Edição XV
Dezembro 2021
Revista MedUBI
CIENTÍFICO CARNE ARTIFICIAL… O FUTURO? Será a produção de carne artificial, num futuro próximo, a solução para várias preocupações?
CULTURAL PARA ALÉM DA MEDICINA - O DESPORTO E A ARTE NA VIDA DAS NOSSAS ESTUDANTES Entrevistas a Ana João, Rita Luís e Sara Cruz
ESPECIAL CONHECE ALGUNS TRABALHOS DA AUTORIA DOS NOSSOS LEITORES! Artigos da Dr. Ana Simões e Gabriela Nunes
COORDENADORA GERAL Marta Soares COORDENADORA CIENTÍFICA Lúcia Heitor COORDENADORA CULTURAL Rita Claro COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO E PATROCÍNIOS Melissa Amarante COORDENADORA DE IMAGEM Inês Roseta COLABORADORES David Raimundo Maria Beatriz Carvalho Rodrigo Martins Sara Gomes DESIGN E PAGINAÇÃO Inês Roseta Fontes das imagens utilizadas: Unsplash, Pexels, Freepik, Flaticon
PROJETO
MORADA Avenida Infante D. Henrique, 6200-506 Covilhã, Portugal TELEFONE (+351) 275 329 098 E-MAIL geral@medubi.pt
Edição XV
Dezembro 2021
04 Um copo de café por dia, não sabe o bem que lhe fazia! 11 O Charlatanismo na Medicina 12 ABC do LGBTQIA+, nunca é tarde para aprender um novo abecedário 16 Discriminação de Pessoas Trans 18 VIH: Um Caso de “Cura Esterilizadora” 22 Alterações Climáticas e Saúde
06 Alunos com atividades extracurriculares
25 O que podemos fazer para diminuir o desperdício alimentar?
20 Ozonoterapia: Um
28 O retrocesso do futuro ou a inovação do
Tratamento Promissor
passado?
nas mais Diversas
29 “Normal People” - Review
Patologias?
30 Exploração do burnout nos alunos de medicina da FCS-UBI durante a pandemia por COVID-19: caso específico do 3º ano 2020/2021 34 Estar só 36 Guia de Sobrevivência 38 Sabias Que…? 39 Casos Clínicos 40 Memes 41 Cartoon
26 Carne Artificial…
35 Numa viagem...
o Futuro?
pela Medicina
DIAGNÓSTICO - DEZEMBRO 2021
UM COPO DE CAFÉ POR DIA, NÃO SABE O BEM QUE LHE FAZIA! Texto de Rodrigo Martins
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café é a bebida mais consumida no mundo devido aos efeitos psicoativos da cafeína, o seu principal composto ativo, sobre a memória, atenção e sono. Para além destes efeitos a curto-prazo, o café também demonstra uma relevância especial a longo prazo na saúde dos seus consumidores (1). A cafeína (1,3,7-trimetilxantina) atua como psicostimulante, funcionando como antagonista da adenosina nos recetores A1 e A2A (1). Estes recetores encontramse localizados no córtex cerebral, coração, aparelho respiratório, rins e trato gastrointestinal (2). Uma vez que a adenosina possui um efeito inibitório destes sistemas, ao ligar-se aos recetores previamente referidos,
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a cafeína provoca um estado de excitação do sistema nervoso central (1). Numa tese realizada na Universidade da Beira Interior (UBI), que avaliou o consumo de café pelos estudantes de medicina da UBI, verificou-se que cerca de 79% dos inquiridos responderam que tomam café. O mesmo estudo revelou que os principais motivos para o consumo neste grupo é, por ordem decrescente: combater a sonolência, gosto pelo sabor do café, e aumentar a capacidade mental e física (2). Os principais efeitos agudos do consumo moderado de café incluem uma melhoria na função cognitiva, como a resolução de problemas, atenção, vigilância, tempo de reação e o processo de tomada de decisões.
DIAGNÓSTICO - DEZEMBRO 2021
Quanto à memória, os resultados são ainda pouco claros e as principais conclusões são que, embora esta não sofra efeitos a curtoprazo devido à ingestão de café, quando o consumo é a longo-prazo, a memória é afetada positivamente (3). A explicação poderá passar pelos efeitos neuroprotetores do consumo crónico de café, contribuindo também para uma menor probabilidade de desenvolver doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, e doenças psiquiátricas, como a depressão (1). Para além disto, existem notórias melhorias de performance física (3), como no controlo motor (1), resistência aeróbia, anaeróbia e força muscular (3). Apesar dos benefícios comprovados, a cafeína também acarreta consequências negativas quando o seu consumo é em grandes quantidades. Atualmente, é considerado que o consumo de cafeína não deverá ultrapassar os 400 mg/dia, que corresponde a cerca 3 a 4 chávenas de café por dia (3). Valores acima deste são responsáveis por consequências negativas, entre as quais níveis aumentados de ansiedade (1) e disrupções na performance cognitiva (3). O risco de desenvolver dependência de café é reduzido, mas consumidores que o abandonem poderão experienciar sintomas de abstinência (2). Conclui-se assim que o consumo moderado de café, além de não constituir um risco para a saúde, é um fator que beneficia a mesma, não só a curto-prazo, sendo este o principal motivo apontado para o seu consumo, como também para os efeitos positivos a longoprazo.
Referências Bibliográficas: 1. Magalhães R, Picó-Pérez M, Esteves M, Vieira R, Castanho TC, Amorim L, et al. Habitual coffee drinkers display a distinct pattern of brain functional connectivity. Mol Psychiatry [Internet]. 2021; Available from: http://dx.doi. org/10.1038/s41380-021-01075-4 2. Almeida SAM de. Consumo de café pelos estudantes de Medicina da Universidade da Beira Interior [Internet]. Universidade da Beira Interior; 2015. Available from: http://hdl.handle.net/10400.6/4988 3. McLellan TM, Caldwell JA, Lieberman HR. A review of caffeine’s effects on cognitive, physical and occupational performance. Neurosci Biobehav Rev [Internet]. 2016;71:294–312. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j. neubiorev.2016.09.001
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ALUNOS COM ATIVIDADES EXTRACURRICULARES Entrevistas de Sara Gomes
Teatro Sara, Antes de mais, quero-te agradecer, em nome da Revista Diagnóstico, pela disponibilidade em nos dares a conhecer a tua experiência enquanto estudante de medicina e atriz no TeatrUBI. Vamos começar pelo início: como surgiu o teu interesse pelo teatro e como tem sido o teu percurso até aqui? Na verdade, o teatro surgiu na minha vida muito antes de entrar para a universidade. Quando era pequenina, o meu passatempo preferido era encenar pequenos contos e histórias com as minhas primas, e lembro-me perfeitamente das primeiras vezes em que fui ao teatro. Mas acho que é justo dizer que o meu percurso só começou oficialmente aos 8 anos na companhia Fatias de Cá, da qual ainda sou membro ativo. Fiz uns anos de pausa durante o secundário, e retomei mesmo antes de entrar na UBI, o que me motivou a procurar os grupos de cá. Por coincidência, logo na primeira semana de aulas, uma das primeiras pessoas que conheci queria ir experimentar um dos ensaios abertos do TeatrUBI e eu decidi acompanhá-la. Desde que me juntei ao TeatrUBI tive a oportunidade de explorar toda uma dimensão do teatro que não conhecia e tenho feito coisas que nem sonhava ser capaz de fazer. A experiência também tem sido muito marcada pelo contacto com pessoas de diferentes 6
cursos, níveis de experiência e backgrounds, com ideias e visões diversificadas, e isso reflete-se muito nas nossas peças. É mesmo muito enriquecedor, até porque acabamos por ter a oportunidade de viajar, tanto dentro do país como para fora, e contactar com outros grupos e culturas. Quais as estratégias que usas para conjugar o curso de medicina com o teatro, sendo duas áreas tão diferentes e exigentes? Essa é sempre uma pergunta difícil de responder, porque depende sempre de cada um. No meu caso, tenho dificuldade em dar uma resposta porque, como entrei logo para o teatro, a minha adaptação inicial ao ritmo da faculdade já englobou essa vertente. Apesar de consumir muito tempo, os ensaios calham num horário em que tenho muita
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dificuldade em estudar ou fazer alguma outra coisa, pelo que encaro esse período do dia que é passado a treinar como uma forma de rentabilizar o tempo, em que posso simultaneamente “descansar a cabeça” e praticar atividade física. Não posso dizer que seja fácil, até porque em toda a história do TeatrUBI só houve três pessoas de medicina, contando comigo… mas sem dúvida que é possível! E claro que a melhor parte é chegar ao final do processo criativo e poder dizer confortavelmente que valeu a pena investir todo aquele tempo. Por fim, quais as melhores dicas que darias a alguém que gostaria de ter um percurso semelhante? Experimentem e vejam se gostam! Em outubro/novembro há sempre duas a três semanas de ensaios abertos, em que qualquer pessoa pode experimentar sem compromisso. Outra coisa importante é não se deixarem intimidar pelo calendário de ensaios porque, apesar de ser muito preenchido, é muito condensado e passa num instante. Depois é uma questão de refletir e perceber o que é realmente importante para nós. Também aconselho a que sigam as redes sociais do TeatrUBI para poderem ter uma ideia de como é, e claro que também estou sempre disponível para tirar qualquer dúvida que possam ter. 7
