as recentes normativas do Ministério da Saúde e Programas de Acreditação, constituindo-se em um ganho assistencial, educacional e para a comunidade.

Público de interesse: Todos Profissionais graduados em nível superior, não necessariamente da área da saúde, que tenham interesse nas temáticas de Gestão de Risco. Carga Horária: 420 horas

Local: Hospital Mãe de Deus/ Porto Alegre – Rua José de Alencar nº 286/ Sala de Aula do Centro Científico e Cultural – Bairro Menino Deus e CIEE Rua Dom O profissional especializado na Gestão de Risco e Pedro II, 861, 5º andar / Porto Alegre – Bairro HigienóSegurança Hospitalar apresentará condições de dar polis. sustentação técnica às práticas que contemplem as normativas da ANVISA sobre as metas de Segurança Dias das aulas As aulas ocorrerão quinzenalmente do Paciente e a implementação do Núcleo de Ges- nas sextas-feiras das 19h às 23h e aos sábados das tão de Risco das instituições. 08h30 às 12h30 e das 13h30 às 17h30. Início das aulas: Setembro de 2013 Inscrições abertas http://www.unisinos.br/especializacao/gestaode-risco-e-seguranca-hospitalar/apresentacao

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Congressos e Eventos em 2013 Evento

Local

Data

Informações

I Curso de Ausculta Cardíaca e Pulmonar para a Enfermagem

Anfiteatro do Centro Cultural Rubem Rodrigues

23 de novembro

enfermagem@ cardiologia.org.br

2ª Semana do Hospital Unimed Caxias do Sul

Auditório do Hospital Unimed

04 a 06 de dezembro

www.unimed-ners.com.br

*Envie seu evento para divulgação em nosso calendário: revistasulbrasileira@gmail.com

Congressos e Eventos em 2014 Evento

Local

Data

Informações

I Congresso Internacional sobre Segurança do Paciente – ISMP Brasil

Centro de Artes e Convenções da UFOP - Ouro Preto/MG

10 de abril

www.ismp-brasil. org/congresso

5º Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia

Atlântico Búzios Convention & Resorts Armação dos Búzios/RJ

19 A 22 de novembro

www.sobende.org.br

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Notícias

Unidades Básicas de Saúde no RS terão Prontuário Eletrônico no SUS A iniciativa dar á mais resolutividade às UBSs, ir á evitar deslocamentos desnecessários e otimizar recursos. momento da consulta, disponibilizando o histórico completo de atendimento. A iniciativa dará mais resolutividade às UBSs, irá evitar deslocamentos desnecessários e otimizar recursos. No prontuário constam tanto as atividades realizadas em educação em saúde, como palestras, rodas de conversa e dinâmicas, quanto as consultas realizadas por médicos, enfermeiros ou outros servidores de saúde, além de exames e medicamentos prescritos.

Foto: Nândria Oliveira (Arquivo)

A informatização também traz a vantagem de emitir sinais de alerta em casos de interações medicamentosas que apresentem riscos ao paciente, e de faltosos ao tratamento e acompanhamento, como gestantes e hipertensos. O prontuário traz ainda dados das visitas domiciliares, inseridos pelos agentes comunitários, do Programa de Saúde da Família. Alguns municípios adotaram programas similares a este, do setor privado. A novidade agora é que o sistema a ser implantado é um software público, desenvolvido para o SUS pelo Ministério da Saúde, que vai unificar os serviços no Rio Grande do Sul inicialmente nas UBS e, posteriormente, nos hospitais.

A inserção do prontuário eletrônico de pacientes do SUS nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) no RS foi o tema da Oficina Estadual sobre a Estratégica E-SUS, que aconteceu nos dias 11,12 de setembro de 2013, na Escola de Saúde Pública da Secretaria Estadual da Saúde (SES). O sistema já é uma realidade em Sapucaia, que o utiliza em fase piloto e, até outubro, estará em 30 municípios gaúchos. O encontro reuniu os coordenadores e servidores da Atenção Básica A SES irá financiar a aquisição de computadores da rede pública dos municípios, além de profissioj- para todos os municípios que necessitarem, e é a nais de TI, para a capacitação do trabalho. responsável pela capacitação dos servidores para o sistema, e pela educação permanente. O Estado Em todo o Brasil as UBS estão sendo informatiza- é hoje referência no País pelo apoio e logística aos das, para que o prontuário eletrônico do paciente municípios nesta questão. esteja on-line, em rede, com todas as unidades no Texto: Denise Gewehr Edição: Redação Secom - (51) 3210.4305. Fonte: http://www.saude.rs.gov.br/conteudo/7423/?Unidades _ B%C3%A1sicas _ de _ Sa%C3%BAde _ no _ RS _ ter%C3%A3o _ Prontu%C3%A1rio _ Eletr%C3%B4nico _ no _ SUS

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