Conselho Científico Presidente do Conselho Cientíico
Profa Dra Regina Helena Medeiros UCS - Universidade de Caxias do Sul
Profa Doutoranda Adriana Aparecida Paz UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
EXPEDIENTE Editora: Lisiane Palau Azevedo Editora Cientíica: Regina Medeiros Assistente Editorial: Gilberto Dias de Azevedo gilbertolivros@gmail.com Produção: Álvaro Lopes (Publikmais) contato@publikmais.com.br Revisão de Português: Suliani Editograia Vendas: moriaeditora@gmail.com (51) 3351-2361 / 3334-4753 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é um periódico cientíico, cultural e proissional bimestralmente lido por 5.000 proissionais de enfermagem. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem não aceita matéria paga em seu espaço editorial. Circulação: em todo território nacional. Seis números anuais: janeiro/fevereiro, março/ abril, maio/junho, julho/agosto, setembro/outubro e novembro/dezembro. Data da Impressão: Janeiro/ 2013. Correspondência: Moriá Editora Ltda. Rua Aracy Fróes, 258 / 902 Jardim Itu Sabará - Porto Alegre/ RS CEP: 91.210-230 Tels.: (51) 9116.9298 / (51) 3334.4753. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Números avulsos: R$ 40,00 Periodicidade: Bimestral Distribuição: Via Correios Revista Sul-Brasileira de Enfermagem reservase todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção PanAmericana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela Moriá Editora que, em qualquer situação, agirá como detentora dos mesmos. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral. Publica trabalhos originais das diferentes áreas da Enfermagem, Saúde e áreas ains, como resultados de pesquisas, artigos de relexão, relato de experiências e discussão de temas atuais.
ISSN 2236-0417
Profa Dra Ana Elizabeth Figueiredo PUC/RS
Prof. Doutorando Marcio Neres dos Santos Grupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre - RS Profa Doutoranda Maritê Inez Argenta Faculdade Estácio de Sá/SC
Prof. Dr. Ari Nunes Assunção Unisc – Universidade de Santa Cruz do Sul
Profa Dra Maria Bettina Camargo Bub UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
Profa Dra Beatriz Regina Lara dos Santos PUC/RS
Profa Dra Maria da Graça de Oliveira Crossetti UFRGS - Universidade Federal do RS
Profa Dra Dulcinéia Ghizoni Schneider Unisul /SC Prof. Dr. Edison Luiz Devos Barlem FURG/RS Profa Dra Erica Rosalba Mallmann Duarte UFRGS - Universidade Federal do RS Prof Dr Giovana Calcagno Gomes FURG/RS a
a
Profa MS Graziella Gasparotto Baiocco Grupo Hospitalar Conceição Profa Dra Iride Cristofoli Caberlon Ulbra - Universidade Luterana do Brasil-Gravataí Profa Dra Juliana Vieira De Araújo Sandri Univali - Universidade do Vale do Itajaí /SC Prof Dr Laura Cristina S. Lisboa de Souza UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina a
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Profa Doutoranda Maria Ligia dos Reis Bellaguarda Univali/SC Profa Dra Marlene Gomes Terra UFSM - Universidade Federal de Santa Maria Profa Dra Nara Marilene Oliveira Giradon Perlini UFSM - Universidade Federal de Santa Maria Profa Doutoranda Nára Selaimen G. de Azeredo Grupo Hospitalar Conceição - Porto Alegre/RS Profa Dra Nilva Lúcia Rech Stedile UCS - Universidade de Caxias do Sul Profa Dra Regina Gema Santini Costenaro Unifra - Centro Universitário Franciscano Profa Dra Rita Catalina Aquino Caregnato Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profa Dra Roseana Maria Medeiros Faculdade da Serra Gaucha /RS
Profa Dra Lisia Maria Fenstersefer Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Profa Dra Sandra Maria Cezar Leal Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos
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Profa Dra Solange Machado Guimarães Ulbra - Universidade Luterana do Brasil
Profa Dra Luzia Fernandes Milão Ulbra - Universidade Luterana do Brasil
Profa Dra Sonara Lucia Estima Unilasalle - Centro Universitário La Salle
Profa Doutoranda Magada Tessman Schwalm Unesc/SC
Profa Dra Sonia Beatriz Cocaro Souza UFRGS - Universidade Federal do RS
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Profa MS Terezinha Valduga Cardoso Ulbra - Universidade Luterana do Brasil IAHCS Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde
Profa MS Vera Lucia Fortunato Fortes UPF - Universidade de Passo Fundo
Ficha Catalográfica R 454 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. - Vol. 1, nº 1(março/abril. 2011). Porto Alegre: Moriá Editora Ltda., 2011. -V. Bimestral ISSN 2236-0417 1. Enfermagem-Periódicos NLM WY 1 Bibliotecária Responsável – Maria Laura Martins Scheidemandel
Revista Sul-Brasileira de Enfermagem CRB10-581
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Sumário Página 03
Editorial
Artigos Página 06
Página 13
Cuidados de enfermagem em pacientes com ventilação mecânica: revisão integrativa Nursing care for patients on mechanical ventilation: integrative review Cíndia Silva da Silva | Rita Catalina Aquino Caregnato Pré-eclâmpsia em pacientes atendidas na Maternidade Ana Braga, Manaus-AM, Brasil Preeclampsia in patients treated at the Maternity Ana Braga, Manaus, Amazonas, Brazil Eudiane Parentes Mendes | Heidiany Medim da Mota | Andre Gonçalves Pereira | Graciela Marleny Rivera Chávez | Marcelino da Silva Cavalcante
Página 17
Hipótese da participação do polimorismo T102C do gene do receptor 5HT-2A da serotonina na isiopatologia da síncope neurocardiogênica Hypothesis participation of gene polymorphism T102C receiver 5HT-2A serotonin in pathophysiology of neurocardiogenic syncope Elisiane Lorenzini | Ana Paula Guedes Frazzon | Melissa Markoski | Juarez Nehaus Barbisan
Página 20
Ocorrência de eventos adversos na criança hospitalizada: revisão integrativa Occurrence of adverse events in hospitalized children: an integrative review Mariana Ferreira Arrieche Lopez | Beatriz Sebben Ojeda
Página 24
Um olhar sobre a realidade de enfermagem em Angola/África A closer look at the Nursing in Angola/Africa Alexander de Quadros | Adriana Roloff
Página 29
Normas para publicação
Página 32
Curso Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem Eventos Cientíicos Aula 1: Relações Humanas no Trabalho: uma relexão acerca da equipe na área da saúde
Página 36
Curso Terapia Intravenosa para Enfermagem Aula 1 : Princípios da Terapia Intravenosa para o Enfermeiro e Segurança do paciente
Página 40
Congressos e Eventos
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Editorial Genética e enfermagem: uma inter-relação dinâmica Diferentemente do que muitos enfermeiros pensam, os temas ligados à biologia molecular e à genética fazem parte do nosso cotidiano profissional. A mídia diariamente anuncia sobre “essa vida” uma série de descobertas no nível molecular colocam em circulação uma série de assuntos polêmicos, tais como o uso de células-tronco embrionárias ou até mesmo os já “esquecidos” transgênicos. Entretanto, essas descobertas também trazem à tona grandes esperanças em relação à cura de doenças, a novos métodos de produção e administração de vacinas, a fármacos e a alimentos, entre outras. Muito se tem aprendido ao longo dos últimos 60 anos desde a descrição da dupla hélice do DNA (estrutura tridimensional), por Watson e Crick. Uma intensa revolução na investigação científica ligada às ciências da vida segue acontecendo. Com isso, houve o desenvolvimento de novas ferramentas para pesquisa, ou seja, a biotecnologia, a fim de responder a antigas questões que acabaram por criar uma série de outras a serem respondidas. O Projeto Genoma Humano, iniciado formalmente em 1990 e concluído em 2003, foi o divisor de águas entre as eras pré e pós-genômica. Além do sequenciamento do genoma humano, esse projeto permitiu a identificação de importantes elementos na sequência de DNA responsáveis pela regulação celular e que fornecem a base para a variabilidade humana. Na era pósgenômica, o maior desafio é compreender como as partes da célula – genes, proteínas e muitas outras moléculas – trabalham juntas para criar e manter organismos vivos complexos. A genética, aqui entendida como o estudo de genes individuais e do seu impacto sobre doenças relativamente raras de um único gene, e a genômica, como o estudo de todo os genes do genoma humano em conjunto, incluindo as suas interações com o outro, o ambiente e a influência de aspectos psicossocial e fatores culturais, estão redefinindo a compreensão do processo saúde e doença1-2. Assim, é necessário reconhecer que a genômica é conhecimento central para os profissionais de saúde, porque, essencialmente, todas as doenças e condições de saúde têm um componente genético ou genômico1-2. A enfermagem, que tem o cuidado humano como o cerne da profissão, cada vez mais deve incluir a informação da genética e da genômica nas suas práticas independentes ou
interdependentes, isto é, nas ações de prevenção, rastreio, diagnóstico, prognóstico, tratamento e monitoramento da eficácia do tratamento e cuidado oferecido. Atualmente, todos os enfermeiros recebem conteúdos de genética na sua formação, visto que são obrigatórios, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. A preocupação em inserir esta disciplina na formação do enfermeiro data de 19623. No entanto, o conteúdo de genética trabalhado na maioria dos cursos de graduação em enfermagem possui carga horária reduzida e é insuficiente na abordagem clínica. Por isso, essa formação deve ser mudada ou revista, proporcionando conhecimento adequado, respaldado e livre de ansiedade e indecisões para a atuação deste profissional4,6. Conforme a Sociedade Internacional de Enfermagem em Genética, nos Estados Unidos da América do Norte a maior parte dos enfermeiros clínicos de prática avançada em genética trabalham como aconselhadores genéticos. No Brasil, genética e enfermagem começam a estabelecer uma relação de aproximação, que de certa forma adota um modelo biomédico para compreender e praticar genética. A adoção desse modelo pode vir a minimizar a perspectiva da enfermagem, a fim de se encaixar na função estabelecida e legitimada de conselheiro genético, assim como na enfermagem norte-americana, onde o enfermeiro é treinado em genética médica e certificado em aconselhamento genético1-2,4-5. Esperamos que em poucos anos não seja rara a participação de enfermeiros nos serviços de genética e de seu interesse em desenvolver o conhecimento de enfermagem relevante para a genética clínica5. A interação entre a ciência básica da genética e a ciência clínica da enfermagem tem sido pouco bidirecional, e sua produção esteve abaixo das expectativas nas últimas décadas. Isso ocorre porque, anteriormente, as ciências básicas e aplicadas reconheciam apenas a figura do médico como detentor e produtor de conhecimento clínico e especializado5. Nesse contexto, a medicina reuniu com poder autoritário o controle e os privilégios econômicos em todos os cenários de cuidado em saúde e na pesquisa, enquanto a disciplina de enfermagem foi assumida como subordinada ao conhecimento médico e subserviente à instituição da medicina e das ciências naturais5.
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Na tentativa de inverter a pirâmide, os enfermeiros devem se empoderar a partir do domínio das ciências básicas (anatomia, fisiologia, embriologia, histologia, genética, etc.) para pensar criticamente sobre a sua prática e efetivamente cuidar dos seus pacientes e de suas famílias. Enfermeiros podem e devem trabalhar conjuntamente com outros profissionais em pesquisas clínicas, porém não devem unicamente ser treinados para promover as metas de outros profissionais. Além disso, os enfermeiros necessitam sistematizar suas práticas e basear em evidências suas condutas. A enfermagem é a profissão que mais presta cuidados em saúde e, certamente, os enfermeiros podem contribuir muito com as práticas da genética clinica através do cuidado humanizado e centrado na família. As potencialidades de atuação do enfermeiro no campo da genética e da genômica são inúmeras. A seguir, são apresentadas algumas dessas possibilidades1-2,7. Diagnóstico molecular – Os testes com base no DNA estão entre as primeiras aplicações comerciais das novas descobertas da genética. O teste de genes pode ser usado para diagnosticar e confirmar doenças, mesmo em indivíduos assintomáticos; fornecer informações sobre prognósticos da doença e, com vários graus de precisão, predizer o risco futuro de doenças em indivíduos sadios e em seus descendentes. Outros temas relacionados aos testes genéticos incluem sua introdução efetiva na prática clínica, a regulamentação da qualidade dos laboratórios, a disponibilização dos testes para doenças raras e a educação dos profissionais da saúde e de pacientes sobre a correta interpretação dos riscos apresentados. Farmacogenômica – Na próxima década, os pesquisadores começarão a correlacionar variações na sequência do DNA e a identificação de subgrupos de pacientes a respostas a tratamentos médicos e passarão a desenvolver drogas especialmente desenhadas para essa população. A disciplina que mistura a farmacologia e a genômica é chamada farmacogenômica.
Terapia gênica – É a possibilidade de usar os próprios genes para tratar uma doença ou melhorar alguns de seus sintomas. Uma variedade de sistemas está em desenvolvimento, destinados a introduzir material genético em tipos específicos de células e obter níveis fisiologicamente significativos de expressão. Triagem neonatal – Os neonatos podem ser triados para uma variedade crescente de condições com base no princípio de que a detecção precoce pode levar à terapia que impede problemas graves em longo prazo. A biotecnologia tem expandido o escopo da triagem neonatal. Triagem de portadores – Enfermeiros aconselhadores são importantes nos programas de triagem de portadores, pois esses requerem avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios e fornecimento de informações genéticas, testes e recursos de tratamento. Nessa perspectiva, necessita-se repensar a práxis da enfermagem, apontando possibilidades de expansão do seu campo de atuação, bem como dos limites e desafios a serem vencidos pelos profissionais da área5. Referências 1. Thompson HJ, Brooks MV. Genetics and genomics in nursing: evaluating essentials implementation. Nurse Education Today 2011; 31(6):623-7. 2. Tonkin E et al. Genomic education resources for nursing faculty. Journal of Nursing Scholarship 2011; 43(4):330-40. 3. Brantl VM, Esslinger PN. Genetics implications for the nursing curriculum. Nurs Fórum 1962; 14:90-100. 4. Abrahão AR. A integração da genética na prática clínica do enfermeiro. Acta Paul Enferm 2000; 13:203-6 5. Anderson GW, Monsen RB, Rorty MV. Enfermagem e genética: uma crítica feminista rumo ao trabalho em equipes transdisciplinares. Estudos Feministas, Florianópolis, 2006; 14(2):423-43. 6. Cunha VMP et al. Conhecimento da equipe de enfermagem de unidades materno-infantis frente aos distúrbios genéticos. Rev Rene 2010; 11(n. especial):215-22. 7. National Human Genome Research Institute. The road to the $1000 genome – A roundup of sequencing technology developments. Retrieved September 1, 2011. Disponível em: http://www.ornl.gov/sci/ techresources/Human _ Genome/publicat/primer2001/4.shtml.
Marcio Neres dos Santos Enfermeiro. Doutorando em Biologia Celular e Molecular. Mestre em Educação. Especialista em Recursos Físicos e Tecnológicos na área de Saúde. Membro do Conselho Científico da Revista Sul Brasileira de Enfermagem.
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Cuidados de enfermagem em pacientes com ventilação mecânica: revisão integrativa
Ano 2 – Número 12, Janeiro/fevereiro 2013 - paginas de 06 a 12
Nursing care for patients on mechanical ventilation: integrative review * Cíndia Silva da Silva
** Rita Catalina Aquino Caregnato
Resumo – Objetivo deste estudo foi conhecer cuidados de enfermagem para pacientes em ventilação mecânica (VM). Revisão integrativa, busca nas bases de dados LILACS e SciELO de artigos publicados em português, entre 2007 a 2012, resultando amostra de nove artigos. Os cuidados de enfermagem evidenciados: identificar alarmes do ventilador mecânico, realizar troca de fixação do tubo orotraqueal (TOT), manter cabeceira elevada entre 30º a 45º, realizar higiene oral, prevenir extubação não planejada, monitorizar continuamente paciente, verificar a pressão intracuff, capnografia, remover condensado do circuito do VM, realizar aspiração do TOT, observar saturação de oxigênio, auscultar sons pulmonares, avaliar gasometria arterial e monitorar padrão respiratório. Embora os artigos pesquisados tenham nível de evidência cinco, constatou-se que os cuidados de enfermagem recomendados apontam para as medidas de prevenção da pneumonia associada à VM, divulgadas no Bundle do Centers for Disease Control and Prevention, associados a outros que contribuem para prevenir eventos adversos. Palavras-chave: Ventilação mecânica; cuidados intensivos; unidade de terapia intensiva; enfermagem.
Abstract – The aim of this study was to identify nursing care for patients on mechanical ventilation (MV). It is an integrative review, searching the LILACS and SciELO databases for articles published in Portuguese, between 2007 and 2012, with a resulting sample of nine articles. The nursing care evidenced were: identifying mechanical ventilator alarms, exchange the fixing orotracheal tube (OTT), keep head elevated between 30º and 45º, perform oral hygiene, preventing unplanned extubation, continuous patient monitoring, check intracuff pressure, capnography, remove VM circuit condensate, aspirate the OTT, observe oxygen saturation, auscultate pulmonary sounds, assess arterial blood gases and monitor breathing pattern. Although the articles surveyed have evidence level five, it was found that the recommended nursing care point to measures preventing VAP, disclosed in the Bundle from the Centers for Disease Control and Prevention, associated with others that contribute to preventing adverse events. Key words: Mechanical ventilation; intensive care; intensive care unit; nursing.
Introdução
A escolha de uma modalidade de VM determina como o ventilador e o paciente irão interagir. Inicialmente e durante períodos de instabilidade, o modo de ventilação deve permitir o controle máximo da ventilação2. Os parâmetros ventilatórios mais importantes são: modalidade, fração inspirada de oxigênio (FiO2), pressão expiratória final (PEEP), volume, frequência, fluxo, relação tempo inspiratório/ expiratório 1:2, sensibilidade3. O processo de cuidar, no âmbito da saúde, compreende condutas direcionadas à assistência do cliente. O indivíduo hospitalizado depende totalmente da equipe de serviço envolvida no seu atendimento; no entanto, é a enfermagem que mais permanece junto ao paciente reconhecendo suas necessidades e implementando a assistência4. Os cuidados de enfermagem têm repercussões importantes no quadro clínico do paciente que se encontra ventilando artificialmente; portanto, a observação deve ser sistemática e os cuidados devem ser planejados, a fim de permitir a implantação de intervenções de enfermagem adequadas4. Um estudo aponta a VM em 71% dos pacientes por insuficiência respiratória aguda, 21% por coma, 5,5% por doença obstrutiva crônica e 2,3% por doença
A unidade de terapia intensiva (UTI) destina-se ao tratamento de pacientes em estado crítico, dispondo de uma infraestrutura própria, recursos materiais específicos e recursos humanos especializados para garantir uma prática assistencial segura e contínua ao paciente, buscando restabelecer suas funções vitais1. A ventilação mecânica (VM) é um dos principais recursos de suporte à vida utilizado na UTI. Entendese por VM a aplicação de modo invasivo ou não de uma máquina que substitui, total ou parcialmente, a atividade ventilatória do paciente2. A VM ou suporte ventilatório consiste em um método de suporte indicado para o tratamento de pacientes com insuficiência respiratória grave, aguda ou crônica2-3. Os objetivos são: manter as trocas gasosas, corrigindo a hipoxemia e a acidose respiratória associada a hipercapnia; aliviar o trabalho da musculatura respiratória em situações agudas de alta demanda metabólica; reverter ou evitar a fadiga da musculatura respiratória; diminuir o consumo de oxigênio, reduzindo o desconforto respiratório; e permitir a aplicação de terapêuticas específicas3.
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Revista Sul-Brasileira de Enfermagem
Cuidados de enfermagem em pacientes com ventilação mecânica: revisão integrativa
Trata-se de uma revisão integrativa, método que determina o conhecimento atual sobre uma temática específica, permitindo identificar, analisar e sintetizar as evidências do tema investigado, contribuindo para a qualidade dos cuidados prestados ao paciente8. A elaboração desta pesquisa seguiu as seis etapas estabelecidas na revisão integrativa: 1) estabelecimento da questão de pesquisa; 2) estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão de artigos e para busca e seleção dos estudos selecionados; 3) categorização dos estudos e extração dos estudos selecionados; 4) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; 5) interpretação dos resultados; 6) apresentação da revisão8. A questão norteadora definida para este estudo foi: quais os cuidados de enfermagem indicados ao pacientes em ventilação mecânica divulgados na literatura nacional?
