Revista Espaço Científico Livre n.15

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ESPAÇO CIENTÍFICO

ISSN 2236-9538 BRASIL, N.15, AGO.-SET., 2013

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SUMÁRIO EDITORIAL

06

ARTIGOS Avaliação do desempenho da utilização de resíduos de construção e demolição (RCD) como agregado miúdo em argamassas para revestimentos Por Amanda Czocher, Ricardo Melo Araújo, Narciso G. da Silva e Renata Aline Reichert

13

A formação do educador para vivenciar a ludicidade: brincar é necessário Por Silvano Sulzart Oliveira Costa

22

Breves notas acerca das influências e implicações da pós-modernidade na universidade e educação superior Por Rogério Duarte Fernandes dos Passos

29

Casais de dupla carreira com filhos na adolescência: A transmissão de valores na família da classe média paulistana Por Fabiana Mara Esteca

35

O transtorno de somatização Por Elton Carlos de Oliveira Borges e Alline Paula Bezerra Feliciano

45

Clima organizacional: estudo de caso em uma empresa aeroportuária, em São Luís-MA Por Melina Garcia Prazeres, José Rômulo Travassos da Silva e Maria de Fátima Ribeiro dos Santos

54

Resenha do filme: Luz, Trevas e o Método Científico Por Laudinéia Maria Neves Dias

70

A Confusão da Inertização Por Zenaide Venskis

73

EVENTOS ACADÊMICOS

89

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

90

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EDITORIAL Bem vindo leitor a mais uma edição de Revista Espaço Científico Livre. Nesses últimos 2 meses, o Brasil passou por mudanças, a população se levantou e cansou das práticas políticas tão comuns em nosso país. Muita coisa precisa ainda acontecer, mas já foi dado o primeiro passo. O nosso periódico pretende ajudar a construir esse novo Brasil, promovendo o conhecimento, a ciência e a cultura. Para saber mais sobre a Revista Espaço Científico Livre siga-nos no Twitter em @cientificolivre e visite o nosso Blog http://espacocientificolivre.blogspot.com.br Boa leitura. Verano Costa Dutra Editor da Revista Espaço Científico Livre A Revista Espaço Científico Livre é uma publicação independente, a sua participação e apoio são fundamentais para a continuação deste projeto. O download desta edição terá um valor simbólico de R$ 12,99, para contribuir com a sustentabilidade da publicação. No entanto, a leitura online continuará sendo gratuita e continuará com o compromisso de promover o conhecimento científico.

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Este conteúdo pode ser publicado livremente, no todo ou em parte, em qualquer mídia, eletrônica ou impressa, desde que a Revista Espaço Científico Livre seja citada como fonte.

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Os membros do Conselho Editorial colaboram voluntariamente, sem vínculo empregatício e sem nenhum ônus para a Espaço Científico Livre Projetos Editoriais. Os textos assinados não apresentam necessariamente, a posição oficial da Revista Espaço Científico Livre, e são de total responsabilidade de seus autores. A Revista Espaço Científico Livre esclarece que os anúncios aqui apresentados são de total responsabilidade de seus anunciantes.

Imagem da capa: Christian Ferrari (http://www.sxc.hu/photo/1193516). As figuras utilizadas nesta edição são provenientes dos sites Stock.XCHNG (http://www.sxc.hu) e Wikimedia Commons (http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Che_Guevara_-_Mar_del_Plata__1943ca.jpg?uselang=pt-br). As figuras utilizadas nos artigos são de inteira responsabilidade dos respectivos autores.

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CONSELHO EDITORIAL Claudete de Sousa Nogueira Graduação em História; Especialização em Planejamento, Implementação e Gestão Educação a Distância; Mestrado em História; Doutorado em Educação; Professor Assistente Doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Davidson Araújo de Oliveira Graduação em Administração; Especialização em Gestão Escolar, Especialização em andamento em: Marketing e Gestão Estratégica, em Gerenciamento de Projetos, e em Gestão de Pessoas; Mestrado profissionalizante em andamento em Gestão e Estratégia; Professor Substituto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ederson do Nascimento Graduação em Geografia Licenciatura e Bacharelado; Mestrado em Geografia; Doutorado em andamento em Geografia; Professor Assistente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Edilma Pinto Coutinho Graduação em Engenharia Química; Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho; Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos; Doutorado em Engenharia de Produção; Professor Adjunto da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Francisco Gabriel Santos Silva Graduação em Engenharia Civil; Especialização em Gestão Integrada das Águas e Resíduos na Cidade; Mestrado em Estruturas e Construção Civil; Doutorado em andamento em Energia e Ambiente; Professor Assistente 2 da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Jacy Bandeira Almeida Nunes Graduação em Licenciatura em Geografia; Especialização: em Informática Educativa, em Planejamento e Prática de Ensino; em Planejamento e Gestão de Sistemas de EAD; Mestrado em Educação e Contemporaneidade; Professor titular da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Joseane Almeida Santos Nobre Graduação em Nutrição e Saúde; Mestrado em Ciência da Nutrição (Professor da Faculdade Integrada Metropolitana de Campinas (METROCAMP). Josélia Carvalho de Araújo Graduação em Geografia - Licenciatura; Graduação em Geografia - Bacharelado; Mestrado em Geografia; Doutorado em andamento em Geografia; Professora Assistente II da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Juliana Teixeira Fiquer Graduação em Psicologia; Especialização em Formação em Psicanálise; Mestrado em Psicologia (Psicologia Experimental); Doutorado em Psicologia Experimental; Pós-Doutorado; Atua no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Kariane Gomes Cezario Graduação em Enfermagem; Mestrado em Enfermagem; e Doutorado em andamento em Enfermagem. Livio Cesar Cunha Nunes Graduação em Farmácia; Graduação em Indústria Farmacêutica; Mestrado em Ciências Farmacêuticas; Doutorado em Ciências Farmacêuticas; e Pós-Doutorado.

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CONSELHO EDITORIAL Kariane Gomes Cezario Graduação em Enfermagem; Mestrado em Enfermagem; Doutorado em andamento em Enfermagem; Professora assistente I do Centro Universitário Estácio do Ceará. Livio Cesar Cunha Nunes Graduação em Farmácia; Graduação em Indústria Farmacêutica; Mestrado em Ciências Farmacêuticas; Doutorado em Ciências Farmacêuticas; Pós-Doutorado; Professor Adjunto da Universidade Federal do Piauí. Márcio Antonio Fernandes Duarte Graduação em Licenciatura Em Ciências; Graduação em Comunicação Social Publicidade e Propaganda; Mestrado em andamento em Desenho Industrial; Professor da Faculdade de Ensino Superior do Interior Paulista (FAIP). Maurício Ferrapontoff Lemos Graduação em Engenharia de Materiais; Mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais; Doutorado em andamento em Engenharia Metalúrgica e de Materiais; Pesquisador Assistente de Pesquisa III do Instituto de Pesquisas da Marinha. Messias Moreira Basques Junior Graduação em Ciências Sociais; Mestrado em Antropologia Social; Professor substituto da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Osvaldo José da Silveira Neto Graduação em Medicina Veterinária; Especialização em Defesa Sanitária Animal; Mestrado em Ciência Animal; Doutorado em andamento em Ciência Animal; Professor de Ensino Superior, Classe III da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Raquel Tonioli Arantes do Nascimento Graduação em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia; Doutorado em andamento em Neurociência do Comportamento; Professor Titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Reinaldo Monteiro Marques Graduação em Educação Física; Graduação em Pedagogia; Graduação em Fisioterapia; Especialização: em Técnico Desportivo de Especialização em Voleibol, em Técnico Desportivo de Especialização em Basquetebol, em Fisioterapia Desportiva; Mestrado em Odontologia; Doutorado em Biologia Oral; Coordenador Apefeiçoamento Fisio Esportiva da Universidade do Sagrado Coração. Richard José da Silva Flink Graduação em Engenharia Quimica; Especialização em: Engenharia de Açúcar e Álcool, em Administração de Empresas, em em Engenharia de Produção; Mestrado em Engenharia Industrial; Doutorado em Administração de Empresas; Atua no Instituto de Aperfeiçoamento Tecnológico. Verano Costa Dutra Farmacêutico Industrial; Habilitação em Homeopatia; Mestrado em Saúde Coletiva; Atua no Serviço Brasileiro de Resposta Técnica (SBRT).

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COLABORADORES DESTA EDIÇÃO EQUIPE REVISTA ESPAÇO CIENTÍFICO LIVRE Verano Costa Dutra Editor e revisor – Farmacêutico, com habilitação em Homeopatia e Mestre em Saúde Coletiva pela UFF – espacocientificolivre@yahoo.com.br Monique D. Rangel Dutra Editora da Espaço Científico Livre Projetos Editoriais - Graduada em Administração na UNIGRANRIO Verônica C.D. Silva Revisão - Pedagoga, Pós-graduada em Gestão do Trabalho Pedagógico: Orientação, Supervisão e Coordenação pela UNIGRANRIO AUTORES Alline Paula Bezerra Feliciano Fisioterapeuta e Acadêmica de Medicina Amanda Czocher Tecnóloga em Construção Civil – Concreto Elton Carlos de Oliveira Borges Doutorando em Tratamento da Informação Espacial e Acadêmico de Medicina Fabiana Mara Esteca Psicóloga, Especialista em Terapia Familiar e de Casal (Cogeae) e Mestre em Psicologia (USP) José Rômulo Travassos da Silva Psicólogo, Administrador, Mestre em Administração pela Fundação Getúlio VargasFGV, Professor do Departamento de Administração da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) Laudinéia Maria Neves Dias Enfermeira, Especialista em PSF, Licenciada em Biologia e Física via Complementação Pedagógica, Especialização em atenção básica em Saúde da Família, e Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa- Parceria com Universidade Federal do Espírito Santo – UFES Maria de Fátima Ribeiro dos Santos Bibliotecária, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Melina Garcia Prazeres Graduada em Administração pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) Narciso G. da Silva Engenheiro Civil e Doutor em Engenharia Civil Ricardo Melo Araújo Tecnólogo em Construção Civil – Concreto e Mestre em Engenharia de Materiais Rogério Duarte Fernandes dos Passos Mestre em Direito Internacional pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Silvano Sulzart Oliveira Costa Pedagogo e Psicopedagogo Renata Aline Reichert Tecnóloga em Construção Civil – Concreto Zenaide Venskis Engenharia Química, Especialista: em Engenharia Ambiental pela UNICAMP, em Engenharia de Controle de Poluição Ambiental pela Saúde Pública/USP; em Gestão em Efluentes Industriais pela UNICAMP/Limeira, e Mestrando em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos pelo Instituto Mauá de Tecnologia

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LEIA E BAIXE GRATUITAMENTE O LIVRO DIGITAL Moluscos e Saúde Pública em Santa Catarina:

subsídios para a formulação estadual de políticas preventivas sanitaristas

de Aisur Ignacio Agudo-Padrón, Ricardo Wagner Ad-Víncula Veado e Kay Saalfeld O presente trabalho busca preencher uma lacuna nos estudos específicos e sistemáticos sobre a ocorrência e incidência/ emergência geral de doenças transmissíveis por moluscos continentais hospedeiros vetores no território do Estado de Santa Catarina/SC, relacionadas diretamente ao saneamento ambiental inadequado e outros impactos antrópicos negativos ao meio ambiente.

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Métodos de Dimensionamento de Sistemas Fotovoltaicos: Aplicações em Dessalinização de Sandro Jucá e Paulo Carvalho A presente publicação apresenta uma descrição de dimensionamento de sistemas fotovoltaicos autônomos com três métodos distintos. Tendo como base estes métodos, é disponibilizado um programa de dimensionamento e análise econômica de uma planta de dessalinização de água por eletrodiálise acionada por painéis fotovoltaicos com utilização de baterias. A publicação enfatiza a combinação da capacidade de geração elétrica proveniente da energia solar com o processo de dessalinização por eletrodiálise devido ao menor consumo específico de energia para concentrações de sais de até 5.000 ppm, com o intuito de contribuir para a diminuição da problemática do suprimento de água potável. O programa proposto de dimensionamento foi desenvolvido tendo como base operacional a plataforma Excel® e a interface Visual Basic®.

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Mulheres Negras:

Histórias de Resistência, de Coragem, de Superação e sua Difícil Trajetória de Vida na Sociedade Brasileira de Adeildo Vila Nova e Edjan Alves dos Santos O desafio de estudar a trajetória de mulheres negras e pobres que em sua vida conseguiram romper as mais diversas adversidades e barreiras para garantir sua cidadania, sua vida, foi tratada pelos jovens pesquisadores com esmero, persistência e respeito àquelas mulheres “com quem se encontraram” para estabelecer o diálogo que este livro revela nas próximas páginas, resultado do Trabalho de Conclusão de Curso para graduação em Serviço Social.

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Avaliação do desempenho da utilização de resíduos de construção e demolição (RCD) como agregado miúdo em argamassas para revestimentos EVALUATING THE PERFORMANCE OF THE USE OF CONSTRUCTION AND DEMOLITION WASTE (CDW) HOW TO SAND MORTAR COATING Ricardo Melo Araújo Tecnólogo em Construção Civil – Concreto e Mestre em Engenharia de Materiais Curitiba, PR E-mail: meloaraujo@gmail.com Narciso G. da Silva Engenheiro Civil e Doutor em Engenharia Civil Curitiba, PR E-mail: ngsilva@utfpr.edu.br Amanda Czocher Tecnóloga em Construção Civil – Concreto Curitiba, PR E-mail: czocheramanda@bol.com.br Renata Aline Reichert Tecnóloga em Construção Civil – Concreto Curitiba, PR E-mail: methaorc@gmail.com

ARAÚJO, R.M. et al. Avaliação do desempenho da utilização de resíduos de construção e demolição (RCD) como agregado miúdo em argamassas para revestimentos. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 13-21, ago.-set., 2013.

RESUMO A atividade de construção civil demanda de grande quantidade de recursos naturais, visando minimizar a necessidade de exploração de matérias-primas, existe a possibilidade do uso de resíduo de construção e demolição (RCD), entretanto demanda de pesquisas que atestem sua viabilidade. Esta pesquisa visa avaliar a

utilização de RCD como agregado miúdo em substituição total ou parcial da areia natural, em argamassas mistas de revestimento. Foram avaliados no estado fresco: consistência e retenção de água; e no endurecido: resistência mecânica à compressão; absorção de água por imersão e capilaridade; densidade de

13


massa e módulo de elasticidade dinâmico. Os resultados obtidos indicam a viabilidade da utilização do RCD, como agregado miúdo, para a produção de argamassas. A argamassa com RCD apresentou maior resistência mecânica à compressão,

retenção de água e teor de ar incorporado. O módulo de elasticidade apresentou comportamento similar à referência, sendo maior a absorção de água (imersão e capilaridade).

Palavras-chave: Argamassa; resíduo de construção e demolição; reciclagem

ABSTRACT The activity of construction demand for large amounts of natural resources, aiming to minimize the need for exploitation of raw materials, there is the possibility of using from the constructions and demolition waste (CDW) but demand for research that demonstrates its viability. This research aims to evaluate the use of CDW as a kid in aggregate total or partial replacement of natural sand in mortar mixed coating. Were evaluated in fresh: consistency and water retention, and the hardened: mechanical

resistance to compression; absorption of water by immersion and capillary; density of mass and dynamic modulus of elasticity. The results indicate the feasibility of using the CDW, as aggregate kid, for the production of mortars. The mortar with CDW showed greater strength to compression, water retention and levels of air incorporated. The modulus of elasticity showed behavior to the reference, presenting a greater absorption of water (immersion and capillary).

Keywords: Mixed mortar; constructions and demolition waste (CDW), recycling

1. INTRODUÇÃO

A

preocupação com as questões ambientais é um dos assuntos mais discutidos no setor da construção civil, principalmente no que tange o uso e a preservação dos recursos naturais existentes.

Grande parte dos agregados miúdos naturais é extraída dos leitos dos rios, o que pode causar erosão e também a degradação dos cursos d’água com o processo de assoreamento, gerando impacto ao meio ambiente. Devido à degradação do meio ambiente e consequente escassez de matéria-prima existe a necessidade de se estudar o reaproveitamento do resíduo de construção e demolição (RCD), haja vista que a construção civil é uma das grandes consumidoras de matéria-prima e geradora de resíduos. A degradação ambiental é amenizada de duas maneiras quando o agregado de RCD é aproveitado: a reutilização de resíduos de construção gera menor impacto que a deposição deste material na natureza; a extração dos agregados naturais diminui. A ideia de reciclar o RCD disseminou-se no período pós 2ª Guerra Mundial (1). Esta técnica foi utilizada na reconstrução de cidades europeias, principalmente alemãs, que foram total ou parcialmente destruídas pelos bombardeiros aliados durante a fase final do conflito. Devido ao grande volume de escombros existentes, a falta de espaço para a deposição e a necessidade de agregados para a reconstrução, utilizou-se o procedimento de reciclagem de entulho para a produção de agregados. Com isto, resolveram-se dois problemas: o primeiro relacionado ao local para a deposição do grande volume de entulho; e o segundo quanto ao material necessário para reconstrução das cidades.

14


Atualmente, na Europa, devido à pequena disponibilidade de recursos naturais, a reciclagem de entulho recebe maior atenção. Países como Holanda, Bélgica e Dinamarca, que já reciclam mais de 90% dos resíduos, precisam ainda importar areia da Sibéria e o entulho gerado na Inglaterra. O Brasil, onde as técnicas de reciclagem de concreto começaram há cercas de 20 anos, a reciclagem apresenta menos de 5% do entulho gerado (2). Em média, 50% do total de resíduos sólidos urbanos são formados de RCD (3). Mesmo que todo o entulho fosse reciclado, verifica-se que seu uso em base de pavimentação não é capaz de consumir 50% do total gerado (4). A utilização de RCD como agregado miúdo para argamassas já foi pesquisada anteriormente (5, 6), e os experimentos indicaram boas propriedades mecânicas e físicas para as misturas. 2. OBJETIVO

C

om o objetivo de avaliar e comparar as características da argamassa mista produzida com agregado miúdo de RCD e areia natural. Foram produzidas argamassas com substituição da areia natural por RCD, para teores de 25, 50 75 e 100%, sendo realizados ensaios no estado fresco e endurecido a fim de avaliar as propriedades destas argamassas. 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO O entulho foi coletado em uma empresa de transporte de resíduos, sendo préselecionado visualmente, tomando-se o cuidado para que não houvesse material orgânico, vidro, EPS ou aço misturado ao RCD. A Tabela 3.1 apresenta os resultados da análise percentual do resíduo pesquisado. Os materiais constituintes do entulho eram, em sua grande proporção, concreto, argamassas e cerâmica. O resíduo possuía também outros constituintes, como materiais restantes do processo de seleção, o qual não foi possível realizar classificação visual. Tabela 3.1 – Percentual dos tipos de resíduos que compõe o RCD. Tipo de resíduo Cerâmica Concreto Argamassa Outros % 9 53 26 12 Definida a composição do entulho, este foi encaminhado ao Laboratório de Materiais e Estruturas (LAME), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde foi realizada a britagem em duas etapas: 1ª Etapa: britagem do entulho em seu estado natural no triturador de mandíbula externo ao laboratório, atingindo a granulometria de brita 3, aproximadamente; 2ª Etapa: britagem do entulho no triturador de mandíbula de uso laboratorial, até a obtenção da granulometria de areia, sendo executado o peneiramento e o descarte do material retido na peneira ABNT 4,75mm.

15


3.2. MATERIAIS Cimento O cimento utilizado foi CP-II Z 32 da marca Votoran. Cal A cal CH-III utilizada para a produção da argamassa foi do fabricante Pinocal, localizado na cidade de Colombo-PR. A cal ficou em processo de hidratação por 15 dias, em recipiente fechado para evitar a perda de água por evaporação. Agregados A caracterização e classificação do agregado graúdo e dos agregados miúdos de RCD e areia natural foi realizada pelos ensaios de Composição Granulométrica (NBR 248/01) (7), Massa Específica (NBR NM 52/02) (8), Massa Unitária (NBR 7251/82) (9), Absorção de Água (NBR NM 30/01) (10), Teor de Material Pulverulento (NBR NM 46/03) (11) e de Teor de Argila em Torrões e Materiais Friáveis (NBR 7218/87) (12). Os resultados são apresentados na Tabela 3.2 e Figura 3.1. Tabela 3.2 – Comparativo dos resultados de caracterização dos agregados. Ensaio

Unidade

RCD

Natural

Absorção por imersão Módulo de finura Dimensão Máxima Característica Massa específica real Massa unitária em estado solto Material pulverulento Teor de argila em torrões e materiais friávies

% mm g/cm³ kg/dm³ %

11,1 3,28 4,75 2,62 1,29 5,0

1,0 2,65 4,75 2,52 1,48 2,3

%

2,0

0,8

100

NATURAL

RCD

% retida acumulada

80

60

40

20

0 FUNDO

0,15

0,3

0,6

1,18

2,36

4,75

Peneira (mm)

Figura 3.1- Comparativo granulométrico dos agregados 3.3. DOSAGEM DAS ARGAMASSAS Para a dosagem das argamassas de revestimento se deve priorizar que as mesmas tenham características trabalháveis em seu estado fresco, e que depois de aplicadas, produzam argamassas de revestimento com o desempenho desejado, principalmente com relação á aderência ao substrato. Para revestimento externo, o cuidado deve ser

16


para que a argamassa em seu estado endurecido seja impermeável, e que possua resistência á variações de umidade e temperatura (13). Este estudo objetivou utilizar um traço que fizesse parte da realidade das obras, comumente utilizado, sendo adotado o traço 1:3:8 (cimento, cal hidratada e areia, respectivamente) em volume. O agregado de RCD encontrava-se em estado saturado, superfície seca, em função de o RCD possuir 11% de absorção de água, podendo assim comprometer a água de amassamento da argamassa. Para cada preparo dos traços em argamassa, foi considerada a umidade da areia, da pasta de cal e do RCD nos traços T2, T3, T4, assim descontando a quantidade de água do traço original. As argamassas foram produzidas, conforme norma NBR 13276/05 (14), com teor de substituição, do agregado miúdo natural por agregado miúdo de RCD em 25% (T2), 50% (T3) e 75% (T4) e um traço de referência (T1) com 100% de agregado natural. 3.4. ENSAIOS REALIZADOS COM ARGAMASSA NO ESTADO FRESCO - Determinação do índice de consistência (NBR 13276/05): Foi definida como consistência padrão para o desenvolvimento da pesquisa a medida de 230 ± 20 mm. - Determinação da retenção de água (NBR 13277/05) (15) 3.5. ENSAIOS REALIZADOS COM ARGAMASSA NO ESTADO ENDURECIDO Os ensaios realizados para verificação das propriedades no estado endurecido foram realizados com três corpos-de-prova com idade de 28 dias, exceto o ensaio de resistência à compressão no qual foi realizado em duas idades 14 e 28 dias. - Determinação da resistência à compressão (NBR 7215/96) (16): A norma vigente para o ensaio de resistência à tração na flexão e à compressão é a NBR 13279/05 (17), no entanto, os ensaios foram executados conforme NBR 7215/96, devido à indisponibilidade de moldes e equipamentos. A cura dos corpos-de-prova foi realizada em temperatura ambiente, e a superfície dos corpos de prova foi regularizada com capeamento de enxofre. - Determinação da absorção de água por imersão, Índice de vazios e massa específica (NBR 9778/87) (18): O ensaio foi realizado com os corpos de prova imersos, sem fervura. - Determinação da absorção de água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade (NBR 15259/05) (19) - Determinação da densidade de massa aparente no estado endurecido (NBR 13280/1995) (20) - Módulo de elasticidade dinâmico: O ensaio foi realizado no LAME, utilizando três corpos-de-prova cilíndricos (50 x 100 mm) para cada tipo de argamassa, com idade de 35 dias. O módulo de elasticidade foi determinado através do método dinâmico e através do equipamento PUNDIT (Portable Ultrasonic Non-destructive Digital Indicating Tester) onde é determinado o tempo em micro-segundos que a onda ultrasônica percorre o corpo-de-prova no sentido longitudinal.

