Ano 1 vol 03

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Conselho Científico Presidente do Conselho Cientíico

Profa Dra Regina Helena Medeiros UCS - Universidade de Caxias do Sul

EXPEDIENTE Editora: Lisiane Palau Azevedo Editora Cientíica: Regina Medeiros Assistente Editorial: Gilberto Dias de Azevedo gilberto@moriaeditora.com.br Produção: Álvaro Lopes (Publikmais) contato@publikmais.com.br Revisão de Português: Suliani Editograia Vendas: pedidos@moriaeditora.com.br (51) 3351-2361 / 3334-4753 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é um periódico cientíico, cultural e proissional bimestralmente lido por 5.000 proissionais de enfermagem. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem não aceita matéria paga em seu espaço editorial. Circulação: em todo território nacional. Seis números anuais: janeiro/fevereiro, março/ abril, maio/junho, julho/agosto, setembro/outubro e novembro/dezembro. Data da Impressão: agosto/ 2011. Correspondência: Moriá Editora Ltda. Rua Aracy Fróes, 258 / 902 Jardim Itu Sabará - Porto Alegre/ RS CEP: 91.210-230 Tels.: (51) 9116.9298 / (51) 3334.4753. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com

Profa Doutoranda Adriana Aparecida Paz UFCSPA - Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre

Profa Dra Marlene Gomes Terra UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Dr. Ari Nunes Assunção Unisc – Universidade de Santa Cruz do Sul

Profa Dra Nara Marilene Oliveira Giradon Perlini UFSM- Universidade Federal de Santa Maria

Profa Dra Beatriz Regina Lara dos Santos PUC-RS Dra Dulcinéia Ghizoni Schneider Unisul /SC Profa Dra Erica Rosalba Mallmann Duarte UFRGS - Universidade Federal do RS Profa MS Graziella Gasparotto Baiocco Universidade Feevale Profa Doutoranda Iride Cristofoli Caberlon Ulbra - Universidade Luterana do Brasil-Gravataí Profa Dra Lisia Maria Fenstersefer Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos Profa Doutoranda Lisnéia Fabiani Bock IPA - Rede Metodista de Educação do Sul

Revista Sul-Brasileira de Enfermagem reservase todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção PanAmericana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela Moriá Editora que, em qualquer situação, agirá como detentora dos mesmos. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral. Publica trabalhos originais das diferentes áreas da Enfermagem, Saúde e áreas ains, como resultados de pesquisas, artigos de relexão, relato de experiências e discussão de temas atuais.

ISSN 2236-0417

Profa Dra Nilva Lúcia Rech Stedile UCS – Universidade de Caxias do Sul Profa Dra Regina Gema Santini Costenaro Unifra - Centro Universitário Franciscano Profa Dra Rita Catalina Aquino Caregnato Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profa Dra Roseana Maria Medeiros Profa Dra Sandra Maria Cezar Leal Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos Enfa Estomaterapeuta Silvana Janning Prazeres SOBEST – RS

Profa Dra Lorena Terezinha C. Geib UPF - Universidade de Passo Fundo Profa Dra Luzia Fernandes Milão Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Doutoranda Magada Tessman Schwalm Unesc /SC Profa Dra Maira Buss Thofehrn UFPel -Universidade Federal de Pelotas Doutoranda Maritê Inez Argenta Faculdade Estácio de Sá/SC

Números avulsos: R$ 40,00 Periodicidade: Bimestral Distribuição: Via Correios

Doutoranda Nára Selaimen G. de Azeredo Grupo Hospitalar Conceição - Porto Alegre/RS

Profa Dra Maria Bettina Camargo Bub UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina Prof Dr Maria da Graça de Oliveira Crossetti UFRGS - Universidade Federal do RS a

Profa Dra Solange Machado Guimarães Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Profa Dra Sonara Lucia Estima Unilasalle - Centro Universitário La Salle Profa Dra Sonia Beatriz Cocaro Souza UFRGS - Universidade Federal do RS Profa MS Terezinha Valduga Cardoso Ulbra - Universidade Luterana do Brasil IAHCS Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde

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Profa MS Vera Lucia Fortunato Fortes UPF - Universidade de Passo Fundo

Ficha Catalográfica R 454 Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. - Vol. 1, nº 1(março/abril. 2011). Porto Alegre: Moriá Editora Ltda., 2011. -V. Bimestral ISSN 2236-0417 1. Enfermagem-Periódicos NLM WY 1 Bibliotecária Responsável – Maria Laura Martins Scheidemandel CRB10-581

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Sumário Página 03

Editorial Artigos

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A Dinâmica de grupo enquanto instrumento no processo de trabalho da Enfermagem The group dynamics while implement in the nursing work Adrize Rutz Porto, Daiane Dal Pai, Josiane Santos Palma, Leandro Joner, Maira Buss Thofehrn, Simone Coelho Amestoy

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Elaboração do protocolo de inserção, manutenção, cuidados e retirada do Cateter Central de Inserção Periférica (PICC) no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre Elaboration protocol of insertion, support, care and removal of Peripheral Insert Central Catheter (PICC) in the Hospital Emergency Room Porto Alegre Lisneia Fabiani Bock, Marilene Hartmann Iop, Maria Augusta Moraes Soares, Valéria da Rosa Pontes

Página 13

Gerenciamento do enfermeiro e o cuidado humanizado Management of nursing care and humanized Epitágoras Vieira Pacheco, José Otavio Feltrin, Mônica Carine de Carvalho Pacheco, Neiva Junkes Hoepers, Valdemira Santina Dagostin

Página 17

Mulheres enfermeiras continuam consumadas por discursos masculinizados – a velha imagem renovada por discursos viciados Women nurses continue consummated by masculinized speeches – the old image of renewed talks addicts Las mujeres enfermeras siguen consumada por discursos masculinizados – la vieja imagen de los adictos se reanuden las negociaciones Edla Eggert, Roseana Maria Medeiros

Página 23

Pós-Operatório: avaliação de enfermagem dos pacientes submetidos a facectomia Postoperative: evaluation of nursing of the submitted patients the cataract surgery Postoperatorio: evaluación del oicio de enfermería de los pacientes sometidos la cirugía de catarata Luciane da Cunda Gomes, Rita Catalina Aquino Caregnato

Página 28

Normas para publicação

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Eventos Cientíicos

Página 32

Atualização em terapia Intensiva – Aula 3: Interpretação de ECG e arritmias

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Notícias

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Revista Sul-Brasileira de Enfermagem


Editorial REFLETINDO SOBRE ÉTICA E MORAL NA SAÚDE Este ano permitiu materializar um grande sonho acalentado por muitos de nós: publicar uma revista de Enfermagem produzida no sul do país, a “Revista Sul-Brasileira”. Reconhecidamente foi um grande desafio transformar este sonho em realidade; contudo, o desafio continua, no compromisso de mantê-la em circulação com qualidade, publicando artigos que permitam o aperfeiçoamento e atualização, tanto dos leitores que apostaram e confiaram na Revista quanto, a cada dia mais, dos novos leitores, contribuindo para a qualificação e divulgação do trabalho da Enfermagem. Ciente deste compromisso considero ser uma grande responsabilidade, bem como um grande prazer, escrever o editorial deste terceiro número. Pensando em dar continuidade aos editoriais anteriores, acredito oportuna breve reflexão sobre “ética e moral”, tema de fundamental importância tanto para a Enfermagem quanto para todo o ser humano, muitas vezes, infelizmente, pouco valorizado e até esquecido nos tempos atuais. Dilemas éticos e morais permeiam o cotidiano do trabalho dos profissionais da saúde. Porém, dificilmente são discutidos e abordados amplamente, pois o tema “não dá ibope”. Certamente os avanços da ciência e da técnica geram maior interesse do que refletir sobre tema tão explorado por inúmeros filósofos, mas ignorado atualmente por muitos. Trabalhando há três décadas na área da saúde, percebi muitos profissionais, tanto da enfermagem quanto da medicina, preocupando-se essencialmente com o conhecimento técnico-científico, deixando em segundo plano e até mesmo desconsiderando, com seu exemplo, a importância e o estímulo da ética e consciência moral. Tive oportunidade de vivenciar grandes avanços na área da saúde desde minha graduação em enfermagem, em 1981. Iniciei a vida profissional atuando em Centro Cirúrgico e lembro que naquela época queimávamos formol após as cirurgias infectadas, bem como entendíamos como bom cirurgião aquele que fizesse a maior incisão cirúrgica, permitindo uma boa visão do campo cirúrgico. A evolução científica mostrou ser a queima de formol mero mito e rito, e a cirurgia evoluiu trazendo para o cenário atual cirurgias minimamente invasivas, como as cirurgias por vídeo, junto ao avanço das cirurgias de grande porte, como os transplantes de órgãos. Enquanto a tecnologia avançava em largos passos, percebia que a consciência moral muitas vezes se perdia. O atendimento humanizado e valores morais foram sendo esquecidos, passando-se a ver o sujeito como mero objeto de trabalho1. Minayo2:90 diz que “nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeira instância, um problema da vida prática”; recentemente, acompanhando familiares em busca da resolução de seus problemas de saúde, mesmo com um excelente plano de saúde, constatei na própria pele o quanto o atendimento para a saúde deixa a desejar nos quesitos ética, moral e humanização.

Quando pesquisei o estresse da equipe multiprofissional na sala de cirurgia, identifiquei o relacionamento interpessoal como estressor mais frequente e significativo para toda equipe, sendo o paciente o menor gerador de estresse. Fatores nitidamente éticos e morais, como conflitos diversos, discussões, disputa de poder, desrespeito tanto com o paciente quanto entre a equipe, descaso, despreparo, falta de comprometimento e cooperação de alguns profissionais e falta de reconhecimento e reciprocidades eram apontados como geradores de estresse. Os profissionais investigados (médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem) sentiamse habilitados tecnicamente para atender o paciente, mas diziam que não foram preparados, durante sua formação, para outros princípios envolvidos direta ou indiretamente no relacionamento interpessoal. Quando se ampliam as relações interpessoais entre profissionais da saúde, exigindo manejos pautados em princípios éticos e morais, isto passa a ser forte gerador de estresse nestes profissionais.1 Estes fatos desencadearam outra pesquisa. Investigando a questão ético-moral dos discentes da enfermagem e medicina no discurso do sujeito-professor, emergiu o efeito de sentido de esvaziamento ético-moral social transcendendo a universidade, decorrente da crise ética vivenciada pela sociedade, omissão da família e da escola no processo de formação ético-moral do jovem, chegando à universidade um jovem sem limites e carente de princípios ético-morais. A análise do discurso evidenciou falta de valores éticos e de educação nos discentes, ficando a universidade com pouco a fazer, uma vez que a família deveria ser a responsável pela formação moral e educação do jovem que futuramente será um profissional.3 Na literatura alguns autores apresentam a “ética” e “moral” como sinônimos e outros apontam algumas diferenças. Os filósofos Kant e Hegel diferenciaram os dois termos, apontando a moral como a subjetividade da consciência do ser, e a ética as determinações objetivas, ou seja, a ética é o dever e a moral a consciência singular, o pensamento.3 Embora alguns pensadores discordem dessa diferenciação e outros acreditem no emprego intercambiável, considerando legitimamente sinônimos, o foco aqui não é discutir esta diferença, mas sim utilizar estes conceitos para fundamentar a reflexão dos seguintes questionamentos: por que os profissionais da saúde, aqui direcionados à Enfermagem, deixaram de refletir sobre a ética e a moral? Será que não é importante? Será que a falta de humanização da assistência da Enfermagem é reflexo da carência moral e ética dos profissionais? Será que a área da saúde reproduz apenas o que ocorre na sociedade? Difícil saber, pela simples razão de não existir uma única resposta; no entanto, é indispensável retomar a discussão desta problemática e, principalmente, pensar no que fazer para melhorar esta situação.

Dra. Rita Catalina Aquino Caregnato Membro do Conselho Editorial da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem. Doutora em Educação. Mestre em Enfermagem. Professora Adjunta da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA/Canoas e da UNIVATES. REFERÊNCIAS 1. Caregnato RAC. Estresse da equipe multiprofissional na sala de cirurgia: um estudo de caso [dissertação]. Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 2002. 2. Minayo MCS. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo (SP): Hucitec; 1992. 3. Caregnato RAC. A questão ético-moral na formação dos enfermeiros e médicos: efeitos de sentidos nos discursos docentes [tese]. Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Educação; 2008.

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A DINÂMICA DE GRUPO ENQUANTO INSTRUMENTO NO PROCESSO DE TRABALHO DA ENFERMAGEM The group dynamics while implement in the nursing work *Maira Buss Thofehrn **Simone Coelho Amestoy ***Daiane Dal Pai

****Josiane Santos Palma *****Adrize Rutz Porto ******Leandro Joner

Resumo – O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o referencial teórico da dinâmica de grupo como instrumento gerencial para o alcance da finalidade do trabalho da enfermagem. Visando clarear essa proposta, faz-se inicialmente uma descrição acerca do processo de trabalho, especialmente, na enfermagem, enfocando a dimensão da subjetividade. Com base nisso, defende-se a dinâmica de grupo como uma ação estratégica para a formação de uma equipe de enfermagem com vínculos profissionais fortalecidos, os quais devem garantir saúde para todos os atores envolvidos no trabalho em saúde. Palavras-chave: Trabalho; equipe de enfermagem; estrutura de grupo; enfermagem.

Abstract – This present article has as objective reflect about the theoretical referential of the group dynamics as gerencial instrument to reach the nursing work purpose. Having in view to clarify this proposal, initially it is necessary to describe the work process specially, in the nursing approach, the dimension of subjectivity. Based on this, the group dynamics is defended as a strategic action to an efficient nursing team formation with strong bonds, which should guarantee health for all the involved in the health work. Keywords: Work; nursing team; group structure; nursing.

Ano 1 – Número 3, Julho/Agosto de 2011 - paginas de 04 a 08

Introdução O processo de trabalho na enfermagem tornase cada vez mais complexo frente às necessidades do mundo do trabalho em saúde, o que implica grandes responsabilidades dos profissionais que atuam nos serviços de saúde, especificamente quanto à prestação de um cuidado de qualidade. Para tanto, é exigida do enfermeiro uma compreensão de seu processo de trabalho, com vistas a corresponder às normas institucionais, ao mundo em constante transformação e o cumprimento dos preceitos éticos e legais da profissão. O trabalho da enfermagem tem instigado à multidimensionalidade do sujeito-trabalhador, na busca pela integração do seu pensar, agir e sentir para o resgate do respeito e do reconhecimento da sua subjetividade. Essa subjetividade deve ser trabalhada pela reconstrução coletiva das formas de interação, de comunicação e do agir, para fortalecer tanto o trabalhador quanto à clientela usuária dos serviços de saúde, a partir da reconfiguração da área relacional e das identidades profissionais. Para alcançar a humanização do cuidado de enfermagem, é imprescindível que se tenha humanização das relações profissionais contidas num meio em que a vida e o trabalho possam estar interligadas entre si, e não colocadas como pontos isolados.1 Além disso, cabe salientar que a construção de um novo modelo assistencial em saúde, no sentido dos valores propostos pelo Sistema Único de Saúde e que aparecem nas novas estratégias assistências da saúde da família ou tecnologias implantadas nos diversos níveis de atenção, é um desafio para as equipes de trabalho

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em saúde. Assim, torna-se essencial um modelo de organização dos serviços de saúde alicerçado em condições sociopolíticas, materiais e humanas que potencialize a melhoria das práticas terapêuticas ofertadas nos serviços de saúde, beneficiando usuários e trabalhadores.2 A partir dessa premissa, compreende-se com base nas práticas em saúde e, mediante uma busca entre dois estudiosos, que pouco se tem investido em modelos que subsidiem o trabalho para a área relacional, especificamente para formação de uma equipe de enfermagem. O referencial bibliográfico consultado reporta-se sempre para a necessidade da formação dessa equipe; porém, poucos estudos mencionam os meios para que a mesma ocorra. Ainda, é apontado que a enfermagem está apenas iniciando sua trajetória sob esse foco do conhecimento, ou seja, das relações interpessoais e nas questões de subjetividade junto à equipe de enfermagem. Cabe ressaltar que o processo de trabalho no âmbito da enfermagem tem como tarefa profissional o cuidado terapêutico, como objeto e produto a clientela usuária dos serviços de saúde e como meios ou instrumentos de trabalho, as condutas e os suportes que garantam o alcance da finalidade do próprio trabalho. Neste estudo, considera-se como um dos instrumentos de trabalho os conhecimentos e estratégias da dinâmica de grupo, para formação de uma equipe, já que a característica básica da enfermagem consiste no desenvolvimento de suas atividades de forma coletiva. A dinâmica de grupo corresponde à área de investigação voltada ao estudo da natureza do grupo,

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para as leis que orientam o seu desenvolvimento e para as relações indivíduo-grupo, grupo-grupo e grupoorganizações.3 Há várias décadas que os estudos sobre grupos de trabalho vêm sendo esclarecidos e explorados, tanto na área da psicologia social quanto na sociologia. A proposta em questão é que essa temática faça parte da vida da equipe de enfermagem e no cotidiano do enfermeiro. Nas equipes formadas casualmente, como ocorre na enfermagem, são estabelecidas relações que sustentam o trabalho em si e que agregam os participantes, determinando uma dinâmica e um movimento próprio, gerado pelo fluxo do trabalho, por aspectos afetivos e organizacionais, assim como pela dinamicidade do conhecimento e das transformações tecnológicas. E isso nos interessa estudar, refletindo sobre as características dos pequenos grupos, as articulações possíveis entre subjetividade do processo de trabalho na enfermagem e formação de uma equipe, com vistas a atingir o cuidado terapêutico que satisfaça as necessidades concretas e particularizadas dos seres humanos.

