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26 de Novembro de 2011 - Nº 5
Pauleta e Laval... P. 42
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O Semanal PortuguĂŞs
Palavras de boas-vindas
O Semanal Português
Editorial
Adeus Natal... Marie Moreira
Editora da revista O Semanal Português
A crise europeia não desapareceu com a tomada de posse do novo Governo, embora ele insista em não lhe fazer qualquer referência no seu programa. Compreende-se a estratégia: como antes recusou assumir que a crise portuguesa tivesse origem externa, também agora não o quer reconhecer. Mas a verdade é que a Europa vive um momento dramático e é necessário fazer tudo para impedir o naufrágio do projecto europeu. Exige-se, por isso, um elevadíssimo sentido da responsabilidade nas democracias europeias e dos seus partidos políticos. Um sentido da responsabilidade que o PSD e os restantes partidos da oposição não tiveram durante o último Governo do PS, quando decidiram rejeitar o PEC em 23 de Março, agravando a nossa situação económica e financeira e prejudicando a nossa imagem e credibilidade externa. Esconder uma crise desta natureza não é um bom princípio. Ela obrigou os governos anteriores do PS a tomarem um conjunto sucessivo de medidas para proteger as famílias e as empresas e depois a capacidade de financiamento do Estado. Já foram, portanto, tomadas demasiadas medidas de austeridade para evitar a degradação da situação económica e financeira do país. O acordo assinado com a “troika” devia ser o limite para os sacrifícios impostos aos portugueses, a menos que se prove serem absolutamente necessárias mais medidas de austeridade. Com efeito, o programa da “troika” já representa um sério aumen-
to das dificuldades económicas e sociais, com todo o seu cortejo de reduções salariais, eliminação de deduções fiscais, aumento de impostos e subida nos preços de alguns serviços públicos, com o que isto significa de redução do rendimento disponível das famílias. Mas, para surpresa de todos, eis que da cartola do Primeiro-Ministro sai, nada mais nada menos, do que um corte de 50 por cento no subsídio de Natal, que não é exigido pela “troika”, não foi anunciado no programa eleitoral do PSD nem constava do programa do Governo e certamente contribuirá para contrair ainda mais a economia. São menos 800 milhões de euros que se gastam ou se poupam saídos directamente dos bolsos dos contribuintes e sem retorno. Não se compreende que o Governo queira ser “mais ambicioso no processo de ajustamento da economia portuguesa”, sem que esteja para já provada a necessidade de mais medidas adicionais. Já basta a invasão de medidas previstas no memorando da “troika”. Se as medidas implementadas pelos anteriores Governos do PS e as que constam do acordo com a “troika” forem bem sucedidas, torna-se quase imoral exigir mais sacrifícios aos portugueses. A verdade é que, até ao momento, além dos dados de execução orçamental estarem dentro dos objectivos previstos, ainda não se comprovou a necessidade de medidas adicionais. A invocação da execução orçamental do primeiro trimestre para justificar o corte no subsídio de Natal é pura batota. Além disso, uma das preocupações de Pedro Passos Coelho na
União Europeia tem sido explicar que a situação de Portugal nada tem a ver com a da Grécia. Portanto não deveria lançar medidas como as que naquele país estão a ser adoptadas. É preciso não esquecer que, para fazer face à crise, os Governos anteriores tiveram de adoptar vários pacotes de medidas cujos resultados têm estado genericamente dentro dos objectivos esperados. E que os efeitos das medidas que foram acordadas com a “troika” só daqui a alguns meses se vão sentir. E também que ainda está para ver o que nos vai trazer o próximo o próximo Orçamento de Estado. A menos que os resultados da execução orçamental cumpram os seus objectivos de reequilíbrio das contas públicas. Mas se isso acontecer, ficar-se-á a dever, sobretudo, aos anteriores Governos do PS. É preciso, portanto, fazer apelo à coerência. Então não foi Pedro Passos Coelho que justificou o derrube do Governo com a necessidade de pôr fim aos sacrifícios dos portugueses? E não bastou já o aumento das dificuldades provocadas pela instabilidade política que se viveu no último ano e meio desde que Passos Coelho assumiu funções? Pretende agora o Governo quintuplicar as dificuldades? Em nome de quê? O actual Governo não pode passar uma esponja pelo passado, nem começar candidamente a fazer coisas que antes dizia que nunca faria (aumentar impostos) ou anunciar medidas que não estão previstas nem no programa do Governo nem são exigidas pela “troika”. O que vemos, para já, são cortes e privatizações.
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Le journal hebdomadaire Portugais
ÉDITEUR Marie Moreira Directrice Natércia Rodrigues ADMINISTRATEUR Marie Moreira Rédacteur-en-chef Anthony Nunes Infographiste Mario Ribeiro Collaborateurs Jessica de Sá (E-U) Sofia Perpétua (E-U) Avelino Teixeira (Toronto) correspondants António Lobo Antunes Hélio Bernardo Lopes Joel Neto José Carlos de Vasconcelos Fotographe José Rodrigues
Hebdomadaire Publié tout les Samedis Fondé le 29-10-2011 Tél.: (514) 299-1593 E-mail: osemanal@videotron.ca Tous droits réservés. Toute reproduction totale ou partielle est strictement interdite sans notre autorisation écrite. Les auteurs d’articles, photos et illustrations prennent la responsabilité de leurs écrits.
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Cabo Verde quer força de paz conjunta de língua portuguesa Cabo Verde quer ver criada uma força militar de manutenção de paz conjunta formada pelos oito estados membros da CPLP, assunto que vai ser abordado na 13.ª reunião dos ministros da Defesa dos “oito”. A reunião, que decorrerá segunda e terça-feira na ilha cabo-verdiana do Sal, juntará os titulares das pastas da Defesa de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, enquanto Timor-Leste estará representado pelo respeito secretário de Estado. Sobre a força de paz, o ministro da Defesa cabo-verdiano, Jorge Tolentino, disse hoje à Agência Lusa que Cabo Verde vai continuar a defender essa ideia junto dos seus homólogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), embora admita que haja dificuldades “institucionais e constitucionais” nalguns deles. “Há países claramente favoráveis à ideia, mas há outros que têm dificuldades nos planos institucional e constitucional, que tornam mais complicada a possibilidade de participar nesse tipo de força. Mas a ideia continua sobre a mesa e é um dos pontos que será abordado na reunião do Sal”, sublinhou. Jorge Tolentino, que assumirá a presidência do Fórum de Defesa dos “oito” ao longo do próximo ano, garantiu que, não obstante as dificuldades, o arquipélago “continua favorável” à constituição da força conjunta e que vai defendê-la na reunião. Sobre a reunião,
o governante cabo-verdiano admitiu que os “constrangimentos financeiros” atuais, decorrentes da crise económica internacional, vão condicionar, de futuro, as iniciativas conjuntas programadas, salientando, porém, que “não haverá perda” de eficácia. “Vamos é ter de ser mais criativos, saber conversar mais de perto uns com os outros e provocar sinergias entre os “oito”. Há uma margem enorme de capacidade de trabalho em conjunto que ainda não foi explorada, como na formação de quadros, que não exigirá investimentos avultados, e de exploração das capacidades que cada um dos estados membros já tem”, sustentou. Os constrangimentos financeiros são, também, a razão pela qual Cabo Verde vai propor a redução das reuniões semestrais do Secretariado do Fórum dos Ministros da Defesa da CPLP, para se proceder, simultaneamente, ao balanço das atividades do ano anterior e a perspetivar as ações para o ano seguinte. Outra questão passa pela reformulação da parte mais visível da cooperação entre os “oito”, os Exercícios Felino. “Este é um cenário que está sobre a mesa. O próximo exercício será, em 2012, na Guiné-Bissau. Mas vamos ter de falar, sem pejo, da periodicidade dos exercícios. É a esse nível que o problema dos constrangimentos financeiros mais se coloca”, frisou Jorge Tolentino.