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4. RESULTADOS 4.1. ENSAIOS REALIZADOS COM ARGAMASSA NO ESTADO FRESCO - Determinação do índice de consistência (NBR 13276/05) Como a consistência foi mantida fixa (230 ± 20 mm) durante a realização dos experimentos, o ensaio serviu para determinar o consumo de água das misturas. O consumo de água foi diretamente proporcional ao aumento do teor de substituição do agregado, os teores de 25, 50 e 75%, apresentaram aumento no consumo de água, em relação à referência de 12, 25 e 36%, respectivamente. - Determinação da retenção de água (NBR 13277/05) As argamassas contendo RCD, como agregado miúdo, apresentaram maior capacidade de retenção de água que a de referência, conforme Tabela 4.1. A retenção de água esta diretamente relacionada á superfície específica dos materiais e componentes da argamassa e também com a relação agregado/aglomerante, indicando que o RCD apresenta melhor capacidade de reter água. TABELA 4.1 – Retenção de água T1 T2 T3 75 80 88

Amostra Retenção (%)

T4 94

Este aumento da capacidade de retenção está relacionado ao aumento do teor de agregado de RCD, diferente dos resultados obtidos por Levy et al. (1997) (5) onde a argamassa de referencia apresentava maior capacidade de retenção de água. 4.2. ENSAIOS REALIZADOS COM ARGAMASSA NO ESTADO ENDURECIDO - Determinação da resistência à compressão (NBR 7215/96) Nos ensaios de resistência à compressão obteve-se maior resistência nas misturas realizados com o agregado miúdo obtido do RCD, comparando com o traço de referência. Isso pode ter ocorrido devido alguns fatores: melhor afinidade química entre o agregado e a pasta, existência de cimento não totalmente hidratado no agregado miúdo obtido do RCD, composição de 53% de concreto no agregado miúdo de RCD, resultando um em um agregado de qualidade superior. 4,00

3,50

RESISTÊNCIA MPa

3,36

3,00

2,64

2,50

2,12

2,36

2,19

2,17 1,94

2,00

1,50

1,50

1,00

T1

T2

T3

CP'S 14 DIAS

T4

CP'S 28 DIAS

Figura 4.1 – Comparativo da resistência à compressão dos corpos de prova aos 14 dias e 28 dias de cura

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- Determinação da absorção de água por imersão, índice de vazios e massa específica (NBR 9778/87) Ocorreu um aumento na absorção de água e no índice de vazios, em função do aumento do teor de RCD na argamassa, este resultado está relacionado a maior absorção de água do RCD e ao maior consumo de água das misturas com maior teor de RCD. Tabela 4.1 – Resumo dos resultados absorção de água por imersão, índice de vazios e massa específica Amostra T1 T2 T3 T4 Absorção por imersão (%) 16,18 17,16 18,13 21,87 Índice de vazios (%) 28,72 28,90 31,37 35,04 - Determinação da absorção de água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade (NBR 15259/05) Entre os resultados do traço T1 e T2 houve uma descompensação, porém constatamos um aumento gradativo no coeficiente de capilaridade nos traços com argamassa de RCD, provavelmente devido a diminuição do raio dos capilares pelo aumento do teor de material fino. Os resultados são apresentados na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Comparativo do coeficiente de capilaridade entre os corpos de prova Amostra T1 T2 T3 T4 Coeficiente de capilaridade 9,49 7,22 8,06 9,73 - Determinação da densidade de massa aparente no estado endurecido (NBR 13280/1995) Ocorreu uma redução na densidade de massa no estado endurecido proporcionalmente com a adição do agregado miúdo obtido do RCD, diferente dos resultados obtidos por Miranda (2000) (13), que em seu experimento observou um aumento na densidade de massa, conforme o aumento do RCD. A Tabela 4.3 apresenta dos resultados de densidade de massa aparente. Tabela 4.3 – Comparativo da densidade de massa aparente no estado endurecido entre os corpos-de-prova Amostra T1 T2 T3 T4 Massa Aparente kg/m3 1825,96 1809,94 1736,81 1704,57 - Módulo de elasticidade dinâmico Através do módulo de elasticidade constatamos que os traços de argamassa com o agregado miúdo obtido do RCD, apresentaram resultados similares ao traço referência, sendo estas argamassas adequadas, já que apresentaram capacidade de se deformar sem apresentar fissuras e problemas de aderência. No entanto, são necessários mais ensaios para comprovar tais características. Os resultados são apresentados na Tabela 4.4.

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Tabela 4.4 – Resultados do ensaio de módulo de elasticidade, realizado aos 35 dias em corpos-de-prova 50 mm x 100 mm Densidade Módulo de Desvio Altura Tempo Velocidade Traço de massa elasticidade padrão CV (%) (cm) (µs) (km/s) (kg/m³) médio (GPa) (GPa) T1 10,01 54,00 18,54 1824,04 5,65 0,28 4,89 T2 10,09 55,00 18,36 1749,18 5,32 0,49 9,22 T3 10,18 56,00 18,19 1698,80 5,06 0,34 6,81 T4 9,93 51,33 19,35 1709,50 5,76 0,24 4,24 5. CONCLUSÕES

C

onforme os resultados obtidos nos ensaios, constatamos que o agregado miúdo de RCD pode ser utilizado em argamassas na substituição do agregado natural. Além dos benefícios técnicos (retenção de água, resistência mecânica, etc.), existe o beneficio ambiental na utilização de um resíduo, minimizando a extração de agregado miúdo natural. Entretanto, quando do seu uso deve-se considerar que a argamassa produzida apresenta maior absorção de água.

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13. MIRANDA, L. F. R. Estudo de fatores que influenciam na fissuração de revestimento de argamassa com entulho reciclado. 2000. Dissertação (Mestrado em Construção Civil) Setor de Tecnologia,

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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo.

teto - Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2005.

14. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 13276 Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e teto - Preparo da mistura e determinação do índice de consistência. Rio de Janeiro, 2005.

18. ______.NBR 9778/87 - Argamassa e concreto endurecido - Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro, 1987. 19. ______.NBR 15259 - Argamassa para Revestimentos de paredes e tetos Determinação da absorção da absorção de água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade. Rio de Janeiro, 2005.

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17. ______.NBR 13279 - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e

Avaliação do desempenho da utilização de resíduos de construção e demolição (RCD) como agregado miúdo em argamassas para revestimentos Ricardo Melo Araújo Tecnólogo em Construção Civil – Concreto e Mestre em Engenharia de Materiais Curitiba, PR E-mail: meloaraujo@gmail.com Narciso G. da Silva Engenheiro Civil e Doutor em Engenharia Civil Curitiba, PR E-mail: ngsilva@utfpr.edu.br Amanda Czocher Tecnóloga em Construção Civil – Concreto Curitiba, PR E-mail: czocheramanda@bol.com.br Renata Aline Reichert Tecnóloga em Construção Civil – Concreto Curitiba, PR E-mail: methaorc@gmail.com

ARAÚJO, R.M. et al. Avaliação do desempenho da utilização de resíduos de construção e demolição (RCD) como agregado miúdo em argamassas para revestimentos. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 13-21, ago.-set., 2013.

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A formação do educador para vivenciar a ludicidade: brincar é necessário Silvano Sulzart Oliveira Costa Pedagogo e Psicopedagogo Vera Cruz, BA E-mail: sulzart@hotmail.com

COSTA, S.S.O. A formação do educador para vivenciar a ludicidade: brincar é necessário. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 22-28, ago.-set., 2013.

RESUMO Este artigo, visa discutir a importância da ludicidade na sala de aula, tendo como principal objetivo apresentar uma reflexão teórica sobre a importância da ludicidade na prática docente. A prática do lúdico no ambiente escolar, e a ludicidade como fator preponderante para o desenvolvimento da aprendizagem tem sido alvo de estudos e pesquisas, de autores como Feijó, Luckesi, Sacristán, Dohme, Bougère, Kishimoto dentre outros. Os jogos, brinquedos e brincadeiras tornaram-se em instrumentos importantes para o desenvolvimento da

aprendizagem. O brinquedo é propriedade para o desenvolvimento integral do ser humano.Já o jogo é um objeto com uma função lúdica que traduz uma dimensão do real para a realidade infantil, e as brincadeiras, expressam aquilo que há de universal e permanente na infância humana, a criança passa pelo um processo de socialização, na medida em que aprende as regras de comportamento mobilizando o funcionamento intelectual do individuo.

Palavras-chave: Ludicidade ; aprendizagem; prática docente

ABSTRACT This article aims to discuss the importance of playfulness in the classroom, having as main objective to present a theoretical reflection on the importance of playfulness in teaching practice. The practice of play in the school environment, and playfulness as a major factor for the development of learning has been the subject of studies and research, authors such as Feijoo, Luckesi, Sacristan, Dohme, Bougère, Kishimoto among others. Games, toys and

games have become important tools in the development of learning. The toy belongs to the integral development of the humano.Já the game is an object with a function that translates a playful dimension to the reality of the real child, and play, express what is universal and permanent in human infancy, the child goes through a process of socialization, as it learns the rules of behavior by mobilizing the intellectual functioning of the individual.

Keywords: Playfulness ; learning ; teaching practice

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1. INTRODUÇÃO

A

prática do lúdico no ambiente escolar, e a ludicidade como fator preponderante para o desenvolvimento da aprendizagem tem sido alvo de estudos e pesquisas, justamente pelas possibilidades de aprendizagem que o brincar proporciona. O brincar deixou de ser algo dissociado da prática pedagógica, para ser entendida como prática didática que deve ser planejada e articulada com o currículo escolar. Segundo Feijó (1992): Através do lúdico e de sua história são recuperados os modos e costumes das civilizações. As possibilidades que o ele oferece à criança são enormes: é capaz de revelar as contradições existentes entre a perspectiva adulta e a infantil quando da interpretação do brinquedo; travar contato com desafios, buscar saciar a curiosidade de tudo, conhecer; representar as práticas sociais, liberar riqueza do imaginário infantil; enfrentar e superar barreiras e condicionamentos, ofertar a criação, imaginação e fantasia, desenvolvimento afetivo e cognitivo (FEIJÓ, 1992, p.185).

A ludicidade tem um papel fundamental para o desenvolvimento infantil, nesta perspectiva, Paulo Nunes de Almeida (1994) no livro Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos, salienta que o sentido real, verdadeiro, funcional da educação lúdica estará garantido, se o educador estiver preparado para realizá-lo. O Educador desta forma, assume um papel importante, que é o de intervir de forma adequada, possibilitando que o aluno adquira conhecimentos e desenvolva suas habilidades. Segundo Feijó (1992, p.185), é através do lúdico e da história que são recuperados os modos e costumes das civilizações. As possibilidades que o lúdico oferece à criança são enormes: é capaz de revelar as contradições existentes entre a perspectiva adulta e a infantil quando da interpretação do brinquedo; travar contato com desafios, buscar saciar a curiosidade de tudo, conhecer; representar as práticas sociais, liberar riqueza do imaginário infantil; enfrentar e superar barreiras e condicionamentos, ofertar a criação, imaginação e fantasia, desenvolvimento afetivo e cognitivo. Para Cipriano Carlos Luckesi (2007, p. 15), “o lúdico é um estado interno do sujeito e a ludicidade é uma denominação geral para esse estado – “estado de ludicidade”; essa é uma qualidade de quem está lúdico por dentro de si mesmo”. Ludicidade é a plenitude de estar envolvido pelo prazer do brincar, de sorrir, de se divertir. O ser humano é um ser que se desenvolve, através dos seus atos no decorrer do tempo. (...) O desenvolvimento se processa dentro de nós, todavia na convivência com outro, seja ela harmônica ou conflituosa. Por vezes, a harmonia nos faz crescer e por vezes o conflito também. O conflito não compreendido pode ser traumático e, por isso mesmo, tem o poder de nos fixar na situação e nos prender ao passado; mas, um conflito compreendido pode ser um recurso útil na vida pessoal (LUCKESI 2007, p. 15).

2.O LÚDICO NO CONTEXTO EDUCACIONAL

A

atividade docente é uma atividade práxis. Envolve teoria e prática. Ensinar exige compromisso com o processo didático e a reflexão constante de como se ensina e de como se aprende, proporcionando uma prática reflexiva. Cabe ao

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educador utilizar o lúdico, não como atividade mecânica, sistemática, burocrática e melancólica. O lúdico envolve o corpo, as emoções, o estado de espírito, a espontaneidade, o prazer. Segundo Sacristán (1999), a prática docente é institucionalizada, tornando-se as formas de educar nos diferentes espaços e contextos institucionalizados, configurando-se na cultura e tradição das instituições. Desta forma é preciso romper com este paradigma, com estas formas de pensar institucionalizados, e ir além, dando espaço para lúdico, para o novo, para a alegria, criatividade, tornando não só a sala de aula, como também a escola, em um lugar de vivencia o “divertido”, o inusitado, expandindo os momentos de prazer e ludicidade, pois a criança aprende brincando, e brincando desenvolve suas habilidades e competências nas diversas áreas do conhecimento. O conceito de ludicidade no contexto educacional vai além da ideia de que a ludicidade é a aplicação de jogos, brinquedos e brincadeiras no ambiente escolar.Ludicidade é um estado de consciência. Para Cipriano Luckesi (2007): (...) quando estamos definindo ludicidade como um estado de consciência, onde se dá uma experiência em estado de plenitude, não estamos falando, em si das atividades objetivas que podem ser descritas sociológica e culturalmente como atividade lúdica, como jogos ou coisa semelhante. Estamos, sim, falando do estado interno do sujeito que vivencia a experiência lúdica. Mesmo quando o sujeito está vivenciando essa experiência com outros, a ludicidade é interna; a partilha e a convivência poderão oferecer-lhe, e certamente oferecem, sensações do prazer da convivência, mas, ainda assim, essa sensação é interna de cada um, ainda que o grupo possa harmonizar-se nessa sensação comum; porém um grupo, como grupo, não sente, mas soma e engloba um sentimento que se torna comum; porém, em última instância, quem sente é o sujeito (LUCKESI, 2007, p. 6).

Portanto, pensar a ludicidade como estado de consciência, como filosofia de vida, é fundamental para a formação profissional docente, que é uma necessidade imposta pelas mudanças de paradigmas, pois no processo de formação vivenciamos e trocamos experiências que vão colaborar na construção da nossa identidade profissional. O educador precisa vivenciar o lúdico, viver o brincar, ressignificar saberes, para agir de forma lúdica no espaço escolar. Estes saberes são ressignificados tanto na formação docente quanto na própria sala de aula. Os saberes profissionais são, pois, saberes da ação. Essa hipótese reforça a idéia de que os saberes profissionais são trabalhados e reconfigurados no contexto do próprio trabalho. Ou seja, é sobre as situações dilemáticas ou de conflitos que se remodelam os saberes com vistas ás respostas impostas no cotidiano (D´ÁVILA, SONNEVILLE , 2008, p. 23).

O saber docente se reconstrói, através da reflexão sobre a prática, sendo também nutrido pelas teorias e pela prática pedagógica, pois ambas ( Teoria e prática) dotam os sujeitos de variados pontos de vista para uma ação contextualizada, oferecendo perspectivas de análise para que os docentes compreendam os diversos contextos vivenciados por eles. Schõn (2000) salienta que:

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O desenvolvimento de uma prática reflexiva eficaz tem que integrar o contexto institucional. O professor tem de se tornar um navegador atendo à burocracia. E os responsáveis escolares que queiram encorajar os professores a tornarem-se profissionais reflexivos devem criar espaços de liberdade tranquila onde a reflexão seja possível. Estes são os dois lados da questão – aprender a ouvir os alunos e aprender a fazer da escola um lugar no qual seja possível ouvir os alunos – devem ser olhados como inseparáveis (SCHÕN, 2000, p.87).

Conforme Dohme (2003), existem várias formas de manifestação da ludicidade, entre as quais, os jogos, as histórias, as dramatizações, as músicas, as danças e as canções e outras manifestações artísticas. Todas estas atividades precisam ser vivenciadas pelo educador no bojo de sua formação, para que o mesmo possa vivenciá-la em sua prática profissional. A formação de professores não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas) mas, sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas de re(construção) permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência (NÓVOA 1997 p. 25).

Ressignificar conceitos, saberes e valores tornou-se o foco da formação dos professores e da construção profissional, pois o mesmo tem um papel fundamental, no processo pedagógico, que é o de incentivar e proporcionar a participação coletiva e desafiar o aluno a buscar soluções, envolver-se nas atividades, brincar. Através das atividades lúdicas o sujeito pode despertar um espírito de companheirismo, cooperação, autonomia, solidariedade, amizade, respeito mutuo, além de desenvolver as habilidades motoras e psicomotoras. A criança precisa interagir de forma coletiva, ou seja, precisa apresentar seu ponto de vista, discordar, apresentar suas soluções é necessário também criar ambiente propício e incentivar as crianças a terem pensamento crítico e participativo, reflexivo, fazendo parte das decisões do grupo. Desse modo, percebe-se o quanto é importante a ludicidade no contexto escolar, visto que ela proporciona uma maior interação entre o estudante e o aprendizado, fazendo com que os conteúdos fiquem mais fáceis aos olhos dos alunos, os quais ficam mais interessados em assistir a aula. Kishimoto nos mostra que: Ser criança é ter identidade e autonomia, é poder expressar suas emoções, suas necessidades, é formar sua personalidade, socializase em contato com a multiplicidade de autores sociais, é expressar a compreensão do mundo pelas linguagens gestuais, artísticas, além de oral e escrita. Ser criança é ter direito á educação, ao brincar, aos amigos, ao conhecimento, mas é principalmente, á liberdade de escolha (KISHIMOTO, 2002, p 3).

Ressignificar saberes é um processo fundamental para que os educadores possam levar atividades lúdicas para a sala de aula, e isso ocorre no processo de formação. Para Maria Cristina D’avila (2008): A prática docente é, portanto, um lócus de formação e produção de saberes. Em seu confronto com a prática e com as condições e

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exigências concretas da profissão, os professores estão continuamente produzindo saberes específicos, conhecimentos tácitos, pessoais e não sistematizados, que, relacionados a outros tipos de conhecimento, passam a integrar a sua identidade de professor, constituindo-se em elementos importantes nas práticas e decisões pedagógicas, inclusive renovando a sua concepção sobre ensinar e aprender (D’AVILA, 2008, p 38).

3. A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

A

discussão sobre o jogo se faz com base numa perspectiva de estabelecer dados que permitam a compreensão de que o jogo e brincadeira podem contribuir para o desenvolvimento humano, e que deve ser analisado com um olhar diferenciado referente à faixa etária da criança no decorrer de cada período. Os jogos são instrumentos lúdicos de aprendizagem que de forma aprazível e dinâmica, harmonizam velocidade no processo de mudança de comportamento e obtenção de novas informações. Estudar jogando é a maneira mais divertida, prazerosa, segura e atualizada de educar. Para Kishimoto (2002): O sentido do jogo depende da linguagem de cada contexto social. Há um funcionamento pragmático da linguagem, do qual resulta um conjunto de fatos ou atitudes que dão significados aos vocábulos a partir de analogias (KISHIMOTO, 2002).

