Ano 3 vol 16

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Conselho Científico Presidente do Conselho Científico

Profa Dra Regina Helena Medeiros UCS - Universidade de Caxias do Sul

EXPEDIENTE Editora: Lisiane Palau Azevedo Editora Cientíica: Regina Medeiros Assistente Editorial: Gilberto Dias de Azevedo gilbertolivros@gmail.com

Profa Doutoranda Adriana Aparecida Paz UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre

Profa Dra Maria Bettina Camargo Bub UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

Profa Dra Ana Elizabeth Figueiredo PUC/RS

Profa Dra Maria da Graça de Oliveira Crossetti UFRGS - Universidade Federal do RS

Prof. Dr. Ari Nunes Assunção Unisc – Universidade de Santa Cruz do Sul Profa Dra Beatriz Regina Lara dos Santos PUC/RS

Produção: Álvaro Lopes (Publikmais) contato@publikmais.com.br

Profa Dra Dulcinéia Ghizoni Schneider Unisul /SC

Revisão de Português: Suliani Editograia

Profa Dra Edaiane Joana Lima Barros HU/FURG/RS

Vendas: moriaeditora@gmail.com (51) 3351-2361 / 3334-4753 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é um periódico cientíico, cultural e proissional bimestralmente lido por 5.000 proissionais de enfermagem. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem não aceita matéria paga em seu espaço editorial.

Prof. Dr. Edison Luiz Devos Barlem FURG/RS Profa Dra Erica Rosalba Mallmann Duarte UFRGS - Universidade Federal do RS Profa Dra Giovana Calcagno Gomes FURG/RS Profa MS Graziella Gasparotto Baiocco Grupo Hospitalar Conceição

Circulação: em todo território nacional.

Profa Dra Iride Cristofoli Caberlon Ulbra - Universidade Luterana do Brasil-Gravataí

Seis números anuais: janeiro/fevereiro, março/ abril, maio/junho, julho/agosto, setembro/outubro e novembro/dezembro.

Profa Dra Juliana Vieira De Araújo Sandri Univali - Universidade do Vale do Itajaí /SC

Data da Impressão: maio/2014.

Profa Dra Lisia Maria Fenstersefer Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos Profa Dra Lisnéia Fabiani Bock IPA - Rede Metodista de Educação do Sul

Correspondência: Moriá Editora Ltda. Rua Aracy Fróes, 258 / 902 Jardim Itu Sabará - Porto Alegre/ RS CEP: 91.210-230 Tels.: (51) 9116.9298 / (51) 3334.4753.

Profa MS Lucila Corsino de Paiva Faculdade Maurício de Nassau - Natal/ RN

E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com

Profa Doutoranda Magda Tessman Schwalm Unesc/SC

Números avulsos: R$ 40,00 Periodicidade: Bimestral Distribuição: Via Correios

Profa Dra Luzia Fernandes Milão Ulbra - Universidade Luterana do Brasil

Profa Dra Maira Buss Thofehrn UFPel - Universidade Federal de Pelotas

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem reservase todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção PanAmericana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais.

Profa Dra Maria Ribeiro Lacerda Universidade Federal do Paraná/PR Prof. Doutorando Marcio Neres dos Santos Grupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre - RS Profa Dra Maritê Inez Argenta Faculdade Estácio de Sá/SC

Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela Moriá Editora que, em qualquer situação, agirá como detentora dos mesmos. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral. Publica trabalhos originais das diferentes áreas da Enfermagem, Saúde e áreas ains, como resultados de pesquisas, artigos de relexão, relato de experiências e discussão de temas atuais.

ISSN 2236-0417

Profa Dra Maria Ligia dos Reis Bellaguarda Univali/SC Profa Dra Marlene Gomes Terra UFSM - Universidade Federal de Santa Maria Profa Dra Nara Marilene Oliveira Giradon Perlini UFSM - Universidade Federal de Santa Maria Profa Doutoranda Nára Selaimen G. de Azeredo Grupo Hospitalar Conceição - Porto Alegre/RS Profa Dra Nilva Lúcia Rech Stedile UCS - Universidade de Caxias do Sul Profa Dra Regina Gema Santini Costenaro Unifra - Centro Universitário Franciscano Profa Dra Rita Catalina Aquino Caregnato Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profa Dra Roseana Maria Medeiros URI-Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-Campus Erechim/RS Profa Dra Sandra Maria Cezar Leal Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos Enfa Estomaterapeuta Silvana Janning Prazeres SOBEST - RS Profa Dra Solange Machado Guimarães Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profa Dra Sonara Lucia Estima Unilasalle - Centro Universitário La Salle Profa Dra Sonia Beatriz Cocaro Souza UFRGS - Universidade Federal do RS Profa Dra Suzane Beatriz Frantz Krug UNISC /Universidade de Santa Cruz do Sul Profa MS Terezinha Valduga Cardoso Ulbra - Universidade Luterana do Brasil IAHCS Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde Profa MS Vera Lucia Fortunato Fortes UPF - Universidade de Passo Fundo Prof Dr Wilian Wegner Centro Universitário Metodista IPA/RS Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)/RS

Ficha Catalográfica R 454 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. - Vol. 1, nº 1(março/abril. 2011). Porto Alegre: Moriá Editora Ltda., 2011. -V. Bimestral ISSN 2236-0417 1. Enfermagem-Periódicos NLM WY 1

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem Bibliotecária Responsável – Maria Laura Martins Scheidemandel CRB10-581

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Sumário Página 03

Editorial

Artigos Página 04

Os desaios enfrentados pelo enfermeiro no processo de trabalho em instituições de longa permanência para idosos The vaccine situation of children and the parents reasons for delaying the vaccines Diego Gonçalves | Neiva Junkes Hoepers | Maria Teresa Soratto | Luciana Rosa | Maria Salete Salvaro

Página 09

O brincar na pediatria: recurso utilizado no cuidado Playing in pediatrics: resources used in care Isabel Cristina dos Santos Colomé | Luana Possamai Menezes | Marcio Rossato Badke | Silvana Bastos Cogo Bisogno

Página 14

Relação do uso de drogas com o ato de violência cometido entre adolescentes internos no Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE) The relationship between the use of drugs and violent acts done by teena- gers admitted at Center of Social and Educational Attendance – CASE Rodrigo Edi Vargas | Cibele Sandri Manfredini

Página 20

Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa Use of medicinal plants in wound care: an integrative review Daniella Karine Souza Lima | Caroline Porcelis Vargas | Erika Yuriko Kinoshita | Soraia Dornelles Schoeller | Dhayana Loyze da Silva

Página 28

Normas para publicação

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Curso Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem Eventos Cientíicos Aula 5: Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem: empoderamento político

Página 34

Curso Terapia Intravenosa para Enfermagem Aula 5: Complicações da Terapia Intravenosa e intervenções

Página 39

Congressos e Eventos

Página 40

Nota

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Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


Editorial EDUCAÇÃO PERMANENTE: CAMINHO PARA ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM SAÚDE. Educar/aprender perpassa por algumas dimensões: desmistificar as necessidades do outro; elaborar estratégias de ensinar e aprender; escutar e dialogar coletivamente e compreender os desafios como passo para o empreendedorismo. Esses fatores constituem-se como apontamentos para uma Educação Permanente ampla, multidimensional e com indicadores voltados às práticas educativas, ações e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). A Educação Permanente visa aperfeiçoar a formação dos profissionais e fortalecer o SUS em seu contexto assistencial, gerencial e educativo. Possibilita o desenvolvimento pessoal dos colaboradores em saúde e o desenvolvimento das instituições, bem como reforça a relação dessas condutas à gestão do sistema e dos serviços, com o trabalho da atenção à saúde e com o controle social no qual os colaboradores repensam sua prática e articulam com a comunidade novas formas de cuidar. Toda essa dimensão pode servir como uma teia de conhecimentos que subsidia ideologicamente práticas de ensino, pesquisa e extensão em saúde, em que os colaboradores e acadêmicos imersos em um cenário de ações sociais e de cuidado refletem, problematizam, questionam e reelaboram os desafios do seu cotidiano como pilares para compreensão de si e do outro. Nesse sentido, percebe-se que as demandas1 são intensas e a realidade é permeada de dificuldades diversas, como a insuficiência de recursos humanos e materiais, questões socioeconômicas vivenciadas pelos diferentes atuadores deste contexto, entre outros, podem influenciar quanto às necessidades e estratégias apresentadas. Problematizar, pensar criticamente e reformar as ideias descortina novas ferramentas em Educação Permanente, servindo como atalho para reformular ações educativas, implementar capacitações que visem o ser humano em sua essência, a partir de suas aptidões, e forjar engrenagens que deem subsídios para o uso consciente das tecnologias em saúde. Com isso, busca-se superar as dificuldades1 ou minimizar os transtornos com a finalidade de que os pacientes recebam atendimento de qualidade, em consonância com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil de 2009.

Diante disso, por meio de projetos de ensino, pesquisa e extensão no Setor de Educação Permanente do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU/FURG), resgata-se o olhar científico atrelado a ações práticas que deem conta dos desafios tecnológicos, do cuidado humano e das experiências de seus colaboradores, a fim de que seja articulada à indissociabilidade dessas três dimensões. Nessa trajetória, a aprendizagem significativa é aquela em que as soluções são construídas pelos sujeitos que cuidam, ou seja, percebem as lacunas não como dificuldades, mas como alternativas para modificar ações em saúde. A Educação Permanente surge assim, como um motivador multiprofissional em que estratégias são construídas coletivamente, com colaboradores e acadêmicos que se visualizam em um mesmo cenário, compartilham do conhecimento e percebem-se autônomos e altruístas diante dos desafios. Desvendar os mistérios relacionados à temática saúde implica propor um novo panorama social, ético e cultural. Fazer a diferença depende de todos nós, profissionais da saúde.

Edaiane Joana Lima Barros

Enfermeira Responsável pelo Setor de Educação Permanente do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Correa Jr – FURG. Doutora e Mestre em Enfermagem. Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior. Licenciada em Educação Profissional e Tecnológica – Enfermagem. Pesquisadora do Grupo Gepgeron/CNPq. Membro do Conselho Científico da Revista Sul - Brasileira de Enfermagem. E-mail de contato: edaiane _ barros@yahoo.com.br

Referências 1. Stahlschmidt Ana Paula Melchiors. Integralidade, construção e socialização de conhecimentos no contexto da educação permanente e atuação de profissionais da área da saúde. Interface (Botucatu) [periódico na Internet]. 2012 Set [citado 2013 Out 21];16( 42 ): 819-827.

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Os desafios enfrentados pelo enfermeiro no processo de trabalho em instituições de longa permanência para idosos Challenges faced by nurses in the process of working in institutions for the aged Diego Gonçalves* Neiva Junkes Hoepers** Maria Teresa Soratto**

Luciana Rosa** Maria Salete Salvaro**

Resumo: A presente pesquisa teve como objetivo conhecer a estrutura organizacional das Instituições Longa Permanência para Idosos (ILPI) e identificar o perfil e a capacitação dos enfermeiros que nelas atuam. Foram feitas pesquisas de abordagem qualitativa, descritiva, exploratória e de campo, com quatro enfermeiros e três ILPIs na Região Sul de Santa Catarina, além de entrevistas e observação sistemática, em novembro de 2013. A análise dos dados feita por categorização de dados. Quanto os resultados, evidenciou-se que os enfermeiros têm dificuldades na assistência aos idosos em decorrência do déficit de funcionários e da falta de capacitação aos enfermeiros, na área de gerontologia. Ademais, os idosos desempenham poucas atividades físicas, recreativas e sociais, sendo pouco estimulados para a autonomia, independência, autoestima e as Atividades de Vida Diária (AVDs). Palavras-chave: Idoso. Institucionalização. Enfermagem. Gerontologia.

Abstract: The present study aimed to understand the organizational structure of the Institutions for the Aged (LTCF) and identify the profile and training of nurses working in them. This was a qualitative, descriptive, exploratory and field approach, with four nurses and three NHs in the South of Santa Catarina, interviews and systematic observation, in November 2013. The data analysis performed by categorizing data. The results show that nurses have difficulties in caring for the elderly as a result of staff deficit. It was demonstrated lack of training for nurses in the area of gerontology. And that older people play fewer physical, recreational and social activities, with little stimulated for autonomy, independence, self-esteem and Activities of Daily Living. Keywords: Elderly. Institutionalization. Nursing. Gerontology.

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Introdução O processo de envelhecimento vem se intensificando com o passar dos anos; o alargamento do topo da pirâmide etária pode ser observado pelo crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou mais que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010.1 O crescente número de idosos ocasiona aumento no número de atendidos em ILPIs, as quais são residências destinadas a pessoas com idade igual ou superior a 60 anos que buscam moradia, amparo ou proteção, algo que muitas vezes não encontram em ambiente familiar.2 A portaria nº 67, de 21 de março de 2012, a qual fala a respeito das normas reguladoras das condições de instalação de lares para idosos, coloca em seu artigo 12°, nos Capítulos 2 e 3, que a estrutura residencial que acolhe idosos em situação de grande dependência e envolve serviços de enfermagem, exige o profissional enfermeiro.3

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Isso posto, vê-se a importância da avaliação da capacidade funcional e da aptidão física dos idosos, a fim de orientar melhor as intervenções específicas e seu acompanhamento, sendo fundamental no combate das dependências preveníeis e na promoção de uma vida mais ativa possível. Da mesma forma, a detecção do grau de dependência do idoso nos diferentes componentes da aptidão física possibilita selecionar intervenções adequadas, aplicadas tanto individualmente quanto em grupo, com vistas à melhoria da capacidade funcional, principalmente no desempenho das AVDs.4 Hoje nota-se que o enfermeiro acaba voltando-se prioritariamente para as atividades administrativas e burocráticas das ILPIs, distanciando-se da assistência, propriamente dita, do idoso, o qual podemos caracterizar como o “objeto de cuidado” da enfermagem. Frente às reflexões abordadas, a questão norteadora do estudo foi identificar quais os desafios enfrentados pelo enfermeiro no processo de trabalho em ILPIs do município de Criciúma/SC.

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Os desafios enfrentados pelo enfermeiro no processo de trabalho em instituições de longa permanência para idosos

ASSISTÊNCIA AO IDOSO INSTITUCIONALIZADO

O IDOSO INSTITUCIONALIZADO

O processo de trabalho é o de atividade humana dirigida a um fim, por meio do qual os seres humanos atuam sobre a natureza externa e a modificam para que ela possa responder às suas necessidades, ao mesmo tempo em que modificam sua própria natureza. O trabalho, no seu percurso histórico, foi institucionalizado, e, dessa institucionalização, surge a produção de bens e serviços, de acordo com regulações sociais.10 O enfermeiro de uma ILPI,s além de gerenciar a equipe de enfermagem e cuidadores, deve prestar assistência de forma integral e humanizada, buscando um cuidado ético ao idoso institucionalizado. O profissional deve conhecer a equipe que cuida dos idosos institucionalizados, além dos processos de trabalho que envolve o cuidado terapêutico ao idoso. Isso requer capacitação da equipe e gerenciamento de forma ética, com participação do grupo, e com formação de vínculo com a equipe multiprofisisonal que atua nas ILPIs, buscando, assim, o cuidado integral e humanizado do idoso em suas especificidades. Segundo a Lei 7498, de 25 de junho de 1986, a qual regulamenta o exercício profissional, no seu artigo 11, inciso I, encontra-se como atividade privativa do enfermeiro o planejamento, a organização, a coordenação, a execução e a avaliação do serviço de enfermagem. Onde houver trabalhador de enfermagem de nível médio/técnico e outros profissionais que realizam o cuidado, há necessidade de um enfermeiro para liderar e direcionar esses trabalhadores. Sabemos que não é o que em geral ocorre na prática, pois muitas instituições não apresentam o profissional enfermeiro em atividade. A partir do Decreto nº 94.406, de 8 de Junho de 1987, que regulamenta a Lei do Exercício Profissional nº 7.498/86, são atividades do técnico em enfermagem:

Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (2003), entende-se por institucionalização o atendimento integral, em regime de internato, às pessoas de 60 anos ou mais, dependentes ou independentes, sem vínculo familiar ou que não dispõem de condições para prover sua própria subsistência. As ILPIs, também conhecidas como asilos, abrigos, lares, casas de repouso, clínicas geriátricas e ancionatos, devem satisfazer às necessidades dos idosos quanto à moradia, ali-

Assistir ao enfermeiro no planejamento, programação, orientação e supervisão das atividades de assistência de enfermagem, preparar o paciente para consultas, exames e tratamentos, observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas ao nível de sua qualificação, executar tratamentos especificamente prescritos, ou de rotina, além de outras atividades de enfermagem, como ministrar medicamentos por via oral e parenteral, realizar controle hídrico, fazer

INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PAR A IDOSOS (ILPIs) A Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA/ RDC nº 283, de 26 de setembro de 2005, a qual aprova o Regulamento Técnico que estabelece as normas de funcionamento para as Instituições de Longa Permanência para Idosos no Brasil, define como deverá ser o padrão mínimo de funcionamento das ILPIs e é aplicável a toda instituição de longa permanência para idosos, governamental ou não governamental, destinada à moradia coletiva de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar.8

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Diego Gonçalves | Neiva Junkes Hoepers | Maria Teresa Soratto | Luciana Rosa | Maria Salete Salvaro

Entendemos o envelhecimento como fenômeno natural e processual, o qual vai do útero ao túmulo. Para nós, o processo de envelhecimento é compreendido como processo de vida, ou seja, envelhecemos porque vivemos e, muitas vezes, sem nos darmos conta disso. O processo de envelhecimento comporta, portanto, a fase da velhice, mas não se esgota nela. A qualidade de vida e, consequentemente, a qualidade do envelhecimento, relacionam-se com a visão de mundo do indivíduo e da sociedade em que ele está inserido, assim como com o “estilo de vida” conferido a cada ser.5 A Lei nº. 8.842, de 4 de janeiro de 1994, dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Seu objetivo é assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.6 A Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003, dispõe sobre o estatuto do idoso e dá outras providências. Em seu Art. 1, é instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.7

mentação, saúde e convivência social, por meio do trabalho da assistência social, medicina, psicologia, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, odontologia, nutrição, entre outros serviços.9

Artigo de pesquisa

PROCESSO DE ENVELHECIMENTO


Artigo de pesquisa

Os desafios enfrentados pelo enfermeiro no processo de trabalho em instituições de longa permanência para idosos

curativos, aplicar oxigenoterapia, nebulização, enteroclisma, enema e calor ou frio, executar tarefas referentes à conservação e aplicação de vacinas, efetuar o controle de pacientes e de comunicantes em doenças transmissíveis, realizar testes e proceder à sua leitura, para subsídio de diagnóstico, colher material para exames laboratoriais, executar atividades de desinfecção e esterilização, prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente e zelar por sua segurança, orientar os pacientes na pós-consulta e auxiliar o enfermeiro na execução dos programas de educação para a saúde.11 Na ILPI, o técnico de enfermagem tem um relevante papel na supervisão dos cuidadores, principalmente naquelas ILPIs em que o enfermeiro tem carga horária reduzida. Cuidadores de idosos são pessoas que prestam cuidados básicos ou de vida prática de modo restrito, esporádico, ocasional ou intermitente. Esses trabalhadores cuidam de pessoas idosas que apresentam diferentes níveis de dependência associada a incapacidades funcionais e a doenças.12

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Esta pesquisa caracterizou-se por ser descritivo-exploratória e de campo, pois tem como finalidade “desenvolver, esclarecer, modificar e aprimorar ideias”, descrevendo as características de determinado fenômeno. São incluídas no grupo de pesquisas descritivas as que têm como objetivo de levantar “as opiniões, atitudes e crenças de uma população”.13 Quanto a abordagem da pesquisa, caracterizou-se como qualitativa, pois “tenta-se compreender um problema da perspectiva dos sujeitos que o vivenciam, ou seja, parte de sua vida diária, sua satisfação, seus desapontamentos, suas surpresas e outras emoções, sentimentos e desejos, assim como na perspectiva do próprio pesquisador”.10 Foi desenvolvida em três ILPIs em um município do sul de Santa Catarina. Envolvendo quatro enfermeiros atuantes nestas instituições, com aplicação de uma entrevista semiestruturada, aplicada pelo pesquisador com dia e hora pré-agendados, a qual abordou assuntos referentes ao tema. Foi realizada a observação sistemática pelo pesquisador com roteiro preestabelecido. A análise e interpretação dos dados qualitativos foram realizadas pela categorização dos dados segundo Minayo, através da ordenação, classificação e análise final dos dados pesquisados.14 O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da UNESC, pare-