Processo de tr abalho na enfermagem

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O processo de trabalho envolve o ser humano e a natureza. O ser humano ao agir junto à natureza o faz de forma preestabelecida, em que o resultado obtido é fruto de sua prévia imaginação do produto final. Ele deve ficar alerta, pois ao modificar a natureza está modificando sua própria natureza. Portanto, faz-se necessário refletir acerca dos elementos que compõem o processo de trabalho, ou seja: a tarefa profissional em si – que corresponde ao seu próprio trabalho –, o objeto em que o aplica e, os meios e ferramentas.4 Sob essa ótica entendemos como atividade ou tarefa profissional da enfermagem o cuidado terapêutico, ou seja, uma ação de cuidar que visa a transformar o estado de desconforto e dor sentido pelo indivíduo que busca o serviço de saúde em um estado de conforto e menor percepção da dor, ou seja, agir sobre um objeto animado de natureza física e social de modo a suprir as necessidades que se refere ao cuidado terapêutico.5 Já o objeto do processo de trabalho da enfermagem consiste no corpo do ser humano, o corpo biológico, vivido, consciente, transformado, possuído pelo espírito e também pela doença. Esse corpo, ao mesmo tempo, une as condições de consumidor, objeto e produto, diferenciando-se dos objetos no sistema de produção material, pois ele não se modifica em um outro produto ao final do processo de trabalho, mas sofre a ação do cuidado terapêutico.6 Para as autoras deste artigo, a promoção do cuidado à clientela dos serviços de saúde, ou seja, o corpo do ser humano transformado pela tarefa profissional, consiste

na finalidade do trabalho de enfermagem. Visando ao alcance desse fim é preciso habilidade relacional pelos enfermeiros, os quais estão interligados aos demais membros da equipe e à equipe multiprofissional. Cabe mencionar que nenhum trabalho pode ser produzido sem os instrumentos e que esses reforçam e multiplicam a força humana até quase substituí-la, tendo a premissa básica de atenuar as dores e fadigas, tornando mais fácil a vida do ser humano.7 O conhecimento constitui um instrumento valioso para o desenvolvimento do trabalho, mas ele não existe como fato em si, assim necessitando de algo concreto, ou seja, uma estratégia/operacionalização de trabalho, ou uma técnica/material, todos eles correspondem a instrumentos que se inserem como elementos essenciais da prática profissional.1 Os instrumentos são projetados para garantir a existência do produto final, e é esse que organiza o processo de trabalho, delimitando a necessidade de especialidades, número de pessoas envolvidas, quantidade de cooperação, etc. Na enfermagem existe um número significativo de instrumentos metodológicos para subsidiar o cuidado terapêutico junto à clientela que necessita do nosso saber. Este estudo tem o propósito de sensibilizar a enfermagem para a utilização do conhecimento da dinâmica de grupo com vistas a qualificar as relações interpessoais da equipe, junto à dimensão da subjetividade e, assim aprimorar o cuidado ao cliente. É primordial destacar que a concepção de trabalho em grupo está relacionada ao alcance de objetivos comuns, com noções de cooperação e capacidade de articulação das ações, assim como a prática de comunicação é também um dispositivo importante para a interação e o diálogo entre os trabalhadores, na perspectiva de dinamizar o próprio trabalho.8 Acredita-se que mediante a utilização dos saberes da dinâmica de grupo como instrumento de trabalho, torna-se mais seguro para o enfermeiro assumir a responsabilidade, frente ao cuidado terapêutico, visto que várias vezes não é ele que executa as atividades junto à clientela, mas responde legal e moralmente pelo fazer de sua equipe. Devemos considerar que é importante para o trabalho em saúde a valorização do profissional, individualmente e da equipe.8 O trabalho em saúde tem suas divisões técnicas e sociais, já que cada profissional tem suas especificidades e conjunto de conhecimentos que permitirá a realização do fazer. Entretanto, é possível elaborar e planejar um cuidado coletivo da clientela a partir da conversação entre os trabalhadores, e é justamente nesse momento que há os processos grupais formados.9 Entende-se que para constituir efetivamente uma equipe é necessário compreender os processos grupais presentes nas relações cotidianas que permeiam seu processo de trabalho.

Artigo de Reflexão

Maira Buss Thofehrn / Simone Coelho Amestoy / Daiane Dal Pai / Josiane Santos Palma / Adrize Rutz Porto / Leandro Joner

A Dinâmica de grupo enquanto instrumento no processo de trabalho da Enfermagem


Dinâmica de grupo no tr abalho da enfermagem Parte-se do pressuposto de que a saúde do trabalhador se constitui nas relações humanas que configuram a organização do trabalho no setor saúde. Assim, pensar em saúde no trabalho exige refletir sobre os vínculos humanos nos grupos de trabalho e, para tanto, acredita-se que a teorização sobre a dinâmica de grupos como uma vertente de análise que pode facilitar a compreensão das relações sociais no âmbito da equipe de enfermagem. O trabalhador deve ser percebido não apenas como um ser humano dotado de individualidade, um ser único na sua relação com o trabalho, mas também na dimensão do grupo de trabalhadores.10 Ainda a esse respeito, cabe destacar a qualidade do trabalho da enfermagem, ou seja, a relação entre profissional e cliente está na dependência da interação estabelecida entre os membros que compõem a equipe de enfermagem. Além isso, há necessidade de valorizar a dimensão subjetiva do trabalhador para o alcance do cuidado à clientela, incluindo-a como conteúdo do saber e da própria identidade da enfermagem.11 Entendendo a clientela usuária dos serviços de saúde como objeto e produto do processo de trabalho da enfermagem, acredita-se que o saber da dinâmica de grupo favorece a qualificação das relações interpessoais da equipe de enfermagem e o alcance da finalidade do próprio trabalho. A dinâmica de grupo corresponde ao campo de estudos e pesquisas dos fenômenos de funcionamento dos grupos, as formas de classificação e maneiras de comportamentos coletivos. Os resultados das pesquisas são aplicados no aperfeiçoamento do trabalho dos grupos e na vida dos indivíduos, dos grupos e das sociedades humanas, atendendo aos anseios de um trabalho desenvolvido de forma cooperativa e em equipe. Ela surgiu, na década de 30, como um campo de investigação através de Kurt Lewin ao teorizar e experimentar a dinâmica dos fenômenos de grupo, o qual identificou os aspectos concretos e existenciais presentes em toda e qualquer formação grupal. A dinâmica é resultante das contribuições originárias da teoria psicanalista e das ciências sociais mediante os ramos da sociologia, da antropologia social e da psicologia social.12 A dinâmica dos grupos é a análise do comportamento dos grupos e não corresponde, simplesmente, à soma das atitudes das pessoas envolvidas, pois o grupo compõe-se de uma nova entidade, com características próprias. Mediante o exame do funcionamento e comportamento do grupo é possível que seus membros tenham consciência dos aspectos facilitadores e dificultadores na obtenção dos objetivos a que se propõem enquanto grupo.13

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Em relação à formação de pequenos grupos, cabe esclarecer que o movimento grupal tem uma significativa abrangência conceitual, uma multiplicidade de raízes que refletem filosofias e correntes de pensamentos, desencadeando uma grande variedade de teorias e classificações. Assim, sistematizam-se a partir daqui algumas vertentes, no intuito de situar os que ainda não estão familiarizados com a área de grupos.12 Empírica: fruto mais da intuição e experimentação do que de bases científicas. Pratt, tisiologista americano, é considerado o pioneiro na utilização do recurso grupoterápico, quando, em 1905, reuniu os clientes tuberculosos de uma enfermaria e ministrou aulas sobre higiene e problemas provenientes dessa patologia, estabelecendo um debate livre e aberto entre médicos e clientes.14 Sociológica: fortemente inspirada pelo químico, físico e filósofo Kurt Lewin, criador do termo dinâmica de grupo, esse concentra esforços para integrar as experiências do campo das ciências sociais ao dos grupos. Para Lewin, todos os indivíduos fazem parte do contexto do seu grupo social, influenciando-o e sendo influenciados e modelados por ele, dando ênfase às relações simultâneas entre os sistemas internos de tensão do indivíduo e as pressões do meio. Grupos Operativos: surgem os grupos sem finalidade terapêutica e sim com base numa tarefa objetiva determinada. Seu principal representante é o psicanalista argentino Pichon-Rivière, aprofundando os estudos dos fenômenos grupais a partir de seu esquema conceitual referencial operativo – ECRO. O ECRO é considerado um esquema instrumental e operativo no sentido que a aprendizagem do grupo se forma a partir de um processo contínuo e com oscilações, em que os momentos de ensinar e aprender ocorrem como um todo estrutural e dinâmico entre o coordenador e os demais participantes do grupo.15 Institucional: concebe as instituições como sistemas sociais, estudando seus membros – identificação, posições, papéis, entre outros. Elliot Jacques, psicanalista inglês, foi o autor que mais estudou as organizações institucionais.16 Teoria psicanalítica: seus principais representantes são Freud, Bion e Foulkes, com importantes contribuições para a compreensão e utilização de técnicas grupais. Freud, apesar de não ter praticado a grupoterapia, indiretamente contribuiu na formação do alicerce básico da dinâmica grupal ao construir a sólida vertente psicanalítica, ou seja, descoberta do inconsciente dinâmico, ansiedades, regressão, complexo de Édipo, formação do superego, entre outras.17 Ante o exposto, alcançamos a existência de duas tendências quando ponderamos sobre os pequenos grupos: uma aponta para o grupo enquanto objeto em uma perspectiva individualizante, percebida nos estudos de Kurt Lewin, Freud e Bion. Já os estudos de Pichon-Rivière, em outra tendência, analisam o grupo

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Artigo de Reflexão

A Dinâmica de grupo enquanto instrumento no processo de trabalho da Enfermagem


Consider ações finais Detectamos que o ser humano surge como uma preocupação comum e primordial nas recentes tendências teóricas do mundo do trabalho, desencadeando a dimensão da subjetividade nas organizações contemporâneas.

Quanto à dimensão da subjetividade, sugerimos a utilização, pela enfermagem, dos conhecimentos da dinâmica de grupo, pois tem como elementos fundamentais, a confiança, a responsabilidade, a ética, a colaboração, a cooperação, o engajamento, a criatividade, a iniciativa, transpondo um “saber-ser”, deslocando o foco no “recurso” humano máquina para a atenção no ser humano subjetivo, assim facilitando a realização do trabalho coletivo. Olhar para o futuro significa investir nos seres humanos, desenvolver as individualidades, a autopercepção e o autocontrole. Num contexto de situações mutáveis e imprevisíveis, permitir que a diversidade e riqueza das aptidões e dos talentos possa aflorar e dinamizar as organizações do século XXI. Constata-se que, enquanto instrumento de trabalho, algumas vertentes da dinâmica de grupo podem contribuir na construção do conhecimento de nossa profissão. O objetivo da presente proposta foi oferecer aos que se interessam pela dimensão da subjetividade dos indivíduos no mundo das equipes de trabalho um novo olhar que estimule as questões que perpassam e problematizam essa mesma dimensão na enfermagem. Ainda, tem a intenção de incitar a reflexão da subjetividade de cada leitor, lançando um desafio, isto é, a utilização de referenciais teóricos junto às ações profissionais nos trabalhos em grupo e tem a preocupação de não apresentar uma visão pronta e acabada da questão. Sendo a proposta deste estudo a formação de uma equipe de enfermagem e pela abrangência conceitual, multiplicidade de raízes, diversidade das concepções teóricas e aplicações práticas que envolvem a dinâmica de grupo, sugere-se o aprofundamento teórico-prático das vertentes, cujo foco está na tarefa que, no caso da enfermagem, se refere ao cuidado terapêutico.

Referências 1. Leopardi MT. Teoria e método em assistência de enfermagem. 2 ed. Florianópolis: Soldasoft; 2006. 2. Ribeiro ME, Pires D, Blank VLG. A teorização sobre processo de trabalho em saúde como instrumental para análise do trabalho no Programa de Saúde da Família. Cadernos de Saúde Pública 2004; 20(2):438-446. 3. Minicucci A. Dinâmica de grupo: teorias e sistemas. 5 ed. São Paulo: Atlas; 2002. 4. Marx K. O capital. 24 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2006. 5. Leopardi MT, Beck CLC, Nietsche EA, Gonzales RMB. Metodologia da pesquisa na saúde. Santa Maria: Pallotti; 2001. 6. Thofehrn MB, Leopardi MT. Teoria dos vínculos profissionais: formação de grupo de trabalho. Pelotas: Ed. Universitária-UFPel; 2009. 7. Arendt H. A condição humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária; 2007. 8. Cardoso ASF. Análise de processo grupal de uma equipe de enfermagem. (dissertação). Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2009. 9. Fortuna CM, Mishima SM, Matumoto S, Pereira MJB. O trabalho de equipe no programa de saúde da família: reflexões a partir de conceitos do processo grupal e de grupos operativos. Revista Latino-

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como um processo que deve ser conhecido em suas perspectivas histórica, social, econômica, institucional e ideológica. Destarte, poderíamos também falar em processo grupal em vez de grupo, já que esse não possui uma essência a priori, nem direção constante, mas sim agenciamentos de fluxos produtores de sentidos e objeto.18,19 A partir dessa breve apresentação é possível identificar que a temática em pauta pode favorecer o trabalho de relações interpessoais e as questões subjetivas, para a formação de uma equipe de enfermagem que leve ao crescimento do indivíduo, enquanto pessoa e profissional, o que desencadeia a interação no coletivo e facilita o atendimento às necessidades individualizadas dos clientes. Pelo desenvolvimento de um trabalho coletivo, com respeito ao entendimento do comportamento e do funcionamento dos seres humanos nos grupos de trabalho, com ênfase na flexibilidade, na diversidade e na mistura criativa entre cooperação e concorrência, é possível aprimorar as relações interpessoais e consequentemente aperfeiçoar o cuidado terapêutico ao cliente, assim favorecendo ao resgate da identidade da enfermagem. Ao se pensar num trabalho coletivo, ocorre um alerta: a condição humana do trabalhador envolve o sujeito em seu cotidiano, a expressão de suas experiências, desejos, sentimentos e sua história. Em virtude de o trabalhador ocupar grande parte do tempo vivido, o imaginário traduz os pequenos dramas dos serviços de saúde, assim o imaginário se forma, se desfaz e refaz nas questões palpáveis nas instituições, durante a realização das normas, rotinas e técnicas e nas manifestações verbais e não verbais dos trabalhadores.20 O aprisionamento a esse imaginário dificulta as relações afetivas, em virtude da pobreza nas formas de sociabilidade. Existem imagens dominantes que direcionam e condicionam o modo de pensar, amar, agir, interferindo nas relações interpessoais. Acredita-se que um dos meios para o entendimento das questões subjetivas está nos estudos teórico-práticos da dinâmica de grupo.20 Esses auxiliam no alcance do desafio lançado por esse autor, ou seja, a criação de alternativas para a superação das frustrações, através de uma nova política da imaginação e criação de algo novo. Com vontade de agir e coragem de pensar em um modo ainda não pensado, de sentir, de amar de maneira diferente e imaginar o ainda não imaginado para criação de novas formas de vida e de comunidade.

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Maira Buss Thofehrn / Simone Coelho Amestoy / Daiane Dal Pai / Josiane Santos Palma / Adrize Rutz Porto / Leandro Joner

A Dinâmica de grupo enquanto instrumento no processo de trabalho da Enfermagem


Americana de Enfermagem 2005; 13(2): 262-68. 10. Shimizu HE, Ciampone MHT. As representações sociais dos trabalhadores de enfermagem não enfermeiros (técnicos e auxiliares) sobre o trabalho em Unidade Intensiva em um hospital-escola. Revista da Escola de Enfermagem da USP 2002; 36(2):148-55. 11. Ferreira LC. Enfermagem e qualidade de vida: o sujeitotrabalhador na assistência hospitalar. In: Anais do 51º Congresso Brasileiro de Enfermagem- 10º Congreso Panamericano de Enfermería; 2000; Florianópolis- SC, Brasil. 12. Osório LC. Grupoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007. 13. Hirigoyen MF. Assedio moral: a violência perversa no cotidiano. Trad. Maria Helena Kühner. 9 ed. Rio de Janeiro: Bertranbd Brasil, 2002. 14. Bechelli LPC, Santos MA. Psicotereapia de grupo: como surgiu

e evolui. Revista Latino-Americana de Enfermagem 2004 mar-abr; 12(2):242-9. 15. Pichon-Rivière E. Teoria do vínculo. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 16. Rose N. Psicologia como uma ciência social. Psicologia e Sociedade 2008; 20(2):155-64. 17. Osório LC. Psicologia Grupal: uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003. 18. Lane SMT. O processo grupal. In: Lane SMT, Codo W. Psicologia Social: o homem em movimento. 13 ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. 19. Schoosler AB, Carlos, AS. Por uma visualização do processo grupal. Psico 2006; 37(2):159-167. 20. Ramos FRS. Obra e manifesto: o desafio estético do trabalhador de saúde. Pelotas: Editora Universitária/UFPel;1996.

* Maira Buss Thofehrn – Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. ** Simone Coelho Amestoy – Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, Bolsista CNPq. Membro do Grupo EDEN. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. *** Daiane Dal Pai – Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. **** Josiane Santos Palma – Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. ***** Adrize Rutz Porto – Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. ****** Leandro Joner – Acadêmico de Enfermagem do 6º semestre. Bolsista PIBIC.

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Maira Buss Thofehrn / Simone Coelho Amestoy / Daiane Dal Pai / Josiane Santos Palma / Adrize Rutz Porto / Leandro Joner

Ano 1 – Número 3, Julho/Agosto de 2011 - paginas de 04 a 08

Artigo de Reflexão

A Dinâmica de grupo enquanto instrumento no processo de trabalho da Enfermagem


ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO DE INSERÇÃO, MANUTENÇÃO, CUIDADOS E RETIRADA DO CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA (PICC) NO HOSPITAL DE PRONTO SOCORRO DE PORTO ALEGRE Elaboration protocol of insertion, support, care and removal of Peripheral Insert Central Catheter (PICC) in the Hospital Emergency Room Porto Alegre * Valéria da Rosa Pontes ** Marilene Hartmann Iop

*** Maria Augusta Moraes Soares **** Lisneia Fabiani Bock

Resumo – O presente artigo relata a experiência da Comissão de Estudos em Acessos Venosos do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, na elaboração do protocolo de inserção, manutenção, cuidados e retirada do Cateter Central de Inserção Periférica (PICC). A formação de uma Comissão de Acessos Venosos associada à: implantação de um protocolo; aumento de profissionais habilitados e avaliação diária, são medidas que garantem a padronização da inserção e manuseio adequado desses cateteres com impacto no tempo de permanência dos mesmos. Palavras-chave: Pesquisa em enfermagem; educação em enfermagem; cateterismo venoso central; enfermagem.

Abstract – This article describes the experience of Study of Intravenous Access in Emergency Hospital of Porto Alegre, in developing a protocol for insertion, maintenance, care and removal of Peripherally Inserted Central Catheter (PICC). The formation of a Commission of venous access, coupled with the introduction of a protocol: an increase of skilled professionals and daily valuation, are measures to ensure the standardization of the insert and the correct management of these catheters have an impact on length of stay the same. Keywords: Nursing research; nursing education; central venous catheterization; nursing.

Introdução habilitadas, relato de dor mínima na hora da inserção, além de baixo índice de complicações, desde sua colocação até sua remoção. Para a realização do procedimento é necessária a capacitação de enfermeiras por meio de cursos oferecidos, principalmente pelas Sociedades de Enfermagem, segundo diretrizes da Infusion Nurses Society (INS) e pelo Center for Diseases Control and Prevention (CDC), órgãos com sede nos Estados Unidos da América. O Conselho Federal de Enfermagem, através da Resolução 258/2001, reconhece a implantação do PICC como competência do Enfermeiro, desde que tenha recebido formação através de cursos de capacitação e treinamento. No Brasil, estes cursos de capacitação para inserção e manutenção do cateter de PICC são oferecidos pelas sociedades de enfermagem.6

CONTEXTUALIZANDO A EXPERIÊNCIA A partir da iniciativa da enfermeira Celia Lucia Torrano Ribeiro no ano de 2000, alguns enfermeiros do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS-POA) foram capacitados para a inserção de PICC, inicialmente com ênfase na área pediátrica. Posteriormente, os pacientes adultos também foram beneficiados, mesmo sem um protocolo efetivo para o procedimento, mas com a aprovação da instituição e capacitação dos colaboradores para os cuidados relacionados ao cateter e seu manuseio.