O jogo, compreendido como uma atividade competitiva, com regras e procedimentos que exige que as crianças cumpram normas e passem a considerar alguns fatores pertinentes que influenciam no resultado, como atenção, concentração, e o raciocínio lógico da criança, favorecendo de maneira significativa na aprendizagem e no domínio das atividades proposta pelo educador. 4. OS BRINQUEDOS, AS BRINCADEIRAS E A APRENDIZAGEM

O

brinquedo é propriedade para o desenvolvimento integral do ser humano, brincando a criança experimenta, desvenda, imagina, aprende e confere as suas habilidades básicas podendo ser modificadas e acrescidas de outras de acordo com o contexto sociocultural. Giles Bougère (2001), no livro Brinquedo e cultura salienta que “o brinquedo é um suporte entre tantos outros possíveis: o verdadeiro sujeito da pesquisa o desenvolvimento infantil”. Identifica-se que o brinquedo é considerado como produto diferenciado envolvendo descrições pertinentes, relacionado ao ser humano. O brinquedo é um objeto que é inserido no brincar da criança, para melhor desenvolvimento das suas capacidades motoras. Kishimoto enfatiza que: O brinquedo propõe um mundo imaginário da criança e do adulto, criador do objeto lúdico. No caso da criança, o imaginário varia conforme a idade: para o pré-escolar de 3 anos, está carregado de animismo; de 5 a 6 anos, integra predominantemente elementos da realidade (KISHIMOTO, 2002, p 19).

O brinquedo é um objeto com uma função lúdica que traduz uma dimensão do real para a realidade infantil. O brinquedo Suaviza o impacto provocado pelo tamanho, pelo formato, pelas cores, chamando atenção da criança como ponto de contato com a sua realidade enriquecendo a sua aprendizagem.

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A brincadeira é, antes de tudo, uma confrontação com a cultura. Na brincadeira, a criança se relaciona com conteúdos culturais que ela reproduz e transforma, dos quais ela se apropria e lhes dá uma significação. A brincadeira é a entrada na cultura, numa cultura particular, tal como ela existe num dado momento, mas com todo seu peso histórico (BOUGÈRE, 2001, p 76,77).

Bougère (2001) defende que o brinquedo exerce um valor cultural na sociedade, onde a criança descobre no brinquedo a sua realidade durante a manipulação fazendo uma representação das suas experiências e dando um novo sentido para o brinquedo através das brincadeiras. 5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

C

ompreende-se que a prática do lúdico no ambiente escolar é de fundamental importância para o desenvolvimento emocional, intelectual e cognitivo dos educandos. A ludicidade tornou-se um fator preponderante para o desenvolvimento das aprendizagens no espaço escolar e merece uma maior atenção por parte dos educadores, tendo em vistas que as atividades lúdicas melhoram o processo de aprendizagem e favorecem a sociabilidade e a interação. Brincando a criança aprende. Notou-se também através dos pesquisadores que o brincar, deixou de ser algo dissociado da prática pedagógica, para ser entendido como prática didática que deve ser planejada e articulada com o currículo escolar. Os jogos, brinquedos e brincadeiras, não podem ser aplicados em sala de aula sem planejamento. O lúdico no espaço escolar exige planejamento pedagógico pelos professores e diversão pelos alunos. Sem sobras de dúvidas, o brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento físico, emocional, intelectual e social, e através das brincadeiras, dos brinquedos e dos jogos, a criança forma opinião, relaciona ideias, estabelece relações coerentes, desenvolve a expressão oral e corporal, reforça as agilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se na sociedade e constrói seu próprio conhecimento. Daí, a necessidade de utilizamos o lúdico com frequência em nossas salas de aulas. As brincadeiras, os jogos e os brinquedos são universais, estão inseridas nas histórias da humanidade e de cada sociedade em particular, fazem parte da cultura de um país, de um povo, de uma comunidade. Assim o brincar expressa aquilo que há de universal e permanente na infância humana, pois a criança passa pelo um processo importante no seu desenvolvimento afetivo, cognitivo, psicomotor. A socialização e a interação presentes nas atividades lúdicas favorecem a construção da identidade, na medida em que aprende as regras de comportamento mobilizando o funcionamento intelectual do individuo.

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NÓVOA, António e FINGER, Mathias – O método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: MS/DRHS/CFAP, 1988.

A formação do educador para vivenciar a ludicidade: brincar é necessário Silvano Sulzart Oliveira Costa Pedagogo e Psicopedagogo Vera Cruz, BA E-mail: sulzart@hotmail.com

COSTA, S.S.O. A formação do educador para vivenciar a ludicidade: brincar é necessário. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 22-28, ago.-set., 2013.

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Breves notas acerca das influências e implicações da pós-modernidade na universidade e educação superior BRIEF NOTES ABOUT THE INFLUENCE AND IMPLICATIONS OF POSTMODERNISM IN HIGHER EDUCATION BREVES NOTAS SOBRE LA INFLUENCIA E IMPLICACIONES DE LA POSMODERNIDAD EN EL MUNDO ACADÉMICO Y LA EDUCACIÓN SUPERIOR Rogério Duarte Fernandes dos Passos Mestre em Direito Internacional pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e doutorando em Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Campinas, SP E-mail: rdfdospassos@hotmail.com

PASSOS, R.D.F. Breves notas acerca das influências e implicações da pósmodernidade na universidade e educação superior. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 22369538), n. 15, p. 29-34, ago.-set., 2013.

RESUMO Objetiva o presente texto aduzir breves notas acerca da Universidade alcançada pelo pensamento da pós-modernidade,

tecendo, de forma correlata, colocações sobre a própria formação superior, no que se seguem as considerações finais.

Palavras-chave: Pós-modernidade; universidade no século XXI; educação superior

ABSTRACT This text aims to make brief notes about the University achieved by the thought of postmodernity, constructing, in a related

manner, considerations about their own graduates, following final remarks.

Keywords: Postmodernity; university in the XXI Century; higher education

RESUMEN Este texto tiene como objetivo presentar breves notas sobre la Universidad alcanzado por el pensamiento de la posmodernidad, haciendo de una manera

relacionada, las colocaciones en sus propios graduados en las observaciones finales siguientes.

Palabras clave: Post-modernidad; universidad en el siglo XXI; la educación

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1. SOBRE A PÓS-MODERNIDADE m poucas palavras tornar-se tarefa difícil conceituar o termo “pós-modernidade”. Dentre as muitas perspectivas e principais acepções, podemos tê-la, por exemplo, como o mero período em que se sucede a modernidade no intuito de declarar findas as metanarrativas – narrativas legitimadoras – ou as assertivas tidas como absolutas do período moderno, fundadas em uma crença quase absoluta nos fundamentos da ciência racional e positivista.

E

Lembra Silva (2001, p.111) que ela representa uma transição ou oposição à modernidade, que teve marcos nos movimentos da Renascença e do Iluminismo, reagindo, no campo da estética, ao âmbito de funcionalidade, pureza e abstração. Pereira (2011, p.37) acrescenta que não é preciso o início da pós-modernidade, muito embora o deslocamento das metanarrativas da modernidade já se tenha manifestado no Século XIX, havendo nesse ínterim, além de um questionamento sobre os conceitos clássicos de verdade, outros sobre o ideal de progresso contínuo, e também sobre as explicações únicas, absolutas e definitivas, sejam elas apoiadas nos referenciais teóricos do existencialismo, marxismo, empirismo ou mesmo de outros campos do saber. Pontuando algumas diferenças entre a modernidade e a pós-modernidade, Pereira (2001, p.38) alerta para o novo panorama que se cria e o próprio quadro de insegurança que surge para a educação. Orientada por uma forma linear e racional de explicar o mundo, a modernidade é inaugurada pelo método de René Descartes (1896-1560) e, dentre outros, pelo empirismo de Francis Bacon (1561-1626), por Nicolau Copérnico (1473-1543), Johannes Kepler (1571-1630) e Isaac Newton (16431727), donde se pensava em um controle matemático da natureza, no que era possível de forma correspectiva controlá-la. Seguindo-se a razão correta de Descartes e o senso de experimentação de Copérnico e Newton, dá-se um racionalismo dominante em toda a ciência, alcançando as ciências humanas na Sociologia com Auguste Comte (1798-1857), e nomes na Psicologia como os de Wilhelm Wundt (1832-1920) e Edward L. Thorndike (1874-1949) (PEREIRA, 2001, p.38). Goergen (2010:104), por sua vez, aponta que na perspectiva de Jean-François Lyotard (1924-1988) as transformações contemporâneas na sociedade seriam de vulto tal que seria possível falar de uma nova era, ao passo que Jürgen Habermas faz uma leitura de descontinuidade ou inconclusão do projeto edificado pela modernidade, no que, em abordagem que antes de ser uma divergência, traz consigo o mérito de desvelar conceitos chave para alicerçar a discussão em quaisquer áreas. É certo, porém, que proclamando o fim das metanarrativas, a pós-modernidade coteja outras abordagens no contexto de produção de conhecimento, contemplando outras formas de consenso na sua produção, criação e desenvolvimento – até mesmo contemplando a cultura popular –, o que emerge o questionamento acerca de suas influências e até mesmo implicações para o contexto da Universidade e da educação superior. Supõe-se até mesmo que as diferentes expressões da cultura são reveladoras do propósito humano. Advirta-se, contudo, da crítica que se faz à pós-modernidade enquanto referencial possível de congregar multiplicidade tal de enunciados que a torne incapaz de permitir a escolha de uma abordagem clara e precisa para o estudo dos diferentes fenômenos humanos.

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2. BREVES NOTAS ACERCA DAS INFLUÊNCIAS E IMPLICAÇÕES DA PÓSMODERNIDADE NA UNIVERSIDADE E EDUCAÇÃO SUPERIOR

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crença na possibilidade de pleno domínio da natureza e de sua total compreensão através de um raciocínio racionalista que permanentemente caminhe em favor de um inexorável ideal de progresso são algumas das heranças do pensamento moderno não apenas na construção do conhecimento, mas na edificação do próprio papel contemporâneo da instituição universitária. Seja no modelo da universidade humboldtiana – que traz consigo a premissa da indissolubilidade entre ensino e pesquisa – seja mesmo na proposta de educação liberal do Cardeal Newman (1801-1890) – que propõe o conhecimento como um fim em si mesmo e idealizando a universidade enquanto locus de transmissão de conhecimento universal –, o paradigma moderno em muito induziu a uma abordagem que privilegiou as reduções dos conhecimentos a campos determinados e compartimentados. As bases modernas edificaram um modelo pragmático – consubstanciado em uma visão utilitária do conhecimento –, enunciando explicações universais, condizentes com um mundo regular, previsível (PEREIRA, 2001, p.39). Por certo que essa visão e abordagem contribuíram para o estabelecimento dos alicerces da instituição universitária no Século XX, que a despeito do projeto moderno, departamentalizou-se, e supondo o pragmatismo racional como valor e critério universal para a disciplina da vida humana, instituiu paradigma que não privilegiou o aspecto global de compreensão, compartimentando o saber em uma perspectiva isolacionista e pouco capaz de cotejar leituras distintas e alternativas que concebam uma maior variabilidade dos fenômenos. Santos Filho (2010, p.52), aduzindo que a Universidade no período moderno supôs um método hipotético-dedutivo – consolidando-o como locus da ciência –, no paradigma da pós-modernidade há a necessidade de revisão de convicções, diferentemente da própria Universidade pré-moderna que, se fechando ao diálogo, precisou de dois séculos para entrar no mundo moderno, de maneira que adaptando-se aos novos tempos, a presente instituição universitária seja capaz de incorporar as demandas e implicações que importem em sua sobrevivência enquanto instituição que contemple dentre suas funções a pesquisa, aliadas ao estabelecimento de um novo currículo, e, igualmente, de novos métodos de ensino, abandonando o modelo científico tradicional que rejeita os elementos distintos desse novo paradigma. Dessa forma, como assentado por Pereira (2001, p.36), a implicação na discussão da pós-modernidade no campo educacional, portanto, poderá cotejar uma nova maneira de se produzir o conhecimento, considerando valores sociais, políticos, culturais, econômicos e educacionais. Sendo uma instituição moderna, a Universidade está arraigada aos fundamentos da modernidade, mas tem sido alcançada por questionamentos acerca do projeto moderno, donde a pós-modernidade traz uma interpretação hostil das crenças e valores defendidos pela própria instituição universitária (2001, p.43). Há, nesse esteio, a proposta de se considerar o fenômeno humano no âmbito educacional da forma mais ampla possível, contemplando a diversidade e pugnando pela alteridade, enquanto valores desejáveis na construção e mesmo evolução do ser humano a partir do ambiente educacional.

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No que tange à educação superior, Pereira (2001, p.41) também lembra que no processo formativo do contexto moderno, privilegia-se que o aluno tenha maior informação (para supostamente ser mais bem formado) – em contexto controlado e avaliado –, com o aprendizado oferecido em sala de aula pelo professor, de maneira a não se conceber a prática como algo questionador, mas apenas como comprovador da teoria. Diante disso, é preciso pensar o profissional de uma nova maneira, sendo necessário considerá-lo em uma nova proposta de formação, concebendo-o como cidadãoprofissional – capaz de trabalhar problemas humanos de seu viver social –, construindo uma formação que se amplia para além do saber técnico, devendo considerar o aprendizado e o desenvolvimento dos novos valores envolvidos, de maneira que os próprios currículos sejam constituídos por métodos de reflexão, e a formação aborde valores humanos, afetivos e sociais (Pereira, 2001, p.41). Pereira (2001, p.40) igualmente destaca no interior das fundamentações teóricas acerca da pós-modernidade a existência de um clamor pela responsabilidade ética e política no conhecimento científico, associado ao conhecimento e informação do domínio técnico-profissional. É preciso, portanto, problematizar, humanizar o conhecimento humano já deveras técnico pelos aportes da modernidade. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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o lado das discussões teóricas e epistemológicas que se colocam em face da pós-modernidade, há a oportunidade de tê-la como escopo para a reflexão sobre práticas, finalidades e propostas no âmbito da instituição universitária e do que vem a ser o próprio ensino superior, por frequente enaltecido apenas enquanto instrumento de ascensão social por meio da profissionalização. Essa reflexão, por óbvio, implica em revisão e reflexão das metanarrativas, especialmente na proposta de encontrar o lugar da Universidade no Século XXI que se revela, reposicionando-a em face de uma sociedade que se funda nos valores do conhecimento e da informação, sublinhada pelas transformações tecnológicas e comunicacionais. No entanto, tomemos a advertência de Lima (2010), que discutindo um cenário de fragmentação teórica no campo da educação e seus discursos na proposta de realização do possível, nos coloca que: Vemo-nos diante de um cenário pós-moderno que promove um estado de consciência que perdeu o seu fundamento, o seu eixo orientador, o centro homogêneo, afetando a estabilidade de suas categorias. A perda de confiança nos referenciais surgidos ou reformulados no contexto da tradição iluminista, as grandes narrativas e ideologias que organizaram os processos sociais e educacionais no mundo ocidental geraram uma perda de confiança no progresso da história, gerando uma fé irrecuperável nas promessas de evolução material e social. Este cenário de crise de fundamentação é derivado de uma crise inerente ao paradigma moderno. Conforme compreendo, o cenário pós-moderno não representa um “depois” da modernidade e, sim, um desdobramento do moderno. O cenário pós-moderno não indica outra coisa senão a exigência de um outro olhar sobre a compreensão de razão, de sujeito e de ciência num contexto transformado pela ideia de crise em várias instâncias.

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A compreensão do ideal universitário que se revela no novo milênio e a sua missão constituem-se em alternativas para o enfrentamento da crise do paradigma moderno e a inserção de um novo olhar coadunado com as mais importantes exigências humanas requeridas e oriundas através e pelo debate que tem a pós-modernidade como pano de fundo. Por certo, a contribuição do filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955) (1999) em texto de 1930, pode auxiliar epistemologicamente a orientação e referência aos debates, especialmente, no intuito de colocar a instituição universitária como um instrumento à altura de seu momento presente, de maneira que ela realize diferentes missões que se direcionem não apenas para a formação de meros profissionais para o mercado de trabalho ou mesmo para a realização de pesquisa, mas que, sendo ferramenta capaz de promover e impulsionar a cultura de seu tempo, seja capaz de superar uma estrutura existente no homem dito comum que, ante um ideal de formação geral revela-se inculto, em classificação representada no forte adjetivo de “novo bárbaro”, de sorte a se notar em sua formação especializada, de um aspecto específico muito saber, contudo, de uma visão geral, holística, nada conhecer. Reconhecendo as dificuldades de se discutir e analisar um processo em pleno curso, as reflexões pugnam, no campo educacional, e, sobretudo, universitário, por serem permanentes.

REFERÊNCIA Schøllhammer. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.

GOERGEN, Pedro. A crise de identidade da universidade moderna. In: Escola e universidade na pós-modernidade. Campinas: Mercado de Letras/ FAPESP, 1ª reimp., 2010.

PEREIRA, Elisabete de Aguiar Monteiro. Implicações da pós-modernidade para a Universidade. In: Avaliação. Sorocaba: UNISO, ano 7, v. 7, nº 1, mar. 2002.

LIMA, João Francisco Lopes de. A pedagogia e o cenário pós-moderno: sobre as possibilidades de continuar educando. Educere et Educare, Cascavel: UNIOESTE, v. 5, nº 10, 2º sem. 2010. Disponível em: <http://erevista.unioeste.br/index.php/educereetedu care/issue/current>. Acesso em 02 abr. 2011.

SANTOS FILHO, José Camilo dos. Universidade, modernidade e pósmodernidade. In: SANTOS FILHO, José Camilo & MORAES, Sílvia E. (org.). Escola e universidade na pós-modernidade. Campinas: Mercado de Letras/ FAPESP, 2010. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Autêntica: Belo Horizonte, 2ª ed., 3ª reimp., 2001.

ORTEGA Y GASSET, José. Missão da Universidade. Trad. de Dayse Janet Löfgren Carnt e Helena Ferreira. Apres. de Ivo Barbieri e introd. de Karl Erik

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Breves notas acerca das influências e implicações da pós-modernidade na universidade e educação superior Rogério Duarte Fernandes dos Passos Mestre em Direito Internacional pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e doutorando em Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Campinas, SP E-mail: rdfdospassos@hotmail.com

PASSOS, R.D.F. Breves notas acerca das influências e implicações da pósmodernidade na universidade e educação superior. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 22369538), n. 15, p. 29-34, ago.-set., 2013.

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Casais de dupla carreira com filhos na adolescência: A transmissão de valores na família da classe média paulistana Fabiana Mara Esteca Psicóloga, Especialista em Terapia Familiar e de Casal (Cogeae) e Mestre em Psicologia (USP) São Paulo, SP E-mail: fabiana.esteca@gmail.com

ESTECA, F.M. Casais de dupla carreira com filhos na adolescência: A transmissão de valores na família da classe média paulistana. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 22369538), n. 15, p. 35-44, ago.-set., 2013.

RESUMO Este artigo discorre sobre a vivência da parentalidade em casais de dupla carreira com filhos na adolescência, tendo como principal foco a transmissão de valores entre as duas gerações. A pesquisa procurou compreender como as famílias da classe média paulistana realizam o projeto familiar, indicando os principais valores a serem transmitidos e as influências da família de origem neste processo. Optamos pelo modelo de pesquisa qualitativo, seguindo o referencial sistêmico, sendo realizadas entrevistas com dois casais

heterossexuais com filhos adolescentes. A análise dos dados nos permitiu fazer algumas considerações que reafirmam pesquisas anteriores e está em conformidade com a literatura existente. Parece haver ainda hoje diferenças no modo de socializar meninos e meninas, bem como expectativas e preocupações desiguais para cada um. Por outro lado, ainda que exista o desejo de configurar um modelo estrutural diferente das famílias de origem, alguns padrões se repetem.

Palavras-chave: Parentalidade; transmissão de valores; casais de dupla-carreira; adolescência

1. INTRODUÇÃO

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ste estudo pretende abordar a vivência da parentalidade em casais de dupla carreira, com filhos no início da adolescência. Compreende-se por carreira a construção de uma ocupação profissional com o objetivo de alcançar realização pessoal e financeira, envolvendo alto grau de comprometimento e frequentemente alto grau de preparação acadêmica (DINIZ, 1996). Para alguns autores, como Goldenberg e Goldenberg (1984 apud DINIZ, 1996) os casais de dupla-carreira têm uma postura mais igualitária em relação às responsabilidades domésticas e apoio mútuo em relação ao desempenho profissional. No entanto, parece ser mais comum que um dos cônjuges ou os dois, vejam o

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trabalho da mulher como secundário, tanto em relação ao trabalho do marido quanto ao papel tradicional da mulher no lar. O conflito dessas relações envolve a difícil tarefa de desvencilhar as expectativas tradicionais de gênero com o novo repertório de vida destes casais. A escolha por casais de dupla-carreira perpassa uma demanda atual, dado que até meados da década de 80 esta configuração estava começando a substituir a tradicional família nuclear, composta pelo pai provedor e a mãe dona de casa. Diniz (2005) afirma que esse modelo familiar implica uma sobrecarga de papéis na medida em que exige do casal a conciliação da vida pessoal, conjugal e familiar, além das demandas da vida profissional. Além destas questões a respeito do casal de dupla-carreira, a entrada na adolescência implica um divisor de águas ao que se refere à educação e à dinâmica familiar, pois requer uma mudança estrutural de cada membro para se organizar frente às novas demandas de convivência entre pais e filhos. Este momento envolve a entrada em outra fase da vida, tanto para os filhos, com a entrada na adolescência, como para os pais, que mais comumente estão entrando na meia idade. Esta transição subjetiva vivenciada tanto pelos pais como pelos filhos, exige também que a natureza de suas relações se modifique, fato que pode ser facilmente marcado por conflitos familiares. Na opinião de Kehl (2003) os pais da atualidade estão sem referências, o modelo de educação que receberam já não supre as expectativas em relação a um padrão mais igualitário de relações, ao mesmo tempo em que existe a crença de que a família de “antigamente” era a melhor para a criação dos filhos, constituindo assim um paradoxo para a família moderna. Nesse contexto surgem saberes de diversos “especialistas”, que aparecem com receitas de como é o melhor modo de cuidar das crianças, deslegitimando, indiretamente, o modo como os pais acreditam que devem fazê-lo. Nos últimos anos, virou moda os programas como o “Super nanny” que ensinam os pais a “domarem” seus filhos quando estes saem do controle. Além disso, observamos na prática clínica e em escolas a alta demanda de pais que se dizem desorientados, carentes de uma resposta de um profissional que lhe assegure o “jeito certo” de cuidar do seu filho. Esta insegurança, como defende Kehl (2003), acaba paralisando os pais que delegam a função de educar a terceiros, se tornando ausentes na educação, por medo de “errar”. Somado a isto, existe a crescente valorização da individualidade dos filhos, que por vezes trazem dúvidas aos pais sobre a imposição de limites. Desse modo, procuramos a partir da entrevista com dois casais, verificar como lidam com a educação de seus filhos adolescentes, sob o contexto atual exposto a partir do levantamento bibliográfico desta pesquisa. 2. A ESTRUTURA FAMILIAR CONTEMPORÂNEA

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ivemos um momento de transição de papéis sociais que refletem diretamente na estrutura da família contemporânea. Este movimento é fruto de uma multiplicidade de fatores interligados que incluem aspectos históricos, sócioculturais e também subjetividades frente ao acelerado processo de modernização, colocando em questão valores, costumes e tradições há muito petrificado nas mentalidades.

