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O Charlatanismo na Medicina
Texto de Sara Gomes
Ocharlatanismo sempre foi algo que acompanhou a Medicina desde os seus primórdios. São oferecidas curas milagrosas para doenças incuráveis ou para doenças que não existem, como a famosa “cura gay”. É algo que atrai muitos pacientes, quer seja pelo desespero que vivem e que os faz procurar todas as possíveis soluções, quer seja pela misticidade associada às curas que os charlatões, com o seu dom da palavra que enfeitiça os mais vulneráveis, lhes dá.
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Quantos não são os portugueses que acreditam, por exemplo, que a banha de cobra vendida por aquele curandeiro maravilhoso recomendado pela vizinha, é capaz de curar dores reumáticas, herpes ou episódios febris? Mas claro, a banha de cobra é rara e valiosa, o que faz com que, para além de ajudar a encher os bolsos de alguém, promova a extinção de espécies (contando que aquilo que lhes é dado realmente vem da cobra). Sabem quem vai manter as dores como eram antes? O doente. Óbvio que inicialmente parece que curou tudo como num sonho, mas não tarda a acordar e, provavelmente, a precisar de comprar mais banha de cobra porque aquela não foi suficiente…
O nosso papel, como estudantes de Medicina e médicos, é mostrar a verdade àqueles que queremos ajudar. É importante que os doentes saibam como identificar os tais curandeiros milagrosos (e que não há evidência científica que a gordura da cobra seja terapêutica) e nós temos um papel fundamental na sua educação para a saúde.
Enquanto nós lhes mostramos a verdade crua e, muitas vezes, dura, estes apresentamse aos doentes como “os mestres naquela doença, sendo que o tratamento que oferecem é o único capaz de ajudar”, associando um negacionismo seletivo para o que lhes convém, distorcendo a ciência e aproveitandose das incertezas desta. Utilizam a fragilidade humana para conseguir tirar benefícios em seu favor, contra todas e quaisquer evidências e, mesmo assim, quantas não são as vezes que os doentes acreditam?
Como podemos ajudar uma pessoa que procura “a sua cura milagrosa” para voltar a estar bem, a perceber qual o caminho que deve seguir? Penso que, antes de tudo o resto, é importante não assumirmos uma postura paternalista, na qual “eu sei, posso e mando” e o doente não tem opinião. Apesar de muitos doentes não perceberem de ciência, a verdade é que termos uma atitude que os faz sentirem-se inferiorizados não os vai ensinar a perceber. É preciso, acima de tudo, ajudamo-los a compreender a sua doença, a necessidade do tratamento que oferecemos e o porquê de ser fundamental identificarem e não se levarem por estes charlatões, pois para além de não ganharem saúde, poucas não são as vezes em que ainda vão perder dinheiro.
Se é um trabalho fácil e vai ser entendido por todos? Não! Mas certamente valerá a pena tentar.