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O Cateter Central de Inserção Periférica (PICC) foi descrito na literatura pela primeira vez, em 1929, como uma alternativa de acesso venoso central por via periférica, quando um médico alemão chamado Forssman se autocateterizou com uma sonda uretral através de uma veia da fossa cubital. Na década de 1970, foi desenvolvido o cateter de silicone, utilizado inicialmente nas unidades de terapia intensiva neonatal; mas foi a partir de 1980 que se observou a expansão de seu uso, pela facilidade de inserção à beira do leito por enfermeiros e pelo surgimento de programas de capacitação profissional. No Brasil, o PICC começou a ser utilizado na década de 1990, em unidades neonatais e em pacientes adultos, por tratar-se de um dispositivo com possibilidade de tempo de permanência prolongado e de fácil instalação, associado a um menor risco de complicações mecânicas e infecciosas. O paciente tem menos exposição a múltiplas punções venosas e menor risco de infecções e complicações, quando comparado com a inserção de outros cateteres venosos centrais. Assim sendo, deve ser a primeira escolha para pacientes com perspectiva de tratamento endovenoso prolongado, desde que elegíveis aos critérios préestabelecidos. , Trata-se de um dispositivo intravenoso que permite a infusão de soluções hiperosmolares com PH não fisiológico, drogas parenterais vesicantes ou irritantes e nutrição parenteral prolongada. As principais vantagens desse cateter são a sua introdução à beira do leito, inserido por enfermeiras


Elaboração do protocolo de inserção, manutenção, cuidados e retirada do Cateter Central de Inserção Periférica (PICC) no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre

Ano 1 – Número 3, Julho/Agosto de 2011 - paginas de 09 a 12

ELABOR AÇÃO DO PROTOCOLO O HPS por meio do NEPEnf, estabelece vínculo com outras instituições de educação, as quais utilizam o ambiente da instituição para campo de prática com alunos do curso técnico, graduação e pós-graduação em enfermagem, em troca de trabalhos educativos e permanentes, que beneficiam a prática assistencial da equipe multidisciplinar na instituição. Para que esta troca ocorra, o NEPEnf criou um projeto de “contrapartida” no qual os docentes das universidades auxiliam em atividades de ensino internas, através de rodas de conversa, palestras, além dos trabalhos desenvolvidos pelas comissões internas. Neste ínterim, a Comissão de Estudos em Acessos Venosos, foi apoiada pela docente Ms. Lisneia Fabiani Bock do Centro Universitário Metodista, do IPA, na construção do Protocolo mencionado anteriormente, e na divulgação das experiências da Comissão, por meio da produção de artigos científicos. Para a elaboração do Protocolo de Inserção, Manutenção, Cuidados e Retirada do Cateter de PICC, a Comissão de Estudos em Acessos Venosos realizou encontros semanais no HPS e/ou no IPA, para consulta em Bases de Dados da Biblioteca Virtual de Saúde, Pubmed, e outras, para revisão da literatura e subsídios

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na elaboração do protocolo, observando as diretrizes preconizadas pela instituição, para a confecção deste tipo de documento. O Protocolo teve como objetivo, estabelecer critérios aos profissionais para inserção, manutenção, cuidados e retirada do cateter, garantindo a segurança do paciente, a eficácia do tratamento, a redução dos riscos e complicações decorrentes do acesso central, visando uma assistência de excelência. O teor do protocolo elaborado e escrito contém informações detalhadas sobre descrição do dispositivo, indicações de uso, recomendações/orientações gerais, vantagens, pacientes elegíveis, estabelecimento das responsabilidades, descrição das técnicas de inserção, cuidados de enfermagem na manutenção e remoção, indicações clínicas para sua remoção, intervenções de enfermagem na ocorrência de complicações, e documentação que garante os preceitos éticos e legais. Também foi estabelecido, que os dados referente à inserção dos cateteres e seu acompanhamento, sejam registrados em formulário específico, disponibilizado na intranet dos setores da instituição (Apêndice 1), sendo estes, monitorados pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), facilitando o controle de indicadores de qualidade, bem como a avaliação futura de seus benefícios.

CONSIDER AÇÕES FINAIS Após a realização do Curso de Capacitação em PICC, e a elaboração do Protocolo de Instalação e Manutenção do PICC, observou-se aumento na utilização do material na instituição, além de maior adesão do grupo de enfermeiros a essa prática. Verificou-se ainda que alguns segmentos da equipe médica que desconheciam o PICC e suas indicações demonstraram interesse na utilização como alternativa na garantia de acesso venoso central para tratamento medicamentoso. Foram iniciados repasses, relacionados aos cuidados na manutenção do PICC nas diversas unidades do hospital, através dos enfermeiros dos setores/ unidades que foram capacitados no curso mencionado anteriormente. Novos protocolos e estudos sempre se farão necessários a fim de buscar e manter a atualização sobre a temática e, quem sabe, melhor atualização sobre os melhores métodos relacionados ao PICC, quando se comparar com os diferentes tipos de dispositivos existentes no mercado da área da saúde. No presente momento, o protocolo elaborado pela Comissão de Estudos de Acessos Venosos, está em processo de validação pela Direção do HPS, desde dezembro de 2010.

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Em 2008, outro pequeno grupo de enfermeiros também foi capacitado, porém, devido a ausência de um protocolo na Instituição e desconhecimento dos próprios colegas e demais profissionais a respeito do assunto não houve a adesão esperada a essa prática. Com a criação da Comissão de Estudos em Acessos Venosos através, pela Portaria 604 de 12/07/2010, publicada no Diário Oficial de Porto Alegre, e o apoio da atual direção do HPS, constatou-se a necessidade de avançar na elaboração de um protocolo, e realizar capacitações para os enfermeiros, e demais profissionais da Instituição. A Comissão de Estudos em Acessos Venosos é composta atualmente pelas profissionais: enfª Valéria da Rosa Pontes; enfª Marilene Hartmann Iop; enfª Adriana Silveira de Abreu; acadêmica de Enfermagem Andréa Jandira Fonseca Soares; enfª Carla Oppermann; enfª Maria Augusta Moraes Soares e enfª Simone Martins Antunes. Em novembro de 2010, a Comissão citada, em parceria com o NEPEnf – Núcleo de Educação Permanente e Pesquisa em Enfermagem (coordenado pela enfª Ms. Maria Augusta Moraes Soares) e apoio da empresa que comercializa os cateteres no Brasil, viabilizaram o primeiro Curso de Certificação para Inserção de PICC, com uma carga horária total de 24 horas/aulas, capacitando e certificando, 26 enfermeiros do HPS, e 13 enfermeiros de outras instituições.


Elaboração do protocolo de inserção, manutenção, cuidados e retirada do Cateter Central de Inserção Periférica (PICC) no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre

FICHA DE AVALIAÇÃO / ACOMPANHAMENTO DO CATETER DE PICC

IDENTIFICAÇÃO Nº Prontuário: ________ Data de internação: ____/ _____ / ___ Data de Alta: _____/_____/_____ Sexo: ( ) F ( ) M Idade: _______________________ Setor/ Unidade: _____________________ Indicação para uso do PICC: _______________________________________ Diagnóstico do paciente: __________________________________________

Relato de Experiência

Apêndice 1

DADOS DO CATETER Marca: _________ French: _______ Lote: _________

INTERCORRÊNCIAS: Descrição: __________________________________ TROCA DO 1º CURATIVO Avaliação do sítio de inserção: ( ) hiperemia ( ) edema ( ) hematoma ( Perímetro braquial: ____________ cm Data: / / Hora:_________

)sangramento (

) secreção serosa

RETIRADA Causa(s): ( ) término da terapia proposta ( ) obstrução ( ) quebra ( ) alta hospitalar ( sítio de inserção ( ) febre ( ) óbito ( ) outros _________ Comprimento retirado: ________ cm Íntegro: ( )sim ( ) não Total de dias de permanência PICC: _________________________________ Envio da ponta do cateter para cultura: ( )sim ( ) não Hemocultura ( ) sim ( )não Germe isolado: ____________________________ Data: / / Hora:_________________

) sinais de infecção no

Assinatura / carimbo profissional responsável: ____________________________________________

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Valéria da Rosa Pontes / Marilene Hartmann Iop / Maria Augusta Moraes Soares / Lisneia Fabiani Bock

INSERÇÃO Membro selecionado: _________________ Perímetro braquial:______ cm Veia selecionada: _____________________________________________ Comprimento introduzido: ________cm Localização da ponta do cateter após o RX: _________________________ Data:____ /______ /_______ Hora:______


REFERÊNCIAS Jesus, VC.; Secoli, SR. Complicações acerca do Cateter Venoso Central de Inserção Periférica (PICC). Revista Ciência Cuidado Saúde 2007 Abr/Jun;6 (2):252-260. Toma, E. Avaliação do uso do PICC – cateter central de inserção periférica em recém-nascidos [Tese de Doutorado]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2004. Vendramin, P. Cateter central de inserção periférica (CCIP). In: Harada MJCS, Rego RC, Orgs. Manual de terapia intravenosa em pediatria. São Paulo: ELLU; 2005. cap. 7, p.75-95. Camargo, PP. Procedimento de Inserção, Remoção e Manutenção do Cateter Central de Inserção Periférica em Neonatos. Universidade

de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Obstetrícia e Neonatal), Escola de Enfermagem, 2007. Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva (SOBETI). Curso de Qualificação em Inserção, Utilização e cuidados com o CCIP Neonatologia/ Pediatria e Adultos. São Paulo; 2004. Center for Disease Control and Prevention (CDC). Guidelines for the prevention of intravascular catheter related infection. MMWR. 2002;51:1-32. Secretaria Municipal de Saúde. Hospital de Pronto Socorro. Núcleo de Pesquisa e Ensino em Enfermagem – NEPEnf. Comissão de Estudos em Acessos Venosos. Protocolo para Inserção, Manutenção, Cuidados e Retirada do Cateter Central de Inserção Periférica – PICC/CCIP, Novembro, 2010.

*Valéria da Rosa Pontes – Enfermeira Assistencial Enfermaria Cirúrgica do HPS/ POA.Email: pontvaleria@gmail.com. **Marilene Hartmann Iop – Enfermeira Assistencial da UTI Trauma Pediátrico do HPS/ POA. Especialista em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública. Email: marilenehartmann@gmail.com. ***Maria Augusta Moraes Soares – Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFRGS. Coordenadora do NEPEnf HPS/POA. Enfermeira Assistencial no SAE. Email: msoares@hps.prefpoa.com.br. ****Lisneia Fabiani Bock – Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFSC. Doutoranda em Enfermagem pela UFSC. Coordenadora do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Metodista, do IPA. Email: fabibock@gmail.com.

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Relato de Experiência

Elaboração do protocolo de inserção, manutenção, cuidados e retirada do Cateter Central de Inserção Periférica (PICC) no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre


Gerenciamento do enfermeiro e o cuidado humanizado Management of nursing care and humanized *Epitágoras Vieira Pacheco *Mônica Carine de Carvalho Pacheco **Neiva Junkes Hoepers

**Valdemira Santina Dagostin **José Otavio Feltrin

Resumo – Este estudo busca estabelecer uma reflexão sobre a humanização da assistência à saúde e ações do enfermeiro na administração e gerenciamento e no cuidado humanizado. Aborda o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar e tece reflexões sobre essa proposta e a questão da humanização na assistência à saúde, que compreende profissionais de todos os setores. Percebemos que essas questões são pouco divulgadas no meio científico. O estudo propõe reflexões quanto às ações do enfermeiro em administrar e gerenciar serviços de saúde e a prática do cuidado humanizado, buscando uma melhor qualidade aos serviços prestados. Palavras-chave: Administração; gerenciamento; humanização.

Abstract – This study search to establish a reflection about the humanization in health care and the actions of the Nurse and Care management humanized. Discusses the National Program of Humanization of Hospital Care and weaves reflections on this proposal and the question of humanization in health care, comprising professionals from all sectors. We realize that these questions are not divulged in the scientific community. The study proposes some reflections on the actions of the nurse in administering and managing health services and the practice of humanized care, searching a better quality of services provided. Keyword: Administration; management; humanization.

Introdução do enfermeiro e contribuir com pesquisas cientificas na área de enfermagem, levando ao objetivo deste estudo, que é estabelecer uma reflexão sobre a humanização da assistência à saúde e o papel do enfermeiro no gerenciamento e no cuidado humanizado

CONTEXTUALIZAÇÃO Administração e gerenciamento Administração pode ser dita como todas as funções executadas de maneira racional, por uma pessoa ou grupo de pessoas, a fim de alcançar determinados objetivos que foram planejados por eles próprios ou por outros. Pode ser um processo integrado, que visa obter resultados específicos abrangendo coletivamente grupos no contexto do administrar e controlar uma organização.2,3 “A função administrativa é referida como tendo dois significados: um relacionado à burocracia objetivando o controle, a manutenção e a ordem dos recursos da unidade; e outro relacionado à administração do cuidado de enfermagem.”2,3 Assim, administrar em saúde é muito complexo e devem ser incorporadas essas duas funções, sendo que nos deparamos com algumas particularidades, como o resultado oriundo do fluxo do usuário por meio dos serviços de saúde e pelo cuidado prestado a ele. Não se pode deixar de considerar a importância ao cuidado nas áreas de recursos humanos e materiais, que também devem atingir fins desejados para um bom andamento de toda a organização.

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Com o passar dos anos, percebemos que o enfermeiro tem centrado o seu trabalho predominantemente em atividades administrativas, burocráticas, distanciandose de uma de suas maiores funções, o gerenciamento do cuidado a ser prestado ao paciente. Frente a essas mudanças, alguns estabelecimentos assistenciais de saúde vêm buscando outros modelos assistenciais e novas formas de gestão, com a finalidade de alcançar resultados capazes de melhorar a satisfação dos indivíduos e da comunidade, humanizar a assistência, otimizar recursos e garantir a qualidade dos serviços prestados.1 Diante dessas questões, cabe aos enfermeiros responsáveis pela gerência do cuidado, nessas instituições que acompanham essas mudanças, buscar cada vez mais inovações na esfera gerencial que permitam amenizar as consequências do modelo de gerência clássica, adotado até hoje na maioria das instituições de saúde. A partir dessas considerações, é imprescindível que o enfermeiro-gerente execute suas práticas assistenciais, as quais são de suma importância para o paciente sentir-se amparado por profissional capacitado para a prática do atendimento humanizado, buscando melhor qualidade aos serviços prestados. Pretendemos fazer uma reflexão no sentido de que o profissional de enfermagem possa estabelecer comprometimento e proximidade com o paciente, proporcionando-lhe acolhimento e acompanhamento diário, a fim de conhecer melhor a evolução clínica estabelecida. Assim, tal análise busca lançar luz às nossas inquietações a pontos relacionados à humanização da assistência, a tomadas de decisões, ao gerenciamento


“Administração ainda é o ato ou processo de gerir, reger ou governar negócios públicos ou particulares”. Como profissão, a administração compreende, ainda, pareceres, relatórios, planos, projetos, entre outros em que se requerem conhecimentos inerentes às técnicas de organização. As dimensões gerenciais aproximam-se um pouco mais ao exercício profissional do enfermeiro, por estarem relacionadas com as práticas do cuidado e de acordo com as necessidades de quem precisa deste cuidado.4,5 As práticas administrativas e gerenciais dos enfermeiros estão intimamente relacionadas e são largamente exigidas pela racionalidade da instrumentalização e da burocracia, levando em consideração seu contexto histórico e social da profissão. 6 Gerenciamento pode ser comparado e até igualado a administração, e em alguns momentos, na prática, são até considerados sinônimos. Assim, entende-se que gerenciar é uma atividade mais ampla, pois é a arte de pensar, planejar, agir, decidir e, além de tudo, é a arte de fazer acontecer e obter resultados do que se foi planejado. O gerente é aquele que pensa, planeja e realiza todas as atividades por meio de outras pessoas, supervisionando-as. A capacidade gerencial é mais rara, pois é uma expressão individual de autonomia, reflexão e segurança, de conhecimento de si próprio. Podemos dizer, então, que a pessoa se torna mais autoconfiante quando o seu conhecimento é ampliado e quando isto é demonstrado com destreza e segurança em suas habilidades. O gerenciamento pode ser conceituado como sendo um instrumento capaz de organizar o processo de trabalho com o objetivo de torná-lo mais qualificado e produtivo na oferta de uma assistência de enfermagem integral, tendo como prioridade oferecer o cuidado humanizado aos clientes.7 A gerência é como a arte de pensar, de decidir e de agir, a arte de fazer acontecer e de obter resultados. O gerenciamento não é apenas um processo científico e racional; é também um processo de interação humana que lhe confere uma dimensão psicológica, emocional e intuitiva.7 Na gerência da equipe de enfermagem, vários fatores podem estar relacionados: a multiplicidade de concepções de gerenciamento, experiências profissionais anteriores, características pessoais que se refletem em sua profissão, interesse administrativo e gerencial, que podem ajudar ou prejudicar ao desenvolver gerencia.8 Em enfermagem, gerenciar implica tomar decisões. Para tal, é indispensável certo grau de autonomia, de boa relação com os indivíduos, além de conhecer e assimilar a política da instituição para poder desenvolver o processo de trabalho, como também a valoração das ocorrências a partir das relações estabelecidas no cotidiano.9

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Humanização Em 2000, o Ministério da Saúde, sensibilizado pelo número significativo de queixas dos usuários referentes aos maus-tratos nos hospitais, tomou a iniciativa de convidar profissionais da área de saúde mental para elaborar uma proposta de trabalho voltada à humanização dos serviços hospitalares e de saúde. Estes profissionais constituíram um Comitê Técnico que elaborou um Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que teve como objetivo promover uma mudança de cultura no atendimento de saúde no Brasil.10,11 Com estas questões, foi proposto que o PNHAH esteja engajado em um conjunto de ações integradas que visam mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil, aumentando a qualidade e a eficácia dos serviços prestados por estas instituições e aprimorando as relações entre profissionais de saúde, usuários e do hospital com a comunidade.10,11 Assim, “humanizar o atendimento não é apenas chamar a paciente pelo nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente, mas também compreender seus medos, angústias, incertezas, dando-lhe apoio e atenção permanente”.10 Além disso, envolve conhecimento técnico-científico, administração e gerenciamento do atendimento. Isso vai além de ser aquele trabalhador que presta assistência direta, como todos os trabalhadores de saúde que estão envolvidos no atendimento, desde o que faz sua admissão na instituição e os que direta ou indiretamente contribuem para que este esteja bem, até os que prestam o cuidado direto, entre os quais podemos citar com muita propriedade a equipe de enfermagem. Humanizar, além do atendimento fraterno e humano, é procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente e valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos os elementos implicados no evento assistencial. Na realidade, a humanização do atendimento, seja em saúde ou qualquer outra área, deve valorizar o respeito afetivo ao outro, prestigiar a melhoria na vida de relação entre pessoas.10 A humanização deve fazer parte da filosofia de enfermagem. São importantes o ambiente físico e os recursos materiais e tecnológicos; todavia, não mais significativos do que a essência humana. Assim sendo, irá conduzir o pensamento e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro, tornando-o mais crítico e capaz de modificar a realidade das pessoas que vivenciam com o ambiente hospitalar.12 “Quando o profissional assume a posição do doente, o conceito de humanizar reflete a percepção da “doença-enfermidade” que constitui uma interpretação e um julgamento das impressões sensíveis produzidas pelo corpo. Portanto, não é meramente um estado de