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O lugar de autoridade do pai, como aquele membro que era dotado de um saber que lhe garantia a posição na hierarquia familiar, foi paulatinamente se perdendo, mediante as constantes e rápidas transformações sofridas pela estrutura familiar nos últimos tempos, fazendo com que o saber acumulado pelo pai se tornasse obsoleto em meio às novas situações, as quais ele ainda não tem experiência (KEHL, 2001; ROMANELLI, 1995). Para Romanelli (1995) é possível observar uma aproximação dos pais aos filhos, diferente das relações distantes da geração passada, que correspondia ao modelo de família nuclear, com um pai distante e a mãe mais afetuosa com os filhos. Ou seja, vivemos hoje o que parece ser uma espécie de reajuste após um período de severas modificações da estrutura familiar. 2.1. PARENTALIDADE E ADOLESCÊNCIA De modo geral, a fase adolescente da família suscita medos e apreensões por parte dos pais, legitimados por dados de realidade presentes na vida urbana, como o fácil acesso às drogas e a violência dos grandes centros. Frente a isso os pais se sentem impotentes para garantir a proteção integral dos filhos, ainda mais na fase da adolescência, quando esses jovens reivindicam liberdade e independência. Além da sensação de impotência, a demanda por maior autonomia dos filhos implica sentimentos de rejeição parental, pois geralmente os pais vivenciam o luto de um filho dependente e que lhes projetava admiração incondicional. O ciclo da parentalidade, tal qual Berthoud (2000) definiu, perpassa por fases que exigem reformulações e flexibilidade do casal parental, pois cada período de vida dos filhos envolve um novo padrão relacional. Este processo está ligado ao conceito de causalidade circular, proposto por Bateson (1970, apud BERTHOUD, 2000), dado que não é um fenômeno linearmente causado e sim um movimento em que todos mudam e se influenciam entre si continuamente. Durante o ciclo de vida familiar, aspectos internos devem ser reavaliados, como por exemplo, as regras da casa que, de acordo com o movimento do grupo precisam ser renegociadas na medida em que os papéis e expectativas vão se modificando. 3. TRANSMISSÃO DE VALORES E FAMÍLIA

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família de origem configura o primeiro elo, e o mais importante, na formação social, subjetiva e cultural do indivíduo em formação. Porém, cada vez mais, observamos que a família conta com outros parceiros nesta empreitada, dado que as crianças vão mais cedo para instituições como a pré-escola, creches ou ficam sob o encargo de outros cuidadores. Em síntese, a vida pós-moderna desencadeia uma série de mudanças importantes para a instituição familiar. Podemos observar que o peso das tradições perde força, os papéis de gênero são mais flexíveis, a união de indivíduos de diferentes culturas é mais comum, além da permeabilidade cultural proporcionada pela globalização e a parceria com instituições formadoras externas à família. Este movimento tem dois lados: permite maior liberdade e autonomia ao passo que gera insegurança pela perda de um modelo a ser seguido, especialmente na fase adolescente, com todos os percalços que discorremos anteriormente. Bauman (1997) afirma que esta relativização dos valores insere no indivíduo a possibilidade de fazer escolhas sobre o modo como se colocar no mundo e a vida que

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se deseja viver, este fator traz consigo riscos, pela perda de um modo sólido de ser e agir, bem como a certeza do que esperar de cada um, como reassegura Macedo e Kublikowiski (2009), mas por outro lado estimula a reflexão dos problemas éticos e morais, permitindo a apropriação da vida e do contexto que a forma. Macedo e Kublikowiski (2009) reiteram que a discussão acerca dos valores é atual e relevante, pois as novas gerações serão responsáveis pelas mudanças sociais futuras, bem como pela renovação dos valores e tradições. Portanto, percebemos que a passagem de uma geração à outra não é caracterizada pela simples repetição, mas pela intervenção pessoal dentro do que faz sentido aos padrões morais de cada indivíduo e que deste modo selecionam para transmitir às gerações futuras. (MACEDO, KUBLIKOWISKI, BERTHOUD, 2006). 4. METODOLOGIA

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ara alcançar nossos objetivos optamos pelo modelo qualitativo, visto que buscamos compreender os significados atribuídos pelos indivíduos frente ao fenômeno investigado. Este conhecimento não é mensurável, por isso descartamos a metodologia quantitativa. O intuito é conhecer a fundo questões ligadas à organização familiar, concepções individuais sobre ser pai e ser mãe, além de outros fatores relevantes que os pais possam trazer. Esta pesquisa tem um viés sistêmico e pretende entender o conteúdo das conversações a partir de seu contexto global, levando em conta os aspectos sociais, culturais e geracionais dos indivíduos, a fim de inter relacionar estes componentes com aquilo que nos interessa investigar: as relações entre pais e filhos adolescentes quando ambos os pais trabalham fora e portanto tem menor tempo de convívio diário com os filhos. 4. RESULTADOS Casal A – Alex e Sandra O casal A é constituído por Alex, de 58 anos, Sandra, de 52 anos; estão casados há 23 anos e possuem dois filhos: Lucas, com 17 anos e Isabel, com 15 anos. Alex possui formação em administração de empresas e trabalha como funcionário público; Sandra é formada em administração pública e também é funcionária pública. I - Dinâmica parental Após o nascimento da segunda filha, Sandra decidiu reduzir a jornada de trabalho em tempo parcial, o contato com as crianças por mais tempo durante o dia revelou-se fator imprescindível para a relação de autoridade diferenciada entre os pais. Ambos percebem que o maior contato da mãe com os filhos alterou significativamente a relação, no sentido de Sandra se sentir mais esgotada, com menor autoridade sobre os filhos, em relação a Alex. II - Família e carreira Quanto ao desafio de conciliar a profissão com a parentalidade, é notável que o envolvimento de Sandra nas atividades e administração doméstica foi muito maior do que o de Alex, principalmente pelo fato de ter reduzido a jornada de trabalho, conflito pelo qual Alex não cita ter passado e que é muito presente na fala da esposa. Por

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exemplo, é Sandra quem pensa em cuidados alternativos para os filhos pequenos e, portanto é ela quem lida com as principais questões e tenta achar meios para solucioná-las, ao passo que Alex tem também uma participação, porém muito mais de coadjuvante na tomada de decisões. Alex afirma que abdicou de muitas coisas, embora não tenha parado de trabalhar, conta que parou de viajar, inclusive a trabalho, deixou de sair à noite, como costumava fazer antes do nascimento das crianças. Portanto, existe também um movimento da parte do pai, de abdicações importantes, porém em menor escala do que a mãe. Ambos relatam que não foi um momento de maiores conflitos por conta das privações que um filho implica, Sandra atribui ao fato de terem tido filhos mais velhos e com isso, a vida profissional já estava realizada. III - Transmissão de valores Percebemos que existe uma preocupação marcante quanto às drogas, álcool e sexualidade e os pais citam a menina como principal preocupação sobre estas questões. Por exemplo, falam que se trata de “uma menina, de 15 anos, bonita”, e quando questionamos sobre estas preocupações em relação ao menino, Lucas, ambos afirmam veementemente que “com menino é muito mais fácil”, afirmam que a fase da adolescência com o menino é muito mais tranquila. Esta questão relativa ao gênero aparece bastante marcada no discurso de Alex e Sandra, embora não saibam definir claramente os motivos da desigualdade, ora atribuindo à fragilidade física da menina, ora à personalidade. Outro ponto que nos chama a atenção é a relação causal que defendem sobre a Isabel ser mais “desorientada” quando anda sozinha na rua, atribuindo à natureza desta, porém está claro que Lucas recebeu muito mais incentivo neste sentido, por exemplo, andava de táxi com os amigos para voltar pra casa, enquanto iam buscar Isabel nos lugares. Percebemos esta contradição quando nos falam que o Lucas não os preocupa quando anda de táxi ou sozinho na rua, ao passo que afirmam que a menina não está “acostumada”. Percebemos como a menina é mais protegida, o que evidentemente a deixa numa posição desigual em relação à emancipação do irmão mais velho, porém a atribuição ainda fica a cargo da “natureza” ditada pelo gênero: Casal B – Eduardo e Paula O casal B é constituído por Eduardo, de 55 anos, Paula, de 53 anos; estão casados há 22 anos e possuem apenas uma filha em comum: Bruna, com 15 anos. Diferente do casal anterior, Eduardo já foi casado e possui filhos mais velhos, dois rapazes acima de 20 anos, os quais convivem com o casal com grande frequência, permitindo comparações acerca dos modelos transmitidos e as diferenças de gênero, muito presente nos discursos como veremos. Eduardo é formado em engenharia civil e trabalha como funcionário público federal; Paula é formada em arquitetura e atua como técnica em planejamento e gestão. I - Dinâmica parental Ao contrário do casal A, Paula não reduziu a jornada de trabalho após o nascimento da filha, porém a relação estabelecida ainda era de mais contato do que Eduardo – Paula conta que era ela quem arrumava as coisas da escola, quando Bruna ficava doente normalmente procurava a mãe, além disso, o trabalho de Paula era mais próximo da escola da filha, o que permitiu a ela ter maior participação na vida da

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menina. Outro ponto importante trazido por Paula se refere à percepção de sua autoridade em comparação com a de Eduardo, considera que por ter um contato mais próximo, com maior intimidade, a relação de autoridade fica prejudicada (assim como notamos no casal A). Eduardo parece concordar com Paula, mas não estabelece relação com o tempo maior que esta fica com a filha, cita apenas a relação de intimidade com a mãe e não se refere só à Paula, mas a todas as mães, por conta da “natureza” dessa relação. II - Família e carreira Apesar de Paula não ter limitado o tempo de trabalho por conta da maternidade, o conflito esteve muito presente, pois quando a licença maternidade acabou a menina foi direto para a escola, aos seis meses de idade e Paula não sabia ao certo como afetaria a relação das duas e mesmo as consequências dessa formação para a filha. Percebemos a importância da escola para estes pais, pois foi a opção que encontraram para conciliar a vida profissional (de Paula) com a tarefa de criar e educar a filha. Aparece bem demarcado o conflito pela falta de referências anteriores, pois “a geração que nasceu na escola” (como define Paula) é algo novo para esta família. III - Transmissão de valores É muito destacada a questão com a sexualidade de Bruna, é a primeira coisa que referem sobre as preocupações, principalmente porque a adolescente namora há um ano e meio e já demonstra para a mãe o desejo de iniciar a vida sexual. O argumento de Paula é que a menina não tem ainda maturidade para lidar com as possíveis consequências de um ato sexual, como a gravidez. Nota-se um discurso baseado no micro contexto, a diferença no tratamento da sexualidade é vista como uma questão de personalidade e maturidade, as expectativas sociais de gênero aparecem discretamente. Os pais também referem uma preocupação com a segurança quando Bruna sai sozinha, falam, por exemplo, do medo da filha ser abordada na rua, de andar de ônibus e da insegurança sobre o modo como vai se relacionar com as pessoas. Eduardo retrata a nova condição vivenciada pela sua família atual, elucidando, por exemplo, os dois casamentos e os filhos com a primeira mulher como uma realidade muito distante da geração anterior a dele. Conclui, por fim, que apesar da sociedade estar muito diferente, alguns valores devem ser mantidos para tornar a vida em sociedade melhor. 6. DISCUSSÃO

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princípio, gostaríamos de ressaltar que os casais apresentam pontos de vista muito parecidos quanto ao tipo de educação que elegeram dar aos filhos, isto é, vínculos parentais mais democráticos e a busca por escolas “alternativas”. Portanto, trata-se de uma parcela específica da classe média, cujos valores são consoantes com uma formação mais moderna e permissiva, com características muito peculiares dentro da classe maior a que pertencem: a classe média alta de São Paulo.

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Em relação à dinâmica parental, existe grande semelhança entre os modelos de autoridade. Os dois casais percebem diferença na relação da mãe com os filhos. A postura do pai, nos dois casos, é de mais autoridade, onde a figura do pai retém a “palavra final” e não permite tanta discussão, como no caso das mulheres. Podemos afirmar que o tempo com que os pais passam com as crianças faz diferença para o vínculo estabelecido, porém não é determinante, pois como mostra o casal B, a circunstância que parece promover diferença é a qualidade da relação que cada um, pai ou mãe, mantém com os filhos. Se juntarmos o discurso dos casais, notamos que as tarefas, a divisão de responsabilidades, a intimidade conquistada, bem como os cuidados dispensados aos filhos ainda permanece desigual entre os cônjuges. Quanto à conciliação entre a vida profissional e a parentalidade, o discurso das mulheres revela grande conflito entre a decisão de continuar trabalhando e deixar o filho sob cuidados auxiliares. Pela amostra pesquisada, esta dúvida pertence apenas ao mundo feminino, pois os homens não citam conflito algum nesse sentido. Além disso, a preocupação sobre o lugar onde deixar os filhos é, veladamente, atribuição típica da mulher dentre os casais de nossa amostra. Na terceira categoria, sobre a transmissão de valores, os casais apresentam um consenso sobre a preocupação com a sexualidade da menina, questões como drogas e bebidas aparecem, mas de forma secundária. As entrevistas revelam que ainda existe grande influência do gênero sobre o modo de socializar os adolescentes. Porém, esta relação não é clara para os casais, quando questionados porque a sexualidade da menina é mais difícil de lidar respondem ser uma questão de “personalidade”, “maturidade” ou “temperamento”. Apenas os homens dos casais, muito sucintamente, percebem alguma relação entre as expectativas sociais diferenciadas para homens e mulheres. Nesse cenário, a autonomia da menina parece ficar prejudicada por conta da fragilidade atribuída a elas. Notamos ainda que os pais entrevistados vivenciaram claramente a mudança de modelos familiares e revelaram as dificuldades provenientes da falta de um jeito de ser bem delimitado, com funções nitidamente demarcadas para um e outro. Outro fator marcante refere-se às questões morais, que na geração anterior eram delegadas à igreja ou apareciam na forma de regras ditadas que não permitiam questionamento, atualmente exigem dos pais maior diálogo com os filhos, maior capacidade de reflexão e consequentemente, escolhas. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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este trabalho nos dispusemos a entender as relações entre o casal de duplacarreira com seus filhos na adolescência, ao que se refere à transmissão de valores, percepção da autoridade e possíveis conflitos na fase de transição.

A análise de dados nos permite considerar que elementos tradicionais e modernos coexistem na dinâmica destas famílias. Podemos situar três aspectos onde esta confluência é mais proeminente: - Na diferença de valores e limites estipulados para meninos e meninas: É muito presente a preocupação com a sexualidade das meninas, quando confrontamos esta preocupação em relação aos meninos os casais diziam que com o menino “é mais fácil”, no entanto parecem não ter claro os motivos para tal afirmação, e por vezes, se contradizem.

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Acreditamos que esta confusão perpassa os valores arraigados de uma sociedade machista, fruto de uma educação moral rígida e católica, como o foi no caso dos casais entrevistados, em choque com valores modernos de liberação sexual da mulher – ou seja – os pais acabam reproduzindo um modelo educacional desigual para cada sexo e tentam achar justificativas lógicas que desviem de um discurso puramente moral. A questão da sexualidade envolve uma dimensão maior, como o incentivo à autonomia e independência das meninas, por exemplo, existe o medo de que as filhas andem de ônibus, peguem táxi e andem sozinhas na rua; nos dois casos há uma proteção muito maior sobre elas do que com os filhos homens. Embora esta diferença no tratamento da independência de cada um esteja clara, os pais argumentam que as filhas não sabem “se virar” tão bem sozinhas quanto os rapazes. - Na relação de autoridade: A questão referente à diferença sentida pela mãe e pelo pai no momento de impor os limites e criar uma relação de autoridade envolve múltiplos fatores e exigiria um estudo mais amplo para discorrer com maior segurança pelo tema. No entanto, podemos levantar algumas hipóteses que acreditamos ter influência nesta dinâmica. Em primeiro lugar, parece haver a influência de alguns aspectos do modelo recebido nas famílias de origem, isto é, a mãe era quem passava o dia com os filhos e era a responsável pelos cuidados básicos, como a alimentação, doenças, higiene, etc. Ao pai cabia manter a autoridade maior, na ordem da hierarquia em primeiro lugar vinha o pai e depois a mãe. Pode ser um dos fatores que justifiquem a manutenção de alguns padrões arcaicos da família de origem. Ainda assim notamos um deslocamento da figura do pai em busca de maior intimidade com os filhos, que é maior do que aquela estabelecida com seus próprios pais e também há um pedido de reconhecimento de sua participação no lar com os filhos, é importante ponderar que é um processo que está se iniciando e estudos nesta área seriam muito ricos para o campo da psicologia familiar. Em segundo lugar, parece haver de fato uma sobrecarga feminina, pois embora a mulher trabalhe e constitua uma carreira, ela é a principal responsável pelos cuidados auxiliares do filho e da administração da casa, como pudemos comprovar nos depoimentos. Ou seja, existe uma cobrança social e individual de ser boa esposa, boa mãe e boa profissional, o que significa ser capaz de cumprir todas as tarefas com excelência. Este argumento está em conformidade com estudos atuais, como demonstra a pesquisa de Meirelles (2001) e Diniz (1996). Por fim, colocamos como uma hipótese, ou reflexão apenas, que o discurso social produzido no decorrer de dois séculos, englobando a valorização da mãe pela igreja católica, o nascimento da psicanálise e outros movimentos sexistas, podem estar presente ainda no ideário destas mulheres, produzindo um conflito interno pelo fato de serem mães e trabalhadoras. Paula revela o medo que tem desta “geração que nasceu na escola”, ou seja, se esta geração apresentar problemas no futuro de quem vai ser a culpa? Portanto, é possível que os comportamentos mais permissivos e de menor controle destas mães sobre seus filhos possa estar relacionado com o sentimento de culpa por não se sentirem mães completas. - Por último, a confluência de padrões arcaicos e modernos aparece no significado do trabalho da mulher na família:

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Os discursos indicam que o trabalho da mulher é considerado secundário, conforme já fora indicado em trabalhos anteriores (Goldenberg & Goldenberg, 1984 apud Diniz, 1996). Há um conflito presente, embora de modo implícito, acerca da exigência quanto ao papel de gênero em contraposição com o novo padrão de vida. Podemos ressaltar que o conflito entre diminuir a jornada de trabalho aparece apenas no discurso feminino, não sendo cogitado em nenhum momento pelos homens – o fato de não haver questionamento sobre isso indica certa naturalização dos encargos femininos na criação dos filhos. Em síntese, considera-se que a mulher, por ter entrado no mundo outrora exclusivamente masculino, deve arcar com os prejuízos no cuidado com os filhos, é ela a responsável por buscar cuidados auxiliares que, “natural e originalmente” caberiam à mãe. No entanto, cabe lembrar que as mulheres que entrevistamos, embora tenham passado por conflitos, queriam e desejavam investir na maternidade, sendo esta uma função prazerosa e incluída no projeto de realização pessoal. Portanto, existe a diferença de gênero, bem marcada e definida em relação aos encargos domésticos, porém a mulher não reivindica igualdade com o marido neste quesito, ela continua sendo a responsável pela tomada de decisões dentro de casa e com os filhos. A mulher moderna parece se desgastar mais, por conta do acúmulo de atividades presentes no seu cotidiano de mãe, esposa, administradora doméstica e profissional, mas não abre mão destas atribuições. Resta entender com maior clareza os motivos que mantém estas mulheres nesta dupla jornada, pensamos que há uma confluência de fatores sociais e subjetivos. Pode ser que ainda exista o sentimento de “dever” sobre a mulher, demarcando resquícios de um padrão tradicional sobre o papel “primordial” da mulher. Ou ainda, a falta de confiança na competência do marido dentro da esfera doméstica, espaço que também não é “naturalmente” reservado ao sexo masculino. Observamos, porém, um movimento de busca de maior diálogo com os filhos, procurando orientá-los com argumentos embasados em princípios éticos e morais, diferente da relação de distância e “assuntos proibidos” de antigamente, como por exemplo, tratar de assuntos “tabus” a partir dos dogmas religiosos, minando assim a reflexão e diálogo entre pais e filhos. Parece que a modernidade traz consigo a apropriação individual da vida que se deseja viver, bem como a responsabilidade pelas próprias escolhas. Por fim, podemos afirmar que os casais se preocupam imensamente com a formação dos filhos e com isso levantam sempre reflexões sobre as escolhas educativas que condigam com seus valores. Consideramos este caráter positivo, pois é a partir da reflexão e crítica que se torna possível questionar padrões obsoletos e desnaturalizar regras impostas no passado. No entanto, apesar de haver o desejo de configurar uma nova família, ainda existem muitos resquícios do modelo tradicional influenciando os pais da atualidade, repetindo e perpetuando valores tradicionais. A partir do exposto, reiteramos o papel do psicólogo neste campo, pois enquanto profissionais das ciências humanas, somos também formadores de opinião, ao que nos cabe, reverter ou perpetuar tais paradigmas.

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REFERÊNCIA KEHL, M.R. Lugares do feminino e do masculino na família. In: A criança na contemporaneidade e a psicanálise. Casa do Psicólogo: São Paulo, 2001.

