LIVRE
revista
ESPAÇO CIENTÍFICO
ISSN 2236-9538 BRASIL, N.4, OUT.-NOV., 2011
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REVISTA DE PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS, RESUMOS E IDEIAS DE ALUNOS DE NÍVEL TÉCNICO, SUPERIOR E PROFISSIONAIS DE DIVERSAS ÁREAS DE TODO BRASIL E DIVULGAÇÃO DE DIVERSOS EVENTOS ACADÊMICOS.
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Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, out.-nov., 2011
EDITORIAL Estamos no número quatro da Revista Espaço Científico Livre e continuamos buscando a construção coletiva multidisciplinar do conhecimento através dos artigos enviados por vocês leitores, como também por meio da divulgação de eventos acadêmicos de diversas áreas. Com grande alegria informamos que em agosto foi atribuído o ISSN 2236-9538 para a Revista Espaço Científico Livre, o ISSN significa International Standard Serial Number ou Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas. Conforme o site do IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia) explica, o ISSN é utilizado como “um identificador aceito internacionalmente para individualizar o título de uma publicação seriada, tornando-o único e definitivo. Seu uso é definido pela norma técnica internacional da International Standards Organization ISO 3297”. Gostaríamos de informar que erros eventualmente cometidos por ausências e/ou divergências de informações relacionadas aos artigos, serão corrigidos através de ERRATA e/ou em republicação de artigo. Procuramos construir através da coletividade uma revista de publicação científica que preza pela transparência e qualidade. Continuem enviando seus artigos e eventos acadêmicos, e participe da construção coletiva do conhecimento. Boa leitura. Verano Costa Dutra Editor
A Revista Espaço Científico Livre é uma publicação digital distribuída gratuitamente a estudantes de escolas técnicas, graduação e profissionais de diferentes áreas em todo o Brasil.
Os textos assinados não apresentam necessariamente, a posição oficial da Revista Espaço Científica Livre, e são de total responsabilidade de seus autores.
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COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Verano Costa Dutra Editor – Farmacêutico Industrial, com habilitação em Homeopatia e Mestre em Saúde Coletiva pela UFF – espacocientificolivre@yahoo.com.br Monique D. Rangel Divulgação - Graduanda em Administração na UNIGRANRIO Verônica C.D. Silva Revisão - Pedagoga, Pós-graduanda em Gestão do Trabalho Pedagógico: Orientação, Supervisão e Coordenação pela UNIGRANRIO Alberto Leandro Pereira Chaves Graduando em Geografia pela UFBA Clodoaldo Henrique Oliveira Tecnólogo em Internet e Redes de Computadores e Especialista em Tecnologia Digital Aplicada à Educação Dayane Francielle Carvalho Farmacêutica Generalista pela Universidade do Vale do Sapucaí Drielly Rocha de Faria Graduação em Enfermagem pela UFMT, membro do Projeto Sementinha Helton Sales Graduação em História e Pós Graduado em Gestão de Escolas pela PUC de Minas Gerais Kelle Vanessa Álvares Amaral Graduação em Enfermagem pela UFMT, membro do Projeto Sementinha
Queli Lisiane Castro Pereira Graduação em Enfermagem, Mestre em Enfermagem pela FURG, Especialista em Administração em Saúde Pública com Ênfase em Serviço, Membro Pesquisador do Grupo de estudo e pesquisa Gerenciamento Ecossistêmico em Enfermagem/Saúde (GEES) e Docente do Curso de Enfermagem da UFMT/CUA Rodrigo Faria Soares Graduação em Administração pela UFRRJ Simone Peixoto Conejo Psicóloga, doutoranda em Psicologia Social pela USP/SP, mestre em Psicologia Clínica pala USP/SP. Terapeuta Comunitária. Pós-graduanda em Terapia de Família e Casal pelo Sistema Humanos/Sorocaba Weila Carla do Nascimento Moura Graduação em Enfermagem pela UFMT, membro do Projeto Sementinha
ERRATA: O artigo “Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia” publicada na Revista Espaço Científica Livre n. 3 deve ser referenciada como: CONEJO,S.P. Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 3, p. 06-14, ago.-set., 2011. Informamos também que o mesmo artigo foi publicado anteriormente no site Psicologia no Cotidiano. Disponível em: <psicologianocotidiano.com.br>.
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SUMÁRIO A importância da pré-formulação para a indústria farmacêutica Por Dayane Francielle Carvalho
pg. 06
Aproximação das gestantes com o atendimento das maternidades de referência Por Drielly Rocha de Faria, Kelle Vanessa Álvares Amaral, Weila Carla do Nascimento Moura e Queli Lisiane Castro Pereira
pg. 21
Logística Reversa – Estudo de Caso sobre o Recolhimento de computadores e periféricos para reutilização ou reciclagem na cidade de Santo Antônio de Pádua – RJ Por Rodrigo Faria Soares
pg. 30
Blog Inclusão Digital Por Clodoaldo Henrique Oliveira
pg. 40
Marxismo e Educação Por Helton Sales
pg. 46
Resenha do texto: A economia baiana: Os condicionantes da dependência Por Alberto Leandro Pereira Chaves
pg. 50
Republicação: Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia Por Simone Peixoto Conejo
pg. 54
Eventos acadêmicos
pg. 69
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A importância da pré-formulação para a indústria farmacêutica Dayane Francielle Carvalho Farmacêutica Generalista pela Universidade do Vale do Sapucaí Pouso Alegre, MG E-mail: dayanecarvalho85@hotmail.com
RESUMO Este trabalho apresenta uma análise de todos os estudos necessários para o desenvolvimento de uma nova forma farmacêutica. São denominados estudos de préformulação, cujo objetivo principal é determinar todas as propriedades físico-químicas do fármaco em desenvolvimento. A pré-formulação de um novo medicamento é composta por diferentes fases, podendo ser citadas: optimização molecular, caracterização do granel, análises de solubilidade, análises da estabilidade e biofarmácia. Os estudos de pré-formulação somente são possíveis dentro da indústria farmacêutica quando esta possui uma qualificada equipe técnica, composta por farmacêuticos e químicos que em conjunto, através do conhecimento específico de cada área elaboram um plano de desenvolvimento. Como resultado final a equipe estabelece uma forma farmacêutica com garantia de qualidade, eficácia e segurança. Todo o processo é documentado através um relatório contendo todas as particularidades do novo produto, a fim de auxiliar nos processos de registro e pósregistros de medicamentos. Palavras-chave: Pré-formulação, optimização molecular, solubilidade, estabilidade, biofarmácia ABSTRACT This paper presents an analysis of all the studies necessary for developing a new drug. They are called pre-formulation studies, whose main objective is to determine all the physical and chemical properties of drug development. The pre-formulation of a new drug composed of different stages and may be cited: optimizing the molecular characterization of the bulk analysis of solubility, stability and analysis of biopharmaceuticals. The pre-formulation studies are only possible within the pharmaceutical industry where it has a qualified technical team consisting of pharmacists and chemists together through specific knowledge of each area prepare a development plan. As a result the team makes a final dosage form of guaranteed quality, efficacy and safety. The entire process is documented by a report containing all the particulars of the new product in order to assist in the processes of registration and post-medication records. Keywords: Pre-formulation, optimization molecular, solubility, stability, biopharmaceuticals
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1. INTRODUÇÃO
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pós a descoberta de um fármaco recém sintetizado que apresenta uma ação farmacológica em modelos animais e potencial uso no Homem, tem-se início a fase de pré-formulação. Nesta fase os estudos são direcionados a descobrir todas as propriedades físico-químicas do composto, que irão auxiliar no desenvolvimento adequado da forma farmacêutica (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Para o desenvolvimento de um novo medicamento é realizada a seleção de matériasprimas, cujo objetivo é caracterizar a substância ativa. Geralmente, as monografias encontradas em compêndios oficiais, descrevem os ensaios qualitativos e quantitativos dos insumos, abrangendo também ensaios de avaliação de pureza. Estes ensaios são de fundamental importância, pois trazem informações sobre a síntese do fármaco e as propriedades físico-químicas da substância submetida à análise (BRANDÃO, 2006). Cada substância ativa apresentada possui características físicas e químicas que devem ser consideradas antes do desenvolvimento da sua forma farmacêutica. Podese destacar, entre outras, a solubilidade, o coeficiente de partição, a velocidade de dissolução, a forma física e a estabilidade (ANSEL; JUNIOR; POPOVICH, 2007). Quando o fármaco está com a qualidade adequada disponível, começam-se as experiências preliminares para se definir a forma molecular mais indicada. Se detectada alguma deficiência, deve-se proceder com a modificação da molécula que levará à melhoria das propriedades do fármaco. A formulação de sais ou de prófármacos são as modificações mais frequentes (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). A otimização das moléculas é o caminho mais curto para o desenvolvimento de novos fármacos, não alterando assim sua ação farmacológica. A solubilidade nos fluidos biológicos e a permeabilidade celular são os principais pontos a serem estudados (CHAUD, 2010). A caracterização físico-química do fármaco é o estudo que acontece junto com a préformulação. Nesta fase, o fármaco na forma sólida não foi totalmente caracterizado, podendo apresentar o surgimento de novos poliformos. As propriedades como a densidade e o tamanho das partículas podem mudar durante o desenvolvimento do fármaco, sendo necessária então a caracterização de todos os lotes a granel da fase de pré-formulação (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). A solubilidade aquosa de um fármaco implica na sua absorção e resposta terapêutica. Um fármaco pouco solúvel pode significar uma absorção lenta e assim reduzir a resposta na dose adequada. O aumento da solubilidade aquosa pode ser adquirido pela obtenção de derivados mais solúveis, como sais e ésteres, por complexação química ou redução do tamanho das partículas (ANSEL; JUNIOR; POPOVICH, 2007). Na fase de pré-formulação, são avaliadas também a estabilidade da substância ativa isolada e na presença de excipientes. Estes estudos são muito importantes na prevenção e redução da deterioração, através dos processos de hidrólise, oxidação, entre outros. Os estudos de estabilidade de uma formulação têm como objetivo avaliar o comportamento do fármaco em função do tempo e sob uma variedade de condições, levando em consideração tanto o fármaco, quanto a mistura de excipientes utilizados (MAMEDE et al, 2006 apud SILVA et al, 2009).
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Após a caracterização físico-química, vem a fase de desenvolvimento da formulação, que consiste em avaliar como o princípio ativo será liberado ou desintegrado da sua forma farmacêutica. Geralmente o princípio ativo está na forma sólida, para facilitar a passagem pelas membranas biológicas e dissolução, ocorrendo assim a absorção do fármaco (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). A produção do novo medicamento tem início com a produção de um lote em escala piloto, podendo ser definido como um lote de produto farmacêutico representativo e reprodutivo de um lote em escala industrial. Cabe ressaltar que este lote deve buscar reproduzir condições técnicas, operacionais e processos de produção do lote industrial proposto, assegurando um alto nível de segurança do produto e do processo em escala industrial. O lote-piloto é produzido em equipamento industrial ou de capacidade reduzida, seguindo as características dos equipamentos utilizados para a escala industrial. Somente empresas certificadas segundo as Boas Práticas de Fabricação podem produzir os lotes-piloto no mesmo endereço onde será produzido em escala industrial (ANVISA, 2009). O doseamento de um fármaco também é muito importante para avaliar a qualidade dos produtos farmacêuticos, pois determina a quantidade de princípio ativo presente na formulação que será administrada no organismo. Este resultado está intimamente ligado aos parâmetros de dissolução e desintegração, devendo-se assegurar a precisão do método (ZARBIELLI et al, 2006). E por fim, com base em todos esses estudos de pré-formulação de um potencial novo fármaco, é recomendável que se elabore um relatório descrevendo os possíveis problemas que poderão surgir com a molécula do mesmo, bem como, relatar ainda acerca do desenvolvimento de sua formulação. Vale salientar que este relatório auxiliará na elaboração do Registro do Medicamento e no desenvolvimento posterior de novos fármacos (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico a fim de compreender o mecanismo de pré-formulação. 2. DESENVOLVIMENTO
Q
uando se descobre a ação farmacológica de um fármaco recém sintetizado, tem-se início a fase de pré-formulação. A fase de pré-formulação consiste em estudos direcionados para as propriedades físico-químicas do composto, auxiliando em toda e qualquer dificuldade que poderá surgir durante o desenvolvimento adequado da forma farmacêutica. O desenvolvimento de um fármaco geralmente direcionado para uma terapêutica particular tem como objetivos conhecer o posicionamento no mercado em relação as outros fármacos e saber qual a forma farmacêutica a ser desenvolvida (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Um novo fármaco deve possuir duas propriedades fundamentais, que são elas: solubilidade intrínseca e constante de dissociação. A partir do perfil farmacêutico são gerados dados para confirmação da estrutura e pureza do fármaco. Um conhecimento mais aprofundado das análises realizadas ajudará na identificação de ensaios para a indicação de estabilidade, que serão realizadas posteriormente (AULTON, 2005). Para se desenvolver um fármaco qualquer é extremamente importante se compreender a descrição física do mesmo. A pureza do composto químico é fundamental para sua identificação e para avaliações físicas, químicas e biológicas. Nas propriedades químicas será avaliada estrutura, forma e reatividade. Já nas
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propriedades físicas será pesquisado o tamanho da partícula, descrição física, estrutura cristalina, ponto de fusão e solubilidade. E, por fim, o campo biológico está relacionado à sua eficiência em atingir o sítio de ação e a sua capacidade de desencadear uma resposta biológica (ANSEL; JUNIOR; POPOVICH, 2007). Uma indústria farmacêutica, para iniciar os estudos de pré-formulação deve ter primeiramente uma equipe técnica muito qualificada, geralmente composta por químicos e farmacêuticos que, em conjunto, elaboram um plano de desenvolvimento. Todos esses estudos são de extrema importância para a indústria farmacêutica, pois através deles será criado um novo fármaco com garantia da qualidade, eficácia e segurança. Atualmente, com a constante evolução dos estudos na área industrial farmacêutica, podem se destacar alguns pontos que se desenvolvem paralelamente aos estudos no campo da pré-formulação. Dentre os pontos mais relevantes, podem ser citados: - Desenvolvimento de novos fármacos; - Evolução das técnicas de síntese de medicamentos; - Surgimento de fármacos com melhores propriedades; - Desenvolvimento de uma forma farmacêutica que consiga atingir um maior mercado consumidor; - Aprimoramento de todas as fases da pré-formulação; - Capacidade de montar uma equipe multidisciplinar direcionada à descoberta de novos fármacos; - Aparecimento de formas derivadas (pró-fármacos) da substância ativa, que possuam melhores propriedades físicas, químicas e biológicas; - Maior crescimento na área de produção de medicamentos; - Formação de profissionais mais qualificados; - Possibilidade de surgir fármacos que possam alcançar até mesmo o mercado internacional, se trabalhado corretamente. A pré-formulação de um medicamento é caracterizada por diferentes fases, que são: optimização molecular, caracterização do granel, análise de solubilidade do fármaco, análise da estabilidade e biofarmácia. Cada uma dessas fases estão descritas a seguir. 2.1. OPTIMIZAÇÃO MOLECULAR
A
pós a identificação de uma substância ativa, a equipe multidisciplinar assume a responsabilidade de assegurar que passe à fase de desenvolvimento um composto de forma molecular mais adequada. A função do farmacêutico é avaliar a forma como o produto será formulado e administrado aos doentes. Problemas com a estabilidade e/ou solubilidade do fármaco podem afetar drasticamente a sua formulação, cabendo então à equipe detectar a deficiência e tomar a decisão de modificar a molécula, levando assim a melhorias das propriedades do fármaco. Com as modificações propostas podem surgir sais, pró-fármacos, solvatos, polimorfos ou mesmo moléculas análogas (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). As modificações mais frequentes são a formação de sais ou de pró-fármacos. Os sais de compostos orgânicos são formados pela adição, ou remoção, de um próton de modo a formar um íon da molécula, o qual é neutralizado por um contra íon. Geralmente os sais orgânicos são mais solúveis em água, aumentando sua dissolução e consequentemente sua biodisponibilidade. Algumas desvantagens são observadas
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com maior frequência na caracterização dos sais: reduzido grau de cristalinidade, diversos graus de solvatação, hidratação, higroscopicidade e instabilidade devido a um pH desfavorável perto do cristal. Já os pró-fármacos podem ser formados a partir de qualquer molécula orgânica que possua um grupo funcional quimicamente reativo. Eles são derivados sintéticos de fármacos que possuem ação farmacológica própria, mas que precisam ser submetidos a uma transformação in vivo para liberar a substância ativa (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Os pró-fármacos podem também superar barreiras que limitam o uso do fármaco, como: baixa solubilidade, sabor, irritação no local da aplicação, inadequada permeabilidade da barreira hemato-encefálica, baixa biodisponibilidade e extenso metabolismo pré-sistêmico (PEREIRA, 2007) Contudo, mesmo ocorrendo as alterações discutidas anteriormente, a forma molecular do fármaco em relação à sua forma inicial deve ter uma grande possibilidade de evoluir, com muito sucesso, através de um bom processo de desenvolvimento (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). A partir do momento que se seleciona uma forma molecular ótima do fármaco, dá-se início à fase de desenvolvimento de formulações. O objetivo dessa fase é a qualificação das propriedades físicas e químicas, tendo a formulação um desenvolvimento estável, seguro e eficaz para se obter uma biodisponibilidade máxima do fármaco (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). 2.2. CARACTERIZAÇÃO DO GRANEL 2.2.1. POLIFORMISMO
U
m importante fator na formulação é o polimorfismo. O polimorfo é um material sólido com ao menos dois diferentes arranjos moleculares, que resultam em espécies cristalinas distintas com relevante importância na estabilidade relativa e solubilidade. A solubilidade, o ponto de fusão, a densidade, a forma cristalina e as propriedades ópticas e elétricas, e também a pressão de vapor, são bastante diferentes para cada polimorfo (AULTON, 2005). Estima-se que pelo menos um por cento de todos os compostos tenham polimorfismo. Além de formas polimórficas podem aparecer formas não-cristalinas ou amorfas, sendo estas mais solúveis do que o seu correspondente na forma cristalina. As caracterizações da estrutura cristalina, dos polimorfos e formas solvatadas são importantes atividades da fase de pré-formulação, podendo influenciar na biodisponibilidade, na estabilidade química e física do fármaco e também da fase de preparação da forma farmacêutica ideal (ANSEL; JUNIOR; POPOVICH, 2007). Várias técnicas são utilizadas para a caracterização dos polimorfos na forma sólida durante a fase de pré-formulação, podendo ser destacadas: técnicas de microscopias, análises térmicas, de espectroscopias e difração de raios X (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRISTALOGRAFIA, 2008). A análise microscópica da substância ativa é responsável por indicar o tamanho da partícula e distribuição granulométrica da matéria-prima, bem como a estrutura do cristal. Através de fotomicrografias de amostras é possível obter informações sobre alterações das características das partículas ou do cristal. Partículas ovais ou esféricas fluem mais facilmente do que aquelas em forma de agulhas, tornando mais fácil a sua preparação (ANSEL; JUNIOR; POPOVICH, 2007).
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Mas a técnica mais adequada para diferenciar formas polimórficas é a técnica de difração de raios X por pó e monocristal. Nesse tipo de experimento podem-se distinguir com exatidão os diferentes arranjos dos átomos nos sólidos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRISTALOGRAFIA, 2008). A possibilidade da manipulação da bioeficácia dos fármacos por meio do polimorfismo, através das inúmeras propriedades físicas e químicas afetadas pelo polimorfismo nos sólidos, oferecem uma gama de oportunidades aos cientistas farmacêuticos no que diz respeito ao desenvolvimento de novos fármacos. Com isso, o polimorfismo tem contribuído largamente para a variedade de produtos na indústria farmacêutica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRISTALOGRAFIA, 2008). Para que se tenha a produção de um novo fármaco e seu lançamento no mercado, é de fundamental importância a aquisição de informações sobre a existência de formas sólidas e sua influência na qualidade e desempenho do produto. Realiza-se um controle maior da forma cristalina do fármaco, com ênfase na caracterização e controle da forma sólida durante todo o processo e utilização do medicamento proposto. Surge a partir desse ponto o interesse de regulamentar todas as etapas de desenvolvimento e produção do fármaco para que o produto possa ser aprovado (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRISTALOGRAFIA, 2008). 2.2.2. HIGROSCOPIA
M
uitos fármacos que se encontram na forma de sal são solúveis em água e têm tendência para adsorver umidade atmosférica. Outras substâncias adsorvem água por formação de hidratos com locais de adsorção bem definidos. Tratando-se de materiais higroscópicos, o nível de umidade pode influenciar e muito em parâmetros como estabilidade química, o escoamento e compatibilidade (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Uma substância que adsorve umidade da atmosfera suficiente para se dissolver é dita como deliquescente e outra substância que perde água para formar hidrato inferior ou anidra é chamada eflorescente. Já materiais não afetados pela umidade relativa são denominados não-higroscópicos, enquanto os com equilíbrio dinâmico com a água são por sua vez chamados de higroscópicos. Estudos de pré-formulação e de combinações potenciais de excipientes de um fármaco, devem fornecer a base para formulações mais estáveis e oferecer uma escolha mais ampla, flexível e barata de acondicionamento, ao mesmo tempo em que ainda deve reduzir qualquer instabilidade hidrofílica devido à absorção de umidade livre (AULTON, 2005). 2.2.3. CARACTERIZAÇÃO DE PARTÍCULAS
O
s tamanhos das partículas podem afetar certas propriedades físicas e químicas, como a velocidade de dissolução, biodisponibilidade, uniformidade de conteúdo, sabor, cor, estabilidade, características de fluxo e velocidade de sedimentação. O tamanho da partícula do fármaco deve ser definido o mais rápido possível, pois pode influenciar na formulação e na eficácia terapêutica. Sem esquecer que o tamanho da partícula influencia diretamente nos perfis de absorção oral de certos fármacos. A obtenção de uniformidade de conteúdo nas formas sólidas depende, geralmente, do tamanho da partícula e da homogeneidade da distribuição da substância ativa por toda a formulação (ANSEL; POPOVICH; JUNIOR, 2007). Geralmente, um novo fármaco é testado na fase de pré-formulação utilizando partículas do mesmo tamanho, pois se torna prático por facilitar a preparação de
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amostras homogêneas e maximizar a área superficial do fármaco de forma que as interações possam ocorrer. Um histograma para ser elaborado deve contar com algumas centenas de partículas permitindo, assim, calcular um valor médio e agrupar os resultados em intervalos de classes. Equipamentos mais modernos de microscopia de varredura permitem também fazer espectroscopia de raios X dos íons existentes à superfície do material, sendo muito útil para detectar um problema de instabilidade do mesmo ou de incompatibilidade (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Pequenas partículas são de especial importância em candidatos a fármacos com baixa dosagem e alta potência, uma vez que uma grande população de partículas é necessária para assegurar uma homogeneidade de mistura. A velocidade de dissolução é diretamente proporcional à área superficial. A tamisação é inadequada na fase de pré-formulação devido à grande perda de material bruto, já o contador Coulter (um método de condutividade baseado no deslocamento de eletrólitos à medida que a amostra é conduzida por um pequeno orifício) e o espalhamento de luz são amplamente usados na análise de rotina e pesquisa do material bruto (AULTON, 2005). 2.2.4. DENSIDADE DO GRANEL
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densidade do granel é outro fator de relevante importância quando se considera o tamanho de um produto na forma de cápsula com uma dosagem elevada ou a homogeneidade de uma formulação com uma dose reduzida, em que existem grandes diferenças entre a densidade do fármaco e do excipiente. Para se calcular a densidade aparente são realizados cálculos para se ter como resultado a densidade batida. E deve-se também ter conhecimento sobre a densidade verdadeira de um pó, sendo conseguidos através de experimentos (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). O fluxo é muito importante quando se manuseia um fármaco em pó. Ele pode ser avaliado por medidas de densidade bruta e ângulo de repouso, que são úteis para determinar o impacto de alterações nas propriedades de pó de um fármaco. À medida que novos lotes são produzidos, as mudanças no tamanho e na forma de partículas são também bastante comuns (AULTON, 2005). 2.2.5. PROPRIEDADES DE ESCOAMENTO DOS PÓS
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s pós usados em Farmácia podem ser classificados genericamente como apresentando um escoamento livre ou serem coesivos (quando não escoam com facilidade). Um fármaco que apresente um escoamento fácil durante o processo de desenvolvimento pode ser tornar coesivo, implicando em mudanças na estratégia de desenvolvimento. Os estudos sobre o escoamento do pó devem permitir determinar quantitativamente as consequências farmacêuticas de cada melhoria do processo, podendo o grupo responsável pelo desenvolvimento recomendar que a formulação seja preparada na forma de granulação, compactação, ou simplesmente, descrever um protocolo para a avaliação das melhorias do escoamento devida a uma melhoria da formulação (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). 2.3. ANÁLISE DE SOLUBILIDADE 2.3.1. PERFIL DE SOLUBILIDADE DO FÁRMACO E CONSTANTE DE IONIZAÇÃO – pKa
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solubilidade por sua vez, tem grande importância nas propriedades físicoquímicas do fármaco, especialmente em sistemas aquosos. Um fármaco para ser eficaz deve ter um mínimo de solubilidade, para entrar na circulação sistêmica e exercer o efeito terapêutico esperado. Quando uma substância ativa possui uma solubilidade menor que a desejada, deve-se lançar mão de procedimentos para aumentá-la. Os métodos empregados vão depender da natureza química do fármaco e do tipo de medicamento em estudo. A modificação química do fármaco em forma de sal ou éster é frequentemente usada para aumentar a solubilidade (ANSEL; POPOVICH; JUNIOR, 2007). Geralmente a disponibilidade de um fármaco é limitada, pois se tratando de um composto novo a qualidade é invariavelmente baixa, podendo apresentar um grande número de impurezas e com frequência aparecer cristais polimorfos metaestáveis. Com isso, devem ser determinados a solubilidade e o pKa (constante de dissociação). A solubilidade determina a facilidade do fármaco em dissolver no organismo e o pKa permite o uso adequado do pH para manter a solubilidade, e por conseguinte, escolher sais adequados para se atingir uma biodisponibilidade a partir do estado sólido, aumentando a estabilidade e as propriedades dos pós (AULTON, 2005). 2.3.2. DETERMINAÇÃO DE SOLUBILIDADE
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studos de solubilidade na fase de pré-formulação incidem sobre os sistemas fármaco-solvente, que podem ser utilizados na administração do fármaco. Os métodos analíticos que são amplamente usados para a determinação de solubilidade de um fármaco incluem a HPLC, o UV, a espectroscopia, a fluorescência ou a cromatografia gasosa. Na maioria dos fármacos, a HPLC de fase reversa proporciona uma forma eficiente de determinar os resultados de solubilidade. As vantagens são análise direta de amostras aquosas, a elevada sensibilidade e a determinação específica da concentração do fármaco por separação cromatográfica desde impurezas até produtos de degradação (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). A solubilidade intrínseca desempenha um importante papel na dissolução de um fármaco a partir da sua forma sólida. Tornando-se fundamental conhecer a solubilidade da substância ativa em diferentes solventes, sendo possível assim escolher adequados meios de dissolução para as formulações que os contenham (SILVA; VOLPATO, 2002). O aquecimento da solução representa o calor liberado, ou absorvido, quando um mole do soluto é dissolvido numa grande quantidade de solvente. Geralmente com o aumento da temperatura do fármaco, aumenta-se também a sua solubilidade (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). 2.3.3. COEFICIENTE DE PARTIÇÃO
A
medida do caráter lipofílico de uma molécula é dada pelo coeficiente de partição oléo-água, ou seja, resulta da preferência da molécula pela fase hidrofílica ou lipofílica. Segundo Lachman et al (2001), a determinação da lipofilia de um fármaco determina sua capacidade de atravessar a membrana celular. Através dele podem ser selecionados os solventes de extração apropriados, a estabilidade do fármaco, o uso de aditivos de salting-out e os aspectos relacionados ao meio. O coeficiente de partição é também utilizado no desenvolvimento da formulação (ANSEL; POPOVICH; JUNIOR, 2007).
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O coeficiente de partição possui aplicações importantes para a pré-formulação: 1. solubilidade: tanto em solventes aquosos quanto mistos; 2. adsorção de fármacos in vivo: aplicada a séries homólogas para relações estrutura-atividade; 3. cromatografia de partição: escolha da coluna (CLAE) ou da placa na cromatografia em camada delgada (CCD) e escolha da fase móvel (eluente) (AULTON, 2005). Embora os resultados do coeficiente de partição não permitem prever a absorção in vivo, constituem uma forma de caracterizar a natureza lipofílica ou hidrofílica de um fármaco. 2.3.4. DISSOLUÇÃO
A
dissolução de um fármaco é controlada por várias propriedades físico-químicas, incluindo a forma química, a forma do cristal, o tamanho da partícula, a solubilidade, a área superficial e a molhabilidade. Os resultados dos testes de solubilidade em conjunto com os resultados dos ensaios de dissolução ajudam a identificar área potencias onde podem surgir problemas com a biodisponibilidade do fármaco (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Os estudos de dissolução tornaram indispensáveis para várias etapas do desenvolvimento farmacotécnico dos medicamentos, permitindo com os resultados verificar a estabilidade das formulações. Na área de controle de qualidade e de produção de medicamentos os resultados do teste de dissolução podem ser usados para detectar possíveis desvios na fabricação, assegurar a uniformidade na produção de um lote e a reprodutibilidade de lote a lote. Os testes de dissolução podem também ser usados para avaliar as mudanças após o registro do medicamento e auxiliar na decisão de realizar os testes de biodisponibilidade e bioequivalência do fármaco (MARQUEZ, 2002 apud SOUZA et al, 2007). Durante a atividade biológica de um determinado fármaco pode haver variações ocasionadas pelas diferentes velocidades com que este se torna disponível no organismo. Quando a velocidade de dissolução é uma etapa limitante, qualquer fator que a afete afetará a sua absorção, que por conseguinte, afetará o início, a intensidade, a duração da resposta e a biodisponibilidade global do fármaco a partir da forma farmacêutica. Para se aumentar as velocidades de dissolução do medicamento em estudo existem algumas alternativas, como: redução do tamanho da partícula e aumento da sua solubilidade na camada de difusão. Mas o modo mais eficaz é usar um sal altamente solúvel em água da substância de origem (ANSEL; POPOVICH; JUNIOR, 2007). Existem dois métodos para se determinar a velocidade de dissolução: o método de superfície constante, responsável por fornecer a velocidade de dissolução intrínseca da substância, e o método da dissolução dos pós, no qual uma substância é suspensa em uma quantidade fixa de solvente, sem o controle exato da área superficial (ANSEL; POPOVICH; JUNIOR, 2007). 2.4. ANÁLISES DE ESTABILIDADE
A
avaliação de estabilidade química e física do fármaco puro é um dos passos mais importantes nos estudos de pré-formulação. Os estudos de estabilidades realizados durante essa fase são: estabilidade do sólido do fármaco,
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estabilidade da solução e estabilidade na presença de excipientes. Para o início dos estudos de estabilidade, o pesquisador deve ter um conhecimento profundo sobre a estrutura química do fármaco para antecipar possíveis reações de degradações (ANSEL; POPOVICH; JUNIOR, 2007). A estabilidade dos medicamentos depende de vários fatores ambientais como temperatura, umidade e luz e também têm relação com outros fatores ligados as propriedades físicas e químicas das substâncias ativas e os excipientes farmacêuticos, forma farmacêutica e sua composição. Esses estudos têm como finalidade determinar ou acompanhar o prazo de validade de produtos farmacêuticos (ANVISA, 2005). O estudo de estabilidade química só tem resultado significativo quando a amostragem é adequada e o método de desenvolvimento do doseamento seja específico permitindo quantificar não só o fármaco intacto, mas também os seus produtos de degradação (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). 2.4.1. ESTABILIDADE DE FORMULAÇÕES PARA ENSAIOS DE TOXICIDADE
O
s estudos de toxicidade têm como finalidade prevenir problemas de estabilidade e homogeneidade. Geralmente o fármaco é administrado em animais na ração ou via oral em soluções aquosas. Vários fatores como alimentação, água, vitaminas, dentre outros, podem afetar significativamente na estabilidade do fármaco. As preparações usadas nos ensaios toxicológicos em solução ou suspensão são submetidas a testes quanto à facilidade de produção e depois armazenadas a diversas temperaturas para avaliar a estabilidade química, sendo também feitos teste de agitação ocasional a fim de se conhecer sobre a dispersibilidade do sedimento (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). A segurança de um produto farmacêutico é demarcada pela sua composição química conjuntamente com o conhecimento do seu mecanismo de ação farmacológico e seu potencial toxicológico, que irão auxiliar na descrição de possíveis consequências da exposição em diferentes dosagens. Do mesmo modo, são realizados estudos científicos, histórico de exposição e estudo de interações com outros componentes para enfim traçar o perfil completo de segurança do medicamento (LIRA; ZUCCO; NEGRÃO; SILVA; MURAKAMI, 2009). 2.4.2. ESTABILIDADE DE SOLUÇÕES EM FUNÇÃO DO pH
O
propósito dessa fase na pré-formulação é conhecer dentro das condições necessárias uma solução estável. Nestes estudos devem conter informações sobre a influência do pH, da força iônica, do co-solvente, da temperatura ou do oxigênio sobre a substância ativa. Os estudos de estabilidade da substância em solução têm início expondo as amostras a pH e temperaturas extremos, a fim de confirmar o decréscimo da sua ação. As amostras degradadas intencionalmente são úteis para confirmar a especificidade do doseamento, oferecendo estimativas das velocidades máximas de degradação das mesmas. Em paralelo, também é construído um perfil satisfatório da velocidade de degradação a diversos pHs, sendo possível identificar um pH de estabilidade máxima (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Fármacos fracamente básicos ou ácidos são mais solúveis quando ionizados, assim a instabilidade é mais provável para as espécies carregadas. Mas por outro lado, tem-se um problema, pois a maioria dos fármacos potentes são pouco solúveis, e a ionização mediante alteração de pH é o método mais fácil para se chegar a uma solução.
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Portanto, é necessária a adição de um solvente miscível em água na formulação, aumentando assim sua estabilidade em função de: supressão da ionização, redução do extremo de pH para de atingir a estabilidade, redução da atividade de água e por consequência reduzir a polaridade do solvente (AULTON, 2005). 2.4.3. ESTABILIDADE NO ESTADO SÓLIDO
C
onhecer profundamente as propriedades físicas no estado sólido de um novo fármaco e de seus excipientes é imprescindível, pois estas podem afetar drasticamente a estabilidade do produto acabado, quanto seu comportamento biológico (VILLA JATO, 2001 apud BRANDÃO, 2006). Os estudos de estabilidade do fármaco em estado sólido são importantes para averiguar as condições ideais de armazenamento da matéria-prima e também para identificar os excipientes mais compatíveis na formulação. As reações em estado sólido são mais difíceis e lentas de interpretar devido o número reduzido de pontos de contato entre as moléculas do fármaco e do excipiente e à ocorrência de reações multifase. Durante a fase de desenvolvimento podem ser necessários testes complementares como, cromatografia em camada delgada (TLC), fluorescência ou espectroscopia de UV/IV para traçar o perfil exato do aparecimento do produto de degradação e para estabelecer o prazo de validade, à temperatura ambiente (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). 2.4.4. COMPATIBILIDADE ENTRE ADJUVANTES
P
ara se chegar a uma fórmula farmacêutica estável e eficaz faz-se preciso uma seleção minuciosa dos excipientes que serão colocados na formulação para facilitar a administração, promover a liberação consistente e biodisponibilidade do fármaco e protegê-lo da degradação. O método utilizado para investigar e predizer quaisquer interações físico-químicas entre os componentes em uma formulação é a análise térmica, tida como fundamental para a seleção de adjuvantes adequados quimicamente compatíveis (AULTON, 2005). A análise térmica, também conhecida como calorimetria exploratória diferencial (DSC), consiste em medir a diferença de fluxo de calor entre uma substância a ser analisada e um material de referência em função de um programa de aquecimento ou resfriamento. Na indústria farmacêutica é usada para caracterização térmica, determinação de pureza dos fármacos, estudos de compatibilidade entre os constituintes da formulação e identificação de polimorfos. Trabalhos mais recentes estão relacionando diretamente a análise térmica com a qualidade do produto final, tanto pela eficácia terapêutica quanto pela estabilidade do produto durante o seu prazo de validade (OLIVEIRA; YOSHIDA; GOMES, 2011). Após ser determinada a estabilidade do fármaco a granel e a compatibilidade com os excipientes usados, é hora de testar a produção de uma forma farmacêutica sólida. O número de excipientes utilizados é reduzido, levando em consideração os resultados do estado sólido e dos perfis de estabilidade das soluções. Uma lista de excipientes é elaborada, bem como uma lista de formulações hipotéticas usando estes excipientes. Cada excipiente é misturado com o fármaco em proporções que estão de acordo com a forma farmacêutica final. Assim, para cada mistura é testada a estabilidade à temperatura elevada, inferior ao ponto de fusão dos ingredientes. Com os resultados desses estudos, obtém-se uma temperatura ideal que assegure a estabilidade do produto final (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001).
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2.4.5. BIOFARMÁCIA
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este campo são estudados todos os fatores fisiológicos e farmacêuticos que interferem na liberação do fármaco na forma farmacêutica e sua absorção pelo organismo. A administração de uma molécula ótima no local de ação depende de uma completa compreensão das interações entre as variáveis da formulação e variáveis biológicas (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Uma boa resposta terapêutica está relacionada à concentração do fármaco que alcançou o sítio de ação. Essa concentração, por sua vez, depende da dose administrada, de extensão da absorção, do alcance e velocidade do fármaco até o sítio de ação e da sua eliminação pelo organismo (ANSEL; POPOVICH; JUNIOR, 2007). Resultados significativos da absorção do fármaco para se ter valor técnico-científico só podem ser obtidos com experiências in vivo adequadas. Essa análise farmacocinética é responsável por quantificar a absorção, distribuição, metabolização e excreção do fármaco num organismo humano saudável (animal ou humano). Permite também a elaboração de hipóteses que podem ser testadas através de novas formulações e experiências (LACHMAN; LIEBERMAN; KANIG, 2001). Cada forma farmacêutica, de acordo com a sua via de administração, possui diferentes características fisiológicas. Assim, a via de administração e o adequado desenvolvimento do medicamento podem ter sua biodisponibilidade alterada, variando entre uma adsorção completa e rápida ou uma adsorção lenta e prolongada (VILLA JATO, 2001 apud BRANDÃO, 2006). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
través do presente trabalho foi possível conhecer mais detalhadamente sobre cada etapa da pré-formulação e compreender a particularidade da cada fase. Por exemplo, a fase de caracterização do granel, através dos vários estudos relacionados, apresenta como objetivo principal a completa caracterização física do novo fármaco, da molécula nova. Na análise de solubilidade são testados os solventes mais compatíveis com o fármaco, sem deixar de analisar também a dissolução aliada à sua biodisponibilidade. Já na análise de estabilidade todos os esforços durante o desenvolvimento dessa área são direcionados a um só intuito, que é chegar a uma formulação (fármaco+adjuvante) com o máximo de estabilidade, sem nenhum sinal de degradação. Por fim, e não menos importantes, são os estudos no campo da biofarmácia, que são responsáveis por averiguar como o novo fármaco se comporta no organismo, desde a via de administração até a sua eliminação pelo organismo. Essas análises são extremamente complexas e demoradas, o que muitas vezes limita o lançamento de novos produtos. Muitas empresas nacionais têm preferido, devido ao custo menor, registrar produtos similares ou genéricos, do que realizar o desenvolvimento de produtos de referência, que exigem uma fase de pré-formulação mais detalhada. No Brasil, o setor de genéricos atualmente conta com mais de 2.700 registros e 300 substâncias, correspondendo a 18,2% do mercado farmacêutico. Em 2011, pretende-se expandir para 33% a sua participação do mercado brasileiro. (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA, 2009).