Resultados Quanto ao perfil dos artigos selecionados, em relação ao ano de publicação: três foram em 2007; um em 2008; dois em 2009; um em 2010 e dois em 2012. Em relação à fonte de divulgação, quatro artigos foram publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e um por revista nos seguintes periódicos: Acta Paulista de Enfermagem; Revista Brasileira de Terapia Intensiva; Revista Ciência Cuidado Saúde; Revista Escola de Enfermagem USP e Revista Mineira de Enfermagem. Cada artigo apresentava múltiplos autores, com diversas formações nas áreas de conhecimento da enfermagem, fisioterapia e medicina, totalizando 27 autores, sendo que destes 24 eram enfermeiros, dois fisioterapeutas e um médico. Observou-se, ainda, que em três publicações, Castelloes TMFW e Silva LD fazem parte da autoria.
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Ano 2 – Número 12, Janeiro/fevereiro 2013 - paginas de 06 a 12
Cíndia Silva da Silva | Rita Catalina Aquino Caregnato
Metodologia
Realizou-se o levantamento de artigos no mês de setembro de 2012, utilizando para a busca de descritores controlados e não controlados nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Os descritores controlados obtidos nos Descritores em Ciências da Saúde (DECs) da Biblioteca Virtual em Saúde foram: ventilação mecânica, cuidados intensivos, unidade de terapia intensiva e enfermagem. Como descritores não controlados utilizou-se assistência ventilatória mecânica. Os critérios de inclusão dos artigos selecionados foram: artigos publicados que tivessem, no mínimo, um enfermeiro entre os autores; artigos indexados nos bancos de dados no período de 2007 a 2012; artigos publicados na íntegra na língua portuguesa, com acesso gratuito, que abordassem cuidados de enfermagem em VM. Foram excluídos artigos cujo foco principal não era os cuidados de enfermagem aos pacientes em VM. Na busca geral encontraram-se 142 artigos referentes ao tema em estudo e, após realizar-se uma pré-leitura dos resumos, selecionaram-se nove artigos conforme critérios de inclusão. A análise dos artigos baseou-se em sistemas de classificação de evidências categorizados de forma hierárquica, dependendo da abordagem metodológica adotada, utilizada para auxiliar na escolha da melhor evidência possível9. Existem várias classificações de níveis de evidências citadas na literatura. Em um editorial10 cita três classificações que variam de níveis 1 a 5, de 1 a 6, e de 1 a 7. Nesse estudo utilizou-se a classificação da com cinco níveis hierárquicos de evidência10.
Revisão Integrativa
neuromuscular, em pacientes com média de 66 anos e com a permanência de VM por 11 dias5. Outro estudo recente descreve a predominância do sexo feminino em 55% dos casos, mediana de 66 anos; insuficiência respiratória aguda a principal indicação para VM com 63,64% dos casos, seguida por parada cardiorrespiratória 14,55%, pós-operatório 12,73%, diminuição do sensório 5,45% e parada respiratória 3,64%; a permanência em VM foi de 10 dias6. Na UTI, a maioria dos pacientes em estado crítico necessita de suporte ventilatório invasivo, tendo o enfermeiro um papel fundamental na avaliação desses pacientes e no funcionamento do ventilador. No entanto, essa terapia não é isenta de riscos; apesar dos inúmeros benefícios, pode se tornar um malefício se não forem realizados cuidados necessários durante sua utilização7. Apesar da importância dos cuidados aplicados aos pacientes em VM, muitos destes não estão entre as intervenções prioritárias, nem são considerados específicos da enfermagem. Sendo assim, é fundamental a experiência e o conhecimento do enfermeiro na identificação das necessidades dos pacientes e no planejamento do cuidado7. As intervenções de enfermagem devem ser baseadas no julgamento e conhecimento clínico do enfermeiro, fundamentadas cientificamente, realizadas e previstas em benefício do paciente. Neste contexto, o presente artigo objetiva conhecer os cuidados de enfermagem em pacientes em ventilação mecânica apontados na literatura nacional.
Revisão Integrativa
Cuidados de enfermagem em pacientes com ventilação mecânica: revisão integrativa
Em todas as publicações os autores faziam parte de programas de pós-graduação, sendo três estudos de autores que pertenciam a programas de lato sensu e seis em stricto sensu; em uma das publicações do stricto sensu participou como autora uma acadêmica de enfermagem.
Constatou-se apenas um artigo de revisão integrativa; os demais foram pesquisas desenvolvidas em unidades de terapia intensiva; destes, um não identifica o hospital, um refere-se a hospital de ensino, um a hospital universitário, um a hospital de clínicas, um a hospital de cardiologia do Rio de Janeiro, um a hospital de convênios de Belo Horizonte e dois a hospital pró-cardíaco.
No Quadro 1 apresenta-se a síntese dos artigos avaliados.
Objetivos
Método
Resultados
Cuidados de enfermagem
A1(11)
Apresentar a experiência de um trabalho desenvolvido com a ajuda de um guia para prevenir a extubação acidental nos quatro momentos de maior incidência, que são: banho no leito, transporte de paciente, troca de dispositivo ventilatório e mudança de decúbito.
Relato de experiência
Até o momento da publicação, aproximadamente 6 meses, só haviam ocorrido duas extubações durante banho de leito, após o início da aplicação do guia.
- Identiicar alterações dos alarmes do respirador. - Checar a ixação do dispositivo ventilatório e centralização da cabeça ao corpo. - Realizar banho no leito dividido em: higiene do couro cabeludo; higiene do rosto e boca; higiene da genitália; higiene das mãos; e higiene do corpo. - Realizar mudança de decúbito lateralizando o paciente a 30°. - Checar no transporte no paciente crítico itens, tais como: oxigenioterapia; sedação e analgesia pré-transporte; ixação de sondas e drenos; e monitorização multiparamétrica. - Realizar troca de ixação do dispositivo ventilatório.
A2(12)
Investigar as intervenções e atividades de enfermagem propostas na literatura para o diagnóstico de enfermagem ventilação espontânea prejudicada.
Revisão integrativa
Dos 15 artigos selecionados, em 8 estudos foram identiicados 20 cuidados que poderiam se relacionar às intervenções e atividades de enfermagem ao paciente em VM.
- Manter cabeceira elevada 30° a 45°. - Aspirar continuamente secreção subglótica. - Não trocar circuito do ventilador. - Lavar as mãos antes e após contato com pacientes. - Educar a equipe de saúde. - Realizar higiene oral. - Veriicar volume residual da sonda nasogástrica. - Aspirar secreções orofaríngeas antes de retirar ou reposicionar TOT. - Aspirar orofaringe. - Prevenir extubação não planejada. - Monitorizar a sedação. - Avaliar desmame precoce. - Utilizar contenção mecânica e medicamentosa quando necessário. - Dar suporte nutricional. - Promover o sono. - Monitorizar ansiedade. - Monitorizar a pressão intracuff. - Identiicar e manejar alarmes ventilatórios. - Remover condensado do circuito. - Usar luvas.
A3(13)
Elaborar uma proposta de implantação de uma central de ventiladores mecânicos em um hospital universitário, subsidiado pela identiicação do conhecimento técnico cientíico dos enfermeiros sobre a VM e pela detecção de problemas oriundos do gerenciamento descentralizado dos ventiladores.
Quantitativa experimental
Revelou-se que 100% dos enfermeiros mencionaram a necessidade de cursos de capacitação para a assistência de enfermagem ao paciente em VM; as principais dúvidas foram referentes aos alarmes e parâmetros ventilatórios.
- Montar o circuito ventilador-paciente com técnica asséptica. - Veriicar o bom funcionamento do ventilador através de testes com parâmetros préestabelecidos antes de sua utilização. - Realizar o processamento de materiais utilizados na assistência ventilatória.
A4(14)
Conhecer o modo como a equipe de enfermagem de uma UTI identiica a necessidade de aspiração de secreção endotraqueal e os critérios que utiliza para essa técnica.
Exploratórioqualitativoobservacional
Constatou-se que 27% da equipe de enfermagem seguiam horário préestabelecido para aspiração; 95% executavam na presença de roncos e secreção no TOT.
- Realizar aspiração endotraqueal por demanda. - Efetuar a aspiração do TOT na ausculta de sons pulmonares adventícios ou aumento de pico de pressão no VM. - Observar a saturação de oxigênio durante a realização da aspiração endotraqueal.
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Revista Sul-Brasileira de Enfermagem
Cíndia Silva da Silva | Rita Catalina Aquino Caregnato
Ano 2 – Número 12, Janeiro/fevereiro 2013 - paginas de 06 a 12
Quadro 1 – Síntese dos artigos avaliados Artigo
Cuidados de enfermagem em pacientes com ventilação mecânica: revisão integrativa
Identiicar como os parâmetros relativos à mecânica pulmonar do paciente crítico, sob ventilação mecânica, se comporta, após procedimento técnico de mudança de decúbito realizado pela equipe de enfermagem.
Observacional descritivo
Pacientes da amostra apresentaram alterações positivas e negativas na mecânica pulmonar, possivelmente associada à mudança de decúbito.
- Manter monitorização contínua do paciente em VM. - Realizar avaliação clínica antes da prescrição de enfermagem relativa à mudança de decúbito. - Veriicar parâmetros do VM associado a oximetria, capnograia, gasometria arterial, antes da mudança de decúbito.
A6(16)
Identiicar as ações de enfermagem prescritas por enfermeiros nos prontuários de pacientes internados em uma UTI de adultos de Belo Horizonte (MG), os termos empregados, sua frequência e mapear as ações à Teoria das Necessidades Humanas Básicas e às intervenções NIC.
Estudo descritivo
Foram prescritas uma média de 51 ações por paciente da amostra, 8% relacionados com a NIC. Obteve-se 100% de concordância entre os expertos na validação do mapeamento.
- Manter a cabeceira elevada se o estado hemodinâmico permitir. - Manter o paciente monitorizado continuamente durante o banho no leito. - Monitorizar continuamente níveis de saturação, padrão respiratório e frequência respiratória.
A7(17)
Apresentar resultados da capacitação da equipe de enfermagem para a prevenção da extubação acidental relacionada ao cuidado de enfermagem, associada a quatro momentos: banho no leito; transporte do paciente; mudança de decúbito e troca de ixação.
Relato de experiência
Os resultados mostram que enfermeiros tiveram maior erro no cuidado à ixação do dispositivo ventilatório. Ao término do treinamento, média de notas superiores a 8.
- Fixar o TOT em posição mediana com adesivos ou cadarços. - Checar as conexões TOT e VM antes do banho no leito. - Realizar aspiração traqueal eicaz removendo luidos do circuito do respirador. - Realizar higiene oral e escovação dentária a cada quatro horas com clorexidina.
A8(18)
Reestruturar a SAE em uma UTI; elencar os diagnósticos e as prescrições de enfermagem; validar etapas da SAE e subsidiar a estruturação de um protocolo para a operacionalização da SAE.
Pesquisa metodológica
Foram identiicados 29 diagnósticos da taxonomia NANDA e 38 prescrições de enfermagem; dentre os diagnósticos da CIPE selecionados para a reestruturação da SAE, utilizou-se a ventilação disfuncional.
- Manter em semi-Fowler. - Avaliar gasometria arterial. - Avaliar expansibilidade torácica e uso de musculatura acessória. - Realizar ausculta pulmonar. - Comunicar alterações de SPO2 inferior a 92%. - Avaliar possibilidade de desmame ventilatório. - Observar sincronismo paciente-ventilador. - Avaliar radiograia de tórax. - Observar sinais e sintomas de hipoxemia. - Avaliar complicações relacionadas à VM.
A9(19))
Apresentar os resultados parciais de uma pesquisa relacionada à incidência da extubação acidental, após a implantação de um guia preventivo de extubação.
Estudo observacional retrospectivo
52,78% dos pacientes usavam tubo traqueal, 62% tinham entre 71 e 90 anos, com média de VM de 26, 5 dias. Ocorreram duas extubações (3,27%) após a implantação do guia.
- Realizar a veriicação da pressão do cuff. - Avaliar patência do dispositivo ventilatório. - Avaliar a posição do dispositivo ventilatório com o RX. - Monitorar oximetria e capnograia. - Manter o circuito do respirador apoiado em um suporte apropriado. - Trocar ixação do dispositivo ventilatório.
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A VM é considerada um dos pilares terapêuticos no tratamento aos pacientes graves, principalmente naqueles que apresentam insuficiência respiratória13. Na UTI grande parte dos pacientes necessita de suporte ventilatório invasivo11-12,15, sendo assim, requerem cuidados especiais da equipe de enfermagem, desde cuidados com TOT até manuseio dos respiradores12. As finalidades do cuidado de enfermagem incluem a prevenção de complicações no paciente, tal como extubação acidental11-12, sempre considerada um evento adverso, podendo colocar em risco a vida dos pacientes, relacionado à assistência de enfermagem, fazendo-se necessário reflexão sobre as causas que levaram a ocorrência11-12,17,19. Um estudo realizado para implementação de um guia preventivo de extubação identificou quatros momentos de maior incidência para extubação: banho no leito, transporte de paciente, troca de fixação do dispositivo ventilatório e
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Discussão
mudança de decúbito11,17,19. Dentre esses momentos, a maior ocorrência citada é no banho de leito, consequência da movimentação brusca ou excessiva da cabeça ou pela dificuldade de visualização do dispositivo ventilatório na lateralização11,17,19. Por esse motivo, recomenda-se que a técnica do banho seja realizada em etapas para a prevenção de eventos adversos11,17,19. A troca de fixação do dispositivo ventilatório, mesmo sendo considerada operação simples, é muito importante para sua estabilidade; executada de forma correta, evita possíveis deslocamentos, diminuindo a extubação acidental e lesões traqueais11,17,19. É indispensável a posição mediana do tubo para a distribuição homogênea da pressão do balonete. Utilizam-se fitas adesivas ou cadarços para fixação do tubo, evitando improvisações. É necessário avaliar o nível de sedação ou colaboração do paciente para manter o tubo estabilizado durante a troca de fixação11,17. A identificação e o manejo dos alarmes ventilatórios é essencial numa terapêutica utilizada
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para sustentar a vida12. Sabe-se que alguns enfermeiros tendem a silenciar os alarmes sem identificar a causa11,17; entretanto, os alarmes indicam um problema na VM11-13,17. Portanto, conhecer esse recurso e bem utilizá-lo11,17 determinará a intervenção da equipe diante do nível de prioridade13. A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) é uma das preocupações mais citadas pelos autores. É a infecção mais comum em UTI, atingindo em torno de 86% dos casos de pneumonia hospitalar13-14, sendo a principal causa de morte de infecção hospitalar12. Medidas preventivas recomendadas no Bundle pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), como manter a cabeceira elevada entre 30 a 45°, higiene oral, remoção de fluidos do respirador, verificação da pressão do cuff e aspiração traqueal eficaz12,17, contribuem para diminuir a incidência da infecção, sendo um indicador para avaliar a qualidade da assistência17. A manutenção da cabeceira elevada diminui o refluxo gástrico e a aspiração pulmonar, prevenindo dessa forma a PAVM12, diminuindo o tempo de internação11. A realização da higiene oral, antigamente recomendada apenas como medida de conforto12, atualmente é uma forma de proteção da cavidade oral, pois, segundo o CDC, 63% dos pacientes internados em UTI têm a cavidade oral colonizada com patógenos associados a PAVM. Em vista disso, a higiene oral, além de oferecer conforto, reduz a sede, preserva a integridade da mucosa orofaríngea, diminuindo a flora microbiana, colaborando na prevenção de infecções12. A remoção de condensados do circuito do ventilador é uma medida importante, tendo em vista que se deve evitar que esse líquido acumulado, composto por micro-organismos patógenos, retorne ao pulmão do paciente12. Estudos verificaram que a troca rotineira do circuito não reduz as taxas de PAVM; portanto, recomenda-se a troca somente quando visivelmente sujo12. A remoção dos líquidos também pode provocar a extubação acidental, pois ao ser retirado o circuito do suporte que o mantém estabilizado, pode-se provocar o deslocamento do TOT ou da traqueostomia17. A mensuração do cuff ou balonete é realizada pelos enfermeiros19. O II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica recomenda manter a pressão intracuff inferior a 25 mmHg, sendo indicada sua verificação a cada doze horas. O controle adequado da pressão do balonete evita lesões da laringe e da traqueia, como também diminui a aspiração de secreção subglótica para os pulmões. Logo, esse é um cuidado importante na assistência de enfermagem ao paciente com suporte ventilatório invasivo12.
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O maior desafio e o principal objetivo da assistência de enfermagem aos pacientes intubados é a manutenção de vias aéreas pérvias14; para que isso ocorra, a aspiração endotraqueal deve ser efetiva. As publicações consultadas não apresentam consenso quanto à responsabilidade da aspiração traqueal, isso porque, em uma delas se afirma que este procedimento pode ser efetuado tanto por técnicos de enfermagem como por enfermeiros17. Entretanto, outra publicação indica que o procedimento deva ser realizado apenas por enfermeiros, por se tratar de uma técnica de alta complexidade que requer conhecimentos científicos adequados, haja vista que sua execução pode trazer complicações, sendo a principal a hipoxemia14. A aspiração deve ser feita por demanda, ou seja, quando necessário14,17, na ausculta de sons pulmonares adventícios, na presença visível de secreção pulmonar, na queda da saturação de oxigênio ou quando a movimentação das secreções é audível durante a respiração14. A mudança de decúbito tão amplamente divulgada como forma de prevenir úlcera por pressão traz outros benefícios, como prevenção de desuso muscular, conforto, e a interferência no padrão respiratório com a otimização da relação ventilação/ perfusão do paciente15. No entanto, a mobilização torna-se terapêutica quando baseada num julgamento clínico e individualizado do paciente em VM. Conforme uma das publicações, ao observar o comportamento de nove pacientes críticos, sob VM, após mudança de decúbito notaram-se alterações da mecânica pulmonar em todos os pacientes, algumas positivas e outras negativas. Sendo assim, o enfermeiro ao prescrever esse cuidado deverá analisar individualmente a clínica do paciente, mesmo na existência de protocolos15. Avaliar o desmame ventilatório precoce12,18 na maioria das UTIs não faz parte do escopo de atuação do enfermeiro12; entretanto, este pode ser realizado desde que seja baseado em protocolos clínicos assistenciais e feitos pela equipe multidisciplinar, de maneira interdisciplinar12. O enfermeiro deverá estar sob vigilância constante15 ao cuidar do paciente em VM monitorizando continuamente15-16. Atualmente facilitada pela alta tecnologia15, a oximetria de pulso14-16,18-19 e a capnografia15,19 são comumente utilizados no cuidado a esses pacientes. A queda da saturação de oxigênio é monitorada pela oximetria de pulso; portanto, é um parâmetro que indica a aspiração endotraqueal14. Se a capnografia apresentar alteração imediata ao se deparar com a ausência de curva, é necessário checar as conexões do circuito do VM, pois provavelmente houve desconexão do respirador ou extubação acidental19. Avaliar gasometria arterial15,18 associando-a aos parâmetros
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Cuidados de enfermagem em pacientes com ventilação mecânica: revisão integrativa
Cuidados de enfermagem em pacientes com ventilação mecânica: revisão integrativa
Quadro 2 – Cuidados de enfermagem aos pacientes em VM Cuidados de Enfermagem Manter cabeceira elevada entre 30 a 45°12,16,18. Realizar higiene oral12,17. Monitorizar a pressão intracuff12,19. Remover condensado do circuito do VM12,17. Realizar aspiração do TOT14,17. Realizar troca de fixação do TOT11,17,19. Prevenir extubação não planejada.11-12,17,19. Observar saturação de oxigênio.14-16,18-19. Auscultar sons pulmonares14,18. Avaliar gasometria arterial15,18. Monitorar padrão respiratório16,18. Monitorizar continuamente paciente em VM15-16. Monitorar radiografia de tórax e capnografia18-19.