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OBSERVAÇÃO Esta publicação, baseada em monografia apresentada em 2010, a partir do curso de especialização em Terapia familiar e de casal (Instituto Cogeae) sob orientação da profª. Drª. Rosa Maria Stefanini Macedo (PUC-SP).

Casais de dupla carreira com filhos na adolescência: A transmissão de valores na família da classe média paulistana Fabiana Mara Esteca Psicóloga, Especialista em Terapia Familiar e de Casal (Cogeae) e Mestre em Psicologia (USP) São Paulo, SP E-mail: fabiana.esteca@gmail.com

ESTECA, F.M. Casais de dupla carreira com filhos na adolescência: A transmissão de valores na família da classe média paulistana. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 22369538), n. 15, p. 35-44, ago.-set., 2013.

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O transtorno de somatização Elton Carlos de Oliveira Borges Doutorando em Tratamento da Informação Espacial e Acadêmico de Medicina Belo Horizonte, MG E-mail: eltonborges@hotmail.com Alline Paula Bezerra Feliciano Fisioterapeuta e Acadêmica de Medicina Belo Horizonte, MG E-mail: allinefisioterapeuta@yahoo.com.br

BORGES, E.C.O.; FELICIANO, A.P.B. O transtorno de somatização. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 45-53, ago.-set., 2013.

RESUMO O transtorno de somatização é uma condição crônica e frequentemente debilitante, considerada como o mais grave dos transtornos somatoformes. Transtornos estes responsáveis por sério sofrimento emocional e prejuízos sociais e ocupacionais, sem, contudo, terem tido,

ainda, os seus sintomas físicos adequadamente explicados de forma médica. Este trabalho, então, reúne em sua revisão literária, algumas hipóteses explicativas, sua epidemiologia, clínica e diagnóstico diferencial, além de condutas de tratamento do mencionado mal.

Palavras-chave: Transtorno de somatização; transtornos somatoformes

1. INTRODUÇÃO

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ste artigo trata do transtorno de somatização, uma condição crônica e frequentemente debilitante, tida como a vertente mais grave dos transtornos somatoformes, grupo no qual também se incluem o Transtorno Conversivo, o Doloroso, o Dismórfico Corporal e a Hipocondria. Transtornos que embora apresentem queixas suficientemente sérias de sofrimento emocional, com prejuízos sociais e ocupacionais, não têm os seus sintomas físicos adequadamente explicados de forma médica. Assim, o objetivo deste trabalho é traçar uma revisão literária a respeito do mesmo, retratando algumas de suas hipóteses explicativas, epidemiologia, clínica e diagnóstico diferencial, além da sua forma de tratamento. De acordo com Lazzaro e Ávila (2004), O termo somatização foi estabelecido por Lipowiski, em 1988, como “uma tendência para experimentar e comunicar desconforto somático e sintomas que não podem ser explicados pelos achados patológicos, atribuídos a doenças físicas e procurar ajuda médica para eles”. A partir do trabalho de Reich (1995), Volpi (2004) afirma que o corpo não esquece, sendo que tudo o que é vivido durante a infância, através de sensações, permanece registrado, o que faz da somatização uma forma de comunicação de tais registros ancorados no próprio corpo, teoria esta um tanto controversa como se verá em relação à psicanálise.

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Para Volpi (2004), a somatização é um processo de utilização do corpo com propósitos psicológicos, tais quais: (1) o Deslocamento de emoções desagradáveis que o sujeito é incapaz de tolerar, levando aos sintomas físicos; (2) O uso do sintoma para comunicar, de forma simbólica, um conflito intrapsíquico; (3) O alívio da culpa através do sofrimento ou para obtenção de vantagens pessoais com a manipulação das relações interpessoais; (4) Liberação de obrigações e responsabilidades; (5) Obtenção de cuidados e atenção, uma relação pessoal mais intensa ou a simpatia de outras pessoas;(6) Compensação econômica). É importante lembrar que todo esse processo se dá a nível inconsciente e não difere em nada dos usos psicológicos das doenças confirmadas. Assim, este trabalho é um esforço de investigação do Transtorno de Somatização, bem como de duas de suas hipóteses explicativas, a partir dos trabalhos de Holmes (1997), Kaplan e Sadock (1997), Lazzaro e Ávila (2004), Volpi (2004), Green (2008) e Romanha (2010). 2. OS TRANSTORNOS SOMATOFORMES

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ara uma melhor discussão da Somatização, optou-se, também, por uma rápida apresentação dos demais transtornos somatoformes, utilizando-se, para tal, do trabalho de Romanha (2010), que os distinguiu em quatro outros tipos de transtornos, quais sejam o Transtorno Conversivo, o Doloroso, o Dismórfico Corporal e a Hipocondria. O Transtorno Conversivo é a presença de sintomas ou déficits produzidos não intencionalmente que afetam a função motora ou sensorial voluntária e que sugerem, mas não são explicados de todo por uma condição neurológica ou médica, pelos efeitos diretos de uma substância ou por um comportamento ou experiência aceitos no âmbito cultural. A Hipocondria se refere ao medo de se ter uma doença séria baseado na interpretação equivocada de sinais e sensações corporais. A preocupação persiste apesar do diagnóstico negativo. No Transtorno Doloroso, os pacientes apresentam variadas dores, tais quais, dor lombar, cefaleia, facial atípica e pélvica crônica. Tal dor pode ser traumática, neurológica, iatrogênica ou musculoesquelética. O paciente pode estar tão envolvido com a dor, que a cita como a fonte de todo o seu sofrimento. O diagnóstico de Transtorno Doloroso, no entanto, exige um fator psicológico significativamente envolvido nos sintomas. O Transtorno Dismórfico Corporal é uma preocupação com algum defeito imaginário na aparência ou com alguma anomalia física menor. As preocupações mais comuns envolvem defeitos faciais em partes específicas como os cabelos, a pele, a forma do rosto ou os traços faciais. Outras partes incluem genitais, mamas, nádegas, extremidades, ombros e, até mesmo, o tamanho geral do corpo. 3. HIPÓTESES EXPLICATIVAS

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ntre as várias hipóteses que contribuem para a explicação do transtorno de somatização, decidiu-se pela apresentação de elementos dos trabalhos de Green (2008) e de Reich (1995).

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Para Green (2008), a somatização é uma espécie de transbordamento do psiquismo, que não consegue manter em seus limites o que vem do inconsciente, do Id ou de uma realidade muito traumática. Assim, o que se encontra na base do fenômeno psicossomático é a ausência ou deficiência da fantasia. Por outro lado, um mesmo paciente que apresenta sintomas psicossomáticos e características de um déficit da capacidade de fantasiar pode apresentar sintomas de histeria (com ou sem conversão) simultaneamente ou em períodos distintos, revelando a coexistência de duas organizações estruturais num mesmo paciente. Assim, o pensamento aparece como uma função alterada nos pacientes com sintomas psicossomáticos, devido ao seu empobrecimento. Ainda de acordo com Green (2008), a Escola Psicossomática de Paris, cujo maior expoente é Pierre Marty, adota a teoria de que a somatização é causada por um trauma, entendendo-a como a invasão de um aparelho psíquico com poucos recursos de mentalização, simbolização e processamento. De modo um tanto diferente, Reich (1995) citado por Volpi (2004), defende que a formação do caráter é o produto do choque entre os impulsos naturais da criança e as frustrações impostas a ela por uma educação moralista e repressora. O corpo sente, aprende, se disciplina, se condiciona, o que altera as células do cérebro e o próprio comportamento do indivíduo. Assim, o corpo retém todos os conflitos emocionais e possui uma linguagem própria, comunicada por gestos, postura, tom de voz, movimentos e vestimentas, o que é negligenciado pela psicanálise. Reich e sua Técnica de Análise do Caráter, prefere acreditar no que vê e lê no corpo dos seus pacientes, do que no que ouve a respeito de suas angústias, ansiedades, medos, desejos e repressões. Compreende, então, os mecanismos psíquicos e as defesas com os quais a psicanálise ortodoxa se debate (VOLPI, 2004). A análise do caráter revela que atitudes como gestos, posturas e tom de voz se formam durante as etapas do desenvolvimento infantil. De forma que é o bloqueio na etapa do desenvolvimento que define o tipo de caráter de um indivíduo. Do contrário, se uma criança passa por todas as etapas sem sofrer comprometimentos entre seus impulsos naturais e as frustrações impostas a ela por uma educação moralista e repressiva, ela pode chegar ao caráter genital, autorregulado e sem bloqueios. Se os impulsos dessa criança são frustrados e reprimidos de forma severa, sua energia permanece fixada, propiciando o aparecimento de um caráter neurótico, e defensivo, em conformidade com a etapa em que o bloqueio ocorreu (VOLPI, 2004). O trabalho sistemático de Reich (1995) com a análise do caráter levou-o a perceber que o conflito psíquico possui um equivalente somático, uma couraça muscular. O homem é afetado por seu corpo, mesmo quando os problemas pertencem à esfera do psíquico. O caráter de uma pessoa, tal como se manifesta em seu padrão típico de comportamento, também se revela a nível somático nas formas e nos movimentos do corpo (VOLPI, 2004). As defesas do caráter funcionam como uma forma estratégica de sobrevivência e ocultam um falso self (eu ameaçado na infância). Portanto, a singularidade de uma pessoa está fundamentada em seu físico e corporificada em seus tecidos, refletida na qualidade do tônus muscular, expressões faciais, ritmo respiratório e organização dos estímulos que recebe do mundo externo, modificando seu corpo a partir das demandas do meio, uma condição imposta pela couraça muscular. O tônus muscular de uma pessoa pode estar desequilibrado em dois sentidos: hipotônus (fraqueza, falta de carga energética), ou hipertônus (sobrecarga, tensão). A couraça está relacionada à disposição dos líquidos dos tecidos e a eficácia do bombeamento do sangue, o que

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por sua vez provoca um distúrbio na distribuição dos fluidos corporais e, consequentemente, a tendência às doenças. Experimentos fisiológicos revelaram que o músculo é capaz de fixar e metabolizar lentamente uma carga emocional ou catabolizá-la instantaneamente. Caso ocorra uma metabolização lenta, há uma hipertonia, uma couraça; se a metabolização for rápida, há um movimento (VOLPI, 2004). Assim, o processo de encouraçamento se desenvolve enquanto tradução somática da repressão. Segundo Reich (1986), todo neurótico é muscularmente distônico e cada tipo de caráter possui traços musculares diferentes, o que condiciona diferentes posturas corporais. Apesar de Reich (1995) referir-se ao corpo como sendo moldado de acordo com as experiências vividas, Alexander Lowen (1977) aprofundou essa relação mostrando ser possível ler no corpo o caráter de uma pessoa. Nosso corpo registra todos os acontecimentos vividos durante a nossa vida, principalmente aqueles ocorridos na primeira infância, quando as formas que encontramos para nos defender ainda são precárias. Esses acontecimentos muitas vezes deixam no corpo marcas profundas e irreversíveis. “A imagem egóica molda o corpo por meio do controle exercido pelo ego, sobre os músculos voluntários” (LOWEN, 1982). O cérebro detecta uma ameaça, mas as alterações também se registram no corpo. Toda a estrutura do organismo, por sua vez, participa do processo cognitivo, quer o organismo tenha um cérebro e um sistema nervoso superior, quer não (VOLPI, 2004). No decorrer de toda a nossa vida, nosso corpo armazena sensações que estão ligadas a sentimentos e vivências afetivas, de cunho positivo e negativo. Algumas dessas sensações desaparecem com o passar do tempo; outras, sedimentam-se, deixando uma impressão gravada no corpo e na mente, de forma consciente ou inconsciente. Essa memória irá reagir frente a ações e impactos sofridos no dia a dia, principalmente ao estresse e por consequência, irá despertar em forma de sensações e/ou lembranças, ou, o que é comum acontecer, em forma de doença. Portanto, constantemente somos confrontados com dois caminhos: ouvir nosso corpo e deixá-lo falar em seus desejos e expressar suas angústias ou submetê-lo aos estresses físicos e psicológicos diários que a vida nos traz, formando assim as couraças (VOLPI, 2004). Ainda de acordo com Volpi (2004), nos somatizadores graves, podem ser identificados fatores predisponentes, mantenedores e precipitantes do transtorno. Assim, os fatores genéticos (sugeridos através de estudos de adoção) e antecedentes familiares de somatização são fatores de risco para a preocupação somática: os membros da família podem funcionar como modelos de papéis ou reforçar o comportamento de doença. Também são considerados fatores predisponentes, antecedentes de alguma doença pessoal ou familiar na infância, características de personalidade (vulnerabilidade ao stress, baixa autoestima, tendência para ansiedade, dissociação, hostilidade, depressão,) ou supervalorização do tipo físico e da atividade (perfis atléticos). Outro traço de personalidade predisponente é a alexitimia experimentada como uma dificuldade em reconhecer, comunicar e descrever os próprios sentimentos, assim como em distinguir os estados emocionais das sensações físicas: as emoções encontrariam sua forma de expressão através da linguagem corporal. Vários estudos sugerem uma associação entre somatização e uma história de abuso sexual ou físico numa proporção significativa de pacientes. O principal fator de manutenção seria a necessidade de estar doente. O papel de doente propicia o alívio de expectativas interpessoais estressantes e libera o sujeito de suas obrigações (ganho primário) e geralmente proporciona atenção, cuidados e, em algumas situações, compensações financeiras (ganho secundário). As queixas persistentes podem também ser um meio eficiente para expressar a raiva e castigar os que são

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incapazes de satisfazer as necessidades emocionais dos que somatizam. Não se trata de simulação. O paciente não está fingindo o sintoma; não tem controle sobre o processo e sofre. A possibilidade de ganhos psicossociais ou econômicos pode ser um estímulo para desempenhar o papel de doente indefinidamente (VOLPI, 2004). A seguir serão apresentados outros elementos a respeito da clínica do paciente com Transtorno de Somatização. 4. CLÍNICA

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ara Lazzaro e Ávila (2004), nos serviços de pronto-atendimento e atendimento básico à saúde são frequentes os pacientes com queixas somáticas sem qualquer base orgânica identificável. Por outro lado, um estudo, também, mostrou que os pacientes somaticamente preocupados enxergam os médicos como incompetentes e inexperientes quando suas explicações questionam a realidade dos sintomas. De acordo com Romanha (2010), o Transtorno de Somatização, historicamente chamado de histeria ou Síndrome de Briquet, apresenta condição polissintomática e afeta, de forma crônica, múltiplos sistemas do corpo, predominando a ansiedade e a depressão. Para Kaplan e Sadock (1997), os transtornos de somatização são caracterizados por múltiplos sintomas somáticos, nenhum adequadamente explicado por exames físicos e laboratoriais. Segundo Holmes (1997), o sofrimento psicológico e interpessoal é proeminente, sendo a depressão e a ansiedade as condições psiquiátricas mais prevalentes, e as queixas descritas, em linguagem vívida e colorida, de modo dramático, emocional e exagerado. A depressão e ansiedade não fazem parte do transtorno em si, mas de uma consequência da crença de que um problema médico grave existe. Lazzaro e Ávila (2004) reuniram seis características bastante sugestivas de somatização, assim como os principais sintomas relatados, os quais estão apresentados nos Quadros 1 e 2: Quadro 1: Características de diagnóstico sugerindo Somatização Múltiplos sintomas, muitas vezes, em diferentes sistemas orgânicos Sintomas que sejam vagos ou que excedam os achados objetivos Evolução crônica Presença de um transtorno psiquiátrico História de extensos exames para diagnóstico Rejeição de médicos anteriores Fonte: Adaptado de (LAZZARO e ÁVILA, 2004) Quadro 2: Sintomas e Síndromes relatados por pacientes com Somatização Alergias alimentares vagas; Precordialgia atípica; Síndrome da articulação temporomandibular (ATM); Hipoglicemia; Síndromes Síndrome da fadiga crônica; Fibromialgia; Deficiência vitamínica vaga; Síndrome pré-menstrual;

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Múltipla hipersensibilidade química. Vômitos; Dor abdominal; Sintomas Náuseas; gastrointestinais Distensão abdominal e excesso de gases; Diarreia; Intolerância alimentar. Dor difusa (“sou inteiramente dolorido”); Dor nas extremidades; Dor nas costas; Sintomas dolorosos Dor articular; Dor durante a micção; Cefaleia. Falta de ar em repouso; Sintomas Palpitações; cardiorespiratórios Dor no peito; Tonturas. Amnésia; Dificuldade para deglutir; Perda de voz; Surdez; Sintomas Visão dupla ou borrada; pseudoneurológicos Cegueira; Desmaios; Dificuldade para caminhar; Pseudocrises epilépticas; Fraqueza muscular; Dificuldade para urinar Sensações de queimação nos órgãos sexuais; Dispareunia (Dor durante relação sexual); Sintomas nos Órgãos Menstruação dolorosa; Reprodutivos Ciclos menstruais irregulares; Sangramento vaginal excessivo; Vômitos durante toda a gravidez. Fonte: Adaptado de (LAZZARO e ÁVILA, 2004) Para Lazzaro e Ávila (2004), na prática, a somatização costuma passar despercebida uma vez que a formação médica tradicional está embasada na ruptura estabelecida por Descartes: ao assumir a condição de ciência, a medicina tomou por objeto a dimensão biológica do corpo humano em oposição à dimensão psicológico-social, se afastando da visão tradicional, unitária e integrada do homem-no-mundo. A prática médica, assim, está voltada para a identificação e o tratamento dos distúrbios orgânicos ou dos transtornos mentais, deixando a maioria dos médicos mal preparados para reconhecer e tratar pessoas que somatizam. Quando não reconhecidos e tratados de forma apropriada, esses pacientes podem ser vítimas de intervenções frustrantes, caras e potencialmente perigosas, que não contribuem para reduzir os altos níveis de sofrimento e incapacidade que eles geralmente relatam. Os somatizadores são convencidos, por seus sintomas, de que seu sofrimento provém de algum tipo de distúrbio físico presumivelmente não descoberto e intratável. Em algumas situações o médico sente-se incomodado e procura dispensar rapidamente o paciente que, na sua opinião “não tem nada”, ou cujo problema “não está no corpo, mas na cabeça”. Nesses casos, é frequente o diagnóstico de “distonia neuro-vegetativa” (DNV) ou o rótulo pejorativo de “peripaque”, “piti” ou “paciente poliqueixoso”. Em outras situações, as queixas somáticas produzem uma quantidade

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enorme de encaminhamentos para especialidades, exames e hospitalizações desnecessárias, acarretando custos elevados para o sistema de saúde além de reduzir a resolutividade dos serviços, exposição dos pacientes a riscos, tratamentos equivocados, iatrogenia, cronificação e repercussões econômicas negativas, tais como ausência do trabalho, incapacitação e aposentadorias precoces. O vertiginoso avanço da ciência e da tecnologia médica das últimas décadas, a profusão de exames subsidiários, e a importância e a “necessidade” que os pacientes foram habituados a atribuir a tais exames, contribuem para aumentar ainda mais as distorções. (LAZZARO e ÁVILA, 2004). 5. EPIDEMIOLOGIA

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egundo Lazzaro e Ávila (2004), várias pesquisas realizadas em diversos países nas últimas décadas, revelaram uma prevalência de 16 a 50% de somatizações nos serviços de atenção primária. Clínicos dinamarqueses, por sua vez, identificaram, em 1999, somatização em 50 a 71% dos seus pacientes. Em outra pesquisa, não foi encontrada causa orgânica em mais de 80% das consultas primárias para avaliação de tonturas, dor no peito ou cansaço. Uma pesquisa da OMS estimou a prevalência global dos Transtornos Somatoformes em 0,9%, variando entre 0 e 3,8%, dependendo do local pesquisado, e do Transtorno de Somatização em 19,7% em uma variação de 7,6 a 36,8%). De acordo com Romanha (2010), tal transtorno é incomum em crianças com menos de 9 anos de idade, tendo sido associado o início dos seus sintomas, da adolescência à segunda década de vida. 6. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

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história médica do Transtorno de Somatização é geralmente imprecisa, vaga, inconsistente e desorganizada. As complicações mais frequentes e importantes são cirurgias repetidas, dependência de substâncias, tentativas de suicídio e separação conjugal ou divórcio. Tal transtorno pode, também, estar associado a outros diagnósticos psiquiátricos, mais frequentemente transtornos de personalidade antissocial e histriônico (características histéricas). Para o seu diagnóstico, o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) exige início dos sintomas antes dos trinta anos e a queixa de pelo menos quatro sintomas dolorosos, dos quais, dois gastrintestinais, um sexual e outro pseudoneurológico, caracterizando, assim, uma complicada história médica: A. Uma história de muitas queixas físicas com início antes dos 30 anos, que ocorrem por um período de vários anos e resultam em busca de tratamento ou prejuízo significativo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes de funcionamento do indivíduo. B. Cada um dos seguintes critérios deve ter sido satisfeito, com sintomas individuais ocorrendo em qualquer momento durante o curso do transtorno: (1) quatro sintomas dolorosos: uma história de dor relacionada a pelo menos quatro locais ou funções diferentes (por ex. cabeça, abdômen, costas, articulações, extremidades, tórax, reto, menstruação, intercurso sexual ou micção); (2) dois sintomas gastrintestinais: uma história de pelo menos dois sintomas gastrintestinais outros que não dor (por ex. náusea, inchação, vômito outro que não durante a gravidez, diarréia ou intolerância a diversos alimentos); (3) um sintoma sexual: uma história de pelo menos um sintoma sexual ou reprodutivo outro que dor (por ex. indiferença

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sexual, disfunção erétil ou ejaculação, irregularidades, menstruais, sangramento menstrual excessivo, vômitos durante a gravidez); (4) um sintoma pseudoneurológico: uma história de pelo menos um sintoma ou déficit sugerindo uma condição neurológica não limitada a dor (sintomas conversivos tais como prejuízo de coordenação ou equilíbrio, paralisia ou fraqueza localizada, dificuldade para engolir ou nó na garganta, afonia, retenção urinária, alucinações, perda da sensação de tato ou dor, diplopia, cegueira, surdez, convulsões; sintomas dissociativos tais como amnésia ou perda da consciência outra que não por desmaio) C. (1) ou (2): 1) Após investigação apropriada, nenhum dos sintomas no Critério B pode ser completamente explicado por uma condição médica geral conhecida ou pelos efeitos diretos de uma substância (por ex. droga de abuso, medicamentos). (2) Quando existe uma condição médica geral relacionada, as queixas físicas ou o prejuízo social ou ocupacional resultante excedem o que seria esperado a partir da história, exame físico ou achados laboratoriais. D. Os sintomas não são intencionalmente produzidos ou simulados (como no Transtorno Factício ou na Simulação). (DSM-IV).