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Artigo de Reflexão

Gerenciamento do enfermeiro e o cuidado humanizado


satisfação das necessidades que cada um apresenta no contexto que estão inserido, não esquecendo a busca por melhores condições de trabalho, assim valorizando a categoria e a ocupação do espaço na realidade de cada serviço de saúde.15

CONSIDER AÇÕES FINAIS Precisamos estar refletindo um pouco mais quanto aos processos de gerenciamento e humanização do cuidado, para que tenhamos novas realidades nas organizações, com práticas inovadoras e modernas. Tais posturas exigem dos profissionais de saúde, especialmente do enfermeiro, um olhar amplo acerca das necessidades do usuário. É necessário imergir em alguns aspectos, como a criatividade, a potencialidade, a autonomia e as inter-relações para poder dar conta de todas as ações de competência específica, não esquecendo que as necessidades não são somente dos usuários, mas também dos trabalhadores que fazem parte da concretização do cuidado. A humanização envolve questões muito amplas, que incluem a operacionalização de um projeto político de saúde, o compromisso social e a qualidade de vida, em que poderes e relações interpessoais se fazem presentes diariamente. Para realizar uma gerência pensando em um cuidado humanizado, não podemos esquecer estas relações interpessoais, que permeiam usuários e trabalhadores de saúde e podem resultar em grandes transformações, como um dos elementos necessários para a qualidade do cuidar. Nesse contexto, é fundamental não perder de vista a reflexão e o senso crítico que auxiliam no questionamento de nossas ações, no sentido de desenvolver a solidariedade e o compromisso com o cuidado humanizado, que pode ir muito além e ser assumido tanto pela instituição como pelos trabalhadores, como possíveis de serem alcançados, desde que haja planejamento com objetivo de superar todas as dificuldades encontradas. Portanto, as reflexões quanto às ações do enfermeiro em administrar e gerenciar serviços de saúde e a prática do cuidado humanizado, buscando melhoria da qualidade aos serviços prestados, propostas neste estudo, elucidou o quanto o gerenciamento de enfermagem precisa evoluir. Carece e tem a necessidade de alcançar melhorias em prol da qualidade da assistência, tendo como grande desafio a transformação da prática do gerenciamento de enfermagem nos diversos campos de atuação. Esta postura certamente implicará uma importante transformação no saber, no conhecimento, na técnica e na vivência, que é importante na promoção do cuidado humanizado aos clientes, assim como na relação interpessoal da equipe de enfermagem. O enfermeiro deve desempenhar gerência inovadora, com modelos

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sofrimento, mas também uma realidade sociocultural. Essa é, então, a perspectiva do ideal de humanizar. Colocando-se no lugar do outro, o profissional passa a cuidar, considerando um significado de humanizar que envolve respeito, dignidade, abrangendo a expressão “amar ao próximo como a si mesmo”.12 O significado do cuidado humanizado é possível a partir da conscientização de que o ser humano é capaz de buscar a si mesmo, a sua essência e, por consequência, buscar o outro. A enfermagem tem a responsabilidade e o compromisso ético e profissional de resgatar o sentido do seu agir. O processo de humanização envolve uma relação entre o doente e o trabalhador, valorizando a afetividade e a sensibilidade como elementos necessários do cuidar. Então, compreendemos que tal relação não supõe apenas um ato de caridade exercido por profissionais, mas um encontro entre sujeitos, pessoas humanas, que podem construir uma relação saudável, compartilhando saber, poder e experiência vivida.13 “Nesse contexto, é fundamental não perder de vista a reflexão e o senso crítico que nos auxiliam no questionamento de nossas ações, no sentido de desenvolver a solidariedade e o compromisso”.13 Isso tudo envolve um aprendizado contínuo e vivencial, buscando aprimorar conhecimentos, em busca de uma sistematização humanizada no atendimento e nas relações com todos os grupos tanto sociais como os do trabalho, alargando a sensibilidade e a atenção para a escuta e o diálogo. O cuidado pode ser um ato individual que deveríamos prestar a nós mesmos primeiramente, para depois sermos recíprocos com as pessoas que de alguma forma necessitam de nossa ajuda. Portanto, a humanização, por ser um processo amplo, demorado e complexo, ainda apresenta resistências, por ter que envolver mudanças de comportamento, gerando e despertado insegurança e resistência. É claro que a não adesão envolve, além da relação do paciente com o profissional, fatores relacionados a pacientes, como: idade, sexo, estado civil, etnia, contexto familiar, escolaridade, autoestima, crenças, hábitos de vida.13 Assim, “para a implementação do cuidado com ações humanizadoras é preciso valorizar a dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecer o trabalho em equipe multiprofissional, fomentar a construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos, fortalecer o controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras, democratizar as relações de trabalho e valorizar os profissionais de saúde”.14 Dessa forma, continuar trabalhando a educação permanente em saúde, a todos os profissionais, aprimorando seus conhecimentos para que desenvolvam com responsabilidade o cuidado humanizado e utilizem tecnologias diferenciadas com o propósito de aproximar as pessoas e seus familiares, proporcionando a busca de

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Gerenciamento do enfermeiro e o cuidado humanizado


Artigo de Reflexão

Gerenciamento do enfermeiro e o cuidado humanizado

contemporâneos, por meios que possibilitem maior qualidade da assistência de enfermagem e satisfação de sua equipe, resultando na obtenção de objetivos da organização.

REFERÊNCIAS

Ano 1 – Número 3, Julho/Agosto de 2011 - paginas de 13 a 16

*Epitágoras Vieira Pacheco, Mônica Carine de Carvalho Pacheco – Acadêmicos da 7ª fase do curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. **Neiva Junkes Hoepers, Valdemira Santina Dagostin, José Otavio Feltrin – Enfermeiros Docentes do Curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC.

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Epitágoras Vieira Pacheco / Mônica Carine de Carvalho Pacheco / Neiva Junkes Hoepers / Valdemira Santina Dagostin / José Otavio Feltrin

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Mulheres enfermeiras continuam consumadas por discursos masculinizados – a velha imagem renovada por discursos viciados Women nurses continue consummated by masculinized speeches – the old image of renewed talks addicts Las mujeres enfermeras siguen consumada por discursos masculinizados – la vieja imagen de los adictos se reanuden las negociaciones *Roseana Maria Medeiros

**Edla Eggert

Resumo – O artigo reflete sobre discursos produzidos historicamente a respeito de mulheres enfermeiras, através da concepção masculina, culminando em uma imagem equivocada dessa profissional. Utilizando-se da metodologia analítica, de aparatos teóricos sobre discurso e premissas político-sociais de gênero feminino e temas sobre mulheres, a análise aponta para a necessidade de que as próprias mulheres e enfermeiras constituam novos processos discursivos, pelos quais poderão contribuir para a mudança de lógicas de discursos que emergem da ‘cultura do masculino’. Palavras-chave: Discurso; mulheres/enfermeiras; imagem social; enfermagem.

women, the analysis points to the need for women themselves and nurses would create new discursive processes by which they can contribute to the change of logical discourse that emerge the ‘culture of male’. Keywords: Speech; women/nurses; social image; nursing.

Abstract – The paper reflects upon historically produced discourses about women nurses, by designing men, culminating in an incorrect image of this profession. Using the analytical methodology apparatus of theoretical discourse and assumptions about gender politics and women’s issues on

Resumen – El artículo reflexiona sobre los discursos históricamente produjo alrededor de las mujeres enfermeras, mediante el diseño de los hombres, que culmina en una imagen incorrecta de la profesión. Utilizando la metodología de análisis, el aparato teórico de expresión y los supuestos políticos y sociales de género y asuntos de la mujer en las mujeres, el análisis señala la necesidad de que las propias mujeres y las enfermeras que crear nuevos procesos discursivos por los cuales pueden contribuir al cambio lógica de los discursos que emergen de la “cultura masculina”. Palavras-clave – Discurso; mujeres/enfermeras; imagen social; enfermería.

INTRODUZINDO A REFLEX ÃO cuidado tradicionalmente concebido como continuidade da dimensão familiar. Isto é, cuidar no senso comum ainda representa lançar mão de “habilidades femininas” aprendidas a partir da educação familiar e ampliálas através de uma aprendizagem formal, quando mulheres escolhem a profissão de enfermagem. Aqui as tentativas de desfazer, dentro do possível, a noção de que cuidar em enfermagem pertence “naturalmente” à extensão do espaço privado torna-se, sem dúvida, fundamental para romper com concepções clássicas e prontas sobre essas mulheres. Pensando nos discursos clássicos produzidos sobre mulheres, não fica difícil entender como elas são visualizadas socialmente, através de seu “mundinho particular de espaço doméstico” e, em decorrência, a associação deste papel tende a tornar-se condição fundamental para a representação de mulheres enfermeiras. Em seguida, podem-se fazer articulações em torno de por que as enfermeiras adquiriram, ao longo da história profissional, a imagem social de meras cuidadoras. Uma das extensões localiza-se – e injustamente – na distorção histórica de que as mulheres, por serem

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A tematização crítica a respeito das mulheres, a partir da emergência de teorias sobre o gênero feminino, tem se mostrado fortemente importante não apenas para continuar a abrir o universo “paralelo” em que as mulheres ainda aparecem na conjuntura político-social e no cenário mundial, mas, principalmente, a fim de analisar criteriosamente os espaços constituídos em termos de sua visualização discursiva. Nas tematizações sobre mulheres, uma questão que nos parece viável para refletir é a dos discursos. Como e por que mulheres são produzidas discursivamente, enquanto suporte familiar, entendidas ainda no espaço privado representa uma reflexão importante. É produtivo também pensar sobre mulheres e enfermeiras como colaborações reflexivas sobre as maneiras como as mulheres são assimiladas discursivamente nos espaços de trabalho formal. Do espaço formal de trabalho, pensar sobre discursos produzidos a respeito de enfermeiras parece-nos ser um bom modo de entender onde nos encontramos. Dois motes são essenciais para o desencadeamento de nosso pensamento. O primeiro relativo à ideia clássica de que enfermeiras desenvolvem suas atividades através do


cuidadoras da família, são, por natureza e não por condição social e pessoal, habilitadas a tornarem-se enfermeiras. Dos muitos desdobramentos que poderíamos nos apropriar para a reflexão, escolhemos o dos discursos, por entendermos que discursos, quando lançados contundentemente na sociedade, moldam imagens, às quais, muitas vezes, oferecem figuras que não condizem com a realidade.

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A HISTÓRICA IMAGEM DA MULHER/ENFERMEIR A A enfermagem profissional nasceu pelas mãos de uma mulher: Florence Nigthingale na Inglaterra dos anos 60 do século XIX. Como formadora do imaginário de enfermeiras ao longo do século XX e do presente, Florence legitimou que a profissão deveria manter rigidamente critérios para a formação de futuras profissionais. Os critérios criados por Nightingale corresponderam, em boa parte, ao que se poderia esperar do comportamento de uma mulher em meados daquele século e início do XX. Mulheres com posturas recatadas, com habilidades para fazerem de seu lar, quando do casamento, a “perfeição” da atividade feminina no âmbito doméstico. É preciso lembrar que, dentre os critérios propostos para o ingresso de candidatas à Enfermagem, estavam os de espírito de doar-se, a subalternidade à sociedade e ao homem, iniciados já no contexto familiar. O advento que passou a existir na forma de imagem social da mulher-enfermeira deu-se graças ao hibridismo a respeito da “aura” construída socialmente para esta profissional. Mesclaram-se, no desenrolar da evolução profissional, a imagem confirmada de recato, subalternidade, submissão e outros, elementos esses, fortemente disseminados nos primórdios da profissão. E ainda, a ideia de que enfermeiras foram originadas da postura cristã, instituída historicamente quando mulheres-freiras tinham a incumbência de tornarem-se enfermeiras. Esta imagem determinou e reafirmou ser a Enfermagem uma profissão meramente de extensão do espaço doméstico. Neste panorama, o fato de a profissão ter nascido pelas mãos de uma mulher seria o “bom começo” de uma carreira promissora, não fosse a perpetuação de um conceito internalizado socialmente de que as enfermeiras são mulheres responsáveis por um cuidado traduzido daquele que se institui a partir da conjuntura familiar. As práticas sociais através de simbologias e estereótipos a respeito das enfermeiras continuam em toda parte. Basta ver a distorção feita da mulher com chapéu simbolizado por uma cruz em tom vermelho, com vestido insinuante, denotando sensualidade e permeando o imaginário social masculino. Imagem ainda muito presente na mídia. Mas a imagem que

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ali se forma é um fragmento. Muito mais que ver uma possível erotização da mesma imagem, existe nesta composição imagética a denúncia do que foi e vem sendo dito a respeito destas profissionais. O dizer é uma questão de discurso. A noção de discurso foi amplamente estudada e analisada por várias correntes teóricas ao longo do século XX, mas queremos no contexto deste artigo instituí-la a partir de algumas obras foucaultianas, cujo teor analítico de discurso está centrado no mesmo discurso como prática política.1,2,3,4 O teórico trabalhou exaustivamente sobre as práticas sociais e históricas a fim de compreender como os discursos geram saberes e estes, verdades quase sempre abolutizadas. Para ele um discurso representa tudo que é dito, registrado ou oralizado e que, em sua repetição impõe saberes. A imagem social da mulher-enfermeira é um processo gerado de práticas sociais discursivas. Na obra A arqueologia do saber, de 2007, por exemplo, o teórico defendeu que um saber é diferente de conhecimento, porque aquele se impregna no meio social por ser decorrente de práticas discursivas. Esses saberes não são empíricos, mas elaborados de maneira muito complexa devido sua articulação com a própria produção de um discurso e as complexas redes político-sociais que são estabelecidas com os poderes. Por sua vez, o poder na visão do autor, é entendido como relações que controlam os sujeitos coletivos e são controladas por esses mesmos sujeitos. E também às concernentes hierarquizações institucionais3. A rede de relações proposta pelo teórico através de discursos aceitos como verdade permitiu que estes mesmos discursos se fixassem como verdades inquestionáveis. Já na referência teórica A ordem do discurso, de1996,1 há a ênfase que um discurso, para ser aceito e, dele emergirem verdades, é um discurso que deve necessariamente estar localizado em uma ordem estabelecida. Ordem que tem a ver com o primado do capitalismo e de sua vertente: a do mundo masculino. Um discurso que entra na ordem é aquele recorrente ou que diz por si mesmo. Torna-se homogêneo e aceito social e culturalmente porque se configura com o estabelecido em termos de normas sociais e políticas. Este discurso, a respeito da imagem das mulheresenfermeiras fixou uma imagem delas, que em nossa compreensão, infelizmente está longe de ser superada. O discurso é o responsável, dentro da proposta foucaultiana, por todas as formas de evolução e perpetuação culturais e assim, na conjuntura global da profissão de Enfermagem, as mulheres-enfermeiras continuam interpretadas como profissionais que cuidam, utilizando-se de uma complementação daquilo que desde cedo aprendem em casa. Discursos sobre a história da Enfermagem, a partir de sua internacionalização e, trazendo este fragmento para a realidade do Brasil, infelizmente conferem a essas mulheres uma “profissão de e para mulheres”. Tal

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Mulheres enfermeiras continuam consumadas por discursos masculinizados a velha imagem renovada por discursos viciados


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A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE MULHERES E ENFERMEIR AS

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O que é possível articular entre as noções de discurso na perspectiva de Foucault, saber e poder com a imagem social das mulheres-enfermeiras é que, indissociavelmente os discursos que foram produzidos na história da profissão culminaram com um equívoco ideário de que a profissão é, de fato e apenas, continuidade das atividades domésticas, tradicionalmente atribuídas ao espaço feminino. Apesar da impactante imagem erótica da enfermeira. E o que nos parece mais paradoxal. As mulheresenfermeiras, embora possam dizer não a este “legado” deixam-se capturar por lógicas discursivas que acentuam errônea e indissociavelmente o espaço doméstico com o de trabalho. Esta posição classicamente assumida pelas mulheres enfermeiras, talvez tenha alguma explicação menos cristalizada, dentro do que uma estudiosa das temáticas femininas desenvolveu sobre as posições sociais e políticas que as mulheres vem desenvolvendo em sua própria luta por uma outra visibilidade sociocultural.5 A teórica considerou produtivo que os movimentos de mulheres no mundo reflitam que a luta feminista, as conquistas por espaços sociais e políticos, somente se efetivarão quando nós, mulheres, nos desprendermos das simbologias culturais ao redor dos papéis clássicos femininos. E aqui inserimos propositalmente a força discursiva como armadilha para a manutenção da imagem da mulher continuar fortemente ligada a tradicional estrutura masculina. Se discursos foram produzidos para manter o lugar da mulher-enfermeira no mesmo patamar da ‘mulher dona de casa e mãe’ e, se estes discursos, mantém em sua interioridade uma lógica masculinizada, onde Florence entra neste jogo de palavras e de entendimento histórico? A contradição encontrar-se-ia no aspecto de que uma mulher foi a responsável pela disseminação da profissão de Enfermagem? A afirmação acima, ligada a questões de subalternidade e de outras tantas pressupostas inferioridades, amarradas a outros jogos de poderes que ingressam

na compreensão da imagem da mulher pela via da enfermeira, nos leva a pensar que a consumação da imagem mulher-enfermeira firmou-se como alguém devota a qualquer sacrifício. Imagem que se impregnou no meio social discursivamente. Florence é uma fração mínima no enredo da profissão constituída basicamente por mulheres. A lógica, inegavelmente, continua acentuando a pressuposta inferioridade das mulheres no mundo privado e no mundo do trabalho. E parece ter sua máxima dimensão discursiva justamente em profissões constituídas, em sua maioria, por mulheres como é a Enfermagem. Um artigo publicado em 2005 firmou como fato histórico a associação do cuidado aos processos de reorganização técnico-administrativa e política das instituições de saúde, incidindo na mulher enfermeira, a atividade de cuidar do outro, agora na dimensão profissional.6 Para as mesmas autoras, a condenação de saberes atribuídos historicamente à mulher-mãe, afunilou-se para a Enfermagem inconfundivelmente através da noção de cuidado: ação concebida como feminina e produtos das “qualidades naturais”, que fornece atributos e coerência” [...] ao exercício profissional (p. 110).6 As autoras também evidenciaram que a divisão sexual do trabalho é um princípio organizador da produção capitalista e, assim, a divisão vale para todas as sociedades, variando suas modalidades: trabalho de homem não é a mesma coisa que trabalho de mulher. Este último tem seu emblema mais fortemente identificado que o trabalho atribuído ao homem. Isto é: cuidar é ação feminina. Quando as mesmas pesquisadoras puseram-se a refletir sobre as relações dos sexos no interior da Enfermagem certificaram-se que o discurso interno da profissão é tanto de predominância homogênea, pela constituição de mulheres em maioria, quanto permanece reproduzindo a imagem feminilizada da profissão: “Observa-se, [...] a permanência de certos símbolos e situações que atestam que a profissão não é valorizante para a imagem social masculina” (p. 115).6 Quando nos atemos a todo aparato político-teórico e prático já construído sobre a presença feminina na Enfermagem e seus domínios em termos de gênero, as armadilhas criadas no decurso da evolução profissional atestam realmente as nuances problemáticas da profissão em relação aos entendimentos discursivos clássicos sobre a imagem da enfermeira. A mesma condição que rotulou a mulher-enfermeira como “continuadora do cuidado doméstico-privado para o público”, pelas discriminações sociais e históricas da profissão, acabou, porém, fazendo valer, em outro sentido e em caminho contrário, a possibilidade de que outras constituições descubram quem é esta mulher-enfermeira que, ao mesmo tempo em que é considerada “secretária do médico” é também