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Este estudo permitiu, por meio da análise dos artigos, conhecer os cuidados de enfermagem referentes aos pacientes em VM, apontados na literatura nacional. Visualizam-se duas limitações neste estudo: a primeira pesquisa realizada na literatura nacional e a segunda com enfoque apenas nos cuidados de enfermagem, visto que estes são apenas uma parte da assistência ao paciente em VM, uma terapêutica complexa que requer cuidados de equipe multiprofissional interagindo interdisciplinarmente. Focar na literatura nacional tinha como finalidade avaliar a produção científica que envolvia enfermeiros, sendo possível evidenciar um aumento de produções científicas na área da enfermagem, comprovado pela maioria dos autores das
Referências 1. Amante LN, Rossetto AP, Scheneider DG. Sistematização da assistência de enfermagem em unidade de terapia intensiva sustentada pela teoria de Wanda Horta. Rev Esc Enferm USP 2009; 43(1):54-64. 2. Cintra EA. Assistência de enfermagem ao paciente gravemente enfermo. São Paulo: Atheneu; 2001. 3. Carvalho CRR, Toufen-Júnior C, Franca SA. Ventilação mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias. J Bras Pneumol 2007; 33:S54-S70. 4. Figueiredo NMA, Silva CRL, Silva RCL. CTI: atuação, intervenção e cuidados de enfermagem. São Caetano do Sul: Yendis; 2006. 5. Damasceno MPCD et al. Ventilação mecânica no Brasil: aspectos epidemiológicos. Rev Bras Ter Intensiva 2006; 18(3):219-28. 6. Lisboa DAJ, Medeiros EF, Alegretti LG, Badalotto D, Maraschin R. Perfil de pacientes em ventilação mecânica invasiva em uma unidade de terapia intensiva. J Biotec Biodivers 2012 Fev; 3(11):18-24. 7. Santos VFR, Figueiredo AEPL. Intervenção e atividades propostas para o diagnóstico de enfermagem: ventilação espontânea prejudicada. Acta Paul Enferm 2010; 23(6):824-30. 8. Galvão CM, Mendes KDS, Silveira RCCP. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto 2008 Out-Dez; 17(4):758-68. 9. Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein 2010; 8(1Pt1):102-6. 10. Galvão CM. Níveis de evidência. Editorial. Acta Paul Enferm 2006 Abr-Jun; 19(2):V. 11. Castelloes TMFW. Guia de cuidados de enfermagem na prevenção da extubação acidental. Rev Bras Enferm 2007 Jan-Fev; 60(16):106-9. 12. Santos VFR, Figueiredo AEPL. Intervenção e atividades propostas para o diagnóstico de enfermagem ventilação espontânea prejudicada. Acta Paul Enferm 2010; 23(6):824-30.
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Considerações finais
publicações serem enfermeiros. Vários são os cuidados apresentados nesta revisão, sobressaindo-se a oximetria de pulso, um cuidado simples facilmente acessado pela monitorização contínua que apresenta extrema importância para a manutenção de um VM eficaz, livre de obstruções, pois é referenciada com indicativo para aspiração endotraqueal. Contudo, há divergências de quem é a responsabilidade de realizar esse procedimento técnico, visto o risco de complicações: são os técnicos de enfermagem ou os enfermeiros? Entretanto, é notória em todos os artigos a importância de uma assistência ventilatória de qualidade, livre de danos, buscando a segurança do paciente. Embora os artigos pesquisados publicados em periódicos nacionais tenham nível de evidência cinco, constatou-se que os cuidados de enfermagem recomendados apontam para as medidas de prevenção da pneumonia associada à VM, divulgadas no Bundle do Centers for Disease Control and Prevention, associados a outros que contribuem para prevenir eventos adversos. Neste contexto faz-se necessária a contínua busca de evidências, buscando contribuir para um cuidado livre de eventos adversos através de uma avaliação clínica e individualizada do paciente crítico.
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do VM15, também deve ser considerado no cuidado realizado pelo enfermeiro, além de realizar a ausculta de sons pulmonares14,18 e monitorar radiografia de tórax18-19 para confirmação do posicionamento do TOT19. A monitorização do padrão respiratório12,16,18, o controle de sinais vitais e a monitorização cardiovascular12, associados aos recursos acima citados, são essenciais na assistência de enfermagem ao paciente em VM. Por isso, o enfermeiro deve associar o conhecimento de mecânica pulmonar e de clínica respiratória aos seus conhecimentos de fisiologia15 na assistência ao paciente ventilado mecanicamente. No Quadro 2 sintetizam-se os cuidados de enfermagem aos pacientes em VM apresentados nessa discussão.
13. Batista MA, Alcântara EC, Paula LKG. Central de ventiladores mecânicos: organização, segurança e qualidade. Rev Bras Ter Intensiva 2007 Out-Dez; 19(4). 14. Martins JJ, Maestri E, Dogenski D, Nascimento ERP, Silva RM, Gama FO. Necessidade de aspiração de secreção endotraqueal: critérios utilizados por uma equipe de enfermagem de uma unidade de terapia intensiva Ciência Cuidado Saúde. 2008 Out-Dez; 7(4):517-22. 15. Silva RFA, Nascimento MAL. Mobilização terapêutica como cuidado de enfermagem: evidência surgida da prática. Rev Esc Enferm USP. 2012; 46(2):413-9. 16. Salgado PO, Tannure MC, Oliveira CR, Chianca TCM. Identificação
e mapeamento das ações de enfermagem prescritas para pacientes internados em uma UTI de adultos. Rev Bras Enferm 2012 Mar-Abr; 65(2):291-6. 17. Castelloes TMFW, Silva LD. Resultados da capacitação para a prevenção da extubação acidental associada aos cuidados de enfermagem. Rev Mineira Enferm 2007 Abr-Jun; 11(2):168-75. 18. Truppel TC, Meier MJ, Calixto RC, Peruzzo SA, Crozeta K. Sistematização da Assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Enferm. 2009 Mar-Abr; 62(2):221-7. 19. Castelloes TMFW, Silva LD. Ações de enfermagem para a prevenção da extubação acidental. Rev Bras Enferm. 2009 Jul-Ago; 62(4);540-5.
Recebido 15.02.2013 Aprovado 25.02.2013 * Acadêmica do oitavo semestre do Curso da Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, Campus Canoas. E-mail: cindia _ silva2@yahoo.com.br. ** Enfermeira. Doutora em Educação. Mestre em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, campus Canoas/RS. Orientadora. E-mail: carezuca@terra.com.br.
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Cuidados de enfermagem em pacientes com ventilação mecânica: revisão integrativa
Pré-eclâmpsia em pacientes atendidas na Maternidade Ana Braga, Manaus-AM, Brasil Preeclampsia in patients treated at the Maternity Ana Braga, Manaus, Amazonas, Brazil
**** Graciela Marleny Rivera Chávez ***** Marcelino da Silva Cavalcante
Resumo – O objetivo da pesquisa foi analisar a frequência da pré-eclâmpsia em pacientes atendidas na Maternidade Ana Braga, Manaus-AM, Brasil no ano de 2008 e identificar a relação entre a ocorrência e dados socioeconômicos, assistenciais e obstétricos. É um estudo descritivo e retrospectivo. Foram verificados 4.138 prontuários e analisados 209, ou seja, 5,0% das grávidas tiveram o diagnóstico. Delas 64 (30,6%) tinham entre 20 a 24 anos, 76 (36,3%) tinham de 8 a 11 anos de estudo concluídos. A raça parda predominou com 151 (72,2%), 94 (45,0%) das grávidas eram primigesta, 158 (75,5%) dos partos foram cesáreas e a maioria delas realizou pré-natal. O estudo possibilitou conhecer a prevalência desta patologia na região e possibilitou identificar outros dados como a assistência ao pré-natal e complicações. Através deste conhecimento podese propor, à saúde pública local e à equipe multiprofissional atenção e importância ainda maior no pré-natal, com intuito de proporcionar uma gravidez segura para mãe e feto. Palavras-chave: Pré-eclâmpsia; prevalência; complicações.
Abstract – Aim was to analyze the frequency of pre-eclâmpsia in patients the Maternity Ana Braga, Manaus-AM, Brazil in 2008. This was a retrospective and descriptive. 4138 records were verified and analyzed 209, or 5.0% of pregnant women had this diagnosis. Of these 64 (30.6%) were between 20 and 24, 76 (36.3%) of pregnant women ranged from 8 to 11 years of schooling completed. The mulatto predominated with 151 (72.2%), 94 (45.0%) pregnant women were primigravida and 158 (75.5%) of deliveries were cesarean and most of them attend antenatal. The present study allowed the prevalence of this disease in the region, which is of paramount importance and may identify other data such as the prenatal and postnatal complications. Through this knowledge can be proposed, public health and local multidisciplinary team to provide an even more important and attention in prenatal care, aiming to provide a safe pregnancy for mother and fetus. Keywords: Preeclampsia; prevalence; complications.
Introdução
Revisão bibliográfica
A pré-eclâmpsia (PE) é definida quando ocorre hipertensão, com proteinúria e/ou edema de mãos ou de face. É uma doença inconstante no seu início, variável na sua manifestação, imprevisível na sua progressão e incurável, exceto pela interrupção terapêutica ou espontânea da gravidez1. A patologia caracteriza-se por hipertensão acompanhada de proteinúria e/ou edema, ao que se chama de tríade da doença hipertensiva especifica da gravidez (DHEG)2. O estudo é de muita relevância, pois os dados servirão de base a futuras políticas públicas de saúde nesta área, bem como para trabalhar a prevenção. Como se trata de um estudo local, os dados também servem de comparação com outros índices de frequência no Brasil. Os objetivos da pesquisa foram analisar a frequência da pré-eclâmpsia, determinar à faixa etária, raça, escolaridade, estado civil e condição socioeconômica das pacientes atendidas na Maternidade Ana Braga, Manaus-AM, Brasil no primeiro semestre de 2008.
A PE caracteriza-se por apresentar pressão arterial maior que 140/90 mmHg, é diagnosticada na 20ª semana de gravidez, associada a proteinúria maior que 30 mg/24h3. Sua etiologia da PE não é conhecida. Acredita-se haver combinações de fatores genéticos, imunológicos e ambientais que determinam a invasão trofoblástica das arteríolas espiraladas. Este defeito ocasiona redução na pressão de perfusão uteroplacentária, causando isquemia e hipóxia da placenta no decorrer da gravidez. A isquemia placentária libera fatores, como citocinas pró-inflamatórias, iniciando a cascata de eventos celulares e moleculares, proporcionando a disfunção endotelial com aumento da resistência vascular4. Entre os fatores de risco para o desenvolvimento da PE, estão a nuliparidade, extremo de idade, cor e obesidade5. O tratamento inicial da PE consiste na diminuição da pressão sanguínea e aumento do fluxo sanguíneo placentário. São comumente utilizadas drogas antihipertensivas durante a gravidez, promovendo o
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relaxamento do músculo liso, das arteríolas periféricas e a redução da resistência vascular5. A forma grave da PE caracteriza-se por pressão arterial de 160/110 mmHg, hemoconcentração, oligúria, edema agudo de pulmão, proteinúria igual ou maior que 5 g em urina de 24 horas, eclâmpsia eminente, eclâmpsia e síndrome de HELLP6. A eclâmpsia e a síndrome de HELLP são consideradas evoluções da doença; caracterizamse como sendo as mais importantes, devido ao elevado risco de morte materna e fetal6. Para Oliveira et al.3, a PE grave, apresenta o pior prognóstico materno-fetal. Eclâmpsia é a manifestação de uma ou mais crises convulsivas tônico-clônicas generalizadas e/ou coma. Em grávida com pré-eclâmpsia, na ausência de doenças neurológicas, ela pode ocorrer durante a gravidez, no trabalho de parto e no puerpério imediato4. HELLP são as iniciais de hemólise (H), níveis elevados de enzimas hepáticas (EL) e número baixo de plaquetas (LP). Síndrome de HELLP é um achado extremo. Os sinais e sintomas são confundidos com os da pré-eclâmpsia grave, passando despercebido o início da doença, quando não há uma avaliação precisa dos exames laboratoriais6. A causa de morte obstétrica predominante são as complicações diretas, com destaque para as doenças hipertensivas e as síndromes hemorrágicas. Em 2003, entre as causas diretas, a pré-eclâmpsia/eclâmpsia representou a primeira causa de óbito entre todas as categorias de raça7. A prevalência da PE varia de 6 a 9% dependendo da etnia, representando 37% dos óbitos maternos no Brasil8.
Procedimentos metodológicos Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, transversal, com abordagem quantitativa. O estudo foi realizado na Maternidade Ana Braga, localizada na zona leste da cidade de Manaus, que é a maior maternidade pública do Amazonas, com referência para gravidez de alto risco em todo Estado. A população foi constituída de todos os prontuários (4.138) das grávidas atendidas no primeiro semestre do ano de 2008, e a amostra do estudo se constituiu de todos os prontuários das grávidas (209), que tiveram diagnóstico de pré-eclâmpsia. A escolha dos prontuários foi analisada conforme os seguintes critérios de inclusão: diagnóstico médico de pré-eclâmpsia, prontuários que apresentaram dados legíveis e que não eram de etnia indígena.
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A exclusão da etnia indígena deu-se devido à falta de tempo hábil para encaminhar o projeto para o CONEP (Conselho Nacional de Pesquisa). Foi utilizado como instrumento da pesquisa fonte documental (prontuários). Foram verificados os prontuários das grávidas, juntamente com o Sistema de Prontuários da Maternidade, o SAME (Sistema de Arquivo Medico de Estatística), com diagnóstico da PE no primeiro semestre de 2008. A coleta de dados foi realizada pelos próprios pesquisadores, no período de outubro a novembro de 2009, após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Os formulários da coleta constituíram os fatores: socioeconômicodemográficos (idade, escolaridade, estado civil, profissão e raça), assistenciais (assistência pré-natal e número de consultas) e obstétricos (número de gestações, tipo de parto, complicações da préeclâmpsia). Após a coleta dos dados, os mesmos foram analisados estatisticamente conforme sua prevalência, no programa Microsoft Excel. O estudo acatou as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS. O projeto foi encaminhado para CEP/UEA, da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA). A coleta de dados foi iniciada somente após a sua aprovação no dia 16 de outubro de 2009.
Apresentação dos resultados e discussão Foram verificados 4.138 prontuários e analisados 209 com diagnóstico da pré-eclâmpsia em pacientes atendidas no primeiro semestre de 2008. O estudo mostra que 209 (5,0%) das grávidas atendidas na Maternidade Ana Braga apresentaram pré-eclâmpsia. Em um estudo descritivo-exploratório e retrospectivo, realizado em instituição hospitalar pública, da Zona Leste de São Paulo, com prontuários de mulheres internadas na Unidade de Patologia Obstétrica, observou que 3,64% tiveram como diagnóstico médico a DHEG, resultados semelhantes aos do presente estudo, com pequena variação de porcentagem9. Quanto à idade, observa-se que: 54 (25,8%) das grávidas tinham menos de 19 anos; 64 (30,6%) tinham entre 20 a 24 anos; 40 (19,1%) tinham 25 a 29; 22 (10,5%) tinham 30 a 34; 20 (9,5%) tinham 35 a 39; 9 (4,3%) tinham mais de 40 anos. Em um estudo retrospectivo no Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, com prontuários de parturientes com hipertensão arterial, sua relação com
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Artigo de Pesquisa
Pré-eclâmpsia em pacientes atendidas na Maternidade Ana Braga, Manaus-AM, Brasil
vai ao encontro da literatura, onde pode-se observar o alto índice de partos cesáreas em mulheres com pré-eclâmpsia. Analisa-se que 167 (80,0%) das grávidas realizaram o pré-natal, 14 (6,6%) não realizaram; de 26 (12,4%) não foram registrados dados referentes ao mesmo e 2 (0,9%) foram ignorados. Conforme o exposto, observa-se que maioria das grávidas realizou pré-natal; no entanto, ainda é grande o número da não realização do mesmo. A atenção no pré-natal e pós-parto de qualidade e humanizado é fundamental para a saúde da mãe e do feto. A atenção à mulher na gravidez e no puerpério inclui ações de prevenção e promoção da saúde, bem como diagnóstico e tratamento adequado para os problemas que ocorrem neste período15. A maioria das grávidas, isto é, 96 (57,4%), realizaram de 4 a 6 consultas pré-natais, 44 (26,7%) realizaram mais de 7 consultas, 20 (12,0%) realizaram 1 a 3 consultas e de 7 (4,1%) não foram registrados os números das consultas. No estudo transversal com grávidas hipertensas e diabéticas, internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que tiveram seus filhos no Hospital Universitário São Francisco de Paula, observou-se que 63% das gestantes realizaram entre 7 e 10 consultas do prénatal16. Na pesquisa citada, o predomínio foi de grávidas que realizaram de 7 a 10 consultas, ao contrário do presente estudo, em que a prevalência ocorreu entre 4 a 6 consultas no pré-natal. O Ministério da Saúde preconiza a realização de no mínimo seis consultas pré-natais, sendo preferencialmente uma no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro trimestre da gravidez; assim, observamos que a recomendação do MS não foi seguida pela maioria das grávidas, o que leva a uma preocupação maior, pelo fato de elas apresentarem uma gravidez de alto risco15. O estudo identificou que 9 (64,2%) das grávidas apresentaram a eclâmpsia como complicação, 3 (21,4%) apresentaram síndrome de HELLP e 2 (14,2%) apresentaram iminência de eclâmpsia. Os dados apontam a eclâmpsia como a principal consequência da pré-eclâmpsia. Em análise secundaria do perfil epidemiológico e da evolução clínica de puérperas com préeclampsia grave(14), no Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira, foi analisada a frequência das complicações da patologia e observado que 11,7% dos casos eram de Síndrome HELLP e 1,3% eclâmpsia.