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Desporto Ana e Rita, Antes de mais, quero-vos agradecer, em nome da Revista Diagnóstico, pela disponibilidade em nos darem a conhecer a vossa experiência enquanto estudantes de Medicina e praticantes de remo. Contem-nos um pouco da vossa história. Com que idade começaram a praticar e como surgiu este interesse? Nós é que temos que agradecer! É um gosto é uma honra podermos partilhar um bocadinho da nossa experiência! Desde sempre estivemos ligadas a vários desportos sempre no modo de competição. Fomos desde a ginástica acrobática à natação passando pelos trampolins, patinagem, voleibol, até chegarmos ao remo. A nossa mãe é professora de educação física e também ela foi atleta de alta competição e o pai também sempre praticou desportos pelos que os genes sempre estiveram cá. Há cerca de 10 anos estávamos a passear pela cidade de Viana do Castelo. Nesse dia estava a decorrer uma grande regata de remo do calendário da Federação, “A taça de Portugal”. Achamos a dinâmica do desporto tão interessante que no dia seguinte estávamos, nós mesmas, a entrar num barco do qual não voltamos a sair. :) Já na faculdade, quais foram os maiores desafios na conciliação entre o estudo e a competição? Tudo foi mais fácil até à entrada na faculdade! Já não bastava toda a dinâmica do que é o ensino universitário e a carga do curso, ainda tinha que faltar água! O remo, como desporto aquático que é, tem duas vertentes. Uma indoor (a parte de “condição física” vamos chamar-lhe assim) e a parte de “remo na água”. Cá na Covilhã, a única parte que podemos fazer é mesmo a indoor o que limita imenso 8
o nível de progressão de treino e, acima de tudo, motivação. O facto de estarmos a mais de 200km do sítio onde toda a nossa equipa está a treinar junta sempre nos fez sentir muito deslocadas. Continuamos a achar que a competição durante o ensino universitário é perfeitamente compatível e benéfica. E para nós sempre foi!! Muitos foram os dias em que chegamos tarde das aulas ou dos estágios e sentámo-nos no ergómetro e não soubemos o que estávamos a fazer ou porque o estávamos a fazer. É demasiada dor, sacrifício e sofrimento durante 1h ou mais, depois de dias tão intensos. No entanto, é também a melhor sensação do mundo quando o cronómetro chega ao fim e o treino acaba. Com mais ou menos sucesso, já foi uma vitória ter sido concluído. Com a universidade, e no nosso caso, os objetivos alteraram-se. Passamos de “este ano é para ganhar” para “estes anos é para manter”. Com a COVID-19 e com o trabalho no SNS24, começou a faltar uma coisa que nunca nos tinha faltado. Tempo. Tivemos que fazer escolhas, que não foram nada fáceis. Deixamos a competição de lado por uns tempos para nos podermos focar naqueles que eram os nossos objetivos e o “estes anos é para manter” nunca fez tanto sentido!!!! Uma vez atleta, para sempre atleta. Não é
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uma coisa que se perca ou que se escolha. Às vezes é necessário parar e dar um tempo. 10 anos de um desporto em que se treina dia sim dia sim ,sem feriados ou fins-de-semana, faz-nos repensar tudo quando chega a altura de fazer escolhas. Mas não passam disso. Escolhas que podem ser sempre provisórias. O ensino universitário e a “distância a casa” mostram-nos tudo numa perspetiva completamente diferente. Aquilo que achávamos como certo talvez não o seja. Aquilo que era o maior objetivo talvez não tenha que ser conseguido naquela data, mas sim mais tarde. Mostra-nos que não há problema quando as coisas não são como planeamos. Mostra-nos que temos tempo para fazer escolhas e refazê-las por cima, porque nada é certo. Hoje estamos mais distantes da competição porque outros valores se levantam. Talvez amanhã seja tudo ao contrário. É isto que achamos que o ensino universitário “faz” ao desporto de alta competição. Falem-nos um pouco da oportunidade de representar a UBI nas competições. Como surgiu? Qual a sensação de representarem a vossa faculdade? Representar algo ou alguma instituição
em provas é sempre uma matéria muito complicada. Nunca competimos por nós. A competição é sempre por uma camisola, por um clube, por uma cor! É sempre por algo além do que nós somos! Competir não é sempre ganhar. Há o primeiro e o último lugar para preencher. E nós bem sabemos o que é perder 😂😝 A UBI, além do nosso clube, sempre nos deu e continua a dar todas as condições para que possamos manter e evoluir enquanto atletas. Cá não há água, portanto os objetivos passam pela manutenção da condição física que é perfeitamente realizável em qualquer lado, mesmo em casa como muitas vezes fazemos. A UBI e a AAUBI proporcionaram-nos a participação em duas edições dos Jogos Europeus Universitários (Coimbra e Suécia) (e precedentes nacionais universitários nos quais conseguimos o respetivo apuramento), que foram das maiores experiências que alguma vez vamos ter a nível de competição. Não há nada como levar o nome da nossa instituição a um lugar onde nunca foi falada! É algo que qualquer atleta deveria poder experienciar. Transcende qualquer dor nos treinos, qualquer tristeza ou desilusão de todo o processo que é chegar àquela regata no Europeu Universitário!
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Para terminar, quais as melhores dicas que têm para quem quer conciliar a Medicina com uma atividade que exija tanto esforço? Quem alguma vez disse que era igual treinar um desporto de alta competição durante o ensino secundário ou durante a faculdade ou até durante o trabalho, mentiu redondamente. São fases de vida completamente diferentes e é até errado transmitir essa ideia aos atletas que entram num curso universitário. Na nossa opinião não há uma fórmula mágica, mas a melhor dica talvez seja viver um dia de cada vez. Não podemos nem nunca vamos poder ser excelentes em tudo. É importante perceber que é perfeitamente compatível conciliar Medicina com qualquer desporto de competição. É importante salientar também que ou se faz uma coisa a 100% ou se faz a outra. Não podemos fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo, tudo a 100%. É tudo uma questão de escolhas. O bom do desporto é que ele nunca acaba. Nunca é tarde para manter, voltar, sair ou começar. E essa é também a magia da competição. Quem deixa a competição não é mais fraco do que quem mantém. Assim como quem mantém não é mais forte do que quem se afasta. É uma questão de perspetiva. Talvez quem deixa a competição possa viver coisas que quem a mantém nunca possa viver e viceversa. Está tudo certo desde que seja uma escolha do próprio atleta. Importante que seja feita depois de pelo menos se tentar! Manter os dois??? Completamente! Nós, todos os dias, treinamos, faça chuva ou faça sol. Se ainda é pela competição ou não, isso só o tempo dirá. Neste momento é pelo bem que nos faz sentir. Uma vez atleta, para sempre atleta. Talvez isso seja a única coisa que não se pode escolher! Muito obrigada pela vossa partilha e pela contribuição para a edição da revista! A equipa da Revista Diagnóstico 10
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O CHARLATANISMO NA MEDICINA Texto de Sara Gomes
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charlatanismo sempre foi algo que acompanhou a Medicina desde os seus primórdios. São oferecidas curas milagrosas para doenças incuráveis ou para doenças que não existem, como a famosa “cura gay”. É algo que atrai muitos pacientes, quer seja pelo desespero que vivem e que os faz procurar todas as possíveis soluções, quer seja pela misticidade associada às curas que os charlatões, com o seu dom da palavra que enfeitiça os mais vulneráveis, lhes dá. Quantos não são os portugueses que acreditam, por exemplo, que a banha de cobra vendida por aquele curandeiro maravilhoso recomendado pela vizinha, é capaz de curar dores reumáticas, herpes ou episódios febris? Mas claro, a banha de cobra é rara e valiosa, o que faz com que, para além de ajudar a encher os bolsos de alguém, promova a extinção de espécies (contando que aquilo que lhes é dado realmente vem da cobra). Sabem quem vai manter as dores como eram antes? O doente. Óbvio que inicialmente parece que curou tudo como num sonho, mas não tarda a acordar e, provavelmente, a precisar de comprar mais banha de cobra porque aquela não foi suficiente… O nosso papel, como estudantes de Medicina e médicos, é mostrar a verdade àqueles que queremos ajudar. É importante que os doentes saibam como identificar os tais curandeiros milagrosos (e que não há evidência científica que a gordura da cobra seja terapêutica) e nós temos um papel fundamental na sua educação para a saúde. Enquanto nós lhes mostramos a verdade crua e, muitas vezes, dura, estes apresentamse aos doentes como “os mestres naquela doença, sendo que o tratamento que oferecem
é o único capaz de ajudar”, associando um negacionismo seletivo para o que lhes convém, distorcendo a ciência e aproveitandose das incertezas desta. Utilizam a fragilidade humana para conseguir tirar benefícios em seu favor, contra todas e quaisquer evidências e, mesmo assim, quantas não são as vezes que os doentes acreditam? Como podemos ajudar uma pessoa que procura “a sua cura milagrosa” para voltar a estar bem, a perceber qual o caminho que deve seguir? Penso que, antes de tudo o resto, é importante não assumirmos uma postura paternalista, na qual “eu sei, posso e mando” e o doente não tem opinião. Apesar de muitos doentes não perceberem de ciência, a verdade é que termos uma atitude que os faz sentirem-se inferiorizados não os vai ensinar a perceber. É preciso, acima de tudo, ajudamo-los a compreender a sua doença, a necessidade do tratamento que oferecemos e o porquê de ser fundamental identificarem e não se levarem por estes charlatões, pois para além de não ganharem saúde, poucas não são as vezes em que ainda vão perder dinheiro. Se é um trabalho fácil e vai ser entendido por todos? Não! Mas certamente valerá a pena tentar. 11
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ABC DO LGBTQIA+ NUNCA É TARDE PARA APRENDER UM NOVO ABECEDÁRIO Texto de Maria Beatriz Carvalho e Rita Claro LGBTQIA+ são muitas letras para representar na mesma sigla, mas não é demasiado tarde para aprender o que realmente significam. Deixamos-te com conceitos importantes e que, frequentemente, geram dúvida na nossa sociedade.