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Percebeu-se que o gênero dos enfermeiros entrevistados foi paritário, pois houve somente enfermeiros do gênero feminino. Sabe-se que há um maior número de pessoas do gênero feminino do que masculino que trabalham na enfermagem. Quanto a idade, os entrevistados apresentaram faixa etária entre 31 e 40 anos. É sabido que há um grande aumento da população idosa nos últimos anos, e também há falta de especialização dos profissionais na área de geriatria e gerontologia, sendo que são poucas as instituições de ensino que oferecem especializações nessas área. Assim, têm-se um déficit de enfermeiros gerontólogos e, como consequência, déficit da assistência especializada e específicas conforme as necessidades dos idosos. Visto também que o “tempo de trabalho” dos enfermeiros nas ILPIs, em sua maioria, ultrapassa um ano, a experiência e o aprendizado caminham juntos. Desta forma, enfermeiros com pouco tempo de experiência com idosos talvez não tenham bom desempenho por falta de conhecimento da realidade que se tem apresentado, acabando, muitas vezes, restrito aos conhecimentos teóricos e pouco práticos. Tema 1 – Capacitação para o processo de trabalho a idosos – Percebeu-se que apenas um enfermeiro não realizou capacitação na área de saúde do idoso e em ILPIs. Talvez isso possa ser consequência da falta de oferta de capacitação nessa área, acarretando muitas dúvidas durante a atuação ou no desenvolvimento do processo de trabalho a idosos. Dessa forma, muitas vezes o profissional enfermeiro fica restrito às ações que poderiam ser desenvolvidas, prejudicando o andamento de um bom processo de trabalho nas ILPIs. Segundo o Art. 18 do Estatuto do Idoso de 2003, as instituições de saúde devem promover o treinamento e a capacitação dos profissionais para atendimento as necessidades do idoso, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de autoajuda.7 Tema 2 – Organização da estrutura da ILPI – Observou-se que há déficit de funcionários nas ILPIs, conforme a RDC nº 283/2005 preconiza.8 O número reduzido de funcionários nas ILPIs pode acarretar aumento de atividades para a equipe de enfermagem, ocasionando sobrecarga de trabalho e falta de uma assistência adequada aos idosos.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

cer nº: 381.160, na data da relatoria, 28 de agosto de 2013. A pesquisa teve inicio após o parecer e o aceite do CEP – UNESC e os sujeitos abordados para a pesquisa autorizaram sua participação na pesquisa por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).


qualificada ao idoso, em decorrência do déficit de funcionários na instituição. Observação sistematizada da estrutura organizacional da ILPIs – Alguns idosos realizam algumas atividades que estimulam autonomia, porém, sente-se falta da inserção desses indivíduos na sociedade; muitos deles não participam de atividades e grupos sociais. A reinserção do idoso na sociedade é pensar numa pessoa mais participativa e interativa na sociedade, com maior autonomia, buscando seus direitos e integrando-se em movimentos sociais. As instituições incentivam os idosos a realizar AVDs com frequência, mas não foi possível identificar a realização de outras práticas esportivas e de interação dos idosos com a sociedade. Desta forma, identificou-se a permanência destes na instituição, com pouca visita de familiares, amigos e conhecidos. Viu-se que as instituições realizam reabilitação da capacidade funcional dos idosos, possuindo fisioterapeuta que desenvolve atividades relacionadas a essa função. As instituições pesquisadas possuem um bom plano de prevenção de acidentes e doenças, e percebeu-se que todas possuem equipamentos de autoajuda, os idosos têm “carteirinha” de vacinação, e a equipe aparentava estar preparada em caso de acidentes com idosos. Constatou-se que os profissionais utilizam o prontuário de formas diferentes, em alguns, todos os profissionais fazem registros, enquanto em outros aparecem registro de um só profissional. Foi visto que, das instituições pesquisadas, uma delas não permite que os idosos tenham acesso a guardar e manipular roupas. O vestuário desempenha um papel primordial no bem-estar psicológico do indivíduo, sendo várias vezes utilizado como meio adaptativo a necessidades ambientais e sociais, constituindo um valor importante para os idosos.16 Desta forma, estimulando a autonomia, a independência, a AVD, a autoestima e a privacidade desses idosos, isso vem ao encontro no que diz as políticas de saúde do idoso.

CONCLUSÃO Com o presente estudo foi possível observar o perfil dos enfermeiros em ILPIs, compreender as maiores dificuldades e identificar as ações do enfermeiro no cuidado aos idosos institucionalizados e observar a estrutura das ILPIs. Desta forma, há muito o que melhorar nesta área para oferecer uma melhor qualidade de vida aos idosos, sendo que devemos aprimorar mais os cuidados com esses indivíduos juntamente com equipes multiprofissionais e com cuidado humanizado.

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Conforme a RDC nº 283/2005, a instituição deve oferecer instalações físicas em condições de habitabilidade, higiene, salubridade, segurança e garantir a acessibilidade a todas as pessoas com dificuldade de locomoção, segundo o estabelecido na Lei Federal 10.098/00.8 Observou-se que todos os enfermeiros pesquisados relatam que realizam diversas atividades com os idosos institucionalizados. Além disso, todas as instituições realizam de alguma forma atividades recreativas com os idosos, mostrando a importância da promoção e prevenção da saúde e qualidade de vida dessas pessoas. Notou-se que as instituições possuem o Procedimento Operacional Padrão (POP), mostrando que eles são muito importantes para a organização, o bom desempenho e o funcionamento de uma instituição. A falta de POP pode indicar desorganização do serviço de enfermagem devido às diferentes formas de conduta profissional.15 Percebeu-se que todas as instituições classificam os idosos por grau de dependência, mas em duas das instituições pesquisadas não foi visualizada a classificação em local de fácil acesso. Conforme a RDC 283/2005, as ILPIs devem organizar e manter atualizados e de fácil acesso os documentos necessários para fiscalização, avaliação e controle social.8 Entretanto, nem todas as instituições atendem permanentemente as exigências preconizadas na RDC 283/2005, pois a quantidade de profissionais cuidadores de idosos nas instituições é menor que a exigida. Tema 3 – Atuação do enfermeiro na ILPI – Percebeu-se que, de modo geral, os enfermeiros desenvolvem várias atividades, mas a função específica do enfermeiro em ILPI ficou a desejar. Entre as ações desenvolvidas, muitas são de rotinas simples, portanto, os profissionais poderiam estar desenvolvendo muitas atividades que são pertinentes em uma instituição e que são de grande importância para o cuidado, como capacitação dos cuidadores, planejamento da assistência, e outros cuidados que competem ao enfermeiro. Os enfermeiros das ILPIs realizam poucos procedimentos invasivos, provavelmente por apresentar pouca necessidade desses procedimentos na instituição. Conforme o relato apresentado, os enfermeiros realizam vários procedimentos de complexidade média ou baixa, assim, tais funções poderiam ser desenvolvidas pelo técnico em enfermagem, e o enfermeiro poderia desenvolver melhor as ações de supervisão administrativa e gerenciamento, entre outras funções que competem a ele nessas instituições. Tema 4 – Sugestões do enfermeiro quanto a ILPI – No relato dos enfermeiros, a maioria expressa que sente falta de uma assistência adequada e

Artigo de pesquisa

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REFERÊNCIAS 1. Brasil. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Primeiros resultados definitivos do Censo 2010, 2011. Disponível em: <http://www. ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia _ visualiza.php?id _ noticia=1866> Acesso em: 28 de maio de 2013. 2. Santos NO. Família de idosos institucionalizados: Perspectivas de trabalhadores de uma Instituição de longa permanência. 2013. 88 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria – RS, 2013. Disponível em: < http://coral.ufsm.br/ppgenf/Dissertacao _ Naiana%20Oliveira%20dos%20Santos.pdf Acesso em: 10 de junho de 2013>. 3. Brasil. Ministério da Solidariedade e da Segurança Social. Portaria nº 67/2012 de 21 de março. Define as normas de condições de instalação e funcionamento de lares para idosos. Diário da República, 1.ª série. Nº 58. p. 1324.

4. Goncalves LHT et al. O idoso institucionalizado: avaliação da capacidade funcional e aptidão física. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro 2010 setembro; 26(9). Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci _ arttext&pid=S0102-311X2010000900007&lng=en&nrm=iso>.Acesso em: 05 Junho 2013. 5. Souza R F, Matias HA, Bretas ACP. Reflexões sobre envelhecimento e trabalho. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro 1010 setembro; 15(6). Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci _ arttext&pid=S1413-81232010000600021&lng=en&nrm=iso>.Acesso em: 09 Junho 2013. 6. Brasil. Ministério da Previdência e Assistência Social, Lei n. 8.842. Política Nacional do Idoso, 4 de janeiro de 1994,Brasilia - DF, 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil _ 03/leis/l8842.htm> Acesso em: 28 de maio de 2013. 7. Brasil. Parecer nº 1301 de 2003. Estatuto do Idoso. Projeto de Lei da Câmara nº 57. Brasília, DF: Senado Federal, Comissão Diretora; 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil _ 03/leis/2003/l10.741.htm>Acesso em: 28 de maio de 2013. 8. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 283, de 26 de setembro de 2005. Regulamento técnico para o funcionamento das instituições de longa permanência para idosos. Brasília: ANVISA; 2005. Disponível em:<http://www.anvisa.gov.br/hotsite/segurancadopaciente/documentos/rdcs/RDC%20N%C2%BA%20283-2005.pdf>Acesso em: 05 de setembro de 2013 9. Ferreira DCO, Yoshitome AY. Prevalência e caraterísticas das quedas de idosos institucionalizados. Rev. bras. Enferm, Brasília 2010 dezembro; 63(6). Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci _ arttext&pid=S0034-71672010000600019&lng=en&nrm=iso>.Acesso em: 05 Junho 2013. 10. Leopardi MT. Teoria e Método em Assistência de Enfermagem. 2ª ed. Florianópolis: Soldasoft, 2006. 11. Brasil. Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. Regulamentação do exercício da enfermagem. Brasilia - DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil _ 03/leis/L7498.htm> Acesso em: 15 de novembro de 2013 12. Silva V. Qualidade de vida do idoso: cuidado do idoso, dever de quem? Revista Espaço Acadêmico, Maringá 2010 julho; 10(110). Disponível em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/ view/9226/5788>. Acesso em:20 setembro de 2013. 13. Gil A C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. SP: Atlas, 2002. p.175. 14. Minayo MCS (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. 108 p. 15. Guerrero GP, Beccaria LM, Trevizan MA. Procedimento operacional padrão: utilização na assistência de enfermagem em serviços hospitalares. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto 2008 dec;16(6). Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci _ arttext&pid=S0104-11692008000600005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 Nov. 2013. 16. Araujo LAO, Bachion MM. Diagnósticos de enfermagem do Padrão Mover em idosos de uma comunidade atendida pelo Programa Saúde da Família. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo 2005 mar; 39(1). Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci _ arttext&pid=S0080-62342005000100007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 Nov. 2013.

Recebido: 11.12.2013 Aprovado: 20.02.2014 * Enfermeiro graduado pelo Curso de enfermagem da Universidade do Estremo Sul Catarinense – UNESC ** Enfermeiros e docentes do Curso de enfermagem da Universidade do Estremo Sul Catarinense – UNESC

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Diego Gonçalves | Neiva Junkes Hoepers | Maria Teresa Soratto | Luciana Rosa | Maria Salete Salvaro

O déficit de profissionais leva ao grande número de atribuições e a sobrecarga aos trabalhadores das ILPIs; essas são as principais dificuldades encontradas pelos enfermeiros. Assim, esses profissionais ficam restritos a ações básicas, prejudicando a assistência de enfermagem adequada aos idosos institucionalizados. Notou-se que os idosos desempenham um déficit em atividades físicas, recreativas e sociais, sendo pouco estimulados para a autonomia, a independência, a AVD, a autoestima e a privacidade. O enfermeiro possui papel fundamental na saúde do idoso em ILPIs, suas atribuições e responsabilidades são inúmeras, seu embasamento científico é essencial para atividades de promoção, prevenção e recuperação, sendo de suma importância para saúde dos idosos institucionalizados. Também, observou-se que os enfermeiros possuem pouca capacitação para desempenhar seu processo de trabalho na área geronto/geriatria; portanto, a falta de oferta de cursos nesta área pode acarretar dúvidas sobre o bom desempenho de ações a idosos. No atual mercado de trabalho aos idosos, os enfermeiros estão cada vez mais atuantes e participativos, havendo exigência do conhecimento na área de geriatria e gerontologia, sendo imprescindível a capacitação da equipe de saúde para um atendimento adequado ao idoso. Assim, torna-se necessário voltar a atenção na academia para a formação e capacitação de enfermagem, com vistas para o envelhecimento e o processo saúde-doença dos idosos.


O brincar na pediatria: recurso utilizado no cuidado Playing in pediatrics: resources used in care

* Isabel Cristina dos Santos Colomé ** Luana Possamai Menezes

*** Marcio Rossato Badke **** Silvana Bastos Cogo Bisogno

Resumo - Este artigo tem como objetivo descrever as contribuições que a prática não obrigatória desenvolvida na Associação do Hospital de Caridade de Palmeira das Missões (AHCPM), vinculadas ao projeto de extensão intitulado “O BRINCAR NA PEDIATRIA: estratégia de cuidado com crianças hospitalizadas”, proporcionaram aos sujeitos envolvidos, assim como, contribuir como impulsionador da realização de novas ações em saúde no cuidado às crianças internadas. Metodologia:Para tanto, foi criada uma brinquedoteca no setor da pediatria da AHCPM. Ela incluiu brincadeiras com jogos, pinturas, brinquedos, entre outras atividades recreativas. Como resultado desse cuidado, obteve-se a realização do acolhimento a essas crianças, diminuição do tempo ocioso da hospitalização, momentos de alegria, troca de vivências e aprendizado coletivo. A ação de extensão permitiu a ampliação da visão profissional e humanística da acadêmica. Impulsionaram a efetivação do tratamento das crianças, promovendo conforto e segurança, além de propiciar momentos agradáveis para elas, seus acompanhantes e a equipe de enfermagem. Palavras-chave: Criança. Cuidados de enfermagem. Hospitalização. Humanização da assistência.

Abstract - Goal: This article aims to describe the contributions that the practice is not mandatory developed at the Association of Charity Hospital of Palm Missions (AHCPM), linked to the extension project titled “PLAYING IN PEDIATRICS: strategic care for hospitalized children”, provided the individuals involved, as well as with a view to contributing to the achievement booster of new shares in health care to hospitalized children. Methodology: a playroom was provided in the field of pediatrics AHCPM. This included playing games, paintings, toys, and other recreational activities. Results: As a result of this care, gave the realization of these children Hospitality, decreased downtime hospitalization, moments of joy, exchanging experiences and collective learning. Conclusion: the action of extension allowed the expansion of professional and humanistic vision of academic. Boosted the effectiveness of treatment of children, promoting comfort and safety, in addition to providing a pleasant time for them, their caregivers and nursing staff. Keywords: child; nursing, hospitalization, humanization of care.

Introdução hospitalar, com enfermarias coletivas pouco iluminadas; predomínio da cor branca nas paredes e nas roupas dos profissionais; presença de equipamentos, como bombas de infusão e monitores barulhentos; procedimentos agressivos e dolorosos; utilização de uma linguagem técnica, como também a falta de privacidade.2 Neste contexto, as práticas de cuidados à saúde não podem ignorar a “urgência” de começar a pensar criticamente e estar atento à iniciativa em relação às mudanças necessárias, em função do lugar estratégico que os profissionais e as equipes de saúde ocupam em relação à criança hospitalizada.3 Os hospitais silenciosos se veem invadidos pela indisciplina criativa e a desordem própria de uma criança que procura no brincar a alegria para o esquecimento de seu sofrimento e sua tristeza relacionados à sua internação. Durante a hospitalização, a criança encontra-se ou sente-se afastada de seus objetos de estimação, do seu ritmo de vida, das pessoas que lhe são importantes e, muitas vezes, é privada de brincar.

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No contexto da hospitalização de crianças, em que suas relações ficam restritas ao contato com a equipe de saúde e possivelmente aos acompanhantes familiares, seu desenvolvimento pode ficar prejudicado caso não haja condições adequadas para os conteúdos presentes na zona de crescimento imediato ou próximo da criança. Neste caso, a mediação de suas potencialidades deve ser realizada pela equipe de saúde e por familiares. Assim, a atuação dos profissionais da área da saúde no sentido de prevenir problemas do desenvolvimento da criança hospitalizada é importante e está sendo explorada por uma investigação acerca do seu papel no cuidado com as crianças internadas.1 Além das mudanças na rotina e nos hábitos de sono, higiene e alimentação, a criança é submetida a situações nas quais não tem muita escolha, como restrição ao leito, uso de cateteres venosos, tratamento com fluidoterapia, entre outros. Nesse sentido, alguns aspectos causam profundo estranhamento nas crianças, nos adolescentes e nos seus acompanhantes, destacando-se a arquitetura


Crianças que vivenciam tais experiências podem apresentar alteração da conduta (agressividade, desejo de fugir e dependência), alterações psicopatológicas graves (quadro clínico de isolamento afetivo, falta de receptividade orgânica ao tratamento) e, ainda, alteração do estado nutricional.2 Para que um dos direitos contemplados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o direito ao brincar, seja efetivamente garantido nas instituições e práticas hospitalares, é necessário não somente a existência e disponibilidade de espaços e recursos materiais para brincar, mas também, e fundamentalmente, a presença de um adulto que seja capaz, ele próprio, também de brincar.3 É possível perceber a necessidade da humanização do atendimento em pediatria, bem como a implementação de projetos que valorizem o brincar como recurso de desenvolvimento. Essa atividade pode ser benéfica e fundamental à vida da criança, para seu crescimento e desenvolvimento harmônico. Quando transferida para o contexto do hospital, tendo a rotina de vida modificada e alterada pela doença, o brincar surge como uma possibilidade de organização dessas atividades, constituindo-se numa via fundamental para a criança compreender o momento pelo qual está passando.2 Segundo autor supracitado, há necessidade de mudanças no enfoque do tratamento, ou seja, centrar o olhar na criança doente e não apenas na doença. Nessa perspectiva, o brincar, as atividades recreacionais, as atividades artísticas e o lazer ganham importância. É nesse contexto que o projeto de extensão foi elaborado, baseando-se em atividades a serem desenvolvidas com crianças hospitalizadas internadas no setor da pediatria da Associação do Hospital de Caridade de Palmeira das Missões/ RS, a fim de possibilitar a promoção da qualidade do tratamento hospitalar ao qual estavam submetidas, podendo diminuir o tempo ocioso e angustiante dessas ações. Essas atividades foram desenvolvidas diariamente, com base em ações lúdicas e participativas. A escolha da instituição para a realização das ações de extensão no setor de pediatria deu-se por ser uma instituição hospitalar aberta à assistência e ao ensino. Nesse sentido, o curso de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria/ Centro de Educação Superior Norte do RS (UFSM-CESNORS), campus de Palmeira das Missões, sugeriu a proposta com intuito de dar mais qualidade ao serviço, além de proporcionar um cuidado mais humanizado às crianças e suas famílias, sendo prontamente acolhida pelos profissionais da instituição.

