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Numa viagem
NUMA VIAGEM... PELA MEDICINA
Texto de Gabriela Fernandes da Silva Nunes Estudante do 3º ano de Medicina, FCS-UBI
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Para os estudantes de medicina (e não só) que gostam do quentinho da lareira de casa ou dos serões vespertinos em família, o Domingo é, por norma, um dia bastante chato. Para não dizer deprimente.
O caminho de casa até à Estação de Camionagem é um processo que tende para o doloroso e a mente alheada divaga por pensamentos nostálgicos, especialmente se o Domingo for cinzento e chuvoso.
Enquanto nos dirigimos até ao cais do autocarro, o Pai trazendo a mala a abarrotar de roupa e comida e a Mãe entalada da comoção da septuagésima terceira viagem de autocarro, seguro o riso ao perceber que os pais de dezenas de jovens passam pelo mesmo processo: a Mãe segue à frente em passo apressado e o Pai atrás, carregando a sua sina: a mala de viagem.
Quando entro no autocarro (ou camioneta como a minha Avó costuma dizer contra a minha vontade), encaminho-me para o lugar de sempre da janela do lado esquerdo, isto se tiver sorte e se este já não estiver ocupado por um infeliz que não conseguiu arranjar assento e que, por isso, finge não saber a distribuição dos lugares. Apesar de praticar artes marciais, opto pelo caminho da não violência. Sorte a dele.
Estamos a meio da viagem e eu já aprendi a receita de Brigadeiros de Oreo da minha vizinha da frente que tinha o nível de luminosidade do ecrã do telemóvel demasiado elevado para as dezoito horas. Entretanto, também apontei mentalmente a probabilidade do nosso motorista levantar a mão para cumprimentar o seu colega de profissão no autocarro do outro lado da faixa de rodagem. É de 100%. Parece haver uma espécie de irmandade oculta entre os motoristas de autocarros e eu acho isso legítimo. E estranho também.
Rezando intimamente para que a viagem acabe rápido e que eu chegue à Covilhã sã e salva, dou por mim a pensar que ligar à prima afastada que vive na França e estar ao telemóvel durante 2 horas deveria ser proibido. Bem, talvez não chegue sã.
E eis que finalmente se avista a Cidade Neve e o meu telemóvel é inundado por uma série de notificações, em jejum de cerca de meia hora por ter estado sem rede. Estudar na biblioteca, almoçar na hamburgueria ou dar uma corridinha na pista são alguns dos exemplos que me fazem esboçar um sorriso bobo e me fazem pensar: Nós temo-nos uns aos outros e isso é bom. É impagável na verdade.