GÉNERO:
SEXO:
Conceito biológico que engloba as características físicas, como as gónadas, cromossomas, hormonas, características sexuais secundárias… Designa-se feminino para pessoas com genitais femininos, hormonas femininas e cromossomas XX, masculino se tiver genitais masculinos, caracteres sexuais secundários masculinos e cromossomas XY, intersexo para pessoas que naturalmente desenvolvem características sexuais que não se encaixam nas noções típicas de sexo feminino ou masculino, que não se desenvolve completamente como nenhuma delas ou que desenvolve naturalmente uma combinação de ambas. Por exemplo, este termo inclui as pessoas que ao nascimento são XXY síndrome Klinefelter - ou que nascem com útero e pénis.
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Característica que engloba atitudes, sentimentos e comportamentos, associados à experiência e expressão do seu sexo biológico, que podem ou não estar em conformidade.
PESSOAS CIS-GÉNERO:
Indivíduos cuja identidade de género corresponde ao sexo atribuído à nascença.
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Imagem: https://www.genderbread.org/ 13
EXPRESSÃO DE GÉNERO:
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IDENTIDADE DE GÉNERO:
Corresponde à manifestação física e externa da identidade de género. Ao contrário da identidade de género, que é algo intrínseco, a expressão de género é extrínseca, estando relacionada com a forma de o indivíduo se vestir, agir, comportar, comunicar, interagir…
Corresponde a uma perceção intrínseca pessoal, revelando o género com o qual a pessoa se identifica, podendo, ou não, corresponder ao sexo biológico. Está dividido em feminino, masculino e não binário, sendo este último utilizado quando a pessoa não se identifica nem com o género masculino nem com o feminino ou se identifica com os dois.
PAPEL DE GÉNERO:
Comportamentos e atitudes que uma determinada sociedade, inserida num determinado contexto histórico, atribui a determinado género e que, pode ou não, corresponder à identidade de género da pessoa.
TRANSGÉNERO:
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Se a identidade de género - forma como a pessoa se identifca não corresponder ao sexo atribuido à nascença estamos perante uma pessoa trans, as quais sentem que o seu sexo atribuído não reflete completa ou adequadamente sua identidade de género. O termo trans é muito abrangente englobando indivíduos transsexuais - indivíduos que não se identificam com as identidades de género tradicionalmente estabelecidas e que, através de intervenções médico-cirúrgicas, pretendem alterar os seus carateres sexuais - e indivíduos que não se identificam com a classificação tradicionalmente binária masculino-feminino (género fluído, queer, não binários...). Ou seja, nem todas as pessoas trans são transsexuais, mas todas as pessoas transexuais são trans.
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DISFORIA DE GÉNERO:
Sofrimento psicopatológico constante sentido por um indivíduo que não se identifica com as caraterísticas do seu sexo biológico. Este sofrimento é causado pela discrepância marcada entre a identidade de género autopercebida e o sexo atribuído à nascença, bem como com os papéis de género associados ao mesmo.
NÃO CONFORMIDADE DE GÉNERO: A identidade, expressão e/ou papel de género diferem das expectativas e padrões culturais e sociais predominantes atribuídos à nascença.
ORIENTAÇÃO SEXUAL:
ASSEXUALIDADE:
Ausência total, parcial ou condicional de atração sexual a qualquer pessoa, mas que pode experienciar outras formas de atração (intelectual, emocional...).
Refere-se à atração física, romântica e/ou emocional de uma pessoa por outras pessoas.
QUEER:
É um termo guarda chuva que engloba os indivíduos que não se enquadram na heterocisnormatividade, ou seja, a sua identidade de género e/ ou orientação sexual não são consideradas normativas. Bibliografia Rodrigues, J., Lemos, C., & Figueiredo, Z. (2020). Discriminação e Barreiras ao Acesso ao Serviço Nacional de Saúde Percecionados por Pessoas Trans. Revista Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, 6(3), 98–108. https://doi.org/10.51338/rppsm.2020.v6.i3.152
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DISCRIMINAÇÃO DE PESSOAS TRANS Texto de Rodrigo Martins
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população trans é das principais comunidades alvo de discriminação, preconceito e estigma por parte da sociedade (1). É necessário um acesso a cuidados de saúde positivo e sem barreiras que vise colmatar as disparidades em saúde que esta população sofre (2). No entanto, a própria procura por tratamentos cirúrgicos, médicos e psicológicos específicos à sua condição, encontra-se altamente limitada. (1–3). Formas de discriminação a que pessoas trans são expostas regularmente incluem: desrespeito pelo seu nome e pronomes apropriados ao seu género, agressão, isolamento, marginalização e dificuldades económicas (1). Este estigma explica a maior prevalência de episódios depressivos, perturbações de ansiedade (4), perturbação de uso de substâncias, abusos psicológico, físico e sexual, e tentativas de suicídio nestes indivíduos (1). Num estudo que pretendeu avaliar a discriminação e barreiras ao acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) percecionado por pessoas trans, concluiu-se que cerca de metade dos inquiridos sofreram, pelo menos, um episódio de discriminação (1). Relativamente a estes episódios, os principais foram, por ordem decrescente: o uso de linguagem preconceituosa ou insultuosa, negação e o desencorajamento da exploração da identidade de género e, também a recusa de assistência ou término 16
de cuidados (1). Para além disto, quanto às barreiras de informação sobre a especificidade trans, 32,4% dos participantes referem que o profissional de saúde em causa não tinha conhecimento suficiente acerca da saúde de pessoas trans (ST), sendo por isso incapaz de aconselhar sobre a mesma, e que 69,1% dos inquiridos teve de ceder, pelo menos uma vez, informação sobre ST ao profissional (1). A abordagem de questões relacionadas com diversidade de género ainda se associa a preconceitos e emoções negativas, que resulta nos constrangimentos referidos (3). É necessário o respeito pelo direito à autodeterminação que se traduz pela despatologização do percurso transgénero e transexual (3). Torna-se imprescindível protocolar os atos médicos (3) e dar a conhecer essas guidelines aos profissionais de saúde, de modo a que não sejam as próprias pessoas trans a os informarem acerca das mesmas, contribuindo assim para a ajuda do clínico em explorar a identidade de género do indivíduo (1) e fornecer um acompanhamento personalizado com opções de tratamento individualizadas (1,4). A abordagem das questões relacionadas com o percurso da pessoa trans faz-se em vários passos (1). O diagnóstico requer profissionais experientes, principalmente no caso da transexualidade com ou sem disforia de género, sendo o médico de Medicina Geral e Familiar (MGF) o fator mais importante para esta fase (3). Feito o diagnóstico, o MGF
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deve facilitar a exploração da identidade e expressão de género do indivíduo (1) e propor um tratamento individualizado com uma série de etapas: tratar a sintomatologia que possa surgir, disponibilizar apoio psicológico de aconselhamento e de psicoterapia de suporte, intervir no meio social de modo a defender o bem-estar do utente e articular com outras especialidades com vista a proceder à sua referenciação hospitalar (3). No caso de uma pessoa transgénero que deseje e tenha indicação clínica para a alteração física dos seus carateres sexuais primários e/ou secundários (1), existem algumas opções terapêuticas do tratamento de redesignação de sexo (TRS) que importa mencionar: tratamento com análogos da hormona libertadora de gonadotrofinas (GnRH), tratamentos hormonais “feminilizantes” e “masculinizantes” e, por fim, cirurgias de redesignação sexual (3). A análise da legislação portuguesa relativamente às pessoas trans que têm um sofrimento psicopatológico constante com as caraterísticas do seu sexo biológico – disforia de género – é importante em duas vertentes (3). A primeira prende-se com a cirurgia para a transição de género que depende de: dois diagnósticos de disforia de género por duas equipas multidisciplinares distintas (3), acompanhamento médico durante todas as fases do TRS, em que o período antes da intervenção cirúrgica deve ser inferior a dois anos, utente ser maior de idade e cognitivamente capaz e, por fim, de um parecer por parte da Ordem dos Médicos
(1). A outra diz respeito aos efeitos no registo civil quanto à alteração do sexo e nome, em que o interessado tem de ser maior de idade, preencher um requerimento e ter um relatório médico a comprovar a situação em causa (3). Quanto ao percurso trans, a medicina preventiva pode atuar a dois níveis (2). O primeiro, tem como alvo pessoas trans em que, sendo esta uma comunidade suscetível aos tipos de discriminação referidos (2), muitos deles recorrem a cuidados de saúde numa fase tardia do seu sofrimento (3) pelo que, deve-se intervir o mais precocemente possível (2). O MGF constitui um pilar essencial para o ponto anterior pelo que, o segundo nível a atuar é na competência trans que este profissional deve possuir visto que (2), este acompanha o individuo da infância até à vida adulta, tendo inúmeras oportunidades para avaliar o seu desenvolvimento sexual (3). As pessoas trans que, devido à sua especificidade, são alvo de estigma e discriminações social, económica e familiar, necessitam de um acesso a cuidados de saúde sem obstáculos e preconceitos (1). Através da eliminação da transfobia e da evolução para uma medicina mais inclusiva, esta comunidade pode ter ganhos positivos em saúde que contribuam o seu bem-estar físico, sexual, mental e social (1,3).
