XIV Edição | Revista Diagnóstico

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Edição XIV

Junho 2021

Revista MedUBI

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA MEDICINA Pelo olhar da Ciência e da Ética

CIENTÍFICO CARREIRAS PARALELAS: MEDICINA E INVESTIGAÇÃO Entrevista ao Prof. Dr. Manuel Lemos

ESPECIAL COLABORAR COM A ANEM: PORQUE NÃO? Entrevista a José Ganicho, aluno do sexto ano da FCS-UBI

CULTURAL SOCIAL MEDIA E MEDICINA Entrevista à médica e influencer Nádia Sepúlveda


COORDENADORA GERAL Marta Soares COORDENADORA CIENTÍFICA Lúcia Heitor COORDENADORA CULTURAL Rita Claro COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO E PATROCÍNIOS Melissa Amarante COORDENADORA DE IMAGEM Inês Roseta COLABORADORES David Raimundo Francisca Silva João Pereira Maria Beatriz Carvalho Rodrigo Martins Sara Gomes DESIGN E PAGINAÇÃO Inês Roseta com colaboração de Filipa Almeida (ex-aluna de Design Multimédia, UBI)

PROJETO

MORADA Avenida Infante D. Henrique, 6200-506 Covilhã, Portugal TELEFONE (+351) 275 329 098 E-MAIL geral@medubi.pt


Edição XIV

Junho 2021

04 CEMCA: O espaço mais próximo dos médicos portugueses 08 Uma vacina promissora na luta contra a malária 22 Scratch that out of your life! - Aumento do uso de raspadinhas e apostas online na

10 Carreiras paralelas: Medicina e

pandemia Covid-19

Investigação

24 Uso medicinal de canábis em Portugal

14 Inteligência

28 Aparência Médica: Liberdade de

artificial na

expressão permitida ou limitada

medicina...

30 Crónica: Procrastinação de Verão

Que reserva o

32 Livros que nos enriquecem

futuro?

34 Sustentabilidade 36 Uma receita conxiente... Granola 38 Projetos locais de voluntariado 40 Andromeda 41 Casos Clínicos 42 Sabias Que…? 43 Cartoon

18 Colaborar com a

26 Social Media e

ANEM: Porque não?

Medicina


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CEMCA: O ESPAÇO MAIS PRÓXIMO DOS MÉDICOS PORTUGUESES Entrevista de Lúcia Heitor

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medicina aeroespacial é a área que se encarrega de estudar as consequências das condições no ambiente espacial no corpo humano, como evitá-las e como preservar a saúde dos astronautas em missão. Devido ao objetivo da NASA de enviar os primeiros seres humanos a Marte em 2030, e com o potencial estabelecimento e crescimento do turismo espacial, esta área tem sido foco de grande desenvolvimento. Os tópicos de investigação vão desde a preservação da fisiologia corporal num ambiente de gravidade zero, proteção contra radiação ionizante, até às formas de prestar cuidados de saúde durante as missões espaciais de longa duração.

Tens interesse nesta área mas não sabes o que fazer a seguir? Gostavas de ter mais informações? Neste artigo apresentamos o Clube de Estudantes de Medicina e Ciências da Vida Aeroespacial (CEMCA), um grupo de estudantes de medicina e das ciências da vida que se dedica à promoção e divulgação da medicina aeroespacial, e que auxilia projetos de investigação nesta área. Fizemos-lhes algumas perguntas para que os possas conhecer melhor!

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Como surgiu este clube? Contem-nos a vossa história! O Clube de Estudantes de Medicina e Ciências da Vida Aeroespacial (CEMCA) foi fundado em 2020, após os nossos fundadores terem realizado uma formação na Agência Espacial Europeia (ESA) e lhes surgiu a ideia da criação de um clube que reunisse os estudantes das diferentes áreas da Ciências da Vida inscritos numa instituição de ensino superior portuguesa que possuíssem o mesmo interesse pelo Espaço. Têm parcerias ou contacto com associações espaciais? Se não, que tipo de relação com estas pretendem ter no futuro? De momento, temos uma parceria com a InnovaSpace, com a qual organizamos múltiplos webinars denominados “Sábados no Espaço”. Entretanto, já procedemos ao contacto com outras associações, nomeadamente com a Portugal Space com quem gostaríamos de criar uma parceria, mas a situação pandémica veio dificultar o contacto e a realização de eventos.

Que atividades vossas podemos esperar? O que têm a oferecer para convencer os possíveis interessados mais tímidos? Ultimamente, temos vindo a organizar diferentes webinars, e temos o intuito de iniciar ainda diferentes tertúlias sobre temas como o Biomimetismo. Organizamos também eventos em conjunto com Associações de Estudantes e auxiliamos estudantes que tenham interesse em iniciar uma investigação nesta área, desde a constituição de um grupo de trabalho até ao contacto com um tutor. Para os demais interessados, poderão sempre participar num dos nossos eventos e inscreverem-se como Membros Ativos (livre de qualquer custo, usufruindo de descontos e prioridade na inscrição em atividades dos nossos Parceiros). Estes terão também a oportunidade de aderirem ao nosso grupo do Slack onde poderão partilhar as suas experiências, questões, conhecer outros Membros e aprender ainda mais sobre o Espaço.

“ S á b a d o s n o E s paço ” co m a pa r c e r i a da I n n ova S pac e 5


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Tendo em conta a grandeza de toda a área relacionada com o Espaço, qual consideram ser o (futuro) contributo dos jovens médicos portugueses para esta área? Os jovens médicos portugueses podem contribuir tanto ao nível da investigação como ao nível da avaliação física de futuros astronautas, como a título de exemplo está o Dr. Pedro Caetano a auxiliar na Call dos novos astronautas da ESA. Esta área está a crescer em Portugal e espera-se que ainda este ano venha a ser inaugurado o primeiro Centro de Estudos de Medicina Aeroespacial (CEMA) numa faculdade portuguesa, neste caso na FMUL. O CEMCA tem já constituído um grupo de investigação de estudantes de diferentes faculdades convidados para trabalhar neste centro. Qual pensam que será o futuro do médico na área espacial? Chegarão a ir ao Espaço ou continuará a ser mais de testes e estudos na Terra? Atualmente, os médicos nesta área atuam maioritariamente em Terra através da telemedicina, esta que se tornou importante com o despoletar da Pandemia. A presença de um médico será necessária no Espaço num futuro próximo e, quem sabe, se tal não será já nesta Call da ESA.

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UMA VACINA PROMISSORA NA LUTA CONTRA A MALÁRIA Texto de David Raimundo

Os resultados preliminares dos ensaios clínicos de uma nova vacina contra a malária estão a ser considerados por muitos cientistas um passo determinante para o controlo e, quiçá, a erradicação desta doença. 8


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o passado mês de abril, foram divulgados os resultados dos primeiros ensaios clínicos de uma potencial vacina contra a malária. São de tal modo animadores que os investigadores acreditam que tornam mais real a possibilidade de, um dia, controlar ou mesmo erradicar a doença, que é responsável por cerca de 400 mil mortes por ano, principalmente, crianças. A vacina, denominada R21 e desenvolvida pelo Instituto Jenner da Universidade de Oxford, mostrou uma eficácia de até 77% num ensaio com 450 crianças, entre os 5 e os 17 meses, em Burkina Faso, que decorreu ao longo de um ano. A R21 é uma forma modificada de uma outra vacina, a Mosquirix, desenvolvida pela farmacêutica GlaxoSmithKline e que já foi estudada e testada em ensaios no Malawi, Quénia e Gana, tendo sido registados valores de eficácia de 56% ao fim de um ano e de 36% ao fim de quatro anos. Por isso, se os ensaios clínicos mais alargados já em curso confirmarem os valores de eficácia da vacina da Oxford, esta será a primeira vacina contra a malária a atingir o valor mínimo de 75% de eficácia estabelecido pela Organização Mundial da Saúde. Ambas as vacinas mencionadas contêm uma proteína secretada pelo parasita que causa a malária (Plasmodium spp.) quando este se encontra na fase de esporozoíto, a forma com que entra no organismo dos seres humanos, através da picada de mosquitos hospedeiros. Com as vacinas, pretende-se estimular uma resposta imunitária com formação de anticorpos direcionados a essa proteína, que, na vacina R21, está presente em maior concentração.

A criação de uma vacina eficaz contra a malária tem sido um processo lento e árduo, se comparado, por exemplo, com o desenvolvimento da vacina contra a COVID-19. Parte do problema prende-se com a falta de investimento na prevenção de uma doença que afeta, predominantemente, países de baixo e médio rendimento. Outra questão a ter em conta é a natureza do próprio parasita, que tem um ciclo de vida complexo e, ao longo dos anos, tem vindo a sofrer mutações em proteínas-chave, o que gera novas estirpes e dificulta o trabalho dos cientistas. Os investigadores do Instituto Jenner, que foi também responsável pelo desenvolvimento da vacina contra a COVID-19 da Oxford/ AstraZeneca, acreditam que a R21 tem o potencial de diminuir, drasticamente, a mortalidade associada a esta doença, podendo vir a reduzir as cerca de 400 mil mortes registadas anualmente para valores na ordem das dezenas de milhar, nos próximos 5 anos. O Instituto equaciona a hipótese de submeter a nova vacina a um processo de aprovação de emergência, tal como fez com a vacina contra a COVID-19, uma vez que a malária mata muito mais pessoas, em África, que o vírus SARS-CoV-2.