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O ACOLHIMENTO E A HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética. Não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, implica compartilhamento de saberes, angústias e invenções, tomando para si a responsabilidade de “abrigar e agasalhar” outrem em suas demandas, com responsabilidade e resolutividade sinalizada pelo caso em questão;7 Colocar em ação o acolhimento, como diretriz operacional, requer uma nova atitude de mudança no fazer em saúde e implica: • protagonismo dos sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde; • valorização e abertura para o encontro entre o profissional de saúde, o usuário e sua rede social como liga fundamental no processo de produção de saúde; • reorganização do serviço de saúde a partir da problematização dos processos de trabalho, de modo a possibilitar a intervenção de toda a equipe multiprofissional encarregada pela escuta e resolução do problema do usuário; • elaboração de projetos terapêuticos individuais e coletivos com equipes de referência em atenção diária que sejam responsáveis e gestoras desses projetos (horizontalização por linhas de cuidado); • mudanças estruturais na forma de gestão do serviço de saúde, ampliando os espaços democráticos de discussão e decisão, de escuta, trocas e decisões coletivas. A equipe neste processo pode também garantir acolhimento para seus profissionais e as dificuldades de seus componentes na acolhida à demanda da população; • uma postura de escuta e compromisso em dar respostas às necessidades de saúde trazidas pelo usuário, de maneira que inclua sua cultura, seus saberes e sua capacidade de avaliar riscos; • uma construção coletiva de propostas com a equipe local e com a rede de serviços e gerências centrais e distritais. O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde, de forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo no serviço uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas adequadas aos usuários. Ou seja, requer prestar atendimento com resolutividade e responsabilização, orientando, quando necessário, o paciente e a família em relação a outros serviços de saúde para a continuidade da assistência e estabelecendo articulações com esses serviços, a fim de garantir a eficácia desses encaminhamentos.7 O acolhimento como ação técnico-assistencial possibilita que se analise o processo de trabalho

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Artigo de reflexão

O brincar na pediatria: recurso utilizado no cuidado


em saúde com foco nas relações e pressupõe a mudança da relação profissional/usuário e sua rede social, profissional/profissional, mediante parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade, levando ao reconhecimento do usuário como sujeito e participante ativo no processo de produção da saúde.7 Nesse sentido, a humanização do cuidado vem ao encontro do acolhimento. A humanização é a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Os valores que norteiam essa política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva no processo de gestão.8 Essas discussões fomentaram e deram subsídios às ações de extensão desenvolvidas no setor pediátrico com as crianças internadas, seus acompanhantes e familiares. As brincadeiras, além de serem atividades alegres e de recreação, têm o potencial de proporcionar momentos de acolhimento e de humanização do cuidado no tratamento. No momento em que se desenvolviam as brincadeiras com as crianças, era possível acolhê-las, conversar sobre assuntos que elas tinham interesse, explicar o motivo de alguns procedimentos técnicos, os quais elas tinham dúvida e curiosidade, alegrá-las, tranquilizá-las e compreendê-las. Também foi possível investigar sobre a vida das crianças e das famílias, perpassando o olhar clínico, chegando a departamentos diferentes dos intencionados, como o setor das relações familiares, das condições de higiene ou da falta delas, dos hábitos alimentares, das condições econômicas, até mesmo, da ocorrência de violência doméstica.

A ação-extensão realizada como atividade prática não obrigatória está vinculada ao Programa de Formação Complementar em Enfermagem do Centro de Educação Superior Norte do Rio Grande do Sul – PROFCESNORS, desenvolvido pelo Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Educação Superior Norte do RS (UFSM-CESNORS), campus de Palmeira das Missões/RS. O PROFCESNORS objetiva oportunizar experiências e práticas de extensão aos acadêmicos de enfermagem a fim de desenvolver e aprimorar competências e habilidades técnicas, científicas, éticas, políticas e socioeducativas do enfermeiro, assim como praticar a teoria disponibilizada em sala de aula. Busca criar espaços de compartilhamento de experiências e saberes entre estudantes

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MÉTODO

de enfermagem e trabalhadores atuantes nos serviços de saúde, integrando instituição de ensino e serviços de saúde e estimulando a produção de trabalhos científicos a partir das vivências práticas. As atividades de extensão realizadas de janeiro a fevereiro de 2011 visaram desenvolver a brinquedoteca com as crianças internadas no setor da pediatria – Posto III da Associação do Hospital de Caridade de Palmeira das Missões/RS. As atividades ocorreram de segunda a sexta-feira, das 14 às 17 horas. Antes do projeto de extensão ser posto em prática, foi solicitada autorização da direção do hospital para poder desenvolver as atividades. Inicialmente, era organizado o espaço de trabalho, ou seja, a sala de recreação, a qual se constitui com três mesas pequenas, quatro bancos e um televisor. Era necessária a organização com a disposição de brinquedos, balões e demais objetos para deixá-la alegre e atrativa para as crianças, pois, mesmo que suas paredes fossem pintadas com cores vivas, isso não era suficiente para promover a ida das crianças para o local. As normas da instituição previam que o processo de organização poderia ocorrer contando que fossem guardados os objetos após as brincadeiras e recolocados novamente no outro dia, não sendo permitido deixá-los expostos sem a supervisão da equipe de enfermagem e ou da acadêmica de enfermagem que desenvolvia as atividades. Desta forma, após a organização do local de trabalho, as crianças eram convidadas a brincarem na sala de recreação, ou era solicitada a liberação aos responsáveis. Muitas crianças encontravam-se nos leitos em repouso e, muitas vezes, estavam inquietas. Assim, elas eram estimuladas a irem até o local brincar e desenvolver as atividades propostas. O mesmo convite se estendia aos acompanhantes e/ou familiares dessas crianças, para interagirem com elas, assim como acompanhar o momento de descontração, alegria e desenvolvimento. Para as crianças que apresentavam dificuldade de locomoção, ou outros problemas que impossibilitassem a ida à sala de recreação, as atividades eram realizadas nos leitos em que se encontravam. As temáticas foram abordadas de maneira facilmente compreendida pelas crianças, de forma lúdica, alegre, tranquila e acolhedora. Essas atividades incluíam: desenhos em papel; pinturas; música (essa atividade incluiu, além do canto, o ouvir simplesmente a música); dança (incluiu a criação de coreografias das músicas); brinquedos; jogo com balões; montagem de quebra-cabeças; leitura de livros (a acadêmica de enfermagem lia contos e histórias para as crianças).

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O brincar na pediatria: recurso utilizado no cuidado


RESULTADO DAS ATIVIDADES Percebeu-se que as ações de extensão desenvolvidas envolveram as crianças, pois elas interagiram e participaram ativamente das atividades propostas. Elas expressaram suas opiniões e sentiram-se à vontade para propor novas atividades de seu interesse. Foi possível observar que o brincar alegra, tranquiliza e educa a criança em um momento de tensão, auxiliando no tratamento. O acolhimento e a humanização buscaram promover a efetivação do tratamento técnico-curativo. O aspecto que mais evidenciou-se foi que os acompanhantes das crianças e a equipe de enfermagem participaram de forma ativa das brincadeiras. Isso contribuiu para a interação entre pais/ responsáveis e a equipe de saúde entre si e com as crianças, sendo uma troca de experiência potencial e positiva, promovendo a construção coletiva de conhecimentos, tendo em vista a busca por uma abordagem integral da saúde da criança. Esse aspecto evidencia que o ato de simplesmente brincar perpassa as ações da alegria, da distração, da interação, para ir a ações/intervenções mais complexas, como é o caso do envolvimento familiar, dos cuidados com a higiene, cuidados com a alimentação, da violência familiar, do perfil socioeconômico, entre outros, mostrando que cada criança é diferente da outra, cada situação de saúde é singular, e, por isso, o acolhimento e a humanização balizaram essa proposta de extensão. Acredita-se que a brinquedoterapia possibilitou que as crianças compreendessem melhor o seu estado de fragilidade física e psicológica. Além disso, mostrou-se capaz de promover a distração da rotina hospitalização-doença, fazendo os dias de recuperação espaços de conhecimento e diversão. O brincar fortaleceu os laços de confiança entre a criança e os profissionais de enfermagem, o que pode facilitar o cuidado, pois proporciona a interação entre cuidador e o ser cuidado. Assim, as ações de cuidado em saúde, sejam de promoção ou prevenção, quando realizadas por meio da arte e da criatividade, permitem maior integração e fortalecimento das relações entre os envolvidos, ampliando o alcance de resultados positivos.9

CONSIDER AÇÕES FINAIS Ao término das contribuições que as atividades de extensão proporcionaram aos sujeitos envolvidos, ficou evidenciada a importância de atividades práticas não obrigatórias em função da oportunidade de adquirir experiência e conhecimentos, assim como poder aplicar o aprendido em sala de

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aula em campo. Foi possível perceber a relevância em dedicar-se ao estudo e ao cuidado das crianças internadas no setor da pediatria, promovendo maior efetivação do tratamento, possibilitando conforto e bem-estar aos pacientes e acompanhantes, os quais, em sua maioria, são pais e familiares. Nota-se que os currículos dos cursos da área de saúde pouco têm valorizado aspectos que ampliem o processo diagnóstico-terapêutico para além da área biológica. Daí a necessidade de se elaborar um currículo ampliado, no qual se somem aos atributos técnicos outros que valorizem a subjetividade, a experiência, a estética, a criatividade e as artes. Desta forma, é possível cuidar com humanidade, integralidade e alegria as crianças internadas. Foi possível constatar a necessidade de se desenvolver o acolhimento e o vínculo com essas crianças, as quais se encontraram fragilizadas e deprimidas pela hospitalização. Isso vêm ao encontro da humanização do cuidado, sendo fundamental para a ampliação do olhar clínico e biológico, para o olhar completo, ampliado e complexo de cada indivíduo. Não basta apenas desenvolver a brincadeira, deve-se, também, saber brincar e ver além. As atividades recreativas são incluídas nos poucos momentos de integração que existem entre equipe de enfermagem/criança/família e ou acompanhantes/universidade, sendo um potente momento para trabalhar as relações familiares, o cuidado com a higiene, os hábitos alimentares, o perfil socioeconômico, os indicativos de violência domestica, enfim, o contexto de vida das crianças. A brincadeira deixa de ser apenas uma ação momentânea e pacata a ser desenvolvida com as crianças, para englobar mais conhecimentos e mais ações, tornando-se necessário e indispensável na hospitalização infantil. O papel da enfermagem quanto ao cuidado com a criança hospitalizada é abranger muito além da assistência técnica-biomédica e clínica, chegando ao departamento do vínculo, do acolhimento, da humanização, assim como da criatividade, da improvisação e da gestão em saúde. A enfermagem é uma das profissões da saúde que procura ver o indivíduo além da patologia ou do procedimento a ser realizado, como uma punção ou um curativo, buscando ver o indivíduo completo, um sujeito que, como qualquer outro, tem suas particularidades, necessidades e fragilidades. Frente a esse contexto, tratamos da qualidade do cuidado com uma complexidade diferenciada, pois junto ao tratamento medicamentoso e curativo da criança hospitalizada, trazemos seus acompanhantes/pais/familiares próximos a eles, como também trazemos instrumento de seu domínio, o qual facilita a comunicação e seu envolvimento social.

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Avaliação da qualidade O dabrincar assistência na pediatria: ao processo recurso de parto utilizado e nascimento no cuidadona percepção das usuárias


O brincar na pediatria: recurso utilizado no cuidado

Recebido: 17.08.2012 Aprovado: 06.04.2013 * Professora Mestre do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte do RS (UFSM-CESNORS), campus de Palmeira das Missões/RS. Doutoranda pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: HYPERLINK “http://mrd. mail.yahoo.com/compose?To=enfbel%40yahoo.com.br” \t “new”enfbel@yahoo.com.br *Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte do RS (UFSM-CESNORS), campus de Palmeira das Missões/RS. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. *** Professor Mestre do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte do RS (UFSM-CESNORS), campus de Palmeira das Missões/RS. **** Professora Mestre do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte do RS (UFSM-CESNORS), campus de Palmeira das Missões/RS.

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como prevenção da anemia ferropriva na infância: atuação do enfermeiro – estudo de revisão integrativa. Revista de Enfermagem UFPE On Line. Jul.; 5(5): 1280-285. 2011. 6 Mendes L R, Broca P V, Ferreira M A. A leitura mediada como estratégia de cuidado lúdico: contribuição ao campo da enfermagem fundamental. Escola Anna Nery, Vol. 13, no. 3. Rio de Janeiro Jul. /Set. 2009. 7 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas Práticas de Produção de Saúde. 2o Ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 8 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 9 Coelho A C O, Marta D C, Dias I M A V, Salvador M, Reis V N, Pacheco Z M L. Olho vivo: analisando a acuidade visual das crianças e o emprego do lúdico no cuidado de enfermagem. Escola Anna Nery, Vol. 14, no. 2. Rio de Janeiro Abr. /Jun. 2010.

Artigo de reflexão

REFERÊNCIAS


RELAÇÃO DO USO DE DROGAS COM O ATO DE VIOLÊNCIA COMETIDO ENTRE ADOLESCENTES INTERNOS NO CENTRO DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO (CASE) The relationship between the use of drugs and violent acts done by teenagers admitted at Center of Social and Educational Attendance – CASE * Rodrigo Edi Vargas

** Cibele Sandri Manfredini

Resumo - O objetivo deste estudo foi conhecer a relação do uso de drogas com o delito praticado entre adolescentes internos no Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE). A pesquisa teve caráter quantitativo e consistiu em realização de uma investigação de campo através de um questionário de autopreenchimento realizado com 31 adolescentes internos na instituição em 2012, após aprovação do Comitê de Ética e a autorização da instituição. A análise dos dados obtidos pelo questionário aconteceu com a catalogação de maneira estatística e representada por tabelas e gráficos a fim de responder os objetivos do estudo. A idade dos adolescentes variou de 14 a 20 anos. O álcool foi citado como a droga mais conhecida pelos adolescentes (93,5%), seguido pela cocaína (87%). Dos participantes, 45% relataram fazer uso de drogas no momento do delito praticado. O convívio e a influência do grupo de amigos desencadearam o consumo de drogas, segundo os entrevistados, e 77,4% dos adolescentes citaram o diálogo com a família como fator importante no combate à violência e ao uso das drogas. Palavras-chave: Adolescente. Droga. Delito.

Abstract - The aim of this study was to understand the relationship between drug use and the offense practiced among adolescents in the Center of Social and Educational Attendance. The research was quantitative character and consisted of a field investigation through a self-administered questionnaire conducted with thirty-one adolescents, in 2012, after the approval of the Ethics Committee and the authorization of the institution. The analysis of data obtained through the survey questions happened to cataloging data obtained statistical and represented by tables and graphs manner to meet the study objectives. The age of the adolescents ranged from 14 to 20 years. Alcohol was cited as the most well known drug by the teenagers (93.5%), followed by cocaine (87%). 45% of participants reported use of drugs at the time of the offense committed. The interaction and influence of the group of friends triggered drug use according to the respondents and 77.4% of adolescents, mentioned the dialogue with the family as an important factor to fight violence and drug use. Keywords: Teenagers. Drug. Delict.

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Introdução A palavra adolescência tem origem no verbo latino adolescere, que significa crescer, ou crescer até a maturidade, resultando em transformações de ordem social, psicológica e fisiológica.1 A Organização Mundial da Saúde2 define a adolescência como o período entre 10 e 19 anos, e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n° 8069/903, “considera-se adolescente, para os efeitos desta Lei, pessoas entre 12 e 18 anos de idade quando acontecem diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais”. Sabemos que a adolescência é auma fase conflituosa da vida devido às transformações biológicas e psicológicas que ocorrem, pois surgem as curiosidades, os conflitos, os questionamentos, a vontade de conhecer e experimentar o novo, e um sentimento de ser capaz de tomar as próprias decisões. É um período de profundas transformações que impõe ao jovem grandes exigências de adaptações, com imensas crises existenciais, em que o adolescente passa por uma etapa de insegurança, impelido de abandonar o ponto de

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partida em que referenciais históricos são rompidos e um novo caminho traçado. As drogas aparecem, muitas vezes como uma ponte que permite o estabelecimento de laços sociais, proporcionando, assim, a aceitação a um determinado grupo de iguais, ao mesmo tempo em que buscam novos ideais e novos vínculos, diferentes do grupo familiar de origem.4 Pesquisas epidemiológicas apontam cada vez mais o aumento do uso de drogas e em geral é na adolescência que se inicia o consumo. Drogas, ao contrario do que muitos pensam, não são apenas as substâncias ilícitas, mas também as substâncias lícitas, por exemplo, o cigarro, o álcool, os medicamentos e os solventes.5 O álcool é apontado como a primeira droga usada com maior frequência, geralmente em casa com irmãos e familiares, seguida pelo tabaco, usado pela primeira vez na escola ou na própria casa.6 Quanto mais cedo se inicia o uso de álcool e tabaco, maior a vulnerabilidade de se desenvolver o abuso e a dependência das mesmas substâncias e, concomitantemente, o uso de drogas ilícitas. Um

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planejar e sistematizar a assistência a esses jovens, sendo em internação, internação provisória ou semiliberdade. Além disso, nos possibilita pensarmos na elaboração e execução de ações e programas voltados para prevenção do uso de drogas e a violência em unidades de saúde e de educação. Motivados por visita realizada no CASE de Passo Fundo/RS como parte das ações desenvolvidas dentro da disciplina de Saúde da Criança e do Adolescente do curso de enfermagem, em que nos foi enfatizado a necessidade e possibilidade de abertura de um espaço para que os acadêmicos pudessem desenvolver atividades de pesquisa com este público, desenvolvemos o presente estudo. O objetivo geral foi conhecer a relação do uso de drogas com o delito praticado entre os adolescentes internos no CASE. Os objetivos específicos foram: identificar as drogas lícitas e ilícitas que os adolescentes conhecem; verificar os fatores que desencadeiam o consumo de drogas e a violência; relacionar as ações que os adolescentes entendem ser necessárias para a reabilitação do uso de drogas e da violência.

METODOLOGIA A pesquisa teve caráter quantitativo e consistiu na realização de uma investigação de campo realizada no CASE de Passo Fundo/RS nos meses de março e abril de 2012, após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Regional Integrada - Campus de Erechim/RS, bem como a autorização da instituição. Os sujeitos do estudo foram os adolescentes internos no CASE durante o período da pesquisa que aceitaram a participação voluntária. Foi considerado critério de exclusão do estudo a alta periculosidade e as permanências em sistema de isolamento definidos pela direção da instituição. No período da coleta de dados estavam internos no 36 adolescentes e, mediante aos critérios de exclusão e a participação voluntária, participaram da pesquisa 31 adolescentes. Do total de internos, quatro estavam em regime de isolamento e um não aceitou participar do estudo. A coleta de dados foi realizada através de um questionário de autopreenchimento. Para realização do questionário, no momento inicial foi realizada uma relação, juntamente com a direção da instituição, dos adolescentes que poderiam participar da pesquisa. Posteriormente, e de acordo com as normas da instituição, foi disponibilizada uma sala onde foi explicado ao adolescente, de forma individual, o trabalho, seus direitos éticos e a metodologia, assegurando seu anonimato. Aqueles que aceitaram participar receberam o questionário e o termo de consentimento livre e esclarecido que

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estudo realizado com crianças e adolescentes internos na antiga Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM) de Porto Alegre/RS, o consumo de drogas lícitas, álcool e tabaco foi relatado por 81,3% e 76,8% das crianças entrevistadas, respectivamente. O tabaco apresentou prevalência mais elevada do que o álcool nas categorias de uso no ano, no mês e no consumo pesado. Dos entrevistados, 80,9% afirmaram já terem experimentado alguma droga ilícita. Entre as drogas de uso ilícito, a maconha ocupou o primeiro lugar (69,2%), seguida pela cocaína (54,6%), solventes (49,2%), ansiolíticos (13,4%), alucinógenos (8,4%), anorexígenos (6,5%) e barbitúricos (2,4%).7 Através do uso contínuo e progressivo da droga ocorrem modificações dos valores de vida dos adolescentes. O jovem passa por uma crise de identidade e tem dificuldade em lidar com a complexidade da vida, e é isso que o leva ao suicídio, à morte trágica em acidentes ou à overdose,8 e, ainda, a atos de violência. A violência constitui um fenômeno que atinge diretamente a saúde pública porque afeta a saúde individual e coletiva, exigindo a formulação de políticas e organização de práticas e serviços específicos para sua prevenção. Quanto aos jovens, é justamente nesse grupo que se concentram as mais altas taxas de morte por agressão, bem como são os maiores acusados de autoria de violência.9 Sabemos que é importante salientar fatores de risco para o uso de drogas e a violência, como desempenho escolar insatisfatório, relacionamento conflituoso com os pais, baixa autoestima, sintomas depressivos, ausência de normas e regras claras, tolerância do meio às infrações, necessidade de novas experiências e emoções, baixo senso de responsabilidade, pouca religiosidade e antecedente de eventos estressantes, entre outros. Diante do uso de drogas e da violência na adolescência, a gravidade dos problemas associados a esse consumo e buscando um caminho que minimize os prejuízos sociais oriundos do uso dessas substâncias, percebemos ser imprescindível a atuação dos profissionais de saúde com essa faixa etária da população. No Brasil, em média, para cada 10.000 adolescentes entre 12 e 17 anos, 8,8 encontram-se privados ou restritos de liberdade, segundo dados da última edição do Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei. Esse levantamento indicou que, em novembro de 2010, havia 17.703 adolescentes em restrição e privação de liberdade, sendo 12.041 em internação, 3.934 em internação provisória e 1.728 em medida de semiliberdade.10 Desta forma, entendemos ser importante a realização de estudos para obtermos informações que possam nos auxiliar, como profissionais da saúde, a

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Relação do uso de drogas com o ato de violência cometido entre adolescentes internos no centro de atendimento socioeducativo (case)


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Dimensões da gerência em de enfermagem: facilidades e limitações parainternos a prática Relação do uso de drogas com o ato violência cometido entre adolescentes no centro de atendimento socioeducativo (case)

foi devidamente assinado em duas vias, ficando uma com a direção da instituição, a disposição do adolescente, e outra com o pesquisador. Para os adolescentes menores de 18 anos foi fornecido um termo de consentimento livre e esclarecido para o responsável legal assinar, autorizando a participação do interno no estudo. Seguindo as questões éticas, foi entregue para a instituição uma solicitação de pesquisa com uma cópia do projeto de pesquisa, o qual foi enviado para a direção estadual da Fundação de Atendimento Socioeducativo (FASE) do Rio Grande do Sul, sendo analisado e autorizado mediante a assinatura de um termo de compromisso elaborado pela direção da FASE.