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Papa diz que a igreja norteamericana está a esforçarse contra a pedofilia Cidade do Vaticano, 26 nov (Lusa) - O papa Bento XVI disse hoje que a Igreja Católica nos Estados Unidos faz “esforços conscientes” no combate ao “flagelo”
“Espero que os esforços conscienciosos da Igreja para lidar com essa realidade venha a ajudar a comunidade em geral, para melhor entender as causas, fre-
da pedofilia, sublinhando que o problema não é exclusivo da Igreja. “É justo que se aplique à Igreja padrões muito elevados sobre este ponto, mas esses mesmos critérios devem ser aplicáveis às outras instituições, sem exceção”, declarou o papa durante a receção de um grupo de bispos norte-americanos.
quência e consequências da violência sexual e lutar mais eficazmente contra este flagelo que afeta a sociedade a todos os níveis”, acrescentou. A Igreja Católica nos Estados Unidos foi abalada, nos últimos anos, por vários casos de pedofilia.
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Portugal corre o risco de coletivamente dar uma grande cabeçada na parede O ex-Presidente da República Mário Soares advertiu hoje que Portugal pode coletivamente dar uma grande cabeçada na parede caso este Governo mantenha uma política neoliberal, aumentando o desemprego e continuando a apertar a “atarraxa da austeridade”. A posição foi assumida por Mário Soares em entrevista à agência Lusa, no dia em que encabeçou a assinatura de um manifesto que apela à mobilização dos cidadãos contra as políticas de austeridade. Além de Mário Soares, assinam este manifesto - tornado público na véspera da greve geral convocada pela CGTP-IN e UGT - Isabel Moreira (deputada independente do PS), Joana Amaral Dias (ex-dirigente do Bloco de Esquerda), José Medeiros Ferreira (ex-ministro dos Negócios Estrangeiros), Mário Ruivo (professor universitário), Pedro Adão e Silva (ex-dirigente do PS), Pedro Alves (líder da JS), Vasco Vieira de Almeida (advogado, ex-ministro socialista) e Vítor Ramalho (líder do PS/Setúbal). Para o ex-chefe de Estado, as políticas públicas não podem ser só carateriza-
das por “austeridade e austeridade, sem nada se fazer a favor do crescimento da economia e, sobretudo, sem se lutar contra o desemprego, que está a crescer de forma explosiva”. “Não podemos ir para além do documento que assinámos com a ´troika´, até porque penso que dentro de um ano tudo vai mudar. Portanto, não devemos apertar tanto a atarraxa para que não se entre numa recessão profunda. Mas isso pode acontecer se não conseguirmos desenvolver a economia”, sustentou Mário Soares. O ex-Presidente da República criticou diretamente a linha orçamental e política seguida neste momento no país e manifestou-se preocupado com o futuro de Portugal a prazo. “Se estivermos só a fazer uma política neoliberal - como a que está a ser seguir por este Governo e que falhou em toda a parte do mundo -, podemos coletivamente dar uma grande cabeçada na parede. Este caminho não é o único e há outras alternativas. Os subscritores [do documento] querem precisamente discutir isso”, salientou o fundador do PS.
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ivanka trump Nacionalidade: Norte-americana Data de nascimento: 30 de Outubro de 1981 ProfissĂŁo: EmpresĂĄria, socialite e modelo
As 100 mulheres mais bonitas de 2011
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Opinião
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crónica | Muito Bons Somos Nós
Eu ainda não vejo aí crise quase nenhuma Joel Neto Aos onze anos, o meu pai apascentava ovelhas em Porto de Mós. Levantava-se de madrugada, era destratado por patrões abrutalhados, alimentava-se desadequadamente, levava coices de mulas neuróticas e, em geral, tinha uma vida semelhante à de uma personagem de Steinbeck.
a prosperidade. Nós não somos um povo ao qual a prosperidade assente bem, ou sequer faça bem. Adiante. Na semana passada, precisei de comprar
para seis carpintarias de Lisboa diferentes, a encomendar uma prancha de tabopan com 2,00 m por 2,20 m. Está bem, está bem: os
carpintarias em causa, uma não atendeu, outra disseme para deixar nome e número de telefone, que o marceneiro logo me ligava (não ligou), outra tinha o operador de máquinas de
E eu, que já fui um gastador, fico a pensar que a crise ainda não chegou, a não ser àqueles que perderam os empregos. E mesmo a alguns desses, aliás, não chegou, caso contrário não pegavam tantos deles nas indemnizações para irem comprar carros novos, que os antigos, coitados, já estavam a ficar um bocadinho descaídos.
O serviço militar, a guerra colonial e, em particular, as Tropas Pára-Quedistas Portuguesas abriram-lhe horizontes e deram-lhe oportunidades, que na verdade foram as minhas oportunidades também. Mas a sua pré-história de sobrevivência, tal como a vontade indómita de que teve de socorrer-se para superar a sua condição, incrustaram-se-me no carácter.
De resto, os taxistas continuam a chatear-nos a molécula de cada vez que a corrida é inferior a cinco euros, o que significa que o negócio ainda não vai tão mal quanto isso.
Tenho de deixar de julgar as pessoas em função apenas da sua ética de trabalho, que me ponho velho. Mas a questão é que, quando olho para a malta de hoje (por favor, deixemme usar a expressão “a malta de hoje”), sinto-me bem mais próximo do meu pai do que dela. E não falo apenas do ponto de vista moral (pobre daquele que, aos trinta, não chegar à conclusão de que, afinal, o pai é o melhor homem que já encontrou). Falo também do ponto de vista prático.
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Há quinze ou vinte anos, apesar de tudo, ainda se fazia um esforço. A ideia que tenho é que, hoje em dia, já ninguém faz um esforço – e, se tenta, não sabe como fazê-lo, porque a tenacidade se diluiu no tempo, porque algures um elo se quebrou, provavelmente com
gajo que quer uma prancha de tabopan nunca vai pedir mais do que uma reparação nas persianas ou um afagamento no soalho. E a nenhuma, naturalmente, o sentido de missão se impôs sobre o interesse contabilístico – que diabo é isso, afinal, “sentido de missão”?
Os festivais de Verão tornaram este ano a bater recordes de afluência, o que nos demonstra que muitos orçamentos familiares ainda não levaram a pancada.
Agora já sei isso, mas na altura não sabia (vocês talvez ficassem surpreendidos com a quantidade coisas que eu não sei, nomeadamente sobre a vida real).
estrados das camas já não podem ser feitos em tabopan, porque os colchões precisam de respirar, caso contrário vêem reduzida a sua vida útil. Agora já sei isso, mas na altura não sabia (vocês talvez ficassem surpreendidos com a quantidade coisas que eu não sei sobre a dimensão animal dos objectos, embora também orgulhosos do que tenho aprendido sobre a dimensão humana dos animais).
De maneira que liguei
O facto é que, das seis
um estrado para uma cama. Está bem, está bem: bastava-me ir ao Ikea, à Moviflor ou a qualquer outra mega loja de mobiliário formatado, que tinha dezenas de opções a todos os preços, incluindo estrados quase dados.
férias, outra precisava primeiro de confirmar se havia tabopan em stock e as restantes duas lamentavam muito, mas só se dedicavam a trabalhos industriais para empresas. A nenhuma interessou a minha obra de cinquenta euros – são trabalhos pequenos, dão mais despesa do que lucro. A nenhuma interessou sequer despistar a possibilidade de, atrás desse trabalho, virem outros – um
E qualquer contestação que vá havendo ao estado de coisas ainda se resume ao protesto puro e simples, feito quase por desporto, sem subversão criativa, sem malícia, sem cultura. Tudo bem: por mim, fui ao Ikea e ainda trouxe de lá um candeeiro. Mas, se isso resolveu o meu problema, não resolve o problema da economia portuguesa. Continuamos a viver, tenho a impressão, como se estivéssemos em 1998. E, quando isto bater, já será tarde de mais.