Referências Bibliográficas: Candidata a vacina contra a malária mostra eficácia de 77% | Vacinas | PÚBLICO [Internet]. [cited 2021 May 23]. Available from: https://www.publico.pt/2021/04/23/ ciencia/noticia/potencial-nova-vacina-malaria-mostrase-promissora-ensaios-burkina-faso-1959854 Oxford malaria vaccine proves highly effective in Burkina Faso trial | Malaria | The Guardian [Internet]. [cited

2021 May 23]. Available from: https://www.theguardian. com/world/2021/apr/23/oxford-malaria-vaccine-proves-highly-effective-in-burkina-faso-trial?fbclid=IwAR3jum5GNnieD6a_sq7OhNiOxAXTHNPsabLbnZdscw_ sCNaBfU7HGEj2dVQ Malaria vaccine shows promise — now come tougher trials [Internet]. [cited 2021 May 23]. Available from: https://www.nature.com/articles/d41586-021-01096-7

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CARREIRAS PARALELAS MEDICINA E INVESTIGAÇÃO Entrevista de Sara Gomes Entrevista ao Dr. Manuel Lemos, médico especialista em endocrinologia, investigador na área das causas genéticas das doenças endócrinas e professor de endocrinologia na Faculdade de ciências da saúde - ubi

“Caro Dr. Manuel Lemos, agradecemos desde já a sua disponibilidade para responder às nossas questões e contribuir, desta forma, para a edição da Revista Diagnóstico que vai ao encontro dos temas mais apreciados pelos estudantes de Medicina.” Como foi o seu percurso profissional até ao momento? Antes de mais, queria agradecer o convite e dizer que é sempre um prazer para mim partilhar a minha experiência com os estudantes. Eu comecei a minha formação académica na Universidade de Coimbra. Foi lá que fiz a minha licenciatura em Medicina. Nessa altura não havia mestrado integrado, o curso era de 6 anos e quem queria fazer mestrado, tinha de o fazer depois. Fiz o meu internato de especialidade em Endocrinologia nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Foi um período de formação intenso, sobretudo porque me envolvi em múltiplos projetos de investigação, tendo realizado em paralelo um mestrado em Biologia Celular. Para além da formação clínica, no final do internato já tinha acumulado bastante experiência de investigação e publicado vários trabalhos em revistas científicas internacionais. Depois de concluída a minha especialidade em Endocrinologia em Coimbra, decidi aprofundar a minha formação fazendo um doutoramento. Optei por concorrer à Universidade de Oxford porque havia um grupo de investigação em endocrinologia molecular que trabalhava em áreas que me interessavam. 10


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Não foi difícil ser aceite, uma vez que já tinha experiência de investigação e isto foi muito valorizado pela instituição. Candidatei-me com sucesso a uma bolsa da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), o que me assegurou o financiamento necessário, e parti para Oxford. Foram anos muito interessantes em que pude desenvolver investigação de ponta e aprender com investigadores mundialmente conhecidos na área da Endocrinologia. Foi um período muito exigente, mas eu aprecio a exigência e gosto de testar os limites da minha capacidade, e por isso senti-me muito bem neste papel de estudante de doutoramento e completei com sucesso a minha tese de doutoramento na área da genética dos tumores endócrinos. No final do doutoramento, passei por um período de indecisão, pois havia várias opções, entre continuar em Oxford, voltar para Coimbra, ou procurar outra instituição. Entretanto, tomei conhecimento que havia uma nova faculdade de Medicina no país. Isto despertou-me a atenção, porque tinha um modelo diferente das restantes e pareceu-me livre de alguns vícios de funcionamento que afetavam algumas das faculdades mais antigas do país. Vi nela um grande potencial de crescimento e um local onde provavelmente o meu contributo poderia ser mais significativo. Isto, em combinação com alguns fatores de ordem pessoal e familiar, dado que, entretanto, casara-me e a decisão passou a ser partilhada, levou-me a experimentar a UBI. É caso para dizer que experimentei, gostei e fiquei… Até ver, estou satisfeito e não pretendo sair.

área da genética e fui muito bom aluno na disciplina de Genética Médica no 2º ano do curso. Penso que isso captou a atenção do meu professor de genética na altura, que me convidou para passar algum tempo no laboratório. Aos poucos, fui sendo envolvido em pequenos projetos de investigação nesta área. Tudo isto no pouco tempo disponível que tinha, depois das aulas, estudo, avaliações, etc. Apesar das dificuldades, fui desenvolvendo algum trabalho ao longo do curso e consegui preparar assim as minhas primeiras publicações científicas em revistas internacionais. Tudo isto foi feito, claro, em regime de voluntariado. Assim que acabei o curso, fui contratado como monitor e depois como assistente convidado, da disciplina de Genética Médica. Foi aí que comecei também a dar aulas e descobri que isso era algo que me dava muito prazer. Ao início era uma situação um pouco estranha para mim, porque os alunos eram apenas um pouco mais novos do que eu, mas talvez por isso, o relacionamento era fácil. Desde então, a investigação tem sido parte integrante da minha atividade profissional, a par com o ensino universitário e com a atividade clínica.

Como consegue gerir, na sua vida, os diferentes papéis que tem como médico e investigador, sendo as duas profissões tão trabalhosas e exigentes? Tem razão, são de facto profissões exigentes. Ainda mais quando se adiciona a vertente de ensino. Mas os médicos que optam pela carreira académica, já estão preparados para este desafio. Sabem que têm esta missão tripartida e que terão de Quando é que se comeequilibrar bem as atividades “A investigação ajuda a çou a sentir atraído pela desenvolver a capacidade de médico, investigador Investigação? Era já uma analítica e a estar próximo da e professor. Não é fácil, parte que tinha importângeração de conhecimento, mas quando se gosta do cia para si enquanto estuque pode ser útil na prática que se faz, conseguedante de medicina ou foi clínica e no ensino.” se atingir esse equilíbrio. desenvolvendo ao longo Aliás, penso que cada uma da profissão? destas atividades reforça as restantes. Por Na verdade, comecei muito cedo, ainda um lado, a investigação ajuda a desenvolver enquanto estudante de Medicina. Foi no final a capacidade analítica e a estar próximo da do 2º ano do curso. Sempre gostei muito da 11


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geração de conhecimento, que pode ser útil na prática clínica e no ensino. Por outro lado, a prática clínica permite uma proximidade aos doentes e uma melhor compreensão dos problemas que precisam de ser investigados, e a experiência necessária para que possa ser útil para o ensino médico. Por último, o ensino, particularmente quando envolve alunos motivados e exigentes, obriga a uma atualização constante de conhecimentos por parte do docente, e isso também ajuda a melhorar a sua prática clínica e de investigação. Acha que as escolas médicas deviam incluir componentes investigativas ao longo do curso de medicina? Ou seja, desde cedo suscitar o interesse dos alunos e ambientálos com esta prática? Acho que sim. Esse contacto com a componente de investigação deveria ser incentivado desde cedo. Hoje em dia, já está prevista a possibilidade de a tese de mestrado ser sobre um trabalho de investigação, o que já é um avanço, pois na minha altura isto não existia. De qualquer forma, a maioria dos alunos deixa o trabalho de tese para já perto do final do curso e isso acaba por limitar o que pode fazer em termos de trabalho de investigação. Um contacto mais precoce com as metodologias de investigação poderá ajudar o aluno a perceber se tem realmente vocação para a investigação e a integrar projetos de investigação, que poderão resultar mais tarde na sua tese de mestrado. Mas, independentemente de poder ser útil para a sua tese de mestrado, o treino em investigação será sempre fundamental para as restantes etapas da sua carreira médica. Considera fácil enveredar pela investigação clínica em Portugal? Não é fácil. Sobretudo porque exige disponibilidade de tempo, que não sobra muito, depois de cumprir todas as obrigações associadas à atividade assistencial nas unidades de saúde. A investigação clínica ainda não é suficientemente valorizada pelas unidades de saúde, pelo que estas raramente permitem que o 12

médico desenvolva investigação dentro do seu horário de trabalho. O resultado prático é que muitos médicos acabam por desenvolver a sua atividade de investigação fora do seu horário normal de trabalho, ou abdicam de a fazer por completo. Penso que isto terá que mudar no futuro e as instituições terão que perceber que o apoio às atividades de investigação é também uma forma de melhorar os cuidados de saúde prestados à população. Quais os conselhos mais importantes que pode dar aos estudantes de Medicina que têm também interesse pela investigação? Se o estudante tiver interesse pela investigação, isso já será muito bom. Existe o problema de haver muitos estudantes que nem sequer sabem se gostam de investigação, porque nunca tiveram a oportunidade de contactar com esta possibilidade. Mas, se realmente um estudante achar que tem essa vocação, ou se tem dúvidas e quiser experimentar, pode sempre contactar um professor da sua área de interesse, para ver quais são as possibilidades. Vejam por exemplo as áreas de investigação do CICS na vossa faculdade. Claro que também existem estágios curtos organizados pelas associações de estudantes, e estas modalidades podem ser exploradas. Mas não há mal nenhum em abordar os investigadores diretamente. A capacidade de iniciativa do estudante provavelmente até será valorizada pela maioria dos investigadores. Peçam um período de estágio observacional e depois decidam se querem investir mais tempo. Mas cuidado… a investigação pode criar dependência e, quando derem por isso, estarão a dedicar noites e fins de semana à ciência... Muito obrigada pela participação e pelo seu testemunho!