Considerações finais No Estado do Amazonas a prevalência real da PE não é conhecida, devido a vários fatores, entre
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o tipo de parto e com as condições de vitalidade do RN, verificou que 64,5% tinham entre 20 e 34 anos10, dados que corroboram o presente estudo. A raça parda foi a predominante, com 151 (72,2%) do total, a branca apresentou 21 (10,0%), seguida da raça negra com 16 (7,6%). Os os dados não registrados alcançaram 21 (10,4%). Estudo realizado11, do tipo caso-controle com avaliação de prontuários das grávidas que deram a luz na Maternidade do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, destacou que 43% das mulheres com DHEG eram de raça branca e 56,7% eram da raça não branca, também corroborando o presente estudo. A pesquisa identificou que 76 (36,3%) das grávidas tinham de 8 a 11 anos de estudo concluídos, 68 (32,5%) tinham 4 a 7anos, 11 (5,2%) tinham mais de 12 e 13 (6,2%) tinham 1 a 3 anos. Assim observa-se que a maioria tinha de 8 a 11 anos de estudos. A baixa escolaridade é um fator que pode levar a mulher a desenvolver uma gravidez de alto risco por diversas patologias, entre elas a pré-eclâmpsia12. No estudo observou-se que 95 (45,4%) das grávidas declararam o estado civil como união estável, 59 (28,2%) eram solteiras, 49 (23,4%) eram casadas e de 6 (2,8%) os dados não foram registrados. Em um estudo(9) descritivo-exploratório e retrospectivo, realizado em uma instituição hospitalar pública, da Zona Leste de São Paulo, com prontuários de mulheres internadas na Unidade de Patologia Obstétrica, quanto ao estado civil, verificou que 86,36% grávidas eram casadas, 9,09% eram solteiras e em um prontuário, 4,54%, não havia registro deste dado. Os resultados do presente estudo mostramse diferentes da literatura citada, pois a maior prevalência ocorreu naquelas grávidas que tinham união estável. As diferenças culturais e de localidade podem ter influenciado na discrepância dos dados. Identificou-se que 94 (45,0%) das grávidas eram primigestas, 60 (28,7%) eram multigestas, 40 (19,1%) secundigestas e em 15 (7,1%) dos casos não houve registro. Como se pode observar, a maior incidência ocorreu entre as primigestas. Em um estudo descritivo e retrospectivo com 357 grávidas com distúrbios hipertensivos na forma grave, internadas na Maternidade Carmela Dutra, observou-se que, 43,1% eram primigestas13. A primiparidade aumenta a incidência da pré-eclâmpsia(1), resultados que corroboram o presente estudo. Observa-se que 158 (75,5%) dos partos foram cesáreas, 38 (18,1%) partos vaginais e de 13 (6,2%) não houve registro. Como demonstrado, o maior índice foi o parto cesárea. Em uma análise secundária(14) do perfil epidemiológico e da evolução clínica de puérperas com pré-eclâmpsia grave, no Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira, foi observado que, 20,1% dos partos foram vaginais, enquanto 79,9% foram cesáreas. O presente estudo
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Eudiane Parentes Mendes | Heidiany Medim da Mota | Andre Gonçalves Pereira | Graciela Marleny Rivera Chávez | Marcelino da Silva Cavalcante
Pré-eclâmpsia em pacientes atendidas na Maternidade Ana Braga, Manaus-AM, Brasil
eles destacando-se as diferenças demográficas e étnicas. As diferenças são devido aos poucos estudos regionais. A ocorrência da PE encontrada na Maternidade Ana Braga foi de 5%, concordando com a literatura, onde se informa que a prevalência pode variar de 5 a 30%. Analisou-se que 64 (30,6%) das gestantes do estudo tinham entre 20 a 24 anos, discordando da literatura, em que o predomínio é o extremo de idade. Quanto à profissão, escolaridade e estado civil, verificou-se que 85 (42%) eram do lar, 76 (36,3%) tinham de 8 a 11 anos de estudo e 95 (45,4%) tinham união estável. As grávidas apresentaram nível socioeconômico baixo, pois a maioria não tinha profissão remunerada e não concluíra o Ensino Médio. A raça que predominou foi a parda, com (72,2%). Observou-se que 94 (45%) das gestantes eram primíparas. O maior percentual dos partos foram as cesarianas com 158 (75,5%). A consulta pré-natal foi realizada pela maioria da população estudada 167(80%) e o número de consultas realizadas foi 4 a 6, com 96 (57,4%). Os dados permitiram identificar que as primíparas são as mais afetadas pela doença e que a maioria realizou o pré-natal, mas ainda é grande o número daquelas que não realizaram, embora essa providência seja essencial tanto para mãe quanto para o feto. A qualidade da assistência ao pré-natal não foi avaliada, porém pode-se observar que as gestantes tiveram um número de consultas menor do que é preconizado pelo MS, haja vista que elas apresentaram uma gravidez de alto risco. O estudo aponta que 14 (6,6%) das grávidas evoluíram para complicação decorrente da préeclâmpsia, e entre as complicações a eclâmpsia prevaleceu com (64,2%). A pré-eclâmpsia, por ser uma patologia grave da gravidez, necessita de um cuidado maior, desde início do seu desenvolvimento até o puerpério. A assistência ao pré-natal adequada e satisfatória permite a detecção precoce e tratamento de complicações materno-fetais. Assim, o presente estudo possibilitou conhecer a prevalência da patologia na região, o que é de suma importância, bem identificar outros dados, como a assistência no pré-natal e possíveis complicações. Através deste conhecimento, pode-se propor à saúde pública local e às equipes multiprofissionais
que deem importância maior no pré-natal, com intuito de proporcionar uma gravidez segura para mãe e feto.
Referências 1 Kahhale S, Zugaib M. Síndromes hipertensivas na gravidez. In: Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO, 2000. 2 Angonesi J, Polato A. Doença hipertensiva específica da gestação (DHEG), incidência à evolução para a síndrome de HELLP. Revista Brasileira de Análise Clínica 2007; 39(4):243-5. 3 Oliveira CA et al. Síndromes hipertensivas da gestação e repercussões perinatais. [acesso em 2009 jun 19]. Disponível em: http//:www.scielo. com.br/.../Síndromes _ hipertensivas _ gestação _ Obstetrícia.pdf. 4 Peraçoli A, Paepinelle D. Síndromes hipertensivas da gestação: identificação de casos graves. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 2005; 27(10):627-34. 5 Ferrão MHL et al. Efetividade do tratamento de gestantes hipertensas. Revista Associação Médica Brasileira. [acesso em 2009 abr 05]. Disponível em: http//:www.scielo.com.br/.../Efetividade _ tratamento _ gestantes _ hipertensas.pdf. 6 Rudg MVC, Peraçoli JC, Cunha SP. Eclâmpsia/síndrome HELLP – complicações críticas da pré-eclampsia. In: Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO, 2000. 7 Brasil. Ministério da Saúde. Manual de Comitê de Mortalidade Martena. Secretaria de Políticas, Normas e Manuais Técnicos da Mortalidade Martena. Brasília, 2007. 8 Franco DR. A hipótese do pólo comum entre a pré-eclâmpsia e o diabetes gestacional. Arquivo Brasileiro Endócrino Metabólico 2008; 52(6):920-30. 9 Gonçalves R, Fernandes RAQ, Sobral DH. Prevalência da doença hipertensiva específica da gestação em hospital público de São Paulo. Revista brasileira de enfermagem 2005; 58(1):61-4. 10 Chaim SRP, Oliveira SMJV, Kimura AF. Hipertensão arterial na gestação e condições neonatais ao nascimento. Acta Paulista Enfermagem 2008; 21(1):53-8. 11 Assis TR, Viana FP, Rassi S. Estudo dos principais fatores de risco maternos nas síndromes hipertensivas da gestação. Sociedade Brasileira de Cardiologia 2008; 91(1):11-7. 12 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação em Saúde. Nota técnica sobre a vigilância de morte materna. Brasília, 2006. 13 Neto JAS, Araújo EJ. Hipertensão arterial na gravidez – avaliação de um protocolo de tratamento. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 2004; 26(9):745. 14 Melo BCP et al. Perfil epidemiológico e evolução clínica pós-parto na pré-eclâmpsia grave. Revista Associação Médica Brasileira 2009; 55(2):175-80. 15 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual técnico pré-natal e puerpério atenção qualificada e humanizada. Brasília, 2005. 16 Medeiros PO et al. Universidade Católica de Pelotas. Gestantes diabéticas e hipertensas: quais os riscos para o recém-nascido?. [acesso em 2009 nov 15]. Disponível em: http//:www.scielo.com.br/.../ Gestantes _ diabéticas _ hipertensas.pdf.
Recebido 29.07.2012 Aprovado 14.03.2013 * Acadêmica de Enfermagem da Universidade do Estado do Amazonas – Formanda 2010-1. ** Acadêmica de Enfermagem da Universidade do Estado do Amazonas – Formanda 2010-1. *** Acadêmico de Enfermagem da Universidade do Estado do Amazonas – Formando 2010-1. **** Enfermeira esp., Professora da Universidade do Estado do Amazonas – Orientadora. ***** Enfermeiro esp., Professor da Universidade do Estado do Amazonas – Co-orientador.
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Eudiane Parentes Mendes | Heidiany Medim da Mota | Andre Gonçalves Pereira | Graciela Marleny Rivera Chávez | Marcelino da Silva Cavalcante
Ano 2 – Número 12, Janeiro/fevereiro 2013 - paginas de 13 a 16
Artigo de Pesquisa
Pré-eclâmpsia em pacientes atendidas na Maternidade Ana Braga, Manaus-AM, Brasil
Hipótese da participação do polimorfismo T102C do gene do receptor 5HT-2A da serotonina na fisiopatologia da síncope neurocardiogênica* Hypothesis participation of gene polymorphism T102C receiver 5HT-2A serotonin in pathophysiology of neurocardiogenic syncope ** Elisiane Lorenzini *** Ana Paula Guedes Frazzon
**** Melissa Markoski ***** Juarez Nehaus Barbisan
Resumo – Introdução: Evidências recentes sugerem a participação de alterações genéticas na fisiopatologia da síncope neurocardiogênica (SN), fato que justificaria a alta prevalência familiar da doença. Entretanto, informações científicas disponíveis nessa área ainda são escassas. Hipótese: Nós formulamos a hipótese de que o polimorfismo T102C do gene do receptor 5HT-2A da serotonina possa estar envolvido na fisiopatologia da SN. Essa alteração no gene do sistema serotonérgico pode ser um dos elos que explique a alteração fisiopatológica da síncope e as evidências de alta prevalência familiar da doença. Método: A técnica de PCR-RFLP com Hpall pode usada para identificar a presença do alelo1 (T na posição 102), alelo 2 (C em 102 posição) ou ambos (heterozigoto), nos pacientes com SN. Implicações: Justificaria a realização de ensaios clínicos randomizados controlados, que são necessários para avaliar a eficácia dos inibidores da recaptação da serotonina, já que não há consenso sobre o seu uso. Palavras-chave: síncope neurocardiogênica; polimorfismo; genética.
Abstract – Background: Recent evidence suggests the involvement of genetic changes in the pathophysiology of Neurocardiogenic Syncope (NS), a fact that would justify the high family prevalence of the illness. However, available scientific information in this area is still scarce. Hypothesis: Our hypothesis is that there may be an association between the 5HT-2A receptor gene polymorphism and NS. This change in the gene of the serotonergic system may be one of the links that explains the pathophysiologic change of the syncope and the evidence of high family prevalence of the disease. Methods: A PCR-RFLP with HpaII will be used to identify the presence and possible implication of allele 1 (T in 102 position), allele 2 (C in 102 position) or both (heterozygote) of 5HT-A2 gene in the NS patients and controls. Implications: Justify the achievement of randomized controlled clinical trials, which are needed to assess the efficacy of serotonin reuptake inhibitors, since there is no consensus on their use and the strategies of treatment are drawn even without a complete understanding of the pathophysiology of syncope. Keywords: neurocardiogenic syncope, polymorphism, genetics.
Introdução
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Ano 2 – Número 12, Janeiro/fevereiro 2013 - paginas de 17 a 19
Síncope é uma entidade prevalente1-2. A etiologia neurocardiogênica é a mais frequente3. Os mecanismos responsáveis por sua ocorrência ainda não são bem conhecidos1. Deve-se basicamente a uma hipovolemia central relativa e a insuficiência nos mecanismos reflexos compensatórios, responsáveis por manter os níveis de pressão arterial4. A resposta vasovagal é constituída pelo desenvolvimento de bradicardia e vasodilatação, decorrentes do aumento da atividade vagal e diminuição da atividade simpática sobre o sistema cardiovascular. O estímulo deflagrador é a atividade de receptores sensoriais intracardíacos chamados de mecanorreceptores ou fibras C, localizados especialmente na parede ínfero-lateral do ventrículo esquerdo. Esses mecanorreceptores são estimulados em situações em que o retorno venoso encontra-se diminuído (posição ortostática) ou na hipovolemia5-6. O mecanismo de controle da pressão arterial a nível central e sua relação com o desencadeamento da síncope não são bem conhecidos7. Quando um diagnóstico de SN é confirmado, frequentemente há uma história familiar positiva para
a síncope8-9. A frequência aumentada de síncope em familiares de pacientes acometidos evidencia a participação de componentes genéticos10. Um estudo publicado em 2005 foi o primeiro a considerar o potencial de anormalidade genética na SN, a partir de um trabalho comparando o DNA de 165 pacientes com síncope confirmada por teste de inclinação e 114 familiares de primeiro grau, afetados e não afetados, demonstrando que o polimorfismo do gene responsável pela expressão da enzima conversora da angiotensina (ECA DCP1) não estava associado a um risco maior de síncope nesses pacientes11. A presença simultânea do alelo Gly389 do receptor B1 adrenérgico com o Glu27 do receptor B2 (mediadores de efeitos cronotrópicos e inotrópicos) é a melhor evidência da participação de alterações genéticas na fisiopatologia da SN; entretanto, o estudo que mostrou essa relação apresentava um número limitado de pacientes (n=21) com teste de inclinação positivo12. A participação da serotonina tem sido postulada a partir de evidências que mostram os níveis plasmáticos de serotonina significativamente menores nos pacientes com SN13. Os pesquisadores mostraram essa evidência mensurando os níveis
Artigo de Pesquisa
Hipótese da participação do polimorfismo T102C do gene do receptor 5HT-2A da serotonina na fisiopatologia da síncope neurocardiogênica*
plasmáticos de serotonina no início do teste de inclinação (posição supina), aos 5 minutos, 15 minutos e ao término do teste, em 22 pacientes com suspeita de síncope comparados com controles. Aos 5 minutos de teste, os níveis de serotonina eram significativamente menores nos pacientes com teste positivo (102,40 +/– 43,11 vs 160,85 +/– 43,71 ng/ml, (p = 0,01)(13). Acredita-se que a liberação desse neurotransmissor possa ser o mediadora responsável pela importante inibição do tráfego simpático eferente14. O uso de inibidores da recaptação da serotonina parece ser eficaz nos doentes com SN, provavelmente porque o aumento intrasináptico de serotonina levará à diminuição da densidade de receptores serotonérgicos15. A paroxetina mostrouse eficaz em um trial controlado com placebo que incluiu 68 pacientes com síncope recorrente e teste de inclinação positivo. Durante o seguimento, síncope espontânea foi relatada em seis pacientes (17,6%) no grupo que recebeu paroxetina, comparado com 18 pacientes (52,9%) no grupo controle (p < 0,0001)16. Apesar de alguns estudos evidenciarem a possível eficácia dos inibidores da recaptação da serotonina, ainda não há consenso sobre o seu uso e as estratégias de tratamento são traçadas ainda sem um completo entendimento sobre a fisiopatologia da sincope17-19.
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Nossa hipótese é que uma variação genômica envolvendo o sistema serotonérgico possa ser um dos elos que explique o desarranjo no mecanismo de controle da pressão arterial a nível central, que acaba desencadeando a síncope. Essa mutação ocorre no gene do receptor da serotonina (5HT2A), mediador da agregação plaquetária e da contração dos músculos lisos. Localiza-se no cromossoma 13 (13q 14-21) e possui 3 exons com cerca de 20 Kb. Ele apresenta um polimorfismo silencioso na posição 102 (polimorfismo T102C), cuja base molecular é uma mutação pontual envolvendo 2 bases nitrogenadas: timina e citosina20. Variações genéticas (não letais) aparecem em pelo menos 1% da população. Diferenças alélicas no DNA do gene resultam em variações polimórficas de seus produtos, proteínas envolvidas nas mais diversas funções do organismo. Existem centenas de polimorfismos em cada gene que podem ou não ter algum significado funcional20. As evidências sugerem fortemente que fatores genéticos podem ter um papel determinante na etiologia SN8,21-24. Ainda, é difícil definir se os casos de síncope em familiares têm um fundamento genético ou se essa associação familiar deve-se somente à elevada prevalência de síncope na população em geral.
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Método DNA de pacientes e controles será isolado a partir de amostras de sangue utilizando kits comerciais. A integridade será testada por reação em cadeia da polimerase (PCR) com primers de beta-globina (PC04 CAACTTCATCCACGTTCACC e GH20GAAGAGCCAAGGACAGGTAC). Se for confirmada, 10 ng de amostras DNA serão utilizadas em PCR para amplificar um fragmento de 342 pb (-24 a 318) do gene 5HT-A2, com iniciadores para a frente TCTGCTACAAGTTCTGGCTT e para trás CTGCAGCTTTTTCTCTAGG de acordo Warren et al.20. O produto 342 pb será digerido com endonuclease HpaII. Se um fragmento não digerido ocorre, os pacientes apresentam o alelo 1 (T na posição 102). A digestão está relacionada com a presença de um C na posição 102 e gerará 126 e 216 pb, caracterizando o alelo 2. A presença dos dois alelos também poderá ocorrer. O estudo respeitou as normas da Declaração de Helsinki e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.
Implicações A identificação de genes envolvidos na fisiopatologia da SN tem sido objeto de vários estudos genéticos. Algumas associações têm sido descritas, como o polimorfismo do gene receptor B1 adrenérgico (Arg389Gly) e o do receptor B2 adrenérgico (Gln27Glu); entretanto, ainda não são suficientes para elucidar as alterações genéticas que certamente estão associadas à SN12. Frequentemente o neutrotransmissor 5HT-2A tem sido envolvido em várias doenças cardiovasculares devido ao aumento da atividade vascular induzida pela serotonina em modelos animais13. Estudos em genética molecular ainda não testaram a hipótese de que um receptor da serotonina possa estar envolvido na fisiopatologia da SN. Essa associação pode estar mediada através da vasoconstrição em sinergia com efeitos serotonérgicos. O conhecimento da etiologia da SN é fator determinante para otimizar o diagnóstico e as opções terapêuticas. Atualmente, muitas vezes os casos de síncope permanecem sem elucidação diagnóstica, apesar de os pacientes serem submetidos a muitos
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Hipótese
Considerando a elevada prevalência de SN em familiares de pacientes acometidos por essa doença, e o possível envolvimento da serotonina, propomos a hipótese de que o polimorfismo T102C do gene do receptor 5HT-2A da serotonina possa estar relacionado com a fisiopatologia da SN.
Hipótese da participação do polimorfismo T102C do gene do receptor 5HT-2A da serotonina na fisiopatologia da síncope neurocardiogênica*
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Recebido 20.06.2012 Aprovado 19.11.2013 * Artigo extraído da dissertação de mestrado da enfermeira Elisiane Lorenzini, intitulada “Associação do polimorfismo T102C do gene do receptor 5HT-2A da serotonina e síncope vasovagal”. Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / Fundação Universitária de Cardiologia – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Área de concentração: Cardiologia e Ciências Cardiovasculares. ** Enfermeira, mestre em Ciências da Saúde (Cardiologia) – IC/FUC, Docente da Faculdade Fátima, Caxias do Sul, RS – Brasil. elisilorenzini@gmail. com. *** Médica veterinária, Doutora em Biologia Celular e Molecular – UFRGS, Departamento de Microbiologia – UFRGS. Porto Alegre, RS – Brasil. **** Bióloga, doutora em Ciências Biológicas Biologia Celular e Molecular – UFRGS, Brasil. Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – IC/FUC. Porto Alegre, RS – Brasil. ***** Médico, doutor em Ciências da Saúde (Cardiologia) – IC/FUC. Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – IC/FUC. Porto Alegre, RS – Brasil.
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Referências
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Artigo de Pesquisa
exames e testes. As estratégias de tratamento ainda são traçadas sem um completo entendimento sobre a fisiopatologia. A associação do polimorfismo T102C com a SN poderá fundamentar novos estudos capazes de esclarecer a alta prevalência familiar de SN. Finalmente, justificaria a realização de ensaios clínicos randomizados controlados que são necessários para avaliar a eficácia dos inibidores da recaptação da serotonina, já que não há consenso sobre o seu uso e as estratégias de tratamento são traçadas ainda sem um completo entendimento sobre a fisiopatologia da síncope.
Ocorrência de eventos adversos na criança hospitalizada: revisão integrativa
Ano 2 – Número 12, Janeiro/fevereiro 2013 - paginas de 20 a 23
Occurrence of adverse events in hospitalized children: an integrative review * Mariana Ferreira Arrieche Lopez
** Beatriz Sebben Ojeda
Resumo – Este estudo trata de uma revisão integrativa da literatura, com o objetivo de avaliar as evidências disponíveis na literatura sobre a ocorrência de eventos adversos na criança hospitalizada. O levantamento bibliográfico abrangeu as publicações nacionais e internacionais de 2001 a 2011, sendo identificados 9 artigos que compuseram a amostra do estudo. A seleção dos artigos foi realizada nas bases de dados: PubMed e Bireme. Os resultados identificaram a escassez de produções sobre a temática voltadas para a saúde da criança e do adolescente, assim como a necessidade de desenvolver estratégias que estimulem a notificação de eventos adversos. Os eventos adversos estão constantemente presentes na prática do profissional de saúde, podendo ter consequências. A qualificação dos profissionais, o trabalho em equipe e a comunicação são alguns dos fatores que contribuem para promover a segurança da criança hospitalizada. Palavras-chave: segurança do paciente; criança hospitalizada; enfermagem.