Referências bibliográficas 1. Rodrigues J, Lemos C, Figueiredo Z. Discriminação e Barreiras ao Acesso ao Serviço Nacional de Saúde Percecionados por Pessoas Trans. Rev Port Psiquiatr e Saúde Ment [Internet]. 2020 Dec 30;6(3):98–108. Available from: https://www.revistapsiquiatria.pt/index.php/sppsm/article/view/152 2. Romanelli M, Lindsey MA. Patterns of Healthcare Discrimination Among Transgender Help-Seekers. Am J Prev Med [Internet]. 2020;58(4):e123–31. Available from: https://doi.org/10.1016/j.amepre.2019.11.002 3. Olivera AGC, Vilaça AF, Gonçalves DT. Da transexualidade à disforia de género – protocolo de abordagem e orientação nos cuidados de saúde primários. Rev Port Med Geral e Fam [Internet]. 2019 Jun 1;35(3):210–22. Available from: http://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/12105 4. Coleman E, Bockting W, Botzer M, Cohen-Kettenis P, DeCuypere G, Feldman J, et al. Standards of Care for the Health of Transsexual, Transgender, and Gender-Nonconforming People, Version 7. Int J Transgenderism [Internet]. 2012 Aug;13(4):165–232. Available from: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/15532739.2011. 700873
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VIH: UM CASO DE “CURA ESTERILIZADORA”
Vírus HIV (amarelo) a infetar célula humana
Texto de David Raimundo
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o passado mês de novembro, foi dado a conhecer, na revista Annals of Internal Medicine, o caso de uma doente diagnosticada com VIH cujo organismo terá conseguido, autonomamente, eliminar o vírus, sem qualquer tipo de tratamento. Este fenómeno é descrito pelos cientistas como uma “cura esterilizadora” da infeção por VIH. Trata-se de uma doente argentina, que passou a ser chamada “paciente Esperanza”, o nome da sua cidade natal, diagnosticada com VIH-1 desde 2013 e que se tornou na segunda pessoa a nível mundial a não registar sinais detetáveis de infeção ativa por VIH na ausência de um tratamento com células estaminais. O primeiro caso foi detetado, em 2020, numa doente californiana. Embora este caso faça lembrar o de outros doentes que ficaram mundialmente conhecidos por aparentemente se terem curado da infeção (o “paciente de Berlim” e o “paciente de Londres”), estes envolveram transplantes de células estaminais para o tratamento de diferentes tipos de cancro.
No caso do “paciente de Berlim”, o seu transplante, inesperadamente, “curou-o” da sua infeção por VIH, induzindo um estado de remissão tal que o vírus deixou de ser detetado, sem recurso a qualquer fármaco antirretroviral. Vários anos mais tarde, surgiu o caso do “paciente de Londres”, similar em muitos aspetos, sugerindo que os transplantes de células estaminais poderiam ser uma forma de esterilização eficaz, embora rara. Desde então, os cientistas têm vindo a aprender cada vez mais acerca do fenómeno raro no qual o organismo de certas pessoas parece, por vezes, encontrar formas naturais de fazer frente ao vírus. São chamados “controladores de elite” ou “supressores naturais”, pois, de alguma forma, parecem ser capazes de controlar o vírus sem recurso a medicação ou transplantes. Dentro desta elite, o caso da “paciente Esperanza” é particularmente notável, uma vez que mesmo os “controladores de elite” podem, esporadicamente, mostrar sinais detetáveis do vírus. Segundo os investigadores, neste grupo
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de doentes, apesar de não ser possível detetar o vírus através de testes PCR, é possível, recorrendo a testes laboratoriais in vitro, isolar DNA pró-viral (DNA que é produzido na célula do hospedeiro infetada a partir do RNA viral) e vírus com capacidade de replicação. Portanto, o “controlo” independente de fármacos, nestas pessoas, resulta de uma inibição da replicação viral e não da eliminação de todas as células infetadas. O que distingue a “paciente Esperanza” de todos os outros casos descritos de “controladores de elite” ou de doentes que receberam tratamento é a ausência de DNA pró-viral e de partículas virais VIH-1 com capacidade de replicação capazes de serem detetados num grande número de células. Apesar de os cientistas se manterem cautelosos quanto ao uso da expressão “cura esterilizadora”, consideram que o caso descrito constitui um avanço significativo no mundo da investigação sobre a cura para a infeção por VIH. Os investigadores ainda não têm certezas sobre os mecanismos fisiológicos que originaram este fenómeno singular. No entanto, creem que estão envolvidos diferentes tipos de mecanismos imunológicos, incluindo uma muito provável intervenção dos linfócitos T citotóxicos e a possível contribuição da imunidade inata.
Bibliografia 1- “Cura esterilizadora”. Cientistas descobrem mulher cujo corpo terá eliminado naturalmente o VIH [Internet]. [cited 2021 Nov 22]. Available from: https://www.rtp.pt/noticias/mundo/cura-esterilizadora-cientistas-descobrem-mulher-cujo-corpo-tera-eliminado-naturalmente-o-vih_n1363612 2- A second HIV patient may have been “cured” of infection without stem cell treatment, in extremely rare case - CNN [Internet]. [cited 2021 Nov 22]. Available from: https://edition.cnn.com/2021/11/16/health/hiv-patient-cured-intl-scli-scn/index.html 3- In Extremely Rare Case, a Woman With HIV Has “Cleared” The Virus Without Treatment [Internet]. [cited 2021 Nov 22]. Available from: https://www.sciencealert.com/extremely-rare-case-suggests-woman-was-naturally-cured-of-the-hiv-virus?fbclid=IwAR0OYgpeB-PYXZM4eAByQMPCHDt_YohB84LcvvTIraahJlovHtReQUt_gtE 4- Turk G, Seiger K, Lian X, Sun W, Parsons EM, Gao C, et al. A Possible Sterilizing Cure of HIV-1 Infection Without Stem Cell Transplantation. https://doi.org/107326/L21-0297 [Internet]. 2021 Nov 16 [cited 2021 Nov 22]; Available from: https://www.acpjournals.org/doi/abs/10.7326/L21-0297
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OZONOTERAPIA UM TRATAMENTO PROMISSOR NAS MAIS DIVERSAS PATOLOGIAS? Texto de Ana Margarida Lopes Simões IFE de 2º ano de MGF na USF “A Ribeirinha” – ULS Guarda
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urante uma formação curta de Dor, no âmbito do Internato Médico em Medicina Geral e Familiar, tive a oportunidade de passar pelo serviço de Medicina da Dor do Hospital da Guarda. Entre as mais diversas terapêuticas, vou aprofundar a, talvez mais inovadora, a Ozonoterapia. Certamente que este tratamento ainda é desconhecido por muitos. No entanto, os seus benefícios têm sido largamente reportados para as mais diversas patologias com resultados muito promissores. Viver com dor crónica provoca, não só uma limitação física, mas também uma forte carga psicológica que condiciona a qualidade de vida dos doentes e dos seus cuidadores. Neste
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sentido, a gestão da dor nos mais diversos contextos é importantíssima, sendo que por vezes, não é fácil ajustar a terapêutica. Entre o arsenal de ferramentas ao nosso dispor destaca-se a Ozonoterapia. O ozono trata-se uma molécula biológica, presente na natureza e produzida no interior de todos os seres humanos de forma regular. A Ozonoterapia é uma terapia complementar que é utilizada no controlo da dor crónica, artrite, patologia osteoarticular, fibromialgia, doenças dermatológicas, entre outras, com o objetivo de melhorar significativamente a qualidade de vida da pessoa, tornando-a novamente funcional. A aplicação do ozono com fins terapêuticos remonta aos finais do séc. XIX, mas a sua utilização clínica tem vindo progressivamente a ocupar um lugar mais relevante nos últimos anos. Esta técnica, consiste na administração de uma mistura gasosa que contém cerca 95% de oxigénio e menos do que 5% de ozono, produzindo uma série de efeitos bioquímicos e fisiológicos no corpo humano. Estes processos, demonstraram alguma eficácia no tratamento
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de várias patologias principalmente pelos seus efeitos analgésicos, anti-inflamatórios, antioxidantes e também bactericidas e viricidas, ao atuar como moderador de radicais livres. As concentrações e modo de administração variam em função da patologia a tratar: pode ser administrado por via retal, subcutânea, intramuscular (auto-hemoterapia menor), intraarticular e endovenosa (auto-hemoterapia maior). Os processos de aplicação podem ainda ser através de óleos ozonizados em que são aplicados diretamente na zona do corpo a tratar, massajando a área. Mais recentemente, têm sido publicados alguns estudos sobre o uso da Ozonoterapia, em doentes com infeção por SARS-COV2. O tratamento combinado de ozono com a terapia médica de base, especialmente se administrado em estadios precoces da doença, demonstrou uma redução na inflamação, danos pulmonares e até um menor risco de mortalidade. Atualmente a técnica ainda se realiza em muito poucos hospitais públicos em Portugal, apesar da sua regulamentação como terapia médica (publicação do Dec-Lei Nº 163/2013 de 24 de Abril e através da Portaria nº20/2014 de 29 de Janeiro, o Ministério da Saúde inclui a Ozonoterapia como tratamento reconhecido pelo Serviço Nacional de Saúde). Apesar de ser uma terapia segura e com
poucos efeitos secundários, a Ozonoterapia é usada apenas como um tratamento alternativo nas diversas patologias. No entanto, tive a oportunidade de verificar, aquando da minha passagem pela Unidade, que os doentes se encontram muito satisfeitos e motivados com os resultados. Esperam-se, ainda assim, que mais estudos sejam realizados para que o uso desta técnica seja utilizado de forma mais eficaz e difundida.