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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA MEDICINA... Texto de Lúcia Heitor

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ada vez mais argumentos para filmes e livros utilizam a Inteligência Artificial como um vilão abstrato e intocável. Estes cenários futurísticos (e por vezes apocalípticos) escondem o verdadeiro objetivo dos modelos de Inteligência Artificial: melhorar a vida humana (1). Está nas mãos da humanidade desenvolver e utilizar esta tecnologia para fins positivos. Na área da Medicina, a Inteligência Artificial apresenta-se como uma solução ao grande problema que constitui o aumento exponencial de informação e dados clínicos (2), tal como também tem o poder de voltar a humanizar a profissão (1,3). Outras vantagens incluem melhores cuidados de saúde, maior segurança para o doente, redução dos custos e desenvolvimento acelerado de conhecimento médico (2). Apesar das vantagens óbvias, a Inteligência Artificial ainda tem falhas e barreiras a ultrapassar até que seja possível a sua implementação em larga escala. Os algoritmos usados são pouco transparentes no que toca ao processamento dos dados e obtenção do resultado final, altamente dependentes de dados de qualidade e pouco eficientes no tratamento de grandes conjuntos de dados (2). Aos profissionais de saúde é-lhes exigido que aprendam a trabalhar com esta tecnologia (2), que se adaptem a esta mudança extrema e ainda que enfrentem a possibilidade de redução da necessidade dos seus serviços (1). Independentemente de toda a inércia que atrasa a aplicação da Inteligência Artificial nos sistemas de saúde, nada vai impedir que seja o futuro da Medicina. As suas presentes falhas serão corrigidas, estando a ser desenvolvida a automatização dos seus processos para

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que prescindam da intervenção humana (2), tal como aumento da transparência dos seus processos através da resposta a dúvidas do doente (4). Atualmente, a Inteligência Artificial é utilizada em sistemas de auxílio e alerta da terapêutica farmacológica, assim como próteses biónicas e cirurgia robótica (3). No futuro pretendese implementar algoritmos inteligentes ao nível do diagnóstico, prognóstico, gestão dos doentes (2) e, talvez até, no tratamento (1). O cancro da mama é uma das patologias na qual há uma maior intervenção da Inteligência Artificial (1). Já existem algoritmos que auxiliam na deteção destes carcinomas através da análise de mamogramas (1,3). O mesmo começa a ocorrer na área da Anatomia Patológica digital em que estes modelos permitem melhorar a precisão do diagnóstico e definir melhor o prognóstico (1). Outras aplicações investigadas envolvem a localização da lesão para auxílio em cirurgia, apoio na decisão de tratamento por incorporação de todos os dados de exames obtidos, deteção de indivíduos em maior risco, entre várias outras aplicações (1). Outros exemplos, fora da área de Oncologia, de desenvolvimento de algoritmos de apoio incluem algoritmos para o diagnóstico precoce de doentes esquizofrénicos a partir de dados de EEG (5), identificar doentes em sépsis para efetuar um tratamento mais eficaz (6) e auxílio na identificação de sons pulmonares (7). A utilização da Inteligência Artificial é o futuro da Medicina, tanto para o bem como para o mal. O importante é refletir acerca dos riscos éticos, legais e sociais, de forma a definir os seus limites e potencialidades (1). Os médicos devem preparar esta introdução da forma mais harmoniosa possível para que


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esta não afete os seus doentes. É uma grande oportunidade para os médicos voltarem a cultivar a sua humanidade para com os doentes (1), e apostar nas competências que tornam a interação médico-doente insubstituível. Este é o futuro que a Inteligência Artificial oferece à Medicina.

Referências Bibliográficas: 1.. Cardoso MJ, Houssami N, Pozzi G, Séroussi B. Artificial Intelligence (AI) in Breast Cancer Care - Leveraging multidisciplinary skills to improve care. Artif Intell Med [Internet]. 2020 Dec;102000. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/ S0933365720312653 2. Waring J, Lindvall C, Umeton R. Automated machine learning: Review of the state-of-the-art and opportunities for healthcare. Artif Intell Med [Internet]. 2020 Apr;104:101822. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0933365719310437 3. Amisha, Malik P, Pathania M, Rathaur V. Overview of artificial intelligence in medicine. J Fam Med Prim Care [Internet]. 2019;8(7):2328. Available from: http://www.jfmpc.com/text.asp?2019/8/7/2328/263820 4. Ploug T, Holm S. The four dimensions of contestable AI diagnostics - A patient-centric approach to explainable AI. Artif Intell Med [Internet]. 2020

“A utilização da Inteligência Artificial é o futuro da Medicina, tanto para o bem como para o mal. O importante é refletir acerca dos riscos éticos, legais e sociais, de forma a definir os seus limites e potencialidades”

Jul;107:101901. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0933365720301330 5. Jahmunah V, Lih Oh S, Rajinikanth V, Ciaccio EJ, Hao Cheong K, Arunkumar N, et al. Automated detection of schizophrenia using nonlinear signal processing methods. Artif Intell Med [Internet]. 2019 Sep;100:101698. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0933365719303628 6. Lauritsen SM, Kalør ME, Kongsgaard EL, Lauritsen KM, Jørgensen MJ, Lange J, et al. Early detection of sepsis utilizing deep learning on electronic health record event sequences. Artif Intell Med [Internet]. 2020 Apr;104:101820. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0933365719303173 7. Bardou D, Zhang K, Ahmad SM. Lung sounds classification using convolutional neural networks. Artif Intell Med [Internet]. 2018 Jun;88:58–69. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/ S0933365717302051

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... QUE RESERVA O FUTURO? Texto de Sara Gomes

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enso que é indiscutível que a inteligência artificial (IA) veio revolucionar o nosso mundo, a todos os níveis, do qual a Medicina não se exclui. É uma evolução tecnológica capaz de feitos que nos deixam de boca aberta? Sim. É aquilo que o mundo, os médicos e os pacientes precisam? Talvez. Deixarei o leitor decidir por si. Verdade seja dita, é um assunto demasiado complexo e a linha entre os benefícios e os malefícios é demasiado ténue. Já não é uma dúvida se a IA vai, ou não, ser cada vez mais complexa e cada vez mais próxima da inteligência humana. Já é e, cada vez mais será, parte do nosso dia a dia. As derradeiras questões são: saberemos lidar com isso? Saberemos manter o equilíbrio entre a máquina e a pessoa? Mesmo fora do ambiente entre pares, toda a gente sabe que em Medicina é preciso uma coisa: saber, saber, saber. Um médico precisa de saber identificar sinais e sintomas, saber relacioná-los com possíveis diagnósticos e saber também como tratar o doente, consoante o diagnóstico mais provável. É um acumular de conhecimento que, com a prática, se vai tornando mais fácil. Mesmo assim, são várias as vezes, em que há algo que escapa entre as mãos. Visto desta forma, a IA é uma ferramenta maravilhosa, que vem ajudar o médico a que não lhe escape nada sobre aqueles sintomas. É uma companheira, uma “segunda cabeça” pensante. Penso que seja pouco discutível os benefícios que isto traz para o médico. São demasiados. Por outro lado… esta companheira tem um pequeno problema, que se pode tornar grande

se o médico não estiver atento ao doente que tem à sua frente. Ela funciona por algoritmos e, por isso, não consegue ver aquele pequeno pormenor que só o olho da experiência vê. Se um doente vai à consulta com dor abdominal, a nossa companheira não vai reparar naquele sinal na pele que tem um aspeto diferente do suposto… Para além disso, é importante refletirmos na relação médico-doente. Não é só o saber, saber, saber que importa. É também o mostrar empatia, compaixão e humanidade. Isso é o que os doentes mais levam de nós. Quantas não são as vezes que se ouve o “nunca me vou esquecer como aquele doutor me tratou bem e foi atencioso?”. Nestas situações, a nossa companheira pode atuar de duas formas: ocupando a nossa mente e fazendonos focar nela em vez do doente ou, por outro lado, exponenciar a relação médico-doente, ao dar mais tempo ao médico para ouvir quem tem à frente, pois tem uma boa ajudante em quem confia. De quem depende isto? Principalmente, do médico e das prioridades que este define para si. Concluo assim, que a Inteligência Artificial é como um pau de dois bicos. Capaz de trazer excelentes benefícios, mas a Medicina não deve ser tão centrada nela ao ponto de pôr de lado o que faz de um médico, ser médico, no qual incluo a capacidade de ver o doente como um todo e não centrado na queixa. Para além disso, os médicos não se podem esquecer: o que mais importa, é a pessoa que está à nossa frente. Isso inclui, para além das queixas, os seus sentimentos, medos e a necessidade de sentirem que estão a ser ouvidos e o que o médico lhes está a dar a sua atenção. 17


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COLABORAR COM A ANEM: PORQUE NÃO? Entrevista de David Raimundo

Para dar a conhecer aos nossos leitores a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) e a perspetiva de alguém que com ela já colaborou, entrevistámos José Ganicho, aluno do sexto ano da FCS-UBI, que partilhou connosco a sua vasta experiência no mundo do associativismo, em geral, e na ANEM, em particular.

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Para começar, como foi o teu percurso na ANEM? Comecei como representante local na Direção do MedUBI de 2017 (existem pessoas na direção que têm representação na ANEM), no Departamento de Mobilidade. Já nos órgãos sociais da ANEM, estive dois anos na direção, primeiro como Diretor de Intercâmbios Científicos, em 2018 (mais tarde, a designação mudou para Intercâmbios de Investigação), e, depois, como Vice-Presidente para as Relações Externas, em 2019. No ano passado, fui Vice-Presidente do Conselho Fiscal.

mais facilmente, compreender e implementar aquilo que nós propomos. Noutros, seja por pressões políticas ou por uma opinião pública desfavorável, acho que não valorizam o suficiente a opinião dos estudantes. Penso que a pandemia veio agravar isso. No início do processo de resolução deste problema, os estudantes poderiam ter sido mais ouvidos, quer a nível local, quer a nível nacional. Mas, globalmente, sinto que somos ouvidos. Como foi sentir que, ao fazer parte da ANEM, as tuas ações poderiam ter um impacto na formação de milhares de alunos de medicina? Acho que foi o que, verdadeiramente, me manteve no associativismo, ano após ano. Foi quando entrei para a Direção do MedUBI que percebi que gostava realmente do que estava a fazer e que, para além disso, gostava de sentir que o que estava a fazer podia ter um impacto, podia fazer a diferença. Outra coisa que me manteve lá, ao longo dos anos, foi a sensação de haver sempre mais para fazer, de o dever ainda não estar cumprido e de haver sempre problemas para resolver e aspetos a melhorar.