Abstract – This study is an integrative literature review, with the aim of evaluating the evidence available in the literature on the occurrence of adverse events in hospitalized children. The bibliographic survey covered national and international publications from 2011 to 2011 and identified 9 articles that comprised the study sample. The selection of articles was performed in the databases PubMed and Bireme. The results identified the lack of production on the subject focused on the health of children and adolescents, as well as the need to develop strategies that encourage the reporting of adverse events. Adverse events are constantly present in the practice of health professionals and may have consequences. The qualification of professionals, teamwork, and communication are some of the factors that contribute to promote the safety of hospitalized children. Keywords: patient safety; hospitalized children; nursing.
Introdução
Em 2005, com o tema “Clean care is safe care” (Cuidado limpo é cuidado mais seguro), o foco foram as infecções relacionadas à assistência à saúde; uma das estratégias foi a higienização das mãos como um primeiro passo de garantir elevados padrões de controle de infecção e segurança do paciente5. Ainda em 2009, o Desafio Global proposto pela Aliança Mundial para Segurança do Paciente é “Safe surgery save lives” (Cirurgia segura salva vidas) tornando a cirurgia segura uma realidade constante nas instituições de saúde6. Em 2010 foi elaborada a cartilha sobre os “10 Passos para a segurança do paciente” para contemplar os principais pontos de impacto na prática assistencial descrevendo processos básicos de cuidado de enfermagem para a promoção da segurança do paciente7. Sob o aspecto da segurança do paciente na área da saúde da criança, o processo de hospitalização traz inúmeros enfrentamentos para a criança e sua família, entre eles o entendimento dos profissionais de saúde sobre o cuidado ser centrado na criança e família, considerando que esta precisa fornecer o suporte para o desenvolvimento biopsicossocial da criança. A segurança do paciente está incluída nas ações do cuidado em saúde, sendo indispensável promovêla durante todo o atendimento, assegurando uma assistência livre de danos. Entende-se por
A temática da segurança do paciente vem sendo discutida sob diferentes abordagens e significados, entre elas as questões que caracterizam a ocorrência de eventos adversos nos serviços de saúde. A preocupação com a segurança do paciente surgiu na década de 1980 com a publicação do relatório To Err is Human: Building a safer health care system, o qual revelou que aproximadamente 44 mil a 98 mil pessoas morriam nos Estados Unidos por ano devido a erros relacionados aos serviços de saúde1. Em 2001 a Academia Americana de Pediatria (AAP) recomendou alguns princípios para a segurança do paciente, tais como: desenvolver estratégias com ações focadas na organização, nos profissionais e nos usuários; os serviços devem particularizar os cuidados à criança, entre outros2. Ao encontro do fortalecimento mundial do tema segurança do paciente, em 2004 foi criada a primeira edição da Aliança Mundial para Segurança do Paciente, a qual se voltou para a criação e desenvolvimento de políticas e práticas em prol da segurança do paciente para todos os países membros da OMS3. Em 2002 a 55ª Assembleia Mundial de Saúde atribuiu à OMS a responsabilidade de estabelecer normas e padronizações dando suporte aos países no desenvolvimento de políticas públicas e práticas de segurança do paciente4.
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Ocorrência de eventos adversos na criança hospitalizada: revisão integrativa
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Esta pesquisa teve como percurso metodológico uma revisão integrativa, a qual se qualifica como um importante procedimento para análise e síntese dos estudos. As seguintes etapas foram seguidas: formulação e identificação do problema, coleta de dados, avaliação dos dados, análise e interpretação dos dados coletados e apresentação dos dados14-15. Foram usados como critérios de inclusão os artigos publicados no período de 2001 a 2011, relacionados com a segurança da criança hospitalizada, artigos disponíveis na íntegra na base de dados PubMed e Bireme. Foram selecionados previamente 22 artigos para leitura e ao final apenas 9 foram selecionados para compor a revisão, pois os mesmos se adequavam aos critérios de inclusão. Assim, foram excluídos os trabalhos que não se enquadravam nos critérios de inclusão, totalizando a
Título
Autor
Ano
Base dados
1. A segurança do paciente nas circunstâncias de cuidado: prevenção de eventos adversos na hospitalização infantil
Wegner
2011
Bireme
2. Segurança e Proteção à criança hospitalizada: revisão de literatura
Schatkoski et al
2009
Bireme
3. Pediatric Patient Safety during hospitalizations: approaches to accounting for institution level effects
Slonim et al
2007
PubMed/ Bireme
4. Medical injuries among hospitalized children
Meurer
2006
PubMed
5. Adverse Events and Preventable Adverse Events in Children
Woods
2005
PubMed
6. Pediatric Patient Safety in hospitals: A National Picture in 2000
Miller Zhan
2004
PubMed
7. Is your hospital safe for children? Applying home safety principles to the hospital setting
Warda
2004
PubMed/ Bireme
8. Patient Safety Events During Pediatric Hospitalizations
Miller Elixhauser Zhan
2003
PubMed
9. Principals of Patient Safety in Pediatrics
American Academy of Pediatrics
2001
PubMed
Após a finalização da busca em base de dados, foi utilizado um instrumento de ficha de leitura; para análise dos dados, foi utilizada a Análise de Conteúdo do tipo Temática de Minayo16.
Análise A hospitalização, para a criança e a família, é um evento estressante, que coloca os sujeitos em um ambiente desconhecido, com pessoas desconhecidas, em situações nunca vivenciadas anteriormente, podendo acarretar muitas perdas na vida dessas pessoas. As crianças quando hospitalizadas ficam mais vulneráveis à ocorrência de ações adversas, que muitas vezes passam despercebidas pelos profissionais de saúde. Estudo realizado com 3.719 pacientes de 0-20 anos em hospitais americanos mostrou que os eventos adversos ocorreram em 1% das hospitalizações pediátricas e que 0,6% eram preveníveis. Os adolescentes sofreram o maior número de ocorrências adversas (78,6%), sendo que
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Métodos
busca em: 2 da base de dados Bireme, 5 da base de dados PubMed e 2 artigos encontrados nas bases de dados Bireme e PubMed, conforme evidenciado na tabela abaixo.
Revisão Integrativa
segurança do paciente a redução do risco de danos desnecessários a um mínimo aceitável. Já o incidente de segurança do paciente é um evento ou circunstância que poderia ter resultado ou que resultou em danos desnecessários8-9. Podemos visualizar ao longo da hospitalização da criança inúmeras situações que podem interferir na segurança da mesma. A prática do profissional de saúde pode gerar um quase incidente, ou seja, um incidente que ainda não atingiu o paciente (near miss), podendo resultar em danos desnecessários para o paciente9. O evento adverso/incidente é o que alcançou o paciente conduzindo-o a um dano, podendo estar relacionado tanto com a prática do profissional quanto com a falta de informação em saúde, podem ser falhas no planejamento e/ou na execução de uma ação que tem objetivos e resultados esperados, mas nem todos os eventos adversos vão culminar em injúrias 9-12. No entanto, ressalta-se a importância de construir um sistema de notificação dos eventos adversos, abordando a questão da não punição dos profissionais e sim de ações educativas, focando no sistema coletivo das falhas e mantendo o anonimato dos envolvidos2. O incidente ou evento adverso podem ocorrer em todas as etapas do atendimento à saúde, podem estar ligados a fatores do processo de trabalho como falhas no cuidado prestado em procedimentos ou a outros fatores como estresse, sobrecarga de trabalho, entre13. O objetivo desta revisão foi avaliar as evidências disponíveis na literatura sobre a ocorrência de eventos adversos na criança hospitalizada
estes eram preveníveis e 10,8% dos eventos adversos aconteceram em crianças com idade escolar. Nos Estados Unidos, 70.000 crianças hospitalizadas “experimentam” o evento adverso a cada ano17. Outro estudo americano realizado com 3,8 milhões de crianças e adolescentes menores de 19 anos em 22 estados americanos, mostrou que a maior ocorrência de eventos adversos estava relacionado a traumas em recém-nascidos (1,54%), infecções pós-operatórias (0,44%) e complicações obstétricas (0,26%)18. Estudo realizado com 5,7 milhões de crianças e adolescentes, menores de 19 anos, em 27 estados americanos, buscou descrever os eventos adversos em crianças hospitalizadas, baseandose no indicador de segurança do paciente. Os principais eventos adversos foram aqueles relacionados a traumas obstétricos – parto vaginal com instrumentação (21,52%), seguidos de traumas obstétricos sem instrumentação (10,72%), falhas no salvamento (7,03%) e sepse pós-operatória (1,03%)19. Diante dos estudos apresentados, devemos repensar nossas práticas enquanto profissionais de saúde, buscando qualificá-las para promover a segurança do paciente. Pesquisa realizada em 2011 na cidade de Porto Alegre/RS/Brasil no Hospital de Clínicas com crianças hospitalizadas em unidades pediátricas buscou, por meio de relatos das cuidadoras/ acompanhantes, identificar situações que podem gerar eventos adversos nos cuidados de saúde. Entre as situações relatadas estão erros na administração de medicamentos, comportamento da equipe de saúde, número insuficiente de profissionais, comunicação inadequada12. Além de os eventos adversos serem identificados em procedimentos técnicos, os técnicos de enfermagem delegam cuidados de enfermagem com a criança para os acompanhantes realizarem, conforme relatos12. Embora a equipe de enfermagem também tenha a atribuição de educação para o cuidado junto à criança e sua família, é necessário considerar que nem todos os procedimentos são passíveis de serem delegados. Tal conduta pode gerar risco para a segurança do paciente, tendo como fator contribuinte a falta de conhecimento técnico das cuidadoras/acompanhantes. Um estudo realizado em Wisconsin/EUA com 318.785 crianças em 134 hospitais buscou descrever as taxas de incidência de injúrias médicas. Esse estudo mostrou que 1,5% estavam envolvidos com medicamentos, 1,3% com procedimentos médicos e 0,9% implicando dispositivos, implantes e enxertos20. Outro evento adverso importante na hospitalização da criança são as quedas. O citado estudo americano realizado durante as hospitalizações dos
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pacientes pediátricos teve como objetivo revisar os riscos de lesões em ambientes hospitalares, mostrando que 1% dessas lesões normalmente são devidas a quedas na companhia dos pais, sendo essas quedas responsáveis por 34 a 40% das lesões21. As crianças menores de 1 ano, são as que sofrem maior número de eventos adversos13. Outros aspectos atribuídos aos eventos adversos estão associados ao aumento do tempo de internação, custos da hospitalização e mortalidade18-19. Identificar as causas dos erros do cuidado em saúde e desenvolver, demonstrar e avaliar as ações para melhorar a segurança do paciente reduzindo os erros são algumas das estratégias utilizadas para reduzir os eventos adversos17. A garantia da segurança da criança pode ser influenciada por diversos fatores, como ambiente e/ou sobrecarga de trabalho, falta de qualificação profissional, aspectos institucionais, entre outros. Frente a isso, tornam-se necessárias a inclusão e participação dos profissionais de saúde na busca pela qualidade da assistência em saúde. A segurança do paciente engloba a prevenção de erros no cuidado à saúde e a redução das repercussões desses na vida e saúde dos pacientes22. A segurança do paciente deve ser uma prioridade nos serviços de saúde. Estudos mostram que cada vez mais ela se torna um problema global, necessitando desenvolver estratégias para que a segurança do paciente seja melhorada. Estudo realizado em um hospital pediátrico de Porto Alegre/RS/Brasil com 23 profissionais de saúde (enfermeiros, médicos e residentes) em unidades pediátricas mostrou que os profissionais de saúde enfatizam que a revisão e conferência das intervenções a serem realizadas são estratégias para um cuidado seguro, assim trabalhando em prol da segurança da criança12. Conforme o Código de Ética, o enfermeiro deve assegurar assistência livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência23. Estudo realizado em 2007 nos Estados Unidos mostrou que a incidência de erros médicos em crianças hospitalizadas foi estimada de 0,8 a 1,3%. Além disso, mostra que as fraturas de quadril no pós-operatório são eventos relativamente raros na criança hospitalizada, sendo uma variação de 87 casos por 10,000 estudados24. Os serviços de saúde muitas vezes deixam de lado a supervisão das atividades dos profissionais e acabam não se preocupando com a qualidade da assistência prestada, podendo isso culminar em sérios eventos adversos. Existem diversos fatores que são pressupostos para garantir a segurança da criança, sendo identificados pelos profissionais de saúde; entre eles, passagem de plantão e registros no prontuário, comunicação,
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Revisão Integrativa
Perfil epidemiológico dos pacientes hipertensos cadastrados no Hiperdia em uma Estratégia de Saúde da Ocorrência de eventos adversos na criança hospitalizada: revisão integrativa Família (ESF) de um município do Vale do Rio Jacuí/RS
Ocorrência de eventos adversos na criança hospitalizada: revisão integrativa
Considerações finais A realização do estudo possibilitou verificar a escassez de produções nacionais de pesquisas na área da segurança do paciente pediátrico. Por outro lado, verifica-se a mobilização internacional pela segurança do paciente. Torna-se fundamental estimular a produção de estudos na área da criança e do adolescente. Os eventos adversos estão constantemente presentes na prática do profissional de saúde, sendo evidenciados na área das intervenções médicas, mas cabe salientar o papel do profissional de enfermagem frente a esta situação. A enfermagem tem capacidade para monitorar os pacientes em situação de risco, exercendo assim um papel importante na prevenção das complicações ocasionadas por eventos adversos. Nos Estados Unidos, mais de 60.000 crianças experimentam eventos adversos a cada ano, sendo que eles são preveníveis. Evidentemente, torna-se necessário continuar mobilizando os profissionais de saúde para buscar uma assistência livre de danos e promovendo a segurança e proteção do paciente.
Mariana Ferreira Arrieche Lopez | Beatriz Sebben Ojeda
1 Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS. To Err is Human: building a safer health care system. Washington/DC: National Academy Press; 2000. 2 American Academy of Pediatrics. Principles of patient safety in pediatrics. Pediatrics 2001; 107(6):1473-5. 3 World Health Organization (WHO). World Alliance for Patient Safety. Forward Programme 2008-2009. Geneva (Switzerland): World Health Organization; 2008. 4 Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo – COREN/SP. 55ª Assembleia da Saúde Mundial, 2002. Disponível em:
Recebido 11.02.2013 Aprovado 18.03.2013 * Enfermeira. Especialista em Saúde da Criança e do Adolescente pelo Programa de Residência Multiprofissional e em Área Profissional da Saúde, PREMUS HSL/PUCRS. Enfermeira da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital São Lucas da PUCRS. ** Enfermeira. Doutora em Psicologia (PUCRS). Professora Titular da Faculdade de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
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Referências
http://inter.coren-sp.gov.br/sites/default/files/cirurgia-segura.pdf. 5 World Health Organization (WHO). Clean Care is Safe Care, 2005. Disponível em: http://www.who.int/gpsc/en/. 6 World Health Organization (WHO). Guidelines for Safe Surgery Save Lives. Tradução: Segundo desafio global para a segurança do paciente – OMS/Brasil. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ seguranca _ paciente _ cirurgias _ seguras _ salva _ vidas.pdf. 7 Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo – COREN/SP; Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente – REBRAENSP/POLO SÃO PAULO. 10 Passos para a segurança do paciente, 2010. Disponível em: http://inter.coren-sp.gov.br/sites/ default/files/10 _ passos _ seguranca _ paciente.pdf. 8 Van der Castle B, et al. Information technology and patient safety in nursing practice: an international perspective. International Journal of Medical Information 2004; 73:607-14. 9 Runciman W, et al. Towards an international classification for patient safety: key concepts and terms. International Journal for Quality in Health Care 2009; 21(1):18-26. 10 World Health Organization (WHO). A world alliance for safer health care. More than words: conceptual framework for the international classification for patient safety. Version 1.1. Final technical report. Jan 2009. Geneva (Switzerland): World Health Organization; 2009. 11 Cassiani SHB. A segurança do paciente e o paradoxo no uso de medicamentos. Revista Brasileira de Enfermagem 2005; 58(1):95-9. 12 Wegner W. A segurança do paciente nas circunstâncias de cuidado: prevenção de eventos adversos na hospitalização infantil. Tese [Doutorado]. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem. Programa de Pós Graduação; 2011. 13 Harada MJCS. A prevenção do erro humano. In: Harada MJCS, et al. O erro humano e a segurança do paciente. São Paulo: Atheneu; 2006. 14 Mendes KDS, et al. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto e Contexto Enfermagem 2008; 17(4):758-64. 15 Souza MT, Silva MD. Revisão integrativa: o que é e como fazer? Einstein 2010; 8(1):102-6. 16 Minayo MCS, et al. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 6ª ed. São Paulo: Hucitec; 1999. 17 Woods D, et al. Adverse events and preventable adverse events in children. Pediatrics 2005; 115(1):155-61 18 Miller MR, Elixhauser A, Zhan C. Patient safety events during hospitalizations. Pediatrics 2003; 111(6).1357-66. 19 Miller MR, Zhan C. Pediatric patient safety in hospitals: a national picture in 2000. Pediatrics 2004; 113(6):1740-6 20 Meurer JR, et al. Medical injuries among hospitalized children. Qual Saf Health Care 2006; 15(1):202-7. 21 Warda L. Is your hospital safe for children? Applying home safety principles to the hospital setting. Paediatric Child Health 2004; 9(5):331-4. 22 Schatkoski AM, et al. Segurança e proteção à criança hospitalizada: revisão de literatura. Revista Latino Americana de Enfermagem 2009; 17(3):410-6. 23 COFEN. Resolução COFEN nº 311/2007. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, 2007. 24 Slonim AD, et al. Pediatric patient safety during hospitalization: approaches to accounting for institution level effects. HSR: Health Services Research 2007; 42(6):2275-90.
Revisão Integrativa
a correta identificação do paciente, higienização das mãos e o uso de equipamentos de proteção individual, entre outros12. O cuidado em saúde da criança hospitalizada deve ser norteado por práticas seguras, sendo indispensável para os profissionais repensar suas práticas de saúde buscando qualificá-las para promover a qualidade da assistência e a segurança do paciente.
Um olhar sobre a realidade de enfermagem em Angola/África A closer look at the Nursing in Angola/Africa * Alexander de Quadros
** Adriana Roloff
Resumo – O presente estudo tem como objetivo relatar a experiência da atividade de consultoria e treinamento de um enfermeiro brasileiro e sua percepção das realidades social e de saúde em Angola, contribuindo para um processo reflexivo acerca das competências do enfermeiro nas diversas oportunidades de trabalho que a enfermagem brasileira vem encontrando ao longo da história. O processo de construção e planejamento para as consultorias e treinamentos permitiu que a enfermagem angolana fortificasse sua categoria frente aos demais componentes da equipe de saúde, possibilitou o aprimoramento das competências técnicas e desenvolvimento da humanização ao cuidado do paciente. Palavras-chave: história de enfermagem; saúde; enfermagem.
Abstract – The present study aims at describing the activity of consulting and training of a nurse in Brazil and their perception of health and social realities in Angola, contributing to a process of reflection on the skills of nurses in the various job opportunities that Brazilian nursing has been found throughout history. The process of building and planning for consulting and training allowed the nurses to Angola strengthens its category compared to other components of the health team, enabled the improvement of technical skills and development of humane care of the patient. Keywords: history of nursing; health; nursing.
