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Estar só

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Carne Artificial

Carne Artificial

Solidão. Um sentimento peculiar e difícil de descrever. No livro “O ano da morte de Ricardo Reis”, José Saramago cogita de uma forma exímia, como já é habitual na sua escrita, que “A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz”. De facto, essa distância aumentou drasticamente durante o período de isolamento, um período no qual, todos nós, à sua maneira, nos sentimos algo sós.

Privados dos encontros cara a cara, não tardamos em perceber a falta que nos fazia o contacto com outras pessoas. Arranjaram-se alternativas - multiplicaram-se as videochamadas e as reuniões online -, mas continuávamos incompletos e necessitávamos dessa convivência, pois parte da nossa essência como seres empáticos foi-nos retirada. Sentíamo-nos sós e estávamos impedidos de ultrapassar essa solidão. Pergunto-me quantas pessoas se passaram a sentir permanentemente sós. Quantas pessoas que, como todos nós, estavam privadas de contactos, mas não possuíam alternativas para acalmar essa insatisfação e preencher esse vazio...

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Após a fase aguda da pandemia, a banda “Os Quatro e Meia” lança uma nova música intitulada “Olá, Solidão”, alertando-nos que ninguém deve ficar para trás e que devemos cuidar uns dos outros. Durante este período fomos capazes de perceber o quão ligados estamos e como a vida é melhor quando partilhada. Fez-nos perceber que talvez possamos tornar a nossa existência, por vezes egoísta e egocêntrica, numa partilha de momentos e vivências, pois, no fundo, a essência basal de viver está nos seres humanos. Um sorriso, um bom dia, um abraço, uma presença podem apaziguar o vazio de quem se sente só.

Que não fiquemos indiferentes perante a solidão de alguém.

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