De uma forma sucinta, como descreverias a ANEM para um estudante que não a conheça? A ANEM surgiu com o objetivo de tentar congregar todos os estudantes de medicina, que, apesar de fazerem o seu curso em diferentes sítios de Portugal, partilham um conjunto de problemas e de situações que são mais fáceis de resolver quando são tratados a nível nacional. Basicamente, eu considero a ANEM uma plataforma. Uma plataforma onde os estudantes de todas as faculdades podem trocar ideias, reflexões, projetos e tentar encontrar, em conjunto, soluções para problemas comuns, para, de alguma Muitas pessoas têm receio de se envolver forma, conseguir melhorar não só o ensino no associativismo por acharem que isso irá médico, mas também afetar os seus resula saúde das nossas “Não devemos ter medo de enfrentar tados a nível acadécomunidades e a saúde novos desafios. Quando se abraça mico ou por causa da global. um novo projeto há sempre algum questão da gestão do potencial para correr mal, mas acho tempo. Que conselhos A política educativa da que isso não tem de ser uma limita- podes dar a esse resANEM prevê uma ar- ção e que deve ser encarado como peito? ticulação estratégica Ao longo do curso, uma oportunidade de superação!” com instituições como acho que nunca baixei o Ministério da Saúde. os meus resultados Sentes que os estudantes de medicina re- académicos, apesar de estar sempre envolvido presentados pela ANEM são, de facto, ou- em muitos projetos. Claro que isso exige vidos por esta e outras entidades? muito. Exige, principalmente, regras. Ser uma Sinto que as pessoas com quem reunimos, pessoa regrada e ponderada. Definir o tempo desde a Presidência da República e dedicado ao associativismo e a tudo o resto: Secretários de Estado até aos próprios estudar, estar com os amigos, com a família... ministérios, nos ouvem. No entanto, há temas Penso que a gestão que as pessoas têm de para os quais essas pessoas estão mais fazer passa por conhecer o seu limite, ver o que sensibilizadas e, portanto, são capazes de, 19


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podem fazer sem que se prejudiquem, seja academicamente, seja ao nível da sua saúde física ou mental. Não devemos ter medo de enfrentar novos desafios. Quando se abraça um novo projeto há sempre algum potencial para correr mal, mas acho que isso não tem de ser uma limitação e que deve ser encarado como uma oportunidade de superação! De que forma o associativismo te marcou a nível pessoal? Acho que, se sentisse que não tivesse ganho nada com a ANEM e com o associativismo, a nível pessoal, teria saído mais cedo. Deu-me pessoas, contactos, experiências e, acima de tudo, imensos amigos de faculdades e países diferentes. Ainda hoje, mantenho contacto com muitos deles e é assim que, estando em Portugal, consigo saber um bocadinho do que acontece nas faculdades de outros países. Também mudou um pouco a minha maneira de ser e de me comportar e o meu pensamento sobre certas coisas da vida, no geral, e sobre a sensibilidade e empatia necessárias para perceber certas pessoas face a diferenças culturais, religiosas ou políticas.

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E o que sentes que ganhaste a nível profissional? Penso que o associativismo alargou, completamente, os meus horizontes quanto ao leque de oportunidades profissionais em medicina para além da clínica. Também desenvolvi competências que nunca achei

que iria ter. Quando entrei como colaborador do MedUBI nunca pensei que, três anos mais tarde, iria estar a reunir com a Presidência da República, o que envolveu um modo de agir e comunicar específico e diferente do que estava habituado. No geral, adquiri muitos contactos, competências e perspetivas que acho que nunca teria adquirido ao longo do curso sem o associativismo. O que achas que pode começar por fazer alguém que tenha alguma curiosidade no associativismo desenvolvido pela ANEM, mas que não se sinta muito preparado para abraçar este tipo de projetos? Há duas opções. Pode começar por colaborar a nível local (que foi como eu comecei), por exemplo, inscrevendo-se na call para colaboradores ou comissões organizadoras de atividades como o BeInMed, o HFC, a Diagnóstico, etc, e, depois, ir adquirindo experiência e integrar, mais tarde, a Direção do MedUBI. Ou então, pode tentar candidatar-se, diretamente, a uma comissão organizadora da ANEM, o que é mais difícil, pois é candidatarse a um projeto sem experiência quase nenhuma. Mas é uma possibilidade! Acho que, para quem tenha mais receio, esteja nos primeiros anos do curso ou nunca tenha feito nada anteriormente a nível extracurricular, começar por se envolver a nível local é uma excelente opção.


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JUNTOS, PODEREMOS INOVAR E TRANSFORMAR A VIDA DOS DOENTES Inventar o futuro da Medicina e causar um impacto notável na vida das pessoas. É isto que procuramos fazer na AbbVie, uma biofarmacêutica altamente focada em inovação e investigação. A nossa empresa nasceu enquanto companhia independente em 2013, mas carregamos connosco mais de 130 anos de história e experiência, herdados dos laboratórios Abbott. Temos no avanço da ciência a própria razão da nossa existência. Desde o dia em que a AbbVie foi criada, o nosso principal objetivo foi sempre o de procurar soluções terapêuticas para doenças difíceis de tratar e em áreas onde persistem necessidades médicas por satisfazer. Só com investigação é possível explorar novos caminhos no tratamento de doenças tão complexas como, por exemplo, as doenças imunomediadas, hemato-oncológicas ou neurodegenerativas. Na AbbVie, investigamos, desenvolvemos e disponibilizamos soluções terapêuticas inovadoras, mas temos a plena consciência de que não poderíamos transformar a vida dos doentes sozinhos. Trabalhar em conjunto faz a diferença e, por isso, colaboramos com os nossos pares, autoridades de saúde, associações de doentes, universidades e, claro, com os profissionais de saúde. Com todos eles estabelecemos uma relação franca, direta, acreditando que trabalhamos em prol de um propósito comum: a saúde e o bemestar das pessoas.

Enquanto diretor médico da AbbVie, gostaria de desejar-vos o maior sucesso no vosso percurso acadêmico e agradecervos por terem escolhido a Medicina para as vossas vidas. Seja exercendo a prática clínica, trabalhando na área da investigação ou na Indústria Farmacêutica, acredito que cada um de vós irá contribuir para transformar a vida dos doentes. Da nossa parte, poderão sempre contar com a AbbVie, seja na disponibilização de novas soluções terapêuticas, como na promoção de iniciativas de educação médica. Trabalhando lado a lado, poderemos sem dúvida fazer a diferença na vida de muitas pessoas. Diogo Bento, diretor médico da AbbVie Portugal

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SCRATCH THAT OUT OF YOUR LIFE! AUMENTO DO USO DE RASPADINHAS E APOSTAS ONLINE NA PANDEMIA COVID-19 Texto de Rodrigo Martins

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m Portugal, tem-se registado um aumento do uso de raspadinhas e de apostas online. Durante a pandemia da COVID-19, verificou-se um decréscimo das apostas tradicionais devido aos confinamentos decorrentes da situação pandémica. No entanto, com mais tempo livre ou, pelo menos, maior flexibilidade horária com o teletrabalho, verificou-se um aumento das apostas online (1). Não obstante, o caso das raspadinhas é uma exceção, tendo o seu uso aumentado mesmo considerando a situação epidémica atual. Estas formas descritas apresentam um potencial para encorajar apostas excessivas (2). Um comportamento aditivo manifestase pelo uso excessivo de substâncias ou atividades, como, neste caso, as apostas, apesar dos seus efeitos nefastos para a saúde (3). Quando crónico, o comportamento aditivo leva a alterações neuronais, nomeadamente

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a nível cortical (córtex pré-frontal) e subcortical (sistema límbico) que envolvem circuitos neuronais associados à recompensa, motivação, memória, controlo de impulsos e capacidade de julgamento (4). As raspadinhas dispõem de potencial para comportamento aditivo, pois estão associadas a experiências de recompensa a curto prazo, tendo uma alta frequência de eventos e curtos intervalos de resultados (2). Para além disso, as raspadinhas não requerem nenhuma expertise para jogar, são baratas e, por isso, altamente acessíveis (2) (5). Em 2018, cerca de 160 euros foram gastos em raspadinhas por cada português. Em comparação, em Espanha, cada pessoa gastou cerca de 14 euros (2). Do mesmo modo, verifica-se uma discrepância semelhante quanto aos jogos online: Relativamente a estes, essa disparidade pode dever-se às diferentes leis que regulamentam o marketing destas


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plataformas nestes dois países, sendo que as restrições legais são maiores em Espanha (1). No caso da pandemia, Espanha restringiu ainda mais estas plataformas, todavia Portugal não fez quaisquer alterações. Assim, uma abordagem a testar seria uma restrição ao horário permitido para o advertisement, online e televisivo, deste tipo de serviços de apostas, sem nunca penalizar quem usufruísse dos mesmos. Este aumento alarmante em apostas online e também tradicionais, como a raspadinha, tem sido motivo de atenção por parte de vários psiquiatras (2), os quais referem que este tipos de apostas levantam sérias preocupações de saúde pública: muitas vezes encontrase correlacionado com um aumento de desordens psicológicas, como o problematic gambling behavior ou até gambling disorder, uso compulsivo de substâncias como o álcool e o encargo financeiro resultante que pode colocar maior pressão social para com a família do individuo (5). É importante aumentar a monitorização e análise destes dados e, assim, permitir mudanças políticas que protejam os cidadãos de potenciais comportamentos aditivos prejudiciais para a sua saúde.