7. TRATAMENTO

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s pacientes podem se beneficiar muito com tratamento psicoterápico individual, grupal, familiar ou psicopedagógico.

Dentre as principais estratégias e condutas para a abordagem do paciente somatizador, destacam-se: consultas breves, marcadas regularmente a cada quatro a seis semanas, sempre com o mesmo médico, tendo-se o cuidado de evitar consultas “conforme necessário”); a realização de curto exame físico em cada consulta. Deve-se dar aos sinais físicos, maior peso que aos sintomas relatados. Evitar procedimentos e hospitalizações, a menos que claramente indicados. E compreender que o desenvolvimento dos sintomas é inconsciente. No Quadro 3 estão reunidas sugestões para o tratamento de pacientes com preocupações somáticas (LAZZARO e ÁVILA, 2004). Quadro 3: Sugestões para tratar pacientes com preocupação somática Não tente eliminar completamente os sintomas Cuidar, não procurar curar Concentre-se na convivência e nas funções. Analise fichas antigas antes de pedir exames; Responda a solicitações como para os que não têm preocupações somáticas; Conservadorismo diagnóstico Marque consultas e exames físicos frequentes; e terapêutico Uma vez estabelecida, tente não alterara frequência das consultas; Pense em remédios benignos. Analise fichas antigas antes de pedir exames; Responda a solicitações como para os que não têm preocupações somáticas; Validação do sofrimento Marque consultas e exames físicos frequentes Uma vez estabelecida, tente não alterara frequência das consultas; Pense em remédios benignos. Enfatize a disfunção, e não a patologia estrutural; Dando um diagnóstico Descreva o processo de amplificação e forneça exemplo específico;

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Consulta psiquiátrica Terapia cognitivocomportamental

Tranquilize com cautela. Diagnostique comorbidade psiquiátrica; Recomende opções de farmacoterapia; Providencie psicoterapia. Melhore a convivência.

Fonte: Adaptado de (LAZZARO e ÁVILA, 2004) Kaplan e Sadock (1997) lembram que os medicamentos devem ser cuidadosamente monitorados, pois tais pacientes tendem a usá-los erraticamente e de forma não confiável.

REFERÊNCIA LAZZARO, Celina D.S.; ÁVILA Lazslo A. Somatização na prática médica. Arquivos de Ciências da Saúde, São José do Rio Preto, v.11, n.2, p. 2-5, abr.-jun., 2004. Disponível em: <http://www.cienciasdasaude.famerp.br/rac s_ol/Vol-11-2/ac09%20-%20id%2036.pdf>. Acesso em: 27 maio 2012.

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KAPLAN, Harold I., SADOCK, Benjamin J., GREBB, Jack A. Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7.ed. Porto Alegre : Artes médicas, 1997. 1.169 p.

O transtorno de somatização Elton Carlos de Oliveira Borges Doutorando em Tratamento da Informação Espacial e Acadêmico de Medicina Belo Horizonte, MG E-mail: eltonborges@hotmail.com Alline Paula Bezerra Feliciano Fisioterapeuta e Acadêmica de Medicina Belo Horizonte, MG E-mail: allinefisioterapeuta@yahoo.com.br

BORGES, E.C.O.; FELICIANO, A.P.B. O transtorno de somatização. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 45-53, ago.-set., 2013.

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Clima organizacional: estudo de caso em uma empresa aeroportuária, em São Luís-MA Melina Garcia Prazeres Graduada em Administração pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) São Luís, MA E-mail: melinagp04@yahoo.com.br José Rômulo Travassos da Silva Psicólogo, Administrador, Mestre em Administração pela Fundação Getúlio VargasFGV, Professor do Departamento de Administração da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) São Luís, MA E-mail: romulo.travassos.silva@gmail.com Maria de Fátima Ribeiro dos Santos Bibliotecária, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) São Luís, MA E-mail: fatimar_s@hotmail.com

PRAZERES, M.G.; SILVA, J.R.T.; SANTOS, M.F.R. Clima organizacional: estudo de caso em uma empresa aeroportuária, em São Luís-MA. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 54-69, ago.-set., 2013.

RESUMO Tem-se como objetivo verificar o clima organizacional de uma empresa aeroportuária, em São Luís- MA, a partir da percepção dos seus empregados, tomando-se como base oito dimensões que influenciam o clima organizacional. Para atingir o objetivo utilizou-se a pesquisa bibliográfica em livros, artigos publicados, trabalhos científicos a fim de estabelecerse um construto sobre o clima organizacional e a importância da aplicação da pesquisa de clima organizacional para as empresas. Realizou-se um estudo de caso na empresa investigada. Adotou-se como estratégia de verificação do clima, a pesquisa de clima organizacional a partir da compilação de alguns modelos já existentes. Como técnica de avaliação, fezse uso da aplicação de questionário contendo 23 afirmações positivas sobre

alguns aspectos internos à organização e duas perguntas caracterizadas como abertas. Utilizou-se das abordagens quantitativa e qualitativa na análise e interpretação dos dados. Conforme os resultados, infere-se que os empregados são comprometidos, possuem um bom relacionamento interpessoal, sentem-se seguros no trabalho mesmo exercendo suas atividades em área de risco; estão satisfeitos com seus líderes e com os benefícios que a empresa concede. O salário e a falta de reconhecimento são fatores que mais geram insatisfação nos membros da empresa. Verificou-se que, em geral, o clima na empresa aeroportuária, em São Luís-MA, é bom, mas são relevantes os aspectos que precisam ser melhorados.

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Palavras-chave: Clima organizacional; pesquisa; percepção

ABSTRACT This paper aims to verify the organizational climate in company airport in São Luís-MA, from the perception of its employees drawing on 8 dimensions that influence the organizational climate. To achieve the goal of the research were used books, published articles and scientific papers to establish an organizational climate construct and the importance of implementing the organizational climate for companies. It was also conducted a case study in company airport in São Luís-MA. It was adopted as a strategy for verification of climate research on organizational climate from the compilation of some already existing models. As evaluation technique was used a questionnaire containing 23 positive

statements about some internal aspects of the organization and two open questions. It was used the qualitative and quantitative approaches in the analysis and interpretation of the data. As the results, it appears that employees are committed, have good interpersonal relationship, feel safe at work, even fullfiling their activities in a risky area, are satisfied with their leaders and the benefits granted by the company. Salary and lack of recognition are factors that generate the most dissatisfaction in the company members. It was found that in general the climate in company airport in São Luís- MA is good, but there are relevant aspects that need improvement.

Keywords: Organizational climate; research; perception; Infraero

1. INTRODUÇÃO

A

s organizações, sejam elas públicas ou privadas, são constituídas por pessoas dotadas de sentimentos, percepções, ideias, necessidades. A interação das pessoas com o ambiente organizacional e extraorganizacional gerarão resultados em suas atividades cotidianas, inclusive na execução das suas tarefas no âmbito da empresa. A satisfação dos funcionários é fundamental para o bom desempenho da organização, pois reflete diretamente na qualidade dos serviços prestados. A empresa investigada para prestar um serviço de qualidade necessita ter profissionais qualificados e satisfeitos. Funcionários satisfeitos refletirão um clima de alegria, confiança, entusiasmo, engajamento, comprometimento com os objetivos organizacionais. Saber se há uma satisfação ou uma insatisfação, ou seja: se o clima organizacional está bom ou ruim é tarefa fundamental para a organização, pois ele tem influência direta no comportamento dos empregados e, por consequência, nos serviços que eles executam, na sua produtividade. Diante do que foi exposto, procura-se responder ao seguinte questionamento: como os empregados estão percebendo o clima organizacional na empresa aeroportuária, localizada em São Luís-MA? Para responder a tal questão, tem-se como objetivo geral verificar o clima organizacional nesta empresa a partir da percepção dos seus empregados tomando como base oito dimensões que influenciam o clima e, como objetivos específicos: conceituar clima organizacional; descrever os resultados obtidos na pesquisa e mostrar a importância da pesquisa de clima. A relevância desta pesquisa está em contribuir com a referida empresa, a fim de que ela conheça a visão que seus empregados estão tendo dela e possa utilizar esse

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conhecimento para aprimorar o ambiente de trabalho e, por consequência, a qualidade dos serviços prestados. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. SURGIMENTO DO ESTUDO DO CLIMA ORGANIZACIONAL E ALGUNS CONCEITOS

E

studar o clima organizacional é de suma importância, pois ele exerce influência direta sobre o comportamento dos empregados, afetando, assim, os serviços que eles executam, isto é, sua produtividade.

O surgimento do estudo do clima organizacional deu-se na década de 1930, a partir dos estudos de Kurt Lewin. Segundo Vázquez (apud KELLER; AGUIAR, 2004, p. 92), o trabalho em laboratório realizado por Lewin, Lippitt e White, a respeito dos estilos de liderança grupal, insere o “clima” como uma ligação existente entre o ser humano e o ambiente. Nesse contexto, “[...] clima se refere às distintas situações que se originam como consequência da utilização dos tipos de liderança.” (KELLER; AGUIAR, 2004, p.92). Palacios e Freitas (2006, p. 46) ao desenvolverem um estudo sobre a definição e os principais componentes do clima organizacional afirmam que o “[...] clima é um elemento de fundamental importância na compreensão do comportamento e efetividade da organização.” Segundo as autoras, o termo clima foi discutido pela primeira vez em 1939 por Lewin, Lippitt e White como algo relacionado aos grupos e, desde essa época, estudiosos se preocupam em dar-lhe um conceito apropriado e convincente. Triandis (apud GUIMARÃES, 2004, p. 12) concorda com as autoras supra e assegura que “O fato de que grupos e organizações têm cultura ou clima foi reconhecido desde os estudos de climas sociais [...] realizados por Lewin, Lippitt e White no final da década de 30.” Por sua vez, na visão de Oliveira (apud GUIMARÃES, 2004, p. 12), o construto que o termo clima traz de “atmosfera” ou “ambiente” interno da empresa já estava presente (mesmo que de forma tímida) nas várias teorias e práticas gerenciais surgidas ao longo do século XX como, por exemplo, na Escola de Relações Humanas de Elton Mayo. Keller e Aguiar (2004) dizem que os primeiros estudos sobre o clima organizacional aconteceram nos Estados Unidos e evoluíram à proporção que emergiam as teorias organizacionais. As autoras citam os estudiosos Ekvall (1985), Vázquez (1996) e Mariz de Oliveira (1996), que partilharam o estudo do clima organizacional em três abordagens: Primeira: os conceitos dão ênfase unicamente aos atributos organizacionais. O clima organizacional é considerado como “[...] um conjunto de atributos organizacionais ou propriedades mensuráveis através de vários métodos.” (KELLER; AGUIAR, 2004, p. 96). As variáveis que compõem o clima organizacional são “tamanho da organização, estrutura, níveis de autoridade, complexidade do sistema, e assim por diante.” (KELLER; AGUIAR, 2004, p. 96). Segunda: os conceitos evidenciam os atributos organizacionais e a percepção dos membros da organização. Os estudiosos dessa abordagem são Litwin e Stringer (1968). Para Litwin (apud KELLER; AGUIAR, 2004, p. 98) “Clima organizacional é a

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qualidade ou propriedade do meio ambiente organizacional que: a) é percebida ou experimentada pelos membros da organização; e b) influencia o seu comportamento.” Terceira: os conceitos passam a enfatizar os atributos individuais e a percepção dos indivíduos. O clima é visto como “[...] um conjunto resultante das percepções individuais e das percepções globais manifestadas pelos indivíduos na organização, avaliadas através de recursos perceptuais.” (KELLER; AGUIAR, 2004, p. 99). Diante do exposto, depreende-se que o estudo do clima organizacional adequa-se às mudanças que acontecem no comportamento humano no âmbito das organizações. E essas mudanças comportamentais serão influenciadas pelas transformações ocorridas ao longo dos tempos. A origem do estudo do clima organizacional tem relação do homem com o meio no qual ele está inserido, mais precisamente, como o indivíduo percebe esse meio. Como definir, então, clima organizacional? Para Luz (2010, p. 12) “Clima organizacional é o reflexo do estado de ânimo ou do grau de satisfação dos funcionários de uma empresa, num dado momento.” Já Abreu et al. (2009, p. 2) dizem que o clima organizacional é “Propriedade ou conjunto de características do ambiente percebida pelos indivíduos nele inseridos, interferindo no modo como estes se comportam em relação ao seu trabalho.” Outro conceito é o de Tamayo (apud GUIMARÃES, 2004, p. 16), que assegura o clima organizacional como “Um conjunto estruturado de percepções compartilhadas, relativamente duradouras, sobre o ambiente total de trabalho que influencia o comportamento e o desempenho dos empregados da organização.” Na literatura sobre clima organizacional, percebe-se que há similaridade nos conceitos e isso se confirma pelos autores referidos. A maioria deles define clima organizacional como uma manifestação de sentimentos dos empregados em relação a aspectos da organização. Esses aspectos organizacionais que são percebidos pelos funcionários poderão trazer satisfação ou insatisfação. Portanto, o clima organizacional está diretamente relacionado à percepção que os colaboradores têm do ambiente organizacional. Se a percepção for favorável, o clima será bom, agradável e, se for desfavorável, passará a existir um desprazer em relação ao ambiente de trabalho, o que acarretará um clima adverso para o cumprimento das atividades. No entendimento de Luz (2010, p. 13), além da satisfação e da percepção a cultura organizacional também é uma “palavra-chave” no construto do tema. “[...] a cultura influencia, sobremaneira, o clima de uma empresa. São faces da mesma moeda, são questões complementares.” 2.2. IMPORTÂNCIA DA PESQUISA DE CLIMA ORGANIZACIONAL Saber como está o clima organizacional é necessário para o desenvolvimento de ações que propiciem uma maior satisfação dos funcionários. O clima organizacional tem impacto na qualidade dos serviços prestados. Se o clima é bom, os funcionários trabalharão satisfeitos e, por consequência, acabarão sendo produtivos. É claro que a existência de um bom clima tem de estar alinhado a outros mecanismos como o conhecimento e habilidades para que o funcionário saiba executar suas atividades. A avaliação do clima organizacional é algo estratégico, pois identificará aspectos organizacionais que precisam melhorar. A melhoria contínua desses aspectos tornará o ambiente melhor para se trabalhar: membros motivados, interessados e satisfeitos.

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Os autores que abordam a pesquisa de clima organizacional enfatizam-lhe a importância, pois ela permitirá que o gestor conheça os aspectos favoráveis e desfavoráveis da organização a partir da percepção dos seus funcionários. Mól e cols. (2010, p. 17) observam que “As pesquisas que abordam o clima organizacional apresentam importância crucial para a compreensão da percepção dos indivíduos sobre as organizações onde atuam.” Oliveira e Campello (2006) articulam que a elaboração de uma pesquisa de clima organizacional é necessária a fim de saber-se onde e em quais aspectos a empresa precisa melhorar. Identificados esses aspectos, criar-se-ão ações em busca de um ambiente melhor, com mais qualidade, o que levará a resultados apures. Bispo (2006) salienta que é através da pesquisa de clima organizacional que será possível medir o nível de relacionamento entre os funcionários e a empresa. Para Guimarães (2004, p. 13) “a pesquisa de clima organizacional tem sido o instrumento mais utilizado para esse estudo, e tem sido realizada principalmente através de questionários.” A autora afirma que esses questionários são formados de fatores/dimensões ou componentes do clima a serem avaliados. Quanto a alguns dos fatores que afetam o clima de uma organização, Luz (2010) apresenta os seguintes: o salário, o trabalho que realizam, o relacionamento entre os diferentes setores da empresa, a supervisão, a comunicação, a estabilidade no emprego; as possibilidades de progresso profissional, a disciplina, os benefícios, o processo decisório; as condições de segurança do trabalho. O autor cita que, além desses aspectos internos à organização, é de fundamental importância a investigação da realidade familiar, social e econômica na qual os empregados vivem fora do ambiente organizacional. A pesquisa de clima organizacional contempla fatores internos e externos à empresa e fornece dados que permite ao gestor mapear o ambiente interno da empresa para identificar os problemas e trabalhar ações que visam melhorar o local de trabalho. Desse modo, ao avaliar o clima da empresa o gestor terá um medidor de satisfação e insatisfação de determinados aspectos podendo usar esses dados para propiciar um ambiente melhor para seus funcionários. 2.3. CLIMA ORGANIZACIONAL VS CULTURA ORGANIZACIONAL Os conceitos de clima organizacional e de cultura associam-se, na maioria das vezes, o que poderá trazer alguma confusão para o leitor. Apesar de estarem quase sempre conexos, há diferença. Mól e cols. (2010, p. 24) retratam muito bem essa diferença: Clima está relacionado às percepções e interpretações comuns das dimensões das atividades, do ambiente e das políticas que caracterizam a organização. Cultura está mais voltada para a compreensão e para o compartilhamento do sistema de normas e de valores que dão origem às políticas e às atividades das organizações e para os modos através dos quais eles são comunicados e transmitidos. De acordo com Luz (2010), entre clima e cultura existe uma relação de causalidade. A cultura é causa e clima é consequência. Outra conclusão a que o autor chegou é que “Clima é um fenômeno temporal. Refere-se ao estado de ânimo dos funcionários de uma organização, num dado momento. Já a cultura decorre de práticas recorrentes, estabelecidas ao longo do tempo.” (Luz, 2010, p. 21).

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No entendimento de Srour (1999, p. 176), os conceitos de cultura e de clima organizacional não são congruentes. O clima não apanha os modos institucionalizados de agir e de pensar. Seu eixo consiste em capturar a ´temperatura social` que prevalece na organização num instante bem preciso. Corresponde a um corte sincrônico ou a um flagrante fotográfico, condensa a somatória de opiniões e de percepções conscientes dos membros, traduz as tensões e os anseios do pessoal- o ‘moral da tropa’, o ânimo presente. Bowdith (apud LOPES, 2007, p. 30) diz que “O clima é uma medida das expectativas das pessoas em relação ao trabalho em uma organização, a cultura se ocupa da natureza das crenças e expectativas sobre a vida organizacional.” Depreende-se que as mudanças na cultura organizacional são mais profundas e levam mais tempo para acontecer, já o clima é mais fácil de ser percebido e apresenta um caráter mais transitório, mais de momento. A cultura está relacionada a aspectos mais profundos da organização, já o clima está relacionado a práticas que são observadas no dia a dia. A cultura e o clima deverão ser tratados, portanto, de forma distinta. 2.4. PROCESSO PERCEPTIVO Nas definições sobre clima organizacional observa-se que alguns autores definem o clima organizacional utilizando o termo “percepção”, ou seja: como os membros da organização percebem o ambiente de trabalho. Se a percepção for boa, o clima da organização tenderá a ser bom; caso contrário, o clima tenderá a ser ruim. Como definir, então, percepção, já que é a partir dela que se identifica um clima bom ou ruim? Na visão de Robbins (1999, p. 62), a percepção é “[...] um processo pelo qual indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais a fim de dar sentido ao seu ambiente.” Ele questiona como as pessoas percebem a mesma coisa de maneiras diferentes e cita alguns fatores que operam para moldar e, algumas vezes, distorcer a percepção. “Estes fatores podem estar em quem percebe, no objeto ou alvo sendo percebido ou no contexto da situação em que a percepção é feita.” Primeiro: O indivíduo que percebe - entre as características pessoais mais acentuadas que afetarão a percepção estão as atitudes, as motivações, os interesses, as experiências passadas e as expectativas; segundo: O alvo - as características do alvo que está sendo observado poderão afetar o que é percebido; terceiro: a situação - os elementos no ambiente em volta influenciarão a percepção. No entendimento de Aguiar (1992, p. 277), o processo perceptivo é influenciado por alguns fatores como “os valores individuais, os sentimentos, as emoções, os medos, os desejos inconscientes, a experiência passada, o nível de desenvolvimento cognitivo e o grau de maturidade psíquica.” Portanto, o que os indivíduos perceberão será influenciado pelas suas atitudes, emoções, interesses, expectativas e também pelas experiências vivenciadas no passado. Em relação à interação social e a percepção social, Aguiar (1992) entende que o processo perceptual e interpessoal acontecem no início da interação das pessoas e continuam por toda sua vivência. Nesse processo, conflitos existentes podem ser observados entre a pessoa que perceber e a que é percebida.

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Segundo Newcomb (apud AGUIAR, 1992, p. 268) o processo de percepção social é influenciado por fatores intra e extrapessoais que se interligam e se influenciam mutuamente, a saber, a pessoa que percebe é influenciada tanto por suas características quanto pelo ambiente exterior que se encontra o objeto de sua percepção (a outra pessoa). Aguiar (1992) apreende que o processo perceptivo é algo fundamental para o comportamento humano, pois é a partir dele que as pessoas organizarão suas realidades. No que tange ao comportamento humano nas organizações, a autora expõe que nela existe uma interação entre os valores, as atitudes, as características da personalidade dos indivíduos com os fatores ambientais da organização como a estrutura, os valores, os objetivos, os grupos, os cargos, a tecnologia, entre outros. A autora descreve ainda que o processo perceptivo é influenciado pela interação entre os membros das diferentes unidades organizacionais e pela existência da divisão do trabalho. Esse intercâmbio, que acontece entre unidades organizacionais diferentes, permitirá a ampliação do campo perceptivo dos seus membros e, caso não haja essa interação, a percepção desses membros ficará limitada. Quanto à divisão do trabalho, a tarefa que cada um exercer afetará a informação que receber. Essas informações distintas recebidas por esses membros contribuirão para a distorção das percepções que eles têm do ambiente. Cada componente da organização enxergará de forma diferente o ambiente organizacional. A conclusão a que Aguiar (1992) chega é que, entre as características individuais e o meio social, existe uma relação estreita quando se tentar entender o processo perceptivo e que o ambiente externo poderá atrapalhar ou contribuir com esse processo. De acordo com os conceitos estudados, pode-se inferir que o comportamento dos indivíduos não está relacionado à forma como o ambiente realmente é, mas sim, como eles veem ou acreditam que seja. O que os indivíduos percebem de seu ambiente de trabalho terá influência direta na sua produtividade. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O

tipo de pesquisa utilizada esteve de acordo com aquele apresentado por Vergara (2009). Quanto aos fins ela foi exploratória, tendo em vista que não existe nenhuma pesquisa realizada sobre o clima organizacional na empresa aeroportuária investigada. Sobre a pesquisa exploratória, Vergara (2009, p. 42) informa que “a investigação exploratória [...] é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado.” Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica, pois se utilizou de materiais publicados em livros, artigos e trabalhos científicos noticiados em revistas de Administração e encontrados na Internet a fim de se estabelecer um construto sobre o clima organizacional e a importância da aplicação da pesquisa de clima organizacional para as empresas. Ainda quanto aos meios, foi feito um estudo de caso já que a pesquisa restringiu-se aos empregados da empresa aeroportuária, em São Luís- MA. Segundo Vergara (2009, p. 44), “o estudo de caso é o circunscrito a uma ou poucas unidades, entendidas essas como pessoa, família, produto, empresa, órgão público, comunidade ou mesmo país. Tem caráter de profundidade e detalhamento.” No período da realização da pesquisa, a empresa investigada possuía um quadro funcional com 69 empregados. Desses 69 empregados, 30 participaram da pesquisa,

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o que corresponde a 43,4%. A amostra foi definida por acessibilidade e consistiu em todos os empregados presentes no dia da aplicação do questionário, exceto os fiscais de pátio e os supervisores, pois trabalhavam em sistema de escala e em local diferente do prédio da administração da empresa em tela. A coleta de dados foi transversal, ou seja: a pesquisa foi realizada em um único momento. Para obtenção dos dados fez-se uso do questionário contendo 23 afirmações positivas sobre alguns aspectos internos da organização e duas perguntas caracterizadas como abertas. Esses aspectos também conhecidos como fatores ou dimensões foram escolhidos por exercerem influência no comportamento das pessoas. O questionário utilizado neste estudo teve como base os modelos elaborados por Luz (2010), Guimarães (2004) e Bispo (2006) e foi adaptado à realidade do ambiente organizacional investigado, possuindo duas alternativas de resposta: concordo totalmente/ concordo com a maior parte (caso os pesquisados concordem integralmente ou parcialmente com as afirmações dadas), ou discordo totalmente/ discordo da maior parte (caso os pesquisados discordem integralmente ou parcialmente das afirmações apresentadas). Para a interpretação dos dados coletados foi utilizada a abordagem quantitativa, pois ela parece garantir a precisão dos resultados. Para isso, fez-se uso de medidas de posição como a média aritmética simples já que o objetivo foi ter em números percentuais o índice de concordância ou discordância global das afirmações dadas. Se o resultado final fosse igual ou superior a 50% poder-se-ia dizer que a empresa investigada possui um clima bom, caso contrário, a empresa teria um clima prejudicado ou ruim. Assim, cada dimensão analisada foi descrita em tabelas explicativas a fim de ensejar-se embasamento teórico para a construção de um gráfico, objetivando-se fazer uma análise geral das dimensões pesquisadas. Também foi utilizada a abordagem qualitativa com vistas a se ter uma melhor compreensão do caso estudado. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

A

análise deu-se de forma empírica a partir de um questionário aplicado aos empregados da empresa aeroportuária com o objetivo de identificar-se a percepção que eles têm das seguintes dimensões:

DIMENSÕES INVESTIGADAS Benefícios

Quadro 1: Dimensões investigadas INTERNAS BUSCA IDENTIFICAR

Comprometimento

Condições físicas de trabalho

Liderança

A percepção que os empregados têm dos benefícios que a empresa oferece, ou seja: se eles atendem às suas necessidades. O sentimento dos empregados em relação à empresa, à identificação com a empresa e com seus objetivos. A percepção que os empregados têm sobre o quanto a empresa fornece às pessoas condições e instrumentos de trabalho necessários para um bom desempenho: bom local de trabalho, recursos suficientes para a realização das tarefas. A percepção que os empregados têm das suas

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Reconhecimento profissional

Relacionamento interpessoal

Salário

Segurança do trabalho

lideranças imediatas: a capacidade técnica, humana e administrativa dos gestores. A percepção que os trabalhadores têm sobre o reconhecimento que a empresa dá em relação ao seu trabalho, se ele é valorizado pela empresa. A percepção que os trabalhadores têm sobre as relações interpessoais no ambiente de trabalho, a cooperação e o sentimento de “boa camaradagem” existente. A percepção que os empregados têm sobre o salário que recebem, a compatibilização existente entre o salário que recebem com os praticados no mercado. A percepção que os empregados têm em relação às estratégias de prevenção e controle da empresa sobre os riscos de acidentes a que estão sujeitos.

4.1. ANÁLISE DO CLIMA ORGANIZACIONAL POR DIMENSÃO As dimensões: comprometimento, benefícios, relacionamento interpessoal, segurança do trabalho e liderança foram as que obtiveram maior percentual de concordância global, a saber: 97%, 94%, 88,5%, 88%, 87% respectivamente; e os menores índices de concordância foram: salário (46%) e reconhecimento profissional (49,5%). A seguir, os resultados percentuais obtidos das afirmações apresentadas. Tabela 1: Dimensão do clima - benefícios Concordo totalmente/ Discordo totalmente/ Concordo com a maior Discordo da maior parte (%) parte (%) Os benefícios oferecidos pela 95,4% 4,6% empresa atendem às minhas necessidades. A empresa informa de forma 86,4% 13,6% clara sobre os benefícios que ela oferece. Eu me sinto satisfeito com os 100% 0 benefícios concedidos pela empresa. AFIRMAÇÃO

Essa dimensão obteve o segundo maior índice de concordância global (94%). Há uma satisfação geral em relação aos benefícios oferecidos pela empresa, como se pode observar na terceira afirmação da Tabela 1. Quando perguntados sobre as principais razões pelas quais trabalham na empresa, a dimensão Benefícios foi uma das mais citadas. Pode-se deduzir que essa dimensão é um dos pontos fortes da organização.

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Tabela 2: Dimensão do clima - comprometimento Concordo totalmente/ Discordo totalmente/ Concordo com a maior Discordo da maior parte (%) parte (%) Sinto orgulho em trabalhar 95,5% 4,5% nesta empresa. É minha responsabilidade 95,5% 4,5% contribuir para o sucesso desta empresa. Eu me preocupo com o futuro 100% 0 desta empresa. AFIRMAÇÃO

A dimensão em tela obteve o maior índice de concordância global (97%), o que torna possível afirmar que os empregados sentem orgulho em trabalhar nesta organização. Esse orgulho de pertencer à empresa também foi citado por várias pessoas ao serem perguntadas sobre as principais razões pelas quais trabalham na empresa. Para os empregados, “é chique trabalhar nesta empresa.” Tabela 3: Dimensão do clima - condições físicas de trabalho AFIRMAÇÃO Concordo totalmente/ Discordo totalmente/ Concordo com a maior Discordo da maior parte (%) parte (%) As condições físicas de 85,7% 14,3% trabalho na empresa são satisfatórias (ruído, temperatura, higiene, mobiliário etc). Tenho todos os 59% equipamentos e instrumentos necessários para realizar bem o meu trabalho. O número de empregados 31,8% que trabalham no meu setor é suficiente para a realização das tarefas.

41%

68,2%

Apenas 59% dos empregados estão satisfeitos com as condições físicas de trabalho proporcionadas pela empresa, conforme Tabela 3. Pode-se deduzir que a satisfação está relacionada ao ambiente físico (ruído, temperatura, higiene, mobiliário), já que o índice de concordância dessa afirmação foi de 85,7%. A grande parte (68,2%) revela que o número de empregados não é suficiente, ou seja, são muitas tarefas para poucas pessoas. E, quase a metade (41%) diz não ter todos os equipamentos suficientes para realizar o trabalho. O número reduzido de funcionários foi algo bastante citado ao responderem sobre o que mais causa insatisfação no trabalho.

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Tabela 4: Dimensão do clima - liderança Concordo totalmente/ Discordo totalmente/ Concordo com a maior Discordo da maior parte (%) parte (%) Meu chefe imediato sabe 80,9% 19,1% lidar com as pessoas que trabalham com ele. Meu chefe imediato tem 95,4% 4,6% competência para está no cargo que ocupa atualmente. Eu confio no meu chefe 85,7% 14,3% imediato. AFIRMAÇÃO

A dimensão Liderança esteve entre as maiores em índice de concordância global (87%). Os empregados da empresa investigada percebem seus líderes imediatos como alguém com bom relacionamento interpessoal, competente, que sabe incentivar seus subordinados e que transmite confiança. Tabela 5: Dimensão do clima - reconhecimento AFIRMAÇÃO Concordo totalmente/ Discordo totalmente/ Concordo com a maior Discordo da maior parte (%) parte (%) A empresa reconhece e 68,1% 31,9% valoriza o meu trabalho. A empresa reconhece os 52,3% 47,7% desempenhos excelentes de seus funcionários. As pessoas competentes são 28,5% 71,5% as que têm as melhores oportunidades na empresa. Os pesquisados creem que não estão tendo um reconhecimento devido. Essa dimensão obteve 49,5% de índice de concordância global. Um ponto a ser observado é que acreditam que não são as pessoas competentes que têm as melhores oportunidades (71,5%) pelo que se pode concluir que existe certo paternalismo dentro da organização. A inexistência da meritocracia foi um ponto abordado pelos empregados ao pontuarem o que mais causa insatisfação dentro da organização. Tabela 6: Dimensão do clima - relacionamento interpessoal AFIRMAÇÃO Concordo totalmente/ Discordo totalmente/ Concordo com a maior Discordo da maior parte (%) parte (%) Eu me dou bem com os 95,2% 4,8% colegas de trabalho. Existe na empresa um clima 81,8% 18,2% de colaboração e boa camaradagem entre as pessoas. O relacionamento interpessoal é um dos pontos positivos da empresa. Obteve 88,5% de concordância global. Para os empregados há um clima de colaboração e camaradagem entre eles.

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Tabela 7: Dimensão do clima - salário Concordo totalmente/ Discordo totalmente/ Concordo com a maior Discordo da maior parte (%) parte (%) Sinto que sou justamente 47,6% 52,4% remunerado (a) pelo trabalho que faço. O meu salário satisfaz às 61,9% 38,1% minhas necessidades básicas de vida. A empresa me paga um bom 28,5% 71,5% salário quando comparo com outras pessoas que exercem tarefas semelhantes às minhas e trabalham em outras empresas. AFIRMAÇÃO

A dimensão Salário obteve o menor índice de concordância global, com média de 46%, pelo que se pode concluir que há uma insatisfação de boa parte dos empregados em relação ao salário que recebem. Quando eles comparam seus salários aos de outras pessoas que exercem tarefas semelhantes às suas e trabalham em outra empresa, o índice de concordância cai consideravelmente (28,5%). Observando as porcentagens da Tabela 6, pode-se concluir que o salário é uma das dimensões que gera descontentamento. Tabela 8: Dimensão do clima - segurança do trabalho Concordo totalmente/ Discordo totalmente/ Concordo com a maior Discordo da maior parte (%) parte (%) Os equipamentos de 85,7% 14,3% segurança da empresa são adequados para proteger os empregados no trabalho. A empresa mostra-se 90,9% 9,1% preocupada com a segurança de seus empregados. AFIRMAÇÃO

É de extrema importância a análise dessa dimensão já que a empresa fica em uma área de risco. Houve grande concordância global (88%) em relação a esse fator. Os empregados confiam nas estratégias de prevenção adotadas pela empresa em foco. 4.2. ANÁLISE GERAL DAS DIMENSÕES DE CLIMA ORGANIZACIONAL O Gráfico 1 apresenta a análise geral das dimensões internas do clima organizacional na empresa aeroportuária investigada.

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Em geral, o índice de concordância global com as afirmações positivas apresentadas é de 76%, e isto demonstra que mais da metade dos respondentes está satisfeita com os aspectos analisados. Contudo, deve-se considerar relevante a quantidade de empregados insatisfeitos com alguns aspectos da organização (24%). Conforme o Gráfico 1, eles percebem que a empresa paga um baixo salário, mas em relação aos benefícios há uma satisfação geral. Depreende-se que esse é um dos fatores que “seguram” os empregados na empresa. A falta de reconhecimento, o baixo salário e o número reduzido de funcionários são os fatores de maior descontentamento. Este último ocasiona sobrecarga de trabalho. As políticas de segurança do trabalho são um ponto positivo da empresa. Todas as áreas de riscos são sinalizadas; os empregados são obrigados a estacionarem seus carros de ré a fim de facilitar a saída dos veículos em caso de algum acidente. Os empregados da empresa investigada possuem bom relacionamento interpessoal e estão satisfeitos com seus líderes. Mediante o exposto, pode-se afirmar que, em geral, o clima organizacional na empresa investigada, é bom já que houve 76% de concordância com as dimensões analisadas. Contudo, algumas dimensões merecem atenção por parte dos gestores, como, por exemplo, Salário, Reconhecimento, visto que foi alto o índice de insatisfação dessas dimensões. Os empregados, em geral, gostam de trabalhar na empresa, estão satisfeitos com os benefícios oferecidos, mas lutam para passarem em outro concurso público, pois almejam receber mais e ter progresso na vida profissional. 5. CONCLUSÃO

A

empresa aeroportuária investigada, presta serviços à coletividade administrando aeroportos em todo o Brasil. Toda sua atividade deve estar fundamentada nos princípios administrativos. Porém, para que ela possa prestar um excelente serviço e fazer jus a sua missão, ela necessitará contar com empregados motivados e satisfeitos. A satisfação ou insatisfação dos funcionários é demonstrada em suas atividades no dia a dia e tem impacto na qualidade dos serviços prestados. Conhecer os aspectos que causam satisfação e insatisfação é primordial para o desenvolvimento de práticas que melhorem o ambiente de trabalho. A identificação desses aspectos poderá ser feita através da pesquisa de clima organizacional. Neste sentido, obteve-se a resposta para o objetivo proposto: verificar o clima organizacional na empresa aeroportuária, em São Luís – MA, a partir da percepção dos seus

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empregados, tomando como base oito dimensões que influenciam o clima organizacional. É importante ressaltar que o clima de uma organização é algo temporal e ele é identificado a partir das percepções compartilhadas pelos membros da empresa. As pessoas percebem algo de acordo com seus valores e necessidades. Portanto, o que os empregados sentem, será influenciado pelas suas atitudes, motivações, interesses, experiências passadas e expectativas. O somatório das percepções individuais forma o clima organizacional que poderá ser bom, prejudicado ou ruim. A cultura da empresa também influencia o clima organizacional já que ela tem impacto no comportamento humano. Sendo assim, os pesquisados também são influenciados pela cultura da empresa analisada. As dimensões comprometimento, benefícios, relacionamento interpessoal, segurança do trabalho e liderança são fatores de maior satisfação para os trabalhadores, o que resultará em membros comprometidos com os objetivos organizacionais, que possuem um bom relacionamento com seus colegas de trabalho, que se sentem seguros ao exercerem suas tarefas mesmo trabalhando em área de risco e que estão satisfeitos com seus líderes e com os benefícios que recebem da empresa. Esses fatores motivarão os membros de uma empresa e contribuirão para que eles sejam mais produtivos e trabalhem com qualidade e eficiência. As dimensões salário e reconhecimento obtiveram os menores índices de concordância. São fatores de descontentamento dos membros da organização. A questão não é o salário em si, mas os empregados da empresa investigada percebem não estarem sendo recompensados de forma justa, ou seja: recebem pouco em relação à quantidade de trabalho que executam. A falta de reconhecimento se concretiza quando eles percebem que não são as pessoas competentes que têm as melhores oportunidades na empresa, o que gera um descontentamento em realizar as atividades. Analisando-se as afirmações separadamente, observa-se que não há número suficiente de trabalhadores para executarem as tarefas. “A baixa remuneração” e a “ausência de planos de carreiras” foram os fatores mais citados ao responderem sobre o que mais gera insatisfação na empresa, e “os benefícios que a empresa oferece” e o “orgulho em trabalhar na empresa pelo reconhecimento proporcionado” foram os fatores mais citados quando perguntados sobre o que mais gera satisfação no trabalho. É oportuno salientar que a identificação das dimensões positivas e negativas da empresa estudada, precisará estar associada a práticas de mudanças por parte dos gestores. Aperfeiçoar o que há de bom e melhorar o que há de negativo. Portanto, este estudo poderá contribuir com a empresa investigada, pois verifica, mesmo que de forma empírica, como os seus membros estão percebendo a organização em relação às dimensões investigadas, utilizando esse conhecimento para melhorar o ambiente de trabalho e, por consequência, a produtividade.

REFERÊNCIA intervenientes no clima organizacional do hospital universitário prof. Alberto Antunes- HUPAA. Trabalho apresentado no VI Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, Rio de Janeiro, 2009.

ABREU, Nelsio; BALDANZA, Renata; ALMEIDA, Nayron Henrique Santana; SILVA, Elivânia Santos. Comunicação e análise dos fatores externos

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MÓL; Anderson Luiz Rezende; FERNANDES, Antônio Sérgio Araújo; TINÔCO, Dinah dos Santos; BORGES, Djalma freire; ALLOUFA, Jomária Mata Lima; ARAÚJO, Maria Arlete Duarte de. Clima organizacional na administração pública. Rio de Janeiro: FGV, 2010.

AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira de. Psicologia aplicada à administração: globalização, pensamento complexo, teoria crítica e a questão ética nas organizações. 2. ed. São Paulo: Excellus, 1992. BISPO, Carlos Alberto Ferreira. Um novo modelo de pesquisa de clima organizacional. Revista Produção, São Paulo, v.16, n. 2, p. 258-273, maio/ago. 2006.

OLIVEIRA, Juliana Servilha Gonçalves de; CAMPELLO, Mauro. Clima organizacional e o desempenho das organizações. Trabalho apresentado no XIII SIMPEP, Bauru, 2006.

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PALACIOS, Kátia Puente; FREITAS, Isa Aparecida. Clima organizacional: uma análise de sua definição e de seus componentes. O&S,v.13, jul./set. 2006.

KELLER; Edelvais; AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira. Análise crítica teórica da evolução do conceito de clima organizacional. Terra e Cultura, ano 20, n. 39, 2004.

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LOPES, Celsita Baeta. Clima e desempenho organizacional: um estudo nas agências da caixa econômica federal da região metropolitana de Belo Horizonte. 2007. Dissertação (Mestrado)- Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2007.

ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. SROUR, Robert Henry. Poder, cultura e ética nas organizações. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998.

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OBSERVAÇÃO Este artigo é um resumo da monografia apresentada ao Curso de Administração da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), para obtenção do grau de bacharel em Administração.

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Clima organizacional: estudo de caso em uma empresa aeroportuária, em São Luís-MA Melina Garcia Prazeres Graduada em Administração pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) São Luís, MA E-mail: melinagp04@yahoo.com.br José Rômulo Travassos da Silva Psicólogo, Administrador, Mestre em Administração pela Fundação Getúlio VargasFGV, Professor do Departamento de Administração da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) São Luís, MA E-mail: romulo.travassos.silva@gmail.com Maria de Fátima Ribeiro dos Santos Bibliotecária, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) São Luís, MA E-mail: fatimar_s@hotmail.com

PRAZERES, M.G.; SILVA, J.R.T.; SANTOS, M.F.R. Clima organizacional: estudo de caso em uma empresa aeroportuária, em São Luís-MA. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 54-69, ago.-set., 2013.

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Resenha do filme: Luz, Trevas e o Método Científico Laudinéia Maria Neves Dias Enfermeira, Especialista em PSF, Licenciada em Biologia e Física via Complementação Pedagógica, Especialização em atenção básica em Saúde da Família, e Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa- Parceria com Universidade Federal do Espírito Santo – UFES Mutum, MG E-mail: laudineia_dias@yahoo.com.br

DIAS, L.M.N. Resenha do filme: Luz, Trevas e o Método Científico. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 70-72, ago.-set., 2013.

RESUMO O Filme Luz, Trevas e o Método Científico, têm como finalidade explorar a relação entre as descobertas da ciência ocorridas do surgimento das espécies até a contemporaneidade. O debatido filme tenta

mostrar a progresso da ciência desde seus primórdios até às descobertas atuais, num tom extremamente humanista e enfatizando as benesses e as tragédias que a ciência pode trazer.

Palavras-chave: Método Científico; ciência; evolução

Filme construído por Leopoldo de Meis – Luz, Trevas e o Método Científico, têm como finalidade explorar a relação entre as descobertas da ciência ocorridas do surgimento das espécies até a contemporaneidade. O discutido filme tenta mostrar a evolução da ciência desde seus primórdios até às descobertas atuais, num tom extremamente humanista e enfatizando as benesses e as tragédias que a ciência pode trazer.