Opinião
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crónica | Opinião O almoço
Palavra de honra que não estava nada à espera quando hoje entrou no restaurante depois de mim, um pouco gordo, um pouco marreco, de cabeça talvez um bocadinho grande demais para o corpo e, apesar de haver duas ou três mesas sem ninguém, aproximou-se da minha António Lobo Antunes Palavra de honra que não estava nada à espera. Primeiro porque aos cinquenta e dois anos não se espera grande coisa, a não ser o médico a informar que um dos rins não está bem, e segundo porque em tantos meses a almoçarmos no mesmo restaurante, cada qual na sua mesa, eu com uma revista e ele com o jornal, nunca dei por qualquer soslaio, qualquer atenção, qualquer interesse da sua parte. Às vezes subia das páginas por causa de uma rapariga, que podia ser minha filha, a comer uma sopa ao balcão, passava-lhe uma luz nos óculos, a luz apagava-se, enfiava o queixo nas notícias, se calhar a aceitar, conformado - Podia ser minha filha pedia a conta antes de mim numa lentidão vencida, não deixava gorjeta que os tempos não estão para generosidades, ia-se embora um pouco gordo, um pouco marreco, de cabeça
talvez um bocadinho grande demais para o corpo, via-o lá fora a acender um cigarro, a ingressar na bicha do multibanco, a meter um papelinho na carteira, a sumir-se por fim, lento, pausado, cuidadoso com os semáforos, e perdia-o até ao dia seguinte, em que uma alheira e o diário, ou uma corvina e o diário, ou meia de lulas e o diário, ou um clarãozinho nas dioptrias a propósito de uma sopa e uma rapariga que podia ser nossa filha. Portanto palavra de honra que não estava nada à espera quando hoje entrou no restaurante depois de mim, um pouco gordo, um pouco marreco, de cabeça talvez um bocadinho grande demais para o corpo e, apesar de haver duas ou três mesas sem ninguém, aproximou-se da minha e perguntou-me, numa voz que não ligava com a boca, se me importava que se sentasse à minha frente. De início nem percebi bem. Consegui um - Perdão? atrapalhado, a impedir, no último momento, o copo de água de se entornar porque um dos meus cotovelos, ou uma das minhas mãos, ou a minha revista o tombavam, ele insistiu, na tal voz que não ligava com a boca e eu imaginava cheia, redonda, suave, em lugar de mole, aguda, raspante
(mas isso são pormenores, o que interessa é a personalidade e o carácter) - Não se importa que me instale aqui? de maneira que eu - Ora essa a puxar o rectângulo de papel do prato, dos talheres, do guardanapo, de maneira a abrir espaço para o rectângulo dele, repetindo sem dar fé - Ora essa, ora essa de súbito consciente que mal penteada, mal pintada, mal vestida, sapatos rasos, meias cor de carne, pior que meias, collants, soutien cor de carne igualmente, um anelzeco de pacotilha, um colar sem relação com a blusa, brincos minúsculos, a pulseira idiota que uma sobrinha me impingiu, dois terços de baton já no guardanapo, os dentes, a necessitarem de ser limpos, teimando - Ora essa, ora essa enquanto ele estudava a ementa, longíssimo de mim embora ali, enquanto ele para o empregado, de indicador no ar - Chocos quase de costas, com botões de punho que eram bolas de futebol doiradas, se outro homem as usasse horríveis e na sua camisa quase aceitáveis, na sua camisa perfeitamente acei-
táveis, ao voltar-se - Aprecia chocos? eu, que detesto chocos, aquelas pernas, aquela tinta, um sorriso encantado
do roxo, ele, enquanto os chocos não vinham
- Se forem bem cozinhados
ele, enquanto os chocos não vinham
a imaginar-me ao fogão a prepará-los, transtornada, só de pensar em tocar naquilo estremeço, chocos e mioleira estremecem-me, rezei para que não prosseguisse o interrogatório alimentar e Deus, na sua infinita bondade, atendeume, obrigada, passou dos chocos para a actividade profissional - Sou angariador de seguros e que alívio angariador de seguros, para além de uma alma de filósofo na cabeça talvez um bocadinho (um bocadinho perfeitamente suportável) grande demais para o corpo - Por desgraça não somos eternos
- A partir dos cinquenta, e falo por mim, não será má ideia tomar alguns cuidados acompanhado de uma apólice, uma caneta, um bloco e a voz, que não ligava com a boca, não mole, aguda e raspante conforme eu julgava, um latido sinistro - A senhora beira os sessenta, não? de modo que antes de escutá-lo a acrescentar - Eu, se fosse você, andava a pau com a saúde
e ora aí está uma verdade do tamanho do Himalaia, não somos eternos, o meu pai, por exemplo, com enfisema, sem sair da poltrona, a minha mãe a girar a torneira do oxigénio e a meter-lhe um tubo no nariz - Respira isso um bocadinho com o meu pai continuan-
- Nunca pensou numa apólice de doença?
reparei melhor nas bolas de futebol dos botões de punho, achei-as não quase aceitáveis, não perfeitamente aceitáveis, um pavor, como o achei um gordo disforme, um corcunda atroz, um cabeçudo de feira, troquei-o pela revista, não lhe escutei o - Até breve, espero e pedi uma mousse de chocolate a fim de diluir o gosto tenebroso, não bem a chocos, a cinquenta e dois anos sem esperança, que, estou para adivinhar porquê, demorou a tarde inteira até me sair da boca.
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Saúde
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doenças respiratórias?
Saúde
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O que são doenças respiratórias?
Sintomas e diagnóstico das doenças que afectam trato e órgãos do sistema respiratório Doenças nasais: doenças do naO que são doenças respiratóriz em geral ou não especificadas. rias? As doenças respiratórias são as Exemplos de doenças nasais são que afectam o trato e os órgãos do as neoplasias nasais, doenças dos seios paranasais e a rinite. A epistasistema respiratório. xe (derramamento de sangue pelas fossas nasais), a granuloma letal da Quais são os factores de risco? O tabagismo, a poluição, a expo- linha média, a obstrução nasal, as sição profissional a poluentes at- deformidades adquiridas nasais, a mosféricos, as condições alérgicas rinoscleroma (infecção) e os pólie doenças do sistema imunitário, entre outros. Que tipos de doenças respiratórias existem? Existem 14 tipos diferentes de doenças respiratórias Broncopatias: doenças dos brônquios, como a asma, a bronquiectasia e a bronquite. Pneumopatias: grupo de doenças pulmonares, entre as quais se destacam a atelectasia, as doenças pulmonares intersticiais, neoplasias pulmonares, tuberculose pulmonar, hipertensão pulmonar, pneumopatias obstrutivas, pneumonia, pneumopatias fúngicas, pneumopatias parasitárias, síndroma do desconforto respiratório do recém-nascido. Transtornos respiratórios: são assim designadas as doenças respiratórias em geral ou aquelas que não são uma doença específica. Neste grupo incluem-se a apneia, síndroma do desconforto respiratório do recém-nascido, dispneia, insuficiência respiratória, hiperventilação, etc. A tosse, a rouquidão, a aspiração de mecônio, respiração bucal, laringismo, síndroma do desconforto respiratório do adulto, também são considerados transtornos respiratórios. Fístula do trato respiratório: passagem anormal na comunicação entre algum componente do trato respiratório ou entre qualquer parte do sistema respiratório e os órgãos circunvizinhos. Doenças torácicas: doenças que afectam o tórax. Transtornos da motilidade ciliar: desordens caracterizadas pelo movimento ciliar anormal no nariz, nas sinuses paranasais, no trato respiratório, entre outras. A síndroma de Kartagener, doenças respiratórias crónicas, a sinusite crónica e a otite crónica constituem manifestações deste tipo de transtornos.
complexo da doença respiratória bovina, bronquite, laringite, legionelose (doença do Legionário), pneumopatias fúngicas, pneumopatias parasitárias, pleurisia, pneumonia, rinite, sinusite, tonsilite, tuberculose pleural, tuberculose pulmonar, coqueluche, resfriado comum, influenza, abcesso pulmonar, faringite, rinoscleroma, síndroma respiratório agudo grave, traqueíte (inflamação da traqueia)
das cordas vocais. Estas doenças relacionam-se também com as otorrinolaringopatias. Doenças pleurais: empiema pleural, hemotórax (derrame de sangue no tórax), derrame pleural, neoplasias pleurais, pleurisia e tuberculose pleural, bem como quilotórax (derrame de quilo na cavidade pleural), hemopneumotórax, hidropneumotórax, hidrotórax e pneumotórax. Anormalidades do sistema respiratório: anormalidades congénitas estruturais do sistema respiratório, como o cisto broncogénico, o sequestro broncopulmonar, a atresia coanal, a malformação adenomatóide, a cística congénita do pulmão, a síndroma de Kartagener, a síndroma de Cimitarra e a traqueobroncomegalia. Neoplasias do trato respiratório: neoplasias pulmonares, pleurais e nasais. Como se diagnosticam as doenças respiratórias? Pela observação clínica, através de técnicas e meios complementares de diagnóstico, entre os quais: testes da função respiratória, testes de sons respiratórios, broncografia, broncoscopia, laringoscopia, radiografia pulmonar de massa, depuração mucociliar, testes de provocação nasal, rinomanometria e rinometria acústica.