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afirmação merece ser pensada para além de nossa interlocução. Daí, termos resgatado de maneira breve a perspectiva foucaultiana de discursos para mostrar como discursos recorrentes enviaram o imaginário social para um ideal de enfermeira mesclado a clássicos conceitos tais como: o de dona de casa, o de mãe/ cuidadora, o de subalternidade, o de salários inferiores em relação a homens trabalhadores em outras áreas da saúde e ou de imagens que sugerem fortemente a ideia de que enfermeiras são, ou, o símbolo máximo de erotização ou a continuidade mesma do espaço doméstico.


concebida como figura “angelical” e em associação com o maternal ou, alguém “endiabrada” porque não comunga com traços que se aproximariam de atitudes angélicas. Também nos parecem contraditórias razões utilizadas para a manutenção de distorções históricas. Defendemos a premissa que os homens não podem ser acusados infinitamente por todo o processo de subalternidade da mulher e, por decorrência da enfermeira. Não negamos a importância deles na geração discursiva que vem subestimando a mulher ao longo da evolução humana. Atentamo-nos, entretanto, ao fato desta mulher-enfermeira vir aprendo historicamente a manter sua postura “sublime” e de submissão, sem que com o passar dos séculos basicamente nada tenha modificado em termos discursivos. Temos consciência de que nas últimas três décadas do século XX as mulheres contestaram, produziram conhecimentos sobre seu mundo, mas esvaziaram seu próprio discurso, a partir do ingresso do século XXI. Outro estudo publicado em 2006 contribuiu com nosso diálogo, quando expressou que entre as tantas e velhas dificuldades que as mulheres apresentam em termos de organização política, uma em especial merece ser sempre refletida. Para a pesquisadora nossos impasses estão ainda amarrados à concepção do masculino por este ser visto sempre como sujeito da ação, ritualizado pelas tomadas de decisões e sinônimo do provimento materiais.7 Ainda no século XVIII, trabalho publicado sobre a sujeição das mulheres já alertava para dois aspectos primordiais sobre a condição da mulher. Um deles foi que o autor chegou a defender que a escravidão da mulher seria mais perversa que a dos africanos espalhados pelo mundo, porque no caso da mulher ela viveria este processo de maneira totalmente solitária. Outro, quando ele foi incisivo sobre a condição feminina teria suas raízes nas próprias mulheres. Condição que ele intitulou de dominação voluntária, já que as mulheres não contestavam e consentiam historicamente fazer parte do jogo de domínio masculino. Quantas mulheres acalentam silenciosamente o desejo por aspirações semelhantes (de serem livres); porém existem inúmeras indicações de quantas acalentariam tal desejo, se não fossem tenazmente ensinadas a reprimir tal desejo, que é contrário às propriedades de seu sexo (p. 30).8 Acreditamos, entretanto, que parte desta superação histórica deva vir justamente de uma análise crítica dos mesmos discursos que produziram mulheres-enfermeiras de maneira tão equivocada. A genealogia das mulheres-enfermeiras poderia, dispensando-se histórica e temporariamente “os ranços” da imagem tradicional destas profissionais, vir pela coragem e ousadia de “sairmos do armário”. Não se trata de retomar o já superado movimento de luta contra os homens, mas em certo sentido contrapor o

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discurso clássico masculino, criando outros dentro da própria lógica de como as mulheres e enfermeiras se enxergam na realidade. Mas como se faz isto, sem adentrar novamente na lógica masculina? Parece-nos ponderado reativar sempre como os discursos dizem sobre as mulheres. Certamente um exercício que exige tempo, esforço e persistência. Envolver estes três elementos no cotidiano feminino não é responsabilidade apenas de cenários científicos, mas de assumirmos social e politicamente outras posturas. Diríamos outros lugares, apesar de diariamente sermos sugadas pelas exigências sociais da família, do trabalho e de comportamentos condizentes com as regras culturais. Talvez o exercício de nos ‘colocarmos no mundo’, possa render a construção de discursos de mulheres e delas, a partir da realidade vivida, superando discursos com pensamentos e comportamentos masculinos9. Dentro disso, importante retomar que na visão foucaultiana discurso é sempre prática política2; portanto, a superação discursiva da representação que os homens têm das mulheres é em si um forte exercício para possibilitar a mudança desejada pelas mulheres desde algum tempo. A tentativa para novos rumos discursivos às mulheres e por elas, poderia desta maneira, romper com discursos produzidos por homens a respeito do mundo feminino. E aqui as concepções de discursos como práticas políticas colaboram novamente com nossa reflexão quando se admite que alguns discursos são válidos e outros não no cenário sócio-cultural. Alguns discursos na história são interditados porque representam ameaça, perigo às vigências sociais.2 A interdição estaria colocada justamente para que certos discursos não contraponham, nem representem risco contra a ordem estabelecida. Porque não se quer reconhecer o lugar que eles ocupam. Por sua vez, a invalidade de alguns discursos na história, representou para a visão foucaultiana, discursos desviantes. Que não estão na ordem das leis, na solenidade de uma narrativa aceita como científica ou oficial.

A BUSCA POR ALGUMAS R AZOABILIDADES DISCURSIVAS Dentro do que pensamos como possível em termos de produção discursiva numa lógica feminista, por exclusividade, discursos podem ser praticados no sentido de que “ainda estão por dizer”.1 No que estamos expondo neste artigo, razoável registrar que a argumentação ao redor de discursos clássicos em uma concepção masculina e outros a tornarem-se discursivamente, a análise não se centra na polêmica discussão mulheres versus homens; ou ainda, mulheres contra homens. Muito para, além disto, a questão de discursos sobre mulheres e, em particular sobre enfermeiras está

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o problema de sua imagem é muito mais complexo em razão das relações que se interpenetram e entrecruzam social e profissionalmente. No material cogitou-se que as posições histórico-sociais e os lugares discursivos sobre as mulheres enfermeiras permanecem em um processo de assujeitamento, no sentido foucaultiano, pois o sujeito se constitui socialmente pelos lugares onde os discursos são materializados.10 Na pesquisa da autora o foco do estudo foi entender alguns princípios constitutivos de discursos produzidos sobre mulheres e, em particular sobre enfermeiras afrodescendentes. A partir do método de Grupo de Discussão – GD11 as participantes que colaboraram para o estudo posicionaram-se muito fortemente sobre as contradições histórico-sociais existentes a respeito das relações de gênero e da presença das mulheres no mundo. No que se referiu a presença de mulheres afrodescendentes na Enfermagem e a ausência de discursos a seu respeito em uma revista tradicional de Enfermagem, os sujeitos que constituíram o grupo de reflexão, impuseram claramente que sua imagem, via discurso, continua fortemente atrelada a processos históricos de exclusão social, decorrente do preconceito e da discriminação contra as mulheres e contra a cor da pele. Do breve fragmento a respeito de mulheres enfermeiras exposto acima, é possível refletir que a presença feminina no ‘mundo da Enfermagem’ ainda é marcada incisivamente por uma relação equivocada entre o trabalho através do cuidado e uma complexa rede difusa de correlações que simboliza a enfermeira como uma profissional, cuja atividade é “de fato” extensão da atividade doméstica. Mais que isto, a imagem da enfermeira é construída discursivamente para manter relações rançosas estabelecidas ao longo da história: submissão e subserviência no trabalho, doação, servir e cuidar, aspectos muito peculiares na atividade científica da Enfermagem. E mais. Uma profissão contraditória também por manter discursos sobre respeito às diferenças, mas não saber lidar com elas internamente. No caso de discursos não produzidos sobre enfermeiras afro-descendentes, no estudo a que nos referíamos a pouco, o exemplo serve para pensarmos que discursos, contestadores ou não, são estratégias de permanência assimétrica e de desestabilizações nas relações sociais entre mulheres e homens. Algumas precauções a respeito de discursos e, por decorrência, sobre a imagem da mulher enfermeira precisam ser tomadas. Entre elas, as que dizem respeito às posições que as mulheres enfermeiras poderão vir ocupar na profissão e no meio social. Entendemos que não há como retornar a um ponto obscuro em algum lugar do passado, para dele fazer valer uma imagem que não à clássica sobre as enfermeiras. Mas é possível re-visitar sempre o passado para dele, tornar possível uma análise crítica do presente. A análise discursiva sabiamente singularizou

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tramada numa complexa rede de micro poderes, oriundos da história e da própria constituição da categoria profissional de enfermeiras. Acostumadas que estamos a “nos pensarem”, ao invés de pensarmos por “nós mesmas”, colaboramos historicamente para a construção de uma imagem de mulher/enfermeira que nunca teve referência com a realidade profissional, a não ser quando discursos masculinos formaram esta imagem, perpetuando a profissão como a exemplo da extensão de um cuidado doméstico. A alusão que fazemos ao sentido de doméstico não pretende de forma alguma desprezar atividades de mulheres que se dedicam a ele. Ao contrário, os apontamentos visam somente [des] configurar, como também transgredir o preconceito sobre mulheres e enfermeiras em suas atividades como extensão e naturalização do privado. No que propomos como possível em termos discursivos das e para as mulheres e enfermeiras, salientamos que nossa posição não é de ingenuidade. Óbvio que um discurso aqui, outro ali, isoladamente teria a mesma reação da expressão popular “fazer chover no molhado”. Não negamos a perversidade discursiva que coloca as mulheres, como sujeitos de “segunda categoria”; não radicalizamos nossas posições no entendimento de que são unicamente os homens responsáveis pela condição feminina ainda e em pleno século XXI; mas nos colocamos diante da própria imagem profissional e assumimos que a mesma imagem necessita urgentemente ser modificada, não para moldar-se ao momento, mas para fazer diferença diante dos obstáculos a serem superados. Valemo-nos outra vez das contribuições de outra teoria feminista tomando suas ideias imperativas sobre a necessidade de as mulheres, politicamente não negociarem “espaços sagrados”, como instituições familiares, religiosas e outras legitimadas no decurso da história e do poder macroestrutural, pois segundo ela, estes são espaços masculinos. A teórica enxergou a macroestrutura totalmente sustentada pela supremacia da masculinidade, ao mesmo tempo em que esta mesma supremacia alimenta-se de marginalidades, como as em que ainda se encontram a situação das mulheres social e politicamente.9 Em um estudo realizado em 2010 sobre mulheresenfermeiras produzidas discursivamente, entre outros elementos, a autora constatou que as mulheres e enfermeiras, ainda são seres “desprovidas de voz”, amarradas a uma perversidade patriarcal, que as faz pensar e agir a partir de suas posições histórico-sociais, que ainda reproduzem um severo desnivelamento nas relações de sócio-culturais entre homens e mulheres10. Além disto, a autora verificou que os lugares discursivos – como os pensados na concepção foucaultiana2 – são de subalternidade, no máximo de contestações isoladas. Isso a fez pensar que no caso das enfermeiras,


a questão do passado ao afirmar que sua busca é sempre importante em termos de compreender espaços discursivos como lugares privilegiados, pois é por eles que se faz o questionamento do presente4. Outra cautela importante refere-se à singularidade profissional. A luta pela visibilidade da enfermeira que não a tradicional, vem sendo um símbolo de ação em muitas profissionais, tanto no campo de práticas da profissão, ligado a instituições hospitalares, em saúde coletiva e outros, quanto, por exemplo, na docência, em particular, por profissionais dedicadas ao campo da pesquisa. A cautela sobre o que é singular na profissão parecenos um impulso que pode fazer a diferença. Uma coisa é tratar e praticar o cuidado como elemento científico e a serviço de quem necessita ser cuidado12. Outra coisa, e bem distinta, é ver o cuidado pelo viés do ‘espaço privado’. Assim, o exercício de não impingir uma “prática doméstica” sobre o cuidado de enfermagem deve ser um constante aprendizado interno, em razão de nossa herança porque como mulheres somos ensinadas a “servir”. Sobre a educação das mulheres, a partir do contexto familiar também buscamos suporte teórico13. De acordo com a visão da teórica o papel sexual é assimilado muito precocemente pelas meninas e pelos meninos. Por sua vez, a pressão social sobre as meninas é exercida sob formas sutis, difíceis de serem percebidas; porém elas estão ali; sempre mantidas por agentes socializadores como a família, a escola e os demais meios sociais. O que acarreta uma dimensão bastante complexa na mulher em termos do que ela representa para os outros e o que representa para si. Não nos é demasiado refletir que cabe somente às mulheres e – enfermeiras – discursar sobre suas experiências; experimentar novos caminhos. Praticar outra lógica através da não permissividade de uma imagem dissociada do contexto em que ainda vivem como mulheres e profissionais. Pertinente lembrar que um discurso que não se enquadra em normas sociais vigentes torna-se um discurso que não pode ser controlado por ser este mesmo “não simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os

sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta o poder do qual nós queremos apoderar” (p. 10).1 Quem sabe, então, torne-se necessário radicalizar novos lugares discursivos para que as mulheres enfermeiras não continuem sendo consumadas por discursos masculinizados. Insistir na velha imagem da enfermeira ideal, renovada por discursos viciados serve apenas para a continuidade da cristalização desta mesma imagem. Talvez, possamos, de agora em diante, exercitar mais discursos que contraponham a ideia de ‘timidez’ pois em se tratando de analisar sobre o gênero feminino e sobre mulheres, tudo ainda está permeado por uma estreiteza que tem dificuldades de retirar-se dos processos patriarcais. A contradição encontra-se justamente no estar e não estar no patriarcado9.

Referências 1 Foucault, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 20ª edição, 2010. 2 Foucault, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. 3 Foucault, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1992. 4 Foucault, M. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 5 Pisano, M. El Triunfo de la masculinidad. 2001. Disponível em www. creatividadfeminista.org/libro. Acesso em 28/10/2008. 6 Lopes, M.J.; Leal, S.M.C. A Feminização persistente na qualificação profissional da enfermagem brasileira. Cadernos Pagu. UNICAMP: São Paulo, janeiro-junho de 2005, p. 105-125. 7 Minayo, M.C. Violência e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006. 8 Mill, S. A sujeição das mulheres. Texto Integral. Tradução: Ginza, D. São Paulo: Escala, 2006. 9 Pisano, M. Julia, quiero que seas feliz. Chile: Lom Ediciones, 2004. 10 Medeiros, R.M. Com a palavra a mulher negra – [a vez] e a voz de enfermeiras afro-descendentes a respeito de suas representatividades discursivas: um fio condutor para uma nova abordagem educativa. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Unisinos: São Leopoldo, 2010. 11 WELLER, V. Gênero e juventude. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, 13(1):216; janeiro-abril/2005. 12 Maluf, S.W. Os dossiês da REF: além das fronteiras entre academia e militância. Revista Estudos Feministas. Florianópolis: Santa Catarina; 12(N.E.): 264, setembro-dezembro, 2004, p. 235-243. 13 Maccoby, E.E. Gender and relationships. American Psychologist. 1991, 46, 538-539 [Links].

*Roseana Maria Medeiros – Doutora em Educação – UNISINOS; Mestre em Educação – UFRGS; Docente e pesquisadora em Enfermagem. **Edla Eggert – Doutora em Teologia, Docente e Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGEDU/UNISINOS.

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Roseana Maria Medeiros / Edla Eggert

Ano 1 – Número 3, Julho/Agosto de 2011 - paginas de 17 a 22

Artigo de Pesquisa

Mulheres enfermeiras continuam consumadas por discursos masculinizados a velha imagem renovada por discursos viciados


Pós-Operatório: avaliação de enfermagem dos pacientes submetidos à facectomia Postoperative: evaluation of nursing of the submitted patients the cataract surgery Postoperatorio: evaluación del oficio de enfermería de los pacientes sometidos la cirugía de catarata *Luciane da Cunda Gomes

**Rita Catalina Aquino Caregnato

Resumo – Este estudo objetivou conhecer o pós-operatório dos pacientes ambulatoriais submetidos à facectomia. Pesquisa exploratória descritiva, com abordagem quantitativa, realizada em um Hospital Oftalmológico da Região do Vale do Rio dos Sinos, sendo a população 94 pacientes submetidos à cirurgia por técnica de facoemulsificação e a amostra constituiu-se por 37 pacientes que receberam orientações e foram avaliados pela enfermeira no dia seguinte da cirurgia. Os resultados evidenciaram que 20 sujeitos (54,05%) estavam realizando a primeira cirurgia de catarata, 100% compareceram as revisões e declararam ter sempre um familiar lhes auxiliando. O perfil foi 54,05% pacientes do sexo feminino com faixa etária entre 44 anos a 85 anos, média de 68,7 anos. Quanto ao pós-operatório, 26 pacientes (70,27%) fizeram uso de medicação analgésica, sendo que 19 (51,35%) sentiram pouca dor e 2 (5,40%) dor insuportável; 4 (10,81%) tiveram tosse; 3 (8,10%) fumaram; 4 (10,81%) não trouxeram o colírio indicado embora todos tenham afirmado terem sido bem orientados. Observou-se, em alguns casos, que o paciente foi orientado e levou as recomendações por escrito, porém não seguiu algumas delas. A partir da avaliação realizada concluiu-se ser necessário um aprimoramento no formulário entregue no momento da alta do paciente, dando maior ênfase nas questões não compreendidas, desta forma pretende-se fornecer uma orientação mais eficaz. Palavras-chave – Enfermagem; oftalmologia; cirurgia ambulatorial.

years to 85 years, mean 68.7 years. The postoperative period 26 patients (70.27%) made use of analgesics, and 19 (51.35%) felt little pain and 2 (5.40%) excruciating pain; 4 (10.81%) had cough; 3 (8.10%) smoked; 4 (10.81%) did not bring the drops indicated although all have said they were targeted. There was, in some cases, the patient was instructed and took the written recommendations, but did not follow some of them. From the assessment carried out concluded that it was a necessary improvement in the form provided at the time of discharge, a greater emphasis on issues not included in this way aims to provide better guidance. Keywords – Nursing; ophthalmology; laparoscopy.