Referências bibliográficas: 1. Machado AS, Covelo V, Vieira-Coelho MA. Cards on the Table: The Huge Growth in Online Gambling During the COVID-19 Pandemic in Portugal. J Gambl Issues [Internet]. 2021;47. Available from: http:// jgi.camh.net/index.php/jgi/article/view/4118/4668 2. Vilaverde D, Morgado P. Scratching the surface of a neglected threat: huge growth of Instant Lottery in Portugal. The Lancet: Psychiatry [Internet]. 2020;7(3). Available from: https://www.thelancet.com/journals/ lanpsy/article/PIIS2215-0366(20)30039-0/fulltext 3. Dependências/Adições [Internet]. Psiquiatria, Sociedade Portuguesa da psiquiatria e saúde mental. [cited 2021 Apr 28]. Available from: https://www.sppsm. org/informemente/guia-essencial-para-jornalistas/dependenciasadicoes/ 4. Addictions [Internet]. American Psychological Association. [cited 2021 Apr 28]. Available from: https:// www.apa.org/topics/addiction 5. Raposo-Lima C, Castro L, Sousa N, Morgado P. SCRATCH THAT! — Two case reports of scratch-card gambling disorder. Addict Behav [Internet]. 2015;45:30– 3. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0306460315000192?via%3Dihub 6. Serviço de Intervenção nos comportamentos aditivos e nas Dependências S. DESCRIMINALIZAÇÃO DO CONSUMO [Internet]. [cited 2021 May 11]. Available from: http://www.sicad.pt/PT/Cidadao/DesConsumo/ Paginas/default.aspxAvailable from: https://linkinghub. elsevier.com/retrieve/pii/S0933365720312653

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USO MEDICINAL DE CANÁBIS EM PORTUGAL Texto de Rodrigo Martins Revisão científica de Dr. Rúben Catarino

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Cannabis Sativa L. é uma planta constituída por centenas de compostos químicos, entre eles os canabinóides, sendo os mais comuns o delta9tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) (1). Atualmente, em Portugal, o seu cultivo e comercialização para fins medicinais é legal, e obedece a regras estipuladas pelo Infarmed. A principal espécie usada é a Cannabis Sativa L. e, atualmente, esta é a única a ser plantada e comercializada em Portugal (2). O THC e CBD têm algumas propriedades em comum, como o seu efeito analgésico, anti-convulsivante, anti-emético e antiinflamatório. O THC, ao contrário do CBD, tem a particularidade de ter um elevado potencial psicoativo, atuando sobre o sistema nervoso central, e afetando os processos mentais, perceções, emoções e comportamentos de quem o consome (1). O CBD é ainda um poderoso ansiolítico, imuno-depressor e inclui importantes propriedades neuroprotetoras e anti-oxidantes (1). A Lei n.º 33/2018, estabeleceu um quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta de canábis para fins medicinais, nomeadamente a sua prescrição e dispensa em farmácias (4). De acordo com o Decreto-Lei n.º 8/2019, atendendo às caraterísticas dos produtos à base de canábis, a prescrição destes encontra-se limitada a um conjunto restrito de patologias em que a terapêutica convencional para os mesmos seja ineficaz ou produza efeitos adversos (4): a) Espasticidade associada à esclerose múltipla ou lesões da espinal medula; b) Náuseas, vómitos (resultantes da quimio24

terapia, radioterapia e terapia combinada de HIV e medicação para hepatite C); c) Estimulação do apetite de doentes em cuidados paliativos decorrentes de tratamentos oncológicos ou doentes com SIDA; d) Dor crónica (associada a doenças oncológicas ou do sistema nervoso, como por exemplo na dor neuropática causada por lesão de um nervo, dor do membro fantasma, nevralgia do trigémio ou após herpes zoster); e) Síndrome de Gilles de la Tourette; f) Epilepsia e tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, tais como a síndrome de Dravete Lennox-Gastaut; g) Glaucoma resistente à terapêutica. A canábis pode ser administrada de várias formas. Atualmente, em Portugal, as terapêuticas canabinóides podem ser apresentadas sob a forma de flor seca ou de solução bucal (2). A administração da primeira ocorre pela via inalatória após vaporização com recurso a um dispositivo médico devidamente aprovado para o efeito, e proporcionando um rápido alívio dos sintomas alvo (5). Caracteriza-se por ser até à data, a primeira e única substância àbase da planta da canábis para fins medicinais a obter uma Autorização de colocação no mercado (ACM) por parte do Infarmed. Relativamente à solução oral, “Sativex®” obteve a sua Autorização de Introdução no Mercado (AIM) em 2012, e é o único medicamento à base da planta de canábis aprovado em Portugal. Este é um spray para aplicação na mucosa oral (6) que, atualmente, tem a limitação de apenas estar contemplado aos utentes que sofrem de


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espasticidade associada à esclerose múltipla (3). O acesso às terapêuticas descritas apresenta muitos obstáculos. Para além da falta de literacia por parte de alguns médicos acerca destas novas formas de tratamento, existe um elevado estigma em torno do seu uso na sociedade (7). Para agravar esta problemática, estas preparações têm um elevado custo para o utente. Uma embalagem de “Sativex®” tem um preço de venda ao público de 475,27 euros com comparticipação de 37% (6), enquanto que uma embalagem de “Tilray Flor Seca THC 18” custam 150 euros com comparticipação de 0% (5). A prescrição destes fármacos exige uma abordagem multidisciplinar entre médicos e farmacêuticos. O primeiro passo requer a justificação do seu uso a partir da condição médica do utente, já que esta apenas deve ser aconselhada quando as terapêuticas convencionais não são eficazes. Deve ser analisada qual a melhor forma de administração para o utente, que no caso de Portugal se encontra reduzida a duas opções (2). Dependendo da via de administração para o utente existem variações quanto à quantidade de canabinóides que serão absorvidos, o tempo até surgirem efeitos, assim como a duração destes (1). Quer o “Sativex®” quer o Tilray Flor Seca THC18 são sujeitos a receita médica obriga-

tória e de venda exclusiva em farmácia. Cabe ao médico assistente decidir sobre a sua utilização, e qual a dosagem e esquema de administração adequado (2). Por fim, é de salientar que é importante que as decisões quanto à utilização de canábis para uso medicinal sejam feitas com base em evidência científica atual e desprovida do estigma muitas vezes associado a ela (7), pois este nunca deve sobrepor os interesses dos utentes que dela podem beneficiar (8). Para além disso, é importante a comparticipação destas terapêuticas para desincentivar o recurso a circuitos menos controlados e mais baratos, nos quais não existem garantias de segurança ou qualidade (8). Assim, dado os diversos efeitos terapêuticos da canábis, deve ser facilitado o seu acesso aos visados, assim como a expansão da sua área de ação a todas as condições clínicas cuja investigação científica demonstre ter uma eficácia aceitável no seu tratamento.

Referências bibliográficas 1. Canábis Medicinal [Internet]. OPCM: Observatório Português de Cánabis Medicinal. Available from: https://opcm.pt/canabis-medicinal/ 2. Canábis para fins medicinais [Internet]. INFARMED: Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde. Available from: https://www.infarmed.pt/web/ infarmed/canabis-medicinal 3. Canábis Medicinal Aprovada [Internet]. OPCM: Observatório Português de Cánabis Medicinal. Available from: https://opcm.pt/canabis-medicinal-aprovada/ 4. Decreto-Lei n.o 8/2019 - Diário da República n.o 10/2019, Série I de 2019-01-15. Presidência do Conselho de Ministros. [Internet]. Available from: https://data.dre.pt/eli/dec-lei/8/2019/01/15/p/dre/pt/html 5. Detalhes do Medicamento: Tilray Flor Seca THC 18 [Internet]. INFOMED: Base de dados de medicamentos de uso humano. Available from: https://extra-

net.infarmed.pt/INFOMED-fo/detalhes-medicamento. xhtml 6. Detalhes do Medicamento: Sativex [Internet]. INFOMED: Base de dados de medicamentos de uso humano. Available from: https://extranet.infarmed.pt/ INFOMED-fo/detalhes-medicamento.xhtml 7. Melnikov S, Aboav A, Shalom E, Phriedman S, Khalaila K. The effect of attitudes, subjective norms and stigma on health-care providers’ intention to recommend medicinal cannabis to patients. Int J Nurs Pract [Internet]. 2021 Feb;27(1):e12836. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ijn.12836 8. Ribeiro S. Estigma, literacia e evidência científica não andam de mãos dadas [Internet]. Observador. [cited 2021 May 22]. Available from: https://observador. pt/opiniao/estigma-literacia-e-evidencia-cientifica-nao-andam-de-maos-dadas/

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SOCIAL MEDIA E MEDICINA Texto de Francisca Silva

Com a crescente disseminação de criadores de conteúdo para as redes sociais, temos assistido à ascensão de médicas/influencers nestas plataformas. Quer seja para disseminar informação em saúde, quer para partilhar “trivialidades” da vida pessoal, Nádia Sepúlveda, com quem estivemos à conversa, conta-nos como é aliar estas duas realidades.

O seu percurso nas redes já se estende há anos, precisamente desde 2009 aquando da criação do blog My Fashion Insider, alguma vez pensou em deixar o blog ou, atualmente, o Instagram pelo impacto que isso poderia ter na sua carreira como médica? Nunca. Sempre fui muito resolvida nesse aspecto e “ser só médica” nunca fez parte dos meus planos. É muito importante para mim cultivar os meus hobbies e gostos pessoais além da Medicina, e penso que cada vez consigo conciliar melhor os dois lados.

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Através da partilha de alguns hábitos diários, interesses, cuidados de pele, ou mesmo do processo de desenvolvimento de um armário cápsula, sempre demarcou a importância que outras áreas (lúdicas) como a dança, a leitura e a moda têm para si, além da Medicina. Sente que, com o passar do tempo, tem diminuído o preconceito da sociedade para com esta versatilidade de publicações vindas de médicos? Sim, sem dúvida. Sinto que, com o cair do véu paternalista da Medicina, cada vez é mais perceptível para a sociedade que somos humanos como todos os outros, multifacetados...e que somos tão melhores médicos quanto mais humanidade cultivarmos...e isso passa por ter interesses pessoais variados!