Referências Bibliográficas: Cattel F, Giordano S, Bertiond C, Lupia T, Corcione S, Scaldaferri M, Angelone L, De Rosa FG. Ozone therapy in COVID-19: A narrative review. Virus Res. 2021 Jan 2;291:198207. doi: 10.1016/j.virusres.2020.198207. Epub 2020 Oct 25. PMID: 33115670; PMCID: PMC7585733. Izadi M, Cegolon L, Javanbakht M, Sarafzadeh A, Abolghasemi H, Alishiri G, Zhao S, Einollahi B, Kashaki M, Jonaidi-Jafari N, Asadi M, Jafari R, Fathi S, Nikoueinejad H, Ebrahimi M, Imanizadeh S, Ghazale AH. Ozone therapy for the treatment of COVID-19 pneumonia: A scoping review. Int Immunopharmacol. 2021 Mar;92:107307. doi: 10.1016/j.intimp.2020.107307. Epub 2020 Dec 21. PMID: 33476982; PMCID: PMC7752030. Hernández A, Viñals M, Pablos A, Vilás F, Papadakos PJ, Wijeysundera DN, Bergese SD, Vives M. Ozone therapy for patients with COVID-19 pneumonia: Preliminary report of a prospective case-control study. Int Immunopharmacol. 2021 Jan;90:107261. doi: 10.1016/j.intimp.2020.107261. Epub 2020 Dec 5. PMID: 33310665; PMCID: PMC7833586. Çolak Ş, Genç Yavuz B, Yavuz M, Özçelik B, Öner M, Özgültekin A, Şenbayrak S. Effectiveness of ozone therapy in addition to conventional treatment on mortality in patients with COVID-19. Int J Clin Pract. 2021 Aug;75(8):e14321. doi: 10.1111/ijcp.14321. Epub 2021 May 24. PMID: 33971067; PMCID: PMC8236993. ISCO3 – International Scientific Committee of Ozonetherapy. (Madrid, 2012). Ozone Therapy and Its Scientific Foundations. www.isco3.org.
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ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E SAÚDE Texto de David Raimundo
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E DOENÇAS CARDIOVASCULARES Atualmente, a evidência científica sobre a relação entre a poluição atmosférica e as doenças cardiovasculares é substancial. Por exemplo, alguns estudos concluíram que tanto a exposição de curta duração como a de longa duração a ar poluído estão associadas a um risco aumentado de AVC. Várias investigações têm contribuído para uma melhor compreensão da relação entre esta exposição e fatores como a disfunção endotelial, a aterosclerose, a ativação plaquetária e os estados pró-trombóticos. Entre os mais vulneráveis à poluição atmosférica incluem-se pessoas com mais de 65 anos, fumadores, crianças asmáticas e pessoas com alergias. Por exemplo, o CO2 torna o ar mais “ácido”, o que leva a uma maior libertação de pólen pelas plantas. Isto pode ser particularmente perigoso para certos doentes respiratórios devido à hiperprodução de muco. No entanto, as pessoas saudáveis também são afetadas por níveis especialmente elevados de pólen. Em 2016, na Austrália, a combinação de uma violenta tempestade com altas concentrações de pólen na atmosfera levou ao que a revista The Lancet descreveu como “a maior e mais catastrófica epidemia de thunderstorm asthma”. Vários milhares de pessoas recorreram a serviços de urgência por sintomas respiratórios agudos devido a esta situação, que também foi responsável por internamentos em UCI e pela morte de dez pessoas, todas elas com asma.
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No início do passado mês de setembro, mais de 200 revistas científicas da área da saúde fizeram algo inédito: publicaram, em simultâneo, um editorial que apelava aos líderes mundiais para que tomassem medidas urgentes face às alterações climáticas e ao seu devastador impacto na saúde pública. A mensagem é clara. “Nós - editores de revistas científicas de todo o mundo - apelamos a ações urgentes para manter o aumento da temperatura média global abaixo dos 1.5°C, pôr fim à destruição da natureza e proteger a saúde”, pode ler-se no editorial. Segundo a OMS, as alterações climáticas são a maior ameaça à saúde da Humanidade e o seu impacto é já visível um pouco por todo o mundo. Vejamos, então, algumas formas de como a crise climática que atravessamos pode afetar a saúde das populações.
DOENÇAS INFECCIOSAS Com o aumento da temperatura média do planeta, as regiões geográficas que constituem o habitat de várias espécies de mosquitos e carraças estão a aumentar. Estes animais são vetores conhecidos de doenças como malária, febre amarela, infeções por vírus Zika, vírus da dengue, entre outras. As alterações climáticas estão, assim, a criar as condições ideais para a transmissão destes agentes em zonas do globo que não as regiões tropicais. Além disso, alterações na temperatura e na humidade podem ter um impacto no ciclo de vida de certos mosquitos. Existe evidência científica de que, em determinadas regiões do planeta, as alterações climáticas provocaram mudanças nestes fatores ao ponto de aumentar o risco de transmissão do vírus da dengue pelos mosquitos. Por fim, o aumento do nível médio do mar e as cheias comprometem a qualidade da água para consumo humano, o tratamento de águas residuais e o escoamento da água proveniente de fontes naturais, o que, por sua vez, resulta num risco aumentado de doenças transmissíveis por água contaminada. O aquecimento global está, assim, a interferir no transporte, transmissão, viabilidade e multiplicação de vários agentes infecciosos nas cadeias alimentares.
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SAÚDE MENTAL Embora não seja um tema muito abordado, os especialistas alertam que as alterações climáticas aumentam o risco de desenvolver ansiedade, depressão e perturbação de stress pós-traumático (PSPT). O distress psicológico causado por alterações ambientais drásticas é de tal forma significativo que justificou a criação do termo “solastalgia” para o descrever. Com o aumento em frequência e intensidade de fenómenos climáticos extremos, esperam-se, naturalmente, repercussões na saúde mental daqueles que por eles são atingidos. Em 2016, em Alberta, no Canadá, cerca de 88 mil pessoas foram evacuadas devido a incêndios florestais de dimensões devastadoras. Posteriormente, um estudo da Universidade de Alberta concluiu que, 18 meses após os incêndios, um terço das crianças e jovens entre os 12 e os 18 anos da região afetada sofriam de PSPT. “As mesmas escolhas insustentáveis que estão a matar o planeta também estão a matar pessoas”. São palavras do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus. De facto, o impacto das alterações climáticas na saúde dos seres humanos já se faz sentir em várias partes do globo, com consequências devastadoras para as populações mais vulneráveis. No entanto, segundo o diretor da revista The Lancet, Richard Horton, esta urgência é, ao mesmo tempo, uma das “maiores oportunidades” que a Humanidade tem “para promover o bem-estar das pessoas em todo o mundo”. Esperemos que os grandes decisores políticos saibam aproveitar esta oportunidade para tomar medidas que assegurem não só a saúde das comunidades do presente como também a das gerações vindouras.
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Bibliografia: 1- Crise climática. Mais de 200 publicações médicas pedem medidas urgentes [Internet]. [cited 2021 Nov 21]. Available from: https://www.rtp.pt/noticias/mundo/crise-climatica-mais-de-200-publicacoes-medicas-pedem-medidas-urgentes_n1346783 2- Expresso | Mais de 200 revistas de saúde apelam a medidas para combater as alterações climáticas [Internet]. [cited 2021 Nov 21]. Available from: https://expresso.pt/sociedade/2021-09-06-Mais-de-200-revistas-de-saude-apelam-a-medidas-para-combater-as-alteracoes-climaticas-109345bb 3- Atwoli L, Baqui AH, Benfield T, Bosurgi R, Godlee F, Hancocks S, et al. Call for emergency action to limit global temperature increases, restore biodiversity, and protect health. BMJ [Internet]. 2021 Sep 6 [cited 2021 Nov 21];374. Available from: https://www.bmj.com/content/374/bmj.n1734 4- Climate change and health [Internet]. [cited 2021 Nov 21]. Available from: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/climate-change-and-health 5- Wise J. Climate crisis: Over 200 health journals urge world leaders to tackle “catastrophic harm.” BMJ [Internet]. 2021 Sep 6 [cited 2021 Nov 21];374. Available from: https://www.bmj.com/content/374/bmj.n2177 6- The invisible impact of climate change | BBC Earth [Internet]. [cited 2021 Nov 21]. Available from: https://www. bbcearth.com/news/the-invisible-impact-of-climate-change?fbclid=IwAR05S5_qdPVNsQXqNNpO6GMtvHWqRjDqnKfWVjVY6wLFRM08t7frn9in-_I 7- Why climate change is still the greatest threat to human health [Internet]. [cited 2021 Nov 21]. Available from: https://www.nationalgeographic.com/science/article/why-climate-change-is-still-the-greatest-threat-to-human-health 8- Lee KK, Miller MR, Shah ASV. Air Pollution and Stroke. J Stroke [Internet]. 2018 Jan 1 [cited 2021 Nov 21];20(1):2. Available from: /pmc/articles/PMC5836577/ 9- Climate Change Is The Greatest Threat To Human Health In History | Health Affairs [Internet]. [cited 2021 Nov 21]. Available from: https://www.healthaffairs.org/do/10.1377/hblog20181218.278288/full/ 10- Thien F, Beggs PJ, Csutoros D, Darvall J, Hew M, Davies JM, et al. The Melbourne epidemic thunderstorm asthma event 2016: an investigation of environmental triggers, effect on health services, and patient risk factors. Lancet Planet Heal [Internet]. 2018 Jun 1 [cited 2021 Nov 21];2(6):e255–63. Available from: http://www.thelancet. com/article/S2542519618301207/fulltext
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O QUE PODEMOS FAZER PARA DIMINUIR O DESPERDÍCIO ALIMENTAR?
AGR AM NO INST O. OODTOG @TOOG R AR ENCONT S E D O P PT DICAS OUTR AS MUITAS MBATER PAR A CO ERDÍCIO O DESP TAR! ALIMEN
Texto de Maria Beatriz Carvalho
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Fruta e vegetais muito maduros? Podes aproveitá-los para fazer batidos, bolos, sopa, quiches. Se ficares com uma grande quantidade estas são opções que podes congelar e desfrutar depois!