A análise dos dados obtidos através do questionário de autopreenchimento fechado e anônimo aconteceu pela catalogação de maneira estatística dos resultados e representada por tabelas e gráficos a fim de responder os objetivos do estudo. Em relação às características dos participantes do estudo, visualizamos que a idade dos adolescentes variou de 14 a 20 anos, sendo que a maioria dos infratores estão na faixa etária dos 18 aos 20 anos, correspondendo a 58,1%, dos 16 a 17 anos representam 32,2% dos participantes, e 9,7% encontram-se na faixa de 14 a 15 anos. Segundo o primeiro relatório com dados oficiais quanto ao perfil dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no Brasil, realizado pelo Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (ILANUD) em 2007, a maioria dos adolescentes infratores encontrava-se entre os 16 e 17 anos (44,0%) e 18 a 21 anos (34,5%). De acordo com essa pesquisa, as demais idades apresentaram 0,2%, até 11 anos e 17,6% de 12 a 15 anos.11 Diante disso, percebemos que em relação aos dados nacionais os adolescentes pesquisados nesse estudo encontram-se em uma faixa etária superior. Quanto à escolaridade, 74,2% dos participantes tinham o Ensino Fundamental incompleto, 9,7% referiram Ensino Fundamental completo, 9,7% o Ensino Médio incompleto e 3,2% Ensino Médio completo; os que não responderam a questão totalizou 3,2%. Verificamos ainda que 48,4% dos internos tinham escolaridade entre a 4ª e a 6ª série do Ensino Fundamental. A maioria dos jovens identificou-se como da cor branca, representando 58% da população participante da pesquisa, seguindo de 26% da cor negra e 16% pardos. Em seu estudo, Schuch12 revela que cerca de 70% dos adolescentes internos na FASE no estado do Rio

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TEMPO DE INTERNAÇÃO DOS ADOLESCENTES NO CASE A internação é uma medida cuja aplicação se orienta pela excepcionalidade e brevidade, conforme preconiza o artigo 227, inciso V, da Constituição Federal/1988, o que é repetido pelo artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente. A medida é reservada para os casos mais graves, como homicídio, extorsão mediante sequestro, roubo, latrocínio, etc. Nos termos do ECA, o período de internação deve ser constantemente analisado e a sua manutenção decidida a cada seis meses, possuindo o prazo máximo de cumprimento de até três anos. Atingido o tempo limite de internação, o adolescente deve ser liberado ou inserido na medida de semiliberdade ou liberdade assistida mediante a autorização do juiz, com a ouvida do Ministério Público. A liberação imediata do adolescente é aos 21 anos de idade.3 Constatamos que, entre os internos na instituição do estudo, o período em que os adolescentes estão em regime de internação, no momento da pesquisa, varia de 1 mês a 24 meses, sendo que o tempo médio de internação dos participantes foi de 3,4 meses.

DELITOS COMETIDOS PELOS ADOLESCENTES Sabemos que diariamente são noticiados na mídia nacional e internacional casos de ato infracional cometidos por adolescentes, motivando a necessidade de estudos e discussões sobre o assunto. Nesse contexto, identificamos os delitos cometidos pelos participantes da pesquisa: o roubo representa o maior índice percentual, em 32%, seguido por 23% de homicídios, 16% furto, e a agressão física aparece como a transgressão menos cometida, segundo a pesquisa realizada com os adolescentes internos no CASE. O roubo e a agressão estão entre as infrações mais cometidas por adolescentes.14 Em estudo realizado com adolescentes em conflito com a lei no Brasil, não há uma predominância de delitos graves, pois os casos de homicídio, estupro, lesão corporal,

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APRESENTAÇÃO DOS DADOS

Grande do Sul tinham entre 16 e 18 anos. Referente à escolaridade, 8% tinham o Ensino Fundamental completo e 9% o Ensino Médio incompleto, sendo que 40% dos jovens representavam as escolaridades entre a 4ª e a 6ª série do Ensino Fundamental. Em relação à cor, os dados mostram que mais de 38% dos jovens privados de liberdade no Brasil são de cor branca e 62% de cor não branca.13


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Na análise dos dados em relação às drogas que os adolescentes internos do CASE conhecem, temos como resultado o álcool para 93,5% dos entrevistados, seguido pela cocaína, em 87%, e a maconha e o tabaco, ambos citados por 80,7% dos participantes da pesquisa. Foi constatado um elevado percentual de adolescentes internos no CASE que já fizeram uso de alguma droga. Esses dados remetem a uma importante discussão sobre a relação entre drogas e violência, pois o uso de drogas, especialmente álcool, tabaco e maconha, precedem o uso de outras drogas e a prática de infrações.16 Autores, já em 2003, apontavam uma possível relação entre uso de drogas e comportamento delinquente, indicando que 85,6% dos adolescentes que cumpriam medida de internação eram usuários.13 Em relação às drogas usadas pelos adolescentes pesquisados, verificamos um elevado percentual da maconha (83,3%), posteriormente entre as mais usadas está a cocaína (70,8%), o álcool (45,8%) e o tabaco (41,6%). Percebemos que os participantes verbalizam o uso do que eles chamam de uma nova droga, considerada pouco conhecida e com alto potencial de risco para a saúde e dependência química, conhecida como pitico ou mesclado no meio em que estes adolescentes vivem. Perante estudo de Figueiredo e Freitas17 quanto ao consumo de drogas, as mais utilizadas são álcool e tabaco para as lícitas e tranquilizantes e maconha para as ilícitas. Segundo o levantamento realizado pelo ILANUD, é expressiva a quantidade de usuários de drogas entre os adolescentes privados de liberdade no país: em 2002, 85,6% faziam uso antes da apreensão, especialmente de maconha (67,1%), álcool (32,4%), cocaína/crack (31,3%) e inalantes (22,6%). No Brasil, o álcool, o tabaco e a maconha são as drogas mais usadas pelos adolescentes.18 A faixa etária mais frequente em que se iniciou o consumo de drogas pelos adolescentes do estudo

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USO DE DROGAS PELOS ADOLESCENTES

foi entre 14 e 16 anos de idade em 50% dos pesquisados. A idade mais precoce do inicio do consumo de drogas foi seis anos de idade, e apenas um adolescente referiu ter iniciado com esta idade. Em estudo realizado com 14 adolescentes, com 14 a 19 anos, a idade da primeira experimentação de drogas ilícitas variou entre os 12 e 16 anos, sendo a idade prevalente, entre os sujeitos do estudo, 13 anos.19 Adolescentes que iniciam o consumo de drogas aos 15 anos encontram-se em situação de risco; ou seja, existe uma probabilidade elevada de aparecimento de comportamentos antissociais e de abuso de substâncias.20 Percebemos nesse estudo que a maconha é a droga ilícita mais citada como a primeira droga usada pelos adolescentes, representando 58% entre todos os participantes da pesquisa. A droga lícita mais citada como a primeira usada é o tabaco (17%), seguido pelo álcool (13%). Estudos recentes têm demonstrado a existência de uma dependência em relação à maconha. Um estudo realizado com 13.718 estudantes entre 11 e 21 anos que já haviam experimentado maconha constatou que mais da metade (55%) continuaram seu uso um ano depois.21 Foi encontrada uma associação entre uso da maconha e maiores taxas de evasão escolar, referindo-se a uma chance três vezes maior de abandono da escola aos 16 anos em adolescentes que iniciaram o uso desta substância antes dos 15 anos. Também se concluiu que o uso regular de maconha pode ser associado a um aumento no risco de uso de outras drogas ilícitas, além de um maior envolvimento em crimes, depressão e comportamentos suicidas.22 Entre os adolescentes participantes da pesquisa, a maioria (55%) relatou não fazer uso de qualquer tipo de droga durante a prática do ato infracional. Ainda assim, podemos considerar elevado o percentual dos adolescentes que faziam uso de drogas no momento do delito (45%). Estudos apontam que a agressividade predispõe ao uso de drogas e precede o comportamento delinquente. Os problemas de comportamento grave podem estar relacionados com maior risco para o uso de todas as drogas, mas a associação com o comportamento delinquente pode ser mais forte para o uso da maconha do que para o uso do álcool ou do tabaco.23 Como verificado anteriormente, 45% dos jovens disseram estar sob efeito de droga no momento do delito praticado. Entre esses adolescentes, a maioria (72%) declara a existência de relação do uso de drogas com o ato de violência cometido, 14% em partes e 14% dizem não ter tido relação o consumo de drogas com o ato infracional.

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tráfico de drogas e latrocínio não chegam a representar 30% dos atos infracionais cometidos pelos jovens internos. Os demais 70% correspondem a roubo, furtos e outros delitos não especificados.13 No que se refere ao furto e ao roubo que compõem o grupo delitivo de crimes contra o patrimônio, muitas vezes são praticados não somente para suprir uma necessidade básica, mas também para obter algum objeto que os destaquem dentro do grupo e que os insiram na sociedade de consumo.15


Artigo de pesquisa

Dimensões da gerência em de enfermagem: facilidades e limitações parainternos a prática Relação do uso de drogas com o ato violência cometido entre adolescentes no centro de atendimento socioeducativo (case)

FATORES DE RISCO RELACIONADOS COM O USO DAS DROGAS Estudos apontam diferentes motivos para o uso, como a busca pelo prazer, a diversão, a experimentação/curiosidade, a valorização social/pertencimento, o alívio do tédio, e o relaxamento, bem como problemas pessoais.24 Evidenciou-se na pesquisa que o maior fator de risco que desencadeou o consumo de drogas e a violência entre os participantes do estudo foi a influência de amigos, representando 54%.

Conforme os resultados obtidos no questionário, 24 adolescentes participantes da pesquisa, o que equivale a 77,4%, citaram como fator importante no combate a violência e ao uso das drogas o diálogo com a família. Se hostilidade e negligência parental contribuem para o engajamento de indivíduos com distúrbios de conduta em grupos criminosos, por outro lado, práticas efetivas, um bom funcionamento familiar, a existência de vínculo afetivo, o apoio e o monitoramento parental são indicativos de fatores protetores que reduzem a probabilidade de adolescentes se engajarem em atos infracionais. Desse modo, a família pode ser identificada como fator de risco ou como fator de proteção, dependendo do estilo parental utilizado.25 Práticas parentais efetivas constituem-se como o mais poderoso meio de reduzir problemas de comportamentos de adolescentes. Tais autores apontam para pesquisas longitudinais, sugerindo que os pais possuem maior impacto nos comportamentos de saúde dos adolescentes do que previamente pensado. Os mesmos autores salientam que uma análise mais cuidadosa apontou para a preocupação dos adolescentes com a desaprovação dos pais sobre o uso de álcool ou drogas como principal razão para não usá-los. Destacam-se ainda algumas pesquisas salientando o ambiente familiar positivo como a principal razão para os jovens não iniciarem comportamentos delinquentes ou comportamentos não saudáveis. Como exemplos de ambiente familiar positivo destacaram: relacionamento positivo entre pais e filhos, supervisão e disciplina consistente e comunicação dos valores familiares.26

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Buscando conhecer a relação do uso de drogas com o delito praticado entre os adolescentes internos no CASE, foi realizada a investigação de campo sobre a temática através da aplicação do questionário com perguntas abertas e fechadas de autopreenchimento e anônimo para 31 adolescentes internos. Os resultados encontrados indicaram que 45% dos adolescentes relataram fazer uso de drogas no momento do delito praticado. Entre os participantes que relataram esse uso, 72% declaram a existência da relação do uso de drogas com o ato de violência cometido, 14% em partes e 14% dizem não ter tido relação o consumo de drogas com o ato infracional, verificando-se, assim, que as drogas são fatores fortemente relacionados com o ato de violência cometido pelos adolescentes. Temos como resultado do questionamento o álcool como a droga mais conhecidas pelos adolescentes internos do CASE (93,5%), seguido pela cocaína (87%), maconha e pelo tabaco, ambos citados por 80,7% dos participantes da pesquisa. Em relação às drogas usadas pelos adolescentes, verificamos um elevado percentual da maconha (83,3%), posteriormente entre as mais usadas está a cocaína (70,8%), o álcool (45,8%) e o tabaco (41,6%). Evidenciou-se entre os participantes do estudo que o maior fator de risco que desencadeou o consumo de drogas e a violência foi a influência dos amigos, relatado por 54% dos adolescentes. Sobre os fatores importantes no combate ao uso das drogas e a violência, o diálogo com a família foi citado por 77,4% dos internos. Esses dados nos apontam para a necessidade da criação de planos e estratégias futuras que visem à prevenção dos agravos relacionados ao uso de drogas na adolescência, ressaltando a importância da participação familiar, a fim de preparar os pais para lidar com a temática das drogas, orientando os adolescentes sobre os perigos e consequências do seu consumo.

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FATORES CITADOS COMO IMPORTANTE NO COMBATE À VIOLÊNCIA E AO USO DAS DROGAS

CONCLUSÃO


Relação do uso de drogas com o ato de violência cometido entre adolescentes internos no centro de atendimento socioeducativo (case)

Recebido: 29.09.2013 Aprovado: 25.03.2014 *Enfermeiro graduado pelo curso em enfermagem da Universidade Regional e Integrada do Alto Uruguai e das Missões –Erechim. **Enfermeira, Mestre em Saúde e gestão do trabalho pela UNIVALI-SC, Professora – curso enfermagem - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Erechim

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17. Figueiredo, T. C; Freitas, R. M. Perfil sociodemográfico e uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudantes do ensino médio. SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog, 2013. 18. Schenker, M; Minayo M, C, S. Fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência. Ciência Saúde Coletiva 2005. 19. Vasters, G. P; Pillon, S. C. O uso de drogas por adolescentes e suas percepções sobre adesão e abandono de tratamento especializado. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2011. 20. Helstrom, A; Bryan, A; Hutchison, K. E; Riggs, P. D; Blechman, E. Tabaco e álcool como uma explicação para a associação entre o comportamento de externalização e uso de drogas ilícitas entre adolescentes infratores. Prev Sci, 2004. 21. Van Den Bree, M. B; Pickworth, B. W. Risk factors predicting changes in marijuana involvement in teenagers. Archives of General Psychistry, 2005. 22. Fergusson, D. M; Horwood, L. J; Swain-Campbell, N. O consumo de maconha e ajuste psicossocial na adolescência e idade adulta jovem. Addiction, 2002. 23. Storr, C, L; Accornero, V, H; Crum, R, M. Profiles of disruptive behavior: association with recent drug consumption among adolescents. Addict Behav, 2007. 24. Rodriguez, V. M. R; Scherer, Z. A. P. Motivação do estudante universitário para o consumo de drogas legais. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2008. 25. Reppold, C. T; Pacheco, J; Bardagi, M; Hutz, C. Prevenção de problemas de comportamento e desenvolvimento de competências psicossociais em crianças e adolescentes: uma análise das práticas educativas e dos estilos parentais. Casa do Psicólogo São Paulo, 2002. 26. Kumpfer, K. L; Alvarado, R. Fortalecimento familiar das abordagens para a prevenção de problemas de comportamentos da juventude. Psychological Association, 2003.

Artigo de pesquisa

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Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa Use of medicinal plants in wound care: an integrative review

* Daniella Karine Souza Lima ** Erika Yuriko Kinoshita *** Dhayana Loyze da Silva

**** Caroline Porcelis Vargas ***** Soraia Dornelles Schoeller

Resumo - O objetivo deste estudo foi reunir informações que demonstrem a importância da utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas na última década. A pesquisa foi realizada nas bases eletrônicas da BVS/BIREME (LILACS, MEDLINE, SCIELO e BDENF), ano de publicação (2000-2012), tipo de pesquisa, forma de abordagem e enfoque terapêutico em modelos experimentais. Os resultados mostraram uma seleção de 57 artigos, com predomínio de publicações em 2011 (21,05%), em inglês (78,8%), na Índia (17,54%) e no Brasil (15,79%). Das propriedades terapêuticas das plantas medicinais, 52 artigos eram sobre ensaios pré-clínicos, sendo três in vivo, seis in vitro, seis estudos in vivo-vitro, 32 estudos in vivo-ex vivo, quatro in vivo-vitro-ex vivo e um ex vivo. Dessa forma, permite-se concluir que o uso das plantas medicinais é uma alternativa promissora e acessível para um tratamento eficaz de feridas em geral. Palavras-chave: Cicatrização de feridas. Plantas medicinais. Fitoterapia.

Abstract - The aim of this study was to gather information to demonstrate the importance of the use of medicinal plants in the wounds treatment in the last decade. The survey was conducted in the electronic databases of the BVS / BIREME (LILACS, MEDLINE, SciELO and BDENF), year of publication (2000-2012), type of research, way of approach and therapeutic approach in experimental models. The results showed a selection of 57 items, with a predominance of publications in 2011 (21.05%), in English language (78.8%), in India (17.54%) and Brazil (15.79%). Of the therapeutic properties of medicinal plants, 52 articles were about pre-clinical trials, being 3 in vivo, 6 in vitro, 6 in vivo-vitro studies, 32 studies in vivo-ex vivo, 4 in vivo-vitro-ex vivo, 1 ex vivo. Thus, concludes that the use of medicinal plants is a promising and affordable alternative for effective treatment of wounds in general. Keywords: Wound healing, medicinal plants, Phytotherapy.

Ano 3 – Número 16, setembro/outubro 2013 - paginas de 20 a 27

Introdução Os primeiros registros em cuidados com feridas estão documentados em manuscritos sumérios de 5000 a.C., na Mesopotâmia1. Por volta de 3000 anos a.C., em Alexandria, as feridas infectadas eram aquelas cujas bordas encontravam-se avermelhadas e apresentavam calor. Para tratá-las, utilizava-se a aplicação de produtos da própria natureza, especialmente plantas como o salgueiro, pinheiro, cipreste, papoula e hortelã. Foi a civilização egípcia, com o conceito de assepsia de ferimentos, que introduziu a utilização de minerais como o cobre e o mercúrio2, além da oclusão com cataplasma e atadura em linho, o que se acreditava favorecer a cicatrização1. A cicatrização é um processo dinâmico que envolve fenômenos bioquímicos e fisiológicos, em perfeita e coordenada cascata de eventos celulares e moleculares que interagem para que ocorra reconstituição do tecido. Tal evento tem alcançado grandes avanços, aliado ao desenvolvimento de recursos e tecnologias com o objetivo de favorecê-lo3-4. Os elevados custos financeiros e as profundas consequências na qualidade de vida dos portadores despertam a importância do desenvolvimento de novas pesquisas na área, com

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outros recursos terapêuticos, a fim de torná-los mais baratos e acessíveis, favorecendo indivíduos economicamente menos favorecidos5. Assim, o uso de plantas medicinais tem sido promissor para o alcance deste acesso, visto que se observa, nos últimos anos, uma valorização das práticas terapêuticas populares em saúde. Criada pelo Ministério da Saúde, tem-se a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), de 2003, cuja implementação apoia experiências que já vêm sendo desenvolvidas na rede pública, entre as quais, destaca-se a fitoterapia6. Nesse contexto, este estudo teve como objetivo realizar uma revisão integrativa, visando levantar dados acerca da utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas cutâneas em modelos animais (pré-clínicos) e humanos (clínicos), através de estudos in vivo, in vitro e ex vivo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um dos principais problemas no uso de fitoterápicos é a pouca documentação técnico-científica e comprovação de resultados por evidências clínicas mediante estudos padronizados veiculados em publicações científicas reconhecidas5.