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Transmite informação sobre saúde, admiravelmente, de forma “prática, simples e descontraída” citando a introdução do seu podcast “Momento Médico”. Essa transição da Medicina para fora do consultório foi natural para si? O que a motivou a fazê-lo? Sim, aconteceu de forma muito orgânica! Uma vez que não era segredo nenhum que era médica, começaram a surgir cada vez mais questões relacionadas com a saúde, especialmente no âmbito da Saúde da Mulher, pelo que foi perfeitamente natural que a Medicina começasse a fazer parte das minhas partilhas nas redes sociais, primeiro apenas no Instagram, e depois estendendo-se também para o YouTube e o Podcast.

Ao capacitar a sociedade, os resultados em saúde serão melhores e as pessoas poderão optar pela terapêutica de forma mais consciente, retirando o paternalismo a que em tempos se assistia. Pensa que este avanço é positivo ou pode ter o efeito oposto? Quanto maior a literacia em saúde, melhor é a saúde. Isso está comprovado. Quando a autonomia do doente é respeitada, e acompanhada de informação adequada, temos melhores resultados em saúde, a vários níveis: melhor compreensão das doenças, melhores escolhas em termos de estilo de vida, maior facilidade em navegar nas instituições de saúde, maior cumprimento terapêutico... Temos de compreender que na Medicina atual o nosso papel é mais do que oferecer o peixe numa bandeja... é ensinar a pescar. É cada vez mais urgente desmistificar e combater temas como a gordofobia, a discriminação racial, de género, ou relativa à orientação sexual, por parte dos profissionais de saúde. Acha que, ao partilhar testemunhos e elucidar a população sobre estas temáticas, é possível reduzir estas situações ou levar à denúncia das mesmas? Acredito que sim. Muitas pessoas que sofrem de preconceito podem muitas vezes ficar caladas, sentir que são as únicas a quem tal aconteceu. Perceber que é algo sistémico, enraizado, dá mais força às vítimas para perceber que não é algo isolado, que está efetivamente errado e deve ser combatido. Relativamente aos profissionais de saúde, muitas vezes só quando confrontados com o outro lado da narrativa é que conseguimos perceber onde errámos. Por vezes a discriminação é algo tão subtil que nem nos apercebemos se não nos for dito abertamente “o discurso x ou o tom y magoa o doente”. Estamos sempre a aprender.

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APARÊNCIA MÉDICA LIBERDADE DE EXPRESSÃo PERMITIDA OU LIMITADA? Texto de Maria Beatriz Carvalho “Quando um médico entra em contato com um doente, convém estar atento ao modo como se comporta; deverá estar bemvestido, ter uma fisionomia tranquila, dar toda a atenção ao paciente, não perder a paciência e ficar calmo em presença de dificuldades. É um ponto importante para o médico ter uma aparência agradável, porque aquele que não cuida do próprio corpo não está em condições de se preocupar com os outros.” Hipócrates (460-377 aC)

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pesar dos avanços tecnológicos e das mudanças que a prática médica tem sofrido, a visão de Hipócrates, “pai da Medicina”, quanto à forma como os médicos se apresentam permanece ainda atual, uma vez que a aparência individual foi desde sempre e continua a ser um fator importante nas relações, nomeadamente na médico-paciente. De facto, a maneira como nos apresentamos é, por si só, uma forma de comunicação e constituirá a impressão inicial num primeiro contacto com o paciente. Vários estudos, nomeadamente o de Yonekura et al (1), indicam que, quando inquiridos individualmente com um questionário no qual têm de revelar as suas preferências quanto à aparência do profissional através de fotografias do mesmo médico em diferentes trajes, os pacientes preferem a aparência mais convencional na qual os médicos se apresentam com bata branca e roupa formal. 28

Já o estudo de Westerfield et al (2) demonstrou que, quando avaliados em fotografias, médicos com tatuagens não eram considerados mais confiantes, confiáveis, atenciosos, cooperativos, profissionais, eficientes ou acessíveis que os seus homólogos não tatuados. Além disso, mulheres tatuadas eram vistas como menos profissionais que homens tatuados. Profissionalismo implica o cumprimento do trabalho com seriedade, rigor e competência. Não vejo de que forma é que o simples facto de um médico ter uma tatuagem ou piercing visível ou o cabelo pintado com uma cor incomum vá influenciar o seu desempenho na prática médica. Assim, esta talvez seja mais uma questão de preconceito e de ideias pré-concebidas que rotulam as pessoas por características e, baseando-se apenas nisso, as colocam todas na mesma caixa, ignorando a enorme diversidade que caracteriza a existência humana.


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A cor do cabelo impactará o tratamento do paciente? Uma tatuagem num local visível influencia a prática médica? Cohen et al (3) realizaram um estudo no departamento de emergência de um hospital nos Estados Unidos da América, publicado em 2018, que pretendia perceber se os pacientes percecionavam diferenças na competência, profissionalismo, cuidado, acessibilidade e confiabilidade quando atendidos por médicos com tatuagens e piercings expostos. Os resultados demonstraram que os pacientes não percecionavam diferença nestes parâmetros em médicos com estas características quando comparados com médicos de “aparência convencional”. Concluíram também que os pacientes assinalaram a opção que correspondia à melhor performance médica em mais de 75% das vezes, independentemente da aparência do médico, revelando que o que de facto importa é a forma como são tratados e não a aparência de quem trata. Assim, podemos concluir que hoje em dia, com o evoluir da sociedade, cada vez menos a aparência é um fator preponderante e cada

vez mais são importantes outros aspetos como o cuidado, a comunicação e a empatia na relação médico-paciente. Portanto, acredito que cada vez menos um cabelo com uma cor não natural ou uma tatuagem ou um piercing visível sejam motivos para, por si só, desacreditar o profissionalismo de alguém. Contudo, por enquanto, penso que é ainda fundamental continuarmos a refletir sobre a questão “Aparência médica: Liberdade de expressão permitida ou limitada?” e perceber até que ponto se justifica restringir estas formas de expressão no contexto médico na sociedade atual. 1. Leiko C, Certain L, Ka S, Karen K, Augusto G, Alcântara S, et al. Artigo original Impressões de pacientes, médicos e estudantes de Medicina quanto a aparência dos médicos ଝ. Rev Assoc Med Bras [Internet]. 2013;59(5):452–9. 2. Westerfield H V, Stafford AB, Speroni KG, Daniel MG. Patients ’ Perceptions of Patient Care Providers With Tattoos and / or Body Piercings. 2012;42(3):160–4. 3. Cohen M, Jeanmonod D, Stankewicz H, Habeeb K, Berrios M, Jeanmonod R. An observational study of patients ’ attitudes to tattoos and piercings on their physicians : the ART study. 2018;1–6.

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CRÓNICA: PROCRASTINAÇÃO DE VERÃO Texto de Rita Claro Ouve a leitura deste texto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=SzTcro5i2Uc Quem não gosta de um bom serão de Verão, sem preocupações, uma bebida fresca e uma bela companhia...? É verdade, eu também gosto, mas sabem o que adoro ainda mais? A magnífica da procrastinação de Verão. Passo a explicar: a antecipação do Verão é muito gira: começamos a imaginar o que queremos fazer durante as nossas férias, todos os hobbies que deixámos de parte que queremos retomar, os planos com os nossos amigos e aquela roadtrip já há muito desejada. Pensamos que para vivermos os nossos dias de sol da melhor maneira vamos precisar de ganhar uns trocos, por isso falamos com a Tia Maria sobre a possibilidade de fazermos umas horas no café da aldeia, ou já estamos a pensar em deixar o nosso currículo no supermercado da nossa cidade. Os nossos neurónios ganham uma atividade estonteante para registar todas estas ideias iluminadas de planos e objetivos para a estação do ano mais desejada e antecipada. Já estamos todos excitadex para o que aí vem: vamos começar as nossas manhãs mega produtivas com um green juice para nos preparamos para andar uns 20 km de bicicleta e ganharmos uma corzinha ao mesmo tempo (win win), chegamos a casa e tomamos

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AQUELE banho com todos os luxos que merecemos e depois vamos tomar o pequeno almoço: um açaí bowl digno de feed de influencer. O resto do dia é passado na casa do amigo, na piscina, na praia, no ginásio, e aproveitamos ao máximo para aprendermos algo novo e desenvolvermos as nossas skills nas mais variadas áreas. Queremos tornar-nos no próximo Master Chef, por isso começamos a ver montes de canais de Youtube, e convencemo-nos a nós próprios que estamos a aprender imenso e que vamos aplicar todos os conhecimentos que adquirimos. O-ve-rão-per-fei-to. Vamos ter um caso de Verão arrebatador com o vizinho ou a vizinha do lado, que nos marcará tanto que teremos inúmeras histórias para contar aos nossos futuros netos. O plano está delineado, o bloco de notas do teu dispositivo móvel android ou iphone já está cheio de ideias incríveis que estás ansioso por começar a pôr na prática. Os dias passam e o teu dream mode está ON. Finalmente, as férias de Verão batem à


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porta e tu estás ready. Ou pensas que estás… Porque na realidade estás arrasado de mais um ano de faculdade, e como deixaste quase tudo para a última hora, não te sobrou um único neurónio. Então, decides que mereces uns dias, uma semana vá, a fazer NADA. Literalmente nada: cama-sofá-cama. Vais pôr em dia todas as séries que negligenciaste e ainda começas o novo Original Netflix. Passam 3 dias, 1 semana… 2 semanas e ainda não viste a luz do dia. Até já criaste raízes ao teu sofá e desenvolveste tal ligação emocional que sentes ansiedade de separação sempre que te afastas nem que sejam 2 metros. Mal te apercebes que o tempo passa e dizes a ti próprio todos os dias: "Amanhã vou fazer algo produtivo"; "Amanhã vou combinar ir à piscina com o pessoal". Mas acabas por adiar as chamadas e mensagens, e o tempo passa.