pos nasais (tumores) integram-se também nas doenças nasais. Hipersensibilidade respiratória: uma forma de hipersensibilidade que afecta o trato respiratório, como acontece com a asma, a febre dos fenos, a alveolite alérgica extrínseca, a aspergilose broncopulmonar alérgica e a rinite alérgica perene. Infecções respiratórias: infecções do trato respiratório superior. Resultam dessas infecções as seguintes doenças: empiema pleural,
e tuberculose laríngea. Doenças da traqueia: incluem neoplasias da traqueia, estenose traqueal (estreitamento patológico da traqueia), traqueíte, traqueobroncomegalia, fístula traqueoesofágica. Doenças da laringe ou laringopatias: doenças da laringe em geral ou não especificadas, entre as quais se contam a laringite, os distúrbios da voz, o granuloma laríngeo, o edema laríngeo, as neoplasias laríngeas, o laringismo, a laringoestenose, a tuberculose laríngea, a paralisia
Quais são os principais sintomas de doença respiratória? Cada doença tem sintomas específicos, que só o médico pode avaliar. Contudo, a tosse, a rouquidão, o nariz entupido, dores no peito, dores de garganta, garganta irritada, pingo no nariz, dificuldade em respirar quando não está a fazer esforço (a subir escadas, a andar, a fazer exercício), dispneia, entre outros, são sintomas de doença respiratória. A que médico devo recorrer? Em primeira instância, ao seu médico de família no centro de saúde da sua área de residência. Só ele pode determinar se deve ser encaminhado para um médico especialista e de que especialidade. Para saber mais, consulte: Sítio das Doenças Respiratórias www.doencasrespiratorias.dgs.pt
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Gastronomia
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receitas
Bolo de Leite Condensado com cobertura de laranja
Ingredientes: 1 lata de leite condensado 5 ovos 150gr de manteiga 200gr de farinha 2 gotas de aroma de baunilha Manteiga e farinha q.b. Para a cobertura: 1 chávena de açúcar 6 collheres (sopa) cheias de sumo de laranja 25 gotas de sumo de limão
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Preparação: Ligue o forno a 190ºC. Unte uma forma de buraco com manteiga e polvilhe-a com farinha. Separe as claras das gemas. Bata as claras em castelo. Bata muito bem o leite condensado e junte as gemas uma a uma, batendo sempre. Acrescente a manteiga derretida, a farinha peneirada e o fermento. Por último, envolva o aroma de baunilha e as claras, suavemente. Verta a massa na forma e leve ao forno durante 40 minutos. Enquanto o bolo está no forno, leve todos os ingredientes referidos para a cobertura à liquidificadora e bata bem. Quando o bolo estiver pronto, desenforme ainda quente e pique com um palito comprido. Por fim, verta, aos poucos, a cobertura. Como o bolo está quente ira absorver e ficar húmido por dentro.
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Gastronomia
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Almôndegas com molho especial
Ingredientes: 12 almôndegas de carne de vaca; 2 cenouras aos cubos pequenos; 100g de ervilhas congeladas 50g de tomate maduro ou polpa de tomate Sal e pimenta q.b.; 1/2 pacote de natas; Queijo ralado q.b.; 1/2 cebola picada; 2 dentes de alho picados 2 dl de azeite Preparação: Leve a cebola e os dentes de alho a refogar um pouco em azeite. De seguida, acrescente o tomate e as almôndegas e tempere de sal e pimenta. Deixe cozinhar em lume brando durante dez minutos.
Junte então as ervilhas, as cenoura e meia chávena de água quente. Deixe ferver por mais dez minutos. Mexa com cuidado e, depois, junte as natas. Deixe cozinhar por mais cinco minutos. Num prato ou travessa de barro, coloque as almôndegas com o molho, polvilhe com queijo ralado a gosto e leve ao grill, na potência máxima, por cerca de dez minutos. Este molho fica muito bom! Por cima fica crocante e por baixo fica cremoso. Acompanhe com umas batatas fritas, como se pode ver na imagem. Bom apetite! Observações: No final, salpique com um pouco de coentros ou salsa.
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Cultura
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lENDAS DE
pORTUGAL
Lenda da Caparica
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Há muitos, muitos anos, quando a Caparica era apenas um local ermo, com meia dúzia de casas, apareceu uma criança muito bonita, pobremente vestida que ninguém sabia donde vinha. Um velho da freguesia da Senhora do Monte tomou conta dessa menina que não sabia nada sobre a sua origem, apenas sabia que possuía aquela capa que trazia. O velho reparou que a capa, apesar de muito velha, era uma capa de qualidade, provavelmente pertencente a uma família rica ou mesmo nobre. Passaram-se muitos anos até que a menina se tornou numa bela jovem.
tase, rezava a Deus pedindo-lhe que quando morresse o Manto Divino de Nossa Senhora do Monte cobrisse com a Sua benção todos aqueles que naquela localidade A veneravam. Ao terminar aquelas palavras ela pegava na sua capa velha e erguia-a ao céu. Este estranho comportamento chegou aos ouvidos do rei que a mandou vir à sua presença, acompanhada da famosa capa que todos diziam ter feitiço. A velha senhora disse ao rei que nada tinha a ver com bruxedos e que o que fazia era apenas rezar a Deus. Comovido, o rei mandou-a embora com uma bolsa de dinheiro e a velha continuou a sua vida solitária
Estando o velho às portas da morte pediu-lhe, como última vontade, que pusesse a sua capa por cima dele para o aquecer naqueles últimos momentos, dizendo à jovem que aquela capa velha era uma capa rica. A jovem fez-lhe a vontade e, quando o velho morreu, juntou o pouco dinheiro que restava para lhe dar uma sepultura digna. Passou dias sem comer e noites sem dormir mas tinha a consciência tranquila de ter retribuído tanto em vida como na morte a bondade do velho. A jovem ficou naquele casebre e envelheceu sozinha. O povo, que a achava estranha e lhe chamava bruxa, reparou que ela tinha o ritual de subir ao alto do monte e, num ar de êx-
até que um dia morreu. Junto do corpo da Velha da Capa, que era como o povo a designava, encontraram uma carta dirigida ao rei. A Velha da Capa tinha descoberto na hora da sua morte que a capa era afinal uma capa rica porque tinha encontrado uma verdadeira riqueza escondida no seu forro. Pedia ao rei que utilizasse aquele tesouro para transformar aquela costa numa terra de sonho e maravilha onde houvesse saúde e alegria para todos. Reza a lenda que foi assim que surgiu a Costa da Caparica, em homenagem de uma menina de origem desconhecida que tinha como único bem uma capa velha que afinal era uma capa rica.
Cultura
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história DE
pORTUGAL
A ocupação romana A partir dos finais do século IV a.C., um novo poderio se desenhou no Mediterrâneo Ocidental: Roma. Durante três séculos, Roma foi construindo esse poder, expandindo-se primeiro para os territórios vizinhos da Península Ibérica, depois para os territórios do Mediterrâneo Oriental e Ocidental e Norte de África e, por fim, para a Europa Central e de Leste. Foi na sequência da segunda guerra púnica (218 a 201 a.C.), entre
A resistência aos romanos A ocupação da Península Ibérica pelos romanos teve respostas das populações indígenas. Estas foram mais notórias a partir de 194 a.C., ano em que se terão registado confrontos entre lusitanos e romanos que se prolongaram até ao ano 138 a.C. e ficaram conhecidos como a «guerra lusitana». Esta guerra terá consistido num amplo confronto entre romanos e vários bandos muito aguerridos que procuravam ocupar territórios ricos submetidos aos romanos, principalmente terras da actual Andaluzia. É no decurso desta confrontação que, no ano 147 a.C., surge um novo grupo de lusitanos, liderado por Viriato, aclamado como chefe pelos seus iguais, que consegue infligir várias derrotas aos romanos, assegurando posições na periferia da Andaluzia. Nenhum chefe dos grupos resistentes à ocupação romana foi tão mitificado como Viriato, considerado, por muitos historiadores, como o símbolo da resistência peninsular. Por último, Roma, no ano 19 a.C., ocupou a zona norte da Península, a mais atrasada e inóspita, que era habitada por cântabros e astures. O objectivo era assegurar fronteiras naturais e pacificar a zona, para que os seus habitantes não atacassem os povos do vale do Ebro e da Meseta, já em plena fase de romanização.