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Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Para melhor análise dos dados, os resultados foram agrupados em três categorias: ano, idioma e país que foram publicados os estudos; tipo de

Ano, idioma e país em que foram publicados os estudos. Do total de artigos encontrados, 325 eram em inglês, 36 em espanhol e 26 em português. Dos quais, após a análise, conforme descritos na metodologia, foram selecionados 57 artigos, sendo 45 artigos em inglês (78,8%)7; em espanhol (12,3%) e 5 em português (8,8%). Esses resultados demonstram o predomínio de trabalhos publicados na língua inglesa. Sugere-se que a escolha do idioma para a publicação está relacionada à influência dominante do inglês na ciência. No mais, o banco de dados PubMed, que publica artigos em saúde, divulgou que dos artigos científicos publicados entre 1956 e 2006, 81% eram em inglês, e que até 2014 os artigos indexados na base Medline devem estar escritos em inglês7. Dos artigos selecionados, 10 são originários de pesquisas realizadas na Índia, equivalente a 54%; nove no Brasil (15, 79%); cinco em Cuba (8,77%); quatro na Turquia (7,02%); três na Alemanha (5,26%); dois nos Estados Unidos (3,51%); dois na China (3,51%); dois na Inglaterra (3,51%); dois no Irã (3,51%); dois na Nigéria (3,51%); dois na Trindade e Tobago (3,51%); um em Uganda (1, 75%); um no Peru (1,75%); um na África do sul (1,75%); um na Tailândia (1,75%); um em Singapura (1,75%); um na Itália (1,75%); um no Japão (1,75%); um no México (1,75%); um em Gana (1,75%); um na Hungria (1,75%); um na Jordânia (1,75%); um no Canadá (1,75%); e um na Coreia do Sul (1,75%) . Isso indica uma diversidade mundial em pesquisas nessa área, principalmente em países cuja utilização da fitoterapia tem influência cultural. Com relação ao ano de publicação, no contexto geral observa-se um incremento nos últimos anos, com predomínio em 2011, em que o número total de artigos foi de 12 artigos (21,05%). Em contrapartida, observamos uma queda significativa de publicações no ano de 2008, não tendo nenhum artigo que se enquadrava em nossa pesquisa vinculado às bases pesquisadas (Tabela 1). Tipo de pesquisa e forma de abordagem. Na análise, foi observado que os estudos experimentais de caso-controle com abordagem quantitativa obtiveram um predomínio em relação às demais pesquisas, com 53 artigos em relação a três artigos de revisão de literatura e um estudo de caso de caráter narrativo.

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Trata-se de uma revisão integrativa, realizada nas bases de dados eletrônicas do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BVS/BIREME), especificamente na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF). A pergunta norteadora para a elaboração da revisão integrativa foi: “Qual é a produção científica acerca da utilização das plantas medicinais para o tratamento de feridas cutâneas tanto em modelos animais (pré-clínicos) quanto em humanos (estudos clínicos), através de estudos in vivo, in vitro e ex vivo?” Segundo a classificação dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS), os descritores utilizados para a coleta de dados foram: plantas medicinais x feridas; plantas medicinais x cicatrização de feridas (medicinal plants x wounds; medicinal plants x wounds healing), (plantas medicinales x heridas; plantas medicinales x cicatrización de heridas). Para inclusão e análise dos artigos, foram estabelecidos os seguintes critérios: artigos completos indexados nas bases de dados descritas previamente; publicados na íntegra na língua portuguesa, inglesa e espanhola, no período de 2000 a setembro de 2012; acesso gratuito; e que estejam dentro da questão norteadora proposta neste trabalho. Os critérios de exclusão foram estudos que não respondessem ao nosso questionamento; que estivessem publicados em mais de uma base de dados; cartas e trabalhos publicados na forma de resumos, dissertações e teses; trabalhos que não sejam de acesso gratuito; e temas de estudo envolvendo apenas aspectos de morfologia vegetal, microbiologia, genética, composição química, etnobotânicos e etnofarmacológicos. Para a coleta dos dados, utilizou-se um instrumento estruturado, abrangendo questões referentes à proposta da pesquisa (tipo de publicação, idioma, país, ano); ao pesquisador (nome); e ao artigo (revista, título, ano, base de dados, metodologia, resultados e conclusões). O levantamento bibliográfico foi realizado no mês de dezembro de 2012, de maneira eletrônica. Os dados foram digitados e analisados em planilhas do Microsoft Excel 2010, utilizando-se de estatística descritiva e apresentados sob a forma de tabela.

pesquisa e forma de abordagem; propriedades terapêuticas das plantas medicinais em modelos animais (pré-clínico) ou humanos (clínico), através de estudos in vivo, in vitro, e ex vitro.

Artigo de pesquisa

METODOLOGIA


Propriedades terapêuticas das plantas medicinais em modelos animais (pré-clínico) e humanos (clínico), através de estudos in vivo, in vitro e ex vivo. Dos trabalhos sobre propriedades terapêuticas das plantas medicinais, foram analisados 3 artigos de revisão de literatura, 2 estudos clínicos e 52 ensaios de pesquisas pré-clínicas, sendo três ensaios in vivo, seis ensaios in vitro, seis estudos in vivo-vitro, 32 estudos in vivo-ex vivo, quatro in vivo-vitro-ex vivo, e um ex vivo (Tabela 1). Os artigos de revisão abordaram aspectos etnobotânicos e etnofarmacológicos das plantas que são utilizadas na medicina popular para o tratamento de feridas em países como Índia e Colômbia. Além disso, a abordagem experimental é bem documentada nesses artigos, certificando o uso das plantas com produtos naturais, assim como a atuação dos princípios ativos de origem vegetal no processo de cicatrização. Dos artigos colhidos e analisados dentro da categoria pré-clinica e o processo de cicatrização, 39 publicações relacionavam-se a terapia utilizando extrato ou fórmula farmacêutica à base de extrato bruto (creme, pomada, gel, unguento e fitoterápico); cinco publicações foram encontradas envolvendo óleos essenciais; e oito relacionavam-se aos princípios ativos isolados de plantas frente este mesmo parâmetro. Nos estudos in vivo foram selecionados três artigos, os quais abordavam apenas o grau de contração da ferida em um período de tempo.8,9,10 Porém, outros fatores fundamentais no processo de cicatrização, como a resposta histológica, bioquímica e microbiológica, foram bem descritos em outros trabalhos. Dos 32 artigos envolvendo experimentos in vivo e ex vivo, 24 correspondem a atividade das plantas frente ao tamanho e a resposta histológica, que em geral correspondia a quantidade de fibroblastos, fibras colágenas, 11 vasos recém-formados e células pilossebáceo, a partir dos cortes histológicos.12 Oito estudos são referentes ao aspecto histológico e bioquímico. Em resumo, a maioria dos estudos com análise bioquímica determina os níveis de marcadores importantes na cicatrização tecidual, como proteína total, DNA, colágeno13, hexosamina14 e teor de hidroxiprolina15. Os dois trabalhos contendo experimentos in vivo, in vitro e ex vivo16 avaliaram o potencial de cicatrização do extrato etanólico de casca Anogeissus latifolia no tratamento de feridas em ratos. Para isso, vários parâmetros foram verificados, como o período de epitelização, a área cicatricial, a resistência à tensão, o teor de hidroxiprolina e a análise bacteriológica de microrganismos gram-positivos (Staphylococcus aureus) e gram-negativos (Esche-

22

richia coli, Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella pneumoniae). Em relação aos estudos in vitro, cinco artigos foram referentes a extratos de plantas com propriedades cicatrizantes, enquanto um analisou os extratos brutos e derivados. Entre eles17, extratos aquosos de folhas de Phyllanthus muellerianus, Pycnanthus angolensis e Combretum smeathmanni demonstraram a atividade cicatrizante frente a proliferação de queratinócitos e fibroblastos dérmicos humanos. Os seis trabalhos in vivo-vitro18 avaliaram o efeito dos extratos de espécies Buddleja officinalis, Buddleja globosa, Spathodea campanulata, Commelina diffusa e Secamone afzelii frente às propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, indutoras de diferenciação de queratinócitos e do perfil de proteínas produzidas em culturas de fibroblastos, além do efeito sobre a contração da estrutura da ferida. Finalmente, dois estudos clínicos foram analisados nesta revisão. Eles19 demonstraram melhoria na qualidade de cicatrização das úlceras do pé diabético e Wagner grau I/III em 57 pacientes frente a terapia com um composto de planta (Tangzu Yuyang) utilizado na China, com melhora de 79,2% em 24 semanas das úlceras crônicas.

CONCLUSÃO Através deste estudo, podemos observar nos últimos anos um crescente interesse pelos produtos naturais a nível mundial. Isso pode ser devido: (1) ao empenho científico para comprovar a eficácia e segurança das plantas; (2) aos grandes investimentos dos centros de apoio a pesquisas na investigação de composição e propriedades; e (3) ao valor econômico agregado, possibilitando a produção de fitoterápico mais acessível à população. Nesse sentido, os resultados permitem concluir que o uso das plantas medicinais é uma alternativa promissora e acessível para um tratamento eficaz de feridas em geral. No entanto, é importante salientar que estudos adicionais são necessários para confirmar a influência positiva dos produtos à base de plantas no processo de reparação tecidual.

Referências 1. Lima A. Plantas Medicinais no Tratamento de Feridas. Ed. Epub 2009; 1: 200-232. 2. Gomes FSL, Carvalho DV. Tratamento de ferida: revisão da literatura. Revista Mineira de Enfermagem 2002; 6(1/2):67-72. 3. Ortonne JP, Clévy JP. Physiologie de la cicatrisation cutanée. Ver Pract 1994; 44(13): 1733-4. 4. Mandelbaum SH, DI Santis EP, Mandelbaum MHS. Cicatrização: conceitos atuais e recursos auxiliares. In: Anais brasileiro de Dermatologia; 2003; 78 (4): 393-410. 5. Santos JS dos, Vieira ABD, Kamada I. A Rosa Mosqueta no tratamen-

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Artigo de revisão

Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa


to de feridas abertas: uma revisão. Revista brasileira de enfermagem 2009; 62(3):457-462. 6. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. PNPIC-SUS: Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília; 2006d. 7. Iglesias SRA, Batista NA. A língua inglesa e a formação de mestres e doutores na área da saúde. Rev brasileira de educação médica 2010; 34 (1): 74-81. 8. Brito NMB, Silva PRF, Silva GCF, Casella SFM, Sampaio ARS, Carvalho RA. Avaliação macroscópica de feridas cutâneas abertas, em ratos, tratadas com óleo de andiroba. Rev. para. med 2001 abr-jun. ; 15(2): 17-22. 9. Park EH, Chun MJ. Wound healing activity of Opuntia ficus-indica. Fitoterapia 2001 fev. ; 72(2): 165-7. 10. Csupor D, Blazsó G, Balogh A, Hohmann J. The traditional Hungarian medicinal plant Centaurea sadleriana Janka accelerates wound healing in rats. J Ethnopharmacol 2010 jan. ; 127(1): 193-5. 11. Nitz AC, Ely JB, D’acampora AJ, Tames DR, Corrêa BP. Estudo morfométrico no processo de cicatrização de feridas cutâneas em ratos, usando: Coronopu didymus e Calendula officinali. ACM arq. catarin. med 2006 out-dez.; 35(4): 74-79 . 12. Capo JT, Méndez IC, Pavón VB, Domínguez CC, Infante MO. Efecto cicatrizante de la crema de extracto etanólico de cera de caña. Rev. cuba. plantas med 2004 mayo-ago.; 9(2).

13. Pather N, Viljoen AM, Kramer B. A biochemical comparison of the in vivo effects of Bulbine frutescens and Bulbine natalensis on cutaneous wound healing. Journal Ethnopharmacology 2011.;133(2): 364-70. 14. Sumitra M, Manikandan P, Suguna L. Efficacy of Butea monosperma on dermal wound healing in rats. International Journal of Biochemistry & Cell Biology 2005; 37(3): 566-73. 15. Nayak BS, Sandiford S, Maxwell A. Evaluation of the Wound-healing Activity of Ethanolic Extract of Morinda citrifolia L. Leaf. Evidence-Based Complementary Alternative Medicine 2009; 6(3): 351-6. 16. Govindarajan R, Vijayakumar M, Rao CV, Shirwaikar A, Mehrotra S, Pushpangadan. Healing potential of Anogeissus latifolia for dermal wounds in rats. Acta Pharmaceutica 2004; 54(4): 331-8. 17. Agyare C, Lechtenberg M, Deters A, Petereit F, Hensel A. Ellagitannins from Phyllanthus muellerianus (Kuntze) Exell.: Geraniin and furosin stimulate cellular activity, differentiation and collagen synthesis of human skin keratinocytes and dermal fibroblasts. Phytomedicine 2011; 18(7): 617-24. 18. Houghton PJ, Hylands PJ, Mensah AY, Hensel A, Deters AM. In vitro tests and ethnopharmacological investigations: wound healing as an example. Journal Ethnopharmacology 2005; 22 (1-2):100-7. 19. Li S, Zhao J, Liu J, Xiang F, Lu D, Liu B, et al. Prospective randomized controlled study of a Chinese herbal medicine compound Tangzu Yuyang Ointment for chronic diabetic foot ulcers: a preliminary report. Journal Ethnopharmacology 2011; 133(2): 543-50.

Artigo de revisão

Tabela 1. Separação dos artigos por similaridade da abordagem de pesquisa com plantas medicinais.

Revisão de Literatura Título

Autor

Revista

Ano

País/idioma

Fonte

Cicatrización: Preocesso de reoaración tissular. Aproximaciones terapéuticas

Valencia, B.C.

Investigaciones Andina

2010

Colômbia/ espanhol

LILACS

Ethnopharmacological approaches to wound healing--ex- Kumar B. et al. ploring medicinal plants of India

J. Ethnopharmacol

2007

Índia/inglês

MEDILINE

Plant medicines of Indian origin for wound healing activity: a review

Biswas T.K.;Mukherjee B.

Int. J. Low Extrem Wounds

2003

Índia/inglês

MEDILINE

Treatment of burns with burns & wounds (B & W) ointment and leaf therapy

Main M.E.; Williams D.; Jones M.S.

J .Altern. Complement. Med.

2012

Canada/inglês

MEDILINE

Prospective randomized controlled study of a Chinese herbal medicine compound Tangzu Yuyang Ointment for chronic diabetic foot ulcers: a preliminary report.

Li S. et al.

J .Ethnopharmacol

2011

China/inglês

MEDILINE

The traditional Hungarian medicinal plant Centaurea sadleriana Janka accelerates wound healing in rats

Csupor D. et al.

J. Ethnopharmacol

2010

Hungria/inglês

MEDILINE

Avaliação macroscópica de feridas cutâneas abertas, em ratos, tratadas com óleo de andiroba

Brito N.M.B. et al.

Rev. para. Med.

2001

Brasil/português

LILACS

Ensaios Clínicos

Ensaios Pré-Clínicos: In vivo

Wound healing activity of Opuntia ficus-indica.

MEDILINE

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

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Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa


Artigo de revisão

Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa

Ensaios Pré-Clínicos: In vitro

Agyare C. et al.

Phytomedicine

2011

Alemanha/inglês

MEDILINE

Determination of the wound healing effect of Calendula extracts using the scratch assay with 3T3 fibroblasts

Fronza M. et al.

J. Ethnopharmacol

2009

Alemanha/inglês

MEDILINE

Biological studies on Brazilian plants used in wound healing

Schmidt C. et al.

J. Ethnopharmacol

2009

Alemanha/inglês

MEDILINE

An ethnopharmacological survey and in vitro confirmation of ethnopharmacological use of medicinal plants used for wound healing in Bosomtwi-Atwima-Kwanwoma area, Ghana

Agyare C. et al.

J .Ethnopharmacol

2009

Gana/ Inglês

MEDILINE

Effects of an aqueous extract from the leaves of Chromolaena odorata (Eupolin) on the proliferation of human keratinocytes and on their migration in an in vitro model of

Phan T.T.; Hughes Wound Repair M.A.; Cherry G.W. Regen.

2001

Estados Unidos/inglês

MEDILINE

Anti-oxidant effects of the extracts from the leaves of Chromolaena odorata on human dermal fibroblasts and epidermal keratinocytes against hydrogen peroxide and hypoxanthine-xanthine oxidase induced damage

Thang P.T. et al.

Burns

2011

Singapura/inglês

MEDILINE

Ethnopharmacological survey and in vitro evaluation of wound-healing plants used in South-western Nigeria

Valencia B.C.

J. Ethnopharmacol

2011

Inglaterra/inglês

MEDILINE

In vitro study of the effects of plaunotol on oral cell proliferation and wound healing

Khovidhunkit S.O. et al.

J. Asian Nat. Prod. Res.

2011

Tailândia/inglês

MEDILINE

Healing and cytotoxic effects of Psidium guajava (Myrtaceae) leaf extracts

Fernandes K.P.S. et al.

Braz. j. oral sci.

2010

Brasil/inglês

LILACS

Antibacterial and wound healing properties of methanolic extracts of some Nigerian medicinal

Chah K.F. et al.

J. Ethnopharmacol

2006

Nigéria/inglês

MEDILINE

In vitro tests and ethnopharmacological investigations: wound healing as an example

Houghton P.J. et al.

J. Ethnopharmacol

2005

Inglaterra/inglês

MEDILINE

Medicinal plants in the healing of dry socket in rats: microbiological and microscopic analysis

de Melo Júnior E.J. et al.

Phytomedicine

2002

Brasil/inglês

MEDILINE

Planta Med.

2011

México/inglês

MEDILINE

Ano 3 – Número 16, setembro/outubro 2013 - paginas de 20 a 27

Ensaios Pré-Clínicos: In vivo-vitro

Ensaios Pré-Clínicos: In vivo-vitro-Ex vivo Effect on the wound healing process and in vitro cell proliferation by the medicinal Mexican plant Ageratina pichinchensis

24

Romero C.O. et al.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

Daniella Karine Souza Lima | Caroline Porcelis Vargas | Erika Yuriko Kinoshita | Soraia Dornelles Schoeller | Dhayana Loyze da Silva

Ellagitannins from Phyllanthus muellerianus (Kuntze) Exell.: Geraniin and furosin stimulate cellular activity, differentiation and collagen synthesis of human skin keratinocytes and dermal fibroblasts


Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa

Oliveira A.F. et al.

Oliveira A.F. et al.

2010

Brasil/português

LILACS/ SIELO

Efeito cicatrizante e atividade antibacteriana da Calendula officinalis L. cultivada no Brasil

Parente L.M.L. et al.

Rev. bras. Plant. Med.

2009

Brasil/português

SIELO

Healing potential of Anogeissus latifolia for dermal wounds in rats

Govindarajan R. et al.

Acta Pharm.

2004

Índia/inglês

MEDILINE

2000

Itália/inglês

MEDILINE

J. Ethnopharmacol

2012

Turquia/inglês

MEDILINE

Wound healing and anti-inflammatory properties of Ranunculus pedatus and Ranunculus constan- Akkol E.K. et al. tinapolitanus: a comparative study

J. Ethnopharmacol

2012

Turquia/inglês

MEDILINE

Appraisal on the wound healing and anti-inflammatory activities of the essential oils obtained from the cones and needles of Pinus species by in vivo and in vitro experimental models

Süntar I. et al.

J. Ethnopharmacol

2012

Turquia/inglês

MEDILINE

Synergistic interaction between Astragali Radix and Rehmanniae Radix in a Chinese herbal formula to promote diabetic wound healing

Lau K.M. et al.