Introdução O paciente submetido à cirurgia de catarata, também denominada facectomia, está buscando melhorar sua qualidade visual e, consequentemente, sua qualidade de vida. A recuperação da visão através desta cirurgia produz benefícios econômicos e sociais para o indivíduo, sua família e comunidade. Para que a cirurgia tenha bons resultados, os pacientes precisam ter cuidados específicos no pós-operatório para não comprometer o resultado final. A orientação

da enfermagem no pós-operatório é de fundamental importância para envolver o paciente no seu tratamento alcançando o sucesso do serviço prestado. A cirurgia, eletiva ou de emergência, é um evento estressante e complexo para o paciente. Muitos dos procedimentos simples que não precisam de hospitalização são feitos em Centros Cirúrgicos e unidades ambulatoriais de cirurgia.1 Cada vez são mais frequentes as cirurgias ambulatoriais devido à

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Abstract – This study investigated the postoperative period of outpatients undergoing cataract surgery. Descriptive exploratory study with a quantitative approach, carried out in an Ophthalmology Hospital Region of Vale do Rio dos Sinos, with a population of 94 patients underwent surgery by phacoemulsification and the sample consisted of 37 patients who received guidelines and were evaluated by the nurse the day after surgery. The results showed that 20 subjects (54.05%) were taking the first cataract surgery, 100% attended the review and said they had always been a family helping them. The profile was 54.05% female patients aged between 44

Resumen – Este estudio investigó el postoperatorio de los pacientes ambulatorios sometidos a cirugía de catarata. Estudio exploratorio descriptivo, con enfoque cuantitativo, realizado en una región de Oftalmología del Hospital de Vale do Río dos Sinos, con una población de 94 pacientes sometidos a cirugía por facoemulsificación y la muestra consistió en 37 pacientes que recibieron directrices y fueron evaluados por la enfermera el día después de la cirugía. Los resultados mostraron que 20 sujetos (54,05%) estaban tomando la cirugía de catarata en primer lugar, el 100% asistió a la revisión y dijo que siempre había sido una familia de ayudarlos. El perfil fue 54,05% pacientes del sexo femenino con edades comprendidas entre 44 años a 85 años, media 68,7 años. El período postoperatorio 26 pacientes (70,27%) hicieron uso de analgésicos, y 19 (51,35%) considera poco de dolor y 2 (5,40%), dolor insoportable; 4 (10,81%) tenían tos, 3 (8,10%) ahumados; 4 (10,81%) no ha aportado las gotas indicadas, aunque todos han dicho que fueron atacados. Hubo, en algunos casos, el paciente fue instruido y tomó las recomendaciones por escrito, pero no seguir algunos de ellos. De la evaluación realizada concluyó que era necesaria una mejora en la forma prevista en el momento de la descarga, un mayor énfasis en aspectos que no están de esta manera tiene como objetivo ofrecer una mejor orientación. Palabras-clave – Enfermería; oftalmologia; Laparoscopía.


economia de custos, pela eliminação da internação hospitalar, bem como por diminuir riscos de infecções hospitalares.2 Atualmente, a cirurgia de catarata é um procedimento rápido, pouco invasivo, com duração média inferior a 60 minutos, com poucas complicações e dor facilmente controlável, por isso é realizada ambulatorialmente. O paciente não fica monitorado pela equipe de saúde em todo tempo do período pós-operatório, isto porque ao ter alta para sua residência, o paciente e/ou familiar passa a ser responsável pelo cuidado. Desta maneira a educação do paciente, seus familiares ou pessoas próximas é facilitar a preparação adequada para atingir as necessidades de cuidados pós-operatórios e a procura de ajuda adicional, caso necessário.3 A educação do paciente e seus familiares faz parte da cirurgia ambulatorial e deve ser realizada tanto pela equipe médica quanto pelo(a) enfermeiro(a); o processo é contínuo, começando no pré-operatório e continuando após a alta do paciente. A cirurgia de catarata tem como meta restaurar a função visual, sendo suas complicações raras. Contudo, quando elas ocorrem, podem ter efeitos significativos sobre a visão, por isso os cuidados devem ser específicos, o paciente precisa estar bem orientado, pois é um fator essencial para o resultado cirúrgico e a reabilitação visual. Este trabalho objetiva conhecer o pós-operatório dos pacientes submetidos à cirurgia ambulatorial de facectomia, em um Hospital especializado em oftalmologia do Vale do Rio dos Sinos. Enfoca as orientações fornecidas ao paciente e familiar para uma recuperação cirúrgica satisfatória, fazendo uma avaliação de enfermagem nos aspectos em que podemos intervir. Atualmente, os pacientes são orientados pelo enfermeiro no momento de sua alta hospitalar, juntamente com seus familiares, a respeito dos cuidados que devem ter no pós-operatório. O interesse em estudar este tema surgiu mediante as dúvidas trazidas pelos pacientes no pós-operatório, visando melhorar a assistência prestada neste serviço de saúde. Partindo do princípio que os pacientes submetidos à cirurgia de catarata precisam ter cuidados específicos após o procedimento; para ter uma recuperação efetiva com melhora da visão é fundamental que este paciente seja muito bem orientado quanto aos cuidados que precisa ter no período pós-operatório. Pretende-se através deste estudo aprimorar as orientações fornecidas atualmente neste serviço de saúde, de acordo com as necessidades encontradas na pesquisa.

METODOLOGIA Esta é uma pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa.

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O estudo exploratório começa com algum fenômeno de interesse, no entanto é mais do que simplesmente observar e descrever o fenômeno, ela investiga a sua natureza complexa e os outros fatores com os quais está relacionado.4 A pesquisa exploratória visa a primeira aproximação de um tema e criar maior familiaridade em relação a um fato ou fenômeno; a descritiva objetiva explorar uma situação não conhecida, da qual se tem necessidade de maiores informações, permitindo descrever com exatidão os fatos ou fenômenos de determinada realidade.5 A finalidade dos estudos descritivos é observar, contar, descrever e classificar, pois em enfermagem a descrição pode ser uma finalidade importante para o desenvolvimento de uma pesquisa quantitativa, pois envolve a predominância, a incidência, o tamanho e os atributos mensuráveis de um fenômeno.4 Um estudo quantitativo visa descrever e sintetizar dados para chegar a conclusões de uma população, a partir de uma amostra. A informação quantitativa medese em número após ser avaliada estatisticamente, “informação numérica que resulta de mensuração formal e que é analisada com procedimentos estatísticos”.4:29 Os métodos quantitativos permitem avaliar a importância, gravidade, risco e tendência de agravos e ameaças. Eles tratam de probabilidades, associações estatisticamente significantes, importantes para se conhecer uma realidade. Por outro lado, o campo da saúde é produto de uma realidade complexa que envolve aspectos biológicos, físicos, psicológicos, sociais e ambientais. Nele, muitas vezes há necessidade de se avaliar valores, atitudes e crenças dos grupos a quem as ações se dirigem.6 O campo de ação desta pesquisa foi um Hospital especializado em Oftalmologia localizado na Região do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, sendo disponibilizadas consultas nos setores especializados de catarata, glaucoma, retina e estrabismo, exames diagnósticos e diversos tipos de cirurgias oftalmológicas, com atendimento quase que em sua totalidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo referência neste segmento na região. O maior volume de cirurgias realizadas é de facectomia e a pesquisa direcionou-se exclusivamente a este tipo de cirurgia. A população desta pesquisa foram 94 pacientes submetidos à cirurgia de catarata, no período de 1 de setembro e 31 de outubro de 2009. A amostra constituiu-se de 37 pacientes que aceitaram participar da pesquisa. O instrumento de pesquisa foi um questionário com perguntas fechadas (Apêndice A), aplicado ao paciente pela pesquisadora, no dia seguinte à cirurgia, antes da primeira revisão de pós-operatório. O método de coleta de dados constituiu-se de várias etapas. Inicialmente, os pacientes submetidos à cirurgia de facectomia, ao receberem alta, foram orientados juntamente com seus familiares, pela enfermeira do

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Pós-Operatório: avaliação de enfermagem dos pacientes submetidos à facectomia


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A catarata é considerada a principal causa de cegueira, sendo responsável por cerca da metade

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

do número de cegos no mundo,8 consiste no embaçamento progressivo do cristalino, resultando na distorção dos raios luminosos e ofuscamento dos objetos.9 A cegueira, ocasionada por ela, atinge em torno de 25 milhões de pessoas e o crescimento deste número é esperado nas próximas décadas em virtude do aumento da sobrevida da população. No momento, o único tratamento para a catarata é a cirurgia; felizmente, é uma das operações mais realizadas na medicina e, provavelmente, a mais efetiva. Geralmente, é um procedimento feito com anestesia local, sendo considerado seguro e bem tolerado pelo paciente.10 O perfil da amostra deste estudo foi constituído de 20 sujeitos do sexo feminino (54,05%) e 17 do sexo masculino (45,94%). A faixa etária variou de 44 anos a 85 anos, com média de 68,7 anos, o que vem ao encontro da literatura que indica mais de 50% das pessoas acima de 60 anos apresentam catarata.9 A cegueira por catarata incapacita o indivíduo, aumenta sua dependência, reduz sua condição social e resulta em aposentadoria profissional precoce.8 A catarata adquirida é aquela que se desenvolve no decorrer da vida, a mais comum é a catarata senil, relacionada com a esclerose do cristalino e tem caráter hereditário, começa a partir dos 70 anos, no entanto pode aparecer mais cedo.9 Apesar de existirem inúmeras causas e formas de catarata, elas sempre se desenvolvem de maneira similar. A lente normal é mantida em uma proporção de 66% de água e 33% de proteína. Existe um complicado sistema de bombeamento de sódio que mantém o balanço água/proteína adequado, quando ocorrem danos a este sistema bioquímico, o bombeamento falha, ocorrendo entrada reduzida de oxigênio no interior da lente e, como resultado, há perda de transparência e formação da catarata.11 Os três tipos mais comuns de catarata senil são definidos por sua localização no cristalino: Nuclear, Cortical e Subcapsular Posterior. A extensão do comprometimento visual depende do tamanho, densidade e localização no cristalino.1 Dos 37 participantes da pesquisa, 20 sujeitos (54,05%) estavam realizando a primeira cirurgia de catarata e 17 sujeitos (45,94%) estavam realizando a cirurgia do segundo olho. Quando a catarata está presente em ambos os olhos a cirurgia é realizada primeiramente em um olho, com um intervalo mínimo de algumas semanas, prevenindo algumas complicações pósoperatórias que possam ocorrer durante este período.1 O tratamento para a catarata é sempre cirúrgico, a técnica a ser empregada vai depender da avaliação do cirurgião para o tipo de catarata a ser operada. As técnicas disponíveis no mercado atualmente são: Intracapsular, raramente utilizada; Extracapsular, ainda utilizada por alguns cirurgiões; Facoemulsificação, técnica mais utilizada e que oferece o melhor prognóstico para o paciente.9

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Bloco Cirúrgico. Neste momento foram reforçadas as orientações que o paciente levará por escrito e esclarecidas as dúvidas que o paciente e/ou familiar tiverem na ocasião. Os cuidados devem ser seguidos, no mínimo, por uma semana, visando um bom resultado, que é a melhora visual. Os pacientes são orientados a evitarem baixar a cabeça e movimentos bruscos, por ter sido colocada uma lente dentro do seu olho, podendo se deslocar caso não siga as recomendações. Pelo mesmo motivo não deve ser realizado nenhum tipo esforço físico pelo paciente, assim como evitar cozinhar, realizar serviços domésticos, carregar peso, dormir do lado operado ou coçar os olhos. Também são orientados a fazer uma refeição leve evitando frituras e comidas pesadas. Devem tomar medicação analgésica prescrita somente em caso de dor. Os pacientes não devem tomar chimarrão, a força realizada ao ingerir a bebida também pode deslocar a lente implantada. É permitido tomar banho normalmente, podem assistir televisão, não há necessidade de ficar deitado todo o tempo nem acordar durante a noite para instilar os colírios. É fundamental lavar bem as mãos sempre antes de aplicar o colírio prescrito e que o paciente compareça na revisão de cirurgia, de acordo com a rotina realizada no dia seguinte ao procedimento cirúrgico. É solicitado ao paciente que traga consigo um colírio (conforme prescrição médica), para iniciar o uso após a retirada do curativo. Com base nos aspectos éticos toda e qualquer informação que forneça a identificação dos sujeitos da pesquisa não será abordada na mesma. Ao realizar uma pesquisa é imprescindível preservar os direitos e a privacidade dos sujeitos de pesquisa, sendo a questão ética de fundamental importância na investigação, devendo estar presente em todas as ações do pesquisador. No presente trabalho foi respeitada a Resolução 196/96 do Ministério da Saúde7 obedecendo as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.4 O projeto de pesquisa foi apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital, obtendo-se autorização para sua realização, cumprindo todos os requisitos éticos necessários para sua execução. Os pacientes entrevistados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que informava os objetivos do estudo, garantindo o anonimato e a desistência de sua participação em qualquer momento. Foi também informado aos participantes que os dados serão utilizados exclusivamente para o desenvolvimento dessa pesquisa. Os participantes assinaram o termo juntamente com a pesquisadora e lhes foi entregue uma cópia xerográfica da mesma.


No presente estudo todos os participantes foram submetidos à técnica de facoemulsificação. A facoemulsificação consiste em uma pequena incisão de 2,5 mm, através da qual entra um aparelho que utiliza ondas de ultrassom para fracionar o cristalino e aspirar todos os seus fragmentos. Essa técnica permite que a ferida cicatrize mais rapidamente, sem a necessidade de pontos. A cicatrização ocorre com a ajuda da pressão natural do olho, sendo que a recuperação visual é mais rápida do que a extração extracapsular da catarata.12 Referente à dor no pós-operatório, 13 pacientes (35,13%) referiram não ter sentido nenhuma dor, mesmo assim, 5 pacientes desta amostra (13,51% do total) fizeram uso de medicação para dor. Os pacientes que referiram ter sentido pouca dor foram 19 sujeitos (51,35%), destes apenas 1 (2,70%) não fez uso de medicação para dor. Os pacientes que referiram muita dor foram 3 sujeitos (8,10%), contudo todos utilizaram medicação para dor. Por fim, 2 pacientes (5,40%) referiram ter sentido dor insuportável fazendo uso de medicação para dor. A medicação analgésica prescrita de rotina para todos os pacientes, em caso de dor, é paracetamol 750mg; 26 pacientes (70,27%) fizeram uso de medicação analgésica, sendo que 25 pacientes (67,56%) utilizaram a medicação prescrita e 1 (2,70%) usou aspirina, embora seja orientação para todos os pacientes que suspendam seu uso no pré-operatório. É solicitado aos pacientes que tragam um colírio (prescrito pelo cirurgião) para uso no pós-operatório, na consulta de revisão da cirurgia com o médico oftalmologista, pois o uso desta medicação será iniciado depois de retirada do curativo oclusor. Da amostra estudada, 4 pacientes (10,81%) não trouxeram o colírio indicado, destes 1 paciente referiu que não havia na farmácia, 1 não teve tempo para comprar e 2 não entenderam a solicitação para trazer o colírio. Quanto às situações questionadas de acordo com o instrumento de pesquisa, 4 pacientes (10,81%) tiveram tosse, 3 pacientes fumaram (8,10%), as demais categorias não foram citadas. Quanto à condição clínica, 14 pacientes (37,83%) declararam ser hipertensos, 7 pacientes (18,91%) afirmaram ser diabéticos e 6 pacientes (16,21%) referiram ter alguma patologia cardíaca. Todos fazem tratamento e utilizam medicações para as patologias referidas. Quando questionadas sobre outras patologias exceto as 3 citadas, houve 1 com Mal de Parkinson, 1 com hipotireoidismo, 2 referiram glaucoma, 2 com depressão e 1 com asma. Uma das recomendações no pré-operatório é a suspensão de medicação anticoagulante pelo menos 15 dias antes da cirurgia. Dos pacientes entrevistados 10 (27,02%) faziam uso desta medicação e fizeram a suspensão da mesma com variação de 7 a 90 dias.

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Algumas complicações no pós-operatório da cirurgia de catarata são: erro de grau; infecções; inflamações; aumento da Pressão Intraocular (PIO); edema de córnea; descentralização da Lente Intraocular (LIO); hipotonia ocular e descolamento de retina(9). Desta forma é fundamental a revisão no pós-operatório imediato; dos pacientes entrevistados 100% compareceram a revisão no dia seguinte a cirurgia conforme o recomendado. Todos os pacientes entrevistados declararam ter sempre um familiar lhes auxiliando. Quanto à orientação recebida no pré-operatório todos os pacientes afirmaram terem sido bem orientados e atendidos por todos os setores e profissionais os quais tiveram contato, tanto médicos, equipe de enfermagem e administrativo. A especialidade de enfermagem perioperatória tem uma prática de longa data; as enfermeiras perioperatórias têm expandido sua prática-padrão e suas responsabilidades, estabelecendo a enfermagem perioperatória como prática especializada de um processo profissional, proposital e dinâmico. Por meio do processo de planejamento da assistência ao cliente e identificação necessária das intervenções de enfermagem e ações, as enfermeiras perioperatórias asseguram aos clientes cirúrgicos cuidados de enfermagem profissional, com uma base científica.13 A assistência de enfermagem do paciente no período perioperatório demanda do enfermeiro uma visão integral e continuada das necessidades básicas afetadas desse indivíduo e de sua família, de modo que possa ajudá-lo a satisfazer e a reequilibrar essas necessidades, preparando-os para o entendimento dos problemas psicobiológicos, psicossociais e psicoespirituais, bem como minimizando sua ansiedade em relação ao pós-operatório. Então, com o objetivo de proporcionar e assegurar aos pacientes submetidos a procedimentos invasivos o preparo, orientação e assistência adequada, bem como prevenir complicações e garantir a segurança, preconiza-se que o planejamento da assistência de enfermagem perioperatória, de responsabilidade do enfermeiro, deve focar a atenção do cuidado de forma integral e humanizada.14

CONSIDER AÇÕES FINAIS Esta pesquisa permitiu conhecer o pós-operatório de facectomia dos pacientes ambulatoriais, que retornaram no dia seguinte da cirurgia ao hospital, e foram avaliados pela enfermeira quanto aos cuidados realizados em seu domicílio, permitindo fazer uma reflexão e avaliação quanto ao nível de compreensão das orientações recebidas. A busca por uma orientação efetiva precisa ser constante; observou-se que em alguns casos o paciente foi orientado, levando as recomendações para casa por escrito e, mesmo assim, não seguiu as mesmas. Esta situação reflete a

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Pós-Operatório: avaliação de enfermagem dos pacientes submetidos à facectomia


Pós-Operatório: avaliação de enfermagem dos pacientes submetidos à facectomia

REFERÊNCIAS 1. Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth: Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009. 2. Potter PA, Perry A. Fundamentos de enfermagem: conceitos, processo e prática. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009. 3. Meeker MH, Rothrock JC. Alexander: cuidados de enfermagem ao paciente cirúrgico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 4. Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2004.

5. Leopardi MT. Metodologia da pesquisa na saúde. 2. ed. Florianópolis: UFSC; 2002. 6. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. ed. Petrópolis: Vozes; 2002. 7. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde, Comitê Nacional de Ética em Pesquisa em Seres Humanos. Resolução Nº 196, de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (BR): Ministério da Saúde; 1996. 8. Kara-José N, Cursino M, Whitaker E. Cirurgia de catarata: otimização de centro cirúrgico com utilização de pacote cirúrgico pré-montado. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia 2004 Mar-Abr; 67(2): 305-9. 9. Espósito P, Rezende F. Classificação cirúrgica das cataratas. In: Rezende F. Cirurgia de catarata. 2. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2002. p. 41-4. 10. Arieta CEL, Nascimento MA, Lira RPC, Kara-José N. Desperdício de exames complementares na avaliação pré-operatória em cirurgias de catarata. Cadernos de Saúde Pública 2004 Jan-Fev; 20(1): 303-10. 11. Canal IH. Catarata: cirurgia técnica extracapsular incluindo biotécnica. Revista Nosso Clínico 2005 Maio-Jun; 45. 12. Centurion V. Faco total. 2. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2000. 13. Pereira VS. Padrões de documentação de enfermagem no perioperatório. Canoas: Ulbra; 2005. 14. Paul C, Reeves JS. Visão geral do processo de enfermagem. In: George SB. Teorias de enfermagem: os fundamentos à prática profissional. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000. p. 21-32.