Sabias que podes conservar ervas aromáticas em fim de vida, colocando-as cortadas em pequenos pedaços numa cuvete de congelação com azeite e temperos a gosto? Depois quando precisares de temperar os teus alimentos é só retirar do congelador e aproveitar o sabor!
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Se já costumas lavar bem os alimentos e consumilos com casca, ótimo - a casca é fonte de vitaminas, minerais e fibra! Mas se, por vezes, preferes consumilos sem, podes sempre reaproveitar as cascas para fazer “chips”. Só precisas de lavá-las bem, temperar com azeite e ervas aromáticas a gosto e levar ao forno até que fiquem estaladiças. Et voilà, um snack delicioso e com 0 desperdício.
E as cascas de ovos? Podes usar para fertilizar plantas e germinar sementes.
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O importante é pensar fora da caixa e utilizar todo o potencial dos alimentos que consumimos! 25
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CARNE ARTIFICIAL… O FUTURO? Texto de David Raimundo e Lúcia Heitor
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stima-se que a população mundial, atualmente de 7,3 mil milhões, ultrapasse os 9 mil milhões em 2050. Prevê-se que, nesse ano, seja necessário um aumento de 70% de alimentos de forma a garantir as necessidades da crescente população. Apesar de se verificarem ligeiras diminuições no consumo em alguns países desenvolvidos, a nível global, o consumo de carne está a aumentar. Um relatório das Nações Unidas refere que, em 2020, entre 720 e 811 milhões de pessoas no mundo passaram fome e quase um terço da população mundial não teve acesso a produtos alimentares adequados. Refere, também, que as dificuldades em ter acesso a alimentos nutritivos estão a contribuir para o crescente problema mundial da obesidade. Do ponto de vista ecológico, os cientistas alertam para o risco real do colapso da agricultura tradicional devido às alterações climáticas e à sobreprodução nas próximas 2-3 décadas. Será, portanto, a produção de carne artificial a solução para vários destes problemas, no futuro? O objetivo da produção de carne artificial passa por recriar a estrutura complexa do músculo animal, tendo como ponto de partida um pequeno número de células. É feita uma biópsia de um animal vivo, que será manuseada de forma a libertar as suas células estaminais, que possuem a capacidade não só de proliferar, como também de se diferenciar em diferentes tipos de células, como células musculares e adipócitos. Utilizando um meio 26
de cultura que forneça nutrientes, hormonas e fatores de crescimento, a proliferação celular pode fazer com que a cultura atinja mais de mil milhões de células, que se organizam em miotúbulos, dando origem a um pequeno pedaço de tecido muscular. Através deste processo, será necessário um menor número de animais para que se produzam grandes quantidades de carne. Uma grande preocupação relativamente a estes produtos são as propriedades sensoriais primárias (aparência, aroma, sabor e textura). Os primeiros protótipos de carne artificial parecem imitar a carne tradicional, sendo o primeiro feedback sensorial publicado sobre um destes refere “um sabor a carne agradável” e “uma dentada e uma textura de carne típicas”. Apesar do progresso alcançado, ainda estamos muito longe do tecido muscular “real”, que é composto por fibras organizadas, vasos sanguíneos, nervos, tecido conjuntivo e adipócitos. Não será possível, por enquanto, obter uma variedade de carne artificial que reflita a ampla diversidade de carnes animais ou o tipo de cortes que pode ser feito nas peças, pelo que será algo a estudar no futuro. O primeiro hambúrguer in vitro foi produzido em 2013, após dois anos de desenvolvimento, pela Universidade de Maastricht, nos Países Baixos. Apesar do processo ter custado mais de 300.000 dólares inicialmente, no ano passado, o investigador principal estimava que o mesmo hambúrguer viria a custar cerca de 9 dólares em 2021. No entanto, esta carne artificial ainda não
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está disponível para comercialização, dado não ser exequível neste ponto de vista. É necessário aumentar a escala de produção e reduzir o custo dos meios de cultura para tornar este processo economicamente viável. No entanto, o aumento da procura e das vendas de produtos substitutos da carne que se tem vindo a verificar nos últimos anos, devido à crescente popularidade do veganismo e a uma maior consciencialização ambiental, poderá abrir muitas futuras oportunidades para a carne artificial. Não há dados publicamente disponíveis quanto ao perfil nutricional da carne artificial. Os investigadores garantem que os aspetos nutricionais podem ser regulados, ajustando as formulações dos meios de cultura e implementando outras modificações no processo, incluindo genéticas. A incorporação de certos micronutrientes específicos dos produtos de origem animal, como vitamina B12 e ferro, carece de mais investigação. A sustentabilidade ambiental é um tema que gera alguma incerteza. Um dos dados a favor da carne artificial é a menor pegada ecológica, uma vez que o metano produzido por bovinos é um gás efeito-de-estufa mais potente que o dióxido de carbono. No entanto, há estudos que argumentam contra este efeito positivo a longo prazo, dado que o metano permanece na atmosfera durante menos tempo que o dióxido de carbono, o qual seria emitido com a produção de carne artificial. Desta forma as emissões serão maiores na produção de carne in vitro à mesma escala, o que coloca em dúvida as expectativas iniciais de menor
pegada ecológica. As mesmas dúvidas são colocadas quanto a possíveis contaminações de reservatórios de água e falta de estrume por eventual redução na criação de gado. Sobre a segurança destes produtos, os defensores da carne in vitro afirmam que esta é mais segura que a carne convencional, tendo em conta que é produzida num ambiente totalmente controlado, sem qualquer contacto com outros organismos, nomeadamente, bactérias como E. coli, Salmonella ou Campylobacter, responsáveis, todos os anos, por milhões de casos de infeções. Deste modo, seria possível reduzir o recurso a antibióticos usados na produção de carne, visto que há uma maior monitorização da produção da carne artificial. A possibilidade de criar carne em laboratório sem necessitar de abater um animal é uma ideia problemática em vários aspetos da sociedade, entre eles legislativos e religiosos. Apesar da procura crescente por alternativas amigas do ambiente, existe ainda muita especulação sobre o potencial da carne artificial. No entanto, este é inegável, e apenas o tempo permitirá comprovar se este será cumprido ou não.
Bibliografia 1. Chriki S, Hocquette JF. The Myth of Cultured Meat: A Review. Front Nutr. 2020;7(February):1–9 2. Lifestyle F, Intelligence A, Future MB, The F, Futurist M. Forecast Lifestyle medicine Artificial Intelligence in Medicine Biotechnology Future of Food The Medical Futurist | 9 min | 19 August 2021. 2021;(August):1–6 3. Rubio NR, Xiang N, Kaplan DL. Plant-based and cell-based approaches to meat production. Nat Commun [Internet]. 2020;11(1):1–11. Available from: http://dx.doi.org/10.1038/s41467-020-20061-y
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O RETROCESSO DO FUTURO OU A INOVAÇÃO DO PASSADO? Texto de Rita Claro
Podes não ser uma Dancing Queen, mas certamente que a reconheces apenas com as primeiras batidas. São os anos 70 e as noites são dominadas por calças à boca de sino, cores fortes, muito brilho e YMCA gesticulado. Todos ABBAnam o capacete. Que música está a tocar? Se és fã dos ABBA já deves ter adivinhado sem pestanejar. Passados 40 anos, os fãs vão poder ouvir Dancing Queen e muitos outros títulos ao vivo! É verdade, os ABBA voltam aos palcos londrinos e todo o mundo estremeceu com tal notícia. Mas a realidade é que não vão estar presentes os membros da banda, mas sim os seus abbatars de 1979. A tecnologia de motion capture deu forma às figuras digitais, o que permite o regresso ao auge das suas carreiras, dando oportunidade a muitos espetadores, por um lado, de reviver momentos acarinhados e, por outro, de viver pela primeira vez um sonho que se julgava perdido. Parece mentira, não parece? A evolução da tecnologia traz consigo inovação no campo cultural, novidades transcendentes e soluções para problemas logísticos. Mas não só! É evidente que traz benefícios para os 28
consumidores desta arte: como os abbatars conseguem atuar 5 vezes ou mais por semana, os preços dos bilhetes tornam-se mais acessíveis e a entrada numa máquina do tempo torna-se possível. A ressuscitação de lendas musicais (e não só) deixa de ser uma mera esperança. Assim se conseguem criar performances perfeitas, de extrema qualidade, protagonizadas tanto por artistas vivos, como por quem já não habita o nosso mundo, mas não sai das nossas memórias. Contudo, existirão apenas vantagens? Não será o consentimento do artista falecido uma questão importante a não ser ignorada? Os espetáculos não irão perder a sua autenticidade e espontaneidade, assim como a interação personalizada com os diversos públicos? Não irão os mais pequenos perder a emoção da perspetiva do encontro com os famosos artistas? Não será perdida alguma da sua magia? Mas, independentemente do que for respondido a todas estas questões, If you see the wonder of a fairy tale, you can take the future even if you fail.
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“NORMAL PEOPLE” REVIEW Texto de Rodrigo Martins
Imagem: IMDb - https://www.imdb.com/title/tt9059760/
Uma história de amor contemporânea que relata a paixão e brutalidade de como duas pessoas podem mudar subitamente a vida uma da outra, marcada pela intensidade e fragilidade de Marianne (Daisy Edgar-Jones) e pela inteligência, simpatia e charme de Connel (Paul Mescal). A série de drama “Normal People”, narra a história de duas personagens de forma empática e minuciosa, para que estas, através de vários términos e recomeços, possam descobrir quem verdadeiramente são.