Entretanto, convences-te a ti próprio que não precisas de realizar todos os planos que te tinhas proposto, e que uma meia dúzia deles são suficientes para um bom Verão. Setembro aproxima-se descaradamente e o que é que tu fizeste? Foste 3 vezes à esplanada de eleição da tua zona com os teus amigos e conseguiste arranjar um tempinho livre na tua agenda muito ocupada para ir à piscina 2 vezes. Para além disso, desbloqueaste o nível 70 do novo jogo que começaste a jogar, viste as 8 temporadas de Game of Thrones, atualizaste todas as outras séries que vês, assististe a 10 documentários e a alguns romances que a tua mãe insistiu em ver em família, ficaste viciado no Tik Tok (outra vez) e ainda aprendeste qual a temperatura ideal para fazer os melhores noodles. Foi um bom Verão.

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LIVROS QUE NOS ENRIQUECEM Texto de Maria Beatriz Carvalho

ÓSCAR E A SENHORA COR DE ROSA Eric-Emmanuel Schmitt Eric-Emmanuel Schmitt, na sua obra “Óscar e a Senhora Cor de Rosa”, apresentanos o testemunho de um menino de 10 anos, diagnosticado com leucemia, revelando a perspetiva da doença e da vida pelos olhos de uma criança. Aconselhado pela Vovó Rosa, uma voluntária na ala de pediatria que, pela sua capacidade de imaginação, torna os dias deste menino mais leves, Óscar decide viver a sua vida toda nos poucos dias que lhe restam, sendo esta jornada, com todos os seus detalhes, partilhada com o leitor através das cartas diárias que escreve. Óscar revela-nos os sentimentos e pensamentos de uma criança hospitalizada e relembra-nos que cada dia deve ser aproveitado e valorizado. Afinal: “a vida é um presente engraçado. Ao princípio, sobrestimamos este presente: acreditamos ter recebido a vida eterna. Mais tarde, subestimamo-lo, achamos que é uma porcaria, muito curta, ficamos quase tentados a deitála fora. Por fim, percebemos que não era um presente, era apenas um empréstimo. E então esforçamo-nos por merecê-la.”

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A SAGA DE UM PENSADOR Augusto Cury Marco Polo, estudante de medicina do primeiro ano, depara-se no laboratório de anatomia com um cadáver cuja identidade desconhece e não lhe é revelada pelo professor, que o caracteriza como “ninguém”. O jovem, curioso e persistente, não consegue ficar indiferente e deseja conhecer a história do homem que agora repousa sobre a sua mesa e consegue-o ao conversar com Falcão, um filósofo mendigo. Através dos diálogos com este homem, Marco começa a refletir sobre a imaginação, a natureza, os pensamentos, as emoções, a medicina, enfim, a existência humana. Um livro inspirador pelas reflexões que proporciona e inquietante pelas questões que levanta acerca da complexidade da vivência humana. “Acima de tudo, os médicos, bem como todos os profissionais de saúde, devem ser vendedores de sonhos. Pois se conseguirmos fazer os nossos pacientes sonharem, ainda que seja com mais um dia de vida ou com uma nova maneira de ver as suas perdas, teremos encontrado um tesouro que os reis não encontraram.”

“(...) atrás de cada dor, de cada sintoma, há sonhos, aventuras, medos, alegrias, coragem, recuos, enfim, uma história maravilhosa que precisa de ser descoberta. Assim, aprenderam a tratar de seres humanos e não de órgãos.”

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SUSTENTABILIDADE Texto de Francisca Silva

mercearia CONXIENTE A mais recente mercearia a granel da zona, que se insurge contra o desperdício alimentar e difunde uma visão mais ecológica do consumo, tem lugar na Rua Marquês de Ávila e Bolama e oferece uma vasta gama de produtos, entre os quais: leguminosas, frutos secos, especiarias, massas, bolachas caseiras, ou mesmo produtos de higiene e detergentes. O intuito é levar recipiente próprio para a compra ainda que, caso não o façam, podem utilizar sacos de papel ou pano que disponibilizam. Mas a singularidade não fica por aqui, na loja podes também entregar garrafas com óleo usado para, mais tarde, serem entregues à EcoXperience que, com ele, fabrica detergentes. Para além da vertente sustentável, o espaço diferencia-se por vender apenas artigos vegan e, por isso, não testados em animais. A agradabilidade do espaço e a atenção prestada convidam à visita. E tal como os proprietários incentivam “Faz a diferença, sê Conxiente!”.

A mercearia nasce do desejo de tornar o mundo melhor, apelando ao combate ao desperdício e encorajando a uma mentalidade mais ecológica. Aqui podem trazer os vossos recipientes e levar a quantidade que quiserem, desde frutos secos, sementes, chás, leguminosas, fruta desidratada, farinhas, grãos e também detergentes para a casa. Com um conceito vegan, todos os produtos são de origem 100% vegetal e não testados em animais.

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água E quanto à água, que é dos principais produtos que consumimos diariamente? Se ainda não estás rendido às garrafas reutilizáveis e a água da torneira não é do teu agrado, talvez esta seja a solução ideal para ti. No Continente do Serra Shopping, o procedimento é simples! Basta entregares garrafas de plástico PET (descartáveis) e em troca recebes vales de desconto no supermercado. Estes podem ser de 2 ou 5 cêntimos por garrafa, dependendo do tamanho da mesma. Se optares por uma atitude mais altruísta, o valor pode ser doado a uma instituição de solidariedade social.

too good to go O principal compromisso desta empresa é combater o desperdício alimentar, habilitando o consumidor a alterar os seus hábitos e comportamentos. Como conseguem executá-lo? É fácil! Através da app com o mesmo nome onde qualquer pessoa pode salvar uma Magic box com comida perto do fim da validade e que iria para o lixo, a 1/4 do valor original. Há vários estabelecimentos aderentes, desde pastelarias a supermercados e o fator surpresa está sempre em jogo, já que não se não sabe o conteúdo até ir recolher ao local e efetuar o pagamento.

cabine de leitura Inaugurada recentemente na Praça do Município, a Cabine de Leitura da Covilhã em parceria com a Altice, que impõe o lema “levar, doar, ler e devolver” promove o interesse pela leitura a nível local e, como profere o Presidente da Câmara, é um projeto de grande relevância para “uma melhor cidadania”. Efetivamente, ao aliar os aspetos culturais à circulação de livros e, para além disso à reabilitação das, outrora, cabines telefónicas, torna-se evidente a vertente sustentável que esta iniciativa abarca. Entre romances, ficção, literatura infantojuvenil ou livros técnicos, todos cedidos pela Biblioteca Municipal da Covilhã, o leque de escolha é abrangente e desperta a curiosidade. E tu, já fizeste uma chamada (ainda que não telefónica) à leitura?

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UMA RECEITA CONXIENTE...


DIAGNÓSTICO - JUNHO 2021

GRANOLA INGREDIENTES

PREPARAÇÃO

1/3 chávena de geleia de agave

1. Pré aquecer o forno a 180ºC.

1/3 chávena de manteiga de amendoim

2. Numa taça misturar bem a geleia de agave, a

1 colher de sopa de aroma de baunilha

manteiga de amendoim e o aroma de baunilha

1/2 colher de sopa de sal

e noutra taça misturar bem o sal, a canela,

1 colher de sopa de canela

os flocos de aveia e centeio, as sementes de

1 chávena de flocos de aveia

abóbora e de girassol, as amêndoas e as avelãs.

1 chávena de flocos de centeio

Posteriormente, misturar bem os ingredientes

1/2 chávena de sementes de abóbora

de ambas as taças numa só.

1/2 chávena sementes de girassol

3. Espalhar a mistura num tabuleiro e levar ao

1/2 chávena de amêndoas c/ pele

forno por 20 minutos. Depois retirar e com um

1/2 chávena de avelãs c/ pele

garfo ou espátula virar separar e virar a mistura

1/2 chávena de bagas goji

e colocar novamente no forno por mais uns 7

1/3 chávena de gotas de chocolate

minutos.

negro

4. Retirar do forno e adicionar as bagas goji e as gotas de chocolate. 5. Deixar arrefecer e conservar à temperatura ambiente ou no frigorífico. 6. Dura até 1 mês e pode servir como cereais de pequeno almoço, topping de iogurtes e gelados.

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PROJETOS LOCAIS DE VOLUNTARIADO Texto de Francisca Silva

Entre Mundos

Com o intuito de desenvolver missões de Voluntariado Internacional em países em desenvolvimento, mas também localmente, este projeto, que esteve dois anos a fervilhar, foi apresentado ao público no final de 2020 e é constituído por estudantes de Medicina da FCS-UBI. Ademais deste campo de ação, presenteiam-nos com um belíssimo podcast no qual partilham testemunhos de quem atua diretamente na área comunitária e ainda disponibilizam formações para capacitar os estudantes, vincado sempre a vertente social da iniciativa.

Associação de Jovens para a Ação Solidária, iniciativa sem fins lucrativos que engloba estudantes das várias faculdades da Universidade da Beira Interior. Começou por ajudar alunos em situações económicas desfavoráveis, mas rapidamente se alastrou por outras áreas. Portanto, marca pela abrangência e, atendendo a isto, permite aos voluntários apoiar dispares associações locais, tornando acessível a sua integração. Para incorporar esta instituição tens ao dispor cinco grupos de trabalho: o de investigação, recursos humanos, ação social, marketing e eventos.

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AJAS


Numa era em que tendencialmente somos levados a focar-nos apenas no nosso umbigo, desafiamos-te a quebrares o ciclo, a embarcares no voluntariado e, por isso, damos-te a conhecer alguns projetos locais incríveis!

Happy Wish

O compromisso, assumido por uma estudante da UBI, é realizar os sonhos de crianças, jovens e idosos que estejam em desvantagem e conta hoje com vários membros e 5 departamentos. Desde a sua estreia em 2016, quando dinamizaram uma atividade na Casa do Menino Jesus, nunca mais puseram travão no desejo de ajudar e, por isso, têm desenvolvido ações sociais com regularidade, envolvendo a comunidade da região. Para além disso, também são organizadas formações realizadas por entidades externas, voluntários da empresa, ou até docentes que prestam esclarecimento e preparam corretamente os voluntários para as iniciativas.

