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Alunos com atividades extracurriculares
Entrevistas de Sara Gomes
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Teatro
Sara,
Antes de mais, quero-te agradecer, em nome da Revista Diagnóstico, pela disponibilidade em nos dares a conhecer a tua experiência enquanto estudante de medicina e atriz no TeatrUBI.
Vamos começar pelo início: como surgiu o teu interesse pelo teatro e como tem sido o teu percurso até aqui?
Na verdade, o teatro surgiu na minha vida muito antes de entrar para a universidade. Quando era pequenina, o meu passatempo preferido era encenar pequenos contos e histórias com as minhas primas, e lembro-me perfeitamente das primeiras vezes em que fui ao teatro. Mas acho que é justo dizer que o meu percurso só começou oficialmente aos 8 anos na companhia Fatias de Cá, da qual ainda sou membro ativo.
Fiz uns anos de pausa durante o secundário, e retomei mesmo antes de entrar na UBI, o que me motivou a procurar os grupos de cá. Por coincidência, logo na primeira semana de aulas, uma das primeiras pessoas que conheci queria ir experimentar um dos ensaios abertos do TeatrUBI e eu decidi acompanhá-la.
Desde que me juntei ao TeatrUBI tive a oportunidade de explorar toda uma dimensão do teatro que não conhecia e tenho feito coisas que nem sonhava ser capaz de fazer. A experiência também tem sido muito marcada pelo contacto com pessoas de diferentes cursos, níveis de experiência e backgrounds, com ideias e visões diversificadas, e isso reflete-se muito nas nossas peças. É mesmo muito enriquecedor, até porque acabamos por ter a oportunidade de viajar, tanto dentro do país como para fora, e contactar com outros grupos e culturas.
Quais as estratégias que usas para conjugar o curso de medicina com o teatro, sendo duas áreas tão diferentes e exigentes?
Essa é sempre uma pergunta difícil de responder, porque depende sempre de cada um. No meu caso, tenho dificuldade em dar uma resposta porque, como entrei logo para o teatro, a minha adaptação inicial ao ritmo da faculdade já englobou essa vertente.
Apesar de consumir muito tempo, os ensaios calham num horário em que tenho muita
dificuldade em estudar ou fazer alguma outra coisa, pelo que encaro esse período do dia que é passado a treinar como uma forma de rentabilizar o tempo, em que posso simultaneamente “descansar a cabeça” e praticar atividade física. Não posso dizer que seja fácil, até porque em toda a história do TeatrUBI só houve três pessoas de medicina, contando comigo… mas sem dúvida que é possível!
E claro que a melhor parte é chegar ao final do processo criativo e poder dizer confortavelmente que valeu a pena investir todo aquele tempo.
Por fim, quais as melhores dicas que darias a alguém que gostaria de ter um percurso semelhante?
Experimentem e vejam se gostam! Em outubro/novembro há sempre duas a três semanas de ensaios abertos, em que qualquer pessoa pode experimentar sem compromisso.
Outra coisa importante é não se deixarem intimidar pelo calendário de ensaios porque, apesar de ser muito preenchido, é muito condensado e passa num instante. Depois é uma questão de refletir e perceber o que é realmente importante para nós. Também aconselho a que sigam as redes sociais do TeatrUBI para poderem ter uma ideia de como é, e claro que também estou sempre disponível para tirar qualquer dúvida que possam ter.
Desporto
Ana e Rita,
Antes de mais, quero-vos agradecer, em nome da Revista Diagnóstico, pela disponibilidade em nos darem a conhecer a vossa experiência enquanto estudantes de Medicina e praticantes de remo.
Contem-nos um pouco da vossa história. Com que idade começaram a praticar e como surgiu este interesse?
Nós é que temos que agradecer! É um gosto é uma honra podermos partilhar um bocadinho da nossa experiência!
Desde sempre estivemos ligadas a vários desportos sempre no modo de competição. Fomos desde a ginástica acrobática à natação passando pelos trampolins, patinagem, voleibol, até chegarmos ao remo. A nossa mãe é professora de educação física e também ela foi atleta de alta competição e o pai também sempre praticou desportos pelos que os genes sempre estiveram cá.
Há cerca de 10 anos estávamos a passear pela cidade de Viana do Castelo. Nesse dia estava a decorrer uma grande regata de remo do calendário da Federação, “A taça de Portugal”. Achamos a dinâmica do desporto tão interessante que no dia seguinte estávamos, nós mesmas, a entrar num barco do qual não voltamos a sair. :)
Já na faculdade, quais foram os maiores desafios na conciliação entre o estudo e a competição?
Tudo foi mais fácil até à entrada na faculdade! Já não bastava toda a dinâmica do que é o ensino universitário e a carga do curso, ainda tinha que faltar água! O remo, como desporto aquático que é, tem duas vertentes. Uma indoor (a parte de “condição física” vamos chamar-lhe assim) e a parte de “remo na água”. Cá na Covilhã, a única parte que podemos fazer é mesmo a indoor o que limita imenso o nível de progressão de treino e, acima de tudo, motivação. O facto de estarmos a mais de 200km do sítio onde toda a nossa equipa está a treinar junta sempre nos fez sentir muito deslocadas. Continuamos a achar que a competição durante o ensino universitário é perfeitamente compatível e benéfica. E para nós sempre foi!!