J. Ethnopharmacol

2012

China/inglês

MEDILINE

Efecto cicatrizante de la pasta de clorofila-caroteno de Pinus caribaea var caribaea sobre heridas abiertas asépticas

Mancebo D.B. et al.

‘Rev. cuba. Plant. Med.’

2011

Cuba/espanhol

LILACS/ SIELO

Angiogenic activity of Calendula officinalis flowers L. in rats

Parente L.M.L. et al.

Acta Cir Bras

2011

Brasil/inglês

LILACS/ SIELO

Healing potential of Iranian traditional medicinal plants on burn wounds in alloxan induced diabetic rats

Pirbalouti A.G; Azizi S.; Koohpayeh A.

Rev. bras. farmacognosia

2011

Iran/inglês

LILACS/ SIELO

A biochemical comparison of the in vivo effects of Bulbine frutescens and Bulbine natalensis on cutaneous wound healing

Pather N.; Viljoen A.M.; Kramer B.

J. Ethnopharmacol

2011

África do Sul/ inglês

MEDILINE

Preclinical efficacy and safety of herbal formulation for management of wounds

Ogwang P.E. et al.

Afr .Health Sci.

2011

Uganda/inglês

MEDILINE

Wound repair and anti-inflammatory potential of essential oils from cones of Pinaceae: preclinical experimental research in animal models

Tumen I. et al.

J .Ethnopharmacol

2011

Turquia/inglês

MEDILINE

Artigo de revisão

Avaliação da atividade cicatrizante do jucá (Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var. ferrea) em lesões cutâneas de caprinos

Ensaios Pré-Clínicos: Ex vivo Effect of xyloglucan (tamarind seed polysaccharide) on conjunctival cell adhesion to laminin and on corneal epithelium wound healing

J. OphBurgalassi S. et al. Eur. thalmo.

Wound healing and anti-inflammatory activities of the Michauxia L'Hérit (Campanulaceae) species native to Turkey

Güvenç A. et al.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

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Ensaios Pré-Clínicos: In vivo- Ex vivo


Wound-healing properties of the oils of Vitis vinifera and Vaccinium macrocarpon

Shivananda N.B. et al.

Phytother. Res.

2011

Trinidade e Tobago/inglês

MEDILINE

The effect of aloe vera oral administration on cutaneous wound healing in type 2 diabetic rats

Atiba A.; Ueno H.; Uzuka Y.

J. Ve.t Med. Sci.

2010

Japão/inglês

MEDILINE

Medicinal Plants Used in Wound Care: A Study of Prosopis africana (Fabaceae) Stem Bark

Ezike A.C. et al.

Indian J. Pharm.

2010

Nigéria/inglês

MEDILINE

Wound healing activity of Malva sylvestris and Punica granatum in alloxan-induced diabetic rats

Pirbalouti A.G. et al.

Acta Pol. Pharm.

2010

Irã/inglês

MEDILINE

Wound healing and protease inhibition activity of Bacoside-A, isolated from Bacopa monnieri wettest

Sharath R. et al.

Phytother. Res.

2010

Índia/inglês

MEDILINE

A utilização da Pfaffia glomerata no processo de cicatrização de feridas da pele

Silva M.I. et al.

ABCD Arq. Bras. Cir. Dig.

2010

Brasil/português

LILACS/ SIELO

Evaluation of the Wound-healing Activity of Ethanolic Extract of Morinda citrifolia L. Leaf

Nayak B.S; Sandiford S.; Maxwell A.

Evid. Based Complement Alternat. Med.

2009

Trinidade e Tobago/inglês

MEDILINE

Evaluation of the wound healing effect of some Jordanian traditional medicinal plants formulated in Pluronic F127 using mice (Mus musculus)

Khalil E.A.; Afifi F.U.; Al-Hussaini M.

J. Ethnopharmacol

2007

Jordânia/inglês

MEDILINE

Influence of ethanolic extract of Jasminum grandflorum linn flower on wound healing activity in rats

Nayak B.S.; Mohan K.

Indian J. Physiol. Pharmacol.

2007

Índia/inglês

MEDILINE

Evaluation of healing activity of flavonoids from Ipomoea carnea Jacq.

Ambiga S. et al.

Anc. Sci .Life

2007

Índia/inglês

MEDILINE

Estudo morfométrico no processo de cicatrização de feridas cutâneas em ratos, usando: Coronopu didymus e Calendula officinali

Nitz A.C. et al.

ACM arq. catarin. med.

2006

Brasil/português

LILACS

Investigation of anti-hyaluronidase treatment on vocal fold wound healing

Rousseau B. et al. J. Voice

2006

Estados Unidos/inglês

MEDILINE

Efecto cicatrizante del tallo subterráneo de Peperomia scutellaefolia R. et P. en geles aplicados a Ratus norvergicus

Guillermo F.; Bo- Folia dermanilla P.; Arroyo A.J. tol. Peru

2005

Peru/espanhol

LILACS

Efficacy of Butea monosperma on dermal wound healing in rats

Sumitra M.; Manikandan P.; Suguna L.

Int. J. Biochem. Cell Biol.

2005

Índia/inglês

MEDILINE

Efecto cicatrizante de la crema de extracto etanólico de cera de caña

Tillán C.J.I. et al.

Rev. cuba. Plant. Med.

2004

Cuba/espanhol

LILACS

Systematic use of Solidago microglossa DC in the cicatrization of open cutaneous wounds in rats

Facury N. et al.

Braz. j. morphol. Sci.

2004

Brasil/inglês

LILACS

Wound healing potential of Pterocarpus santalinus linn: a pharmacological evaluation

Biswas T.K; Maity L.N; Mukherjee B.

Int. J. Low Extrem Wounds

2004

Índia/inglês

MEDILINE

Medicentro

2003

Cuba/espanhol

LILACS

Efecto cicatrizante del extracto flui- Martínez do de romerillo (bidens alba linné) F.C. et al.

26

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Artigo de revisão

Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa


Utilização de plantas medicinais no tratamento de feridas: uma revisão integrativa

2001

Cuba/espanhol

LILACS/ SIELO

Efecto cicatrizante de extracto fluido de hojas de Siempre-viva

Domínguez S.A; Acosta U.L; Cuello D.

Rev. cubana Plant. Med.

2001

Cuba/espanhol

LILACS/ SIELO

Wound healing activity of the aqueous extract of Thespesia populnea fruit.

Nagappa A.N; Cheriyan B

Fitoterapia

2001

Índia/inglês

MEDILINE

J. Ethnopharmacol

2000

Índia/inglês

MEDILINE

Evaluation of in-vivo wound healing Mukherjee P.K; activity of Hypericum patulum R.; (Family: hypericaceae) leaf extract Verpoorte Suresh B. on different wound model in rats.

Recebido: 06.02.2014 Aprovado: 30.03.2014 * Bióloga pela Universidade Federal de Rondônia. Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC, Florianópolis, SC. Brasil. E-mail: daniellaklima@gmail.com ** Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. *** Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. **** Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. ***** Doutora em Filosofia da Saúde e Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC.

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem

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Ano 3 – Número 16, setembro/outubro 2013 - paginas de 20 a 27

Daniella Karine Souza Lima | Caroline Porcelis Vargas | Erika Yuriko Kinoshita | Soraia Dornelles Schoeller | Dhayana Loyze da Silva

Rev. cuba. med. mi

Artigo de revisão

Crema epitelizante de clorofila, carotenos y vitaminas aplicada en González Q.R.M. et al. heridas abiertas experimentales


Normas para publicação A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral, que tem por objetivo ser um dos principais veículos de divulgação do conhecimento na área de enfermagem no Brasil, promovendo, o desenvolvimento técnico-científico dos profissionais, publicando trabalhos originais e inéditos, de revisão, atualização ou relatos de casos/experiências. Seu conselho editorial, que tem caráter consultivo, é constituído por pesquisadores em enfermagem, de origem institucional diversificada, e é o principal responsável pela qualidade do conteúdo da revista. Apresentação do manuscrito 1. Os manuscritos apresentados devem destinar-se exclusivamente à Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico, no que se refere ao texto, às figuras ou tabelas, quer na íntegra ou parcialmente, excetuando-se resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de reuniões científicas. 2. Nas pesquisas envolvendo seres humanos, os autores deverão enviar uma cópia de aprovação emitida pelo Comitê de Ética, reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS 196/96 ou órgão equivalente no país de origem da pesquisa. O número do processo/projeto deverá constar no método do trabalho. 3. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem adota as normas do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (estilo Vancouver), publicadas no New England Journal of Medicine 1997; 336:309. 4. Figuras e tabelas deverão ser apresentadas em arquivo com boa resolução e separadas do texto (imagens com mínimo de 300 dpi). 5. O(s) autor(es) dos textos são por eles inteiramente responsáveis, devendo assinar e encaminhar a declaração de responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, conforme modelo abaixo. Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais. Vimos submeter à aprovação da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem o artigo _____________________________ _____________________________________________________ ____________________________________ e informamos que todos os procedimentos éticos devidos foram observados. Declaramos que o trabalho é inédito e está sendo enviado com exclusividade à Revista. Concordamos que, em caso de aceitação do mesmo, os direitos autorais a ele referentes passarão a ser propriedade exclusiva da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. Categoria do artigo: _________________________ Assinatura dos Autores: _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ Data: _____/_____/_____.

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6. O(s) autor(es) deve(m) especificar no artigo indicação de financiamentos relacionados ao trabalho a ser publicado. Categorias de manuscritos aceitos pela Revista (A) Artigos originais/Pesquisas – Investigação baseada em dados empíricos, concluída, utilizando metodologia científica e que possam ser aplicadas e generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora. Sua estrutura deve conter. – Introdução: apresentação e delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho. – Objetivo: especifica de maneira clara e sucinta a finalidade da pesquisa, com detalhamento dos aspectos que serão ou não abordados. Os objetivos podem ser definidos como gerais ou específicos a critério do autor. – Revisão da literatura: levantamento selecionado da literatura sobre o assunto que serviu de base à investigação do trabalho proposto. Proporciona os antecedentes para a compreensão do conhecimento atual sobre um assunto e esclarece a importância do novo estudo. Em algumas áreas, já existe a tendência de limitar a revisão apenas aos trabalhos mais importantes, que tenham relação direta com a pesquisa desenvolvida, priorizando as publicações mais recentes. Quando não houver necessidade de um capítulo para a Revisão da Literatura em função da extensão histórica do assunto, ela poderá ser incluída na Introdução. – Método: descrição completa dos procedimentos metodológicos que permitam viabilizar o alcance dos objetivos. Devem ser apresentados: tipo de pesquisa, dados sobre o local onde foi realizada a pesquisa, população estudada, tipo de amostra, variáveis selecionadas, material, equipamentos, técnicas e métodos adotados para a coleta de dados, incluindo os de natureza estatística. – Resultados: devem ser apresentados de forma clara e objetiva, sem interpretações ou comentários pessoais, podendo, para maior facilidade de compreensão, estar acompanhados por gráficos, tabelas, figuras, fotografias etc. – Discussão: deve restringir-se aos dados obtidos e aos resultados alcançados, enfatizando os novos e importantes aspectos observados e discutidas as concordâncias e divergências com outras pesquisas já publicadas. – Conclusões: correspondem aos objetivos ou hipóteses de maneira lógica, clara e concisa, fundamentadas nos resultados e discussão, coerentes com o título, proposição e método. Incluem-se ainda as Referências Bibliográficas (12 páginas de Word, espaçamento duplo). (B) Artigos de revisão – Estudo crítico, abrangente e sistematizado da literatura sobre um assunto de interesse para o desenvolvimento da Enfermagem, devendo apresentar análise e conclusão. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). (C) Artigos de atualização ou divulgação – Trabalhos descritivos e interpretativos, com fundamentação sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo ou potencialmente investigativo. (05 páginas de Word, espaçamento duplo) (D) Experiência profissional/Relato de caso – Descrição de experiências assistenciais e de extensão, estudos avaliativos, originais contendo análise de implicações con-

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ceituais ou descrição de procedimentos com estratégias de intervenção, evidência metodológica apropriada de avaliação de eficácia, de interesse para a atuação de enfermeiros em diferentes áreas. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). Processo de julgamento dos manuscritos Após o recebimento, o artigo é inicialmente analisado quanto ao cumprimento das normas estabelecidas para publicação, sendo sumariamente devolvido em caso de não atendimento. Se aprovado, é encaminhado para avaliação de dois consultores ad hoc, escolhidos entre pesquisadores de renomada competência na área do artigo, que exibirão seus pareceres aceitando, recomendando modificações ou recusando o mesmo. (Em qualquer situação os autores serão comunicados.) Havendo discordância nos pareceres, o manuscrito é encaminhado a um terceiro relator. O anonimato é garantido durante todo o processo de julgamento. Os pareceres dos relatores são analisados pelo Conselho Editorial que, se necessário, indica as alterações a serem efetuadas. Os trabalhos seguem para publicação somente após a aprovação final dos pareceristas e do Conselho Editorial. Após a aceitação do trabalho, os autores serão comunicados da decisão, com a data prevista para publicação, o volume e o fascículo da Revista na qual o artigo será publicado. Os artigos não publicados não serão devolvidos, serão destruídos seis meses após o final dos trâmites da revista. Preparo dos manuscritos • Folha de rosto com título que identifique o conteúdo em português e inglês, contendo o(s) nome(s) do(s) autor(es), a titulação e a instituição a que pertence(m). Serão aceitos até seis autores. • Resumo informativo em português e inglês (summary) com até 150 palavras. • Quatro unitermos (palavras-chave) que permitam identificar o assunto do artigo, apresentados em português e inglês (keywords). • Dados que permitam sua compreensão, como explicações sobre o sentido das abreviaturas e símbolos. • Errata: após a publicação do artigo, os autores, se identificarem a necessidade de uma errata, deverão enviá-la à Secretaria da Revista imediatamente e de preferência por e-mail. Referências bibliográficas (Exemplos) Artigos de periódicos: • Padrão: Elias MS, Cano MAT, Mestriner W Jr, Ferriani MGC. A importância da saúde bucal para adolescentes de diferentes estratos sociais do município de Ribeirão Preto. Rev Latino-Americana de Enfermagem 2001 jan.; 9 (1):88-95 • Artigo com indicação de subtítulo: Diniz NMF, Lopes RLM, Almeida MS, Gesteira SMA, Oliveira JF. Psicodrama com estratégia pedagógica: vivências no

ensino de graduação na área da saúde da mulher. Rev. Latino-am. Enfermagem 2000 ago.; 8(4);88-94. Materiais em formato eletrônico: • Artigo de periódicos: Braga EM, Silva MJP. Como acompanhar a progressão da competência no aluno de enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP (periódico na Internet). 2006 (citado 2006 set. 28);40(3): (cerca de 7 p). Disponível em: http://.ee.usp.br/ reeusp/upload/pdf/258.pdf • Livro ou monografias: Alvarenga, RE. Cuidados paliativos domiciliares: percepções do paciente oncológico e seu cuidador. Porto Alegre: Moriá; 2005. Calil AM, Paranhos WY. O enfermeiro e as situações de emergência. São Paulo (SP): Atheneu; 2007 • Capítulo do livro ou monografia: Debert, GG. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: Cardoso RCL. A aventura antropológica. Teorias e pesquisa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1998. p.64-78. • Dissertação e tese: Amarante ST. Analise das condições ergonômicas do trabalho das enfermeiras de centro cirúrgico. (dissertação). São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1999. • Anais: Carreiro FA. A Equipe de Enfermagem e o Corpo (do) Queimado Durante a Balneoterapia. In: Anais do 11º CBCENF-Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem; 2008 ago. 31 a set. 03; Belém-PA, Brasil. Envio do manuscrito Os artigos originais encaminhados para avaliação e publicação deverão ser enviados por e-mail ou correio para o endereço da editora constante no final destas normas, aos cuidados do Conselho Científico. Os autores deverão ser assinantes da revista. Os trabalhos que forem encaminhados via correio deverão ser acompanhados de CD, uma cópia impressa com figuras e tabelas, juntamente com a Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, assinada por todos os autores, através de carta registrada ou sedex. Recomenda-se o uso do programa Word (papel formato A4; margens: superior 1,5 cm, inferior 1 cm; laterais 3 cm), bem como a fonte Times, tamanho 12, entrelinha dupla, em uma coluna. Pode conter ilustrações que sejam relacionadas com o assunto e tenham boa qualidade para impressão em cores ou em preto e branco (300 dpi). Texto justificado e com número de página no rodapé. Moriá Editora Ltda. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem Rua Aracy Fróes, 258 / 902 - Jardim Itu-Sabará - Porto Alegre/RS / CEP: 91210-230. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Tel. (51) 3351.2361.

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Curso

Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem Maira Buss Thofehrn

Aula 1: Relações Humanas no Trabalho: uma reflexão acerca da equipe na área da saúde Aula 2: Relações Humanas perpassando pelo Processo de Trabalho da Enfermagem Aula 3: Relações Humanas Saudáveis na Equipe de Enfermagem

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Aula 4: Relações Humanas no Trabalho: liderança na enfermagem

Aula 5: Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem: empoderamento político

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Aula 6: Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem: dimensão da espiritualidade

Organizador a: Mair a Buss Thofehrn Pós-doutora em enfermagem, Conselheira cientiica da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, Professora do Programa de Pós-Graduação da Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem.

Colabor adores Maira Buss Thofehrn Pós-doutora em Enfermagem, Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Adrize Rutz Porto Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Helen Nicoletti Fernandes Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFPel.