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EXPLORAÇÃO DO BURNOUT NOS ALUNOS DE MEDICINA DA FCS-UBI DURANTE A PANDEMIA POR COVID-19: CASO ESPECÍFICO DO 3º ANO 2020/2021 Texto de Lúcia Heitor
A
síndrome do burnout é definida na ICD-11 como o resultado de stress laboral crónico que não foi devidamente gerido. Esta apresenta 3 dimensões: sensação de exaustão, despersonalização, negativismo ou cinismo para com o trabalho realizado, e incapacidade de alcançar os objetivos pretendidos. Esta não é uma realidade nova para os alunos de Medicina de todo o país, tal como já foi demonstrado pelo estudo realizado pela Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), “Burnout Buddy: Conhecimento dos Estudantes de Medicina acerca do Síndrome de Burnout e das ferramentas de apoio psicológico disponível nas diferentes Escolas Médicas”. Este demonstrou a falta de conhecimento que existe quanto à temática, o quão relevante os estudantes a consideram e as barreiras existentes, quer sociais quer institucionais, para a procura de ajuda. Como já é conhecido por todos, a pandemia atual veio aumentar este problema, através de toda a instabilidade social provocada desde o seu início em 2020. O estado de emergência, 30
adaptação aos meios digitais e completa alteração dos paradigmas de trabalho causaram tanto o aparecimento como o agravamento de perturbações mentais, entre elas a ansiedade. A Faculdade de Ciências da Saúde (FCS) da Universidade da Beira Interior (UBI) não foi exceção à regra. Assim que a pandemia foi declarada, a FCS rapidamente adotou as medidas necessárias para uma resposta adequada à situação. O que era possível passar para o meio online fez esta transição, e as atividades em meio clínico foram adaptadas, umas mais bem-sucedidas que outras. O objetivo deste artigo é de conhecer a realidade dos alunos de Medicina da FCS quanto à sua perceção da síndrome do burnout, durante a pandemia de COVID-19, tentando determinar como foi a sua experiência, grau de satisfação com a FCS e perspetivas futuras. Os alunos do 3º ano do Mestrado Integrado em Medicina da FCS, no ano letivo 2020/2021, foram a amostra escolhida para a elaboração do presente artigo. O 3º ano de Medicina é tido em conta como um dos anos mais exigentes, sendo também o último ano de ensino pré-
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clínico. Por estas razões, este conjunto de estudantes foi considerado como o mais apropriado para a realização desta sondagem. A obtenção de dados foi realizada através da criação de um formulário, constituído por 6 questões abertas (Tabela 1) e um espaço para dar aos inquiridos a possibilidade de acrescentar qualquer informação que fosse considerada pertinente e que não tivesse sido abordada nas questões. O mesmo formulário foi partilhado com os alunos através do seu grupo próprio de Facebook. A realização deste estudo não foi alvo de apreciação pela comissão de ética da FCS ou outra entidade competente. Além dos participantes estarem informados quanto a este último facto, as respostas recolhidas foram obtidas de forma anónima, não tendo sido requerida qualquer informação confidencial que permitisse a identificação dos inquiridos. Dos cerca de 160 alunos inscritos no 3º ano de 2020/2021, foram obtidas 22 respostas ao formulário. Estas foram obtidas entre os dias 26 de maio e 21 de junho de 2021. Devido à natureza das respostas pretendidas, algumas destas não transmitem uma informação que
possa ser quantificável ou categorizada, sendo que as mesmas não foram contabilizadas para efeitos estatísticos (Gráfico 1 e Tabela 1). A primeira questão pretendia perceber se os alunos consideravam estar “em burnout” e caracterizar o que sentiam. Das respostas inequívocas, 60% dos alunos consideraram apresentar a síndrome. Este tipo de autoavaliações não deve ser tomado como correto, pois, tal como o estudo “Burnout Buddy” demonstrou, a maioria dos alunos não identificava corretamente os sintomas cardinais da síndrome de burnout. Focando especificamente nos resultados neste parâmetro, apenas 13,8% reconheceram corretamente os sintomas. Por outro lado, independentemente da autoavaliação de cada um, 64% dos alunos mencionaram sentirem-se cansados, tendo ainda mencionado/sugerido sentimentos de negativismo (18%), receio de não atingirem os seus objetivos (18%), problemas de distração (14%) e desmotivação (18%). A segunda questão referiu-se ao ano letivo que decorria na altura da aplicação do formulário. Das respostas inequívocas, 60% 31
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diferenças positivas, todos estes consideraram que tiveram mais tempo para estudar, mas apenas 66% destes estavam minimamente satisfeitos com o seu desempenho académico. Por fim, a última questão pretendeu conhecer o nível de motivação dos alunos para o futuro e se já teriam, em algum ponto, ponderado desistir do curso. 55% dos alunos confirmaram ter pensado desistir anteriormente, tendo sido um pensamento recorrente para 58%. Por outro lado, 56% dos alunos sente-se motivado para o futuro e 60% destes pensou em desistir. A partir das respostas obtidas é possível verificar uma sensação de fadiga nos estudantes, mas com otimismo para o futuro. A vontade de ser médico e/ou de poder ajudar pessoas no futuro permanece a força motriz de muitos alunos. Apesar disto, foram levantadas preocupações pelos alunos; em 88% aqueles que as expressaram, estas eram razões associadas à vontade de desistir. Passarei a enumerá-las: a sensação de que não serão bons profissionais, de estarem mal preparados, a pressão da carga laboral e a fraca valorização pela FCS. Os alunos demonstram um grande descontentamento para com a organização do 3º ano e para com os professores. O facto de mais de um quarto dos alunos que responderam ao formulário acreditarem que os professores pioraram a sua situação letiva é alarmante e deveria ser algo a refletir por parte dos mesmos. O cansaço relatado aparenta ser devido a falhas de organização e insatisfação para com o método aplicado às aulas, mais do que por falta de interesse dos alunos. Devido à falta de confirmação do real conhecimento de cada um dos alunos inquiridos relativamente à síndrome de burnout, é difícil
Tabela 1 - Questões colocadas no formulário enviado aos alunos e quantidade que foi utilizada como dado estatístico (considerada como inequívoca).
dos alunos afirmou que este tinha corrido bem apesar das dificuldades percecionadas. Por outro lado, 69% considerou que o ano letivo foi diferente das suas expectativas. A terceira questão pediu a opinião dos alunos quanto ao seu desempenho académico: 55% mostravam-se, pelo menos, minimamente satisfeitos com a sua prestação, enquanto os restantes 45% não partilhavam da mesma opinião. A quarta questão requeria a opinião dos estudantes acerca do apoio percecionado por parte dos professores. A grande maioria dos alunos, 86%, não se sentiu apoiado pelos professores; todos aqueles nos quais a resposta dada foi considerada como afirmativa expressaram que “alguns professores ajudavam e outros não”. Esta percentagem denota um grande descontentamento com a atitude da maioria dos professores, com 36% a afirmar que estes aparentavam piorar a situação dos alunos. A quinta questão procurou entender a opinião dos alunos relativamente à influência da pandemia nas diferenças experienciadas. Das respostas inequívocas, 89% considerou que a situação pandémica contribuiu para as diferenças sentidas, nas quais 64% foram mudanças negativas. As principais queixas apresentadas foram a desorganização das atividades letivas (42%) e conversão de atividades presenciais em online (32%). Para os alunos que referiram 32
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determinar se a percentagem obtida é realista. Apesar de tudo, permite compreender o grau de cansaço e descontentamento dos mesmos para com a FCS e o seu próprio desempenho. Este artigo encontra-se aquém de um estudo formal acerca da temática-alvo, mas permite dar a conhecer a realidade dos alunos do 3º ano de 2020/2021 e chamar à atenção para a necessidade de ouvir as queixas dos alunos de forma a melhorar o seu ensino. A vontade de ser mais e melhor é aparente, no entanto não parece ser cultivada. É imperativo continuar com estudos científicos sobre a prevalência desta síndrome no corpo estudantil em geral, não só do curso de Medicina, e alertar para situações que requerem soluções urgentes. Da mesma forma se apela para a participação de todos os alunos em estudos a decorrer e em futuros, em especial naqueles inseridos na realização de dissertações. É a partir deste tipo de iniciativas que se poderá ambicionar por um futuro melhor para todos os alunos na Educação Superior.