Ao abrigo do Programa Nacional de Reinstalação das Nações Unidas, a UBI estreou-se como a 1ª universidade Europeia a receber no próprio estabelecimento 15 sírios entre os quais crianças, jovens e adultos. O programa pretende integrar estas pessoas na comunidade da Covilhã e, para tal, conta com uma equipa técnica constituída pelos mais diversos elementos da UBI, desde professores e técnicos a alunos, sempre sob alçada da Câmara Municipal da Covilhã, a Delegação do SEF distrital e várias entidades públicas e privadas. Com a participação da comunidade e com a supervisão dos dirigentes do projeto, a ajuda prestada é mais direcionada e o acompanhamento das famílias torna-se mais efetivo.

Projeto Refugiados ONU

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DIAGNÓSTICO - JUNHO 2021

ANDROMEDA "Por venustidade fui sentença, Por excentricidade, uma heresia..." Na margem da ancestral arriba, Ao encontro do egrégio rochedo, Deleita-se a mais bela mulher do reino Acorrentada à fortuna e à sorte.

Ouve a leitura deste texto aqui: https://www.youtube. com/watch?v=3mygsg7vCnE

No olhar, uma venda de linho Desfaz-se no invólucro do corpo Em reprimenda da legítima glória, Na valia que aprova a naturalidade. No mar o monstro, aos céus o herói. Em si, o conflito introspetivo Entre ser martírio ou primazia. E eu, como narrador, incito: - "Vá, liberta-te Andrómeda, Revoga a tua sina e cria a tua própria história!” João Pereira

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Realizado por David Raimundo DIAGNÓSTICO - JUNHO 2021

CASOS CLÍNICOS 1. Um homem de 82 anos é trazido pelo INEM ao SU do CHUCB. Passeava pelo centro histórico da Covilhã quando, de repente, começou a “vomitar sangue” (sic), tendo pedido ajuda na rua. Encontrase hemodinamicamente estável. Foi realizada uma endoscopia digestiva alta, que revelou a presença de uma úlcera gástrica. 1.1. Um dos mensageiros químicos que participa na regulação da secreção de ácido clorídrico pelo estômago é a acetilcolina. Esta molécula atua nas células secretoras de ácido através da ativação da via de sinalização intracelular do fosfatidilinositol (um tipo de fosfolípido da membrana celular). Qual a afirmação correta?

2. Uma jovem de 15 anos com antecedentes de bulimia nervosa é trazida ao SU pela mãe por se encontrar apática há um dia. Ao exame objetivo, encontra-se vígil, não colaborante e hemodinamicamente estável. Foi feita gasometria arterial, cujos resultados foram: pH: 7,48 (N: 7,35-7,45); PaO2: 120 mmHg (N: 80-100 mmHg); PaCO2: 45 mmHg (N: 35-45 mmHg); HCO3-: 32 mEq/L (N: 22-26 mEq/L) Qual é o distúrbio ácido-base subjacente? A) Acidose respiratória B) Acidose metabólica C) Alcalose respiratória D) Alcalose metabólica

A) A via do fosfatidilinositol envolve a ativação de recetores associados à proteína G. B) Esta via de sinalização resulta numa diminuição do Ca2+ intracelular. C) A acetilcolina liga-se a recetores nicotínicos nas células gástricas. D) A libertação de acetilcolina pelos neurónios colinérgicos é feita por exocitose não dependente de Ca2+. 1.2. Qual dos seguintes mecanismos de ação não esperaria encontrar num fármaco que fizesse parte da terapêutica apropriada para a úlcera gástrica? A) Antagonista dos recetores de histamina H2 B) Agonista muscarínico C) Inibidores da bomba de protões (H+-K+-ATPase) D) Antiácidos Soluções: 1.1 - A; 1.2- B; 2 - D

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Recolha de David Raimundo

SABIAS QUE…? The Man With the Golden Arm Após uma intervenção cirúrgica aos 14 anos com necessidade de uma transfusão de sangue significativa, o australiano James Harrison decidiu tornar-se dador de sangue. Anos mais tarde, descobriu que é um dos pouco mais de 50 australianos a ter anticorpos anti-D no sangue, o tipo de anticorpos que é administrado às grávidas Rh negativas, de modo a prevenir a doença hemolítica do recém-nascido. Doou sangue quase semanalmente durante 60 anos, tendo ficado conhecido como “o homem do braço de ouro” (“the man with the golden arm”). Segundo a Cruz Vermelha Australiana, as doações de Harrison ajudaram a salvar a vida de mais de 2,4 milhões de bebés australianos. Referência: https://edition.cnn.com/2018/05/11/health/james-harrison-blood-donor-retires-trnd/index.html

Mosquitos Geneticamente Modificados Libertados nos EUA No passado mês de Maio, a empresa de biotecnologia Oxitec iniciou um teste no terreno que consistiu na libertação de mosquitos geneticamente modificados. Foi a primeira vez que uma operação desta natureza teve lugar nos EUA. O objetivo é travar a propagação de populações selvagens de mosquitos da espécie Aedes aegypti, transmissores de vírus como o Zika, dengue, chikungunya e febre amarela. Foram colocadas caixas com ovos de mosquitos A. aegypti na região de Florida Keys, um arquipélago de clima tropical pertencente à Flórida, estado onde já foram registados casos de transmissão local de Zika e de dengue. Os mosquitos que eclodiram são machos geneticamente modificados portadores de um gene que é transmitido à sua descendência e mata as fêmeas ainda na fase larval. Como são as fêmeas que picam e, dessa forma, transmitem as doenças virais, prevê-se que, com o acasalamento entre os mosquitos libertados e as fêmeas selvagens e com a morte das fêmeas das gerações seguintes, a população desta espécie decline na região. Referência:

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https://www.nature.com/articles/d41586-021-01186-6


DIAGNÓSTICO - JUNHO 2021

CARTOON

Ilustração de Melissa Amarante 43


DIAGNÓSTICO - JUNHO 2021

NUTRIÇÃO ENTÉRICA DA FRESENI Fresubin é a marca de Nutrição Entérica da Fresenius Kabi e foi desenvolvida para ajudar nos momentos de maior fragilidade, apoiando os seus doentes a manter a força e a vitalidade. Disponibilizamos um portefólio muito amplo de nutrição entérica sob a forma de suplementos nutricionais orais e nutrição entérica por sonda. Existe evidência clínica extensa e robusta de que os suplementos nutricionais orais e a nutrição entérica por sonda são soluções eficazes e não invasivas no tratamento da malnutrição. Urge que a terapêutica nutricional seja integrada na prática clínica diária e que possa ser acessível a todos os doentes em risco!

NUTRIÇÃO CLÍNICA, UMA ALIADA TERAPÊUTICA A nutrição clínica, no caso específico da nutrição entérica (oral e por sonda), consiste em soluções nutricionais indicadas para a terapêutica nutricional de casos de malnutrição associada a doença. Tem como objetivo satisfazer as necessidades nutricionais de quem não as consegue alcançar apenas com a alimentação habitual e distingue-se claramente dos suplementos alimentares que fornecem apenas vitaminas e/ou minerais/ oligoelementos. A adequação do estado nutricional, ao colmatar as necessidades nutricionais diárias, leva a diversos benefícios clínicos como a melhoria do peso corporal, força e função da massa muscular e da função imune, redução do risco de complicações, como o desenvolvimento de úlceras de pressão, e readmissões hospitalares, estando assim associada a uma melhoria da qualidade de vida, mobilidade e independência. A implementação da terapêutica nutricional individualizada, passa pela adequação alimentar de acordo com as necessidades nutricionais específicas. A suplementação nutricional oral é recomendada como complemento da alimentação para situações em que o doente tem a via oral disponível, mas não seja possível atingir as necessidades nutricionais somente com a alimentação habitual, mesmo após adequação alimentar. 44

Os suplementos nutricionais orais contêm na sua composição macronutrientes, micronutrientes e água, sob a forma de líquidos, shots, pudim ou pó, com o objetivo de aumentar o aporte nutricional. São utilizados em situações de doença aguda (curta duração), assim como no perioperatório e em doenças crónicas prolongadas (longa duração), devendo ser descontinuados quando a ingestão nutricional é suficiente para atingir as necessidades nutricionais diárias. Encontram-se disponíveis diferentes soluções para diferentes tipos de doentes:


DIAGNÓSTICO - JUNHO 2021

IUS KABI hiperproteicas, hipercalóricas, hiperproteicas e hipercalóricas, com fibra e sem resíduos, com base de proteína de leite ou sumo de fruta, sem lactose, enriquecidos em vitamina D e com certificação halal e kosher. A escolha do suplemento nutricional oral deverá ter em conta as diferentes densidades calóricas e proteicas disponíveis, devendo a escolha recair no que melhor se adequa à condição clínica, estado nutricional, idade, preferências e possíveis alergias/intolerâncias do doente. Os suplementos nutricionais orais representam uma solução clínica eficaz e não invasiva no tratamento da malnutrição, tendo como resultados o aumento de peso (massa muscular) e a redução de complicações, período de internamento e mortalidade associados. Pela aplicação atempada, de metodologias de identificação de risco e/ou avaliação do estado nutricional e respetiva terapêutica nutricional individualizada, as equipas multidisciplinares apresentam um papel primordial na prevenção e tratamento da malnutrição associada a doença. Intervir na malnutrição associada à doença é urgente! A terapêutica nutricional é uma solução eficaz para colmatar os défices nutricionais e garantir um estado nutricional mais adequado. O aconselhamento nutricional individualizado e detalhado é fundamental para que os doentes, familiares e cuidadores compreendam a importância que os suplementos nutricionais orais têm no seu tratamento global. Saiba mais em www.fresubin.pt

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Com apoio de:


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