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EMTRABALHO TERAPIA INTENSIVA RELAÇÕESATUALIZAÇÃO HUMANAS NO DA ENFERMAGEM AULA 5PRINCIPIADAS – VENTILAÇÃOPELO MECÂNICA AULA 5: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO EMPODERAMENTO POLÍTICO DO ENFERMEIRO

Aula 5: Relações humanas no tr abalho principiadas pelo empoder amento político do enfermeiro ços no campo da política, proporcionados pelo desenvolvimento das primeiras leis escritas, uso da moeda e surgimento da filosofia e dos conceitos de cidadania, sendo considerados cidadãos somente 10% da população, excluindo estrangeiros, mulheres e escravos. Surge também o conceito de democracia, que tinha como um dos principais ideais o de que “o cidadão pode e deve atuar na vida pública, independentemente da origem familiar, classe ou função. Todos são iguais, com o mesmo direito à palavra e à participação no exercício do poder”.7 Ao longo da história, o conhecimento político foi e continua sendo desenvolvido e aperfeiçoado por tratar-se de um conhecimento e uma prática que interfere na vida de todos os cidadãos, sobretudo nos setores de saúde, educação e legislação, devendo, portanto, ser apreendido e praticado por todos.2 Na enfermagem, uma forma de participação política é no âmbito da gestão compartilhada no trabalho em equipe multidisciplinar do Sistema Único de Saúde (SUS). Esta é uma atuação crítica em espaços de disputa de poder, no qual seu posicionamento político contribui ou não para efetivar os princípios do SUS.9 No entanto, cabe ressaltar que a participação política também pode efetivar-se por meio de presença em reuniões, mesmo sem contribuições ou envolvimento pessoal; na delegação de atividades ou representatividade; ou, ainda, pela participação propriamente dita, na qual há envolvimento direto ou indireto do participante no processo de decisão política.8 Além disso, muitos enfermeiros vinculam sua participação política ao compromisso técnico, não percebendo que é igualmente exercida em outros momentos, como em negociações e acordos com as chefias, entre os profissionais ou com os usuários.9 Pires apresenta características dos enfermeiros próximas da qualidade política, como: visão crítica da realidade e da prática social, entendendo-as como processo histórico, portanto conquistável; questionamentos fundamentados acerca dos conflitos e incongruências da profissão; inclusão da dimensão política do conhecimento nas argumentações, relacionando-os, sempre que possível, com o poder de influir significativamente no cotidiano; entendimentos contextualizados de autonomia e poder, percebendo-os dialeticamente como correlações de força e disputa de espaços; compreensão crítica do aprisionamento do cuidado pela enfermagem ou sua institucionalização; concepção de si próprio como sujeito histórico, corresponsável por conquistas e injustiças sociais; entre outros.10

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O empoderamento pode se referir ao processo de mobilizações e práticas que objetivam promover e impulsionar grupos na melhoria de suas condições de vida, aumentando sua autonomia, com profissionais ou agentes externos catalisando ações ou auxiliando na criação de espaços que favoreçam e sustentem situações de ruptura e de mudança do curso de vida.1 Nesse sentido, o empoderamento político do enfermeiro seria a garantia do exercício da cidadania ativa, o que permite a melhor atuação profissional nas tomadas de decisões e abre oportunidades para a gestão sustentável do cuidado nas instituições de saúde.2 Nesse sentido, o processo de empoderamento em nível organizacional implica processo de fortalecimento da organização como um todo para alcançar objetivos e metas, como sistema ou unidade. Nesse nível, são proporcionadas experiências de liderança e tomada de decisão compartilhada, ações de comunicação e apoio eficazes, distribuição de papéis e responsabilidades segundo a capacidade de cada um, troca de informações e recursos, gestão adequada em função do crescimento e desenvolvimento organizacional.3 Ou seja, trata-se de politizar a prática da enfermagem nos espaços em que se insere, partilhando decisões e ampliando o debate em torno das diferenças.4 Tratando-se em politizar a prática da enfermagem, destaca-se que para Arendt “o sentido da política é a liberdade”.5 Assim, o significado de liberdade evidencia o estado no qual o sujeito tem espaço para agir, pensar e desejar sem impedimentos; todavia, esse termo muitas vezes é confundido com autonomia, que remete à capacidade para definir suas próprias regras e seus limites, sem que precisem ser impostos por outros, apontando para uma liberdade relativa.6 Já ao que se refere às origens históricas do conceito de política, a liberdade teve suas primeiras bases nos Tempos Homéricos (séculos XII a VIII a.C.). Nesse período, o poder se concentrava nas mãos da aristocracia guerreira, predominando a crença nos mitos. As ações humanas eram explicadas pela interferência dos deuses, e as leis que regiam o comportamento humano também tinham origem divina. No Período Arcaico (séculos VIII a VI a.C.), aconteceu o desenvolvimento do comércio e, consequentemente, da polis, cidade-estado grega, palavra da qual se originou o termo política, que é descrita como atividade que diz respeito à vida pública, arte de governar, de gerir os destinos da cidade.7 Este período caracterizou-se por grandes avan-


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VENTILAÇÃO MECÂNICA IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM RELAÇÕES HUMANAS-NO TRABALHO DA ENFERMAGEM AULA 5 – VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA AULA 5: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO PRINCIPIADAS PELO EMPODERAMENTO POLÍTICO DO ENFERMEIRO

A política está baseada na pluralidade das pessoas; portanto, diz respeito à convivência entre diferentes, mesmo que semelhantes, pelo fato de sermos humanos sem sermos iguais, reiterando um ideal de democracia participativa e de valorização da diversidade. Assim, se a pluralidade implica na coexistência de diferenças, a igualdade a ser alcançada por intermédio desse exercício de interesses é a liberdade de pensar, ser, agir e se expressar no mundo.11 Liberdade para Arendt é identificada na esfera da ação, equivalendo à soberania, ao ser exercitada a ação e decidirem, em conjunto, seu futuro comum. A pluralidade, por sua vez, é a condição básica da ação (praxis) e do discurso (lexis), pois proporciona o duplo exercício da igualdade e da diferença. O que iguala o agente da ação aos demais é a sua condição de diferente de todos e de cada um diante do mundo.11 Essas proposições advêm do intuito de transformar a realidade na qual a enfermagem e o trabalho estão inseridos no mundo, pois Arendt aponta para a praxis e o mundo comum pela polis helênica com a finalidade de recuperação do político que, na atualidade, tem sido amplamente subordinado aos interesses econômicos capitalistas.11 Nesse sentido, o trabalhador está sujeito às estratégias capitalistas de controle sobre seu processo produtivo e, em consequência disso, a perda de controle sobre seu próprio trabalho.12 Nas últimas décadas, a organização coletiva de trabalhadores, no mundo e no Brasil em particular, vem enfrentando o enfraquecimento dos sindicatos, os quais não têm conseguido impedir o processo de precarização do trabalho. Apesar de algumas transformações ao longo do desenvolvimento do processo de trabalho, nos séculos XIX e XX, não houve uma verdadeira ruptura com o caráter capitalista do modo de produção e com seu complexo plano ideológico de fragmentação da subjetividade para facilitar a manutenção de seu projeto hegemônico, como a apologia do individualismo, o aumento do desemprego, da intensificação e da precarização do trabalho nos diferentes setores da economia.12 Desse modo, o desemprego força as pessoas, desesperadas pela falta de dinheiro e de reconhecimento social, a tentar uma vaga no mercado do emprego formal, mesmo que este seja alienado, estranhado e que possa comprometer a saúde física e psíquica, ainda acaba sendo objeto de desejo.12 Quando Braverman refere-se à “degradação do trabalho”, ele defende que o capitalismo promove não apenas a precarização das condições de trabalho, com aceleração de ritmos e imposição de movimentos repetitivos, como também a reificação do trabalhador, ou seja, a separação entre a atividade laboral e aquilo que ele produz, a ponto de não identificar o produto do seu trabalho como parte do seu próprio esforço.13

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Pires reforça que o modelo tradicional fragmentado de produção taylorista, no qual o trabalho é compartimentalizado, cada grupo profissional se organiza e presta parte da assistência de saúde separado dos demais.10 Isto é, o trabalho foi bastante alterado ao longo do tempo, iniciado pelo trabalho do artesão, no qual o trabalhador era profundo conhecedor de todo o processo de produção, tanto em sua dimensão intelectual como manual, até a divisão técnica do trabalho na modernidade, na qual cada indivíduo executa sua parcela de habilidade e conhecimento em uma etapa do processo produtivo sem ter a visão do todo.21 Arendt afirma que as pessoas de pensamento e as pessoas de ação são colocadas em caminhos diferentes desde a ascendência do pensamento político. Além disso, os efeitos da automatização sobre as relações de trabalho leva a libertação sem sentido do fardo de trabalho para uma sociedade de operários. Ao colocar a temática na responsabilidade da reflexão sobre o que estamos fazendo com o mundo, Arendt mostra sua preocupação com a destinação da existência humana enquanto sujeito singular que se confronta inexoravelmente com seu próprio aniquilamento.11 A politóloga alerta para as formas de vida que a pessoa impõe a si mesmo para sobreviver. São condições que tendem a suprir a existência do ser humano e variam de acordo com o lugar e o momento histórico dos quais a pessoa é parte. Nesse sentido, todos os seres humanos são condicionados, até mesmo aqueles que estabelecem o comportamento de outros tornam-se dependentes pelo próprio movimento de condicionar. Sendo assim, somos subordinados por duas maneiras: pelos nossos próprios atos, aquilo que pensamos, nossos sentimentos, em suma, os aspectos internos de submissão; e pelo contexto histórico que vivemos: a cultura, os amigos, a família. Esses são os elementos externos de sujeição.11 Os enfermeiros, nessa perspectiva, são condicionados pela sua atuação, pelo que pensa e sente expressando-se no ambiente profissional, por meio das relações profissionais, da participação e do posicionamento para a tomada de decisões no que é de sua competência.14 No que se refere à tomada de decisões, Chiavenato define como o processo de análise e escolha entre várias alternativas disponíveis do curso de ação que a pessoa deverá seguir, sendo um processo complexo e sujeito às características individuais da pessoa que realiza a tomada de decisões, e também da circunstância em que está envolvido e da maneira como compreende essa situação.15 Já a relação interpessoal no trabalho da enfermagem compreende a dimensão da subjetividade, como a existência da confiança, da responsabilidade, da ética, da colaboração, da cooperação, do engajamento, da criatividade e da iniciativa, o que significa transpor um “saber-fa-

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RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO DA ENFERMAGEM AULA 5: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO PRINCIPIADAS PELO EMPODERAMENTO POLÍTICO DO ENFERMEIRO

Referências 1.Kleba ME, Wendausen A. Empoderamento: processo de fortalecimento dos sujeitos nos espaços de participação social e democratização política. Saúde Soc. [periódico na internet]. 2009 [acesso em 2013 jan 1]; 18(4). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci _ arttext&pid=S0104-12902009000400016&lng=en&nrm=iso

2.Persegona KR, Rocha DLB, Lenardt MH et al. O conhecimento político na atuação do enfermeiro. Anna Nery Rev. Enferm. [periódico na internet]. 2009 [acesso em 2013 jan 3]; 3(3):645-50. Disponível em: www.eean.ufrj.br/revista _ enf/20093/artigo%2025.pdf 3.Silva C, Martínez ML. Empoderamiento: proceso, nivel y contexto. Psykhe [periódico na internet]. 2004 mai [acesso em 2013 jan 3]; 13(1): 29-39. Disponível em: redalyc.uaemex.mx/pdf/967/96713203.pdf 4.Pires MRGM. Politicidade do cuidado como referência emancipatória para a enfermagem: conhecer para cuidar melhor, cuidar para confrontar, cuidar para emancipar. Rev. Latinoam. Enferm.[periódico na internet]. 2005 [acesso em 2013 jan 3];13(5):729-36. Disponível em: www.scielo.br/pdf/rlae/v13n5/v13n5a18.pdf 5. Arendt H. O que é Política. Tradução Reinaldo Guarany. 6° ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2006. 6. Jesus MS, Said FA. Autonomia e a prática assistencial do enfermeiro. Cogitare Enferm. [periódico na internet]. 2008 [acesso em 2013 jan 2];13(3): 410-21. Disponível em: www.scielo.br/pdf/reeusp/v41nspe/v41nspea08.pdf 7. Aranha MLA, Martins MHP. Temas de filosofia. 3° ed. São Paulo: Moderna; 2005. 8. Bobbio N, Matteucci N, Pasquino G. Dicionário de Política. 13° ed. Brasília (DF) /São Paulo (SP): Ed. UnB/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; 2007. 9. Melo CMM, Santos TA. A participação política de enfermeiras na gestão do sistema único de saúde em nível municipal. Texto Contexto Enferm.[ériódico na internet]. 2007 [acesso em 2013 jan 3]; 16(3): 42632. Disponível em: redalyc.uaemex.mx/pdf/714/71416307.pdf 10. Pires MRGM. Enfermeiro com qualidade formal e política: em busca de um novo perfil [dissertação]. Brasília: Programa de Pós-Graduação em Política Social Universidade de Brasília; 2001. 11. Arendt H. A condição humana. 11° ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária; 2010. 12. Navarro VL, Padilha, V. Dilemas do trabalho no capitalismo contemporâneo. Psicologia & Sociedade. [periódico na internet] 2007 [acesso em 2013 jan 5]; 19: 14-20. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ psoc/v19nspe/v19nspea04.pdf 13. Braverman H. Trabalho e capital monopolista: degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: Guanabara; 1989. 14. Porto AR. O empoderamento político dos enfermeiros na prática hospitalar [dissertação]. Pelotas: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas; 2011. 15. Chiavenato I. Introdução à Teoria da Administração. 8° ed. São Paulo: Makron Books; 2011. 16. Thofehrn MB, Amestoy SC, Porto AR, Arrieira ICO, Dal Pai D. A dimensão da subjetividade no processo de trabalho da enfermagem. Rev. Enferm. e Saúde. [periódico na internet]. 2011 [acesso em 2013 jan 5]; 1(1):190-8. Disponível em: www.ufpel.edu.br/revistas/index.php/ enfermagemesaude/article/viewPDFInterstitial/58/43 17. Marx K. O capital. 16° ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1998. 18. Zerbetto SR, Pereira MAO. O trabalho do profissional de nível médio de enfermagem nos ovos dispositivos de atenção em saúde mental. Rev. Latinoam. Enferm. [periódico na internet]. 2005 [acesso em 2013 jan 5]; 13(1):112-17. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n1/v13n1a18.pdf 19. Freire P. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Moraes; 1980. 20. Almeida MCP, Mishima SM. O desafio do trabalho em equipe na atenção a saúde da família: construindo novas autonomias no trabalho. Revista Interface: Comum., Saúde, Educ. [periódico na internet] 2001 [acesso em 2013 jan 21]; 5(9):150-3. Disponível em: http://www. interface.org.br/revista9/debates4.pdf 21. Canolleti B. Trabalho em equipe de saúde e de enfermagem: análise sistemática de literatura [Tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2008. 22. Faria HX, Araujo MD. Uma perspectiva de análise sobre o processo de trabalho em saúde: produção do cuidado e produção de sujeitos. Saúde e Sociedade. [periódico na internet] 2010 [acesso em 2013 jan 2] ;19(2): 429-39. Disponível em: www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n2/18.pdf

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MAIRA BUSS THOFEHRN | ADRIZE RUTZ PORTO | HELEN NICOLETTI FERNANDES

zer” para um “saber-ser”.16 Marx referiu que o trabalho é o ato fundante da objetivação humana e é a partir do processo de trabalho que o ser social realiza a reprodução de sua existência, conferindo ao trabalho uma dimensão central da vida dos seres humanos.17 Para Zerbetto e Pereira, o importante é a ênfase na relação social (usuário e profissionais da saúde e comunidade) e a busca da ruptura de mecanismos perpetuadores da marginalização dos sujeitos, correndo o risco de não reconhecê-los como cidadãos, ou seja, estabelecer relação única entre teoria e prática, evitando-se a ação mecanizada, reiterativa e alienada, obtendo-se ação reflexiva e consciente, portanto, uma praxis.18 Paulo Freire diz que a tomada de ciência de si, de sua ação, do mundo e das outras pessoas, como realidades dialeticamente em determinação, deve prosseguir para a transformação da mesma realidade. Isso supõe uma opção ideológica por parte do sujeito que alimentará o dinamismo de integração do indivíduo no mundo, o que contribuirá no apoderamento das pessoas para a transformação da realidade desumanizante.19 Compreende-se que com conscientização o grupo de trabalho pode se abrir para além de um trabalho técnico hierarquizado, para um trabalho com interação social entre os trabalhadores, com maior horizontalidade e flexibilidade dos diferentes poderes, possibilitando maior autonomia e criatividade dos agentes e maiores integrações do grupo.20 O alcance da equipe pode ser reconhecido no momento em que os indivíduos do grupo se reconhecem como membros da equipe e sentem-se responsáveis tanto pelos seus fracassos quanto pelos seus sucessos, participam da tomada de decisão e, principalmente, possuem clareza quanto à comunicação das informações relevantes para o trabalho da equipe.21 Por fim, é visto que o processo de trabalho da saúde é um campo fértil para a produção de sujeitos protagonistas na construção de um sistema mais justo e de relações democráticas que permitam o agir do enfermeiro na subjetividade da prática do cuidado, constituindo, assim, a identidade profissional da enfermagem.4-22 Dessa forma, o enfermeiro, estando consciente e reflexivo sobre a organização do seu processo de trabalho, evita a alienação de modo a empoderar-se para a conquista do seu espaço de autonomia na sua prática profissional.


Curso

TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM Graziella Gasparotto Baiocco

Aula 1: Princípios da Terapia Intravenosa para o Enfermeiro e Segurança do paciente

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Aula 2: Anatomia e fisiologia do sistema vascular

Aula 3: Avaliação da rede venosa e opções para escolha do acesso Aula 4: Curativo e estabilização dos acessos

Aula 5: Complicações da Terapia Intravenosa e intervenções

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Aula 6: Principais Diagnósticos de Enfermagem na Terapia Intravenosa Aula 7: Especificidades da Terapia Intravenosa

Organizador a: Enfermeir a Gr aziella Gasparotto Baiocco Mestre em Medicina e Ciências da Saúde pela PUC – RS, Especialista em Nefrologia pela SOBEN, Especialista em Terapia Intensiva pela UNISINOS – RS. Enfermeira do setor de Gerenciamento de Risco do Grupo Hospitalar Conceição. Membro da Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente - Rebraensp. Membro do Conselho Cientíico da Revista Sul- Brasileira de Enfermagem. Email: grazigasparotto@terra.com.br

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TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM AULA 5: COMPLICAÇÕES DA TERAPIA INTRAVENOSA E INTERVENÇÕES

Aula 5: Complicações da Terapia Intravenosa e intervenções Complicação é o resultado não esperado ou não desejado associado à terapia proposta, geralmente associada a fatores de risco, como a natureza dos fármacos, a duração da terapia, as características individuais do paciente (idade, cor, sexo, doenças prévias, entre outros), a habilidade técnica do profissional, a localização e o tipo de dispositivos intravasculares.1 A administração de medicamentos, soluções, hemocomponentes e derivados por via intravenosa é uma das mais importantes atividades da enfermagem, não somente pela demanda, mas pela sua complexidade.14 Entre as complicações mais referenciadas na literatura estão as citadas a seguir: Infiltração A infiltração é caracterizada pela infusão de fluidos e soluções ao redor do tecido subcutâneo, sendo considerada uma das complicações mais comuns da TIV, ocorrendo em até 58% dos acessos intravenosos em crianças.14 Todos os casos de infiltração devem ser registrados, principalmente quanto ao tipo de solução, método de infusão, tipo e tamanho do dispositivo, sinais e sintomas apresentados pelo paciente, intervenções realizadas e orientações fornecidas aos pacientes. Fatores de risco que favorecem a ocorrência de infiltração são punção na parede distal da veia, fricção mecânica, deslocamento do cateter devido ao excesso de manipulação e danos na camada íntima da veia.14 Os primeiros sinais e sintomas da infiltração são pele fria e tensa, edema em torno do sítio da punção, ausência de retorno venoso, diminuição no ritmo da infusão e dor no sítio da punção.14 A escala de classificação de infiltração e extravasamento citada no referencial estudado está abaixo:14

O extravasamento é definido como a infiltração de drogas vesicantes ou irritantes, drogas vasoativas e outras com osmolaridade superior a 375 mOsm/L e soluções com extremos de pH, do vaso sanguíneo para o tecido adjacente, sendo considerado uma das complicações mais severas da TIV. Os sinais e sintomas do extravasamento são relato de dor e desconforto no local da punção, edema em torno do sítio de punção, palidez e mudança de temperatura em torno do sítio de punção, sensação de queimação no trajeto da veia, diminuição ou parada do fluxo de infusão, vazamento do fluido através da inserção do cateter e cordão palpável ao longo do trajeto da veia.14 A escala de infiltração e extravasamento deve ser aplicada na avaliação, a as condutas variam de acordo com a droga infiltrada. Deve sempre ser tratada como uma emergência, uma vez que pode acarretar em graves comorbidades14. Infecções O risco de infecção está associado ao local do acesso, ao tipo de solução infundida, à experiência do profissional responsável pelo procedimento e ao tempo de permanência do cateter. A ocorrência de infecções acarreta o aumento dos custos hospitalares, aumento do tempo de hospitalização dos pacientes e a gravidade da doença de base, o que pode gerar ao alto risco de mortalidade.2 As infecções locais advêm da contaminação microbiana do dispositivo ou da infusão. Sua prevenção ocorre por meio de técnicas assépticas durante a manutenção do cateter; portanto, elas devem ser respeitadas. Isso inclui lavagem rigorosa das mãos, cuidados na preparação de medicamentos endovenosos e desinfecção de conectores e dânulas com álcool a 70%.3-5 Os sinais e sintomas de infecções locais são hiperemia e edema local, presença de secreção purulenta e leucocitose, a partir de soluções contaminadas ou através de microrganismos que penetram na circulação sanguínea pelas conexões do cateter. As infecções envolvem toda a área por onde o dispositivo transcorre pela rede venosa, ocorrendo a presença de eritema, dor local e endurecimento de todo o túnel subcutâneo no qual está localizado o dispositivo. Entretanto, os sinais de inflamação nem sempre podem estar presentes.4,5 As recomendações para qualquer tipo de cateter central são as seguintes: uso de barreira máxima na inserção, de campos estéreis grandes que

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0 – sem sinais clínicos 1 – pele fria e pálida, edema menor que 2,5 cm, com pouca ou sem dor no local 2 – pele fria e pálida, edema entre 2,5 e 15 cm e pouca dor no local 3 – pele fria, pálida, translúcida, edema maior que 15 cm, dor local variando de média a moderada e possível diminuição da intensidade 4 – pele fria, pálida e translúcida, edema maior de 15 cm, dor local variando de moderada a severa, diminuição da sensibilidade e comprometimento circulatório