Ano 2 – Número 12, Janeiro/fevereiro 2013 - paginas de 24 a 28
Introdução Angola é um país que recentemente se desvinculou de uma guerra civil que durou mais de 20 anos, devastando a população e a possibilidade de crescimento científico e tecnológico da nação. Com a previsão da inauguração de novas estruturas hospitalares, o Ministério da Saúde (MINSA), através de um convênio entre Angola e China para reconstrução do país e entrega das novas estruturas físicas hospitalares, vem se preocupando com a qualificação dos profissionais de enfermagem que na atualidade trabalham dentro de hospitais de campanha improvisados. Em breve os diferentes atores que compõem a equipe de saúde irão adentrar as portas destas instituições que terão capacidade para atendimento de muitos pacientes e tecnologia avançada para o diagnóstico e tratamento. O projeto intitulado “Melhoria da capacidade de resposta dos serviços de enfermagem”, criado pelo Ministério da Saúde de Angola, preconizou a contratação de profissionais qualificados para realização deste projeto com o objetivo de evidenciar e notificar a atual situação vivida por esses profissionais nos hospitais de Huambo, Benguela, Malange e Huíla. Após o levantamento das necessidades nas instituições, treinamentos foram realizados para suprir as carências advindas da guerra. Através de uma seleção no Brasil, permeada de vários testes psicológicos, avaliação curricular e simulações práticas, quatro enfermeiros selecionados em áreas específicas de emergência, bloco cirúrgico, internação e materno-infantil partiram
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como consultores de enfermagem do Ministério da Saúde de Angola com o objetivo de proporcionar melhorias no sistema de saúde vigente deste país. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência da atividade de consultoria e treinamento de um enfermeiro brasileiro e sua percepção das realidades social e de saúde em Angola. Justifica-se ainda este estudo para evidenciar a abertura de trabalho para os enfermeiros em realidades diferentes, culturas e países distantes como uma possibilidade de construção de uma carreira profissional internacional na modalidade de consultoria e treinamentos. No que concerne aos preceitos éticos da pesquisa, cabe salientar que Angola possui laços estreitos através de parcerias com o Brasil devido à proximidade da língua e colonização portuguesa. Este relato de experiência tem o intuito de mostrar as diferentes possibilidades de trabalho que atualmente o enfermeiro brasileiro pode desenvolver.
Um olhar sobre Angola Angola localiza-se na costa sudoeste do continente africano, delimitada a Norte e a Nordeste pela República Democrática do Congo, Leste pela Zâmbia e ao Sul pela Namíbia. Está dividida em 18 províncias. A língua oficial do país é a portuguesa, mas existem mais de 42 línguas nacionais, entre elas o umbundo e o quimbundo5,6. Este país foi descoberto e colonizado pelos portugueses. Em 1842, o navegador Diogo Cão, navegador chegou à foz do rio Zaire estabelecendo relações cordiais e comerciais com os africanos do
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O preço pago por essas guerras foi muito alto: remonta ao um milhão de mortos em 27 anos e em outros tantos milhões de flagelados pela miséria provocada pela guerra.
A realidade de saúde em Angola Sete anos após o fim das hostilidades, os esforços para reconstruir e aumentar a disponibilidade dos serviços de saúde quase não avançaram. Apenas 30% da população tem acesso aos serviços básicos de saúde num raio de 5 quilômetros do local onde moram8. Segundo a UNICEF, mais de metade dos 13,2 milhões de angolanos são crianças. Angola ocupa o 164º lugar entre 175 países no Índex de Desenvolvimento Humano e tem uma das taxas mais altas do mundo de mortalidade infantil abaixo dos cinco anos, com 260 mortes por 1.000 nascimentos, devido à malária, infecções respiratórias, diarreia, sarampo e tétano neonatal. A taxa de fertilidade é de 7,2 filhos por mulher e a taxa anual de crescimento da população é de 2,9%. A taxa de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo (1.700 por cada 100.000 nascimentos). A maioria da população de Angola vive na pobreza, sendo que 68% da população urbana vive abaixo da linha da pobreza. Estima-se que a economia rural seja quase na totalidade uma economia de subsistência8. Uma das causas profundas da reduzida taxa de acesso aos serviços de saúde e da fraca qualidade desses serviços é a insuficiente fatia orçamental destinada a despesas sociais. Os poucos fundos destinados ao setor da saúde são fragmentados em unidades orçamentárias distintas ao nível das províncias e dispersos por um vasto número de políticas, programas e planos subsetoriais, sem que haja um plano de ação que abranja todo o setor.
A realidade da enfermagem e o trabalho de enfermeiros brasileiros em Angola Vale lembrar ainda que, logo após a libertação de Angola do domínio português, em 1975, houve um êxodo dos enfermeiros para Portugal e estabeleceuse a premente necessidade de recrutamento, sendo feita a seleção de pessoas não qualificadas para o cuidado, acarretando uma piora do atendimento e da assistência prestada. A partir de então, percebeu-se uma diminuição do reconhecimento e aceitação dos enfermeiros pela população,
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Congo. Esta relação foi quebrada quando Paulo Dias Novaes iniciou ocupação e administração direta da orla costeira com o estabelecimento de varias capitanias. Paralelamente, iniciava-se o comércio de escravos face às necessidades de mão de obra no Brasil, o que se manteve até o século XIX, quando Sá da Bandeira conseguiu aprovar em Portugal a legislação para abolir a escravatura5,6. A partilha da África convencionada na Conferencia de Berlin em 1884-1885, obrigou os portugueses a uma prolongada ocupação e administração do território, que foi concretizada na Primeira Guerra Mundial5,6. A pacificação começou a ser perturbada no início da década de 1950 por movimentos nacionalistas cujas reivindicações de autonomia determinaram uma guerra de libertação de 1960 a 1974, ano em que a queda do regime ditatorial vigente em Portugal conduziu a independência do país, realizada no dia 11 de novembro de 19755-7. Naquele período haviam participado ativamente três movimentos políticos – MPLA (Movimento pela Libertação de Angola), FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) –, apoiados por movimentos divergentes em nível internacional e que, em face da saída de Portugal, se envolveram em uma guerra civil pelo poder, ganha parcialmente pelo MPLA com ajuda de Cuba. No entanto, a UNITA continuou oferecendo resistência, ocupando uma vasta zona do planalto central, situação que se tentou resolver através de vários acordos internacionais, nunca cumpridos. A situação só ficou resolvida com a morte do líder da UNITA, Jonas Malheiro Sidónio Savimbi, no início de 2002. O MPLA é o partido do governo desde a independência, embora a UNITA tenha dominado parte do território até o fim da guerra civil5-7. A morte de Savimbi abriu espaço para que o acordo de cessar-fogo fosse alcançado. O acerto político tem como base o acordo de Lusaca, firmado em 1994, que estabeleceu a criação de um governo de unidade nacional, com participação do MPLA, atual partido governista, e a UNITA. Até hoje, parte do governo conta com representantes da chamada UNITA Renovada, braço político institucionalizado do movimento rebelde5-7. As primeiras eleições democráticas livres ocorreram pacificamente no início do mês de setembro de 2008 com a vitória do MPLA. A UNITA é o segundo partido com maior força no país e continua num papel secundário na política. A vitória do partido MPLA, liderada por Eduardo José dos Santos, marcou a liberdade de um povo sofrido, que viveu a realidade da guerra civil desde a independência, em 1975.
Artigo de Reflexão
Alexander de Quadros | Adriana Roloff
Um olhar sobre a realidade de enfermagem em Angola/África
porque a percepção das pessoas era a de que o “enfermeiro” era qualquer pessoa semialfabetizada5. Até 2003, a formação do enfermeiro baseavase apenas em cursos profissionalizantes que não exigiam que a pessoa tivesse concluído o segundo grau. A partir daquele ano, teve início o primeiro curso de enfermagem de nível superior4. No ano de 2008 em Angola não existiam mais que 91 enfermeiros de nível superior formados no país4. Os enfermeiros existentes têm a oportunidade de realizar parte dos estágios práticos em Portugal ou no Brasil através de convênios com o Ministério da Saúde dos dois países1. Os profissionais de saúde responsáveis pelo atendimento à população são: o enfermeiro licenciado (nível superior), o enfermeiro auxiliar, o enfermeiro técnico superior (outra graduação superior) e o enfermeiro geral. Segundo os enfermeiros licenciados, o chamado “enfermeiro auxiliar” é o trabalhador menos qualificado formalmente, porque possui pouca formação específica na enfermagem. Já o “enfermeiro médio” é o que mais executa as ações de enfermagem, e tem formação de mais duração (um a dois anos), e o “enfermeiro geral” é o que supervisiona, delega e gerencia as atividades de enfermagem, com uma formação mais prolongada (dois a três anos). O enfermeiro licenciado de nível superior, apesar de ter um currículo baseado nos moldes brasileiros, ainda não desempenha o verdadeiro papel, muitas vezes perdido para profissionais de nível auxiliar e médio. Por outro lado, a falta de médicos no país induziu a profissão de enfermagem a aderir a um papel muito importante no atendimento aos pacientes. A equipe de enfermagem em Angola realiza diversos procedimentos que no Brasil não são considerados legais para profissão, entre eles admissão e alta dos pacientes. Os profissionais de enfermagem neste cenário admitem, prescrevem, realizam intubação orotraqueal e suturas, além de triagem, e autorizam a alta hospitalar. Procedimentos que no Brasil são de responsabilidade médica e validados pelo Conselho Federal de Medicina. Cabe salientar que no Brasil a prescrição de medicamentos, acolhimento com classificação de risco por enfermeiros está prevista pela Lei Federal 7.498/86 como uma atividade compartilhada com integrantes da equipe multiprofissional em saúde, realizada através de protocolos previamente estabelecidos em programas de saúde pública e em rotinas aprovadas pelas instituições de saúde. Cabendo ao médico os papéis de admissão e alta dos pacientes11. Em alguns hospitais das províncias de Angola a presença de médicos russos e vietnamitas é frequente. Esses profissionais possuem grande dificuldade em aprender a língua do país (português), piorando a
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situação com as línguas das tribos africanas unbundo e quimbudo, com isso ocorrendo grande dificuldade de diagnosticar e prescrever. Por isso, em alguns hospitais, principalmente nos ditos de “campanha”, é frequente a presença de enfermeiros de nível médio e auxiliar diagnosticarem e prescreverem. O que evidencia uma fragmentação da situação de saúde. Nas províncias ainda existem hospitais de “campanha”, que trabalham em estruturas do período da guerra, pois ainda aguardam o término das obras dos novos prédios que estão sendo construídos através de um convênio com a China que entrou no país com a mão de obra humana para reconstrução dos hospitais e com a tecnologia chinesa para os mesmos. A assistência ao paciente torna-se comprometida também pela falta crônica de materiais e equipamentos básicos como seringas, agulhas, termômetros, aparelhos de pressão, antissépticos, medicamentos, luvas, etc. A cultura da reutilização de vários materiais como agulhas e seringas ainda existe. A reutilização desses materiais na maioria das vezes não ocorre com a desinfecção de forma correta, pois as estufas existentes não comportam as necessidades do hospital e muitas estão em precário estado. Ficou claro que o reuso de muitos materias hospitalares é uma cultura que se impregnou desde os primórdios da guerra, quando faltavam esses materiais. Apesar de atualmente esses eventos acontecerem, mas de forma mais amena, os profissionais de enfermagem ainda temem pela falta dos mesmos. Outro fator marcante nesse período foi a evidência de “leitos-chão” em algumas instituições das províncias de Angola. O setor pediátrico e pósparto acumula em suas áreas de internamento excesso de crianças e puérperas que são obrigadas a ficarem no chão, em colchonetes divididos com mais pacientes em condições inadequadas de higiene. Durante as visitas aos hospitais provinciais de Angola, percebeu-se um desânimo devido aos baixos salários, condições de trabalho muitas vezes desumanas, impedindo a motivação e o desempenho profissional. As questões sobre a vida e processo de humanização dentro das instituições hospitalares precisam ser trabalhadas nessas instituições de forma contínua. A morte do paciente muitas vezes foi percebida como de rotina para a equipe de saúde e sentida apenas pelos familiares de forma muito intensa. Certamente o reconhecimento e a valorização da enfermagem é um sonho de todos os profissionais de enfermagem de Angola, devendo ser alcançados por meio da atividade política dos enfermeiros, da inserção nas atividades de classe, enquanto cidadãos cientes do seu papel na sociedade e da conquista dos espaços e dos seus direitos.
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Artigo de Reflexão
Um olhar sobre a realidade de enfermagem em Angola/África
Um olhar sobre a realidade de enfermagem em Angola/África
O projeto para “Melhoria da capacidade de resposta dos hospitais centrais”9 em Luanda ocorreu desde outubro de 2006, com a capacitação técnica de médicos angolanos. O objetivo principal desse projeto foi o de diminuir a taxa de pacientes que estão sendo enviados para a capital e consequentemente fora do país, aumentando consideravelmente os gastos com os tratamentos pelo governo de Angola. Através de um subprojeto “Melhoria da assistência de enfermagem nos hospitais provinciais de Angola”, oferecido ao governo de Angola/MINSA, foi operacionalizada a iniciativa de formação em serviço para os profissionais de enfermagem no interior do país, que por vezes ficam à margem de ações de formação e aprimoramento de seus quadros de saúde. Sendo assim, iniciou-se um trabalho de identificação das necessidades nos hospitais contemplados com o projeto, realizado pelos consultores de enfermagem através da empresa Gesa Health. O projeto teve início em julho de 2008, delineandose através de ciclos com duração de oito semanas cada um. As atividades de consultoria, treinamento teórico e prático aconteceram nas dependências dos laboratórios das instituições hospitalares. Os enfermeiros consultores permaneceram no hospital duas semanas, etapa chamada de “concentração”, com retorno à mesma instituição após um tempo médio de seis semanas, o que permitiu sucessivas aproximações e distanciamentos entre o especialista e os quadro em aprimoramento.
Alexander de Quadros | Adriana Roloff
As parcerias entre Brasil e Angola acontecem há muito tempo nos diversos setores da economia, parcerias essas que privilegiam a formação, capacitação e transferência de conhecimentos e tecnologia, tanto dos setores públicos como privados, visando ao crescimento e desenvolvimento de ambos os povos. Atualmente, acadêmicos angolanos de enfermagem são enviados pelo MINSA aos diversos Estados brasileiros para complementação de seus estudos de graduação em enfermagem ou especialização com intuito de voltarem ao país e assim fortalecerem a enfermagem angolana. A importância dessas parcerias é a possibilidade que as instituições superiores no Brasil possuem para trabalharem com a diversidade cultural, costumes, rituais e crenças, favorecendo a troca de experiências.
Considerações finais Num país em que a pobreza, a fome, as dificuldades habitacionais e as doenças são tão constantes, a melhoria da capacitação do pessoal de enfermagem é essencial, tendo em vista que a falta de profissionais de saúde torna a assistência de enfermagem mais relevante ao minimizar os sofrimentos da população mais carente, possibilitando o atendimento das necessidades de saúde mais primárias. Ficou claro que a enfermagem brasileira, desde a chegada em terras africanas até o final dos projetos existentes, deve conhecer a cultura desse povo, as patologias específicas daquele país para uma melhor abordagem dos trabalhos de enfermagem.
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Brasil/Angola
A valorização do trabalho do enfermeiro brasileiro dentro da nação africana contribui para com a formação dos profissionais daquele país, que em todas as fases do processo de implantação do projeto instituído pelo seu governo se mostraram muito atenciosos, respeitosos e “infinitamente” agradecidos pela nossa presença, abrindo as portas das instituições hospitalares para que pudéssemos adentram e iniciar as consultorias e os treinamentos. Muitas vezes, éramos recebidos com aplausos por esses profissionais, em salas amplas com mais de 100 alunos esperando pelos treinamentos. Certamente esses eventos nos tornaram cada vez mais motivadores a vencer os desafios impostos pelas adversidades e permitindo fazer trocas de experiências de vida. Uma das lições deixadas nesta experiência foi a capacidade de amar e respeitar esse povo por ser forte e muito franco em seu modo simples de ser. Entender que realizar consultorias e ensinar neste país nos faz perceber que é muito mais fácil fazer do que ensinar: exige planejamento para que não sejamos apenas assistenciais, quando o objetivo do projeto foi o de “ensinar” e não “fazer” para que posteriormente eles pudessem se desenvolver sozinhos. A preocupação com a humanização do trabalho foi marcante nestas consultorias, preocupação que nos motivou a não somente pensar no processo da técnica, mas repensar as formas de humanizar esse cuidado ao fazer enfermagem. Durante esse período foi aludida a esses profissionais a importância de se reconhecerem nesse processo de fortificação da profissão que foi fragmentada pela guerra. Os enfermeiros estão buscando se sustentar como profissionais do cuidado através de reuniões da categoria e sindicatos, pois já percebem sua importância na equipe de saúde. Estão buscando o respeito da comunidade e principalmente dos demais profissionais envolvidos no cuidado e tratamento da população.
Artigo de Reflexão
Consultoria de enfermagem em Angola
Artigo de Reflexão
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Desde a abertura da porta dos hospitais, para os diagnósticos da situação de saúde, até as aulas teórico-práticas em que os profissionais de enfermagem sempre se mostraram interessados e participativos, ficou evidente o reflexo de uma sede de conhecimento que foi talhada pela guerra e que hoje vem sendo suprida em passos lentos, mas significativos para o país. Vínculos feitos com o povo africano se perpetuam na memória desta experiência e, quem sabe, serão relembrados num retorno breve. Certamente a enfermagem brasileira vem fazendo seu papel de mostrar o real papel da equipe de enfermagem para melhoria da situação de saúde nos hospitais províncias de Angola.
Referências
Recebido 15.06.2012 Aprovado 13.12.2013 * Enfermeiro. Mestre em Educação. Especialista em Docência em Saúde e Terapia Intensiva. Docente do Centro de Educação Tecnológica e Pesquisa em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição – Ministério da Saúde (GHC/MS). ** Enfermeira. Mestre em Diagnóstico Genético e Molecular. Especialista em Adulto Crítico e Gerenciamento dos serviços de enfermagem. Docente da Universidade Luterana do Brasil – RGS.
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Alexander de Quadros | Adriana Roloff
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1 Fávero N, Scatena MCM, Vendrúsculo DMS. Cooperação técnica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo na formação de profissionais de enfermagem para a República Popular de Angola. Revista Latino-Americana de Enfermagem 1996; 4(2). ISSN 0104-1169. 2 Associação Nacional dos Enfermeiros de Angola. [Citado em: 04 nov 2008]. Disponível em URL: http://www.icn.ch/Angola.htm. 3 AngoNotícias. [Citado em: 29 out 2008]. Disponível em URL: http:// www.angonoticias.com/full _ headlines.php?id=21102. 4 Instituto Superior de Enfermagem de Angola, da Universidade Agostinho Neto – ISE [Citado em: 29 out 2008]. Disponível em URL: http://www.iseuan.ed.ao. 5 História de Angola. [Citado em: 13 out 2008]. Disponível em: http:// pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria _ de _ Angola. 6 Delgado R. História de Angola. v. 1. Angola: Banco de Angola; s.d. 7 Guia Turístico de Angola. [Citado em: 29 out 2008]. Disponível em: http://www.guiaturisticoangola.co.ao. 8 UNICEF. Dados básicos. [Citado em: 03 nov 2008]. Disponível em URL: http://www.unicef.org/angola/pt/children.html. 9 Angola Dicas. [Citado em: 03 nov 2008]. Disponível em: http://www. angoladicas.com/notices _ detail.asp?ID=10342&a=1. 10 Angola na Internet. Dados básicos. [Citado em: 27 out 2008] Disponível em: http://www.oecd.org/dataoecd/29/58/35350793.pdf. 11 Lei n. 7498 de 25 de julho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. DOU 1986 jul. 26: seção 1; 9273-5.
Normas para publicação Assinatura dos Autores: _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________
A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral, que tem por objetivo ser um dos principais veículos de divulgação do conhecimento na área de enfermagem no Brasil, promovendo, o desenvolvimento técnicocientífico dos profissionais, publicando trabalhos originais e inéditos, de revisão, atualização ou relatos de casos/experiências. Seu conselho editorial, que tem caráter consultivo, é constituído por pesquisadores em enfermagem, de origem institucional diversificada, e é o principal responsável pela qualidade do conteúdo da revista.
6. O(s) autor(es) deve(m) especificar no artigo indicação de financiamentos relacionados ao trabalho a ser publicado.
Apresentação do manuscrito
Categorias de manuscritos aceitos pela Revista
1. Os manuscritos apresentados devem destinar-se exclusivamente à Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico, no que se refere ao texto, às figuras ou tabelas, quer na íntegra ou parcialmente, excetuando-se resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de reuniões científicas. 2. Nas pesquisas envolvendo seres humanos, os autores deverão enviar uma cópia de aprovação emitida pelo Comitê de Ética, reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS 196/96 ou órgão equivalente no país de origem da pesquisa. O número do processo/projeto deverá constar no método do trabalho. 3. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem adota as normas do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (estilo Vancouver), publicadas no New England Journal of Medicine 1997; 336:309. 4. Figuras e tabelas deverão ser apresentadas em arquivo com boa resolução e separadas do texto (imagens com mínimo de 300 dpi). 5. O(s) autor(es) dos textos são por eles inteiramente responsáveis, devendo assinar e encaminhar a declaração de responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, conforme modelo abaixo.
(A) Artigos originais/Pesquisas – Investigação baseada em dados empíricos, concluída, utilizando metodologia científica e que possam ser aplicadas e generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora. Sua estrutura deve conter. – Introdução: apresentação e delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho. – Objetivo: especifica de maneira clara e sucinta a finalidade da pesquisa, com detalhamento dos aspectos que serão ou não abordados. Os objetivos podem ser definidos como gerais ou específicos a critério do autor. – Revisão da literatura: levantamento selecionado da literatura sobre o assunto que serviu de base à investigação do trabalho proposto. Proporciona os antecedentes para a compreensão do conhecimento atual sobre um assunto e esclarece a importância do novo estudo. Em algumas áreas, já existe a tendência de limitar a revisão apenas aos trabalhos mais importantes, que tenham relação direta com a pesquisa desenvolvida, priorizando as publicações mais recentes. Quando não houver necessidade de um capítulo para a Revisão da Literatura em função da extensão histórica do assunto, ela poderá ser incluída na Introdução. – Método: descrição completa dos procedimentos metodológicos que permitam viabilizar o alcance dos objetivos. Devem ser apresentados: tipo de pesquisa, dados sobre o local onde foi realizada a pesquisa, população estudada, tipo de amostra, variáveis selecionadas, material, equipamentos, técnicas e métodos adotados para a coleta de dados, incluindo os de natureza estatística. – Resultados: devem ser apresentados de forma clara e objetiva, sem interpretações ou comentários pessoais, podendo, para maior facilidade de compreensão, estar acompanhados por gráficos, tabelas, figuras, fotografias etc. – Discussão: deve restringir-se aos dados obtidos e aos resultados alcançados, enfatizando os novos e importantes aspectos observados e discutidas
Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais. Vimos submeter à aprovação da Revista SulBrasileira de Enfermagem o artigo _____________ ____________________________________________ ___________________________________________ __________________ e informamos que todos os procedimentos éticos devidos foram observados. Declaramos que o trabalho é inédito e está sendo enviado com exclusividade à Revista. Concordamos que, em caso de aceitação do mesmo, os direitos autorais a ele referentes passarão a ser propriedade exclusiva da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. Categoria do artigo: _________________________
Data: _____/_____/_____.
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as concordâncias e divergências com outras pesquisas já publicadas. – Conclusões: correspondem aos objetivos ou hipóteses de maneira lógica, clara e concisa, fundamentadas nos resultados e discussão, coerentes com o título, proposição e método. Incluem-se ainda as Referências Bibliográficas (12 páginas de Word, espaçamento duplo). (B) Artigos de revisão – Estudo crítico, abrangente e sistematizado da literatura sobre um assunto de interesse para o desenvolvimento da Enfermagem, devendo apresentar análise e conclusão. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). (C) Artigos de atualização ou divulgação – Trabalhos descritivos e interpretativos, com fundamentação sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo ou potencialmente investigativo. (05 páginas de Word, espaçamento duplo) (D) Experiência profissional/Relato de caso – Descrição de experiências assistenciais e de extensão, estudos avaliativos, originais contendo análise de implicações conceituais ou descrição de procedimentos com estratégias de intervenção, evidência metodológica apropriada de avaliação de eficácia, de interesse para a atuação de enfermeiros em diferentes áreas. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). Processo de julgamento dos manuscritos Após o recebimento, o artigo é inicialmente analisado quanto ao cumprimento das normas estabelecidas para publicação, sendo sumariamente devolvido em caso de não atendimento. Se aprovado, é encaminhado para avaliação de dois consultores ad hoc, escolhidos entre pesquisadores de renomada competência na área do artigo, que exibirão seus pareceres aceitando, recomendando modificações ou recusando o mesmo. (Em qualquer situação os autores serão comunicados.) Havendo discordância nos pareceres, o manuscrito é encaminhado a um terceiro relator. O anonimato é garantido durante todo o processo de julgamento. Os pareceres dos relatores são analisados pelo Conselho Editorial que, se necessário, indica as alterações a serem efetuadas. Os trabalhos seguem para publicação somente após a aprovação final dos pareceristas e do Conselho Editorial. Após a aceitação do trabalho, os autores serão comunicados da decisão, com a data prevista para publicação, o volume e o fascículo da Revista na qual o artigo será publicado. Os artigos não publicados não serão devolvidos, serão destruídos seis meses após o final dos trâmites da revista. Preparo dos manuscritos
• Folha de rosto com título que identifique o conteúdo em português e inglês, contendo o(s)
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nome(s) do(s) autor(es), a titulação e a instituição a que pertence(m). Serão aceitos até seis autores. • Resumo informativo em português e inglês (summary) com até 150 palavras. • Quatro unitermos (palavras-chave) que permitam identificar o assunto do artigo, apresentados em português e inglês (keywords). • Dados que permitam sua compreensão, como explicações sobre o sentido das abreviaturas e símbolos. • Errata: após a publicação do artigo, os autores, se identificarem a necessidade de uma errata, deverão enviá-la à Secretaria da Revista imediatamente e de preferência por e-mail. Referências bibliográficas (Exemplos) Artigos de periódicos:
• Padrão: Elias MS, Cano MAT, Mestriner W Jr, Ferriani MGC. A importância da saúde bucal para adolescentes de diferentes estratos sociais do município de Ribeirão Preto. Rev Latino-Americana de Enfermagem 2001 jan.; 9 (1):88-95 • Artigo com indicação de subtítulo: Diniz NMF, Lopes RLM, Almeida MS, Gesteira SMA, Oliveira JF. Psicodrama com estratégia pedagógica: vivências no ensino de graduação na área da saúde da mulher. Rev. Latino-am. Enfermagem 2000 ago.; 8(4);88-94. Materiais em formato eletrônico:
• Artigo de periódicos: Braga EM, Silva MJP. Como acompanhar a progressão da competência no aluno de enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP (periódico na Internet). 2006 (citado 2006 set. 28);40(3): (cerca de 7 p). Disponível em: http://.ee.usp.br/reeusp/ upload/pdf/258.pdf • Livro ou monografias: Alvarenga, RE. Cuidados paliativos domiciliares: percepções do paciente oncológico e seu cuidador. Porto Alegre: Moriá; 2005. Calil AM, Paranhos WY. O enfermeiro e as situações de emergência. São Paulo (SP): Atheneu; 2007 • Capítulo do livro ou monografia: Debert, GG. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: Cardoso RCL. A aventura antropológica. Teorias e pesquisa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1998. p.64-78.
• Dissertação e tese: Amarante ST. Analise das condições ergonômicas do trabalho das enfermeiras de centro cirúrgico. (dissertação). São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/ USP; 1999.
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• Anais: Carreiro FA. A Equipe de Enfermagem e o Corpo (do) Queimado Durante a Balneoterapia. In: Anais do 11º CBCENF-Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem; 2008 ago. 31 a set. 03; Belém-PA, Brasil. Envio do manuscrito Os artigos originais encaminhados para avaliação e publicação deverão ser enviados por e-mail ou correio para o endereço da editora constante no final destas normas, aos cuidados do Conselho Científico. Os autores deverão ser assinantes da revista. Os trabalhos que forem encaminhados via correio deverão ser acompanhados de CD, uma cópia impressa com figuras e tabelas, juntamente
com a Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, assinada por todos os autores, através de carta registrada ou sedex. Recomenda-se o uso do programa Word (papel formato A4; margens: superior 1,5 cm, inferior 1 cm; laterais 3 cm), bem como a fonte Times, tamanho 12, entrelinha dupla, em uma coluna. Pode conter ilustrações que sejam relacionadas com o assunto e tenham boa qualidade para impressão em cores ou em preto e branco (300 dpi). Texto justificado e com número de página no rodapé. Moriá Editora Ltda. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem Rua Aracy Fróes, 258 / 902 - Jardim ItuSabará - Porto Alegre/RS / CEP: 91210-230. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Tel. (51) 3351.2361.
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Curso
Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem Maira Buss Thofehrn
Aula 1: Relações Humanas no Trabalho: uma reflexão acerca da equipe na área da saúde Aula 2: Relações Humanas perpassando pelo Processo de Trabalho da Enfermagem
P
Aula 3: Relações Humanas Saudáveis na Equipe de Enfermagem Aula 4: Relações Humanas no Trabalho: liderança na enfermagem Aula 5: Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem: empoderamento político Aula 6: Relações Humanas no Trabalho da Enfermagem: dimensão da espiritualidade
Organizador a: Mair a Buss Thofehrn Doutora em Enfermagem, Conselheira cientiica da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, Professora do Programa de Pós-Graduação da Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem.
Colabor adores Helen Nicoletti Fernandes Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Adrize Rutz Porto Doutoranda em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mariana Rodrigues Soares Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Enfermagem. Membro do grupo de pesquisa NEPEn – Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem. Linha de Pesquisa: Processo de Trabalho em Saúde e Enfermagem.
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EMTRABALHO TERAPIA INTENSIVA RELAÇÕESATUALIZAÇÃO HUMANAS NO DA ENFERMAGEM 5 – VENTILAÇÃO MECÂNICA AULA 1: RELAÇÕES HUMANAS NO AULA TRABALHO: UMA REFLEXÃO ACERCA DA EQUIPE NA ÁREA DA SAÚDE
Aula 1: Relações Humanas no Tr abalho: uma reflexão acerca da equipe na área da saúde Nessa conjuntura de múltiplos elementos inseridos nas relações humanas, a construção dessas no ambiente de trabalho não é algo fácil nem simples ao envolver subsídios essenciais como a autenticidade e a confiança na interação entre as pessoas, a partir de que estes facilitam o conviver em grupo, havendo compartilhamento de práticas, crenças e saberes. O relacionamento interpessoal deve ser mediado e estabelecido por um nível de intimidade suficiente, evitando-se a formalidade3. Um tipo de confiança, que muito influencia na constituição das relações interpessoais é a personalizada, caracterizada pelo ato de acreditar em outras pessoas, englobando suas expectativas. Além disso, a cooperação entre os profissionais está ligada ao prazer no trabalho, pois sem esta qualidade não existe coletividade no trabalho4. Além disso, deve-se considerar a comunicação entre as pessoas como item que permite a concretização das relações humanas, uma vez que o diálogo significa partilhar ou compartilhar informações, fatos, ideias e significados, enfim, conteúdos que se tem em comum, sendo a comunicação fundamental para o exercício da influência, para coordenação de atividades grupais e para a efetivação do trabalho5. A comunicação interpessoal é constituída por alguns itens - a mensagem, o comunicador, o receptor e o meio. Alguns estudos sobre comunicação não verbal estimam que 7% dos sentimentos são transmitidos por palavras, 38% por sinais paralinguísticos (entonação da voz e velocidade com que as palavras são pronunciadas) e 55% pela expressão corporal6. Por isso, a comunicação interpessoal depende da capacidade de expressar o que se pensa, sente e precisa, pelo comunicador, em conjunto com a disposição do receptor em ouvir a mensagem5. Desse modo, a comunicação entre pessoas, para ser efetiva, necessita de um esforço mútuo entre quem deseja transmitir a mensagem e quem recebe o conteúdo, o que representa o diálogo em um processo criativo e desafiador. Além do mais, a comunicação é fundamental para o universo terapêutico, como condição indispensável ao processo de resolução de problemas, permitindo que as ações não sejam realizadas de forma indiscriminada e arbitrária, mas sim com qualidade e específicas às necessidades individuais dos usuários. Aponta-se que, na saúde, o processo comunicacional pode ser um instrumento capaz de modificar a realidade, a partir da troca de informações, experiências e conhecimentos7. Nesse sentido, a linguagem se estabelece a partir da comunicação e da interação social.
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MAIRA BUSS THOFEHRN | HELEN NICOLETTI FERNANDES | ADRIZE RUTZ PORTO | MARIANA RODRIGUES SOARES
O trabalho da área da saúde possui propriedades peculiares que o diferem dos demais. Dentre tais características, destaca-se que esse tipo de labuta é realizado por um trabalhador coletivo, uma equipe, de maneira que não há profissional de saúde que sozinho satisfaça o mundo das necessidades de saúde. Distingue-se também por ser uma prestação de serviços e ações de rotina que acontecem na relação com o outro, de uma pessoa, o labutador, para outra, o usuário do sistema de saúde. A realização do trabalho nessa área afeta as relações entre os membros das equipes de saúde entre eles e os usuários e familiares. Neste texto, abordam-se as relações humanas entre os profissionais, compreendendo-se que o modo como se estabelecem essas relações, reflete igualmente nos relacionamentos com os usuários e na qualidade da prestação do cuidado. Nesse contexto, aponta-se que as condições em que ocorrem os relacionamentos definem a forma de convivência entre os seres humanos, os quais são seres de relações, e destes com a natureza, fazendo a diferença entre sofrimento e bem-estar e determinam como a vida social constrói-se em seu cotidiano, logo mais no trabalho dos indivíduos, o qual ocupa tempo e espaço relevante na vida das pessoas(1). Dessa maneira, os relacionamentos fluem a partir de interações recorrentes, sendo um processo vital, construindo e estabelecendo um instrumento de trabalho essencial para o seu desenvolvimento, e a forma com que este se constitui proporciona a qualidade do serviço prestado. O trabalho presente nas organizações de saúde é permeado pela utilização de tecnologias duras, semiduras e leves pelos profissionais2. Traz-se em questão o uso dessas tecnologias, especialmente, as leves, por muitas vezes serem desvalorizadas no ambiente de trabalho pelos próprios labutadores em detrimento das tecnologias duras e semiduras. As tecnologias leves dizem respeito às relações entre trabalhadores, produzidas por meio das interrelações entre sujeitos, enquanto as tecnologias duras se referem aos equipamentos e as semiduras aos saberes estruturados. Pelo fato de a assistência em saúde ser desenvolvida por intermédio do envolvimento entre trabalhadores e usuários, não se deve deixar de considerar a importância das tecnologias leves, as quais poderão colaborar na formação de condições mais propícias, por meio da troca afetiva, troca de conhecimentos, ideias, experiências e, principalmente, da oferta de um ambiente de trabalho saudável; contribuindo para a produção de um cuidado qualificado2.
MAIRA BUSS THOFEHRN | MAIRA BUSS THOFEHRN | HELEN NICOLETTI FERNANDES | ADRIZE RUTZ PORTO
VENTILAÇÃO MECÂNICA IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM RELAÇÕES HUMANAS-NO TRABALHO DA ENFERMAGEM AULA 5 –TRABALHO: VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA AULA 1: RELAÇÕES HUMANAS NO UMA REFLEXÃONÃO ACERCA DA EQUIPE NA ÁREA DA SAÚDE
Assim, o processo de comunicação permite o estabelecimento de uma equipe coesa, desde que este instrumento não seja utilizado como um processo mecânico, e sim com a constituição de uma comunicação positiva, que envolva diálogo, autenticidade e solidariedade e, por consequência, favoreça os laços de amizade e fortaleça os vínculos entre os profissionais8. Dessa maneira, a autenticidade, a confiança, a cooperação e a comunicação são interações recomendadas e indispensáveis no ambiente de trabalho, tornando-o mais prazeroso e saudável possível, pois é na interação entre as pessoas, que podem surgir sentimentos positivos e negativos. Os sentimentos positivos aumentarão as interações e a cooperação, favorecendo o desenvolvimento das atividades; já os negativos diminuirão a interação e a comunicação, ocasionando o afastamento das pessoas e desfavorecendo o desempenho das tarefas9. Destaca-se que no desempenho de atividades do grupo de labuta, a cooperação e a comunicação são denominadores também comuns ao trabalho em equipe, o qual decorre da relação recíproca entre intervenções técnicas e interação. Para se atingir o trabalho em equipe, o vocábulo equipe precisa ser compreendido pelos profissionais como um conjunto ou grupo de pessoas que desempenham uma tarefa, considerando os objetivos em comum e as relações interpessoais, com diálogo e discussão sobre o planejamento das propostas e metas de trabalho10. Sob esse ponto de vista, na realização de uma tarefa é preciso atentar como se constituem as relações de poderes no ambiente de trabalho, se estas são predominantemente horizontais ou verticais. O poder de forma vertical remete a uma forma de interação por informes escritos, podendo haver uma transmissão desigual de responsabilidades. Já a forma horizontal de hierarquização do trabalho é indicada por se referir a uma interação dialogada entre os profissionais, permitindo a divisão de poderes, a troca de informações e a corresponsabilização por parte de todos integrantes da equipe de trabalho11-12. Para os profissionais da saúde, as relações de poder se dão, geralmente, na forma de estilos de liderança e no trabalho em equipe, em que o enfermeiro acaba por assumir este lugar de líder(13). Ressalva-se que na prática de gestão existem dissonâncias em relação ao discurso quando não há o reconhecimento da relação de poder ou na ausência de uma política estruturada que reflita um tratamento multidisciplinar do trabalho em equipe14. Cabe ressaltar que os estilos de liderança adotados podem ser de quatro formas distintas: autocrática, democrática, situacional e permissiva. Na primeira, tem-se um líder autoritário, que
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detém o poder e centra-se na execução de tarefas. O segundo tipo de líder age com maior liberdade, propiciando discussões no grupo, mas recebendo sempre o maior controle nestas15. O líder situacional determina-se por características próprias de cada elemento, levando em consideração o posicionamento de cada um no grupo. Por fim, o permissivo ou o laissez-faire, como também pode ser conhecido, distingui-se pela permissividade absoluta, deixando a tomada de decisões para o grupo15. Portanto, a liderança deve ser vista de forma a envolver responsabilidade, compromisso, empatia, habilidade de tomar decisões, comunicação e gerenciamento. Como atributos da liderança são destacados ainda o planejamento, as estratégias, a comunicação, o poder, a negociação e o gerenciamento de conflitos16. Visualiza-se no ambiente de trabalho que os líderes lidam diariamente com conflitos internos e externos, falhas na comunicação, conflitos de personalidade e diferença de valores. O conflito pode ser expresso, pelo aumento de crítica e discussões por parte dos membros da equipe. Este acaba gerando a desorganização e a desestabilização da equipe, ao ser um gerador de estresse, ocasionando, por consequência, a diminuição da qualidade do trabalho e da assistência prestada ao cliente17. No entanto, o conflito igualmente possui elementos positivos que possibilitam a exteriorização de sentimentos, de pensamentos e de ideias que podem, por meio de uma discussão concisa, propor novas formas de realização do trabalho e, além disso, auxiliar no manejo de um ambiente de trabalho onde todos os membros da equipe sintam-se atuantes e estimulados para o desenvolvimento coletivo do trabalho. O conflito, sendo parte da inquietação de um ou mais indivíduos, pode também ser visto como uma forma de refletir sobre o trabalho, propondo mudanças e possíveis melhorias. Assim sendo, cabe ressaltar que o significado da palavra equipe é superior ao ato de reunir pessoas, erroneamente vista, diversas vezes, pelos profissionais da saúde, como um agrupamento de trabalhadores. Com isso, uma equipe propriamente dita possibilita interação, articulação entre os colegas, cooperação e integração. O progresso coletivo e a ação em equipe produzem melhores resultados, geram mais informações e conhecimentos e podem, consequentemente, administrar os conflitos e produzir vínculos profissionais saudáveis18. No âmbito da interdisciplinaridade no trabalho em saúde as competências profissionais e interpessoais tendem a nortear a qualidade do ambiente do trabalho para uma perspectiva mais colaborativa, satisfatória e integradora19. A primeira significa o
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RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO DA ENFERMAGEM AULA 1: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO: UMA REFLEXÃO ACERCA DA EQUIPE NA ÁREA DA SAÚDE
Referências 1 Leitão SP, Fortunato G, Freitas AS. Relacionamentos interpessoais e emoções nas organizações: uma visão biológica. RAP Rio de Janeiro 2006; 40(5):883-907. 2 Merhy EE. Um ensaio sobre o médico e suas valises tecnológicas: contribuições para compreender as reestruturações produtivas do setor saúde. Interface 2000; 4(6):109-16. 3 Alonso ILK. O processo educativo em saúde na dimensão grupal. Texto e Contexto Enfermagem 1999; 8(1):122-32. 4 Valentim IVL, Kruel AJ. A importância da confiança interpessoal para a consolidação do Programa de Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva 2007; 12(3):777-88.
