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Carne Artificial
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CARNE ARTIFICIAL… O FUTURO?
Texto de David Raimundo e Lúcia Heitor
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Estima-se que a população mundial, atualmente de 7,3 mil milhões, ultrapasse os 9 mil milhões em 2050. Prevê-se que, nesse ano, seja necessário um aumento de 70% de alimentos de forma a garantir as necessidades da crescente população. Apesar de se verificarem ligeiras diminuições no consumo em alguns países desenvolvidos, a nível global, o consumo de carne está a aumentar.
Um relatório das Nações Unidas refere que, em 2020, entre 720 e 811 milhões de pessoas no mundo passaram fome e quase um terço da população mundial não teve acesso a produtos alimentares adequados. Refere, também, que as dificuldades em ter acesso a alimentos nutritivos estão a contribuir para o crescente problema mundial da obesidade.
Do ponto de vista ecológico, os cientistas alertam para o risco real do colapso da agricultura tradicional devido às alterações climáticas e à sobreprodução nas próximas 2-3 décadas.
Será, portanto, a produção de carne artificial a solução para vários destes problemas, no futuro?
O objetivo da produção de carne artificial passa por recriar a estrutura complexa do músculo animal, tendo como ponto de partida um pequeno número de células. É feita uma biópsia de um animal vivo, que será manuseada de forma a libertar as suas células estaminais, que possuem a capacidade não só de proliferar, como também de se diferenciar em diferentes tipos de células, como células musculares e adipócitos. Utilizando um meio de cultura que forneça nutrientes, hormonas e fatores de crescimento, a proliferação celular pode fazer com que a cultura atinja mais de mil milhões de células, que se organizam em miotúbulos, dando origem a um pequeno pedaço de tecido muscular. Através deste processo, será necessário um menor número de animais para que se produzam grandes quantidades de carne.
Uma grande preocupação relativamente a estes produtos são as propriedades sensoriais primárias (aparência, aroma, sabor e textura). Os primeiros protótipos de carne artificial parecem imitar a carne tradicional, sendo o primeiro feedback sensorial publicado sobre um destes refere “um sabor a carne agradável” e “uma dentada e uma textura de carne típicas”.
Apesar do progresso alcançado, ainda estamos muito longe do tecido muscular “real”, que é composto por fibras organizadas, vasos sanguíneos, nervos, tecido conjuntivo e adipócitos. Não será possível, por enquanto, obter uma variedade de carne artificial que reflita a ampla diversidade de carnes animais ou o tipo de cortes que pode ser feito nas peças, pelo que será algo a estudar no futuro.
O primeiro hambúrguer in vitro foi produzido em 2013, após dois anos de desenvolvimento, pela Universidade de Maastricht, nos Países Baixos. Apesar do processo ter custado mais de 300.000 dólares inicialmente, no ano passado, o investigador principal estimava que o mesmo hambúrguer viria a custar cerca de 9 dólares em 2021.
No entanto, esta carne artificial ainda não
está disponível para comercialização, dado não ser exequível neste ponto de vista. É necessário aumentar a escala de produção e reduzir o custo dos meios de cultura para tornar este processo economicamente viável. No entanto, o aumento da procura e das vendas de produtos substitutos da carne que se tem vindo a verificar nos últimos anos, devido à crescente popularidade do veganismo e a uma maior consciencialização ambiental, poderá abrir muitas futuras oportunidades para a carne artificial.
Não há dados publicamente disponíveis quanto ao perfil nutricional da carne artificial. Os investigadores garantem que os aspetos nutricionais podem ser regulados, ajustando as formulações dos meios de cultura e implementando outras modificações no processo, incluindo genéticas. A incorporação de certos micronutrientes específicos dos produtos de origem animal, como vitamina B12 e ferro, carece de mais investigação.
A sustentabilidade ambiental é um tema que gera alguma incerteza. Um dos dados a favor da carne artificial é a menor pegada ecológica, uma vez que o metano produzido por bovinos é um gás efeito-de-estufa mais potente que o dióxido de carbono. No entanto, há estudos que argumentam contra este efeito positivo a longo prazo, dado que o metano permanece na atmosfera durante menos tempo que o dióxido de carbono, o qual seria emitido com a produção de carne artificial. Desta forma as emissões serão maiores na produção de carne in vitro à mesma escala, o que coloca em dúvida as expectativas iniciais de menor pegada ecológica. As mesmas dúvidas são colocadas quanto a possíveis contaminações de reservatórios de água e falta de estrume por eventual redução na criação de gado.
Sobre a segurança destes produtos, os defensores da carne in vitro afirmam que esta é mais segura que a carne convencional, tendo em conta que é produzida num ambiente totalmente controlado, sem qualquer contacto com outros organismos, nomeadamente, bactérias como E. coli, Salmonella ou Campylobacter, responsáveis, todos os anos, por milhões de casos de infeções. Deste modo, seria possível reduzir o recurso a antibióticos usados na produção de carne, visto que há uma maior monitorização da produção da carne artificial.
A possibilidade de criar carne em laboratório sem necessitar de abater um animal é uma ideia problemática em vários aspetos da sociedade, entre eles legislativos e religiosos. Apesar da procura crescente por alternativas amigas do ambiente, existe ainda muita especulação sobre o potencial da carne artificial. No entanto, este é inegável, e apenas o tempo permitirá comprovar se este será cumprido ou não.
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Bibliografia
1. Chriki S, Hocquette JF. The Myth of Cultured Meat: A Review. Front Nutr. 2020;7(February):1–9 2. Lifestyle F, Intelligence A, Future MB, The F, Futurist M. Forecast Lifestyle medicine Artificial Intelligence in Medicine Biotechnology Future of Food The Medical Futurist | 9 min | 19 August 2021. 2021;(August):1–6 3. Rubio NR, Xiang N, Kaplan DL. Plant-based and cell-based approaches to meat production. Nat Commun [Internet]. 2020;11(1):1–11. Available from: http://dx.doi.org/10.1038/s41467-020-20061-y