Muitos foram os dias em que chegamos tarde das aulas ou dos estágios e sentámo-nos no ergómetro e não soubemos o que estávamos a fazer ou porque o estávamos a fazer. É demasiada dor, sacrifício e sofrimento durante 1h ou mais, depois de dias tão intensos. No entanto, é também a melhor sensação do mundo quando o cronómetro chega ao fim e o treino acaba. Com mais ou menos sucesso, já foi uma vitória ter sido concluído. Com a universidade, e no nosso caso, os objetivos alteraram-se. Passamos de “este ano é para ganhar” para “estes anos é para manter”.
Com a COVID-19 e com o trabalho no SNS24, começou a faltar uma coisa que nunca nos tinha faltado. Tempo. Tivemos que fazer escolhas, que não foram nada fáceis. Deixamos a competição de lado por uns tempos para nos podermos focar naqueles que eram os nossos objetivos e o “estes anos é para manter” nunca fez tanto sentido!!!!
Uma vez atleta, para sempre atleta. Não é
uma coisa que se perca ou que se escolha. Às vezes é necessário parar e dar um tempo. 10 anos de um desporto em que se treina dia sim dia sim ,sem feriados ou fins-de-semana, faz-nos repensar tudo quando chega a altura de fazer escolhas. Mas não passam disso. Escolhas que podem ser sempre provisórias.
O ensino universitário e a “distância a casa” mostram-nos tudo numa perspetiva completamente diferente. Aquilo que achávamos como certo talvez não o seja. Aquilo que era o maior objetivo talvez não tenha que ser conseguido naquela data, mas sim mais tarde. Mostra-nos que não há problema quando as coisas não são como planeamos. Mostra-nos que temos tempo para fazer escolhas e refazê-las por cima, porque nada é certo.
Hoje estamos mais distantes da competição porque outros valores se levantam. Talvez amanhã seja tudo ao contrário.
É isto que achamos que o ensino universitário “faz” ao desporto de alta competição.
Falem-nos um pouco da oportunidade de representar a UBI nas competições. Como surgiu? Qual a sensação de representarem a vossa faculdade?
Representar algo ou alguma instituição em provas é sempre uma matéria muito complicada. Nunca competimos por nós. A competição é sempre por uma camisola, por um clube, por uma cor! É sempre por algo além do que nós somos!
Competir não é sempre ganhar. Há o primeiro e o último lugar para preencher. E nós bem sabemos o que é perder ����
A UBI, além do nosso clube, sempre nos deu e continua a dar todas as condições para que possamos manter e evoluir enquanto atletas. Cá não há água, portanto os objetivos passam pela manutenção da condição física que é perfeitamente realizável em qualquer lado, mesmo em casa como muitas vezes fazemos.
A UBI e a AAUBI proporcionaram-nos a participação em duas edições dos Jogos Europeus Universitários (Coimbra e Suécia) (e precedentes nacionais universitários nos quais conseguimos o respetivo apuramento), que foram das maiores experiências que alguma vez vamos ter a nível de competição. Não há nada como levar o nome da nossa instituição a um lugar onde nunca foi falada! É algo que qualquer atleta deveria poder experienciar. Transcende qualquer dor nos treinos, qualquer tristeza ou desilusão de todo o processo que é chegar àquela regata no Europeu Universitário!
Para terminar, quais as melhores dicas que têm para quem quer conciliar a Medicina com uma atividade que exija tanto esforço?
Quem alguma vez disse que era igual treinar um desporto de alta competição durante o ensino secundário ou durante a faculdade ou até durante o trabalho, mentiu redondamente. São fases de vida completamente diferentes e é até errado transmitir essa ideia aos atletas que entram num curso universitário.
Na nossa opinião não há uma fórmula mágica, mas a melhor dica talvez seja viver um dia de cada vez. Não podemos nem nunca vamos poder ser excelentes em tudo. É importante perceber que é perfeitamente compatível conciliar Medicina com qualquer desporto de competição. É importante salientar também que ou se faz uma coisa a 100% ou se faz a outra. Não podemos fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo, tudo a 100%. É tudo uma questão de escolhas.
O bom do desporto é que ele nunca acaba. Nunca é tarde para manter, voltar, sair ou começar. E essa é também a magia da competição. Quem deixa a competição não é mais fraco do que quem mantém. Assim como quem mantém não é mais forte do que quem se afasta. É uma questão de perspetiva. Talvez quem deixa a competição possa viver coisas que quem a mantém nunca possa viver e viceversa. Está tudo certo desde que seja uma escolha do próprio atleta. Importante que seja feita depois de pelo menos se tentar!
Manter os dois??? Completamente! Nós, todos os dias, treinamos, faça chuva ou faça sol. Se ainda é pela competição ou não, isso só o tempo dirá. Neste momento é pelo bem que nos faz sentir. Uma vez atleta, para sempre atleta. Talvez isso seja a única coisa que não se pode escolher!
Muito obrigada pela vossa partilha e pela contribuição para a edição da revista!
A equipa da Revista Diagnóstico