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MAIRA BUSS THOFEHRN | HELEN NICOLETTI FERNANDES | ADRIZE RUTZ PORTO | MARIANA RODRIGUES SOARES
desempenho com base em conhecimentos técnicos, e a segunda refere-se à habilidade em se relacionar com as pessoas. Uma depende da outra, ou seja, não basta adquirir conhecimentos e experiências técnicas sem o relacionamento e a interação com os demais componentes da equipe, pois estes também propiciam um crescimento profissional20. Na esfera da atenção em saúde, é apontada a cogestão como um modo de administrar, que inclui o pensar e o fazer coletivo, tornando-a participativa. O modelo de gestão que o Ministério da Saúde propõe está centrado no trabalho em equipe, na construção coletiva e no poder compartilhado, nos quais análises, decisões e construções são realizadas coletivamente. Essas questões irão proporcionar motivação, capacidade de reflexão e aumento da autoestima dos profissionais, fortalecendo o desempenho no trabalho21. Por isso, as relações interpessoais saudáveis entre a equipe tendem a produzir cuidados de saúde efetivos às pessoas, uma vez que proporcionam a capacidade de socializar ideias, saberes e experiências entre os profissionais, beneficiando não apenas quem está administrando cuidados, mas também quem está recebendo estes cuidados.
Curso
TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM Graziella Gasparotto Baiocco
Aula 1 : Princípios da Terapia Intravenosa para o Enfermeiro e Segurança do paciente Aula 2 : Anatomia e fisiologia do sistema vascular Aula 3: Avaliação da rede venosa e opções para escolha do acesso Aula 4: Curativo e estabilização dos acessos Aula 5: Complicações da Terapia Intravenosa e intervenções Aula 6: Principais Diagnósticos de Enfermagem na Terapia Intravenosa
MÁRCIO NERES DOS SANTOS / FÁBIO DA ROSA / ODON MELO SOARES
Aula 7: Especificidades da Terapia Intravenosa
Organizador a: Enfermeir a Gr aziella Gasparotto Baiocco Mestre em Medicina e Ciências da Saúde pela PUC – RS, Especialista em Nefrologia pela SOBEN, Especialista em Terapia Intensiva pela UNISINOS – RS. Enfermeira responsável pelo setor de Segurança do Paciente do Grupo Hospitalar Conceição. Membro do Conselho Cientíico da Revista Sul- Brasileira de Enfermagem. Professora Convidada do Instituto de Ensino e Pesquisa da Associação Hospitalar Moinhos de Vento, Instrutora do Centro de Treinamento C-Vist para o Curso de habilitação de enfermeiros para inserção e manutenção do CCIP guiados por ultrasom. Email: grazigasparotto@terra.com.br
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TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM AULA 1 : PRINCÍPIOS DA TERAPIA INTRAVENOSA PARA O ENFERMEIRO E SEGURANÇA DO PACIENTE
AULA 1 : Princípios da Ter apia Intr avenosa par a o Enfermeiro e Segur ança do paciente vaso calibroso tal como a veia cava superior. A eficácia do procedimento foi comprovada na década de 1950, quando se observou que as drogas que alcançavam os grandes vasos se diluíam, diminuindo assim os riscos de reações inflamatórias e tromboses5. Para a Infusion Nurses Society (INS), o enfermeiro que realiza a terapia intravenosa precisa ter um preparo específico, que lhe permita desenvolver as habilidades e competências para a realização segura da terapia1. A administração de líquidos por via endovenosa é realizada no hospital ou no ambiente domiciliar e tem como finalidades reposição de líquidos, administração de medicamentos e fornecimento de nutrientes quando nenhuma outra via está disponível6. Toda terapia intravenosa tem como princípios básicos: uma prescrição médica clara, concisa, legível, assinada e datada; a implantação do processo de enfermagem; a identificação correta do paciente; a confirmação da terapia indicada; e a consideração dos direitos do paciente – orientação clara ou recusa ao tratamento. Tais princípios almejam: o sucesso da terapia; a minimização das complicações relacionadas; o conforto e satisfação do paciente; e a redução de custos e suprimentos7. O objetivo da terapia intravenosa é dividido em três importantes categorias: - terapia de manutenção: tem como prioridade a reposição das perdas insensíveis, fornecendo nutrientes que suprem as necessidades diárias do paciente de água, eletrólitos e glicose; - terapia de reposição: é necessária para suprimento de fluidos eletrólitos e hemocom-ponentes em pacientes que apresentam déficit devido a estresse agudo tais como hemorragias, plaquetopenias, vômito, diarreia e jejum; e - terapia de correção: para perdas contínuas, é alcançada em base de uma avaliação diária, sendo que a restauração do desequilíbrio hidroeletrolítico é imperiosa para a manutenção da homeostasia8. Inúmeros dispositivos intravenosos são utilizados no ambiente hospitalar para administração de fluídos e medicamentos, administração de nutrição parenteral e monitoramento hemodinâmico, entre outros. Estes permitem acesso rápido à corrente sanguínea, e cada dispositivo tem sua real indicação, assim como suas potenciais complicações4.
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A terapia intravenosa não se resume à simples técnica para execução de uma terapêutica. Conhecimentos em diferentes áreas e especialidades direcionam as ações desenvolvidas por um equipe multiprofissional, que contam ainda com recursos tecnológicos de ponta1. As terapias intravenosas são amplamente utilizadas em diversos tratamentos no ambiente hospitalar e também no domicílio. Para tanto, se faz necessária a implantação de acessos venosos para a manutenção terapêutica. Neste contexto, o papel da enfermagem é de extrema importância na instalação e na manutenção desses acessos. Os enfermeiros devem optar pela escolha de um cateter adequado à terapia prescrita, levando em conta o tipo de tratamento e o tempo necessário, de modo que proporcione um acesso confiável para administrar as infusões com qualidade e segurança aos pacientes2. A terapia intravenosa iniciou com a descoberta da circulação sanguínea, em 1616, por Sir William Harvey. Ele descobriu que o coração é tanto um músculo quanto uma bomba e passou a lecionar e instruir novos médicos pela Europa2. A infusão de solução salina em pacientes para tratar casos de diarreia incurável foi utilizada pela primeira vez em 1832, durante uma eclosão de cólera na Ásia e na Europa, pelo Dr. Thomas Latta, que publicou seus resultados em The Lancet no mesmo ano, registrando que, dos vinte e cinco casos pesquisados e tratados com solução salina, oito pacientes sobreviveram2. Durante o século XIX, houve grandes avanços da medicina, e um dos primeiros foi a transfusão entre humanos realizada pela primeira vez em 1834, em Londres. Na segunda metade do século XIX, os conhecimentos sobre bacteriologia, patologia e farmacologia revelaram novos caminhos e resolução de problemas para a medicina. Em 1889, a lavagem das mãos e o uso de luvas em procedimentos cirúrgicos foram iniciados por William Halsted, o que diminuiu a mortalidade em até 90%3. A terapia intravenosa teve início com a fabricação da agulha hipodérmica, veio evoluindo constantemente e hoje substitui quase que por completo as outras vias de administração para tratamento com líquidos e eletrólitos, tendo se tornado parte importante na terapêutica dos internados, domiciliares e ambulatoriais4. Em 1929, descobriu-se que um vaso central poderia ser acessado através de uma punção periférica, e que através da introdução de um tubo de borracha se conseguiria migrar até um
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TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM AULA 1 : PRINCÍPIOS DA TERAPIA INTRAVENOSA PARA O ENFERMEIRO E SEGURANÇA DO PACIENTE
A qualidade do cuidado à saúde, conforme o Institute of Medicine, é o grau em que os serviços prestados ao paciente diminuem a probabilidade de resultados desfavoráveis e aumentam a probabilidade de resultados favoráveis de acordo com o conhecimento científico corrente9. Nas últimas décadas, publicações de eventos adversos, negligências e incidentes de morte aparentemente evitáveis, decorrentes de procedimentos cirúrgicos, anestésicos e infecções relacionadas à assistência à saúde, têm levado as organizações da área da saúde a investigar suas causas e propor programas visando a conscientizar os profissionais e a reduzir os riscos de danos aos pacientes. A segurança do paciente tornou-se parte prioritária na maioria das organizações internacionais e nacionais da área da saúde, devido à sua importância e ao fato de os serviços, inevitavelmente, envolverem riscos. Assim sendo, é apresentado, a seguir, um breve histórico do movimento de segurança do paciente10. Os esforços conjuntos de organizações, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a The Joint Commission International (JCI), são expressos nas iniciativas de campanhas, programas e projetos para a segurança do paciente – alguns já foram implementados e outros estão em fase de implantação. Essas iniciativas têm servido de base para que organizações de abrangência nacional, em diversos países, desenvolvam estratégias semelhantes, como no caso do Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)11-14. Segundo a OMS, nos países desenvolvidos, estima-se que um em cada dez pacientes internados em hospitais tem algum dano ao receber cuidados. No mundo em desenvolvimento, o número é provavelmente muito maior. Em 2007, foram publicadas pela OMS, em parceria com as organizações JCI, as Nove Soluções para a Segurança do Paciente (Solutions for Patient Safety), que são estratégias ou intervenções, descritas em termos simples, voltadas para prevenir ou reduzir o risco de dano ao paciente decorrente do processo de cuidado de saúde inseguro. As soluções relacionadas à terapia intravenosa são14: 1. Medicamentos com nome e som do nome semelhante – causa comum de erro de medicação é a confusão gerada por medicamentos com nomes parecidos e/ou embalagens com aparência semelhante; 2. Identificação do paciente – a falha na correta identificação do paciente leva, com frequência, a erros de medicação; 3. Controledesoluçõeseletrolíticasconcentradas – fármacos, soluções, hemocomponentes, contrastes para realização de exames, dentre outras soluções, apresentam características de risco para a ocorrência de complicações, inclusive morte, associado ao uso inadequado;
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4. Segurança na medicação nas transições de cuidados – processo que compara a atual prescrição de medicamentos com os que o paciente já está usando, durante as transições de cuidado, que incluem a transferência entre serviços, profissionais ou níveis de cuidado; 5. Conexões corretas entre cateteres e sondas – a conexão inadequada de tubos, seringas e cateteres leva ao extravasamento de fluidos e medicamentos e provoca sérios danos aos pacientes. A apresentação desses dispositivos possibilita sua conexão inadvertida, permitindo a ocorrência de erros por infusão de fármacos ou soluções em vias erradas; 6. Uso único de dispositivos injetáveis – a reutilização de seringas e agulhas contribui significativamente para a transmissão dos vírus da imunodeficiência humana (HIV), vírus das hepatites B e C, assim como a contaminação de frascos de medicamentos de múltiplas doses; 7. Higiene das mãos para prevenir infecções associadas ao cuidado de saúde – a higienização adequada das mãos é a medida mais importante e reconhecida há muitos anos para prevenir e controlar infecções nos serviços de saúde. As responsabilidades dos enfermeiros que atuam na terapia intravenosa, de acordo com a Infusion Nurses Society Brasil (2008), são15: • instalar cateteres intravenosos; • administrar drogas, soluções e hemocomponentes; • monitorizar e realizar manutenção dos sítios e sistemas IV; • avaliar o paciente quanto à terapia prescrita; • orientar o paciente e a família sobre o procedimento; • registrar informações pertinentes; • compilar estatísticas para qualificar e quantificar o serviço; • implementar monitorização de eventos adversos e estabelecer a cultura da segurança nas instituições; • instituir medidas de prevenção de erros relacionados à terapia intravenosa; • promover análise constante do alcance de metas de eficiência e segurança; • ao preparar medicamentos, realizar dupla checagem com calculadora e outro colega; • disponibilizar, nas unidades, guias de padronização de medicamentos; • utilizar um local calmo para o preparo dos medicamentos; • utilizar bombas de infusão para controle das drogas específicas e/ou vazão abaixo de 20 ml/h.
Em relação às infecções relacionadas à assistência à saúde, os cateteres venosos centrais
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TERAPIA INTRAVENOSA PARA ENFERMAGEM AULA 1 : PRINCÍPIOS DA TERAPIA INTRAVENOSA PARA O ENFERMEIRO E SEGURANÇA DO PACIENTE
(CVCs) são os mais comumente associados às infecções primárias de corrente sanguínea. O impacto dessa complicação infecciosa no ambiente hospitalar traduz-se em prolongamento da hospitalização, reinternação, sequelas, incapacidade para o trabalho, aumento de custos e óbito, conforme a Anvisa (2010) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (2011)12,16. Diante disso, algumas organizações, tais como o Institute of Healthcare Improvement (IHI) e a OMS, não têm medido esforços para reduzir tais complicações. Nesse contexto, várias experiências de sucesso estão sendo publicadas, por meio das quais se relata a implementação de um conjunto de práticas baseadas em evidência, os Bundles, como medidas de prevenção altamente eficazes na redução dessas infecções. O racional dessa estratégia é considerar que as medidas, ao serem implementadas conjuntamente, possuem melhor resultado quando implementadas separadamente16-17.
• Institute for Healthcare Improvement (IHI). 5 million lives campaign: prevention central line infections how-to guide. Disponível em: http://www.ihi.org/ explore/CentralLineInfection/Pages/default.aspx; • Safer healthcare now! campaign: Disponível em: http://www.saferhealthcarenow.ca/EN/Interventions/ CLI/Pages/default.aspx; • On the cusp: stop hai. Disponível em: http://www. onthecuspstophai.org/stop-bsi/; • Vital signs: Disponível em: http://www.cdc.gov/ vitalsigns/HAI/?s _ cid=vitalsigns _ 051.
A terapia intravenosa, como especialidade dinâmica e em constante evolução, tornou-se onipresente no cuidado ao paciente. A sua natureza invasiva e seu risco de desenvolver complicações exige que todos os profissionais de saúde envolvidos nos cuidados a ela relacionados tenham acesso atualizado à informação cientifíca. Na complexidade dos serviços de saúde, a segurança do paciente é fundamental, agora mais do que nunca18.
Referências 1 Harada MJCS, Pedreira MLG. Terapia intravenosa e infusões. São Caetano do Sul; 2011. 2 Phillips LD. Manual de terapia intravenosa. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. 3 Freitas LCM, Cury MAL, Mariz RGA, Miranda MC. Terapia intravenosa. Módulo 3: Cateteres venosos centrais de longa permanência. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura; 2000. 4 Worthington T, Elliot TSJ. Diagnosis of central venous catheter related infection in adults patients. Journal of Infection 2005; 51:267-80. 5 Silva GRG, Nogueira MFH. Terapia intravenosa em recém-nascidos. Orientação para cuidados de enfermagem. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2004. 6 Smeltzer SC, Bare BG et al. Brunner e Sudarth. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011. 7 Ingle RJ. Rare complications of vascular access devices. Seminars in Oncol Nurs. 1995; 11(3):221-6. 8 Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva (SOBETI). Curso de qualificação em inserção, Utilização e cuidados com o CCIP Neonatologia/pediatria e adultos. São Paulo; 2004. 9 IOM Institute of Medicine. National roundtable on health care quality. Measuring the quality of healthcare. Washington DC: National Academy Press; 1999. [acessado em: 26 ago. 2011]. Disponível em: http://www.nap.edu/readingroom. 10 Berenholtz SM, Pronovost PJ, Lipsett PA, Hobson D, Earsing K, Farley JE, Milanovich S, Garrett-Mayer E, Winters BD, Rubin HR, Dorman T, Perl TM. Eliminating catheter related bloodstream infections in the intensive. Crit. Care Med. Oct 2004; 32(10):2014-20. 11 The Joint Commission. Patient safety. Disponível em: http://www. jointcommission.org/topics/patient _ safety.aspx. 12 Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa n. 4, de 24 de fevereiro de 2010. Dispõe sobre indicadores para avaliação de Unidades de Terapia Intensiva. 2010. 13 Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Critérios nacionais de infecções relacionadas à assistência à saúde – corrente sanguínea. set. 2009. 14 World Health Organization (WHO). Patient safety. [acessado em: 26 ago 2011]. Disponível em: http://www.who.int/patientsafety/en/. 15 Carrara D et al. Diretrizes práticas para terapia intravenosa. Infusion Nurses Society do Brasil. São Paulo; 2008. 16 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Vital signs: central line-associated blood stream infections – United States, 2001, 2008 and 2009. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 04 mar. 2011; 60(8):243-8. 17 O’Grady NP et al. Guidelines for the prevention of intravascular catheter-related infections. Am. J. Infect. Control. May 2011; 39 4 suppl 1:S1-34. 18 Baiocco et al. Cateter central de inserção periférica – CCIP na prática de enfermagem. Porto Alegre: Moriá; 2013.
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Congressos e Eventos em 2013 Evento
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Ausculta Cardíaca
Instituto de Cardiologia de Porto Alegre - RS
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I Seminário de Enfermagem da Feevale – cuidado com paciente onco-hematologico
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Semana de Enfermagem
Instituto de Cardiologia de Porto Alegre - RS
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24ª Semana de Enfermagem do Hospital de Clinicas de Porto Alegre
Anfiteatro Carlos Cesar de Albuquerque
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3ª Jornada Internacional de Enfermagem Unifra
Unifra – Santa Maria - RS
21 a 23 de maio
www.jornadadaenfermagem. unifra.br
17º Seminário Nacional de Pesquisa da Enfermagem
Natal - RN
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XII Simpósio da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Oftalmologia
Ribeirão Preto - SP
21 e 22 de junho
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IV Congresso Brasileiro de Enfermagem em Emergência
Fecomercio – São Paulo - SP
10 A 12 de julho
www.cobeem.com.br
X Jornada de Enfermagem
Instituto de Cardiologia de Porto Alegre - RS
12 e 13 de julho
cce@cardiologia.org.br
11º Congresso Brasileiro de Enfermagem de Centro Cirúrgico, RA e CME
Palácio de Convenções do Anhembi
24 a 27 de julho
www.sobecc.org.br
11º Sinaden-Simpósio Nacional de Diagnóstico em Enfermagem
Curitiba - PR
01 a 03 de agosto
www.abeneventos.com.br
ConTIC -Congresso Tecnologia e Humanização na Comunicação em Saúde
Ribeirão Preto - SP
05 a 07 de agosto
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IX Encontro Nacional de Gerenciamento de Enfermagem
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65º Congresso Brasileiro de Enfermagem
Sul América – Rio de Janeiro - RJ
07 a 10 de outubro
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Congressos e Eventos em 2013 Evento
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36º Congresso Brasileiro de Pediatria
Expotrade – Curitiba - PR
08 a 12 de outubro
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11º Encontro de Higienização e Lavanderia Hospitalar da Região Sul
Anfiteatro do Hospital de Clínicas de Porto Alegre - RS
24 e 25 de outubro
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IV Simpósio de Gestão em Serviços de Enfermagem
Auditório 220 – Prédio 1 – Ulbra/Canoas - RS
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VII Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Centro de Eventos da UFSC
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IV Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas
João Pessoa - PB
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Urgência e emergência na prática de enfermagem 1ª edição Organizadores: Márcio Neres dos Santos e Odon Melo Soares
A criança e o adolescente: O que, como e por que cuidar? 1ª edição Organizadoras: Fatima Rejane Ayres Florentino | Simone Travi Canabarro
Para mais informações e pré-venda: Revista Sul-Brasileira Enfermagem moriaeditora@gmail.com | (51)de 9116.9298 / 3334-4753
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