A vegetação natural cartagineses e romanos, que as legiões romanas, comandadas pelo cônsul Cneio Cornélio Cipião, entraram na Península, não no sentido, pelo menos inicialmente, de conquistarem, mas sim de atacarem os cartagineses pela retaguarda, de modo a afastá-los do solo itálico. Era nas regiões da Península que os cartagineses se reforçavam, tanto em homens, como em abastecimentos e, assim, todos os golpes desferidos aqui contra os cartagineses poderiam ter efeitos decisivos na guerra entre os dois povos. No ano 206 a.C., os romanos conseguiam acabar definitivamente com o poder dos cartagineses na Península, podendo afirmar-se que, a partir daí, começou a administração romana, feita inicialmente quase como uma ocupação militar destinada a manter a ordem e a promover a exploração dos recursos dos territórios ocupados, agora parte do Império Romano. Em 197 a.C. o terrirório seria dividido em Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior.
A vegetação natural é o reflexo do clima e do solo. Na Ibéria Húmida desenvolve-se, devido às chuvas abundantes e temperaturas suaves ao longo do ano, uma vegetação de folha caduca (carvalhos, faias, pinheiros, freixos), aglomerada em bosques. Para além dos bosques, aparecem outros tipos de formação vegetal: os prados (plantas rasteiras) e os matagais (arbustos ou árvores de pequeno porte). Na Ibéria Seca, com baixas precipitações anuais e elevadas temperaturas no Verão, desenvolve-se uma formação vegetal de bosques de folha persistente (azinheira, sobreiro). Ao longo dos últimos séculos, os grandes bosques da Ibéria Seca foram desaparecendo para dar lugar a uma vegetação rasteira, pela acção do homem, tanto directa (corte e abertura de clareiras), como indirecta (devastação pelos rebanhos e incêndios).
As comunidades agro-pastoris No decurso do período neolítico, o clima europeu estacionou, tornando-se, na Península Ibérica, mais quente e seco, provocando alterações na vegetação e na fauna. Desapareceram os grandes herbívoros (rena, mamute) que, até aí, eram a base da alimentação do homem primitivo. Este período, também chamado da Pedra Polida, caracteriza-se pela passagem de uma economia recolectora para uma economia de produção, com o início da agricultura, da criação de gado, da cerâmica e da tecelagem. A relação entre o homem e a natureza modifica-se completamente em consequência desta chamada revolução neolítica, que alastra à Península antes de 4.000 a.C. Com as novas condições climáticas, o homem cria um novo modo de vida: torna-se agricultor e pastor (domestica alguns animais), começa a formar aldeamentos, muitas vezes situados perto do litoral ou dos rios, e torna-se sedendário. Nas novas comunidades produtoras, os homens viviam em conjunto, definindo as tarefas que cabiam a cada um (os agricultores, os pastores e os artesãos).
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Destino:
ilhas CanĂĄrias
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dESTINO: ilhas Canárias
As ilhas Canárias são conhecidas desde a Antiguidade: existem relatos fidedignos e vestígios arqueológicos da presença cartaginesa na ilha. Foram descritas no período greco-
romano a partir da obra de Juba II, rei da Numídia, que as mandou reconhecer e que, afirma-se, por nelas ter encontrado grande números de cães, deu-lhes o nome de “Canárias” (“ilhas dos cães”). São referidas por autores posteriores como “Ilhas Afortunadas”. Depois de um período de isolamento, resultado da crise e queda do Império Romano do Ocidente, e das invasões dos povos bárbaros, as ilhas foram redescobertas e novamente visitadas com regularidade
por embarcações europeias a partir de meados do século XIII. A sua redescoberta é reivindicada por Portugal em período anterior a Agosto de 1336. A sua posse,
entretanto, foi atribuída ao reino de Castela pelo Papa Clemente VI, o que suscitou um protesto di-
plomático de Afonso IV de Portugal, por carta de 12 de Fevereiro de 1345: “Ao Santíssimo Padre e Senhor Clemente pela Divina Providência Sumo Pontífice da Sacrossanta e Universal Igreja, Afonso rei de Portugal e do Algarve, humilde e devoto filho Vosso, com a devida reverência e devotamento beijo os beatos pés. (…) Respondendo pois à dita carta o que nos ocorreu, diremos reverentemente, por sua ordem, que os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas Ilhas [Afortunadas]. E nós, atendendo a que
as referidas ilhas estavam mais perto de nós do que qualquer outro Príncipe e a que por nós podiam mais
comodamente subjugar-se, dirigimos para ali os olhos do nosso entendimento, e
nossos reinos. Porém, quando cuidávamos em mandar uma
desejando pôr em execução o nosso intento mandámos lá as nossas gentes e algumas naus para explorar a qualidade daquela terra. Abordando às ditas Ilhas se apoderaram, por força, de homens, animais e outras coisas e as trouxeram com muito prazer aos
armada para conquistar as referidas Ilhas, com grande número de cavaleiros e peões, impediu o nosso propósito a guerra que se ateou primeiro entre nós e El-rei de Castela e depois entre nós e os reis Sarracenos. (…)” Nos séculos seguintes,
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com o consentimento papal e o apoio da Coroa castelhana, organizaram-se várias expedições comerciais em busca de escravos, peles e tinta.
salagem aos reis de Castela e com o apoio da Santa Sé. Devido à localização geográfica, à falta de interesse comercial e à resistência dos Guanches ao invasor, a
Em 1402 iniciou-se a conquista destas ilhas com a expedição a Lançarote dos Normandos Jean de Bethencourt e Gadifer de la Salle, mas prestando vas-
conquista só foi concluída em 1496 quando os últimos Guanches em Tenerife se renderam. Ermida histórica de São Telmo em Las Palmas de
Gran Canaria, aguarela de José Comas Quesada.
quista do Novo Mundo, baseada na destruição qua-
do cristianismo, miscigenação genética dos nativos
A conquista das Canárias foi a antecedente da con-
se completa da cultura indígena, rápida assimilação
e dos colonizadores. Uma vez concluída a con-
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dESTINO: ilhas Canárias
quista das ilhas, passa a depender do reino de Castela, impõe-se um novo modelo económico baseado na monocultura (primeiro a canade-açúcar e posteriormente o vinho, tendo grande importância o comércio com Inglaterra). É nesta época que se constituíram as primeiras instituições e órgãos de governo (Cabildos e Concelhos). As Canárias converteram-se em ponto de escala nas rotas comerciais com a
determinados sectores da sociedade, mas as crises
América e África (o porto de Santa Cruz de La Palma chega a ser um dos pontos mais importantes do
da monocultura no século XVIII e a independência das colónias americanas no século XIX provocaram
Império Espanhol), o que traz grande prosperidade a
graves recessões. No século XIX e na pri-
meira metade do século XX, a razão das crises
económicas é a Imigração, cujo destino principal é o continente americano. No início do século XX é introduzida nas ilhas Canárias pelos ingleses uma nova monocultura: a banana, cuja exportação será controlada por companhias comerciais como a Fyffes. A rivalidade entre as elites das cidades de Santa Cruz e Las Palmas pela capital das ilhas fará com que em 1927 se tome a decisão da divisão do arquipélago em
províncias. Actualmente a capital esta dividida entre as duas cidades.