Extravasamento


TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM AULA 5: COMPLICAÇÕES DA TERAPIA INTRAVENOSA E INTERVENÇÕES

cubram todo o paciente e de máscaras, inclusive para o paciente, quando este estiver respirando espontaneamente. Da mesma forma, uma rigorosa técnica asséptica deve ser respeitada durante o manuseio dos cateteres. Além de todos os cuidados na preparação de medicamentos endovenosos, a antissepsia de conectores e dânulas com álcool a 70% é indispensável para redução de índices de infecção. Salienta-se que, atualmente, o antisséptico de escolha é o gluconato de clorexidina em solução alcoólica; porém, para desinfecção de superfícies ou equipamentos, o álcool a 70% é a melhor escolha.4

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Flebites A flebite é a inflamação de uma veia devido à irritação química e/ou mecânica. Caracteriza-se por uma região edemaciada, hiperemiada e quente ao redor do sítio de punção ou ao longo da veia. Dependendo da extensão do processo inflamatório, o endotélio vascular sofre uma injúria permanente, chamada de fleboesclerose. Nesse caso, esse segmento venoso não pode mais ser utilizado para terapia intravenosa, para coleta de sangue ou para futura confecção de uma fístula arteriovenosa nos pacientes portadores de Insuficiência Renal Crônica.6 Os fatores que colaboram para o aumento da incidência da flebite são tempo que a linha intravenosa permanece no local, devido à hiperosmolaridade das drogas, ao tamanho da cânula e ao local da punção; infiltração; fixação incorreta da linha; quebra da técnica asséptica durante o procedimento.7 A ocorrência dessa complicação pode prolongar a hospitalização, caso não seja tratada precocemente. Sua incidência varia entre 5 e 26% nos pacientes com o Cateter Central de Inserção Periférica (CCIP). A taxa é considerada baixa quando comparada com aquela verificada em cateteres periféricos, cuja incidência chega a 65%.8 Há três tipos de flebite: a mecânica, a química e a infecciosa. A mecânica é a inflamação da veia causada como resposta do organismo a um material estranho no seu interior e/ou traumatismo da sua camada íntima durante a inserção do dispositivo. Nas primeiras 48-72 horas, é comum o surgimento de flebite no sítio da inserção.8 A química tem relação com as medicações e soluções irritantes, hipertônicas, e com as medicações diluídas ou misturadas inapropriadamente. Ocorre também quando a velocidade de infusão é muito rápida. Quanto mais ácida a solução intravenosa, maior é o risco de flebite química.1 Essa flebite é rara em pacientes com CCIP, pois a extremidade desse dispositivo encontra-se em uma grande veia; assim, a infusão consegue ser rapidamente diluída pelo volume de sangue contido nesses

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vasos. Por fim, a infecciosa, que tem maior incidência, é a inflamação da parede interna da veia, relacionada a um processo de infecção bacteriana. Os fatores que contribuem para o seu aparecimento incluem quebra da técnica asséptica, falha na detecção de quebras do dispositivo e fixação ineficaz do cateter.8 Quanto ao tratamento, o referencial estudado recomenda elevação do membro afetado e aplicação de frio local nas primeiras 24 horas e depois o calor. O cateter deve ser retirado.1,3,8 Entre os fatores que reduzem a ocorrência de flebite estão a utilização do cateter com calibre menor possível, a sua inserção pela veia basílica, o posicionamento correto do cateter na veia cava superior, a adequada fixação do cateter e a monitorização dos pacientes com plaquetopenia, já que eles são mais susceptíveis a sangramentos.1 A Intravenous Nurses Society (INS, 2013) classificou a flebite numa escala de um a quatro, de acordo com a gravidade dos sinais e dos sintomas, com o objetivo de classificar os graus da flebite.1 tensidade

Sinais e sintomas

1

Eritema no sítio de inserção, com ou sem presença de dor

2

Dor, eritema ou edema no sítio de inserção do cateter

3

Dor, eritema ou edema, formação de estria, cordão venoso palpável

4

Dor, eritema ou edema, formação de estria, cordão venoso palpável e drenagem de secreção purulenta.

Quadro 1 – Classificação de flebites. Fonte: Intravenous Nurses Society Revised Standards of Practice, 2013.

Trombose A Trombose Venosa Profunda (TVP) é uma complicação bastante conhecida pelos usuários de cateteres. Pode ser dolorosa, necessita de terapia de anticoagulação e da retirada do cateter, o que, consequentemente, aumenta o tempo de permanência no hospital. A maioria dos casos de TVP é assintomática e ocorre na segunda semana de uso do cateter. A trombose é causada pela adesão de fibrina e plaquetas que acabam obstruindo o cateter e o lúmen do vaso sanguíneo. Na prática, alguns fatores que causam a formação do coágulo são os traumas no tecido endotelial venoso, a interrupção da terapêutica por longo período, o refluxo de sangue pelo cateter, a velocidade lenta da infusão e as coagulopatias causadas por doenças como o diabetes e o câncer. Sua incidência varia entre 4 e 38%.3, 8, 11, 10 Sinais e sintomas de TVP em extremidades superiores são edema de braço, dor e vazamento

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TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM AULA 5: COMPLICAÇÕES DA TERAPIA INTRAVENOSA E INTERVENÇÕES

no sítio da inserção. No primeiro sinal de suspeita de TVP o cateter deve ser removido e a equipe médica acionada.10 Embolia gasosa Decorre da entrada de ar no sistema vascular. Ao entrar na corrente sanguínea, o ar é rapidamente carregado para o ventrículo direito, onde se aloja na válvula pulmonar e bloqueia o fluxo de sangue para as artérias pulmonares. É uma complicação rara, mas letal, e tratável desde que seja diagnosticada imediatamente; sua prevenção é a chave na incidência desta complicação.14 Os sinais e sintomas da embolia gasosa incluem hipoxia, confusão mental, dispneia, taquicardia, hipotensão e dor torácica.8 Suas causas incluem a presença de ar no equipo, desconexão do sistema, técnica inadequada nas trocas de coberturas e punção em acessos centrais, técnica incorreta da retirada dos cateteres centrais.8 Sangramentos e oclusão

O deslocamento do cateter pode ser causado pelo paciente ao manipulá-lo ou durante a troca da cobertura. A cobertura deve ser corretamente fixada, dando preferência às oclusivas e transparentes. Os sinais e sintomas do deslocamento dos cateteres incluem edema e drenagem de secreção no sítio de inserção.12 Embolização do cateter A embolização ocorre quando o cateter ou fragmentos dele entram na circulação sanguínea, o que exige intervenção médica imediata. As complicações potenciais são perfuração cardíaca, arritmias, trombose pulmonar, abcesso subendocárdico, embolia pulmonar e endocardite. O paciente pode apresentar dificuldade de respiração, confusão mental, taquipneia, hipotensão e ansiedade.13 Caso haja resistência durante a infusão no cateter, nunca forçar com a seringa; inicialmente, tenta-se identificar o que está causando a resistência da infusão e soluciona-se o problema.13 Deve-se encaminhar para avaliação com emergência de um especialista vascular a fim de localizar o fragmento e providenciar sua retirada, o que, geralmente, ocorre por terapia endovascular no setor de hemodinâmica.13 Migração do cateter A ocorrência de infusão lenta, alarmes frequentes das bombas de infusão, impossibilidade de aspirar sangue, exteriorização do cateter, observação de solução infundida em outra estrutura (dreno de tórax, cavidade oral, pertuito do cateter), ou se o paciente referir dor durante a infusão, apresentar distúrbios neurológicos, queixas de dispnéia, edema ou infiltração no membro do cateter, pode ser ocasionada pela migração do cateter. Como condutas preventivas, cita-se fixar adequadamente o cateter, evitar tração do cateter e controlar rigorosamente o curativo. Em caso de suspeita de migração, deve-se observar funcionamento do cateter, confirmar o posicionamento do cateter (raio X), nunca reintroduzir um cateter que exteriorizou.14 O Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2011) recomenda, para implantação e manutenção dos cateteres venosos centrais, uma série de medidas que devem ser seguidas a fim de diminuir a ocorrência de infecções.15 Da mesma forma, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2013) publicou uma orientação para prevenção de infecção de corrente sanguínea associada a cateteres venosos.4 A aplicação conjunta de medidas preventivas, chamadas de Bundlles, reduziu os riscos

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Os sangramentos podem ocorrer nas primeiras 24 horas após a inserção dos cateteres; nesse caso, faz-se necessário o uso de coberturas com gazes compressivas. Somente após a hemostasia podem-se utilizar coberturas transparentes, a fim de facilitar a observação do sítio de punção.12 A oclusão resulta da obstrução parcial ou completa do cateter, o que impede ou dificulta a aspiração do sangue, levando à perda da sua permeabilidade. Há dois tipos de obstrução: a mecânica e a trombótica. A mecânica é causada pela dobra ou compressão do lúmen dos cateteres e, geralmente, resulta da migração do dispositivo para um vaso de menor lúmen;8 a trombótica é causada por coágulos na parede externa ou interna do cateter, devido a traumas, estenose ou hipercoagulopatias causadas pelas doenças de base. Também pode ocorrer a cristalização intraluminal devido a medicamentos incompatíveis ou à nutrição parenteral.1,8 Algumas drogas como a fenitoína e o diazepan podem formar cristais no interior do cateter, obstruindo-o.12 As causas mais comuns da obstrução são manutenção ineficaz do cateter, precipitação de drogas, estado de hipercoagulabilidade do paciente, acumulação gradual de fibrina no lúmen do cateter, dobra do cateter ou mau posicionamento e administração de drogas incompatíveis. As intervenções devem estar baseadas no tipo de obstrução, sendo possível usar a técnica da dânula. A utilização de trombolítico para desobstrução de cateteres é uma prática baseada em evidência e segura, requer prescrição médica e protocolo institucional.13

Deslocamento e ruptura


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de infecções. Os Bundless, também chamados de pacotes de medidas, compreendem cinco ações principais: lavagem de mãos, precauções de barreira máxima na inserção, preparo da pele com gluconato de clorexidina, seleção do sítio de inserção, revisão diária da necessidade dos cateteres e remoção precoce assim que for possível.4,15 Vale ressaltar que a implantação dessas medidas pode não ser efetiva caso não haja um acompanhamento e um trabalho de conscientização dos profissionais para que sigam tais recomendações. Nesse sentido, programas educacionais têm mostrado bons resultados. A antissepsia das mãos é fundamental sempre que os cateteres forem manipulados. Durante a inserção, seguem-se as precauções máximas de barreira, como usar avental, campos, máscara, toucas e luvas estéreis; utilizar clorexidina alcoólica 0,5% como antisséptico da pele no sítio de inserção; preferencialmente usar cateter monolúmen; observar o local de inserção diariamente, monitorando a ocorrência de sinais flogísticos; e não utilizar antibióticos tópicos no local da inserção. Além disso, os equipos devem ser trocados a cada 72 horas nas infusões contínuas e nas infusões intermitentes a cada 24 horas, salvo quando forem utilizadas soluções lipídicas ou realizada transfusão sanguínea, caso em que a troca acontece a cada infusão. Anotar a data de inserção do cateter.4 A técnica asséptica e o treinamento dos profissionais envolvidos na assistência são imprescindíveis para evitar a sepse. Outras medidas importantes, que incluem a retirada do dispositivo logo após o término da terapia, o uso de filtros antibacterianos durante a infusão, os cuidados com a administração da nutrição parenteral e a manutenção do sítio de inserção com cobertura estéril, podem reduzir a ocorrência de sepse, cujo tratamento inclui a remoção imediata do dispositivo e o uso de antibióticos.8 A formação de um “Grupo de Cateteres”, ou seja, um grupo de enfermeiros especializados, é uma estratégia que reduz o risco de complicações, sejam elas infecciosas ou mecânicas. Consequentemente, há uma redução dos custos hospitalares e garantia da qualidade e da segurança na assistência ao paciente.14 Além do grupo de enfermeiros especialistas em terapia intravenosa, a implementação de técnicas de manutenção inovadoras e tecnológicas, a punção guiada por ultrassonografia e os dispositivos para estabilização segura dos cateteres reduzem os riscos e aumentam as taxas de sucesso.16,17 Indicadores de qualidade são capazes de direcionar os serviços de saúde, evidenciando bene-

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fícios e prioridades, e, consequentemente, definir intervenções de melhorias mediante situações adversas. Portanto, o conhecimento da incidência, dos sinais e sintomas, dos fatores de risco, bem como saber prevenir as diferentes complicações relacionadas a terapia intravenosa torna-se importante para o desenvolvimento de uma prática segura de enfermagem.14 REFERÊNCIAS Brasil, Infusion Nurses Society – INS Brasil. Diretrizes Práticas para Terapia Infusional. São Paulo: 2013. Mesiano Borba ERA, Merchán-Hamann E. Infecções da corrente sanguínea em pacientes em uso de cateter venoso central em unidades de terapia intensiva. Revista Latino-Americana de Enfermagem. 2007; 15(3): 453-9. Phillips LD. Manual de terapia intravenosa. 2ª. ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Orientações para Prevenção de Infecção Primária de Corrente Sanguínea. Unidade de Investigação e Prevenção das Infecções e dos Efeitos Adversos – UIPEA. set. 2010. Gajurel K, Band JD. Central venous catheter-related infections: Types of devices and definitions. [capturado em: 1º jan. 2009]. Disponível em: <HYPERLINK “http://uptodateol.net/patients/content/topic.do?topicKey=~xb4Vsj1JaYcPkr”http://uptodateol.net/patients/content/topic. do?topicKey=~xb4Vsj1JaYcPkr>. Reis P et al. Efeitos adversos identificados em local de infusão intravenosa periférica por drogas quimioterápicas. Ciênc. Enferm. 2008; 14(2): 55-6. Smeltzer SC, Bare BG. Brunner e Sudarth. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. Jesus VC, Secoli SR. Complicações acerca do Cateter Venoso Central de Inserção Periférica (PICC). Ciênc. Cuid. Saúde. 2007; 6(2): 252-60. Volkmer A, Maestri R et al. I curso de qualificação em utilização, inserç ão, manutenção e cuidados com o Cateter Central de Inserção Periférica (PICC/CCIP) adulto, pediátrico e neonatal do Instituto de Educação e Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento. Porto Alegre; 2008. Evans R et al. Risk of symptomatic DVT associated with Peripherally Inserted Central Catheters. Chest. out. 2010; 138(4). Bonizzoli M et al. Peripherally inserted central catheters and central venous catheters related thrombosis in post-critical patients. Intensive care medicine. set. 2010 Pezzi MO, Peruzzo AB, Araújo AMP, Moraes E, Yoshimoto LT, Sanches MO, Sanseverino SLA, Leonardi TB. Manual de Cateterização Central de Inserção Periférica (CCIP/PICC). Porto Alegre: Edelbra; 2004. Josephson D. Intravenous Infusion Therapy for nurses principles and practice. 2ª. ed. Albany: 2004. Harada, M.J.C.; Pedreira, M.L.G. Terapia Intravenosa e Infusões. São Caetano de Sul: Yendis; 2011. Centers for. Disease Control and Prevention (CDC). Vital Signs: Central line – associated blood stream infections – United States, 2001, 2008 and 2009. MMWR Morb Mortal Wkly rep. 04 mar. 2011. Harnarge S. Achieving zero catheter related blood stream infections: 15 months success in a community based medical center. HYPERLINK “http://www.ingentaconnect.com/content/ava/javac;jsessionid=1v1suz4465zsq.alice” \o “Journal of the Association for Vascular Access” Journal of the Association for Vascular Access. 2007; 12(4). Baiocco, G G et al. Cateter Central de Inserção Periférica – na prática de enfermagem. Moriá; 2013.

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*Envie seu evento para divulgação em nosso calendário: revistasulbrasileira@gmail.com

Congressos e Eventos em 2014 Evento

Local

Data

Informações

25º Fórum Catarinense das Escolas de Enfermagem e 5º Encontro Catarinense de Estudantes de Enfermagem

Chapecó - SC

02 e 03 de junho

www.aben-sc.com

X Jornada de Enfermagem do Instituto de Cardiologia de Porto Alegre - RS

Anfiteatro Centro Cultural Ruben Rodrigues Porto Alegre - RS

05 e 06 de junho

www.cardiologia.org.br ( 51 ) 3230-3630

XIII Congresso Catarinense de Cardiologia I Simpósio Luso-Catarinense de Cardiologia

Majestic Palace Hotel Florianópolis - SC

24 a 26 de julho

www.oceanoeventos.com.br

III Simpósio Carioca de Feridas I Simpósio Carioca de Queimaduras

Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Rio de Janeiro - RJ

25 e 26 de julho

www.sobenfee.org.br

14° SENADEn Seminário Nacional de Diretrizes para a Educação em Enfermagem

Maceió – AL

06 a 08 de agosto

www.wineventos.com.br

17º CBCENF

Hangar Centro de Convenções - Belém - PA

06 a 09 de agosto

www.cbcenf.com.br

XVIII Jornada Internacional de Terapia Intensiva

Anfiteatro Hugo Gerdau Porto Alegre - RS

11 a 13 de setembro

www.eventos.santacasa.tche.br

X ENENGE

Búzios – Rio de Janeiro - RJ

25 a 28 de outubro

www.sobragen.org.br

66º Congresso Brasileiro de Enfermagem

Hangar Centro de Convenções - Belém - PA

27 a 30 de outubro

www.abennacional.org.br

XXXIII Encontro de Enfermagem do Hospital da Criança Santo Antônio

Anfiteatro Hugo Gerdau Porto Alegre - RS

29 a 31 de outubro

www.eventos.santacasa.tche.br

IX Congresso Brasileiro de Queimaduras 5º Congresso Brasileiro de Enfermagem em Dermatologia

29 de outuSerrano Resort Convenções bro a 01 de & SPA – Gramado - RS novembro Atlântico Búzios Convention & Resorts Armação dos Búzios - RJ

19 a 22 de novembro

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www.sobenfee.org.br

www.sobende.org.br

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Nota O enfermeiro é o profissional habilitado para estar a frente da Classificação de Risco nas Emergências e nunca trabalhamos com exclusão e sim encaminhamentos estabelecidos por protocolos instituídos pelas instituições. A Classificação de Risco é correspondente a priorização do atendimento em Serviços de Urgência/Emergência como um processo complexo, que demanda competência técnica e científica em sua execução, está regulamentada pela Resolução Cofen 423/2012, que normatiza no âmbito do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, a participação do Enfermeiro na atividade de Classificação de Riscos. Em seu artigo 1°, a Resolução Cofen 423/2012 diz que: Art.1° No âmbito da equipe de Enfermagem, a Classificação de Risco e a priorização da assistência em Serviços de Urgência é privativas do Enfermeiro observadas às disposições legais da profissão. Além disso, a referida Resolução prevê que o Enfermeiro deve estar dotado de conhecimentos, competências e habilidades que garantam rigor técnico-científico ao procedimento. Esse procedimento deverá ser executado no contexto do Processo de Enfermagem, atendendo-se as disposições da Resolução Cofen 358/2009 (Sistematização da Assistência de Enfermagem) e aos princípios da Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS). A lei 7.498/86, que dispõe sobre a regulamentação do exercício profissional de Enfermagem (LEPE), prevê em seu artigo 11, inciso I, alíneas i, l e m, o seguinte:

Art.11. O Enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe: I- privativamente: (….) i) consulta de enfermagem; l) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida; m) cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE), aprovado pela Resolução Cofen 311/2007, em seu artigo 13, Seção I, Responsabilidades e Deveres, prevê que os profissionais de Enfermagem devem: Art.13. Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal e somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para outrem. Portanto, o Enfermeiro tem amparo legal e privativo para realizar o procedimento de Classificação de Risco, que entre outros compreende o Processo de Enfermagem, o exame físico do paciente e o diagnóstico de enfermagem, cabendo à instituição estabelecer protocolos, normas e rotinas, fluxo de atendimento, partindo da proposta multidisciplinar, promovendo, inclusive, a capacitação e treinamento periódicos para a equipe de enfermagem. Os Técnicos e/ou Auxiliares de Enfermagem devem agir no exercício de suas funções, em grau auxiliar e de acordo com os protocolos pré-estabelecidos, normas e rotinas da instituição, sendo devidamente supervisionados e orientados pelo Enfermeiro responsável pelo setor.

Fonte: https://www.facebook.com/ricardoriverocoren acessado em 11.03.2014/23:43

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