O

Este filme propicia um olhar pelo percurso multiforme na historia da ciência. Por meio dele pode-se percorrer por cenas de luta, perseguição, sangue, guerra, fome e também conquistas todas advindas da evolução do fenômeno científico. Percurso este que revela como a defesa de uma ideologia era/é patente na produção do conhecimento científico ao longo dos tempos, a ciência nunca será neutra mas reflexo de uma ação cultural cívica e humanista de determinada época. O homem é a espécie mais recente do planeta, cuja sobrevivência fazia necessário enfrentar a fome, grandes predadores e principalmente microrganismos e vírus, que muitas das vezes determinavam a morte certa dos indivíduos. Para tal desiderato, durante um longo período da humanidade apelou-se para o misticismo. O curandeiro da tribo inicialmente era quem possuía poderes inquestionáveis, exigindo total submissão do paciente que buscasse livrar-se de algum mal. Várias religiões pregavam o sacrifício humano como forma de aplacar a ira dos

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deuses e evitar os males que dizimavam algumas populações mundo a fora. A explicação de determinados eventos, dentre os quais muitas doenças, sempre redundavam no misticismo e na vontade dos deuses, afastando qualquer questionamento que relativizasse esse poder/conhecimento absoluto. Nesse mesmo espaço, surgia outra forma de pensar tais fatos fundada em muito no raciocínio aristotélico. Baseado no funciona ou não funciona, nas tentativas e erros, a chamada experimentação perpassava pela lógica e observação em busca de uma compreensão racional do mundo externo. Hipócrates, por exemplo, contestava origem divina atribuída as doenças, encarando-as como evento dominável pela ciência humana - e não um castigo divino, buscando sua cura a partir do estudo e conhecimento de suas causas e sintomas. A partir desse momento, pode-se perceber o embate entre diversas ideologias relacionadas a detenção do conhecimento científico que se estabelecem no curso do filme em comento, mas um dos mais relevantes é, sem dúvida o estabelecido entre a ciência iluminista e a religião. Se em sua origem o misticismo e a ciência experimentalista pareciam ser elementos estanques e de áreas distintas do conhecimento, com o desenvolver da ciência, trazendo luzes às trevas do mítico e divino, abrem-se as cortinas para um intenso conflito pelo conhecimento e, porque não, pelo poder. A partir do século XII o conflito é inegável, tanto assim que a perseguição empreendida pela Igreja Católica tornou-se oficial contra todos os homens que pudessem contrariar as teses divinizadas de compreensão da realidade. A chamada Santa Inquisição para fazer cumprir a suposta vontade divina, promovia constante vigilância sobre o que era produzido e pensado na época, construindo um padrão ético fortemente baseado no medo e na intolerância religiosa. Qualquer um que fosse considerado bruxo, pecador ou erudito seria torturado para confessar seus pecados. As mulheres, talvez as maiores vítimas nesse período, eram humilhadas e consideradas seres inferiores sempre em nome de valores incompreensíveis e injustificáveis à lógica humana – que nunca poderia alcançar o conhecimento divino. O inglês Francis Bacon, por exemplo, foi condenado a prisão perpétua pelo Papa Clemente em razão de defender que apenas a lógica e observação não seria suficiente para descrever a realidade, sustentado a experimentação como passo fundamental para a comprovação da plausibilidade de qualquer tese verdadeiramente científica. Fazer e pensar ciência nunca foram tão perigoso. Mas, em meio a isso, surgiram homens corajosos os quais com seus pensamentos começaram a modificar tal conjuntura. Cresciam as dissenções dentro da própria Igreja Católica, que culminariam na chamada Revolução Protestante liderada por Martinho Lutero entre outros. Concomitantemente aos avanços das ciências naturais na vida do homem no planeta, mudando radicalmente o que se tomava por ciência. As descobertas científicas passaram de conhecimento restrito a um determinado grupo de eleitos pelos deuses, a expedientes de alteração concreta na vida humana – basta pensar a evolução dos meios de transporte, máquinas, tecnologias além do direito das mulheres ganhando paulatinamente cada vez mais espaço mundo a fora. A Ciência Moderna retirava o véu sobre fatos que até então eram mistério protegido pelos muros do sobrenatural e religioso. A evolução das ciências permitiu ao homem trazer a realidade alguns de seus sonhos antigos, como voar, navegar em baixo d’água, chegar até a lua, atenuar a fome e aumentar sua expectativa de vida, mas para isso, um grande sacrifício precisou ser

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feito. As idealizações eram constantemente rejeitadas e os pensadores eram na maioria das vezes punidos quando não sacrificados dentro de uma luta que relacionava conhecimento e poder político-econômico. Mas isso não obstacularizou o avanço científico nas mais variadas áreas, até mesmo, em eventos que a ciência se voltava contra o homem (bombas atômicas, armas químicas, etc). O Método Científico permitiu grandes avanços sem os quais seria impensável a vida moderna e muitas de suas realizações, todavia, tal passo foi dado com sacrifícios que marcaram a história da humanidade como bem retrata o filme de Meis. Não obstante, após superar o misticismo e o sobrenatural derrubando o pensamento exclusivamente fundado na religião, a Ciência atual se depara com outro grande desafio: os limites éticos de seu avanço, tenta-se cada vez mais manter seus avanços sem com isso qualificar o homem como objeto e a ciência como um fim em si mesmo. Como fazer isso? Talvez olhando para a própria evolução da ciência e reconhecendo que ela pode trazer benesses ou tragédias, tudo depende de como e quem a maneja.

REFERÊNCIA MEIS, Leopoldo de. Luz, Trevas e o Método Científico. Guerreiros valentes do impensável. Ensinando Ciência com

Arte. DVD - vol.3. Instituto de Bioquímica Médica - UFRJ. Ano de lançamento: 2010.

Resenha do filme: Luz, Trevas e o Método Científico Laudinéia Maria Neves Dias Enfermeira, Especialista em PSF, Licenciada em Biologia e Física via Complementação Pedagógica, Especialização em atenção básica em Saúde da Família, e Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa- Parceria com Universidade Federal do Espírito Santo – UFES Mutum, MG E-mail: laudineia_dias@yahoo.com.br

DIAS, L.M.N. Resenha do filme: Luz, Trevas e o Método Científico. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 70-72, ago.-set., 2013.

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A Confusão da Inertização Zenaide Venskis Engenharia Química, Especialista: em Engenharia Ambiental pela UNICAMP, em Engenharia de Controle de Poluição Ambiental pela Saúde Pública/USP; em Gestão em Efluentes Industriais pela UNICAMP/Limeira, e Mestrando em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos pelo Instituto Mauá de Tecnologia São Paulo, SP E-mail: trutina@terra.com.br

VENSKIS, Z. A Confusão da Inertização. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 73-74, ago.-set., 2013.

P

or várias vezes me perguntaram se estabilizando e/ou solidificando estariam inertizando um resíduo potencialmente perigoso descaracterizando-o, ou seja, transformando-o em resíduo não perigoso.

Inertização é o resultado de um processo, ou o resultado da combinação de mais de um processo, de tratamento químico, físico, biológico ou térmico onde o perigo associado ao tal resíduo desaparece. Muitos acreditam que os processos de estabilização e solidificação são sinônimos de inertização e essa associação dificulta a vida dos técnicos no momento de propor o gerenciamento adequado para os resíduos produzidos na indústria. Os processos de estabilização e/ou solidificação são considerados como estágio de pré-tratamento de resíduo, transformando sua forma perigosa nas formas menos solúveis ou menos tóxicas e sua característica física, respectivamente, como auxílio no manuseio ou transporte desse resíduo para seu tratamento ou mesmo para sua disposição correta. A questão técnica e econômica deve ser avaliada antes de ser aplicada. Pelos custos de material e técnicas comercialmente disponíveis é que se costuma aplicar a estabilização ou solidificação quando o resíduo oferece grande risco de contaminação em seu estado físico original e quando seu volume é grande o suficiente para diluir os valores atribuídos ao material que será utilizado como pré-tratamento. Qualquer resíduo pode justificar o uso da técnica de estabilização ou solidificação, desde que sejam observadas as questões técnicas e econômicas. Não é recomendada a aplicação dessa técnica para resíduos que possuam, em sua composição, elementos orgânicos em quantidades maiores de 10 a 20%. Para resíduos orgânicos a melhor técnica é o tratamento por decomposição biológica, incineração ou outros. A estabilização e/ou solidificação pode ser feita de diversas maneiras e com diversos tipos de materiais inertes. As técnicas de estabilização/solidificação existentes são classificadas como: fixação inorgânica e técnicas de encapsulamento. No primeiro caso os processos estão

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baseados na utilização de materiais como cimento, cal, silicatos e argilas, enquanto que no segundo caso são empregados polímeros orgânicos específicos. Muitos aditivos foram desenvolvidos para serem usados com o cimento, mas como são patenteados, não é possível efetuar-se estudos comparativos. Como uma adaptação do processo à base de cimento foi proposta uma técnica na qual são dissolvidos resíduos ricos em metais com sílica de granulação fina, em pH baixo, sendo a mistura posteriormente polimerizada através da elevação do pH até 7. O gel resultante é adicionado ao cimento que endurece em três dias. Outro trabalho foi desenvolvido pelo “Brookhaven National Laboratory” baseando-se no processo de impregnação com polímeros, que pode ser para diminuir a permeabilidade das misturas de resíduos com cimento. Os poros do produto final são preenchidos com monômeros de estireno, por imersão. A seguir o material é aquecido para que ocorra a polimerização. Através desse processo tem-se uma aumente significativo da resistência e da durabilidade do produto final.

A Confusão da Inertização Zenaide Venskis Engenharia Química, Especialista: em Engenharia Ambiental pela UNICAMP, em Engenharia de Controle de Poluição Ambiental pela Saúde Pública/USP; em Gestão em Efluentes Industriais pela UNICAMP/Limeira, e Mestrando em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos pelo Instituto Mauá de Tecnologia São Paulo, SP E-mail: trutina@terra.com.br

VENSKIS, Z. A Confusão da Inertização. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), n. 15, p. 73-74, ago.-set., 2013.

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I CONGRESSO DE SAÚDE COLETIVA DA AP4 De 19 a 22 de agosto de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: http://congressosaudeap4.dyndns.org:8180

VII ENCONTRO NACIONAL DE INOVAÇÃO EM FÁRMACOS E MEDICAMENTOS De 20 a 21 de agosto de 2013. Local: São Paulo, SP Mais informações em: http://www.ipd-farma.org.br

XXVIII REUNIÃO ANUAL DA FEDERAÇÃO DE SOCIEDADES DE BIOLOGIA EXPERIMENTAL (FESBE) De 21 a 24 de agosto de 2013. Local: Caxambu, MG. Mais informações em: http://www.fesbe.org.br

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IX ENCONTRO NACIONAL DE GERENCIAMENTO EM ENFERMAGEM De 26 a 28 de agosto de 2013. Local: Gramado, RS. Mais informações http://www.sobragen.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=95&Itemi d=114#

III SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE SAÚDE QUÂNTICA E QUALIDADE DE VIDA De 14 a 15 de setembro de 2013. Local: São Paulo, SP. Mais informações em: http://www.simposiosaudequantica.com.br/pt/index.php

59º CONGRESSO BRASILEIRO DE GENÉTICA De 16 a 19 de setembro de 2013. Local: Águas de Lindóia, SP. Mais informações em: http://www.sbg.org.br/59CBG/index.html

SECOND BRAZILIAN WORKSHOP ON ASTROBIOLOGY De 23 a 27 de setembro de 2013. Local: Guarujá, SP. Mais informações em: 2ndbwa@gmail.com

4º CONGRESSO VEGETARIANO BRASILEIRO De 25 a 29 de setembro de 2013. Local: Curitiba, SC. Mais informações em: http://www.vegfest.com.br/sobre-o-veg-festival-e-iv-congressovegetariano/veg-festival/sobre-o-veg-festival-iv-congresso-vegetariano

XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE TOXICOLOGIA De 07 a 10 de outubro de 2013. Local: Porto Alegre, RS. Mais informações em: http://www.cbtox2013.com.br/

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65º CBEN - CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM De 07 a 10 de outubro de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: http://eventos.wincentraldeeventos.com.br/65cben/ins1b.php?eventosSID=5f49ca2377 a6bbe4e69e5a1a6e9e32ef

XXIII ENCONTRO BRASILEIRO DE MALACOLOGIA - XXIII EBRAM & I SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE JOVENS TAXONOMISTAS De 22 a 25 de outubro de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: https://www.facebook.com/SociedadeBrasileiraDeMalacologia?fref=ts

VI SEMANA CIENTÍFICA DA ENFERMAGEM – UFU De 04 a 08 de novembro de 2013. Local: Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Campus Umuarama, Uberlândia – MG. Mais informações em: diretorioacademicoenfufu@yahoo.com.br

IX CONGRESSO BRASILEIRO DE FARMÁCIA HOSPITALAR De 14 a 16 de novembro de 2013. Local: São Paulo, SP. Mais informações em: http://www.sbrafh.org.br/site/public/news/phpinIfys.pdfjuliana@parque.ufrj.br

CONGRESSO BRASILEIRO DE HEMATOLOGIA, HEMOTERAPIA E TERAPIA CELULAR De 07 a 10 de novembro de 2013. Local: Brasília, DF. Mais informações em: http://www.hemo.org.br/

VI CONGRESSO CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE De 14 a 17 de novembro de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: http://www.lappis.org.br/site/noticias/videos/367-vi-congressociencias-sociais-e-humanas-e-saude-2013.html

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EVENTOS ACADÊMICOS: Ciências Exatas e da Terra LIVRO DIGITAL DISPONÍVEL PARA LEITURA E DOWNLOAD GRATUITO

MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS: APLICAÇÕES EM DESSALINIZAÇÃO Autores: Sandro Jucá e Paulo Carvalho Em: http://issuu.com/espacocientificolivre / http://issuu.com/espacocientificolivre/docs/metodosdedimensionamentodesiste masfotovoltaicos

13º ENCONTRO DE PROFISSIONAIS DA QUÍMICA DA AMAZÔNIA De 20 a 23 de agosto de 2013. Local: Belém, PA. Mais informações em: http://www.crq6.org.br/

XXI SIMPÓSIO INTERNACIOAL DE ENGENHARIA AUTOMOTIVA De 22 a 23 de agosto de 2013. Local: São Paulo, SP. Mais informações em: http://aea.org.br/v1/calendario/xxi-simposio-internacional-deengenharia-automotiva/

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X ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ECOLÓGICA De 17 a 21 de setembro de 2013. Local: Vitória, ES. Mais informações em: http://www.ecoeco.org.br/encontro2013/

X SEMANA POLAR INTERNACIONAL & I WORKSHOP DE DESENVOLVIMENTO DE CARREIRA De 17 a 21 de setembro de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: http://www.apecsbrasil.com/semanapolar/x-spi/

X CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA - INICIAÇÃO CIENTÍFICA De 29 de setembro a 02 de outubro de 2013. Local: Vassouras, RJ. Mais informações em: https://servicos.ufrrj.br/eventos/index.php/cobeq/xcobeq

53º CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA De 14 a 18 de outubro de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: http://www.abq.org.br/cbq/

SEMINÁRIO GOVERNANÇA DA INTERNET: DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO 2013-2014 Em 31 de outubro de 2013. Local: São Paulo, SP. Mais informações em: http://www.governancadainternet.com.br/

V SIMPÓSIO DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA De 04 a 08 de novembro de 2013. Local: São Paulo, SP. Mais informações em: http://www.ibot.sp.gov.br / http://www.infobibos.com/rad/

8º CONGRESSO INTERNACIONAL DA BIOENERGIA De 05 a 07 de novembro de 2013. Local: São Paulo, SP. Mais informações em: http://www.bioenergia.net.br/congresso/br/projeto.php

Leia e baixe gratuitamente o livro digital Métodos de Dimensionamento de Sistemas Fotovoltaicos: Aplicações em Dessalinização de Sandro César Silveira Jucá e Paulo Cesar Marques de Carvalho, publicado pela Espaço Científico Livre Projetos Editoriais em http://issuu.com/espacocientificolivre

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EVENTOS ACADÊMICOS: Ciências Sociais e Humanas LIVRO DIGITAL DISPONÍVEL PARA LEITURA E DOWNLOAD GRATUITO

MULHERES NEGRAS: HISTÓRIAS DE RESISTÊNCIA, DE CORAGEM, DE SUPERAÇÃO E SUA DIFÍCIL TRAJETÓRIA DE VIDA NA SOCIEDADE BRASILEIRA Autores: Adeildo Vila Nova e Edjan Alves dos Santos Em: http://issuu.com/espacocientificolivre / http://issuu.com/espacocientificolivre/docs/mulheres_negras

III CONGRESSO NACIONAL DE GERÊNCIA DE PROJETOS De 14 a 16 de agosto de 2013. Local: Salvador, BA. Mais informações em: http://conference.arenainterativa.com.br/cngp2013/

XVII CONGRESSO DA SOCIEDADE DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA – ARQUEOLOGIA SEM FRONTEIRAS De 25 a 30 de agosto de 2013. Local: Aracaju, SE. Mais informações em: http://www.xviicongresso.sabnet.com.br/

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II CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO De 02 a 05 de setembro de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: http://www.cifale.letras.ufrj.br/

VII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE GÊNEROS TEXTUAIS De 03 a 06 de setembro de 2013. Local: Fortaleza, CE. Mais informações em: http://www.7siget.com/br/index.php

XVI CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA De 10 a 13 de setembro de 2013. Local: Salvador, BA. Mais informações em: http://www.sbs2013.sinteseeventos.com.br/

V ENCONTRO DE HOSPITALIDADE E TURISMO – ESPAÇOS E TERRITÓRIOS, DIALOGANDO COM O TURISMO De 25 a 27 de setembro de 2013. Local: Niterói, RJ. Mais informações em: http://www.proac.uff.br/turismo/

V SIMTEC – SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E I SEMPI – SEMANA ACADÊMICA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL De 25 a 27 de setembro de 2013. Local: Aracaju, SE. Mais informações em: http://www.portalmites.com.br/simtec2013/

III SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL De 02 a 03 de outubro de 2013. Local: São Paulo, SP. Mais informações em: http://www.fmcsv.org.br/Pt-br/noticias/aconteceu/Paginas/O-IIISimp%C3%B3sio-Internacional-de-Desenvolvimento-Infantil-j%C3%A1-tem-data!.aspx

XVII CONGRESSO DA SOCIEDADE INTERAMERICANA DE FILOSOFIA De 07 a 11 de outubro de 2013. Local: Salvador, BA. Mais informações em: http://www.sif2013.org/spip.php?rubrique6

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XXIII SEMINÁRIO NACIONAL DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS De 14 a 17 de outubro de 2013. Local: Recife, PE. Saiba mais em: http://www.seminarionacional.com.br/

VI CONGRESSO CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE De 14 a 17 de novembro de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: http://www.lappis.org.br/site/noticias/videos/367-vi-congressociencias-sociais-e-humanas-e-saude-2013.html

FÓRUM MUNDIAL DE CIÊNCIA De 24 a 27 de novembro de 2013. Local: Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: http://fmc.cgee.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=118:site-doforum-mundial-de-ciencia-2013-esta-no-ar&catid=9:noticias&Itemid=101

Leia e baixe gratuitamente o livro digital Mulheres Negras: Histórias de Resistência, de Coragem, de Superação e sua Difícil Trajetória de Vida na Sociedade Brasileira, de Adeildo Vila Nova e Edjan Alves dos Santos, publicado pela Espaço Científico Livre Projetos Editoriais em http://issuu.com/espacocientificolivre

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DIVULGUE SEU EVENTO Saiba como divulgar na Revista Espaço Científico Livre eventos acadêmicos como: congressos, semanas acadêmicas, seminários, simpósios entre outros. Para divulgação de eventos acadêmicos envie um e-mail para espacocientificolivre@yahoo.com.br para receber maiores informações.


NORMAS PARA PUBLICAÇÃO Os resumos e artigos devem ser enviados para espacocientificolivre@yahoo.com.br, e serão avaliados e poderão ou não ser publicados, a partir dos critérios de qualidade e conformidade às normas de publicação. A Revista Espaço Científico Livre se reserva ao direito de fazer alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores que, por sua vez, recebem informações periódicas a respeito do andamento da avaliação. A partir da publicação do artigo, encaminha-se um comprovante de publicação ao(s) autor(es). As referências bibliográficas devem seguir as normas da ABNT. O número total de ilustrações (se houver) não deve exceder seis. Sugere-se que o número de referências seja no máximo de 30. Recomenda-se o artigo seja estruturado com: resumo (com até 300 palavras), palavras-chave, introdução, metodologia, resultados, discussão, conclusão e referências. E o número máximo de 12 páginas. Os textos devem ser digitados no programa Word (Microsoft) ou Writer (BrOffice) e entregues para o seguinte e-mail: Observações de envio: 1. Assunto: título abreviado do artigo ou resumo; 2. Corpo da Mensagem: Deve conter o título do artigo ou resumo e nome do autor(es) responsável(is) pela pré-publicação e contatos seguido por uma declaração na qual os autores garantem que: o artigo é original e nunca foi publicado e, caso seja aceito para publicação, que todos os autores tenha participado na construção e elaboração do trabalho. Deve-se afirmar que todos os autores leram e aprovaram a versão que está sendo enviada e que nenhuma informação tenha sido omitida sobre instituições financeiras ou acordos entre os autores e as empresas ou pessoas que possam ter interesse material na matéria tratada no artigo. Agradecimentos às pessoas que fizeram contribuições substanciais para o artigo devem ser citadas. Autorização de publicação na Revista Espaço Científico Livre. 3. Arquivo anexado: Word (Microsoft) ou Writer (BrOffice). Junto com o envio dos trabalhos, solicitamos o preenchimento de autorização que pode ser solicitado por e-mail para espacocientificolivre@yahoo.com.br Vale ressaltar que serão avaliados todos os trabalhos enviados. E que a publicação dos mesmos depende de avaliação e sua publicação não necessariamente será na próxima edição.



“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira.” Ernesto Rafael Guevara de la Serna (Che Guevara)

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Figura: Che Guevara Fonte: (WIKIMEDIA COMMONS, 1945)

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SOBRE O AUTOR DOS CURSOS: Verano Costa Dutra - Farmacêutico e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal Fluminense, possui também habilitação em homeopatia – Editor da Revista Espaço Científico Livre


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