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estados unidos
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Mas que novidade! … Natércia Rodrigues fotos de José Rodrigues
Pssiu, pssiu…vem daí e vai até ao novo restaurante português que abriu a
situado no Boulevard St. Laurent onde muito bem se comia e passavam bons seroes a ouvir boa música. Le Fado é muito espaçoso e por isso tem a parte do
lhe Adeus”, “Se chorar fosse pecado” entre outros foram entoados mostrando-nos como a alma fadista está bem presente. Mais
tournée em Itália. Lenita, com sua voz forte, segura e confiante – embora um
Há por aqui vários restaurantes portugueses que organizam seroes onde o
tarde houve a participação do rancho folclórico da Missão de Santa Cruz” o
semana passada aqui na nossa cidade de Montreal. Fica ele situado no 1242 rua Drummond, na baixa da cidade. Aníbal Silva, proprietário do restauran-
Fado tem sido rei. No entanto “Le Fado” é diferente visto ter sido concebido para se comer, beber e ouvir o fado. Violas, guitarristas e cantores irão estar sempre presentes. O
restaurante e outra de Bar e petiscos. Boa comida, boa bebida e boa musica.
A inauguração foi no dia 16 prolongando-se até ao dia 19 com grandes fadistas. O jovem fadista Paulo Filipe deslocou-se
que me levou a acreditar que Portugal realmente é conhecido por três Fs. O F de futebol, de Fado e de Folclore. Fernando Silva à guitarra portuguesa e Paulo
te “Le Fado”, é também possuidor do “Piri Piri” na avenida Mont-Royal e do “B&B” na rua McGill . Filho de peixe sabe nadar e parece ser verdade pois Aníbal é filho do já falecido Juvenal Silva, en-
tão proprietário do Lisboa Antiga, um dos primeiros restaurantes portugueses,
tanto ou quanto enroucada - pisou o chão com muita desenvoltura demonstran-
do estar muito habituada a estes seroes. A versatilidade de Lenita é uma das características que marcam a sua carreira e que passa não só pelo Fado, como também pela música ligeira e marchas populares. de Toronto e abriu o serão com “Boa noite Solidão” e continuou cantando muitos outros fados. “O rapaz da Camisola Verde”, “Disse-
Ramos à viola apresentaram uma guitarrada e logo a seguir entrou em cena a grande fadista Lenita Gentil. Vieram os três de uma
Fado não pode morrer e penso que os portugueses de todas as idades, devem dar o devido valor ao Fado que ao ouvirem as guitarras chorarem, pensem que é mais de felicidade do que de saudade dos áureos tempos, tempos de ouro. Se dar sangue é dar Vida, dar Fado é Viver Vida. Foi para mim uma experiência muito enriquecedora esta noite passada no restauran-
te Le Fado. Aqui ficam os nossos agradecimentos ao Sr. Aníbal Silva, sua esposa e a toda a equipa pelo caloroso acolhimento que nos ofertaram. Votos de muito sucesso.
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Títulos
2000 - Campeão da Liga Espanhola 2002, 2008 - Vencedor da Taça da Liga Francesa 2004, 2006 - Vencedor da Taça de França
Clubes
1991: Santa Clara, Ponta Delgada, Açores, Portugal 1992-1994: Operário, Açores, Portugal 1994: Angrense, Açores, Portugal 1995: U. Micaelense, Açores, Portugal 1995-1996: Grupo Desportivo Estoril Praia, Estoril, Portugal 1996-1998: UD. Salamanca, Salamanca, Espanha 1998-2000: Deportivo de La Coruña, Corunha, Espanha 2000-2003: FC Girondins de Bordeaux, França 2003-2008: Paris Saint-Germain, França 2010-: Desportivo de São Roque, Açores, Portugal
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Pauleta e Laval... Marie Moreira
Pedro Miguel Carreiro Resendes O IH, mais conhecido como Pauleta, (Ponta Delgada, 28 de Abril de 1973) é um jogador português de futebol, nascido no arquipélago de Açores. Em Agosto de 2010, dois anos depois de se retirar oficialmente, Pauleta anunciou que regressaria aos relvados em Setembro de 2010 para representar o Desportivo de S. Roque, clube local, onde nasceu, da Ilha de São Miguel,
Açores. Jogou durante vários anos na Selecção Portuguesa. Pauleta tornou-se no primeiro internacional português a nunca ter jogado no campeonato português (Primeira divisão de Portugal) a representar a Selecção Portuguesa. Tornou-se o recordista histórico de golos pela selecção, ultrapassando a marca de 41 golos de Eusébio, a 12 de Outubro de 2005 contra a Letónia. Representou as Quinas no UEFA Euro 2000, no Campeonato do Mundo de 2002 , no UEFA
Euro 2004 e no Campeonato do Mundo de 2006, na Alemanha.
combinado com um toque de bola habilidoso com ambos os pés, um impres-
Carreira O seu instinto goleador,
sionante jogo aéreo e excelente mobilidade compõem
o seu cartão de visita. “Pauleta é um lutador, muito forte e completamente imprevisível”, disse Vahid Halihodzic, seu treinador no Paris Saint-Germain. A estreia de Pauleta pela selecção portuguesa aconteceu em Agosto de 1997, frente à Arménia, mas a titularidade só chegaria 18 meses depois, diante da Holanda. Pelo seu primeiro golo com a camisola das quinas, Pauleta teria de esperar ainda mais um mês. Foi num jogo frente ao Azerbaijão e o açoriano contribuiu com dois golos
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Obrigado Pauleta
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Pauleta e Laval... para a vitória de portugal por 7-0. Revelandose um jogador de equipa no Euro 2000, Pauleta foi um líder no Mundial de 2002, marcando por três vezes em igual número de jogos. Dois anos mais tarde, e apesar de apenas ter falhado apenas um dos encontros da fase final do torneio, Pauleta não marcou qualquer golo no Euro 2004, disputado em Portugal. O primeiro clube com o qual Pauleta assinou um contrato profissional foi o C.U. Micaelense, onde alinhou por uma época, mudando-se depois para o Grupo Desportivo Estoril Praia, onde viria a apontar 19 golos. Em 1996, os golos continuavam a fluir depois da transferência para a U.D.
época seguinte, o avançado adicionou mais 15 golos à conta pessoal. No ano de 1998 a sua média de golos valeu-lhe a transferência para o Deportivo da Corunha. Pauleta esteve dois anos ao serviço da turma galega, apontando 33 golos em 92 jogos, incluindo oito em 12 jogos onde alinhou de início na época em que o “Depor” conquistou o seu primeiro título de campeão (1999/00). Em 2000, Pauleta transfe-
Salamanca. Pauleta voltou a marcar por 19 vezes, ajudando o clube a subir ao escalão máximo do futebol espanhol em 1998. Na
re-se para o Bordéus, estreando-se com um hat-trick diante do Nantes, em jogo que o Bordéus venceu por 5-0. No total, o açoriano
apontou 65 golos na Ligue 1 em 98 jogos com a camisola do Bordéus e foi duas vezes eleito o futebolista do ano em França. Na temporada 2003/04 ingressou no Paris SaintGermain no início da época, assinando um contrato
de três anos por um valor anunciado de 12 milhóes de Euros. Pauleta ajudou os parisienses a conquistar o seu primeiro troféu em seis anos, ao apontar o único golo na final da Taça de França, diante do Châteauroux. No campeonato, o “ciclone dos Açores” (alcunha por que é conhecido) demonstrou a eficácia habitual, assinando 18 golos em 37 jogos, tendo o PSG terminado a época na segunda posição. Em 2010, Pedro Pauleta foi eleito melhor jogador de sempre do PSG. Reforma No dia 17 de Novembro
de 2008, Pauleta anunciou oficialmente o final da sua carreira, em entrevista ao diário francês Le Parisien. Regresso Em Agosto de 2010 foi anunciado que Pauleta regressaria aos relvados para representar o Desportivo de S. Roque, clube local da Ilha de São Miguel, onde nasceu. Um jogo e dois golos depois, Pauleta ainda continua a jogar no Desportivo de S. Roque até à presente data. 25 de Novembro de 2011
Montreal, presidido pelo Norberto Aguiar, Editor e chefe-de-redacção deste jornal. Durante vários meses ele organizou a sua vinda e contactou várias associações e sexta-feira 25 de Novembro foi a sua visita a Associação Portuguesa de Laval, mesmo se chegou bastante atrasado ele esteve presente para a alegria de todos os jovens e menos jovens. Parabéns a Lina De Fatima e a organização pela
Durante quase uma semana, Pauleta veio à cidade de Montreal para o 15º aniversário do Jornal Luso presse, um jornal da comunidade portuguese em
sua visita a Laval. E para o jornal Luso Presse e o seu aniversário, desejos do muitos anos ao serviço da comunidade.