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dificuldade de algumas pessoas compreenderem as orientações e, provavelmente, não lerem as mesmas. Este fato é um desafio que os enfermeiros devem enfrentar para encontrar formas para que a orientação seja compreendida e executada. A partir desta avaliação, sentiu-se a necessidade de aprimorar o formulário entregue no momento da alta do paciente, dando maior ênfase nas questões não compreendidas pelos mesmos e desta forma alcançar uma orientação mais eficaz.

APÊNDICE A

*Luciane da Cunda Gomes – Enfermeira, Aluna do Curso de Especialização em Enfermagem em Centro Cirúrgico da Ulbra, Enfermeira Responsável Técnica do Hospital da Visão – Novo Hamburgo – RS. **Rita Catalina Aquino Caregnato – Enfermeira, Doutora em Educação, Mestre em Enfermagem, Docente do Curso de Graduação e PósGraduação em Enfermagem da Ulbra – Canoas – RS.

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Luciane da Cunda Gomes / Rita Catalina Aquino Caregnato

Data da cirurgia: ______/_______________/ 2009. Idade: _______________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 1 olho ( ) 2 olho ( ) Doenças que possui: ( ) Nenhuma ( ) Diabetes ( ) Hipertensão ( ) Cardiopatia ( ) Glaucoma ( ) Retinopatia ( ) Outras ____________ Faz uso de medicações: ( ) Sim ( ) Não Se Sim, Quais: ( ) Anti-hipertensivo ( ) Hipoglicemiantes oral ( ) Cardiotônico ( ) AAS Parou antes da cirurgia: _______ dias ( ) Outras: _____________________________________________________ A primeira revisão cirúrgica foi: ( ) Dia seguinte ( ) 2 dias após ( ) Mais de 2 dias Sentiu dor: ( ) Nenhuma ( ) Pouca ( ) Muita ( ) Insuportável Usou remédio para dor: ( ) Não ( ) Sim ( ) Paracetamol ( ) Outro: ______________________________________________________________ Sobre o colírio ou outro remédio que lhe foi receitado: ( ) Comprou ( ) Não entendeu que era para trazer ( ) Não teve dinheiro para comprar ( ) Não tinha na farmácia Depois da cirurgia você: ( ) Teve tosse ( ) Vomitou ( ) Caiu ( ) Bateu o rosto ( ) Molhou o curativo ( ) Teve febre ( ) Fumou ( ) Tomou álcool ( ) Sim, total ( ) Sim, parcial ( ) Não tenho nenhum auxílio A orientação pré-operatória recebida antes da cirurgia (médicos, enfermagem e administrativo) foi: ( ) Satisfatória ( ) Deixou a desejar ( ) Insatisfatória


Normas para publicação A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem é uma publicação bimestral, que tem por objetivo ser um dos principais veículos de divulgação do conhecimento na área de enfermagem no Brasil, promovendo, o desenvolvimento técnico-científico dos profissionais, publicando trabalhos originais e inéditos, de revisão, atualização ou relatos de casos/experiências. Seu conselho editorial, que tem caráter consultivo, é constituído por pesquisadores em enfermagem, de origem institucional diversificada, e é o principal responsável pela qualidade do conteúdo da revista. Apresentação do manuscrito 1. Os manuscritos apresentados devem destinar-se exclusivamente à Revista Sul-Brasileira de Enfermagem, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico, no que se refere ao texto, às figuras ou tabelas, quer na íntegra ou parcialmente, excetuandose resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de reuniões científicas. 2. Nas pesquisas envolvendo seres humanos, os autores deverão enviar uma cópia de aprovação emitida pelo Comitê de Ética, reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS 196/96 ou órgão equivalente no país de origem da pesquisa. O número do processo/ projeto deverá constar no método do trabalho. 3. A Revista Sul-Brasileira de Enfermagem adota as normas do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (estilo Vancouver), publicadas no New England Journal of Medicine 1997; 336:309. 4. Figuras e tabelas deverão ser apresentadas em arquivo com boa resolução e separadas do texto (imagens com mínimo de 300 dpi). 5. O(s) autor(es) dos textos são por eles inteiramente responsáveis, devendo assinar e encaminhar a declaração de responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, conforme modelo abaixo. Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais. Vimos submeter à aprovação da Revista SulBrasileira de Enfermagem o artigo __________________ _________________________________________________ _________________________________________________ ___ e informamos que todos os procedimentos éticos devidos foram observados. Declaramos que o trabalho é inédito e está sendo enviado com exclusividade à Revista. Concordamos que, em caso de aceitação do mesmo, os direitos autorais a ele referentes passarão a ser propriedade exclusiva da Revista Sul-Brasileira de Enfermagem.

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Categoria do artigo: _____________________________ Assinatura dos Autores: _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________

Data: _____/_____/_____. 6. O(s) autor(es) deve(m) especificar no artigo indicação de financiamentos relacionados ao trabalho a ser publicado. Categorias de manuscritos aceitos pela Revista (A) Artigos originais/Pesquisas – Investigação baseada em dados empíricos, concluída, utilizando metodologia científica e que possam ser aplicadas e generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora. Sua estrutura deve conter. – Introdução: apresentação e delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho. – Objetivo: especifica de maneira clara e sucinta a finalidade da pesquisa, com detalhamento dos aspectos que serão ou não abordados. Os objetivos podem ser definidos como gerais ou específicos a critério do autor. – Revisão da literatura: levantamento selecionado da literatura sobre o assunto que serviu de base à investigação do trabalho proposto. Proporciona os antecedentes para a compreensão do conhecimento atual sobre um assunto e esclarece a importância do novo estudo. Em algumas áreas, já existe a tendência de limitar a revisão apenas aos trabalhos mais importantes, que tenham relação direta com a pesquisa desenvolvida, priorizando as publicações mais recentes. Quando não houver necessidade de um capítulo para a Revisão da Literatura em função da extensão histórica do assunto, ela poderá ser incluída na Introdução. – Método: descrição completa dos procedimentos metodológicos que permitam viabilizar o alcance dos objetivos. Devem ser apresentados: tipo de pesquisa, dados sobre o local onde foi realizada a pesquisa, população estudada, tipo de amostra, variáveis selecionadas, material, equipamentos, técnicas e métodos adotados para a coleta de dados, incluindo os de natureza estatística.

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– Resultados: devem ser apresentados de forma clara e objetiva, sem interpretações ou comentários pessoais, podendo, para maior facilidade de compreensão, estar acompanhados por gráficos, tabelas, figuras, fotografias etc. – Discussão: deve restringir-se aos dados obtidos e aos resultados alcançados, enfatizando os novos e importantes aspectos observados e discutidas as concordâncias e divergências com outras pesquisas já publicadas. – Conclusões: correspondem aos objetivos ou hipóteses de maneira lógica, clara e concisa, fundamentadas nos resultados e discussão, coerentes com o título, proposição e método. Incluem-se ainda as Referências Bibliográficas (12 páginas de Word, espaçamento duplo). (B) Artigos de revisão – Estudo crítico, abrangente e sistematizado da literatura sobre um assunto de interesse para o desenvolvimento da Enfermagem, devendo apresentar análise e conclusão. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). (C) Artigos de atualização ou divulgação – Trabalhos descritivos e interpretativos, com fundamentação sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo ou potencialmente investigativo. (05 páginas de Word, espaçamento duplo) (D) Experiência profissional/Relato de caso – Descrição de experiências assistenciais e de extensão, estudos avaliativos, originais contendo análise de implicações conceituais ou descrição de procedimentos com estratégias de intervenção, evidência metodológica apropriada de avaliação de eficácia, de interesse para a atuação de enfermeiros em diferentes áreas. (09 páginas no Word, espaçamento duplo). Processo de julgamento dos manuscritos Após o recebimento, o artigo é inicialmente analisado quanto ao cumprimento das normas estabelecidas para publicação, sendo sumariamente devolvido em caso de não atendimento. Se aprovado, é encaminhado para avaliação de dois consultores ad hoc, escolhidos entre pesquisadores de renomada competência na área do artigo, que exibirão seus pareceres aceitando, recomendando modificações ou recusando o mesmo. (Em qualquer situação os autores serão comunicados.) Havendo discordância nos pareceres, o manuscrito é encaminhado a um terceiro relator. O anonimato é garantido durante todo o processo de julgamento. Os pareceres dos relatores são analisados pelo Conselho Editorial que, se necessário, indica as alterações a serem efetuadas. Os trabalhos seguem para publicação somente após a aprovação final dos pareceristas e do Conselho Editorial.

Após a aceitação do trabalho, os autores serão comunicados da decisão, com a data prevista para publicação, o volume e o fascículo da Revista na qual o artigo será publicado. Os artigos não publicados não serão devolvidos, serão destruídos seis meses após o final dos trâmites da revista. Preparo dos manuscritos • Folha de rosto com título que identifique o conteúdo em português e inglês, contendo o(s) nome(s) do(s) autor(es), a titulação e a instituição a que pertence(m). Serão aceitos até seis autores. • Resumo informativo em português e inglês (summary) com até 150 palavras. • Quatro unitermos (palavras-chave) que permitam identificar o assunto do artigo, apresentados em português e inglês (keywords). • Dados que permitam sua compreensão, como explicações sobre o sentido das abreviaturas e símbolos. • Errata: após a publicação do artigo, os autores, se identificarem a necessidade de uma errata, deverão enviá-la à Secretaria da Revista imediatamente e de preferência por e-mail. Referências bibliográficas (Exemplos) Artigos de periódicos: • Padrão: Elias MS, Cano MAT, Mestriner W Jr, Ferriani MGC. A importância da saúde bucal para adolescentes de diferentes estratos sociais do município de Ribeirão Preto. Rev Latino-Americana de Enfermagem 2001 jan.; 9 (1):88-95 • Artigo com indicação de subtítulo: Diniz NMF, Lopes RLM, Almeida MS, Gesteira SMA, Oliveira JF. Psicodrama com estratégia pedagógica: vivências no ensino de graduação na área da saúde da mulher. Rev. Latino-am. Enfermagem 2000 ago.; 8(4);88-94. Materiais em formato eletrônico: • Artigo de periódicos: Braga EM, Silva MJP. Como acompanhar a progressão da competência no aluno de enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP (periódico na Internet). 2006 (citado 2006 set. 28);40(3): (cerca de 7 p). Disponível em: http://.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/258.pdf • Livro ou monografias: Alvarenga, RE. Cuidados paliativos domiciliares: percepções do paciente oncológico e seu cuidador. Porto Alegre: Moriá; 2005.

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Calil AM, Paranhos WY. O enfermeiro e as situações de emergência. São Paulo (SP): Atheneu; 2007

Envio do manuscrito

• Capítulo do livro ou monografia: Debert, GG. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: Cardoso RCL. A aventura antropológica. Teorias e pesquisa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1998. p.64-78.

Os artigos originais encaminhados para avaliação e publicação deverão ser enviados por e-mail ou correio para o endereço da editora constante no final destas normas, aos cuidados do Conselho Científico, sendo que um dos autores deverá ser assinante da revista. Os trabalhos que forem encaminhados via correio deverão ser acompanhados de CD, uma cópia impressa com figuras e tabelas, juntamente com a Declaração de Responsabilidade e Cessão de Direitos Autorais, assinada por todos os autores, através de carta registrada ou sedex. Recomenda-se o uso do programa Word (papel formato A4; margens: superior 1,5 cm, inferior 1 cm; laterais 3 cm), bem como a fonte Times, tamanho 12, entrelinha dupla, em uma coluna. Pode conter ilustrações que sejam relacionadas com o assunto e tenham boa qualidade para impressão em cores ou em preto e branco (300 dpi). Texto justificado e com número de página no rodapé.

• Dissertação e tese: Amarante ST. Analise das condições ergonômicas do trabalho das enfermeiras de centro cirúrgico. (dissertação). São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/ USP; 1999. • Anais: Carreiro FA. A Equipe de Enfermagem e o Corpo (do) Queimado Durante a Balneoterapia. In: Anais do 11º CBCENF-Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem; 2008 ago. 31 a set. 03; Belém-PA, Brasil.

Moriá Editora Ltda. Revista Sul-Brasileira de Enfermagem Rua Aracy Fróes, 258 / 902 - Jardim Itu-Sabará - Porto Alegre/RS / CEP: 91210-230. E-mail: revistasulbrasileira@gmail.com Tel. (51) 3351.2361.

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Congressos e Eventos em 2011 Evento

Local

Data

Informações

63o CBEn

Centro de Convenções / Maceió/AL

03 a 06 de outubro

www.abeneventos.com. br/63cben

XXIX Encontro de Enfermagem do HCSA

Anfiteatro Hugo Gerdau – Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre/RS

05 a 07 de outubro

www.santacasa.tche.br

III Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas

Hotel Intercontinental Rio de Janeiro/RJ

11 a 14 de outubro

www.sobenfee.org.br

Novas Tecnologias do Cuidar em Queimados

UCS – Universidade de Caxias do Sul/RS

17 a 19 de outubro

www.ucs.br/ucs/extensao/ agenda

IV Semana Científica da UFCSPA e I Semana de Tecnologia e Inovação

Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS

17 a 20 de outubro

www.ufcspa.edu.br

19 a 22 de outubro

www.fsg.br

I Congresso em Saúde Coletiva da Faculdade da Serra FSG Gaúcha –Caxias do Sul/RS IV Jornada Cientifica da Faculdade Nª Sr.ª de Fatima

Rua Alexandre Fleming, 454 - Caxias do Sul – RS

17 a 21 de Outubro

www.fatimaeducacao. com.br / (54) 3535.7327

20ª Jornada Internacional de Enfermagem Oncológica

Auditório Senador José Ermírio de Moraes - Rua Tamandaré 764 Liberdade. São Paulo/SP

20 a 22 de outubro

www.accamargo.org.br/ centrodeensino

IX Congresso Brasileiro de Estomaterapia, IV Congresso Latino Americano de Estomaterapia

Plaza São Rafael - Hotel e Centro de Eventos/ Porto Alegre/RS

23 a 27 de outubro

www.sobest.org.br

10º Encontro de Higienização e Lavanderia Hospitalar da Região Sul

Hospital de Clinicas de Porto Alegre/RS

26 e 27 de outubro

www.aphilav.com.br 51.3333.2428

III Simpósio de Gestão em Serviços de Enfermagem

Hospital de Clinicas de Porto Alegre/RS

3e4 de novembro

aben.rs@terra.com.br 51.3332.8622

XVI Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva

FIERGS – Porto Alegre

09 a 12 de Novembro

www.cbmi.com.br

VI Seminário de Enfermagem em Centro Cirúrgico

Anfiteatro Hugo Gerdau - Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre/RS

10 e 11 de novembro

www.santacasa.tche.br

Semana Acadêmica de Enfermagem

Auditório Oscar Machado -Centro Universitário Metodista - IPA

23 e 24 de novembro

www.metodistadosul.edu. br

1ª Jornada de Enfermagem do MuNEAN: Um ano de História.

MuNEAN – Salvador/BA

23 de novembro

www.munean.com

IV Congresso da Academia Brasileira de Especialistas de Enfermagem

Navio Costa Fortuna - Santos/SP

07 a 11 de dezembro

www.expansaoeventos. com.br

*Envie seu evento para divulgação em nosso calendário: revistasulbrasileira@gmail.com

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ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 3 –Interpretação de ECG e arritmias

P P P

• 1a aula: Avaliação do paciente na UTI • 2a aula: Atendimento a PCR no adulto: O que mudou? • 3a aula: Interpretação de ECG e arritmias • 4a aula: Monitorização Hemodinâmica • 5a aula: Ventilação mecânica • 6a aula: Cuidados com drenos, cateteres e sondas

Lisnéia Fabiani Bock Graduada em Enfermagem pela Universidade Luterana do Brasil; Especialista em Administração dos Serviços em Enfermagem pela PUCRS; Especialista em Terapia Intensiva pela Ulbra; Mestre em Enfermagem pela UFSC; Docente do Curso de Pós-Graduação na Ênfase de Terapia Intensiva do HMV; Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, UFSC; Coordenadora do Curso de Pós-Graduação Enfermagem com Ênfase em Urgências e Emergências do IPA; Docente Curso de Enfermagem do Centro Universitário Metodista do IPA. fabibock@gmail.com

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ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 3 – Interpretação de ECG e Arritmias Cardíacas

INTRODUÇÃO O eletrocardiograma (ECG) é o registro das forças elétricas produzidas pelo coração. O traçado obtido através do registro da atividade elétrica do coração forma uma série de ondas e complexos que foram rotulados arbitrariamente em ordem alfabética, de onda P, complexo QRS, onda T e onda U (Figura 1). A despolarização dos átrios produz a onda P e, a dos ventrículos, o complexo QRS. A repolarização dos ventrículos é representada pela onda T. Quanto a onda U, existem controvérsias, porém possivelmente seja decorrente da repolarização do sistema Purkinge, que pode ser vista eventualmente, nas extra- sístoles, ao uso de digitálicos ou em distúrbios eletrolíticos.

Figura 1 – Eletrocardiograma.

O intervalo PR se estende do início da onda P, ao início do complexo QRS. Este intervalo não deve exceder 0,20 segundos, onde cada quadradinho representa 0,04 segundos. O limite superior da duração normal do QRS é de 0,12 segundos. Isto é, quando a duração do QRS é menor do que 0,12 segundos significa que o impulso iniciou-se acima do nó AV, ou no próprio nó. A análise do traçado de ECG permite a identificação de alterações como arritmias, isquemias e distúrbios eletrolíticos graves. Utilizada para diagnóstico, documentação e tratamento. A chave da interpretação das arritmias será a análise da forma e inter-relações da onda P, do intervalo PR e do complexo QRS. O ECG deve ser analisado com relação a sua freqüência, ritmo (regular ou irregular), origem do estimulo, e a configuração das ondas P e do complexo QRS.

Ms. LISNÉIA FABIANI BOCK

O CICLO CARDÍACO NORMAL Em condições fisiológicas, o ciclo cardíaco normal inicia-se no nódulo sinusal (NS), no qual o impulso autorrítmico é gerado (potencial de ação). A onda de despolarização resultante se propaga para os átrios direito e esquerdo produzindo uma variação característica no ECG de superfície (onda P). Este fenômeno antecede a contração atrial.

