DIAGNÓSTICO - DEZEMBRO 2021
CARNE ARTIFICIAL… O FUTURO? Texto de David Raimundo e Lúcia Heitor
E
stima-se que a população mundial, atualmente de 7,3 mil milhões, ultrapasse os 9 mil milhões em 2050. Prevê-se que, nesse ano, seja necessário um aumento de 70% de alimentos de forma a garantir as necessidades da crescente população. Apesar de se verificarem ligeiras diminuições no consumo em alguns países desenvolvidos, a nível global, o consumo de carne está a aumentar. Um relatório das Nações Unidas refere que, em 2020, entre 720 e 811 milhões de pessoas no mundo passaram fome e quase um terço da população mundial não teve acesso a produtos alimentares adequados. Refere, também, que as dificuldades em ter acesso a alimentos nutritivos estão a contribuir para o crescente problema mundial da obesidade. Do ponto de vista ecológico, os cientistas alertam para o risco real do colapso da agricultura tradicional devido às alterações climáticas e à sobreprodução nas próximas 2-3 décadas. Será, portanto, a produção de carne artificial a solução para vários destes problemas, no futuro? O objetivo da produção de carne artificial passa por recriar a estrutura complexa do músculo animal, tendo como ponto de partida um pequeno número de células. É feita uma biópsia de um animal vivo, que será manuseada de forma a libertar as suas células estaminais, que possuem a capacidade não só de proliferar, como também de se diferenciar em diferentes tipos de células, como células musculares e adipócitos. Utilizando um meio 26
de cultura que forneça nutrientes, hormonas e fatores de crescimento, a proliferação celular pode fazer com que a cultura atinja mais de mil milhões de células, que se organizam em miotúbulos, dando origem a um pequeno pedaço de tecido muscular. Através deste processo, será necessário um menor número de animais para que se produzam grandes quantidades de carne. Uma grande preocupação relativamente a estes produtos são as propriedades sensoriais primárias (aparência, aroma, sabor e textura). Os primeiros protótipos de carne artificial parecem imitar a carne tradicional, sendo o primeiro feedback sensorial publicado sobre um destes refere “um sabor a carne agradável” e “uma dentada e uma textura de carne típicas”. Apesar do progresso alcançado, ainda estamos muito longe do tecido muscular “real”, que é composto por fibras organizadas, vasos sanguíneos, nervos, tecido conjuntivo e adipócitos. Não será possível, por enquanto, obter uma variedade de carne artificial que reflita a ampla diversidade de carnes animais ou o tipo de cortes que pode ser feito nas peças, pelo que será algo a estudar no futuro. O primeiro hambúrguer in vitro foi produzido em 2013, após dois anos de desenvolvimento, pela Universidade de Maastricht, nos Países Baixos. Apesar do processo ter custado mais de 300.000 dólares inicialmente, no ano passado, o investigador principal estimava que o mesmo hambúrguer viria a custar cerca de 9 dólares em 2021. No entanto, esta carne artificial ainda não