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MONTREAL | 25º aniversário da con
Construção da nova Cheguei a Montreal, Canadá, a 5 de Outubro de 1972, deixando em Portugal toda a minha família e amigos. Sozinho e sem trabalho, foi na Igreja Santa Cruz, na rua Clark, que encontrei
grupo de jovens, deram-me confiança, coragem e perseverança para completar o curso de engenharia e obter emprego no ramo. Foi em grande parte em agradecimento por tudo quanto recebi que senti desejo e força interior para me dedicar à Comunidade,
em engenharia e à minha disponibilidade (então no fundo de desemprego) o Conselho de administração da missão pediu-me para coordenar as atividades necessárias ao projeto da nova Igreja e Centro Comunitário e ser o responsável da obra como re-
dio, obras de restauração do edifício mais recente da escola. Após as negociações com a CECM e mesmo antes da compra da Escola, apresentámos ao Governo em setembro de 1983 um projeto de renovação do edifício mais recente da Escola,
trabalhos de restauração do edifício do centro comunitário foram feitos por benévolos da nossa comunidade que puseram ao dispor dela os seus talentos e trabalho benévolo, enquanto os materiais foram pagos pelo Governo. Para a nossa comunida-
acolho e uma mão amiga para me orientar neste novo país em que me queria integrar . Foi aí que fui acolhido no grupo de jovens da igreja, onde o responsável da missão era o Sr. Padre Fatela. Neste grupo de jovens ganhei coragem e força para recomeçar os estudos, trabalhando. Foi ainda aí que encontrei a minha futura esposa, hoje já casados há 34 anos, com 3 filhos e uma netinha. A compreensão, o estímulo e apoio que recebi neste
em especial durante o tempo de crise que começou em 2002 e em que fiquei sem trabalho. Nessa altura, a Comunidade estava procurando novos espaços para poder servir os Portugueses, porque os espaços existentes não eram suficientes para as atividades religiosas e socioculturais. Propus-me então fazer parte da equipe que devia realizar o projeto da nova Igreja e Centro Communtário. Devido à minha formação
presentante do conselho de administração a quem dava contas regularmente. Foi sobretudo com o Sr. Pe. José Manuel de Freitas que diariamente fazia equipe para todas as atividades relacionadas com o projeto tais como : negociações com a Vila de Montreal e CECM, contactos com a Diocese, compra da Escola «Our Lady», campanha de angariação de fundos, comunicação com a comunidade portuguesa através dos jornais, televisão e rá-
afim de o converter no Centro Comunitário Português. Foi com este projeto que o Governo deu uma subvenção de $300,000 que cobriu a despesa da renovação do edifício para o Centro e a demolição da parte da Escola para a construção da nova Igreja. Foi durante estes trabalhos que melhor consegui apreciar e sentir-me orgulhoso da grande generosidade e entrega das pessoas da nossa comunidade. Na verdade a maior parte dos
de que no final de 1979, depois de ter feito a compra do edifício da Clark e da casa paroquial (total = $114,000), possuía uma dívida de $14,000, 7 anos depois, ou seja em novembro de 1986 inaugurava uma nova Igreja e um Centro Comunitário cujos custos totalizavam $2,8 milhões. Três anos depois, em setembro 1989, completavase a 3a fase do projeto do complexo Santa Cruz com a inauguração do lar para as pessoas idosas da comu-
António da Silva
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ntrução da igreja santa cruz
Igreja de Santa Cruz nidade ($1.7 milhões), sendo este inteiramente subvencionado pelo Governo. No início da construção da igreja, em maio 1985, o custo total da igreja estava avaliado em $2 milhões sendo 40% ($800,000) o total recolhido pela missão até essa data, com as diversas campanhas de financiamento. Esta campanha de financiamento teve várias mo-
dalidades que foram organizadas por vários grupos. Quero no entanto salientar o porta a porta feito por muitas equipas de benévolos, devidamente identificados que percorreram a cidade de Montreal e arredores, exceto Laval, pois aí havia outra campanha para a comunidade portuguesa de Laval. Também é de sublinhar o grupo de festas da comuni-
dade sobre a orientação do Conselho de administração da Missão e o grupo dos jantares cujos organizadores trabalhavam benevolamente e pagavam o seu bilhete para comer. Foi todo este clima de generosidade e confiança de um povo que acreditava ser possível alcançar o sonho de uma nova igreja, apesar das dúvidas de alguns da comunidade que só acredi-
tavam depois de verem os resultados, que se tornou possível concretizar tamanho sonho e quatro anos depois, em 1990, ter pago toda a dívida feita com este projeto. A 30 novembro 1986, aquando da inauguração da Igreja, o Sr. Pe José Manuel dizia que “as grandes obras fazem-se de pequenos nadas”. Foi com muita fé, con-
fiança, generosidade e muito esforço que muita gente silenciosa contribuiu e que muitos outros ousaram por mãos à obra para dotar a Comunidade com este complexo de Santa Cruz que hoje e no futuro é algo que valoriza a nossa comunidade e é uma afirmação da nossa identidade nesta cidade e País que escolhemos para viver.
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Na Brasa “Quem não arrisca não petisca!”
ir, temos sempre a cisma “Isso é um sítio só para estrangeiros”. Pois foi por curiosidade, e ultrapassada a barreira da cisma, que decidi conhecer o restaurante Na Brasa, um lindo restaurante escondido na rua Duluth, 121 Duluth Este. “Quem não arrisca não petisca!” Este é o meu lema de vida, pois só assim posso fazer novas e interessantes descobertas
lado, muitos conheciam o “Vieux Duluth” por outro lado deviam mudar o estilo do restaurante, para atrair uma nova clientela. Na altura, achei interessante o nome “Na Brasa” entrou na vaga dos grelhados, do frango no churrasco e o nome relacionado com isto mas, o tempo passou. No verão encontrámos um dos proprietários do restaurante e ele disse-nos que queria que os portugueses voltassem ao seu restaurante e a melhor maneira é de meter publicidade, eu numa brincadeira disse “mais uma galinha a assar!”. Ele respondeu-me que fazem frango, bastante diferente de todos e devem ir lá para ver a diferença porque um frango é um frango, o segredo é no tempero. Durante as nossas palavrinhas, pouco a pouco
através desta linda cidade de Montreal. Já lá vão 23 anos que este restaurante está aberto e a minha história com este restaurante se cruzou várias vezes. Foi o meu primeiro emprego como assistente do chefe, durante um verão mas, o nome do restaurante era Bistro Duluth. No inicio do milénio Camilo Rodriguez e Antonio Rocha decidiram mudar a imagem do restaurante, de um
fi quei muito curioso. Finalmente, sexta-feira passada tive a oportunidade de satisfazer a minha curiosidade. Provando um pouco de tudo, tal como o polvo grelhado, a famosa entrada de petiscos que tem uma boa variedade de petiscos tradicionais. Depois, tivemos o prazer de apreciar a famosa grelhada portuguesa, os mexilhões, um dos pratos muito apreciados, neste restaurante é a carne
Sylvio Martins
Bom dia, boa tarde ou boa noite… depende da hora em que lerem este artigo. Nós, quando não queremos
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de porco à Alentejana que parece uma verdadeira de-
periência tal como no restaurante “Bernard do chia-
também é o especialista das sobremesas. Uma sugestão
lícia. Fomos informados que o restaurante tem uma grande variedade de especiais tal como dois pratos da “tables d’hôtes” com uma garrafa de vinho para duas pessoas, Pequenos almoço no domingo a bom preço incrível. Se celebrem
do” com o chefe silva da RTP na Praça da Alegria, Portugália, Lua-de-mel e tem como especialidade a gastronomia portuguesa, francesa e italiana. Esteve também no muito popular restaurante Café Ferreira e no Cantinho em Montreal.