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NOTA Este artigo foi apresentado originalmente como Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade Vale do Sapucaí, como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel, sob orientação da Prof.ª Ms. Cássia Maria Furlan.
A importância da pré-formulação para a indústria farmacêutica Dayane Francielle Carvalho Farmacêutica Generalista pela Universidade do Vale do Sapucaí Pouso Alegre, MG E-mail: dayanecarvalho85@hotmail.com
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Aproximação das gestantes com o atendimento das maternidades de referência Approximation of pregnat women with the attention of materhoods reference
Drielly Rocha de Faria¹, Kelle Vanessa Álvares Amaral¹, Weila Carla do Nascimento Moura¹, Queli Lisiane Castro Pereira² ¹Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso, membro do Projeto Sementinha ²Graduação em Enfermagem. Mestre em Enfermagem pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Especialista em Administração em Saúde Pública com Ênfase em Serviço. Membro Pesquisador do Grupo de estudo e pesquisa Gerenciamento Ecossistêmico em Enfermagem/Saúde (GEES). Docente do Curso de Enfermagem da UFMT/CUA Barra do Garças, MT E-mails: (1) driellydebom@hotmail.com; (2) kellealvares@gmail.com; (3) weila_carla@hotmail.com; (4) quelilisiane@terra.com.br _____________________________________________________________________ RESUMO A ação extensionista, projeto sementinha, busca a conscientização das gestantes sobre o prénatal. Para humanizar e desmistificar o trabalho de parto a mesma proporcionou as suas gestantes conhecer as maternidades de referência do município de Pontal do Araguaia-MT. Este trabalho objetiva relatar a experiência das gestantes nessas visitas. Foram realizadas duas visitas, a primeira à maternidade de Barra do Garças-MT e a segunda em Aragarças-GO. Esta ação permitiu o conhecimento sobre os medos e as expectativas para o processo de parturição, bem como demonstrar a importância da educação em saúde para a humanização do pré-natal. Palavras-Chave: Enfermagem materno-infantil; pré-natal; gravidez. ABSTRACT This paper presents an analysis of all the studies necessary for developing a new drug. They are called pre-formulation studies, whose main objective is to determine all the physical and chemical properties of drug development. The pre-formulation of a new drug composed of different stages and may be cited: optimizing the molecular characterization of the bulk analysis of solubility, stability and analysis of biopharmaceuticals. The pre-formulation studies are only possible within the pharmaceutical industry where it has a qualified technical team consisting of pharmacists and chemists together through specific knowledge of each area prepare a development plan. As a result the team makes a final dosage form of guaranteed quality, efficacy and safety. The entire process is documented by a report containing all the particulars of the new product in order to assist in the processes of registration and post-medication records. Keywords: Pre-formulation, optimization molecular, solubility, stability, biopharmaceuticals
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1. INTRODUÇÃO
A
ação extensionista, Projeto Sementinha, originou-se da perspectiva da educação problematizadora a partir da sensibilização de um grupo de acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem do Campus Universitário do Araguaia da Universidade Federal do Mato Grosso. Após os mesmos terem a oportunidade de confrontar o conhecimento teórico advindo da academia com a realidade a qual as gestantes, usuárias do serviço de saúde do município de Pontal do Araguaia- Mato Grosso (MT) estavam inseridas. A ação extensionista iniciou em 2008 com um grupo de dezesseis discentes, sendo uma bolsista, e quatro docentes, as atividades de campo iniciaram em 2009. A mulher grávida deve ser acolhida integralmente sem desconsiderar a sua história, pois estas gestantes esperam partilhar experiências e obter ajuda. Sendo assim, Brasil (2006) afirma que a assistência pré-natal torna-se um momento privilegiado para discutir e esclarecer questões que são únicas para cada mulher e seu parceiro. Conforme o mesmo autor a assistência à gestante deve ser realizada o mais precoce possível, ao recém-nascido na primeira semana após o parto e a consulta puerperal até o 42° dia pós-parto. A equipe executora do projeto sementinha tem como uma de suas premissas a escuta aberta, qualificada, sem julgamento nem preconceitos a fim de fortalecer a gestante no seu caminho até o parto e, ajudá-la a construir o conhecimento próprio, contribuir para que o parto e o nascimento transcorram de forma tranquila e saudável. No decorrer da ação buscou-se ampliar a sensibilização e conscientização das gestantes para a realização do pré-natal, mobilizando-as para o comprometimento compartilhado com suas famílias com o propósito de aderir ao atual modelo de promoção da saúde. Segundo Brasil (2002), esse modelo de saúde envolve a capacitação das pessoas e comunidades para modificarem os determinantes de saúde em beneficio da própria qualidade de vida. O grupo executou as seguintes ações promotoras de saúde, a saber sensibilização e cadastramento, visitas domiciliares, monitorização das ações mínimas preconizadas pelo programa de humanização do parto e nascimento e a visita à maternidade de referência. Para humanizar e desmistificar as fases do trabalho de parto o “Projeto Sementinha” proporcionou as suas gestantes, moradoras do município do Pontal do Araguaia - MT, conhecer as maternidades de Barra do Garças - MT e Aragarças - Goiás (GO) além da equipe que presta assistência nas referidas unidades, a fim de que as gestantes se sentissem mais seguras e colaborativas no transcorrer de sua internação, por ocasião do parto. Essas unidades hospitalares foram as escolhidas para realização da visita, pois as mesmas são unidades de referência das gestantes do município de Pontal do Araguaia - MT, pois o referido município não possui hospital. Segundo Brasil (2001), embora a hospitalização seja responsável por boa parte da queda da mortalidade materna e neonatal, ao trazer mais conveniência e possibilidades de assepsia à equipe de saúde, tornou o cuidado à mulher, no momento do parto, foco de grande medicalização. Por outro lado, o cenário do nascimento modificou-se apenas ligeiramente, permanecendo quase desconhecido às parturientes, por isso, amedrontador. A visita à maternidade de referência tem por meta propor às gestantes, num dado período de suas gestações aproximação com a maternidade e profissionais de saúde, tendo como temática principal o parto, que é uma experiência profunda e marcante na vida de uma mulher.
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Com base nos resultados alcançados, objetiva-se nesse texto, relatar a experiência da visita das gestantes do projeto sementinha às maternidades de referência de Pontal do Araguaia – MT. 2. METODOLOGIA
A
visita às maternidades foi realizada no primeiro semestre de 2010 após o envio de ofícios à gerencia de enfermagem e direção dos hospitais a fim de agendar a visita e solicitar a disponibilização de um profissional para recepcionar e apresentar a maternidade às gestantes da ação extensionista. A universidade disponibilizou um micro-ônibus para o transporte das gestantes e das duas extensionistas que monitoraram a visita, sendo uma bolsista do projeto. Durante as visitas domiciliares rotineiras do projeto de extensão todas as gestantes foram comunicadas, dando maior enfoque as do último trimestre devido à proximidade do parto, sobre a visita às maternidades de referência na qual teriam a oportunidade de sanar suas dúvidas referentes ao parto e a própria rotina hospitalar. Sendo assim, foram marcados dia e horário em que elas deveriam comparecer na Unidade de Saúde da Família (USF) onde faziam o acompanhamento de pré-natal para que o micro-ônibus pudesse buscá-las e levá-las à maternidade. A visita ocorreu em dois dias consecutivos nas duas maternidades. No primeiro dia, a visita foi na maternidade do hospital Dr. Kleide Coelho Lima em Barra do Garças-MT no período matutino, sendo esta preparada para assistir uma demanda maior ao da maternidade do Hospital Regional Getúlio Vargas em Aragarças-GO. Das vinte e sete gestantes participantes da ação extensionista, seis optaram por participar das visitas. No primeiro dia compareceram cinco gestantes, entre estas apenas uma já tinha filhos, sendo o perfil das mulheres participantes composto, principalmente, por primigestas. Momentos antes de iniciar a visita, as gestantes receberam orientações no intuito de informá-las a respeito da programação da visita e prepará-las para adentrarem de forma segura no ambiente hospitalar, que se configurava como novo para a maioria das participantes. Ao chegar ao hospital, o grupo de gestantes passou pela recepção onde foram recebidas e identificadas por funcionários da mesma, para facilitar essa interação inicial, no dia anterior, as extensionistas foram à unidade e lembraram os funcionários da atividade agendada e seu propósito, os quais já haviam sido comunicados previamente. Posteriormente, o grupo foi dirigido ao posto de enfermagem da maternidade, no qual foi recebido por uma técnica em enfermagem, que o acolheu com bastante simpatia e atenção. A técnica de enfermagem se prontificou a guiá-las, explicando com clareza e em linguagem acessível a dinâmica de funcionamento da maternidade e as suas funções . A visita teve o seguinte itinerário: recepção, sala de exame, enfermaria (alojamento conjunto), pré-parto, sala de parto e berçário. A visita guiada durou em torno de uma hora. 3. A VISITA
A
princípio a profissional de saúde que se propôs a acompanhar apresentou-se ao grupo, explicou que estava de plantão e era recém vinda de outro setor, pois os profissionais faziam rodízio entre os setores do hospital. A expressão das gestantes era de curiosidade e ansiedade em conhecer as demais secções da unidade, evidenciada por dedos na boca e balançar de pernas inquietas. Em seguida, a técnica mostrou um prontuário em branco e em breves palavras explicou qual a função do mesmo e o que preencheria em relação a elas na data de admissão e nos
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FARIA, D.R.; AMARAL, K.V.A.; MOURA, W.C.N.; PEREIRA, Q.L.C. Aproximação das gestantes com o atendimento das maternidades de referência. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 21-29, out.-nov., 2011
dias subsequentes. Utilizou um prontuário preenchido, anteriormente, preservando a identidade da puérpera foliando os exames como ultrassonografia, glicemia, ABO, RH, entre outros. Explicou a importância de se registrar esses dados no intuito de saber mais sobre a situação da gestante e assim direcionar o plano de cuidados específicos às necessidades da mesma. Durante a breve explanação o balançar de cabeças de forma positiva (para cima e para baixo), demonstrava que as informações dadas eram absorvidas e compreendidas. A sala de exames foi o próximo destino do grupo, no qual a técnica explicou alguns procedimentos e materiais utilizados para ausculta dos batimentos cardíacos do feto, ultrassonografia, pesagem, entre outros. Devido o espaço ser bem pequeno e estar desorganizado, com fichas amontoadas sobre a mesa, maca com espuma à mostra, pode-se notar a expressão de desaprovação do local por todas as gestantes, mas nenhum questionamento foi emitido por elas. Logo após, o grupo conheceu a sala de pré- parto, nela as gestantes tiveram contato com parturientes. Havia três leitos, mas somente duas parturientes e ambas preparadas para parto cesáreo. Chegando a sala a profissional que as acompanhavam e as extensionistas explicaram a dinâmica do local e a importância da preparação antes do parto, como a realização da tricotomia e do banho caso necessário e o vestuário leve. Os procedimentos de rotina como, acompanhamento dos sinais vitais, monitorização da dinâmica uterina com ausculta fetal, palpação uterina, entre outros foram explanados. Em seguida, foi aberto espaço para indagações e devido as parturientes estarem em estado emocional tranquilo e dispostas a conversarem o grupo direcionou perguntas a elas em relação ao tempo que estavam ali, se era seu primeiro parto, idade, se sentiam dor e a quanto tempo haviam começado. Ambas eram adolescentes de 15 e 17 anos, primigestas, acompanhadas de suas respectivas mães. A primeira queixava-se de dores esporádicas que iniciaram na madrugada anterior e enjoos. Diante das afirmativas, o grupo demonstrou a princípio bastante satisfação e tranquilidade. No entanto viu-se instalar sentimento de medo e apreensão quando uma das gestantes do grupo viu uma mancha de sangue sobre o lençol de um dos leitos, questionando a origem do mesmo, evidenciou-se a preocupação em sua face. Diante ao questionamento, as parturientes se prontificaram a explicar de forma simples e informal, disseram que foi devido a uma punção venosa que se soltou. Porém a expressão da gestante não mudou muito, mostrando inquietação diante do cenário que se encontrava. A sala de parto não pode ser visitada, pois na ocasião acabara de ter ocorrido um parto e a sala ainda estava sendo ocupada. As gestantes do projeto sementinha viram a sala a partir da janela de comunicação com o berçário. Em seguida, conheceram o berçário da unidade, no momento da visita estavam sendo realizados os cuidados mediatos a um recém-nascido. As extensionistas explicaram os procedimentos, mensuração de tamanho, peso, banho, entre outros. O grupo tinha expressão de curiosidade, satisfação e encantamento pelo que viam. Segundo Gualda (2002), as expectativas e sentimentos de primíparas acerca do seu filho se baseiam em suas ideias de bebê ideal, nos seus conflitos edípicos ou na sua história pessoal, além disso, esses sentimentos são permeados mais por fatores que elas imaginam do que por experiências que vivenciaram. A visita durou em torno de uma hora. No término da mesma, o micro-ônibus levou às gestantes à USF. Durante a viagem de retorno, as mulheres fizeram comentários positivos em relação à visita, principalmente do último local (berçário), onde o encantamento tomou conta das mesmas. Questionadas pela extensionistas se haviam gostado da experiência, a afirmativa positiva foi unânime, demonstraram-se mais tranquilas que na chegada.
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FARIA, D.R.; AMARAL, K.V.A.; MOURA, W.C.N.; PEREIRA, Q.L.C. Aproximação das gestantes com o atendimento das maternidades de referência. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 21-29, out.-nov., 2011
A visita à maternidade do hospital Municipal de Aragarças- GO desenvolveu-se da mesma forma que a anterior, no período matutino, as gestantes embarcaram em um local previamente estabelecido e transportadas ao hospital. Nesta etapa participaram duas gestantes, sendo que uma destas havia visitado, no dia anterior, a maternidade do Hospital Dra. Kleide Coelho de Barra do Garças - MT. Ao chegar ao hospital, uma técnica em enfermagem, previamente informada sobre a visita, nos recepcionou e conduziu a visita à maternidade explanando sobre a operacionalização dos diversos locais da maternidade de forma acolhedora, tranquila e harmoniosa. O primeiro local foi o berçário, que apesar de vazio no momento da visita, foi possível explicar às gestantes sobre o funcionamento do mesmo, demonstrando passo a passo os cuidados realizados ao recém-nascido, as gestantes acompanhavam tudo com muita atenção, observando cada gesto que a técnica de enfermagem simulava sobre os procedimentos. Posteriormente, apresentou-se as enfermarias obstétricas, neste momento nos foi informado que havia várias enfermarias no hospital, porém visando a facilidade do processo de trabalho e também em razão do pequeno número de puérperas internadas, apenas uma enfermaria estava sendo utilizada no momento. Segundo a técnica, que conduzia a visita, as gestantes consideram a enfermaria comunitária positiva pelo fato de permitir uma maior interação entre as mesmas. No ato da visita, havia três puérperas internadas. Ao adentrar na enfermaria, foi explicado às pacientes sobre a visita que o grupo estava realizando, e essas foram bastante receptivas. Em um clima agradável, no qual se notou extrema generosidade por parte das puérperas em dividir aquela experiência tão marcante que viviam com as gestantes visitantes. Era nítido o entusiasmo do grupo. Essa interação também possibilitou as gestantes, participantes do projeto, amplo contato com os recémnascidos, observando a dedicação e cuidado destinados a cada um deles, principalmente ao assistirem uma amamentação. Foi importante também para o grupo conhecer a participação dos acompanhantes neste processo. Em seguida, foi apresentado a sala de recepção das gestantes, onde há a comunicação entre o centro cirúrgico e as enfermarias. Nessa hora as gestantes se entreolharam, evidenciando receio ao se falar em centro cirúrgico. A técnica ao perceber a angústia das primigestas, explicou que na hora do parto elas estarão cercadas por bons profissionais e que os tormentos e mitos vinculados ao parto são compensados com o nascimento do novo ser, a colocação da técnica amenizou a expressão de angustia das gestantes visitantes. O último local visitado pelas gestantes foi o posto de enfermagem, no qual ficam os prontuários e são manipuladas as medicações para as internas da maternidade e demais setores do hospital. Ao despedir-se do grupo a técnica o interrogou sobre a opinião do mesmo sobre a visita e à maternidade, e obteve resposta positiva das duas gestantes que afirmaram ter gostado bastante da visita. Uma das gestantes relatou que após conhecer a maternidade do hospital decidiu que gostaria que seu parto fosse realizado ali. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O
número de gestantes participantes da visita à maternidade do hospital Dr Kleide Coelho de Lima – MT foi superior ao da visita à maternidade do hospital municipal Getúlio Vargas - GO, apesar de terem sido orientadas no sentido da importância de conhecer a outra instituição promover um olhar comparativo e assim possibilitar uma escolha segura em relação ao local de parto. Esse número inferior de gestantes no segundo dia de visita ocorreu devido as mesmas se sentirem satisfeitas
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FARIA, D.R.; AMARAL, K.V.A.; MOURA, W.C.N.; PEREIRA, Q.L.C. Aproximação das gestantes com o atendimento das maternidades de referência. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 21-29, out.-nov., 2011
já na primeira visita alegando terem sanado suas curiosidades e dúvidas, e ainda, em razão da primeira maternidade ser melhor conceituada na visão popular. No entanto, uma das gestantes que visitou a maternidade de Aragarças modificou sua opinião a esse respeito, pois a mesma pretendia realizar o parto na maternidade do hospital Dr. Kleide Coelho de Lima e após conhecer as unidades e a equipe do hospital municipal Getúlio Vargas decidiu que seu parto iria ocorrer lá. As extensionista ficaram bastante satisfeitas com este resultado, pois as gestantes experienciaram as duas realidades e puderam construir e descontruir preconceitos. Uma delas até mudou sua opinião. As gestantes que se propuseram a participar da visita foram majoritariamente as primigestas, das seis gestantes que foram às visitas apenas uma havia passado por mais de uma gestação. Acredita-se que este fato tenha ocorrido pela grande expectativa que surge em relação ao primeiro parto, é a primeira vez que elas vão sentir, conhecer e conviver com a nova vida que se inicia. Durante toda a visita, em ambas as maternidades, a inexperiência e despreparo em lidar com as emoções e cuidados exigidos neste período fizeram com que despertasse a curiosidade em conhecer o cenário e procedimentos que seriam submetidas. Houve a possibilidade de comparar os sentimentos das primigestas em relação a que já estava na sétima gestação, pois esta mostrava sentimento de segurança, equilíbrio e experiência devido ao conhecimento prévio dos procedimentos que subseguem o parto e pós-parto, nos possibilitando uma melhor visão da importância de proporcionar a essas mulheres, primigestas, a possibilidade de visitar previamente o local de parto e os procedimentos que ocorrem durante esse período. De acordo com Faisal–Cury e Tedesco (2005), o período gestacional representa um momento único e especial para a mulher, significando uma vivência emocional repleta de particularidades em que a compreensão e adaptação a essa fase pode gerar alterações na esfera da sexualidade, do relacionamento interpessoal e no campo afetivo acarretando sentimentos como medo e insegurança, principalmente nas primigestas. Esses sentimentos de medo e insegurança puderam ser observados durante as visitas em decorrência de suas expressões faciais e de suas falas. No primeiro dia ao adentrar um dos quartos da maternidade e observar sobre o lençol de um dos leitos uma mancha de sangue, pode ser percebido a expressão de assombro nas gestantes, seguido de questionamento em relação a origem do sangramento, no entanto após esclarecimento, pode-se notar a tranquilidade imperar no ambiente. E com isso, mais uma vez percebeu-se o valor de uma explanação e orientação prévia para reduzir os efeitos gerados pelos sentimentos de insegurança às gestantes. Para estas mulheres, a expectativa de tornar-se mãe e as mudanças e desafios advindos com essa nova fase são potencialmente somados à angústia relacionada ao parto, culturalmente estigmatizado como bastante doloroso e traumatizante. Isto pode ser observado por meio da fala de uma das gestantes que ao ser questionada quanto a sua preferência ao tipo de parto afirmou que “Quando a mulher é cortada não presta mais.” Demostrando sua visão em relação ao parto cesáreo. Em discussões prévias com as gestantes notou-se que a preferência era por parto normal. Acredita-se que este fato deva-se ao alcance e mérito do projeto nas ações desenvolvidas na etapa de visita domiciliar na qual as orientações dadas visaram possibilitar às gestantes fazer uso de sua capacidade de optar livremente, com clareza e compreensão, a respeito do tipo de parto. Assim a aprendizagem processou-se através da dialogicidade, da discussão dos benefícios do parto natural ao parto cirúrgico. Segundo Gualda (2002), dar à luz uma criança nunca é simplesmente um ato fisiológico, pois o parto atravessa o tempo e a cultura de modo que toda sociedade
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dispõe de regras que regulam o nascimento e modificam a universalidade dos fatos fisiológicos, sendo que essas regras especificam o local apropriado para a ocorrência do parto, determinam as pessoas que o assistem, indicam o comportamento mais adequado da mulher no desenvolvimento do processo e a forma de reagir ao nascimento do bebê. Canella (1980) afirma que a evolução na área obstétrica tem-se baseado nos aspectos técnicos e que a mortalidade perinatal tem sido reduzida, porém as alterações emocionais produzidas nas gestantes, o significado que pode ter o parto para a parturiente e a influência do ambiente em sua evolução histórica tem sido negligenciada. Corrobando, Delfino et al (2004) afirma que as ações de saúde não propiciam um acolhimento às ansiedades, as queixas e temores associados culturalmente a gestação, em consequência, atendimento às gestantes é feita pelos profissionais de saúde de modo intervencionista, fazendo com que a assistência e as atividades educativas sejam fragmentadas, sem que a realidade da mulher gestante seja tratada na sua individualidade e integralidade. Nesse sentido, o profissional da saúde deve incorporar condutas acolhedoras desde a chegada da gestante na unidade de saúde, permitindo que ela expresse suas queixas, preocupações e angústias, buscando compreender os múltiplos significados da gestação para a mulher e sua família, pois o contexto de cada gestação é determinante para seu desenvolvimento como também para a relação que a mulher e a família estabelecerão com a criança. Um contexto favorável fortalece vínculos familiares essenciais para o desenvolvimento saudável do ser humano. O projeto também contribuiu com o serviço visto que na etapa de visita à maternidade, fez com que os profissionais identificassem as expectativas, os sentimentos, os medos e os anseios das gestantes acerca do processo de parturição, fazendo com que estes profissionais atuem de maneira mais acolhedora com as gestantes e suas famílias planejando e executando ações preventivas capazes de minimizar eventuais intercorrências que poderão afetar as interações do binômio bebê-família. De acordo com Brasil (2006) o motivo primordial da atenção pré-natal e puerperal é acolher a mulher desde o início da gravidez, garantindo no fim da gestação, o nascimento saudável e bem-estar do binômio mãe-filho. O acolhimento e a conduta dos profissionais da área de saúde nesse contexto são essenciais este teve seu ponto alto na segunda visita, pois este foi o diferencial para a escolha pela segunda maternidade por uma das gestantes, afirmando: “Gostei mais daqui, é bem limpinho e calmo, né?! Acho que quero ganhar aqui”. O ambiente tranquilo se torna favorável à escolha dessa gestante, no entanto o fator profissional de saúde tem um peso maior, pois esse é o que conduz todos os procedimentos e devido as suas atitudes tem a capacidade de promover sentimentos de segurança pelo modo de agir e pelas condutas tomadas. 5. CONCLUSÃO
E
sta etapa do projeto sementinha é muito gratificante, pois, consegue-se acolher cada gestante esclarecendo dúvidas, quebrando tabus e amenizando ansiedade, angustia, insegurança entre outros sentimentos, proporcionando uma visão de parto humanizado. Por meio do contato direto com as maternidades de referência e com os profissionais que atuam nas mesmas, pode-se proporcionar um maior conhecimento acerca do tema, assim como, permitiu que as gestantes se sentissem mais seguras em relação
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FARIA, D.R.; AMARAL, K.V.A.; MOURA, W.C.N.; PEREIRA, Q.L.C. Aproximação das gestantes com o atendimento das maternidades de referência. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 21-29, out.-nov., 2011
ao momento do parto, fazendo com que as participantes deixassem de entender a maternidade como local desconhecido e amedrontador para vê-la como local de acolhimento e comprometimento com a assistência oferecida à parturiente, puérpera e ao recém-nascido. Esta ação extensionista permitiu atrelar a teoria à prática corroborando para o aprimoramento do conhecimento dos acadêmicos integrantes do projeto. Acredita-se que a grande relevância desta experiência para os extensionistas consiste no despertar para atitudes de investigação, preocupação, zelo e senso crítico para ultrapassar o singelo pensar tecnicista, possibilitando ampla visão de uma assistência humanizada. A visita às maternidades representou para os serviços de saúde a oportunidade de resgate de ações humanísticas, de solidariedade, de empatia e de compromisso nas assistências prestadas. Contribuindo para a melhoria da qualidade no atendimento nessas maternidades. O parto humanizado deve ser adotado como uma prática comum no ambiente hospitalar, e cabe aos profissionais de saúde, especialmente a equipe de enfermagem, proporcionar práticas em saúde alicerçadas na compreensão da complexidade que a gestação e parto representam para cada mulher, respeitando as expectativas e preocupações das mesmas. Diante da satisfação das gestantes e do êxito desta proposta, sugere-se que os gerentes das USF ou os responsáveis pela politica da saúde da mulher articulem visitas às maternidades a fim de promover uma assistência mais humanizada e acolhedora às gestantes.
REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Pré-natal e puerpério atenção qualificada e humanizada. Manual Técnico. Brasília, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticos de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
DELFINO, M. R. R; PATRÍCIO, Z. M.; MARTINS, A. S.; SILVÉRIO, M. R. O processo de cuidar participante com um grupo de gestantes: repercussões na saúde integral e individual-coletiva. Revista Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 9, n. 4, out./dez. 2004, p. 1057-1066. FAISAL–CURY, A.; TEDESCO J.J.A. Características Psicológicas da Primigestação. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 3, set./dez. 2005, p. 383-391.
BRASIL. Ministério da Saúde. GUALDA, D.M.R. Eu conheço minha Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As natureza: a expressão cultural do Cartas da Promoção da Saúde. parto. Curitiba: Ed. Maio, 2002. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. _____________________________________________________________________
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FARIA, D.R.; AMARAL, K.V.A.; MOURA, W.C.N.; PEREIRA, Q.L.C. Aproximação das gestantes com o atendimento das maternidades de referência. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 21-29, out.-nov., 2011
Aproximação das gestantes com o atendimento das maternidades de referência Drielly Rocha de Faria¹, Kelle Vanessa Álvares Amaral¹, Weila Carla do Nascimento Moura¹, Queli Lisiane Castro Pereira² ¹Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso, membro do Projeto Sementinha ²Graduação em Enfermagem. Mestre em Enfermagem pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Especialista em Administração em Saúde Pública com Ênfase em Serviço. Membro Pesquisador do Grupo de estudo e pesquisa Gerenciamento Ecossistêmico em Enfermagem/Saúde (GEES). Docente do Curso de Enfermagem da UFMT/CUA Barra do Garças, MT E-mails: (1) driellydebom@hotmail.com; (2) kellealvares@gmail.com; (3) weila_carla@hotmail.com; (4) quelilisiane@terra.com.br
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SOARES, R.F. Logística Reversa – Estudo de Caso sobre o Recolhimento de computadores e periféricos para reutilização ou reciclagem na cidade de Santo Antônio de Pádua – RJ. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 30-39, out.-nov., 2011
Logística Reversa – Estudo de Caso sobre o Recolhimento de computadores e periféricos para reutilização ou reciclagem na cidade de Santo Antônio de Pádua – RJ Rodrigo Faria Soares Graduação em Administração pela UFRRJ Santo Antônio de Pádua, RJ E-mail: rodrivaldo@bol.com.br
RESUMO Este trabalho tem como objetivo analisar a Logística Reversa para equipamentos eletrônicos como mecanismo legal, imposto pela Lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e mecanismo social, sendo responsável pela coleta, reuso e reciclagem de computadores e seus periféricos. Portanto, a Logística Reversa passa a fazer parte obrigatória e indispensável no planejamento de muitas empresas, que devem buscar meios para integrar em seus canais de suprimentos o abastecimento do mercado e o recolhimento de embalagens e/ou produtos ao fim de suas vidas úteis. Utilizamos como fonte de pesquisa um questionário realizado com os proprietários de três empresas varejistas que comercializam computadores, Milla Computadores, Progitar Informática e Micro Med Informática, entre os dias 20/09/2010 e 25/09/2010, com perguntas semiestruturadas com o intuito de levantar o conhecimento sobre a legislação em questão, o volume de equipamentos vendidos, consertados, recolhidos e qual o destino aplicado aos produtos ao fim de suas vidas úteis. Através deste estudo, foi observado que as empresas ainda não estão preparadas para a imposição legal imposta e nem para fatores sociais ao utilizar a Logística Reversa como importante mecanismo para a diminuição de resíduos eletrônicos depositados na natureza. Entre os fatores que contribuem para a não efetividade da Logística Reversa podemos destacar a falta de destinação correta por parte dos fabricantes, as poucas empresas que trabalham na captação e reciclagem desse tipo de material e, principalmente, a desconfiança dos consumidores, pois acreditam que as empresas estão obtendo lucro com os equipamentos entregues. Palavras-chave: Logística reversa; lixo eletrônico; reciclagem; reuso.
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SOARES, R.F. Logística Reversa – Estudo de Caso sobre o Recolhimento de computadores e periféricos para reutilização ou reciclagem na cidade de Santo Antônio de Pádua – RJ. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 30-39, out.-nov., 2011
INTRODUÇÃO
D
esde as primeiras formas de comércio praticadas pelo ser humano até as grandes distribuições ocorridas de maneira global no mundo de hoje, vê-se a capacidade humana de propiciar maneiras de disponibilizar seus produtos e/ou serviços a pessoas e a locais diferentes. Devido a essa necessidade foi desenvolvida a logística, que tem por conceito a distribuição no prazo certo, na quantidade exata e de maneira satisfatória a seus usuários. O mundo se desenvolve e com ele a logística, isso faz com que as empresas invistam em mecanismos para alcançar consumidores nas partes mais isoladas do globo, no entanto, poucas empresas se preocupavam com o destino final dos produtos e/ou embalagens que não teriam mais utilidade. Até pouco tempo tínhamos uma quantidade muito pequena de empresas que buscavam o retorno de seus produtos ou embalagens e geralmente só as faziam em benefício próprio, como as distribuidoras de gás de cozinha e distribuidoras de bebidas que fazem a troca de seus vasilhames. Devido à pressão ambiental e pela real necessidade de manter o planeta em condições saudáveis, surge então, um ramo dentro da logística com intuito de minimizar os impactos causados pelas empresas, esse ramo denomina-se Logística Reversa. O presente trabalho aborda a utilização da Logística Reversa na captação de equipamentos de informática, o que consiste no retorno de produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição de resíduos, reforma, reparação. Seu intuito é obter dados de quanto equipamento é comercializado, qual seu reaproveitamento e qual o destino final dos equipamentos inutilizados. Acredita-se que com o desenvolvimento de políticas de captação, todos os setores da sociedade serão beneficiados com a destinação correta dos produtos, uma vez que haverá a diminuição de matéria prima retirada da natureza e não ser acumulado lixo no meio ambiente. JUSTIFICATIVA
O
mundo vive em uma fase onde a cada dia são desenvolvidas novas tecnologias e novos produtos para atenderem a milhares de consumidores que buscam sempre por equipamentos mais sofisticados. São celulares, computadores, mp4 e muitos outros equipamentos eletrônicos com uma infinidade de marcas e modelos. Devido à quantidade de produtos lançados a cada dia e pela falta de meios para recolhimento desses produtos quando esses têm suas vidas produtivas encerradas, gera uma quantidade imensa de produtos que serão na sua maioria, descartados na natureza sem nenhuma forma de aproveitamento. A importância desse trabalho deve-se a Logística Reversa sancionada pela lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e por sua natureza social, pois sua aplicação poderá levar as empresas, Milla Computadores, Progitar Informática e Micro Med Informática a gerarem políticas para coleta, desmontagem e reciclagem desses equipamentos. Aliado a isso, possivelmente, pode vir a contribuir como elemento de conscientização da população e fonte de pesquisa para empresas e usuários interessados no assunto.
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SOARES, R.F. Logística Reversa – Estudo de Caso sobre o Recolhimento de computadores e periféricos para reutilização ou reciclagem na cidade de Santo Antônio de Pádua – RJ. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 30-39, out.-nov., 2011
OBJETIVOS
I
dentificar como se da a Logística Reversa para o lixo eletrônico na cidade de Santo Antônio de Pádua-RJ, bem como apresentar o volume de equipamentos inseridos no mercado e sua forma de descarte, expor o quanto é produzido e o quanto é reaproveitado e recolhido e demonstrar as empresas em questão como adotar a Logística Reversa. METODOLOGIA
N
a metodologia, lançou-se mão de uma pesquisa realizada nas empresas Milla Computadores, Progitar Informática e Micro Med Informática, da cidade de Santo Antônio de Pádua-RJ, através de um questionário com perguntas semi estruturadas no período entre os dias 20/09/2010 e 25/09/2010. O critério de seleção foi a participação das empresas em questão na comercialização e reparo de computares e periféricos na cidade de Santo Antônio de Pádua-RJ. As entrevistas foram realizadas diretamente com os sócios-administradores de cada empresa, que se mostraram interessados pelo assunto e responderam ao questionário onde cada um dos questionados demorou em torno de 35 (trinta e cinco) minutos para responderem e conversarem sobre o tema. A amostra diz respeito a todas as empresas que comercializam computadores e seus periféricos na cidade de Santo Antônio de Pádua-RJ, excluíram-se da pesquisa os produtos adquiridos em outras localidades e por compra na internet. REVISÃO DA LITERATURA
A
logística pode ser considerada uma ferramenta muito antiga e fundamental para o ser humano. Leite (2010, p.2), afirma que sua principal missão é disponibilizar bens e serviços gerados por uma sociedade, nos locais, no tempo, nas quantidades e na qualidade em que são necessários aos consumidores. De fato essa é uma situação que ocorre desde o surgimento da necessidade de que os produtos produzidos chegassem aos consumidores. De acordo com Razzoni Filho e Berté (2009, p.22), “mesmo sendo uma atividade que surgida praticamente junto com o desenvolvimento comercial humano, a logística é uma disciplina nova, seu termo foi utilizado pela primeira vez pelo Barão de Jomini em 1838”. Segundo Romeiro (2003, p.4), com a Revolução Industrial, a capacidade da humanidade de intervir na natureza dá um salto colossal e que aumenta sem cessar. As empresas naquele momento utilizavam toda sua capacidade de produção para suprir as necessidades de consumo crescente sem se preocupar com questões ambientais e sustentabilidade. De acordo com Stock (1998), “a logística não tinha uma preocupação para o assunto de logística reversa, importando-se apenas com o que acontecia dentro da logística”. As empresas só davam importância a encaminhar seus produtos aos consumidores sem se importar com o destino das embalagens e os produtos propriamente ditos quando esses não lhes fossem mais necessários. O mundo passou por transformações e a preocupação com políticas de desenvolvimento sustentável passou a vigorar em praticamente todos os países e
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SOARES, R.F. Logística Reversa – Estudo de Caso sobre o Recolhimento de computadores e periféricos para reutilização ou reciclagem na cidade de Santo Antônio de Pádua – RJ. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 30-39, out.-nov., 2011
todas as empresas, e isso mudou a filosofia de produção, ficando inviável pensar somente no hoje e ignorando os reflexos posteriores, isso fica claro em Panayotou (1994, p.151), quando afirma que o desenvolvimento sustentável precisa beneficiar tanto a atual geração quanto as futuras. Isso levou as empresas a desenvolverem mecanismos para assegurar a preservação do planeta para as gerações vindouras. O Brasil deu um importante passo para preservação ambiental quando sancionou a Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e em seu artigo 3º parágrafo XII temos: Logística Reversa: é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).
Diante disso, a Logística Reversa passa a fazer parte obrigatória e indispensável no planejamento de muitas empresas, que devem buscar meios para integrar a seus canais de suprimentos além do abastecimento do mercado, o recolhimento de embalagens e/ou produtos desprovidos de utilidade na forma em que se apresentam. É recente a preocupação dessas disciplinas com relação aos canais de distribuição reversa, ou seja, as etapas, as formas e os meios em que uma parcela desses produtos com pouco uso, após a venda, com ciclo de vida ampliada ou após extinta a sua vida útil, retorna ao ciclo produtivo, onde negócios, readquirindo valor em mercados secundários pelo reuso ou pela reciclagem de seus materiais constituintes (LEITE, 2010. p. 4).
Segundo Kapoor e Kansal (2004, p. 2) temos a distribuição como um dos processos da logística responsável pela administração dos materiais a partir da saída do produto da linha de produção até a entrega do produto no destino final. Podemos por analogia dizer que no processo de logística reversa, acontece o inverso, os produtos saem do destino final retornando a origem, ou seja, parte dos consumidores para os fabricantes. Devido à natureza deste trabalho, o comércio varejista é o maior e mais importante canal de distribuição direto e indireto, por ser mais próximo ao consumidor. Também é nas lojas varejistas que os consumidores recorrem quando algo em suas transações não ocorre como o esperado, segundo Leite (2010, p.12), “por diversos motivos os consumidores finais devolvem ao varejista, produtos recém adquiridos e não consumidos, alegando diversos motivos”. É muito comum vermos consumidores arrependidos da compra, produtos com defeito de fabricação e outros fatores. Isso mostra que os consumidores têm uma relação muito próxima e íntima com o comércio varejista, e isso facilitaria o processo de captação de produtos nesse meio, pois na maioria dos casos eles são a ponte que liga as grandes marcas aos consumidores e vice-versa. A indústria de eletrônicos vem crescendo muito rapidamente conforme podemos analisar na tabela 1. Todo ano, de acordo com o Programa Ambiental das Nações
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SOARES, R.F. Logística Reversa – Estudo de Caso sobre o Recolhimento de computadores e periféricos para reutilização ou reciclagem na cidade de Santo Antônio de Pádua – RJ. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 30-39, out.-nov., 2011
Unidas, 20 a 50 milhões de toneladas de lixo de equipamento eletrônicos são gerados mundialmente (KUEHER & WILLIAMS, 2003). Tabela 1 – Dados de crescimento de eletrônicos no Brasil Produto 1994 2006 Unidades Computador 0,6 8,6 Milhões de unidades Telefone Celular 0,12 80 Milhões de unidades Lâmpadas de Hg ND 80 Milhões de unidades Fonte: Adaptado de (ABINEE, 2008)
O lixo eletrônico é um grande inimigo da natureza, pois, pode levar centenas de anos para se decompor e em alguns casos pode ser eterno, conforme pode ser analisado na tabela abaixo. Tabela 2 – Quanto tempo produtos eletrônicos levam para se decompor Categoria Produtos Descrição O vidro não é digerido pelas Vidro, espelhos, bactérias, não se deforma sob o calor Lixão Eterno garrafas, metais ou luz do sol, os metais pesados das pesados, baterias de eletrônicos não se computadores, vídeo- decompõem, carregando o meio game ambiente de poluição Vários tipos de plásticos levam mais Casca Grossa Plásticos super de cem anos para degradar, de resistentes, isopor acordo com o ambiente onde são depositados, o isopor nem dá para reciclar O alumínio que compõe as latas, Alumínio de latas, interior de embalagens longa-vida e a Longa Vida equipamento e película película espelhada dos CDs, pode de CDs levar até cem anos para ser incorporado na natureza Fonte: Adaptado pelo autor
A logística reversa é um excelente mecanismo para solucionar o crescente volume de lixo que é despejado na natureza, no entanto, Miguez (2010, p.37) nos diz que: “A logística reversa não pode ser encarada apenas como o recolhimento dos produtos, mas, sim, como o gerenciamento de todo o caminho que este produto percorre até o descarte adequado do mesmo”. Após a coleta de lixo urbano domiciliar, não havendo escoamento reverso formal e estruturado suficiente, qualitativa e quantitativamente, os materiais orgânicos e recicláveis, são depositados em lixões (LEITE, 2010, p. 68) Em Miguez (2010, p. 11), temos a definição de reuso como imediata revenda ou reutilização do produto. Esse destino deveria ser utilizado sempre que possível, pois sua utilização reduziria o volume de equipamentos depositados na natureza e serviria a outras pessoas e entidades que não tem condições financeiras de adquirir esses equipamentos. O problema do reuso, está na observação se os produtos realmente estão em condições de serem reutilizados plenamente ou por canibalização, pois muitos
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produtos são destinando ao reuso somente como justificativa para se livrarem dos equipamentos, que por muitas vezes acabam em lixões. Podemos entender o processo de como: Ações que têm por objetivo possibilitar a reutilização de materiais e produtos, de tal maneira a estender o seu ciclo de vida e reduzir os problemas ocasionados pelos depósitos de dejetos ou de emissão de substâncias poluentes (COVA, 2009, p. 93).
Tabela 3 – Volume de lixo que é produzido no país. Produto Milhões de Toneladas Alumínio 0,5 Vidro 7,5 Metal 8 Plástico 3,5 Resíduos Orgânicos 50 Papel 19,5 Fonte: (OLIVEIRA, 2008)
No Brasil, a reciclagem é uma questão a ser estudada e melhor definida. A figura abaixo fornece uma boa evidência da carência de estudos voltados para o setor, vê-se que o crescimento de todo o material reciclado que ocorreu no país é muito pequeno, inclusive, pode-se notar que nos últimos anos esse percentual praticamente estabilizou-se. Figura 1 – Total de lixo urbano reciclado no Brasil (em %)
Fonte: Adaptado de (CEMPRE, 2008)
De acordo com Donato (2008, p. 121), “No Brasil, 97% das cidades possuem lixões que são áreas destinadas ao armazenamento dos resíduos das cidades sem qualquer controle ambiental e de proteção à saúde humana....”. RESULTADOS
E
ste capítulo tem como objetivo analisar as informações obtidas nos questionários realizados nas micro-empresas varejistas de informática Milla Computadores, Progitar Informática e Micro Med Informática, situadas na cidade de Santo Antônio de Pádua-RJ.
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Tabela 4 – Informações gerais das empresas Empresas Tempo de funcionamento Quant. de funcionários Milla Computadores 20 anos 18 Progitar Informática 21 anos 11 Micro Med Informática 10 anos 12 Fonte: Elaboração própria com base nas entrevistas
A partir da pesquisa, observou-se que as empresas desconhecem a Lei que Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e sobre políticas empresariais para implantação de projetos de logística reversa, e que ainda não há planos para implantar políticas de captação de produtos usados. Esse é um dado a ser trabalhado para um futuro próximo, pois as empresas devem se preparar para cumprir as questões legais e também as sociais. Foi levantado o volume médio de computadores vendidos bem como uma estimativa de quantos desses computadores foram vendidos para substituir outros computadores, ou seja, o consumidor já possuía um computador e comprou outro, esses dados são demonstrados na tabela 5. Tabela 5 – Venda mensal de computadores e percentual por troca de equipamentos Empresas Venda Mensal de Percentual de troca de Computadores computadores Milla Computadores 50 20% Progitar Informática 12 67% Micro Med Informática 60 33% Fonte: Elaboração própria com base nas entrevistas
Usando as informações da tabela 5, pode-se concluir é considerável o volume de troca de equipamentos. A média percentual de computadores que são substituídos por outros, chega a 40% (quarenta por cento). Segundo Miguez (2010, p. 24), grande parte dos equipamentos está armazenada nas residências, pois os consumidores acreditam que estes aparelhos podem render algo e, também não sabem como descartá-los. Outro fator analisado demonstrado na tabela 6 foi à quantidade de equipamentos para reparo e quantos destes não conseguirão ser recuperados. Tabela 6 – Quantidade de computadores para reparo Empresas Computadores para Percentual sem reparo no mês recuperação Milla Computadores 80 25% Progitar Informática 5 10% Micro Med Informática 30 33% Fonte: Elaboração própria com base nas entrevistas
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Gráfico 1 – Destino dos equipamentos sem recuperação
Fonte: Elaboração própria com base nas entrevistas
A acima revela que a maior parte dos equipamentos sem recuperação são retornados ao cliente, o motivo dessa devolução segundo as empresas, é que o consumidor geralmente não confia no laudo que condenam determinado equipamento e buscam uma segunda opinião ou simplesmente acreditam que terão algum benefício com as peças retiradas. Também podemos ver que o restante dos equipamentos é destinado direta ou indiretamente ao lixo, pois as empresas informaram existir poucos locais especializados em reciclagem desse tipo de material e isso impede um melhor destino para eles. CONCLUSÕES
O
presente trabalho teve como intuído, apresentar a Logística Reversa e sua importância ambiental aplicados a produtos eletrônicos, no caso em particular computadores e periféricos.
Um fator importante a ser destacado, diz respeito à quantidade do crescimento de equipamentos eletrônicos, não é questionável a importância de tal crescimento para o desenvolvimento tecnológico e cultural do país, a grande questão foi à falta de planejamento de mecanismos adequados, qualitativamente e quantitativos para destinarem corretamente os produtos com vida útil encerrada. A aplicação do questionário revelou dados interessantes para futuros trabalhos e comparações, uma vez que o assunto é relativamente novo e é muito provável que em outras regiões do país a realidade seja muito próxima das informações obtidas. As empresas possuem total desconhecimento a respeito da Lei 12.305/10 e não existem planos para implantação da Logística Reversa em suas operações, mesmo sendo empresas que dominam o mercado na cidade, e possivelmente não se esforçarão para se adequarem. Portanto, à medida que haja força política e legal, no interesse da logística reversa há de se estabelecer mecanismos de aplicação da lei
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por parte dos governantes sob pena de cair no esquecimento e/ou status de "lei que não pegou". Os dados obtidos relevam que as empresas ainda não estão preparadas para aplicar a seus negócios qualquer mecanismo de captação, reutilização e reciclagem, isso é fato preocupante, pois a mudança de hábitos leva tempo e as empresas devem desenvolver políticas para se adequarem no que tange a legislação. É importante destacar que o Brasil dá um salto muito importante em questões ambientais com a promulgação da Lei 12.305 de agosto de 2010, é provável que muitos países desenvolvidos não detenham uma lei tão importante e atual sobre os aspectos tratados na lei. No entanto, não podemos somente nos ater a fatores ambientais e sociais, pois além das empresas se preocuparem com essas questões, elas devem buscar uma excelente saúde financeira, afinal o que uma empresa consciente deveria buscar é um equilíbrio entre o social, ambiental e financeiro. Como estamos em um mercado global e a concorrência vem de todos os lugares e os produtos são praticamente iguais quanto à funcionalidade e preços, as empresas devem investir em produtos e políticas empresariais diferenciadas, com instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os empresários passam a ter ferramentas de diferenciação empresarial ao utilizarem obrigações legais da lei, como coleta seletiva, uma disposição ambiental correta de seu lixo, entre outras maneiras, ou seja, as empresas estarão cumprindo seu dever legal e ainda poderão obter benefícios de imagem junto aos consumidores, pois é provável que mesmo obrigada e passível de punição legal, muitas empresas não cumpriram suas obrigações e continuarão a desrespeitar as questões ambientais. É imprescindível que o trabalho comece o mais rápido possível e também que haja planos a médio e longo prazo, uma sugestão que pode ser aplicada sem grandes complicações imediatamente ou em curto prazo, seria a implantação de estações de coletas e disponibilizar aos clientes informativos dos benefícios ecológicos da logística reversa. Um plano importante em médio prazo seria estabelecer parcerias com fornecedores, clientes e empresas de reciclagem para diminuírem o volume de equipamentos estocados e assim terem uma destinação mais eficiente e mais econômica. Diante do exposto, é preciso rever a situação de nosso lixo eletrônico e buscar meios onde os esforços do setor público, privado e da sociedade possam gerar benefícios a todos, em suas localidades.
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Rodrigo Faria Soares Graduação em Administração pela UFRRJ Santo Antônio de Pádua, RJ E-mail: rodrivaldo@bol.com.br
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Blog Inclusão Digital Clodoaldo Henrique Oliveira Tecnólogo em Internet e Redes de Computadores e Especialista em Tecnologia Digital Aplicada à Educação Uberlândia, MG E-mail: clodoaldo@uberlandia.mg.gov.br Prefeitura Municipal de Uberlândia/MG – Departamento Municipal de Água e Esgoto www.dmae.mg.gov.br _____________________________________________________________________ RESUMO O movimento de inclusão digital, promovido internamente pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) de Uberlândia, foi fomentado pela criação do blog no anseio de apresentar seus funcionários para a modernidade tecnológica. Concebido em 2008, o Blog do DMAE ficou entre os 10 melhores projetos indicados ao Prêmio de Excelência em Inovação na Gestão Pública, depois de avaliado por dez universidades brasileiras ligadas ao Conip. Palavras-chaves: DMAE, Uberlândia, blog, inclusão digital, alfabetização digital, informática educativa, tecnologia da informação, comunicação. ABSTRACT The movement for digital inclusion, promoted internally by the Municipal Department of Water and Sewerage (DMAE) in Uberlândia, was fostered by the creation of the blog in the desire to awaken their employees to modernity. Conceived in 2008, the blog DMAE was among the top 10 projects nominated for the Award for Excellence in Innovation in Public Management, evaluated after ten Conip linked to Brazilian universities. Keywords: DMAE, Uberlândia, blog, digital inclusion, digital literacy, computer education, information technology, communication.
_____________________________________________________________________ 1. INTRODUÇÃO
M
uito se tem discutido a respeito da necessidade de repensar as práticas educacionais, de forma que as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) sejam incorporadas ao processo de ensinoaprendizagem. No entanto, boa parte dos educadores ainda se pergunta como utilizar essas tecnologias sem incorrer no erro de apenas “maquiar” o ensino tradicional. Há seis anos, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) de Uberlândia abriu internamente uma Sala de Alfabetização de Adultos para valorizar e aumentar a auto-estima de seus funcionários. A intenção agora é oferecer a eles e aos demais servidores a oportunidade de uma educação digital, no sentido de reforçar as conquistas do DMAE em outras iniciativas organizacionais e de inserção de tecnologia. Em síntese, o projeto explora a utilização de uma das ferramentas mais populares da Internet, o blog, como estratégia de incentivo à colaboração entre os funcionários para resultar na melhoria da qualidade da prestação de serviços à comunidade. Por isso, a inclusão digital proposta pelo
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DMAE parte de dentro da organização para fora, sendo dirigida exclusivamente aos funcionários. Segundo referências em Usability por Jakob Nielsen, um dos grandes benefícios do uso do blog como ferramenta de construção de conteúdo na web é a facilidade com que as pessoas podem passar sua mensagem, enquanto o sistema lhe dá uma forma adequada, sem que elas precisem se preocupar com o design e sem criar uma centena de formatos incompatíveis de layout.
Outro ponto forte da utilização do blog como linguagem de expressão na web é a forma como os textos elaborados são sujeitos a um público mais amplo que oferece reforço positivo através de comentários, criando um laço de feedback que incentiva os bons conteúdos (seja de um ponto de vista pessoal ou do conjunto como interessa ao DMAE). A ideia do projeto surgiu após a realização de um diagnóstico feito pela Assessoria de Comunicação e Imprensa do DMAE, Juntamente à Diretoria Administrativa. A primeira tentativa de inclusão digital aconteceu em 2006, por meio de eventos internos que receberam o nome de "Café com DMAE”. Mas, a proposta não obteve o resultado esperado, porque poucos profissionais em cargo de Coordenação colaboraram para o desenvolvimento do projeto. Considerando este dificultador, o atual projeto de inclusão digital foi discutido internamente (com funcionários ligados às áreas de Tecnologia da Informação e Talentos Humanos) e externamente (com possíveis fornecedores). No início, envolveu a agência de publicidade ligada à Assessoria de Comunicação e Imprensa do DMAE que desenvolveu a aplicação e supervisionou os testes de usabilidade, design de página e linguagem visual, alinhada à identidade de governo. Concentrou-se o estudo na análise de um blog educacional, utilizado na interação de servidores, por entender que essa ferramenta pode contribuir de forma significativa para fazer esta interação. 2. BLOGS: DEFINIÇÃO, SURGIMENTO E EVOLUÇÃO
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ão muitas as definições encontradas na internet para blog. Sabe-se que o termo é uma abreviatura de weblog, original da língua inglesa, em que web corresponde à rede e blog, ao diário de bordo. Há muito, o blog vinha sendo definido como uma espécie de diário pessoal, disponibilizado eletronicamente e atualizado com certa freqüência pelo autor. No entanto, essa definição vem sendo ampliada, uma vez que o recurso tem evoluído muito desde sua criação, no final da década de 90. Abaixo uma definição mais completa, encontrada na Wikipedia¹: Um weblog, blog ou blogue é uma página da Web cujas atualizações (chamadas posts) são organizadas cronologicamente de forma inversa (como um diário). Estes posts podem ou não pertencer ao mesmo gênero de escrita, referir-se ao mesmo assunto ou ter sido escritos pela mesma pessoa. (...) As ferramentas abrangem: registro de informações relativas a um site ou domínio da internet quanto ao número de acessos, páginas visitadas, tempo gasto, de qual site ou página o visitante veio, para onde vai do site ou página atual e uma série de outras informações.
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Os sistemas de criação e edição de blogs são muito atrativos pelas facilidades que oferecem, pois dispensam o conhecimento de HTML, o que atrai pessoas a criá-los. (WIKIPEDIA, Jul. 2007).
John Barger, autor de um dos primeiros FAQs - Frequently Asked Questions foi o primeiro a conceber o termo weblog, em 1997, definindo-o como uma página da Web onde um diarista relata todas as outras páginas interessantes que encontra. Essa definição, no entanto, já não contempla as funções e os recursos dos blogs atuais. Para alguns autores, o primeiro blog, surgido no final dos anos 90, foi também o primeiro website: Os primeiros weblogs foram criados por pessoas com conhecimentos informáticos suficientes para gerarem páginas WWW uma vez que não existiam ainda disponíveis serviços automáticos de criação, gestão e alojamento de blogs com as características que hoje lhes conhecemos. Para alguns, Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web e criador do primeiro website é também considerado o criador do primeiro weblog (GOMES, 2005, p. 02).
Em 1999, o lançamento de vários softwares para automação e publicação de blogs, tornou o recurso fácil de ser criado e manuseado e o conhecimento tecnológico para a criação e a manutenção de uma ferramenta para publicação na Web passou a não ser mais um requisito. Depois disso, a blogosfera² cresceu em ritmo espantoso. De acordo com a Wikipedia (2007), “em 1999 o número de blogs era estimado em menos de cinqüenta; no final de 2000, a estimativa era de poucos milhares. Menos de três anos depois, os números saltaram para algo em torno de 2,5 a 4 milhões”. Os recursos disponíveis nos serviços de criação de Blogs também evoluíram com o passar dos anos. Além dos textos e imagens, já é possível disponibilizar nos blogs, arquivos de áudio e vídeo, o que enriqueceu e ampliou as possibilidades de uso da ferramenta. Atualmente, acredita-se que existam cerca de 70 milhões de blogs e que cerca de 120 mil são criados diariamente. 3. METODOLOGIA
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os 800 funcionários diretos da Autarquia, mais de 600 ocupam cargo operacional e a maioria deles não tinha acesso aos serviços de rede oferecidos pela Prefeitura de Uberlândia ou pelo próprio DMAE. Além disso, a Diretoria do DMAE faz investimentos constantes na inserção de novas tecnologias e na modernização de suas operações, a exemplo dos projetos de dosagem automática de produtos químicos, telemetria com automação e cadastramento de redes. A inclusão digital é uma forma de trazer os funcionários à nova realidade do DMAE, para que eles entendam o que significa trabalhar numa Autarquia com sistemas automatizados e com processos baseados na informação em tempo real. Diante desse cenário, um dos principais objetivos da inclusão digital é fomentar o trabalho de equipe, evidenciando a necessidade de garantir eficiência ao sistema de
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saneamento ambiental e qualidade na prestação de serviços à população. Por isso, o uso do blog está direcionado também para valorizar as boas iniciativas e despertar o interesse dos funcionários na realização de estudos e pesquisas em áreas afins ao saneamento. Para promover a inclusão digital com foco no trabalho de equipe, o projeto escolheu uma forma muito popular, que é o blog, na tentativa de capturar a atenção e a motivação dos funcionários e do público em geral. O blog oferece o apelo necessário para que os profissionais se organizem em equipes e se sintam à vontade para produzir, estudar e se tornarem incluídos digitalmente. Os servidores do DMAE inscritos, espontaneamente, no projeto de inclusão digital participaram de cursos e oficinas nos laboratórios de informática do Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacional (CEMEPE), que tem sido um parceiro fundamental no programa de alfabetização, realizado com os funcionários do DMAE, desde 2005. Inicialmente, os instrutores envolvidos no projeto abordam as noções básicas de informática, o uso do navegador e como pesquisar na Internet, para concluir com a publicação dos blogs coletivos (por grupo) ou individuais. Durante esse processo de construção das páginas web é que os servidores do DMAE são motivados a obter conhecimento, desenvolver sua criatividade e prestar um bom serviço à população. Com a conclusão do curso de Inclusão digital pelos servidores, percebemos que deveríamos continuar este aprendizado, então desenvolvemos outro projeto que foi a biblioteca informatizada onde transformamos um espaço onde servia apenas para empréstimo de livros, em um Telecentro, tornando assim a nossa biblioteca em uma sala de leitura e também um laboratório de informática, e para aqueles já inseridos à tecnologia, buscamos novos parceiros, como a Secretária de Educação, que nos cedeu o direito de uso de algumas licenças de cursos de aperfeiçoamento em varias áreas: administrativa, tecnológica, econômica, literária e financeira. Tornando assim um espaço voltado para o conhecimento de nossos colegas servidores. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
E
mbora a análise do Projeto Inclusão Digital tenha apontado para algumas possibilidades de uso dessa ferramenta como interação dos servidores, o propósito desse artigo não foi prescrever uma forma de utilização dos blogs na educação, mas sim mostrar possíveis caminhos de utilização da ferramenta para promover um ambiente de aprendizagem significativa para os servidores. O uso do blog Inclusão Digital, possibilitou que o processo de interação e aprendizagem dos servidores acontecesse num ambiente descontraído, de troca e interação, em que os servidores desenvolvessem o prazer que a tecnologia pode nos proporcionar. Dessa forma, o uso da ferramenta não foi limitado a um meio de divulgação das produções dos servidores, mas acima de tudo, o recurso promoveu interação entre servidores de diversos setores. Reitera-se assim a possibilidade de aproximação e interação à distância, proporcionando aos usuários “canais” de comunicação eficaz e prazerosa, além de ampliar os recursos e meios didáticos dos mesmos. Espera-se que o estudo de caso tenha contribuído para incentivar servidores a conhecer a ferramenta e as contribuições que a mesma pode oferecer ao processo de ensino-aprendizagem, uma vez que ainda são poucas as publicações a respeito do uso de blogs no meio governamental.
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É notório que mudar uma cultura organizacional é algo gradativo e moroso. Mas, a inserção de ferramentas tecnológicas aliadas a metodologias de incentivo aceleraram essa transformação. Ressalta-se que o fator humano é o que mais pesa em um projeto como este, fundamentado em conseguir a colaboração dos funcionários e orientá-los para a produção de conteúdo interessante e de qualidade.
NOTAS 1 Enciclopédia virtual, que pode ser editada pelos usuários da internet, que atuam como colaboradores. www.wikipedia.org.br. 2 Termo que representa o mundo dos blogs, ou os blogs como uma comunidade ou rede social.
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OLIVEIRA, C.H. Blog Inclusão Digital. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 40-45, out.-nov., 2011
__________________________________________________________________ Blog Inclusão Digital Clodoaldo Henrique Oliveira Tecnólogo em Internet e Redes de Computadores e Especialista em Tecnologia Digital Aplicada à Educação Uberlândia, MG E-mail: clodoaldo@uberlandia.mg.gov.br Prefeitura Municipal de Uberlândia/MG – Departamento Municipal de Água e Esgoto www.dmae.mg.gov.br
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SALES, H. Marxismo e Educação. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 4649, out.-nov., 2011
Marxismo e Educação Helton Sales Graduação em História e Pós Graduado em Gestão de Escolas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Santa Luzia, MG E-mail: heltonjesusmetal@yahoo.com.br
A
discussão realizada neste texto busca analisar elementos essenciais em torno do tema Educação e Marxismo. Sistematiza fragmentos do pensamento de Marx e Engels sobre Educação; analisa a base do pensamento Marxista sobre educação e História. Marx e Engels, no livro “A Ideologia Alemã”, realizam uma crítica à concepção idealista da História¹ e demonstram a necessidade da análise contextual e sociológica do período histórico do séc. XIX para uma possível transformação social na Alemanha e no Mundo. A crítica de Marx e Engels em relação ao idealismo hegeliano se dava na medida em que este afirmava que é o pensamento que constitui o homem real e que as ideias são agentes fundamentais ou únicos da transformação histórica. O materialismo Histórico² desmistifica a inversão realizada pelos hegelianos, analisa a mentalidade social de baixo para cima, desce a filosofia dos céus para terra, reconhece que as ideias e seu desenvolvimento são frutos da evolução material dos homens e que não existe, portanto, história das ideias, mas uma história vivida e construída por “homens vivos” que com sua luta por sobrevivência e subsequente vivência desenvolve as relações de produção³. A mudança dessas relações de produção e o desenvolvimento das mesmas é que geram as ideias, a filosofia, a religião, os valores morais, as leis, em suma, a mentalidade social; Assim é a realidade material que determina as ideias e não ao contrário, como podemos verificar na reflexão de Marx-Engels: São os homens que desenvolvem a sua produção material e o seu intercâmbio material que, ao mudarem essa sua realidade, mudam também o seu pensamento e os produtos do seu pensamento. Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência (MARX, ENGELS, 1993).
Marx demonstra no materialismo histórico que a mentalidade social ou a “superestrutura social”4 é fruto do desenvolvimento das relações materiais vividas e construídas pelos homens. Esse processo é dialético, marcado pelo antagonismo de classe presente na “infraestrutura social”4. Observa-se, então, que o desenvolvimento das ideias não é fruto delas mesmas, mas das relações materiais históricas construídas pelos Homens. A mentalidade burguesa do séc. XIX é uma construção histórica fruto do desenvolvimento dos meios materiais de vida: os "meios de produção”5.
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No pensamento de Marx e Engels, a crítica aos hegelianos seria, portanto, a sistematização do materialismo histórico: a relação da filosofia com a vida e problemáticas sociais que afetam a situação do homem na sociedade burguesa. Assim, como a base do Marxismo é o materialismo histórico, a concepção de educação Marxista também tem como base o materialismo histórico. O significado do conhecimento em Marx parte do empirismo positivista6, no primeiro momento, na análise do objeto e na sua descrição e a partir desse momento de observação se realiza a abstração do objeto, sua conceituação geral, universal e científica. No segundo momento ocorre a inversão, o racionalismo idealista1, em que as determinações abstratas retornam ao nível do concreto. O primeiro passo reduziu a plenitude da representação a uma determinação abstrata; pelo segundo, as determinações abstratas conduzem à reprodução do concreto pela via do pensamento (MARX, 1973).
Esse retorno, então, será a problemática da vinculação da filosofia com a realidade material, configurando assim, o foco da pedagogia Marxista. Neste sentido, a educação para Marx não poderá ser pensada de forma independente ou desvinculada da realidade material do homem, mas as relações materiais devem ser pensadas como parte do processo de educação. Assim, notamos o materialismo histórico como base do processo educacional e a crítica à concepção de educação burguesa que não considera os educandos como homens concretos, síntese das relações sociais, mas como homens abstratos. Os problemas educativos deixam, portanto, de ser problemas de ideais gerais (abstrações) da humanidade e de categorias sagradas e passam a ser trabalhados como problemas históricos, de uma determinada época e de uma determinada sociedade. O educador não deve pensar que poderá estabelecer ideais educativos de forma arbitrária, sem reconhecer as etapas do processo de desenvolvimento histórico, mas deve trabalhar a educação dentro da evolução das relações materiais vividas pelo aluno concreto-real. A História como processo expresso na divisão do trabalho, no surgimento da propriedade privada e de uma sociedade classista, na qual o Estado é seu representante, leva-nos a pensar na ligação entre a ideia e os interesses históricos de classe, nos quais se encontra o conhecimento sistematizado, síntese das relações sociais. Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, uma consciência, e é em consequência disso que pensam; na medida em que dominam enquanto classe e determinam uma época histórica em toda extensão, é lógico que esses indivíduos dominem em todos os sentidos, que tenham, entre outras, uma posição dominante como seres pensantes, como produtores de ideias, que regulamentem a produção e distribuição dos pensamentos
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de sua época; as suas ideias são, portanto, as ideias dominantes de sua época (MARX, ENGELS, 1993).
O educando concreto herda esse conhecimento sistematizado das gerações anteriores e se expressa na sua assimilação e a partir desse conhecimento historicamente construído ocupa seu papel na divisão social do trabalho. Os homens fazem sua própria História, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstância de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como pesadelo o cérebro dos vivos (MARX, 1997).
A educação para Marx e Engels, portanto, não só está diretamente ligada ao desenvolvimento material do mundo e interesses de classe, mas, também, tem um papel político e transformador social, uma práxis libertadora capaz de uma mudança de mentalidade e construção de uma nova ordem social. A educação tem como tarefa histórica a emancipação do homem, sua libertação das ilusões ou “ideologias”, mostrando-lhe as raízes sociais das mesmas e gerando uma práxis revolucionária para modificar o mundo. Se o homem forma todos os seus conhecimentos, as suas sensações, etc., na base do mundo dos sentidos e da experiência dentro do mundo, trata-se, pois, consequentemente, de organizar o mundo empírico de modo que o homem se experimente a si mesmo enquanto homem (MARX, ENGELS, 2003).
Em suma, a educação Marxista fundamenta-se na análise do processo histórico. Esta concepção constitui um ponto de partida não só para crítica à sociedade burguesa, mas para construção de uma pedagogia concreta que através de uma práxis libertadora modifique o mundo.
NOTAS 1 O Idealismo Histórico entende as ideias ou a consciência como os agentes fundamentais ou únicos da transformação histórica. 2 O mundo das ideias é produto do mundo real e não seu produtor. 3 Relações sociais de produção refere-se ás formas estabelecidas de distribuição dos meios de produção e do produto, e o tipo de divisão social do trabalho numa dada sociedade e em um período histórico determinado. 4 Para Marx a base material ou econômica constitui a infraestrutura da sociedade, que exerce influência direta na superestrutura, ou seja, nas instituições jurídicas, políticas (as leis, o Estado) e ideológicas (as artes, a religião, a moral) da época. 5 O conceito de forças produtivas refere-se aos instrumentos e habilidades que possibilitam o controle das condições naturais para a produção, e seu desenvolvimento.
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6 Augusto Comte (1798-1857) fundador do positivismo, extensão dos métodos científicos das ciências naturais ao estudo da sociedade: a criação de uma “sociologia” cientifica.
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CHAVES, A.L.P. Resenha do texto: A economia baiana: Os condicionantes da dependência. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 50-53, out.-nov., 2011
Resenha do texto: A economia baiana: Os condicionantes da dependência Alberto Leandro Pereira Chaves Graduando em Geografia pela UFBA Salvador, BA E-mail: albertolpchaves@hotmail.com A economia baiana: Os condicionantes da dependência é uma obra original de Noelio Dantaslé Spinola.
O
texto tem uma abordagem histórica, onde fica evidente através da divisão em períodos relevantes da economia baiana. Uma das primeiras abordagens retratou a primeira metade do século XX que ficou marcada pela estagnação econômica. Neste período registra uma relevante diferenciação entre os avanços obtidos pelo estado na conformação dos seus sistemas de transportes e energético, no crescimento demográfico, na balança comercial externa, na receita tributária, na melhoria urbana da capital e em muitos outros aspectos e a redução da importância da indústria, comparativamente ao desempenho do final do século XIX, quando tudo levava ao prognóstico de que a velha província manteria destacada posição no evoluir da indústria no país. Apesar de iniciar retratando a situação econômica do século XX e XIX através de uma comparação, a apresentação continua agora com uma sequencia cronológica onde a atividade industrial no Brasil remonta ao século XVI, fundada na produção do açúcar pelos engenhos que se implantaram nas diversas capitanias, contando-se, em torno de 1573, 23 em Pernambuco e 18 na Bahia num total de 60 espalhados pela colônia. Furtado faz uma análise interessante, [...] a solução do nosso problema de crescimento econômico passaria necessariamente pelo crescimento das exportações e geração de superávits em nossa balança comercial [...] podemos concordar com a observação de Furtado, mais deveríamos pensar também de que maneira chegaríamos a esse patamar, aonde investir, a que dar prioridade, onde capitar os investimentos etc. prováveis soluções certamente encontramos em grande quantidade, agora encontra-las de maneira sistematizada é difícil. Para detalhar alguns aspectos da flutuação cíclica da economia baiana, mediante uma análise periodizada do comportamento no século XIX, observa-se que, até 1823, com a independência do Brasil, a Bahia vivenciou um ciclo de prosperidade, com os sucessivos governadores, desde o marquês de Aguiar até os condes dos Arcos e da Palma, estimulando a economia e tomando medidas de ordem pública que melhoraram o potencial atrativo da sua praça e a feição urbana de Salvador. A Bahia participava, de forma expressiva, da produção e da exportação de açúcar, do tabaco, do algodão e de outros produtos de menor peso em sua balança comercial. Contudo, a guerra da Independência abortou o ciclo de crescimento dos vinte primeiros anos do século XIX, cobrando um elevado preço à Bahia, em virtude da
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criação e das despesas logísticas de um exército improvisado, com mais de 13 mil homens em armas. Fortunas foram consumidas e muitas fazendas arruinadas, lançando na miséria famílias outrora abastadas. Esse período prejudicou muito a economia baiana, os elevados custos que o exercito traziam fez com que não pudesse investir em áreas que de fato contribuiria para um crescimento de fato da economia baiana. Como assinalam Furtado e Sampaio, a política tarifária praticada no século XIX baseou-se preponderantemente na taxação dos produtos importados. Controlando politicamente o governo os grandes proprietários de terras lançavam sobre o conjunto da população o ônus pela sustentação da máquina pública. Essa medida protecionista ajudou muito os produtores internos, principalmente os grandes proprietários que conseguiam diminuir a competitividade mais não necessariamente vender por um preço justo os seus produtos Em 1844, com a expiração dos prazos estabelecidos pelos diversos tratados comerciais, foram editados pelo governo imperial onze “pacotes” tributários. Todos compreenderam tarifas incidentes sobre as importações. De forma geral, a política fiscal atendeu ao lobby dos grandes proprietários rurais e comerciantes interessados na manutenção de uma política antiprotecionista, prejudicando claramente os interesses da classe industrial. Uma grande fragilidade da economia baiana pode ser evidenciada através da dependência de um produto, como foi o caso do cacau que a partir da década de 1920 assume a posição de carro-chefe da economia agrícola estadual fundando, por longo período, a prosperidade do sul da Bahia, notadamente das cidades de Ilhéus e Itabuna, responsáveis, até bem pouco, por mais de 60% das exportações estaduais, embora sofrendo os efeitos de danosas políticas do governo federal, da persistente tendência à deterioração do câmbio, das pragas dos cacauais e da imprevidência dos produtores em relação às oscilações dos preços no mercado externo. Dados a seguir demonstram a persistência do enigma baiano dos dados censitários de 1920 a 1940, constatam uma impressionante estagnação nas indústrias têxtil e fumageira e o desaparecimento do leque de empresas manufatureiras que se abria multicolorido. a participação da Bahia no total da indústria nacional, apurada no Censo de 1920, em capital aplicado (3,5 %), força motriz (4,0%), operários (5,7%) e produção (2,8%), caiu no censo de 1940 para, respectivamente, 1,9; 2,3;3, e 1.3 %. Então fica evidenciado através de dados que a situação da Bahia durante um longo período sofreu uma estagnação muito pesada, que demoraria outro longo período para se recuperar. Podemos comparar com a herança da colonização de 60 e o início dos anos 80, quando o Estado experimentou um notável ritmo de crescimento econômico, com as taxas anuais médias de incremento do PIB superiores a 7% a.a., atingindo 11,3%, em 1978, e 11,1% em 1980. Nesse período, quatro fatores influenciaram o desenvolvimento industrial: o impacto inicial de uma política de industrialização fundamentado na construção dos distritos industriais do Interior, do CIA e Copec na RMS, o ingresso de substanciais transferências de recursos federais, a disponibilização de financiamento público preferencial e a integração dos projetos baianos com os do governo federal, notadamente no que se refere à petroquímica. Diante de todos os dados podemos colocar esse como o período mais importante da economia da Bahia. O terceiro estágio do processo de industrialização da Bahia inicia-se na metade dos anos 80, quando as transformações da economia nacional, nas décadas de 1980 e 1990, refletiram o que tem sido denominada “década perdida” para o desenvolvimento econômico da quase totalidade da América Latina e por fim o quarto estágio do
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processo de desenvolvimento industrial da Bahia começa no alvorecer século XXI com o advento de um parque automobilístico (Projeto Amazon /Ford). Mas ainda é cedo para uma análise, registrando-se apenas a grande esperança que vem despertando no meio técnico governamental. O que deveríamos analisar nessa e em outras apresentações são alguns fatores fundamentais que estiveram presentes durante a historia econômica da Bahia, como: o enigma baiano, ou seja, os motivos do subdesenvolvimento baiano, a opção de ser exportador de matéria-prima por parte da elite brasileira, crítica ao modelo agroexportador que podemos chamar de incompetente e a polarização da atividade econômica através do recôncavo. Por fim, não nos desenvolvemos porque fomos baseados no sistema de escravagista, falta uma visão empreendedora, onde teria que existir forte investimento para expansão da produção e produtividade, o que se via era uma economia de improviso. Um bom exemplo da economia de improviso foi constatado na apresentação anterior do colega Sidnei, onde as medidas eram feitas a partir das crises “cacau”. Ou seja, não tinha um investimento prevendo prováveis problemas, mantinha-se tradicional até serem forçados a adotarem medidas modernas para resolver problemas antigos.
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Esta resenha foi apresentada originalmente na disciplina “Geografia da Bahia” ministrada pelo professor Shanti Nitya, da Universidade Federal da Bahia.
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CONEJO,S.P. Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 54-62, out.-nov., 2011
REPUBLICAÇÃO
Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia Simone Peixoto Conejo Psicóloga, doutoranda em Psicologia Social pela USP/SP, mestre em Psicologia Clínica pala USP/SP. Terapeuta Comunitária. Pós-graduanda em Terapia de Família e Casal pelo Sistema Humanos/Sorocaba. Sorocaba, SP E-mail: simone.conejo@ig.com.br
O
s sentimentos envolvem a saúde e o adoecimento, o tratamento e as possibilidades de cura. Cada pessoa se relaciona com eles e, por meio deles, compõem um modo singular de olhar o mundo, a si e ao outro. Eles permeiam nosso cotidiano. As emoções são cantadas, escritas, pensadas, menosprezadas, valorizadas, desconhecidas e descobertas. De modos diferentes, são descritas, construídas e desconstruídas: enfim, vividas! Isso não impede que cada um possa se perder ou se agarrar a elas. Esse texto propõe uma reflexão sobre a alexitimia, um termo frequentemente encontrado nos processos psicossomáticos e diretamente relacionado às dificuldades de compreensão dos sentimentos. E, inclui também o papel da empatia nesse contexto. O trabalho será ilustrado com a letra da música Quando o Amor era Medo (Frejat, Santos e Santa Cecília, 2001), conhecida na voz de Frejat – que inspirou seu título – em conjunto com trechos de um caso clínico, apresentado com o nome fictício de Lua. Quando o Amor era Medo No fim do túnel tudo escuro Ela me procurando com o olhar Mas as flores não chegaram Quando deveriam chegar
Lua chegou ao consultório sem brilho próprio. O colorido de seus olhos se contrastava com a falta de cor que a vida ganhava por meio de seu olhar. Seus olhos verdes, avermelhados pelo choro, refletiam a escuridão na qual seu coração se perdia. Ainda jovem, ela perdeu seus pais. Lua carregava várias outras histórias de perdas, sem vivenciar os lutos ou conseguir lidar, satisfatoriamente, com a falta de tantas pessoas importantes. Ela tinha uma sensação de fracasso em suas relações. E, assim, construiu uma vida solitária e triste. Não conseguia perceber estrelas ao seu redor – Não sentia a presença de pessoas capazes de consolá-la ou auxiliá-la no modo de lidar com suas feridas. Ela aprendeu a resolver as coisas práticas da vida. Cursou a universidade, trabalhava, fazia compras e tentava manter sua casa organizada. Sem se dar conta dos próprios sentimentos e, muito menos, da possibilidade em sentir prazer, ao cuidar e ser cuidada; seu cotidiano resumia-se a tarefas a serem riscadas em sua agenda. Para ela, os cuidados se restringiam
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a comida saudável, prática de exercícios, higiene pessoal... Em sua experiência não percebia o cuidado envolvido em olhares, sorrisos e conversas. Em nossos encontros era comum falas como essas: “Não dá pra „ouvir direito‟ certas coisas que você fala [...] Eu penso, eu tento, mas minha cabeça não entende [...]. Queria que você falasse logo como resolvo isso tudo!” [sic]. A tarde quer mais que um susto À noite me pega no contrapé Seu beijo acelerando o meu pulso Amanhã só faço o que eu quiser
O pôr-do-sol não antecipava seu descanso – Quando a noite chegava, suas angústias ficavam maiores. Muitas vezes, a dor se tornava física: “Meu corpo começa a doer... Fica difícil respirar [...]. Meu peito é o pior [...]. Tento, mas não dá mais pra aguentar! [...] Já faz tanto tempo, que não sei se quero... E, pra quê?” [sic]. Em momentos de muito desespero, Lua descrevia o quanto era tentador abandonar seu corpo, “e essa vida” [sic]. Por outro lado, ela ansiava sentir-se pertencente a algo, ter uma família e um grupo de amigos... Sentir-se capaz de receber e retribuir amor e carinho. Dona de uma inteligência cognitiva admirável, Lua se perturbava, constantemente, diante de qualquer emoção – Seu pensamento era muito rápido e seu coração muito perdido. Assim, em sua história, aos poucos, tinha aprendido a não confiar em seus julgamentos nem em suas sensações. Tanta potencialidade e tanta dor! Ora Lua se protegia “de tudo e de todos”, ora expunha-se sem cuidado algum. Lua construiu relacionamentos com emoções empobrecidas – Embora ela se esforçasse muito na tentativa de se aproximar afetivamente das pessoas, o resultado era a ampliação de sua sensação de vazio e inadequação. Para ela, era muito difícil ser espontânea – Ela tentava lidar com a dinâmica da vida e, ao mesmo tempo, sua mente a convidava a examinar o que estava acontecendo. Lua ponderava sobre elementos presentes na situação, imaginava fatores, supostamente, ocultos e pensava em possíveis consequências; enquanto, cobrava de si um agir assertivo. O efeito, porém, era o oposto: acabava confusa e sem saber que atitude tomar. Mello Filho (2003) descreve que diante da pobreza do uso de objetos, muitas pessoas, apresentam extrema inquietação, incapacidade de se concentrar e dificuldade de lidar com a realidade. E na vivência de Lua observamos essas considerações. Ela tentava se adaptar no ambiente de trabalho e em suas relações. Sua principal estratégia era observar o comportamento de outras pessoas e reproduzi-los em situações similares, mesmo sem encontrar sucesso: “Já tentei... Mas, as pessoas acabam não gostando de mim! [...] Acontece alguma coisa... Eu sempre dô mancada...” [sic]. Um de seus desejos era ter um sistema de valores estável (“decorável”), no qual não precisasse tomar decisões ou optar entre o que considerasse certo ou errado – Ela não fazia ideia de que o conforto da realização desse desejo também a deixaria distante de si mesma. Compreender e respeitar a si e a seus desejos ainda era algo a ser construído por Lua. Ela sabia cumprir com seus deveres e procurava realizá-los de forma eficaz; tinha intimidade com a dinâmica do fazer. E fazia, fazia e fazia... Até ficar exausta. Sua tentativa era a de fazer para não sentir – Esse foi um dos caminhos que encontrou para tentar se distanciar de tanta angústia.
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CONEJO,S.P. Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia. Rev. Esp. Cient. Livre (ISSN 2236-9538), Brasil, n. 4, p. 54-62, out.-nov., 2011
Na visão de McDougall (1991, 2000), a dinâmica centrada no fazer aparece relacionada com uma carência na elaboração psíquica e com a tentativa de ser compensada por um agir alienante de caráter compulsivo – Isso visa reduzir a intensidade da dor psíquica por um caminho mais curto, ainda que, com prejuízos no desenvolvimento de recursos para lidar com conflitos emocionais, com situações de frustração e separação. Quando o amor era medo Eu achava melhor acordar sozinho Quando o amor era medo A vida era andar por entre espinhos
Seu desejo latente era de sentir-se amada. Mas, como isso seria possível, se Lua não se sentia capaz de amar? Como amar, se aprendeu a sentir que todos se vão? Sem intimidade com suas emoções, ela via-se só e incapaz de constituir espaços mais satisfatórios. Para Lua, a solidão não era uma escolha; e sim um resultado imposto por um mundo de sentimentos misteriosos. Na escuridão não podia perceber nem mesmo o que estava ao seu alcance. No processo terapêutico, tentamos, de muitas formas, nos aprofundar em suas emoções – Ora a porta ficava aberta e caminhávamos lentamente, ora o caminho para seu mundo interno se perdia em meio a uma selva de racionalizações e angústias. Tudo parecia tão intenso, inexplicável e... Demais! Era um sentir-se só, além da solidão. Montgomery (1998) acredita que o sentimento de solidão não é a mesma coisa que estar só. Para ele, enquanto a pessoa acredita que a vida tem sentido apenas se há alguém que a complete, essa pessoa estará, constantemente, envolvida na solidão e na sensação de abandono ou rejeição: “Solidão é não saber quem se é e esperar que os outros lhe digam. Estar só é ter consciência de ser uma parte distinta do complicado mundo à sua volta./Solidão é esperar ser tocado./ [...] Ser uma pessoa completa nos capacita a amar. É importante compreender o que vem primeiro” Montgomery (1998 p. 143). Todo doente pede uma enfermeira Com peitos grandes e amor pra dar Nem toda sombra vem da palmeira Nem toda água deságua no mar
Entre outros aspectos, no trabalho terapêutico, procuramos olhar para os problemas relacionados à saúde física de Lua. As dores “de seu peito” teimavam em se espalhar por seu corpo – Por um tempo, ficou mais difícil se envolver no processo, se relacionar com as pessoas, trabalhar, viver. E, mesmo assim, Lua conseguiu manter a regularidade de nossos encontros: “Você é alguém que me dá uma certeza. Chega a hora de nossos encontros e eu venho” [sic]. Para McDougall (1991), a psicossomatização é uma mensagem sem palavras. Ela ocorre por meio de um conjunto de esforços para desenvolver técnicas de sobrevivência, nas quais as criações de sintomas físicos ocorrem numa tentativa de autocura. Então, compreendemos que Lua e as pessoas que vivenciam o processo da psicossomatização acabam diante de um ciclo: a dificuldade em realizar abstrações dificulta a percepção de que sintomas sentidos no corpo estão relacionados com os afetos e o funcionamento psíquico; e, por outro lado, a dificuldade de fazer representações psíquicas ocasiona a carência na capacidade de simbolização; estimulando, por sua vez, o uso de soluções psicossomáticas.
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Segundo McDougall (2000), há duas funções defensivas nos processos psicossomáticos que envolvem a comunicação e as relações: o pensamento operatório e a alexitimia. O pensamento operatório se configura como uma maneira de relação com os outros e consigo, no qual ocorre uma forma de pensamento e expressão, de modo deslibidinizado e extremamente pragmático, com carência na capacidade de representar e fantasiar e com uma pobreza nos investimentos libidinais. Nele, os sujeitos, também denominados como normopatas por essa autora, em geral, demonstram boa capacidade de adaptação social e, frequentemente, são adictos ao trabalho; fenômeno esse usualmente estimulado pela nossa sociedade – É comum encontramos autores que incluem o funcionamento operatório na dinâmica que engloba a alexitimia. Quando buscamos a definição de alexitimia é corriqueiro encontrarmos que o termo vem do grego, a (ausência, sem) lexis (palavra) e thymós (emoção), mas, McDougall (1991) considera mais adequado utilizar o prefixo grego alexi (contra ou vencedor de), o que resultaria em “contrafeto” ou “desafetos”. Essa autora amplia a noção de alexitimia, pois entende que não se trata somente da falta de palavras para as emoções, mas também de uma incapacidade para distinguir um afeto do outro. De acordo com Nemiah, Sifneos (1970) e outros, a alexitimia possui as seguintes características: 1) Notável dificuldade de identificar e descrever sentimentos; 2) Estilo cognitivo concreto e apoiado na realidade; 3) Carência de fantasias e retração dos processos da imaginação; 4) Dificuldade em distinguir entre sentimentos e sensações corporais decorrentes de excitações internas; 5) Consonância com o social acentuada e pouco contato com sua realidade psíquica. Esses autores afirmam, ainda, que tais processos têm como consequência um déficit na capacidade de regular as emoções. Para explicar a etiologia da alexitimia várias hipóteses foram levantadas, sem ainda um consenso, como apontam autores como Maciel e Yoshida (2006) 1. Contudo, é válido ressaltar que, segundo Pedinielli e Rouan (1998), a alexitimia era originalmente associada aos distúrbios psicossomáticos; porém, tem se mostrado presente em diferentes processos psicodinâmicos, como: Anorexia, Bulimia, Obesidade, Transtornos Compulsivos e Obsessivos, Síndrome do Pânico e Psicopatologias do Vazio. Em geral, ela torna as apresentações clínicas mais severas, a evolução mais grave e o tratamento mais difícil. Sua ocorrência é estimada entre 5% e 10% na população não clínica. Portanto, nosso contato com a alexitimia é frequente. Além de gradações em sua intensidade, alguns autores como Maciel, Yoshida (2006), Pedinielli e Rouan (1998), também a diferenciam entre alexitimia primária e secundária. A primeira é considerada de natureza constitucional, correspondente a um traço de personalidade; é vista como um fator predisponente ao desenvolvimento de distúrbios psicossomáticos e psiquiátricos, entre os quais se destaca a dependência a substâncias psicoativas. Já a alexitimia secundária aparece caracterizada como um estado, devido a sua natureza transitória, entendida como efeito de um trauma ou como um mecanismo de defesa, amparado no processo de uso excessivo de negação e de repressão de afetos. Em geral, não está vinculada a uma psicopatologia, mas funciona como uma estratégia de enfrentamento desenvolvida pelo indivíduo frente a uma situação conflituosa, a falta de recursos e/ou ao desamparo.
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Mais detalhes podem ser acompanhados, por exemplo, no artigo de Maciel e Yoshida (2006), no qual destacam a abordagem psicanalítica, o enfoque cognitivista e a perspectiva neurológica que, porém, deixa compreensível a falta de um consenso. O que nos brinda com o benefício de ampliar o conhecimento sobre vários aspectos do cuidado que podem contribuir com o desenvolvimento humano.
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McDougall (1991) observa que essas pessoas sofrem com uma profunda incapacidade em experimentar satisfação e prazer. Também possuem uma limitada capacidade de desempenhar um papel protetor e compreensivo para consigo – É como se ficassem esperando que outra pessoa desempenhasse esse papel por eles, num processo que leva a uma deterioração da capacidade de autocuidado e colabora para um aprisionamento em aspectos infantis da personalidade. Como Montgomery (1998 p. 143) expressa: É difícil amarmos uns aos outros verdadeiramente por causa do que queremos que o amor realize./ O amor não pode preencher o que falta em nós. Não pode emendar o que está rompido nem esconder o que não queremos que seja visto./ [...] O amor não pode fazer por nós aquilo que devemos fazer nós mesmos (MONTGOMERY, 1998).
A alexitimia afeta diretamente algumas habilidades que auxiliam no contato social e, de modo geral, na construção de relações satisfatórias. Entre elas destacaremos apenas a capacidade de empatia – já que não pretendemos percorrer a diversidade de caminhos possíveis, mas podemos enriquecer a compreensão da psicodinâmica de Lua. Por meio da visão de Quilici (2009), entendemos por empatia o processo de identificação pelo qual o indivíduo se coloca no lugar do outro e, com base em suas próprias suposições ou impressões, tenta compreender o comportamento do outro. Ela facilita o processo relacional por permitir a maior compreensão das emoções, bem como do estado físico, dores, fome, sufocação, prazer sexual, dentre outros; além de facilitar a interpretação de padrões não verbais de comunicação como, por exemplo, o tom de voz, gestos corporais e, especialmente, movimentos faciais. Desse modo, ela interfere na qualidade das relações, na compreensão dos movimentos culturais e no próprio desenvolvimento intelectual e emocional. Porém, é válido esclarecer que não está ligada à necessidade compulsiva de realizar desejos alheios. De modo geral, cuidadores pouco empáticos têm dificuldades em compreender os códigos do bebê e devolvê-los com o verdadeiro sentido. Por exemplo, eles acabam alimentando a criança quando ela sente frio ou deseja atenção e podem agasalhar uma criança que já sente calor. Assim, constroem algo falso; sem corresponder, de fato, ao real. A constituição da empatia, de acordo com Quilici (2009), passa por alguns elementos: 1) A capacidade de imaginar e de criar; 2) A noção da existência do outro autônomo e diferente de si; 3) A percepção de que o mundo é feito de valores partilhados e diferentes; 4) A existência da consciência de si mesmo, por meio de um processo de individuação; 5) Flexibilidade para a construção e desconstrução de valores morais de referência. Diante da falta de empatia, a pessoa pode agir de forma discordante com o ambiente e os sentimentos que o cercam, sem que essa seja sua intenção. Essa pessoa também pode não entender que é disparadora de certas reações, como afastamentos e retaliações. Com isso, podemos começar a nomear o “algo” presente quando Lua fala que “só dava mancada” em suas relações. McDougall (1991, 2000) e Quilici (2009) apontam que o funcionamento psicossomático, a alexitimia e a falta de empatia remetem a um estado primitivo de desenvolvimento, quando as mensagens entre corpo, percepção e psiquismo são
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inscritas psiquicamente sem a representação de palavras; mesmo porque, nesse momento, o ser humano ainda não dispõe do recurso da linguagem. Assim, esses quadros podem aparecer ligados às possibilidades de uso das emoções na comunicação durante todas as etapas da vida. Muitas vezes, as emoções são codificadas de forma única, e assim só podem ser entendidas por alguém que esteja próximo o suficiente para compreendê-las. Por exemplo, quando os cuidadores (pais, mães, famílias, babás, profissionais da saúde e educação dentre outros) podem refletir o que o recém-nascido sente, eles auxiliam o processo do bebê descobrir-se para si mesmo. O cuidador pode refletir em seu olhar o que está lá para ser refletido; um conteúdo que pertence ao bebê e, assim, espelha a mensagem de que são dois seres diferentes, a princípio um adulto e um bebê. Nessa relação há espaço para os dois existirem por completo. Porém, quando um olhar estampa, muito mais, imagens sonhadas por esse adulto, não há um processo reflexivo verdadeiro. Ao contrário, há um processo de imposição; algo que reflete o desejo do adulto autoritário e não compreensivo. Uma vivência como essa nega a existência do bebê real; só há espaço para o “bebê sonhado”, que na verdade, só existe na mente do cuidador. Assim, o futuro adulto encontrará dificuldades em se constituir enquanto um ser diferenciado, como um sujeito desejante. Outro agravante se instalará se ele criar a ilusão de que só será amado se for um realizador de desejos do outro. Uma situação na qual, provavelmente, encontrará muita frustração e insatisfação. Certa vez, Lua estava muito incomodada com “algo que acontecia em seu estômago. [...] É um incômodo... Começa pequeno, mas, depois não dá pra ignorar” [sic]. Ela acreditava que deveria repetir um exame no estômago, mas não lhe ocorria que ela poderia estar ansiosa – uma reação comum para o contexto que estava vivenciando naquele momento. “Será? Só ansiedade? [...] Ela faz isso?” [sic]. Lua tinha dificuldades em identificar se estava ansiosa, zangada, com frio ou carente. Às vezes, era difícil distinguir emoções de sensações físicas, compreender seus estados afetivos e, não raro, lidava mal com suas comunicações corporais internas – os sinais de saciedade ou necessidade, por exemplo. Ela apresentava momentos em que se alimentava compulsivamente e outros em que não se importava em ficar longos períodos (até 2 dias) sem alimentar-se. Ora trabalhava exaustivamente, ora não conseguia nem comparecer no local. Como outras pessoas que apresentam esses quadros, Lua também não conseguia entregar-se ao sono, relatava várias noites de insônia, grande preocupação com a limpeza, importância demasiada com detalhes, perfeccionismo e rigidez afetiva. Suas emoções ora pareciam ausentes de seu discurso, ora se mostravam num rompante. Contudo, não conseguia compreender ou validar um sentido para o que estava acontecendo. Lua acreditava que deveria “ser forte” e isso incluía a imposição: “não chorar”, mas quando isso acontecia: “Não sei o que aconteceu comigo, fiquei à tarde do domingo chorando. Chorei e não conseguia parar mais!” [sic]. Na prática clínica, Caldas (1999), entre outros autores, retrata um frequente incômodo despertado nas equipes de saúde, pois quem apresenta soluções psicossomáticas, alexitimia e/ou falta de empatia em sua psicodinâmica pode facilmente frustrar expectativas depositadas no resultado terapêutico. Caldas (1999, p. 89) é enfático quando afirma: “Parece mais difícil admitirmos a impropriedade das nossas técnicas e de seus pressupostos, do que simplesmente atribuir a esses pacientes um mau prognóstico ou considerá-los como ‘fora de possibilidades terapêuticas’, como habitualmente observamos.”
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Retomando o que Frejat canta: “Todo doente pede uma enfermeira/Com peitos grandes e amor pra dar”, e de fato Lua comparecia regularmente a nossos encontros, mas como “Nem toda sombra vem da palmeira/Nem toda água deságua no mar”, em muitos momentos ela não conseguia apreender os resultados de seus esforços. Ela até podia se alimentar do seio terapêutico, mas por muito tempo não conseguia exercer para si uma função continente: “Depois que saio daqui, não lembro nada!” [sic]. Por um longo período Lua só sabia ser “Lua Minguante”, alguém que se esvaziava de suas vivências. Às vezes você se comporta Como se não estivesse a fim Às vezes você se comporta Não sei o que você espera de mim.
Ao longo de nosso trabalho, Lua era inconstante, um dia quase bem, no outro se defendia de nosso vínculo... No outro... “?” Isso mesmo! Alguns encontros eram marcados pela interrogação, pelo questionamento necessário para suas descobertas, pelas perguntas que ansiavam por respostas diretivas, pelas dúvidas sobre nosso trabalho, pela percepção do que havia para conhecer, pelo encontro com suas dores, pela constatação de que se arrastava até um novo ciclo. Somente depois de muitos ciclos Lua sentiu-se segura para perceber seu envolvimento emocional no “trabalho” terapêutico; que poderia usufruir de seu espaço com plenitude, com luz ou escuridão, com dores e cores diversas, sozinha ou acompanhada por seus fantasmas e suas estrelas. Sabia que, quando pudesse e, se quisesse, poderia levar muito de nossa relação para sua vida. Um dia Lua apareceu com algo dourado em suas mãos. “Olha, eu comi em doce no trabalho... [...] Lembrei que ia te ver hoje...” [sic]. Então, trabalhamos aquele “doce” e aquele “brilho”. Resolvemos dividir o doce. Trabalhamos outras doçuras e brilhos da realidade... Agora seus olhos já encontravam novos coloridos e sentidos para vida. Continuamos trabalhando. Mas, nesse momento, estávamos diante de Lua Nova. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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este momento nem se faz necessário enfatizar o quanto é importante que o terapeuta esteja atento às suas próprias emoções frente ao encontro com essas pessoas. É preciso sensibilidade para diferenciar, dentro de si, quais conteúdos pertencem à sua própria dinâmica interna e quais são despertados pelo outro. Dessa maneira, o profissional pode espelhar em si o que lhe é compartilhado. Quando as emoções sentidas nessa relação, por meio dos sentimentos contratransferenciais, são iluminadas no céu de nossa consciência, elas tornam-se importantes instrumentos de trabalho. Na prática clínica, cada vez mais, podemos acompanhar o avanço da quantidade de pessoas que, como Lua, possuem em sua psicodinâmica soluções psicossomáticas, alexitimia e/ou falta de empatia. O tratamento não é fácil; mas, é viável e contribui com melhoras significativas na qualidade de vida. Ainda, é válido ressaltar que algumas medidas poderiam prevenir e/ou diminuir as dificuldades relacionadas a esses quadros. Mostra-se sensato dedicar atenção às crianças e suas necessidades afetivorelacionais. E, ainda, incluir orientação aos cuidadores e aos envolvidos no processo do desenvolvimento infantil.
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Além disso, alguns elementos do nosso contexto atual, envolvidos em reflexões sobre qualidade de vida e saúde mental, também merecem ser discutidos e direcionados ao tema específico das dificuldades que envolvem as pessoas e suas emoções, entre eles estão: o sentimento de solidão individual, a sensação de vazio, os fenômenos que favorecem o empobrecimento das inter-relações, os modos de dedicar cuidados a si, o consumismo, o hedonismo e a presença de comportamentos e situações alienantes. Esse trabalho é um convite para que, em futuras ocasiões, seja possível dar uma continuidade à busca por novos olhares e reflexões sobre as questões ligadas aos sentimentos. Acima de tudo, é um chamado à discussão do tema e a ampliação do conhecimento; tanto para as dificuldades, quanto para as potencialidades que envolvem o vasto, desafiante e, principalmente, encantador universo das emoções humanas.
AGRADECIMENTOS Agradeço aos amigos Rodrigo Mattos, Marília Spínola e Ana Maria Mendes Mugnaine Coan, pelo carinho e colaboração na produção desse trabalho.
NOTA O artigo “Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia” foi publicada publicado anteriormente no site Psicologia no Cotidiano. CONEJO, S. P. Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia. Psicologia no Cotidiano, 30 jul. 2009. Disponível em: <psicologianocotidiano.com.br>. O artigo “Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia” também foi publicada na Revista Espaço Científica Livre n. 3.
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[Compositores]. In: FREJAT. Amor pra Recomeçar. Rio de Janeiro: WM Brasil, 2001. 1 CD. (60 min.). Faixa 2. MACIEL, M. J. N; YOSHIDA, E. M. P. Avaliação de alexitimia, neuroticismo e depressão em dependentes de álcool. Avaliação Psicológica, Porto Alegre, v.5, n.1, jun. 2006. Disponível em:<http://www.scielo.br>. Acesso em: 04 ago. 2008. MARTY, P; M’UZAN, M. El Pensamiento Operatório. Revista Psicoanalisis, Buenos Aires, v. 40, n. 4. 1983. Disponível
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em:<http://www.scielo.br>. Acesso em: 04 ago. 2008. MCDOUGALL, J. Em defesa de uma certa anormalidade: teoria e clínica psicanalítica. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. 183 p. ______. Teatros do corpo: o psicossoma em psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 194 p. MELLO FILHO, I. Vivendo num país de falsos-selves. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2003. MONTGOMERY, M. O novo pai. 5.ed.rev. e atual. São Paulo: Gente, 1998. NEMIAH, J. C.; SIFNEOS, P. E. Affect and fantasy in patient with psychosomatic disorders. In: HILL, O. W. (org.). Modern trends in
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Quando o Amor era Medo: Reflexões sobre Psicossomatização, Alexitimia e Empatia Simone Peixoto Conejo Psicóloga, doutoranda em Psicologia Social pela USP/SP, mestre em Psicologia Clínica pala USP/SP. Terapeuta Comunitária. Pós-graduanda em Terapia de Família e Casal pelo Sistema Humanos/Sorocaba. Sorocaba, SP E-mail: simone.conejo@ig.com.br
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AMDE – Associação Amigos dos Deficientes A AMDE é um Núcleo Terapêutico especializado para Atendimentos às pessoas com Síndrome do Autismo. Todos os atendimentos são individualizados, portanto supre as necessidades individuais dos atendidos. Além do atendimento individual com a criança que tem a síndrome do autismo, acolhemos as famílias promovendo atividades com objetivo sócio-assistencial e inclusão social. Nossos atendimentos iniciaram em outubro de 2010 à domicílio. Atualmente atendemos na nossa sede, contamos com uma equipe multidisciplinar completa: Assistente Social, Fisioterapeuta, Fonoaudióloga, Terapeuta Ocupacional, Psicóloga, Psicopedagoga, Professora, Educador Físico, Enfermeira e cuidadoras.
Caminhe com a AMDE! Agende a sua visita e apaixone-se!!! Nossos Contatos: Telefone (15) 32111955 ou (15) 32110314 Rua Gonçalves Dias, 606 Vila Gabriel. Sorocaba – SP Site: www.nossolaramde.com.br E-mail: associacaoamde@hotmail.com
O que é o Autismo? Foi descrito pela primeira vez em 1943, pelo médico austríaco Leo Kanner, trabalhando no Johns Hopkins Hospital, em seu artigo Autistic disturbance of affective contact, na revista Nervous Child, vol. 2, p. 217-250. No mesmo ano, o também austríaco Hans Asperger descreveu, em sua tese de doutorado, a psicopatia autista da infância. Embora ambos fossem austríacos, devido à Segunda Guerra Mundial não se conheciam. A palavra “autismo” foi criada por Eugene Bleuler, em 1911, para descrever um sintoma da esquizofrenia, que definiu como sendo uma “fuga da realidade”. Kanner e Asperger usaram a palavra para dar nome aos sintomas que observavam em seus pacientes. Apesar do grande número de pesquisas e investigações clínicas realizadas em diferentes áreas e abordagens de trabalho, não se pode dizer que o autismo é um transtorno claramente definido. Há correntes teóricas que apontam as alterações comportamentais nos primeiros anos de vida (normalmente até os 3 anos) como relevantes para definir o transtorno, mas hoje se tem fortes indicações de que o autismo seja um transtorno orgânico. Apesar disso, intervenções intensivas e precoces são capazes de melhorar os sintomas. Em 18 de Dezembro de 2007, a Organização das Nações Unidas decretou todo 2 de abril como o Dia Mundial do Autismo. Em 2008 houve a primeira comemoração da data pela ONU.
Definição Interesses restritos e repetitivos, como empilhar objetos, são comuns em crianças com autismo. Caso eles sejam focalizados para uma atividade útil socialmente podem ajudar no desenvolvimento de habilidades excepcionais. O autismo é um transtorno definido por alterações presentes antes dos três anos de idade e que se caracteriza por alterações qualitativas na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. Definição da Autism Society of American – ASA (1978) Autism Society of American = Associação Americana de Autismo. O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de maneira grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de 20 entre cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum no sexo masculino do que no feminino. É encontrado em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu até agora provar qualquer causa psicológica no meio ambiente dessas crianças que possa causar a doença. Segundo a ASA, os sintomas são causados por disfunções físicas do cérebro, verificados pela anamnese ou presentes no exame ou entrevista com o indivíduo. Incluem: 1. Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e linguísticas. 2. Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo. 3. Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas específicas do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de ideias. Uso de palavras sem associação com o significado. 4. Relacionamento anormal com os objetivos, eventos e pessoas. Respostas não apropriadas a adultos e crianças. Objetos e brinquedos não usados de maneira devida. Definição do DSM-IV-TR (2002) O Transtorno Autista consiste na presença de um desenvolvimento comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo. Definição da CID-10 (2000) Autismo infantil: Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por: a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos; b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade(auto-agressividade). Características do autismo Existem muitos graus de autismo, mas quanto mais cedo a criança for identificada e começar o treinamento de habilidades sociais, melhor será seu desenvolvimento. Segundo a ASA (Autism Society of American), indivíduos com autismo usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a seguir: 1. Dificuldade de relacionamento com outras pessoas 2. Riso inapropriado 3. Pouco ou nenhum contato visual
4. Aparente insensibilidade à dor 5. Preferência pela solidão; modos arredios 6. Rotação de objetos 7. Inapropriada fixação em objetos 8. Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade 9. Ausência de resposta aos métodos normais de ensino 10. Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina 11. Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo) 12. Procedimento com poses bizarras (fixar objeto ficando de cócoras; colocar-se de pé numa perna só; impedir a passagem por uma porta, somente liberando-a após tocar de uma determinada maneira os alisares) 13. Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal) 14. Recusa colo ou afagos 15. Age como se estivesse surdo 16. Dificuldade em expressar necessidades - usa gesticular e apontar no lugar de palavras 17. Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente 18. Irregular habilidade motora - pode não querer chutar uma bola, mas pode arrumar blocos. Observação: É relevante salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam todos estes sintomas, porém a maioria dos sintomas está presente nos primeiros anos de vida da criança. Estes variam de leve a grave e em intensidade de sintoma para sintoma. Adicionalmente, as alterações dos sintomas ocorrem em diferentes situações e são inapropriadas para sua idade. Vale salientar também que a ocorrência desses sintomas não é determinista no diagnóstico do autismo, para tal, se faz necessário acompanhamento com psicólogo ou psiquiatra. Diagnóstico Os sistemas diagnósticos (DSM-IV e CID-10) têm baseado seus critérios em problemas apresentados em três áreas, com início antes dos três anos de idade, que são: a) comprometimento na interação social; b) comprometimento na comunicação verbal e não-verbal, e no brinquedo imaginativo; c) comportamento e interesses restritos e repetitivos. É relevante salientar que essas informações devem ser utilizadas apenas como referência. Além de destacar a importância do diagnóstico precoce "porque quanto mais cedo é identificado um transtorno, mais rápido o curso normal do desenvolvimento pode ser retomado. Porém os resultados dependem não somente da identificação dos atrasos e da indicação dos tratamentos adequados e eficazes, mas da aceitação dessa condição diferenciada pelas famílias e pelo futuro de cada um, que não dominamos nem sabemos", como explica o psiquiatra da infância e adolescência Walter Camargos Jr. Recomenda-se caracterizar a queixa da família: sinais, sintomas, comportamento, nível de desenvolvimento cognitivo e escolar do indivíduo - quando for o caso, relacionamento inter-pessoal, investigar os antecedentes gineco-obstétricos, história médica pregressa, história familiar de doenças neurológicas, psiquiátricas ou genéticas, analisar os critérios do DSM-IV-TR ou da CID-10, realizar avaliações complementares (investigações bioquímicas, genéticas, neurológicas, psicológicas, pedagógicas, fonoaudiológicas, fisioterápicas), pensar a respeito do diagnóstico diferencial, investigar a presença de comorbidades, classificar o transtorno, planejar e efetivar o tratamento. Muitas vezes, o autismo é confundido com outras síndromes ou com outros transtornos globais do desenvolvimento, pelo fato de não ser diagnosticado através de exames laboratoriais ou de imagem, por não haver marcador biológico que o caracterize, nem necessariamente aspectos sindrômicos morfológicos específicos; seu processo de reconhecimento é dificultado, o que posterga a sua identificação.
Um diagnóstico preciso deve ser realizado, por um profissional qualificado, baseado no comportamento, anamnese e observação clínica do indivíduo. O autismo pode ocorrer isoladamente, ser secundário ou apresentar condições associadas, razão pela qual é extremamente importante a identificação de comorbidades bioquímicas, genéticas, neurológicas, psiquiátricas, entre outras. Condições que podem estar associadas ao Autismo: Acessos de raiva, Agitação, Agressividade, Auto-agressão, auto-lesão (bater a cabeça, morder os dedos, as mãos ou os pulsos),Ausência de medo em resposta a perigos reais Catatonia, Complicações pré, peri e pósnatais, Comportamentos autodestrutivos, Déficits de atenção, Déficits auditivos, Déficits na percepção e controle motor, Déficits visuais, Epilepsia , Esquizofrenia, Hidrocefalia, Hiperatividade, Impulsividade, Irritabilidade, Macrocefalia, Microcefalia, Mutismo seletivo, Paralisia cerebral, Rspostas alteradas a estímulos sensoriais (alto limiar doloroso, hipersensibilidade aos sons ou ao toque, reações exageradas à luz ou a odores, fascinação com certos estímulos), Retardo mental, Temor excessivo em resposta a objetos inofensivos, Transtornos de alimentação (limitação a comer poucos alimentos), Transtornos de ansiedade, Transtornos de linguagem, Transtorno de movimento estereotipado, Transtornos de tique, Transtornos do humor/afetivos (risadinhas ou choro imotivados, uma aparente ausência de reação emocional), Transtornos do sono (despertares noturnos com balanço do corpo). Exames O diagnóstico do autismo é feito clinicamente, mas pode ser necessário a realização de exames auditivos com a finalidade de um diagnóstico diferencial. Outros exames devem ser considerados não para diagnóstico, mas com a finalidade de se realizar um bom tratamento. São eles: ácidos orgânicos, alergias alimentares, metais no cabelo, perfil ION, imunodeficiências, entre outros. Texto extraído do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Autismo Sites de apoio: http://autismoamor.blogspot.com/ Álbum no picasa com muitos materiais http://picasaweb.google.com.br/lungwitz.andrea134 http://www.revistaautismo.com.br/ http://www.cedapbrasil.com.br/portal/ CAMINHE COM A AMDE! Hoje para darmos sustentabilidade aos trabalhos, organizamos eventos, cursos, bazares e precisamos da ajuda de Empresas e pessoas Física, dispostas a se comprometerem em nos auxiliar no que se refere a zerar o número de crianças sem atendimento, visto que nosso trabalho é gratuito, considerando a vulnerabilidade social das famílias. SEJAM BEM-VINDOS! Presidente da AMDE: José Osvaldo Gonçalves Orientadora Pedagógica: Andrea Lungwitz Cléto “Se você não puder curar a criança autista, ame-a. De todo o seu coração, com todo o seu amor e toda a sua aceitação. Alguma tarefa importante ela está desempenhando junto de você, certamente para proveito de ambos. Uma luz transcendental que irá iluminar uma felicidade com a qual você nem imaginou que pudesse existir: Confie, trabalhe e espere.” Hermínio Correa de Miranda.
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EVENTOS ACADÊMICOS: Ciências Exatas e da Terra X CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL, I SIMPÓSIO DE SUSTENTABILIDADE & I ENCONTRO DE EDUCAÇÃO DO CIRCUITO DAS ÁGUAS De 09 a 12 de outubro de 2011. Local: São Lourenço, MG. Maiores informações em: http://www.xceb.com.br/
PALESTRA "E EU COM O CLIMA?" Em 17 de outubro de 2011. Local: Campo Grande, MS. Maiores informações em: http://www.casadaciencia.ufms.br/
III ENCONCONTRO SUL-MINEIRO DE ENSINO DE FÍSICA (ESMEF) De 17 a 19 de outubro de 2011. Local: Itajubá, MG. Maiores informações em: http://www.espacointerciencias.com.br/esmef2011/index.php
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I SEMANA DA MATEMÁTICA – UFAC De 17 a 21 de outubro de 2011. Local: Rio Branco, AC. Maiores informações em: http://www.semanadamatematica.com.br/
WORSHOP "FAÇA SEU TELESCÓPIO" Em 22 de outubro de 2011. Local: Belo Horizonte, MG. Maiores informações em: http://www.ceamig.org.br/
3ª CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA EM TELECOMUNICAÇÕES (IEEE LATINCOM) De 24 a 26 de outubro de 2011. Local: Belém, PA. Maiores informações em: http://www.ieee-latincom.ufpa.br/
SEMANA ACADÊMICA DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DA UVV De 25 a 27 de outubro de 2011. Local: Vila Velha, ES. Maiores informações em: http://www.uvv.br/portais/comunicacao/evento/140/semanaacademica-demedicina-veterinaria.aspx
X CONGRESSO BRASILEIRO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE De 26 a 28 de outubro de 2011. Local: Rio de Janeiro, RJ. Maiores informações em: http://www.profixconsultoria.com.br/defesa_meio_ambiente_2011/dma2011_abertura.h tm
38º CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA (CONBRAVET) De 1° a 04 de novembro de 2011. Local: Florianópolis, SC. Maiores informações em: http://www.conbravet2011.com.br
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ENCONTRO REGIONAL DE ENSINO DE ASTRONOMIA De 07 a 08 de novembro. Local: Assis, PR. De 16 a 19 de novembro. Local: Presidente Prudente, SP. De 30 de novembro a 03 de dezembro. Local: Wenceslau Braz, SP. Maiores informações em: http://www.erea.ufscar.br/
14° ENCONTRO NACIONAL DE ASTRONOMIA – ENAST De 12 a 15 de novembro de 2011. Local: São Paulo, SP. Maiores informações em: http://www.enast2011.org/
I SEMINÁRIO NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE De 23 a 26 de novembro de 2011. Local: Jataí, GO. Maiores informações em: http://www.sencitis.com/
I SIMPÓSIO DE FÍSICA - "ATUAÇÃO DO FÍSICO E SUA IMPORTÂNCIA NA SOCIEDADE" De 24 e 25 de novembro de 2011. Local: Rio de Janeiro, RJ. Maiores informações em: http://nupesc.wordpress.com/2011/09/11/i-simposio-defisica/
I SEMANA ALAGOANA DE ASTRONOMIA De 28 de novembro a 03 de dezembro de 2011. Local: Maceió, AL. Maiores informações em: http://www.ceaal.al.org.br/programacao-2011
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EVENTOS ACADÊMICOS: Ciências Sociais e Humanas V ENCONTRO DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM APLICADAS AO ENSINO (ECLAE) De 12 a 15 de outubro de 2011. Local: Natal, RN. Maiores informações em: http://www.gelne.org.br
IV ENCONTRO DO PROJETO DE EXTENSÃO "CONVERSAS COM/SOBRE PEDAGOGOS" - TEMA: TECENDO DIÁLOGOS A PARTIR DO SALTO PARA O FUTURO: FORMAÇÃO E TRABALHO DO PEDAGOGO NA TV Em 13 de outubro de 2011. Local: Rio de Janeiro, RJ. Maiores informações em: conversascomsobrepedagogos@gmail.com
I FÓRUM DA INTERNET NO BRASIL Em 13 a 14 de outubro de 2011. Local: São Paulo, SP. Maiores informações em: http://forumdainternet.cgi.br
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SEMANA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E CULTURA - XVII CIENTEC 2011 De 17 a 21 de outubro de 2011. Local: Natal, RN. Maiores informações em: http://www.cientec.ufrn.br/cientec2011/
21º SEMINÁRIO NACIONAL DE PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORAS DE EMPRESAS & 19º WORKSHOP ANPROTEC De 24 a 28 de outubro de 2011. Local: Porto Alegre, RS. Maiores informações em: http://www.seminarionacional.com.br
III SEMANA DA PEDAGOGIA – FEBF De 24 a 28 de outubro de 2011. Local: Rio de Janeiro, RJ. Maiores informações em: http://semanadepedagogiafebf.blogspot.com/
III SEMINÁRIO NACIONAL GÊNERO E PRÁTICAS CULTURAIS: OLHARES DIVERSOS SOBRE AS DIFERENÇAS De 26 a 28 de outubro de 2011. Local: João Pessoa, PB. Maiores informações em: http://www.seminariogeneroufpb.org/
X CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE & I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, SUBJETIVIDADE E EDUCAÇÃO – SIRSSE De 07 a 10 de novembro de 2011. Local: Curitiba, PR Maiores informações em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2011
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V COLÓQUIO INTERNACIONAL DE POLÍTICAS E PRÁTICAS CURRICULARES De 08 a11 de novembro de 2011. Local: Local: João Pessoa, PB. Maiores informações em: Maiores informações em: http://www.vcoloquio.com.br/
13° SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO De 16 a 18 de novembro de 2011. Local: Belo Horizonte, MG. Maiores informações em: http://www.vcoloquio.com.br/
XX CONGRESSO NACIONAL DO CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA E PÓSGRADUAÇÃO EM DIREITO (CONPED) De 16 a 19 de novembro de 2011. Local: Vitória, ES. Maiores informações em: http://www.conpedi.org.br/
XII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA – Simpurb De 16 a 19 de novembro de 2011. Local: Belo Horizonte, MG. Maiores informações em: http://www.xiisimpurb2011.com.br/home/
VI SEMINÁRIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS De 30 de novembro a 02 de dezembro de 2011. Local: João Pessoa, PB. Maiores informações em: http://www.wix.com/6sems2011/6sems2011
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“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies.” Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)
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