Com a despolarização dos átrios, o impulso atinge o nódulo atrioventricular (NAV), que em condições normais é o único caminho para a passagem do estímulo elétrico dos átrios para os ventrículos. No NAV, este estímulo é retardado, o que permite a contração dos átrios e, conseqüentemente o bombeamento do sangue contido em suas câmaras antes da contração ventricular. O tempo de condução no NAV é o principal responsável pela duração do intervalo PR. Logo abaixo do NAV, o impulso passa pelo feixe de His. O tempo de condução por essa estrutura é responsável por uma pequena porção do final do intervalo PR. Após a passagem do impulso pelo feixe de His, o estímulo elétrico atinge os ramos direito (RD) e esquerdo (RE). O RE ainda se divide para dar origem aos fascículos anterior e posterior, antes da despolarização das fibras de Purkinge. Uma pequena parcela do final do intervalo PR é representada pelo tempo de condução por estas estruturas. Após a despolarização do feixe de His, o impulso chega às fibras de Purkinje (fibras interligadas de um tecido cardíaco modificado). O final do intervalo PR é representado, pelo menos em parte, pelo tempo de condução por essas fibras especializadas. O impulso passa rapidamente do feixe de His, ramos esquerdo e direito, e fibras de Purkinje para as demais células ventriculares, induzindo a despolarização e contração dos ventrículos. O complexo QRS do ECG representa a despolarização da massa ventricular A onda T do ECG representa a repolarização e relaxamento dos ventrículos.

ARRTMIAS CARDÍACAS São distúrbios na geração, condução e propagação do impulso elétrico no coração, capazes de provocar repercussões que variam de desprezíveis até muito graves. Podem reduzir o débito cardíaco, causando/ agravando a insuficiência cardíaca ou levando ao choque cardiogênico, além de predispor a tromboembolismo, podendo evoluir para assistolia, fibrilação ventricular ou morte súbita. Podem ocorrer de modo espontâneo (primárias) ou como conseqüência de outros distúrbios cardíacos (secundária) entre os quais se destaca o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), ou Doença de Chagas. Toda a interpretação de ritmo deve ser correlacionada com os sinais clínicos do paciente, para a obtenção de um resultado favorável na ressuscitação. Não podemos esquecer de “tratar o paciente” e “não o monitor”. Na avaliação e interpretação de um ECG, devemos analisar sistematicamente: 1º Verificar se o ritmo é rápido ou lento: Determinar a freqüência. Considera-se normal entre 60 a 100 bpm; taquicardia > 100 bpm; ou bradicardia < 60 bpm.

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ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 2 –3 ATENDIMENTO A PCR NO ADULTO: O que mudou? AULA – Interpretação de ECG e Arritmias Cardíacas

2º Verificar se o ritmo é regular o irregular: Observar se a onda P e o complexo QRS, seguem um padrão regular, separados por intervalos idênticos. 3º Identificar ondas P no traçado: A onda P indica a origem atrial ou supraventricular. 4º Observar se as ondas P são iguais: Os intervalos PR necessitam ser idênticos. Isso reflete que os estímulos são gerados no mesmo local do marca-passo. 5º Verificar se cada complexo QRS possui uma onda P antecedida: A inexistência de onda P, indica Bloqueio no nódulo AV ou defeito de condução. 6º Verificar se o intervalo PR é constante: Intervalos PR variáveis indicam locais de marcapasso competidores ou multifocais. 7º Observar se as ondas P e os complexos QRS possuem ligações entre si: A onda P que antecede o complexo QRS pode identificar uma condução elétrica ausente, normal, prematura, bloqueada a partir dos átrios. 8º Verificar se os complexos QRS são estreitos ou largos: Os complexos QRS largos indicam que o impulso não seguiu o sistema de condução normal, podendo gerar contrações ventriculares prematuras, taquicardia ventricular e bloqueios de ramo. 9º Observar se os complexos QRS estão agrupados ou não: Determinam a presença de um bloqueio nodal AV ou complexos prematuros recorrentes (os conhecidos Bigeminismos). 10º Identificar se existem batimentos diminuídos: Decorrentes em bloqueios de nós AV e parada sinusal. RITMO SINUSAL NORMAL – Características: • Frequência: 60-100/min • Ritmo: regular • Ondas P: positivas em II, III e aVf • Tratamento: nenhum BRADICARDIA SINUSAL – Características: • Frequência: menor que 50/min • Ritmo: regular • Causas: Doença do nodo sinusal; Fisiológica em atletas e idosos; insuficiência cardíaca com digoxina, amiodarona, B-bloqueadores, bloqueador de cálcio. Manobras vasoagais, vagotonia primária, hiperpotassemia, hipotireoidismo. • Tratamento: Suspender drogas bradicardizantes; • Em instabilidade hemodinâmica: Atropina (0,5 a 1 mg/dose, repetir até completar 2 mg) ou marca-passo.

Nota: Em crianças, a bradicardia sinusal é sinal de hipóxia ou acidose grave e evolui para parada cardíaca.

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Figura 3 – Extrassístole Ventricular.

A extrassístole é a despolarização que surge em qualquer um dos ventrículos antes do próximo batimento sinusal. Pode resultar do disparo de um foco automático ou de reentrada. Pode ocorrer quase simultaneamente ao disparo do nó sinusal. O impulso prévio originado no nó sinusal e o impulso retrógrado indo em direção do átrio desde os ventrículos, pode se encontrar no nó AV. Como o ritmo do nó sinusal não é influenciado, pode ocorrer uma pausa totalmente compensatória. Pode ocorrer como complexos isolados, ou em pares. Quando três ou mais se repetem seguidamente, a TV está presente. BLOQUEIO ATRIO VENTRICULAR (BAV) – Características: • Atraso ou interrupção na condução entre átrios e ventrículos devido a doença estrutural ou drogas • 1º grau: P-R prolongado, mas cada onda P seguida de um QRS • 2º grau: tipo I (prolongamento progressivo do P-R até uma onda P não conduzir para os ventrículos) • 2º grau: tipo II (falha súbita na condução) • 3º grau: ritmo independente entre átrios e ventrículos (MP juncional ou ventricular controla os ventrículos BAV DE 1º GRAU • Assintomático; • A condução AV é retardada e o intervalo PR prolongado (> 200 ms ou 0,2 segundos); • Frequência = 79 bpm; • Intervalo PR = 340 ms (0,34 segundos);

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Figura 2 – Bradicardia Sinusal.

EXTRASSÍSTOLES VENTRICULARES (ESV) - Características: • Ritmo: irregular • Ondas P usualmente não são vistas • QRS alargado e entalhado e ondas T opostas ao QRS • Ocorre pausa compensatória • Multiformes • Pareadas, bigeminadas, em salvas e R sobre T; • Principais causas: Infrequentes em pessoas normais, cardiopatia isquêmica, valvulopatia, miocardiopatia, intoxicação digitálica, hipopotassemia. As ESV frequentes induzidas por exercícios, estão relacionadas a maior risco cardiovascular e ocorrem sobretudo na isquemia miocárdica, cardiopatia hipertensiva, QT longo e na insuficiência cardíaca. • Tratamento: Nenhum se infrequentes. Se persistir ou em instabilidade hemodinâmica, tratar causa subjacente (isquemia miocárdica, distúrbios eletrolíticos, etc). Drogas usadas: quinidina, procainamida, propranolol, lidocaína, amiodarona, etc.


ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 3 – Interpretação de ECG e Arritmias Cardíacas

• Bloqueios AVs de 1º grau podem ser descritos como um prolongamento do intervalo PR. O intervalo PR é o período contado do início da onda P até o início do complexo QRS. O bloqueio AV de 1º Grau é definido por um intervalo PR maior que 0,20 segundos (200 ms). Apesar do bloqueio AV de 1º grau poder ser descrito como um retardo na condução AV, todo sinal atrial é conduzido para os ventrículos (razão 1:1); • Tratamento: Não exige tratamento. Quase sempre reversível.

• Bloqueio 2:1 (2 ondas P para cada complexo QRS); 3:2, etc. • Freqüência = 60 bpm (ventricular) / 110 bpm (atrial); • Bloqueio AV de 2º grau (Mobitz Tipo II) é caracterizado por intermitentes falhas na condução AV, com consequente ausência da contração ventricular subsequente (intervalos PRs constantes); • Principais causas: Fibrose ou isquemia do nodo AV; • Para diferenciar Mobitz I de Mobitz II, devemos observar os intervalos PRs antes e após cada episódio em que não houve contração ventricular. Se a diferença entre estes dois intervalos PR é mais que 0,02 s (20ms), o bloqueio é Mobitz I, se a diferença é menor que 20 ms, então é Mobitz II; • Tratamento: Pensar na indicação de marcapasso profilaticamente.

Figura 4 – BAV 1º grau.

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BAV DE 2º GRAU – MOBITZ I (WENCKEBACH) – Características: • Assintomático. Raramente desencadeia síncope, tontura, vertigem; • Prolongamento progressivo do intervalo PR até que uma despolarização atrial não seja seguida da ventricular; • Frequência ventricular = irregular; • Frequência atrial = 90 bpm; • Intervalo PR = progressivamente maior até que a condução de uma onda P seja interrompida; • Principais causas: doença reumática aguda, miocardite, fibrose miocárdica, isquemia na região do nodo AV, efeito de drogas, Doença de Chagas; • Tratamento: Considerar indicação de marcapasso profilaticamente em pacientes com cardiopatia estrutural e baixo débito cardíaco.

O Bloqueio AV de 2º grau é caracterizado por uma falha intermitente da condução da despolarização atrial para o ventrículo. Há dois padrões de bloqueio AV de 2º grau, o primeiro, Tipo I, é marcado por um prolongamento progressivo do intervalo PR em ciclos que precedem uma condução AV interrompida. Este período é usualmente chamado de bloqueio de Wenckebach ou Mobitz Tipo I. O nódulo AV é o local mais comum de ocorrência de bloqueios Mobitz I. A duração do QRS frequentemente é normal. BAV DE 2º GRAU (TIPO MOBITZ II) – Características: • Assintomático; • Ocorrem falhas regulares na condução AV, caracterizado pela ausência da despolarização ventricular correspondente;

Figura 6 – BAV 2º grau – Tipo Mobitz II.

Nota: Bloqueios de 2º grau avançados são caracterizados por duas ou mais ondas P consecutivas. BAV TOTAL OU DE 3 º GRAU – Características: • Causa tontura, síncope, ICC ou Choque; • Não há condução do impulso do átrio para os ventrículos; • Frequência ventricular = 37 bpm; • Frequência atrial = 130 bpm; • Intervalo PR = variável; • Principais causas: Infarto do miocárdio, antiarrítmicos (I-a), fibrose miocárdica, isquemia na região do nodo AV, efeito de drogas, miocardite (toxoplasmose severa, citomegalovirose...), pósoperatório de cirurgia cardíaca; • Tratamento: Atropina ou isoproterenol, ou marca-passo.

Figura 7 – Bloqueio Total ou de 3º grau.

• O bloqueio AV de 3º grau é frequentemente chamado de bloqueio AV total. Esta condição patológica é caracterizada por uma completa dissociação entre as ondas P e o complexo QRS. A despolarização ventricular não é iniciada pelo impulso proveniente dos átrios, conduzido através do nódulo AV para os ventrículos, mas o QRS é iniciado em um local abaixo deste nódulo (como o feixe de His ou fibras de

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ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 2 –3ATENDIMENTO A PCR NO ADULTO: O que mudou? AULA – Interpretação de ECG e Arritmias Cardíacas

Purkinje). Este “ritmo de escape” é normalmente 40-60 bpm se iniciado pelo feixe de His (um ritmo juncional) e <40 bpm se iniciado pelas Fibras de Purkinje.

hemodinâmica. Cardioversão com antiarrítmicos ou elétrica após anticoagulação nos casos com mais de 48h. Classificação da FA

FLUTTER ATRIAL – Características: • No Flutter tipo I: ondas P em seqüência de 250350 por minuto, “em dentes de serra”, e negativas em derivação II, III, a VF; • No Flutter tipo II: a freqüência das ondas P são > 250 (até 400) com ritmo regular ou com “Wenckebach” e P positivas em derivação II, III, aVF; • Pode acontecer em corações estruturalmente normais (30% dos casos); • Tratamento: Fazer sequencialmente: manobras vagais - adenosina ou diltiazen/ verapamil – digoxina ou disopiramida ou procainamida ou propafenona ou esmolol ou metoprolol ou propanolol – cardioversão elétrica; • As principais causas: Grandes circuitos de reentrada atrial, após cirurgia cardíaca, embolia pulmonar, intoxicação alcoólica, tireotoxicose, cardiopatia hipertensiva ou isquêmica, DPOC, valvopatia reumática.

Figura 8 – Flutter Atrial.

FIBRILAÇÃO ATRIAL (FA) – Características: • Ausência da onda P; • Atividade atrial caótica e desorganizada; • Frequência ventricular irregular (espaços R-R variáveis); • QRS normal;

Paroxística Termina espontaneamente, normalmente dentro de 48 horas

Persistente Não termina espontaneamente, mas pode ser revertida com cardioversão elétrica ou com drogas

Permanente Não termina espontaneamente e é refratária à cardioversão

Fonte: Gallagher MM, Camm AJ. Classification of atrial fibrillation. PACE. 1992;20:1603-1605

TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR PAROXÍSTICA (TSVP) – Características: • Taquicardia maior que 150 bpm com QRS < 120 ms e intervalos RR regulares com frequência fixa; • Pode ocorrer palpitação, síncope, angina, hipotensão, insuficiência cardíaca e choque cardiogênico; • Átrios e ventrículos contraem juntos e uma onda P invertida; • Tratamento: Se o paciente estiver estável: manobras vagais; Adenosina ou Verapamil, podendo-se pensar em cardioestimulação transesofágica. Se o paciente estiver instável hemodinamicamente: Cardioversão elétrica sincronizada com 50 a 100 Joules; cardioversão medicamentosa com Adenosina ou Verapamil. Manutenção e profilaxia: B-bloqueador ou bloqueador de cálcio. Curável por ablação por radiofrequência.

Figura 10 – Taquicardia Supraventricular Paroxística.

Figura 9 – Fibrilação Atrial.

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A taquicardia ventricular é definida como três ou mais batimentos sucessivos de origem ventricular, com

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• Pode ser paroxística, persistente ou permanente; • É a arritmia sustentada mais comum; • Pode ser sintomática ou assintomática; • A incidência aumenta com a idade (6% acima de 80 anos); • Principais causas: febre, infecção, tireotoxicose, abstinência de álcool, anfetamina e cocaína. Também em cardiomiopatia, pós-operatório, estenose mitral, trauma cardíaco, intoxicação por teofolina, monóxido de carbono, álcool, simpatocomiméticos. • Tratamento: Tratar a causa. Controlar a FC e o risco de embolia e AVC. Cardioversão elétrica imediata nos casos recentes (< 48h) ou com instabilidade

TAQUICARDIA VENTRICULAR (TV) – Características: • Complexos QRS anormal – a morfologia é bizarra e serrilhada; • Frequência: maior que 100 bpm; • Ritmo: regular ou irregular; • Ondas P: Nas TVs rápidas, as ondas P não são identificáveis. • Principais causas: Infarto do miocárdio, QT longo, miocardite ou cardiomiopatia, aneurismas cardíacos. • Tratamento: Se for sustentada com repercussão hemodinâmica, realizar desfibrilação elétrica. Se for sustentada com paciente hemodinamicamente estável administrar lidocaína ou amiodarona ou procainamida, ou cardioversão se não responder.


ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA AULA 3 – Interpretação de ECG e Arritmias Cardíacas

frequência cardíaca maior que 100 bpm. Os complexos QRS não tem aparência normal. Essa arritmia pode ser tolerada, porém se houver comprometimento hemodinâmico grave, pode acarretar em morte. Figura 13 – Fibrilação Ventricular fina.

REFERÊNCIAS AEHLERT, B. ACLS – Emergências em Cardiologia. Editora Mosby (Elsevier), 2007.

Figura 11 – Taquicardia Ventricular.

FIBRILAÇÃO VENTRICULAR (FV) – Características: • QRS sinusoidais, indiferença entre ST ou T, com frequência de 240 – 380 bpm. • Causas: Infarto do Miocárdio, miocardite ou miocardiopatia dilatada, cardiomiopatia, aneurismas cardíacos. • Tratamento: Desfibrilação elétrica, ventilação e compressão torácica.

AMERICAN HEART ASSOCIATION. Suporte Avançado de Vida em Cardiologia, 2002. GALLAGHER MM, CAMM AJ. Classification of atrial fibrillation. PACE. 1992;20:1603-1605. JACKSON, M.; JACKSON, L. Guia de bolso de Enfermagem Clínica. Editora Artmed: Porto Alegre, 2007. WELLENS, HJJ; CONOVER, M. ECG: na tomada de decisão em emergência. Editora Revinter: Rio de Janeiro, 2ª edição, 2007. PEDROSO, ERP; OLIVEIRA, RG. Blackbook: Clinica Médica. Blackbook Editora: Belo Horizonte, 1ª edição, 2007. KNOBEL, E, e col. Terapia Intensiva: Enfermagem. Editora Atheneu: São Paulo, 2010.

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Figura 12 – Fibrilação Ventricular grosseira.

ZIPES, DP. Gênesis of cardiac arrhythmias: electrophysiological considerations. In: Braunwald E, ed. Heart Disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine. 4th ed. Philadelphia, Pa: WB Saunders Co; 1992.

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Notícias ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM EM DOAÇÃO E TR ANSPLANTE O curso de Especialização em Enfermagem em Doação e Transplante do Centro Educacional São Camilo Sul está com matrículas abertas para a sua primeira edição, que tem início previsto para o dia 30 de Setembro de 2011.

As atividades teóricas e práticas serão realizadas no Centro de Transplantes da Santa Casa, o que proporcionará ao aluno um contato direto com a realidade hospitalar, sob supervisão de enfermeiros experientes na área.

Pioneiro dentre as especializações na região sul, o curso foi criado especialmente para atender a demanda crescente dos hospitais por enfermeiros qualificados para atuar no processo de captação, doação e transplante na área hospitalar e ambulatorial.

A Coordenação Técnica do curso é da Enfermeira Especialista Andréa Trennepohl Conrad. Graduada em Enfermagem – UNISINOS, Especialista em Terapia Intensiva - ULBRA (2006), MBA em Gestão da Saúde - IBGEN (2006) e cursando Administração - UNISINOS. Atualmente é gerente técnica administrativa do Centro de Transplantes, Hospital Dom Vicente Scherer da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Com um qualificado corpo docente, formado por médicos e enfermeiros atuantes na área de transplantes da Santa Casa, o curso tem como um de seus objetivos principais a qualificação técnica do aluno para o atendimento ao paciente transplantado, buscando a formação de um profissional com perfil crítico, habilitado para pesquisa, e atento ao contexto atual dos serviços de saúde. Fruto da parceria entre a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e o Centro Educacional São Camilo Sul, o curso ainda possibilita ao profissional aprofundar seus conhecimentos, não só teóricos, mas também práticos, na assistência voltada para a captação do potencial doador, terapêutica e reabilitação do paciente em sua peculiaridade.

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A São Camilo, representada no Brasil pela União Social Camiliana, é uma entidade civil de assistência social, atualmente presente em oito estados do país. Tem como missão desenvolver o ser humano por meio da educação e da saúde, segundo os valores camilianos. O Centro Educacional São Camilo Sul iniciou as suas atividades em 31 de outubro de 1995, na cidade de Porto Alegre. Desde então, vem promovendo a formação e o aperfeiçoamento dos profissionais da saúde no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, em nível técnico e de pós-graduação.

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