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washington, um atacante

WASHINGTON,

UM ATACANTE DECISIVO

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E SEU CORAÇÃO VALENTE.

Rosária Farage Jornalista

ashington Stecanela Cerqueira nasceu num primeiro de abril e tem uma história de superação no futebol que parece até mentira. Diagnosticado com diabetes e tendo sofrido duas cirurgias cardíacas, o ex-jogador foi aconselhado na época a desistir da carreira. W

“Os médicos diziam para eu ter uma vida normal, mas que praticar esporte de alto rendimento era muito arriscado. Até que o Doutor Constantino Constantine, meu cardiologista até hoje, me deu uma chance. Ele refez todos os exames para ver se eu teria condição”.

Foi quando Washington fez a segunda angioplastia e colocou o outro stent. Ele tinha muita fé em Deus e acreditava em si mesmo. Por isso convenceu Mário Celso Petraglia, na época presidente do conselho deliberativo do Athletico Paranaense, a abrir as portas do clube para sua recuperação.

Após seis meses de treinamento e acompanhamento pelo clube, ele voltou a jogar. A primeira partida foi um dos momentos mais marcantes na carreira. No “jogo da vida”, como ficou conhecido este clássico entre Athletico e Paraná, ex-clube do atacante, Washington marcou o “gol da vida” e foi aplaudido pelas duas torcidas.

“Tenho uma identificação muito grande com todos os clubes por onde passei. São todos importantes, desde o Caxias até o Fluminense. Por exemplo, com a Ponte Preta fui até a Seleção Brasileira. No Athletico Paranaense tenho recorde de gols até hoje, no São Paulo também fui um dos artilheiros. Mesmo no Fenerbahçe, com a lesão cardiovascular, fui goleador. Adoro o Japão, onde aprendi muito em todos os clubes que joguei. Foram dez clubes dos quais tenho um prazer enorme de ter vestido e honrado a camisa”.

Coração Valente, apelido do atleta por vencer o problema cardíaco e ser protagonista em todos os times que defendeu posteriormente, encerrou sua carreira no início de 2011. Em dezembro do ano anterior ele tinha sido campeão brasileiro pelo Fluminense e aprovado nos exames médicos para próxima temporada. Mas preferiu parar no auge.

O clube carioca não foi apenas o último em que atuou como jogador profissional, talvez tenha sido ainda o mais importante pela conquista nacional e o vicecampeonato da Taça Libertadores, uma competição na qual ele se tornou protagonista atuando num time de estrelas.

“O GOL QUE FIZ CONTRA O SÃO PAULO, PELA LIBERTADORES, AOS 46 MINUTOS DO SEGUNDO TEMPO, FOI OUTRO MOMENTO MUITO MARCANTE NA MINHA CARREIRA, TALVEZ O MAIOR. ELEITO PELA TORCIDA DO FLUMINENSE O MAIS EMOCIONANTE”.

Whashington fez o gol que garantiu a classificação do Fluminense para a semifinal da competição em 2008, num Maracanã lotado. O adversário tinha vencido por 1 a 0 no jogo de ida, no Morumbi. Em casa, o tricolor carioca anotou 3 a 1 no placar.

“O gol que fiz contra o São Paulo, pela Libertadores, aos 46 minutos do segundo tempo, foi outro momento muito marcante na minha carreira, talvez o maior. Eleito pela torcida do Fluminense o mais emocionante”.

Pós-futebol, apoio familiar e futuro das competições

A vida do ex-jogador ainda tem sido muito agitada, mesmo após pendurar as chuteiras. Ele iniciou uma carreira como treinador e entrou na política. Foi o vereador mais votado de 2012 em Caxias do Sul. Depois, primeiro deputado suplente no Rio Grande do Sul.

“Assumi no lugar do Onyx Lorenzoni, que hoje é o ministro da cidadania. Fiquei um período como deputado federal, depois fui secretário nacional de Esporte. Estive como diretor da CBF. Fiz curso de gestão, de treinador. Me preparei e atualizei em todos os sentidos. Dependendo da oportunidade, vou abraçando e trabalhando”.

Em todas as decisões, antes e depois de ser atleta, a família sempre esteve presente. Até neste momento de isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus. Washington é casado e tem três filhos, seus país são idosos e residem separados. Mas a comunicação entre eles é constante.

“Meu pai está na casa dele, minha mãe na dela. Nos falamos pelo telefone quase que diariamente. Fico em casa com meus filhos. Estamos neste momento delicado. A preocupação maior é com os idosos, mas os mais jovens também têm que se cuidar. Estamos reclusos, inventando um monte de situações para passar o tempo, uma precaução importante para a saúde de todos”. Washington acredita que o mundo esportivo vai superar este momento e que a paixão pelo futebol vai fazer diferença no retorno, mexendo mais com o calendário das competições. “No futebol, as mudanças devem ser somente nas datas. Economicamente, este esporte faz um giro muito grande. Alguns times menores devem passar sufoco, pela falta de jogos, sem conseguir vender a marca e obter receita. Mas a partir da

volta, até pela saudade do povo, a economia neste setor deve voltar ao normal”. E no período de campeonatos suspensos, quando o futebol vive de lembranças, vem a memória mais um gol histórico do Coração Valente. Primeiro do novo Maracanã, na reabertura, em 27 de abril de 2013. Washington era convidado do Bebeto e reserva do Romário, no confronto com os amigos do Ronaldo. Sem a presença do Baixinho, foi o grandão quem ocupou a área. Atacante de 1,89 metro de altura, Washington recebeu o cruzamento certeiro de Bebeto e, de cabeça, colocou a bola no fundo das redes. Foi grande a comemoração, porque o gol é o ápice do futebol, razão da expressão que escapa da boca de todo torcedor: “Haja coração!”.

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