deve provar o Tiramisu à portuguesa e o Arroz doce à moda da casa. “Quem não arrisca não petisca!” Isto diz muito para quem não foi ainda a este lindo restaurante que é bastante tradicional nos seus pratos e, para fi nalizar este encontroo António Costa demonstrou toda a sua qualidade de barman, onde há alguns anos atrás recebeu um troféu pelos seus cocktails e fez-me provar o Zambuca preto com Bailey’s, bastante simples mas foi realmente um prazer. Muito obrigado.
o seu aniversário com um mínimo de 8 pessoas, a pessoa responsável ou o aniversariante tem o seu prato gratuito. O fi nal do encontro com os donos da casa, encontrei dois dos seus chefes, Helena Costa, natural de Lisboa, é a chefe de dia com 35 anos de ex-
José Moreira chefe da noite, São Miguel da ribeira grande que já lá vão 16 anos ao serviço deste restaurante, aprendendo no “Holiday Inn Centre-Ville” e trabalhou lá durante 18 anos. Ele especializou-se na cozinha francesa e nos grelhados à portuguesa,
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Vidas Activas
Vidas
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SemaPnortaulguês
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Cinéma
Contra o tempo Contra o tempo começa com uma bela sequência de abertura que mostra cenas da vida cotidiana da cidade de Chicago embalada por uma música que faz lembrar os filmes do agente James Bond, o 007. Dentro de um trem, conhecemos o capitão Colter
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Stevens (Jake Gyllenhaal), atordoado por estar sendo confundido com Sean, uma pessoa que ele não faz ideia de quem seja. Aos poucos, descobrimos que Stevens está no corpo
de outro homem e que ele faz parte de uma missão para salvar Chicago de um terrível acidente de trem. A tarefa faz parte de um experimento secreto do governo americano chamado Source Code, um programa que permite ao agente assumir a identidade de
outra pessoa em seus últimos oito minutos de vida. É com esse tempo que Stevens conta para desvendar o que vai acontecer com o trem e evitar a tragédia. Em seu vagão, ele en-
contra Christina Warren (Michelle Monaghan), por quem acaba se apaixonando. Além de descobrir quem está por trás dos planos de espalhar novamente o terror pelos Estados Unidos, ele vai fazer o possível para impedir que a amada morra na explosão do trem.
Mas, para salvá-la, ele vai precisar convencer a capitã Colleen Goodwin (Vera Farmiga) da necessidade dessa missão. Logo após os atentados do 11 de setembro, os
americanos tiveram dificuldade para lidar com o terrorismo. Mas, passados dez anos daquela trágica terça-feira, o tema ganhou força nos cinemas e se tornou um dos maiores filões de Hollywood, explorado em gêneros diversos, do drama ao horror, mas com especial intensidade nos thrillers. À primeira vista, Contra o tempo parece um típico filme de ação, já que o protagonista tem um curto
efeitos especiais. Os elementos técnicos, discretos e bem empregados, ficam a serviço do elenco capitaneado por Jake Gyllenhaal. Ainda que não apresente o mesmo vigor de O segredo de Brokeback Mountain e Zodíaco, o ator cumpre bem a proposta do filme. Ao lado dele, com desempenhos também eficientes, Michelle Monaghan e Vera Farmiga. Orçado em US$ 32 milhões, Source Code - título
espaço de tempo para evitar uma tragédia. Mas o roteiro de Ben Ripley mostra inteligência ao apostar suas fichas no intrincado processo cerebral que propicia a experiência do código fonte, evitando repetir clichês do gênero. A direção de Duncan Jones (ele mesmo, o filho de David Bowie), que debutou no cinema em 2009 com “Lunar”, também acerta no uso criterioso dos
original - nasceu com o objetivo de ser um filme médio, daqueles que mantêm as bilheterias da indústria hollywoodiana a todo vapor enquanto os blockbusters de verão e os possíveis candidatos à temporada de prêmios estão em produção. Contra o tempo mostra que ser médio não significa ser mediano e que, mesmo dentro destas limitações, é possível fazer entretenimento de qualidade.
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Thor
Thor é uma propriedade estranha da Marvel. Criado por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby e baseado na mitologia nórdica, Thor era uma espécie de Superman da Casa das Ideias, extremamente poderoso. O texto, escrito em inglês arcaico e empolado, cortesia do sempre prolixo Stan Lee, acabou por deixar o
personagem em segundo plano no escalão da editora. Kenneth Brannagh, do alto de sua sensibilidade, tentou pegar o personagem e dar a ele um drama shakesperiano, com filhos ilegítimos, rivalidade entre irmãos e o dilema da sucessão real. Ao mesmo tempo, abraçou de forma confusa clichês de blockbusters. O resultado não chega a ser profano, mas está longe de ser divino. A estrutura de Thor é esquisita. Enquanto histórias de origem seguem um crescendo - mero mortal conse-
gue poder de alguma forma, tenta aprender a usá-lo e, lá pelo fim, chuta traseiros - , Thor segue uma linha completamente diferente, com o personagem começando o filme extremamente poderoso, perdendo tudo e recuperando a força no ato final. Ao mesmo tempo, a estrutura psicológica do protagonista segue uma
jornada até comum, com o herói começando cheio de falhas (no caso, a arrogância desmedida) e ficando mais maduro pelo decorrer da fita. O problema é que o miolo do filme se arrasta, com o fortão Chris Hemsworth (Thor) forçando um romance com Natalie Portman (Jane Foster), Kat Dennings (Darcy Lewis) disparando cultura pop “humorística” e Stellan Skarsgård (Erik Selvig) tendo o único e exclusivo propósito de conectar alguma coisa com a cultura nórdica. Logo de cara, o filme es-
tabelece as diferenças entre Thor e Loki, irmãos disputando o trono de Asgard, e aqui, Brannagh brinca de Shakespeare. As falas são berradas, cuspidas, sibiladas e a sutileza vai para Valhalla. Hemsworth desliza constantemente, mas apesar de alguns excessos na performance, Anthony Hopkins consegue viver
um bom Odin, imponente e sábio na mesma medida, e Tom Hiddleston é um Loki versátil, capaz de fazer algo exagerado e sutil dentro da mesma cena. Em outra referência ao Bardo, um dos Três Guerreiros, Fandral, parece ter saído de uma peça da Inglaterra vitoriana, com direito a cavanhaque, roupa bufante e esgrima. Por outro lado, Brannagh mergulhou em clichês insanos, como o grito de “Por que?!” destinado aos céus - com pontos extra por ser em uma cena chuvosa e, pior, em uma cena na qual
um personagem derrama uma única lágrima. Amigo, isso não cola mais. E não é de hoje. As cenas de ação, ainda que escassas, são divertidas e utilizam bem o escopo de poderes de Thor. O personagem, em consonância com o universo Marvel no cinema, teve seus poderes bastante reduzidos, dei-
xando de ser o Superman nórdico dos quadrinhos e ficando em um nível mais próximo do Homem de Ferro. O climax do filme não é dos melhores e as batalhas parecem se resolver muito
rápido, o que não permite que Thor mostre a extensão de seus poderes de forma apropriada. O filme também faz um esforço gigantesco para
inserir a SHIELD na jogada e, até agora, o universo Marvel parece coeso, com a ciência humana virando a magia de Asgard. É conveniente, mas necessário, vá lá. Ponto para Os vingadores, de Joss Whedon. A direção de arte é fantástica em Thor, com Asgard apresentando cores magníficas e construções belíssimas. O design das fantasias é soberbo e a roupa de Thor está no mesmo nível que a armadura de Tony Stark nos filmes do Homem de Ferro. Os efeitos especiais são bons, mas a festança (necessária) de CGI não é tão boa. Thor é um filme abarrotado de pequenos detalhes, como a sempre divertida pontinha de Stan Lee ou a inclusão sutil de Clint Barton, o Gavião Arqueiro, como um agente da Shield, ou até mesmo a menção aos raios gama (radiação que criou Hulk). Kenneth Brannagh não domina tão bem o cinema blockbuster, enfia goela abaixo um romance entre Thor e Jane e força piadas, especialmente na personagem de Dennings, mas conseguiu segurar a coesão do universo Marvel até a chegada do Capitão América.
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