3. Associação Nacional de Estudantes de Medicina. Burnout Buddy: Conhecimento dos Estudantes de Medicina acerca do Síndrome de Burnout e das ferramentas de apoio psicológico disponível nas diferentes Escolas Médicas. 2021. 4. https://icd.who.int/browse11/l-m/en#/http://id.who.int/ icd/entity/129180281 5.https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/ amp/article/view/13877/5925
Bibliografia 1. WHO. ICD-11 for Mortality and Morbidity Statistics [Internet]. 2021. Available from: https://icd.who.int/browse11/l-m/en#/http://id.who.int/icd/entity/129180281 2. Afonso P. O Impacto da Pandemia COVID-19 na Saúde Mental. Acta Med Port [Internet]. 2020 May 4;33(5):356. Available from: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/13877
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ESTAR SÓ Solidão. Um sentimento peculiar e difícil de descrever. No livro “O ano da morte de Ricardo Reis”, José Saramago cogita de uma forma exímia, como já é habitual na sua escrita, que “A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz”. De facto, essa distância aumentou drasticamente durante o período de isolamento, um período no qual, todos nós, à sua maneira, nos sentimos algo sós. Privados dos encontros cara a cara, não tardamos em perceber a falta que nos fazia o contacto com outras pessoas. Arranjaram-se alternativas multiplicaram-se as videochamadas e as reuniões online -, mas continuávamos incompletos e necessitávamos dessa convivência, pois parte da nossa essência como seres empáticos foi-nos retirada. Sentíamo-nos sós e estávamos impedidos de ultrapassar essa solidão. Pergunto-me quantas pessoas se passaram a sentir permanentemente sós. Quantas pessoas que, como todos nós, estavam privadas de contactos, mas não possuíam alternativas para acalmar essa insatisfação e preencher esse vazio... Após a fase aguda da pandemia, a banda “Os Quatro e Meia” lança uma nova música intitulada “Olá, Solidão”, alertando-nos que ninguém deve ficar para trás e que devemos cuidar uns dos outros. Durante este período fomos capazes de perceber o quão ligados estamos e como a vida é melhor quando partilhada. Fez-nos perceber que talvez possamos tornar a nossa existência, por vezes egoísta e egocêntrica, numa partilha de momentos e vivências, pois, no fundo, a essência basal de viver está nos seres humanos. Um sorriso, um bom dia, um abraço, uma presença podem apaziguar o vazio de quem se sente só. Que não fiquemos indiferentes perante a solidão de alguém. Maria Beatriz Carvalho 34
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NUMA VIAGEM... PELA MEDICINA Texto de Gabriela Fernandes da Silva Nunes Estudante do 3º ano de Medicina, FCS-UBI Para os estudantes de medicina (e não só) que gostam do quentinho da lareira de casa ou dos serões vespertinos em família, o Domingo é, por norma, um dia bastante chato. Para não dizer deprimente. O caminho de casa até à Estação de Camionagem é um processo que tende para o doloroso e a mente alheada divaga por pensamentos nostálgicos, especialmente se o Domingo for cinzento e chuvoso. Enquanto nos dirigimos até ao cais do autocarro, o Pai trazendo a mala a abarrotar de roupa e comida e a Mãe entalada da comoção da septuagésima terceira viagem de autocarro, seguro o riso ao perceber que os pais de dezenas de jovens passam pelo mesmo processo: a Mãe segue à frente em passo apressado e o Pai atrás, carregando a sua sina: a mala de viagem. Quando entro no autocarro (ou camioneta como a minha Avó costuma dizer contra a minha vontade), encaminho-me para o lugar de sempre da janela do lado esquerdo, isto se tiver sorte e se este já não estiver ocupado por um infeliz que não conseguiu arranjar assento e que, por isso, finge não saber a distribuição dos lugares. Apesar de praticar artes marciais, opto pelo caminho da não violência. Sorte a dele. Estamos a meio da viagem e eu já aprendi a receita de Brigadeiros de Oreo da minha vizinha da frente que tinha o nível de luminosidade do ecrã do telemóvel demasiado elevado para as dezoito horas. Entretanto, também apontei mentalmente a probabilidade do nosso motorista levantar a mão para
cumprimentar o seu colega de profissão no autocarro do outro lado da faixa de rodagem. É de 100%. Parece haver uma espécie de irmandade oculta entre os motoristas de autocarros e eu acho isso legítimo. E estranho também. Rezando intimamente para que a viagem acabe rápido e que eu chegue à Covilhã sã e salva, dou por mim a pensar que ligar à prima afastada que vive na França e estar ao telemóvel durante 2 horas deveria ser proibido. Bem, talvez não chegue sã. E eis que finalmente se avista a Cidade Neve e o meu telemóvel é inundado por uma série de notificações, em jejum de cerca de meia hora por ter estado sem rede. Estudar na biblioteca, almoçar na hamburgueria ou dar uma corridinha na pista são alguns dos exemplos que me fazem esboçar um sorriso bobo e me fazem pensar: Nós temo-nos uns aos outros e isso é bom. É impagável na verdade.
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GUIA DE SOBREVIVÊNCIA DIAGNÓSTICO - DEZEMBRO 2021
Texto de Melissa Amarante e Sara Gomes
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1º ANO
2º ANO
- O tempo passa rápido! Aproveita tudo aquilo que quiseres, acredita que consegues conjugar o estudo com o resto muito mais do que imaginas! - Se entraste na faculdade a pensar que ias logo estudar não, a UP0 não conta! - Se o teu intervalo só for de 10 min, não peças uma tosta mista, não vai chegar a tempo. - Primeiro Pem correu mal? Não desesperes, consegues sempre compensar com o próximo.
- Não chegar atrasado às aulas do Cavaco (de preferência chegar bem antes do tempo). - Depois da dose de imuno e cardio, tudo fica bem melhor!
3º ANO
4º ANO
- Não fiques em pânico se não conseguires estudar a matéria toda para os PEMS de patologia, quase ninguém consegue! - A parte boa do Robbins é que não voltas a olhar para ele até ao fim do curso - O 3º ano é um bocadinho melhor do que o que é pintado. Respira, vai correr tudo bem!
- Achavas que já tinhas tido dose de Preventiva suficiente até agora? Bem, prepara-te então. - Não, o 4º ano não é mais fácil que o 3º… mas é mais fixe! - Se te vires perdido, pergunta aos colegas dos anos anteriores dicas para estudar cada especialidade (e partilhem um documento com o ano)!
5º ANO
6º ANO
- Se achas que no 5º ano tens estágio, volta para o 4ºano . - Não entres em parafuso se ainda não te sentires quase médico, é normal! - No 5º ano também se estuda, caso te tenham dito o contrário!
- Estabelece bem as tuas prioridades, todo o tempo é precioso! - Arranja tempo para ti fora do estudo para fazeres coisas que te fazem feliz, também mereces ter vida para além da medicina! - Acredita em ti, já chegaste até aqui, agora só falta um danoninho até ao fim!
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SABIAS QUE…? Recolha de David Raimundo Novo antibiótico descoberto por… Inteligência Artificial
A melhor hora para adormecer Um estudo de grandes dimensões publicado no European Heart Journal – Digital Health sugere uma hora ideal para adormecer, tendo em conta os riscos para a saúde cardiovascular: entre as 22h e as 23h. Segundo os resultados do estudo, que analisou dados do UK Biobank de cerca de 88 mil participantes, horas de deitar fora do intervalo mencionado podem estar associadas a uma maior probabilidade de interferir com os ciclos circadianos e, assim, trazer consequências negativas para a saúde cardiovascular. O pior horário para adormecer, segundo esta investigação, é a partir da meia-noite.
Foi descoberta uma substância com potencial antibiótico muito promissora que poderá, no futuro, ajudar no tratamento de infeções por micro-organismos multirresistentes. Uma equipa de investigadores do MIT usou um algoritmo de Inteligência Artificial que analisou mais de 100 milhões de compostos químicos de uma base de dados e identificou alguns com ação bactericida. A substância identificada, que é estruturalmente muito diferente dos antibióticos que conhecemos, foi chamada halicina, uma referência ao sistema de IA Hal do filme 2001: Odisseia no Espaço. Em estudos com animais, a halicina mostrou-se extremamente eficaz contra bactérias como Mycobacterium tuberculosis, membros da família Enterobacteriaceae resistentes a carbapenemos, Clostridioides difficile, entre outras.
Para os mais curiosos, aqui ficam dois artigos sobre os temas deste Sabias Que: Stokes JM, Yang K, Swanson K, Jin W, Cubillos-Ruiz A, Donghia NM, et al. A Deep Learning Approach to Antibiotic Discovery. Cell [Internet]. 2020 Feb 20 [cited 2021 Nov 17];180(4):688-702.e13. Available from: http://www. cell.com/article/S0092867420301021/fulltext Nikbakhtian S, Reed AB, Obika BD, Morelli D, Cunningham AC, Aral M, et al. Accelerometer-derived sleep onset timing and cardiovascular disease incidence: a UK Biobank cohort study. Eur Hear J - Digit Heal [Internet]. 2021 Nov 9 [cited 2021 Nov 17]; Available from: https://academic.oup.com/ehjdh/advance-article/doi/10.1093/ehjdh/ ztab088/6423198
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Realizado por David Raimundo
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CASOS CLÍNICOS
A. Administrar 3L de soro NaCl 0.9% e reavaliar o doente. B. Internar na UCI para monitorização e observação. C. Inserir um dreno torácico e internar o doente. D. Requisitar uma radiografia do tórax. E. Programar uma cintigrafia de ventilação-perfusão.
2. Um lactente de 1 mês é trazido ao SU por vómitos não biliares, em jato, progressivamente mais frequentes, com 3 dias de evolução. Os pais dizem que “necessitou de menos fraldas nos últimos 2 dias”. À observação, o lactente encontra-se reativo, com boa vitalidade e não tem recusa alimentar. O exame objetivo revela uma fontanela anterior ligeiramente deprimida à palpação. Depois da mamada, é visível uma onda peristáltica no epigastro. Qual o diagnóstico mais provável? A) Meningite viral. B) Infeção urinária. C) Refluxo gastroesofágico. D) Gastroenterite viral. E) Estenose hipertrófica do piloro. 3. Um homem de 32 anos é referenciado a consulta de Cirurgia Geral por coloração amarelada das escleróticas e presença de “urina escura”. Quando questionado, refere não ter estudo analítico recente. Qual a causa mais provável deste quadro? (A) Coledocolitíase. (B) Terapêutica com ribavirina. (C) Hemólise. (D) Síndrome de Gilbert. (E) Síndrome de Crigler-Najjar tipo 2.
Soluções: 1 - C; 2 - E; 3 - A
1. Um homem de 70 anos de idade é trazido ao SU por dor de aparecimento súbito no hemitórax direito e dispneia. Os sinais vitais são: temperatura 37ºC, frequência cardíaca 130 bpm e pressão arterial 90/75 mmHg. O exame objetivo revela uma respiração superficial, desvio da traqueia para a esquerda e diminuição do MV nos campos pulmonares direitos. Qual o passo seguinte mais adequado?
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MEMES
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Memes de José Miguel Freire
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CARTOON
Ilustração de Melissa Amarante 41
Com apoio de: